A definição de Taylor contém
Antropologia
pelo menos três novidades
Para um conceito critico de
cultura
O que é cultura?
Do ponto de vista antropológico,
cultura é o conjunto mais
amplo de costumes, crenças,
atitudes, valores, ideais e
hábitos de diferentes
populações ou sociedades no
mundo.
O termo neste sentido é,
obviamente, declinável ao plural,
e pressupõe a existência de
diferentes culturas.
Em geral, nesta perspectiva,
assume-se a existência de uma
cultura específica por cada grupo
social, e o pertencer a tais grupos
está intimamente relacionado
com o partilhar a mesma
identidade cultural..
A definição de Edward Tylor,
em 1871
“cultura ou civilização, tomada
em seu mais amplo sentido
etnográfico, é aquele todo
complexo que inclui
conhecimento, crença, arte,
moral, lei, costume e quaisquer
outras capacidades e hábitos
adquiridos pelo homem na
condição de membros da
sociedade”.
Cultura como algo adquirido,
aprendido, transmitido social e
historicamente de geração a
geração, portanto algo histórico e
social..
importantes:
1. O reconhecimento de que todos
os grupos sociais têm a
capacidade de produzir "cultura”.
2. A inclusão, dentro da categoria
"cultura", além do conhecimento
científico, da arte, da religião, da
lei, dos hábitos, dos costumes e
modos de vida adquiridos
socialmente.
3. A definição de cultura como
algo adquirido, aprendido,
transmitido socialmente e
historicamente de geração a
geração
Desse modo a cultura pode ser
definida como algo adquirido,
aprendido e também acumulativo,
resultante da experiência de
várias gerações.
Se por um lado somos produtos
da nossa cultura, pelo outro
podemos sempre criar, inventar,
contestar, mudar. Não somos só
simples receptores, mas também
produtores ou criadores de
cultura.
Por isso a cultura está sempre em
processo de mudança..
Conceito de relativismo cultural.
capacidade de compreender cada
cultura dentro do seu contexto e
da sua realidade, segundo os seus
padrões, os seus moldes e
processos.
Isso faz com que uma pessoa de
determinada cultura não veja a
outra – ou as outras – como algo
exótico ou inferior.
Excessos de relativismo?
Até que ponto relativismo?
Conceito oposto é o de
Etnocentrismo
• Etnocentrismo consiste em
considerar as outras culturas
com as lentes da própria
cultura, sem perceber os
contextos de produção dos
significados.
• O etnocentrismo pode se
manifestar no
comportamento agressivo ou
em atitudes de superioridade
e até hostilidade..
Etnocentrismo não é racismo
são coisas diferentes.:
Racismo é a afirmação de que
existem raças distintas e que
determinadas raças são inferiores,
sejam do ponto de vista moral,
como intelectual e técnico.
No racismo a inferioridade não é
considerada a partir da
perspectiva social ou cultural,
mas do ponto de vista biológico.
A noção de ‘raça’ tem, em
relação a outras maneiras de
classificar grupos humanos, a
especificidade de considerar as
características físicas (fenótipos)
como características profundas
(genótipos), explicativas das
diferentes aptidões e capacidades
dos indivíduos
O racismo e o preconceito estão
interligados. O racismo é um tipo
de preconceito e este é algo mais
amplo porque pode não estar
ligado exclusivamente à
aparência física de uma pessoa ou
povo.
O preconceito está ligado a
estereótipos e imaginários pré-
constituídos.
Se é inegável concluir que o
racismo ainda existe – e tem força
– AS RAÇAS NÃO EXISTEM:
a ideia de que a espécie
humana pode ser dividia em
raças é obsoleta..
Os geneticistas descobriram que a
constituição genética de todos os
indivíduos é tão semelhante que a
pequena porcentagem de genes
que se distinguem (que
determinam a aparência física, a
cor da pele, tipo de cabelos etc)
não justifica a classificação da
sociedade em raças distintas.
Todos os humanos vivos
pertencem à mesma espécie
(Homo sapiens) e subespécie
(Homo sapiens sapiens).
Essa pequena quantidade de
genes diferentes está geralmente
ligada à adaptação do indivíduo
aos diferentes meio ambientes.
Embora não existam raças do
ponto de vista biológico,
existe todavia o racismo como
ideologia e ação social.
A discriminação.
O termo discriminação é utilizado
para referir percepções,
avaliações ou comportamentos
que resultam numa desvantagem
para o grupo-alvo. Neste sentido,
quando usamos o termo
discriminação estamos a referir-
nos à discriminação negativa..
O nacionalismo é o sentimento
de exaltação das características
consideradas próprias da
identidade nacional.
A xenofobia é a “aversão ou
hostilidade manifestada a pessoas
ou coisas estrangeiras”. Também
é um tipo de preconceito, que
indica uma repugnância relativa a
pessoas estrangeiras. Pode ou
não ter ligações com o racismo.
O que é a Antropologia?
Antropologia como ciência do ser
humano na sua totalidade surge
na primeira metade do Século XX
e divide-se em:
● Antropologia Física (estuda
a evolução do ser humano
enquanto espécie)
● Antropologia Social
(fundada por nomes como
Radcliffe-Brown e Malinowski,
muito marcada pela abordagem
da Sociologia de Durkheim,
procurava estudar a “estrutura
social” das sociedades não
industrializadas)
● Antropologia Cultural
(fundada por Franz Boas,
procurava estudar não apenas
a “estrutura social”, como
também, a “cultura” das
sociedades não
industrializadas)
Objetivo fundamental da
Antropologia Social e Cultural:
“tornar familiar aquilo que
nos é estranho e tornar
estranho aquilo que nos é
familiar”
“ O Ritual dos Nacirema”,
Horace Minner
Este texto fala sobre a cultura que
representa uma realidade
coletiva; NÓS- OUTROS;
Em que a cultura se baseia em
tradições, linguagem, hábitos e
valores.
🡪 É uma sátira\ critica ao povo
americano e á sociedade
comtemporânea,
A linhagem éque
umaafirma que
unidade
a relação com o nosso próprio
social, económica, religiosa,
corpoexpressa
tem influência com o que
por uma genealogia
vestimos, e como nos as
cuidamos.
precisa, em que tensões
internas que
🡪 A intimidade temantecedem
vindo a as
clivagens
crescer e as segmentações
– as pessoas são menos
íntimas em espaço de apoio
hospital, este acaba por ser o
único sítio onde existe uma
anormalidade da intimidade, pois
se estamos em sofrimento as
preocupações com a imagem
perdem importância.
Palavras-chave:
→ Corpo
→ Ritual
→ Santuários\ poder
→ Esteriótipo – “ ideias em
gavetas”
→ Curandeiros: templo( hospital) –
os mais importantes da
sociedade.
→ Vestais ( Enfermeiras, que
fazem a lavagem do corpo ao
doente)
→ Homens da boca sagrada
( dentistas) e Ritual Bocal
( lavar os dentes)
→ Magia
→ Pacotes mágicos ( remédio)
→ Agulhas mágicas – Agulhas
esterilizadas
→ Minner ( antropologo que usa
esta tribo para criticar a
sociedade americana do século
XX) – Nacirema ( american ao
contrario)
→ “goza” com a ideia de cultura
superior
“ A crença fundamental
subjacente a todo o sistema
parece ser a de que o corpo
humano é feio, e que a sua
têndencia natural é a debilidade e
a doença”
“ um povo obcecado pela magia”
“ o foco destas atividades é o
corpo humano, cuja aparência e a
saúde constituem a preocupação
dominante dentro do “ethos”
deste povo”
A “engenharia do corpo” nas
sociedades industrializadas
“Uma crença fundamental para
certos grupos na nossa sociedade
atual parece ser a de que o corpo
humano quando envelhece é feio,
e que a sua tendência natural é a
debilidade e a doença.
Encarcerado em tal corpo, a única
esperança do ser humano é evitar
essas características, através do
uso de poderosos recursos da
tecnologia e da medicina”
O Conceito de Cultura: Símbolos e
seu Significado
� Alguns antropólogos
defendem uma definição de
Cultura como sistema de
ideias, na base de uma
teoria da ação humana: a
Cultura enquanto estrutura
conceptual orienta o
comportamento humano; o
comportamento que se afasta
do padrão de símbolos é
considerado anormal,
anticultura, ou contra-cultura
� No entanto, crítica pós-
moderna a este conceito de
Cultura como símbolos: o
falso pressuposto de indivíduos
que inconscientemente são
governados pela sua Cultura
� Assim, a concentração nas
experiências de vida dos
indivíduos torna-se um traço
fundamental da Antropologia
contemporânea
A Cultura como uma questão de
Identidade:
Costa (1991): “os termos
identidade, self, caráter e
personalidade têm sido usados
para definir a unicidade que
diferencia o indivíduo dos outros;
uma distinção clara entre os
termos é, no entanto, difícil de
estabelecer”
� Identidade Social: “Aquela
parte do conceito de um “Eu”
individual que deriva do
conhecimento que o indivíduo
tem da pertença a um
determinado grupo social,
juntamente com o valor e
significado emocional
associado a essa pertença”
As estruturas do
parentesco
O que é o parentesco?
Parentesco:
Conjunto das relações que unem
os indivíduos tanto por base
biológica como por base cultural
(casamento)
Consanguinidade
Afinidade
(parentes no sentido biologico)
(parentes afins)
Sem
consaguinidade
Parentesco – pario-parir
É uma forma para organizar as
relações sociais entre indivíduos
na base de relações sexuais e de
procriação.
Filiação: é uma convenção social.
As funções do parentesco
O parentesco tem a função de
atribuir aos novos
nascimentos um lugar na
sociedade: é necessário
determinar qual grupo cuidará
dele (o da mãe ou o do pai), que
poderá se casar um dia. Em
muitas sociedades, o parentesco
está intimamente ligado à religião
e os casamentos também são
celebrados com um rito religioso.
O parentesco é, portanto, um
complexo de relacionamentos.
A linhagem:
A linhagem estabelece em todas
as sociedades a relação primária,
aquela entre um indivíduo e os
seus pais.
Patrilinear
Matrilinear
Bilateral
Parentes:
Os parentes são todos os
indivíduos consanguíneos ou
ligados por afinidades (tanto da
parte da mãe como do pai) com
os quais temos relações próximas,
formas efetivas de interação, e
com os quais podemos contar em
caso de necessidade moral ou
material.
Parentesco real: consanguineos.
Parentesco ficticio: dizem-se
parentes e comportam-se como
tal, mesmo não tendo laços
biológicos.
Residência:
→ Neolocal o casal vai morar
sozinho em um novo lar (típico
do mundo ocidental)
→ Natolocal marido e mulher
depois de casados continuam a
viver cada um na sua família de
origem (típico de muitas
sociedades da África
subsaariana e de regiões do
Tibete e da Índia)
→ Avunco local O Casal vai
morar na ou perto da cada do
irmão da mãe do noivo, o tio
materno, chamado em latim
avunculus (Melanesia e
Pacifico)
Matrilocalidade ou
uxorilocalidade: Residência na
casa ou povoação dos pais da
esposa
Patrilocalidade ou
virilocalidade: Residência na
casa ou povoação dos pais do
esposo
Sistemas de parentesco
O parentesco não existe no
mundo animal: até mesmo o
vínculo do sustento com os
pequenos tem tempos curtos e
não deixa vestígios de relação.
Os sistemas de parentesco
são, portanto, sistemas
sociais e históricos. São os
seres humanos de cada grupo que
criam o parentesco e lhe dão
sentido, regulando-o de acordo
com comportamentos específicos,
símbolos e regras. O parentesco
é, portanto, sempre um fato
social.
O parentesco é um princípio
de classificação e de
organização, um código, uma
linguagem mais ou menos
ideológica e mais ou menos
manipulada.
É um sistema de classificação,
um campo semântico amplo que
compreende todas as formas com
as quais nas diferentes CULTURAS
se pensam e organizam as
diferencias e relações de género,
as questões do nascimento e da
educação das crianças, da
organização de relações de poder
e autoridade no grupo, da
disposição e residência dos
grupos da produção de comida e
transmissão de bens (herança).
• parentesco não é só
espelho de relações
biológicas. É a nossa forma
de organizar e classificar
relações que cria o
parentesco, não os fatos
biológicos (casamento,
adopção, família gay).
o parentesco tem a ver com os
critérios para estabelecer
relações de aliança, interajuda,
apoio, conflito.
As bases da definição do
parentesco não são
biológicas mas as escolhas
próprias de cada cultura. O
mesmo processo biológico pode
ser interpretado de forma
diferente ou empregue para
 criar relações diferentes ou não
ser considerado relevante. As
teorias da procriação por
exemplo variam muito. Há
culturas onde não é
reconhecida a contribuição do
homem na procriação e o
verdadeiro protagonista é um
espírito ancestral que
engravida a mulher para voltar
a viver
🡪Os esquimó espírito da criança
entra no ventre da mulher
subindo da terra e é alimentado
pelo sémen do homem.
Tipologias de casamento
→ Monogámico ( um homem e
uma mulher)
→ Poligámico ( um homem e
várias mulheres)
→ Poliándrico ( Uma mulher
casa com vários homens.)
“ fala-se de uma troca
matrimonial quando se considera
o casamento não apenas como
uma instituição que define as
relações entre os indivíduos,
atribuindo um estatuto aos seus
descendentes, mas, numa
perspetiva mais estrutural e
global como um processo que
envolve no mínimo dois ou mais
grupos exogâmicos”
Exogamia: enlace matrimonial
entre pessoas que não pertencem
ao mesmo grupo familiar,
religioso, social e ético.
Trocas económicas e casamento.
-Homogamia: Casamento entre
iguais, entre membros de uma
poucas famílias. Representa uma
lógica de perpetuação entre
iguais.
-Hipogamia: Casamento com um
parceiro de classe inferior à
própria.
-Hipergamia: Casamento com
um parceiro de classe superior.
Bruxaria oráculos e magia
entre os Azande.
Azande: tribo no sul do Sudão.
O pensamento Zande inclui a
capacidade de estabelecer uma
relação entre bruxaria e causa-
efeito entre dois acontecimentos.
Bruxaria vs. Feitiçaria
Bruxaria = ato psíquico ( situação
hereditária)
Feitiçaria= poções mágicas (têm
de tomar substâncias para se
tornarem feiticeiros), efeito rápido
nas vitimas.
Qualquer representação da
realidade, seja esta mágica,
religiosa ou científica, tem lógica
e pode ser entendida só a partir
do conhecimento das regras e dos
valores presentes no seu
contexto. Não há algo verdadeiro
e algo falso, mas qualquer
pensamento é social na sua
natureza, também o sentido
comum, ou o pensamento mágico
são teorias isto é formas de
representar e intender o mundo
socialmente definidas.
Bruxaria e Feitiçaria
Serão os povos “primitivos”
capazes de distinguir entre o
natural e o sobrenatural?
Será o pensamento religioso
incompatível com o pensamento
científico?
A Bruxaria é diferente da
Feitiçaria : “Um bruxo não
pratica ritos, não profere
encantações e não possui drogas
mágicas. Um ato de bruxaria é
um ato psíquico” - sendo um ato
psíquico interessa à Psicologia
A bruxaria é algo herdado,
transmitido por descendência
unilinear, dos pais para os filhos;
no entanto, o interesse de um
Zande pela Bruxaria prende-se
com questões concretas – se
adoece, a sua pergunta para o
Oráculo será quais dos seus
vizinhos têm queixas contra ele e
se algum está a fazer bruxaria
contra ele.
Função da magia e da religião
Crenças e práticas religiosas
ajudam pra reduzir a ansiedade
das pessoas face àqueles eventos
que fogem ao nosso controlo:
morte, doenças, desgraças,
infortúnios e calamidades
naturais. São respostas ao drama
existencial do homem, a crise da
presencia como diz De Martino. A
bruxaria é uma linguagem
metafórica através da qual contar
e gerir desgraças. E é uma forma
de poder alternativo ao poder
oficial.
A Bruxaria está diretamente
associada com as relações sociais
da comunidade Azande:
A bruxaria opera quando existe
animosidade entre bruxo e vítima
e isso não costuma acontecer
entre crianças e adultos
� a animosidade tende a surgir
mais entre homem e homem, e
mulher e mulher, do que entre
homem e mulher; um homem
entra em contacto apenas com
sua esposa e parentas, tendo
pouca oportunidade de incorrer
no ódio de outras mulheres
� um doente não vai perder
tempo a perguntar ao Oráculo
sobre os seus irmãos e primos
paternos, pois se fosse
declarado que eles eram
bruxos, esta mesma declaração
o tornaria bruxo
em geral, pessoas com pouco
poder não perguntam ao Oráculo
a respeito de pessoas com muito
poder
� a Bruxaria não atinge um
homem a longa distância; só
faz mal à vizinhança,
Bruxaria como Explicação de
Infortúnios
“Bruxos, da forma como os
Azande os concebem, não podem
evidentemente existir. Não
obstante, o conceito de bruxaria
fornece aos Azande uma filosofia
natural, por meio da qual se
explicam as relações entre os
homens e o infortúnio, e um meio
rápido e estereotipado de reação
nos eventos funestos. As crenças
sobre bruxaria compreendem,
além disso, um sistema de valores
que regula a conduta humana”
� Assim, as doenças físicas são
também doenças sociais, no
sentido em que a doença e a
morte de um individuo é um
resultado do conflito com
outros habitantes da sua
comunidade
No entanto, O pensamento Zande
inclui a capacidade de estabelecer
uma relação entre bruxaria e
lógica de causa-efeito
O pensamento mágico não é
incompatível com pensamento
lógico
“Ao conversar com os Azande
sobre bruxaria, e observando suas
reações em situações de
infortúnio tornou-se óbvio que
eles não pretendiam explicar a
existência de fenómenos, ou
mesmo a ação de fenómenos
apenas por uma causação
mística”
“A crença Zande em bruxaria não
contradiz absolutamente o
conhecimento empírico de causa
e efeito (…) Se um homem é
morto por uma lança na guerra,
por uma fera numa caçada, ou
por uma mordida de cobra, ou
uma doença, a bruxaria é a causa
socialmente relevante, pois é a
única que permite intervenção,
determinando o comportamento
social (…) a morte não é somente
um facto natural – é também um
facto social”
A busca de um sentido para a
doença e para a morte:
“A atribuição do infortúnio à
bruxaria não exclui o que nós
chamamos de “causas reais”, mas
sobrepõe-se a estas, concedendo
aos eventos sociais o seu valor
moral”
� O pensamento mágico é
Universal: o pensamento
mágico NÃO é um recurso
exclusivo das sociedades
exóticas
� Psicologia da Religião,
enquanto projeto essencial
para o conhecimento completo
do Homo Sapiens:
o interesse pelo estudo das
crenças religiosas foi relevante no
início da Psicologia, enquanto
disciplina científica
Psicologia da Religião
A partir dos anos de 1980 e,
sobretudo, desde o início do
século XXI, grande impulso dos
estudos na área da Psicologia da
Religião, à medida que se procede
a uma revisão crítica das velhas
divisões: corpo/mente;
natureza/cultura; razão/emoções
A Religião está muitas vezes
associada com uma redução do
envolvimento em
comportamentos pouco
saudáveis: consumo de tabaco e
de álcool, abuso de drogas,
relações sexuais de risco,
tentativas de suicídio,
comportamento violento, dieta
pouco saudável
- a religiosidade contribui para um
sentimento de coerência
facilitando a atribuição de
sentido à vida e a prevalência
do otimismo e da esperança, com
impacto benéfico na saúde física e
mental
- a religiosidade está associada
com melhor auto-estima,
menos ansiedade e depressão
(“powerful coping
mechanism)
A religiosidade acrescenta uma
capacidade acrescida de lidar com
o infortúnio, seja entre os Azande,
seja entre os WEIRD dos países
ocidentais
� Porquê? Qual é o traço
particular que a Religião
acrescenta no que respeita a
lidar com o infortúnio, com as
adversidades da vida?
Várias respostas para esta
questão, de acordo com o que a
religiosidade significa para cada
indivíduo:
- a atribuição de um sentido para
a vida: “A busca de sentido por
parte do Homem é a motivação
essencial da sua vida e não uma
“racionalização secundária” de
impulsos instintivos (…) O vácuo
existencial é um fenómeno
frequente e alargado no século XX
(…) Nenhum instinto lhe diz o que
tem de fazer e nenhuma tradição
lhe diz o que deveria fazer”
(Viktor Frankl)
- a sacralização das atividades do
dia-a-dia
Amuletos
Os amuletos da sorte são objectos
utilizados para proteger uma
pessoa de má sorte, do perigo ou
das doenças. A palavra
“amuleto” nasce de duas outras
palavras: “amuletum”, que vem o
latim e significa “um objecto a ser
usado para a defesa”, ou
“hamalet” que significa “aquilo
que está suspenso” em árabe. A
maioria dos amuletos da sorte são
pedras preciosas, moedas,
pingentes, anéis e até símbolos
místicos ou religiosos, e há um
amuleto específico na história de
quase todas as culturas ou
religiões.
Trevos - Ideal para ser colocado
na bolsa ou na carteira para atrair
sorte e dinheiro.
Pentagrama - Poder e protecção.
Representa os cinco elementos
naturais da terra, ar, fogo, água e
éter.
Espanta Espíritos - Símbolo do
poder da cura energética. A força
vital passa pelos
tubos, espalhando as boas
energias para o
ambiente, acalmando o espírito
das pessoas.
Mão de Fátima - Protege contra
as enfermidades e atrai a boa
sorte. Cada um dos dedos
representa uma virtude (fé,
caridade, jejum, oração e
peregrinação).
Elefante Indiano - Trás
protecção para a casa. São
usados na decoração da casa, de
costas para a porta.
Olho negro, olho turco ou
místico - Amuleto de sorte e que
ajuda a espantar o mau-olhado.
Maneki Neko - Gatinhos com a
pata levantada, de cultura
japonesa, são usados para atrair
boa sorte e fortuna.
Olho de Hórus- Protecção,
Ampliação da Visão, Restauração
e Força.
Cristal Citrino – A sua energia
assemelha-se à do Sol; aquece,
conforta, penetra, energiza e dá
vida. O citrino é uma pedra de
felicidade e generosidade,
transmitindo alegria a todos que a
contemplam. Não existe espaço
para o desânimo e negatividade.
Palavras chave:
Bruxaria: detetado pelos olhos
vermelhos e resulta:
● Na morte das vitimas
lentamente; doenças\pragas
para as vitimas
Modo de atuação:
Durante os sonhos, a alma (como
uma luz parecida aos pirilampos)
sai da bruxa\bruxo e vai em
direção á vitima.
Feiticeiros: A feitiçaria é um
processo rápido e imediato na
vitima.
Hereditário
Unilinear
Parentesco unilinear, mesmo
sexo: pai passa para filho; mãe
passa para filha.
Oráculo\veneno: oráculos são
cidadãos mais velhos (e portanto
mais sábios) que tomam veneno
para adivinhação e visão.
Purificação
Infortúnio
Substâncias mágicas:
“substâncias-bruxaria”\ intestino
delgado.
Valores
Causa-efeito.
- no passado os príncipes e os reis
executavam as pessoas acusadas
de bruxaria para fazer uma
autópsia, já na época mais
moderna, não se faz execuções,
geralmente quando uma família é
acusada de bruxaria, os vizinhos
mudam-se ou afastam-se.
- uma pessoa que é bruxa pode
optar por não exercer a sua magia
e ser uma pessoa normal que não
causa danos a ninguém.
- Irmandade de bruxas (reunião
no mato) = tomam decisões para
saber quem vão atacar.
- Quando uma pessoa morre = o
bruxo\bruxa tem de atacar de
perto porque quando está longe
não alcança.
Ex.: um casal, cuja mulher é
acusada de bruxaria, tem uma
filha que por linha genética
também é bruxa. Quando a mãe
falece ou é assassinada a filha
pode pedir uma autopsia á mãe.
*se a autópsia revelar substância-
bruxaria então a família tem de
pagar uma indeminização.
*se esta autopsia revelar que não
há substância-bruxaria a família é
ilibada
- O marido vai em nome da
mulher consultar o oraculo
quando esta acha que sofre de
bruxaria (questões de género e
poder).
Acontecimentos:
1º: bruxaria
2º: causalidade- é uma questão
secundária (causa-efeito)
Ex: um celeiro cai em cima de
alguém:
1º: Alguém exerceu bruxaria
sobre a vitima
2º: pela ação e consumo operados
pelas térmitas, o celeiro caiu.
- as crianças-bruxas não praticam
magia, não podem causar danos.
Pirâmide de hierarquia:
1º: Reis e príncipes- nunca podem
ser acusados de bruxaria; o poder
máximo nunca é corrupto, nunca
é culpabilizado.
2º nobres
3º oráculos- não causam danos
ninguém, só fazem adivinhação.
4º povo\ bruxos\ feiticeiros.
Frases- chave:
“ os azande acreditam que certas
pessoas são bruxas e que podem
fazer-lhes mal em virtude de uma
qualidade intrínseca.. Um bruxo
não pratica ritos, não profere
encantações e não possui drogas
mágicas. Um ato de bruxaria é um
ato psíquico. Eles crêem ainda
que os feiticeiros podem faze-los
adoecer através da realização de
ritos mágicos que envolvem
drogas maléficas. Os azande
distinguem claramente entre
bruxos e feiticeiros. Contra
ambos, empregam adivinhos,
oráculos, e drogas mágicas. O
objeto deste livro são as relações
entre essas crenças e ritos” –
sistema mágico-religioso.
- os bruxos não apresentam
fisicamente sintomas de o serem
apesar das pessoas afirmarem
que se distinguem pelos olhos
vermelhos.
- crença de que o homem tem
duas almas, uma no corpo e outra
espiritual.
Na morte a alma do corpo
transforma-se num animal
totêmico do clã e a outra torna-se
num espirito.
- a crença em bruxaria não
contradiz totalmente o
conhecimento empírico da causa-
efeito..
Género e Antropologia
O corpo é algo produzido na e
pela cultura.
O corpo é uma construção
sobre a qual são
conferidas diferentes marcas
em diferentes tempos, espaços,
conjunturas econômicas, grupos
sociais, étnicos, etc.
Não é portanto algo dado à
priori nem mesmo é
universal.
Em primeiro lugar é importante
definir as relações de sexo
biológico, identidade de género e
orientação sexual, que são
erradamente usados como
sinônimos.
Uma pessoa pode ter órgãos
reprodutivos indefinidos, pode ter
órgãos que não
correspondem aos cromossomas
O conceito de identidade de
género, podemos dizer que se
refere à construção social do
papel do homem e da mulher a
partir das diferenças sexuais.
O conceito de género é definido
como uma construção
sociocultural, que atribui ao
homem e á mulher papéis
diferentes dentro da sociedade e
depende dos costumes de cada
lugar, da experiência
quotidiana das pessoas, bem
como da maneira como se
organiza a vida familiar e
política de cada grupo
humano.
� Nos anos de 1980 o conceito de
Género vulgariza-se para referir
a construção social das
diferenças entre homens e
mulheres, em contraste com a
noção de “sexo” que diria
respeito à diferença biológica.
� “Regime do género” (Connell,
1987): a divisão do trabalho, a
estrutura do poder e a
estrutura dos sentimentos e
emoções
Mas qual a relação entre Género,
enquanto construção social, e o
Corpo, enquanto entidade
biológica?
Pontes entre Biologia e Cultura: o
Sexo como uma construção social
Existe uma extensa discussão
académica a respeito do Sexo
biológico como uma construção
social:
� Antes do século XVIII, homem
e mulher eram vistos como
diferentes manifestações de
uma mesma unidade (o modelo
de um só sexo, de acordo com
o qual existiriam vários
géneros, mas apenas um sexo)
� De acordo com esta
perspetiva, a ideia de apenas 2
sexos seria uma construção
social, resultando da afirmação
da Medicina como força de
estabelecimento de normas
sociais (por exemplo,
entendendo os intersexuais
como uma anomalia patológica)
Para Miguel Vale de Almeida, o
corpo deve ser entendido não
apenas na sua biologia, mas
também como um produto social
(masculinidade e feminilidade
Hegemónica vs Subordinada)
Sexo Biológico: apenas 2 ?
Sexo Biológico: refere-se à
medição objetiva de órgãos,
hormonas e cromossomas. Ser
mulher significa ter vagina,
ovários, dois cromossomas X,
predominância de Estrogénio.
Ser homem significa ter testículos,
pénis, configuração XY de
cromossomas, predominância de
Testosterona. Entre estes dois
polos existem diversas
configurações de pessoas
intersexuais.
Identidade de género
Sexo e Género: uma questão de
Identidade
� O termo Self:
(…) usado para se referir à
consciência que cada sujeito tem
de existir como algo separado de
outras entidades e objetos,
implicando o conhecimento sobre
si próprio e a capacidade de
reflectir sobre esse
conhecimento, que se combinam
para criar o sentido de
identidade .” (Aronson, Wilson
&Akert, 2005)
- Identidade - pressupõe que o
indivíduo tenha conhecimento
sobre si, “quem sou eu?”, e que
tenha capacidade de refletir
sobre esse conhecimento,
criando o sentido de identidade
Trata-se de uma construção
específica histórica, cultural e
social, e que pode estar
ou não relacionada com distinções
que se baseiam no sexo
biológico
A expressão de género pode
também mudar muito no curso da
vida
A identidade de género não é fixa
nem imutável: uma mesma
pessoa, ao longo da sua vida,
pode se sentir pertencer a
géneros diferentes, no sentido de
auto-afirmação ou auto
reconhecimento, assim como
pode ter diferentes
orientações sexuais
O papel do homem e da mulher
(género) é constituído
culturalmente e muda conforme
a sociedade e o tempo.
Esse papel começa a ser
construído desde que o(a) bebê
está na barriga da mãe, quando
a família de acordo à
expectativa começa a
preparar o enxoval de acordo ao
sexo.
O conceito de orientação sexual,
define-se pelas práticas erótico-
sexuais nas quais as pessoas se
envolvem, bem como
pelo desejo e atração que
leva a sua expressão (ou não)
através de determinadas
práticas.
Esse dado classifica as pessoas
como “heterossexuais” ou
“homossexuais”
� Orientação sexual: refere-se
à forma como nos sentimos
mais atraídos fisicamente,
psicologicamente e
emocionalmente por pessoas
de determinado Género. Entre
a Heterossexualidade e a
Homossexualidade existe a
Bissexualidade assumida. Mas,
para além disso, desde os
estudos de Alfred Kinsey em
meados do séc. XX que
 sabemos que a maioria das
pessoas tem algo de bissexual.
Politizar o determinismo biológico;
Questionar porque as diferenças
biológicas são tomadas para
justificar determinadas
ações; Desnaturalizar o que
parece ser “natural”.
“Outros Corpos: Imigração,
Saúde e etnopolíticas da
cidadania”
Palavras chave:
- Multiculturalidade
- Migração\imigração
- Integração\ exclusão social\
dependência
- Responsabilidade
- Cidadania\ integração
\planeamento familiar
- Etnias
-Crianças\ adultos\ mulheres
- Comunidades
- Serviço social
- Bairros sociais = Pobres
- Etnopolíticas
- Saúde
- Corpo
- Estigma.
🡪 A ideia de “bem-estar” é
socialmente construída.
🡪o etnocentrismo está presente
neste texto, as políticas
relacionadas com a assistência ao
outro são sempre baseadas no
etnocentrismo.
🡪 As politicas não são racistas
mas sim racializadas (de racial)
🡪O objetivo do artigo é criticar a
forma particular como os
programas de intervenção junto
destas populações migrantes,
tentam gerir uma tensão que se
expressa numa dicotomia
vulnerabilidade\risco, que por sua
vez se expressa numa outra
dicotomia, assistência\
segurança., outro objetivo é
também questionar as formas de
problematização.
🡪São usados como exemplo para
a critica a relação entre alguns
profissionais com os seus utentes
imigrantes.
Os profissionais, afirmam que as
pessoas pobres e neste caso
imigrantes, não têm uma
mentalidade ou responsabilidade
suficiente para cuidar delas
próprias, sendo assim apostam na
sua intervenção, pois afirmam
que os imigrantes têm
dependência dela.
🡪Os imigrantes são visto então
como portadores de doenças e
problemas sociais, sendo assim as
politicas adotadas pelos
profissionais aos seus utentes são
etnocêntricas e racializadas.
Etnopsiquiatria e
Etnopsicologia
“Identidades em crise” propõe
uma reflexão sobre as noções
estereotipadas, essencializadas e
biologizantes de “cultura” e
“etnia”, conceitos que são
confundidos, nos serviços de
apoio aos imigrantes, com o de
“raça”
“Identidades em crise:
imigrantes, emoções e saúde
mental em Portugal”
� Associação das experiências
duras da emigração como
sendo propícias a um aumento
de psicopatologias – resultou
na progressiva medicalização
da experiência migratória
� Modelo de “seleção negativa” –
seriam os indivíduos fracos,
pouco integrados na sociedade
de origem, com escassas
ligações afetivas e estrutura
familiar instável a optar pela
emigração, levando a que os
seus distúrbios latentes se
manifestem no país de
acolhimento.
Esta representação da
vulnerabilidade psicológica como
característica intrínseca dos
migrantes não toma em conta a
relação mais ampla entre
sofrimento individual e
experiência de exclusão,
marginalização social,
discriminação e precariedade das
condições habitacionais e laborais
entre outros fatores
Permite transformar os
problemas sociais,
económicos e políticos de
grupos desfavorecidos em
problemas potencialmente
patológicos que podem ser
controlados e monitorizados
farmacologicamente
“Outros Corpos”:
Etnopolíticas de Cidadania
- crescente rede de assistência
social juntos de populações
desfavorecidas, com elevada
concentração de imigrantes
- programas que desenvolvem
atividades que intervêm no
quotidiano dos imigrantes,
orientando o seu comportamento,
corpos, moralidade e estilos de
vida – “Etnopolíticas de
cidadania”
� Objetivo político que se observa
nas ultimas décadas de
transformar o Estado do bem-
estar social, eliminando a
dependência do sistema
assistencialista, capacitando as
pessoas para serem
autossuficientes, autónomas,
responsáveis, e membros
produtivos da sociedade
- Progressiva reclassificação da
questão da pobreza, de um
problema de desigualdade
económica entre classes para um
problema racializado de desvio
comportamental, deficiências
morais e patologia cultural (“eles
não trabalham e não se inserem
porque não querem!” “Querem
viver à custa do resto da
sociedade”)
� Segundo uma assistente
social num projeto de
educação e prevenção no
âmbito da saúde:
“Para eles se tornarem cidadãos
portugueses devem adquirir as
nossas regras: higiene,
competência e responsabilidade
em relação à saúde e ao cuidado
pessoal e familiar são um
requisito fundamental (…)
significa criar hábitos saudáveis,
uma ética do trabalho,
características indispensáveis
para tornar estas pessoas
independentes”
� Estes sujeitos são
construídos como
vulneráveis mas também
como um risco exigindo uma
intervenção a dois níveis:
estrutural (criar instituições
políticas e económicas
adequadas, promover a
sociedade civil) e pedagógico
(educar, cultivar as
competências do indivíduo,
promovendo uma
transformação moral e pessoal
em direção ao um self
autónomo e liberal)
- Estes programas tentam gerir
uma tensão que se expressa na
dicotomia vulnerabilidade/risco,
que por sua vez se expressa
numa outra dicotomia
assistência/segurança
A política do assistencialismo é,
portanto, uma etnopolítica da
cidadania – a divisão de grupos
humanos de acordo com a
presença ou ausência de traços
ou disposições biopsicológicas,
culturais ou morais, que
necessitam ser tratados com
educação e orientação,
justificando uma tutela sobre
essas populações
O “Estigma” da doença mental
� Estigma – conceito sociológico
que aponta para a situação de
um indivíduo ou grupo
inabilitado para uma aceitação
social plena
Estigmatização – referência a
um atributo profundamente
depreciativo, dentro de uma
lógica de relações sociais:
“Em primeiro lugar, há as
abominações do corpo – as várias
deformidades físicas. Em
segundo, as culpas de caráter
individual, percebidas como
vontade fraca, paixões tirânicas
ou não naturais (…) inferidas a
partir de relatos conhecidos de,
por exemplo, distúrbio mental,
prisão, vício, alcoolismo,
homossexualidade, desemprego,
tentativas de suicídio e
comportamento político radical.
Finalmente, há os estigmas tribais
da raça, nação e religião, que
podem ser transmitidos através
da linhagem e contaminar por
igual todos os membros de uma
família”
O Estigma tem uma origem social,
mas pode ter um impacto
profundo na identidade
individual
� Muitas pessoas em diversas
condições sociais e de doença
mental são alvo de um
processo de estigmatização
que está na raíz de grande
parte do sofrimento (uma
questão de exclusão social):
alcoolismo e outros drogas,
patologias mentais severas, a
própria pobreza, em alguns
contextos a homossexualidade,
as perturbações de identidade
de género
A formação de categorias
psiquiátricas de diagnóstico
poderão ajudar a pessoa em
termos sociais mas também
contribuir para a sua
estigmatização
Etnopsiquiatria (também
designada por “Psiquiatria
Cross-Cultural” ou
“Psiquiatria Transcultural”): o
estudo das doenças mentais
numa perspetiva de comparação
entre culturas (“cross-cultural”),
incluindo definições de doença,
explicações de causalidade e
formas de tratamento diversas
em diferentes sociedades.
O conceito de doença mental na
Etnopsiquiatria
implica o conhecimento das
noções locais de explicação da
doença mental:
é muito difícil definir saúde
mental, porque é difícil
estabelecer uma diferença
entre o “normal” e o
“patológico” sem estigmatizar
(definições de saúde mental como
sendo a ausência de doença
mental, uma percepção correta da
realidade, ajustamento à
Sociedade, equilíbrio mental e
emocional, parecem ser
incompletas e demasiado
normativas )
Psicologia Cross-Cultural é
diferente de Etnopsicologia
Enquanto que a Psicologia Cross-
Cultural assenta no princípio de
uma “unidade da mente
humana”, a Etnopsicologia ou
Psicologia Cultural assenta no
princípio de que “culture and
psyche make each other up.”
A Cultura e o comportamento são
entendidos pela Etnopsicologia
como sendo inseparáveis:
mentes diferentes vão se
desenvolver em contextos
diferentes (a discussão em torno
das emoções como realidade
biológica e/ou social; a
complementaridade
Biologia/Cultura proposta por
António Damásio)
Competência Cultural e
Social na Psicologia Clínica
� A cultura é importante para o
diagnóstico e para o
tratamento; Para além disso
determina, em certa medida, o
comportamento das pessoas
em relação à sua saúde, assim
o termo “competência cultural”
tem vindo a ser defendido por
diversos Psicólogos e
Psiquiatras
No entanto, existem alguns
problemas relacionados com este
conceito:
O uso que tem vindo a ser feito
do termo Cultura na área da
Saúde, identificando-o com
Língua, Etnicidade ou
Nacionalidade (ou seja, como um
todo homogéneo)
- Na Antropologia
contemporânea, a Cultura não é
vista como algo estático ou
homogéneo; a Cultura envolve
múltiplas dimensões, desde a
Política, Economia, Religião e
envolve a Psicologia e Biologia
dos indivíduos.
A Cultura envolve a incorporação
de ideias partilhadas por um
grupo, o desenvolvimento de
redes sociais, representações
sociais coletivas e a demarcação
de uma identidade coletiva. Estes
vários processos culturais
apresentam formas diversas
dentro de um mesmo grupo
étnico ou social devido às
diferenças entre gerações, entre
géneros, associação política,
classe social, religião, e inclusive
personalidade individual
Assim, temos de ter consciência
que Cultura envolve múltiplos
aspectos Sociais sempre que nos
referimos à “Competência
Cultural”
� A necessidade do Psicólogo
adotar uma perspectiva
Etnográfica, ou seja,
compreender o ponto de
vista da pessoa a respeito
do mundo em ela se insere
(compreender os modelos de
explicação da pessoa doente –
“Explanatory Models”, com
espaço para ambivalência
cultural)
� 6 passos básicos para aplicar
esta perspectiva etnográfica no
âmbito da prática clínica
(revisão da abordagem Cultural
incluída no DSM-IV):
1 – Identidade Étnica:
perguntar a respeito da
Identidade Étnica e determinar se
é importante para a pessoa (se é
uma parte importante da
constituição do “self” individual)
2- O que é que está em causa?
: identificar aquilo que mais está a
ser afetado pela experiência de
doença mental (relações sociais,
recursos materiais, a própria
vida?)
3 – Recolher uma narrativa da
doença (“Illness Narrative”): o
entendimento pessoal da doença
por parte de um indivíduo (e, se
possível, da sua família); Esta
recolha assenta num conjunto de
perguntas e pode ser fundamental
para uma maior adesão do doente
ao plano de tratamento:
. Como é que se refere a este
problema?
Qual pensa ser a causa deste
problema?
Como pensa que poderá evoluir
este problema? Qual a seriedade
deste problema?
O que acha que este problema
provoca no seu organismo?
Como é que este problema afeta a
sua mente e o seu corpo?
Qual é o seu maior medo em
relação a este problema de
saúde?
Qual é o seu maior receio em
relação ao tratamento?
4- Tensão Psicossocial:
identificar as principais fontes de
tensão psicossocial e possíveis
fontes de apoio social (por
exemplo, tensão familiar,
problemas profissionais,
dificuldades financeiras); com
base nesta identificação,
possibilidade de intervir
diretamente (por exemplo, terapia
familiar) ou de encaminhar a
pessoa para outros profissionais
mais competentes
5- Compreender a importância
da Cultura na relação
terapêutica: os Psicólogos
devem assumir uma postura
crítica em relação às próprias
categorias de Diagnóstico (DSM),
e em relação aos seus próprios
estereótipos e preconceitos
6- Consciência dos limites da
abordagem Cultural e Social:
compreender o comportamento
individual da pessoa com base na
cultura ou condição social do
grupo em que se insere pode
conduzir a estereótipos; o
enfoque no contexto social nem
sempre explica o comportamento
individual e, mesmo que
explicasse, nem sempre nos ajuda
a resolver o problema
Vantagens de uma abordagem
terapêutica com competência
Cultural e Social:
- compreendendo os modelos de
explicação do doente sobre a sua
própria doença (modelos de
explicação que, muitas vezes,
estão presentes no contexto
social em que se insere)
aumentamos a probabilidade de
adesão inicial ao
acompanhamento psicológico e
continuidade desse
acompanhamento
- reconhecimento do sofrimento
do doente nos próprios termos em
que o descreve sem imposição de
categorias de diagnóstico que
podem constituir um estigma
social (a diferença entre “estar”
doente ou “ser” doente mental)
- possibilidade de melhorar ou
redefinir a articulação da pessoa
doente com o seu contexto social
“Os saberes da Cura”
Palavras-chave:
- Saúde e Saberes da Cura
- Doença
- Emoção
- Poder
- Incorporação.
- Pluralismo
- Hegemonia Biomédica
Estudo acerca do mercado da
cura dos quais os imigrantes são
portadores.
Na sociedade atual os imigrantes
são vistos como:
-portadores de doenças mentais
-mau estar psicológico
Sendo obrigados a frequentar
espaços que não têm real poder.
O texto aborda maioritariamente
a saúde mental e em minoria
termos biológicos, aborda
também o sofrimento (o que é o
sofrimento?)
Faz uma critica á biomedicina no
que toca a resolver tudo através
de fármacos (até o sofrimento se
cura desta mesma forma)
- o desafio foi refletir sobre de que
forma o mau estar dos imigrantes
passava pela biomedicina:
1- na biomedicina afirma-se que
no nosso corpo é possível
identificar e dar um nome ao mau
estar individual.
2- a biomedicina afirma que a
causa da doença é sempre no
interior do individuo.
3- a doença responde por
mecanismos universais (A mesma
doença= A mesma cura)
- o sofrimento pelo qual os
imigrantes são portadores passa
pela biomedicina, já que trata os
indivíduos como iguais, sem
individualidade e subjetividade,
enquanto que a crença especifica
neste texto é que:
- existem manifestações entre o
desequilíbrio e o corpo
- o corpo responde sempre de
forma individual e especifica
- a origem do sofrimento faz parte
do campo relacional.
“Engenharia do Corpo”:
saúde e cosmética
O Aprimoramento
(“enhancement”) como um ideal
social
O aprimoramento médico é hoje
uma questão social urgente
À medida que os melhoramentos
médicos se tornam mais eficazes,
eles atraem novos utilizadores: a
China e o Brasil são hoje,
respectivamente, o terceiro e o
segundo maiores mercados
mundiais da cirurgia estética,
enquanto em muitos países em
desenvolvimento as drogas “com
prescrição” são usadas para
acelerar o desempenho sexual ou
mental
O artigo explora as fronteiras
ténues entre práticas de saúde e
aprimoramento. Baseia-se no
trabalho de campo etnográfico em
cidades brasileiras: os usos da
cirurgia plástica no Rio de Janeiro
e das terapias de hormonas
sexuais em Salvador, Bahia,
principalmente por mulheres.
Entre a saúde e o aprimoramento
A cirurgia estética e a terapia
hormonal são tipos bem distintos
de terapias que envolvem
diferentes aspectos do corpo, da
saúde e do bem-estar. Contudo,
no Brasil, há uma sobreposição
clínica dessas terapias, como
modo de intervir, ou otimizar, a
saúde reprodutiva e sexual de
mulheres, e também seu bem-
estar
No Brasil, diversos procedimentos
– incluídos os implantes mamários
e a abdominoplastia, a liposucção
e a “lipoescultura” (na qual a
gordura é reinjetada no corpo), a
rinoplastia e o lifting facial – foram
amplamente disponibilizados nas
últimas décadas e costumam ser
apresentados como um meio
essencial de gerenciar a
saúde reprodutiva, sexual e
psicológica das mulheres.
Essas terapias estão
associadas a tratamentos
estéticos, medidas higiênicas
e práticas de “cuidar-se”,
considerados essenciais à
feminilidade moderna. Os
pacientes encaram as práticas
hormonais e a plástica como parte
integral de formas comuns de
cuidar-se, que incluem exercícios
físicos e controle do peso, a ida ao
salão de beleza para fazer as
unhas ou um alisamento nos
cabelos, manter o corpo
bronzeado ou fazer depilação.
Não há, portanto, uma
distinção clara entre os
tratamentos estéticos,
higiênicos, eróticos e médicos
Neste artigo, é explorada a
forma como essas tecnologias
e terapias são adotadas em
resposta a pressões,
ansiedades e aspirações
originadas no ambiente de
trabalho e na vida íntima.
Esses usos costumam divergir do
discurso médico oficial ou dos
programas de saúde pública,
embora recebam o apoio tácito e
o incentivo de médicos:
- o controle de natalidade é a
principal indicação aprovada de
contraceptivos hormonais,
embora existam vários usos não
recomendados, incluindo o alívio
de cólicas menstruais, a
supressão menstrual, a
regularização do ciclo, a
recuperação da libido e os usos
“estéticos” controversos, como o
controle do peso e a melhora da
textura da pele e do tônus
muscular
- a prática rotineira de cirurgias
estéticas na camada mais rica da
sociedade brasileira contribuiu
para a percepção de que essa
prática é parte integral de
regimes modernos de gestão da
saúde da mulher
- Ou seja, não se trata apenas de
usar estas terapias e tecnologias
de uma forma individualista para
cuidar do “self”
- O “cuidar-se” – é
frequentemente associado ao
cuidado com os relacionamentos:
enquanto a pessoa cuida do
corpo, ela também está criando
relações sociais
- Esses usos apontam para a
importância de aspirações sexuais
e de classes
� - Por exemplo, a terapia de
reposição hormonal (TRH) é
altamente prescrita no Brasil
com os mais diversos
propósitos: controlar os
sintomas da menopausa, tratar
a disfunção sexual ou melhorar
a experiência sexual. Com a
menopausa, “o corpo” – disse
um ginecologista – “começa a
envelhecer e entrar em
decadência. As mulheres hoje
vivem mais e permanecem
sexualmente ativas. A TRH
surge apenas para ajudá-las a
manter suas vidas e
relacionamentos”. Existe a
ideia implícita de que é justo
que um homem, busque sexo
com mulheres mais jovens se
sua esposa fica “largada”
🡪Norma social que obriga as
mulheres a permanecer
sexualmente disponíveis e
atraentes, de acordo com uma
representação idealizada da
feminilidade (juvenil).
A plástica e a terapia com
hormonas costumam ser usados
para manter diferentes tipos de
relacionamentos – doméstico,
profissional, de classe – em
ambientes de muita incerteza
🡪Aumento do uso de esteroides
anabolizantes, Viagra recreativo,
melhoramento neurológico e
outros meios experimentais para
aperfeiçoar e lidar melhor: o
aperfeiçoamento passou a ser
uma questão de saúde e ética
crucial
A era da Psicofarmacologia
Cosmética (Kramer) – o uso de
medicamentos para contornar
dificuldades quotidianas
resultantes de certos traços de
personalidade (ex: timidez), na
inexistência de psicopatologia.
Antropologia Psicológica:
os fundamentos
psicológicos da Cultura
Humana
Emoções: um objecto de estudo
multidiscilplinar
Desde os anos de 1980, interesse
pelo tópico das Emoções em
diversas disciplinas:
- insatisfação com o modelo
computacional da Psicologia
Cognitiva (a ausência de emoções
na tomada de decisão)
- renovado interesse na
compreensão da experiência
emocional das pessoas, situada
num determinado meio
sociocultural
� Mas, até anos recentes,
continuam as velhas
dicotomias: mente/corpo,
razão/emoção e
cultura/natureza
� Duas grandes abordagens
opostas ao estudo das
emoções: os biologistas e os
construtivistas sociais
Emoções: biologistas vs
construtivistas sociais
� Abordagem Biologista: as
emoções são essências
 universais, inatas e
geneticamente determinadas,
fenómenos biológicos,
passivos e involuntários,
respostas instintivas aos
estímulos do ambiente,
independentes da cultura e fora
dos interesses e das
possibilidades de compreensão
dos cientistas sociais.
� Abordagem do
Construtivismo Social: as
emoções dependem da
interpretação ou avaliação de
um estímulo, isto é, de um
processo de atribuição de
significado e valor moral; são
construções sociais,
variáveis como qualquer outro
fenômeno cultural; não faz
sentido falar de emoções
universais, idênticas através
das culturas e do tempo; é
possível compreender as
emoções mesmo sem
considerar os aspetos
biológicos.
Neurociência das Emoções:
unidade corpo/mente,
natureza/cultura
� Superação da divisão
Corpo/Mente na
Neurociência:
- corresponde à superação da
velha divisão entre Emoção e
Razão
- Emoções: reações fisiológicas
a estímulos de uma situação
real ou imaginada, que irão
provocar alterações tanto no
corpo como na mente
- Sentimentos: a experiência
mental das Emoções
- As emoções podem
influenciar os pensamentos
e a tomada de decisão; os
pensamentos podem
provocar as reações
fisiológicas típicas das
emoções (ex: a ponderação de
um comportamento agressivo
pode provocar as reações
fisiológicas da Raiva que, por
sua vez, podem influenciar o
comportamento e a tomada de
decisão)
Neurociência das Emoções :
unidade corpo/mente
- “Os sentimentos são a
revelação, em cada mente
individual, do estatuto da vida no
respetivo organismo (…) Uma
homeostasia deficiente é
expressa por sentimentos
sobretudo negativos, ao passo
que os sentimentos positivos
expressam níveis homeostáticos
apropriados (…) Os sentimentos
são as experiências subjetivas do
estado da vida, ou seja, da
homeostasia, em todas as
criaturas dotadas de mente e de
um ponto de vista consciente”
- “O sistema nervoso não cria
a mente por si só, mas sim em
colaboração com o resto do
organismo. Rejeito a visão
tradicional do cérebro como
origem única da mente”
Homeostasia ou homeostase, a
partir dos termos gregos homeo,
"similar" ou "igual", e stasis,
"estático", é a condição de
relativa estabilidade da qual
o organismo necessita para
realizar suas funções
adequadamente para o equilíbrio
do corpo. É a propriedade de
um sistema aberto,
especialmente dos seres vivos,
de regular o seu ambiente
interno, de modo a manter uma
condição estável mediante
múltiplos ajustes de equilíbrio
dinâmico.
Culturas humanas de acordo com
a Neurociência: Sentimento e
Intelecto
� A Cognição obviamente dá
forma aos
empreendimentos culturais
- desenvolvimento e transmissão
das culturas humanas através da
linguagem
- à medida que os seres humanos
desenvolveram Sociedades e
Culturas complexas, o grande
desafio do cérebro tornou-se a
gestão das interações e relações
sociais (a importância da
Sociabilidade)
� No entanto, “Os
sentimentos são os
motivos para reagirmos a
um problema, e
monitorizam o êxito da
resposta ou a falta dele”:
- O exemplo da aprendizagem: é
necessária uma motivação
(componente emocional) para os
processos cognitivos da
aprendizagem (memória, atenção,
etc; )
Culturas humanas e Neurociência:
Unidade Sentimento/Intelecto
Os sentimentos contribuem de
três maneiras para o processo
cultural:
1- Como motivadores da
criação intelectual
a) incitando a deteção e o
diagnóstico de deficiências
homeostáticas;
b) identificando os estados
desejáveis e merecedores de
esforço criativo;
2-. Como monitores do êxito ou
do fracasso dos instrumentos e
das práticas culturais;
3. Como participantes na
negociação de ajustes exigidos
pelo processo cultural ao longo do
tempo
Pontes entre Antropologia e
Neurociência: unidade
Natureza/Cultura
A motivação para aprender
resulta da procura de emoções e
sentimentos agradáveis
juntamente com a necessidade
de sobrevivência dentro de um
determinado contexto cultural
A aprendizagem acontece, então,
num determinado contexto social
e cultural – os sentimentos como
motivação da Cultura, a Cultura
como motivadora dos
Sentimentos (superação da
divisão entre Natureza e Cultura)
Desta forma, observa-se o cérebro
individual e sociedade e cultura
recriando-se mutuamente - a
plasticidade explica a mudança
social e resolve o enigma da
Antropologia social (de onde vem
a Sociedade e a Cultura e como é
que acontece a mudança social e
cultural?)
� Contra o determinismo
biológico e o determinismo
cultural -
complementaridade entre
seleção natural e seleção
cultural:
“(…) o desenvolvimento dos
códigos de conduta (…) terá sido
inspirado pelo imperativo
homeostático (…) Fortaleceram a
coesão social, algo que, em si
próprio, é favorável à
homeostasia”
No entanto, esses códigos de
conduta “foram moldados pela
especificidade das circunstâncias
do seu momento na História e
pelos seres humanos que
desenvolveram tais códigos (…) É
preciso ter em conta a seleção
cultural e, para tal, precisamos da
ajuda da história, da geografia, da
sociologia, entre muitas outras
disciplinas”
Antropologia das Emoções
Emoções como fenómenos
Biológicos
Paradigma Evolutivo definido por
Darwin, no seu estudo sobre
expressão das emoções: as
emoções como mecanismos
adaptativos (a expressão das
emoções – sobretudo expressões
faciais – como indicação das
intenções dos indivíduos)
� Ekman, no seu estudo
“neurocultural”: estudo sobre
várias culturas que conclui que
a alegria, o espanto, o medo, a
raiva, o nojo e a tristeza são
emoções universais, com o
mesmo tipo de expressão facial
em todas as culturas
Psiquiatria e Psicologia
Transcultural (cross-cultural): a
unidade psíquica da mente
A Psiquiatria parte do pressuposto
da existência de substrato
fisiológico e psicológico Universal,
ao qual se sobrepõe a
variabilidade cultural. Assim,
Biologia e Psicologia seriam
indissociáveis, subjacentes aos
aspectos socioculturais.
- Neste sentido, processos
cognitivos e emoções seriam
invariantes naturais e
universais
- Hegemonia científica através
das suas categorias de
diagnóstico e dos seus modelos
terapêuticos
- A Cultura como um fator
meramente influenciador, que
atenua ou regulamenta uma
expressão emotiva universal;
ou condiciona a sua
interpretação por intermédio
das crenças culturais
particulares
Abordagem caracterizada pelo
reducionismo biológico,
diagnósticos baseados em
testes uniformizados,
intervenção clínica
alicerçada na farmacologia
para a resolução dos
sintomas
- Correlação entre sintomas e
características cognitivos,
desequilíbrios neuroquímicos e
défices genéticos, conducente
a um diagnóstico que se
pretende ser objetivo
Etnopsiquiatria e Psicologia
Cultural
� Etnopsiquiatria – Tenta
edificar um sistema de
saberes e práticas complexo,
múltiplo, plural, onde a
Psiquiatria Ocidental é
apenas um dos elementos
presentes. Explora outros
modelos do corpo, do
sofrimento e das emoções,
outras terapias e
conhecimentos, e integra-os,
reconhecendo-lhes o
estatuto de teoria, deixando-
se alterar por eles
(influenciada pela
Antropologia)
- De acordo com a
Etnopsiquiatria, as emoções
derivam da interpretação e
avaliação de estímulos, ou
seja, de um processo de
atribuição de sentido e de
valor histórica e
culturalmente específico.
Portanto, não tem sentido
falar de emoções inatas e
universais, idênticas
através das culturas e do
tempo.
🡪De acordo com esta
perspectiva, torna-se
necessário aceitar que cada
Cultura terá um impacto na
definição das emoções e das
doenças, sendo necessário
reconhecermos a existência de
múltiplas definições de
normalidade e anomalia,
baseadas em representações
diversas e alternativas da
saúde, do sintoma, da doença e
da cura.
- Nesta perspetiva, a própria
Psicologia e Psiquiatria
Ocidentais são consideradas de
etno-saberes ou psicologias
locais, na medida em que se
organizaram num
determinado contexto
histórico e cultural
- O objectivo da
Etnopsiquiatria é articular os
sintomas manifestos com a
história individual e o contexto
sociocultural (articular Biologia,
Psicologia e Cultura)
- Baseia-se em teorias e
métodos de diferentes
disciplinas: Psicologia,
Psiquiatria, Antropologia,
Filosofia, Biologia
Etnopsiquiatria e Culture-bound
Syndrome
� Culture-bound Syndrome: a
combinação de sintomas
somáticos e psiquiátricos que
são considerados como parte
de um doença identificável
 apenas dentro de uma
determinada cultura. Não
apresenta alterações
bioquímicas objectivas, nem
alterações estruturais de
órgãos ou funções. Foi incluído
no Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders
(DSM-IV)
A Construção Social das Emoções
� As antropólogas Lila Abu-
Lughod e Catherine Lutz
(1990) proclamaram que
“longe de ser entidades
psicobiológicas internas, as
emoções são antes construções
socioculturais, estilos culturais,
práticas discursivas e
performances sociais
culturalmente específicas”
Pontes entre Antropologia e
Neurociência: Especificidade e
Plasticidade
Especificidade e Plasticidade (e
não natureza e cultura) explicam
o desenvolvimento do sistema
nervoso humano e ambas são
totalmente dependentes tanto
dos genes como do ambiente
� Especificidade: potencial de
desenvolvimento do cérebro
humano, específico ao Homo
Sapiens, que permite
desenvolver no momento
certo os circuitos neurais
apropriados
� Plasticidade: variações que se
desenvolvem como adaptação
a contingências ambientais de
forma a criar no cérebro uma
representação do meio
ambiente e um plano sobre
como agir e interagir com ele
Plasticidade: o cérebro humano
não é um órgão definitivamente
formado à nascença, mas antes
uma entidade dinâmica, moldada
pelo ambiente e pela experiência
individual e capaz de criar
continuamente novas
configurações
Antes pensava-se na plasticidade
como uma caraterística só dos
primeiros meses ou anos da vida
e de determinadas partes do
cérebro, os neurocientistas agora
comprovaram que a plasticidade
se aplica a todo o cérebro e para
todo o curso da vida
O cérebro plástico é portanto
“um órgão culturalmente
específico” (CLARK e CHALMERS,
1998), “um cérebro ecológico ou
cultural, dependente, para toda a
sua vida da relação com o
ambiente natural, social e
cultural”
A Neurociência aproxima-se do
Construtivismo Social da
Antropologia
� Rejeição do determinismo
Psicobiológico, mas também do
determinismo Sociocultural:
- Os ambientes nos quais os seres
humanos vivem são ambíguos e
complexos e, portanto, abertos a
interpretações divergentes, e a
sua codificação em categorias
distintas e definidas depende da
percepção e da avaliação
individual
- o processo de “interiorização” é
extremamente complexo
“A nossa própria biologia nos
transformou em criaturas que
constantemente recriam os seus
ambientes neuropsíquicos e
materiais”
Individuo e Sociedade recriando-
se mutuamente
� Assim, em vez de serem
receptores passivos das
informações do ambiente,
os seres humanos são
criadores ativos de seu
próprio mundo. Os seres
humanos constroem
continuamente os ambientes
materiais e sociais dos quais
eles precisam para se
completar (cf. António Damásio
e a noção de Homeostasia)
� Antropologia e
Neurociência
complementam-se: a Cultura
e Sociedade são criadas pela
cérebro, motivado por emoções
e sentimentos; ao mesmo
tempo, o próprio Cérebro é
continuamente redefinido pela
Cultura e Sociedade envolvente
Corações queimados: A
dor da memória nas
narrativas de pacientes
Bijagós
O sentido da doença
Trabalho de terreno em Bubaque
(Bijagós, Guiné Bissau)
� - Odiáki: adivinho e médico
tradicional com conhecimento
especializado de farmacopeia e
do mundo sobrenatural
� - Responde às perguntas
“Porque estou doente?”, “Por
causa de quem?”, “quem tem
problemas comigo?”, Qual é o
sentido deste mal-estar?, estes
problemas começaram quando
e em relação a quê? –
“ A doença exige um sentido,
uma justificação, segundo um
código que estará depois na
base da procura da cura mais
adequada (…) É só depois
desta interpretação que se
pode saber onde procurar a
melhor resposta profissional”
– no caso do Odiáki - dupla
alternativa terapêutica: um
curandeiro dotado de poderes
extranaturais
O Odiáki afirmava que “a saúde
das pessoas refletia por um
lado a qualidade das suas
relações com os outros, pelo
outro era espelho do próprio
equilíbrio interior”
As suas interpretações em termos
de sintomatologia dos seus
pacientes “não derivavam
portanto de uma concepção
da doença como algo fechado
nos confins do corpo
individual, mas levavam em
conta ao mesmo tempo a
situação biológica, psicológica
e social do paciente e do seu
grupo, inserindo aquele episódio
particular de sofrimento numa
rede de conexões muito mais
ampla que juntava o passado com
o presente, a memória individual
e coletiva, e os múltiplos domínios
da experiência que cada indivíduo
pode atravessar” – “invejas
familiares, conflitos conjugais,
tensões com os antepassados,
ataques de espíritos, ou
desequilíbrios emocionais não
resolvidos”
Qualquer doença radica em
desequilibrios das emoções e
dos pensamentos individuais
ou no influxo dos sentimentos
dos outros, que podem alterar
o equilíbrio entre o corpo e a
sua energia vital – “A
concepção local junta
portanto a psicologia e a
fisiologia humanas, incluindo
enquanto aspectos do mesmo
processo aquilo que nós
distinguiríamos como
pensamentos, emoções, desejos,
tensões e os seus efeitos no corpo
A sua interpretação da doença
e intervenção terapêutica
parece desmentir três teses
fundamentais da medicina
ocidental: os sintomas são
signos de uma doença-facto; o
móbil da doença está situado no
interior do corpo do indivíduo; o
corpo responde sempre através
de mecanismos naturais e
portanto redutíveis a processos
universais
O Acto Terapêutico
No tratamento das dores ou
doenças crónicas, o acto
terapêutico do curandeiro
funciona como uma espécie de
arqueologia da memória,
destinada a evocar e a trazer
à luz as vivências passadas, as
feridas, as penas: a dor era
escutada não só pelo que
comunicava sobre o estado do
corpo físico, mas
especialmente pelo que
transmitia sobre a desordem e
as crises individuais e da
comunidade
Relatos de sintomas que
evidenciam as violências que
sofreram durante o período
colonial – A doença pode ser
interpretada como uma esponja
que absorve os significados
peculiares das vivências pessoais
e das situações interpessoais
“N’odi” – a doença da solidão
“N’odi”, a emoção que
acompanha as separações, as
distâncias, as fraturas de laços, é
considerada muito perigosa para
a saúde. Atinge particularmente
as pessoas que migram, seja de
uma ilha para a outra do
arquipélago, seja para Bissau ou
outras cidades do continente, seja
para a Europa
Na medida em que a pessoa, na
antropologia bijagó implícita,
precisa da rede de relações
sociais para a sua própria
completude, a perda de
vínculos importantes constitui
a perda de partes de si
mesmo, uma perda física
dolorosa. A solidão é encarada
como uma doença, e a fratura
dos laços afetivos como a pior
dor possível
Os problemas sociais são
orgânicos
Uma perda no corpo social é
sentida como uma dor penetrante
no corpo físico individual. Assim
se fala de problemas sociais como
se fossem problemas orgânicos,
que são desta forma vivenciados
e sentidos. O corpo físico adoece
se o corpo social não é saudável.
A intervenção do curandeiro é
principalmente interpretativa: ele
conecta a dor, os sentimentos e
as relações sociais do paciente no
passado e no presente,
explicando uma cadeia causal da
qual o ultimo anel é a doença e a
crise
A fim de recompor a ordem física
social, de atribuir e redefinir
sentidos, restabelecer a saúde da
pessoa e o bem-estar colectivo, o
odiaki interpreta as metáforas
incorporadas e as narrativas da
doença que os seus pacientes lhe
transmitem como mensagens de
crise pessoal e existencial que
também exprimem as feridas
históricas, os problemas e as
contradições da comunidade
Somatização?
Somatização?: a etiqueta de
“somatização” bem pouco auxilia
a compreensão da realidade e
significado do sofrimento dos
doentes: os estudos sobre a
genealogia da categoria
sublinham como a sua definição
conceptual reflecte a dicotomia
cartesiana “corpo/mente”
- Apesar do conceito de
somatização constituir uma
tentativa de ultrapassar o
dualismo mente/corpo, acaba por
reproduzi-lo:
- a leitura clínica dos sintomas
continua portanto baseada numa
representação dicotómica do ser
humano, reproduzindo um
contraste nítido entre doenças
“verdadeiras”, pelas quais os
doentes não são responsáveis, e
doenças “imaginárias”, do foro
psicológico
- o corpo funcionaria como meio
de expressão de uma realidade
que está para além e é
independente do mesmo: a
realidade psíquica ou social
- O que falta ao conceito de
somatização parece ser uma
concepção do corpo em si como
agente activo na produção da
experiência e dos significados
Pontes entre Antropologia e
Psicologia, entre Cultura e
Biologia
Atualmente existem sinais de uma
possível e desejável convergência
entre Antropologia e Neurociência
que permita superar as velhas
dicotomias: corpo/mente,
natureza/cultura:
- A diferença de Género é
instaurada a partir do corpo
- A realidade biológica do “Sexo”
é até certo ponto uma construção
social
Superação da dicotomia
Corpo/mente na Antropologia:
- A superação da distinção
corpo/mente na Antropologia teve
como autor pioneiro Marcel
Mauss, com o seu conceito de
“Habitus”: soma total de usos
do corpo, definidos por uma
determinada cultura, numa
determinada sociedade (desde a
forma como se come, como se
descansa, como se nada, até aos
cuidados com as crianças)
Pontes entre Antropologia e
Psicologia: Incorporação
No entanto, só a partir de 1990,
podemos identificar a prevalência
do novo paradigma da
“Incorporação” da Cultura na
Antropologia
Sofrimento Social (A.
Kleinman) – a conexão entre o
sofrimento individual e a
incorporação do sofrimento
presente na experiência
interpessoal, na memória coletiva
“Incorporação” ou
“embodiment”: internalização
psicológica das representações
sociais coletivas, através do corpo
(ex: oposição
masculino/feminino)
Representações Sociais dentro
da Psicologia Social (segundo
Abric, baseando-se na teorização
de Moscovici):
“Defendemos que não existe uma
realidade objetiva a priori, mas
que toda a realidade é
representada, ou seja, apropriada
pelo indivíduo ou pelo grupo,
reconstruída dentro do seu
sistema cognitivo, integrada
dentro do seu sistema de valores,
dependendo da sua história e do
seu contexto social e ideológico.”
Conceitos Fundamentais
“Habitus”: conceito criado por
Marcel Mauss, para designar a
soma total de usos do corpo,
definidos por uma determinada
cultura, numa determinada
sociedade (desde a forma como
se come, como se descansa,
como se nada, até aos cuidados
com as crianças)
“Incorporação” ou
“embodiment”: internalização
psicológica das representações
sociais coletivas, através do
corpo, onde os “Habitus” são
muito importantes (ex: oposição
masculino/feminino)
Representações Sociais dentro
da Psicologia Social (segundo
Abric, baseando-se na teorização
de Moscovici):
“Defendemos que não existe uma
realidade objetiva a priori, mas
que toda a realidade é
representada, ou seja, apropriada
pelo indivíduo ou pelo grupo,
reconstruída dentro do seu
sistema cognitivo, integrada
dentro do seu sistema de valores,
dependendo da sua história e do
seu contexto social e ideológico.”