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INTRODUÇÃO

PROGRAMA DE REGULARIZAÇÃO DE ATIVOS


LÍCITOS NO EXTERIOR E DIREITOS À
PROTEÇÃO DA PROPRIEDADE PRIVADA
Heleno Taveira Torres

Professor Titular de Direito Financeiro da Faculdade de Direito


da USP. Foi Vice-Presidente da International Fiscal Association –
IFA. Advogado.

Os programas de “Offshore Voluntary Disclosure”, nos


vários países de democracias consolidadas que os adotaram,
inserem-se no ordenamento como medidas de “justiça de
transição”, a exemplo do que se verifica com as anistias de or-
dem política. No caso, para determinar modificações no sigilo
bancário, ante os novos modelos de transparência e controla-
bilidade de dados fiscais de contas com depósitos de origem
“lícita”, mediante anistia. O Brasil, por toda a sua história de
turbulências econômicas, não poderia deixar de reconhecer a
oportunidade de assumir esta anistia como condição necessá-
ria para a transição desejada para o regime de Fisco Global.
O paradigma do “Fisco Global” consiste no rompimento
com a dogmática tradicional da soberania delimitadora dos
poderes de acesso do Fisco a informações dos contribuintes

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ou realização de atos de controle no exterior. Como exemplo,


autorizar a realização de fiscalizações, notificações ou cobran-
ça do crédito tributário em Estados estrangeiros, sempre por
força de convenções multilaterais ou bilaterais, inclusive com
acesso às contas bancárias dos nacionais ou residentes, me-
diante trocas automáticas de informações e mútua assistência.
Esta reação global começou com o combate aos planejamen-
tos tributários mediante o uso de “paraísos fiscais” (tax havens),
como se vê do Relatório OCDE “Harmful Tax Competition – an
Emerging Global Issue”, de 1998, que estimulava a introdução
de leis internas de controle. Na sequência, a OCDE contribuiu
para o aprimoramento das normas antielisivas (gerais e especí-
ficas) e a assinatura de convenções bilaterais com os “paraísos
fiscais”, sob o Modelo “Agreement on Exchange of Information on
Tax Matters” (em geral, na forma de Tax Information Exchange
Agreement – TIEA), ao tempo do surgimento do “Global Forum”,
por volta do ano 2000. E, mais recentemente, chega-se à mútua
assistência com trocas automáticas de informações fiscais e fi-
nanceiras, por convenções multilaterais, com intensa coopera-
ção institucional, a exemplo do FATCA (EUA), da OECD com o
“BEPS” (2013)1 e do Global Forum.

1. Os 15 planos de ação do BEPS foram implementados na seguinte ordem, com


conclusão prevista para 2015: “A1. Economia digital na aplicação das regras fiscais
vigentes e sugerir meios para contorná-los. A2. Neutralizar os efeitos da manipula-
ção de arranjos decorrentes esquemas alicerçados em hybrid mismatches, investi-
mentos híbridos no Modelo-OCDE. A5. Medidas enérgicas contra as práticas fiscais
prejudiciais com foco na transparência, e exigência de substância sempre que as
subsidiárias se beneficiarem de regimes fiscais privilegiados. A6. Prevenir uso abu-
sivo de tratados, promovendo alterações no Modelo-OCDE e a dupla não tributa-
ção. A8. Assegurar que as regras de transfer pricing evitam a erosão da base tribu-
tável dos intangíveis. A13. Reexaminar documentos exigidos de transfer pricing
com o propósito de fortalecer a transparência fiscal entre as autoridades fiscais. A3.
Controladas no exterior – Fortalecer regras de CFC. A4. Limitar o uso de juros e
outras espécies de financiamento entre partes relacionadas com vistas a minimizar
a erosão da base tributável. A7. Prevenir a artificialidade da não caracterização de
Estabelecimentos Permanentes conforme o Modelo OCDE. A9/A10. Prevenir que
regras de transfer pricing estão em linha com o conjunto de ações que aumentam o
valor de produtos, serviços e negócios com transferência de riscos ou alocação de
capital para partes relacionadas. A11. Estabelecer métodos de coleta e análise de
dados do BEPS, preservando o caráter confidencial dos dados dos contribuintes.
A12. Orientar contribuintes para que noticiem seus planejamentos tributários

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O FATCA americano é um sofisticado sistema de contro-


le fiscal que exige o fornecimento de informações, a serem
prestadas por instituições financeiras, das contas de corren-
tistas nacionais ou residentes do outro País signatário, para
os fins de trocas espontâneas, automáticas ou a pedido. As
instituições financeiras, nacionais ou estrangeiras, que não
cooperarem ou não cumprirem as regras de fornecimento de
informações corretas serão oneradas em 30% sobre o mon-
tante integral de quaisquer transações financeiras realizadas
nos EUA.2 Desde que foi aprovado, em 18 de março de 2010, já
foram firmados 58 acordos no “Modelo IGA 1” e 7 no “Modelo
IGA 2”.3
Com a recente ratificação, pelo Brasil, da Convenção
Multilateral sobre Assistência Mútua Administrativa em
Matéria Fiscal, entra em vigor a Convenção “Automatic
Exchange of Financial Information in Tax Matters” (AEOI),
para trocas de informações fiscais automáticas sobre contas
bancárias, com dados existentes em 01 de janeiro de 2017.4
A partir da Instrução Normativa 1.571/2015, as instituições
financeiras brasileiras designadas no art. 4º estão obrigadas

agressivos. A14. Tornar os mecanismos de solução de conflitos mais eficientes (esti-


mular arbitragem e outros). A 15. Desenvolver instrumento multilateral que auxilie
a integrarem e alterarem suas Convenções em conformidade com o BEPS.”
2. Se houver descumprimento pelo banco brasileiro na identificação das US per-
sons, aquele fica sujeito à retenção, nos EUA, de 30% sobre quaisquer rendimentos,
ganhos ou proventos brutos da venda ou liquidação de ativos capazes de gerar ju-
ros ou dividendos de fontes americanas.
3. O Tipo FATCA 1 visa à troca de informações centralizadas de trocas automáticas
e reciprocidade na troca de dados (saldo de contas etc); o FATCA 2 é utilizado para
países que querem manter segredo bancário. O IGA 2 reserva-se a trocas sem reci-
procidade e sem automaticidade, a pedido. Atualmente, os seguintes países adotam
esse Modelo: Austria (4-29-2014), Bermuda (12-19-2013), Chile (3-5-2014), Hong
Kong (11-13-2014), Japan (6-11-2013), Moldova (11-26-2014), Switzerland (2-14-
2013), Armenia (5-8-2014), Iraq (6-30-2014), Nicaragua (6-30-2014), Paraguay (6-6-
2014), San Marino (6-30-2014), Taiwan (6-23-2014), Macao.
4. Cf. OECD. Standard for Automatic Exchange of Financial Account Information in
Tax Matters. Paris: OECD Publishing, 2014. Disponível em: <http://goo.gl/blMH-
vT>. Acesso em: 13 jun. 2016.

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a prestar informações de cidadãos ou empresas à Secretaria


da Receita Federal do Brasil (SRFB), pela Declaração “e-Fi-
nanceira”, na soma de arquivos digitais referentes a cadastro,
abertura, fechamento e auxiliares, e pelo módulo de opera-
ções financeiras. Em seguida, a SRFB transferirá os dados
ao “Internal Revenue Service” (IRS), bem como à plataforma
dos países do Global Forum, que se comprometem a fazer o
mesmo com as informações relativas a contas bancárias de
brasileiros que se encontrem disponíveis nos seus territórios.
Dos 132 países que integram o chamado Foro Global, for-
mado pelos países da OCDE, do G-20 e outros que aderiram a
esta iniciativa, 49 países já instituíram programas semelhan-
tes, como Inglaterra, Canadá, Alemanha, Estados Unidos,
Japão, Itália, Espanha, Hungria, Índia, China e outros.5 E
os resultados são surpreendentes, como tem evidenciado a
OCDE, a saber:

“Progress has been massive and has already translated in to more


than half a million taxpayers disclosing their assets held offshore
to the tax administrations of their countries of residence, with at
least 50 billion euros in additional revenues identified in coun-
tries that have put in place voluntary disclosure programmes and
similar initiatives to allow taxpayers to come forward to correct
their past tax transgressions. Financial institutions are now work-
ing closely with governments to prepare the implementation of the
CRS.” (OECD. Update on Tax Transparency. Secretary-General
Report to G20 Finance Ministers. Washington, April 2016).

As medidas de Voluntary Disclosure para regularização


do passado somente devem ser aplicáveis àqueles contribuin-
tes com recursos no exterior de fontes “lícitas”, vedadas as
hipóteses originárias de crimes de corrupção, tráficos e outros

5. Argentina, Australia, Austria, Belgium, Canada, Costa Rica, Chile, China, Croa-
tia, the Czech Republic, Denmark, Estonia, Finland, France, Germany, Hungary,
Iceland, India, Indonesia, Ireland, Italy, Japan, Jersey, Korea, Latvia, Liechtenstein,
Lithuania, Luxembourg, Malaysia, Malta, Mexico, the Netherlands, New Zealand,
Norway, Poland, Portugal, the Russian Federation, Singapore, the Slovak Republic,
Slovenia, South Africa, Spain, Sweden, Switzerland, Turkey, the United Kingdom
and the United States.

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tipos que não seja a “lavagem de dinheiro” decorrente unica-


mente da “evasão de divisas” e da “sonegação fiscal”. Não se
pode desconsiderar o cabimento de uma espécie de “arrepen-
dimento eficaz” para todos aqueles que possuem recursos no
exterior de origem lícita e não declarados. E, diante da impor-
tância da função social que estes haveres têm a cumprir no
País, nenhum moralismo justifica restrições aos benefícios da
anistia fiscal outorgada.
Uma pessoa pode ter recursos no exterior sob uma das
seguintes situações: 1) com ativos provenientes de fontes líci-
tas e declarados à Receita Federal (RFB) e ao Banco Central
(BACEN); 2) com ativos provenientes de fontes lícitas, mas
não declarados; ou 3) com ativos oriundos de fontes ilícitas.
Para o contribuinte que tenha seus recursos e ativos regular-
mente declarados (hipótese 1), não importa a localização ou
nacionalidade, todos os direitos fundamentais o amparam e
o Estado tem o dever de proteger a reserva do sigilo fiscal
e bancário. Para o contribuinte cooperante e que tenha seus
recursos declarados, impõe-se, com mais razão, a garantia de
segurança jurídica internacional, com previsibilidade perene
e desprovida de qualquer espécie de discriminação.
Não seria juridicamente válido, tampouco moralmente
aceitável, que alguém postulasse proteção constitucional ao
sigilo bancário para ocultar recursos não declarados da tri-
butação. Neste caso, tem-se que diferençar, por dever de jus-
tiça, a propriedade de recursos de fontes “lícitas”, mas não
declarados (os quais incorrem nos delitos de evasão de divi-
sas, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro unicamente pela
ausência de declaração), dos casos de posse ou manutenção
de ativos sabidamente de origem “ilícita” (como corrupção,
tráfico de drogas, exploração de prostituição e outros), além
dos mesmos delitos acima designados.
Os programas de voluntary disclosure têm sido exitosos
em todos os ordenamentos, ao tempo que privilegiam a trans-
parência, a moralidade e o “compliance” do contribuinte. Eles
oferecem oportunidade para recompor a base de tributação

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
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do País para os anos seguintes, bem como permitem o ingres-


so de recursos para a economia formal e ampliam a arrecada-
ção. E como só têm aplicação a ativos de origem lícita, não se
abrem para favorecer titulares de recursos ilícitos.
O fundamento a prevalecer será sempre aquele da reali-
zação da função social da propriedade (art. 5º, XXIII, da CF)
no País, e não fora dele, que nada prospera ou produz de ri-
queza para todos, mediante pagamento de tributos ou outras
rendas.
No cenário de vigência do “voluntary disclosure”, as alí-
quotas aplicáveis acompanham aquelas dos regimes normais
de tributação, com ou sem multas, diferentemente dos regi-
mes privilegiados de “repatriação” que foram empregados no
passado, como exemplo: Alemanha – 2004 a 2005, alíquotas de
25% a 35%; México – 2005 a 2006, alíquota de 25% (sem mul-
tas); Canadá – 2005, alíquotas normais, com juros e multas;
Estados Unidos – 2003 e 2009, tributos com juros e multas;
Itália – 2015, alíquotas variadas, de 1% a 43%; Reino Unido
– 2007, alíquotas normais sobre o principal e juros (atualiza-
dos), com redução das multas a 10%; Espanha – 2012, com
alíquotas normais dos impostos; Índia – 2015, com alíquotas
de 30%. O Brasil acompanhou este movimento de “regulari-
zação”, como se evidencia.
Como está difundido na literatura financeira, até 2010, o
Brasil era o 4º País no ranking mundial de ativos no exterior
(somente precedido por China, Rússia e Coréia do Sul), com
US$ 590 bilhões de dólares não declarados, em contas de mais
de 200 mil brasileiros, segundo o Relatório publicado na Tax
Justice Network, com dados obtidos junto ao Fundo Monetário
Internacional, Banco Central e outras instituições financeiras.
E não se pode ver na “anistia” das sanções penais qual-
quer “privilégio”, ao tempo que se substitui por cobranças de
multa (como uma espécie de sanção mais benigna), até por-
que o CTN admite, por lei ordinária, a “remissão” e a “anis-
tia” (arts. 156, IV, 172, 175, II, e 180 a 182) de tributos e multas.

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
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Só mentes confusas e alienadas por propósitos punitivistas


podem assumir contrariedade aos valores constitucionais de
proteção da função social da propriedade ou da capacidade de
ação do Estado em promover um modelo legítimo de justiça
de transição fiscal.
Cuida-se, a evasão de divisas, de crime formal e conti-
nuado, conforme o art. 71 do CP, e a consumação ocorre no
momento em que se esgota, na forma da legislação em vigor, o
prazo para declarar as informações sobre depósitos mantidos
no exterior (1), ou no momento em que a autoridade toma co-
nhecimento da “manutenção” de recursos no exterior (2). Em
vista disso, a partir da descoberta, contam-se 12 ou mais anos
para a prescrição Penal, nos termos do art. 109 do CP.
Cabe lembrar, as declarações junto à autoridade monetá-
ria, o BACEN, são exigidas conforme o Decreto-lei 1.060, de
21 de outubro de 1969 e a Medida Provisória 2.224, de 4 de
setembro de 2001, na forma da Resolução BACEN 3.854, de 27
de maio de 2010, que prescreve no art. 1º:

As pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com


sede no País, assim conceituadas na legislação tributária, devem
prestar ao Banco Central do Brasil, na forma, limites e condições
estabelecidos nesta Resolução, declaração de bens e valores que
possuírem fora do território nacional. [...].

E, pelo art. 2º:

A declaração de que trata o art. 1º, inclusive suas retificações,


deve ser prestada anualmente, por meio eletrônico, na data-base
de 31 de dezembro de cada ano, quando os bens e valores do
declarante no exterior totalizarem, nessa data, quantia igual ou
superior a US$100.000,00 (cem mil dólares dos Estados Unidos
da América), ou seu equivalente em outras moedas. [...].

Quando esta declaração não é prestada, tem-se o crime


de Evasão de Divisas, como previsto no art. 22 da Lei 7.492, de
16 de junho de 1986, que prescreve:

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
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Efetuar operação de câmbio não autorizada, com o fim de pro-


mover evasão de divisas do País:
Pena – Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer tí-
tulo, promove, sem autorização legal, a saída de moeda ou divisa
para o exterior (1) ou nele mantiver depósitos não declarados à
repartição federal competente. (2)

Importa dizer que este Regime de regularização teve iní-


cio nos trabalhos da “CPI do HSBC”6 e por determinação do
Senador Randolfe Rodrigues, autor do PLS 298/2015.7 Mais
tarde, evoluiu, pelo reconhecimento da sua importância, a par-
tir de estudos do Ministro Joaquim Levy, como parte do Ajuste
Fiscal, para compartilhar recursos com os Estados e Municípios.
Portanto, nada tem que ver com propósitos de caráter político
ou alinhados com interesses partidários. E, para assegurar essa
característica, foi oportuna a emenda apresentada em Plenário,
pelo Deputado Bruno Covas, para afastar sua aplicação a polí-
ticos ou ocupantes em cargos públicos com função de direção,
extensivo aos cônjuges e parentes até o segundo grau.8
No Brasil, o Programa recebeu o nome de “Regime
Especial de Regularização Cambial e Tributária” – RERCT,
criado pela Lei 13.254, de 13 de janeiro de 2016, foi recentemen-
te regulamentado pela Secretaria da Receita Federal por meio
da Instrução Normativa RFB 1.627, de 11 de março de 2016 e,
pelo Banco Central, mediante a Circular BACEN 3.787, de 17
de março de 2016. No último dia 04 de abril, o Ato Declaratório
Executivo RFB 2, de 01 de abril de 2016, aprovou o formulário
eletrônico da Declaração de Regularização Cambial e Tributária
(DERCAT).

6. Disponível em: <http://goo.gl/YBPRSm>. Acesso em: 13 jun. 2016.


7. Disponível em: <http://goo.gl/insidW>. Acesso em: 13 jun. 2016.
8. “Art. 11. Os efeitos desta Lei não serão aplicados aos detentores de cargos, em-
pregos e funções públicas de direção ou eletivas, nem ao respectivo cônjuge e aos
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, na data de pu-
blicação desta Lei.”

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
(RERCT)

Quem voluntariamente aderir à regularização deverá


promover a declaração e pagar 15% de imposto sobre o va-
lor total a ser regularizado, a título de ganho de capital, além
de multa de 15% sobre a mesma base. Presume-se, na forma
do art. 4º, §8º, como no caso de depósitos (art. 3º, I e III), o
saldo existente em 31 de dezembro de 2014, conforme docu-
mento disponibilizado pela instituição financeira custodiante.
E tudo lançado em declaração transparente, limitadamente
a recursos de origem lícita, com o dever de guarda dos docu-
mentos necessários.9
O RERCT limita-se materialmente pela declaração vo-
luntária de recursos, bens ou direitos de origem lícita (art. 1º,
da Lei 13.254/2016), não declarados ou declarados com omis-
são ou incorreção em relação a dados essenciais, remetidos ou
mantidos no exterior, ou repatriados por residentes ou domi-
ciliados no País. É defeso o alcance a recursos de origem “ilí-
cita” de qualquer natureza. E quem assim proceder sofrerá
a imediata “exclusão” do programa, pela fraude à respectiva
declaração.
A declaração do RERCT vê-se protegida pelo sigilo fiscal,
como qualquer declaração de imposto sobre a renda. Só pode
ser alcançada por decisão judicial que tenha outros motivos
suficientes para autorizar alguma quebra de sigilo de dados,
como ocorre em qualquer outro caso. Portanto, não corrobo-
ra com a verdade a alegação de haver alguma restrição a in-
vestigações. O que se afirma é a segurança jurídica em favor
do declarante, para que a declaração de regularização não
seja o “único indício ou elemento para efeitos de expediente
investigatório ou procedimento criminal” (art. 4º, § 12 da Lei
13.254/2016). Logo, desde que persista motivos adicionais à
DERCART para investigações pela Polícia Federal ou pelo
Ministério Público, a DERCAT não será obstáculo, caso seja

9. Art. 4º, “§6o É a pessoa física ou jurídica que aderir ao RERCT obrigada a manter
em boa guarda e ordem e em sua posse, pelo prazo de 5 (cinco) anos, cópia dos do-
cumentos referidos no §8o que ampararam a declaração de adesão ao RERCT e a
apresentá-los se e quando exigidos pela RFB.”

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
(RERCT)

judicialmente quebrado o sigilo fiscal do contribuinte. Tudo


conforme o art. 1º, §4º da Lei Complementar 105/2001.10
Segundo o art. 31 da Instrução Normativa RFB 1.627/2016,
a divulgação ou a publicidade das informações presentes
no RERCT implicarão efeito equivalente à quebra do sigi-
lo fiscal, sujeitando o responsável às penas previstas na Lei
Complementar 105, de 10 de janeiro de 2001, e no art. 325 do
Decreto-lei 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal. E
o parágrafo único esclarece ainda que, na hipótese de a que-
bra do sigilo ser praticada por funcionário público, o respon-
sável ficará sujeito à pena de demissão além das penalidades
ali previstas.
Como dito acima, a declaração não é bastante para afir-
mar qualquer definitividade da anistia postulada. Conforme o
art. 9º da Lei 13.254/2016, será excluído do RERCT o contri-
buinte que apresentar declarações ou documentos falsos re-
lativos à titularidade e à condição jurídica dos recursos, bens
ou direitos declarados. Neste caso, serão cobrados os valores
equivalentes aos tributos, multas e juros incidentes, sem pre-
juízo da aplicação das penalidades cíveis, penais e administra-
tivas cabíveis. Ou seja, a exclusão autoriza o afastamento in-
tegral dos benefícios da anistia, caso seja verificada eventual
utilização do RERCT para recursos de origem ilícita, em qual-
quer dos casos vedados pela Lei ou por pessoa não autoriza-
da. Neste caso, como prescreve o §2º do art. 9º, a instauração

10. Lei Complementar 105/2011, art. 1º, “§4o A quebra de sigilo poderá ser decreta-
da, quando necessária para apuração de ocorrência de qualquer ilícito, em qual-
quer fase do inquérito ou do processo judicial, e especialmente nos seguintes
crimes:
I – de terrorismo;
II – de tráfico ilícito de substâncias entorpecentes ou drogas afins;
III – de contrabando ou tráfico de armas, munições ou material destinado a sua
produção;
IV – de extorsão mediante sequestro;
V – contra o sistema financeiro nacional;
VI – contra a Administração Pública;
VII – contra a ordem tributária e a previdência social;
VIII – lavagem de dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores;
IX – praticado por organização criminosa.”

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
(RERCT)

ou a continuidade de procedimentos investigatórios quanto


à origem dos ativos objeto de regularização somente poderá
ocorrer se houver evidências documentais adicionais à decla-
ração do contribuinte.
A legislação em vigor encontra-se, assim, em plena conso-
nância com as disposições determinadas pelo “Grupo de Ação
Financeira contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento
do Terrorismo” (GAFI/FATF), mormente pelo envolvimento
de instituições financeiras na repatriação que o contribuinte
pretenda para os recursos depositados no exterior. Com isso,
uma vez identificada evidência de operação suspeita, pela ins-
tituição de origem dos recursos (§13 do art. 4º), esta deverá ser
comunicada às autoridades competentes, como em qualquer
outro caso. Não há qualquer tolerância com lavagem de di-
nheiro ou equivalente e nada há na lei que vede tais controles.
A anistia a “lavagem de dinheiro” vincula-se diretamente à so-
negação fiscal decorrente da “evasão de divisas”, como tipos
penais alcançados na hipótese do art. 5º da Lei 13.254/2016.
Em conclusão, importante observar que o RERCT permi-
tirá a recomposição da riqueza nacional, em homenagem ao
princípio de preservação da função social da propriedade (art.
5º, XXIII, da CF), pela reintegração ao mercado interno do
patrimônio de brasileiros disperso pelos mais variados países,
e especialmente em paraísos fiscais. Desse modo, pelo atendi-
mento à responsabilidade fiscal e proteção do patrimônio pú-
blico, afora o estrito cumprimento da legislação criminal e do
controle de lavagem de dinheiro, o programa assegura trans-
parência de critérios aos contribuintes, ao propiciar confiança
e segurança jurídica na proteção dos sigilos bancário e fiscal,
bem como certeza jurídica quanto aos efeitos de extinção da
pretensão punitiva e da definitividade das obrigações patri-
moniais e formais envolvidas com a adesão e declarações.
As medidas de Voluntary Disclosure operam seus efeitos
apenas para àqueles contribuintes com recursos no exterior
de fontes “lícitas”, vedadas as hipóteses originárias de cri-
mes. E isso é perfeitamente possível identificar, por meio de

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
(RERCT)

documentos que confirmem a titularidade, a origem e nature-


za do recurso ou do bem, com a colaboração das instituições
financeiras, cuja experiência com outros países já é significa-
tiva. Regularizar a situação dos contribuintes, com anistia à
evasão de divisas, mediante substituição da sanção criminal
por uma sanção patrimonial, é algo coerente com o que se faz
de há muito no Brasil.
Ao não permitir a inclusão da lavagem de dinheiro, o
RERCT atende integralmente às recomendações da Financial
Action Task Force (FATF), previstas no Relatório de 2012:
“Managing the Anti-Money Laundering and Counter-Terrorist
Financing Policy Implications of Voluntary Tax Compliance
Programmes”, e não poderia ser diferente, pois tem prazo
certo; os contribuintes somente poderão promover a regula-
rização com a interveniência de instituições financeiras, para
tomar as providências de identificação dos titulares dos re-
cursos ou bens, repatriação, controle prévio sobre origem dos
ativos e confiabilidade das documentações exigidas, todas su-
jeitas às orientações da global anti-money laundering (AML)
and counter-terrorist financing (CFT) – AML/CFT; não obstar
a capacidade investigativa de qualquer autoridade competen-
te, quando presentes indícios justificados de origem ilícita, e
manter-se a capacidade de trocas de informações com os pa-
íses de origem, para eventuais investigações, quando cabível.
Na sequência, as ações de intercâmbios de informações so-
bre contas bancárias, tanto do FATCA quanto da AEOI-OCDE,
deverão se concentrar na identificação e localização dos titula-
res das contas com depósitos de origem ilícita no exterior, para
decretar seu bloqueio e repatriação, com pena de perdimento
integral em favor do erário e punição dos detentores, segundo
os crimes praticados.
Quanto à destinação, das receitas arrecadadas com o im-
posto, 49% serão transferidos aos Estados e Municípios, segun-
do a distribuição constitucional (art. 159, I). Portanto, a mo-
ralidade administrativa e a destinação pública corroboram a
importância e oportunidade para que se efetive este programa.

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REGIME ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO CAMBIAL E TRIBUTÁRIA
(RERCT)

Destarte, espera-se adesão significativa dos contribuintes


ao RERCT, neste novo cenário de integridade tributária (tax
compliance), o que contribuirá para a recuperação da nossa
economia, pela adição de riqueza nova e futuras cobranças
de tributos, mas também com o aumento de receitas públicas,
fundamental para superar a situação gravíssima dos estados
e municípios, que poderão contar com receita adicional das
transferências constitucionais, além da própria União, na rea-
lização do seu ajuste fiscal.

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