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O LUGAR DO AFETIVO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: IMPLICAÇÕES

EDUCACIONAIS

Cláudia Aparecida Valderramas Gomes1


Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis-SP, Brasil

RESUMO. Este estudo, de natureza teórica, tem por objetivo analisar algumas proposições da Psicologia
Histórico-Cultural acerca do psiquismo humano, notadamente no que tange à constituição dos processos afetivos
na relação com o desenvolvimento infantil. Para tanto, reúne alguns princípios da filosofia spinosiana que
fundamentaram o pensamento de Vigotski sobre os afetos e postula que, para essa escola da psicologia, na base
da formação humana se encontram a experiência social e a relação sujeito-objeto, elementos constitutivos dos
processos cognitivo e afetivo. As análises desenvolvidas ao longo do texto indicam que os mediadores sociais –
signos e instrumentos – subsidiam a formação da atividade e da consciência num processo que legitima a origem
histórica e social das funções afetivas. O artigo pretende evidenciar o papel da escola como um espaço
privilegiado de acesso aos conhecimentos capazes de transformar os modos de pensar, sentir e agir das crianças
por meio dos processos de ensino e de aprendizagem.
Palavras-chave: Psicologia histórico-cultural; afetos; desenvolvimento infantil.

THE PLACE OF AFFECTIVE ON CHILD DEVELOPMENT: EDUCATIONAL


IMPLICATIONS

ABSTRACT. This study, of theoretical nature, aims to analyse some propositions of Historic and Cultural
psychology about human psyche, especially regarding the constitution of affective processes in relation to child
development. Therefore, brings together some principles of Spinozist philosophy that underlie the Vigotskian
thought about affections and postulates that, for this school of psychology, on the basis of human development
are the social experience and subject-object relation, constitutive of cognitive and affective processes. The
analyses developed over the text indicate that social mediators – signs and instruments – subsidize the formation
of activity and consciousness in a process that legitimizes the historic and social origin of affective functions. The
paper aims to highlight the role of education as a privileged place of access to knowledge capable of transforming
ways of thinking, feeling and acting of children through the processes of teaching and learning.
Key words: Historical and cultural psychology; affections; childhood development.

EL LUGAR DEL AFECTIVO EN EL DESARROLLO DEL NIÑO: IMPLICACIONES


EDUCATIVAS

RESUMEN. Este estudio, de naturaleza teórica, tiene como objetivo analizar algunas proposiciones de la psicología
Histórico-Cultural acerca del psiquismo humano, especialmente en lo que se refiere a la constitución de los procesos
afectivos en la relación con el desarrollo infantil. Para ello, reúne algunos principios de la filosofía spinozista que
fundamentaron el pensamiento vigotskiano sobre los afectos y postula que, para esta escuela de la psicología, en la
base de la formación humana se encuentran la experiencia social y la relación sujeto-objeto, constitutivas de los
procesos cognitivos y afectivos. Los análisis desarrollados a lo largo del texto indican que los mediadores sociales –
signos e instrumentos – subvencionan la formación de la actividad y de la conciencia en un proceso que legitima el
origen histórico y social de las funciones afectivas. El artículo pretende evidenciar el papel de la educación escolar como
un espacio privilegiado de acceso a los conocimientos capaces de transformar las formas de pensar, sentir y actuar de
los niños por medio de los procesos de enseñanza y aprendizaje.
Palabras-clave: Psicología histórico-cultural; afectos; desarrollo infantil.

1
Endereço para correspondência: Rua Antonio do Espírito Santo, 8/18, Bairro Paraíso – CEP 17.051-180 - Bauru-
SP. E-mail: cabegomes@uol.com.br

Psicologia em Estudo, Maringá, v. 18, n. 3, p. 509-518, jul./set. 2013


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Podemos afirmar que o conhecimento não Psicologia Histórico-Cultural, argumentos que


se assenta apenas sobre bases cognitivas? explicitassem a constituição dos processos
Quais elementos estão postos entre o sujeito e afetivos como resultado da história de
os objetos do conhecimento que, perpassando a apropriação e objetivação de signos e
aprendizagem, movimentam o desenvolvimento instrumentos que cada sujeito realiza ao longo
humano? Dizer que o afetivo2 se conjuga ao de sua vida. Vale destacar que, segundo
cognitivo na explicação da aprendizagem é uma Mangiolino (2010), a questão central da obra de
afirmação corrente para a maioria das pessoas e Vigotski diz respeito ao desenvolvimento das
até mesmo um consenso entre educadores; emoções, (trans)formadas pelo signo na história
mas, efetivamente, qual é o fundamento dessa socioindividual. Esse aporte teórico contribuiu
relação na explicação da atividade humana e, para a desconstrução da visão de potenciais
consequentemente, na constituição do inatos, predisposições e tendências afetivas,
conhecimento ou da consciência do sujeito? colocando, na organização e condução da
Essas são questões que buscamos responder prática pedagógica, a educação escolar e o
durante o trabalho desenvolvido como tese de caráter intencional do trabalho docente como
doutorado e que, agora, gostaria de compartilhar elementos determinantes da transformação dos
com o leitor, convidando-o a refletir acerca das modos de pensar e sentir de cada criança.
considerações que aquele estudo protagonizou e Assim, buscamos neste texto analisar algumas
que julgo serem importantes na condução do proposições da Psicologia Histórico-Cultural
pensar e do fazer pedagógico na Educação acerca do psiquismo humano, especialmente no
Infantil. que tange à constituição dos processos afetivos
Entre os equívocos que permanecem e a como estes se põem na relação com o
acompanhando muitos dos problemas desenvolvimento da criança, refletindo sobre o
enfrentados pelas crianças no contexto escolar, papel da educação escolar.
ainda persiste um modo de pensar os processos Entender a constituição dos processos
afetivos que os associa frequentemente a afetivos e a unidade entre afeto e cognição –
experiências vividas pela criança na sua primeira mediadora nas relações da criança com o
infância, a traços de personalidade ou à conhecimento – nos coloca a possibilidade de,
estrutura e dinâmica familiares que, ao neste capítulo, estimular o leitor a acompanhar
interferirem na aprendizagem, acabam nossa reflexão a propósito das forças que
“perturbando” seu desenvolvimento intelectual. exercem a educação escolar e a figura do
Outro equívoco - resultante da fragmentação professor na formação integral do sujeito.
entre afetivo e cognitivo - é o fato de a escola Buscamos apreender alguns elementos que
pensar as experiências afetivas como algo que poderão se converter em mediadores entre a
acontece fora dela, elegendo o cognitivo como teoria e a prática escolar diária, determinando
seu único espaço de atuação. Isto reforça a outro patamar na compreensão que temos da
ideia, ainda presente, de que os afetos atividade da criança e na ação que
acontecem separados das demais funções empreendemos tendo em vista seu processo de
psíquicas que conformam a personalidade aprendizagem e desenvolvimento.
humana. Por isso prevalece na escola a opinião É importante mencionar que o exercício de
de que as emoções são prejudiciais, um pensar a respeito do afetivo no desenvolvimento
impedimento que, por vezes, atrapalha o humano nos colocou dois desafios. O primeiro
processo de escolarização das crianças, o que foi o de romper com o significado do termo afeto
contribui para a naturalização do afetivo no no senso comum, que remete a afeição e
terreno da educação escolar (Gomes, 2008). carinho, e buscar o que este termo representa do
Para superar tais ideias buscamos em outros ponto de vista filosófico (Martins, 2009); e o
estudos (Mangiolino, 2010; Gomes & Mello, segundo, o de superar uma visão estritamente
2010; Toassa, 2009; Gomes, 2008) baseados na
biológica e buscar uma compreensão histórica e
social que os processos afetivos adquirem no
2 O adjetivo afetivo será empregado neste texto psiquismo humano. Não obstante, é preciso
conforme a atribuição filosófica, que designa em dizer que esta superação só foi possível com o
geral tudo o que se refere à esfera das emoções:
estado, função ou condição de caráter genericamente
auxílio do próprio conhecimento filosófico, o qual
emotivo, podendo referir-se a qualquer emoção, afeto permitiu suplantar a dicotomia corpo e mente
ou paixão (Abbagnano, 2007, p. 20). tendo como base o conceito de afeto.

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No bojo de algumas concepções significativas nos processos afetivos quando


equivocadas, a psicologia tradicional foi comparamos criança e adulto. Esse autor reitera
estabelecendo outras dicotomias atualmente que tais processos sofrem mudanças qualitativas
presentes na educação escolar. Um exemplo à medida que o sujeito avança no
disso é que na escola tratamos afeto e cognição desenvolvimento das demais funções psíquicas,
como se fossem dois elementos separados na como a percepção, a atenção, a memória, o
pessoa que aprende. Da mesma forma, falamos pensamento, a linguagem e a vontade.
das emoções como se elas fossem isoladas do Destaca aquele psicólogo que, se os
processo de aprendizagem. Compreender o processos afetivos estão conectados a outras
afetivo desse ponto de vista traz consequências funções psicológicas e ao desenvolvimento da
para o trabalho pedagógico: adotamos uma consciência como um todo, o lugar social que a
visão estática e uniforme da motivação, o que criança ocupa no contexto das suas relações,
significa que as necessidades, os desejos e suas experiências culturais e interações sociais
interesses das crianças – que têm como constituem fatores indispensáveis para se
fundamento os processos afetivos – são vistos compreender a dinâmica e o desenvolvimento
como aspectos naturais, intrínsecos à sua
desses processos. Afirma, ainda, que as
personalidade, portanto, independentes da
emoções sofrem mudanças qualitativas ao longo
história de apropriações e objetivações do
do desenvolvimento da criança em decorrência
sujeito.
Sendo assim, a aprendizagem ou não de seu crescente domínio de instrumentos
aprendizagem dos conteúdos escolares depende culturais, entre os quais se destaca a linguagem,
da motivação que o sujeito já tenha para que constitui uma conquista do sujeito: maior
aprender. Quando pensamos dessa maneira, a controle sobre si mesmo, sobre sua própria
educação tem pouco a fazer para estabelecer conduta.
uma relação entre o sujeito e o conhecimento, Vigotski (1996) esclarece que, desde o
uma vez que, ou o sujeito já tem uma motivação nascimento, por ter se separado fisicamente do
para aprender, ou então, na escola tentamos organismo da mãe, a criança já se encontra
criar apenas uma motivação temporária. inserida num contexto humano e social, e
Foi por meio dos estudos desenvolvidos pela reconhece que o recém-nascido possui, no seu
escola soviética de Psicologia, representada, grau mais primitivo, rudimentos de vida psíquica,
principalmente por Lev Semiónovich Vigotski porém essa manifestação está associada a um
(1896–1934), fundamentado nos pressupostos funcionamento dos centros mais primitivos do
teórico-filosóficos e metodológicos do cérebro, os subcorticais, e, como o cérebro está
Materialismo Histórico-Dialético, que teve início ainda imaturo, os instintos e afetos mais simples
um movimento de superação das diversas ficam dependentes dessas instâncias menos
dicotomias – natural-histórico, objetivo-subjetivo, desenvolvidas do sistema nervoso.
social-individual, afetivo-cognitivo – criadas ao O que existe como estado rudimentar da
longo da história pela ciência na tentativa de vida psíquica no recém-nascido é um embrião de
explicar o ser humano e suas características. consciência: estados nebulosos, confusos, nos
Romper com esses dualismos na maneira de quais o sensitivo e o emocional se acham
conceber a realidade social e humana incluía fundidos. Isso significa que, nesta etapa da vida,
pensar na constituição dos processos afetivos no tudo aquilo que o bebê percebe do meio está
conjunto do desenvolvimento humano. unido com o afeto; para ele, a percepção do que
é agradável ou ameaçador aparece muito antes
do que os elementos objetivos da realidade
A CONSTITUIÇÃO DOS PROCESSOS AFETIVOS exterior. Vigotski (1996) define esta relação da
NA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL criança com o mundo como “estados sensitivos
emocionais ou estados de sensações marcadas
Vigotski (1995, 1996) explica os fenômenos emocionalmente” (p.281). Por causa desse
e processos psicológicos a partir de sua história modo de pensar as emoções - como inicialmente
e interdependência. Coerente com os ligadas aos setores menos desenvolvidos do
fundamentos filosóficos da sua teoria, ele propõe cérebro - é que as teorias vigentes na psicologia
a indissociabilidade de cada uma das funções tradicional ainda pressupõem que os processos
psíquicas no desenvolvimento da personalidade afetivos, em geral, são próprios de uma psique
humana, enfatizando que existem diferenças primitiva, como um estágio inferior do

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desenvolvimento – dimensão pouco exerce sobre o sujeito. Sendo assim, atividade


desenvolvida no conjunto da personalidade psíquica é atividade reflexa.
humana – referindo-se a ela como uma instância O reflexo psíquico da realidade é consciente,
que contém elementos remotos da existência já que a consciência é uma qualidade essencial,
animal (Vigotski, 2003). um atributo do nosso psiquismo. Como afirmava
Contrariando esse ponto de vista, o autor Marx (1993), “o modo como a consciência é e
russo (1996, 2003) afirma que o estágio inicial e como algo para ela existe é o conhecer” (p. 252),
primitivo do desenvolvimento da consciência não contudo é preciso considerar o desenvolvimento
se diferencia dos demais pela importância das da consciência ao longo de um processo, já que
tendências afetivas, uma vez que, segundo ele, esta não pode ser tomada como “algo que já
o afeto se mantém essencial ao longo de todo o está dentro” do sujeito desde que ele nasce, mas
desenvolvimento da criança; ou seja, ele como resultado de sua atividade no mundo
defende que os afetos primitivos são superiores objetivo. A relação sujeito-objeto é a base sobre
apenas quando as demais funções psíquicas a qual se constitui o reflexo psíquico da
(sensoriais, intelectuais e motoras) ainda não realidade, e os mediadores sociais (signos e
estão desenvolvidas. Os impulsos afetivos são o instrumentos) exercem papel determinante na
acompanhante permanente de cada nova etapa constituição das funções psicológicas
no desenvolvimento da criança, desde a inferior superiores, as quais, na verdade, só se
até a mais elevada. O afeto inicia e encerra o concretizam por meio da atividade social do
processo de desenvolvimento psíquico da sujeito.
criança, a formação de sua personalidade, Friedrich (2012) contribui com essa
perpassando assim todo o seu desenvolvimento. argumentação afirmando que Vigotski propõe o
Assim, não é casual as funções afetivas psiquismo como um conceito psicológico de
estarem em relação direta tanto com os centros base, comparando-o “a um instrumento que
subcorticais mais antigos, que são os primeiros a isola, separa, abstrai, faz escolhas dos fatos da
se desenvolver e se encontram na base do realidade” (p.47). A autora reforça que, conforme
cérebro, como as formações cerebrais mais Vigotski, nossos sentidos nos aproximam e nos
novas e especificamente humanas, os lóbulos fazem perceber, fundamentalmente, as partes da
frontais, que são os últimos a configurar-se. realidade que são importantes para nós. Afirma:
Como afirma o psicólogo russo, “o afeto é o alfa
e o ômega, o primeiro e o último elo, o prólogo e Ele fala de órgão de seleção, de filtro ....
o epílogo de todo o desenvolvimento psíquico” Todos esses “instrumentos” têm uma
(Vygotski, 1996, p. 299). função em comum, a saber, a de
“escolher”, de selecionar, de deixar
Isto posto, para compreender a dinâmica
passar determinados elementos da
relação entre os processos afetivos e cognitivos realidade e de reter outros. É por essa
precisamos, primeiramente, compreender o razão que Vigotski considera o
psiquismo humano como um sistema complexo psiquismo como a forma superior de
que funciona relacionando processos biológicos, escolha e atribui a essa característica
psicológicos e sociais e que tem nas categorias um valor exclusivamente positivo.
de atividade e consciência seu núcleo de (Friedrich, 2012, p. 48)
sustentação e desenvolvimento.
Neste processo, à medida que amplia e
elabora sua atividade ao lidar com os objetos e
OS MEDIADORES SOCIAIS E A FORMAÇÃO DO fenômenos da realidade, o ser humano vai
PSIQUISMO HUMANO formando as suas funções psíquicas superiores,
ou seja, a memória e a atenção tornam-se
O psiquismo humano, também denominado voluntárias, o pensamento se complexifica e ele
reflexo psíquico da realidade (Leontiev, 1978a), pode dominar a própria conduta. Isso tudo
compreende um substrato material, orgânico e permite um reflexo cada vez mais sofisticado da
natural como ponto de partida: o cérebro realidade. Trata-se de conceber o reflexo
humano, materialidade sobre a qual se dá o psíquico como efeito da relação sujeito-objeto, e
desenvolvimento psicológico do sujeito e que “é nessa complexa trama que se dá o processo
principia por uma atividade psíquica que de apropriação-objetivação pelo sujeito e que se
acontece em função do mundo exterior, constituem as funções cognitivas e as funções
respondendo a uma ação que este mundo afetivas” (Gomes, 2008, p. 115).

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A objetivação é síntese da atividade Uma característica do comportamento da


humana. Leontiev (1978b) explica que cada nova criança na primeira infância é o modo como ela
geração inicia sua vida num ambiente repleto de depende da situação presente. Diferentemente
objetos e de fenômenos criados pelas gerações de crianças mais velhas, a criança pequena não
antecedentes e cada sujeito deverá se apropriar traz para a situação conhecimentos prévios
das riquezas desse mundo participando das sobre as coisas; por isso o que ela vê a
diversas formas de atividade social, e é só por influencia muito e os objetos adquirem um
meio dessa participação ativa que ele poderá vir caráter imperativo, um caráter de “afeto
coercitivo”: “É como se de cada objeto emanasse
a desenvolver as aptidões e capacidades
um afeto de atração ou repulsão que é o motivo
especificamente humanas que se encontram
que estimula a criança” (Vygotski, 1996, p. 341).
cristalizadas nos objetos sociais. Ao se apropriar
De acordo com Mukhina (1995), desde bem
de uma objetivação, o indivíduo está se pequena a criança já demonstra em suas ações
relacionando com a história social, ainda que tal certa disposição para um objetivo específico.
relação não seja consciente para ele; portanto, a Nesta fase o que a atrai, controla e determina
apropriação do significado social de uma sua atenção são principalmente os objetos. Pelo
objetivação é um processo de inserção na fato de ela não conseguir perceber e elaborar ou
continuidade da história das gerações e um organizar o percebido com a ajuda da atenção,
pressuposto para a formação da sua da memória e do pensamento, pois estas
individualidade. funções ainda não estão diferenciadas, ocorre o
A observação do desenvolvimento da predomínio do afetivo na formação da sua
criança nos mostra que o bebê, por volta do consciência.
segundo mês de vida, já começa um movimento
de orientação até o adulto. Esse movimento não
é natural e espontâneo, mas estimulado pelo A GÊNESE DOS PROCESSOS AFETIVOS:
adulto, que, ao aproximar-se dele, conversa, ATIVIDADE E CONSCIÊNCIA
aponta objetos, oferece o alimento, conforta,
enfim propõe situações por meio das quais o A consciência tem a função de dirigir a
bebê manifesta ações indicativas do desejo de atividade do sujeito visando à satisfação de suas
necessidades biológicas, tanto quanto das novas
uma relação de contato. Essa relação cria no
necessidades que ele mesmo vai criando em
bebê uma necessidade que ele não tinha até
face das relações num certo contexto. Assim,
então e que passa a ter a partir do contato e das
atividade e consciência mantêm entre si uma
sucessivas aproximações que estabelece com o
relação dinâmica e de dependência recíproca,
adulto; a necessidade do “outro” é, portanto, uma por meio da qual a consciência cumpre a função
necessidade socialmente criada. Desse reguladora da atividade, e nesse processo o
momento em diante surgem as condições para a afeto participa como a base do registro subjetivo,
experiência com objetos que, associada ao como um efeito que as influências externas
balbucio, indica que a passividade do recém- exercem sobre a vida psíquica do sujeito.
nascido em relação ao mundo é substituída por Para explicar a constituição dos processos
um interesse receptivo: a criança começa a afetivos na atividade e consciência do sujeito,
entregar-se à influência dos estímulos externos. Vigotski (2004) utiliza os fundamentos filosóficos
No primeiro ano de vida, a existência social da teoria de Spinosa, referência na análise
da criança é, desde os primeiros contatos entre o histórico-psicológica que aquele autor realiza
adulto e o bebê, uma relação mediada pelos sobre as emoções. Em sua obra, o filósofo
objetos, da mesma forma que a sua própria explica a relação entre o corpo e a alma, bem
relação com os objetos requer a mediação dos como a natureza, a origem e a essência da alma,
adultos. É o adulto quem apresenta o objeto para da razão e dos afetos, categorias importantes
a criança, mostra seu funcionamento e suas para a análise da unidade entre afeto e cognição
qualidades. Neste mesmo processo, a na formação da consciência. “Ao associar,
linguagem verbal é apresentada à criança e cria inextricavelmente, pensamento e afeto, ao definir
nela uma nova necessidade: a comunicação a mente como ideia do corpo e insistir que o
oral, que, inicialmente, tem a função de humano jamais se desvincula da natureza,
socializar os significados atribuídos aos objetos Spinoza rompe com dualismos persistentes em
e fenômenos. nossa história ocidental” (Merçon, 2009, p.19).

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Para a filosofia spinosiana, a consciência, ação do objeto sobre o sujeito enquanto


denominada alma, surge a partir da vivência e/ou o afeto, como indutor da potência de
experiência, por parte do sujeito, de uma agir, nos remete à ação do sujeito sobre
o objeto (Gomes, 2008, p. 74)
afecção (affectio), que é a ação de um objeto
qualquer sobre o seu corpo. Uma afecção
Pensemos na criança ainda bem pequena
representa as ações dos outros corpos e ideias
que acabou de aprender a andar. Essa nova
sobre nós, determinando a possibilidade do
aquisição tende a aumentar sua capacidade de
conhecimento; e uma vez que a consciência é,
conhecer o mundo e os objetos que a cercam.
por definição, um sistema de conhecimentos, ela
Ela empreende um grande esforço para manter
dependerá das afecções ou de como o sujeito é
o equilíbrio, para se deslocar, desviar-se dos
afetado e percebe os objetos e fenômenos,
objetos e atingir o objetivo desejado. Quando a
assim como as pessoas que se relacionam com
criança é incentivada e reforçada por aqueles
ele.
que estão a seu redor, ela vence o medo de cair
Afeto diz respeito àquilo que afeta, ao e consegue, pouco a pouco, dominar seu próprio
que mobiliza, por isso reporta à corpo e aumentar o poder sobre si mesma.
sensibilidade, às sensações. Podemos, Mukhina (1995) refere que essa primeira
ainda, referir afeto como ser tomado por, etapa da aprendizagem do andar é vista pela
atravessado, perpassado, quer dizer: criança como “uma missão muito especial que
afetado. Esse atravessar, perpassar é o lhe proporciona fortes emoções ... Às vezes a
que propriamente dá o caráter de alegria é tão grande que começa a agitar as
afecção (Gomes & Mello, 2010, p.684).
mãos e, claro, cai. Mas esses episódios não
diminuem seu desejo de andar, nem turvam sua
Quando o sujeito experiencia uma afecção,
alegria” (p.104). Diferentemente, há crianças
essa vivência provoca uma alteração da sua
que, por serem tolhidas em suas iniciativas, tão
potência de pensar e agir que deve ser
logo iniciam o exercício do andar, experimentam
apreendida como um esforço do sujeito que se
um nível maior de tensão, do que resulta uma
manifesta diferentemente segundo os objetos
diminuição dessa capacidade e um ritmo
encontrados. Do efeito decorrente do encontro
diferente no desenvolvimento das habilidades de
de algum objeto (corpo, fenômeno ou ideia) com
orientação no espaço e autonomia.
o nosso corpo emerge um sentimento de
A afirmação de Mello (2006) ilustra essa
variação dessa potência de agir e de pensar que
variação das potências na relação -
não pode ser confundida com possibilidade, pré-
essencialmente emocional - entre criança e
formação, predeterminação ou preexistência,
adulto no início deste processo reiterando que
mas que acontece, necessariamente, na
essa dinâmica caracteriza o modo como os
atividade; ou seja, ao se deparar com um objeto
afetos se consolidam na atividade dos sujeitos
que lhe chama a atenção, a criança mobiliza as
ao longo de todo o ciclo de vida. Diz a autora:
funções já desenvolvidas em sua experiência
anterior para manipular, perceber e compreender [a relação] sendo positiva, possibilita
esse objeto. Para a teoria de Spinosa, o afeto uma vivência agradável entendida como
pode ser definido como um regime de variação um convite à ampliação da relação com
que acontece à medida que vamos o mundo de pessoas e objetos ao redor.
experienciando objetos, acontecimentos, ideias Sendo negativa, inibe a iniciativa da
(Deleuze, 1978). criança. Em lugar de abrir-se para o
O filósofo adverte que essa flutuação das mundo que se descortina frente a ela, a
criança se fecha. (p.199)
potências de agir e de pensar - ora podendo
elevar-se, determinando um estado de alegria,
As afecções determinam as possibilidades
ora diminuir, causando a tristeza - depende do
do conhecimento por parte do sujeito, portanto a
modo como se dá a relação sujeito-objeto, que é
noção de afeto nos remete à noção de encontro.
sempre mediada pelas relações anteriores da
Com base em nossas vivências e em nossa
criança com os objetos e com as pessoas.
relação com os objetos é que os afetos
O tratamento dispensado por Espinosa à acontecem. “Pensaremos o aprendizado afetivo
relação entre afecção (affectio) e afeto como uma arte do encontro: um aprender sobre
(affectus) nos remete à relação sujeito- o que diminui nossas forças ou nos potencializa”
objeto, uma vez que a afecção indica a (Merçon, 2009, p. 28).

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Afetos e desenvolvimento infantil 515

Assim, é oportuno afirmar que o desejo nos Mesmo afirmando que os processos afetivos,
motiva a agir diferentemente conforme os em sua qualidade subjetiva, evidenciam o modo
objetos que encontramos, portanto devemos como o interno e o externo se articulam de forma
dizer que o desejo está, a cada instante, a permitir sua constituição, ainda fica por
condicionado pelas afecções (efeitos) que nos explicar qual é a condição interna do sujeito que
vêm dos objetos e das relações que se faz sensível ao registro emocional e o que
estabelecemos com as pessoas. A consciência impulsiona a sua ação diante de um objeto ou
emerge, consequentemente, como o sentimento situação. A necessidade é que impulsiona a
contínuo dessas variações em função dos ação do sujeito, ela é o estado emocional do
objetos e ideias que afetam o sujeito durante sua sujeito que é gerado de forma constante no
existência. curso de suas atividades. Para ter sentido para o
Se o que caracteriza a função de sujeito, toda atividade ou relação implica a
conhecimento da consciência é sua interconexão existência de uma ou de um conjunto de
com a atividade, este processo que articula os necessidades.
processos cognitivos e afetivos, determinando a A aparição dos motivos no sujeito ocorre no
formação da consciência e sua objetivação sob a momento da identificação do objeto que atende
forma de atividade humana, aponta para o às suas necessidades. Como condição interior
sentido como uma categoria que sintetiza o de carência do organismo, a necessidade
corresponde a um estímulo, uma excitação
sentir, o pensar e o fazer. A propósito da
geral, mas não tem força motivadora. A
integração do afetivo na vida psíquica do sujeito
necessidade só pode ser satisfeita quando
como um processo por meio do qual o afeto encontra um objeto, e essa identificação do
ganha sentido subjetivo, González Rey (2003) objeto – a que chamamos motivo e que se traduz
afirma que “uma experiência ou ação só tem por um conhecimento objetivo – eleva a
sentido quando é portadora de uma carga necessidade ao nível psicológico propriamente
emocional” (p. 349). Cabe-nos, então, refletir um dito. A relação entre necessidade e objeto é
pouco acerca do papel que os processos construída na história de vida de cada indivíduo,
afetivos desempenham na atividade do sujeito. portanto a identificação dos objetos e a
A emoção caracteriza o estado do sujeito consequente emergência dos motivos implicam
ante toda a ação, ou podemos dizer que as na experiência e no conhecimento de tais
emoções encontram-se estreitamente objetos. Por ser o motor da atividade – o que a
associadas às ações que o indivíduo realiza no impulsiona, dirige e orienta –, o motivo é síntese
conjunto das suas relações sociais; portanto, o do objetivo e do subjetivo. Pensar na motivação
que define a disposição do sujeito para atuar são é admitir que existe uma relação entre a
os processos afetivo-emocionais. O sentimento necessidade – como estado subjetivo – e a
de variação (elevação ou diminuição) das identificação do objeto, e que mediando tal
processo está um mecanismo de descoberta que
potências de pensar e agir é que determina a
se faz por meio da atividade do sujeito.
orientação do sujeito para esta ou aquela
Assim, o mecanismo produtor de
direção, indicando sua atividade ou passividade. necessidades ou motivações pressupõe a
Para exemplificar como os processos afetivos criação de situações em que haja afetação - ou
condicionam nossa atividade, vale mencionar o seja, dizer que o conhecimento é efeito de
relato de uma criança com dificuldades de afecções significa reiterar a importância de
aprendizagem que distinguiu o medo que sentia produzir encontros (Merçon, 2009) que sejam
da mãe do medo que sentia da professora: meios de afetar positivamente, criando modos e
relações que potencializem o pensar e o agir dos
O primeiro era bom, pois a mãe, apesar sujeitos afetados.
de repreender e castigar a filha,
acreditava que ela tinha capacidade para
estudar. Esse medo gerava ação,
O LUGAR DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NO
incentivava a superação do problema. O
segundo era ruim, “pavoroso”, já que DESENVOLVIMENTO DO AFETIVO
reforçado pela humilhação e vergonha
provocadas pelo olhar da professora, A importância do processo educativo como
causava um estado de imobilidade potencializador de novas necessidades
(Sawaia, 2003, p.58). humanizadoras decorre do fato de que, à medida

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que impulsiona relações significativas entre o desse jogo de papéis que a criança vai
sujeito e o conhecimento dos objetos sociais e experimentar um crescente domínio emocional.
das pessoas, por intermédio da atividade da Esse novo e complexo domínio do conhecimento
criança, o professor cria possibilidades de afetá- – o faz-de-conta – emerge da contradição entre
la positivamente, de mobilizar sua potência para a necessidade de agir com os objetos do mundo
conhecer e atribuir sentidos ao que conhece, real como os adultos o fazem, e a
atuando inseparavelmente sobre os processos impossibilidade de executar ela mesma tais
cognitivos e sobre os processos afetivos da ações (como ela poderá dirigir um carro,
criança. conduzir um barco ou cumprir funções
O encontro do sujeito com as objetivações profissionais?).
sociais – conhecimentos organizados histórica e Para resolver esse conflito, a criança, ao
socialmente e passíveis de serem escolher seu papel, deverá seguir um roteiro que
compartilhados – poderá ou não produzir o a cultura lhe estabelece, com ações
desejo ou a necessidade de conhecer e correspondentes às atuações das pessoas.
apropriar-se desse objeto social; entretanto, a Nesse processo, ela vai experimentando atitudes
apropriação desse conteúdo dependerá de o compatíveis com cada um dos personagens que
sujeito empregar ou mobilizar um esforço capaz imita e vai aprendendo a respeitar as restrições
de reproduzir para ele as características cognitivas e afetivas impostas pelo papel social,
acumuladas nesse objeto social. Neste o que denota a qualidade histórica dos afetos,
processo, o sentido pessoal aparece como bem como a interdependência que estes
expressão de uma nova síntese e caracteriza-se mantêm com as demais funções psíquicas.
por aquela qualidade que a significação social Por serem um mecanismo por meio do qual
adquire para o sujeito, com base em sua se pode observar o processo de formação do
vivência, em sua experiência, e resulta da domínio emocional, os jogos de papéis sociais
relação entre apropriação e objetivação do ou as brincadeiras de faz-de-conta exigem da
significado ou função social do objeto, como uma criança um controle do comportamento que se
fusão do social e do individual, do objetivo e do baseia em regras de condutas sociais, ou seja, o
subjetivo, do cognitivo e do afetivo, na qualidade que leva a criança a assumir o comportamento
de uma experiência psicológica. A ênfase na de um personagem que trará implícita uma
unidade afetivo-cognitiva como princípio matriz afetiva. Em outras palavras, para
pedagógico coloca à educação escolar a tarefa desempenhar um papel é preciso incorporar um
de promover vivências positivas com o “jeito de ser” mãe, irmã, professora, enfermeira e
conhecimento, de forma a motivar o desejo de tantos outros diferentes personagens. Esses
conhecer, de se apropriar dos objetos e das jogos oferecem à criança a possibilidade de
formas de relação com as pessoas e de se (re)produzir a vivência de maneira integral como
expressar. unidade de formação cognitiva e afetiva, o que
Considerando nosso objetivo primeiro de ela faz, também, com base em situações de vida
refletir sobre a constituição dos processos concreta. Isto significa que a criança partirá de
afetivos no conjunto das demais funções situações por ela experienciadas ou conhecidas,
psíquicas, entendemos que a criança, com base e que a ampliação dessas fontes também
nas necessidades criadas pelas relações vividas poderá ser objeto da escola.
socialmente, inaugura um novo tipo de Elkonin (1987) faz importantes
comportamento à medida que avança em seu considerações sobre o jogo na idade pré-
desenvolvimento. escolar, apoiando a ideia de que os desejos
A aquisição da linguagem e o crescente infantis não permanecem inalterados, mas se
domínio e ampliação de processos psicológicos formam no processo do jogo, de que a forma
como a percepção, a atenção voluntária e a como se organizam os jogos pode torná-los mais
memória, por exemplo, modificam a relação ou menos interessante para as crianças e de
antes estabelecida entre a criança e a realidade, que, ao tornar o papel social pleno de conteúdos,
e a criança passa então a agir diferentemente, tornamo-lo mais atrativo, formamos o desejo da
demonstrando maior complexificação do criança. “Esta possibilidade de formar os desejos
pensamento e da conduta. Entre os três e os infantis, de dirigi-los, faz do jogo um poderoso
seis anos de idade o brincar de faz-de-conta meio educativo quando se introduzem nele
surge como atividade principal, e é por meio temas de grande importância para a educação”

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(p. 101). Assim, o jogo se coloca como um humana como algo que emerge da atividade que
recurso pedagógico para garantir a conquista o sujeito realiza. Esta concepção supera a visão
das formas histórico-sociais da cultura no constante e homogênea da motivação, pois
desenvolvimento ontogenético, a qual é pensar na motivação para a aprendizagem
determinada pelos processos de apropriação e implica pensar em afetação, em como a criança
pelo domínio das ações socialmente construídas se encontra com os objetos do conhecimento,
(Vygotski, 1995). como se dá essa relação perpassada por ideias,
objetos e fenômenos da realidade escolar, ou
CONCLUSÃO
seja, como são os elementos mediadores que
participam do processo de conhecimento.
Evidentemente, as reflexões sobre a Mediando a relação da criança com o
constituição dos processos afetivos no conhecimento está o adulto, a quem cabe, por
desenvolvimento da criança não se esgotam isso, um importante papel na criação intencional
num único texto, sobretudo se considerarmos a de situações que promovam necessidades e o
complexidade que envolve a formação humana desejo do conhecimento. Na escola esse
do sujeito. Assim, coube-nos apenas apontar mediador é, fundamentalmente, o professor.
alguns elementos que entendemos necessários Sabemos que o que orienta as práticas
para superar equívocos que ainda persistem pedagógicas no terreno da educação escolar
quando tratamos das funções afetivas no são as concepções teóricas e o pensamento dos
comportamento humano. Neste processo professores e educadores de modo geral; dito de
escolhemos tratar de alguns aspectos que outro modo, o conjunto de saberes acerca do
subsistem no contexto educacional, como, por que é ser criança, dos seus modos de pensar,
exemplo, o fato de se analisar o afetivo como sentir, fazer, aprender e desenvolver-se é que
algo que se acrescenta ao cognitivo, como um regula o fazer da educação. Assim, vale a pena
elemento ou pré-formação da psique que segue indagar sobre alguns elementos orientadores da
ao lado, facilitando ou dificultando as relação da criança com o conhecimento, como
apropriações da criança na escola ou a por exemplo: como se dá a acolhida das
conquista de novos conhecimentos que crianças no dia a dia escolar? Como as
permitam avançar os limites do seu atividades são organizadas? Como acontece a
desenvolvimento. distribuição do tempo no cotidiano escolar?
Romper com o pressuposto de que os Como se elegem os conteúdos que deverão ser
trabalhados?
processos afetivos acontecem naturalmente,
Deixar de lado essas questões pode
como um dado a priori, interno e descolado das
dificultar a necessária superação da
relações vivas e dinâmicas que o sujeito
compreensão anistórica dos processos afetivos,
estabelece com a realidade, e passar a que se apresentam como algo do sujeito apenas,
considerá-los como condicionados pelo como um dado natural e descolado das relações
conhecimento dos objetos, pelas relações e concretas que a criança vive na situação escolar,
situações concretas de vida e de educação que incorrendo no risco de reproduzir o modelo da
a criança vivencia, tem implicações psicologia tradicional, que atribui apenas ao
pedagógicas. Uma delas diz respeito à aluno as causas de sua aprendizagem e
observação do lugar que a criança ocupa nas desenvolvimento ou do seu fracasso, além de
relações sociais e educacionais que a envolvem minimizar a força das relações humanas na
e ao modo como organizamos as práticas produção do sentido que a aprendizagem
educativas que são dirigidas para ela. escolar assume para cada sujeito.
Defendemos o caráter histórico dos afetos e
o fato de estes serem decorrentes de efeitos que
nos vêm dos encontros com os objetos culturais REFERÊNCIAS
(signos e instrumentos), fatos e relações que
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acontecem durante a nossa existência diária, ed. – São Paulo: Martins Fontes.
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Cláudia Aparecida Valderramas Gomes: doutora em Educação pela UNESP/Marília-SP, professora assistente no
Departamento de Psicologia Evolutiva, Social e Escolar da UNESP/Campus de Assis-SP.

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