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questões epidemiológicas

UMA PANDEMIA, MUITAS QUARENTENAS


Epidemia se aproxima do pico enquanto Brasil vai deixando isolamento iniciado sem planejamento prévio;
cientistas defendem modelo inteligente e em ritmos distintos
LUIGI MAZZA
30abr2020_13h48

Agência Freelancer/Folhapress

C
om um sétimo da população chinesa, o Brasil superou a China em
número de mortes por Covid-19 e daqui a uma semana deverá
ter o dobro das mortes registradas naquele país, segundo
projeção matemática do Imperial College de Londres. Enquanto as
mortes aumentam, as medidas de distanciamento social vêm sendo
relaxadas, e o movimento nas ruas cresceu desde o fim de março. Para
um grupo de matemáticos e pesquisadores da Universidade de São Paulo
(USP), há uma explicação para isso: a quarentena brasileira foi mal
planejada e, em algumas regiões, precoce. O preço que se paga por isso é
a pressão para arrefecer o isolamento às vésperas do momento mais
crítico da epidemia.

A quarentena é a medida indispensável para conter a pandemia,


recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela maioria
dos estudos científicos. No Brasil, o principal problema apontado pelos
pesquisadores é a forma como ela foi posta em prática. Os matemáticos, a
maior parte deles ligada ao Instituto de Ciências Matemáticas e de
Computação (ICMC), que fica na cidade de São Carlos, interior de São
Paulo, se juntaram desde o final de março para analisar modelos
matemáticos que podem ser aplicados às políticas públicas relacionadas à
quarentena. Também participam da iniciativa alguns professores da
Unicamp e do Impa (Instituto de Matemática Pura e Aplicada).

Enquanto o presidente da República jogava contra a necessidade de


isolamento, coube aos estados e municípios, desde a chegada da
pandemia, a decisão de decretar suas próprias quarentenas. Em vez de
impor um lockdown mais rígido nas cidades mais atingidas, como
fizeram os chineses na província de Hubei, os governos estaduais
editaram decretos brandos e simultâneos para regiões que estavam em
estágios completamente diferentes de contaminação. Na avaliação dos
pesquisadores, eles erraram no método e no momento adequado para
tomar essas medidas. O custo de uma quarentena precoce é que o
desgaste causado por ela também acontece mais rápido do que deveria. E
as pessoas passam a desrespeitar o isolamento no pior momento possível.

Isso pode ser explicado por uma analogia simples: a contaminação pelo
coronavírus é como saltar de um avião. Para sobreviver, é preciso abrir o
paraquedas. Mas isso deve ser feito no momento certo. Se for cedo
demais, a queda é interrompida, mas logo volta a se acelerar, e o
resultado é fatal. O Brasil abriu o paraquedas cedo demais, e algumas
vezes em estados e cidades que ainda não precisavam amortecer a queda
tão bruscamente.

A tese desses pesquisadores é de que a quarentena, para ser realmente


eficaz, precisa ser “inteligente e descentralizada”. Isso significa que as
medidas de isolamento devem ser planejadas de acordo com a situação
de cada cidade, levando em conta uma rede complexa de dados – desde o
número de leitos de UTI disponíveis na região até a quantidade de
ônibus que circulam na cidade, o número de escolas e a posição
geográfica de cada uma delas. Eles condensaram tudo isso em um
algoritmo que demora, em média, um dia para fazer cálculos hipotéticos
e tentar prever a evolução da doença em cada município. É uma
ferramenta que pode ser usada pelos governos estaduais para monitorar
a situação em diferentes regiões e, com isso, endurecer ou abrandar a
quarentena conforme as necessidades, sejam elas epidemiológicas ou
econômicas.

“O que nós vimos em São Paulo foi um lockdown do estado inteiro.


Cidades pequenas, com pouquíssimo fluxo de pessoas, tiveram que
fechar o comércio. Isso gera um custo social e político muito grande, que
mais à frente vai aumentar a pressão pelo afrouxamento da quarentena”,
explica o matemático Tiago Pereira, professor e pesquisador do ICMC.
“Se eu coloco todo mundo em quarentena, como foi feito, a doença fica
dormente por um tempo e eu consigo proteger o sistema de saúde. Mas,
quando as pessoas voltarem às ruas, todo mundo vai ser infectado.” Em
outras palavras, a queda de paraquedas volta a se acelerar. O resultado
disso, em termos práticos, seria a saturação do sistema de saúde, que é o
grande perigo da pandemia. Corre-se o risco de haver muitas pessoas
contaminadas ao mesmo tempo, sem leitos para todas elas. “Por isso é
preciso ocupar o sistema de saúde de uma maneira inteligente, para que a
doença seja contida no menor tempo possível.”

Foi o que a China fez, e que deu resultados. Wuhan, a cidade onde
começou a pandemia, entrou em quarentena rígida no dia 23 de janeiro.
As escolas foram fechadas, o transporte público suspenso e as estradas
bloqueadas. Criou-se um cordão sanitário que abarcava outras dezesseis
cidades do entorno. As medidas gradativamente se tornaram mais
rígidas, mas sempre restritas à província de Hubei, dentro da qual se
encontra Wuhan. Outros municípios passaram a adotar medidas mais
brandas de isolamento. Na semana em que se decretou lockdown em
Wuhan, 87% de todos os casos da China estavam concentrados ali.

A Wuhan brasileira foi São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil. As


duas cidades têm o mesmo número de habitantes – cerca de 11 milhões
de pessoas. No dia 25 de março, um dia depois de o governador João
Doria (PSDB-SP) ter decretado quarentena, 84% dos casos do estado de
São Paulo estavam na capital. “Se tivesse sido feito um lockdown mais
rígido na cidade de São Paulo, os municípios vizinhos não precisariam
entrar numa quarentena tão forte. Ou talvez entrassem, mas só depois de
semanas”, afirma Pereira. “A Região do Grande ABC, por exemplo,
estaria com a vida relativamente normal.”

As grandes montadoras e indústrias do ABC, muitas das quais


suspenderam suas linhas de produção, poderiam ter continuado abertas
ao menos por algumas semanas. Com isso, o custo econômico da
quarentena seria menor, assim como o custo social decorrente disso –
menos trabalhadores seriam mandados para casa, ou não seriam
mandados tão cedo.

Em suma, a quarentena feita no estado de São Paulo foi, ao mesmo


tempo, branda e abrangente demais. Não isolou suficientemente o
epicentro da pandemia – diferentemente de Wuhan, o transporte público
continuou funcionando na cidade –, ao passo que paralisou a vida em
municípios menores que poderiam manter uma rotina normal por um
tempo a ser definido. E o mesmo aconteceu em outros estados, como o
Rio de Janeiro.

O preço que se paga por isso agora é uma pressão cada vez maior pelo
afrouxamento da quarentena. Espontaneamente, as pessoas têm
abandonado o isolamento social. No dia 23 de março, uma segunda-feira,
véspera de quando foram decretadas as quarentenas em São Paulo e no
Rio, o índice de isolamento no Brasil era de 55,6%. Daquele momento em
diante, o isolamento caiu, chegando a um patamar mínimo de 46% em 23
de abril, exatamente um mês depois. Os dados são da empresa In Loco,
que calcula esse índice a partir do monitoramento de GPS de celulares.

O
Ministério da Saúde prevê que o pico de transmissibilidade do
coronavírus no Brasil vai ocorrer da metade de maio até a
metade de junho. A curva do número de casos e mortes é cada
vez mais íngreme. Um relatório publicado pelo Imperial College de
Londres calcula que, até o fim desta semana, o Brasil terá mais 4,4 mil
mortes causadas pela Covid-19 – somando, ao todo, pouco mais de 10 mil
mortes desde o início da pandemia.

Dentre todos os 48 países analisados pelo Imperial College, o Brasil é o


que tem o maior índice de contaminação, chamado Rt. Hoje, cada
brasileiro infectado contamina outras 2,8 pessoas, segundo esse índice.
Nos Estados Unidos, um infectado contamina só uma pessoa.
Considerando os dez países com maior número de mortes até aqui, o
Brasil é o único que está num momento de aceleração do número de
infectados. O crescimento nos Estados Unidos já se estabilizou, enquanto
na Itália, na França e na Espanha ele declina.

Diante dessas circunstâncias, afrouxar a quarentena deveria estar fora de


questão. Mas é o que tem defendido não apenas o presidente, como
também os governadores, em meio à pressão econômica resultante do
isolamento. João Doria determinou que a quarentena em São Paulo
deverá durar só até 11 de maio. Empresários como o presidente da
Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, têm proposto
modelos de retomada do trabalho para tentar conter danos maiores à
economia. Outros estados discutem planos de flexibilização em maior ou
menor grau.

Segundo Tiago Pereira, não há, neste momento, cenário plausível no qual
o sistema de saúde da cidade de São Paulo poderia aguentar um processo
de flexibilização da quarentena. O máximo de ocupação que as UTIs dos
hospitais aguentariam seria se em torno de 1% da população da cidade
estivesse contaminada. Hoje, segundo dados oficiais, só 0,13% da
população está contaminada. A subnotificação, no entanto, é estimada
em, no mínimo, doze vezes o número oficial. Isso significa que, hoje, a
proporção real é de 1,6% de contaminados na população de São Paulo. As
UTIs já estão, portanto, superlotadas.

O cálculo de ocupação máxima dos leitos é feito com base em estimativas,


já que faltam dados no Brasil. “Dentre as pessoas que contraíram o vírus
e eram sintomáticas, na China, 5% precisaram ser internadas na UTI. Na
Itália, foram em torno de 12%”, afirma Pereira. “Essa é uma informação
importante, mas no Brasil a gente não tem ideia de qual é a proporção.
Estamos trabalhando com uma estimativa de que aqui seriam 10% dos
contaminados. Mas se a proporção for igual à da Itália, a situação é muito
preocupante.”

Diante disso, a resposta do algoritmo é clara: mesmo no universo de


dados oficiais, a única saída possível para evitar o colapso do sistema de
saúde de São Paulo é a adoção, o quanto antes, de um lockdown rígido
por pelo menos dois meses. Como foi feito em Wuhan, e como deveria ter
sido feito desde o princípio. A quarentena seria mais rígida onde deve, e
mais branda onde ainda não é necessária. As previsões são inequívocas
em mostrar que a quarentena simultânea e genérica para várias cidades
nunca é a melhor opção para se conter a doença. Quando uma cidade
flexibiliza o isolamento, outra enrijece.

Decretado um lockdown rígido na cidade de São Paulo, os municípios do


entorno poderiam adotar medidas mais leves de isolamento, aponta o
algoritmo. Nesse cenário, durante o primeiro mês de quarentena na
capital, Sorocaba só precisaria evitar aglomerações de pessoas. Ribeirão
Preto teria que fechar bares ou escolas. Quando o isolamento de São
Paulo afrouxasse, tanto Sorocaba quanto Ribeirão precisariam endurecer
suas medidas, mas nunca na mesma intensidade que a capital: seriam
proibidas aglomerações, e os prefeitos poderiam escolher entre fechar
bares ou fechar escolas. No terceiro mês, tanto São Paulo quanto as duas
cidades evitariam apenas que houvesse aglomerações. Esse é um cenário
hipotético, que até o momento está longe de se realizar. E quanto maior a
demora para enrijecer as medidas de isolamento na cidade de São Paulo,
mais distante fica a possibilidade de uma abertura lenta, gradual e
segura.

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