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Heitor nos traz em seu texto alguns apontamentos sobre a viva discussão em que a
definição de Sustentabilidade em Cidades está envolvida, principalmente aquelas que
se encontram no contexto amazônico. Como podemos definir sustentabilidade e
desenvolvimento? Para Heitor, e muitos outros, são termos contraditórios e
antagônicos, já que os recurso são finitos e desenvolvimento visa o crescimento
indeterminado usando estes de forma inconsequente. O que me interessou no artigo
de Pinheiro foram alguns apontamentos sobre o como o meio urbano pode interferir a
definir comportamentos e sensações de indivíduos que há muito pouco tempo
poderiam ser considerados não urbanos. As comunicações das mídias e vivências em
cidades grandes traz uma multiculturalidade que interfere nesse indivíduo e
consequentemente esse modifica seu meio. A falsa sensação de liberdade ditada em
forma de segurança proveniente desse contato com realidades ditas mais modernas e
tecnológicas, ofusca a vida “sofrida, incerta e solitária” dessa vida não urbana, virando
então objetivo de mimetismo. Somada às gerações presentes extremamente
conectadas o individualismo cresce agarrado ao sistema do capitalismo moderno.
Quando ele aponta o capitalismo como modelo de desenvolvimento, destrincha a
palavra desenvolvimento como “des-envolvimento” ou ausência de envolvimento, que
define essa individualidade do sujeito que vive esse capitalismo moderno. A falta de
envolvimento e exagerada individualidade são sintomas de uma desarticulação cultura,
territorial para finalidade geopolíticas. Isso é refletido na forma como o sujeito vai se
colocar no seu mundo e no território onde vive.
Trago agora as discussões em sala para serem enriquecidas com a visita de campo e
acrescento outro autor que pode contribuir e fortalecer a discussão.
Henri Lefebvre nos fala que o tecido urbano estende e corrói os resíduos da vida
agrária. Cidades amazônicas agrárias estão ficando cada vez mais urbanas, e com isto
um ambiente que segue dinâmicas culturais locais e temporais ecológicas tendem a
sofrer mudanças radicais rumo a urbanização. Lefebvre aponta que as manifestações
urbanas podem sufocar as manifestações agrárias, introduzindo bruscamente um ritmo
urbano, uma cultura urbana e mercadorias urbanas a essas cidades em transformação.
Como apontado anteriormente na analise do texto de Heitor, o urbano traz estruturas
que entram no imaginário de necessidade de isolamento para se ter segurança como
algo natural da evolução do tecido urbano. Durante o campo pude observar as
diferentes formas que as casas se colocavam no espaço urbano, e o que me trouxe
maior curiosidade foi a diversidade de objetos protetivos que cercavam o território
primário doméstico. A estrutura arquitetônica dos muros e cercas eram elementos fixos
e presente. Muitas vezes os muros vistos nestas pequenas comunidades urbanas nada
se diferem de muros encontrados em grandes cidades como Manaus. A escala de
violência, provavelmente é muito diferente entre ambos os tipos de cidades, mas a
necessidade de se sentir seguro e isolado são elementos em comum entre estes
espaços urbanizados. A atuação das pessoas em uma dinâmica urbana ou agrária
definem as intensidade de fluxos e fixos.
Em contra partida, uma exemplo curioso encontrado em campo começa a traçar novos
aspectos entre esse sujeito isolado e aquele que interage com o espaço urbano.
Inicialmente percebi esta casa pela mesma lógica de muros altos que expressam uma
mensagem clara de barreiras e “defesas”, mas alguns elementos trazem a culturalidade
local que inicia um outro diálogo com os habitantes da cidade e assim uma possível
nova dinâmica espacial. Os detalhes da “renda” do telhado que conversam com a
“renda” da cerca e o mesmo material e cores usados em ambas as “rendas” nos mostra
que esse sujeito está interessado em levar este ambiente estético de sua casa para fora
dela, para a divisão da casa com a rua. Estaria ele trazendo sua casa para o ambiente
urbano? Qual seria a mensagem aqui expressa para alguém que olha de fora esses
elementos na paisagem urbana? Identifico uma casa em transição, onde a cultura local
se mistura com a cultura urbana. De acordo com Gustave Fischer, em seu livro
Psicologia Social do Ambiente, quando o homem modifica seu ambiente ele modifica a
si mesmo. Ao construir uma casa, um local para habitar e interagir ele não só está
construindo uma estrutura mas todo um mundo simbólico rico em gostos e valores que
afirmam seus esquema particular de ver o mundo. Logo a colocação de cercas de
diversos tipos nos mostra diferentes formas de habitar e definir espaço.
O caso onde a cerca é extremamente baixa é recorrente, aqui esta ainda segue toda
extensão do terreno de forma irregular sugerindo que a própria ideia de cercamento já
é insuficiente. O cercamento aqui sugere muito mais uma barreira imaginária do que
física, apesar de se utilizar de um elemento concreto. Em mais uma análise rápida e
superficial pode-se também observar que o respeito pela área pública ou área que não
necessariamente é do proprietário é efetivado já que a cerca não envolve todo o
terreno “vazio” ao seu redor, sugerindo forte noção dos limites da propriedade.
Outro padrão muito visto foi a ausência total de muros, cercas, arames ou qualquer
estrutura que envolva e limite o terreno de uma casa em relação a casa vizinha. Isso
inclusive apareceu em casas ao lado de outras fortemente muradas. No que esse sujeito
da casa sem estrutura envoltória difere daquele que se cerca? Como ele se vê nesse
espaço urbano? Qual a sua relação com seu território doméstico? E o espaço público?
Uma suposição que posso trazes quase com certeza é que os fluxos que ele se dispõe a
ter são completamente diferentes dos fluxos que uma casa murada pode gerar. São
fluxos que vem de um lugar de comunidade e troca. Uma casa não cercada nos mostra
uma abertura de possíveis relações, onde sua comunidade não lhe oferece uma ideia
de perigo tão sufocante. Apesar de acreditar que a noção de limites territoriais sejam
claros e presentes, a possibilidade de um terreno mais comunal, que se abre para sua
comunidade me passa a mente. Digo isso baseada na noção que tenho de que muitas
comunidades ribeirinhas não apresentam cercas para dividir seus territórios, e ainda
assim todos da comunidade entendem os limites de suas terras. Caso estas estejam em
áreas de floresta, o uso extrativista é aberto, e o dono da propriedade não limita a
entrada dos membros da comunidade. Seria esse um resquício dessa relação mais
camponesa em um ambiente urbano? Muitas dessas casas sem divisão territorial
possuíam quintais, com hortas e árvores, mas outras eram casas sem mais terreno
circundante e terminavam direto na rua. O que poderia ser um sinal de pertencimento
aquele espaço urbano, talvez o urbano também trouxesse a segurança para quem vê
nele seu lar e cultura. A seguir fotografias de casas na sede do Careiro Castanho.
C onsiderações finais
As casas são elementos sempre muito curiosos e são excelente para entender seus
moradores, a cidade, a história e padrões sociais de uma cidade. Elas são quase
representações precisas de quem as habita, pois a personalidade de seus moradores
fica fisicamente explicitada, uma vez que estes a modificam de acordo com seus gostos
e esta os modifica na relação que se é criada com os elementos, espaços e territórios
de seu interior. A análise baseada na psicologia ambiental nos mostra como os arranjos
podem interferir na dinâmica que se é criada dentro e fora desta.