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A CURVA DE PHILLIPS PARA O BRASIL NOS PERIDOS: 1986 A 1994 E 1994 A 2005.
Aprovado:
________________________________________ Nota:
Prof°(a).
Banca
_________________________________________ Nota:
Prof°(a).
Banca
_________________________________________ Nota:
Prof°(a).
Orientador(a)
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus pela saúde e por tudo que ele me concede. Que eu possa
entender, aceitar e evoluir com seus propósitos.
Aos meus pais: Orlando e Lúcia e aos meus irmãos: Elizângela e Neylor pelo apoio espontâneo e
pela compreensão nos dias de muito trabalho.
Aos colegas de classe e aos amigos por entenderem o quanto é importante este curso para mim.
Obrigado a professora Janete Leige Lopes, orientadora, por me mostrar que o esforço e dedicação
têm que vir de mim mesmo e pela colaboração no desenvolvimento deste trabalho.
Aos professores, que são os responsáveis pela mudança somatória positiva em mim (com certeza
levarei essas contribuições por toda a vida), e pela amizade e parceria nestes cinco anos de curso.
LUZ, Leandro M. A Curva de Phillips para o Brasil nos Períodos: 1985 à 1994 e 1994 à 2005.
Monografia (Bacharelado em Ciências Econômicas) – Faculdade Estadual de
Ciências e Letras de Campo Mourão.
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi analisar a economia brasileira em dois períodos subseqüentes_ 1985
a 1994 e 1994 a 2005 e verificar, através de testes econométricos, se há ou não trade-off entre as
variáveis inflação e desemprego. Para isso, foram realizados estudos teórico-econômicos e
históricos a fim de obter o embasamento necessário para uma análise ulterior. Salientaram-se,
nesta pesquisa, os conceitos básicos de inflação e desemprego, as teorias clássica, keynesiana,
monetarista, pós-keynesiana e novo-clássica. Houve, também, a preocupação em demonstrar
numa pesquisa de cunho histórico o desempenho inflacionário e o comportamento do
desemprego no Brasil desde os vários planos estabilizadores até o novo paradigma das empresas
brasileiras voltadas à produtividade. O primeiro período analisado demonstrou, empiricamente,
altas taxas de inflação e vários planos estabilizadores além de altas taxas de desemprego, que
eram positivamente relacionadas com os períodos econômicos brasileiros de recessão e
retomadas; o segundo período analisado demonstrou, empiricamente, uma estabilização dos
preços a partir do Plano Real com cortes fundos na liquidez e uma taxa de desemprego maior, o
que pode estar, via de regra, relacionado com as grandes mudanças no mercado de trabalho e no
novo paradigma empresarial brasileiro. O terceiro capítulo mostrou a Curva de Phillips original, a
Curva de Phillips com expectativas adaptativas e a Curva de Phillips vertical (com expectativas
racionais). No quarto capítulo são demonstrados a metodologia utilizada, a base de dados e os
resultados e discussões. Concluiu-se, assim, através de uma Regressão Simples, no período de
1985 a 1994 e também, no período 1994 a 2005, a inexistência de trade-off entre inflação e
desemprego, não confirmando, dessa forma, a teoria da Curva de Phillips original para o Brasil
nestes períodos e pondo em questão, também, a utilização de medidas econômicas que sugerem
uma troca entre inflação e desemprego para a economia brasileira.
LUZ, Leandro M. The Phillips´curve to Brazil in the period of 1985 to the 1994 and of 1994 to
the 2005.Monograf (Graduate in Economic Sciences) – State Faculty of Sciences and Letters of
Campo Mourão.
ABSTRACT
The Objective this paper it was analyzed the Brazilian Economy in two periods subsequent: of
1985 to the 1994 and of 1994 to the 2005 and verify by econometrical tests the existence of the
trade-off enter the variables: inflation and unemployment. For this, studies had been carried
through, theoretician-economic and historical to order to obtain the base necessary for the
analysis subsequent. It was outstanding, in this work, the basic concepts of inflation and
unemployment, the classic theory, Keynesian, monetarist, post-Keynesian and neo-classic. There
was also the concern in demonstrating in a research of historical stamp the inflationary acting and
acting of the unemployment in the Brazil, from the several ones to the new model of the Brazilian
Companies towards the productivity, consecutively. However, the first analyzed period
demonstrates empirically high inflation taxes and several plans stabilizers besides high
unemployment taxes that were positively related positively related with the recession periods and
retaking; and the second analyzed period demonstrates empirically the stabilization of the prices
starting from Plano Real with deep cuts of liquidity at the present time and a tax of larger
unemployment, that can be, related also with the big changes of the market and the Brazilian
companies. The third chapter showed the original Phillips´curve , the version of Friedman (1950)
and the vertical Phillips´curve. With this purpose, it was verified, through the Simple Regression,
in the period: of 1985 to the 1994 and in the period: 1994 à 2005, the inexistence of a trade-off
between inflation and unemployment, not confirming, in that way , the Original Phillips´curve
Theory from the Brazil in those periods, and putting in subject, as well, the use of economical
measures they suggest a change between inflation and unemployment for the Brazilian economy.
Equação 05 – Força-de-Trabalho...................................................................................................10
Equação 11 – Variância..................................................................................................................38
Equação 12 – Covariância..............................................................................................................39
Equação 15 – Desvios.....................................................................................................................39
INTRODUÇÃO................................................................................................................................1
1 INFLAÇÃO E DESEMPREGO....................................................................................................3
1.1 Inflação.....................................................................................................................................3
1.2 Desemprego..........................................................................................................................9
3 CURVA DE PHILLIPS...............................................................................................................31
4.1 Metodologia..............................................................................................................................38
4.4.1 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPCA nos
4.4.2 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação INPC nos
4.4.3 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-DI nos
4.4.4 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-OG nos
4.4.5 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IGP-DI nos
4.4.6 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPC-
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................49
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................51
APÊNDICE....................................................................................................................................55
Xiii
INTRODUÇÃO
1. INFLAÇÃO E DESEMPREGO
1.1.1 Inflação
1
Como veremos no decorrer do capítulo, a causa inflacionária pode ser baseada em diversos fatores (expansão monetária,
movimentos no mercado de trabalho, etc.)
i) Inflação de Demanda (πd): ocorre quando há uma demanda excessiva por bens e serviços,
sendo esta provocada pela expansão da demanda agregada.2 Pode ser de origem monetária ou
fiscal, geralmente pode estar associada à criação, manutenção ou elevação do déficit público.
ii) Inflação de Oferta (πs): resulta da elevação dos custos de produção (salários, juros, tributos,
preço da matéria-prima, etc.). Geralmente pode estar associada à escassez dos fatores de
produção (inflação de custos); ou por incrementos autônomos das margens de lucro (inflação de
remarcamento), que geralmente se dá pela atuação de empresas que aproveitam de seu poder de
mercado, quando há uma concorrência imperfeita (ex: monopólios, oligopólios, etc.).
No entanto, podemos observar que em época de inflação constante, o
comportamento dos agentes econômicos gera tipos de inflação mais complexos. Esses tipos de
inflação provêm da interação dos mecanismos inflacionários. Segundo Fritz Machlup apud Leite
(2000) a inflação têm muitas facetas, podendo ser um problema monetário, fiscal, monopolista,
institucional, político, psicológico, além de muitos outros. Nesse contexto, vejamos então alguns
exemplos de inflação:
Uma política que vise combater o problema inflacionário precisa identificar sua
natureza. Para, a partir daí, utilizar os meios apropriados para conter a inflação. Quando a
intenção é combater a inflação de demanda, por exemplo, são usadas políticas monetárias e
fiscais restritivas. Já a inflação de custos, por sua vez, é combatida com políticas de preços e
rendas. Contudo, quando o problema inflacionário é complexo as medidas de contenção são mais
2
“A definição mais rigorosa pressupõe que a inflação de demanda ocorreria apenas com pleno uso de recursos. Entretanto, pode
também ocorre com desemprego de recursos, já que sempre existirão setores da atividade que atingem o pleno emprego antes
de outros [...] ”; segundo Luque e Vansconcelos (Gremaud...[ et al], 2004, p. 338).
difíceis de serem aplicadas. Na busca dos mecanismos necessários para entender e combater a
inflação os economistas formularam várias teorias: A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM), a
Teoria do Hiato Inflacionário, a Teoria do Duplo Hiato Inflacionário e a Teoria Aceleracionista
da Inflação são alguns exemplos de teorias que buscam explicar os determinantes da inflação.
_ _
MV = PT (1)
3
Para a Escola Clássica a economia está sempre a pleno emprego.
aproximação, também há a suposição de que a quantidade retida de moeda está em relação direta
com a renda do indivíduo. Assim:
M = k.Py (2)
Md = f (Y, W, r, π, τ) (3)
Neste comenos, a quantidade demandada de moeda (Md) está em função da
renda real (Y), da riqueza nacional (W), de um vetor de taxas de juros (r), da taxa de inflação (π)
πh = α + βΔπe + μ + ε (4)
Onde a taxa de hiperinflação (πh) é igual a: (α) mais (β) (ambas constantes)
e
multiplicado por (Δπ ), que é a variação da taxa da inflação esperada, mais (μ) que é a expansão
monetária, mais o erro de previsão da inflação.4 Desse modo, a taxa de hiperinflação (πh), esta
diretamente relacionada com da taxa de expansão monetária (μ) e com a inflação esperada.
De acordo com Luque e Vasconcelos apud Gremaud (2004, p.336) a inflação é
um fenômeno monetário. Sendo que com a elevação dos preços monetários o valor real da moeda
é depreciado: “Entretanto, [...] isso não quer dizer que a solução passe simplesmente por um
controle de moeda”
Tocando em frente, veremos agora o mecanismo de oferta e demanda que
Keynes (1936) usou para mostrar as causas do processo inflacionário e a sua intensidade.
“Em a Teoria Geral, Keynes propôs que a renda total de uma economia era, no curto
prazo, determinada em grande parte pelo desejo de gastar das famílias, das empresas e do
governo. Quanto mais as pessoas querem gastar, mais bens e serviços as empresas podem
vender. Quanto mais as empresas vendem, maior o nível de produção que escolherão, e
mais trabalhadores optarão por contratar [...] A cruz keynesiana é a tentativa de
modelar essa percepção” (MANKIW, 2004, p. 178).
4
Embora Cagan tenha trabalhado com a suposição de expectativas adaptativas, modernamente seu modelo é baseado na hipótese
de expectativas racionais, de modo que a taxa de inflação corrente se ajusta instantaneamente às informações disponíveis, sendo
o erro de previsão aleatório com média zero. (LEITE, 2000, p.591)
Como vimos, a explicação keynesiana para a inflação se dá através da Cruz
Keynesiana. Presume-se que a curva de oferta do produto é completamente elástica (horizontal)
até alcançar o pleno emprego (Yp), passando a ser inelástica (vertical) nesse ponto. Mas para
Keynes (1936) no “mundo real” as variações de demanda interagem com uma curva de oferta
relativamente inclinada (inclinada para cima, e não inelástica) causando variações no nível de
preços e em demais outros fatores como o emprego e produto, via função de produção. O hiato
inflacionário é a pressão sobre o nível de preços criada pelo excesso de demanda sobre o produto
potencial (Yp). Segundo Keynes (1936) apud Leite (2000) esta é a causa imediata da inflação.
Desse modo, de acordo com a Teoria do Hiato Inflacionário, o aumento da
demanda ao nível do produto potencial (Yp) causará apenas inflação sem nenhum efeito sobre o
produto nacional (Y), sendo o aumento da demanda podendo ser causado através do aumento do
consumo, investimento e gastos do governo, independente da expansão monetária.
5
“[...] mantido inalterados todos os demais fatores, ou, permanecendo iguais todos os demais fatores” (ROSSETI, 2000, p. 83)
1.2 Desemprego
6
“Os trabalhadores cuja preferências indicam que a satisfação das horas livres é maior que aquela que poderia ser proporcionada
pelo salário real em vigor decidem voluntariamente não trabalhar” (CARVALHO et al, 2000, p.199).
A soma dos trabalhadores aptos para o trabalho é denominada como Força-de-
Trabalho. Visto que todo trabalhador está empregado ou desempregado, a força-de-trabalho é a
soma dos empregados e desempregados. (idem, 2004).
L=E+U (5)
7
EMPREGO. Disponível em: <http://www.geocities.com/joaoaldeia/txt/eco192.htm> Acessado em: 11 mai 2005.
trabalho, na qual o sistema de informações sobre a oferta de vagas disponíveis no sistema
produtivo é imperfeito.” As capacidades diferentes e os diferentes atributos exigidos, as
informações assimétricas, a delonga mobilidade geográfica dos trabalhadores, e as variações
setoriais8 são variáveis que causam o desemprego friccional. Um exemplo de política adotada
pelo governo para a diminuição do desemprego friccional é o seguro desemprego. Por esse
programa, mesmo depois de perderem o emprego, os trabalhadores ainda continuam recebendo
uma fração de seu salário.
No entanto, como a economia está sempre em transformação, é inevitável
algum desemprego friccional. Enquanto a oferta e a demanda por trabalho entre empresas e
trabalhadores estiverem mudando, o desemprego friccional será inevitável (MANKIW, 2004).
Outra razão para a existência ou o aumento do desemprego involuntário é
geralmente atribuída a motivos cíclicos ou estruturais. O desemprego conjuntural resulta de
flutuações da procura agregada ou de movimento sazonais de produção, como por exemplo, o
que ocorre em áreas rurais nas entressafras. Alguns setores da economia são particularmente
sensíveis a este tipo de desemprego, como é o caso da construção de edifícios, por exemplo.
Quando a economia entra em recessão diminui o investimento das empresas, nomeadamente a
construção de instalações, tal como diminui a compra de habitações pelos particulares. Muitos
trabalhadores do setor de construção vão para o desemprego. Todavia, a situação se inverte
quando regressa a fase de expansão, e estes mesmos trabalhadores voltam a serem contratados.
(ROSSETI, 2000)
O terceiro tipo de desemprego supracitado é o desemprego estrutural. Este se
relaciona com a estagnação da economia, com o desajustamento crônico entre oferta e demanda e
com a com a má utilização das políticas macroeconômicas. É característico de economias
periféricas, mas não é uma exclusividade delas. Alguns exemplos do motivo para o desemprego
estrutural é a falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento (tanto em capital físico quanto
em capital humano) do país que faz com que sua produção perca a competitividade e que o país
entre em colapso. O desemprego estrutural é o mais grave, devido ao fato de as crises setoriais
serem de difícil recuperação e o desemprego tende a ser de muito longa duração necessitando de
ajuda dos governos. (idem, 2000)
8
Mudança na composição da demanda entre indústrias ou regiões (MANKIW, 2004, p. 108)
Segundo Mankiw (2004) uma das explicações para este tipo de desemprego é a
rigidez dos salários, isto é, “[...] a impossibilidade do salário de se ajustar até que a oferta de
trabalho iguale a demanda por trabalho” (MANKIW, 2004, p.110).
As três causas dessa rigidez salarial são:
i) As leis do salário mínimo: a lei do salário mínimo impede que os salários caiam a níveis de
equilíbrio. Para muitos trabalhadores, especialmente os não-qualificados e os inexperientes, o
salário mínimo aumenta o ganho acima do nível de equilíbrio, reduzindo assim a quantidade de
trabalho dessas pessoas que as empresas demandam;
ii) O poder dos sindicatos trabalhistas: as negociações entre líderes sindicais e empresas
determinam, também, um salário acima do de equilíbrio. Dessa forma ocorre uma redução de
oferta de empregos e um desemprego estrutural maior;
iii) Os salários de eficiência: segundo as empresas, baixar os salários poderia diminuir também a
produtividade e os lucros da empresa, isso devido ao custo de treinamento ou de recrutamento de
mão-de-obra qualificada.
9
MARSHALL, Alfred. Money and Commerce. Londres, Macmillan, 1922, p. 260
insatisfeita de trabalhar, com longa e contínua ansiedade, consome as melhores forças de
um homem, sem nada acrescer. Sua esposa emagrece, e seus filhos ganham. Como que,
uma mácula terrível em suas vidas, que talvez nunca consigam superar.” (FROYEN,
1999, p.90).
P
S(W0)
P0 S(W1)
D(W0)
P1
D(W1)
Y* Y
De acordo com Keynes (1936) os clássicos supõem que com a redução dos
salários, os empresários vêem crescer seus lucros e, devido a isso aumentam a produção e o
emprego. Em contra partida, Keynes (1936) relata que só haverá demanda por estes produtos se a
“propensão a gastar” dos empresários (seja em consumo, ou em investimento) for igual ou maior
que à propensão a consumir dos trabalhadores cuja renda caiu. “Numa recessão, quando as firmas
têm capacidade ociosa não planejada, parece razoável supor que a propensão a gastar, pelo menos
a partir dos lucros retidos, será menor que a dos trabalhadores”. (idem, 1987, p. 18).
Segundo Keynes (1936) apenas se houver algum efeito sobre os três
determinantes da demanda efetiva, a redução do salário nominal afetará o nível de emprego.
Isto é, sobre: a eficiência marginal do capital, a preferência pela liquidez ou a propensão a
consumir. Vamos ver esses efeitos:
i) o primeiro desses efeitos, a eficiência marginal do capital, refere-se a uma redução dos salários.
Mesmo que essa redução nos salários seja totalmente repassada para os preços, não significa que
estes se reduzirão na mesma proporção aqueles. Isto simplesmente porque os salários não
representam cem por cento (100%) dos custos. Ou seja, uma redução dos salários nominais
significa a queda da renda real dos trabalhadores;
ii) o segundo efeito, via preferência pela liquidez, ou seja, sobre a taxa de juros. Se a quantidade
de moeda é uma função do nível de preços, dada a renda real ou o nível de emprego (moeda
endogenamente determinada), uma redução dos salários e preços não teria qualquer efeito sobre a
taxa de juros. Isto porque com a redução dos salários e preços a demanda de moeda se reduzirá e
com ela a quantidade de moeda. Desse modo, não há nenhum efeito sobre a liquidez do sistema.
Se, por outro lado, uma redução dos salários e preços faz crescer a oferta real de moeda (a oferta
de moeda é fixa em termos nominais). O efeito será igual ao que decorre de um aumento na
quantidade de moeda, mantido constantes os salários e preços, isto é, a redução da taxa de juros.
Neste caso, Keynes argumenta que, estando a economia em recessão, a queda da taxa dos juros
teria pequeno efeito sobre o nível de atividades, uma vez que a eficiência marginal do capital está
muito baixa. Em outras palavras, com excesso de capacidade ociosa, os empresários não reagem
a reduções na taxa de juros.
iii) no terceiro efeito: a propensão marginal a consumir, Keynes argumenta que os outros agentes,
os rentistas como chama Keynes, cuja renda independa da taxa de salário terão seu poder de
compra aumentado devido à redução dos preços. O efeito final sobre a demanda depende da
propensão marginal a consumir a partir de sua renda de trabalhadores e rentistas. Se a propensão
dos rentistas é tal que, dado o crescimento de sua renda real, não compense a redução do
consumo dos trabalhadores, a demanda deverá cair.
Deste modo, o emprego, segundo a análise de Keynes, depende apenas do nível
de Demanda Efetiva; esta, por sua vez, é determinada pela propensão a consumir, pela eficiência
marginal do capital e pela taxa de juros. Como foi observado, o nível de salário nominal tem
pequena ou nenhuma importância na determinação da Demanda Efetiva e, por conseguinte, na
determinação do emprego.
10
A idéia demonstrada aqui parte de um modelo da Curva de Phillips com Expectativas Adaptativas (CARVALHO et al 2000, p.
201).
11
Esse modelo monetarista é embasado na Curva De Phillips Aceleracionista (CARVALHO et al, 2000, p. 203).
alternativas (Singer, 1998), que apresenta a economia solidária como alternativas para reduzir a
exclusão sócio-econômica no Brasil.
Abordou-se até aqui os conceitos básicos de inflação e desemprego, as teorias
dos determinantes da inflação e as teorias do desemprego. Veremos agora, no próximo capítulo,
uma análise histórica da inflação e do desemprego brasileiro.
12
O QUE É INFLAÇÃO e como ela afeta seu bolso. Disponível em: <http://dolexplica.dgabc.com.br/0412inflaçao_abre.asp>.
Acessado em: 02 nov. 2004
de Índice de Custo de Vida (ICV). Nessa época, foram criadas novas formas de se calcular a
inflação, baseadas em cestas de consumo (um grupo de produtos considerados essenciais pelos
brasileiros cuja variação dos preços era calculada mês a mês).13
Em 1945, na reconstrução pós-guerra a economia se mostrava estável. Neste
período o país estava passando por grandes mudanças estruturais, tanto no setor real
(industrialização), quanto no setor financeiro (criação de instituições não bancárias). Há nesse
período uma inflação de crédito e estrutural com uma mudança gradativa na composição dos
meios de pagamento, com o efeito multiplicador da moeda escritural exercendo-se com maior
impacto. Desse modo, amplificou-se o efeito inflacionário das emissões primárias de moeda
(ROSSETI, 2000, p.708).
No início da década de 1960 a inflação sobe para 90% a.a.; greves e
movimentos contra a ditadura geram um ambiente anárquico, as esquerdas tentam implantar o
socialismo no Brasil (DREIFUSS, 1981). Em meio à redução do produto agregado, estabeleceu-se
um processo inflacionário inusitado. Analistas do período tecem a opinião de que os déficits de
caixa do governo central atuaram como fatores básicos para uma expansão da oferta monetária no
período (idem, 2000, p. 709).
Neste contexto inflacionário e diante de um total descontrole da sociedade civil
os militares dão um golpe (1964) e assumem o poder. Mas, segundo R.A. Dreifuss. (DREIFUSS,
1981), na sua tese de doutorado, ao contrário do que muitos pensam, o golpe foi arquitetado pela
elite empresarial brasileira e não pelos militares.
Com os “militares” no poder, surge a primeira intervenção para conter a
inflação, tendo como base a aplicação de controles ortodoxos. Os fatores diagnosticados como
causadores do surto inflacionário do período anterior foram objetos de controles rígidos. Conteve-
se a oferta monetária, reformaram-se o sistema financeiro e a estrutura tributária e a inflação
recuou. Neste período foi utilizado o Paeg (Programa de Ação Econômica do Governo) que
diagnosticou a inflação apontando o défict público, a expansão de crédito as empresas e as
majorações de salários em proporção superior ao aumento da produtividade como as três causas da
inflação brasileira vigente na época. No entanto, Fishlow (1973) apud Cysne (CYSNE, 1985,
p.401-422) conclui pela não-validade desta análise, ao menos no que diz respeito ao papel do setor
privado dos anos imediatamente anteriores a 1964:
13
idem.
“Yet the analysis of the role of the private sector in that experience is clearly defective. Real
minimum wages had increased less than productivity change from 1959 through early 1964.
Real bank loans to the private sector had also shown steady decline. Since inflation accelerated
nevertheless, neither merits the importance the stabilization plan attache to these elements
(CYSNE, 1985, p. 408).
14
A HISTÓRIA DA INFLAÇÃO NO BRASIL. Disponível em: <http:// dolexplica.dgabc.com.br/0412inflacao_brasil.asp>.
Acesso em: 02 nov. 2004.
década anterior, afrouxando os controles e promovendo a expansão econômica. (que além de mais
fácil de atingir, é muito mais popular) (LEITE, 2000).
Sob sustentação de uma correção monetária generalizada instalava-se um
processo inercial de inflação. A inflação passada reproduzia-se no presente, animando um
movimento ascendente de alta de preços. As expectativas dos agentes econômicos levaram à
adoção de indexadores contratuais e a remarcação de preços, sobretudo em mercados
imperfeitamente competitivos.
Neste contexto, devido ao mau êxito da política ortodoxa do Plano de
Estabilização, combinado com a ascensão ao poder de uma nova corrente política, que nos anos
anteriores se opusera ao regime militar. Em 1986, um grupo de economistas associados à escola
estruturalista e à teoria da inflação inercial, cujos nomes (Francisco Lopes, André Lara Resende,
Adroaldo Moura da Silva, Maria da Conceição Tavares, Pérsio Arida, João Sayad, Luiz Bresser
Pereira, Luiz Gonzaga Belluzo, além de outros) e seus trabalhos constam do livro organizado por
Rego (1986), aparece m junto ao recém instalado governo federal (ROSSETI, 2000). Há nesse
período inúmeros diagnósticos como:
i) L.C. Bresser (1983) apontava para uma inflação do tipo estrutural derivada de um
capitalismo tecnoburocrático;
ii) A. Moura da Silva (1981) buscava ainda no monetarismo uma explicação lógica para o
processo de alta;
iii) F.P. Lopes (1989) apontava para causas inerciais; e
iv) W. Baer (1987) procurava sintetizar: a tradição ortodoxa, o neo-estruturalismo, os
mecanismos de propagação por choques externos e o caráter inercial da indexação.
15
O poder de compra ficou mais forte e com isso a renda das pessoas.
16
A HISTORIA DA INFLAÇÃO NO BRASIL, disponível em: <http:// dolexplica.dgabc.com.br/0412inflacao_brasil.asp>.
Acesso em: 02 nov. 2004.
resultado foi um recorde inflacionário na ordem de 1000% a.a., além da estagnação do PIB (idem,
2000).
Segundo declarações do próprio Presidente José Sarney, o ano de 1988 foi
reservado para reformas a ao ajustamento dos preços relativos, para que o novo plano pudesse ter
sucesso. Em 15 de janeiro de 1989, através do Plano Verão, com novo congelamento de preços,
salários, aluguéis e câmbio, surge o novo plano heterodoxo. Esse plano trouxe consigo uma nova
moeda: o “Cruzeiro-novo”. O governo se propôs a não gastar mais do que arrecadasse, além
disso, houve muitos cortes em ministérios, e em cargos governamentais. Mas já tinha sido tomada
providência defensiva contra o congelamento pelo empresariado brasileiro. Os preços praticados
eram “superinflados”, não eram preços reais. (Em muitos casos, especialmente na área de
produtos industriais, os descontos sobre os preços atingiam 80% a 90% do suposto preço do
produto) (idem, 2000).
Esse plano não teve, por conseguinte, praticamente nenhum efeito. Os preços
congelados continuaram subindo através do artifício da redução do desconto. O déficit público
estabeleceu novo recorde ao atingir o nível de 6,9% do PIB, ao final de 1989. A inflação chegou
ao patamar de 50% ao mês, o que segundo a definição de Phillip Cagan (1956), caracteriza um
estado de hiperinflação (CARVALHO et al, 2000, p.94)
A Situação no país era um caos, em virtude da hiperinflação e de um déficit
público gigantesco que continuavam crescendo de forma assustadora através de uma espiral:
preços, salários e juros, acelerada pela força do processo de indexação.
Surge então, mais um plano, o Plano Collor, que a princípio, conseguiu
resultados favoráveis, mas com alto custo para a classe média (que chegou, por exemplo, a ter
suas poupanças bloqueadas). Os efeitos do plano funcionaram por um curto período de tempo.
Via de regra, a inflação estava fora de controle.
Essas outras tentativas que sobrevieram o plano cruzado, em 1987, 1989, 1990:
prefixações, congelamentos parciais, confisco de ativos financeiros. A cada tentativa, as taxas
recuavam, sob o impacto de cortes fundos na liquidez geral da economia, controles
administrativos diretos sobre preços e mudanças de regras contratuais. Mas, a recorrência do
processo sobrepunha-se a todas as medidas. Entre os planos, os preços caminhavam, sempre com
velocidade crescente, para fronteiras próximas da hiperinflação aberta. Apesar da sucessão de
reformas monetárias, a moeda se desqualificava. Uma a uma, as funções da moeda se corroeriam
da reserva de valor à unidade de conta.
Nesse contexto, cria-se mais um plano. Esse não tão “às pressas” como os
demais, (não que não houvesse a necessidade). A princípio cria-se a Unidade Real de Valor
(URV), definida como idéia chave do plano de estabilização ainda em curso no país. A URV foi
criada como um indexador universal e uma quase-moeda, recuperando, em seqüência inversa, as
funções perdidas pelo cruzeiro (SANDENBERG, 1995). Assim a URV coordenou os preços, à
medida que todos a usavam como indexador, tornou-se unidade de conta e, em seguida, já como
real, meio de pagamento e reserva de valor. Como relata Gustavo Franco (1995) apud Rosseti
(2000, p. 710): a URV foi construída, do ponto de vista econômico e jurídico, para recuperar as
funções da moeda, destruídas pela hiperinflação. A partir de 1994, com o lançamento do Plano
Real, que deu a presidência ao então ministro Fernando Henrique Cardoso, o índice de preços
finalmente despencou. Este processo de regeneração da moeda e de regeneração substitutiva do
padrão monetário foi complementado por um conjunto de medidas que garantissem a
estabilização dos preços em reais. Segundo Rosseti (2000, p. 711) essas medidas são:
i) Recuperação do controle da oferta monetária, definindo novos critérios para a emissão da nova
moeda;
ii) Forte restrição de liquidez;
iii) Sustentação do câmbio valorizado;
iv) Ampla abertura da economia, junto com a redução dos mecanismos protetores, buscando não
só o efeito “demonstração” dos preços dos produtos externos, como também o reabastecimento
de segmentos de mercado que tiveram forte expansão com o “efeito riqueza” gerado pelo fim do
“imposto inflacionário”.
Depois de vários sobressaltos provocados por várias crises econômicas,
atualmente a inflação se mostra sob controle, bem próxima das metas estipuladas pelo governo.
Tendo como principal variável de ajuste utilizada pelas autoridades monetárias a administração
da Taxa de Juros SELIC – Sistema Especial de Liquidação e Custódia. “Flutua-se para cima e
para baixo basicamente ao redor da mesma média. O Banco Central precisa provar que há esta
tendência assustadora da inflação”, relata o economista Delfin Neto (2003) , em alusão a uma
declaração do (então) presidente do BANCO CENTRAL, Henrique Meirelles, sinalizando mais
alta de juros por causa da inflação17. Voltando-se também as preocupações ortodoxas de inflações
de custo.
“Os aumentos nos preços administrados, devido à disparada do preço internacional do petróleo,
poderão fazer com que a inflação supere o limite de 5,5% em 2002, acordado como FMI. Para
evitar o descumprimento da meta, o Banco Central poderá interromper as reduções na taxa de
juros, comprometendo o crescimento da economia brasileira no médio prazo.”18
17
O BANCO CENTRAL TEM QUE PROVAR QUE A INFLAÇÃO AUMENTOU. Disponível em:
<http://noticias.uol.com.br/uolnews/economia/delfim/2004/10/05/ult2620u1.jhtm> Acessado em 05 out 2004.
18
DOMINGUES, Ronald. O humor nas Arábias e a inflação no Brasil. Disponível em:
<http://economiabr.net/colunas/domingues/01inflacao.shtml?id703> Acessado em : 29 abr 2004.
Em 1929 com a grave crise social em que milhares de pessoas perderam o
emprego e passaram a serem desempregados involuntariamente, além das crises econômicas
subseqüentes da década de 1930, o desemprego começa a aparecer como conseqüência do modo
de funcionar do modelo econômico vigente. Nesse contexto gerou-se então uma tese de que o
Estado seria responsável para buscar soluções para o desemprego, já que o mercado não
resolveria o problema com suas “forças naturais” (FROYEN, 1999, p. 88-92).
O Estado assumiu este papel de 1930 a 1990. E há uma consciência geral de
que os gastos públicos em educação, serviços públicos em geral, gastos com infra-estrutura,
saúde, administração, etc. eram responsáveis pela maioria dos empregos gerados na sociedade.
De acordo com Froyen (1999, p. 88-92), na economia brasileira, em meados de
1970 começaram a se firmar os sinais de rompimento da base de sustentação política do modelo
desenvolvimentista vigente. A ruptura desse modelo deu-se nos anos 1980. A crise econômica do
Brasil neste período abalou a conformação sócio-econômica construída nas décadas de 1950 a
1970, que tinha como eixo a industrialização e o Estado regulador das relações internas e
externas da economia nacional.
A desarticulação do padrão de desenvolvimento do Brasil acontece
concomitantemente à emergência de um novo padrão tecnológico e produtivo em nível mundial,
resultado de um processo de desestruturação da ordem econômica mundial e da crise que começa
atingir o mundo capitalista. (MENEZES et al, 1999)
No Brasil, até os anos 1980, tivemos aumento significativo do emprego
assalariado. Contudo, com o agravamento dos déficits públicos e do padrão de desenvolvimento
nacional, a partir dessa década, o quadro de crescimento do emprego foi alterado. Neste período,
o emprego assalariado com carteira cresce em proporção menor que o “assalariamento” sem
carteira e a ocupação por conta própria (POCHMANN, 2002, p. 73). Há um aumento das
atividades informais e a busca de formas alternativas para complementar o rendimento familiar,
simultaneamente ao aumento da participação da mão-de-obra feminina e do emprego de menores.
(MENEZES et al,1999)
A década de 1980 foi marcada por altas taxas inflacionárias e baixas taxas de
crescimento econômico, sendo esta considerada como “década perdida”.19 A estagnação da
19
Se, em termos econômicos, a década de 1980 foi considerada como perdida, em termos políticos e sociais, isto foi diferente,
pois tivemos uma grande participação e atuação dos sindicatos e movimentos sociais, houve assim um fortalecimento do
economia, acompanhada das elevadas taxas de inflação e dos impactos perversos dos planos de
estabilização econômica: Plano Cruzado (1986), Plano Bresser (1987), Plano de Verão (1989),
Plano Collor (1990), para citar alguns, levaram à queda do ritmo da expansão do emprego
assalariado regular/formal urbano, à elevação das taxas de desemprego, ao crescimento de
ocupações assalariadas sem registro formal e a precarização20 do mercado de trabalho. Esta queda
no nível de emprego formal e no poder aquisitivo do assalariado resultou na redução do padrão
de vida das classes trabalhadoras, conseqüentemente no agravamento da pobreza21. Nessa
direção, Singer (2003) afirma que: “Os novos postos de trabalho que estão surgindo em função
das transformações das tecnologias e da divisão internacional do trabalho, não oferecem, em sua
maioria, ao seu eventual ocupante as compensações usuais que as leis e contratos coletivos
vinham garantindo” (SINGER, 2003, p. 24). Neste comenos, relata Mattoso (1993) apud Singer
(2003, p.25) que “a precarização do trabalho toma também a forma de relações ‘informais’ ou
‘incompletas’ de emprego”. Observemos a baixo como Pochmann (2002) observa a questão do
emprego no final do século XX:
movimento sindical; diferentemente do que acontecia no âmbito internacional (que se encontrava desarticulado), os trabalhadores
buscavam se fortalecer, buscando novas propostas de organização e ação.
20
Precarização das condições de trabalho: é o aumento do caráter precário das condições de trabalho, com a ampliação pode ser
identificada pelo aumento do trabalho por tempo determinado, sem renda fixa, em tempo parcial, enfim, pelo que se costuma
chamar de “bico”. Em geral, a precarização é identificada com a ausência de contribuição à previdência social e, portanto, sem
direito à aposentadoria". Precarização das relações de trabalho: "é o processo de deterioração das relações de trabalho, com a
ampliação da desregulamentação, dos contratos temporários, de falsas cooperativas de trabalho, de contratos por empresas ou
mesmo unilaterais.
21
CAMPOS, Lauro. O Desemprego Neoliberal: Equilíbrio ou Explosão. Disponível em:
<http://www.intelecto.net/cidadania/lauro1.htm >. Acessado em: 19 mai 2005.
2002, p. 73).
No entanto, como nesse período as estruturas industrial e produtiva não
estavam completamente desestruturadas, o desemprego e a precarização do trabalho ainda não
foram relativamente altos devido às intensas oscilações do ciclo econômico, ao aumento do
emprego no setor público e a preservação na estrutura industrial. Teve um período de recessão
entre 1981/83, recuperação/retomada do crescimento entre 1984/86 e estagnação entre 1987/89.
Até a década de 1980, o desemprego oscilava com a economia. Se a economia crescia, o
desemprego caía, e vice-versa.
Já nos anos 1990, a situação mudou, quando a atividade econômica crescia, não
havia a recuperação dos empregos perdidos na mesma proporção. Este fato tem se agravado com
a abertura da economia aos produtos importados, que prejudicou alguns setores da indústria
nacional (calçados, tecidos, brinquedos e autopeças), somando-se a isso a perda da capacidade de
investimento e de geração de empregos do país, pois nessa década muitas empresas estatais foram
privatizadas, como a Cia. Vale do Rio Doce (mineração), Usiminas (siderurgia), entre outras. As
empresas nacionais tiveram que aumentar sua produtividade e, assim, competir com os produtos
importados. Para isso, reduziram ainda mais seu quadro de trabalhadores.
No Brasil, a década de 1990, foi marcada pelo fim da capacidade de produzir
postos de trabalho suficientes para atender a demanda das pessoas que atingem a idade de
trabalhar (PIA). Somando-se a isso a diminuição dos postos de trabalho no setor industrial e na
agricultura, esta pode ser chamada de "década do desemprego". Houve crescimento da PIA em
relação à força-de-trabalho (PEA), o que influenciou diretamente o aumento do desemprego.
A abertura econômica brasileira e o baixo crescimento produziram taxas
elevadas de desemprego e alteraram a estrutura e a dinâmica do mercado de trabalho nos anos
1990. O problema do desemprego passa para a ordem do dia. Sendo assim, se nos anos 1980, a
população brasileira temia a inflação; nos anos 1990, o medo da inflação foi “substituído” pelo
medo do desemprego. Este atinge pessoas de todas as idades, grau de escolaridade e camadas
sociais. Apregoa-se a idéia de que a educação é a saída para o desemprego, já que aquelas com
menor escolaridades estão sem emprego. Mas, na realidade, nos últimos anos, o desemprego tem
atingido também os mais "escolarizados", uma vez que os avanços do processo de modernização
e de reestruturação das empresas seguem provocando reduções nos níveis ocupacionais,
sobretudo aqueles de maior escolaridade (MENEZES, 1999).
Verificou-se também, nos anos 1990, diminuições do emprego no setor público,
resultado das privatizações e do próprio "enxugamento" da máquina do Estado. Sendo assim, a
redução dos gastos e investimentos governamentais na área social “paralisou a criação dos
empregos no setor público”. Com as privatizações das empresas estatais, o Estado perdeu a maior
parte do papel de "empreendedor", já que tirou de seu controle setores antes estratégicos
(siderurgia, telecomunicações etc.). As privatizações também contribuíram para a redução dos
postos de trabalho, pois os novos donos das empresas realizaram mudanças na administração do
pessoal e nos processos produtivos. Segundo Edson Trajano Vieira22: “Nesse período a
acumulação de capital foi direcionada para o aumento de produtividade, sem o aumento
proporcional da produção, provocando desemprego e exclusão social e econômica.”23
O processo de privatização (setores de telefonia, financeiro, siderurgia,
mineração e transporte ferroviário etc.) suprimiu milhares de empregos, pois as empresas
privatizadas reduziram seus quadros de funcionários.
Diante da “crise de 1990”, as empresas buscaram se ajustar aos padrões
produtivos e gerenciais, a fim de atender às novas exigências de competitividade, buscando novas
estratégias industriais para aumentar a produtividade e a qualidade de seus produtos. Segundo
Bielschowsky apud Pochman (2002, p. 29-30): “[...] no Brasil apenas a partir do governo Collor
iniciou-se uma reestruturação defensiva das empresas, tendo como pano de fundo uma abertura
comercial açodada em meio à forte recessão instalada nos primeiros anos da década de 1990”.
Para isso, reduziram, ainda mais, seu quadro de trabalhadores. O “just in time, downsizing" e a
terceirização são expressões que fazem parte desse processo de reestruturação das empresas.
Nesse âmbito, a abertura comercial e financeira colocou a economia brasileira à
competição internacional, o que levou à redução da produção e do emprego nacional. As
empresas tornam-se debilitadas diante de suas concorrentes internacionais. Procurando superar
suas limitações elas passam, então, a buscar novas estratégias industriais, novas formas de
organização de produção e de trabalho, a implantar a terceirização de suas atividades, abandonar
22
Professor da Universidade de Taubaté e pesquisador do Nupes. No seu trabalho de conclusão de crédito na disciplina de
economia solidária como resposta à Crise do Trabalho II Ministrada pelo Prof. Dr. Paul Israel Singer oferecida pela a
Universidade de São Paulo como parte do Programa de Pós – Graduação – Stricto Sensu em Economia.
23
VIERA, Edson T. A distribuição Funcional da renda e a economia solidária. Disponível em:
<http://www.unitau.br/nupes/artigos/distribuicao funcional.htm> Acessado em: 19 de maio de 2005.
linhas de produção, fechar unidades, racionalizar a produção, importar máquinas e equipamentos,
buscar parcerias, fusões, linkages24 e reduzir custos, sobretudo da força-de-trabalho.
Durante os anos 1990, devido as políticas governamentais de estabilização
monetária ancoradas ao dólar, a abertura comercial, ao novo padrão de competitividade, etc...
Pochmann (2002, p.63) constata: “um aprofundamento das formas tradicionais de exclusão social
(subemprego, baixos rendimentos e informalidade) e das novas formas (desemprego aberto,
ocupações atípicas e precarização das condições e relações de trabalho)”.
Para concluir, resumindo, podemos notar que várias mudanças na estrutura do
emprego brasileiro se deram paulatinamente entre as décadas de 1950-1990. A partir de um
modelo desenvolvimentista entre 1950-1970, com a década de 1980 intermediando, em meio à
“recessões e retomadas”, chegamos na década de 1990 a uma mudança no paradigma do
mercado de trabalho brasileiro, que buscou se adaptar ao novo modelo mundial voltado à
produtividade. Fatores como a abertura comercial, as privatizações, a diminuição do estado
“empreendedor”, o aumento no mercado informal, a entrada “em definitivo” da mão-de-obra
feminina no mercado de trabalho, a tercerização, os novos procedimentos de qualidade, etc; são
os meios que atuaram para que houvesse mudanças pelas quais o Brasil tinha que passar, devido
às transformações no âmbito econômico que alteraram a dinâmica do mercado de trabalho. Desse
modo, as empresas brasileiras buscaram se ajustar aos padrões produtivos e gerenciais da virada
do século e o mesmo acontece, ou tem que acontecer, com a mão-de-obra em busca de emprego.
Na próxima seção veremos um pouco mais a fundo a Curva-de-Phillips: a
maneira de relacionar as variáveis: inflação e desemprego.
3 – A CURVA DE PHILLIPS
24
Linkages: ligações funcionais de produção entre as empresas
Outra razão para esta aceitação é o fato de que a curva de Phillips expõe duas
variáveis estatisticamente observáveis: o desemprego e a inflação. Abordaremos neste capítulo a
Curva de Phillips e a relação entre desemprego e inflação.
Inflação
Desemprego
Fonte: Confecção própria.
π t=( μ + z ) – α u t (6)
π = πe - β (μ – μ n) + ν (7)
e
Sendo π a inflação, π a inflação esperada, β um parâmetro que mede a reação
da inflação ao desemprego cíclico, (μ – μ n) o desemprego cíclico, e ν o choque de oferta.
Essa diferença da curva de Phillips em sua primeira versão para a curva de
Phillips moderna se dá porque, como já foi dito, troca-se a inflação salarial pela inflação de
preços, não sendo crucial esta diferença, já que, em períodos em que os salários sobem rápido, os
preços, também, aumentam depressa.
Outra diferença se dá pela inclusão de choques de oferta na curva de Phillips.
Na década de 1970, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) promoveu
grandes acréscimos no preço do petróleo, dessa forma houve um consenso geral por parte dos
economistas na importância dos choques de oferta agregada.
A curva de Phillips moderna inclui também, a inflação esperada. Os
economistas monetaristas enfatizaram a importância das expectativas para a oferta agregada, ao
desenvolverem as primeiras versões do modelo de informação imperfeita (idem, 2004,). Vamos
ver no próximo tópico mais detalhadamente essa questão.
π e= π t–1 (8)
π = π t - 1 - β (u – u n) + z (9)
P–Pe
A
B Un Ut
Robert Lucas, ganhador do Prêmio Nobel de 1995, junto com Thomas Sargent
e Neil Wallace se voltou, parcialmente, contra Friedman (1970). Estes autores discordavam da
forma como os agentes formam as expectativas: no lugar de expectativas adaptativas, esses
economistas propuseram a hipótese das expectativas racionais. Dessa forma, surge a Curva de
Phillips das expectativas racionais. Neste comenos, estas são as palavras de Thomas Sargent apud
Mankiw (2004) descrevendo suas implicações para a curva de Phillips:
“Uma visão alternativa de “expectativas racionais” nega que haja qualquer impulso inerente ao
atual processo de inflação. Essa visão sustenta que empresas e trabalhadores passam agora
esperar altas taxas de inflação no futuro, e que eles efetuam negociações inflacionárias com
bases nessas expectativas. Contudo, argumenta-se que as pessoas esperam altas taxas de inflação
no futuro justamente porque as políticas monetária e fiscal do governo, as atuais e as esperadas,
justificam tais expectativas. [...] Assim, a inflação parece ter impulso próprio; na verdade, é a
política de longo prazo do governo, mantendo déficits grandes e persistentes, além de emitir
moeda e taxas altas, que transmite o impulso para a taxa de inflação. Uma implicação dessa
visão é que a inflação pode ser contida muito mais depressa do que apregoam os defensores da
visão do “impulso” , e que são equivocadas as suas estimativas de deter a inflação em termos de
perda do produto. [...] [Deter a inflação] exigiria uma mudança do regime de política econômica:
deve haver uma mudança abrupta da insistente política econômica, ou estratégia do governo, de
fixar déficits agora e no futuro, uma mudança bastante compulsória para que tenha ampla
credibilidade [...] Até que ponto essa providência seria custosa, em termos de produto a que se
renuncia, e por quanto tempo ela teria de vigorar dependeria em parte da constatação da
determinação do governo.” (MANKIW, 2004, p. 252)
4.1 Metodologia
Y = α + β 2X (10)
Onde α e β2 são parâmetros. Esse tipo de regressão é formada por duas variáveis:
uma dependente e outra explicativa; e também uma constante o α , formando uma equação do tipo
Y= α + β 2X . Deste modo, o componente aleatório Y varia de acordo com o componente
sistemático x.
Para estimar o α e o β2 necessitamos de uma regra, ou fórmula, que nos diga
como utilizar informações amostrais. A regra que utilizamos aqui parte do princípio dos mínimos
quadrados ordinários. Esse princípio, afirma que, para ajustar uma reta aos valores dos dados,
devemos procurar a reta tal que a soma dos quadrados das distâncias verticais de cada ponto à reta
seja a menor possível. Tomam-se os quadrados das distâncias para evitar que grandes distâncias
positivas sejam canceladas pelas negativas. (HILL, 2003)
O modelo de regressão linear simples deve seguir alguns pressupostos:
(i) Para cada valor de x, os valores de y se distribuem em torno de seu valor médio, segundo
distribuições de probabilidade que têm todas a mesma variância,
(ii) Os valores de y são todos não correlacionados e têm covariância zero, portanto não há
associação linear entre eles:
(iii) A variável x não é aleatória e deve tomar ao menos dois valores diferentes;
(iv) Homoscedasticidade, isto é, para cada valor de x, os valores de y se distribuem normalmente
em torno da sua média; e
(v) A variância do erro aleatório é zero:
E(e) = 0 (13)
_
Εi = Yi - Yi = Yi – ( a + bXi) (15)
O método dos mínimos quadrados consiste em adotar como estimativa dos
parâmetros os valores que minimizam a soma dos quadrados dos desvios.
n n
Z= ei 2 = = [ Y – (a + bX )]
i i (16)
i=1 i=1
A função Z terá mínimo quando suas derivadas parciais em relação aos valores
de (a) e (b) forem nulas (Note que Z não tem máximo, por ser uma soma de quadrados).
a = ΣY – b ΣX (22)
n n
ou
_ _
a = Yi – bX (23)
É fácil verificar que a fórmula para o cálculo de b pode ser escrita de diversos
modos, quais sejam:
_ _ _
= Σ(X – X) (Y – Y) = Σ (X – X)Y =
Σ (X – X)2 Σ (X – X)2
_
= ΣX (Y – Y) = Σ xy = ΣxY = Σ xy
Σ (X – X)2 Σ x2 Σ x2 Σ x2
Onde:
_ _ _ _
X = ΣX , Y = Σ Y , x = X – X e y = Y – Y (24)
n n
4.3 Base de Dados
4.4.1 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPCA
nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
25
Fundação Pública subordinada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão com a atribuição de elaborar estudos e
pesquisas para subsidiar o planejamento de políticas governamentais.
R² ajustado 0,1060
Teste F 13,0919
4.4.3 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-DI
nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
4.4.4 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IPA-
OG nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
4.4.5 Análise Econométrica das variáveis: Taxa de desemprego e Índice de Inflação IGP-DI
nos períodos 1986 a 1994 e 1994 a 2005.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
26
Professor Associado da ESALQ/USP. E-mail: cjcbacha@esalq.usp.br
27
Professor doutor da ESAMC. E-mail: raslima@esalq.usp.br
28
A Curva de Phillips alega que quanto maior é a taxa de desemprego menor é a taxa de inflação, ou vice-versa. Mas quanto
maior é a taxa de desemprego, maior é o hiato do produto, ou seja, a diferença entre o produto potencial e o produto efetivo.
repetir a estratégia desenvolvimentista da década anterior, deixando de tentar conter a inflação,
para promover uma expansão econômica que diminuísse o desemprego.
Na atualidade, as políticas macroeconômicas do Governo Lula, mantém a
inflação estabilizada, utilizando como ferramenta, a contenção da demanda agregada, através de
uma política de juros altos. Pode-se pensar então que, de certa forma, que estamos trocando um
percentual de empregos (se a demanda cresce, ceteris paribus,cresce o produto e o emprego) pela
estabilidade dos preços? Isso é lógico, pela ótica da Curva de Phillips. Mas vai em direção oposta
ao resultado obtido nessa pesquisa, que sugere a não aplicabilidade da Curva de Phillips para a
economia brasileira pós-Plano Real.
É óbvio que a Curva de Phillips original é uma ferramenta limitada para se
analisar uma economia tão complexa quanto a economia brasileira. Poder-se-ia utilizar uma
teoria mais completa, que se adaptasse mais com a atualidade. Isso, com certeza, fomenta outras
pesquisa no mesmo âmbito. E, neste comenos, espero que esta pesquisa, além de servir de
sinalização para os interessados no assunto também sirva de fomento para aqueles que querem
aprofundar-se no assunto.
REFERÊNCIAS
A CURVA de Phillips e a economia brasileira – período de 1991 a 2002. Carlos José Caetano
Bacha e Roberto Arruda de Souza Lima E-mail: cjcbacha@esalq.usp.br e
raslima@esalq.usp.br
BATHKE, Juliano. Da moeda à inflação: uma análise empírica da economia brasileira a partir de
1980.2004. Monografia (Bacharelado em Ciências Econômicas) – Faculdade Estadual de
Ciências e Letras de Campo Mourão.
CYSNE, Rubens Penha. A Relação de Phillips no Brasil: 1946-66 x 1980-84. R. Bras. Econ. Rio
de Janeiro v.39 n°2 p.401-422 out./dez. 1985.
HALL, Robert E. e John B Taylor. Macroeconomia, 4ª edição. Rio de Janeiro: Campus. p. 341-
343.
HILL, R. Carter. Econometria/ R. Carter Hill, William E. Griffiths, George G. Judge; tradução
Alfredo Alves de Farias. Revisão técnica Edric Martins Ueda – 2. ed – São Paulo: Saraiva, 2003.
HOFFMANN, Rodolfo. Análise de regressão: uma introdução à econometria (por) 3a ed. São
Paulo, Hucitec, 1998.
KATO, J.M.e PONCHIROLLI, Osmar. O desemprego no Brasil e seus desafios éticos. Rev. Fae,
Curitiba, v.5, n.3, p.89-97, set./dez. 2002.
LEITE, José Alfredo A., Macroeconomia, 2a edição. São Paulo: Atlas, 2000.
MARQUES, Maria Silvia Bastos. Uma resenha das teorias de inflação. R. Bras. Econ. Rio de
Janeiro v.41 n°2 p.185-223 abril/jun. 1987.
ROSSETI, José Paschoal. Introdução à Economia. 18° edição. São Paulo: Atlas, 2000.
SARDENBERG, Carlos A. Chaves que Guardam os Segredos do Plano Real. Folha de São
Paulo. 20 de agosto de 1995