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Revista de Psicologia
Nº 41 - Maio/Ago. 2013
ISSN: 1981-1330
Consultores 2013
Sumário
6 Editorial
Artigo internacional
8 Salud mental en la agenda de las politicas públicas de salud
Saúde mental na agenda da política de saúde pública
Martin de Lellis
Artigos empíricos
24 Autonomia e cogestão na prática em saúde mental: o dispositivo da gestão autônoma da
medicação (GAM)
Autonomy and co-management in mental health practice: the autonomous medication
management device (AMM)
Eduardo Passos; Analice de Lima Palombini; Rosana Onocko Campos; Sandro Eduardo
Rodrigues; Jorge Melo; Paula Milward Maggi; Cecília de Castro e Marques; Lívia Zanchet;
Michele da Rocha Cervo; Bruno Emerich
134 Automedicação e comportamento entre adolescentes em uma cidade do Rio Grande do Sul
Self-medication and behavior in adolescents from a city in Rio Grande do Sul
Rafaela Carvalho Abrahão; Julia Almeida Godoy; Ricardo Halpern
164 Perfil dos pacientes assistidos pela residência integrada em saúde: um olhar humanizado na
assistência domiciliar
Profile of patients assisted by residence integrated in Health: a humanized look at the home
care assistance
Paula Anderle; Bianca Belmonte de Souza; Gésica Graziela Julião; Luzia Fernandes Millão;
Claisson Jodel dos Santos; Jecimara Aparecida da Silva Monteiro
Relato de experiências
174 Atendimento psicoeducativo em grupo para mulheres no pós-parto: relato de experiência
Psychoeducational assistance group for women in the postpartum period: An experience
report
Aline Melo-de-Aguiar; Talita Maria Nunes de Aguiar; Maria Lucia Seidl-de-Moura; Deise
Maria Leal Fernandes Mendes
185 “Vamos conversar sobre seu filho?”: relato de experiência de intervenção em grupo na
comunidade
“Let’s talk about your child?”: Experience report on group intervention in the community
Aline Groff Vivian; Claudia Corrêa da Rocha; Josieli Freitas de Oliveira; Kátia Pereira
Agra; Mara Cristiane von Muhlen; Luciane Agostini
Resenha
193 Mal-estar do homem contemporâneo ou o estado das coisas
André Preissler Loureiro Chaves
É com enorme satisfação que participo, como Editora, deste número especial da
revista Aletheia voltado à Promoção da Saúde.
Promoção da Saúde é definida como a capacitação das pessoas e comunidades
para modificarem os determinantes da saúde em benefício da própria qualidade de vida.
Neste sentido, a saúde é entendida de forma afirmativa, identificada com o bem-estar e
não simplesmente com a ausência de doença.
A Carta de Ottawa, elaborada em 1986, se tornou referência para as Conferências
Internacionais de Promoção da Saúde, promovidas pela Organização Mundial de
Saúde. A Promoção da Saúde, segundo a Carta de Ottawa, contempla cinco campos de
ação: implementação de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes saudáveis,
capacitação da comunidade, desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas e
reorientação de serviços de saúde. Neste sentido, especial destaque é dado ao tema das
políticas públicas saudáveis, da governabilidade, da gestão social integrada, das estratégias
dos municípios saudáveis, da intersetorialidade e do desenvolvimento local.
Os estudos incluídos neste número contemplam aspectos relevantes para a Promoção
da Saúde das populações. A seguir, farei a apresentação dos trabalhos salientando que,
por uma questão de padronização, somente os autores seniors serão aqui mencionados,
embora muitas vezes não sejam os primeiros autores.
Inicialmente, Martin de Lellis, Professor Titular de Saúde Pública e Saúde Mental
da Faculdade de Psicologia da Universidade de Buenos Aires, nos traz uma reflexão
acerca do panorama atual da Saúde Mental na Argentina especialmente frente às recentes
transformações políticas referentes ao processo de desinstitucionalização do doente
mental. Seguindo nesta mesma temática, é apresentado um estudo multicêntrico brasileiro,
que aborda a articulação entre a autonomia e a cogestão nas práticas em saúde mental com
parceria entre Brasil e Canadá. Participaram deste estudo os professores Eduardo Passos
(UFF), Analice de Lima Palombini (UFRGS), Rosana Onocko Campos (UNICAMP)
e alunos de pós-graduação, que apresentam a versão brasileira do Guia Brasileiro da
Gestão Autônoma da Medicação (Guia GAM-BR), originalmente desenvolvido em
Quebéc, Canadá.
Procurando conhecer a percepção de profissionais da saúde diretamente envolvidos
na promoção da saúde sobre o seu trabalho, são apresentados dois artigos. O primeiro,
desenvolvido pela Profa. Helena Scarparo (PUCRS) e mestrandos, aborda profissionais
que trabalham no sistema prisional e os desafios enfrentados para efetivar ações de saúde
dentro de um espaço que prioriza práticas punitivas. O segundo estudo relata a percepção
dos profissionais do Sistema Único de Saúde acerca da atenção ao sobrepeso e obesidade
infantil e foi desenvolvido pelas psicólogas vinculadas ao Hospital de Clínicas de Porto
Alegre Aline Dias Dornelles e Márcia Camaratta Anton. Ainda, considerando a intervenção
como forma de prevenção e promoção da saúde, a Profa. Aline Groff Vivian (ULBRA)
e alunas relatam e experiência de uma intervenção psicossocial com moradores de uma
comunidade que teve como objetivo discutir temas vinculados ao desenvolvimento infantil
e da adolescência e os desafios da criação dos filhos.
Introducción
“Mendigos y vagabundos, gentes sin hacienda, sin trabajo o sin oficio, criminales,
rebeldes políticos y herejes, prostitutas, libertinos, sifilíticos y alcohólicos, locos,
idiotas y hombres estrafalarios, pero también esposas molestas, hijas violadas
o hijos derrochadores fueron por este procedimiento convertidos en inocuos e
invisibles”. (Dorner, 1974. pp.29)
“La amplitud teórica y pluralista de la ley, así como de los dispositivos legitimados
para la atención, habilita a que todos los profesionales –independiente de la
disciplina y el marco teórico que portan, así como las prácticas de trabajo que
llevan adelante – tengan margen para validar lo que hacen, sin necesidad de
repensar ni introducir modificaciones respecto al propio rol profesional. En el
marco de la ley, los profesionales ubican, legitiman y defienden la forma en que
trabajan”. (Rosendo, 2010 pág.408)
Otras cuestiones giran en torno a cuáles son los criterios diferenciales mediante
los cuales las disciplinas científicas intentan establecerse como posición dominante o
hegemónica en la toma de decisiones, tal como la ejercida por la medicina en Occidente
(y, en este caso particular, la psiquiatría) durante un dilatado período histórico.
Entre otros aspectos, dos cuestiones se hallan contenidas en la ley que amenazan
la integración disciplinaria por las disputas corporativas que han suscitado:
En primer lugar, la posibilidad de que todo profesional del equipo interdisiciplinario
de salud mental puede acceder a un cargo de jefatura de servicio siempre y cuando se
halle suficientemente capacitado para esta tarea:
“No sólo analizan límites insalvables (….) sino que tampoco consideran razonable
pretender la transformación del perfil profesional de quienes tienen una extensa
trayectoria de formación, experiencia y desempeño en determinada línea de
trabajo. Los profesionales presentan más expectativas de continuidad de lo
establecido que ideas transformadoras e instituyentes. Parece entonces factible
afirmar las importantes dificultades que entraña una ley que se propone transformar
un modelo profesional instituido y legitimado como válido por la comunidad
profesional que lo porta”. (Rosendo, 2009 pág.12.)
La visión epidemiológica
Tal como afirman reconocidos expertos en la materia:
En comparación con otras áreas de la salud pública y hasta el año 2010 en el que
se constituye un área específica de epidemiología en el marco de la Dirección Nacional
de Salud Mental del Ministerio de Salud, ha sido escasa la tradición y continuidad de
investigaciones poblacionales que contribuyan a caracterizar la magnitud, impacto,
severidad y evitabilidad de los trastornos mentales en la Argentina.
Asimismo, la carencia histórica de un sistema de vigilancia epidemiológica
que arroje información fehaciente y continua sobre los trastornos mentales o sobre
las estrategias que se emplean para su mitigación, ha tenido como consecuencia la
invisibilidad del problema y, en tal sentido, la escasa jerarquización de la problemática
en las políticas públicas de salud.
Desde una perspectiva demográfica, las Naciones Unidas calculan que entre el
año 2005 y el 2025 la población total de América Latina y el Caribe aumentará un 23%,
por lo que se incrementarán la magnitud de los trastornos mentales en el conjunto de la
población. Se estima, que, al menos, una de cada cuatro personas padecerán uno o más
trastornos mentales o del comportamiento a lo largo de la vida (OMS. 2001).
Con el objetivo de estimar la población afectada por trastornos mentales en la
República se desarrolló un estudio epidemiológico en la región de América Latina y
el Caribe (Rodríguez, Kohn, Levav y cols. 2009). En dicho estudio se observó que las
personas de 18 años y más afectadas por trastornos mentales alcanzan una proporción
de poco más del 20%, y las tasas medianas nos indican que la depresión mayor (en una
proporción significativamente mayor para el género femenino) y el consumo de alcohol
(en una proporción significativamente mayor para el género masculino) congregan la
mayor frecuencia de casos.
Entre otros aspectos, los estudios efectuados en la región permitieron establecer la
brecha entre la magnitud y relevancia que alcanzan las problemáticas en salud mental y
los recursos presupuestarios que se le asignan para su atención, instalar la problemática
en la agenda de prioridades del sector salud, así como planificar servicios y recursos que
permitan fortalecer la capacidad de respuesta de la red asistencial.
Las problemáticas convocantes para los especialistas en Salud mental dejan de
hallarse restringidas a lo que sucede en las instituciones de encierro e incluyen numerosas
situaciones de malestar y/o trastornos que se plantean en el decurso de la vida cotidiana
y que deben abordarse prioritariamente en el primer nivel de atención (de Lellis, 2006),
tales como distintas manifestaciones de violencia, trastornos alimentarios, uso y abuso
de sustancias, trastornos de ansiedad, comportamientos autodestructivos, violencia
intrahogareña, consecuencias psicosociales en situaciones críticas de catástrofes o
desastres.
Dos problemas son particularmente destacados en el reciente abordaje epidemiológico
de la salud mental: el consumo problemático de sustancias y el problema de los intentos
o hechos consumados de suicidio.
Un nuevo escenario
De acuerdo con el diagnóstico anteriormente planteado, examinaremos algunas
propuestas que se desprenden directa o indirectamente de los actuales marcos normativos
y político-institucionales, que plantean muy importantes iniciativas de transformación
para actuar en cada uno de las dimensiones apuntadas como relevantes.
En primer lugar, la carencia histórica de una visión epidemiológica ha llevado a
que se trabaje “a ciegas” y no se jerarquicen los problemas atinentes al campo de la salud
mental. De allí que resulte tan importante la incorporación de una visión epidemiológica
que permita trazar prioridades y la instalación de la salud mental en la agenda pública,
para orientar acciones basados en el modelo comunitario de atención, así como los datos
que conforman una “línea de base” que servirá como ulteriores evaluaciones acerca del
impacto y eficacia de las políticas públicas.
Las investigaciones en salud mental en el nuevo milenio se enfrentan a un
conjunto de desafíos de difícil resolución, entre los cuales sobresale la necesidad de
superar la brecha entre los nuevos enfoques teóricos (ej: epidemiología transcultural y
psicosociocultural) que incorporan una mirada enriquecida por las nuevas dimensiones
Desafios futuros
La salud mental conlleva un potencial transformador sobre la lógica de
funcionamiento de los servicios de salud en general si incorpora una mirada compleja que
permita caracterizar los múltiples determinantes asociados con las nuevas morbilidades,
centrada en lo promocional y que permita superar el clásico dualismo mente-cuerpo que
ha dominado durante décadas el diseño de las currículas de formación, las investigaciones
epidemiológicas y la organización de los servicios de atención.
Sin duda que en este proceso se desatarán resistencias al cambio, producto de un
modelo que históricamente ha reforzado la exclusión de los padecientes mentales pero al
precio de una desresponsabilización colectiva respecto de cómo comprender lo mental en
la salud (de Lellis, 2006) y cómo diseñar acciones que permitan su protección y cuidado a
través de acciones que involucran a los servicios sanitarios y a otros sectores sociales.
De lo contrario, si se subordina aún más a la lógica medicalizadora terminará
reforzando un modelo de concepciones y de prácticas que poca eficacia ha demostrado
para tratar las nuevos determinantes que hoy afectan a las poblaciones, los cuales generan
crecientes trastornos que amenazan la calidad de vida y el bienestar de los individuos.
Nunca parece más apropiado reafirmar aquel lema propuesto por la OMS y adoptado en
las campañas oficiales con ocasión del Día Mundial de la Salud Mental que señalaba que
“no hay salud sin salud mental”, pues aún los profesionales (y los servicios en los que
estos se desempeñan) se hallan aplanados por una concepción dualista que ha desterrado
históricamente los procesos mentales de todo interés científico y ha encarado el estudio
de los procesos orgánicos con prescindencia de los procesos mentales y/o espirituales
que también obran en su determinación.
Referencias
Martin de Lellis: Profesor Titular Regular en la Cátedra Salud Pública y Salud Mental I de la Facultad de
Psicología de la Universidad de Buenos Aires. Argentina.
Resumo: O artigo aborda a articulação entre autonomia e cogestão nas práticas em saúde
mental no Brasil, baseado em estudo multicêntrico. Tal estudo objetivou a elaboração do
Guia Brasileiro da Gestão Autônoma da Medicação (Guia GAM-BR), com base na tradução
e adaptação do Guia GAM desenvolvido no Quebec – instrumento dirigido a pessoas com
transtornos mentais graves. Uma primeira versão do Guia GAM traduzida e adaptada ao
contexto brasileiro foi utilizada em Grupos de Intervenção (GI) com usuários de serviços
de saúde mental nos campos da pesquisa. A construção da versão final do Guia GAM
brasileiro incluiu as modificações propostas pelos GI em cada campo, debatidas em reuniões
multicêntricas com a participação de pesquisadores, trabalhadores e usuários integrantes dos
GI. No curso da pesquisa, a estratégia GAM assumiu o desafio de propor-se como prática
cogestiva, compatibilizando exercício da autonomia, direito e protagonismo dos usuários com
o funcionamento e cultura organizacional das instituições de saúde mental.
Palavras-chave: Saúde Mental, Autonomia, Cogestão.
Panorama histórico
Autogestão e autogoverno
Onocko (2003) distingue duas dimensões (ou dois sentidos) da “gestão” – não
somente a do gerir (a ação dos outros), mas também a do gerar (as próprias regras). A
gestão, no sentido clássico, sempre trabalhou a dimensão do gerir como heterogestão,
previsão e controle sobre a ação dos outros, estando fortemente amarrada ao exercício
verticalizado do poder (a questão básica da hierarquia: os de cima mandam e os de baixo
obedecem). Em contraposição às mazelas daí geradas (aumento da exploração, da mais-
valia, da alienação, tendo em vista a reprodução do status quo) é que teriam surgido as
propostas autogestionárias, colocando em relevo o plano da geração, ou gestação, das
próprias regras.
1
As aspas estão aqui para indicar um sentido empobrecido do termo, pois ainda ligado a uma lógica privatista
que aproxima a noção de autonomia à de independência do indivíduo. Para nós, a autonomia é compreendida
em um sentido que valoriza a importância do coletivo para sua promoção.
Cogestão
Podemos remontar a trajetória que deu origem à atitude ético-política inerente ao
conceito de cogestão a partir de movimentos que, nos anos 1970, se insurgiram contra
a ditadura civil e militar instalada no Brasil com o golpe de 1964. Tais movimentos se
fizeram, em muitos segmentos, em favor de organizações autogestionárias e de esquerda,
fazendo eclodir as mais diversas formas de resistência ao autoritarismo, no contexto da
luta pela redemocratização no país.
A Reforma Sanitária (RS) dos anos 1980 foi, no campo da saúde, uma das expressões
dessa resistência. Decerto, a RS se realizou em conjugação ao próprio movimento
constituinte, buscando criar condições para a democracia institucional por dentro da
máquina do Estado, sem a necessidade de aboli-lo. Ao invés de “tomar o Estado de
assalto”, como na proposta autogestionária, tratava-se de “modificá-lo, alterando a
organização social e a distribuição de Poder nos Territórios (...) criando espaços coletivos
democráticos” por dentro da própria máquina estatal (Campos, 2000, p. 47-48). A luta
pela instalação de um sistema público de saúde passava a ser travada, dessa forma, no
âmbito da organização dos serviços, historicamente marcados pela hierarquia, pela
centralização de poder na classe médica, pelo corporativismo e pela fragmentação do
trabalho. Tratava-se, em outros termos, de produzir cogestão.
Diferentemente da proposta da autogestão, a cogestão implica uma espécie de
concessão feita, seja a um determinado contexto de trabalho, seja ao Estado. Fazer
essa concessão significaria abrir mão da proposta de promover autonomia? A cogestão
consistiria na captura das forças de resistência pelo Estado? Ora, é preciso considerar a
cogestão em seus efeitos estratégicos: concede-se ao Estado ao mesmo tempo em que se
força o Estado a conceder. Não se trata de um recuo em relação à aposta da autogestão,
mas um modo diferente de luta.
Esta passagem de uma autonomia de vocação autogestionária para uma autonomia
cogestiva – não mais exterior ao aparelho de Estado, mas podendo exercer-se por dentro
dele – parece-nos uma temática central na discussão dos processos de gestão dos serviços
públicos de saúde. Com efeito, a década de 1990 foi marcada pela intensa produção
téorico-metodológica sobre a gestão dos serviços públicos de saúde. Gastão Campos,
Emerson Merhy, Rosana Onocko e muitos outros compunham um coletivo pensante,
engajado na problemática da “mudança de direção” do modelo tecnoassistencial das
políticas de saúde (Merhy et al., 1997).
Método
2
A noção de contração indica que há uma emergência da grupalidade, isto é, não basta reunir as pessoas e
informá-las sobre os objetivos e interesses da pesquisa para que a grupalidade se instaure, é preciso considerar
uma temporalidade própria ao grupo. Nesse sentido, apontamos para a distinção entre contratação e contrato.
Realizar um contrato (como assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido na pesquisa, por exemplo)
não cria, por si só, as condições de surgimento da autonomia cogestiva. É preciso que haja um processo – uma
contratação – para que a grupalidade possa emergir. Guiar este processo é tarefa que cabe ao manejo.
Resultados e discussão
Dois usuários tinham trazido para o grupo a decisão de alterar sua própria
medicação sem consultar as equipes. Um usuário que havia comentado no grupo
anterior que ainda estava à espera da medicação expressou que sentiu raiva da
equipe, pois, quando foi procurá-la, pelo fato de diminuir sua medicação por
conta de falta na rede pública, não se sentiu acolhido no CAPS. Queixou-se
que ofereceram para ele trocar a medicação com que ele já estava acostumado
e se dava bem, por outra que conhecidamente já lhe tinha causado efeitos
colaterais.
A pesquisa fez ver que a gestão autônoma da medicação não pode acontecer
dentro dos serviços da rede pública de saúde mental sem que se reconheça e efetive o
protagonismo de seus usuários. Constatou-se que a participação em espaço de negociação
requer um processo, ao longo do qual o usuário se sinta pertencendo ao grupo e com
“coragem” para participar:
Um dos usuários relatou que antes do grupo GAM era mais tímido e que nestes
eventos pouco falava e mais ouvia. Sente que agora tem mais ‘coragem para falar’
e aponta a contribuição do GAM para isso.
Todos concordaram com a fala de um usuário, que disse que conhecer os direitos
ajuda nas brigas e negociações que precisam fazer. Conversamos então sobre a
importância não apenas da informação, mas sobre o sentido que ela ganha para
a gente e o que fazemos com ela.
É que não se trata apenas de conhecer e aplicar o texto da lei, mas de encarnar a
experiência de reconhecimento do outro e de si mesmo enquanto diferenças lateralizadas.
Em um encontro, uma usuária relatou a estranhíssima experiência de sentir-se em vários
lugares ao mesmo tempo:
Reitero que ela estava nos contando algo que nos parecia confuso, mas estávamos
percebendo que ela realmente se sentia em muitos lugares.
O usuário (...) tinha ido falar com o seu médico a respeito de seus remédios, e a
partir dessa conversa um dos medicamentos foi tirado. O grupo questiona por
que (...), mas ele não sabia responder. Apenas dizia que o médico tinha tirado
um remédio, que ele tinha achado bacana e que o médico tinha dito para não
se preocupar. (…) O grupo tentava entender que sentido isso tivera para ele,
questionando-o e cobrando que se informasse a respeito: por que a retirada do
medicamento?
Neste encontro, o grupo GAM pôde gerar reflexão sobre aquilo mesmo que
almejava, isto é, a cogestão. O que o dispositivo GAM questiona aí é o funcionamento
heteronômico sob a aparência da autonomia. A grupalidade gerada incita a um
reposicionamento do usuário, incentivando-o a procurar pelo motivo da alteração
da medicação, mas também pelo sentido do compartilhamento. O grupo recusa o
automatismo, a “evidência” da cogestão. É o que atesta, igualmente, o seguinte relato
dialogado:
Usuário 1: “... ontem, quando eu vim aqui eu perguntei sobre a minha medicação.
Antes eu agia muito na base do impulso, hoje não, eu sento e converso. (...) antes
eu não fazia. Eu tinha medo de tomar um xingão.”
Usuário 2: “tu te sente melhor com esse caderno, né.”
Pesquisador 1: “agora, o guia tem muitas perguntas.”
Pesquisador 2: “é, e quem dá as respostas?”
Usuário 3: “nós.”
Usuário 4: “mas são perguntas bem simples, né.”
Pesquisador 2: “mas, no grupo, a gente aprende só com o guia?”
Usuário 4: “não, com a troca de experiências também.”
Referências
Eduardo Passos: Doutor em Psicologia, docente da Universidade Federal Fluminense, Programa de Pós-
Graduação em Psicologia.
Analice de Lima Palombini: Doutora em Saúde Coletiva, docente da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social.
Rosana Onocko Campos: Doutora em Saúde Coletiva, docente da Universidade Estadual de Campinas,
Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Sandro Eduardo Rodrigues: Doutorando na Universidade Federal Fluminense.
Jorge Melo: Doutorando na Universidade Federal Fluminense.
Paula Milward Maggi: Bolsista de Iniciação Científica na Universidade Federal Fluminense.
Cecília de Castro e Marques: Mestra pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Lívia Zanchet: Mestra pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Michele da Rocha Cervo: Doutoranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, docente da Universidade
Estadual do Centro-Oeste do Paraná.
Bruno Emerich: Mestre pela Universidade Estadual de Campinas.
Resumo: O presente estudo, situado no campo da saúde no sistema prisional do Rio Grande do
Sul, tem como objetivo conhecer experiências de profissionais de saúde que atuam em equipes
de saúde prisional e os desafios por eles enfrentados para efetivar ações de saúde dentro de
um espaço que prioriza práticas punitivas. Foram realizadas oito entrevistas narrativas com
profissionais de saúde prisional. As análises foram desenvolvidas pelo modelo de Schütze. Como
resultados, foi possível constatar que a formação acadêmica da maioria dos profissionais estava
voltada para o SUS e grande parte teve experiências no campo das políticas públicas antes de
trabalhar nas prisões. Os participantes também mostraram os dilemas da relação entre as equipes
de segurança e da saúde e as estratégias utilizadas para garantir a realização de ações de saúde.
Assim, o estudo evidenciou interlocuções e divergências entre saúde e segurança no contexto
das políticas de saúde dentro das prisões.
Palavras-chave: prisões; profissionais da saúde; saúde pública.
Introdução
1
O Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES), instituído pela Portaria MS nº 376/2000,
compreende o conhecimento dos estabelecimentos de saúde nos aspectos de área física, recursos humanos,
equipamentos e serviços ambulatoriais e hospitalares.
Resultados e discussão
Tabela 1 – Resumo das trajetórias profissionais dos trabalhadores de saúde do sistema prisional do Rio Grande do Sul.
Trabalhou em vários hospitais durante 14 anos, como técnica de enfermagem. Fez formação de
nível superior na área de saúde. Trabalhou na rede pública, teve várias experiências em grupos
Profissional de Saúde
em locais que denominou de “alto risco social” e afirma que estas experiências contribuíram
SMS 1
no seu trabalho no presídio. Na rede prisional, trabalha desde 2007, e na equipe de saúde
prisional, desde a inauguração da Unidade, em 2011.
No processo de formação, saiu de uma instituição com o foco hospitalar e buscou outra mais
Profissional de Saúde
voltada para saúde pública e atenção básica. Sua experiência como profissional iniciou a partir
SMS 3
da inserção na equipe de saúde prisional.
Trabalhou na rede privada e relata que o serviço anterior era completamente diferente, porque
Profissional de Saúde no presídio se prioriza a segurança. Atua há mais de oito anos no sistema e teve a experiência
SUSEPE 2 de trabalhar antes e depois da implantação das equipes de saúde nos presídios do seu município
de trabalho.
Fez uma residência multiprofissional, com ênfase em saúde mental. Ao acabar a residência,
Profissional de Saúde ingressou no PMAQ (Projeto de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica). Fez o
SUSEPE 3 concurso pra SUSEPE, e, pelo fato de ter especialização em saúde e trabalhado com a atenção
básica, aceitou fazer parte da equipe de saúde prisional.
Na década de 1990, iniciou a trajetória na saúde como auxiliar de enfermagem. Trabalhou dois
Profissional de Saúde anos num hospital privado e sete anos no exército, também na área da saúde. Voltou a trabalhar
SUSEPE 5 no mesmo hospital e concluiu a faculdade. Após um ano e meio de formada foi trabalhar na
equipe de saúde prisional.
“Quando eu entrei, claro que todo começo é meio difícil, principalmente porque
tudo aquilo que nós aprendemos na teoria, na faculdade, não era nada daquilo
que eu estava conseguindo visualizar (...) por mais que você acabe fazendo estágio
em Unidades Básicas de Saúde, não tem nada a ver, quem está ali, quem está no
dia a dia sabe o quanto é difícil trabalhar dentro de um local onde é um regime
fechado” (profissional de saúde SMS 2)
“Na rede pública, eu trabalhava numa, vamos dizer assim, numa unidade de alto
risco. Já, no bairro, então, único problema que facilitou, por exemplo, o meu
trabalho dentro do sistema prisional, nessa unidade que estou trabalhando hoje,
por quê? Porque eu já tinha experiência, contato com as pessoas lá com alto risco”
(Profissional de saúde SMS 1)
“Então são aqueles mesmos sujeitos tão privados, não sei se tão privados, porque
a Estratégia Saúde da Família ela dá conta assim de ir nesses lugares assim, que
têm mais vulnerabilidade, mas são essas mesmas pessoas que vão... que nunca
tiveram atendimento na área da saúde, que nunca foram atendidas de alguma
maneira, né, que vão necessitar de atendimento lá também, na verdade, da saúde
na prisão” (Profissional de saúde SUSEPE 3)
“Eu aprendi que a SUSEPE é uma engrenagem, na verdade nós temos o quê? o
agente penitenciário, o agente penitenciário administrativo, que faz toda parte
burocrática, e nós, técnicos penitenciários. Na verdade, um depende do outro,
para eu atender um preso não sou eu que vou lá na porta da galeria chamar
ele, vai o agente penitenciário, então, o meu trabalho depende muito do agente,
um documento que eu preciso, um atestado, enfim, eu vou precisar do agente
administrativo. Então, o nosso trabalho é na verdade uma engrenagem, né”
(Profissional de saúde SUSEPE 4)
“É uma equipe boa (equipe de segurança), todos profissionais são técnicos que já
trabalham há tempos dentro do prisional, então, já sabem como funciona, eu tenho
aprendido bastante com eles, inclusive, mais do que com as enfermeiras, é bom,
porque tem que ter jogo de cintura, né, tem que aprender a se virar, tem que saber
que algumas coisas você não pode fazer.” (Profissional de Saúde SMS 3)
De certo modo, esta fala nos leva a pensar que trabalhar em equipe com os agentes
é, também, enquadrar-se nas regras do encarceramento, pois são eles que vão ditar o que
pode ou não ser feito dentro do sistema prisional. E muitas vezes são regras que se afastam
de ações de cuidado e de possibilidades de escuta do preso. Por exemplo, os atendimentos
só ocorrem quando os agentes penitenciários estão disponíveis para trazer o encarcerado
de dentro da galeria para a unidade de saúde, ou mesmo, quando a consulta acontece com
a presença do agente penitenciário, por regras da segurança.
Considerar os agentes penitenciários como integrantes das relações de cuidado
dentro do sistema prisional ocasionam pensar nas contradições presentes na relação entre
a saúde e a segurança, principalmente, na atuação do agente penitenciário. A imagem que
os agentes de segurança penitenciária mantêm acerca das pessoas presas fundamenta uma
desvalorização das queixas que estes últimos manifestam quanto a seu estado de saúde
(Diuana et al., 2008). Além disso, as demandas de saúde aumentam a movimentação
interna e externa, o que acarreta maior trabalho aos agentes penitenciários, interferindo
diretamente nas rotinas dos presídios.
No entanto, a atuação do agente penitenciário pode, também, ser marcada por uma
relação de ambiguidade entre o vigiar e o cuidar. Em estudo de caso sobre uma agente
Considerações finais
Barcinski, M., Altenbernd, B. & Campani, C. (2013). Entre cuidar e vigiar: ambiguidades
e contradições no discurso de uma agente penitenciária. Ciência e Saúde Coletiva.
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Psicologia, Atuação do psicólogo no sistema prisional. Brasília: Conselho Federal
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Ceccim, R. B. & Feuerwerker, L. C. M. (2004). O Quadrilátero da Formação para a Área
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Introdução
Método
Tempo de atuação
Participante Profissão Nível de atenção Serviço
no serviço
Agente Comunitário de
ACS Primário Estratégia de Saúde da Família 9 anos
Saúde
Médico de Família e
MFC Primário Estratégia de Saúde da Família 4 anos
Comunidade
Resultados e discussão
“A gente aqui tem duas consultas... (...) Tem duas consultas por mês [na equipe
de referência em saúde mental]. E aí inclui adulto e criança. (...) Realmente isso
aí é um número ridículo! Imagina! Duas consultas em saúde mental! E aí tu inclui
psiquiatria e psicologia por mês para uma equipe dupla que a gente atende quase
oito mil habitantes da área né! Quer dizer... Tu acaba tendo que mandar o que
está ali com mais gravidade e as coisas que também precisam acabam ficando
pra trás... Se agravando. Isso acontece!”. (MFC1°)
“Piorou muito... (...) Que a saúde mental aqui é referência para uma área bem
grande. Antes era via referência e contrarreferência, agora é só via discussão de
caso, que tá sendo chamado de matriciamento. Então se eu identificar alguém
que precisa, um pai que precisa, eu tenho que bloquear a minha agenda e ir
lá discutir com eles pra eles marcarem a consulta, então atualmente isso não é
viável”. (PED2°)
A partir do relato dos profissionais de saúde pode-se constatar que existe uma
necessidade muito grande da atuação de nutricionistas, psicólogos e também educadores
físicos na assistência aos casos que envolvem o sobrepeso e a obesidade infantil. Os
profissionais percebem que o psicólogo poderia contribuir no entendimento das dinâmicas
familiares e da criança, intervindo no auxílio à adesão ao tratamento, que nesta temática é
um entrave significativo (Tassara et al., 2010; Zambon et al., 2008). Alguns profissionais
citam a necessidade fundamental de conscientizar, vincular, educar e até convencer os
pais de que o sobrepeso e a obesidade são fatores de risco importantes para a criança e
que devem ser tratados. Contudo, apesar do consenso sobre a importância de tratar os
fatores emocionais, há dificuldade no encaminhamento desses usuários à psicologia.
Esta dificuldade, segundo os profissionais, aparece associada ao número insuficiente
“Não se tem essa comunicação. Se tu quer falar de um... É o prontuário né! Pediatra
cada um tem seu jeito né! Nós encaminhamos para a nutricionista... A gente não
trata os pacientes em conjunto né! Se a gente quiser discutir tem algum espaço,
mas aí depende dos teus horários. Isso a gente normalmente não faz se o paciente
ta contigo, ta contigo”. (PED2°)
“Via prontuário... (...) Acho que não é nada integrado. Por mais que a gente mande,
a gente manda, mas é como se tivesse vários profissionais individuais fazendo a
sua coisa. Nem se vê, o outro a gente nem sabe o que está acontecendo [porque
também não está claro no prontuário]”. (END3°)
“Em geral é a mãe que traz... Tem essa folhinha aqui [documento de referência e
contrarreferência] que o pessoal escreve aqui. Inclusive tem áreas que escrevem
muito bem, tem áreas que não né! Mas em geral tem um pouco de comunicação
sim. Não ao vivo né! Mas pelos documentos tem. É utilizado”. (MFC1°)
A técnica de enfermagem demonstra que essa não é uma prática frequente em sua
rotina assistencial, não tendo clareza de como ocorre a comunicação: “Essa troca é feita
com a coordenadora, com a enfermeira e o médico... Creio eu, ta? Creio que isso seja
através de telefonemas que... Acho que a nutricionista entra em contato com a equipe
daqui” (TEN1°).
Os profissionais de todos os níveis de atenção referem o próprio usuário, muitas
vezes, como a única via de comunicação: “O paciente é que dá o retorno” (ACS). “Em
geral são os pais que trazem um retorno do que eles estão fazendo... Não volta [Refere-se
ao documento]. O paciente que é o dono... Se coordena né!” (PED2°). “Normalmente a
família te traz a informação. Eu pergunto se foi lá de novo, fez exames, e aí a mãe me traz
os exames, me traz alguma novidade” (NUT2°). Alguns profissionais acreditam que isso
ocorra devido às diferenças de funcionamento dos serviços, pela pouca valorização da
comunicação e também pela concepção de assistência vigente: “Não sobra muito tempo
também nas agendas pra isso, para discutir caso, para conversar com esse profissional,
que desse para ter mais contato, ligar... Enfim, as pessoas ficam apagando incêndio nas
agendas né! Não se tem essa cultura sabe?” (NUT2°). A ideia de que o sistema como
um todo é fragmentado e que isso prejudica a assistência prestada, também é uma crítica
entre alguns profissionais:
“Só pra tu ter uma ideia de como é grave e esquizofrênico nosso sistema, aqui
na instituição não tem um prontuário único. Então a criança que consultou na
pediatria tem um prontuário lá, a criança que consultou comigo tem um prontuário
aqui, a mesma mulher que eu atendo pode ter um prontuário comigo, prontuário na
clínica, na odonto, na saúde mental e esta história está toda cortada”. (NUT2°)
“Olha! Eu vou ser bem sincera contigo. A gente usa todas as artimanhas pra
poder fazer esse tipo de coisa, sabe? Se vai na casa do paciente e se... Olha! Está
complicado, acho que mais do que isso... Até porque a nossa disponibilidade às
vezes é pouca pra tanta coisa”. (TEN1°)
“É um trabalho muito árduo tá! Que a gente é porta de entrada pra eles, mas
a gente também é um porto seguro pra eles, sabe?! Porque nós somos... Muitas
vezes tu diz assim: ‘Bah de novo aquele paciente!’ Mas há uma necessidade,
sabe? Isso pra mim gratifica de uma certa forma. Então assim, pelos meus anos
de experiência, eu gosto do que eu faço! Eu não me importo de repetir uma, duas,
três vezes: ‘Mãe, a senhora tem que levar seu filho lá! Só com essa ajuda o seu
filho vai emagrecer!’ São coisas muito boas. Pelo meu tempo de experiência eu
posso te dizer que eu gosto muito do que eu faço e se eu puder ajudar eu estou
sempre disposta”. (TEN1°)
“Um dos problemas graves é que não se têm dados sobre isso, a gente atende,
atende, atende, mas não sei te dizer. (...) A maior parte das vezes até, eu te diria,
a gente não consegue realmente mudar alguns hábitos da família. Têm coisas
que são muito arraigadas. E é meio complicado. Porque assim, a alimentação
envolve muitas outras questões, tu não come só por fome, têm questões de
educação nutricional, de ansiedade...”. (NUT2°)
“Muitas crianças já mostram ali que estão comendo para tapar alguma coisa. E
outros já é necessária a intervenção com a família. Seria importante a psicologia
de família porque senão fica impossível pedir que a criança faça uma coisa se os
pais dão outra mensagem. Então eu acho que a psicologia deveria entrar cedo
com a família, na verdade, com todos e já identificar o que está acontecendo”.
(END3°)
Considerações finais
O sistema de saúde brasileiro, apesar de seu avanço na última década no que diz
respeito à cobertura assistencial e resolutividade, ainda carece de melhorias, voltando o
olhar não somente para as questões agudas, mas também para os agravos de saúde crônicos.
Os profissionais identificam a necessidade de um maior investimento dos gestores em
saúde na disponibilização de atendimento psicológico à população e na luta por espaços
e recursos públicos para a realização de atividade física. Desse modo, pode-se constatar
que a integralidade não tem sido atingida em sua plenitude, conforme previsto por lei,
uma vez que foi identificado neste estudo que os usuários geralmente não transitam de
forma fluente e resolutiva entre os níveis de atenção. A falta de comunicação, evidenciada
Referências
Brasil (1990). Decreto Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990. Diário Oficial da República
Federativa do Brasil, Brasília.
Brasil (1990). Decreto Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília.
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Laville, C. E. & Diones, J. (1999). A construção do saber: manual de metodologia da
pesquisa em ciências humanas. Porto Alegre: Artes Médicas.
Aline Dias Dornelles: Psicóloga, Especialista em Saúde da Criança pela Residência Integrada Multiprofissional
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Márcia Camaratta Anton: Psicóloga, Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Psicóloga do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).
Introdução
Resultados
Ocupação Materna
Profissionais liberais
51 36,7 140 33,6 1
de técnicos
Dona de casa
80 57,6 268 64,3 0,89 0,55-1,23 0,337
e estudantes
Emprega doméstica 8 5,8 9 2,2 2,44 0,89-6,67 0,082
Gestações Anteriores
Não 40 28,8 153 36,7 1
Tipo de Parto
Vaginal 66 47,5 213 51,1 1
Tipo de Gravidez
Única 128 92,1 413 99,0 1
Consulta Pré-natal
7 ou mais 46 33,1 222 53,2 1
≤6 93 66,9 195 46,8 2,30 1,54-3,44 0,000
Sexo
Feminino 59 42,4 206 49,4 1
Masculino 80 57,6 211 50,6 1,32 0,90-1,95 0,156
Apgar 5º minuto
8 a 10 84 60,4 408 97,8 1
≤7 55 39,6 9 2,2 29,68 14,12-62,39 0,000
Tabela 2 – Valores de oddsratio (OR) ajustados e intervalos de confiança (IC95%) obtidos mediante análise de re-
gressão logística multivariada para fatores associados à mortalidade infantil. Palmas/TO, Brasil, 2008-2011.
Gestações Anteriores
Não 1
Sim 2,08 1,10-3,92 0,024
Apgar 5º minuto
8 a 10 1
≤7 15,02 5,75-39,25 0,000
*Ajustado pelas variáveis com p≤0,20 do nível 1 (ocupação materna), do nível 2 (quantidade de gestações
anteriores, tipo de gravidez, número de consultas pré-natal, antecedentes de filhos mortos) e do nível 3 (sexo,
idade gestacional, peso ao nascer, Apgar ao 5º minuto, cor da pele da criança), excluindo aquelas com p≥0,05
no modelo final.
Discussão
Referências
Guiomar Virgínia Vilela Assunção de Toledo Batello: Mestre em Saúde Coletiva – Universidade Luterana
do Brasil (ULBRA).
Lígia Braun Schermann: Orientadora, Professora Adjunta do Curso de Psicologia e do Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Universidade Luterana do Brasil (ULBRA).
Resumo: Este estudo teve como objetivo identificar características de saúde mental de crianças
e adolescentes vivendo com HIV. Participaram 112 cuidadores de crianças e adolescentes com
idades entre seis e dezoito anos que faziam acompanhamento em dois serviços de atendimento
especializado de Porto Alegre, Brasil. Os instrumentos utilizados foram um questionário de dados
sociodemográficos e o Child Behavior Checklist (CBCL). De acordo com os resultados do CBCL,
59% da amostra apresentou critério clínico para problemas de saúde mental. Os dados apontam
para a necessidade de ampliar a atenção à saúde mental de crianças e adolescentes vivendo com
HIV, além do incentivo às práticas de revelação do diagnóstico.
Palavras-chave: saúde mental, HIV, psicologia.
Introdução
Método
Frequência Porcentagem
Crianças e adolescentes
Sexo Masculino 56 50%
Feminino 56 50%
Idade De 6 a 10 anos 32 29%
De 11 a 14 anos 56 50%
De 15 a 18 anos 24 21%
Escolaridade Não frequenta 3 3%
Ensino fundamental 98 87%
Ensino médio 10 9%
Escola especial 1 1%
Responsável Pais biológicos 33 29%
Mãe biológica 28 25%
Pai biológico 4 3%
Irmã 2 2%
Pais adotivos 10 9%
Tios 11 10%
Avós 11 10%
Abrigo 13 12%
Conhece o diagnóstico Não 45 40%
Sim 67 60%
Quem revelou Familiar 44 68%
Profissional saúde 17 25%
Descobriu sozinho 6 9%
Idade da revelação Até 8 anos 26 39%
De 9 a 12 anos 32 48%
13 anos ou mais 9 13%
Resultados
n % n %
Foi realizado o teste Qui-quadrado, com nível de significância de 5%, para verificar
possíveis associações entre as subescalas do CBCL e os fatores sociodemográficos.
Verificou-se associação entre sintomas depressivos e comportamento agressivo (p <
0,001, x2 18,867), sendo o índice de comportamento agressivo para quem tem sintomas
depressivos foi de 63% contra 22% para o grupo que não tem.
Relacionado ao sexo, o item comportamento delinquente demonstrou associação,
sendo que participantes do sexo masculino apresentaram incidência de 38% contra 20%
do sexo feminino. A tabela 3 apresenta o resultado do cruzamento entre os resultados
do CBCL e o sexo.
Discussão
Conclusão
Referências
Kelin Roberta Zabtoski: Psicóloga, Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade do Vale do Rio dos
Sinos (UNISINOS).
Silvia Pereira da Cruz Benetti: Psicóloga, Doutora em Child and Family Studies pela Syracuse University,
Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), professora adjunta do curso
de Pós-graduação em Psicologia Clínica pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Resumo: Objetivo: Investigar a prevalência de uso na vida e nos últimos 30 dias de álcool e tabaco
e sua associação com características de escolares do oitavo ano da rede pública de Santarém-PA
em 2010. Material e métodos: Estudo transversal com amostra representativa de 689 escolares,
sendo os dados coletados em entrevista e analisados com regressão de Cox. Resultados: O uso na
vida de tabaco foi de 12,1% e, destes, 36,1% consumiram nos últimos 30 dias. Houve associação
entre uso na vida de cigarro e sexo masculino, consumo pelos pais e amigos, e experiência com
álcool pelo jovem. O uso na vida de álcool foi de 40,7% e nos últimos 30 dias, 50,7%. Encontrou-se
associação entre uso na vida de álcool e uso de tabaco na vida pelo jovem e consumo de álcool pelos
pais. Conclusão: Os resultados apontam relação significativa entre consumo dessas substâncias
pelos pais e pelos filhos.
Palavras-chave: álcool, tabaco, saúde do adolescente.
Introdução
Esta pesquisa fez parte de um estudo maior intitulado “A saúde do escolar da rede
pública de ensino na região Norte, Brasil”, realizado em três municípios dessa região,
onde participaram adolescentes escolares do oitavo ano da rede pública em 2010. Os
dados aqui analisados referem-se à Santarém-PA.
O cálculo do tamanho da amostra foi baseado no número de alunos matriculados no
oitavo ano na rede pública em 2009 (3358), em uma prevalência estimada dos diferentes
desfechos de 50%, em um erro máximo tolerado de +4% para um nível de confiança de
95%. Considerando tais parâmetros, calculou-se o tamanho de amostra em 422. Visto
que o delineamento do estudo era transversal, foi aplicado um efeito de delineamento
de 1,5, acrescido de 25% para repor possíveis perdas, totalizando 791 escolares.
A amostra foi coletada respeitando-se a proporcionalidade de 66% da rede estadual
e 34% da municipal. No total, foram sorteadas 30 turmas em 20 escolas, considerando-se
a turma de aula como o conglomerado. Do total de alunos selecionados, 11,8% foram
considerados como perda: 51 alunos transferidos, 15 alunos que os pais/responsáveis
ou os próprios se recusaram a participar da pesquisa e 26 casos foram excluídos por
dados ignorados. Assim, a amostra estudada foi composta por 689 sujeitos, tendo o
poder de 80% para detectar as associações de interesse maiores ou iguais a 1,5.
A coleta de dados foi realizada nas turmas sorteadas. Os alunos responderam
os questionários autoaplicados com questões fechadas em sala de aula, que foram
recolhidos pelos pesquisadores ao final do preenchimento do mesmo. O instrumento
de coleta de dados referente ao uso de substâncias foi baseado no questionário da
Organização Mundial da Saúde para escolares (OMS, 2005). Desse questionário,
foram investigadas as seguintes variáveis: idade que fumou pela primeira vez, idade
que experimentou bebida alcoólica pela primeira vez, número de cigarros que fumou
nos últimos 30 dias, lugar onde fuma, local onde tomou bebida alcoólica pela primeira
vez, pais fumantes, amigos fumantes, número de vezes que ingeriu bebida alcoólica
nos últimos 30 dias, problemas relacionados ao consumo de álcool nos últimos 30 dias
(falta à escola, envolvimento em brigas, problemas com os pais), número de vezes que
ficou embriagado na vida, reação da família se chegasse embriagado em casa, ingestão
de bebida alcoólica pelos pais e com quem costuma beber.
A inserção econômica foi obtida a partir da classificação da Associação Brasileira
de Empresas e Pesquisa- ABEP (ABEP, 2013). Esta se caracteriza por um sistema de
pontos que visa estimar o poder de compra das famílias urbanas categorizadas em
cinco classes. Os escolares foram reagrupados em função do pequeno número nas
categorias extremas em classes A+B (maior poder aquisitivo), C, D+E (menor). Foram
também estudadas as variáveis idade, sexo e cor da pele autorreferida, coletadas em
outro instrumento. Inicialmente, os dados foram analisados utilizando-se a estatística
descritiva. Variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio padrão e as
categóricas por frequências absolutas e relativas. Após, para a investigação das
associações de interesse, foi utilizada a regressão de Cox univariada modificada para
estudos transversais. O nível de significância adotado foi de 0,05 e as análises foram
realizadas no programa Stata, versão 6.0.
Resultados
Variável n %
USO NA VIDA
REAÇÃO FAMÍLIA
Não perceberia 67 9,7
ONDE BEBEU
Escola 6 2,1
Outro 50 17,8
Família 81 28,9
Outros 5 1,8
Sozinho 16 5,7
EMBRIAGUEZ
Sim 62 22,1
1a2 18 12,7
≥3 6 4,2
Entre os que já fizeram uso na vida de álcool, 50,7% afirmaram terem bebido nos
últimos 30 dias anteriores à coleta dos dados. Em relação ao local onde bebem, 42,9%
dos estudantes afirmaram fazer uso de bebida alcoólica em casa e 15,7% na casa de
amigos ou outras pessoas. Quando questionados com quem costumam beber, 40,3%
responderam beber com os amigos e 28,9% com a família. Apresentaram pelo menos
um episódio de embriaguez na vida 22,1% desses jovens. Além disso, 12,7% relataram
terem, uma ou duas vezes, sentido-se mal, apresentado problemas com os pais, faltado
à escola ou se envolvido em brigas por terem ingerido bebida alcoólica nos últimos 30
dias (Tabela 1).
Em relação aos fatores associados à experiência com o álcool, os escolares filhos de
pais que bebem tiveram uma prevalência de uso na vida 71% maior do que seus pares de
referência e os que já fizeram uso de tabaco na vida tiveram mais que o dobro. O uso de
álcool nos últimos 30 dias esteve também associado ao uso de bebidas alcoólicas pelos
Tabela 2 – Resultados da regressão de Cox para a associação entre o consumo de álcool e características de
escolares de Santarém, PA, 2010.
USO NA VIDA USO ÚLTIMOS 30 DIAS
n % n % RP IC95% p n % RP IC95% p
SEXO
masculino 309 44,0 122/301 40,5 0,99 0,83-1,19 0,938 55/300 18,3 0,82 0,60-1,11 0,192
feminino 393 56,0 158/387 40,8 − − − 87/388 22,4 − − −
COR
branco 127 18,4 49/126 38,9 − − − 29/125 23,2 − − −
não branco 565 81,7 229/554 41,3 1,06 0,84-1,35 0,619 112/555 20,2 0,87 0,61-1,25 0,447
PAIS BEBEM
não 244 37,0 69/244 28,3 − − − 39/244 16,0 − − −
sim 415 63,0 200/414 48,3 1,71 1,37-2,14 <0,001 98/414 23,7 1,48 1,06-2,07 0,022
USO NA VIDA
DE TABACO
não 605 87,9 209/604 34,6 − − −
sim 83 12,1 70/83 84,3 2,44 2,11-2,81 <0,001
USO DE TABACO
ÚLTIMOS 30 DIAS
não 659 95,7 121/657 18,4 − − −
sim 30 0,0 21/30 70,0 3,8 2,86-5,05 <0,001
n % n % RP IC95% p n % RP IC95% P
SEXO
masculino 309 44 50/300 16,7 1,96 1,30-2,96 0,001 13/301 4,3 0,98 0,49-2,00 0,968
COR
não branco 565 81,65 64/554 11,6 0,86 0,52-1,41 0,542 24/555 4,3 1,08 0,42-2,80 0,858
PAIS FUMAM
sim 186 27,47 31/184 16,9 1,76 1,16-2,68 0,008 12/186 6,5 1,97 0,95-4,10 0,067
AMIGOS
FUMAM
DE ÁLCOOL
USO DE
ÁLCOOL
ÚLTIMOS 30
DIAS
Discussão
Considerações finais
Os dados indicaram maior consumo de álcool do que tabaco tanto no sexo feminino
como no masculino. Este achado leva a refletir sobre a alta prevalência do uso de álcool na
sociedade. Esse é utilizado como marcador da iniciação social do jovem que está em um
processo de individuação em relação ao seu grupo familiar. Além disso, a influência do
grupo de amigos é um facilitador para o consumo de álcool e de tabaco nos adolescentes
escolares.
A preferência do uso de álcool ao de tabaco aponta uma possível diferença em
relação à aceitação social: quase todos bebem, mas nem todos fumam. Atualmente, há
um combate ao consumo do tabaco por meio de políticas públicas e um comportamento
permissivo quanto o uso de álcool.
O estudo também demonstrou o início precoce do consumo dessas substâncias,
podendo trazer consequências negativas a curto e em longo prazo para a saúde física
e emocional do jovem. Isto aponta para a importância de ações preventivas voltadas
para o grupo familiar. Existe uma relação significativa entre o consumo dos pais e o
consumo dos filhos. A forte influência do ambiente familiar requer ações preventivas
interdisciplinares direcionadas à família. A escola, enquanto agente transformador
possui papel de grande influência no comportamento do jovem, pois também funciona
como “modelo” propagador de hábitos e atitudes saudáveis. Por isso, a importância de
desenvolver atividades educativas de promoção da saúde no ambiente escolar, acolhendo
não só o estudante, mas também a família.
Referências
Rafaela Vanzin
Denise Aerts
Gehysa Alves
Sheila Câmara
Lilian Palazzo
Eliane Elicker
Leila Aparecida Evangelista
Manoel L. Neto
Resumo: Objetivo: Estudar a prevalência de início de vida sexual (IVS) e seus fatores associados
em escolares do 8º ano da rede pública de Porto Velho-RO, em 2010. Material e métodos: estudo
transversal com amostra representativa de 996 escolares analisada com teste T Student e regressão
de Cox. Resultados: a prevalência de IVS foi 25,5%. O IVS associou-se com sexo, idade, prática de
atividades físicas, consumo de álcool, tabaco e drogas, falta às aulas sem o conhecimento dos pais,
sentimento de tristeza e planejamento suicida. Os jovens que referiram que seus pais os entendem,
que sabem onde estão no seu tempo livre e sentem discriminação apresentaram menos início de
vida sexual. Considerações finais: A escola deve discutir com seus alunos questões referentes à
sexualidade e a estilos de vida saudáveis o mais precocemente possível, a fim de prepará-los para
sua iniciação sexual e uma vida com mais qualidade.
Palavras-chave: Adolescente, Comportamento sexual, Comportamento do adolescente, Escola.
Introdução
Materiais e métodos
Resultados
Tabela 1 – Variáveis relacionadas ao início da vida sexual, informações sobre gestação e DSTs e uso de métodos
contraceptivos entre escolares da rede pública de Porto Velho-RO, em 2010.
VARIÁVEL N %
11 anos 11 5,2
12 anos 39 18,4
13 anos 53 25,0
14 anos 49 23,1
15 anos 20 9,4
16 anos 5 2,4
Relações sexuais nos últimos 12 meses
Sim 144 67,8
Não 68 32,1
Uso de método preservativo
Sim 171 81,3
Não 37 17,4
Ignorado 5 2,3
Uso de camisinha
Sim 171 81,3
Não 37 17,4
Ignorado 5 2,3
Número de parceiros
1 90 42,5
2 ou 3 60 28,3
4 ou mais 62 29,2
Tabela 2 – Resultados da regressão de Cox univariada entre início da vida sexual e características demográficas,
estilo de vida, estado nutricional, maturidade sexual, percepção da imagem corporal e início de vida sexual em
adolescentes escolares da rede pública, Porto Velho, RO, 2010.
N n % RP IC95% p
Sexo
Masculino 366 139 39,0 2,54 1,98 – 3,25 0,000
Feminino 477 73 15,4 1,00 - -
Cor da pele
Branco 207 47 26,2 0,89 0,67 – 1,19 0,463
Não Branco 582 148 73,8 1,00 - -
Classificação econômica
A+B 444 108 53,4 1,00 - -
C 364 97 43,7 1,10 0,86 – 1,39 0,426
D+E 24 6 2,9 1,01 0,49 – 2,07 0,960
Faixa etária
< 14 anos 141 18 12,8 1,00 - -
14 a 15 anos 595 144 24,5 1,91 1,21 – 3,02 0,005
≥ 16 anos 104 50 50,5 3,93 2,46 – 6,35 0,000
Atividade física
> 300 minutos 439 133 30,7 1,54 1,20 – 1,96 0,001
< 300 minutos 393 78 20,0 1,00 - -
Uso de álcool na vida
Não 419 64 15,3 1,00 - -
Sim 413 148 35,8 2,34 1,80 – 3,03 0,000
Uso de fumo na vida
Não 686 135 19,7 1,00 - -
Sim 146 77 52,7 2,67 2,15 – 3,31 0,000
Uso de drogas ilícitas
Não 788 178 22,6 1,00 - -
Sim 44 34 77,3 3,41 2,78 – 4,19 0,000
N n % RP IC95% p
Estado nutricional
Eutrófico 477 128 27,1 1,00 - -
Risco/Desnutrido 164 36 22,4 0,82 0,59 – 1,13 0,243
Sobrepeso/Obeso 148 31 20,9 0,77 0,54 – 1,09 0,144
Preocupação com imagem corporal
Sim 183 32 27,8 0,63 0,45 – 0,88 0,008
Não 648 178 17,6 1,00 - -
Maturação sexual
Estágio 1+2 27 2 7,7 1,00 - -
Estágio 3 113 18 15,9 2,07 0,51 – 8,38 0,308
Estágio 4+5 649 175 27,3 3,54 0,92 –13,51 0,064
Tabela 3 – Resultados da regressão de Cox univariada entre início da vida sexual e características psicofamiliares
em adolescentes escolares da rede pública, Porto Velho, RO, 2010.
Variável análise univariada Início de vida sexual
N n % RP IC95% p
Número de amigos
>3 645 163 25,3 1,00 - -
2 105 30 28,6 1,12 0,81 – 1,57 0,472
<1 81 19 23,5 0,92 0,61 – 1,40 0,720
Falta às aulas sem conhecimento dos pais
Não 634 129 20,3 1,00 - -
Sim 196 82 42,0 2,06 1,64 – 2,58 0,000
Pais entendem
Nunca/quase nunca 501 151 30,2 1,00 - -
Sempre/quase sempre 326 59 18,1 0,59 0,45 – 0,78 0,000
Pais sabem onde estão no tempo livre
Nunca/quase nunca 268 95 35,6 1,00 0,46 – 0,73 0,000
Sempre/quase sempre 559 116 20,7 0,58 0,46 – 0,73 0,000
Discussão
Considerações finais
Referências
Rafaela Vanzin: Acadêmica do 11º semestre do curso de Medicina – Universidade Luterana do Brasil.
Denise Aerts: Médica, curso de Medicina e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva – Universidade
Luterana do Brasil.
Gehysa Alves: Socióloga, curso de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva –
Universidade Luterana do Brasil.
Sheila Câmara: Psicóloga, curso de Psicologia e Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva –
Universidade Luterana do Brasil. Departamento de Psicologia – Universidade Federal de Ciências da Saúde
de Porto Alegre.
Lilian Palazzo: Médica, curso de Enfermagem – Universidade Luterana do Brasil.
Eliane Elicker: Docente do Departamento de Educação Física Instituto Luterano de Ensino Superior de Porto
Velho (ILES/ULBRA/Porto Velho – RO).
Leila Aparecida Evangelista: Docente do Departamento de Educação Física Instituto Luterano de Ensino
Superior de Porto Velho (ILES/ULBRA/Porto Velho – RO).
Manoel L. Neto: Docentes do Departamento de Educação Física Instituto Luterano de Ensino Superior de
Porto Velho (ILES/ULBRA/Porto Velho – RO).
Resumo: Este estudo teve como objetivo investigar a autopercepção de áreas do desenvolvimento
infantil que são relevantes no desempenho escolar e podem levar a dificuldades escolares em alunos
do ensino fundamental e médio de um município do Rio Grande do Sul, bem como sua associação
com repetência, sexo e nível de escolaridade dos pais. Foi realizado um estudo transversal de base
populacional com 1070 escolares. Os dados foram analisados através de estatística descritiva. Os
resultados indicaram maior autopercepção de dificuldades escolares no sexo feminino. Também
foi observada significância estatística nas correlações entre repetência, nível de escolaridade dos
pais dos alunos e sexo. A partir dos resultados foi possível constatar que a autopercepção negativa
pode ser determinante no desempenho dos alunos. Investigações sobre o tema são relevantes para
o planejamento de intervenções no âmbito escolar.
Palavras-chave: Dificuldades escolares, desempenho escolar, autopercepção.
Introdução
Método
Resultados
Tabela 2 – Associação entre o sexo e as diversas áreas de habilidades escolares em alunos do ensino funda-
mental e médio em Guaíba, RS.
Outra associação verificada foi entre repetência escolar e as doze áreas analisadas no
estudo. Houve significância nesta relação apenas nas áreas citadas a seguir: motricidade
ampla, memória, atenção, linguagem e decodificação. A motricidade ampla foi a única área
em que os alunos que perceberam mais dificuldade não haviam repetido nenhuma série.
Nas demais áreas que apresentaram significância estatística os alunos que perceberam
mais dificuldade já haviam repetido algum ano letivo, conforme a Tabela 3.
Tabela 3 – Associação entre a repetência e as diversas áreas de habilidades escolares em alunos do ensino
fundamental e médio em Guaíba, RS.
Média / DP U de Mann – Whitney
Área de aprendizagem Valor de p
Não repetiu Repetiu U T
Tabela 4 – Associação entre o nível de escolaridade dos pais e as diversas áreas de habilidades escolares em
alunos do ensino fundamental e médio em Guaíba, RS.
Média / DP
K-W P
Analf. Fund. Médio Superior
Mot. Ampla 2,8 ± 1,4 2,1 ± 1,3 2,0 ± 1,3 1,6 ± 1,3 16,2 0,001
Linguagem 2,0 ± 1,1 2,3 ± 1,5 2,0 ± 1,4 1,7 ± 1,2 22,3 0,000
PAI
Decodif. 4,8 ± 2,4 5,0 ± 2,5 4,4 ± 2,3 4,3 ± 2,1 23,3 0,001
Int. Social 5,5 ± 1,8 3,9 ± 2,2 3,9 ± 2,2 3,2 ± 1,9 24,3 0,000
Mot. Ampla 3,1 ± 1,1 2,0 ± 1,3 2,0 ± 1,2 1,8 ± 1,4 12,4 0,006
Atenção 3,2 ± 1,4 3,0 ± 1,3 3,1 ± 1,3 3,4 ± 1,3 13,4 0,037
Linguagem 2,8 ± 1,5 2,4 ± 1,4 1,9 ± 1,4 1,5 ± 1,4 14,4 0,000
MÃE
Orient. Vm. 2,3 ± 0,7 1,6 ± 1,2 1,5 ± 1,2 1,3 ± 1,0 15,4 0,007
Decodif. 5,9 ± 2,3 4,9 ± 2,5 4,6 ± 2,5 4,2 ± 2,2 16,4 0,013
Int. Social 4,8 ± 2,5 3,9 ± 2,2 3,9 ± 2,1 3,4 ± 2,1 17,4 0,048
Referências
Introdução
Consumir drogas é uma prática humana, milenar e universal. A partir dos anos 60,
o consumo de drogas transformou-se em uma preocupação mundial, principalmente nos
países industrializados, em função da sua alta frequência e dos riscos que pode acarretar
à saúde (Tavares, Béria & De Lima, 2001).
A utilização de medicamentos é a forma mais comum de terapia em nossa
sociedade, porém existem estudos demonstrando a existência de problemas de saúde
cuja origem está relacionada ao uso de fármacos (Dall’agnol, 2004). É evidente que a
possibilidade de receber o tratamento adequado, conforme e quando necessário, reduz
a incidência de agravos à saúde, bem como a mortalidade para muitas doenças (Arrais
et al., 2005).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 50% dos medicamentos
são receitados ou vendidos de forma inadequada, aproximadamente 40% da população
não tem acesso a medicamentos essenciais e 50% dos pacientes não tomam corretamente
seus medicamentos (Oliveira, Bertoldi, Domingues, Santos & Barros, 2010). A
automedicação pode ser considerada uma forma de não adesão às orientações médicas
e de saúde.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) (Sturkenboom, et al., 2008), a
automedicação consiste na seleção e utilização de medicamentos isentos de prescrição
(sem tarja) para tratar doenças autolimitadas ou os seus sintomas, estando inclusa
no processo de autocuidado. O conceito de autocuidado, segundo a mesma, inclui
cuidados básicos como: higiene pessoal, nutrição, condições ambientais, estilo de vida
e situações socioeconômicas (renda e crenças culturais) (Beckhauser, Souza, Valgas,
Piovezan, Galato, 2010).
Dentre as formas pelas quais a automedicação pode ser praticada, citam-se
a aquisição de medicamentos sem receita, o compartilhamento dos medicamentos
com outros integrantes da família ou do círculo social, a reutilização de sobras
de medicamentos de tratamentos anteriores e a utilização de antigas prescrições
(Beckhauser et al., 2010). É importante ainda ressaltar, que a prática da automedicação,
muitas vezes, é influenciada por amigos, balconistas de farmácias e até mesmo
familiares. Foi observado que dos componentes das famílias as mães são as que
mais contribuem para o consumo sem prescrição médica em crianças e adolescentes
(Beckhauser et al., 2010).
Fatores econômicos, políticos e culturais têm contribuído para o crescimento e a
difusão da automedicação no mundo, tornando-a um problema de saúde pública. Mais
disponibilidade de produtos no mercado gera maior familiaridade do usuário leigo com
os medicamentos (Filho et al., 2002). No Brasil pelo menos 35% dos medicamentos
adquiridos são feitos através de automedicação (Aquino, 2008).
No Brasil a carência de trabalhos de investigação sobre a morbidade e mortalidade
associada ao uso de medicamentos, bem como, a ainda recente implantação do Sistema
Nacional de Farmacovigilância, compromete um diagnóstico preciso da situação no
país. Apesar disso, dados alarmantes publicados pelo Sistema Nacional de Informações
Tóxico-Farmacológicas (SINITOX), demonstram que os medicamentos ocupam a
primeira posição entre os três principais agentes causadores de intoxicações em seres
humanos desde 1996, sendo que em 1999 foram responsáveis por 28,3 % dos casos
registrados (Sinitox, 2000). Deve-se considerar que os dados do Sinitox referem-se
somente a informações de intoxicação, não considerando os aspectos relativos à
ineficácia terapêutica e a insegurança dos medicamentos utilizados (mesmo dentro de
suas margens terapêuticas).
Método
Resultados
n % n % p n % p
Idade
Até 11 anos 171 16 11 6,4 0,00 6 3,5 0,00
12-13 anos 317 29,6 20 6,3 13 4,1
14-15 anos 337 31,5 22 6,5 18 5,3
>= 16 anos 245 22,9 41 16,7 40 16,3
Consumo familiar
n % n % p n % p
Sim 552 51,6 65 11,8 0,00 58 10,5 0,00
Não 517 48,3 29 5,6 19 3,7
Em relação ao nível de escolaridade dos pais, 64,9% (691) das mães tinham ensino
fundamental completo, seguido de 24,9% (266) com ensino médio completo e apenas 8,9%
(95) com ensino superior completo, as restantes, ou eram analfabetas ou os escolares não
sabiam informar tal dado. Quanto à escolaridade dos pais, os resultados foram semelhantes,
62,5% (699) tinham ensino fundamental completo, seguido de 25,2% (270) com ensino
médio completo e 9,3% (99) com ensino superior completo, os demais eram analfabetos,
já haviam falecido, ou os escolares não sabiam responder a essa questão.
n %
Fumo
Sim 169 15,8
Não 901 84,2
Total 1070 100,0
Levando em conta à repetência, 43% dos alunos repetiu algum ano letivo. Desses,
vários alunos repetiram mais de uma série. Dentre as séries, a 5ª foi a que apresentou
maior número de repetências com 5,8% (62), seguida da 1ª série do ensino fundamental
4,9% (52), 6ª série 4,6% (49), 4ª série 3,5% (37) e a 7ª série 3,3% (35).
n % p
Escolaridade
Fundamental 50 39,0 <0,000
Médio 78 60,9
Repetência
Sim 41 32,0 <0,005
Não 87 67,9 <0,051
Fumo
Sim 27 21,1 <0,001
Não 100 78,8
Uso de drogas
Sim 80 62,5 <0,002
Não 48 35,7
Total 128
Repetência
Sim 147 38,1 <0,010
Não 238 61,8
Total 385
Fumo
Sim 75 19,5 <0,008
Não 309 80,4
Total 384
Uso de bebida
alcoólica 241 62,5 <0,000
Sim 144 37,4
Não 385
Total
Uso de drogas
Sim 209 54,2 <0,017
Não 176 45,7
Total 385
n % p
Sexo
Masculino 133 34,5 <0,000
Feminino 252 65,4
Total 385
Discussão
Referências
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Ciência & Saúde Coletiva, 4(13), 733–736.
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fatores determinantes do consumo de medicamentos no Município de Fortaleza,
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medicamentos do nascimento aos dois anos: Coorte de Nascimentos de Pelotas, RS,
2004. Revista Paulista Pediatria. Vol 28. nº. 3, São Paulo, Brasil.
Beckhauser G. C., De Souza J. M., Valgas C., Piovezan A. P. & Galato D. (2010). Utilização
de medicamentos na Pediatria: a prática de automedicação em crianças por seus
responsáveis Revista de Saúde Pública vol.44 nº.4, São Paulo, Brasil.
Bortoletto, M. E. & Bochner, R.(1999) Impacto dos medicamentos nas intoxicações
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Dall´agnol, R. S. A. (2004). Identificação e quantificação dos problemas relacionados
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Da Silva, C. H. & Giugliani, E. R. (2004). Consumo de medicamentos em adolescentes
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Prevalência e fatores associados à automedicação: resultados do Bambuí. Revista
Saúde Pública, 36(1), 55-62.
Anexo A
10. Qual a profissão do seu pai? ................. Quanto ganha? ............... PROFP:
11. Quantas pessoas moram com você em sua casa? ............. HABITC:
12. Você trabalha? ( ) Sim ( ) Não (passe para a questão 17) TRABALHA:
15. Além da educação física na escola, você faz alguma atividade esportiva? ESPORTE:
( ) Sim ( ) Não (passe para a questão 21)
22. Você já fumou alguma vez? ( ) sim ( ) não (passe para a questão) FUMA:
( ) Sim, mas parei – Quando parou? ( ) mês ( ) ano ou ( ) mês PAROU:
( ) semana
( ) Não sei responder
( ) não quero responder
23. Seu pai bebe bebida de álcool? ( ) sim ( ) não Qual? ............... PAIBEA:
24. Sua mãe bebe bebida de álcool? ( ) sim ( ) não Qual? .............. MÃEBEA:
25. Você já bebeu bebida de álcool? ( ) sim ( ) não Qual? .............. VOCÊBEA:
MEDCR2PG
MDCR2TP
MEDCR2PA
MEDCR2TP
MEDCR4
MEDCR4PA
MEDCR4P
30. Você usa algum medicamento de vez em quanto? ( ) sim ( ) não (passe para a questão 33)
QUAIS? POR QUAL HÁ COM ORI- SE NÃO FOI COM ONDE MED SI1PA
MOTIVO? QUANTO ENTAÇÃO ORIENTAÇÃO ADQUIRIU MEDSI1TP
TEMPO? MÉDICA MÉDICA QUEM MEDSI10R
INDICOU
Até 5
32. Alguém da sua família e que mora com você usa medicamento com frequência? MEDFAM
( ) sim ( ) não
36. Você tem informações sobre saúde na escola? ( ) sim ( ) não INFORSAU
_____________________________
Recebido em novembro de 2013 Aceito em abril de 2014
Rafaela Carvalho Abrahão: Médica graduada pela Universidade Luterana do Brasil e realizando pós-graduação
em Clínica Médica pelo Hospital São Lucas da PUCRS.
Julia Almeida Godoy: Médica graduada pela Universidade Luterana do Brasil e realizando pós-graduação
em Psiquiatria pelo Hospital São Lucas da PUCRS.
Ricardo Halpern: Professor Associado de Pediatria, Universidade Federal de Ciências Médicas de Porto
Alegre. Pediatra especialista em Desenvolvimento e Comportamento, Center for Development and Learning,
University of North Carolina at Chapel Hill.
Resultados
Foram entrevistados 453 pacientes adultos vivendo com o HIV/Aids usuários dos
ambulatórios especializados dos municípios de Canoas, Passo Fundo e Cachoeira do Sul
– RS. As características sociodemográficas mostram que 51,4% dos pacientes eram do
sexo feminino e que a grande maioria (80,8%) possuía renda de até R$1050,00. A idade
média foi de 40 anos, sendo a menor idade 20 anos, a maior idade 73 anos (DP= 9,59)
e mediana de 39 anos. A escolaridade variou entre zero e 20 anos de estudo (DP= 3,48),
com média de 7,20 anos e mediana de 7 anos. O número de medicamentos teve como
média 2,58 comprimidos diários (DP=0,658), constando um mínimo de 2 e máximo de
5 comprimidos.
Em relação ao tratamento, 79,2% dos pacientes foram considerados aderentes à
TARV. Os resultados referentes à comparação dos pacientes com e sem adesão estão
apresentados na Tabela. Observa-se que, na análise bivariada, pacientes homens, com
mais escolaridade e com melhor estado clínico aderiram significativamente mais ao
tratamento.
1
Baseado na publicação das Recomendações para Terapia Antirretroviral em Adultos Infectados pelo HIV,
Ministério da Saúde, 2008.
158
transtornos psiquiátricos menores ( SRQ-20), estado clínico e esquema de tratamento.
Variável Com adesão Sem adesão Razão de prevalência p-valor Razão de prevalência p-valor
Sexo*
n % n % bruta (IC95%) ajustada (IC95%)
Feminino 155 66,5 78 33,5 1 0,000 1 0,000
Masculino 204 92,7 16 7,3 1,39 (1,26-1,54) 1, 37 (1,24-1,52)
Renda familiar (R$) a
0-350 140 79,5 36 20,5 1
351-1050 143 75,3 47 24,7 0,95 (0,85-1,06) 0,327 0,93 (0,83-1,03) 0,144
>1050 76 87,4 11 12,6 1,10 (0,98-1,22) 0,094 1,00 (0,89-1,12) 0,997
Escore AUDIT b
Com Transtorno 37 77,1 11 22,9 1 0,708
Sem Transtorno 322 79,7 83 20,3 1,03 (0,88-1,21)
Escore SRQ-20 b
Com Transtorno 201 76,4 62 23,6 1 0,074 1 0,526
Sem Transtorno 158 83,2 32 16,8 1,09 (0,99-1,19) 1,07 (0,98-1,17)
Estado clínico b
Discussão
Referências
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Serviços de Saúde, 16 (4), 261-278.
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24(1), 2603-13.
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vivendo com HIV em serviço universitário de referência de São Paulo, Brasil.
Cadernos de Saúde Pública 23(11), 2653-2662.
Contribuições: L.B. Schermann e J.U. Béria participaram do delineamento do estudo, análise dos dados,
supervisão e redação final; D.C. Tietzmann participou do delineamento do estudo, da coleta de dados, elaboração
dos bancos de dados e da redação final; D.A. Mallmann e E.S. Trombini participaram da coleta de dados e
elaboração dos bancos de dados; G. M. Santos participou da unificação dos bancos de dados.
Resumo: Este estudo visa identificar o perfil dos usuários que necessitam de assistência domiciliar
por uma equipe de Estratégia de Saúde da Família. Estudo descritivo analítico, transversal com
abordagem quantitativa, desenvolvido em uma região denominada área 26, na Unidade Básica
de Saúde (UBS) União, Bairro Mathias Velho, Município de Canoas/RS. Participaram desta
pesquisa 33 usuários incluídos no programa de assistência domiciliar. A média de idade foi de 68,9
anos; 55% dos participantes são do gênero feminino e 45% do masculino. Quanto às morbidades
apresentadas, o maior índice (81,81%) foi a má adesão ao tratamento. Quando relacionada à
hipertensão arterial sistêmica (HAS), verificou-se significância (p= 0,018), apontando que 59,3%
dos pacientes com HAS tem dificuldade em aderir ao tratamento. Através destes resultados, foi
possível uma intervenção multiprofissional voltada para a melhoria da qualidade de vida desses
usuários de forma integral, resultando em maior adesão e aceitação ao tratamento.
Palavras-chave: Saúde Pública, Atenção Primária à Saúde, Assistência Domiciliar.
Introdução
Método
Resultados e discussão
n %
Situações n %
Má adesão ao tratamento
27 81,81%
Hipertensão
16 48,48%
Acamado
11 33,33%
Diabetes 11 33,33%
Disfagia 10 30,30%
Acidente vascular cerebral 8 24,24%
Câncer 6 18,18%
Cadeirantes 6 18,18%
Sonda vesical de demora 5 15,15%
Sonda nasoenteral 5 15,15%
Doença pulmonar obstrutiva crônica 5 15,15%
Afasia 5 15,15%
Tabagismo 4 12,12%
Depressão 4 12,12%
Obesidade 4 12,12%
Uso de antipsicótico 4 12,12%
Dislipidemia 3 9,09%
Úlcera por pressão 3 9,09%
n % n %
Conclusão
Resumo: Este relato de experiência tem por objetivo abordar uma metodologia de atendimento
psicoeducativo em grupo para mulheres no pós-parto de bebês nascidos a termo e prematuros
baseada na prática em psicologia clínica de duas das autoras. O atendimento em grupo de mães tem
como bases teóricas a Psicologia Evolucionista (PE) e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).
A primeira fornece referencial conceitual para a compreensão do processo de desenvolvimento
e do que é um bebê humano, e a segunda, a metodologia para o atendimento às mães. As mães
relataram diminuição da ansiedade ao participarem dos grupos, bem como do sentimento de solidão
por entenderem que suas angústias também aconteciam com outras mulheres. Esse é um estudo
inicial, em que não foram aplicados instrumentos para uma avaliação mais objetiva da redução de
ansiedade. Desse modo, estudos controlados precisam ser desenvolvidos para testar a validade da
proposta de atendimento psicoeducativo no pós-parto.
Palavras-chave: Pós-parto, Psicologia do desenvolvimento, Promoção em saúde.
Introdução
Considerações finais
Referências
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Aline Melo-de-Aguiar: Psicóloga, Doutoranda em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ.
Talita Maria Nunes de Aguiar: Psicóloga, Mestre em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio
de Janeiro – UERJ.
Maria Lucia Seidl-de-Moura: Psicóloga, Doutora em Psicologia Cognitiva pela Fundação Getúlio Vargas
– FGV.
Deise Maria Leal Fernandes Mendes: Psicóloga, Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado
do Rio de Janeiro – UERJ.
Resumo: Ações de prevenção e promoção à saúde são realizadas com o intuito de ampliar o
acesso integral de moradores de uma comunidade através de sua participação em diferentes
atividades. Esse relato de experiência tem como objetivo apresentar um trabalho de intervenção
psicossocial em grupo de pais, em uma comunidade na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Foram realizados 17 encontros, entre julho e dezembro de 2013, conduzidos por acadêmicas
de Psicologia e supervisionadas por professora psicóloga. Participaram dos grupos 118 pais
e familiares, com idades a partir de 25 anos. A duração dos encontros foi, em média, de 90
minutos, com frequência quinzenal. Temas ligados às conflitivas do desenvolvimento infantil
e da adolescência e os desafios da criação dos filhos foram discutidos. Os resultados foram
analisados à luz da literatura, a partir das repercussões da intervenção para os pais e cuidadores.
Destacou-se o benefício da troca de experiências e informações entre os participantes. O trabalho
em grupo ofereceu orientações de forma preventiva quanto às questões ligadas aos conflitos
familiares inerentes ao desenvolvimento dos filhos, com destaque para a promoção da saúde e
da qualidade de vida dos participantes.
Palavras-chave: Grupo de pais. Intervenção Psicossocial. Promoção e Prevenção da saúde
Método
Resultados e discussão
A partir dos relatos dos participantes, foram criadas duas categorias para fins de
apresentação dos dados: temas trabalhados, impacto da intervenção para os participantes
e para as acadêmicas extensionistas.
Referências
Aline Groff Vivian: Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia (UFRGS). Professora do Curso de Psicologia
(ULBRA Canoas) e supervisora do projeto.
Claudia Corrêa da Rocha: Acadêmica do Curso de Psicologia (ULBRA Canoas), Bolsista de Extensão.
Josieli Freitas de Oliveira: Acadêmica do Curso de Psicologia (ULBRA Canoas), Bolsista de Extensão.
Kátia Pereira Agra: Acadêmica do Curso de Psicologia (ULBRA Canoas), Voluntária de Extensão
Mara Cristiane von Muhlen: Acadêmica do Curso de Psicologia (ULBRA Canoas), Voluntária de Extensão
e Bolsista PROBIC-FAPERGS.
Luciane Agostini: Acadêmica do Curso de Psicologia (ULBRA Canoas), Voluntária de Extensão.
Um começo
Crueldade/Perversão
Os perversos que me preocupam não são os de Richard Von Krafft-Ebing (psiquiatra
austro-alemão) que na sua obra “Psicopatologia Sexual” (1886) introduz pela primeira
vez os conceitos de sadismo, masoquismo e fetichismo. Os perversos que me preocupam,
também descritos por Contardo Calligaris, são os que gozam com a dor, a humilhação ou
o aniquilamento físico-moral dos mais frágeis, desorientados e desamparados.
Permitam-me, aqui, descrever uma instalação do artista paulistano Nuno Ramos,
chamada 111, numa alusão ao Carandiru e ao massacre, exposta na Bienal de Arte de
São Paulo realizada em 2006 – que curiosamente teve a seguinte temática: “Como viver
juntos?”. O que havia de insólito nesta instalação?
Sabemos que a instalação é um esforço do artista em enfrentar o espaço
tridimensional, colocando nele elementos em número suficiente, nem a mais (pois tudo
vira ruído), nem a menos (pois não haveria elementos suficientes para, dali, emergir um
significado). O que, então, encontrávamos nesta instalação, ao entrarmos na Sala?
No chão, cota Zero, 111 paralelepípedos. Tendo, sobre cada uma das pedras, o nome
de um dos presos, escrito em logotipo de imprensa. Sobre estas pedras pisávamos. Havia
outros elementos, mas um em especial, era um conjunto de fotos dispostas no teto, ao
fundo: fotos de satélite (e sua sofisticação tecnológica), localizando o Brasil, o Estado
de São Paulo, a Cidade de São Paulo, o Bairro do Jabaquara, a vizinhança, o Carandiru,
tiradas no exato momento da invasão.
O que havia? Que ponto de interrogação havia entre estas cotas? A pergunta:
Como nos colocamos, como nos posicionamos, diante disto?
“O trânsito no Brasil permite que a gente enxergue com clareza que os brasileiros
sentem mal-estar diante da igualdade. Não é diante da desigualdade que temos
mal-estar. Este sujeito tem um incômodo com a igualdade. A igualdade significando
que o trânsito obriga você a esperar a sua vez”.
Isso, tão simples, parece inadmissível. Que dificuldade é esta que temos com a
igualdade? – pergunta-nos também Birman, em certo sentido.
Depressão
Estamo-nos perguntando pelos sinais de uma época. Difícil jornada. Uma difícil
tarefa. Para Adauto Novaes, encontramo-nos num mundo que nos propõe uma vida de
automatismos de toda a espécie, ingenuidade, inércia, velocidade, repetição (repetição e
sua insidiosa intoxicação do mesmo).
Bem, inércia, velocidade, repetição. O que está por trás destes estados é a noção
de tempo. Por isto, a noção de tempo é tão importante para entendermos as raízes da
transformação psíquica.
Maria Rita Kehl, no livro O tempo e o cão: a atualidade das depressões (2009), toma
como ponto de partida um dos pensamentos de Paul Valery em seu ensaio sobre a Crise
do Espírito (La crise de l’esprit, 1919): “Não existe mais o tempo em que o tempo não
contava”. Vivemos o tempo da impaciência e da não reflexão, da rapidez da realização,
das variações bruscas da técnica.
Kehl, ecoando as reflexões de Birman, convida-nos a pensar certo tipo de homem
que vive neste mundo de forma muito original: um homem ao mesmo tempo ativo e
miserável. Consciente, ele encarna a reação contra a vulgaridade da existência, em
oposição ao Outro, que não se sente fora de sua época e que, ao contrario, não cessa de
assumir com ela “um compromisso vergonhoso”.
O homem descrito por Kehl se desdobra: aparente resignação para si e revolta
contra o mundo. “Recusando um mundo no qual não pode viver de forma autêntica,
Despossessão
Estar des+apossado de algo: a despossessão psicológica, a despossessão social e
a despossessão política, quem bem nos caracteriza Birman. A despossessão psicológica
diz respeito a um sentimento de autodesvalorização das populações pobres em relação
às ricas, ou de um país pobre em relação a um país rico.
Outra forma de despossessão é a social, que se manifesta pela completa
impossibilidade de parcelas da população terem acesso aos mecanismos de êxito
social, de atingirem o mínimo de prestígio e manterem relações sociais estruturadas
e permanentes. A despossessão política é outro lado da pobreza contemporânea e diz
respeito à incapacidade de certos grupos sociais terem qualquer participação efetiva na
vida pública ou acesso aos mecanismos de interferência e ação política (Costa, 1997
apud Mariano, 2007).
Para um desfecho
Referências
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Capítulo de livro
Scharf, C. N., & Weinshel, M. (2002). Infertilidade e gravidez tardia. Em: P. Papp
(Org.), Casais em perigo, novas diretrizes para terapeutas (pp. 119-144). Porto Alegre:
Artmed.
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The bibliographical references must be presented at the end of article. Its disposition
must be in alphabetical order of the last name of author in small letter.
Book
Mendes, A.P. (1998). A família com filhos adultos. Porto Alegre: Artes Médicas.
Silva, P.L., Martins, A., & Foguel, T. (2000). Adolescente e relacionamento familiar.
Porto Alegre: Artes Médicas.
Chapter of book
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Thesis or published dissertation
Silva, A. (2000). Genital knowledge and sexual constancy in pre-school children.
Master dissertation or doctorate thesis. Program of Graduate Studies in Psychology of
Development, Federal University of Rio Grande do Sul. Porto Alegre, RS
Thesis or non-published dissertation
Silva, A. (2000). Genital knowledge and sexual constancy in pre-school children.
Master dissertation non-published or doctorate thesis (non-published). Program of
Graduate Studies in Psychology of Development, Federal University of Rio Grande do
Sul. Porto Alegre, RS
Old work reedited in posterior date
Segal, A. (2001). Some aspects of analysis of a schizophrenic person. Porto Alegre:
Universal. (Original published in 1950)
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Libro
Mendes, A. P. (1998). A família com filhos adultos. Porto Alegre: Artes
Médicas.
Silva, P. L., Martins, A., & Foguel, T. (2000). Adolescente e relacionamento
familiar. Porto Alegre: Artes Médicas.
Capítulo de libro
Scharf, C. N., & Weinshel, M. (2002). Infertilidade e gravidez tardia. Em: P.
Papp (Org.), Casais em perigo, novas diretrizes para terapeutas (pp. 119-144). Porto
Alegre: Artmed.
Autoría institucional
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