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Em sua história o Brasil já havia conhecido seis constituições. A primeira delas, ainda no
Brasil Império - a Constituição de 1824 - foi elaborada por um Conselho de Estado formado
por dez membros e presidido pelo imperador D. Pedro I. Foi uma constituição outorgada,
ou seja, concedida pela magnanimidade do Imperador, não emanava da representação do
povo. Após a Independência, em 1822, o Brasil torna-se “Império do Brasil” e seu governo
é apresentado como “monárquico hereditário, constitucional e representativo”. A Consti-
tuição de 1824 incorpora a divisão dos poderes políticos em quatro: o Poder Legislativo,
o Poder Moderador (do imperador, é um resíduo do Absolutismo), o Poder Executivo e o
Poder Judiciário. Os representantes da nação são o Imperador e a Assembleia Geral.
A Constituição de 1824 regeu o país até o fim da Monarquia, após a Proclamação
da República, em 1889. Nasce então a Primeira República, regida pela Constituição da
República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 1891. Diz seu Artigo 1º “A Nação
brasileira adota como forma de Governo, sob o regime representativo, a República Fede-
rativa, proclamada a 15 de novembro de 1889, e constitui-se, por união perpétua e indis-
solúvel das suas antigas Províncias, em Estados Unidos do Brasil.” Constituição de caráter
republicano estabelece sistema de governo Presidencialista. Manteve-se a separação dos
poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, eliminando-se as instituições monárquicas,
inclusive o Poder Moderador. Com forma de estado Federativa, as províncias, tornadas
estados e distrito federal, passaram a ser unidades federativas da Nação, dirigidas por
governadores, denominados presidentes. Adota o sistema de duas casas legislativas: esta-
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dos e distrito federal são representados por três senadores e a representação da população
na Câmara de Deputados será proporcional às populações dos respectivos estados – um
representante para cada 70 mil habitantes -, assegurando-se ao menos quatro deputados
provenientes de cada estado. O poder executivo é exercido pelo Presidente da República,
com mandato de 4 anos, eleito diretamente pelo povo. Serão eleitores e elegíveis somente
os cidadãos maiores de 21 anos e alfabetizados, excluindo-se ainda: os militares de baixa
patente e religiosos sujeitos a votos de obediência.
Em julho de 1934 a Assembleia Nacional Constituinte, eleita no ano anterior, durante o
governo provisório de Getúlio Vargas, no poder desde a Revolução de 1930, publica uma
nova carta constitucional. Dizia o Artigo 1º da “CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DOS
ESTADOS UNIDOS DO BRASIL”: “A Nação brasileira, constituída pela união perpétua
e indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios em Estados Unidos do
Brasil, mantém como forma de Governo, sob o regime representativo, a República Fede-
rativa proclamada em 15 de novembro de 1889.” E definia nos dois artigos seguintes que
“Todos os poderes emanam do povo e em nome dele são exercidos” e que “São órgãos da
soberania nacional, dentro dos limites constitucionais, os Poderes Legislativo, Executivo
e Judiciário, independentes e coordenados entre si”. Tinha um teor claramente promotor
do desenvolvimento, sustentando medidas voltadas tanto ao desenvolvimento econômico
quanto social. Do ponto de vista eleitoral permitiu que se estendesse o direito de voto às
mulheres, mas também fez com que o cargo de Presidente da República tivesse prazo
estendido para mais quatro anos.
Antes que esse prazo expirasse, Getúlio Vargas, alegando um grave risco à normali-
dade institucional, outorgou a Constituição do Estado Novo, em novembro de 1937. O
Preâmbulo da quarta carta constitucional do país dizia: “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL, ATENDENDO às legitimas aspirações do povo
brasileiro à paz política e social, profundamente perturbada por conhecidos fatores de
desordem, resultantes da crescente agravação dos dissídios partidários, que, uma, notória
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ca. Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido”. Da União participam os
estados, o distrito federal e os territórios e se mantém a autonomia municipal. E os elei-
tores, cujo voto é obrigatório, são todos os cidadãos maiores de 18 anos, exceto os não
alfabetizados e, novamente, os militares de mais baixa patente. O sufrágio é universal e
direto. Como se sabe, essa experiência democrática acaba em 1964, com um movimento
autoritário que deu início a um novo período ditatorial, entre 1964 e 1985.
A sexta Constituição brasileira entra em vigor em março de 1967 e consolida a amplia-
ção, adotada desde 1964, do poder do Presidente da República e de todo o poder execu-
tivo frente aos demais poderes de Estado, ao mesmo tempo em que enfraquece o princípio
federativo, por ter reduzido a autonomia política de estados e municípios.
Com a Constituição de 1988 retomamos historicamente o processo democrático no país
com a volta da eleição direta para Presidente da República, o que não acontecia desde
1960. Como afirma o historiador José Murilo de Carvalho (2008: 199), na Constituição de
1988 os “direitos políticos adquiriram amplitude nunca antes atingida”.
Em 1985, tivera início o período da história nacional denominado Nova República,
com a chegada à presidência de um civil escolhido em Colégio Eleitoral após uma ampla
mobilização social pelas “Diretas Já”. Foi durante esse governo civil que se realizaram as
eleições para a composição de um Congresso Constituinte, já que as propostas de que se
compusesse uma Assembleia Constituinte foram vencidas. Assim, o povo brasileiro foi às
urnas em Novembro de 1986 para escolher os deputados e senadores que acumulariam
as funções congressistas e constituintes.
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assembleias legislativas e em cada município, pelos vereadores, nas câmaras municipais.
Em cada nível federativo, o representante do poder executivo – presidente, governador
ou prefeito - é eleito pelo voto direto majoritário e compõe um ministério ou secretariado
para seu governo. Eleitos para mandato de quatro anos, podem ser reeleitos por mais um
período de governo.
Ao poder judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira, o que consti-
tui um grande avanço organizacional desse poder em sua autonomia frente aos demais
poderes. Importante situação que decorre da Constituição de 1988 foi a transformação,
na prática, do Supremo Tribunal Federal (STF) em um guardião constitucional, ao conferir
ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) o caráter de uniformização jurisprudencial da legis-
lação federal. Além disso, em 2004, A Emenda Constitucional n. 45, ao criar o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ), fez dele um importante instrumento de transparência do poder
Judiciário, compondo-o com representantes da magistratura, do ministério público, da
advocacia e da sociedade civil e encarregando-o de realizar a supervisão da atuação
administrativa e financeira do Judiciário.
Em suas funções executivas e legislativas os entes federativos são providos com compe-
tências ora exclusivas, ora comuns, ora concorrentes, conforme tais competências sejam
respectivamente responsabilidade exclusiva de um determinado ente, ou responsabilida-
de comum a mais de um ente, ou em que as responsabilidades de cada ente se comple-
mentam, de maneira concorrente ou cooperativa.
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Vejamos a situação dos municípios, que foram alçados à condição de entes fede-
rativos. Entre suas competências há questões de ordem:
a. tributária - impostos como IPTU, ISS -;
b. legislativa – sobre desapropriação de imóveis, licitação de contratos -;
c. financeira - gestão de recursos públicos, patrimônio, rendas, tributos, competên-
cia hoje regulada pela Lei de Responsabilidade Fiscal -;
d. administrativa - administração autônoma de bens e serviços -;
e. relacionada à elaboração e execução de políticas e serviços públicos como em:
e1. educação - implementação da educação em nível pré-escolar e fundamen-
tal, em cooperação e com apoio técnico e financeiro da União e do estado,
e obedecendo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB);
e2. saúde - com apoio técnico e financeiro do estado e da União por meio do
Sistema Único de Saúde (SUS), mas com autonomia para a definição de
prioridades a depender das características e necessidades locais;
e3. em outras áreas como Política Urbana, Saneamento Básico, Cultura,
Ambiente, Agricultura.
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institucionalidade autoritária e administração centralizada. A descentralização política
das decisões e da execução das políticas públicas inscreveu-se fortemente na Constitui-
ção Cidadã. Isso ficou evidente nos mecanismos institucionais de transferência de poder e
execução administrativa aos níveis subnacionais – estados e municípios. Esse processo se
estendeu a vastas áreas sociais como a da saúde, da educação fundamental, da assistência
social, da habitação e do saneamento básico, fortalecendo a inserção e participação de
estados e municípios no cenário político democratizante. O próprio Estado brasileiro sai
favorecido pela transformação de um modelo centralizado de gestão de políticas públicas
rumo a um modo descentralizado e participativo.
Os princípios de descentralização e participação estão presentes em quase todas as
políticas públicas no país. Além de favorecer o processo de democratização da sociedade
brasileira, fortalece o próprio caráter republicano dos governos, pois traz para dentro das
arenas decisórias amplos segmentos da sociedade organizada, preenchendo com ele-
mentos daí provenientes os diversos espaços público-estatais e modificando, com sua
participação os processos de formulação de políticas e de condução da gestão pública.
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Tópico 3 Brasil. Sistema representativo:
eleições e partidos
A Constituição de 1988 determina formas de exercício direto da participação popular
mediante os mecanismos de plebiscito, referendo e iniciativa popular. Mas é em torno
do sufrágio universal que se construiu um amplo conjunto de instituições denominado
sistema de democracia representativa. Antes de focalizar o sistema representativo vamos
fazer uma breve incursão na história política do país e recuperar alguns princípios demo-
cráticos que exerceram influência sobre o atual sistema representativo.
Houve duas experiências democráticas no país, as quais vieram influenciar nosso sis-
tema democrático representativo. Na primeira, entre 1946 e 1964, havia eleições diretas
para Presidente da República, senadores, deputados federais, governadores, deputados
estaduais, prefeitos e vereadores.
Em dezembro de 1945 ocorreram eleições legislativas para a escolha de uma assembleia
constituinte e eleições para Presidência da República, em que o General Eurico Gaspar
Dutra saiu vitorioso, com 55% dos votos; e foi empossado no mesmo ano em que se pro-
mulgava a nova constituição, 1946. Reorganizaram-se partidos políticos nacionais, com
ampla expectativa de liberdade, ainda que a amplitude da liberdade associativa tenha se
mostrado breve, já que o Partido Comunista Brasileiro teve sua legenda cassada já em
1947. Getúlio Vargas, ditador no período 1937–1945, voltou ao cargo de Presidente da
República por meio de eleições em 1950, concorrendo na legenda do Partido Trabalhista
Brasileiro – PTB –, tendo obtido 48% dos votos válidos. A oposição a Vargas foi liderada
principalmente pelo partido da União Democrática Nacional – UDN. O fim do governo
Vargas, com seu trágico suicídio, expressa a extrema complexidade desse período, em
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Nesse período o voto era obrigatório, secreto e direto, estendia-se a todo cidadão, homens
e mulheres com mais de 18 anos, exceto os não alfabetizados. O período se encerrou com
o movimento militar de 1964 que instaurou um regime autoritário que perdurou até 1985.
No regime autoritário que se seguiu, e perdurou por 21 anos, diferentemente de regimes
dessa natureza em outros países, manteve-se o funcionamento do Congresso e a realiza-
ção de eleições, contudo restritas: não se votava diretamente para Presidente da República
e uma parte do Senado era indicada pelo chefe do Poder Executivo; havia eleições para as
cadeiras do legislativo – vereadores, deputados estaduais, deputados federais e uma parte
dos senadores – e eleições indiretas para governador e presidente, escolhidos nos colégios
de suas jurisdições respectivas: assembleias legislativas e Congresso Nacional. Porém, nas
capitais e grandes cidades do país a escolha do prefeito cabia ao governador do estado.
Em 1984, o “Movimento das Diretas Já” mobilizou milhões de pessoas em todo o país
com o intuito de restabelecer as eleições para Presidente. Em 1985, sob regime demo-
crático, iniciaram-se os preparativos para uma nova ordem institucional e a realização
daquelas eleições, que vieram a ocorrer em 1989.
Nas eleições diretas de 1989, Fernando Collor de Mello foi eleito Presidente da Repúbli-
ca, mas cumpriu pouco mais de metade do seu mandato, uma vez que tendo sofrido um
processo de impugnação de mandato (impeachment) – instrumento previsto institucio-
nalmente, dentro da normalidade constitucional –, para o qual também concorreu uma
grande movimentação social, Collor de Mello renunciou antes de ser condenado pelo
Senado, e tornou-se inelegível por 8 anos.
Em nossa primeira experiência democrática, nas eleições presidencias os eleitores tota-
lizavam 12,5 milhões e havia 12 partidos nacionais ativos. Nas eleições de 2011, que
elegeram Dilma Roussef como a primeira mulher à Presidência os eleitores totalizavam
135,8 milhões de cidadãos e havia 29 partidos registrados em todo o país.
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O eleitor com menos preparo podia ser facilmente enganado com a troca ou
anulação de cédulas por cabos eleitorais. Coronéis mantinham várias práticas
antigas de compra de voto e coerção de eleitores. A seu mando, cabos eleito-
rais ainda levavam os eleitores em bandos para a sede do município e os man-
tinham em ‘currais', sob vigilância constante, até o momento do voto. Os cabos
eleitorais entregavam aos eleitores envelopes fechados com as cédulas de seus
candidatos, para evitar trocas. O pagamento podia ser em dinheiro, bens ou
favores. Por via das dúvidas, o pagamento em dinheiro era muitas vezes feito
da seguinte maneira: metade da cédula era entregue antes da votação e a outra
metade depois. O mesmo se fazia com sapatos: um pé antes, outro depois.
Hoje, como se sabe, o voto é eletrônico, e com a introdução da informatização no ato
do voto e na sua contabilização, parecem ter se superado tais constrangimentos.
Segundo Nicolau (2008: 10), “o sistema eleitoral é o conjunto de regras que define como
em uma determinada eleição o eleitor pode fazer suas escolhas e como os votos são con-
tabilizados para serem transformados em mandatos (cadeiras no Legislativo ou chefia do
Executivo)”. Usualmente desconhecemos ou temos pouca consciência dessas regras, e
também pouca ou nenhuma noção do que tais regras fazem com os nossos votos. Ao
abordarmos o funcionamento do sistema eleitoral, temos que lembrar que existem diversos
outros aspectos e momentos importantes do processo eleitoral, sobre os quais deveríamos
refletir. As campanhas eleitorais envolvem acesso aos meios de comunicação, propaganda
eleitoral com regras de participação para cada partido, gastos de campanha, pesquisas de
opinião realizadas em geral por instituições privadas de pesquisa, entre outros aspectos.
Demasiadas questões que deveriam ser conhecidas e entendidas pela população.
Em nosso sistema eleitoral, a seção e a zona eleitoral são as divisões ou unidades ter-
ritoriais básicas consideradas das eleições – informações, aliás, que constam do Título
de Eleitor. Isso não deve ser confundido com as unidades de contabilização de nossos
votos, os chamados distritos eleitorais: o estado, para as eleições de governador, deputado
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votados dessa coligação serão os eleitos (Nicolau e Power, 2007).
Os mecanismos de representação e os sistemas eleitorais e partidários são produtos sofis-
ticados dos Estados Modernos. Embora a representação tenha tornado possível a existência
desses Estados, sua capacidade de expressar a vontade do povo, de permitir que este exerça
o controle sobre os governos e que efetivamente governe por intermédio de representantes
é muito contestada. Some-se a isso um crescente aparente desinteresse das populações em
participar das eleições, dos momentos de escolha ou mesmo de se incumbir da tomada de
decisão sobre questões que seriam de interesse geral. Talvez o desinteresse, ele próprio, já
expresse, não um certo entendimento quanto à pouca importância dos assuntos, e mais um
descrédito quanto ao próprio mecanismo de representação. Seja como for, na atualidade
tem-se debatido muito acerca da crise do sistema representativo por se mostrar limitador
da expressão das demandas do cidadão, especialmente quando se tratam das minorias. Os
mecanismos da democracia direta são invocados nessa ocasião, para, ao lado do sufrágio
universal, acionando as fórmulas de participação popular, como o plebiscito, o referendo e a
iniciativa popular, permitirem consultas diretas aos cidadãos sobre assuntos de interesse geral.
Referências bibliográficas
Brasil. s/d. Constituições. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/principal.htm>. Acesso em 9 mai. 2012.
Carvalho, J. M. Cidadania no Brasil. O longo caminho. 10ª ed. Rio de Janeiro: Civi-
lização Brasileira, 2008.
Nicolau, J. M. Sistemas Eleitorais. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV.
Nicolau J. M., Power, T. (orgs.). Instituições representativas no Brasil: balanço e
reforma. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2007.