Sunteți pe pagina 1din 11

Ciência & Ensino, vol. 2, n.

2, junho de 2008

ARTIGOS

REFLEXÕES SOBRE O CONCEITO DE CENTRO DE


GRAVIDADE NOS LIVROS DIDÁTICOS

André K. T. Assis e
Fábio. M. d. M. Ravanelli

O Centro de Gravidade Arquimedes hoje perdidas, apresentam


em seus trabalhos que chegaram até nós
O centro de gravidade é mencionado
algumas informações sobre como
em quase todos os livros de mecânica do
Arquimedes pode ter definido este
ensino médio e do ensino universitário.
conceito, (HEATH, 1921, págs. 24, 302,
Mas nem sempre há uma definição clara
350-351 e 430), (HEATH, 2002, págs.
deste conceito. Muitas vezes não se
clxxxi-clxxxii), (DIJKSTERHUIS, 1987,
apresenta nenhum procedimento
págs. 17, 47-48, 289-304, 315-316,
experimental sobre como localizar na
321-322 e 435-436), (ASSIS, 2008a, págs.
prática este ponto para um corpo rígido.
90-91) e (ASSIS, 2008b, págs. 69-74 e
Uma discussão detalhada deste conceito,
97-105). Em termos modernos este
dos procedimentos experimentais para
conceito pode ser definido com as
localizá-lo e de suas origens históricas
seguintes palavras:
encontra-se em (ASSIS, 2008a e 2008b).
“O centro de gravidade de um corpo
Neste trabalho vamos nos concentrar na
rígido é o ponto tal que, se imaginarmos o
análise de como este conceito é tratado
corpo suspenso por este ponto e com
em alguns livros didáticos relevantes, já
liberdade para girar em todos os sentidos
que este é um dos temas mais
ao redor deste ponto, o corpo assim
importantes de toda a mecânica clássica.
sustentado permanecerá em repouso e
A definição do conceito de centro de
preservará sua posição original, qualquer
gravidade é atribuída a Arquimedes (287
que seja a orientação do corpo em relação
a.C. - 212 a.C.), embora este conceito não
à Terra.”
apareça definido explicitamente em
Quando este ponto se localiza no
nenhum de seus trabalhos ainda
espaço vazio (o centro de uma arruela,
existentes. Por outro lado, Heron
por exemplo) é necessário supor uma
(primeiro século d.C.), Papus (terceiro
conexão rígida ligando o centro de
século d.C.) e Simplicio (sexto século
d.C.), que tiveram acesso às obras de
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

gravidade ao corpo para imaginá-lo Suspende-se o corpo por um ponto


sustentado por este ponto. A tal que o corpo tenha liberdade para
A origem deste conceito é girar em qualquer direção e aguarda-se
experimental. A idéia da existência do que atinja o equilíbrio em relação à Terra.
centro de gravidade pode ser obtida a Traça-se uma primeira vertical a partir
partir do equilíbrio de corpos rígidos que deste ponto A quando o corpo está em
podem girar ao redor de pontos, de eixos equilíbrio. A vertical é obtida como sendo
ou de hastes fixas em relação à Terra. No a reta ao longo de um fio de prumo em
que diz respeito ao centro de gravidade, repouso em relação à Terra. Depois se
em geral define-se que um corpo está em escolhe um outro ponto B do corpo que
equilíbrio quando suas partes não esteja ao longo desta primeira
permanecem em repouso em relação à vertical. Suspende-se o corpo por este
Terra. A própria etimologia da palavra segundo ponto B e aguarda-se o novo
“equilíbrio” traz em si a idéia de centro de equilíbrio. Traça-se uma segunda vertical
gravidade, pois a raiz latina combina as passando por este segundo ponto B. O
palavras “igual” com “peso”. Para obter a cruzamento das duas verticais é o centro
localização do centro de gravidade de gravidade G do corpo.
experimentalmente utiliza-se essencial- A definição matemática moderna do
mente um resultado já conhecido por centro de gravidade é obtida a partir da
Arquimedes e que ele expressou com as lei da alavanca. Arquimedes expressou-a
seguintes palavras em seu trabalho com as seguintes palavras na Proposição
“Sobre a Quadratura da Parábola”, 6 de seu trabalho “Sobre o Equilíbrio dos
(MUGLER, 1971a, pág. 171) e (DUHEM, Planos,” (DIJKSTERHUIS, 1987, pág.
1991, pág. 463): “Todo corpo, suspenso 289): “Grandezas comensuráveis se
por qualquer ponto, assume um estado de equilibram em distâncias inversamente
equilíbrio tal que o ponto de suspensão e proporcionais a seus pesos.” Vamos supor
o centro de gravidade do corpo estejam ao que temos dois pesos P1 e P2
longo de uma mesma linha vertical; pois dependurados em uma haste rígida
esta proposição já foi demonstrada”. horizontal de peso desprezível. Esta haste
Infelizmente a prova teórica que pode girar ao redor de um eixo horizontal
Arquimedes forneceu para este resultado perpendicular a ela passando pelo fulcro
fundamental também não aparece em da alavanca. Vamos supor que as
nenhum de seus trabalhos que chegaram distâncias horizontais destes dois corpos
até nós. Mas é utilizando este resultado à projeção vertical do plano que passa
que se encontra experimentalmente o pelo eixo de rotação sejam dadas por d 1 e
centro de gravidade de qualquer corpo d 2 , respectivamente. A lei afirma que eles
rígido. O procedimento é o seguinte: vão permanecer em equilíbrio ao serem
soltos do repouso se
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

somar suas contribuições no sentido de


P1 d 2
= , (1) fazer a alavanca girar. Generalizando
P2 d 1
então a relação acima para as três
coordenadas espaciais e utilizando o
Pela condição experimental princípio de superposição vem que o
mencionada anteriormente por centro de gravidade de um conjunto de N
Arquimedes (de que todo corpo, suspenso pontos materiais pode ser definido
por qualquer ponto, assume um estado de matematicamente como (sendo Pi o peso

equilíbrio tal que o ponto de suspensão e do corpo i localizado no vetor posição ri
o centro de gravidade do corpo estejam ao em relação à origem 0 do sistema de
N

longo de uma mesma linha vertical), vem coordenadas, com PT ≡ ∑ Pi sendo o peso
i= 1
que o centro de gravidade deste sistema total do sistema):
de dois corpos tem de estar ao longo da
 N
Pi 
vertical que passa pelo fulcro. Vamos rCG ≡ ∑
i= 1 PT
ri , (4)
imaginar a haste da alavanca ao longo do
eixo x e chamar de xCG à posição do
centro de gravidade, com x1 e x 2 sendo as Munidos de tal conceito
posições dos corpos 1 e 2 em relação à analisaremos alguns livros didáticos
origem 0 do eixo x . Com isto a equação representativos do ensino médio e
acima pode ser colocada na forma de uma superior. O critério para a escolha destes
definição matemática do centro de livros foi a relevância que eles parecem
gravidade, a saber, ter no ensino de física no Brasil.

P1 x 2 − xCG
≡ . (2) Livros Didáticos
P2 xCG − x1
O livro didático tem papel destacado
Isto implica que no ensino, sobretudo na educação básica,
na qual este serve como guia para a
P1 P2 elaboração das aulas, resolução de
xCG ≡ x1 + x2 . (3)
P1 + P2 P1 + P2 exercícios e roteiro de estudos. O contato
do estudante com o conteúdo da
disciplina ocorre muitas vezes
Vamos agora utilizar o princípio de predominantemente através do livro
superposição para generalizar a expressão didático.
acima para N corpos. Este princípio Iniciemos com a análise de alguns
afirma que os pesos agem de forma livros de ensino médio. É nesta etapa que
independente entre si, tal que podemos geralmente o estudante depara-se com a
física pela primeira vez. Consideramos as
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

seguintes obras: FERRARO e SOARES uma maneira que nos parece adequada,
(2003), PARANÁ (2004), SAMPAIO e ou seja, a partir de uma experiência
CALÇADA (2003), e MÁXIMO e simples: “Tente levantar uma vassoura
ALVARENGA (2006). com um cordão amarrado em seu cabo de
Em FERRARO e SOARES (2003, tal forma que ela fique na horizontal. Que
pág. 383) o centro de gravidade é descrito dificuldade essa simples ação pode
em uma observação no decorrer do texto: apresentar? Realizando a atividade
“O ponto de aplicação do peso de um sugerida você vai concluir que existe
corpo extenso é chamado centro de apenas um ponto da vassoura no qual o
gravidade (CG). Para os corpos cordão amarrado possibilita que ela, ao
homogêneos e que apresentam simetria, o ser suspensa, fique na horizontal. Esse
centro de gravidade coincide com o ponto é denominado centro de gravidade
centro geométrico”. Os autores não ou baricentro. Então, podemos definir
discutem como encontrar que: Centro de gravidade é o ponto em
experimentalmente onde se localiza o CG que está concentrado o peso de um
no caso de corpos sem simetria. corpo”. Em seguida ele apresenta o
Mais tarde os autores discutem o conceito de momento de uma força em
equilíbrio de corpos (FERRARO e relação a um ponto e as condições de
SOARES, 2003, pág. 392). Ao analisar equilíbrio de um corpo rígido. Esta nos
um corpo colocado sobre uma superfície parece ser uma boa maneira de introduzir
inclinada com atrito os autores o CG, ou seja, começando com algumas
mencionam que o corpo não tomba experiências simples. Quando o corpo
quando a reta vertical que passa pelo CG está em equilíbrio apoiado por um ponto,
está dentro da base de apoio do corpo, o peso se comporta como se estivesse
sendo que o corpo tomba quando esta concentrado em seu centro de gravidade.
vertical fica fora da base. Na legenda da Mas não se deve tomar isto ao pé da letra,
Figura que acompanha esta discussão como é feito por muitos alunos do ensino
afirmam: “Quanto mais baixo estiver o médio, já que o peso atua sobre todas as
centro de gravidade com relação à partes materiais do corpo.
superfície e quanto maior for a base de SAMPAIO e CALÇADA (2003, pág.
apoio, maior é a estabilidade do corpo”. 149) também seguem o mesmo modelo de
Na página seguinte apresentam a definição, mas sem antes apresentar os
condição fundamental de equilíbrio de dados experimentais: “O centro de
corpos rígidos, a saber: “Observe que no gravidade (CG) de um corpo é o ponto
equilíbrio estável o centro de gravidade onde podemos supor aplicado o seu peso
fica abaixo do ponto de suspensão”. do ponto de vista dos efeitos de rotação”.
PARANÁ (2004, pág. 104) começa a Esta definição não é clara pois não se
discussão sobre o centro de gravidade de especificam quais são estes efeitos de
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

rotação nem o que acontece quando o Terra sobre ele. Quando se trata de uma
corpo é apoiado por pontos distintos do partícula, essa ação será representada por
CG. Por outro lado, um mérito desta uma força aplicada na partícula. Mas, se
definição é a afirmação de que “podemos as dimensões do corpo não forem
supor” o peso como estando concentrado desprezíveis, as ações atrativas da Terra
no centro de gravidade do corpo, em vez se farão sobre cada partícula, isto é, essas
de se dizer que o peso “está de fato ações constituirão um sistema de forças
concentrado” neste ponto. Os autores praticamente paralelas, aplicadas em

também relacionam o centro de gravidade partículas diferentes. O peso P do corpo
ao centro de simetria do corpo: “Se o será a resultante desse sistema de forças e
corpo for homogêneo e suas dimensões o ponto em que podemos supor que essa
forem pequenas em comparação com o resultante está sendo aplicada é
tamanho da Terra, pode-se demonstrar denominado centro de gravidade do
que o centro de gravidade está no centro corpo, como mostra a fig. A-7.” Esta é
de simetria do corpo”. Não é especificado uma apresentação cuidadosa, mas
com clareza como obter o CG nos casos sentimos falta de ser apresentado algum
em que o corpo não é simétrico. procedimento experimental para localizar
Em MÁXIMO e ALVARENGA o centro de gravidade.
(2006, págs. 131-143) temos dois Quanto aos livros voltados para o
Apêndices detalhados sobre este tema. O ensino superior, analisamos os seguintes
primeiro trata do momento ou torque de textos: HALLIDAY, RESNICK e WALKER
uma força. Então aparece a seguinte (2002); LUCIE (1980) e TIPLER (1994).
definição: “O momento, M, ou torque de Em HALLIDAY, RESNICK e

uma força F , que atua em um corpo, em WALKER (2002, págs. 4-5) há um
relação a um eixo que passa pelo ponto O, capítulo sobre Equilíbrio e Elasticidade,
é definido pela relação M = F ⋅ d em que com a Seção 13.3, O Centro de Gravidade.
d é a distância (perpendicular) de O à Aqui apresenta-se a seguinte

linha de ação de F .” No segundo conceituação do CG: “A força de
Apêndice são introduzidas as condições gravidade (ou força gravitacional) sobre
gerais de equilíbrio de um corpo rígido, a um corpo de dimensões finitas é a soma
saber: “ ∑ Fx = 0 e ∑ Fy = 0 asseguram o vetorial das forças gravitacionais que
equilíbrio de translação; ∑ M=0 atuam sobre os elementos individuais
assegura o equilíbrio de rotação.” No (átomos) do corpo. Em vez de
segundo Apêndice aparece uma seção considerarmos todos esses elementos
dedicada ao centro de gravidade. Este individuais, podemos dizer: A força

conceito é introduzido com as seguintes gravitacional Fg que age sobre um corpo
palavras: “Já sabemos que o peso de um atua efetivamente em um único ponto,
corpo é o resultado das ações atrativas da denominado centro de gravidade (cg) do
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

corpo. Neste caso, a palavra centro de massa coincide com o chamado


“efetivamente” significa que se as forças “centro de gravidade” do sistema. Se o
que agem sobre os elementos individuais campo não for uniforme, o sistema não é
fossem de alguma maneira desligadas e a geralmente equivalente a uma partícula

força Fg fosse ligada no centro de única, no que diz respeito à interação
gravidade, a força resultante e o torque gravitacional; nesse caso não é possível
resultante (em torno de qualquer ponto) definir o centro de gravidade. É
atuantes sobre o corpo não se importante entender a diferença entre o
modificariam. Até agora, supomos que a conceito de centro de massa (que sempre

força gravitacional Fg age no centro de existe) e o de centro de gravidade (que
massa (cm) do corpo. Isto é equivalente a nem sempre existe)”.
supor que o centro de gravidade está no Mais adiante se faz o seguinte
centro de massa. Lembre-se de que, para comentário (pág. 134): “Se o campo não

um corpo de massa M , a força Fg é igual for uniforme, não há, em geral, uma
 
a Mg , onde g é a aceleração que a força partícula única que faça o papel de
produziria se o corpo estivesse em queda “equivalente gravitacional”. O conceito de
livre. Na demonstração  a seguir, centro de gravidade não tem então
g
mostraremos que: Se for a mesma para nenhum conteúdo físico”. Desde que se
todos os elementos de um corpo, o centro entenda que o conceito de
de gravidade do corpo (cg) coincide com o “mecanicamente equivalente” apresenta-
centro de massa do corpo (cm)”. Não fica do pelo autor se refere não apenas à força
claro na formulação destes autores o que resultante sobre um corpo rígido, mas
é postulado, o que é resultado também ao torque resultante atuando
experimental e o que é definição. sobre ele, é razoável esta apresentação.
Já em LUCIE (1980, págs. 80 e 81) TIPLER (1994, págs. 257-272)
encontramos a seguinte afirmação depois apresenta um capítulo sobre o Equilíbrio
de se analisar a força e o torque Estático de um Corpo Rígido. Na Seção
resultantes sobre um sistema de 9.1, Condições de Equilíbrio, são
partículas interagindo com o campo apresentadas as condições necessárias
gravitacional terrestre: “Mostramos assim para o equilíbrio estático de um corpo
que, do ponto de vista da interação rígido: “1. A força externa resultante que
gravitacional, um sistema de partículas atua sobre o corpo deve ser nula: Fres = 0 .
em um campo uniforme é mecanicamente 2. O torque externo resultante, em relação
equivalente a uma partícula única de a qualquer ponto, deve ser nulo: τ res = 0 ”.
massa M igual à massa total do sistema, e A Seção 9.2 chama-se O Centro de
que coincidiria com o centro de massa. Gravidade. O autor considera então uma
Por essa razão, e nas condições descritas barra rígida sob a ação de duas forças F1 e
(sistema em um campo uniforme), o F2 normais a ela atuando a distâncias x1 e
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

x 2 de uma extremidade da barra. Então mig e W = Mg e cancelar o fator comum g.


continua: Então,
“A força ∑ F = F1 + F2 provocará o X cg Mg = ∑ mi gxi
i
mesmo torque em relação a O se estiver “ou
aplicada a uma distância x r , tal que MX cg = ∑ mi x i
x r ∑ F = F1 x1 + F2 x 2 i

9-5
9-3
“Esta é a Eq. 7-3a, que dá a
“Podemos usar este resultado para
coordenada x do centro de massa. Então,
mostrar que as forças da gravidade,
quando a aceleração da gravidade não
exercidas sobre as diversas partes de um
varia sobre um corpo, o centro de
corpo, podem ser substituídas por uma
gravidade e o centro de massa
única força, o peso total, que atua sobre
coincidem.”
um ponto que denominamos o centro de
Em nível superior avançado
gravidade. Na Figura 9-3 dividimos um
analisamos as obras de KANE e
corpo em muitos outros menores. Se as
STERNHEIM (1980); GOLDSTEIN
divisões forem suficientemente pequenas,
(1981); SYMON (1982); FEYNMAN,
podemos considerar os pequeninos
LEIGHTON e SANDS (1967); THORTON
corpos como partículas. O peso de cada
e MARION (1995); e FOWLES e
partícula é wi e o peso total do corpo é
CASSIDAY (1999).
W = ∑ w i . Generalizando a Eq. 9-3 para
FOWLES e CASSIDAY (1999)
este caso de várias forças paralelas e
discutem apenas o centro de massa, não
usando a relação ∑ F = W , temos para o
há menção nesta obra sobre o centro de
ponto de aplicação da força resultante
X cg gravidade, como se pode constatar ao
verificar o índice remissivo bem como nos
X cg W = ∑
i
wi xi
tópicos referentes a gravidade e centro de
9-4 massa presentes no texto.
“A Eq. 9-4 define a coordenada x do KANE e STERNHEIM (1980, pág.
centro de gravidade. O centro de 64) definem o centro de gravidade da
gravidade é o ponto em que atua o peso seguinte maneira: “O torque ao redor de
total de um corpo de modo que o torque qualquer ponto produzido pelo peso de
que ele provoca, em relação a qualquer um corpo é igual ao torque devido a um
ponto, seja igual ao torque provocado corpo concentrado de mesmo peso
pelos pesos das partículas individuais que localizado em um ponto chamado de
constituem o corpo.” centro de gravidade (C.G.)”. Para corpos
“Se a aceleração da gravidade não simétricos de densidade uniforme este
variar sobre o corpo (como é quase
ponto seria o próprio centro geométrico.
sempre o caso), podemos escrever wi =
Caso contrário este ponto poderia ser
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

encontrado experimentalmente segundo nos parece inadequada. Para falar do


o autor usando-se o fato que, para um centro de gravidade ele não especificou
corpo em equilíbrio, a reta que contém o resultados experimentais, não relacionou
CG e o ponto de suspensão é sempre explicitamente a massa com o peso
vertical e passa pelo CG. Utilizando a lei através da aceleração da gravidade etc.
da alavanca o autor chega ainda em uma Também não explicou como se obter na
fórmula matemática para o CG análoga à prática o centro de gravidade de corpos
apresentada acima. Substituindo o peso sem simetria. Acreditamos que nenhum
w por mg, sendo m a massa do corpo e g estudante conseguirá atingir a
a aceleração da gravidade, ele observa que compreensão do conceito de centro de
o fator g comum pode ser cancelado gravidade ao seguir apenas esta
quando a aceleração da gravidade for formulação.
constante e tiver a mesma direção para Em THORTON e MARION (1995)
todas as partículas do corpo. Com isto não há referências sobre centro de
não existirão diferenças entre o centro de gravidade. Ao longo do livro caracteriza-
gravidade e de massa. No mais são se apenas o conceito de centro de massa.
apresentadas as condições de equilíbrio, FEYNMAN, LEIGHTON e SANDS
assim como o centro de gravidade nos (1967, Cap. 19) iniciam a explicação sobre
seres humanos. O ser humano não é um o centro de massa pela análise de
corpo rígido. Logo o seu centro de movimentos genéricos de corpos sob ação
gravidade não está localizado sempre no do campo gravitacional terrestre. A
mesmo lugar em relação ao corpo. O demonstração do centro de massa é feita
centro de gravidade dependerá da posição a partir da resultante de forcas do
instantânea das partículas do ser humano sistema, isto é, utilizando a mecânica
em questão, como discutido pelo autor. newtoniana.
GOLDSTEIN (1981, pág. 5) define No capítulo seguinte retoma-se o tema.
matematicamente o centro de massa nos A localização do centro de massa é definida
seguintes termos: “(...) definimos um como:
 
vetor R como a média dos raios vetores 
RCM =
∑ mi ri
.
das partículas, ponderados na proporção ∑ mi
de suas massas: São discutidos alguns aspectos deste
 
 ∑ mi r i ∑ mi ri conceito, como a necessidade do ponto
R= = .

∑ mi M não pertencer ao corpo, objetos
O vetor R define um ponto constituídos por mais de uma parte, bem
conhecido como o centro de massa, ou como objetos simétricos. Em seguida se
mais livremente como o centro de afirma que o centro de massa é chamado
gravidade, do sistema”. Esta formulação algumas vezes de centro de gravidade
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

pelo motivo de que, em muitos casos, a


que o torque resultante é dado por
gravidade pode ser considerada uniforme.  
R × Mg , onde R =  m r  / M é o que ele
Avalia-se também o caso de corpos ∑ i i
 i
extensos. Neste caso os autores afirmam definiu como sendo o vetor posição do
que se o corpo for tão grande que a falta
centro de massa do sistema. Afirma então
de paralelismo das forças gravitacionais
passa a ser importante, então o centro que como o torque total é dado pela força
onde se deve aplicar a força para 
Mg atuando no centro de massa, sendo
equilibrá-lo não é simples de ser descrito,
afastando-se ligeiramente do centro de este ponto também chamado de centro de
massa. Nestes casos deve-se distinguir o
gravidade. No caso de corpos de grandes
centro de massa do centro de gravidade.
O desenvolvimento do tema por dimensões afirma que como a aceleração
estes autores parte da mecânica da gravidade não vai ser a mesma para
newtoniana. Não são feitas discussões
históricas nem apresentadas experiências todos os pontos, o centro de gravidade
específicas abordando o assunto. O não estará, em geral, no centro de massa
mesmo vale para a maioria dos livros que
do sistema. E conclui: “O caráter relativo
analisamos.
do conceito de centro de gravidade o
Symon (1982, págs. 261, 291 e 292)
torna pouco útil, exceto no caso de uma
discute inicialmente a estática de corpos
esfera ou de um corpo em campo
rígidos. Afirma que para um corpo rígido
gravitacional uniforme. Para dois corpos
estar em equilíbrio é necessário que a
de grandes dimensões, não se pode, em
força resultante sobre ele seja nula, assim
geral, definir centros de gravidade únicos,
como o torque resultante também tem de
mesmo relativos um ao outro corpo, à
ser nulo. Depois considera um caso
exceção de casos especiais, como aqueles
particular em que o corpo está próximo
em que os corpos estão muito afastados,
da superfície da Terra. Mostra então que
  ou quando um deles é uma esfera”. A
a força resultante é dada por F = Mg ,
 apresentação deste livro é clara e com ela
onde M é a massa total do corpo e g é a
é possível chegar a uma boa formulação
aceleração da gravidade que ele considera
do conceito de centro de gravidade.
constante nesta situação. Mostra também
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

Conclusão Estadual de Campinas (PRP/SAE/UNI-


CAMP) pela concessão de uma bolsa de
As definições apresentadas nos iniciação científica durante a qual este
livros didáticos divergem entre si. Poucos trabalho foi concluído. Os autores
livros fazem um levantamento histórico agradecem aos assessores pelas sugestões
sobre o surgimento do conceito do centro construtivas relativas à primeira versão
de gravidade, não mencionando sequer deste artigo.
Arquimedes com relação a este ponto. Em
geral eles chegam ao conceito a partir da Bibliografia
mecânica newtoniana. Não há problemas ASSIS, A. K. T. Arquimedes, o Centro de
em relação a isto, mas seria interessante Gravidade e a Lei da Alavanca. Montreal:
que fosse feita uma análise crítica do Apeiron, 2008a. ISBN: 978-0-9732911-7-9.
Disponível em:
tema. Alguns livros chegam até mesmo a http://www.ifi.unicamp.br/~assis/
tomar o centro de gravidade como sendo ASSIS, A. K. T. Archimedes, the Center of
sinônimo do conceito de centro de massa. Gravity, and the First Law of Mechanics.
Montreal: Apeiron, 2008b. ISBN:
Mas isto está bem distante da formulação 978-0-9732911-6-2. Disponível em:
de Arquimedes. Não há problemas com http://www.ifi.unicamp.br/~assis/.
este procedimento, desde que o tema seja DIJKSTERHUIS, E. J. Archimedes.
Tradução: C. Dikshoorn. Princeton: Princeton
tratado com o devido cuidado. University Press, 1987.
Uma abordagem alternativa seria
DUHEM, P. The Origins of Statics. Tradução:
começar a discussão do tema G. F. Leneaux, V. N. Vagliente e G. H.
apresentando experiências simples de Wagener, com um prefácio de Stanley L. Jaki.
Dordrecht: Kluwer, 1991.
equilíbrio de corpos rígidos. Seriam então
FERRARO, N, G. e SOARES, P. A. T. Aulas
observadas as principais propriedades de Física 1. 8ª. ed. São Paulo: Atual, 2003.
observadas empiricamente. Com isto se FEYNMAN, R. P., LEIGHTON, R. B. e
poderia chegar à definição conceitual do SANDS, M. The Feynman Lectures on
Physics. Vol. 1. Reading: Addison-Wesley,
centro de gravidade apresentada no início 1967.
deste trabalho. Depois seria apresentada FOWLES, G. R. e CASSIDAY, G. L. Analytical
a lei empírica da alavanca. Só então se Mechanics. 6ª. ed. Orlando: Harcourt Brace,
1999.
chegaria finalmente à expressão
matemática do centro de gravidade. Esta GOLDSTEIN, H. Classical Mechanics. 2ª. ed.
Reading: Addison-Wesley, 1981.
abordagem está detalhada em Assis
HALLIDAY, D., RESNICK, R. e WALKER, J.
(2008a e 2008b). Fundamentos de Física. Tradução: José
Paulo Soares de Azevedo. 6ª. ed. Rio de
Janeiro: LTC, 2002. Vol. 2: Gravitação,
Agradecimentos Ondas e Termodinâmica.
HEATH, T. L. A History of Greek Mathemat-
Um dos autores (FMdMR) agradece à ics, Vol. II: From Aristarchus to Diophantus.
Pró-Reitoria de Pesquisa e ao Serviço de Oxford: Clarendon Press, 1921.
Apoio ao Estudante da Universidade
Ciência & Ensino, vol. 2, n. 2, junho de 2008

HEATH, T. L. (editor), The Works of


Archimedes. New York: Dover, 2002. Editado
em notação moderna com capítulos
introdutórios de T. L. Heath, com um
suplemento, The Method of Archimedes,
descoberto recentemente por Heiberg.
Reimpressão integral da edição de 1897, com
o suplemento de 1912.
KANE, J. W. e STERNHEIM, M. M. Physics.
New York: John Wiley & Sons. 1980.
LUCIE, P. Física Básica. Vol. 2: Mecânica.
Rio de Janeiro: Campus, 1980.
MÁXIMO, A. e ALVARENGA, B. Curso de
Física, 6ª. ed. São Paulo: Scipione, 2006. Vol.
1.
MUGLER, C. Les Oeuvres d’Archimède.
Paris: Budé, 1971. Vol. 2: Des Spirales, De
l’Équilibre des Figures Planes, L’Arénaire,
La Quadrature de la Parabole.
PARANÁ D. N. Física. 6ª. ed. São Paulo:
Ática, 2004.
SAMPAIO, J. L. e CALÇADA, C. S. Física. São
Paulo: Atual, 2003.
SYMON, K. R. Mecânica. Tradução: Gilson
Brand Batista. Rio de Janeiro: Campus 1982.
THORTON, S. T. e MARION, J. B. Classical
Dynamics of Particles and Systems. 4ª. ed.
San Diego: Harcourt College Publishers,
1995.
TIPLER, P. A. Física. 3ª ed. Tradução:
Horácio Macedo. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 1994. Vol. 1: Mecânica.

________________________
André K. T. Assis é professor do Insituto de
Física da Unicamp. E-mail:
assis@ifi.unicamp.br. Homepage:
http://www.ifi.unicamp.br/~assis/

Fábio M. d. M. Ravanelli é estudante do


curso de Física da Unicamp. E-mails:
famatos@ifi.unicamp.br e
fabioravanelli@hotmail.com

S-ar putea să vă placă și