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Boletim de Biotecnologia 3
Energias renováveis e limpas de origem biológica
2030 uma das principais fontes de energia. com características tipicamente procarióticas. Muitas estir-
pes são capazes de fixar o azoto atmosférico (N2) em amó-
Além da pesquisa desenvolvida no campo da produção,
nia (NH4+), composto que pode ser utilizado por outros
têm sido também dispendidos esforços na redução do
organismos, nomeadamente plantas e animais. Apesar de
peso e volume de todo o sistema de modo a satisfazer as
bastante uniformes em termos nutricionais e metabólicos,
condições de conforto. No entanto, uma das prioridades
constituem um grupo diversificado em termos morfoló-
para que haja aceitação pública, reside no cumprimento
gicos, apresentando formas unicelulares, filamentosas e
das normas relativas à segurança. Neste contexto, têm sido
coloniais. Certas cianobactérias filamentosas têm a capa-
desenvolvidos sensores que permitam a detecção de fugas
cidade de diferenciar células estruturalmente modificadas
de H2 do depósito. Neste campo destacam-se os sensores
e funcionalmente especializadas: os acinetos (células de
que utilizam enzimas imobilizadas (hidrogenases prove-
resistência) e os heterocistos (células especializadas na
nientes de microrganismos) que parecem ter uma sensi-
fixação de N2), ver Figura 1. Estas características, conjun-
bilidade superior aos baseados em catalizadores artificiais
tamente com as alterações que ocorrem durante o seu ciclo
(Morozov et al., 2002).
celular, distinguem as cianobactérias de outros organismos
procariontes (ex. de outras bactérias) uma vez que estes não
têm qualquer grau de diferenciação e desenvolvimento.
Cianobactérias
Várias estirpes de cianobactérias podem, ainda, estabelecer
As cianobactérias, arteriormente designadas por algas simbiose com uma enorme variedade de hospedeiros como
azuis-verdes, constituem um grupo grande e diversifica- protistas, animais, fungos e plantas. Em simbiose, alguns
do de microrganismos fotoautotróficos. A origem destes cianobiontes realizam fotossíntese e fixação de N2 enquanto
organismos remonta ao Pré-Câmbrico e há registos fósseis outros apresentam apenas uma destas propriedades (Whit-
que indicam que as formas unicelulares surgiram no Pré- ton e Potts, 2000).
Câmbrico Inferior (há cerca de 3.500 milhões de anos),
enquanto que as formas filamentosas eram particularmente
abundantes no Pré-Câmbrico Médio (ver Figura 1), e terão Enzimas envolvidas no metabolismo do
tido um papel crucial na libertação de oxigénio para a
H2 em cianobactérias
atmosfera.
Actualmente, as cianobactérias têm uma ampla distri- Nas cianobactérias podem existir três tipos de enzimas
buição geográfica ocupando habitats terrestres, aquáticos directamente envolvidas no metabolismo do hidrogénio:
(água doce e salgada), e ambientes extremos (nascentes (1) um complexo enzimático designado por nitrogenase,
termais e lagos gelados). Apesar de denominadas azuis-ver- que cataliza a redução de N2 a NH4+ com libertação obriga-
des, as cianobactérias apresentam uma variedade de cores tória de H2, (2) uma hidrogenase de assimilação que recicla
que inclui o vermelho, o castanho, o amarelo, até mesmo o H2 libertado pela nitrogenase e (3) uma hidrogenase bi-
o preto, devido às diferentes combinações dos pigmentos direccional e que pode funcionar no sentido da produção
fotossintéticos: clorofila a, carotenóides e ficobiliproteínas. ou do consumo de H2 (Tamagnini et al., 2002; Figura 2).
Estes microrganismos são responsáveis pela coloração das A hidrogenase de assimilação, cuja função é reciclar o H2
nascentes termais em Yellowstone e, presumivelmente, o produzido pela nitrogenase, tem sido encontrada em todas
Mar Vermelho deve o seu nome aos blooms de espécies as cianobactérias fixadoras de N2 estudadas até ao momen-
planctónicas de Trichodesmium. to. A hidrogenase bi-direccional é uma enzima comum a
Todos os representantes deste grupo combinam a capaci- cianobactérias fixadoras e não-fixadoras de N2. Resultados
dade de realizar fotossíntese com libertação de oxigénio obtidos recentemente, demonstraram que, todavia, não é
(semelhante à dos organismos eucarióticos, ex.: plantas) uma enzima universal pelo menos nas estirpes fixadoras de
N2 (ver Tamagnini et al., 2000/2002; Figura 2).
Figura 1 – Imagens de cianobactérias ao microscópio óptico. A - Gloeothece sp. ATCC 27152 - unicelular; B - Lyngbya majuscula CCAP 1446/4 - fila-
mentosa sem diferenciação celular; C – Nostoc punctiforme PCC 73102 - filamentosa com diferenciação celular; v - células vegetativas (fotossintéticas),
h – heterocistos (fixadoras de N2).
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