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VITÓRIA - ES
2020
AYESKA GRIPPA COSTA
JOÃO MARCOS BARROSO
RAFAEL FERNANDES COMARELA PAGOTTO
SARAH DE ARAUJO BOINA
VITÓRIA - ES
2020
1 INTRODUÇÃO
1
Organização Mundial da Saúde. Carta de Ottawa para promoção da saúde: primeira conferência
internacional sobre promoção da saúde, 21 nov. 1986. Ontário - Canadá, 1986. p.1-2. Disponível em:
<https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/carta-de-otawa-pdf1.aspx>. Acesso em 14 Abr. 2020.
intersetorialidade e transdisciplinaridade, isto é, abrangem diversos setores profissionais e
populacionais, assim como, promovem a cooperação e a atividade conjunta desses setores.
A Promoção da Saúde deve ser esclarecida como um processo de construção
histórico-social, considerando o caráter de plasticidade e transformação que ela passou, passa
e passará. Ou seja, não se deve eternizar uma noção do significado de Promoção, já que esta é
subjetiva -teorizada e aplicada de diferentes formas em diversos países-, apesar de
considerarem um mesmo ponto de início, pois, cada local possui suas demandas e suas
limitações. Por exemplo, Rabello2 diz que a Promoção “Para alguns cobre a totalidade dos
serviços sanitários; para outros é sinônimo de prevenção; e ainda há os que a entendem como
um campo de saúde que delimita um novo paradigma.”.
Ao superar a exclusividade do campo médico, a Promoção se envolve também com a
população local, estabelecendo programas como a Estratégia Saúde da Família (ESF) que
“busca promover a qualidade de vida da população brasileira e intervir nos fatores que
colocam a saúde em risco, como falta de atividade física, má alimentação, uso de tabaco,
dentre outros.”3. Esse mesmo programa está conectado à UBS local, facilitando o atendimento
e a interação da população com os profissionais e vice-versa. Dessa forma, é provável que
possíveis problemas de saúde sejam totalmente evitados, anulando a necessidade de
intervenção médica ou hospitalar. Evidencia-se, assim, a valorização da atenção primária
intrínseca às ações em Promoção da Saúde.
Em suma, a Promoção da Saúde engloba aspectos de todas as áreas humanas, entendo
que saúde não é apenas um contraponto à doença, mas sim um estado físico, psíquico, social,
comunitário, trabalhista, geográfico (moradia); e, não somente um estado humano, mas
também um estado reflexo de sistemas e instituições públicas e privadas, que afetam e são
afetadas cotidianamente pelo estado de bem-estar individual, social e econômico de uma
população. Leva-se em consideração aspectos como a desigualdade social, a escolarização, a
diferença de classes, o racismo, o machismo e a LGBTfobia, visto que esses dizem relação
direta ao estado de saúde e de bem-estar das pessoas.
2
RABELLO, L. S. Promoção da Saúde: a construção de um conceito em perspectiva do SUS. Rio de Janeiro:
Editora FIOCRUZ, 2010. 228 p. P.24. ISBN: 978-85-7541-352-4. Disponível em SciELO Books
<http://books.scielo.org>. Acesso em 14 abr. 2020.
3
Ministério da Saúde. Estratégia saúde da família. BRASIL [s.d]. Disponível em:
<https://www.saude.gov.br/acoes-e-programas/saude-da-familia/sobre-o-programa>. Acesso em 14 Abr. 2020.
2.2 A PREVENÇÃO DE DOENÇAS
Ou seja, enquanto as ações em Promoção não visam evitar doenças específicas, mas
sim aumentar a qualidade de vida da sociedade, a Prevenção toma como base um saber
médico especializado -a epidemiologia- para transmitir informações ao público e aos
profissionais de saúde, mirando escapar doenças, através, inclusive, da mudança de hábitos de
uma população.
Por exemplo, neste mês de abril do ano de 2020, a população mundial (com exceção
da Antártida) enfrenta uma crise de saúde causada pelo vírus SARS-CoV-2, mas conhecido
como Coronavírus, responsável pela doença COVID-19, caracterizada, entre outros fatores,
pela sua rápida capacidade de transmissão, inclusive por pessoas assintomáticas; pela falta de
vacina, remédio que controle ou cure a doença. Portanto, os governos estaduais e federais
estão lançando mão de medidas de prevenção, como o isolamento ou distanciamento social
em casos menos graves e a quarentena total em casos muito graves, como os da Itália
(165,155 casos; 21,645 mortes) e da França (147,863 casos; 17,167 mortes)5. Vale ressaltar
que essas ações, no momento, são as únicas disponíveis para o combate do vírus.
Czeresnia6 diz que a diferença entre Promoção e Prevenção é, ao mesmo tempo,
radical e pequena.
Radical porque implica mudanças profundas na forma de articular e utilizar o
conhecimento na formulação e operacionalização das práticas de saúde - e isso só
pode ocorrer verdadeiramente por meio da transformação de concepção de mundo,
conforme problematizado anteriormente. Pequena porque as práticas em promoção,
da mesma forma que as de prevenção, fazem uso do conhecimento científico. Os
projetos de promoção da saúde valem-se igualmente dos conceitos clássicos que
orientam a produção do conhecimento específico em saúde - doença, transmissão e
risco - cuja racionalidade é a mesma do discurso preventivo.
4
O conceito de saúde e a diferença entre promoção e prevenção. Czeresnia, D. 1999. In:____ Czeresnia D,
Freitas CM (org.). Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz,
2003. P. 43-55. P. 49.
5
Dados obtidos através do Worldometers.info. Dover, Delaware, U.S.A. 15 abr. 2020. Disponível em:
<https://www.worldometers.info/coronavirus/>. Acesso em 15 abr. 2020.
6
Czeresnia, D. Op.cit. p.51.
2.3 INTERVENÇÕES
7
DIMENSTEIN, Magda; MACEDO, João Paulo. Formação em Psicologia: requisitos para atuação na atenção
primária e psicossocial. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 32, n. spe, p. 232-245, 2012. Disponível em
<https://doi.org/10.1590/S1414-98932012000500017>. Acesso em 16 Apr. 2020.
8
Ibdem.
9
processo saúde-doença, não exclusão de seu ambiente social, uma vez que a vida social é fator
importante no processo de recuperação.”10
A fim de elucidar melhor a atuação do psicólogo na saúde pública para além das
compreensões teóricas, apresentar-se-á uma prática de intervenção retirada do artigo
Intervenções Psicossociais para a promoção da Saúde do Homem em uma Unidade de Saúde
da Família11.
O artigo em questão traz uma proposta de cuidados da saúde do homem dentro de uma
USF no município de Vitória, ES, em um bairro periférico. A demanda surgiu por
compreender-se que, estatisticamente, homens aderem muito menos aos serviços de atenção
primária, focando sua busca por cuidados de saúde ao que tange aos serviços especializados.
10
CFP (Org.). Como a Psicologia pode contribuir para o avanço do SUS. Brasília, DF, 2011. p.10.
11
SOUZA, Luiz Gustavo Silva et al. Intervenções Psicossociais para Promoção da Saúde do Homem em
Unidade de Saúde da Família. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 35, n. 3, p. 932-945, Sept. 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932015000300932&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em 16 Apr. 2020. https://doi.org/10.1590/1982-3703001562013.
medicina, entre outros) e um professor universitário, também psicólogo, que atuava como
consultor das estratégias utilizadas na intervenção em questão.
12
SOUZA, Luiz Gustavo Silva et al. Intervenções Psicossociais para Promoção da Saúde do Homem em
Unidade de Saúde da Família. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 35, n. 3, p. 932-945, Sept. 2015. p.936.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932015000300932&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em 16 Apr. 2020. https://doi.org/10.1590/1982-3703001562013.
mulher, possibilitando reflexão entre a equipe e os usuários acerca dos papéis de gênero,
violência doméstica e afazeres domésticos.
O artigo expõe que o tema direto do álcool muito raramente era proposto pela equipe
responsável, mas frequentemente surgia nas discussões dos temas trazidos, possibilitando
estratégias para redução de danos através de reflexões acerca do alcoolismo, situações em que
o álcool se faz presente na vida de cada participante, quem é alcoolista e quem não é, entre
outras questões. “Questões desse tipo estão relacionadas a objetivos do paradigma de redução
de danos, descrito anteriormente: levar os sujeitos a refletirem sobre sua relação com a
"droga" e, com isso, refletirem sobre si mesmos e sobre seus projetos de vida.”13.
Face ao exposto, conclui-se que a atuação do psicólogo pode se dar para muito além
da atuação clínica, como exposto nos exemplos práticos supracitados, em que profissionais da
psicologia, em conjunto com outros profissionais que compõem a equipe de assistência à
saúde, atuam tanto na vida particular dos usuários quanto em algumas transformações sociais
possíveis na população em questão, compreendendo que a promoção de saúde e prevenção de
doenças se dá, também, através da promoção de autonomia, reflexão e ambiente de atenção e
escuta para os usuários das unidades básicas de saúde. O exercício ético da profissão do
psicólogo requer, necessariamente, compromisso social, sendo, portanto, a presença deste de
suma importância na atenção à saúde da população.
13
SOUZA, Luiz Gustavo Silva et al. Intervenções Psicossociais para Promoção da Saúde do Homem em
Unidade de Saúde da Família. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 35, n. 3, p. 932-945, Sept. 2015. p.940.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932015000300932&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em 16 Apr. 2020. https://doi.org/10.1590/1982-3703001562013.
14
Ibdem. p.943.
3 A PSICOLOGIA EM MOMENTOS DE PANDEMIA - UMA
CONTRIBUIÇÃO A PARTIR DAS DIRETRIZES DO CFP
15
CFP. Nota Orientativa às(aos) Psicólogas(os): Trabalho Voluntário e Publicidade em Psicologia, diante
do Coronavírus (COVID-19). 21 de mar. de 2020. Disponível em:
<https://site.cfp.org.br/nota-orientativa-asaos-psicologasos-trabalho-voluntario-e-publicidade-em-psicologia-dian
te-do-coronavirus-covid-19/>. Acesso em: 15 de abr. 2020.
16
CFP. Coronavírus: Comunicado à categoria. 14 de mar. de 2020. Disponível em:
<https://site.cfp.org.br/coronavirus-comunicado-a-categoria/>. Acesso em: 15 abr. 2020.
17
Nota Orientativa às(aos) Psicólogas(os): Trabalho Voluntário e Publicidade em Psicologia, diante do
Coronavírus (COVID-19). Brasília - DF. 21 de mar. 2020. Disponível em:
<https://site.cfp.org.br/nota-orientativa-asaos-psicologasos-trabalho-voluntario-e-publicidade-em-psicologia-dian
te-do-coronavirus-covid-19/>. Acesso em 15 abr. 2020.
A psicologia da saúde e psicologia hospitalar por terem um contato direto e um maior
impacto na luta contra a pandemia precisam da atenção redobrada do profissional, com
medidas de segurança ferramentas técnicas no auxílio da prevenção e promoção da Saúde.
Segundo Grincenkov18,
No que diz respeito à atuação da Psicologia Hospitalar e da Saúde temos um grande
desafio junto aos profissionais que compõem as equipes de saúde e se encontram na
linha de frente do enfrentamento da doença. A exposição direta à possibilidade do
contágio, as poucas evidências sobre as melhores condutas a serem adotadas, a
escassez de materiais de proteção, o contato constante com o sofrimento, a dor e a
morte podem predispor estes profissionais ao desenvolvimento de quadros de
ansiedade, depressão, síndrome de Burnout, transtorno de estresse pós traumático,
transtornos psicossomáticos, além de uso de substâncias, como álcool e outras
drogas e uso psicofármacos sem indicação. A Psicologia tem, portanto, um papel
fundamental na prevenção destes quadros e deve, assim, se dedicar ao cuidado a
estes profissionais, disponibilizando plantões psicológicos para orientações acerca
dos cuidados com a saúde mental, além de atendimentos psicológicos virtuais. A
psicoeducação sobre as estratégias a serem usadas na promoção da saúde mental
neste momento é um recurso de suma importância e deve ser priorizada.
18
Grincenkov, Fabiane Rossi dos Santos. A Psicologia Hospitalar e da Saúde no enfrentamento do
coronavírus: necessidade e proposta de atuação. Departamento de Psicologia, Universidade Federal de Juiz de
Fora, Brasil.
REFERÊNCIAS
CFP (Org.). Como a Psicologia pode contribuir para o avanço do SUS. Brasília, DF, 2011.
SOUZA, Luiz Gustavo Silva et al. Intervenções Psicossociais para Promoção da Saúde do
Homem em Unidade de Saúde da Família. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 35, n. 3, p.
932-945, Sept. 2015. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932015000300932&lng=e
n&nrm=iso>. Acesso em 16 Apr. 2020. https://doi.org/10.1590/1982-3703001562013.