Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
EMPREENDEDORISMO
Unidade IV
EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
Ficha Técnica:
Índice
INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 5
ESTRUTURA DA UNIDADE IV .................................................................................... 6
CONTEXTUALIZAÇÃO ................................................................................................. 6
RESULTADOS DE APRENDIZAGEM DA UNIDADE IV ........................................... 7
3
4 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
INTRODUÇÃO
Caro Estudante,
Seja Bem-vindo(a) à unidade IV da disciplina de Empreendedorismo
Para ter sucesso nesta unidade necessita de estudar com atenção todo o manual, não
deixando de rever as unidades anteriores. Para complementar os seus conhecimentos
recomenda-se que realize uma leitura pelos recursos auxiliares recomendados ao longo
desta unidade, não só pela bibliografia indicada como pelos websites sugeridos. Para aceder
a outras bibliotecas faça-se acompanhar do seu cartão de estudante.
A biblioteca virtual do ISM inclui livros digitalizados, artigos, websites e outras referências
importantes para esta e outras disciplinas, que deverá utilizar na realização de casos práticos.
A biblioteca virtual pode ser consultada em biblioteca.ismonitor.ac.mzO aluno pode ainda
recorrer a outras bibliotecas virtuais, como por exemplo em:
www.saber.ac.mz
www.books.google.com
Recomenda-se que o aluno não guarde as suas dúvidas para si e que as apresente ao tutor,
sempre que achar pertinente. Recomenda-se que entre em contacto com o respectivo tutor,
caso ainda não tenha o contacto do mesmo poderá obtê-lo através do site:
www.ismonitor.ac.mz ou através da página facebook: https://www.facebook.com/ismonitor/.
Os exercícios práticos têm como objectivo a consolidação do conhecimento dos temas
apresentados nesta unidade. O Instituto Superior Monitor fornece as soluções de muitos
desses exercícios de forma a facilitar o processo de aprendizagem, mas atenção caro
estudante, você deve resolver os exercícios de auto-avaliação antes de consultar as
soluções fornecidas. No final desta unidade encontra-se o teste de avaliação. A avaliação
deve ser submetida ao Instituto Superior Monitor até 30 (trinta) dias após a recepção da
unidade. A avaliação da unidade pode ser submetida por e-mail (testes@ismonitor.ac.mz) ou
entrega directa na instituição sede ou centros de recursos. É da responsabilidade do aluno
certificar-se da recepção do teste no exacto número de páginas.
Esta unidade pressupõe que a realização de 37,5 horas de aprendizagem, distribuídas da
seguinte forma:
Tempo para leituras da unidade: 22 horas;
Tempo para trabalhos de pesquisa: 5 horas;
Tempo para realização de exercícios práticos: 8,5 horas;
Tempo para realizar avaliações: 2 horas.
A presente unidade é válida por 12 (doze) meses. Os estudantes que não tenham obtido
aproveitamento na disciplina (por terem interrompido o curso ou reprovado) devem
contactar o Instituto Superior Monitor. Esta recomendação deve-se ao facto de os materiais
serem periodicamente revistos e actualizados, de forma a se adaptarem às mudanças do
mundo actual e às dinâmicas da produção de conhecimento no seio da própria disciplina.
5
6 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
ESTRUTURA DA UNIDADE IV
A unidade é composta por três (4) grandes capítulos e visa dotar os estudantes de
conhecimentos indispensáveis para a sua formação empreendedora.
O primeiro capítulo fornece aos estudantes, um conjunto de elementos sobre o
empreendedorismo em Moçambique. Faz-se uma breve perspectiva histórica, dá-se a
conhecer as variáveis que contribuem e que inibem o empreendedorismo em
Moçambique. Apresenta-se as características e a classificação dos empreendedores
moçambicanos e quais os sectores para empreender.
No segundo capítulo, os estudantes tomam conhecimento sobre uma alternativa cada vez
mais utilizada no que respeita ao empreendedorismo - o Franchising. Dá-se a conhecer os
seus tipos, modalidades, vantagens e desvantagens, e faz-se uma comparação entre esta
alternativa e o negócio independente.
O terceiro capítulo incide sobre a sociedade empreendedora. Dá-se a conhecer a visão do
governo sobre o empreendedorismo, a relação entre empreendedorismo e cultura e
discute-se a necessidade e importância da implantação de um sistema de educação voltado
para a formação de empreendedores.
O quarto e último capítulo versa sobre os casos de sucesso em empreendedorismo no
nosso país. Inicia com as principais dificuldades e causas das mortes de empresas recém
criadas para terminar com alguns exemplos de homens que ousaram e tiveram
determinação para lutar pelos seus sonhos.
O enfoque na leccionação teórica e prática dos capítulos que constituem esta unidade
continua a ser no desenvolvimento e aperfeiçoamento de uma capacidade prática dos
estudantes, para a análise e resolução de casos concretos neste domínio.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Grande parte do que foi ensinado nas unidades anteriores versou essencialmente sobre
aspectos que retratam realidades diferentes da de Moçambique. Pretende-se nesta unidade,
retratar o contexto moçambicano e suas características particulares.
A ênfase na realidade actual é importante pois permite que o estudante esteja
minimamente inteirado do que se passa á sua volta no que toca ao empreendedorismo.
Infelizmente e por razões que se prendem com a falta de informações, não foi possível
trazer uma unidade mais rica. Por essa razão, não se deve considerá-la como completa,
profunda e terminada mas, espera-se que a mesma sirva de inspiração e possa suscitar um
debate que se pretende enriquecedor sobre a actividade empreendedora no país.
EMPREENDEDORISMO
7
8 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
1
Para mais detalhes vide Feliciano (1994)
EMPREENDEDORISMO
1. Factores económicos
a) Produto Interno Bruto (PIB)
A evolução do PIB resulta do comportamento passado e influencia o comportamento futuro
dos agentes económicos. O crescimento sustentado do PIB induz à maiores níveis de
investimento e consumo privado, à abertura e alargamento de mercados e, à identificação de
oportunidades de negócio, o decréscimo deste gera redução da procura de bens e serviços,
veda oportunidades de negócios e, por consequência, a diminuição da dinâmica
empreendedora.
Moçambique tem registado nos últimos anos e, apesar da crise financeira internacional, um
desempenho económico satisfatório. O crescimento do PIB tem se situado em média nos 7%.
De 2002 a 2004, o PIB cresceu cerca de 7,4% valor que se situa acima da média da região da
África Austral (4,2%). Grande parte deste crescimento é resultado da actuação dos mega
projectos como a Mozal e o Gás de Pande (Sasol). (Jornal O País)
Este crescimento favorece o crescimento do empreendedorismo através da criação de novas
oportunidades de negócio, como é o caso de serviços de outsorcing nas áreas de limpeza e
alimentação que os referidos mega projectos requisitam. A Vale do Rio Doce e a Riversdale
na província de Tete, a Kenmare no projecto de áreas pesadas de Moma são também
referências muito positivas no que toca ao favorecimento do desenvolvimento do
empreendedorismo pois tem provocado e em grande medida, o surgimento e
desenvolvimento de pequenas e médias empresas que fornecem serviços para elas nas mais
diversas áreas.
b) Taxa de Inflação
Apesar da subida de preços que se verifica nos últimos tempos e que é resultado directo da
crise mundial, a taxa de inflação acumulada de Moçambique no período anterior a crise era
aceitável.
Em Dezembro de 2004 esta taxa situou-se em 9,3 %, valor inferior em 2,1 pontos percentuais
a observada no período homólogo de 2003. Para esta desaceleração contribuíram factores
como o bom desempenho da economia, a estabilidade do metical, a oferta regular de produtos
alimentares e a apreciação do metical face ao rand e ao dólar americano que muito
contribuíram para a estabilidade dos preços dos bens importados.
O mundo inteiro está a braços com uma crise que faz lembrar a de 1929 e 1930. No entanto,
existe um velho ditado que diz que é no meio das crises que surgem as verdadeiras
oportunidades. É preciso estar de olhos bem abertos.
c) Taxas de juro
Taxas de juro baixas proporcionam ao empreendedor maior confiança e tornam o mercado
mais atractivo para o negócio. As taxas activas e passivas em moeda nacional no período
anterior a crise apresentavam uma trajectória decrescente iniciada em 2001. Esta tendência
decrescente constitui, de certo modo, um atractivo para novos investimentos, pois tornam a
estrutura de custos da empresa mais sustentável, embora ainda se considere que as taxas em
vigor sejam proibitivas.
d) Processos administrativos
O relatório “Doing Business” citado pelo jornal Noticias afirma que Moçambique é um dos
piores países para se fazer negócios devido a burocracia e a corrupção existente. Numa lista
9
10 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
de cerca de 155 países, Moçambique ocupou em 2006 o 110º lugar tendo vindo desde então a
melhorar como resultado da reforma do sector público encetada pelo governo. O objectivo é
reduzir a burocracia actualmente existente e tornar a tramitação dos processos mais célere.
A burocracia e a corrupção constituem um grande entrave ao desenvolvimento do país pois
desencorajam a abertura de mais empresas bem como atitudes empreendedoras. Por essa
razão, a redução das barreiras administrativas tem sido um dos pontos mais debatidos
actualmente em Moçambique.
e) Desemprego
As estatísticas relativas ao desemprego são muito poucas existindo uma grande escassez de
dados sobre a matéria. Entretanto, sabe-se que a taxa de desemprego em Moçambique é
muito elevada. Dados de 2005 do Instituto Nacional de Estatística apresentados no jornal
Notícias mostram que a taxa de desemprego era de aproximadamente 18% da população
activa dos quais 18% eram do sexo feminino. Esta situação faz com que muitas pessoas para
conseguirem sobreviver optem pelo auto-emprego.
Embora o desemprego possa estimular o empreendedorismo, o empreendedor deve estar
devidamente preparado para entrar no mercado com sucesso.
f) Incentivos de mercado
Incentivos de mercado são as novas necessidades sociais que o empreendedor pode tentar
satisfazer de novas maneiras. São novas oportunidades que surgem e que desenvolvem o
empreendedorismo. O transporte de passageiros é o caso mais visível destes incentivos. Com
a abertura do sector aos operadores privados, muitos empreendedores aderiram e daí surgiram
os transportes semi colectivos de passageiros vulgo “chapa 100” e os “txopelas”.
2. Factores político-legais
Moçambique atravessa actualmente um período de estabilidade política e tem sido
referenciado como um exemplo de democracia em África. Este facto é muito importante para
a atracção de investimento nacional e estrangeiro.
Outras medidas como reformas no sector público, revisão da lei do trabalho por forma a
torná-la menos humanista e trazendo mais benefícios ao empregadores são apontadas como
aspectos importantes para o desenvolvimento do empreendedorismo no país.
Acontecimentos como a aprovação do novo código comercial, o protocolo comercial da
SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e a introdução de medidas
para aumentar a competitividade das pequenas e médias empresas como o Projecto para o
Desenvolvimento Empresarial (PODE) fazem da situação politico legal em Moçambique
propícia para o desenvolvimento do empreendedorismo.
Entretanto, existem também barreiras à actividade empreendedora no país. Algumas de
natureza económica, outras de cunho sócio-cultural (Aboobakar, 2006):
a) Poupança
A maior parte dos moçambicanos não possui um rendimento que os permita fazer alguma
poupança vivendo abaixo da linha da pobreza. O salário mínimo nacional não consegue
satisfazer as necessidades básicas de um cidadão nem permite ter um cabaz de bens e
serviços aceitável. Esta situação pode comprometer a actividade empreendedora pois muitos
que optam pelo empreendedorismo confiam em recursos próprios ou de familiares
descartando o financiamento bancário visto que as taxas de juro são consideradas proibitivas.
EMPREENDEDORISMO
b) Mercado de capitais
A existência de um mercado de capitais desenvolvido é crucial para o desenvolvimento do
empreendedorismo. O problema que muitos empreendedores encarram no início da sua
actividade é a falta de financiamento pela dificuldade de acesso ao crédito e pelas garantias
exigidas.
c) Aversão ao risco
A aversão ao risco é um aspecto que está presente em qualquer indivíduo; em alguns com
mais intensidade que noutros. Do ponto de vista sócio-cultural, a aversão ao risco, o medo
social do fracasso e a recusa no desenvolvimento de carreiras pessoais independentes, são
aspectos muito marcantes na personalidade de muitos moçambicanos. Este facto constitui um
grande bloqueio ao desenvolvimento do empreendedorismo.
d) Cultura de dependência
A maior parte dos moçambicanos são socializados numa estrutura de valores que considera
inserção no mercado de trabalho de forma assalariada. Desde os primeiros anos de idade, as
crianças vêm seus pais irem trabalhar por conta de outrem como médicos, professores,
empregados domésticos, etc. Deste modo, elas crescem naquela realidade e tem as mesmas
ocupações como referência para o seu futuro.
De modo diferente, as crianças de raça indiana que nascem e vivem em Moçambique vêm
seus pais, familiares e amigos a dirigirem negócios. Eles tem como referencia estes modelos e
em tenra idade já demonstram uma certa queda para seguirem estes passos.
O círculo onde a pessoa cresce é determinante para tornar o indivíduo empreendedor pois
como foi dito na primeira unidade, o empreendedorismo é fenómeno cultural.
e) Estabilidade emocional
Ser empreendedor significa muitas vezes, estar apto a ter um rendimento incerto, trabalhar
muitas horas semanais e abdicar da vida pessoal e social para se dedicar ao negócio. As
algemas de ouro (ter um salário no final do mês e um horário de trabalho fixo) fazem com
que muitas vezes os moçambicanos não apostem no empreendedorismo.
11
12 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
1. Agricultura
A agricultura é a base da segurança alimentar (principalmente nas zonas rurais) e de renda
para grande parte da população moçambicana, sendo considerada como a base para o
desenvolvimento do país.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a agricultura registou em
2007 um crescimento de 8,6% (derivado da produção agrícola, pecuária e silvicultura) com
um volume de negócios na ordem dos 1.908 milhões de meticais, tendo contribuído com
25,9% para o PIB.
Apesar deste importante contributo, o sector continua estruturalmente débil, com fracas infra-
estruturas, baixa produtividade e mercados fragmentados, o que afecta a comercialização dos
excedentes das províncias do norte para as regiões deficitárias do sul que são abastecidas com
maior competitividade a partir da África do Sul.
Com o objectivo de inverter esta situação, o governo tem vindo a implementar um conjunto
de medidas tais como: geração de tecnologias agrárias adaptadas, produção de sementes
melhoradas, intensificação e diversificação da actividade agrária e treino de técnicos locais
especialistas no sector, com resultados já visíveis sobretudo no que toca ao aumento da
produção e da área produtiva.
Entretanto, a dependência em relação ao clima, as dificuldades na obtenção de financiamento
para o sector resultante do facto de a terra ser propriedade do Estado e não poder ser dada
como garantia entre outros constrangimentos fazem com que as perspectivas para o sector
sejam incertas.
Literatura especializada advoga que o desenvolvimento de Moçambique passa
necessariamente pela exploração rentável e sustentável do potencial existente nas zonas
rurais. Por essa mesma razão, o presidente Samora Machel afirmava que o nosso ouro,
petróleo e diamantes estavam no campo. Tudo dependerá da capacidade efectiva de actuação
do empreendedor no terreno.
2. Indústria
Ao sector industrial é atribuído o papel de impulsionador da economia. Este papel deve-se ao
facto de que ligações, externalidades e possibilidades de integração intra e intersectorial
potenciam a economia e sem as quais esta não se pode desenvolver.
Com um peso limitado na economia moçambicana (12% de contribuição no PIB em 2007), o
sector começa a caminhar para uma efectiva consolidação, facto demonstrado pelo crescente
número de investimentos tanto estrangeiro como nacional (INE).
A parcela do sector industrial que mais se desenvolve é sem dúvida a mineira e extractiva,
representado por empresas como Vale do Rio Doce, Riversadale e Mozal. Entretanto, outros
sectores industriais também começam a dar os seus passos tais como as agro-industrias, a
produção de materiais de construção, bens de consumo e de bebidas.
13
14 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
Apesar desta evolução, o sector contínua com fraca produção e relações intersectoriais
desenvolvidas, tecnologia atrasada, falta de fundos financeiros para aquisição da maquinaria
necessária e técnicos especializados, e a ser penalizado pelos altos custos de endividamento e
novo crédito, pela burocracia institucional e pela fraca rede de vias de comunicação e de
transporte.
Entretanto, e fazer jus às palavras do governo, afiguram-se dias melhores para o sector.
3. Serviços
É considerado um dos sectores mais importantes da economia pela sua contribuição no
emprego. De acordo com o Ministério da Industria e Comércio, este sector emprega mais de
60% da população moçambicana.
Nos últimos anos, o sector de serviços cresceu de uma forma muito rápida como resultado da
flexibilidade acrescida, conhecimento e emergência de novos tipos de serviços e o papel
crescente de novas tecnologias de informação e comunicação. Estes factores dinamizam a
quantidade e qualidade dos serviços prestados, o que permitiu ao sector ter em 2007 uma
participação de cerca de 40% no PIB (INE).
O sector de serviços possui um grande número de pequenas e médias empresas, consideradas
o motor de crescimento e desenvolvimento quer em termos de unidades empresariais quer em
termos de unidades empregadoras.
Moçambique é um país com beleza natural imensa e que ainda não está ser explorada no seu
potencial. As belas praias, as reservas naturais, monumentos históricos, paisagens incríveis e
locais que são considerados património histórico da humanidade e que fazem as delícias de
turistas de todo o mundo, são ainda um diamante por lapidar. Daí que uma das áreas que pode
ser investida e de retorno quase certo é o turismo.
QUADRO SINÓPTICO
Crescimento do PIB, estabilidade da taxa
Variáveis favoráveis ao de juros e da inflação, melhoria dos
empreendedorismo em processos administrativos, desemprego,
Moçambique incentivos de mercado e factores político-
legais
Barreiras ao Falta de poupança, mercado de capitais
desenvolvimento do pouco desenvolvido, aversão ao risco,
empreendedorismo em cultura de dependência e estabilidade
Moçambique emocional
Características do Aversão ao risco, limitada capacidade de
empreendedor gestão, falta de conhecimento de
moçambicano habilidades empresariais
Classificação dos Micro empreendedor, médio
empreendedores empreendedor e macro empreendedor
Áreas para investir Agricultura, indústria e serviços
EMPREENDEDORISMO
TRABALHO PRÁTICO
1. A partir de que período histórico se pode falar de empreendedorismo em Moçambique? (se
tiver dúvidas consulte o ponto 1.1).
2. Indique as variáveis que contribuem para o empreendedorismo em Moçambique (se tiver
dúvidas consulte o ponto 1.2)
3. Enumere e explique as características particulares dos empreendedores moçambicanos (se
tiver dúvidas consulte o ponto 1.3)
4. Cite os três níveis dos empreendedores que operam em Moçambique. (se tiver dúvidas
consulte o ponto 1.4)
5. Quais são os sectores nos quais o empreendedor moçambicano pode investir? (se tiver
dúvidas consulte o ponto 1.5)
15
16 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
CAPÍTULO II – O FRANCHISING
1. Franchising de produto e marca (Product and trade mark franchising ou Product and
Trade Name Franchising)
É o conceito mais primitivo do Franchising. Caracteriza-se pela concessão do uso da marca e
fornecimento de produto e/ou serviços. O nível de compromisso é mais simples em relação
aos demais estágios do sistema. Ex: Coca-cola, Pepsi, etc.
17
18 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
4. Quanto à exclusividade
a) Franchising integral: o franqueado é obrigado a comercializar exclusivamente produtos e
serviços próprios da rede de negócios a que o contrato respeita seja ou não fornecidos pelo
próprio franqueador. O franqueado deve apenas comercializar o abrangido pela marca ou
insígnias da cadeia, não podendo extravasá-la.
b) Corner franchising: é o exploração de um ponto de venda de área reduzida (quiosque, mini
loja) integrado num estabelecimento maior com o objectivo de comercializar produtos e/ou
serviços específicos que tenham sinergia, com o negócio principal.
5. Franchising internacional
a) Master franchising: a franqueadora concede a franqueada o direito de vender sua licença
em uma determinada região. À empresa master franchisada é concedido o direito de explorar
num determinado território uma rede de franchising como se ela fosse a própria
franqueadora;
b) Área development franchise: a área de actuação geográfica está definida possibilitando ao
franqueado abrir tanto unidades próprias quanto unidades em parcerias em sua área de
actuação. Os contratos são feitos individualmente pelo franqueador principal. Os franqueados
do franqueado intermediário desenvolvem e multiplicam as suas bases.
c) Área controllership: esta modalidade tem como característica a gestão licenciada a
empresas intermediárias, contratadas com a finalidade de fazer cumprir tais funções. Isto
levará a uma maior eficiência quanto aos objectivos firmados entre o franqueador e o
franqueado.
19
20 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
21
22 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
23
24 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
2. Quanto a localização
a) Franchising: fornece consultoria para a escolha do local e arranjo físico da empresa;
b) Negócio independente: há necessidade de contratação de consultoria externa caso o
empreendedor seja inexperiente;
3. Quanto ao mercado
a) Franchising: fornece consultoria para pesquisa e conhecimento do mercado específico nos
seguintes termos: área de actuação do produto ou serviço, publico potencial, concorrentes,
fornecedores, preços e comercialização, propaganda, publicidade, promoções e planeamento
de marketing;
b) Negócio independente: caso o empreendedor seja inexperiente, haverá uma necessidade de
uma consultoria externa para a realização de pesquisas e estudos de mercado;
QUADRO SINÓPTICO
Sistema de venda de licença onde o
franqueador (detentor da marca) cede ao
franqueado (autorizado a explorar a marca) o
Franchising direito de uso da sua marca ou patente, infra-
estrutura, know-how e direito de distribuição
exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou
serviços
Franchising de produto e marca e franchising
Tipos de franchising
de negócio formatado
Apoio de mercado, sistema de compras
cooperadas, baixa mortalidade de empresas,
preços competitivos, garantia de retorno em
Vantagens do franchising
menor tempo, protecção geográfica do
mercado, reconhecimento público,
transferência de know-how
Pouca liberdade, restrição a uma única marca,
Desvantagens do risco de ocorrência de falhas no sistema,
franchising taxas a serem pagas pelo franqueado,
localização forçada, saturação do mercado
Taxas pagas pelos
Taxa inicial, royalties, taxa de publicidade,
franqueados em
outras
Moçambique
25
26 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
TRABALHO PRÁTICO
1. Defina franchising e refira-se aos seus diferentes tipos (se tiver dúvidas consulte o ponto
2.3 e 2.4).
2-Enumere as modalidades de franchising que conhece (se tiver dúvidas consulte o ponto
2.4)
3. Disserte sobre as vantagens e desvantagens do franchising. (se tiver dúvidas consulte o
ponto 2.5.)
4. Indique as taxas que os operadores em franchising em Moçambique têm de pagar. (se tiver
dúvidas consulte o ponto 2.6.2)
5. Na sua opinião, qual é a melhor alternativa: abrir um negócio independente ou em sistema
de franchising (se tiver dúvidas consulte o ponto 2.6.3.)
EMPREENDEDORISMO
3.1 INTRODUÇÃO
O tema “Empreendedorismo” tem despertado nos últimos anos, o interesse de diversos
grupos da sociedade. Considerado um dos mais novos paradigmas das ciências
administrativas, muito desse interesse é resultado do entendimento de que pequenas e médias
empresas sob a direcção de empreendedores, contribuem significativamente para a geração de
empregos e desenvolvimento económico.
Tal percepção, partilhada por economistas, políticos e uma parcela cada vez mais crescente
da sociedade é, na verdade, a razão pela qual se busca promover a actividade empreendedora,
em reconhecimento às evidências da sua contribuição para o crescimento económico e seus
subsequentes efeitos no campo social.
Estudos recentes comprovam que novas organizações produzem postos de trabalho e riqueza
numa proporção bem superior à de organizações já estabelecidas. A rede de inter-relações
que a actividade empreendedora cria na dinâmica de crescimento é uma das consequências
mais importantes porém nem sempre visíveis.
Da acção do empreendedor, constantemente inovando e transformando, surgiu o
empreendedorismo como uma verdadeira revolução social que altera a percepção e as
atitudes em relação às forma tradicionais de emprego e dos meios disponíveis para a geração
de renda e a auto-sustentento.
Por estas razões e pela importância do empreendedorismo no desenvolvimento económico e
social, verifica-se actualmente, a necessidade de se construir uma sociedade empreendedora.
De acordo com Drucker (1987:349) “a inovação e o espírito empreendedor são portanto
necessários na sociedade tanto quanto na economia; na instituição pública tanto quanto em
empresas privadas. E precisamente porque a inovação e o empreendimento não constituem
algo radical, mas um passo de cada vez, um produto aqui, uma directriz lá, um serviço
público acolá; são enfocados nesta oportunidade e naquela necessidade; o empreendimento
é pragmático e não dogmático, e se propõe manter qualquer sociedade, economia, industria,
serviços públicos, ou empresas, flexíveis e auto-renovadoras. O espírito empreendedor e a
inovação realizam o eu Jefferson esperava realizar por meio de uma revolução em cada
geração, e eles fazem isso sem derramamento de sangue, guerra civil, ou campos de
27
28 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
estrada, esta deve ser feita com sentido empreendedor e não apenas para fornecer um bem
público.
Para sustentar a sua opinião, o economista afirma que “as decisões que são tomadas pelo
Estado, do ponto de vista político, tem que estar ligadas com visão específica e concreta de
desenvolvimento no seu todo, e, não decisões que são tomadas com base em ideias como
combater a pobreza absoluta em si, por que essas são coisas muito vagas, muito gerais, que
não dão um foco concreto de organização da actividade económica e social dentro da acção
pública”(In Noticias).
Branco, acérrimo opositor a um desenvolvimento do país com base em grandes empresas
como a Mozal, apelou para um investimento de base alargada "uma base que cobre o país
interagindo e articulando diferentes áreas, entre grandes, pequenas e médias empresas".
Um dos responsáveis seniores do Millennium bim, organizador do evento, o economista
Mário Machungo, disse que a escolha do tema pobreza para o debate impunha-se pelo facto
de se tratar de um assunto de actualidade e que preocupa os moçambicanos. "É um tema que
merece ter uma abordagem mais reflectida com enfoque mais técnico e científico", assinalou
Machungo, antigo primeiro-ministro no executivo de Samora Machel.
Machungo esclareceu que a pobreza deve ser vista como um processo que se transforma.
"Uma pessoa é pobre hoje e, amanhã com outros aspectos de desenvolvimento pode ter uma
outra pobreza", anotou Machungo concluindo que o tema exigia maior envolvimento e maior
sentido de responsabilidade no pensamento dos problemas e na forma para a sua resolução.
O apelo a iniciativas empreendedoras não se limita apenas ao governo. O sector privado, as
instituições de ensino tem nos últimos anos feito um grande esforço no sentido de despertar e
valorizar os empreendedores que o país possui. Através de feiras de empreendedorismo,
conferências e outras actividades, procura-se promover e fomentar uma sociedade e cultura
empreendedora.
Uma das iniciativas notáveis do sector privado na promoção do empreendedorismo é o
“Prémio Empreendedor do Ano” criado em 2007 pela Ernst & Young o qual durante a sua
trajectória já homenageou vários homens e mulheres que vencendo dificuldades, muitas
frustrações e um ambiente de incertezas, tiveram a coragem de transformar os seus sonhos
em empreendimentos bem sucedidos.
Ao valorizar e dar projecção aos empreendedores que se destacam no país, o prémio aponta
exemplos a serem seguidos, modelos que inspiram e estimulam outras iniciativas.
29
30 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
pessoas que não nasciam com o dom empreendedor eram desaconselhadas a procurarem abrir
um empreendimento (Dornelas, 2001).
Entretanto, resultados de pesquisas e estudos efectuados revelam outra realidade pois de
acordo com Dornelas (2001:38) “cada vez mais acredita-se que o processo empreendedor
pode ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma
gama de factores internos e externos ao negócio, do perfil empreendedor e de como ele
administra as adversidades que encontra no dia-a-dia.”
Para Salim citado por Cohen (2001), é um equívoco acreditar que empreendedorismo não se
ensina. É o mesmo que dizer que pintar é uma questão de jeito. Alguns têm mais inclinação, é
claro. Mas outros também podem conseguir fazê-lo se esforçarem-se. Adicionalmente, sabe-
se que a cultura empreendedora pode ser desenvolvida a partir de acções e políticas
específicas para este fim. Saini (2001) menciona que uma das questões básicas do
desenvolvimento económico se refere à promoção do espírito empreendedor na sociedade.
O sistema de ensino no país vem tradicionalmente preparando o estudante para ser
empregado. Ele foi concebido para transformar indivíduos em bons e fiéis empregados pois
os conhecimentos e habilidades são ministrados para construir pessoas que, depois de
formadas, só poderão ter sucesso se estiverem ligadas a um emprego. Com a redução do
quadro de pessoal nas grandes empresas devido a novas reestruturações, privatizações, fusões
e também melhor uso das ferramentas administrativas que provocam um aumento do
desemprego, a concepção da educação de preparar pessoas para trabalharem num local
estabelecido onde alguém as guiará e lhes dirá o que fazer, precisa ser revista.
“Em uma economia movida pelas grandes empresas e pelo Estado, nada mais natural que
formar empregados. No entanto, este modelo, dirigido à criação de empregados para
grandes empresas, cumpriu a sua missão. Esgotou-se diante das profundas alterações nas
relações de trabalho e na produção. Ao ter seu eixo deslocado para pequenos negócios e o
auto-emprego, as sociedades se vêem induzidas a formar empregadores, pessoas com uma
nova atitude diante do trabalho e com uma nova visão do mundo.” (Dolabela, 1999:33)
Recentemente, a Sra. Abiba Tamele, Directora do Instituto Nacional de Emprego e Formação
Profissional de Moçambique (INEFP), veio a público afirmar que a estratégia de emprego e
formação profissional de Moçambique está a falhar. O problema afecta a milhões de
moçambicanos. Os jovens formam-se nas escolas técnicoprofissionais e não encontram
postos de trabalho, não têm facilidades de acesso ao crédito para iniciar uma actividade
económica, e geram-se casos de criminalidade e outros males sociais.
A falta de dados estatísticos fiáveis sobre o emprego não permitem uma boa análise desta
situação em Moçambique mas de acordo com o INEFP, pode-se afirmar categoricamente que
mais de 50 % dos jovens Moçambicanos não têm um emprego formal, percentagem essa que
vem aumentando nos últimos anos. Uma das causas para este cenário assustador é a
“síndrome do empregado” que o sistema educacional vem impregnando nos jovens que
infelizmente, ainda não estão preparados para se inserir profissionalmente no mercado de
forma autónoma e empreendedora. O estudante precisa compreender que o emprego é
importante mas não é o único meio de aplicar os conhecimentos e habilidades adquiridos.
O sistema de ensino precisa mudar o seu enfoque, precisa forjar atitudes empreendedoras nos
estudantes. É preciso valorizar mais o indivíduo que gera o seu próprio sustento sem ter um
patrão, é necessário começar a desenvolver pessoas dotadas de visão de futuro, perseverantes
31
32 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
e preparadas para os processos de sonhar, planear e construir seu próprio caminho (Bolson,
s.d.).
Nesta linha de pensamento, o falecido presidente Samora Machel afirmava que a educação:
“devia desenvolver nos alunos atitudes e práticas coerentes e necessárias para o
desenvolvimento de um Moçambique unitário, coeso, próspero, politica e economicamente
independente, solidário com a luta dos povos africanos e de todo o mundo. Devia formar o
homem moçambicano através da conscientização do poder transformador da sua inteligência
e do seu trabalho, libertando-o do fatalismo e resignação incutidos pela educação
tradicional e colonial. Por isso, a escola devia desenvolver nos alunos uma atitude científica,
aberta e crítica, que superasse qualquer tipo de dogmatismo. Esta era uma condição
fundamental para se implantar no país uma economia próspera e avançada” (Buendia,
2001:86).
A educação tradicional referida por Samora Machel, a que vigora em Moçambique, está
completamente desajustada da realidade do século 21. Ao dar ênfase na aquisição de
conhecimentos e pouco enfoque ao desenvolvimento de habilidades especificas para o uso
práticos desses conhecimentos, as instituições de ensino estão a lançar para o mercado
técnicos que não sabem que caminho seguir visto que nem sempre o estudante sai da
universidade com emprego garantido. É responsabilidade da escola formar um cidadão para o
mercado de trabalho ou com capacidade para criar o seu próprio emprego. Para isso deve-se
apostar na pedagogia empreendedora.
Para Dolabela (1999) a educação tradicional aprisiona, impõe limites, preserva poderes,
exclui, enquanto que a pedagogia empreendedora liberta, pois esta, diferentemente daquela,
não priva os jovens do conhecimento e dos sonhos. O autor acredita que o empreendedor
precisa primeiro sonhar para em seguida realizar e que países subdesenvolvidos ou em
desenvolvimento não podem subsistir sem uma considerável população de empreendedores,
dispostos a correr riscos, implantar novos negócios, adoptar novas tecnologias e competir,
gerando empregos e crescimento em suas comunidades.
Os primeiros esforços para a introdução da educação em empreendedorismo no sistema
escolar americano e britânica datam do fim dos anos 1970 e início dos anos 1980 (Lundstrom
& Stevenson, 2002). Desde a década de 1990, os governos destes dois países e várias outras
nações têm também seguido este caminho através da implementação de programas
semelhantes no ensino básico e médio. Na Dinamarca, o Ministério da Educação lançou um
programa com a intenção de oferecer a 30% – 40% dos jovens, formação em relação ao
empreendedorismo desde o nível básico ao universitário. Os resultados indicam que após o
programa, os estudantes se mostram mais interessados em se prepararem para terem um
negócio próprio ou mesmo em trabalhar em uma pequena empresa.
De acordo com Lundstron & Stevenson (2002) programas desta natureza atendem a pelo
menos duas necessidades: (a) o fortalecimento da cultura empreendedora; e (b) a preparação
dos jovens para as transformações no mercado de trabalho.
Dolabela (1999) apresenta outros motivos que justificam a disseminação da cultura
empreendedora através do sistema de ensino:
Fortalecer valores relacionados à ética e cidadania, factores intrinsecamente ligados ao
empreendedorismo;
Aumentar a percepção quanto à importância das pequenas e médias empresas para o
desenvolvimento económico;
Reduzir as possibilidades de fracasso entre as empresas nascentes;
EMPREENDEDORISMO
33
34 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
QUADRO SINÓPTICO
Os empreendedores produzem riqueza, criam
novos postos de trabalho, aumentam receitas
Visão do governo para o Estado e promovem Moçambique como
um destino privilegiado para os investimentos
de todos os quadrantes do mundo
As decisões que são tomadas pelo Estado, do
Estado ponto de vista político, têm que estar ligadas
empreendedor com visão específica e concreta de
desenvolvimento no seu todo
O empreendedorismo é um factor cultural, ou
Empreendedorismo
seja, é o fruto dos hábitos, práticas e valores das
e cultura
pessoas.
Metodologia de ensino que tem como objectivo
Pedagogia
estimular os alunos e prepará-los para sonhar e
empreendedora
buscar a sua realização.
EMPREENDEDORISMO
TRABALHO PRÁTICO
1. Por quê se diz que o empreendedorismo é um fenómeno cultural? (se tiver dúvidas
consulte o ponto 3.3).
3. Diga, em termos gerais, qual a visão do governo sobre o empreendedorismo? (se tiver
dúvidas consulte o ponto 3.2)
4. O que significa “o Estado deve ser empreendedor” (se tiver dúvidas consulte o
ponto 3.2)
35
36 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
4.1 INTRODUÇÃO
O potencial empreendedor dos moçambicanos é enorme. Temos visto casos de vendedores
ambulantes, salões de cabeleireiro, barbearias, pequenas lojas de venda de roupa que são
abertos em garagens de prédios, tabacarias, “indústrias” caseiras de confecção de doces e
salgados, o comércio informal sustentado em grande parte pelo “mukhero”2 e muitas outras
actividades que mostram a garra e a criatividade do moçambicano. Pena que só apareça nos
momentos de necessidade.
A maior parte dos empresários moçambicanos não entra no mundo dos negócios porque
detectou uma oportunidade, mas porque foi forçado. A perda do emprego e as dificuldades
em encontrar um, fazem com que cada dia que passa, mais e mais pessoas optem pelo auto
emprego como forma de ganharem o pão e puderem sustentar a sua família. Há casos de
sucesso (embora muitos não sejam divulgados) mas há também casos de fracassos e que
infelizmente abundam na sociedade. Embora não se possa afirmar categoricamente quais aos
principais motivos para os fracassos uma vez que não há estudos realizados sobre a matéria,
algumas razões são visíveis e facilmente detectáveis.
2
Expressão usada para designar o comércio transfronteiro na fronteira com a África do Sul
EMPREENDEDORISMO
Desconhecimento do mercado;
Concorrência mais ágil e com preços melhores;
Desconhecimento técnico;
Falta de dinheiro;
Saque de dinheiro para despesas pessoais;
Descontrolos contabilísticos e administrativos;
Dívidas insustentáveis;
Falta de experiência;
Ausência de planeamento; e
Incompetência na gestão.
A verdade é que o empreendedorismo no nosso país convive com a falência d e muitas
organizações em decorrência dos baixos níveis de educação e ao desconhecimento de
ferramentas de gestão. A maior parte dos “empreendedores forçados” não recebeu na escola
nem em nenhum outro lugar qualquer formação em gestão de empreendimentos. Entretanto,
nem tudo são desgraças, há casos de sucesso que vale a pena aqui apresentar.
3
In Notícias 29/04/2011
37
38 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
milho, arroz e amendoim, para além da criação de animais, nomeadamente, suínos, caprinos e
galinhas.
Neste momento não precisa do dinheiro do Fundo de Desenvolvimento Distrital porque desde
2005 vem acumulando reservas financeiras resultantes da comercialização dos seus
excedentes. “Agora não, quando precisar hei-de pedir esse dinheiro. Estou a trabalhar com
recursos próprios” disse Roberto Munhemese, para quem a área de cultivo foi sendo
gradualmente aumentada em função dos recursos disponíveis.
Na última campanha agrícola obteve rendimentos de uma tonelada de arroz e outra de milho.
Depois de comercializados na Maganja da Costa, Mocuba e Quelimane foi possível ganhar
dinheiro para comprar uma viatura, duas motorizadas e construir uma casa melhorada na vila-
sede distrital.
Resolver todos esses problemas e ver seus filhos a estudar em diferentes níveis de ensino sem
muitas dificuldades é o que mais lhe anima. Conta que ele e a sua esposa muitas vezes
desaparecem da vila da Maganja para irem ao campo, localizado a 10 quilómetros. Com os
seus cinco trabalhadores que ganham por mês 800 meticais, mais outros sete sazonais que
ganham 600 meticais, deitam mãos ao trabalho na perspectiva de alargar mais a área de
produção e aumentar os seus rendimentos.
De segunda a sábado praticamente a vida está na sua machamba. Na vila só vai aos fins-de-
semana para arrumar a casa, velar pela educação dos filhos e cumprir deveres religiosos, para
além de visitar familiares.
A sua esposa é a melhor companheira de todos tempos. “É preciso sempre dialogar com a
parceira sobre a vida e novos projectos”, disse Roberto Munhemese, para depois acrescentar
que sempre que olha para trás vê um mundo repleto de coisas boas que durante vários anos
construiu com a sua esposa.
Roberto Munhemese apela aos jovens a seguir o seu exemplo uma vez que o emprego formal
está difícil. Segundo suas palavras, o recurso terra é a nova indústria que pode dar comida e
dinheiro para resolver vários problemas sociais, ao invés de ficar todo o tempo a lamentar.
Afirma que começar uma actividade é difícil, mas não impossível, bastando para isso ser
perspicaz no alcance dos objectivos pretendidos.
No futuro, a sua aposta é criar gado bovino não só para comercializar a carne, como também
para a tracção animal de forma a aumentar a área de cultivo.
4
In A verdade 18.02.2011
EMPREENDEDORISMO
Algum tempo depois, abraçou a arte de pedreiro, primeiro como ajudante e posteriormente
como executante principal até o dia em que o avô solicitou uma ajuda da sua parte para cortar
relva. No fim, ganhou 50 meticais.
“Logo percebi que tinha vocação para jardineiro. Além do mais, o dinheiro que ganhei
parecia muito mais que o trabalho feito. Assim, decidi abraçar a actividade de cortar relva”,
conta.
Arrastado pela avidez do lucro, Manguele procurou levar a peito a actividade e arranjou uma
pequena chapa metálica de onde improvisou um instrumento corta-relvas, que foi usando em
diversas casas da Matola. Com os seus próprios meios ia atrás dos clientes e dava-lhes a
conhecer sobre os serviços. “Com os 100 meticais que ganhava, conseguia alimentar a minha
família e os meus caprichos”, comenta.
Volvidos quatro anos a trabalhar com o corta-relva improvisado, comprou outro instrumento
que custou 50 meticais. Assim, convidou o primo Constantino para trabalharem juntos e a
renda diária subiu para os 200 meticais, dos quais separava 100 para pagar ao ajudante e fazer
poupanças com vista a adquirir mais ferramentas de trabalho.
“Com a remuneração diária, passei a guardar 50 meticais. Em 2009 adquiri uma máquina
corta-relvas numa das lojas de Maputo por 15 mil meticais que paguei de uma só vez”, conta
para depois acrescentar: “com a nova máquina chamei dois jovens para trabalharem comigo.
Cada um tinha direito a 75 meticais por dia que eram pagos as sextas-feiras”.
O jovem jardineiro sublinha que uma das coisas que o encorajou a seguir a jardinagem foi um
convite para fazer um jardim na zona VIP do bairro Belo Horizonte. “O patrão gostou
bastante do meu trabalho e deu-me dez mil meticais. Foi uma grande sorte para mim”,
lembra.
Sem se levar deixar pelos caprichos deste mundo, Manguele pegou os 10 mil meticais e
depositou num banco, com o fito de alcançar os 18 mil meticais, preço de um corta-relvas
movido a gasolina. Hoje conta com duas máquinas a gasolina e reforçou a equipa com mais
dois jovens. Com os trabalhadores, gasta 2 mil meticais por semana incluindo o almoço
diário.
Manguele tem uma família. “Tenho uma mulher e um filho, sob minha responsabilidade.
Apesar de vivermos em casa dos meus pais, consigo sustentá-los e para o ano pretendo
habitar na minha própria casa.”
Sempre optimista, diz que a compra dos instrumentos de trabalho não pára por aqui. “Agora
estou a juntar dinheiro para comprar uma máquina que custa 30 mil meticais”. Esta é
segundo ele, a mais potente em relação às outras. Tendo em conta que a pequena empresa
está a crescer, uma das suas metas passa por formalizá-la, criar um escritório e garantir um
espaço fixo para facilitar os seus clientes.
De sonho para sonho, o jovem diz que gostaria de comprar um carro para facilitar as
deslocações. “Não é fácil andar de chapa ou a pé com máquinas pesadas e outros
instrumentos de trabalho. Por isso um carro é necessário.”
Diz-se que Deus não da tudo aos seus filhos e no caso de Manguele, o ditado assenta-lhe que
nem uma luva. É que, se por um lado o jovem se apresenta como um bom empreendedor e o
exemplo de um gestor por lapidar, o seu sucesso escolar não passa de uma miragem.
39
40 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
Esforça-se por estudar, mas nunca consegue bons resultados, pelo que a vaga de fracassos,
aliada à falta de meio já o levaram a desistir da escola e a ocupar-se em pequenos trabalhos
com ganhos imediatos. Já esteve na vizinha África do Sul, mas logo voltou as raízes.
Porque a desistência é a alternativa dos fracos e a persistência a opção dos fortes, há poucos
anos o jovem voltou aos bancos da escola. Hoje com 25 anos de idade frequenta a sétima
classe no bairro Infulene. “Não estudo para ter um bom emprego, mas para aprender as boas
maneiras com os meus clientes que são de classe alta”, disse.
No fim-de-semana quando as pessoas estão em casa, o trabalho fica mais puxado. Os clientes
querem ver seus jardins caprichados. Graças ao seu emprenho, já foi contactado para prestar
serviços em várias instituições. Neste momento trabalha para duas bombas de combustível da
Matola, onde ganha 1000 meticais numa delas e 1500 noutra por mês.
Roberto Munhemese e Armando Manguele são dois exemplos claros de empreendedorismo.
Indivíduos que partiram do nada, que diante das adversidades da vida não se deixaram abater
e seguiram em frente, em direcção aos seus sonhos, enfrentando situações que a muitos
desanimariam. Com a sua força de vontade hoje proporcionam emprego aos seus
compatriotas e ajudam no desenvolvimento deste grande Moçambique. O país precisa de 20
milhões de indivíduos como estes.
EMPREENDEDORISMO
BIBLIOGRAFIA
ABOOBAKAR, Sadamo (2006). Empreendedorismo: será o franchising uma solução.
Trabalho de Licenciatura em Gestão. Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de
Economia. Maputo;
BOLSON, Eder (s.d). Educação empreendedora. Disponivel em www.tchaupatrao.com.br.
Acesso em 28/04/2011;
BUENDIA, Miguel (2001). Samora Machel e a educação. In: Samora Homem do povo.
Maguezo editores;
COHEN, D. (2001). E isso se ensina?. São Paulo: Editora Abril;
DOLABELA, Fernando (1999). O segredo de Luísa: uma ideia, uma paixão e um plano de
negócios: como nasce o empreendedor e se cria uma empresa de sucesso. São Paulo:
Cultura;
DOLABELA, Fernando (2003). Pedagogia empreendedora. São Paulo: Cultura;
DORNELAS; J. (2001). Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. Rio de
Janeiro: Campus;
DRUCKER, P. (1985). Innovation and entrepreneurship. New York: Harper & Row;
FAFETINE, Tânia (2009). Empreendedorismo: a transformação de ideias em planos de
negócios. Trabalho de Licenciatura em Gestão, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade
de Economia. Maputo;
FELICIANO, J. (1994). Empresários e memória social: Percursos em Moçambique de 1983ª
1993.Lisboa: ISTEC;
HYNES, B. (2005). Entrepreneurship education and training – introducing entrepreneurship
into non-business disciplines. Journal of European Industrial Training.
PAMPLONA, C. (1999). A engenharia do Franchising. Rio de Janeiro: Qualitymark editora;
SAINI, J. (2001). Economic Development and Entrepreneurship. Jaipur: Rawat Publications;
STEVENSON; L. & Lundstrom, A. (2001). Patterns and trends in entrepreneurship. SME
Policy and Practice in Ten Economies. Stockholm: Swedish Foundation for Small Business
Research;
STEVENSON; L. & Lundstrom, A. (2002). On road to entrepreneurship policy Stockholm:
Swedish Foundation for Small Business Research;
VALADA, Rui (1995). O que é o franchising. Rio de Janeiro: Editoria CETOP;
Jornal Notícias de 25 de Maio de 2011
Manual do Instituto Nacional de Estatística.
Referências on-line:
www.tchaupatrao.com.br
http://www.sommaonline.com.br/blog/direcional-escolas
41
42 UNIDADE IV – EMPREENDEDORISMO EM MOÇAMBIQUE
www.educacional.com.br/reportagens/educacaoempreendedorismo/default.asp
http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1361