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FIO DA HISTÓRIA

Os últimos dias da varíola

No laboratório produtor da vacina antivariólica, na década de 50, os técnicos colhiam material de bovinos para preparar o imunizante

á 25 anos, mais precisa- muito provavelmente mais que qual- Em 1965, a OMS se reorganizou e lan-

H mente em 8 de maio de quer outra causa, como guerras, aci- çou nova campanha em 1967.
1980, a Organização Mun- dentes etc). Havia dois tipos de varíola: a varí-
dial de Saúde declarava A varíola foi extinta graças a uma ola major, tipo mais radical da doença
erradicada uma das piores, série de programas, medidas e ações com 30% de letalidade; e a varíola
mais cruéis e catastróficas moléstias combinadas empreendidas, após 1967, minor, também conhecida como alas-
já existentes. Tratava-se da varíola, do- pela OMS em diversos países e regi- trim, tipo mais brando, com menos de
ença infecto-contagiosa exclusiva do ões do planeta. No Brasil, coube à Fio- 1% de letalidade. No Brasil, desde a
homem, causada por um vírus chama- cruz o papel fundamental no enfrenta- década de 30 a varíola major não atin-
do Orthopoxvirus variolae. Para que se mento da doença. Ao receber uma gia mais a população. Para o epidemi-
tenha uma idéia de sua magnitude, série de materiais novos, epidemiolo- ologista Eduardo Costa, o desapareci-
só durante os 80 anos em que esteve gistas (como Eduardo Costa), virologis- mento da major se devia à prática de
ativa, no século passado, a varíola tas (como Hermann Schatzmayr, am- imunização (ainda à maneira jenneri-
matou mais de 300 milhões de indiví- bos ainda hoje na Fundação) e outros ana) constante, a contenção e vacina-
duos. Esse número é bem superior ao estudiosos foram capazes não só de ção imediatas em locais de surto de
de outras moléstias, como a tubercu- eliminar a varíola do território nacio- casos graves e à menor importância
lose, a hanseníase, a gripe espanho- nal, como a ajudar outros países, so- que se dava ao alastrim.
la, a peste e até mesmo a Aids. Nem bretudo na África e na Ásia, a tam- Apesar do desaparecimento da
mesmo a soma do número de mortos bém se livrar de um dos maiores pesa- varíola major, a imunização no Brasil
de todas as guerras (inclusive as mun- delos da história. era bem deficiente até a campanha de
diais), superaria o de vítimas da varío- Na verdade, a primeira campanha erradicação da OMS. Segundo Costa,
la. Trata-se, portanto, certamente da de erradicação da varíola pela OMS isso ocorria porque a vacina só manti-
doença infecciosa que mais causou começou em 1959. A empreitada não nha-se ativa em temperaturas baixas,
mortes na história da Humanidade (e foi bem-sucedida por falta de vacinas. fato que obrigava o uso de geladeiras,

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o que era difícil nos anos 50 e 60. “Ima- “Os últimos 19 casos aconteceram
gine ter que transportar a vacina para aqui no Rio de Janeiro, na Vila Cru-
os cantões deste país, nas regiões Nor- zeiro, bairro da Penha, em abril de O que era a varíola
te, Nordeste e Centro-Oeste”, lembra 1971”, recorda-se Schatzmayr. Seu la-
A varíola era uma doença in-
Costa. Além disso, a aplicação da va- boratório de diagnóstico continuou a
fecciosa grave e exclusiva do ho-
cina ainda era um pouco complicada: funcionar até 1977 e analisou ainda
mem. A transmissão ocorria de
“com uma agulha, contendo a vacina algumas amostras suspeitas entre os
pessoa para pessoa por meio das
na ponta, arranhávamos levemente o anos de 1974 e 1975, mas a doença
vias respiratórias. Uma vez den-
ombro do indivíduo a ser imunizado. já não mais existia. Também, segun-
tro do organismo, o vírus da varí-
Esse processo denominava-se multi- do Costa, o episódio da varíola serviu
ola permanecia incubado de sete
pressão”, completa. para inspirar outras campanhas de imu-
a 17 dias. A seguir, ele se esta-
A revolução contra a varíola co- nização, como a que eliminou a poli-
belecia na garganta e nas fossas
meçou graças a duas invenções. Pri- omielite do Brasil.
nasais e causava febre alta, mal-
meiramente, a descoberta, por parte Vários pesquisadores da Fiocruz
estar, dor de cabeça, dor nas cos-
de cientistas da antiga União Soviéti- foram então convocados para ajudar a
tas e abatimento. Este estado per-
ca, de um processo de liofilização da OMS em outras frentes pelo mundo,
manecia de dois a cinco dias.
vacina, ou seja, da secagem e drena- na Índia, Somália e Etiópia. A produ-
Finalmente, a enfermidade
gem do imunizante, o que possibilita- ção de vacinas contra a varíola supe-
assumia sua forma mais violen-
va o seu transporte sem a necessida- rou as 250 milhões de doses e a Fio-
ta: a febre baixava e começavam
de dos refrigeradores. “Bastava diluir cruz passou a exportá-la para outros
a aparecer erupções avermelha-
a vacina liofilizada, e aplicá-la na países. “E em geral, nossos imunizan-
das, que se manifestavam na
hora”, recorda Costa. A segunda in- tes eram considerados superiores aos
garganta, boca, rosto e depois se
venção foi o advento da agulha bifur- estrangeiros”, afirma Schatzmayr.
espalhavam pelo corpo. Isso ocor-
cada, em forma de um pequeno gar- Em 26 de outubro de 1977 regis-
re, porque o O. variolae parasita
fo (com duas pontas, em vez de uma, trou-se na Somália o último caso de
as células do tecido epitelial para
como as agulhas anteriores). “Por pres- varíola transmitida naturalmente. Isso
se reproduzir. Com o tempo, as
são hidrostática, uma pequenina gota porque em 11 de agosto de 1978 mais
erupções evoluíam e se transfor-
ficava na agulha, facilitando sua apli- um caso seria registrado, curiosamen-
mavam em pústulas (pequenas
cação”, diz Costa. te em Londres – na Europa a varíola já
bolhas cheias de pus), que pro-
Em 1967, seguindo a determina- se encontrava erradicada há décadas.
vocavam coceira intensa e dor –
ção da OMS, a Fiocruz começou a pre- Uma fotógrafa que trabalhava no mes-
era nesse estágio que o risco de
parar-se para a erradicação da varíola. mo corredor onde se manipulava o ví-
cegueira era maior, pois, ao to-
Em um primeiro momento, organizou- rus da varíola veio a contrair a doença
car o olho, o enfermo podia cau-
se em três frentes de trabalho: a pri- através de tubos de ventilação e mor-
sar uma inflamação grave.
meira, responsável pelo diagnóstico em reu. Este fato levou a OMS a solicitar a
Não existia tratamento efeti-
laboratório dos casos suspeitos; a se- todos os laboratórios do mundo que des-
vo contra a varíola. O máximo
gunda, formada por epidemiologistas, truíssem as amostras de varíola que
que se podia fazer era tentar
que investigavam surtos, ocorrências e ainda tinham. Em 1983, nenhum la-
amenizar ao máximo a coceira e
a distribuição da doença; a terceira, boratório do mundo tinha vírus de varí-
a dor causadas pela doença e
encarregada da fabricação da vacina. ola, com exceção de um em Atlanta,
esperar que o organismo reagis-
“O grupo que formamos foi treinado nos EUA, e outro em Koltsovo, na
se e vencesse o vírus. A sobrevi-
pela Opas em 1968, em São Paulo, e Rússia. Em maio de 1980, após nume-
vência do doente dependia da
durou até a erradicação no Brasil, em rosas certificações, a OMS declarava a
forma de varíola que ele adqui-
meados de 1977”, lembra o virologis- varíola oficialmente extinta.
ria: a major (com 30% de letali-
ta Schatzmayr. Atualmente a Fiocruz, por solicita-
dade) ou a minor (com menos de
Ao final dos anos 60, o grupo seria ção do Ministério da Saúde, estuda a
1% de letalidade), mais comum
ajudado ainda mais por novos materi- criação de um Centro de Referência
(também existiam manifestações
ais enviados pela OMS. Dentre estes, de Poxvirus, família à qual pertence o
mais raras da doença, como a he-
o mais importante aliado foram as pis- vírus da varíola, no Laboratório de
morrágica e a maligna). Com o
tolas de pressão. “As pistolas foram Ultra-estrutura Viral do Departamento
tempo, as pústulas secavam e
revolucionárias, podíamos realizar va- de Virologia do IOC. “A intenção é di-
transformavam-se em crostas,
cinações em massa. O que levávamos agnosticar casos suspeitos de infecção
que se desprendiam ao final de
dias para realizar com as agulhas, ago- pelo grupo e manter programas de
três ou quatro semanas. Caso o
ra, com as pistolas, resolvíamos em pesquisa sobre o grupo, lembrando que
enfermo tivesse adquirido a for-
horas”, completa Schatzmayr, cujo la- o vírus vacinal (vaccinia, causador da
ma major, essas crostas costuma-
boratório tornou-se referência. varíola bovina), parente do da varíola,
vam deixar cicatrizes permanen-
A campanha foi tão bem-sucedi- está circulando no Sudeste do país,
tes na pele.
da no Brasil que no início dos anos 70 causando infecções animais e huma-
a varíola já estava erradicada no país. nas”, afirma Schatzmayr.

REVISTA DE MANGUINHOS | OUTUBRO DE 2005 45

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