Sunteți pe pagina 1din 2

 Academia Brasileira de Letras

Ler e falar
Ferreira Gullar [1]

O fato de que, nas provas do Enem, é cada vez menor as referências à literatura brasileira –o
mesmo ocorrendo nos exames de vestibulares– causou preocupação nos membros da
Academia Brasileira de Letras que, em face disso, decidiu manifestar­se sobre o assunto.

Essa questão foi trazida à ABL, no final do ano passado, por Arnaldo Niskier, que havia
representado a instituição numa reunião promovida na Comissão de Educação da Câmara
Federal pela deputada Maria do Rosário, do PT do Rio Grande do Sul. Ela realizou uma
audiência pública para debater a situação da leitura e do ensino da literatura particularmente no
ensino médio. A constatação lamentável é que, se não se estimula a leitura da literatura e seu
ensino, não há razão para que a matéria faça parte dos exames e das provas.

A iniciativa da deputada em trazer à discussão esse fato merece o apoio da intelectualidade e
dos cidadãos conscientes da importância da literatura para a vida nacional. Não obstante, nem
todos têm essa compreensão e há mesmo, em certos setores, a tendência a ver o ensino da
literatura como um resto do elitismo que deve ser eliminado da formação dos jovens.

Se minha observação for procedente, a ausência da literatura na formação da nossa juventude
seria parte de um fenômeno mais amplo, que afeta outros setores da sociedade brasileira e que
tem raízes mais profundas do que parece à primeira vista. Para nos atermos ao âmbito literário
e do ensino, lembro da tendência entre filólogos e gramáticos de considerar que não há erros
no uso da língua, mas apenas modos diversos de usá­la conforme a classe social de quem a
usa. Ou seja, há a língua culta, falada pelos que têm cultura, e a língua do povo inculto, que não
tem acesso à educação.

A constatação, até certo ponto, é correta, mas deduzir dela a conclusão de que tanto faz dizer
"nós vamos" quanto "nós vai" é um equívoco que contraria a natureza da linguagem. Falar
corretamente não é uma manifestação elitista e, sim, o resultado da necessidade humana de se
expressar com coerência e clareza. Não sou linguista nem muito menos sei (alguém sabe?)
como se formaram os idiomas, mas tenho certeza de que não se trata da invenção de um
sujeito erudito e presunçoso que decidiu inventar as concordâncias entre sujeito e verbo,
adjetivo e substantivo. Na verdade, fico fascinado ao constatar, já nas primeiras manifestações
literárias, a concordância e a coerência entre os elementos da linguagem.

Como tampouco creio que os idiomas foram criados por Deus, contento­me em admitir que eles
expressam, tanto quanto possível, a lógica que descobrimos no mundo e que nos ajuda a
reinventá­lo. Pode ser até que a lógica da linguagem não seja a mesma do mundo –cuja
complexidade excede à nossa compreensão–, mas, como nos ensina o exemplo da Torre de
Babel, um idioma sem normas torna inviável o entendimento e, consequentemente, o convívio
humano.
Claro que, por felicidade, estamos longe disso. O que importa aqui é afirmar que falar e
escrever corretamente não são esnobismos, mas necessidades da linguagem humana.

Certamente, há que distinguir a linguagem falada da escrita. A fala coloquial, pelas
circunstâncias em que se exerce, com frequência viola a correção da linguagem escrita.
Tampouco teríamos que exigir, mesmo desta, um rigor sem concessões. Errar é humano e,
modéstia à parte, citando a mim mesmo, cabe lembrar que "a crase não foi feita para humilhar
ninguém".

Em suma, ninguém deve ser punido por errar na concordância vocabular. Tampouco é correto
subestimar o homem do povo que desconhece as regras gramaticais e, por isso mesmo, fala
errado.

O que, porém, não se pode aceitar é que linguistas e gramáticos afirmem que não se deve
exigir que se fale e escreva corretamente, quando eles mesmos falam e escrevem conforme as
regras gramaticais. 

Folha de São Paulo, 28/02/2016

URL de origem: http://www.academia.org.br/artigos/ler­e­falar

Links
[1] http://www.academia.org.br/academicos/ferreira­gullar 

S-ar putea să vă placă și