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N. 2 - 1. semestre de 2000 1
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
EXPEDIENTE
Ano 1 – N. 2
1. semestre de 2000
ISSN 1517-820X
Diretor da Mantenedora
Prof. Marco Antonio Santos Silva
Pró-reitores
Prof. Carlos Alberto de Macedo (Graduação), Prof. Dr. Sílvio Minciotti (Pós-Graduação e Pesquisa) e
Prof. Joaquim Celso Freire Silva (Comunitária e Extensão)
CEAPOG
Coordenador Geral
Prof. Dr. Silvio Minciotti
Editor
Prof. Dr. Roberto Elísio dos Santos (MTb – 15.637)
Secretárias
Roseli Tamiazi, Neusa Aparecida Marques e Marlene Forestiere de Melo
Revisão
Simone Zaccarias
Correspondência
IMES – Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul
A/C Caderno de Pesquisa CEAPOG-IMES
Avenida Goiás, 3400
São Caetano do Sul – São Paulo – Brasil
CEP 09550-051
E-mail: labgest@imes.com.br
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
SUMÁRIO
Crônica
Introdução
Artigos
1. Grande ABC: regionalidade e história cultural em questão (Prof. Dr. Luiz Roberto Alves).........7
2. Megacidades: uma proposta para o eixo Tamanduatehi (Prof. Angélica Benatti Alvim/
Prof. Enio Moro Junior/Prof. Mario Figueroa).................................................................................... 14
4. Comunicação nas organizações voltadas para a qualidade (Prof. David Garcia Penof)................. 28
Seminários
II Seminário Interno............................................................................................................................. 32
Resenha
COMPANS, Rose. “O paradigma das global cities nas estratégias de desenvolvimento local”
(Telma Tania V. F. de Carvalho).......................................................................................................... 55
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CRÔNICA
Cotidianíssimo
Prof. JOAQUIM CELSO FREIRE SILVA*
Vive uma gente que ama e faz o seu lugar. Vive uma gente que faz e ama o seu lugar.
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INTRODUÇÃO
A tarefa que consiste na revitalização das cidades e regiões será muito complexa. Apesar do
bombardeio de informações áudio-visuais que nos anunciam a vida facilitada. Ora, como seria fácil
combinar a mudança de sistemas administrativos e tecnológicos com a conquista de uma nova atitude
diante da cidade? Fica evidente, pois, que a vida virtual glamurizada pela mídia e pelos outdoors não
resiste a três dias de falta d’água, a um assalto ou à fila de hospital. Parece que convivemos com o céu e
inferno, diariamente.
Mas não é assim. A vida nas megacidades, nas metrópoles, escapará das dicotomias tradicionais
por uma nova consciência superadora do cômodo ou incômodo, do bem/mal, da felicidade e seu
contrário. No lugar dessa sensação de vida dividida (que para a maioria dos segmentos sociais significa
pouquíssima alegria e muito enfado) o que se espera de nós, megacidadãos e megacidadãs, é a amplia-
ção dos sentidos que nos educaram e nos treinaram a viver nesses espaços em contínua construção.
Um novo sentido para o uso dos equipamentos coletivos, a melhor compreensão do fim das fronteiras
entre urbes, a avaliação adequada dos investimentos na construção das coisas públicas e a criação de
critérios para compatibilizar (e esclarecer!) o que é privado e o que é público.
Quando participamos do congresso de Hong Kong denominado Megacities (fevereiro de 2000),
ouvimos sistematicamente o discurso da consciência da cidade, do resgate da pessoa na metrópole, de
como conciliar o desenvolvimento “com a criação de passarinhos e a plantação de verduras na casa”.
Que fiquem de fora os mitos que nos embalaram, ou seja, que as tecnologias necessariamente
facilitariam a vida, que a democratização do todo social traria governos melhores às cidades, que as
intervenções dos especialistas resolveriam os problemas dos centros e dos bairros em que vivemos e
por onde passamos. Ninguém e nada nos salvará fora da criação de novas formas de participação e
consciência. Mais vigilância e melhor inteligência sobre a cidade plural e complexa que nos abriga.
Consciência de que a ação política que vige sobre as cidades ainda é medíocre.
O presente caderno de pesquisa do IMES, agora Centro Universitário, trata da nossa grande
cidade sem fronteiras físicas, mas repleta de fronteiras de conhecimento, éticas, políticas. Elas se
tornam laboratórios para inovações técnicas e sociais, mas acima de tudo ainda devem ser o nosso
lugar de viver e conviver. E aí residem as grandes questões. Devemos acompanhar os projetos de
mudança com atitude crítica, pautada por valores coletivos e a melhor capacidade avaliadora.
Assumir a complexidade, considerar que vivemos na cidade multicultural, exigir direitos pes-
soais, avaliar cada projeto e cada processo, demandar políticas públicas prioritárias, produzir memória
da história metropolitana. Fazer história.
Não obstante diversos e diferentes, os textos básicos deste caderno sugerem a criação de nova
sensibilidade para com a cidade, condição para que as intervenções técnicas e políticas, mais a memó-
ria acumulada, não nos alienem das responsabilidades, direitos e deveres, mas ao contrário, os tornem
inadiáveis. Assumir a cidade, ser cidadão da polis, é tarefa para já.
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O Editor
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RESUMO: Trabalho realizado na perspectiva dos globalization and regionalization. Located within the
estudos culturais, que busca mostrar como a memória Brazilian micro-region of the Greater ABC region, the
cultural colabora para a criação de um senso agudo de biggest industrial complex in Brazil from the 1950
microrregionalidade na sociedade que sofre profundas onwards, the region has both gone through a phase of
transformações em seus modos de produção social e social advance and the development of its political
econômica. Noutras palavras, como o processo de awareness regarding the intense urbanization of the
comunicação se organiza como epistemologia no seven cities. The latter includes an increasing awareness
movimento histórico da cidade sujeita à tensão entre about the severe problems the region is facing from
globalização e regionalização. Localizado na the 1980s onwards which are related to the impact of
microrregião brasileira do Grande ABC, maior parque globalization of the labor processes and the
industrial do Brasil a partir dos anos 50, evidencia os internationalization of the capital markets. Despite of
avanços sociais e o desenvolvimento de consciência the severe nature of these new situations, the paper
política sobre a intensa urbanização desse conjunto de shows how the collective memory of migrants and
sete cidades e os graves problemas sofridos nos anos immigrants was able to update itself within the context
80 pela ocorrência da globalização dos processos de of these new situations. That is, in the middle of a
trabalho e da internacionalização dos capitais. A despeito situation of tension, it created answers through new
da gravidade das novas situações, faz ver o modo como forms of representation and through the elaboration
a memória coletiva migrante e imigrante foi capaz de of new instruments of production and dissemination
atualizar-se no contexto das novas situações e, no meio of information capable of realizing a new social synergy,
da tensão, produzir respostas sob a forma de novos a new consensus and, consequently, political agreements
modos de representação social e da criação de with a potentially problem solving character. Examples
instrumentos de produção e disseminação de are given on the formation of a consorcio among cities,
informação capazes de realizar nova sinergia social, a Regional Chamber, a Regional Development Agency,
novos consensos e conseqüentes acordos políticos and a Forum for Issues on Citizenship, all opening up
prenunciadores de superação de problemas. Exemplifica perspectives for a new regional visibility and an influence
com a formação de consórcio de cidades, câmara capable of changing the traditional political culture.
regional, agência de desenvolvimento e fórum da
cidadania, abrindo perspectivas para uma nova
visibilidade regional e sua influência na mudança da PALAVRAS-CHAVE: regionalidade; cultura política;
cultura política tradicional. globalização; exclusão; consensos coletivos.
ABSTRACT: This paper should be seen within the KEY WORDS: new regionalism; political culture;
perspective of cultural studies. Its main objective is to globalization; social exclusion; collective consensus.
show how cultural memory is conducive in creating a
clear sense of belonging to a microregion within a
society that is undergoing profound transformations
in its social and economic mode of production. In other
words, how the communications process organizes 1 Trabalho apresentado ao evento internacional
itself as an epistemology within the historical movement “Megacities 2000”, realizado em Hong Kong, de 8 a 10
of the city, itself subject to the tension between de fevereiro de 2000.
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décadas, embora de modo de produção fordista e hoje refaz-se nos últimos nove anos. Não somente para
quase obsoleto, de fato foi construtor de um modelo adaptar a sociedade regional ao imperativo das novas
que posso denominar “culturas do trabalho”, capaz de redes urbanas globalizadas, mas para analisar e
combinar a simbolização histórico-cultural com a interpretar seus processos de desenvolvimento, atitude
diversidade étnica, a favor da melhor qualidade de epistemológica, e para fortalecer suas instituições locais
vida, que a região tem ostentado nos últimos trinta e regionais, educando-se e produzindo estratégias
anos. Tais valores acumulam sentidos e forças para o culturais como política de inserção crítica nas redes.
novo momento histórico. Questionar os modos e lugares da concentração dos
capitais, destacar a tendência humanista de apontar para
3. GLOBALIZAR TAMBÉM A pessoas concretas, inseguras em processo de mudança
INTELIGÊNCIA REGIONAL cultural e não somente nós de uma cadeia produtiva
virtual. Produzir comunicação, no contexto dessa
memória cultural, vai muito além de submeter-se a novos
Uma região como o Grande ABC jamais poderia processos de informação; ao contrário, exige o
ter negado os avanços da globalização de processos de entendimento coletivo da infor mação e sua
produção e difusão e da internacionalização dos capitais, interpretação, como contribuintes, cidadãos e
pois os conhece e vive desde décadas. Não somente vê consumidores. Como seres culturais. Mais que nunca,
acontecer dentro de si as novas estratégias de mercado, fazer ver as crescentes exclusões dos mais periféricos e
a flexibilização dos modos do trabalho, as mutações exigir políticas públicas adequadas de parte das diversas
dos modos de produção, circulação e consumo de bens instâncias dos governos. Essa região, que conviveu com
e valores. Sofre o drama das exclusões sociais crescentes os sentidos de periferia e os superou, tem dificuldade
e do empobrecimento, tanto pela submissão dos de aceitar novas e mais cruéis formas de periferização
governos ao esquema monetarista quanto pela econômica, política e cultural.
diminuição das políticas públicas e pela precarização
do trabalho. Sofre também a perda do emprego Para alcançar esses objetivos e aprofundar esses
industrial: em agosto de 1990 era de 51% da força de temas, a sociedade civil da região e as administrações
públicas das sete cidades têm criado novas instituições,
trabalho regional e, em 1999, de 30%. Cresce o novos objetivos e métodos de articulação social e nova
emprego nos serviços e no comércio, mas com salários agenda política. Com base em experiências européias e
inferiores e precariedade na forma de contratação. Em americanas, debatidas em seminários internacionais
agosto de 1990 tínhamos desemprego de 9,9%. Em realizados no Brasil e no exterior, criaram-se nos últimos
outubro de 1999, o desemprego chegava a 22% de nove anos três instituições produtoras, veiculadoras e
trabalhadores disponíveis. negociadoras de informação e serviço: o Consórcio
A memória cultural criada em torno do trabalho Regional de Prefeitos, a Câmara Regional e a Agência
incumbiu-se de questionar o modo da globalização nesse de Desenvolvimento. O Consórcio, formado pelos sete
lugar altamente industrializado, principalmente o seu prefeitos e assessores especializados nas políticas
caráter não-inclusivo, a descontinuidade das políticas, a regionais prioritárias, é o lugar onde se geram os estudos
fragmentação do conhecimento, a alta integração de iniciais em torno de programas e políticas. Formado
partes privilegiadas e o abandono de amplos setores e em 1991, tem se preocupado especialmente com o
seus contingentes humanos. Às novas marcas da desenvolvimento sustentado, a destinação final dos
urbanidade em processo de globalização: alta tecnologia, resíduos, a revitalização das cadeias produtivas, a criação
sofisticação das finanças e ampliação dos serviços, essa de estrutura para o turismo de negócios e ecológico e a
história cultural aduziu a exigência de repensar priorização das crianças e adolescentes em situação de
identificações sociais, uso tecnológico para novos risco, bem como o combate ao analfabetismo. A
projetos educativos e revitalização do habitat urbano, Câmara Regional, composta pelos prefeitos, assessores,
ampliação da capacidade associativa para o encontro deputados, funcionários do governo de São Paulo e
de soluções baseadas em consensos coletivos. Isto é, o representantes da sociedade civil, iniciou suas atividades
que sempre foi tendência historicamente atualizada, em 1997 e buscou organizar as prioridades, ampliar
estudos por meio de dez grupos de trabalho, aprovar
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sociedade organizada está vigilante, novos construção de nova cultura política. Esperamos que
instrumentos para apoio ao trabalho e à renda familiar as relações entre cidades signifiquem amplamente
já foram implementados (exemplo: os denominados encontros de cultura e não somente encontros de
Bancos do Povo), algumas cidades descobrem sua mercado.
vocação turística, outras reorganizam seus espaços por
É claro que algumas experiências européias foram
meio de eixos de urbanização de vocação múltipla,
induzidas por uma estruturação legal, como nos
mostrou a pesquisa de Putnam na Itália moderna. No
Brasil, os projetos regionais precisam modelizar-se,
aceleramse projetos de renda mínima das famílias
alçar-se à condição de excelência por si mesmos,
associados à freqüência escolar das crianças. Alteram-
se estruturas de atendimento ao público nas prefeituras produzindo-se pela consciência de que o dilema pode
e os conselhos de vigilância sobre o meio ambiente não ser maior do que as forças coletivas. Deve dar-se
funcionam com eficiência. Acima de tudo, amplia-se a um amplo processo de comunicação capaz de educar
consciência crítica da população, o que fica provado as comunidades cívicas e remetê-las às práticas.
pelo debate público de idéias, pela interlocução através A região trabalha, hoje, no desenvolvimento de
da mídia regional, pela crítica às velhas práticas um plano estratégico, por meio de grupos ampliados
políticas. de participantes. Buscam-se novos consensos na
constituição de políticas públicas que formulem
CONCLUSÃO alternativas concretas para estas prioridades: educação
e tecnologia, sustentabilidade dos mananciais, infra-
Estamos diante de uma forma de regionalização estrutura, diversificação e fortalecimento das cadeias
nascida a partir da consciência local e regional, sem produtivas, qualidade ambiental, identidade regional e
uma estrutura oficial do Estado brasileiro. No entanto, suas estruturas institucionais. A grande questão, hoje, é
cremos que não cabe ao Estado ser o autor da garantir a futura governabilidade das propostas coletivas
descentralização microrregional, pois tal experiência, já e ter a certeza de que elas podem propiciar a reversão
conhecida em nossa história política e administrativa, do quadro de precariedade regional revelado no final
resultou em clientelismo, divisão de poderes entre as dos anos 80.
elites e ampliação de privilégios em poucas mãos. Nosso Não se pode ignorar que tal processo encontra-
feudalismo agrário projeta-se simbolicamente na se no meio do caminho, às vezes no purgatório político.
consciência política das elites que hegemonizam Depende das respostas governamentais às reformas
continuamente o poder. Sabemos, porém, que na tributária e política, ora em discussão nacional. Depende
ampliação das relações interregionais e das regiões com do comportamento do governo perante as dívidas
experiências internacionais, poder-se-á criar não um externa e interna, a primeira causadora da dependência
modelo, mas modos ainda não conhecidos de internacional e a segunda, secular, evidencia o Brasil
experiência de governos da polis, e estes modos novos, como um dos países mais injustos do mundo em
resultados da memória atualizada em consciência de distribuição de renda e atendimento a crianças e
novas representações sociais, poderão sugerir novas adolescentes. Depende, também, de alternativas às
relações entre cidades metropolitanas, quer dívidas dos municípios junto ao tesouro nacional. Por
3
internamente ao Brasil, quer no contexto do Mercosul isso, alguns projetos avançam lentamente; por exemplo
e talvez mais amplamente. Hoje são fortes as relações o de requalificação profissional, que pretendia capacitar
do Grande ABC com a Emilia Romagna, Itália, e com duzentos mil trabalhadores no domínio de novas
regiões da Holanda e da Alemanha. Temos bastante a tecnologias até o ano 2000, mas não chegará à metade,
aprender e talvez algo a oferecer, notadamente na por falta de recursos. No entanto, a região prefere
afirmar a negar. Propor no lugar de somente conjecturar.
Organizar-se politicamente em vez de exorcizar as
3 transformações internacionais. Ela aprendeu isso em
PUTNAM, Robert. Comunidade e Democracia. A
seu processo histórico de comunicação, em seu
experiência da Itália Moderna. Rio de Janeiro: Fundação movimento de identificação de vocações para a
Getúlio Vargas, 1996. mudança. Deste modo, afirma-se o fim da condição de
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periferia e se constitui parte do coração metropolitano, desafios. São Paulo: Makron Books, 1997.
anunciando claramente a necessidade de consolidar MORAES, Dênis de (org.). Globalização, mídia e cultura
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RESUMO: A região metropolitana da Grande São da UniABC – Universidade do Grande ABC – pesquisou
Paulo atravessa um de seus momentos mais importantes. uma recente problemática da metrópole
Em função de um intenso processo de reconversão contemporânea: a súbita transformação de seus
econômica, sua principal base produtiva, o setor espaços, não se configurando como ambiente urbano
industrial, transforma-se em um importante pólo de de qualidade, mas vazios urbanos gerados pela evasão
comércio e serviços. Esta situação gera novas industrial ao longo do antigo sistema de transporte
necessidades de espaços na cidade, solicitando soluções ferroviário.
urbanas que possibilitem sua implantação e
Nestas áreas, a paisagem metropolitana altera-
desenvolvimento. A análise, a discussão e as propostas
se radicalmente. A fase atual de urbanização
de intervenção para o Eixo Tamanduatehi são objetivos
transforma-se em uma contra-urbanização, na qual
deste artigo.
inúmeros vazios são substituídos por grandes estruturas
terciárias isoladas.
ABSTRACTS: The Greater São Paulo metropolitain 2
A área de estudo escolhida envolve um trecho
region is the main industrial complex in Brazil, and its linear da metrópole (14 km de extensão – cerca de 10,5
economy is diversifying with new enterprises in the areas milhões m ), limitada, por um lado, pelo binômio Rio
of commerce, services, tourism and enterteinament. Tamanduateí/Avenida dos Estados e, por outro, pela
The region needs of new urban spaces and this article antiga Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, entre as Estações
intends discussing about the possibilities for programs Moóca e Santo André. Sua área de influência
and projects to Eixo Tamanduatehi, a new development compreende parte do município-sede e da sub-região
region in this special area. sudeste da Região Metropolitana de São Paulo: São Paulo
(distritos Moóca, Ipiranga e Vila Prudente); São Caetano
do Sul e Santo André, abrangendo um total de 1,23
PALAVRAS-CHAVE: urbanização; região metro- milhões de habitantes.
politana; Região do ABC.
A proposta é não encará-la como fragmentos
urbanos de vários municípios autônomos, mas como
KEY WORDS: urbanization; metropolitain region; um espaço a ser tratado integradamente, com caracte-
ABC Region. rísticas próprias, parte do espaço metropolitano.
1. INTRODUÇÃO
1 Equipe Megacidades:
No evento “São Paulo MEGACIDADES
2000”, exposto na 4 ª Bienal Internacional de Coordenação do projeto: Professores Angélica Benatti
Arquitetura, realizada em São Paulo de novembro de Alvim, Carlos Leite de Souza e Mario Figueroa; alunos:
1999 a janeiro de 2000, e no Seminário “Megacities José Gilberto Pires, Norberto Martins, Vitório
2000”, realizado em Hong Kong, China, em fevereiro Ultremari, Leonardo Garcia e Leonard Grava;
de 2000, a equipe do curso de Arquitetura e Urbanismo colaboração: Jaime Vega e Luciana Brasil.
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industrialização da orla ferroviária e a localização das Na nossa área de estudo, apesar do predomínio
estações. Tanto o processo de suburbanização da atividade industrial (90% de indústrias contra 10%
residencial como o de suburbanização industrial eram de residências e atividades terciárias) inúmeros
norteados pela linha ferroviária. Nas principais zonas estabelecimentos estão sendo desativados e transferidos
industriais da Grande São Paulo, as fábricas antecederam para outras localizações que oferecem melhores
as residências, constituindo uma reserva potencial de vantagens fiscais, terra e mão-de-obra mais barata, além
mão-de-obra de imediata utilização. de não sofrerem a pressão dos sindicatos. Outras
A primeira ferrovia a cortar o planalto paulistano empresas estão simplesmente reduzindo sua capacidade
foi a Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. O chamado produtiva e seu pessoal como forma de superar a crise e
“trinômio ferrovia/terreno grande e plano/curso ou entrar no mundo da automação, gerando inúmeros
d’água” caracterizou a implantação de várias indústrias espaços ociosos em suas unidades.
importantes na faixa entre a Moóca e Santo André: De acordo com levantamento de campo
Rhodia, Antarctica, Pirelli, Moinho São Jorge, etc. “Era realizado pela equipe Megacidades da UniABC, do total
conveniente implantar estabelecimentos industriais junto de 136 empresas existentes no trecho, cerca de 51% estão
à ferrovia que unia Santos a São Paulo, além dos em pleno funcionamento, 5% em funcionamento parcial
benefícios que os rios Tamanduateí e dos Meninos e 44% desativadas, sendo a maioria das indústrias desa-
ofereciam, de transporte a curta distância e água.” tivadas de grande e médio porte.
(LANGENBUCH, 1971). É interessante notar que as indústrias localizadas
Nos anos 40, a rodovia entra em cena e atrai dentro do limite do município de São Paulo encontram-
inúmeros estabelecimentos industriais ao longo de seu se com nível superior de atividades quando comparadas
percurso. A inauguração da Via Anchieta em 1947 foi Às empresas situadas nos municípios do ABC.
fundamental para mudar o eixo de industrialização dos Provavelmente, esse fato deve-se à diversificação de
municípios do ABC, que antes concentrava-se ao longo atividades existentes neste trecho, diferente das atividades
do rio Tamanduateí e linha férrea, entre os municípios das empresas do ABC, ligadas em geral ao setor
de São Caetano e Santo André, passando a localizar-se automobilístico.
em São Bernardo. No domínio da auto-estrada houve Outra tendência que se observa ao longo da
um verdadeira pulverização de empresas, ao passo que área é o processo de substituição das unidades industriais
no domínio ferroviário a polarização verificava-se em por grandes estr uturas comerciais tais como
torno das estações. hiper mercados, concessionárias de automóveis,
A partir dos anos 50, a indústria automobilística shopping-centers, etc., o que está longe de configurar-
ganha vulto e tanto as áreas situadas ao longo da ferrovia se em um novo padrão urbano consolidado.
como ao longo da rodovia, no sentido São Paulo-Santos, Decorrente dessas rápidas transformações, a pai-
recebem instalações produtivas do setor ou ligadas a este. sagem deste trecho da metrópole alterou-se radicalmente.
A sub-região Sudeste, onde se localiza grande Observa-se a presença de muitos vazios urbanos e em
parte de nossa área de estudo, sempre foi considerada a alguns casos a substituição destas unidades por grandes
segunda maior concentração econômica da RMSP estruturas terciárias isoladas do entorno urbano.
(depois do município-sede), distinguindo-se por conter Aliados às transformações produtivas e espaciais
um amplo mercado de trabalho especializado, com a ocorridas destacam-se, também, sérios problemas
coexistência de dois ramos industriais predominantes: urbanos decorrentes da falta de infra-estrutura relativa a
automobilístico e químico, além de elevada renda per transporte, saneamento básico, habitação, segurança,
capita de seus habitantes. Entretanto, recentemente, saúde, educação, áreas livres, entre outros, os quais
“sob efeitos da saturação da Região Metropolitana de refletem diretamente no declínio da qualidade de vida
São Paulo, do explícito incentivo dos governos estaduais do habitante metropolitano.
à interiorização do desenvolvimento e dos constantes
entreversos sindicais” (LIMA & MARCOCCIA, 1997), Outro dado relevante é a limitação da
observa-se um esvaziamento industrial aliado a vazios acessibilidade na área de estudo se considerarmos os
urbanos, áreas deterioradas e conseqüente desemprego. padrões de locomoção: menor tempo, menor custo,
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maior segurança, maior conforto e maior número de está prevista a sua modernização e transformação em
viagens no modo individual. Na sub-região sudeste, metrô de superfície, fato que, se concretizado,
segundo a Pesquisa Origem-Destino da Companhia do solucionaria, em parte, vários problemas da área.
Metrô – OD/97 – o aumento da taxa de motorização
da população registrada foi a mais alta da RMSP: de 142
automóveis a cada mil habitantes em 1987, para 197 em 4. TENDÊNCIAS E VOCAÇÕES
1997. Isso significa que a população opta cada vez mais
pelo uso do automóvel em função da baixa e precária A área de estudo escolhida reflete de modo
oferta de transporte coletivo. bastante claro tendências da metrópole paulista. Por um
lado, observa-se a desconcentração industrial em pleno
Atualmente, o transporte ferroviário de andamento, conseqüência de diversos fatores internos
passageiros é operado pela Companhia Paulista de Trens e externos à metrópole: preço da terra, acessibilidade
Metropolitanos (CPTM). O número de viagens no reduzida, plantas compactas, aliados a informatização
sistema ferroviário metropolitano vem diminuindo ano e terciarização de serviços, custo da mão-de-obra e
a ano. Em 1987 esse modo de transporte representava pressão dos sindicatos, fortemente organizados nas áreas
4,38% do total de viagens motorizadas da metrópole, urbanas de maior porte. Por outro lado, grandes vazios
contra 7,68% de metrô, 42,83% de ônibus e 42,50% de urbanos, resultantes da própria transformação produtiva
autos; em 1997 o trem reduziu sua pequena participação da metrópole, são apropriados, em alguns casos, por
para 3,15%, contra 8,23% de metrô, 38,44% de ônibus ocupações irregulares ou aleatoriamente pelo setor
e 47,24% de autos (Fonte: OD/97) terciário. Outros ficam simplesmente abandonados,
Apesar da falta de dados específicos sobre a deteriorando ainda mais a paisagem metropolitana.
operação do sistema ferroviário no trecho estudado, a Aliadas a essas constatações, observam-se
pesquisa confirmou que o serviço ofertado está aquém vocações da área que são consideradas no decorrer do
do desejado: acessibilidade precária às estações, pouca trabalho: importante e estratégica localização – entre o
integração entre outros modos de transporte, falta de centro da metrópole e o caminho para a metrópole
segurança, conforto, confiabilidade no horário etc. Santista (área portuária); fácil acessibilidade a ser
O sistema viário da sub-região sudeste apresenta melhorada pela implantação da rede de transporte
várias deficiências, principalmente a incapacidade de coletivo integrada; a presença do Rio Tamanduateí, que
absorver o tráfego de autos e cargas que disputam o hoje representa problemas e no futuro, se recuperado,
mesmo espaço. As duas portas de entrada dos um elemento de renovação; grandes terrenos
municípios do conhecido ABC paulista (onde se insere disponíveis, que facilitam a implantação de novas
parte da área de estudo), a Av. dos Estados e a via Anchie- edificações com usos diversos, integradas a espaços
ta, desafiam a paciência dos motoristas que trafegam ali públicos; população lindeira carente e emergente de uma
diariamente. Na área de estudo, a Av. dos Estados “é nova centralidade urbana, além da proximidade a centros
uma sucessão de pistas mal conservadas que se estreitam urbanos equipados e com nível de renda per capita
à medida que se alarga o leito do rio Tamanduateí. Suas elevado (São Caetano, Santo André).
enchentes em época de chuvas provocam inúmeros Essas e outras tendências nos levam a pensar na
prejuízos e em épocas de seca, ela vive em obras” (LIMA urgência de requalificação desse espaço. As disfunções
& MARCOCCIA, 1997). urbanas, contidas atualmente nessa área, não são únicas
O Plano Integrado de Transportes Urbanos e nem exclusivas da metrópole paulista; por isso, devem
(PITU 2020), elaborado pelo Governo do Estado, prevê ser tratadas tanto em sua essência como parte de uma
a ampliação de infra-estrutura de transportes da RMSP, metrópole mundial: São Paulo.
com propostas de redes de alta, média e baixa capacidade
integrando os modos de transportes: sistemas sobre
5. A PROPOSTA
trilhos e sobre pneus. Conforme a proposta, a rede futura
de transportes metropolitanos prevista terá, no ano 2020,
cerca de 446 Km de extensão, contra 79 Km existentes O objetivo principal da inter venção é a
atualmente. Para a linha sudeste de trem metropolitano constituição de um novo eixo metropolitano que refaça a
N. 2 - 1. semestre de 2000 17
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
cidade a partir de suas infra-estruturas e anule seus resíduos meio de transporte para cargas intra-urbanas e parte
urbanos, reconstruindo uma nova centralidade do lixo urbano é outra possibilidade a ser explorada
multifuncional, integrante de uma metrópole mais justa e e que contribuiria para a redução da circulação de
sustentável. cargas na área de estudo.
A equipe propõe uma Estratégia de – Implantação da via perimetral metropolitana: traçado
intra-urbano. Propõe-se a adoção do traçado intra-
Ocupação, a qual deve orientar um projeto urbano
para a área de estudo. Dois conjuntos de diretrizes foram urbano do anel viário metropolitano, conforme
definidos: Diretrizes Estruturais, ou seja, orientações proposta preliminar apresentada pelo arquiteto
espanhol Eduardo Leira no seu projeto para o “Eixo
de caráter metropolitano, as quais são fundamentais para
a requalificação não somente deste trecho, mas de outras Tamanduathey” (Prefeitura de Santo André). Trata-
áreas com tais características na metrópole. Diretrizes se de uma revisão crítica do Rodoanel, propondo-se
que este passe internamente à mancha urbana
Articuladoras, de caráter interno, são orientações
importantes para a real reinserção desta área em seu consolidada – na sua borda periférica –, atuando
entorno. assim como nova possibilidade de conexão.
acaso que há, desde o início da década de 80, vários CASTELLS, Manuel e BORJA, Jordi. As cidades como
projetos urbanos, em todo o mundo, destinados à revita- Atores políticos. Novos Estudos CEBRAP n. 45, jul.
lização urbana de áreas degradadas, requalificação de cen- 1996, p.152-166.
tros urbanos, reutilização de áreas residuais industriais. BRITISH COLUMBIA UNIVERSITY. Sustainable urban
É extremamente necessário reconfigurar áreas landscapes. The surrey design charrette. Canadá: Patrick
metropolitanas dentro das novas demandas impostas pe- M. Condon (James Taylor Chair in Landscapes),
la globalização, mas sem ignorar suas fragilidades, confli- 1996.
tos e potencialidades locais, além do cotidiano de seus DANIEL, Celso. Governo local e reforma urbana num
habitantes. Pensar globalmente, agir localmente. Ou seja, quadro de crise estrutural. In: Globalização, fragmentação
requalificar suas áreas “doentes”, dotá-las de suporte e reforma urbana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
físico para serem competitivas mundialmente e, ao mes- 1994.
mo tempo, proporcionar qualidade de vida a seus
DEL RIO, Vicente. Revitalização de centros urbanos:
habitantes.
o novo paradigma de desenvolvimento e seu modelo
Acredita-se que áreas como estas necessitem de urbanístico”. Revista Pós-Graduação. Arquitetura e
um projeto urbano que mostre seu potencial físico, rein- Urbanismo n.4, p. 53-64. São Paulo: FAU-USP, dez.
serindo-as no tecido urbano do entorno conferindo ur- 1993.
banidade, e da concepção de um plano estratégico que FINGERMANN, Henrique (org. ed. bras.). Parceria
corrija suas atuais disfunções urbanas e reintegre-as ao público-privado: cooperação financeira e organizacional entre
espaço metropolitano. Entretanto, cabe dizer, o sucesso o setor privado e administrações públicas locais. V. 2. São
de projetos como este depende de todos os atores envol- Paulo: Summus, 1993.
vidos, responsáveis pela construção de uma nova cidade.
EMURB/SEMPLA. Operação Urbana Sudeste – estudo
As disfunções urbanas, contidas atualmente preliminar. São Paulo, 1999 (mimeo).
nessa área, não são únicas e nem exclusivas da metrópole
GUELL, José. Planificación Estratégica de la ciudades.
paulista; por isso devem ser tratadas tanto em sua
Barcelona: Gustavo Gilli, 1997.
essência como parte de uma metrópole mundial – São
Paulo. A metrópole deve, ao mesmo tempo, equipar-se KOALHAAS, Rem. Projects Urbans – Urbans Pojects –
para as novas demandas de uma cidade mundial e 1985-1990. Barcelona: Gustavo Gilli, 1997.
conferir aos seus usuários espaços qualificados dentro LANGENBUCH, Jurgen. A estruturação da Grande São
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da Região Metropolitana de São Paulo – 1998. STM
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EMPLASA, 1998 (cd rom).
N. 2 - 1. semestre de 2000 21
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
22 N. 2 - 1. semestre de 2000
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
de planejamento metropolitano rígidos e autoritários, seriam necessários para uma estratégia regional de
que, também no Brasil, provaram-se pouco eficientes revitalização.
na coordenação do planejamento local. O processo de coordenação regional de políticas
municipais passou por uma crise profunda de 1993 a
1996 devido ao enfraquecimento do Consórcio. Nesse
2. INICIATIVAS DE DESENVOLVIMENTO meio tempo, porém, a comunidade local estava tomando
REGIONAL NO GRANDE ABC iniciativas complementares relevantes por conta própria,
refletindo o despertar da identidade regional e a
No início da década de 90, um processo começou consciência dos problemas comuns que as prefeituras
a ser estabelecido, pelo qual a região passou a dar ênfase da região estavam compartilhando. Sem sombra de
a sua própria identidade econômica, política e cultural. dúvida, uma das iniciativas mais importantes nesse
Há uma crescente percepção de que o número de sentido foi a criação do Fórum da Cidadania, composto
problemas e de potencialidades da região excede a por mais de cem Organizações Não-Governamentais
totalidade daqueles que existem nos sete municípios. (ONGs) da sociedade civil, a exemplo de associações
No que concerne ao setor público, por exemplo, empresariais, sindicatos, movimentos ecológicos, grupos
esta consciência levou à criação, em dezembro de 1990, ambientalistas, entre outros. A pauta do Fórum deu
do Consórcio Intermunicipal da Região do Grande ABC, ênfase às demandas regionais.
cujo foco principal residia na coordenação das políticas
municipais, uma vez que estas têm consideráveis
implicações sobre as decisões tomadas. Inicialmente, os 3. A CRIAÇÃO DA CÂMARA REGIONAL DO
esforços foram concentrados nas questões do GRANDE ABC
armazenamento de resíduos sólidos e do controle
hídrico. Um ano depois, um Fórum de Desenvolvimento Em 1996, o Governo do Estado de São Paulo,
Econômico Regional foi criado em Santo André, por por meio da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia,
causa da ativa participação dos líderes públicos, lançou uma proposta concernente a uma câmara para a
empresariais, sindicais e comunitários. O Fórum, ao lado Região do ABC, com o propósito de discutir questões
do Consórcio Intermunicipal, organizou, no segundo de desenvolvimento econômico local. A Câmara seria
semestre de 1992, um seminário regional com o tema composta por representantes da comunidade local. Em
“Fórum ABC para o ano 2000”, que levou a um acordo, seguida, a proposta foi discutida pelo Fórum da
fixado entre os mais relevantes participantes do processo Cidadania do Grande ABC. Com a posse de sete novos
decisório regional, sobre os elementos essenciais que prefeitos, em janeiro de 1997, todos eles dedicados às
Tabela 1: Valor Agregado no Estado de São Paulo, na cidade de São Paulo e na Região do Grande ABC Paulista
(valores em reais*)
N. 2 - 1. semestre de 2000 23
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
Fontes: Ministério do Trabalho, RAIS, Arquivos administrativos, Base Estatística 1986 e 1996.
questões regionais, foi dado um decisivo passo em seu secretário de Ciência e Tecnologia. Os governos
direção a uma nova forma de regionalidade. Em 12 de locais, por meio do envolvimento direto dos prefeitos,
março daquele ano, na presença dos mais importantes complementados por uma ativa participação de um
líderes regionais e do Governo estadual, a Câmara foi grande número de planejadores nos grupos de trabalho,
oficialmente criada. podem ser considerados a espinha dorsal da Câmara.
Existem três tipos de atores envolvidos na Em uma região conhecida pelo grau de organização de
Câmara, advindos da sociedade civil, do setor público e seus sindicatos de trabalhadores, é um fato significativo
da economia local (sindicatos de trabalhadores e que os trabalhadores estão sendo representados pelos
associações empresariais). Na prática, evidentemente, a mais poderosos sindicatos da região do ABC. Estas
participação de tais atores não é homogênea. Em relação representações de trabalhadores estão se tornando
à participação do nível estadual, por exemplo, pode ser conscientes do fato de que uma aproximação mais
percebido que, além do consciente embora genérico coordenada com outros participantes é necessária com
envolvimento do governador, há um papel ativo para o fito de manter e aumentar os níveis de emprego. A
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
participação empresarial foi diferente no começo, mas seminário de trabalho foi organizado, em julho de 1997,
tem crescido significativamente após a fase inicial. Por o qual teve por conseqüência a aprovação de uma
outro lado, há uma confiável e estável participação do primeira lista composta por 31 propostas para acordos
comércio local e dos setores industriais menores, regionais específicos para o desenvolvimento social,
representados por suas associações comerciais e pelas econômico e territorial.
delegações da CIESP – Centro de Indústrias do Estado Um esforço seletivo foi feito com a intenção de
de São Paulo. Além disso, importantes segmentos da transformar as recomendações mais viáveis nos
economia regional (isto é, montadoras de automóveis, primeiros nove acordos regionais, fir mados em
assim como seus fornecedores, e o setor petroquímico) novembro de 1997. Nesse ínterim, a participação de
também confirmaram sua participação na Câmara no novos parceiros, do setor de montadoras de veículos,
início de 1998. Finalmente, as instituições da sociedade de seus fornecedores e da indústria petroquímica, já
civil têm participado de uma forma consistente, mencionados, representou um importante passo adiante
reforçando seu papel pelo envolvimento ativo no Fórum para a conquista de doze acordos complementares, em
em questões de cidadania. agosto de 1998. Os 21 acordos estabelecidos até 1999
estão resumidos na Tabela 3. Deve-se enfatizar que,
4. OS PRIMEIROS ACORDOS REGIONAIS dependendo do caráter desses acordos, os participantes
e as fontes de recursos definidos serão diferentes. Os
Desde o primeiro instante, em março de 1997, acordos sobre a semana de trabalho (no comércio
os chamados grupos de trabalho temáticos foram criados regional), por exemplo, foram arquitetados pelos
e começaram suas discussões. Esses debates levaram a sindicatos e as entidades patronais. Outro exemplo
propostas para a elaboração de acordos regionais, refere-se ao movimento de erradicação do analfabetismo,
definindo também atores e fontes de recursos. O desafio elaborado pelos prefeitos, pelo Governo do Estado e
inicial com o qual a Câmara se deparou foi definir as por organizações comunitárias.
prioridades dessas propostas e organizá-las a fim de Fica além do escopo deste artigo descrever em
manter suas consistências internas. Por conseguinte, um detalhes o conteúdo dos 21 acordos. Ao invés disso,
N. 2 - 1. semestre de 2000 25
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
eles serão analisados a partir dos resultados concretos lugar, a Câmara está ativamente envolvida nas
já auferidos. discussões para criar condições, por meio da revisão
No que diz respeito ao componente de desenvol- da legislação ambiental do Estado, para a
vimento econômico, por exemplo, a Agência Regional implementação de atividades industriais não poluentes
de Desenvolvimento foi criada em outubro de 1998. Sua compatíveis com a preservação das áreas de
diretoria é composta pelo setor privado (associações em- mananciais. Os participantes destas discussões são o
presariais, sindicatos de trabalhadores, SEBRAE; juntos Estado, os poderes locais, indústrias e sociedade civil.
possuem 51% dos membros) e o Consórcio In- O envolvimento da Câmara não pode ser superestimado
termunicipal (com uma participação de 49%). Entre considerando-se o fato de que diversas cidades da
outros, está atualmente desenvolvendo um sistema Região do ABC têm mais da metade de suas superfícies
regional de dados e indicadores sócio-econômicos, uma em zonas sensíveis do ponto de vista ambiental, as
estratégia de renda e emprego para pequenas e médias quais se encontram sob uma rígida legislação estadual
empresas e uma estratégia de marketing que tem por restritiva a quase toda atividade econômica. Ao memo
objetivo reverter a imagem negativa que a Região ainda tempo, a Câmara, por meio de um grupo de trabalho
acredita possuir. O trabalho de competitividade das prin- específico, está elaborando um plano regional voltado
cipais cadeias produtivas tem conduzido a resultados à exploração do potencial para o eco-turismo nas vastas
concretos para as empresas manufaturadoras de plástico. áreas verdes próximas e ao redor dos mananciais.
As empresas de pequeno e médio portes deste setor co-
meçaram a adotar práticas mais cooperativas entre si,
por meio, por exemplo, da implementação de procedi- CONCLUSÃO
mentos centralizados de compra e de exportação. É
A primeira avaliação das atividades da Câmara
importante mencionar, ainda, o programa para um fundo
demonstra que há, ainda, muito trabalho pela frente.
de crédito em nível estadual que está em um estágio muito
Alguns dos acordos inerentes a temas físicos ou
avançado de elaboração e negociação com o Governo
econômicos precisam ser aperfeiçoados, e outros,
do Estado de São Paulo. Este fundo será crucial para
particularmente os que se referem a moradia e transporte,
facilitar o acesso de pequenas e médias empresas a linhas
estão esperando implementação efetiva.
de créditos, imensamente necessários para sua
Portanto, como uma decisão consciente de
modernização tecnológica e gerencial. Finalmente, um
melhorar sistematicamente as questões acima descritas,
ambicioso plano para treinar cerca de doze mil
quase que totalmente como um mecanismo informal de
trabalhadores a partir do ano 2000 já foi iniciado no
planejamento, no começo de 1999, a Câmara deu início
pólo petroquímico, beneficiando principalmente
aos trabalhos para um processo formal de planejamento
trabalhadores recém-demitidos pelo setor de plásticos.
estratégico que está sendo apoiado por um subsídio do
No que se refere aos acordos para o desenvol- BID (para a Agência de Desenvolvimento Regional, sua
vimento físico e territorial, progresso concreto tem sido parte legalmente estabelecida). Em conseqüência, em
feito em pouco tempo. Primeiramente, concluíram-se julho de 1999, o documento “Cenário desejado do
as melhorias físicas nas vias expressas “Anchieta” e futuro”, que inclui seus projetos prioritários, foi
“Avenida dos Estados”, estradas que ligam a Região do aprovado pelo Comitê Executivo da Câmara Regional.
ABC à cidade de São Paulo. Foram aplicados recursos Este é o primeiro passo para um plano estratégico
dos três municípios afetados e do Governo do Estado. inteligível aprovado no final daquele ano, abarcando
Vários investimentos complementares ao longo do ações prioritárias e investimentos, atores responsáveis
sistema rodoviário “Anchieta” foram concluídos em por sua implementação e pelos recursos financeiros.
1999, envolvendo o município de São Bernardo e o De acordo com Daniel (1997), a Câmara pode
Governo do Estado. Em segundo lugar, enchentes têm ser considerada como um novo modelo de governance em
causado progressivamente mais danos ao sistema viário nível regional. Sua primeira dimensão é seu foco na
da região metropolitana. Como parte de uma estratégia democracia participativa. De fato, a Câmara do Grande
de prevenção às enchentes, cinco reservatórios de con- ABC representa a fundação de uma ampla esfera
tenção estão sendo implementados. A construção de democrática, ao mesmo tempo pública e “não estatal”.
reservatórios adicionais foi iniciada em 1999. Em terceiro Este fato facilita um processo de planejamento que
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
N. 2 - 1. semestre de 2000 27
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
RESUMO: O texto tem por objetivo evidenciar o forte consultor em Implantação de Sistemas da Qualidade.
relacionamento existente entre a comunicação e a O objetivo deste trabalho é permitir um delineamento
qualidade nas organizações. A comunicação exerce um de como os sistemas comunicacionais interferem no
grande e expressivo poder, legitimando outros poderes gerenciamento da qualidade nas organizações.
existentes, como o poder coercitivo, de recompensa e
técnico. A comunicação deve ser praticada como um 2. A COMUNICAÇÃO COMO PODER
processo que ocorre entre pessoas, muito além da idéia NAS ORGANIZAÇÕES
simplória de emissor, mensagem e receptor; ela é também
uma ferramenta de gestão empresarial. Podemos caracterizar uma empresa, como sendo
uma unidade sócio-econômica voltada para a produção
de um determinado produto – bem ou serviço. A
ABSTRACT: This article has as objective to empresa reúne os recursos econômicos capital e trabalho,
demonstrate the strong relationship between e ainda normas e procedimentos de natureza técnica que
communication and quality in organizations. permitem a operacionalização dos demais.
Communication has a great and expressive power, which Uma empresa não apenas objetiva gerar bens
puts in evidence other existing powers, like coercitive, econômicos, para uma relação de troca entre produtor e
rewarding and technical ones. Communication must be consumidor, mas procura também desempenhar papel
practiced like a process that occurs among people, significativo no tecido social, missão que deve cumprir
beyond the simple idea of emissor, message and qualquer que seja o contexto político.
receptor; and it is a management tool. Se entender mos por organização o
ordenamento, a disposição das partes que compõem um
todo, ou, no dizer de TALCOTT PARSONS (1974), a
PALAVRAS-CHAVE: comunicação; qualidade; poder; unidade social direcionada à consecução de suas metas
gestão empresarial. específicas, vamos constatar na extensão do conceito,
os fundamentos dos princípios sistêmicos. Na visão de
WALTER BUCKLEY (1971), o sistema é uma entidade
KEY WORDS: communication; quality; power; concreta ou abstrata, que reúne componentes que se
management. relacionam mutuamente. Vale ressaltar uma característica
fundamental do sistema que permite inferir que o todo,
pela Teoria de Sistemas, é maior que a soma de suas
1. INTRODUÇÃO partes, evidenciando-se o caráter organizacional que
constitui o elemento comprobatório do conceito.
O extraordinário progresso experimentado pelas Segundo REGO (1986), a comunicação é um
técnicas de comunicação nas últimas décadas representa sistema aberto, semelhante à empresa; e como tal, a
para a Humanidade uma conquista e um desafio. comunicação é organizada pelos elementos – fonte,
Conquista, na medida em que propicia possibilidades codificador, canal, mensagem, decodificador, receptor
de difusão de conhecimentos e de informações numa e ingredientes que revitalizam o processo.
escala antes inimaginável. Desafio, na medida em que o
avanço tecnológico impõe uma séria revisão e É importante identificar nos elementos que
reestruturação dos pressupostos teóricos de tudo o que formam o processo comunicacional os condicionantes
se entende por comunicação. sociológicos e antropológicos que envolvem as fontes,
Neste artigo, procuro fazer uso dos resultados os codificadores, os decodificadores e os receptores. São
obtidos em diversas experiências pelas quais passei como estes fatores que estão à disposição das organizações
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
relação entre as pessoas e a relação entre pessoas e importante é informar o sistema das mudanças no
instituição. ambiente, informar que a situação não está se repetindo,
A unidade básica da comunicação é a linguagem, estando inviabilizadas as velhas estratégias, vitoriosas no
à qual adiciona-se a noção de compromisso e de escutar, passado, mas obsoletas e inadequadas no presente. A
de inspiração heideggeriana. A linguagem pode estar dificuldade reside em que a percepção da informação e,
adequada para obter a ação ou, ao contrário, para sobretudo, seu aprendizado não é um processo isento
dificultá-la. de resistências tanto no que se refere ao indivíduo,
Um grupo de distinções lingüísticas é a base para quanto à organização.
a organização posterior das ferramentas para a As instituições empenhadas em mudanças
comunicação. As distinções são: juízo; aprender; escutar organizacionais ou na adoção de quaisquer novas
e conversar. técnicas se deparam, em maior ou menor grau, com a
O juízo expressa a subjetividade, os valores de resistência das pessoas ao novo. Parte dessa resistência
uma pessoa. Frases do tipo ‘ele é competente’, ou ‘ele é decorre da experiência do aprendizado enquanto perda,
imaturo’ ilustram um juízo, não sendo possível e não enquanto adição de um outro ‘saber’.
determinar se são verdadeiras ou falsas, certas ou erradas. Um exemplo é a necessidade de se documentar
A primeira lição para o trabalho em grupo é que, o procedimento operacional de uma máquina qualquer.
literalmente, não se perde tempo discutindo a veracidade O operador não aceita a possibilidade de que existe um
de um juízo. A formação de um juízo origina-se em um modo melhor de operação além daquele que ele executa
ou mais fatos anteriores; portanto, apresentar os fatos há 10 anos. Nesse caso, a dificuldade de implementação
e contexto é oferecer àquele que escuta os fundamentos do procedimento é imensa. Por outro lado, o fato de
nos quais se originou o juízo. chamar o operador a participar da elaboração de um
As auditorias para certificação dos Sistemas da novo procedimento para melhoria da sua condição de
Qualidade anteriormente descritos trazem consigo trabalho poderá motivá-lo a aprender mais e até mesmo
alguns juízos elaborados pelos auditores externos e que reduzir sua resistência à mudança.
normalmente, se inseridos no contexto da auditoria e Objetivando apreender o pano de fundo
apoiados em normas e procedimentos documentados presente na comunicação e na articulação de
(conforme exigido pelos sistemas), são aceitos pelos compromissos, define-se primeiramente o estado de
auditados sem grandes questionamentos. Porém, apenas ânimo, apresentado como o modo particular de cada
um juízo externalizado sem base e/ou fundamentação um situar-se no mundo, algo que o indivíduo é, criado a
teórica (suporte documentado) pode provocar uma séria partir da própria presença.
discussão e até mesmo o abandono da auditoria, que Seguindo a tradição de Heidegger, o estado de
em muitos casos tem valor expressivo. O juízo é um ânimo é um fenômeno fundamentalmente unido ao
veredicto, fecha ou abre possibilidades de ação entendimento, um certo sintonizar-se com nossa
comunicativa. situação, o que nos abre certas possibilidades e,
O fenômeno da aprendizagem respeita as simultaneamente, nos fecha outras (Heidegger, apud
particularidades de organizações complexas ou criativas. FLORES, 1989).
Pode ocorrer por meio da tentativa e erro, por ganhos e À estrutura unificada de entendimento e estado
perdas, dado o ambiente e a necessidade de adaptação. de ânimo dá-se o nome de escutar (FLORES,1989).
Este é o processo biológico imposto aos seres vivos, Desenvolver a habilidade de escutar é empenhar-se em
lento e incômodo. Uma organização precisa aprender aguçar a percepção do contexto e do mundo particular
muito mais rapidamente, sendo instada a dar respostas do outro. Quanto às pessoas, a escuta faz-se a partir de
céleres. Essa dinâmica é possível através da avaliação de todas as evidências possíveis, tais como tom de voz,
seu comportamento na cadeia, evitando alternativas expressão corporal, etc.
malsucedidas e repetindo aquelas bem-sucedidas no
passado (BEER,1969).Tal mecanismo de aprendizado, À conveniência dos objetivos voltados à gestão
se, de um lado, reduz o tempo de respostas às demandas organizacional, propõe-se conteúdos diferentes às
da adaptação, por outro, torna o sistema relativamente expressões convencer e conversar. Convencer destaca o
resistente às mudanças, alimentando a tendência à ter mo vencer – a aproximação visando ao
perpetuar procedimentos. Entende-se, portanto, que o convencimento é um gesto de imposição. No conversar,
30 N. 2 - 1. semestre de 2000
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
destaca-se o termo versar (aprender) – a aproximação uma unidade humana dependente de interações. Mais
visando conversar é um gesto de apresentar os meus que desenvolver o espírito corporativo, o que se pretende
juízos ao outro, dispondo-me a abrigar também os seus é que cada um perceba com clareza no contexto da
juízos, mantendo-me interessado e aberto ao seu
mundo. organização, e perceba a organização no contexto da
Resumidamente, as reflexões levadas a efeito pela sociedade.’”
ontologia da linguagem e pela cibernética ensinam a
perceber que as instituições são também fenômenos BIBLIOGRAFIA
lingüísticos, de modo que a comunicação deveria fazer
parte dos procedimentos organizacionais fundamentais, AMORIM, Maria Cristina Sanches. Comunicação
o que per mitiria avançar na descentralização planejada, recurso fundamental para a eficácia da gestão
administrativa sem perda de coerência, com maior organizacional. Caderno de pesquisas em
eficácia na realização das tarefas e na construção de administração. São Paulo, v.1, n.9, 2. trimestre/99.
espaços profissionais pautados também pelo respeito BUCKLEY, Walter. A sociologia e a moderna teoria dos
às pessoas e suas condutas individuais. sistemas. São Paulo: Cultrix, 1971.
A comunicação organizacional deve ser
conduzida por um centro de coordenação responsável DEUTSCH, Karl W. Política e governo. Trad. Maria José
por pesquisas, estratégias., táticas, políticas, normas, da Costa e Félix Matoso Miranda Mendes. Brasília:
métodos, processos, canais, fluxos, níveis, programas, Universidade de Brasília, 1979.
planos, projetos, tudo isso apoiado por técnicas que GUIMARÃES, Jorge Lessa. Qualidade competitiva no Brasil.
denotem uma cultura e uma identidade organizacional. Salvador: Casa da Qualidade,1995.
Rego finaliza seu texto enfatizando a idéia de PARSONS, Talcott. O sistema das sociedades modernas. São
um mundo que se renova e a de um mundo em relações, Paulo: Pioneira, 1974.
onde o sistema empresa não pode ser dissociado do
conjunto de variáveis e fatores que integram a célula REGO, Francisco Gaudêncio Torquato do. Comunicação
social. empresarial, comunicação institucional: conceitos, estratégias,
O que se deseja, enfim, é a aproximação entre sistemas, estrutura, planejamento e técnicas. São Paulo:
os valores reais do trinômio sociedade – empresa – Summus, 1986.
comunicação. THAYER, Lee. Comunicação: fundamentos e processos; na
De acordo com GUIMARÃES (1995), “em organização, na administração, nas relações interpessoais. São
artigo intitulado ‘A hora e a vez dos empresários do Paulo: Atlas, 1979.
saber’, escrito para Ícaro – Revista de Bordo da Varig, o
sociólogo e consultor educacional em São Paulo, Alberto
de Oliveira, descreve brilhantemente as virtudes da * Professor do IMES e aluno do PMA do
empresa enquanto uma comunidade de aprendizagem. CEAPOG-IMES.
Ele diz: ‘...a empresa é um organismo vivo, em mutação:
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
II SEMINÁRIO INTERNO
32 N. 2 - 1. semestre de 2000
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
Foi levantada a questão do zoneamento urbano, econômico nada mais é do que a plena utilização dos
pois é preciso se preocupar com o uso certo do solo e recursos para produzir o bem estar da humanidade, da
das águas, evitando mais poluição. Portanto, serviços população. Esse conceito vem mudando com o passar
industriais devem ser fixados em pólos industriais, e do tempo; antigamente, o que provocava o
comerciais, em zonas comerciais. Com base nesta desenvolvimento econômico eram basicamente três
questão, deve-se pensar numa melhor maneira de se fatores: a terra, o capital e o trabalho, mais tarde se
executar a cadeia produtiva da cidade. É preciso inserindo na terra os recursos naturais e mais
identificar as falhas de mercado existentes para então recentemente, com a revolução industrial, a tecnologia.
gerar incentivos e, assim, supri-las, com isso gerando Na década de 80, porém, identificou-se a existência de
novos empregos, novos postos de trabalhos e novas capitais tangíveis e intangíveis, sendo que, somados,
comunidades sem falhas de planejamento. geram o novo conceito de desenvolvimento econômico.
O município possui um programa de formação Os capitais tangíveis são a terra, capital, trabalho e
de novos empreendedores, as micro-empresas abertas tecnologia e os capitais intangíveis são os recursos que
com recursos originados de uma demissão. Segundo podem ser materiais, humanos, psicossociais e
índices do próprio SEBRAE, as micro-empresas investimentos na sociedade.
apresentam dificuldades econômicas no prazo de apenas As molas mestras para essa nova visão, para esse
2 anos, devido principalmente à falta de preparo desses novo conceito de desenvolvimento econômico são o
novos empreendedores. Nesse sentido, o município, em conhecimento científico, o consenso social e o poder
conjunto com o SEBRAE e o BID, elaborou um político coletivo. É preciso que haja na sociedade um
programa de treinamento e desenvolvimento desses consenso social e maior participação. Hoje, o conceito
empresários, para que suas empresas tenham uma de desenvolvimento é sinergético, diferentemente do
sobrevida maior. conceito que provinha da utilização dos benefícios
O município apresenta também programas de gerados pelos recursos. O importante, atualmente, é o
formação de cooperativismo entre os micro e pequenos índice de desenvolvimento humano, não interessando,
empresários para identificar novos seguimentos de por exemplo, quantas escolas existem, mas se toda a
mercado, mercados onde tais empresas não conseguem população tem acesso a elas.
atuar sozinhas por falta de demanda na produção, o que Em relação ao município de São Bernardo do
faz com que elas atuem juntas na forma de associação. Campo, dentro da Câmara foi criado um grupo para
Essa foi a forma encontrada pelo município para que as recuperar o setor moveleiro não só da cidade como
empresas obtivessem sucesso na busca de novos também da região. Este grupo conseguiu importantes
mercados. adesões, como a do SEBRAE, de prefeituras interessadas
Criou-se um conselho de desenvolvimento no projeto e do sindicato moveleiro de São Bernardo
econômico, com a participação de um conselho do Campo. Foram traçadas algumas políticas, que vão
partidário, tendo na sua composição 18 integrantes, desde a planta da fábrica até o empresário. Outro fator
sendo nove da sociedade civil para a discussão do importante no setor moveleiro é a reciclagem de resíduo
fortalecimento do desempenho em geral das empresas sólido; quanto a isso, foi feito um acordo com a FEI –
e programas ligados ao turismo. Pensa-se no turismo SBC, segundo o qual alunos orientados pelos professores
voltado para a vocação da região, o turismo cultural, desenvolveram novas técnicas para tornar esse material
realização de eventos e o turismo empresarial. economicamente viável; nesse sentido, estão procurando
Em complemento a esses programas, Santo parceiros para construir uma mini-usina para processar
André está desenvolvendo um programa chamado Santo esse material.
André Cidade Futuro, que visa a discutir o Outra política que nasceu de reuniões na Câmara
encaminhamento de projetos relativos a melhora no foi a de homogeneização das alíquotas de ISS, a qual
urbanismo, no caso o eixo Tamanduatei e a Cidade Pirelli. tem atraído empresas de serviços para a região e para os
municípios, não pela guerra fiscal, mas sim de acordo
São Bernardo do Campo – Evaristo Peroni,
com a vocação de cada uma.
representante do município de São Bernardo do Campo,
abriu seu discurso conceituando desenvolvimento Como última política, foi mencionada a rede de
econômico. Segundo Evaristo, desenvolvimento merco-cidades, que é a reunião de cidades do Mercosul
N. 2 - 1. semestre de 2000 35
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
com 500 mil habitantes ou até menos, mas que se A região do grande ABC há algum tempo vem
destacam de alguma forma em sua região. Essa rede de perdendo a interlocução com o Estado que mantinha
merco-cidades é a troca de experiências e acordos entre nas décadas de 60 e 70; assim, os municípios tiveram
essas cidades. que assumir certas atribuições. Foi através deste consenso
que o Consórcio e a Câmara foram criados, para dar
Fórum da Cidadania – O representante do maior autonomia à Região perante o Estado e maior
Fórum da Cidadania, José L. Pechtool, destacou a interlocução junto a todos os atores e agentes que
preocupação do Fórum com as políticas voltadas ao buscam minorar a crise ou até reverter seus efeitos. O
desenvolvimento econômico regional. O Fórum não as que está se fazendo é buscar um consenso entre governo,
executa, mas as formula, estuda, analisa e encaminha para entidades representativas e a sociedade.
as prefeituras, para a Câmara Regional, para quem de Desde 1997/1998, estão sendo firmados acordos
direito possa executar essas políticas. e protocolos de intenções, totalizando 21 acordos de
A preocupação inicial era a geração de emprego planejamento estratégico. Elaborou-se uma avaliação que
e de renda, pois achava-se que, dentro desta questão, proporcionou uma visão mais completa da Região,
poderia se dar a cidadania. Outra preocupação do Fórum chegando a um cenário ideal para o ABC. Foi feito um
no momento é: será que realmente haverá um documento para ser discutida a situação da Região, cuja
desenvolvimento se nós trouxermos mais grandes leitura revelou que o ABC sempre foi considerado
supermercados para a região? Como ficam os pequenos periferia da capital, porém com uma potência econômica
comerciantes? O grande desafio é trazer grandes muito grande. Para reverter a lógica da periferia urbana,
mercados sem matar os já existentes. realizou-se uma reunião no qual foram estabelecidos sete
Outra visão dentro do grupo de eixos estruturantes, que formam um conjunto de metas
desenvolvimento econômico do Fórum é a noção de a se traçar para se chegar ao cenário desejado para a
sustentabilidade que está por trás desse desenvolvimento Região. Definiram-se quais os eixos seriam trabalhados
econômico, que implica numa necessária interrelação a curto, médio e longo prazos até o ano de 2010,
entre qualidade de vida, equilíbrio ambiental e essa aproximadamente.
necessidade de desenvolvimento. Entende-se por fatores fundamentais educação
O Fórum também se preocupa com a auto- e tecnologia, seja com o intuito de melhorar o nível
gestão, no sentido de recuperação de empresas antes educacional do trabalhador ou de qualificar a população
que elas quebrem, tornando os empregados também como um todo. Quanto à tecnologia, é preciso criar
donos participantes nos rumos da empresa. Como pólos de tecnologia e pesquisa (eixo 1).
exemplo de sucesso, Auto Forja e Cobertores Paraíba. Outra questão importante é que há 56% de área
de preservação de mananciais, ou seja, áreas que nunca
Consórcio – O representante do Consórcio, foram preocupação quanto ao desenvolvimento, e que
Jorge Fontes Hereda, mostrou a preocupação do órgâo agora exigem planos para a sua sustentabilidade, em
em como chegar à sociedade mais fortemente. O busca de alternativas para que se desenvolvam de forma
planejamento estratégico na região não está relacionado ordenada, porque hoje são consideradas regiões que
com planejamento dos planos plurianuais, socialismo atrapalham a vida das pessoas.
real e similares. Seria até impossível fazer isso, pois não
existe o controle dos meios de produção. Deve-se ressaltar, ainda, na análise da pesquisa,
Com a globalização, na qual os governos do a sensibilidade e a infra-estrutura. Um eixo que mereceu
mundo estão envolvidos, até a ONU se descaracterizou destaque diz respeito à diversificação e ao fortalecimento
para descobrir soluções locais. É neste momento que dos meios e cadeias produtivas. A estrutura da região é
aparece no mundo o fato dos municípios começam a vertical, fordista. A própria pesquisa do SEADE,
assumir novos tarefas, preocupando-se com o encomendada pelo Consórcio, aponta um perfil diferente
desenvolvimento econômico, desemprego e outros do resto de São Paulo. A grande indústria no ABC é a
fatores que se concentravam em outros níveis de que mais contrata e mais gera recursos, ao contrário de
governo. Para Hereda, é preciso impor um mínimo de outras partes de São Paulo. As grandes indústrias do
regras para haja um processo de globalização que não ABC empregam 46% da população economicamente
seja tão desordenado. ativa.
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
Não se deseja acabar com o que o ABC tem de e a Agência de Desenvolvimento produzam programas
diferente, mas fortalecer e desenvolver adequadamente, de trabalho. A região necessita de uma resposta.
manter essa cadeia de produção, criar sinergia dentro Não é sem razão que os temas ligados a essas
dessa cadeia e conseguir uma lógica com a criação de políticas públicas estão representados no Planejamento
novas cadeias produtivas. Estratégico Regional, os famosos eixos estruturantes,
Outros eixos de discussão muito importantes são que aqui merecem uma definição: a concepção
os de caráter institucional, pois qualquer lugar que obteve estratégica compreende a realidade em permanente
um crescimento endógeno teve de considerar esta mudança, resultado do desenvolvimento dos conflitos
questão. Curitiba, por exemplo, conseguiu formar o e das disputas que o animam. O adjetivo estratégico
consenso da importância do verde na cidade. qualifica, então, algo que é orientador e estruturante de
Por fim, uma questão que não é só regional, um conjunto de ações intencionais e articuladas, voltadas
mas também mundial: a da inclusão social. ao alcance de objetivos de médio e longo prazo, em
meio a ações e reações de iniciativa externa; a formulação,
a decisão e a execução geralmente são exercidas por
3. VISÃO ANALÍTICA E CRÍTICA
diferentes atores. Nos parecem frágeis, desconectados,
Pode-se analisar os representantes municipais sem uma visão global da conjuntura a ser enfrentada.
de São Caetano do Sul, Santo André e São Bernardo Em vez de nos espelharmos nas experiências
do Campo, que trabalham na política pública de regionais de sucesso pelo mundo afora e tirarmos delas
desenvolvimento econômico em conjunto com o lições para melhor desenvolver a região, ficamos muitas
Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e a Câmara vezes admirando como algumas áreas degradadas e
Regional, como bem intencionados, transformando a ultrapassadas tecnologicamente estão conseguindo
intenção em seqüências de ações que buscam informar despontar como alternativas econômicas para o próximo
e formar para o crescimento local e regional. século, e com isso permanecer num seleto grupo de
Quando ouvimos os responsáveis por tais regiões vencedoras. Não podemos admitir a
políticas econômicas, percebemos terem conhecimento possibilidade de sermos periferia econômica da cidade
da realidade dos problemas econômicos locais, a questão de São Paulo, produzindo aproximadamente 45% da
da informalidade, dos conflitos da municipalidade com riqueza industrial do Estado de São Paulo.
o governo do Estado e dos próprios erros
administrativos ligados à burocracia, precária Não existem receitas econômicas para o
comunicação e a duplicação de esforços em nível despreparo administrativo público como precatórios,
regional. Isto posto, sucedem-se várias práticas de déficit orçamentário e outras políticas públicas
sucesso, como o fato de cada cidade contar com o seu equivocadas entre outras. Nem especialistas como Allen
mix, não havendo confronto umas com as outras, a Scott, Tomas Grohé, Jodi Borja, entre outros, podem
dar respostas para a nossa regionalidade, se entre nós
viabilização da formalidade dos empreendedores, a
isto não for aprofundado e expandido para mais
formação de cooperativas e o apoio das Associações
interlocutores locais. Não podemos crescer
Comerciais e do SEBRAE.
Para continuar nossa análise, devemos refletir endogenamente sem quebrar estas barreiras municipais.
sobre uma falha comum aos sete municípios que Muitas vezes estamos repetindo para nós mesmos as
compõem a Região em sua capacidade de interlocução ações realizadas; temos que avaliar que estas ações
para a queda de fronteiras municipais e a consecução propostas têm a dimensão de 2,5 milhões de habitantes
de programas que enfrentem os problemas, com a à espera de soluções ou de atitudes que vislumbrem uma
eleição das políticas sociais como início das estratégias possível solução.
regionais. Percebemos a pouca integração entre os
secretários e diretores municipais da região num todo,
não realizando estudos em profundidade, transferindo CONCLUSÃO
ou esperando que as lideranças regionais realizem as
políticas regionalizadas, aguardando que o Fórum da Um novo “espaço de fluxos” precisa substituir
Cidade, a Câmara Regional, o Consórcio Intermunicipal o “espaço dos lugares”. O elemento central da
N. 2 - 1. semestre de 2000 37
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
produtividade no novo modo de desenvolvimento Desde os anos 90, no Brasil, ou desde a década
informacional, que sucede ao industrial, baseia-se agora de 80, nos Estados Unidos e Europa, os municípios
na qualidade do conhecimento e no processamento da devem responder a uma agenda ampla de desafios.
informação, convertida ao mesmo tempo em matéria- “Temas como o desenvolvimento econômico, a
prima e produto, e não mais nas fontes de energia e na formação e reciclagem de mão-de-obra ou a articulação
qualidade do seu uso como no modelo anterior, de supramunicipal, que antes implicavam apenas a
acordo com CASTELLS (1995). responsabilidade de governos regionais ou nacionais,
Os aspectos da acessibilidade e da qualidade entraram na agenda municipal, somando-se a outros que
de vida oferecidos são igualmente cruciais para a demandam esforços permanentes dos governos locais
escolha da localização das sedes empresariais e dos – saúde, educação, proteção a grupos desfavorecidos”
centros de produção chaves. (PACHECO, 1999, p. 39).
Um bom exemplo é o fenômeno da “Terceira A mudança nas estratégias de localização das
Via”, considerado uma experiência bem-sucedida de empresas, que acompanhou a superação do paradigma
“desenvolvimento local endógeno”, ou seja, devido fordista de produção e os efeitos da globalização sobre
essencialmente à sua dinâmica interna, cujas a produção e os serviços trouxeram à tona um aparente
características fundamentais poderiam ser também paradoxo: a mundialização dos fluxos é acompanhada
encontradas nas grandes metrópoles, como nos distritos pela emergência da localidade. Nesse contexto, cabe aos
de alta tecnologia, eletrônica e aeronáutica, de confecção, municípios um novo desafio: serem mais competitivos,
de cinema e televisão, além do distrito comercial e por meio de estratégias que não se baseiem na guerra
financeiro central, existentes na cidade de Los Angeles, fiscal, pois esta leva a um jogo de soma zero (HARVEY,
como observa SCOTT (1994). 1996). O que se precisa é de um jogo virtuoso cuja soma
Destaque para a contribuição de Scott é o caráter seja positiva: competição e colaboração entre municípios
ainda tipicamente industrial que pode assumir o e atores sociais têm sido a chave de estratégias locais
desenvolvimento urbano, negligenciado nas análises bem-sucedidas.
anteriores que pareciam sugerir uma especialização Na administração das cidades, não há ponto de
financeira e de serviços avançados das economias equilíbrio ou movimento sem aceleração. Em
metropolitanas. decorrência de ameaças externas ou de problemas
O novo papel das cidades no quadro de próprios, a gestão de uma cidade tende a se deparar com
reestruturação produtiva e da globalização, descoladas novos desafios. Uma atitude passiva em relação ao futuro
dos contextos nos quais foram formuladas, e, assim, que se desenha deixa poucas alternativas ao
reproduzidas como leis positivas cuja validade dispensa administrador municipal, sendo a mais usual o aumento
mediações e relativizações temporais e históricas, uma dos gastos públicos para superar dificuldades decorrentes
vez tendo sido comprovadas empiricamente. da falta de planejamento. É o caminho para ampliação
A articulação entre o local e o global, o núcleo
do endividamento e o aumento de taxas e impostos. A
duro do paradigma que sugere a não pertinência do
falta de planejamento está associada a uma má
espaço, Estado e economia nacionais para o
administração financeira.
desenvolvimento econômico das cidades, bastando para Outro elemento de destaque na nova realidade
tanto estratégias endógenas de atratividade e inserção mundial globalizada é a crescente concorrência entre as
nas redes de fluxos econômicos globais, não corresponde cidades. Os municípios competem entre si na atração
à lógica do investimento estrangeiro que segue de investimentos e de visitantes. Segundo Philip Kotler,
obedecendo as antigas relações entre centro e periferia a atratividade de uma cidade é resultado da composição
(LEVY, 1998). de três capacidades: investibilidade, habitabilidade e
Borja & Castells consideram que é na articulação visitabilidade. Essas três capacidades reforçam-se
entre o local e o global que se encontra, em última mutuamente, concorrendo para a melhoria contínua da
instância, “a fonte dos novos processos de situação das cidades. Em outras palavras, quem quer
transformação urbana, e, portanto, os pontos de investir busca cidades bem administradas e com boa
incidência de políticas urbanas, locais e globais, capazes qualidade de vida.
de inverter o processo de deterioração da qualidade de É interessante notar que o descobrimento do
vida nas cidades” (1998, p .35). papel a ser exercido pelo município no campo social
38 N. 2 - 1. semestre de 2000
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
ocorreu tanto pelo lado dos que advogam os princípios CASTELLS, M. La ciudad informacional. Tecnologías de la
econômicos neoliberais, como daqueles que, apesar da información, reestructuración económica y el processo urbano-
crise financeira do Estado, do tamanho do desemprego regional. Madrid: Alianza Editorial, 1995.
e da competitividade internacional provocada pelo DUNLEAVY, P. Urban Political Analysis, The Politics of
aprofundamento da mundialização do capital, ainda Collective Consumption. London: Macmillan, 1980.
defendem a manutenção da proteção social concedida
pelo Welfare State. Dessa forma, hoje é possível se GEDDES, Patrick. Cidades em evolução. Campinas: Papirus,
encontrar, discutindo a mesma agenda, políticos, 1994.
GOLDSMITH, M. “The Future of Local Government”,
administradores e pesquisadores de origem ideológica
paper apresentado para a Conference on the future of
diferente. Embora com motivações diferentes, todos
European Cities. Porto, Portugal: European Science
buscam a melhor maneira de o município assumir o papel
Foundation, 1991.
de organizador e ou executor de diferentes políticas
sociais. Todos acreditam que o município tem vocação HARVEY, D. Do gerenciamento ao empresariamento:
para fazer uma política social mais integrada, mais a transformação da administração urbana no
eficiente, mais participativa e mais eqüitativa. capitalismo tardio. Espaço & debates, ano XVI, n. 39.
Com todas essas nuances, os processos de 1996, p. 121-45.
municipalização, democratização e, agora, de LASH, S. e URRY, J. The end of organized capitalism. Oxford:
globalização, deram maior legitimidade aos governos Poity Press/Basil Blackwell,1987.
locais e fizeram emergir a cidade, no Brasil, como ator LEVY, Evelyn. Democracia nas cidades globais, um estudo sobre
político capaz de assumir acordos e associações, Londres e São Paulo. São Paulo: Studio Nobel, 1998.
passando a representar o papel de pólo central na
articulação entre a sociedade civil, a iniciativa privada e PACHECO, Regina Silvia. Administração pública
as diferentes instâncias do Estado (CASTELLS & gerencial: desafios e oportunidades para os
BORJA, apud VIANNA, 1998). municípios brasileiros. In: O Município no Século XXI:
Percebe-se que os representantes das prefeituras Cenários e Perspectivas. São Paulo: Fundação Prefeito
reunidos no IMES não conseguiram disfarçar a Faria Lima – Cepam, 1999.
dificuldade de não gozarem de autonomia funcional para SASSEN, Saskia. As cidades na economia mundial. São Paulo:
desenvolver políticas públicas que satisfaçam as Studio Nobel, 1998.
necessidades regionais, pois as secretarias ou diretorias SCOTT, Allen J. A economia metropolitana.
da área econômica passaram a integrar as preocupações Organização industrial e crescimento urbano”. In:
municipais a partir de 1997 e, em nível regional, a partir BENKO, Georges e LIPIETZ, Alain (orgs). As regiões
de 1998, com a Agência de Desenvolvimento ganhadoras. Distritos e redes: os novos paradigmas da geografia
Econômico. Nota-se que a estrutura atual é insuficiente econômica. Oeiras: Celta Editora, 1994, p. 63 –73.
para atender à demanda existente, concentrando os
esforços somente em seus municípios. Os VIANNA, A. L. D. Novos riscos, a cidade e a
administradores públicos da região ainda não intersetorialidade das políticas públicas. Revista de
perceberam que o temário regional vai além de questões Administração Pública, v. 32, n. 2, 1998, p. 23-33.
econômicas e socioculturais, que se desdobram nos RATTER, Henrique. Liderança para uma sociedade
chamados sete eixos estruturantes da Câmara do Grande sustentável. São Paulo: Studio Nobel, 1998.
ABC.
BIBLIOGRAFIA
RESUMO: Este artigo tem como objetivo abordar as KEY WORDS: public politics; social inclusion;
políticas públicas de Inclusão Social e Cidadania, na citizenship.
região do grande ABC, e o que se tem feito para
minimizar essa problemática, que a cada dia ocupa mais
espaço no meio social. 1. INTRODUÇÃO
O texto é embasado nos depoimentos de
representantes das prefeituras e ONGs, responsáveis Os alunos do curso de Mestrado em
por essas políticas, durante o 2º Seminário realizado pelo Administração do IMES, dentro da linha temática
Laboratório de Gestão da Sociedade Regional, no curso “Gestão da Sociedade Regional”, e orientados pelos
de Mestrado do IMES, realizado em outubro de 1999, e professores Luiz Roberto Alves e Jeroen Klink,
complementado com referencial teórico. promoveram em outubro de 1999 o 2º Seminário sobre
O que se pode observar é que as políticas de Políticas Públicas, destacando as políticas de
Inclusão Social e Cidadania são trabalhadas localmente, Planejamento Estratégico, Inclusão Social e Cidadania e
sem a preocupação de se criar um plano mais abrangente, Políticas de Culturas.
para facilitar as ações de Inclusão Social e a prática da No encontro estiveram presentes Marcos
Cidadania regionalmente. Antônio Gonçalves, diretor da AVAPE (Associação para
Valorização e Promoção de Excepcionais); Cormarie G.
ABSTRACT: This article has the purpose of Perez, assistente social da prefeitura de Ribeirão Pires,
approaching the public politics of Social and Citizenship Marlene B. Zola, representante da Secretaria de
Inclusion, in the Greater ABC region, and what has been Desenvolvimento Social e Cidadania de São Bernardo
done for reducing this problem, which day by day is do Campo; Gil Gonçalves Júnior, Secretário do Bem-
increasing in the social atmosphere. estar Social de Mauá; Olivier Negri Filho, vereador de
The text is based in the ONGs and Town halls Mauá, e Wagner Barbato, diretor do Procon de São
delegates’ depositions, responsables by these politics, Caetano do Sul.
during the 2nd Seminar accomplished by the Regional O presente artigo abordará as políticas públicas
Society Administration Laboratory, in the IMES de Inclusão Social e Cidadania, e se estas políticas estão
mastership course, which had taken place in October conseguindo equacionar problemas relacionados ao
1999, and was complemented by the theorical desemprego, geração de renda, desigualdade social,
reference. portadores de deficiência física e direitos à Cidadania.
It can be observed that the politcs of Social A exclusão social é crescente em todos os
Citizenship Inclusion are worked on the premises, segmentos sociais, principalmente após o início dos anos
without the concern to produce a plan of inclusion to 90, com a globalização, quando regiões e países mais
make easy the Social Inclusion and the practice of the desenvolvidos usufruem de riqueza, progresso, melhores
Citizenship regionally. condições de vida, e os demais são condenados à
exclusão, à marginalizacão e à miséria.
PALAVRAS-CHAVE: políticas públicas; inclusão Na América Latina, com o perde-ganha da
social; cidadania. abertura ao comércio e aos investimentos externos,
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
for mado, de um lado, por polarização social e organizado, a agressão ao meio ambiente e a
deterioração das condições de emprego e, de outro, por desigualdade social.
sofisticação da produção e amadurecimento da relação Explodirão operações pessoais via redes
empregado-empregador, há um movimento multi- eletrônicas, a crença na solidariedade , na auto-ajuda e a
direcional de inclusão e exclusão social. adesão às tecnologias de informação.
Segundo Gilberto Dupas, há uma dialética da Várias cidades se rebelarão contra governos
inclusão e da exclusão social em países periféricos como centrais, provocando grandes crises nos Estados-nação.
o Brasil: a primeira se dá por meio do trabalho flexível e Haverá grande aumento da participação
informal, enquanto a segunda consiste na eliminação do comunitária, os setores públicos e privados sem fins
emprego formal. lucrativos intensificarão as parcerias com ONGs ativas,
No Brasil, há dez anos havia um milhão de promovendo a educação e a assistência social.
bancários empregados, hoje são 450 mil. No Grande Hoje, os principais países estão se preocupando
ABC, em 1995, as empresas metalúrgicas empregavam com os gastos de bem-estar social, que crescerão nas
150 mil, hoje são 35 mil. próximas décadas. Uma das razões para isso é o rápido
Entre 1991 e 1998, o número de empregos aumento do número de idosos em todos os países,
formais caiu 27%, enquanto os informais aumentaram inclusive o Brasil.
32%. Há uma fragmentação da cadeia produtiva, que As necessidades sociais ocorrerão de duas
busca fatores mais favoráveis como mão-de-obra mais formas: por caridade, por meio de ajuda aos pobres,
barata, trabalho infantil ou leis ambientais mais flexíveis. incapacitados, desamparados e vítimas, e por mudanças
Em São Paulo, atualmente existem 8,4 milhões na comunidade decorrentes da força de trabalho e nas
de pessoas abaixo da linha de pobreza, com renda per pessoas pela demanda por aptidões e conhecimento,
capita mensal de R$ 149,00, segundo pesquisa realizada devido à exigência do mercado de trabalho por
pelo IPEA. qualificação da mão-de-obra.
Um dos problemas sociais que preocupam as O estudo faz um alerta para reflexões sobre as
sociedades do mundo todo neste fim de século é a políticas públicas implementadas hoje no mundo.
exclusão social, contingente de excluídos que coloca em
risco cada vez mais o menor número de incluídos.
Segundo Dom Helder Câmara, ex- arcebispo do 2. REFLEXÃO SOBRE POLÍTICAS
Recife, os excluídos são os analfabetos, os PÚBLICAS E DE INCLUSÃO SOCIAL
desempregados, vítimas da globalização e da automação,
quando o mercado passou a exigir um menor número “Políticas Públicas são ações dos governos
de empregados e profissionais mais qualificados. destinadas a distribuir e alocar valores para a
São os pobres que têm fome e sede de justiça, comunidade” (FINGERMANN, 1992).
que desejam estudar e não encontram vagas, os que pre- Políticas Públicas também podem ser entendidas
cisam de saúde e o Estado não oferece; os aposentados, como ações de atores políticos, visando a uma melhor
deficientes físicos, que não são respeitados em seus qualidade de vida cultural e social, e ao desenvolvimento
direitos mais legítimos. Diante desse quadro, uma questão da cidadania e das necessidades básicas de seus cidadãos,
pode ser formulada: como será o próximo século? como educação, saúde, emprego e lazer.
Segundo um estudo sobre os cenários futuros, Segundo Luiz Roberto Alves, Políticas Públicas
visto por um observador no ano de 2010, realizado pela devem constituir-se em um processo de trabalho onde
Forward Studies Unit (órgão da Comissão Européia), os objetivos e metodologias são fundamentados na
citado por Gilberto Dupas, a Terceira Revolução participação grupal ou coletiva. As ações e
Industrial será acompanhada por uma explosão da procedimentos capazes de produzir a interação e os
capacidade empresarial ligada à tecnologia da objetivos devem considerar a criação simbólica das
informação, inovação tecnológica e capacidade de pessoas e instituições envolvidas e ser abrangentes,
organização, com grande ênfase na iniciativa e na quanto à difusão e ao consumo de bens socioculturais.
autoconfiança.
O consumismo será exacerbado e a exclusão Em um processo de Políticas Públicas, é
social aceita como inevitável. Crescerão o crime necessária a participação de três atores. O gerador é
N. 2 - 1. semestre de 2000 41
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
aquele que implementa a Política Pública. O transmissor sobre soluções e efetivar a equiparação de
é aquele que a executa, difunde e desenvolve. Já o oportunidades para todos (SASSAKI, 1997, p.3).
receptor se beneficia dela e fornece feedback ao agente Em várias partes do mundo, já é realidade a
gerador, de forma que permita uma avaliação constante prática da inclusão, tendo as primeiras tentativas
da Política Pública implementada, bem como de seus começado há cerca de 10 anos nos Estados Unidos e na
resultados. Europa. O processo de inclusão vem sendo aplicado
Portanto, políticas públicas são ações geradas em cada sistema social; quanto mais sistemas comuns
por discurso e produção de atores envolvidos num da sociedade adotarem a inclusão, mais cedo se
processo de trabalho político, visando à melhoria na completará a construção de uma verdadeira sociedade
qualidade de vida, ao desenvolvimento da cidadania e para todos, “a sociedade inclusiva”.
ao atendimento de outras necessidades e desejos sociais. A ONU (Organização das Nações Unidas) foi
Segundo Shahif Yusuf, assessor do Banco provavelmente a primeira entidade a cunhar explicita-
Mundial de Desenvolvimento (BIRD), o último relatório mente a expressão “sociedade para todos”, que está regis-
do BIRD sobre a globalização no século XXI destaca trada na resolução 45/91 da Assembléia Geral das Na-
quatro pontos essenciais para o sucesso de políticas ções Unidas, ocorrida em 1990. Desde então, seus docu-
públicas nesse próximo milênio: mentos vêm relembrando constantemente a meta de uma
– a estabilidade macroeconômica é essencial para sociedade para todos em torno do ano 2010. Em outras
o crescimento e indispensável para o desenvolvimento; palavras, foi dado ao processo de consecução da meta
– as políticas públicas devem priorizar as de uma sociedade inclusiva o prazo de cerca de 20 anos
necessidades humanas; (1991-2010).
– nenhuma política isolada promoverá o Para apoiar ações concretas nesse sentido, existe
desenvolvimento, é necessária uma abordagem o Fundo Voluntário das Nações Unidas sobre
abrangente; Deficiência, aprovado pela Assembléia Geral por meio
– o desenvolvimento sustentado precisa ser da resolução 40/31 (UNITED NATIONS, 1997, p. 5).
socialmente inclusivo e flexível para adaptar-se à Os governos têm responsabilidade direta de
evolução das circunstâncias. criar ações para minimizar esse problema, por meio da
promoção do crescimento econômico sustentado, com
a adoção de políticas corretas. Devem promover
programas em parceria com o setor privado destinados
3. POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL ao treinamento dos trabalhadores dispensados e reciclar
E CIDADANIA aqueles que ainda se encontram empregados. Estimular
a flexibilização de regras relativas às relações de trabalho,
Dentre as Políticas Públicas, a de Inclusão Social
de modo a preservar o número de empregos, e facilitar
e Cidadania, tema desse artigo, constitui a prática mais
as negociações entre empresas e trabalhadores. Por fim,
recente de que se tem notícia no campo das necessidades
viabilizar a concessão de créditos pelos bancos estatais
especiais, tanto no Brasil como em outros países.
e a inclusão de incentivos na legislação tributária
A Inclusão Social vem aos poucos substituindo
(CARDOSO, 1996).
a prática da integração social, que há quatro décadas “A sociedade para todos, consciente da
ocupa o lugar da segregação e da exclusão de pessoas diversidade da raça humana, é aquela que estaria
consideradas diferentes da maioria da população de estruturada para atender às necessidades de cada cidadão,
qualquer sociedade. das maiorias às minorias, dos privilegiados aos
Conceitua-se a inclusão social como o processo marginalizados” (WERNECK, 1997, p. 21).
pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em A prática da inclusão social repousa em
seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades princípios até então considerados incomuns, tais como:
especiais que, simultaneamente, preparam-se para a aceitação das diferenças individuais, a valorização de
assumir seus papéis na sociedade. cada pessoa, a convivência dentro da diversidade
A inclusão social constitui, então, um processo humana, a aprendizagem por meio da cooperação.
bilateral no qual as pessoas (ainda excluídas) e a sociedade A diversidade humana é representada,
buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir principalmente, por origem, nacionalidade, opção sexual,
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
religião, gênero, cor, idade, raça e deficiência. Assim, a sociedade é chamada a ver os
Para incluir pessoas, a sociedade deve ser modi- problemas que ela cria para as pessoas portadoras de
ficada, a partir do entendimento de que ela é que precisa necessidades especiais, causando-lhes incapacidade (ou
ser capaz de atender às necessidades de seus membros. desvantagem) no desempenho de papéis sociais em
A inclusão social, portanto, é um processo que virtude de: seus ambientes restritos; suas políticas
contribui para a construção de um novo tipo de discriminatórias e suas atitudes preconceituosas que
sociedade por meio de transformações, pequenas e rejeitam a minoria e todas as formas de diferenças; seus
grandes, nos ambientes físicos (espaços internos e discutíveis padrões de normalidade; seus objetos e
externos, equipamentos, aparelhos e utensílios, outros bens inacessíveis do ponto de vista físico; seus
mobiliário e meios de transporte), nos procedimentos pré-requisitos atingíveis apenas pela maioria
técnicos e na mentalidade de todas as pessoas, portanto aparentemente homogênea; sua quase total
também do próprio portador de necessidades especiais. desinformação sobre necessidades especiais e sobre
direitos das pessoas que têm essas necessidades; suas
práticas discriminatórias em muitos setores da atividade
4. POLÍTICAS DE INCLUSÃO SOCIAL E humana.
O DEFICIENTE FÍSICO Atualmente, vem crescendo muito a parceria
entre setores públicos e privados, ONGs em projetos
Os praticantes da inclusão social de deficientes sociais, buscando a inclusão na sociedade de pessoas
físicos se baseiam no modelo social da deficiência, no menos favorecidas.
qual os problemas das pessoas com necessidades espe- O incentivo às organizações comunitárias
ciais não estão nelas, mas na sociedade em que elas vivem. autônomas no setor social é um passo importante na
Para WESTMACOTT (1996), “o modelo social reformulação do governo para que ele recupere seu
da deficiência diz que são as atitudes da sociedade e o desempenho.
nosso ambiente que necessitam mudar”. Assim, a inclusão social pode ocorrer no
FLETCHER (1996, p. 7) explica que o modelo mercado de trabalho, na educação, no esportes e lazer,
social da deficiência “focaliza os ambientes e barreiras etc. Quando isso acontece, pode-se falar em:
incapaci-tantes da sociedade e não as pessoas deficientes.
O modelo social foi formulado por pessoas com
deficiência e agora vem sendo aceito também por Empresa inclusiva
profissionais não-deficientes. Ele enfatiza os direitos hu-
manos e a equiparação de oportunidades”. Diz-se que a empresa é inclusiva quando não
Em meados da década de 80, CLEMENTE exclui funcionários ou candidatos a emprego em razão
FILHO (1985, p. 21-22) já afirmava que a comunidade de qualquer atributo individual do tipo: nacionalidade
como um todo deveria aprender a ajustar-se às (país de nascimento), naturalidade (cidade de
necessidades especiais de seus cidadãos portadores de nascimento), sexo, cor (etnias diversas), deficiência (física,
deficiência. Para este autor, o desenvolvimento (por mental, visual, auditiva ou múltipla), compleição
meio da educação, reabilitação, qualificação profissional anatômica (gordas, magras, altas, baixas), idade etc. Todos
etc.) das pessoas deficientes deve ocorrer dentro do os funcionários, com ou sem alguns desses atributos
processo de inclu-são e não como um pré-requisito para individuais, trabalham juntos.
que possam fazer parte da sociedade, como se elas Empresas que investem na implementação de
“precisassem pagar ‘ingressos’ para integrar a uma filosofia de inclusão social, no ambiente de trabalho,
comunidade” (1996, p. 4). preocupam-se em:
– adaptar alguns postos de trabalho bem como
Cabe, portanto, à sociedade eliminar todas as ferramentas e procedimentos;
barreiras físicas, programáticas e atitudinais para que as – revisar a política de admissão e desen-
pessoas com necessidades especiais possam ter acesso volvimento de recursos humanos;
aos serviços, lugares, informações e bens necessários – capacitar seu quadro de pessoal a respeito de
ao seu desenvolvimento pessoal, social, educacional e abordagens inclusivas na empresa.
profissional. Buscam, assim, melhoria nas relações de
N. 2 - 1. semestre de 2000 43
CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
trabalho; aumento da produtividade com qualidade e – .adaptar regras bem como procedimentos e
criatividade; maior satisfação de empregados e recursos físicos para cada atividade;
dirigentes, e melhoria da imagem da empresa perante a – capacitar monitores de lazer, esporte e re-
creação–a pesquisar
respeito deexperiências
abordagensde inclusãoinclusivas;
e técnicas no lazer,
comunidade local e internacional. esporte e recreação.
Educação inclusiva
Na área da educação, escolas que implementam O empenho desses centros de recreação e de
políticas de inclusão social não excluem alunos, sejam seus atores na implementação da filosofia de inclusão
eles crianças ou jovens candidatos à matrícula em razão social no lazer e nos esportes poderá proporcionar um
eaumento
melhoria na
da competência
variedade de física e social, esociais
modelos crescimento
pela
de: sexo, cor (etnias diversas), deficiência (física, mental, do senso dedos
‘pertencer à comunidade’.
visual, auditiva ou múltipla), classe social (situação sócio- diversidade participantes; aumento da auto-estima
econômica), condições de saúde (vírus HIV, epilepsia,
Cidadania
síndrome de Tourette, transtorno mental etc.) e outros.
Todos estudam juntos nas mesmas classes.
Tomam algumas medidas simples e econômicas
como: Cidadania é a disposição de contribuir para o
– investir no capital humano; país. Significa compromisso ativo, responsabilidade,
país.
fazerSem cidadania
diferença a política se esvazia,
na comunidade, o nacionalismo
na sociedade, no seu
– adaptar recintos da escola bem como técnicas
didáticas e atividades de aprendizagem; se degenera (DRUKER, 1999, p. 159, 161,162).
– revisar a política de contratação e
treinamento de professores e funcionários; para É promover uma mudança de consciência nas
professores de educação especial e do ensino regular, pessoas, mostrando a elas a necessidade de se
adotar esquemas de apoio e treinamento, para trabalhar reconhece-rem como agentes de transformação no meio
de
em que
que évivem.
preciso agirisso,
Para localmente, fazendo
é necessário o que
divulgar for
a idéia
com alunos que apresentem necessidades especiais,
decorrentes ou não da deficiência; possível, pen-sando que a mudança de atitudes em nível
– capacitar seu quadro de pessoal a respeito local irá se refletir como um exemplo a ser seguido em
de abordagens inclusivas na escola. nível global.
6. RELATÓRIO DO SEMINÁRIO
O século XXI está criando uma nova realidade Estes representantes abordaram projetos de
real. asEcidades,
para as cidades, embora
o local interagenem
com sempre de tempo
o global em forma inclusão social que estão sendo desenvolvidos em seus
satisfatória, devido a seus restritos recursos para investir municípios, bem como seus pontos de vista em relação
na área social, ainda acabam sendo mais eficientes e a essa problemática. Procuramos elencar de maneira
eficazes do que o governo central. sintética as idéias e propostas de cada expositor.
Marcos Antônio Gonçalves, diretor da AVAPE,
As cidades que entenderem que são o centro
de gravidade de atividades econômicas sociais, (Associação para Valorização e Promoção de
políticas, culturais e lugar de identificação poderão criar Excepcionais), sediada em São Bernardo do Campo,
modelos e políticas adequadas, contribuindo para o bem representante do terceiro setor, iniciou sua apresentação
estar de seus munícipes (FACHIN e CHANLAT, 1998). falando sobre a importância das ONGs no atual
Borja & Castells consideram que é na articulação contexto nacional e mundial.
novos
entre oprocessos
local e o de transformação
global urbana“ae, fonte
que se encontra portanto,
dos O terceiro setor no mundo, segundo ele, é um
os pontos de incidência de políticas urbanas, locais e
dos setores que mais movimentam capitais e geram 8%
globais, capazes de inverter o processo de deterioração
dos empregos:
entidades. É o só no que
setor Brasilvem
temos cerca de 200.000
empregando mais e
da qualidade de vida nas cidades” (1998, p. 35).
crescendo de forma violenta (70% das entidades
As cidades têm encontrado certa dificuldade surgiram a partir de 1982). Seus integrantes são
para atender às necessidades sociais, pois as despesas voluntários, portanto quem está salvando o país quanto
têm crescido muito mais que as receitas nesse setor, aos trabalhos de caráter social é o terceiro setor.
devido ao aumento da demanda por serviços públicos, A AVAPE é uma entidade filantrópica sem fins
da população mais carente. lucrativos, a primeira a ter ISO 9002, que atende, hoje,
No Planejamento Regional Estratégico do ABC, sete mil pessoas portadoras de deficiência. Emprega,
aprovado em 02 ago. 1999, no Eixo Estruturante nº 7, em média, 1.300 por ano, e tem mais de 40 unidades.
que trata da Inclusão Social, foram destacados programas Seu foco principal está em São Paulo, Grande ABC e
e ações para serem desenvolvidos nos próximos 10 anos, Vale do Paraíba e sua filosofia é desenvolver trabalho
como: programa de renda mínima; frentes de trabalho; junto com a sociedade.
estímulo a cooperativas de trabalhadores; amparo à O projeto Avape Verde envolve produtos
criança; campanha de orientação para prevenção de cultiva-dos sem agrotóxico, que serão comercializados
urbanização
drogas; apoiodeàfavelas;
pessoa ampliação
portadora dade oferta de moradia
deficiência física; no mer-cado. O Pão de Açúcar emprega idosos,
pelo CDHU; redução dos índices de violência e presidiários e portadores de deficiência.
criminalidade; implantação de policiamento comunitário, Um acordo com o SEBRAE envolve pequenas
entre outros. entidades, pois são essas pequenas entidades que
atendem à grande demanda de excluídos.
Na região do Grande ABC, os governos locais,
o Fórum da Cidadania, a Câmara Regional e ONGs, já Marcos Antônio Gonçalves critica a ausência
estão desenvolvendo alguns desses projetos relacionados de políticas públicas específicas, o uso inadequado de
com a geração de emprego e renda, saúde, violência verbas e a postura do Estado que, em alguns momentos,
contra mulheres e adolescentes, alfabetização de adultos, segundo ele, não atua como parceiro do terceiro setor,
programas voltados à criança, segurança pública, mas como oponente. Ressalta a importância de se iniciar
habitação, saúde e outros. trabalhos em nível local, e destaca órgãos como Câmara
Regional, Fórum da Cidadania e Agência de
Desenvolvimento, para o fortalecimento do Grande
Esses projetos foram relatados pelos secretários ABC como região. Lembra da necessidade de trabalhar
polí-ticas de inclusão, voltadas não só ao PPD, mas
das prefeituras dos municípios que compareceram ao também às minorias como negros, mulheres e idosos. A
2º Seminário sobre Políticas Públicas, ONGs e sociedade soma de todas estas minorias constitui uma grande
civil dos municípios da Região do Grande ABC. maioria.
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
Cor marie G. Perez, assistente social da trabalhar políticas dentro de um contexto regional.
Prefeitura de Ribeirão Pires, destacou programas que Hoje, São Bernardo do Campo, em parceria com a
norteiam a condução dessas políticas; o enfrentamento Câmara Regional do ABC, trabalha o projeto “Criança
à pobreza tendo como eixo a família; extensão aos Prioridade 1”, voltado para políticas públicas de
direitos de cidadania; mobilização social, e fortalecimento cultura, educação e trabalho. Os cursos de iniciação
permanente dos mecanismos de gestão. profissional, que preparam jovens para o mercado de
O projeto de complementação de renda, em trabalho, já prepararam mais de 2.500 jovens em 4
parceria com o Governo do Estado de São Paulo, meses.
atende atualmente 54 famílias com renda de até 2 Marlene B. Zola citou uma cooperativa de
salários mínimos, e que tenham filhos menores de 18 costureiras (onde se trabalha a cultura de associativismo),
anos. A família recebe 50 reais por criança que estiver o programa de qualificação profissional a vários
na escola, sendo o valor pago proporcional ao número segmentos da sociedade, e o programa de
de crianças que freqüentam a escola. complementação de renda que atende a cerca de 200
O Integrar, criado em parceira com a CUT, visa famílias carentes.
à qualificação profissional de trabalhadores desem- A Secretaria de Desenvolvimento Social e
pregados para o mercado de trabalho, formando mão- Cidadania vem desenvolvendo programas que possam
de-obra mais especializada. construir a base de uma sociedade que prioriza a questão
Quanto ao direito à Cidadania, a sessão de da cidadania e do desenvolvimento humano.
assuntos jurídicos dá assistência à criança e ao Gil Gonçalves Júnior, secretário do Bem-estar
adolescente e encaminha menores infratores julgados Social da Prefeitura de Mauá, diz que a assistência social
pelo Poder Judiciário a prestar serviços à comunidade do ponto de vista de políticas públicas é muito recente,
como reparação do mal causado à sociedade. começou a partir de 1993.
No que concerne aos portadores de deficiência, Ele destaca a importância de pensarmos
há somente a APAE. O município também conta com a regionalmente, lembrando problemas comuns à região
Casa da Juventude, o Centro de Referência do Idoso, a como desemprego, habitação, educação etc. Para Gil
Casa da Cidadania, onde funciona o Procon e o Conselho Gonçalves Júnior, um dos grandes fatores para que o
Tutelar do Menor e é feito o atendimento e orientação trabalho regional seja fortalecido é o desenvolvimento
ao munícipe, quanto a suas necessidades básicas. de parcerias com Organizações Não-Governamentais,
No que se refere aos migrantes e moradores de criando-se assim uma rede de trabalho com qualidade.
rua de Ribeirão Pires, ainda não existe programa algum Para ele, o problema dos moradores de rua deve
sendo desenvolvido. ser resolvido regionalmente, já que se deslocam com
Segundo Cormarie G. Perez, os menores facilidade.
infratores e os direitos da criança e do adolescente devem tano doWagner Barbato,
Sul, enfatizou diretor do Procon
a importância de São Cae-
da conscientização
ser tratados regionalmente. da população quanto aos seus direitos sociais. Destacou
Em sua exposição, Cormarie G. Perez salientou o Procon, que a cada ano atende a um maior número
as dificuldades na aplicação de recursos financeiros, em de reclamações de serviços públicos e privados, o que
virtude das limitações do município. contribuiu para uma melhoria na qualidade dos serviços
Marlene B. Zola, representante da Secretaria e produtos, bons indícios de que a sociedade está
de Desenvolvimento Social e Cidadania de São valorizando seus direitos de cidadão.
Bernardo do Campo, destacou que a reordenação de Ele destacou também os programas sociais da
políticas públicas (até então muito diversificadas e
prefeitura que dão muita importância à criança e ao
segmentadas) e a criação da Secretaria de
adolescente na área de esporte, educação, e os
Desenvolvimento Social e Cidadania foram grandes
vitórias da atual administração.
A transformação da Fubem em Fundação programas voltados à terceira idade, os quais
Criança deu uma nova lógica de funcionamento e proporcionam aos idosos uma vida mais saudável e
proporcionou o repensar da instituição e suas diretrizes. participativa.
Também foi colocado o interesse do município em
Segundo Olivier Negri Filho, vereador de Mauá,
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
há excelentes leis, mas não colocadas em prática, o que Urge criar massa crítica, abrir polêmicas e
dificulta a evolução e a condução das políticas públicas. expectativas de soluções para os problemas em
Sendo assim, para que ocorram mudanças é conjunto com a sociedade local e regional; estimular a
fundamental que as pessoas adquiram consciência participação de representantes dos sete municípios em
crítica e cidadania. encontros de interesses comuns, para equacionar
problemas sociais, de meio ambiente, que afetam toda
7. ANÁLISE CRÍTICA a região; facilitar a troca de informações entre secretarias
e órgãos competentes sobre projetos que sejam de
A necessidade de se pensar em Políticas interesse comum, e que propiciem o aumento da
inclusão social; despertar na sociedade o compromisso
Públicas em âmbito regional ficou evidente na fala de
com a região, pois é o lugar em que se vive, local do seu
todos os participantes. Pode-se observar que esta
cotidiano, de sua sobrevivência e desenvolvimento.
necessidade, em grande parte das colocações, está
A Região do Grande ABC é muito importante
atrelada a questões pontuais. Não se fala em um
no contexto social, tem uma das melhores renda per
planejamento de Políticas Públicas regionais de capita do país é considerada o maior pólo industrial de
para outrase poderá
São Paulo, regiões.se tornar um modelo de gestão social
maneira mais ampla, falta comunicação e troca de O curso de mestrado de Gestão da Sociedade
informação entre os representantes dos sete municípios. ALVES, Luiz Roberto. Políticas Sociais; como localizá-las,
Regional tem como objetivo criar um banco de dados
pro ceder a sua avaliação e superar deficiências em
Hoje, o Grande ABC passa por um momento sua prática social. Apostilado. São Paulo: ECA/USP,
de transição. Verifica-se redução nos postos de trabalho, 1998.
em função do esvaziamento do setor industrial na região
CAMPANS, Rose. O paradigma das global cities nas es
e um crescimento das demandas sociais. Com isso tem- tratégias de desenvolvimento local. O local e o global.
se um número cada vez maior de excluídos, e por Revista de Estudos Urbanos e Regionais n. 1. São Paulo:
conseqüência a necessidade de uma quebra de fronteiras USP, maio 1999.
municipais e de paradigmas na concepção de Políticas CARDOSO, Fernando Henrique. Conseqüências sociais da
Públicas de Inclusão e Cidadania. globalização.[Conferência] Nova Delhi, Índia, 27 jan.
Algumas ações práticas, como a criação dos 1996.
centros de referência do idoso, mulher, juventude e DRUKER, Peter Ferdinand. Sociedade pós- capitalista.São
deficiente, bem como os esforços em capacitar e Paulo: Pioneira, 1999.
recapacitar mão-de-obra, são indícios de que o Grande DUPAS, Gilberto. Globalização promove inclusão e
ABC começa a caminhar para um processo de exclusão social, O Estado de São Paulo, 5 dez. 1999,
mudanças, que
problemas masa ainda
região éenfrenta.
muito pouco, diante dos Caderno B4.
DUPAS, Gilberto. Onde está o poder econômico no sé
culo 21, O Estado de São Paulo, 17 set.1999, Ca
CONCLUSÃO derno A13.
O objetivo deste Seminário foi promover o
FACHIN, Roberto e CHANLAT, Alain. Governo municipal
debate entre os mestrandos, representantes dos
na América Latina: Inovações e perplexidades.Porto
municípios e instituições da Região do Grande ABC, sobre toda a Região do Grande ABC, e desenvolver
Alegre: Sulina/UFRGS, 1998.
levantando as questões que dificultam a inclusão social trabalhos e dissertações que possam contribuir para o
bem como o desenvolvimento da cidadania, buscando levantamento dos problemas da região, propor soluções,
verificar o que já foi realizado até o presente momento promover encontros entre as universidades locais e a
e qual a visão dos convidados em relação à abordagem sociedade para discutir políticas públicas e o
desses temas. fortalecimento da cidadania.
Observa-se que há um consenso entre os
palestrantes dos municípios presentes nesse seminário
quanto à necessidade de se discutir determinados *Alunos do PMA do CEAPOG-IMES.
problemas sociais regionalmente e não localmente. BIBLIOGRAFIA
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
A globalização da economia mundial impõe Júlio Mendonça; produtores culturais regionais como
novos desafios para as sociedades/cidades. A velocidade Daniel Lima (Livre Mercado) e Rosana Costa (Diário do
e a abrangência das comunicações invadem limites Grande ABC), Roberto Elísio dos Santos e Jeroen Klink
territoriais de forma devastadora e impositiva, ditando (professores do IMES), Alexandre Takara (professor da
novas tendências e formas de organização social que UMESP), Dilma de Melo Silva (professora da ECA/
acontecem em todos os cantos do mundo. USP), escritores e alunos do curso de mestrado do IMES.
Outras culturas e costumes coletivos entram A coordenação coube ao prof. Luiz Roberto
em nossas mentes através dos mais diversos meios de Alves, que agradeceu aos participantes a oportunidade
comunicação e parecem ser comuns às nossas de debater e refletir sobre políticas públicas de cultura
sociedades. e educação, e propôs uma análise de como estas políticas
Segundo Aloísio Magalhães, citado por acompanham as demais políticas regionais ligadas a
GONÇALVES (1995), “um dos problemas com que se desenvolvimento, economia etc., por acreditar serem os
defrontam os países no mundo moderno é a perda da elementos de cultura e educação os sinais para onde
identidade cultural, isto é, a progressiva redução de caminha a região.
valores que lhes são próprios de peculiaridades que lhes
diferenciam as culturas”.
A reflexão que passa do global e vai para o EXPOSITORES
regional tem que enfocar como as cidades estão
enfrentando esta quantidade de informação oriunda de Diadema – Para Martha de Bethânia, as políticas
todas as partes do planeta e seus efeitos quanto à públicas de cultura de Diadema têm como prioridade
identificação local das cidades por seus habitantes. as políticas de formação. A compreensão destas políticas
Preservar a identidade local é criar símbolos de está fundada na efetiva participação da comunidade. É
ligação entre a cidade e seus cidadãos; é criar uma relação através do processo de formação, ou seja, existência de
de parceria entre a comunidade e seus representantes; é oportunidades e acesso aos instrumentos culturais, que
desenvolver o sentimento de cidadania. GLAUCIA se criam os mecanismos mais eficientes de inclusão
VILLAS BÔAS (1995) afirma que estas ações são social.
fundamentais para evidenciar as diferenças entre grupos Os elementos de cultura são os melhores
humanos e acentuar as relações de solidariedade e coesão. instrumentos de inclusão social e se o Brasil tivesse
Com o objetivo de conhecer e discutir as investido em Educação e Cultura, a situação estaria
políticas públicas de cultura da Região do Grande ABC, bem menos trágica. O ensino público passa por muitas
o Laboratório de Gestão da Sociedade Regional e a dificuldades. O investimento em educação e cultura
disciplina de Políticas Sociais para a Administração da deveria ser em torno de 60% do orçamento, mas isso
Cidade realizaram, em 10 de novembro de 1999, o II não acontece. Diadema trabalha políticas da periferia
Seminário Interno “ Políticas Públicas de Cultura”, onde para o centro, e não o inverso, como geralmente ocorre.
se verificou como os municípios do Grande ABC estão Desde as artes plásticas até teatro e outras linguagens
articulando esses novos desafios e que propostas têm culturais, são oferecidas 6000 vagas nas oficinas. A
para a identificação da comunidade/cidade e percepção é que não basta trabalhar, oferecendo políticas
desenvolvimento da cidadania através dos elementos de voltadas para oficinas culturais, sem que haja a
cultura. preocupação com as condições sócio-econômicas das
Participaram deste seminário os representantes pessoas.
das Secretarias das Prefeituras de Diadema, Martha de Diadema conta hoje com 10 centros culturais,
Bethânia; de Mauá, José Aparecido Barbosa, de Santo 12 bibliotecas que atendem qualitativamente seus clientes,
André, Altair José Moreira e de São Bernardo do Campo, cerca de 300 mil pessoas da cidade e região.
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Existe também um espaço chamado Casa da tinham a perspectiva esportiva. A partir da gestão de
Música, um espaço de diagnóstico e sensibilização da 1989 e 1993, percebeu-se que eles eram locais
comunidade, por meio de seu centro de atendimento privilegiados para a processo de descentralização e
integral, que contempla mais de 1.000 pessoas com aulas promoção do acesso às linguagens artísticas.
que vão desde piano, técnica vocal e quase todos os A grande discussão no processo educativo
naipes de linguagem musical, com o acompanhamento baseia-se em culturalizar a educação, olhar a criança ou
da vida escolar do aluno. pessoa como detentora de um conhecimento. Não tratar
Para atender à demanda de pessoas oriundas de os indivíduos de forma autônoma, mecânica. A maior
oficinas, que tenham passado pelo processo de agressão na escola de educação é sua forma impositiva.
sensibilização e não possam continuar com as aulas de O princípio desta política de formação é a
piano, violino, teatro etc., surgiu, nesta gestão, a idéia questão de como reforçar e projetar uma identidade
de criar centros permanentes de formação para os alunos local em virtude dos processos globalizantes. Através
que optarem por qualquer uma das linguagens artísticas. da formação e difusão, garante-se que a população tenha
Entre os vários grupos que fazem parte desse acesso à informação e às mudanças tecnológicas.
processo de formação, há também uma videoteca, um A escola de formação não precisa se preocupar
centro de memórias, a companhia de dança (que é em formar um artista, o objetivo é sensibilizar o
profissional), uma orquestra sinfônica e o centro da indivíduo com relação à questão cultural, criar a
fotografia, onde foi montado um laboratório de identidade cultural com o local. É lógico que este acesso
ampliação de fotos e revelação. Portanto, a pedra propicia a algumas pessoas a profissionalização, o
fundamental é essa política de formação com ênfase à aprofundamento desta linguagem.
cultura e à literatura. O Cine Teatro Carlos Gomes é um bem cultural
da cidade extremamente importante, tombado pelo
Santo André – Altair José Moreira enfatiza que a prefeito Celso Daniel como patrimônio cultural da
formação é, num sentido mais amplo, a oportunidade cidade, cuja expectativa é tornar-se um centro de
de as pessoas terem acesso às linguagens artísticas e ao formação audiovisual.
Existe, ainda, uma biblioteca central, outra
mesmo tempo saírem com subsídio, capacitadas para
regional e dez bibliotecas em centros comunitários.
lerem sua realidade e reconstruir, através disso, uma nova
perspectiva e alternativa de vida. Está em desenvolvimento o programa de leitura
voluntária, no qual as pessoas dedicam algumas horas
Portanto, este trabalho de formação tem o
para contar histórias etc., e for mam-se leitores
sentido de não apenas saber manusear ou terminar a
voluntários nos centros comunitários. É impressionante
leitura, mas é a referência que o aprendizado produz
como as pessoas da sociedade civil são sensíveis a este
para o desenvolvimento não só individual como
chamamento. As pessoas doam seu tempo com um
coletivamente.
Nesse sentido, foi criada a Escola Municipal prazer enorme, e já existem crianças de 8 e 9 anos
de Iniciação Artística (EMIA). Estas escolas trabalham envolvidas neste projeto.
com crianças na faixa de 5 a 16 anos e funcionam com Há um fundo de cultura que dá apoio à produção
módulos de acordo com a faixa etária. Existem os local. Este fundo começou em 1991, timidamente. Na
módulos de artes plásticas, dança, teatro até serralheria, atual administração, o fundo começou a ser usado. Os
por exemplo. recursos estão na ordem de 383 mil reais, porque não
A estratégia de formação começa com a foram utilizados nas gestões de 1994 a 1997, e são
sensibilização das crianças, das pessoas na EMIA. No oriundos da arrecadação das bilheterias do teatro e venda
segundo momento, na Casa do Olhar (artes plásticas), de qualquer produto do departamento de cultura pela
na Casa da Palavra (letras) e na Escola Livre (teatro), administração. Os conselheiros de cultura escolhem os
espaços mais específicos, as pessoas teriam projetos que serão beneficiados pelo fundo.
aprofundamento cultural.
Cerca de 46% do orçamento da prefeitura são São Bernardo do Campo – Para Júlio Mendonça, São
destinados à formação. Existem 22 centros comunitários Bernardo e Santo André têm, sob alguns aspectos, uma
de médio e grande porte. Esses centros, em sua criação, situação um pouco diferente das demais cidades no
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CADERNO DE PESQUISA CEAPOG-IMES
ABC, por terem já uma tradição anterior, uma política anos de experiência comprovam um avanço sobretudo
de investimentos em eventos culturais com espaços qualitativo, principalmente na área de teatro.
culturais e teatros voltados para uma programação As oficinas de teatro estão mais desenvolvidas;
cultural. Nos últimos anos, Diadema teve uma política os grupos que delas surgiram têm se mantido como
cultural bastante voltada para eventos culturais ou pelo grupos autônomos, utilizando o espaço da prefeitura
menos em parte, sendo importante na formação de para desenvolver seus trabalhos. São Bernardo do
público. No caso de Santo André e São Bernardo, mais Campo tem uma tradição de oferecer espaços para
particularmente neste último, se criam alguns impasses grupos de teatro, não só da cidade, como também da
e dificuldades. A Administração de 1989 a 1992 procurou região, pretendendo, no último ano da atual gestão, criar
descentralizar alguns programas da secretaria de cultura. uma política de temporadas de apresentação de teatro
Uma das formas, bandeira da administração de 1992, com grupos da região, como o circuito de teatro do ABC,
foi a questão da integração. que mostrou produções de qualidade na região.
Luiz Roberto Alves, em seu livro Culturas do Enfim, as experiências e ações que deram maior
Trabalho – comunicação para a cidadania, fala da necessidade notoriedade foram a criação de espaços culturais no
de superar a fragmentação das ações. De 1993 a 1996 município, o Cine Teatro Carlos Gomes, a Câmara de
ocorreu um refluxo das ações desenvolvidas em São Cultura e outros. Houve uma prioridade, nos dois
Bernardo do Campo de 1989 a 1992. Ainda assim, alguns primeiros anos da administração, na reforma do
avanços feitos na descentralização da atuação da patrimônio, espaços e equipamentos.
Secretaria foram em parte mantidos, como é o caso do
projeto da terceira idade que foi criado durante a
administração de 1989 a 1992 e teve continuidade na Mauá – Na opinião de José Aparecido Barbosa, Mauá
gestão posterior. O grupo Viver Bem a Idade se encontra numa situação caótica em todos os sentidos.
permanece atuante até hoje. A cidade ficou durante dez anos sem cinema e ainda
Uma linha de atuação estabelecida durante aquela não possui teatro. A ênfase do trabalho está em reabilitar,
administração é a questão da articulação, da difusão, da criar uma base para que possamos começar a implantar
formação e da informação. O objetivo é estender esta políticas culturais na cidade.
linha norteadora de difusão, informação e formação a A gestão da Secretaria da Cultura estava
projetos especiais como, por exemplo, o projeto Terceira vinculada à de Educação, que, posteriormente, foi
Idade, a programação de oficinas e palestras no Espaço desmembrada, e as ações estavam mais direcionadas para
Henfil. o esporte.
A Mostra do Cinema Brasileiro,um evento A Prefeitura não dispõe de espaços e implantou
tradicional em São Bernardo do Campo com mais de um programa de recuperação de áreas públicas.
20 anos de existência, a partir do ano passado recebeu O processo de formação busca, por meio de
mais investimentos para contemplar a difusão da oficinas, possibilitar o acesso da juventude à cultura, coisa
produção crescente do Cinema Brasileiro. que não existia.
Com a ampliação do foco, passou-se a investir Infelizmente, algumas políticas implementadas
também na formação de oficinas. Já na amostra deste por certos governos têm caráter predatório, o que acaba
ano, nas regiões menos centralizadas, os bairros são comprometendo governos futuros, como é o caso de
beneficiados pelo projeto Cine Mambembe. Mauá. As ações estão voltadas para a recuperação de
Atualmente, os trabalhos estão sendo espaços e criação de alternativas de utilização destas áreas.
desenvolvidos com o envolvimento de várias secretarias, A proposta é a construção de um “espaço”, no
como é o caso do lixão do Alvarenga, uma região muito sentido de poder sediar alguns eventos, para que a
extensa, carente, violenta e onde se concentra muita população local tenha acesso a uma diversificação de
vegetação. As ações foram pactuadas conjuntamente com cultura..
a Secretaria do Meio Ambiente. Independente disso, alguns resultados foram
São Bernardo do Campo compromete um terço obtidos com outros programas. Entre eles, o mais forte
de seu orçamento com projetos de formação. Hoje existe é o teatro. Podemos citar, por exemplo, a montagem da
basicamente uma grade de programação e informação peça Auto da Compadecida, encenada e produzida pelos
que deu início a esse processo de formação. Os nove próprios alunos. Como não existe um teatro, o
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Educandário sediou uma temporada e, agora com a preocupação muito grande com a estetização da
descentralização, as apresentações acontecem ao ar livre; violência, mas não se pensou ainda na cultura como
desta forma é feita a divulgação das oficinas já existentes. solução do problema. O que se pretende fazer para gerar
Um dos objetivos deste programa, além de dar oportunidade cultural e conseqüentemente propiciar a
acesso à cultura, é tornar os projetos independentes da inclusão social?
vontade do governo e sensibilizar a população quanto à A quinta questão tem como preocupação o
importância da cultura.A participação da comunidade é preconceito dos habitantes das cidades e da região em
o eixo de todos os projetos. relação aos produtos culturais locais. Até que ponto a
Mauá conta com uma biblioteca central e três profissionalização dos grupos da região é o caminho
ramais, com acervo estimado em 23.000 livros. Dentro para acabar ou não com o preconceito?
da biblioteca, foi criado um espaço para debates, onde O circuito do teatro do grande ABC percorreu
há palestras e discussões mensalmente. os seis municípios, menos Rio Grande da Serra. As
O Museu, que é a casa da cultura, tem o papel realidades culturais variam muito nas cidades. Quando
de resgatar a identidade local, recuperar a história da se pensa na gestão pública da cultura em termos de
cidade, preservar o espaço e o patrimônio, e ser o palco região, observa-se que Diadema não cobra ingressos, e
de atividades que possibilitem essa manifestação e criação que, por outro lado, Rio Grande da Serra, um município
de novos valores e expectativas culturais. pobre, que não tem recursos para projetos culturais. Em
Anualmente, acontecem mostras de teatro. O vista disso, a sexta e última questão é: o que fazer para
teatro é, de fato, um segmento, com tendência a atender as necessidades destes municípios considerando
manifestação e ampliação da participação da população. suas realidades e como pensar em termos de uma
Essa é a linha prioritária na questão da identidade cultural regional?
formação: o envolvimento da comunidade nos projetos
que estão em desenvolvimento para garantir a Os expositores fizeram as seguintes reflexões
continuidade política. sobre as questões levantadas :
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produtores com aqueles que estão iniciando agora, o Lima foram direcionadas para cada expositor, como
que tem produzido grandes resultados. segue:
Quanto à descontinuidade política,
desenvolvem-se estudos para formatar legalmente alguns
dos projetos de Diadema, que estão referendados e Mauá – Por que os setores de cultura não estabelecem
consolidados com a comunidade: as companhias de temas-eixo e os transformam em planejamento
dança e teatro, por exemplo, podem ser transformadas estratégico dentro das especificidades de cada município,
em fundações, tendo assim vida própria e independência trabalhando conjuntamente de forma empresarial,
de vontade política, ou não podendo ser inativadas com como, por exemplo, desenvolvendo programas de
o término de mandato de governos. marketing regionais?
Altair José Moreira – A municipalização pode propiciar José Aparecido Barbosa – Com relação ao
a criação de uma cultura e educação com o jeito de cada estabelecimento de eixos para trabalhar em conjunto,
cidade. As administrações e a cultura possuem tempos isso já é feito pela Câmara Regional e pelo Consórcio
diferentes. Uma gestão acaba e a cultura permanece, pois Intermunicipal. É uma situação nova, como este
sua velocidade de desenvolvimento é bem mais lenta. seminário aqui no IMES, o que possibilita a formação
As administrações não devem implementar políticas de de políticas conjuntas entre os municípios.
cultura imediatista, ainda mais quando se considera o A orientação tanto do governo, quanto do
processo de formação, que deve ser constante. prefeito, é de estabelecer eixos que possam ser
Educação e Cultura municipalizadas podem, trabalhados regionalmente, salvo as diferenças
com maior facilidade, desenvolver as identidades das pertinentes a cada cidade. Talvez, a partir deste
cidades e conseqüentemente das regiões, construindo seminário, surja uma base para a integração regional.
caminhos que atendam à demanda local Os eixos pragmáticos são aspectos pensados em
independentemente da vontade do governo estatal. conjunto pelos orgãos como Câmara Regional, Agência
de Desenvolvimento e Consórcio Intermunicipal. Se as
prefeituras desenvolverem políticas distintamente, estarão
Julio Mendonça – Com base no que foi exposto por competindo com estes órgãos. Cabe ao governo
Altair José Moreira, a municipalização da Cultura e municipal executar e implementar as políticas estudadas
Educação viabiliza os projetos culturais da região. Por e desenvolvidas por estes orgãos regionais.
exemplo, em São Bernardo do Campo era muito difícil
consolidar um projeto integralmente, pois havia
dependência da vontade e disponibilidade estatal.Com São Bernardo do Campo – Por que não se trabalha
a municipalização, a cultura está mais próxima e inserida mais no sentido da sinergia, de haver integração entre
dentro da realidade e identidade local. as escolas particulares e empresas de grande, médio e
O trabalho de formação não pode considerar pequeno porte para estarem mais próximos da
apenas as quatro linhas tradicionais de cultura. comunidade na formação desses projetos culturais?
Consideremos o exemplo de Diadema, com o hip hop,
que surtiu efeitos satisfatórios, mostrando a capacidade
dos jovens de reinventar a realidade que vivenciam e de Júlio Mendonça – Em relação à integração do Setor
perceber as raízes de seus problemas. Público, no caso do Departamento de Cultura junto ao
empresariado, como primeira dificuldade temos a
formação no funcionalismo. A maioria dos funcionários
Daniel Lima argumenta que o poder público e é formada na área humanística, não há muita ligação
o empresariado em geral não possuem senso com marketing.
cooperativo: o grande ABC ainda existe só na forma Estamos procurando fazer cursos, entender
metafórica, pois são sete cidades com realidades e melhor as leis de incentivo à cultura, etc; mas quanto à
políticas distintas. Com interesse nas articulações de questão da regionalização, eu gostaria de trazer
políticas regionais, as questões formuladas por Daniel novamente à tona que os municípios, por mais que se
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preparem para enfrentar essa questão, tenho a impressão é um elemento fundamental para a consolidação do
de que não teriam muito sucesso. Os problemas que os equilíbrio social?
municípios estão enfrentando são mais ou menos
comuns, de forma regional, mas é como José Aparecido
comentou: Mauá não tem o parque industrial igual ao Martha de Bethânia – As políticas culturais, em todas
de São Bernardo do Campo, mas a realidade é que as suas formas, têm contribuído bastante para melhorar
grandes empresas, sejam nacionais ou multinacionais, os índices de violência. Juntamente com outros
apóiam projetos culturais; a maioria das vezes, porém, programas das demais Secretarias, estas políticas fazem
são projetos de grande valor e custo, o que infelizmente parte da sinergia dessa gestão, a exemplo da urbanização
está longe da realidade local. Como exemplo, temos o de favelas, entre outras.
projeto Nova Vera Cruz, cujos incentivos são bem Diadema, sem essas políticas culturais e outras
modestos; até a Volkswagen, que fica sediada na cidade, que vêm sendo desenvolvidas, estaria pior do que antes.
vem diminuindo o seu incentivo ao projeto. A população sempre tende a crescer gerando uma
A saída está no diálogo para se achar novas demanda de serviços.
soluçoes regionais, traçar metas e executá-las da melhor
forma possível. Gostaria de aproveitar para elogiar
CONCLUSÕES/PROPOSTAS
novamente essa iniciativa do IMES.
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RESENHA
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