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O Império da Exceção dos Direitos Humanos ∞

*Jackson da Silva Leal


**Wagner Barbosa Pedrotti
***Raquel Couto Moreira

1. Introdução

O presente trabalho objetiva-se abordar a questão do Estado, na sua dinâmica


político-social e seus desdobramentos; o terror, mais visível em países subdesenvolvidos
latinoamericanos, o estado de terror permanente, ou estado de exceção, de insegurança
política, social, econômica, cultural (...), e; a sistemática violação dos direitos humanos,
bem patente em quases todas as localidades do mundo, com variações e particulidades, em
maior ou menor graus, mas existentes.
Verifica-se, que o Estado longe está de ser o protagonista e vilão desta situação
perversa que se expõem contingentes de pessoas, muito menos uma vítima incapaz de
confrontar essas dinâmicas; mas sim, mais um dos elementos de um sistema maior que ele
mesmo, e que as politicas a seu alcançe; um sistema de dominação complexo e intrincado
que muda, para se manter da mesma maneira.
Para tanto, faz-se uma análise eminentemente bibliográfica e crítica. Utilizando
todas as estratégias a fim de enriquecer e complexificar a discussão, procurando
acompanhar a complexidade crescente externada pela Modernidade, como um processo
muito bem calculado.
Procurando desvelar alguns paradoxos e falácias do processo Moderno Imperial,
procurando possilitar um modelo de sociabilidade mais libertário, com produção em larga
escala de solidariedade e com constante problematização.

2. Globalização: promessa de homogeneidade a um crescimento desigual e


combinado

O conceito de globalização é derivado da esfera econômica, e aponta para um


processo de longa duração que teve início, em torno do século XV, através de uma
comercialização que rompia fronteiras, dando primeiramente origem à um comércio

∞ Trabalho apresentado no 2º seminário de Politica Social no Mercosul: seguridade social, participação e


desenvolvimento, organizado pelo Mestrado em Politica Social da Universidade Catolica de Pelotas (UCPel) em
novembro de 2008.
* Jackson da Silva Leal – Acadêmico do Curso de Direito na Universidade Católica de Pelotas e Membro do

GITEP (Grupo Inter e Transdisciplinar de Estudos Criminais-Penitenciarios).


** Wagner Barbosa Pedrotti – Academico do Curso de Direito na Universidade Católica de Pelotas.
*** Raquel Couto Moreira – Pedagoga, academica de Direito da Universidade Católica de Pelotas e mestranda

em Politica Social na Universidade Católica de Pelotas.

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mundial desterritorializado e posteriormente à economia que vivemos hoje. O fenômeno
da globalização se tornou visível para todos nas últimas décadas, fim do século XX, quando
envolveu todos os aspectos da vida moderna.

Para Giddens uma das conseqüências fundamentais da modernidade é a


globalização. O mais pertinente não é o conceito de globalização, mas sim o de globalização
do quê? Qual é a idéia norteadora desse projeto mundial? A globalização refere-se a
globalizar o pensamento ocidental, isso significa tornar único os pensamentos, as
instituições. Sendo assim, não se levam em conta as idéias que estejam em descompasso
com a idéia central.

Apesar de nas três ultimas décadas, as interações transnacionais conheceram um


avanço intenso, desde a globalização dos sistemas de produção e das transferências
financeiras, à proliferação em uma escala mundial, através dos meios de comunicação ou
às deslocações em massa de pessoas, quer como turistas, quer como trabalhadores. A
característica marcante desse fenômeno incontrolado é o estabelecimento de movimentos
centrípetos e centrífugos. Num primeiro momento existem enormes esforços no sentido
centrípeto, de englobar todos os hemisférios com a imposição de uma economia mundial.
No segundo momento, opera-se o movimento centrífugo, inverso, que se ocupa em realizar
a seleção dos sujeitos que, de fato, irão participar, aqueles que têm potencial de consumo
e que poderão contribuir para o movimento desta economia; e dos que não poderão, os
excluídos, que continuarão a margem da sociedade.

É relevante ainda salientar que esse movimento centrífugo não se extingue em um


momento, esta seleção opera-se constantemente. Com a implementação de tecnologias no
setor produtivo e a seleção, exclusão, natural dos agentes ineficientes do mercado verifica-
se novamente o surgimento de não contribuintes que devem mais uma vez ser
empurrados para a margem da sociedade globalizada.

O fenômeno mais visível é a emergência de dois grupos que extrapolam limites


territoriais: globalizados (incluídos e participantes) e o dos excluídos (mais de três
quartos da humanidade). Essa divisão é sensível em nível internacional e dentro das
sociedades nacionais. Os globalizados têm ou aspiram a padrões de consumo do Primeiro
mundo. Os excluídos aspiram somente a condições mínimas de sobrevivência e, se não
puderem contar com o direito inalienável à segurança social, são marginalizados da
sociedade.

Além disso, como nos coloca Boaventura, a Globalização:

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Interage de modo muito diversificado com outras transformações no sistema
mundial que lhe são concomitantes, tais como o aumento dramático das
desigualdades entre a sobrepopulação, a catástrofe ambiental, os conflitos
étnicos, a migração internacional massiva, a emergência de novos estados e a
falência ou implosão de outros, a proliferação de guerras civis, o crime
globalmente organizado, a democracia formal como condição política para a
assistência internacional, etc. (SANTOS, 2005, p.26)

A fim de conceituar globalização e admitindo-se possuir um caráter irreversível


tendo em vista o estágio em que se encontra no que se refere a sua estruturação e avanço
político-cultural; visa-se abordar duas dinâmicas, a hegemônica, ditada após o Consenso
de Washington em 1989 e a Globalização Contra Hegemônica a qual viremos a abordar
pensando-se e trabalhando apenas com a idéia de uma modificação em seu molde, visando
obviamente sérias e profundas modificações em seus resultados.

2.1 Consenso de Washington e a pretensa ideologia de um modelo universal de


desenvolvimento

Em novembro de 1989, em uma conferência criaou um conjunto de medidas – com


aval de organismos internacionais, como BIRD (Banco Internacional de reestruturação e
Desenvolvimento, FMI (Fundo Monetário Internacional), OMC (Organização Mundial do
Comércio), a tríade do capital mundial – que se tornam um símbolo da política neoliberal.
Destas medidas de desenvolvimento surgiram dez regras básicas.

O Consenso neoliberal de Washington é um conjunto de diretrizes dirigidos para o


mercado - determinados pelos Estados Unidos e as instituições financeiras internacionais
por ele controlada – geralmente, nas sociedades mais vulneráveis, com rígidos programas
de ajuste estrutural. Resumidamente, as suas regras básicas são: liberalização do mercado
e do sistema financeiro, fixação dos preços pelo mercado, fim da inflação e privatização. As
decisões daqueles que impõem o Consenso têm um grande impacto à ordem global. Alguns
analistas assumem uma posição ainda mais incisiva, neste sentido “é preciso que as áreas
dominadas não só aceitem a dominação como acreditem nela, na inevitabilidade dessa
dominação, na sua eternidade” (SODRÉ,1999, p. 4) . A imprensa de negócios internacional
se referiu a essas instituições como o núcleo de um “governo mundial de fato” de uma
“nova era imperial”.

Apesar das medidas terem sido criadas para serem aplicados na América Latina, o
termo foi utilizado em todo mundo para justificar as políticas neoliberais. Com essas
medidas seria inevitável a falência do Estado provedor de bem-estar social, pois a
economia se desvincula da função do Estado, e passa a ditar as novas normas, como diria
Zygmunt Bauman - a economia é de área não política.

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Assim, com a falência do poder do Estado, o poder passa às mãos das empresas,
que tem como único objetivo maximizar o lucro, mesmo que tenha que sacrificar a
natureza, e o próprio homem. O Estado perde o controle sobre o rumo das coisas, além de
permitir a violação de direitos. A privatização torna-se inerente, já que o Estado não
cumpre com suas obrigações, e por isso a crença do Estado como um ente desnecessário.

2.2. Efeitos colaterais do processo globalização

Trabalhando na lógica de “mercadorização” dos direitos e até mesmo do próprio


ser humano como resultado natural e desejado do processo de globalização hegemônica e
neoliberal, através da liberalização da economia e dos mercados desembocamos na
colocação de Helio Gallardo:

podemos trasladar esta temática a América Latina. La gente merece tanta salud
como pueda pagar, tanta educación como pueda pagar, tanta seguridad como
pueda pagar. Y se no pueden pagar, entonces no merecen ni educa ción, ni salud,
ni seguridad. Son responsables por su suerte. Nosotros, los que podemos pagar,
no somos responsables por su pobreza” (GALLARDO, 2004, p. 60)

Remete imediatamente ao discurso individual do homem médio, discurso


descompromissado com o próximo, desde que não seja uma ameaça imediata, o que não
tarda a acontecer, visto o esquecimento que inevitavelmente tem ocorrido de com estes
milhares, bilhões de indivíduos, jogados ao esquecimento pel velocidade que requer a vida
no mundo globalizado. Situação facilmente verificada não apenas na América Latina, mas
na África, onde visivelmente se faz mais dramático e intenso o desrespeito ou
simplesmente indiferença com o ser humano, afinal de contas, o que importa é a
capacidade de consumo e como nos coloca Ianni:

Está em curso inclusive a privatização das atividades relacionadas à educação,


saúde e previdência, ao mesmo tempo que se reduzem ou anulam
conquistas sociais alcançadas no âmbito das condições de trabalho. Em
nome da desburocratização, racionalização, produtividade,
competitividade, qualidade total ou lucratividade, instaura-se totalmente o
‘economicismo’, no qual há escassa ou nula preocupação com os seus custos
sociais, culturais e políticos para a maioria das populações , em escala
nacional, regional e mundial”(IANNI, 2004, p.41 - grifo nosso).

Este desinteresse redunda na situação brevemente levantada de que, nos países


africanos, em sua generalidade, de acordo com IBGE 2005 países como Sudão, Mali,
Nigéria e Angola, para citar apenas alguns, ultrapassem índices em mortalidade infantil de
120, 150 a cada mil nascidos vivos, paralelamente são investidos em saúde entre 1 e 3 %
do PIB do respectivo país, se não caracteriza um genocídio, não imaginaria outro
substantivo para a situação.

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É neste contexto desenvolvimentista que fica a pergunta: para quem está indo este
desenvolvimento? Este mundo interligado que está germinando, intensificando e
generalizando os problemas da proletarização, pauperização; carências habitacionais, de
saúde, de alimentação, de ensino e cultura; a formação de subclasses composta por
coletividades de excluídos, descartáveis; caracterizando uma desconstrução estrutural que
produz pobreza e miséria. Neste sentido “essa mesma fábrica fermenta o progresso e a
decadência, a transformação e o retrocesso, a reforma e a revolução, a revolução e a
contra-revolução” (IANNI, 2004, p. 19).

3. De Estado Garantidor à Estado Empresário

Aristóteles, em A Política, já fazia a primeira definição da falência do Estado:


Quando não há classe média e o número de pobres é excessivo, os problemas aparecem e o
poder logo chega ao fim. “Na década de 80 e início de 90, o mundo capitalista viu-se
novamente às voltas com problemas da época, desemprego em massa, depressões cíclicas
severas, contraposição cada vez mais espetacular de mendigos sem teto à luxo abundante”
(HOBSBAWN, 1995, p.19).

O Estado liberal, foi teorizado pelas idéias liberais de Adam Smith. Segundo ele, as
funções do Estado se limitavam a interesses da defesa, o judiciário, obras públicas, e o
resto laissez-faire, laissez passer. Esse modelo de Estado se manteve até suas primeiras
crises da primeira metade do século XX. Surgindo assim então, um Estado Social, capaz de
superar as contradições do mercado e suas exclusões sociais, ou ainda, como sugere
Giddens, é o Estado em que há “trabalho para aqueles que irão labutar, castigo para
aqueles que não irão fazê-lo, e pão para aqueles que não podem fazê-lo” (GIDDENS, 1996,
p.154).

Nos anos 70, os gastos governamentais tendiam a serem maiores que as


arrecadações, havendo então um descompasso nas contas públicas, uma crise fiscal, o que
levou ao colapso do Estado social. Duas soluções eram racionais nesse momento,
aumentar a carga tributária ou diminuir os gastos públicos. Alguns Estados abrem mão da
assistência social, encerrando assim esse modelo de Estado, ou seja, “Estado de Bem-
Estar? Já não podemos custeá-lo” (BAUMAN, 1998, p.51). Dando início a uma nova fase do
Estado, caracterizando sua ineficácia frente aos problemas sociais. Esse novo modelo de
Estado, chamado de neoliberal, possui características novas; já que as velhas práticas
liberais que não deram certo.

A proposta abordada é em relação ao centro de tomada de decisões políticas, o


núcleo diretivo das políticas públicas e a influência dos investidores econômicos. O Estado

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como gestor da sociedade tem o poder de decidir, mas, no entanto qual a tendência dessa
decisão? Com quem ou com o quê está comprometido este poder? Quais as conseqüências
dessas decisões na sociedade?
Determinadas posições do poder público, seja de qualquer esfera do estado,
refletem diretamente nas relações econômicas, porém, se este poder estiver
comprometido, para não dizer concentrado, em um objetivo - para com o bem-estar da
sociedade – torna-se mais próximos de sua concretização. Todavia, o Estado mínimo,
sempre que necessário ou lhe convém, deu e dá impulso para o livre mercado conseguir
atingir suas metas. É evidente nessas intervenções o comprometimento do poder público
com determinados setores.
O mais alarmante nessa relação são as conseqüências sociais, as freqüentes
violações de direitos políticos e a influência na economia. Isso ocorre por que os governos
preocupados ou até pressionados pela necessidade de apresentar resultado no campo
econômico submetem seu poder de decisão as exigências do capital, de acordo com os
padrões neoliberais proclamados pelas já conhecidas políticas de governos por Reagan e
Tatcher, este processo conhecido como modernização implica para o Estado em uma
“flexibilização” dos direitos sociais, uma série de subsídios, isenções fiscais entre outros
benefícios para empresas.
A política de desregulamentação, deslegalização e desconstitucionalização segue,
promovido por governos para suprimir os requisitos dos investidores, ou seja, o
ordenamento jurídico interno sofre modificações para adaptarem-se ao mercado, regras
constitucionais modificadas, leis ordinárias suprimidas ou elaboradas são exemplos do
procedimento adotado.

Conseqüências da minimização do Estado – ou Estados-nação em miniatura, como


sugere Hobsbawm – em países onde não ocorreu o Estado social são ainda piores, como o
Brasil, onde não houve o Estado Social. Nem mesmo o Estado liberal houve no Brasil, a
ausência de uma revolução burguesa no Brasil restringiu a possibilidade de que aqui se
desenvolvesse a ideologia liberal aos moldes em que ocorreu em países desenvolvidos. O
Estado interventor-desenvolvimentista, que deveria fazer essa função social, foi, e é,
“pródigo somente para com as elites, para as camadas médio-superiores da sociedade, que
se apropriaram/ aproveitaram de tudo desse Estado, privatizando-o, dividindo/ loteando
(STRECK, 2004, p.68). O Estado era, por definição, mau gestor, não deveria operar na área
em que empresas privadas operavam, não deveria de forma alguma, ocupar-se de tarefas
que deveriam ser próprias da área privada.

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3.1 O Estado Democrático de Consumo – a redescoberta da igualdade como
condição de justiça

Está instaurado o que chamamos de Estado Democrático de Consumo, utilizando-


se da “trampa” que é a democracia, como colocada anteriormente, norteada na igualdade e
na liberdade, que disto não tem nada. Igualdade de quê? E principalmente liberdade para
que e para quem? Assumimos a idéia de que só é “livre” quem consome. Utilizando-se de
Boaventura de Sousa Santos:

A economia é, assim, dessocializada, o conceito de consumidor substitui o de


cidadão e o critério de inclusão deixa de ser o direito para passar a ser a
solvência. Os pobres são os insolventes ( o que inclui os consumidores que
ultrapassam os limites do sobreendividamento). Em relação a eles devem
adoptar-se medidas de luta contra a pobreza, de preferência medidas
compensatórias que minorem, mas não eliminem, a exclusão, já que esta é um
efeito inevitável (e, por isso, justificado) do desenvolvimento assente no
crescimento econômico e na competitividade a nível global. (SANTOS, 2005 ,
p.35)

Uma característica marcante do Estado global são as privatizações, impostas por


organismos internacionais. A intenção é fazer com que os Estados percam sua soberania, e
o poder passe às mãos das instituições privadas. A diminuição do Estado é a transferência
do poder decisor da arena pública para outros lugares: para as pessoas, na retórica do
poder; para as tiranias privadas, no mundo real. É o que chamamos de Estado insuficiente,
pois tornou-se tão fraco que não é capaz de resolver os problemas sociais, ou seja, o
Estado perdeu seu poder de intervir. Segundo Boaventura precisamos de um Estado cada
vez mais forte para garantir os direitos num contexto hostil de globalização neoliberal. E
ainda: fica evidente que o conceito de um Estado fraco é um conceito fraco.

Nesse sentido, houveram governos para justificar essa ausência valeram-se do


argumento da ineficiência e da insuficiência do serviço público, quando era a falta de uma
reestruturação deste para um efetivo atendimento. Foram desacreditados da
potencialidade do atendimento do Estado em nossas demandas sociais como saúde,
emprego, previdência; o desmanche do setor público foi coberto por uma máscara de
ineficiência e incapacidade, porém, não foi mostrado características e efeitos da exigência
do sistema neoliberal onde quem tem poder de consumo tem seus direitos fundamentais
assegurados e quem não possui tais condições restam as filas de espera. É fato notório que
o neoliberalismo em escala mundial, produz desemprego estrutural e induzindo ao
desmantelamento das instituições da seguridade social - construídas com diferentes graus
de eficiência, nos mais diversos Estados - encara o mercado como único elemento
organizador das sociedades.

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No mundo organizado com base na liberdade econômica absoluta, o Estado não
mais pode fazer que tentar administrar o funcionamento da sociedade para o sucesso das
empresas, nacionais e transnacionais. Destituído até mesmo de meios fiscais para operar
políticas públicas adequadas, vêem-se os governos cada dia menos capazes de zelar pelo
bem-estar geral. Daí decorrem, à filantropia privada para atendimento paliativo aos
indivíduos e comunidades mais carentes.

4. Estado de Terror: violação sistemática dos direitos humanos

Na medida em que aumentam as relações do livre comércio, aumentam também as


desigualdades, tornando-se uma causa da violação dos direitos do homem. A desigualdade
é o motor do capitalismo, pois é a ganância de estar incluído que leva a um suposto
progresso. As conseqüências disso vêm à tona com o caos social, principalmente em países
de Terceiro Mundo, como o caso brasileiro; e de acordo com Hobsbawm o Brasil é um
monumento à negligência social.
Um dos grandes problemas da miséria humana é a fome, mas também não
podemos nos restringir como o único - o que a equação ‘pobreza = fome’ esconde
são muitos outros aspectos complexos da pobreza — ‘horríveis condições de
vida e moradia, doença, analfabetismo, agressão, famílias destruídas,
enfraquecimento dos laços sociais, ausência de futuro e de produtividade’ —;
aflições que não podem ser curadas com biscoitos superprotéicos e leite em pó
(BAUMAN, 1999, p.81)
Quem deveria superar essas dificuldades é o Estado, que já não tem mais tanta
soberania para resolver os problemas sociais. Na globalização o Estado suprimiu sua
qualificação de interventor, e passou somente a administrar a segurança daqueles que
podem consumir, ou seja, restando para os não-consumidores apenas a repressão. Como
diz Bauman, “no cabaré da globalização, o Estado passa por um strip-tease e no final do
espetáculo é deixado apenas com as necessidades básicas: seu poder de repressão”
(BAUMAN, 1999, p.74). O Estado passa a ser um mero prestador de serviços para os
interesses privados, e assim, criminalizando a pobreza. Nas palavras de Chomsky, sobre o
método de ‘limpeza social’:
o método favorito tem sido o de confinar as ‘pessoas supérfluas’ em guetos
urbanos que cada vez mais parecem campos de concentração. Se isso não dá
certo, apela-se para as cadeias, que são a contrapartida, numa sociedade mais
rica, dos esquadrões da morte que nós treinamos e apoiamos em nossos
domínios (CHOMSKY, 2001, p.38).
Esta é a situação de violência impetrada pelo Estado - violência organizada e
concentrada no seio da sociedade - onde encontram-se milhões de indivíduos;
limitadíssimo ou, falta de acesso aos bens de consumo, bens indispensáveis à sua
sobrevivência, onde cada vez mais se ultrapassa recordes de produção. O verificável é que
se torna cada vez mais a fábrica da fome e miséria: o número de desnutridos não diminui,
826 milhões de pessoas ainda passam fome no mundo. Um terço da população brasileira é

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afetada pela subalimentação e 40 mil morrem de fome por ano, de acordo com índices da
ONU, 15 mil mortos por ano é indicador de guerra.
É nesta sociedade moderna que se criam e recriam as mais engenhosas formas de
violência, desde as mais arcaicas às mais sofisticadas; materiais e espirituais, pauperização
e desintegração cultural; mantendo a luta pela vida a lei da selva, onde sobrevive o mais
forte e sucumbem os mais fracos, assumindo o culto ao lucro, competitividade, ambição e
acumulação.
Com isso alimenta-se os dados estatísticos e indicadores sociais; dados como: 27
(vinte e sete) homicídios por 100.000 (cem mil) habitantes brasileiros, lhe concedendo
uma quarta posição nos países mais violentos do mundo, perdendo apenas para Colômbia,
Rússia e Venezuela (IBGE, 2004), dois deles também países subdesemvolvidos; ainda, de
par com isso, acrescenta-se que o Brasil novamente ocupa o quarto lugar, no entanto,
referente a concentração de renda, perdendo apenas para Serra Leoa, República Centro-
Africada e Suazilândia (FGV, 2005), ao passo que, o Brasil possui a 9ª (nona) economia
mundial; não obstante isto, tem em seu território cerca de 50 milhões de pessoas vivendo
em condições de indigência, com renda inferior a R$ 80,00 por mês (oitenta reais -
aproximadamente quarenta dólares), ou seja, 29,26% da população do país não consegue
atender minimamente a suas necessidades diárias.
Diante da situação brevemente apresentada, sedimenta-se a situação de estado de
terror em que se encontram milhões de pessoas submetidas a este modo de vida que se diz
moderno, que se apresenta como sendo o último modelo societário, o ápice da razão
humana em termos de economia e sociabilidade, esta marcada pela constante insegurança
social, política, jurídica, cultural. Esta insegurança que se faz um inimigo onipresente,
ubíquo; causando o pânico social latente e intermitente.
Paralelamente a este contexto Atílio Borón nos traz o fato do Estado acentuar seu
caráter repressor:
criminalização do protesto social, em que as figuras do pobre, do desempregado,
do sem-teto ou do indocumentado e dos condenados pelo sistema geral são
satanizadas e convertidas em figuras sinistras e desumanas. Desse modo, as
vítimas do capitalismo, os condenados à exclusão e ao lento genocídio se
transformam em delinqüentes, em narcotraficantes ou em terroristas. Graças à
alquimia da globalização neoliberal, as vitimas se transformam em algozes 20”.
Convergindo com o lema global do capitalismo TINA (there is no alternative/ não
há alternativa) sendo que se produz um terror, necessário para prosseguir com a
estratégia da globalização hegemônica capitalista opressora.

20BORÓN, Atílio. Hegemonia e imperialismo no sistema internacional. Texto apresentado na sessao de


encerramento da III Conferencia Latino-Americana e Caribenha de Ciencias Sociais. Disponivel em:
bibliotecavirtual.clacso.org.ar

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Uma faceta do Estado e sociedade moderna que se faz muito visível, haja vista a
globalização e a postura estatal excluindo do mercado de trabalho e consumo, perdendo
progressivamente as condições de exercício dos direitos humanos de primeira geração e
paulatinamente os de segunda e terceira gerações. São condenados à marginalidade
econômica, social e cultural à condições hobbesianas de vida, não mais aparecendo como
portadores de direitos subjetivos, no entanto, não são liberados das obrigações e deveres
estabelecidos pela legislação.
O processo de globalização está concentrando poder e marginalizando o pobre. Na
atualidade aqueles que não participam do esquema consumista são vistos como “sujeira”,
pessoas incapazes de ser “indivíduos livres”. Dentro dos novos “templos consumistas” é
impedida a entrada desse tipo de consumidor falho, cercando-se de câmeras de vigilância,
alarmes, etc., enquanto os afortunados desfrutam sua “liberdade”. “Uma boa parcela da
humanidade, por desinteresse ou incapacidade, não é mais capaz de obedecer às leis[...]
costumes derivados dessa racionalidade hegemônica. Daí a proliferação de ‘ilegais,
‘irregulares’, ‘informais”(SANTOS,2000, p.120). Nessa ótica, governos são eleitos para
manter o perigoso atrás das grades, representado por aqueles que não tem o poder de
consumo.

Para isso, o rejeitado/ excluído recorre aos únicos meios à sua disposição, todos
contendo alguma dose de violência; é o único recurso que pode aumentar seu
‘poder de prejudicar’, único poder que podem opor ao poder esmagador dos que
os rejeitam e excluem. A estratégia de ‘rejeitar os que rejeitam’ logo afunda no
estereótipo do rejeitado, acrescentando à imagem do crime a inerente propensão
do criminoso à reincidência. No final, as prisões surgem como o principal
instrumento de uma profecia que cumpre a si mesma (BAUMAN, 1999 , p.135)

Todas as sociedades produzem os excluídos, e as pessoas excluem por medo de


serem as próximas vítimas. Os estranhos exalam incerteza onde há certeza, por isso nessa
guerra há duas alternativas: aniquilar os estranhos, devorando-os (tornar a diferença
semelhante); ou então banir os estranhos (estratégia de exclusão), ou seja, expulsar os
estranhos para os guetos, ou destruí-los. O que fizemos na modernidade foi os dois,
excluímos e destruímos, pois o estranho é visto como anomalia, isso é o que chamamos de
modernidade tardia, ou pós-modernidade.
Todos esses fatores considerados em conjunto convergem para um efeito comum:
a identificação do crime com os ‘desclassificados’ (sempre locais) ou, o que vem dar
praticamente no mesmo, a criminalização da pobreza.

5. Conclusão: A globalização Contra-Hegemônica como via alternativa possível

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Justamente trabalhando com esta idéia de dispensabilidade de adesão individual à
globalização ela põe todos em movimento, mesmo que não material; idéia trazida por
Zygmunt Bauman:
a imobilidade não é uma opção realista num mundo em permanente mudança. E,
no entanto, os efeitos dessa nova condição são radicalmente desiguais. Alguns de
nós tornam-se plena e verdadeiramente ‘globais’; alguns se fixam na sua
‘localidade’ – transe que não é nem agradável nem suportável num mundo em
que os ‘globais’ dão o tom e fazem as regras do jogo da vida. Ser local num mundo
globalizado é sinal de privação e degradação social (BAUMAN, 1999, p.8)
Acrescentando que esta imobilidade está dada à quem não possui meios de investir
neste mercado global e este mesmo mercado os admiti como dispensáveis. Salientando
ainda, o caráter irreversível da globalização como anteriormente colocado; nos permitindo
e vislumbrando apenas trabalhar com ela em outros moldes, completamente diferentes,
como nos apresenta Boaventura de Sousa Santos sob a terminologia de Globalização
Contra-Hegemônica como uma possível solução para esta situação e estrutura desigual,
opressora e aterrorizante.
Na Conceituação do próprio autor, a articulação transnacional de movimentos,
associações e organizações que defendem interesses e grupos subalternizados ou
marginalizados pelo capitalismo global. A Globalização Contra-Hegemônica é fundamental
para organizar e disseminar estratégias políticas eficazes, criar alternativas ao comercio
livre por via de iniciativas de comércio justo e garantir o acesso das ONG’s dos países
periféricos ao conhecimento técnico e às redes políticas onde emergem as políticas
hegemônicas que afetam estes países, ou ainda globalização estruturada horizontalmente,
assumindo o princípio da Comunidade, que há muito Rousseau já falava, afirmando a
obrigação política horizontal e solidária de cidadão a cidadão.
Santos preconiza a valorização ao terceiro setor, ou como chamados em várias
localidades, economia social, sector voluntário ou mais comumente conhecida como
Organizações Não-Governamentais nos países do chamado terceiro mundo assumindo
características tanto do setor privado como do público; digo a eficiência e estrutura
administrativa semelhante às do setor privado e por outro lado se assentar no interesse
público, não visando os interesses do capital lucrativo, visando, sobretudo o valor humano.
Neste sentido, Antônio Carlos Wolkmer apresenta sob a terminologia de direito ao
desenvolvimento; que está fundado na solidariedade, na superação da miséria, na
melhoria das condições sócio-econômicas – em síntese, na força criadora do poder
comunitário e em favorecer a realização integral do ser humano com dignidade.
Se o neoliberalismo ajustou e estabilizou a economia, logrando alcançar a queda da
inflação, a implementação da austeridade fiscal e a recuperação dos lucros; acabou por
contribuir e acelerar imensos desequilíbrios econômicos, elevadas taxas de desemprego,
profundas desigualdades sociais e acentuados desajustes no quotidiano das sociedades – e

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o que pretende essa Globalização Contra-hegemônica é aparar estas arestas, estas
disparidades gritantes, abismais entre os pólos desta relação global.
Partimos da idéia de autonomia e auto-estima como fatores constitutivos e
“empoderadores” da existência quotidiana para apresentar uma alternativa a este
processo de globalização hegemônico-opressor.
Autonomia, vez que o Poder Público deve e pode, desde que se articule para tanto,
proporcionar o nascimento dos direitos, através de seu Poder Legislativo, o que longe está
de ser o suficiente; através do Executivo trabalhar a fim de propiciar as políticas públicas,
sociais com o fito de reordenar a sociedade moderna, no entanto o que se verifica e
anteriormente foi mostrado brevemente o descompasso que se faz latente; e através do
Poder Judiciário, não apenas para garantir a resolução de conflitos, mas fazer com que o
Executivo cumpra com as suas funções de garantidor das condições mínimas de dignidade.
O que se verifica atualmente é o desmantelamento do Estado em prestar algumas
garantias e, desta feita, o que se pretende não é a completa extinção e o desmantelamento
do Estado. Muito antes pelo contrário, se pretende o fortalecimento do mesmo, através de
protecionismo da economia própria local ou regional, de investimento em tecnologia,
industrialização e produção técnico-científica. Através da educação e da integração
cultural, trabalhar a idéia de comunidade solidária e o fortalecimento identitário, se
unindo para defender-se da opressão.
Paralelamente a esta medida, de fortalecimento do Estado, Boaventura nos traz
como perspectiva, o incentivo ao terceiro setor, trabalho voluntariado, mais comumente
conhecidos como organizações não-governamentais (ONG’s) – saída não institucionalizada
estatalmente e com a eficiência o setor privado, abstendo-se do fito lucrativo,
desenvolvendo o valor humano.
Lembrando que o fortalecimento do terceiro setor não implica na minimização da
função do Estado, em tarefas públicas não executadas pelo mesmo. O terceiro setor faz-se
necessário frente à ineficiência estatal em questões sociais, porém, devemos nos atentar
para que essas entidades não substituam o ente público. O compromisso em executar
políticas públicas deve ser responsabilidade irrenunciável do Estado, sendo assim, o
terceiro setor como um fortalecimento deste. Além do mais, esse setor, considerado
intermediário entre o público e o privado, devem obedecer a limites, para não pôr em
“xeque” a soberania do Estado, devido a seu crescimento.
O capitalismo gerou a noção do individualismo, em contrapartida ao pensamento
de união. Esse egocentrismo foi aprofundado com o neoliberalismo, segundo Milton
Santos, “o capital em estado puro”, então perdemos completamente a noção de
comunidade, o que prevalece é o “eu” frente ao “nós”. Sabemos que ninguém se salva

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sozinho, ninguém salva ninguém, nos salvamos em comunhão. Enquanto tivermos o
pensamento individualista de salvar a própria pele, estaremos todos condenados ao
fracasso, e o fracasso na globalização é a própria exclusão.
Como nos coloca Helio Gallardo:
Quando se menciona a los derechos de segunda generación, los derechos
económicos, sociales y culturales, como discriminados y olvidados, lo que se dice
es que se ha renunciado, muchos renunciado y, sobre todo, cada uno de nosotros
ha renunciado, a la responsabilidad moral y juridica de construir el sujeto
humano plural que crece desde su autonomía y autoestima. Si olvidamos estos
derechos es porque hemos renunciado a crecer y a proyetarnos en humanidad
desde nosotros mismos (GALLARDO, 2004, p.64)

Ou ainda, como coloca Hannah Arendt não há perda de direitos específicos,


portanto, mas a perda de uma comunidade disposta e capaz de garantir quaisquer direitos,
tem sido a calamidade à afligir números sempre crescentes de pessoas.
Enfim, o que devemos resgatar é o sentimento de comunidade, de solidariedade, de
união. A comunidade vai muito além de uma simples união em prol de um mercado
comum, ela atinge a todas as relações sociais, ela pressupõe cooperação e não
concorrência pura. Nesse sentido, vemos como alternativa à globalização hegemônica, o
estreitamento de laços entre países e culturas.
6. Bibliografia
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