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Série Retrospectiva
8 Principais julgados de
DIREITO ADMINISTRATIVO
Márcio André Lopes Cavalcante
1. Mesmo depois de terem-se passado mais de 5 anos, a Administração Pública pode anular a anistia
política concedida quando se comprovar a ausência de perseguição política, desde que respeitado o
devido processo legal e assegurada a não devolução das verbas já recebidas
No exercício do seu poder de autotutela, poderá a Administração Pública rever os atos de concessão
de anistia a cabos da Aeronáutica com fundamento na Portaria 1.104/1964, quando se comprovar a
ausência de ato com motivação exclusivamente política, assegurando-se ao anistiado, em procedi-
mento administrativo, o devido processo legal e a não devolução das verbas já recebidas.
Ex: 2003, João, ex-militar da Aeronáutica, recebeu anistia política, concedida por meio de portaria
do Ministro da Justiça. Em 2006, a AGU emitiu nota técnica fazendo alguns questionamentos sobre
a forma indevida pela qual estavam sendo concedidas anistias políticas, dentre elas a que foi outor-
gada a João. Em 2011, o Ministro da Justiça determinou que fossem revistas as concessões de anistia
de inúmeros militares, inclusive a de João. Em 2012, foi aberto processo administrativo para examinar
a situação de João e, ao final, determinou-se a anulação da anistia política. Mesmo tendo-se passa-
do mais de 5 anos, a anulação do ato foi possível, seja por força da parte final do art. 54 da Lei nº
9.784/99, seja porque o prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a
ser anulado afronta diretamente a Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (repercussão geral – Tema
839) (Info 956).
2. O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa proferida
pelo CADE
O Poder Judiciário não pode fazer a revisão judicial do mérito da decisão administrativa proferida
pelo CADE.
A expertise técnica e a capacidade institucional do CADE em questões de regulação econômica exi-
ge que o Poder Judiciário tenha uma postura deferente (postura de respeito) ao mérito das decisões
proferidas pela Autarquia.
A análise jurisdicional deve se limitar ao exame da legalidade ou abusividade do ato administrativo.
O CADE é quem detém competência legalmente outorgada para verificar se a conduta de agentes
econômicos gera efetivo prejuízo à livre concorrência.
As sanções antitruste, aplicadas pelo CADE por força de ilicitude da conduta empresarial, dependem
das consequências ou repercussões negativas no mercado analisado, sendo certo que a identificação
de tais efeitos anticompetitivos reclama acentuada expertise.
STF. 1ª Turma. RE 1083955/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/5/2019 (Info 942).
3. A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender do
estatuto da fundação e das atividades por ela prestadas
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado
depende:
i) do estatuto de sua criação ou autorização e
ii) das atividades por ela prestadas.
As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos
de dada fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter
ao regime jurídico de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info
946).
4. A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado; se este for condenado, po-
derá acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa; o ofendido não poderá propor
a demanda diretamente contra o agente público
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente pú-
blico deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço
público, sendo parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão geral) (Info
947).
6. Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do processo
administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato sendo apurado
na esfera penal
O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também capituladas
como crime independentemente da apuração criminal da conduta do servidor.
Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o fato esteja sendo
apurado na esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou instauração de
inquérito policial).
Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional
previsto na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência.
STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julga-
do em 22/05/2019 (Info 651).
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7. Revisão anual de vencimentos não é obrigatória, mas chefe do Executivo deve justificar
O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos,
previsto no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder Exe-
cutivo, no entanto, se pronunciar, de forma fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs
a revisão.
Retrospectiva - Principais julgados de Direito Administrativo 2019
STF. Plenário. RE 565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado
em 25/9/2019 (repercussão geral – Tema 19) (Info 953).
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