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XIV Encontro Anual da ABEM Belo Horizonte, 25 a 28 de outubro de 2005

Ergonomia aplicada às práticas musicais: um novo enfoque para


o músico em formação

Cristina Porto Costa


CEP – Escola de Música de Brasília, SEE-DF
cportoc@gmail.com

Resumo. A formação de novos músicos requer cuidados no gerenciamento das exigências do fazer musical,
de forma a possibilitar seu pleno desenvolvimento. A educação profissional de música em nível técnico pode
beneficiar-se de um aporte ergonômico que viabilize práticas preventivas, promovendo conscientização
quanto às características da profissão e seus riscos ocupacionais. Neste texto, relata-se uma experiência
realizada no CEP-Escola de Música de Brasília para articular formação e mundo do trabalho, objetivando
prover jovens músicos de estratégias efetivas para compatibilizar a manutenção de sua saúde e a otimização
de seu desempenho.

1. O ensino técnico: contexto

A educação profissional em nível técnico enfatiza o desenvolvimento de


competências necessárias à inserção no mundo do trabalho e à manutenção do exercício
profissional. Conhecer o contexto e suas exigências torna-se fundamental para direcionar a
operacionalização das atividades laborativas, potencializando capacidades individuais em
padrões qualitativos satisfatórios. Nesta proposição, a interdisciplinaridade tem papel
relevante, fornecendo subsídios para as demandas reais e complexas às quais os novos
técnicos se confrontam.
Os primórdios da educação profissional em nível técnico remontam às escolas
federais de Aprendizes e Artífices, criadas em 1909. Com as sucessivas mudanças no
cenário econômico, o acesso e a utilização de novas tecnologias e conhecimentos foram
incrementados. A partir dos anos 80, o nível de qualificação expandiu-se, culminando na
atual Rede de Educação Profissional e Tecnológica. Por meio do Decreto nº 2.208/97
houve a regulamentação da educação profissional, separada então do ensino médio, e a
criação do Programa de Expansão da Educação Profissional (Proep). O Decreto nº
5.154/2004 rearticulou estas instâncias, sem obrigatoriedade de concomitância (SOUZA,
2004).
Os novos formatos curriculares dos cursos técnicos, notadamente os modulares,
tentam conciliar conceitos caracteristicamente polissêmicos, como habilidades,
competências, capacidade e polivalência. Ao contemplá-los, há que se atentar para as
cobranças de produtividade em moldes competitivos que acontecem sob forte pressão
temporal. As habilidades desenvolvidas e as competências adquiridas devem, portanto,
auxiliar o profissional de nível técnico a subsistir no mundo do trabalho, almejando a
formação de um cidadão ativo, transformador da sociedade, capaz de gerenciar sua
profissão. Visando autonomia, ações educativas mais amplas e percursos personalizados
possibilitam complementações, facultando distintas estratégias para a formação profissional
(DEFFUNE e DEPRESBITERIS, 2002).
Os referenciais curriculares de educação profissional na área de artes, em nível
técnico, criticam os cursos existentes em instituições especializadas pela pouca relação feita
entre as exigências do mundo do trabalho e a arte, na medida em que desconsideram as
mudanças tecnológicas ocorridas e as características do mercado. Assinalam também a
recorrente falta de atualização e experiência dos docentes na junção ensino-mercado de
trabalho (MEC, 2000).

1.1 O ensino técnico de música em Brasília: considerações

O ensino técnico de música em Brasília integra a educação profissional oferecida pelo


Governo do Distrito Federal. Nesta perspectiva, o Centro de Educação Profissional Escola
de Música de Brasília CEP-EMB é referência, oferecendo 37 distintas habilitações e
mediando a formação de novos profissionais aptos tanto a ingressar no mercado de trabalho
quanto a prosseguir seus estudos.
Em função do Proep, houve recomposição curricular nas distintas subáreas,
compatibilizando demandas e formação do técnico em música. A inclusão de disciplinas
complementares e opcionais exemplifica esta flexibilização, entre elas arte dramática,
dança, prevenção às LER e DORT.
Por iniciativa do corpo docente, sintonizado às necessidades discentes, grupos de
estudo se articularam propondo pesquisas e atuações pedagógicas. Um deles foi o GEPM,
Grupo de Estudos e Pesquisa em Práticas Musicais, que contou com profissionais de
educação musical, educação física, ergonomia e fisioterapia, tendo por eixo o trabalho
corporal no processo ensino-aprendizagem de instrumento e o desenvolvimento das
habilidades motoras pertinentes. Pesquisas realizadas na própria instituição evidenciaram
expressiva presença de dor relacionada à prática instrumental tanto em professores quanto
em alunos (PORTO et al., 2003). Este fato gerou reflexões sobre a importância da
preparação do docente para atuar favoravelmente na formação de novos músicos.

2. O fazer musical: pontuações

No decorrer do processo ensino-aprendizagem, a natureza da tarefa solicita dos jovens


instrumentistas quesitos de natureza física, cognitiva e psíquica, comprometendo sua
totalidade. Por meio de um acompanhamento elaborado e sistemático, o corpo docente
encarrega-se de orientar o desenvolvimento de habilidades especializadas, adquiridas ao
longo de muitas horas de treino. Considera-se que a interpretação musical resulta
fundamentalmente de um processo interdisciplinar. Contudo, a pedagogia musical carece de
um olhar mais pontual sobre pesquisas recentes que sinalizam o adoecimento cada vez mais
freqüente de promissores alunos e jovens profissionais, afastados precocemente do mercado
de trabalho por quadros crônicos de dor, relatados em diferentes diagnósticos,
especialmente nos membros superiores (ANDRADE e FONSECA, 2000). As percepções
dos músicos sobre dor relacionada ao tocar passam pela crença de sua normalidade em
algum momento da carreira, sendo vista como necessária à suplantação de dificuldades
técnicas e sinônimo de empenho no estudo (PAULL e HARRISON, 1997).
A configuração dos instrumentos musicais e suas demandas físicas associam-se à
competição do mercado, à formação de jovens em idade cada vez mais tenra, ao uso de
processos cognitivos complexos que envolvem percepção, memória, antecipações e tomada
de decisão, entre outros. Estes elementos nem sempre são clarificados no estudo do
instrumento, interface esta por vezes considerada imutável, sendo solicitado ao aluno
amoldar-se, ao custo de sua própria saúde (COSTA e ABRAHÃO, 2004).
Na medida em que os primeiros sinais de alteração na prática instrumental podem
ocorrer no período de formação, a educação é considerada um fator preventivo, sendo o
professor responsável por alertar acerca de riscos ocupacionais, de posturas e técnicas mais
adequadas. Neste sentido, também precisam ser abordados tópicos como perda auditiva
induzida por ruído (PAIR) e fatores psicológicos, como medo de tocar em público e
ansiedade excessiva, que podem repercutir em tensões musculares.
Em pesquisa realizada com violistas de orquestra, o período de formação colocou-se
como crucial para a construção de perspectivas mais saudáveis na prática musical, sendo
relevante a articulação de fatores organizacionais, físicos, cognitivos e psíquicos para o
entendimento do adoecimento no decorrer da carreira (COSTA, 2003).

3. Ergonomia: uma interface possível

A ergonomia, jovem ciência que procura conhecer o trabalho para transformá-lo, tem
por eixos o bem-estar, a segurança e a eficácia no fazer, sendo aplicável a diferentes áreas
da relação homem-trabalho. Dada a complexidade das situações e dos diversos aspectos do
comportamento humano, a ergonomia realiza interfaces entre diferentes campos do
conhecimento centrando-se na atividade, na ação concreta e contextualizada. Considera
intrínseca a presença de variabilidade nas situações de trabalho, fato este continuamente
gerenciado frente às condições e definições organizacionais encontradas. A atividade se
coloca em um contínuo de construção, refletindo-se na saúde de quem trabalha (COSTA e
ABRAHÃO, 2005).
O ensino de ergonomia no Brasil se dá basicamente em termos de pós-graduação.
Contudo, nas áreas de saúde e segurança do trabalho esta disciplina ocorre em nível
técnico, graças às demandas de empresas que necessitam da avaliação das condições de
trabalho. Assinala-se a necessidade de desenvolvimento e de aplicações integradas da
ergonomia com outras profissões face à realidade das exigências do mercado (PEREIRA,
VIDAL e HADDAD, 2002).
Considera-se que a ergonomia pode contribuir significativamente para o entendimento
da situação de performance musical em suas distintas etapas, visando minimizar a
exposição a riscos ocupacionais, propondo adequações quanto à organização e à situação de
prática dos instrumentistas. Ao mesmo tempo em que propicia conhecimento estratégico
para gerenciar condições de trabalho e suas conseqüências no desempenho, assinala as altas
exigências cognitivas e psíquicas da profissão. Ao favorecer a difusão das informações
provenientes dos estudos em ergonomia, o CEP-EMB configura-se espaço pedagógico
inovador, conjugando preocupações de excelência e favorecendo a formação de músicos
mais conscientes, saudáveis e eficazes.
4. Ergonomia aplicada às práticas musicais

Ofereceu-se o curso de Ergonomia Aplicada às Práticas Musicais ao corpo docente da


instituição como uma das atividades da IV Semana Pedagógica, realizada no início do
primeiro semestre letivo de 2004. Participaram desta etapa trinta e oito professores.
Realizaram-se três encontros de três horas cada, com o intuito de discutir as dificuldades
encontradas pelos professores em relação à dimensão física da atividade, como espaço e
posto de trabalho, mobiliário e acústica das salas de estudo, questões posturais ao
instrumento e noções de antropometria para possíveis regulagens junto aos alunos. As
orientações quanto à necessidade de preparação física para a atividade, de aquecimento da
musculatura e realização de pausas durante o estudo foram enfatizadas enquanto estratégias
preventivas, na singularidade de cada instrumento. As dimensões cognitiva e psíquica do
fazer musical foram discutidas tendo por base questionários respondidos pelos docentes,
partindo, desta maneira, da experiência e das representações dos participantes. A troca de
informações entre os diferentes instrumentistas possibilitou checar indicativos comuns para
a introdução de melhorias na condução do processo ensino-aprendizagem. Deram
prosseguimento ao curso quatorze docentes, totalizando 30 horas-aula durante o semestre.
Os professores entrevistaram e observaram outros instrumentistas, detectando as
características de sua atividade, os fatores de risco presentes, as estratégias de
enfrentamento, sua preparação para a performance musical e práticas pedagógicas, revistas
sob o prisma ergonômico.
A partir desta proposta, o curso de ergonomia aplicada foi aberto aos discentes da
EMB, sendo oferecido como módulo livre no segundo semestre letivo de 2004, perfazendo
30 horas-aula. Em função de restrições de horário, local e disponibilidade da ministrante,
houve apenas uma turma com onze alunos, sendo que a clientela constituiu-se
fundamentalmente de ex-alunos da instituição que estavam cursando graduação em
instrumento ou licenciatura em música, atuantes em orquestras não-profissionais e
conjuntos de câmera. Depreende-se que o interesse imediato por este tipo de informação
pode estar relacionado à possibilidade de inserção no mercado de trabalho ou ao histórico
de aparecimento de dor, relatado por 80% dos participantes. Para conclusão de curso, os
alunos entrevistaram e observaram músicos profissionais em suas respectivas áreas de
interesse, resultados estes apresentados e discutidos em aula. Os participantes propuseram
estratégias para estudo e até mesmo a confecção de novos acessórios.
A terceira etapa de aplicação consistirá em módulo básico pontual com 40 horas-aula
a realizar-se no segundo semestre de 2005, aberto à comunidade, destinado a alunos e
músicos profissionais das áreas instrumental, vocal e de regência. Esta modalidade visa
qualificar e atualizar, certificando ao seu término sem, contudo, estar sujeita à
regulamentação curricular.
Espera-se, com esta iniciativa, promover um espaço para rever questões presentes no
aprendizado e na prática musical sob a ótica da ergonomia, possibilitando um diferencial
sensível aos interessados e aplicações imediatas em sua formação e exercício profissional.

Referências Bibliográficas

ANDRADE, Edson Queiroz; FONSECA, João Gabriel Marques. Artista-atleta: reflexões


sobre a utilização do corpo na performance dos instrumentos de corda. In: Per musi,
Belo Horizonte, vol. 2, p. 118-128, 2000.
COSTA, Cristina Porto; ABRAHÃO, Júlia Issy. Quando o tocar dói: um olhar ergonômico
sobre o fazer musical. In: Per Musi, Belo Horizonte, vol. 10, p. 60-79, 2004.
COSTA, Cristina Porto. Quando tocar dói: análise ergonômica do trabalho de violistas de
orquestra. Dissertação de Mestrado. Brasília: UnB, 2003.
DEFFUNE, Deise; DEPRESBITERIS, Lea. Competências, habilidades e currículos de
educação profissional. 2 ed. São Paulo: SENAC, 2002.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Educação profissional: referenciais curriculares
nacionais da educação profissional de nível técnico. Brasília: MEC, 2000.
PAULL, Barbara.; HARRISON, Christine. The athletic musician: a guide to playing
without pain. Lanham: Scarecrow Press, 1997.
PEREIRA, Luis Henrique; VIDAL, Mário César; HADDAD, Assed. O ensino da
ergonomia na educação profissional de nível técnico na área de saúde e segurança do
trabalho. In: VII CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE ERGONOMIA, 7, e XII
CONGRESSO BRASILEIRO DE ERGONOMIA, 12, 2002, Recife. Em CdRom.
Anais..., Recife: ABERGO, 2002.
PORTO, Cristina; PEDERIVA, Patrícia; NILTON, Raimundo; FREITAS, Sônia;
FRAGELLI, Thaís; BITTENCOURT, Vilma. Relato de experiência: Primeira Semana
da Performance. In: Anais do XII Encontro Anual da Associação Brasileira de
Educação Musical, 12. Em CDRom. Anais...Florianópolis: ABEM, 2003, p. 244-248.
SOUZA, Ana Júlia. Educação Profissional faz parte da história do país. Disponível em
http://www.mec.gov.br/news/boletimImp.asp?Id=34. Acesso em 26/06/2005.

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