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Robert McCheyne
Apresentação
A leitura diária da Palavra de Deus é uma prática devocional básica para manter a vida cristã
viva, vigorosa e cheia de alegria. No entanto, quantas dificuldades esse salutar hábito envolve!
Para ajudar o povo de Deus a ter comunhão com Ele por meio da Sua Palavra, lançamos a
Bíblia Devocional Robert Mccheyne. Esse piedoso pastor […] elaborou um plano de leitura
diária da Bíblia, pelo qual o Antigo Testamento é lido uma vez e o Novo Testamento e Salmos
são lidos duas vezes ao ano. A leitura é dividida em duas partes: familiar e pessoal. Seu
objetivo é promover a reunião da família em torno da Palavra de Deus e estimular a comunhão
espiritual entre os membros da família. Assim, cada pessoa terá dois momentos por dia de
encontro com Deus em Sua Palavra.
Quando McCheyne apresentou à sua congregação esse plano, em dezembro de 1842, mostrou-
lhe as grandes vantagens de seguir uma orientação para a leitura da Bíblia. Mais de 160 anos
depois, podemos usufruir dos benefícios do trabalho de Robert Murray McCheyne, “o homem
que não era como os demais”.
Os editores
São Paulo, novembro de 2006
JANEIRO FEVEREIRO
Leitura familiar Leitura pessoal Leitura familiar Leitura pessoal
1 Gênesis 1, Mateus 1 Esdras 1, Atos 1 Gênesis 33, Marcos 4 Ester 9-10, Rm 4
2 Gênesis 2, Mateus 2, Esdras 2, Atos 2 Gênesis 34, Marcos 5 Jó 1, Romanos 5
3 Gênesis 3, Mateus 3 Esdras 3, Atos 3 Gn 35-36, Marcos 6 Jó 2, Romanos 6
4 Gênesis 4, Mateus 4 Esdras 4, Atos 4 Gênesis 37, Marcos 7 Jó 3, Romanos 7
5 Gênesis 5, Mateus 5 Esdras 5, Atos 5 Gênesis 38, Marcos 8 Jó 4, Romanos 8
6 Gênesis 6, Mateus 6 Esdras 6, Atos 6 Gênesis 39, Marcos 9 Jó 5, Romanos 9
7 Gênesis 7, Mateus 7 Esdras 7, Atos 7 Gênesis 40, Marcos 10 Jó 6, Romanos 10
8 Gênesis 8, Mateus 8 Esdras 8, Atos 8 Gênesis 41, Marcos 11 Jó 7, Romanos 11
9 Gênesis 9-10, Mateus 9 Esdras 9, Atos 9 Gênesis 42, Marcos 12 Jó 8, Romanos 12
10 Gênesis 11, Mateus 10 Esdras 10, Atos 10 Gênesis 43, Marcos 13 Jó 9, Romanos 13
11 Gênesis 12, Mateus 11 Neemias 1, Atos 11 Gênesis 44, Marcos 14 Jó 10, Romanos 14
12 Gênesis 13, Mateus 12 Neemias 2, Atos 12 Gênesis 45, Marcos 15 Jó 11, Romanos 15
13 Gênesis 14, Mateus 13 Neemias 3, Atos 13 Gênesis 46, Marcos 16 Jó12, Romanos 16
14 Gênesis 15, Mateus 14 Neemias 4, Atos 14 Gênesis 47, Lc 1:1-38 Jó 13, 1 Coríntios 1
15 Gênesis 16, Mateus 15 Neemias 5, Atos 15 Gênesis 48, Lc 1:39-80 Jó 14, 1 Coríntios 2
16 Gênesis 17, Mateus 16 Neemias 6, Atos 16 Gênesis 49, Lucas 2 Jó 15, 1 Coríntios 3
17 Gênesis 18, Mateus 17 Neemias 7, Atos 17 Gênesis 50, Lucas 3 Jó 16-17, 1 Co 4
18 Gênesis 19, Mateus 18 Neemias 8, Atos 18 Exodo 1, Lucas 4 Jó 18, 1 Coríntios 5
19 Gênesis 20, Mateus 19 Neemias 9, Atos 19 Exodo 2, Lucas 5 Jó 19, 1 Coríntios 6
20 Gênesis 21, Mateus 20 Neemias 10, Atos 20 Exodo 3, Lucas 6 Jó 20, 1 Coríntios 7
21 Gênesis 22, Mateus 21 Neemias 11, Atos 21 Exodo 4, Lucas 7 Jó 21, 1 Coríntios 8
22 Gênesis 23, Mateus 22 Neemias 12, Atos 22 Exodo 5, Lucas 8 Jó 22, 1 Coríntios 9
23 Gênesis 24, Mateus 23 Neemias 13, Atos 23 Exodo 6, Lucas 9 Jó 23, 1 Co 10
24 Gênesis 25, Mateus 24 Ester 1, Atos 24 Exodo 7, Lucas 10 Jó 24, 1 Co 11
25 Gênesis 26, Mateus 25 Ester 2, Atos 25 Exodo 8, Lucas 11 Jó 25-26, 1 Co 12
26 Gênesis 27, Mateus 26 Ester 3, Atos 26 Exodo 9, Lucas 12 Jó 27, 1 Co 13
27 Gênesis 28, Mateus 27 Ester 4, Atos 27 Exodo 10, Lucas 13 Jó 28, 1 Co 14
28 Gênesis 29, Mateus 28 Ester 5, Atos 28 Ex 11, 12:1-20; Lc 14 Jó 29, 1 Co 15
29 Gênesis 30, Marcos 1 Ester 6, Romanos 1
30 Gênesis 31, Marcos 2 Ester 7, Romanos 2
31 Gênesis 32, Marcos 3 Ester 8, Romanos 3
MARÇO ABRIL
Leitura familiar Leitura pessoal Leitura familiar Leitura pessoal
1 Exodo 12:21-51, Lc 15 Jó 30, 1 Co 16 Levítico 4, Salmo 1-2 Pv 19, Colossenses 2
2 Exodo 13, Lucas 16 Jó 31, 2 Coríntios 1 Levítico 5, Salmo 3-4 Pv 20, Colossenses 3
3 Exodo 14, Lucas 17 Jó 32, 2 Coríntios 2 Levítico 6, Salmo 5-6 Pv 21, Colossenses 4
4 Exodo 15, Lucas 18 Jó 33, 2 Coríntios 3 Levítico 7, Salmo 7-8 Provérbios 22, 1 Ts 1
23 Exodo 34, João 13 Pv 10, Efésios 3 Levítico 27, Salmo 34 Eclesiastes 10, Tito 2
24 Exodo 35, João 14 Pv 11, Efésios 4 Números 1, Salmo 35 Eclesiastes 11, Tito 3
29 Dt 2, Salmo 83-84 Isaías 30, Judas 1 Josué 1, Sl 120-122 Isaías 61, Mateus 9
30 Deuteronômio 3, Sl 85 Isaías 31, Ap 1 Josué 2, Sl 123-125 Isaías 62, Mateus 10
Meu querido rebanho, a proximidade de outro ano desperta dentro de mim desejos pela
salvação de quem não a experimentou e pelo crescimento daqueles de vocês que são salvos.
“Deus me é testemunha das saudades que de todos vos tenho, em entranhável afeição de
Jesus Cristo” (Filipenses 1:8). Quem poderá dizer o que o ano vindouro nos trará? Há
certamente um peso pairando no espírito de todos os homens bons por perceberem alguma
estranha obra de juízo que ameaça essa terra. Há necessidade, agora, de resposta àquela
solene pergunta: “Se tão somente numa terra de paz estás confiado, como farás na enchente
do Jordão?” (Jeremias 12:5b).
Aqueles crentes que permanecerão de fato firmes são os que não dependem de si mesmos ou
das criaturas, mas de Jeová, nossa Justiça. Devemos ser mais guiados para nossa Bíblia e para
o trono da graça, se quisermos permanecer firmes no dia mau. Então, poderemos dizer como
Davi: “Os soberbos zombaram grandemente de mim; contudo, não me desviei da tua lei (…)
Príncipes me perseguiram sem causa, mas o meu coração temeu a tua palavra” (Salmo
119:51, 161).
Tenho pensado, há algum tempo, em preparar um plano de leitura das Escrituras, com o qual
todos os que forem despertados por Deus concordem, de modo que a Bíblia toda seja lida por
vocês uma vez por ano e, assim, todos possamos ser alimentados com a mesma porção dos
pastos verdejantes ao mesmo tempo.
Perigos
1. Formalismo. Somos criaturas tão fracas que qualquer atividade a que devemos voltar
regularmente está pronta a degenerar em mera forma sem vida. A tendência de ler a
Palavra mediante uma regra fixa pode, para alguma mentes, criar o esqueleto da
religião. Isso será um pecado peculiar dos últimos dias: “Tendo aparência de piedade,
mas negando a eficácia dela. Destes, afasta-te” (2 Timóteo 3:5). Que esse calendário
pereça antes que tal ferrugem devore a alma de vocês.
2. Justiça própria. Algumas pessoas, por terem devotado parte de seu tempo à leitura
da palavra de Deus e por terem completado a porção diária descrita, podem ser
tentadas a olhar para si mesmas com complacência. Muitos, estou persuadido disso,
que estão vivendo sem experimentar qualquer obra divina na alma – não perdoados,
não santificados e prontos para perecer – gastam o tempo determinado na devoção
secreta e familiar. Eles estão indo para o inferno com uma mentira na mão direita.
3. Leitura descuidada. Poucos tremem diante da palavra de Deus. Poucos, ao lê-la,
ouvem a voz de Jeová, que é cheia de majestade. Alguns, ao se depararem com um
texto maior, podem ser tentados a se enfadar dele, como Israel o fez em relação ao
maná diário, dizendo: “Nossa alma tem fastio deste pão vil” (Números 21:5), e o leem
de maneira leviana e descuidada. É de se temer que isso provoque a Deus. Cuidado
para aquela palavra não seja verdadeira para você: “E dizeis ainda: Eis aqui, que
canseira! E o lançastes ao desprezo, diz o Senhor dos Exércitos” (Malaquias 1:13).
4. Um jugo pesado demais para carregar. Alguns se lançam à leitura com avidez por
algum tempo, mas, depois, sentem-na como um peso muito difícil de carregar. Eles
podem sentir como que se arrastando pela tarefa que lhes foi indicada sem, no entanto,
terem qualquer gostinho da comida celestial. Se esse for o caso de qualquer um de
vocês, lancem de si os grilhões e alimentem-se com liberdade nos doce jardim de Deus.
Meu desejo não é jogar uma rede sobre vocês, mas ser um ajudador de seu regozijo.
Se há muitos perigos, qual, então, o propósito de sugerir esse plano? Respondo a isso dizendo
que as melhores coisas são sempre acompanhadas de perigos, assim como as mais belas
flores etsão frequentemente reunidas nas escarpas dos mais perigosos precipícios. Vamos
considerar.
Vantagens
Era inverno. Sentados próximo ao fogo, dois pedreiros estavam dedicados a sua tarefa. De repente, um
desconhecido aproximou-se deles, desceu do cavalo e, imediatamente, passou a conversar sobre o
estado espiritual da alma deles. Servindo-se das vivas chamas da fogueira como ilustração, o jovem
desconhecido pregou verdades alarmantes. Com profunda surpresa, os pedreiros exclamaram: “Você não
é um homem como os demais!” Ao que o desconhecido — que era Robert McCheyne — respondeu: “Eu
sou, simplesmente, um homem como os demais”.
Parece que, tanto a leitura dos sermões de McCheyne quanto de sua biografia, fazem brotar do coração
do leitor a mesma exclamação dos pedreiros: que, certamente, Robert McCheyne não foi um homem
como os demais. Seu ministério, certamente muito breve, tornou-se uma das luzes mais brilhantes do
evangelho na Escócia. Pureza doutrinária e fervor evangélico impregnaram por completo a pregação
desse grande servo de Deus. Em McCheyne encontramos aquela característica tão sublime — e muito
rara, infelizmente — de uma harmoniosa correspondência entre pregação e vida. A vida de McCheyne,
que alguém definiu como “um dos mais belos exemplos da obra do Espírito Santo”, foi caracterizada por
um alto grau de santidade e consagração.
Robert Murray McCheyne nasceu em Edimburgo em 29 de maio de 1813, numa época em que os
primeiros resplendores de um grande ressurgimento espiritual tinham lugar na Escócia. Entre os
preparativos secretos com que Deus contava para derramar sobre Seu povo dias de verdadeiro e
profundo refrigério espiritual se achava o nascimento do mais jovem dos cinco filhos de Adam McCheyne.
Já desde a infância, Robert deu mostras de possuir uma natureza doce e afável, ao mesmo tempo em
que todos podiam apreciar nele uma mente ágil e uma memória prodigiosa. Com a idade de quatro anos,
enquanto se recuperava de uma enfermidade, Robert fez do estudo do hebraico e do grego seu
passatempo favorito. Com oito anos, ingressou na escola superior para passar, anos mais tarde, para a
Universidade de Edimburgo. Em ambos centros de ensino, distinguiu-se como estudante privilegiado, de
forma especial nos exercícios poéticos. Ele é descrito como tendo boa estatura, cheio de agilidade e vigor,
ambicioso, ao mesmo tempo em que era nobre em sua disposição, evitando qualquer forma de engano
em sua conduta. Alguns consideravam que ele possuía, de forma inata, todas as virtudes do caráter
cristão; mas, segundo seu próprio testemunho, aquela pura moralidade exterior por ele exibida nascia de
um coração farisaico e, exatamente como muitos de seus companheiros, ele se empenhava para encher
sua vida de prazeres mundanos.
A morte de seu irmão David causou uma profunda impressão em sua alma. Seu diário contém numerosas
alusões a esse fato. Anos mais tarde, escrevendo a um amigo, Robert disse: “Ora por mim, para que eu
possa ser mais santo e mais sábio, menos como eu mesmo sou e mais como meu Senhor é (…) Hoje
fazem sete anos que perdi meu querido irmão, mas comecei a encontrar o Irmão que não pode morrer”.
A partir desse fato, sua terna consciência despertou para a realidade do pecado e das profundezas de sua
corrupção. “Que infame massa de corrupção eu tenho sido! Vivi uma grande parte de minha vida
completamente separado de Deus e para o mundo. Entreguei-me completamente ao gozo dos sentidos e
às coisas que perecem ao meu redor”.
Ainda que ele nunca tenha sabido a data exata de seu novo nascimento, jamais abrigou qualquer temor
de que isso não houvesse ocorrido. A segurança de sua salvação foi algo característico de seu ministério,
de modo que sua grande preocupação foi, em todo tempo, obter uma maior santidade de vida.
No inverno de 1831, iniciou seus estudos na Divinity Hall, onde Thomas Chalmers era professor de
Teologia, e David Welsh o era de História Eclesiástica. Com outros companheiros — Edward Irving,
Horatius e Andrew Bonar (que, mais tarde, escreveu sua biografia) — e fervorosos amigos, Robert
McCheyne se reunia para orar e estudar a Bíblia, especialmente nas línguas originais. Quando o Dr.
Chalmers foi informado do modo simples e literal como McCheyne esquadrinhava as Sagradas Escrituras,
não pode senão dizer: “Eu gosto dessa literalidade!” Verdadeiramente, todos os sermões deste grande
servo de Deus são caracterizados por uma profunda fidelidade ao texto bíblico. Já neste período de sua
vida, McCheyne dava mostra de um grande amor pelas almas perdidas e, junto com seus estudos,
dedicava várias horas por semana à pregação do evangelho, tarefa que realizava quase sempre nos
bairros pobres e mais baixos de Edimburgo.
Do mesmo modo que outros grandes servos de Deus, McCheyne tinha uma clara consciência da radical
seriedade do pecado. A compreensão clara da condição pecadora do homem era para ele requisito
imprescindível para fazer com que o coração sentisse a necessidade de Cristo como único Salvador e
também era uma experiência necessária para uma vida de santidade. Seu diário dá testemunho de quão
severo era no juízo que fazia de si mesmo. “Senhor, se nenhuma outra coisa pode livrar-me de meus
pecados a não ser a dor e as provas, envia-mas, Senhor, para que eu possa ser livrado de meus
membros carregados de carnalidade”. Mesmo nas mais gloriosas experiências do crente, McCheyne podia
descobrir traços de pecado; por isso, disse em certa ocasião: “Até mesmo nossas lágrimas de
arrependimento estão manchadas de pecado.”
Andrew Bonar escreveu sobre seu amigo nos seguintes termos: “Durante os primeiros anos de seus
cursos no colégio, o estudo não chegou a absorver toda a sua atenção. Sem dúvida, tão logo começou a
mudança em sua alma e isso também se refletiu em seus estudos. Um sentimento muito profundo de sua
responsabilidade o levou a dedicar todos os seus talentos ao serviço do Mestre, que Quem os havia
recebido. Poucos houve que, com tão completa dedicação, tenham-se consagrado à obra do Senhor como
fruto de um claro conhecimento de sua responsabilidade”.
Enquanto fazia os cursos de Literatura e Filosofia, conseguia encontrar tempo para dedicar sua atenção à
Teologia e à História Natural. Nos dias de sua maior prosperidade no ministério da pregação, quando,
juntamente com sua alma, sua congregação e rebanho constituíam o centro de seus desvelos, com
freqüência lamentava por não ter adquirido, nos anos anteriores, um caudal de conhecimento mais
profundo, pois se havia dado conta de que podia usar as jóias do Egito para o serviço do Senhor. De vez
em quando, seus estudos anteriores evocariam em sua mente alguma ilustração apropriada para a
verdade divina e precisamente no solene instante em que apresentava o evangelho glorioso aos mais
ignorantes e depravados.
Suas próprias palavras apresentam melhor sua estima pelo estudo e, ao mesmo tempo, revelam o
espírito de oração que, segundo McCheyne, devia sempre acompanhá-lo: “Esforça-te em teus estudos”,
escreveu a um jovem estudante em 1840. “Dá-te conta de que estás formando, em grande parte, o
caráter de teu futuro ministério. Se adquirires agora hábitos de estudo marcados pelo descuido e a
inatividade, nunca tirarás proveito do mesmo. Faz cada coisa a seu tempo. Sê diligente em todas as
coisas; aquilo que valha a pena fazê-lo, faze-o com todas as forças. E, sobre todas as coisas, apresenta-
te diante do Senhor com muita freqüência. Não tentes nunca ver um rosto humano enquanto não tiveres
visto primeiro o rosto Daquele que é nossa luz e nosso tudo. Ora por teus semelhantes. Ora por teus
professores e companheiros de estúdio.” A outro jovem escreveu: “Cuidado com a atmosfera dos autores
clássicos, pois ela é, na verdade, perniciosa; e tu necessitas muitíssimo, para contestá-la, o vento sul que
se respira das Escrituras. É certo que devemos conhecê-los — mas da mesma forma como o químico
experimenta as substâncias tóxicas — para descobrir suas qualidades e não para envenenar com eles teu
sangue.” E acrescentou: “Ora para que o Espírito Santo faça de ti não somente um jovem crente e santo,
mas para que te dê também sabedoria em teus estudos. Às vezes, um raio da luz divina que penetra a
alma pode dar suficiente luz para aclarar maravilhosamente um problema de matemática. O sorriso de
Deus acalma o espírito e a destra de Jesus levanta a cabeça do descaído, enquanto Seu Santo Espírito
aviva os efeitos, de modo que mesmo os estudos naturais vão um milhão de vezes melhor e mais
facilmente.”
As férias para McCheyne, assim como para seus amigos íntimos que permaneciam na cidade, não eram
consideradas como uma cessação do que se refere aos estudos. Uma vez por semana, costumavam
passar uma manhã juntos com o fim de estudar algum ponto da teologia sistemática, assim como para
trocar impressões sobre o que haviam lido em particular.
Um jovem assim, com faculdades intelectuais tão incomuns, às quais se unia ainda o amor ao estudo e
uma memória extraordinariamente profunda, facilmente teria se destacado no plano da erudição se não
houvesse posto em primeiro lugar, e como meta mais importante, a tarefa de salvar as almas. Todos os
talentos que possuía ele os submeteu à obra de despertar àqueles que estavam mortos em delitos e
pecados. Preparou sua alma para a terrível e solene responsabilidade de pregar a Palavra de Deus, e isso
ele fazia com “muita oração e profundo estudo da Palavra de Deus, com disciplina pessoal, com grandes
provas e dolorosas tentações, pela experiência da corrupção da morte em seu próprio coração e pela
descoberta da plena graça do Salvador.” Por experiência, ele podia dizer: “Quem é que vence o mundo,
senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1João 5.5).
No dia 1o. de julho de 1835, Robert Murray McCheyne obteve, do presbitério de Annan, licença para
pregar. Depois de haver pregado por vários meses em diferentes lugares e ter dado evidência da
particular doçura com que a Palavra de Deus fluía de seus lábios, McCheyne tornou-se o ajudante do
pastor John Bonar nas congregações unidas de Larbert e Dunipace, nas cercanias de Stirling. Em sua
pregação, fazia com que os outros participassem de sua vida interior, como de sua alma, à medida que
crescia na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador. Começava o dia muito cedo cantando salmos
ao Senhor. A isso se seguia a leitura da Palavra para a própria santificação. Nas cartas de Samuel
Rutherford [a serem publicadas por esta editora] encontrou uma mina de riquezas espirituais. Entre
outros livros que apreciava ler estavam: Chamamento aos Inconversos, de Richard Baxter, e A Vida de
David Brainerd, de Jonathan Edwards.
Em novembro de 1836, foi ordenado pastor na igreja de São Pedro, em Dundee. Permaneceu como
pastor dessa congregação até o dia de sua morte. A cidade de Dundee, como ele mesmo deixou escrito,
“era uma cidade dada à idolatria e de coração duro”. Mas não havia nada em suas mensagens que
buscasse o agrado do homem natural, pois não estava em seu coração buscar o beneplácito dos
inconversos. “Se o evangelho agradasse ao homem carnal, então, deixaria de ser evangelho”. Estava
profundamente persuadido de que a primeira obra do Espírito Santo na salvação do pecador era a de
produzir convicção de pecado e de trazer o homem a um estado de desespero diante de Deus. “A menos
que o homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda a nossa pregação será vã. Somente um
coração contrito pode receber a um Cristo crucificado”. Sua pregação era caracterizada por um elemento
de declarada urgência e alerta. “Que Deus me ajude sempre a falar-vos com clareza. Mesmo a vida
daqueles que vivem mais anos é, na verdade, curta. No entanto, essa vida curta que Deus nos deu é
suficiente para que busquemos o arrependimento e a conversão, pois logo, muito logo, passará. Cada dia
que passa é como um passo a mais em direção ao trono do juízo eterno. Nenhum de vós permanece
imutável; talvez estejais dormindo; não importa, pois a maré do tempo que passa vos está levando mais
para perto da morte, do juízo e da eternidade”.
Ao seu profundo amor pela almas se somava uma profunda sede de santidade de vida. Escrevendo a um
companheiro no ministério, disse: “Acima de todas as coisas, cultiva teu próprio espírito. Tua própria
alma deveria ser o principal motivo de todos os teus cuidados e desvelos. Mais que os grande talentos,
Deus abençoa àqueles que refletem a semelhança de Jesus em sua vida. Um ministro santo é uma arma
terrível nas mãos de Deus”. McCheyne talvez pregasse com mais poder com sua vida do que com suas
mensagens, e ele sabia bem, como nos disse seu amigo Andrew Bonar, que “os ministros do Evangelho
não só devem pregar fielmente, mas também viver fielmente”.
Como pastor em Dundee, McCheyne introduziu importantes inovações na congregação. Naquela época,
as reuniões de oração, se não eram desconhecidas, eram muito raras. McCheyne ensinou aos membros a
necessidade de congregar-se cada quinta-feira à noite a fim de unirem o coração em oração ao Senhor e
estudar Sua Palavra. Também destinava outro dia durante a semana para os jovens. Seu ministério entre
as crianças constitui a nota mais brilhante de seu ministério.
Ao seu zelo por santidade de vida uniu-se seu afã por pureza de testemunho entre os membros de sua
congregação. McCheyne era consciente de que a igreja — como parte do Corpo místico de Cristo — devia
manifestar a pureza e santidade Daquele que havia morrido para oferecer uma Igreja santa e sem
mancha ao Pai. Por isso, seu zelo pela observância de disciplina na congregação: “Ao começar meu
ministério entre vós, eu era em extremo ignorante da grande importância que na Igreja de Cristo tem a
disciplina eclesiástica. Pensava que meu único e grande objetivo nesta congregação era o de orar e
pregar. Vossa alma me parecia tão preciosa e o tempo se me apresentava tão curto que eu decidi
dedicar-me exclusivamente com todas as minhas forças e com todo o meu tempo ao labor de
evangelização e doutrina. Sempre que, diante de mim e dos presbíteros desta igreja, se nos
apresentaram casos de disciplina, eu os considerava como dignos de aborrecimento. Constituíam uma
obrigação diante da qual eu me encolhia. Mas agradou ao Senhor, que ensina a Seus servos de maneira
muito diferente daquela usada pelos homens, abençoar — inclusive com a conversão — alguns dos casos
de disciplina a nosso cuidado. Desde então uma nova luz se acendeu em minha mente: dei-me conta de
que não somente a pregação era uma ordenança de Cristo, mas também o exercício da disciplina
eclesiástica.”
Enquanto o vigor e a força espiritual de sua alma alcançavam uma grandeza gigantesca, a saúde física de
McCheyne se via minada e debilitada conforme transcorriam os dias. Ao final de 1838, uma violenta
palpitação do coração, ocasionada por seus árduos labores ministeriais, obrigaram o jovem pastor a
retirar-se para um descanso. E como sua convalescença se processava em ritmo muito lento, um grupo
de pastores, reunido em Edimburgo na primavera de 1839, decidiu convidar McCheyne a se unir a uma
comissão de pastores que planejava ir a Palestina para estudar as possibilidades missionárias da Terra
Santa. Todos criam que tanto o clima como a viagem redundariam em benefício para a saúde do pastor.
Do ponto de vista espiritual, sua passagem pela Palestina se constituiu uma verdadeira bênção para a sua
alma. Visitar os lugares que haviam sido cenário da vida e obra do bendito Mestre e pisar a mesma terra
que um dia pisara o Varão de dores foi uma experiência indescritível para o jovem pastor. No entanto,
fisicamente, o estado de McCheyne não melhorou; antes, pelo contrário, parecia que seu tabernáculo
terrestre ameaça sofrer um desmoronamento total. E, assim, nos últimos dias de julho de 1839,
encontrando-se a delegação missionária próxima de Esmirna, e já para regressar, McCheyne caiu
gravemente enfermo. Quando tudo fazia pensar em uma rápida morte, o Senhor estendeu Sua mão
curadora e o grande servo do evangelho pôde, por fim, regressar a sua amada Escócia e ao seu querido
rebanho em Dundee.
Durante sua ausência, o Espírito Santo começou a operar um maravilhoso avivamento na Escócia. Este
avivamento começou em Kilsyth sob a pregação do jovem pastor W. C. Burns, que havia substituído
McCheyne enquanto durava sua convalescença. Num curto espaço de tempo, a força do Espírito Santo,
que impulsionava o avivamento, se deixou sentir em muitos lugares. Em Dundee, onde os cultos se
prolongavam até tarde da noite todos os dias da semana, as conversões foram muito numerosas. Era
como se toda a cidade houvesse sido sacudida pelo poder do Espírito.
Em novembro do mesmo ano, McCheyne, recuperado de sua enfermidade, regressou a sua congregação.
Os membros da igreja de São Pedro transbordaram de alegria ao ver de novo o rosto amado de seu
pastor. A igreja estava absolutamente lotada e, enquanto todos esperavam que McCheyne ocupasse o
púlpito, um silêncio absoluto reinada entre os que estavam ali congregados. Muitos membros
derramaram lágrimas de gratidão ao rever o rosto de seu pastor. Mas, ao finalizar o culto e movidos pelo
poder de sua pregação, muitos foram os pecadores que derramaram lágrimas de arrependimento.
O regresso de McCheyne a Dundee marcou um novo episódio em seu ministério e também na igreja
escocesa. Era como se a partir daquele momento, o Senhor se houvesse disposto a responder às orações
que o jovem pastor elevara no princípio de seu ministério, suplicando por um avivamento. Ali, onde
McCheyne pregara, o Espírito acrescentava novas almas à Igreja.
“Em todas as partes onde chegava a notícia de sua morte”, escreveu Bonar, “o semblante dos crentes se
enchia de tristeza. Talvez não tenha havido outra morte que impressionasse tanto aos santos de Deus na
Escócia como a deste grande servo de Deus que consagrou toda a sua vida à pregação do evangelho
eterno. Com freqüência, ele costumava dizer: ‘Vivei de modo que, um dia, sintam de vós saudades’, e
ninguém que houvesse visto as lágrimas que se verteram por ocasião de sua morte teria dúvidas em
afirmar que sua vida havia sido o que ele havia recomendado a outros. Não tinha mais do que 29 anos
quando o Senhor o levou.
“No dia do enterro, foram suspensas todas as atividades em Dundee. Do lugar do velório até o cemitério,
todas as ruas e janelas estavam abarrotadas de uma grande multidão. Muitas almas se deram conta
naquele dia de que um príncipe de Israel havia caído, enquanto muitos corações indiferentes
experimentaram uma terrível angústia ao contemplar o solene espetáculo.
“O túmulo de Robert McCheyne ainda pode ser visto na parte nordeste do cemitério que circunda a igreja
de São Pedro. Ele se foi para as montanhas de mirra e para as colinas de incenso, até que desponte o dia
e fujam as sombras. Terminou sua obra. Seu Pai celestial não tinha para ele nenhuma outra planta para
regar nem outra vide para cuidar, e o Salvador, que tanto o amou em vida, agora o esperava com Suas
palavras de boas-vindas: ‘Bem está, servo bom e fiel. (…) Entra no gozo do teu senhor’ (Mateus 25.21)”
O ministério de Robert McCheyne não terminou com sua morte. Suas mensagens e cartas, com sua
biografia escrita por seu amigo Andrew Bonar, são ricos instrumentos de bênção para muitas almas.
Fonte: http://www.pregacaoexpositiva.com.br/publicacoes/robert-murray-mccheyne-1813-1843/