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Disciplina: Direito das Obrigações I
Turma: 3º Ano
Ano:2020
Universidade Licungo
Tendo passado pela definição, objecto e princípios do Direito das Obrigações, é o momento de
falarmos da sua estrutura e da distinção entre aquela com os Direitos Reais.
Da Estrutura da Obrigação
Teoria Personalista
É aquela que qualifica o direito de crédito como um direito sobre a pessoa do devedor. Esta era
a solução tradicional do Direito Romano na época arcaica que configurava o direito de crédito
como representando um direito de domínio sobre uma pessoa.
Efectivamente, nessa altura a obrigação era vista como uma sujeição da pessoa do devedor ao
credor, que tinha o direito de o reduzir a escravidão se não cumprisse a obrigação ou de o
manter em cativeiro até que cumprisse a obrigação.
Qualifica o direito de crédito como um direito à prestação, ou seja, o direito a uma conduta do
devedor. Esta é a concepção já presente na época clássica do Direito Romano, tendo sido
defendida na pandectista por Windscheid, e que se manteve dominante entre nós, tendo sido
defendida sucessivamente por Guilherme Morreira.
De acordo com esta tese o direito de crédito consiste na faculdade de exigir de determinada
pessoa à realização de determinada conduta (prestação) em benefício de outrem.
O direito de crédito não incide porém, nem sobre o património do devedor, nem sobre a coisa
a prestar sendo antes um direito a conduta do devedor. Trata-se por isso de um direito
exclusivamente pessoal. Dirigido contra uma pessoa, ainda que o valor patrimonial desta
adstrição pessoal permita a execução do devedor em caso de incumprimento.
A Teoria Realista
Esta teoria entende que o direito de crédito não é um direito de prestação, mas antes um direito
sobre o património do devedor. No entanto, a mesma não é acolhida pelo Código Civil
Moçambicano.
Qualifica o direito de crédito como um direito sobre os bens do devedor. Por esta concepção,
o crédito é a semelhança do direito real, um direito sobre bens havendo apenas que considerar
que não recai sobre bens determinados, mas antes sobre todo o património do devedor
entendido como uma universalidade. Assim esta teoria nega a existência de um direito a
1
Esta, mereceu consagração legal-artigo 397° do CC
prestação, considerando que, por ser incoercível o cumprimento da obrigação se apresenta
como um acto absolutamente livre, que não é objecto de um direito do credor.
Esta teoria concebe o direito de crédito como uma relação entre patrimónios. Corresponde a
concepção mais estrema das teorias realistas. Esta teoria é defendida por Eugéne Goudemet, o
direito de crédito seria consequentemente a semelhança do direito real, um direito sobre bens
(ius ad rem) com a única diferença que não recairia sobre bens determinados, mas sobre todo
o património do devedor.
É ainda uma tese realista, apesar de bastante diferente das anteriores, a concepção que qualifica
o direito de crédito como um direito a transmissão dos bens do de vedor, uma vez que coloca
o objecto do direito não na prestação, mas em bens. De acordo com os defensores desta teoria,
o fim da obrigação seria a aquisição da propriedade pelo que a diferença entre o direito de
crédito e direito real residiria na circunstância de este ser exercido directamente sobre a coisa,
enquanto naquele haveria um fenómeno de “propriedade indireta’, um direito a aquisição de
bens do devedor.
A última tese realista que nos falta examinar é a concepção da Pacchion, tese que se filia
bastante nas teses mistas, das quais alias parte, mas que deverá antes ser qualificada como tese
realista na medida em nega a existência de um direito a prestação. Efectivamente, para o autor
da tese, é possível distinguir na obrigação duas relações fundamentais, o débito e a
responsabilidade. A relação de débito corresponderia a um dever do devedor-entendido como
o estado de pressão psicológica em que o devedor se encontra por existir um preceito que o
manda realizar de determinada pessoa- e a uma legítima expectativa do credor, entendida como
um estado de fidúcia jurídica de receber a prestação pelo simples facto lhe ser juridicamente
devida, mas que não corresponde a um direito que ele possa fazer valer se a prestação não for
espontaneamente realizada.
Segundo a doutrina, a obrigação tanto tem por objecto s prestação como património do devedor,
posição que se considera corresponder ao antigo Direito Romano, que distinguia entre
vinculação pessoal do devedor (debitium) e a sua responsabilidade (obligation), bem como ao
antigo direito germânico, que estabelece uma distinção entre a divida e a responsabilidade.
O credor teria assim dois direitos fundamentais, um direito a prestação que seria um direito
pessoal e um direito sobre o património do devedor que seria um direito real de garantia.
Posição Adoptada
A obrigação não se pode considerar um direito incidente sobre os bens do devedor, sendo
antes um vínculo pessoal entre dois sujeitos, através do qual um deles pode exigir que o outro
adopte determinado comportamento em seu benefício.
Esta é aliás a posição adoptada pelo legislador que no art. 397º CC consagra a teoria clássica,
definindo a obrigação como o vínculo jurídico por virtude do qual um pessoa fica adstrita para
com a outra a realização ao de uma prestação. É também, posição adoptada pela grande maioria
da doutrina, que entender o direito de crédito como tendo por objecto a prestação, negando que
a existência de qualquer direito do credor sobre o património do devedor.
A distinção essencial que se deve estabelecer entre os Direitos de Crédito e Direitos Reais
consiste no critério do objecto: os direitos reais são direitos que sobre as coisas, e os direitos
de crédito são de prestação, ou seja, é um direito que tem a ver com a conduta do devedor.
Este distinto objecto tem reflexos em termos das características dos direitos da obrigação. Se o
crédito é um direito de prestação ele caracteriza-se por necessitar da mediação ou colaboração
do devedor para ser exercido. O credor necessita assim da colaboração do devedor paras
satisfazer esse interesse. Nada disto acontece nos direitos reais.
Neles, o titular não precisa da colaboração de ninguém, exerce o seu direito, já que incide
directa e imediatamente sobre uma coisa.
Na mesma senda, o direito de crédito distingue-se dos direitos reais em virtude da sua
relatividade estrutural. O direito de crédito assenta numa relação, o que implica que tenha que
ser exercido contra o devedor, o direito real não assenta em qualquer tipo de relação,
encontrando-se desligado de relações interpessoais, dado que se exerce directamente sobre a
coisa, podendo ser oposto a toda e qualquer pessoa, é a denominada oponilidade.
Esta oponibilidade veio a ser sustentada por Heck, através de uma passagem em que qualifica
direito real como um muro que protege contra todas as direcções e o direito de crédito como
um muro que protege contra uma direcção.
O direito real adere a coisa e estabelece vinculação tal como a coisa dela já não pode ser
separada. Assim por exemplo se alguém constituir uma hipoteca sobre determinado prédio não
pode depois transferir a hipoteca para outro prédio, o direito incide sobre aquela coisa e não
pode ser dela separada.
Para consulta:
Obras:
Luís Manuel Teles de Menezes Leitão, Direito das Obrigações, 15ª Ed, Reimpressão,
Almedina, 2018;
Legislação
Decreto-Lei n° 47344 de 25 de Novembro de 1996- que aprova o Código Civil de
Moçambique.
Próxima aula:
Trabalho de campo.