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ANÁLISE DE RISCO DE INUNDAÇÕES EM TERMOS DE PREJUÍZOS GERADOS

NA PRESENÇA DE EVENTOS MAIS CRÍTICOS QUE O DEFINIDO EM


PROJETO: APLICAÇÃO AO RIO IGUAÇU - BAIXADA FLUMINENSE / RJ

Gabriel de Lyra Pessina

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
Civil.

Orientador: Marcelo Gomes Miguez

Rio de Janeiro
Dezembro de 2014
Pessina, Gabriel de Lyra
Análise de Risco de Inundações em Termos de
Prejuízos Gerados na Presença de Eventos mais Críticos
que o Definido em Projeto: Aplicação ao Rio Iguaçu -
Baixada Fluminense / RJ / Gabriel de Lyra Pessina. – Rio
de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2014.
V, 108p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Marcelo Gomes Miguez
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2014.
Referências Bibliográficas: p. 102-108.
1. Risco de Inundação. 2. Modelagem Matemática. 3.
Requalificação Fluvial. 4. Pôlder. 5. Prejuízo. 6. Risco
Residual. I. Miguez, Marcelo Gomes. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título.

iii
Dedico a toda minha família, pelo amor, carinho e
apoio, fundamentais na minha formação e educação, em
especial a minha mãe Ana Luiza de Lyra Vaz, meu pai
Leonardo Roque Pessina Bernini, meu irmão Antonio de
Lyra Pessina, e ao mais novo integrante, meu sobrinho-
afilhado Francisco Bohm de Lyra Pessina.

iv
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Marcelo Gomes Miguez, orientador, meus mais sinceros


agradecimentos pela sua forma calma e dedicada nas horas compartilhadas de
orientação, de troca e de muito estímulo para seguir adiante no aprofundamento dos
conteúdos concernentes ao tema escolhido. Durante todo esse processo de
aprendizagem usufrui em muito de seu vasto conhecimento, a sua sabedoria me
transmitiu segurança nos momentos mais difíceis, principalmente, nas correções da
modelagem matemática.

Ao Prof. Paulo Canedo de Magalhães, que muito contribuiu para este trabalho,
com suas ideias sempre pertinentes e inteligentes, seu vasto conhecimento sobre o tema
e o local de trabalho, desde a época em que foi meu mestre, depois na qualificação e
finalmente na banca.

À professora Luciene Pimentel da Silva, meu agradecimento por ter gentilmente


aceitado compor a banca examinadora do presente trabalho.

Ao Prof. José Paulo Azevedo, pelos ensinamentos, apoio e incentivo desde


início do mestrado.

A toda a equipe do Laboratório de Hidráulica Computacional, em especial ao


doutorando Matheus Sousa, que com muita paciência e sabedoria me apoiou e me
orientou, quando requisitada a sua ajuda. Ao Osvaldo Rezende pelos momentos e
conhecimentos compartilhados, à Luiza Ribeiro, Aline Veról, Ana Caroline Jacob,
Bruna Amaral, Bruna Battemarco, Dearley, Prof. Virgilio e todos os demais. Também
de forma especial agradeço ao bolsista Antonio Krishnamurti Oliveira, que me ajudou e
apoiou para superar as dificuldades da distância, me tratando como se fosse um amigo
de longa data, parabéns Antonio pela sua atitude. Assim como, agradeço ao Nordino
pelas impressões e apoio.

À Gisele Ribeiro pela parceria na elaboração da base de modelagem e pelas


trocas de experiências.

Aos colegas de mestrado Francisco Niedzielski, Julia Menezes, Anaí


Vasconcelos, Paulo Vitor, Vinicius Sarnaglia e, em especial, ao Thiago Barral pelas
contribuições e incentivo na reta final.

v
À COPPE e UFRJ, pela oportunidade de um ensino de qualidade.

A toda a equipe e amigos do INEA, inclusive aos chefes que colaboraram com
as liberações para esta importante atividade de capacitação e, em especial, ao amigo
Edson Falcão pelas informações e apoio concedidos.

Aos colegas e amigos da CASAN, em especial aos meus chefes, que me


liberaram para as diversas idas ao Rio de Janeiro, destacando o Eng. Leonardo da Silva,
como grande exemplo de chefe.

Aos meus Tios, Vera Maria e Mario Elian, por sempre terem me acolhido como
filho em seus lares. Considero vocês meus segundos pais. A todos meus Irmãos, Tios,
Primos e Sobrinhos do Rio de Janeiro e do Uruguai. Saudades dos que estão longe.

Aos meus amigos de longa data, Glauco Ladik Antunes, Fernando Fenelon e
Guilherme Senna, que me apoiaram nos momentos mais difíceis, ajudando em algumas
tarefas fundamentais.

A todos outros amigos e colegas que me incentivaram e prestaram sua


colaboração no decorrer desse processo árduo.

A todos os amigos da Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC, de outros


cursos da UFSC e de outras partes de Floripa, do Rio, de Santo André, de São Paulo,
Uruguai, e do mundo afora.

Aos meus pais e irmão pelo amor e força, incondicionais e em todos os


momentos.

À minha companheira, Marcela de Andrade Gomes (a Marrinha), pelo seu


carinho e afeto constantes, e por ter me aturado em momentos bem difíceis.

A Deus, por ter me dado forças para superar os obstáculos do ano de 2014, com
certeza o mais difícil da minha vida, sempre tive fé que tudo iria correr bem.

vi
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ANÁLISE DE RISCO DE INUNDAÇÕES EM TERMOS DE PREJUÍZOS GERADOS


NA PRESENÇA DE EVENTOS MAIS CRÍTICOS QUE O DEFINIDO EM
PROJETO: APLICAÇÃO AO RIO IGUAÇU - BAIXADA FLUMINENSE / RJ

Gabriel de Lyra Pessina

Dezembro/2014

Orientador: Marcelo Gomes Miguez

Programa: Engenharia Civil

O crescimento urbano nos países em desenvolvimento tem ocorrido de forma


insustentável. No Brasil, este processo acelerou-se a partir dos anos 70, com grande
concentração de população em pequenos espaços, impactando os ecossistemas terrestre
e aquático e a própria população com inundações, perdas materiais, degradação do
ambiente, doenças de veiculação hídrica e perda da qualidade de vida. Neste trabalho, o
problema das inundações é analisado sob a ótica dos riscos, materializados na forma de
prejuízos, em casos em que o horizonte de projeto é superado e falhas ocorrem. Em
particular, o estudo é focado na bacia do Rio Iguaçu, na Baixada Fluminense/RJ. O
modelo hidrodinâmico utilizado como ferramenta para elaborar este trabalho foi o
MODCEL, por permitir a avaliação do comportamento do rio e os efeitos de
intervenções de projeto, para controle das inundações da bacia do caso de estudo. Os
resultados aqui obtidos mostraram a importância das planícies de inundação natural nas
estratégias de controle de cheias, como elementos capazes de garantir a funcionalidade
em longo prazo dos sistemas implantados.

vii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

FLOOD RISK ANALYSIS IN TERMS OF LOSSES GENERATED BY MORE


CRITICAL EVENTS THAN THOSE DEFINED IN THE PROJECT: CASE
OF IGUAÇU RIVER STUDY - BAIXADA FLUMINENSE / RIO DE JANEIRO

Gabriel de Lyra Pessina

December/2014

Advisor: Marcelo Gomes Miguez

Department: Civil Engineering

Urban growth in developing countries has been occurring unsustainably. In


Brazil, this process has accelerated since the early 70's, with large population
concentration in small spaces, affecting terrestrial and aquatic ecosystems and the
population itself with floods, material losses, environmental degradation, waterborne
diseases and loss of quality of life. In this study, the inundation problem is analyzed
under a risk approach, materialized as monetary losses, when the design flood is
surpassed and the project fails. Particularly, this study focuses in the Iguaçu river Basin
at Baixada Fluminense lowlands, RJ-Brazil. The hydrodynamic model used as a tool to
prepare this work was the MODCEL by allowing the river performance evaluation and
the effects of design interventions for flood control in the studied basin. The results
obtained showed the importance of natural floodplains in flood control strategies, as
elements capable to ensure long-term functionality of installed systems.

viii
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1

1.1 Contexto ................................................................................................................ 1

1.2 Motivação ............................................................................................................. 4

1.3 Hipótese de trabalho ............................................................................................. 8

1.4 Objetivos gerais e específicos ............................................................................... 8

1.5 Metodologia Resumida ......................................................................................... 9

1.6 Estrutura da pesquisa .......................................................................................... 11

2. CHEIAS, INUNDAÇÕES E MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS URBANAS ... 12

2.1 Medidas Estruturais de controle e minimização de inundações ......................... 17

2.2 Medidas Não Estruturais de controle e minimização de inundações.................. 22

3. REQUALIFICAÇÃO FLUVIAL ........................................................................... 26

4. RISCO DE INUNDAÇÕES .................................................................................... 31

5. CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DOS RIOS IGUAÇU -


SARAPUÍ ...................................................................................................................... 36

6. METODOLOGIA .................................................................................................... 41

6.1 Revisão Conceitual do MODCEL ...................................................................... 41

6.2 Materialização do Risco de Inundação em termos de Curvas de Prejuízo ......... 44

6.3 Procedimentos propostos .................................................................................... 58

6.3.1 Dados e Estudos Hidrológicos ........................................................ 59

6.3.2 Modelagem topográfica, topológica e hidráulica ............................ 61

6.3.3 Arquivos de entrada e condições iniciais ........................................ 61

6.3.4 Calibração do modelo ..................................................................... 63

ix
7. CASO DE ESTUDO: RIO IGUAÇU ..................................................................... 66

7.1 Diagnóstico preliminar das cheias que afetam a área de estudo ......................... 67

7.2 Modelagem da Alternativa 1, intervenções propostas no Projeto Iguaçu .......... 71

7.3 Modelagem da Alternativa 2 – solução tradicional de engenharia ..................... 75

7.4 Modelagem da Alternativa 3 – situação atual de implantação do projeto Iguaçu


.............................................................................................................................76

7.5 Análise dos resultados de Prejuízos e Alagamentos para os Cenários Simulados


.............................................................................................................................77

7.5.1 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 25 anos ............... 77

7.5.2 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 50 anos ............... 78

7.5.3 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 100 anos ............. 80

7.5.4 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 200 anos ............. 84

7.5.5 Comparação dos resultados e Discussão final ................................ 89

8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 94

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 102

x
1. INTRODUÇÃO

1.1 Contexto

O crescimento urbano nos países em desenvolvimento tem ocorrido de forma


insustentável. No Brasil, este processo acelerou-se a partir dos anos 70, com grande
concentração de população em pequenos espaços, impactando os ecossistemas terrestre
e aquático, e a própria população, com inundações, perdas materiais, degradação do
ambiente, doenças de veiculação hídrica e perda da qualidade de vida. Isso ocorre,
principalmente, em decorrência da falta de controle adequado de ocupação do espaço
urbano, que tem influência direta sobre a infraestrutura de saneamento básico:
abastecimento público, esgotamento sanitário, águas pluviais (drenagem urbana e
inundações ribeirinhas) e resíduos sólidos.

Rios sempre foram um atrativo para o desenvolvimento das civilizações antigas.


Eles serviam como meio de transporte, como fonte de abastecimento de água para uso
humano e para a agricultura, funcionavam como canais de saneamento (para
escoamento de águas residuais) e proteção militar. Desde o início, o desenvolvimento
nas planícies de inundação ocorreu atraindo comunidades e favorecendo a agricultura,
servindo como centros de comércio, com portos fluviais fazendo a ligação com
localidades regionais, nacionais e internacionais. Junto com a atratividade da ocupação,
porém, veio o risco (SAYERS et al., 2013), principalmente o risco de inundações e as
consequentes perdas quando estas inundações atingem pesadamente os sistemas
econômicos instalados nas planícies ribeirinhas.

Segundo Carneiro e Miguez (2011):

Algumas cidades cresceram em sítios elevados priorizando a


capacidade de defesa, outras apareceram em interseções de rotas
comerciais, a partir de mercados estabelecidos nestes pontos
estratégicos, mas grande parte das primeiras cidades da Antiguidade
cresceu em áreas associadas aos rios, em função da necessidade de
água para abastecimento, de terras férteis e de irrigação para a
produção de alimentos excedentes para abastecê-las, da possibilidade
de utilizar o rio em rotas comerciais e também pela proteção conferida
pelo rio como barreira natural. Destacam-se como cidades marcantes
deste período: Babilônia (posteriormente Bagdá, banhada pelos rios
Tigres e Eufrates), Mênfis (posteriormente Cairo, banhada pelo rio

1
Nilo), Harapa (na bacia do rio Indu) e Roma (nascida junto ao rio
Tibre).

As primeiras civilizações reconheceram a necessidade de conviver lado a lado


com as inundações: construindo as benfeitorias mais importantes em pontos mais altos
das cidades (como visto através das igrejas e catedrais da Inglaterra), fornecendo alertas
de enchentes para aqueles que estavam em zonas de risco de inundação (prática comum
no antigo Egito) e fazendo escolhas de planejamento do uso do solo reconhecendo a
presença das inundações, como praticado pelos Romanos (SAYERS et al., 2013).

Ainda segundo Sayers et al. (2013), ao longo dos anos de 1960 a 1980, o
principal meio de mitigar os impactos de inundações permaneceu sendo o controle de
inundações tradicional (através de obras típicas de engenharia hidráulica, como
barragens, diques, pôlderes, canais de desvio e estruturas relacionadas). Como as
populações foram crescendo e se desenvolvendo nas planícies de inundação, os danos
causados por inundações continuaram aumentando, bem como a necessidade de
enfrentar estas inundações de forma diferente tornou-se mais evidente. Neste contexto,
foi necessária uma nova abordagem, que passou a utilizar o conceito de risco na prática
(em tomadas de decisões) e não apenas na teoria.

Apesar disso, as abordagens tradicionais de controle de inundações persistem até


hoje em muitas políticas e, talvez, como fator mais importante nas tomadas de decisões.
Mas esta prática está mudando lentamente. A adoção de uma abordagem estratégica
para a gestão do risco de inundações é fundamental para essa transição. Embora não
haja uma solução única a seguir, muitos elementos de boas práticas, ferramentas e
técnicas de apoio já existem (SAYERS et al., 2013).

Entretanto, não apenas as práticas tradicionais vêm se modificando, como


também as novas práticas introduzidas começam a se preocupar com a questão da
qualidade do ambiente fluvial, além da necessidade de controle de cheias. Muitas vezes,
no passado, ações de adequação do rio, com finalidades meramente hidráulicas,
acabaram por introduzir condições de empobrecimento do ambiente. Hoje, ações mais
sustentáveis e mais naturais começam a ser propostas com o objetivo de integrar
ambiente natural e construído.

2
Essa dissertação pretende discutir este problema em um caso de estudo na bacia
dos rios Iguaçu-Sarapuí, especificamente no trecho médio do rio Iguaçu, desde a foz do
rio Botas até as proximidades da rodovia Washington Luiz, localizada na Baixada
Fluminense. Este trecho do rio Iguaçu contempla os pôlderes do Amapá, Cidade dos
Meninos e Pilar, situados na margem esquerda do rio Iguaçu, e os pôlderes do Outeiro e
Núcleo São Bento, situados na margem direita. Com exceção do pôlder do Outeiro, que
se situa no município de Belford Roxo, todos os demais se situam em Duque de Caxias.

O pôlder do Amapá se localiza no trecho de confluência do rio Iguaçu com o rio


Botas, no bairro do Amapá. A sua área é protegida pelos diques dos rios Iguaçu e
Capivari/Água Preta e ainda possui uma ocupação de baixa densidade, mas com
indicativos de expansão urbana, como demarcações de futuros loteamentos visíveis.

O pôlder do Outeiro ocupa a margem direita do rio, onde a urbanização cresceu


e parte dela ocorreu de maneira informal e irregular, com habitações e infraestrutura
inadequadas, tornando a área vulnerável às frequentes inundações. Esta área também é
protegida por dique.

Já o pôlder Cidade dos Meninos permaneceu desocupado ao longo do tempo, em


função de uma contaminação ambiental com organoclorados (material tóxico e
cancerígeno) na região. Essa área tem previsão de recuperação ambiental e aparece
como possível área de expansão urbana do Município de Duque de Caxias (conforme
plano Diretor do município), o que é um fator preocupante, já que a área originalmente
fazia parte da planície de inundação da margem esquerda do Iguaçu e poderia ser
aproveitada como área de armazenamento natural, conforme sugerido no Plano Diretor
de Recursos Hídricos, Recuperação Ambiental e Controle de Inundações da Bacia do
Rio Iguaçu-Sarapuí (COPPETEC, 2010), citado doravante como “Projeto Iguaçu
(2010)”. Este Plano/Projeto de 2010 é uma revisão e complementação do Plano Diretor
de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu (LABHID, 1996).

O pôlder Núcleo São Bento se situa na faixa marginal direita do rio Iguaçu, no
trecho a jusante da Avenida Presidente Kennedy, na divisa entre os municípios de
Duque de Caxias e Belford Roxo. Essa área contém os bairros conhecidos como Nossa
Senhora das Graças e Boa Esperança, no município de Duque de Caxias. A região da
bacia hidrográfica contribuinte para o Pôlder do São Bento possui ocupação variando de

3
baixa a média densidade, apresentando desde ocupações irregulares (que vem se
tornando mais constantes) a loteamentos regularizados dotados de equipamentos
urbanos e estrutura de saneamento. As ocupações irregulares das áreas reservadas para
implantação dos reservatórios-pulmão reduziram consideravelmente o volume de
armazenagem previsto no âmbito do Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010).

O Pôlder do Pilar é delimitado pelo rio Iguaçu a oeste, pelo rio Pilar a leste e
pela Avenida Presidente Kennedy ao norte. Esta área apresenta alta densidade de
ocupação por habitações e, consequentemente, elevado nível de impermeabilização.
Segundo o Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010), a região, historicamente, sofreu
constantes inundações nas áreas baixas localizadas ao longo da margem do canal
auxiliar. Essas inundações ocorrem quando os escoamentos superficiais gerados pelas
chuvas precipitadas sobre a bacia coincidem com uma situação de nível d’água alto no
rio Iguaçu e assim impedem o deságue do canal auxiliar no rio Iguaçu.

Em particular, considerando as condições mais regulares de urbanização do


pôlder do Pilar e do estágio atual de implantação do Projeto Iguaçu, em que o governo
do Estado investiu para reorganizar a configuração deste pôlder, fazendo crescer o nível
de proteção desta região, o pôlder do Pilar foi escolhido como referência para a
comparação dos resultados finais, no que tange à discussão principal deste trabalho, ou
seja, na discussão da análise de risco de inundações em termos de prejuízos gerados.

1.2 Motivação

De acordo com a UNESCO (2005), as inundações afetam cerca de 520 milhões


de pessoas no mundo todo a cada ano, causando em média 25000 mortes e prejuízos
para a economia mundial da ordem de US$ 60 bilhões. Na última década, 96% das
mortes relacionadas com desastres naturais ocorreram em países em desenvolvimento.

Observa-se, em vários municípios da Baixada Fluminense, uma expansão


descontrolada do perímetro urbano, que não é acompanhada da infraestrutura e dos
serviços necessários. Esta forma desorganizada de expansão mostra a ineficiência no
controle da aplicação de critérios técnicos e de planejamento na delimitação do
perímetro urbano legal.

4
Segundo LABHID (1996) e Carneiro (2008), o caótico processo de urbanização
acarretou as seguintes consequências:

- ocupação do leito maior dos rios e em muitos casos do leito menor,


aumentando o contingente de pessoas sujeitas às inundações;

- acelerado processo de assoreamento, devido ao desmatamento das encostas e


os resíduos sólidos não coletados ou, destinados de forma inadequada;

- aumento do escoamento superficial devido à paulatina impermeabilização da


bacia hidrográfica;

- destruição das estruturas hidráulicas implantadas pelo DNOS (Departamento


Nacional de Obras e Saneamento), particularmente comportas e bombas, para venda dos
componentes como sucata, ou por puro vandalismo.

Não é surpresa, portanto, que diferentes tempestades de verão com intensidades


semelhantes formem contingentes cada vez mais numerosos de atingidos, à medida que
passam os anos. O problema tem sido agravado pela ineficiência da política de
saneamento, que apesar de levar água encanada à maior parte dos domicílios da
Baixada, tem falhado na expansão da infraestrutura de coleta e tratamento de esgotos.
Toda a Baixada é entrecortada por uma vasta rede de canais e rios poluídos que
transbordam por ocasião das chuvas, causando sérios problemas de saúde para a
população.

O Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010) estimou um universo de cerca de 180 mil


pessoas vivendo em áreas sujeitas a inundações na bacia, onde as condições
socioambientais são as mais precárias. Em muitos locais os resíduos sólidos (lixo) e o
esgoto das casas são lançados diretamente nos rios e canais, piorando as condições de
escoamento e de qualidade das águas. A erosão das margens e das encostas desmatadas
produzem sedimentos que, carreados para os rios, reduzem a capacidade de escoamento
e retêm o lixo acumulado. Associadas a essas condições ambientais insalubres, muitas
doenças ocorrem, tais como leptospirose (diretamente relacionada à frequência e
intensidade das inundações), hepatite, dengue, gastroenterites, verminoses, entre outras.

A deficiência na implantação da infraestrutura urbana necessária, a ocupação de


áreas inadequadas, a deficiência ou total inexistência dos serviços de esgotamento

5
sanitário e coleta de resíduos sólidos, o agravamento dos processos erosivos, a
obstrução ou comprometimento do escoamento em decorrência de estruturas de
travessias mal dimensionadas (pontes rodoviárias e ferroviárias, tubulações de água e
esgoto), muros e edificações que obstruem as calhas dos rios, são parte do cenário
caótico resultante do processo de uso e ocupação do solo na bacia dos rios Iguaçu-
Sarapuí e são os principais fatores que concorrem para o agravamento das inundações
na região e, consequentemente, para o agravamento das condições de insalubridade.

A região junto à foz do rio Botas, por exemplo, localizada na divisa do


município de Belford Roxo com o município de Duque de Caxias, é disputada pela
especulação imobiliária. O problema é que, nessa região, o rio Botas naturalmente
extravasa e ocupa as margens que funcionam como planície de inundação. Assim, além
do alagamento direto daquilo que for construído no local, essa ocupação retiraria espaço
do rio e tornariam piores os alagamentos em outras regiões a jusante.

Portanto, a área entre o trecho médio do rio Iguaçu, desde a foz do rio Botas até
as proximidades da rodovia Washington Luiz, na Baía de Guanabara, merece uma
atenção especial quanto às intervenções para controle de inundações. Esta área abrange
os diversos pôlderes já mencionados, com destaque para o pôlder do Pilar, tomado
como referência principal de estudo.

O pôlder em questão foi o escolhido para o caso de estudo desta dissertação por
permitir explorar a discussão aqui proposta, em termos das interfaces entre controle de
inundações, planejamento urbano, redução de riscos e requalificação fluvial. Além
disso, tem como base um rol de informações e dados provenientes de projetos, planos
diretores de recursos hídricos, pesquisas e estudos sobre a bacia do rio Iguaçu-Sarapuí
como um todo e, inclusive, específicos para a própria área, que foram ou estão sendo
desenvolvidos pelo Laboratório de Hidráulica Computacional (LHC) e pelo Laboratório
de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente (LABHID), ambos do Instituto Alberto
Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da UFRJ.
Portanto, não se trata de um trabalho isolado, mas que vem complementar estes diversos
estudos, no que tange ao tema de requalificação fluvial associado à avaliação de risco de
inundações para diferentes eventos de cheias, quando comparado a métodos tradicionais
de controle de inundações, considerando, também, a hipótese destes eventos serem
superados (risco residual). De certa forma, pode-se dizer que esta dissertação propõe

6
avançar o quadro conceitual, acompanhando tendências internacionais, com a migração
do conceito de controle de cheias para a gestão do risco de cheias.

O estudo em questão também se inseriu dentro de um conjunto de pesquisas,


estudos de caso, trocas de experiências e intercâmbios desenvolvidos através do Projeto
internacional SERELAREFA - Semillas REd Latina Recuperación Ecosistemas
Fluviales y Acuáticos (Sementes de uma rede Latino-Americana para a recuperação de
ecossistemas fluviais e aquáticos), financiado pelo programa europeu UE FP7-PEOPLE
IRSES 2009, que visa melhorar a forma com que os cursos d’água são geridos, a fim de
obter benefícios tanto para o meio ambiente quanto para as atividades socioeconômicas.
Este projeto estimula a adoção do conceito de Requalificação Fluvial como alternativa
para o controle de cheias, com ganhos ambientais para o rio. Fizeram parte deste projeto
diversas instituições dos países a seguir:

- Itália - Centro Italiano per la Riqualificazione Fluviale – CIRF, centro


coordenador;

- Brasil - Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ;

- Chile - Dirección de Obras Hidráulicas – DOH e Universidad de Concepción –


UdeC;

- Espanha - Universidad Politécnica de Madrid – UPM; e

- México - Universidad de Guadalajara – UdG.

Entre os projetos e estudos supracitados, que serviram de base para esta


pesquisa, enfatiza-se: o Projeto Iguaçu, elaborado pela fundação COPPETEC (2010),
sob fiscalização do contratante, o Instituto Estadual do Ambiente - RJ (INEA). Este
projeto foi finalizado em 2010, e está em fase de execução pelo INEA, Secretaria de
Estado do Ambiente (SEA) e Governo do Estado, através de um consórcio de diversas
empresas, com investimento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC e PAC
2) do Governo Federal. Ele abrange toda a área da bacia do Iguaçu-Sarapuí, portanto,
toda a área de estudo, inclusive com intervenções específicas.

7
1.3 Hipótese de trabalho

A introdução de obras de controle de cheias, sem a visão sistêmica do


funcionamento da bacia hidrográfica e limitando as funções naturais do rio, como, por
exemplo, a sua conexão com as planícies de inundação, pode gerar o agravamento de
risco e potencializar danos no longo prazo.

1.4 Objetivos gerais e específicos

Este trabalho tem como objetivo avaliar o comportamento do agravamento do


risco de inundações, medido em termos de prejuízos causados a um ambiente urbano
residencial, quando um evento tomado como referência de projeto é superado e causa a
falha do projeto previsto para a proteção de uma dada área. Em particular, pretende-se
ainda confrontar o comportamento de medidas tradicionais de proteção de áreas de
baixada, tipicamente compostas por diques, com a possibilidade de utilização de
conceitos de requalificação fluvial, devolvendo ao rio a sua planície de inundação. Para
ilustração do estudo, a bacia do Rio Iguaçu será considerada, tendo como referência o
Projeto Iguaçu (LABHID, 1996) e sua revisão (COPPETEC, 2010).

Objetivos específicos:

- Avaliação da situação atual de funcionamento do rio Iguaçu, partindo dos


estudos presentes no Projeto Iguaçu e sua revisão;

- Preparação de base de modelagem para o caso de estudo, utilizando o modelo


de células de escoamento MODCEL (MIGUEZ, 2001), representando o rio Iguaçu,
desde a confluência com o rio Botas até a sua foz;

- Preparação de um conjunto base de três alternativas de projeto, tomando


inicialmente a proposta do Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010), de abertura de diques
como alternativa de controle de cheias, em especial associado ao pôlder Cidade dos
Meninos, hoje desocupado, utilizando a lógica de requalificação fluvial; posteriormente,
a alternativa de generalização da solução dos diques e pôlderes, desde a região da foz do
rio Botas, que hoje é uma área de armazenagem natural, será considerada como solução
oposta à primeira; por fim, a terceira alternativa contempla a situação atual de

8
implantação do Projeto Iguaçu, com o dique do pôlder Cidade dos Meninos fechado, e a
foz do Rio Botas aberta, conectando-se com suas planícies de inundação, respaldada
pelo zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) do Alto Iguaçu, que definiu
esta área (entre outras) como Zona de Contenção de Cheia (ZCC), conforme o Art.3º do
Decreto Estadual 44.032 de 15 de janeiro de 2013.

- Comparação dos prejuízos de cada alternativa desenvolvida, a partir de curvas


funções que relacionam alagamentos e perdas, em termos de danos às residências, com
base no estudo desenvolvido na dissertação de mestrado de Salgado (1995),
considerando diversos cenários hidrológicos, com recorrências de chuvas de projeto
variando de 25 a 200 anos. Essa faixa de variação dos eventos hidrológicos foi
estabelecida de forma a propiciar condições de falhas de projeto, que pudessem ser
avaliadas em termos de prejuízos de inundação.

- Análise comparativa dos resultados.

1.5 Metodologia Resumida

 Utilizar a base de dados de diversas modelagens realizadas no contexto do projeto


Iguaçu, como ponto de partida dos estudos de risco de inundação e prejuízos
decorrentes.

 Definir dentro da área do Projeto Iguaçu uma região para desenvolvimento de


análises comparativas entre diferentes concepções de projeto, em termos de prejuízos
decorrentes de inundação - neste caso, a região escolhida se refere à área junto à foz
do rio Botas até a rodovia Washington Luiz, contemplando os pôlderes Cidade dos
Meninos, Outeiro, Pilar e São Bento, mas com um enfoque principal sobre o pôlder
do Pilar.

 Realizar novos levantamentos de dados, específicos para a área escolhida.

 Modelar ou complementar a modelagem hidrodinâmica de cheias, já existente,


utilizando como ferramentas principais o MODCEL (MIGUEZ, 2001) e o Sistema
Hidro-Flu (MAGALHÃES et al.,2005).

9
 Fazer uma revisão da metodologia utilizada por Salgado (1995) para quantificar os
prejuízos das inundações em áreas urbanas.

 Adotar tempos de recorrência que começam com as definições típicas de projeto de


macrodrenagem, ou seja, a partir de 25 anos, e avançar com análises para tempos
maiores, de 50, 100 e 200 anos, de forma a criar cenários críticos de avaliação, onde
se espera que as propostas de projeto falhem, permitindo realizar uma análise do
chamado risco residual;

 Simular o funcionamento do rio Iguaçu, considerando o conceito de requalificação


fluvial, de devolver ao rio a sua planície de inundação, para o controle de cheias
urbanas – esta solução foi vislumbrada pelo Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010), na
proposta específica que visava abrir o pôlder Cidade dos Meninos e manter o rio
Botas aberto e livre para se conectar com sua planície de inundação, na região de sua
foz, associado ao planejamento específico de uso e ocupação do solo para estas áreas,
através do zoneamento definido pela APA do Alto Iguaçu (2013). Esta solução de
projeto é denominada como Alternativa 1 no decorrer deste trabalho.

 Analisar os resultados para esta primeira Alternativa proposta, levando em


consideração os prejuízos diretos às residências como indicador, a ser mensurado
através de uma curva de prejuízos em função da altura de inundação (lâmina d’água)
das áreas afetadas, em caso de falha das obras propostas, para os diversos tempos de
recorrência definidos. A partir das áreas urbanas alagadas, mapeadas através de
modelagem matemática, serão utilizadas as lâminas d’água para o cálculo do
prejuízo em função da extensão afetada. O aplicativo Google Earth e a ferramenta
Street View serão utilizados para estimar o número de residências e as suas
respectivas áreas ocupadas nos locais afetados, bem como o padrão de acabamento
destas. O cálculo do prejuízo terá como base as curvas do Salgado (1995) ajustadas
em termos de correção de valores, para obtenção de novas curvas de prejuízo x altura
de inundação atualizadas.

 Considerar a alternativa de solução tradicional de diques e pôlderes de forma


generalizada, para controle de cheias e realizar nova simulação para esta Alternativa
2. Esta proposta de projeto consiste em “fechar” a comunicação do rio Botas com
suas margens e manter o pôlder Cidade dos Meninos com diques, conforme situação

10
presente. Recalcular os prejuízos, para as diversas recorrências adotadas no estudo, a
partir da curva de prejuízo ajustada.

 Buscar um meio termo entre as duas alternativas anteriores, avaliando também uma
Alternativa 3 de projeto, que contempla a situação atual de implantação do Projeto
Iguaçu, com o dique do pôlder Cidade dos Meninos fechado, e a foz do Rio Botas
aberta, conectando-se com suas planícies de inundação, conforme mencionado
anteriormente nos objetivos específicos. Essa alternativa pode vir a ser a mais
provável, em termos de previsão futura, tendo em vista o problema de contaminação
da área do pôlder Cidade dos Meninos e as pressões por desenvolvimento urbano na
região.

 Analisar e comparar de forma crítica os resultados das três alternativas propostas.

1.6 Estrutura da pesquisa

Depois de feita a introdução sobre a problemática das inundações urbanas e seus


riscos, apresentando o contexto, a motivação, a hipótese de trabalho, os objetivos do
presente trabalho e suas etapas metodológicas para alcançar esses objetivos, aqui neste
Capítulo 1, será descrito, nos Capítulos 2, 3 e 4 o estado da arte dos temas principais
que envolvem este estudo, para, com isso, construir uma base teórica para sustentar o
trabalho. Esses capítulos abordam, respectivamente: Cheias, Inundações e Manejo de
Águas Pluviais Urbanas; Requalificação Fluvial e Risco de Inundações.

O capítulo 5 apresenta a bacia hidrográfica de interesse, assim como a sua


caracterização.

O capítulo 6 aborda a metodologia utilizada para a modelagem hidrodinâmica do


caso de estudo, e os materiais e métodos que serão utilizados para se alcançar os
resultados esperados, de acordo com objetivos propostos.

O caso de estudo propriamente dito é apresentado no capítulo 7, partindo de um


diagnóstico da situação atual da área e simulando os diversos cenários para as diferentes
alternativas e condições propostas, assim como é feita uma análise e discussão dos
resultados. As conclusões e recomendações são abordadas no capítulo 8, encerrando o
trabalho.

11
2. CHEIAS, INUNDAÇÕES E MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
URBANAS

Nos próximos três capítulos são apresentados os conceitos e definições sobre os


principais temas que são abordados na dissertação: cheias, inundações e manejo de
águas pluviais urbanas, risco e controle de inundações e requalificação fluvial. O
objetivo é de fundamentar teoricamente a pesquisa.

Neste trabalho é abordado o conceito de risco de inundações, sendo assim,


preliminarmente, realiza-se uma introdução sobre o significado dos termos inundação,
cheia, enchente e alagamento, visto que é comum haver o uso indiscriminado entre estes
termos, tanto na linguagem popular quanto nos trabalhos científicos. Ainda que sejam
frequentemente usados como sinônimos, estes termos se referem a fenômenos
hidrológicos distintos (GRACIOSA e MEDIONDO, 2007; KOBYAMA et al., 2006).

O conceito de cheia pode ser entendido como um fenômeno hidrológico,


caracterizado pelo aumento da vazão em decorrência do escoamento superficial, que
pode ser provocado por precipitação, derretimento de neve, etc. A cheia é um fenômeno
natural que pode ou não causar inundação. Já a enchente é definida como o escoamento
ascendente, até o nível de vazão máxima, porém sem necessariamente ocorrer
extravasamento do canal. A Inundação pode ser considerada como o extravasamento do
canal para as áreas marginais, em que o escoamento atinge o leito maior do canal. Por
fim, no alagamento, as águas pluviais extravasam as galerias da rede de drenagem antes
de atingir o canal principal, gerando o acúmulo de água nas ruas e nos perímetros
urbanos, por fortes precipitações, em cidades com sistemas de drenagem deficientes
(GRACIOSA e MEDIONDO, 2007; GOERL e KOBYIAMA, 2005; CANHOLI, 2005).

Ainda assim, Kobyama et al. (2006), definem: a inundação, normalmente tratada


como enchente, é o aumento do nível do rio além da sua vazão normal, ocorrendo o
transbordamento de suas águas sobre as suas margens, em áreas próximas a ele. Estas
áreas planas próximas aos rios sobre as quais as águas extravasam são chamadas de
planícies de inundação. Quando não ocorre o transbordamento durante uma cheia do rio,
tem-se apenas enchente e não inundação. Por este motivo, os termos “enchente” e
“inundação” devem ser utilizados com diferenciação no âmbito científico embora
inundações sempre ocorram durante a cheia de um rio, como consequência de um

12
processo de enchente que supera a capacidade da calha do rio e atinge as suas planícies
de inundação. A Figura 2.1 ilustra a diferença entre as enchentes e as inundações,
segundo Goerl e Kobiyama (2005).

Figura 2.1 - Elevação do nível de um rio provocada pelas chuvas, do nível normal até a ocorrência
de uma inundação (GOERL e KOBIYAMA, 2005).

Segundo Pômpeo (2000):

De uma forma geral, as enchentes são fenômenos naturais que


ocorrem periodicamente nos cursos d’água devido a chuvas de
magnitude elevada. As enchentes em áreas urbanas podem ser
decorrentes destas chuvas intensas de largo período de retorno; ou
devidas a transbordamentos de cursos d’água provocados por
mudanças no equilíbrio no ciclo hidrológico em regiões a montante
das áreas urbanas; ou ainda, devidas à própria urbanização. O estudo
da ocorrência de chuvas intensas é útil na busca de soluções
apropriadas aos problemas de enchentes, entretanto, é por intermédio
do estudo dos processos hidrológicos que se definem as ações
concretas.

13
Conforme Miguez et al. (2012), as inundações são fenômenos naturais e
sazonais, que desempenham um importante papel ambiental, mas quando eles ocorrem
em ambientes construídos, sem controle, muitas perdas de diferentes tipos podem
ocorrer.

O escoamento pluvial pode produzir inundações e impactos nas áreas urbanas


resultantes de dois processos, que ocorrem combinados ou isoladamente, quais sejam:
inundações de áreas ribeirinhas e inundações resultantes da urbanização. As inundações
de áreas ribeirinhas são fenômenos naturais que ocorrem no leito maior dos rios,
decorrentes das variabilidades espacial e temporal da precipitação e do escoamento
superficial na bacia hidrográfica. E as inundações resultantes da urbanização ocorrem na
drenagem urbana por conta do efeito da impermeabilização do solo, da canalização do
escoamento ou da obstrução do escoamento (BRASIL, 2006). Mais propriamente, estes
últimos são melhor associados à definição de alagamento.

Os fatores que causam e agravam as inundações são diversos, entre eles,


Pômpeo (2000) cita que o desmatamento e a substituição da cobertura vegetal natural
são fatores modificadores que, em muitas situações, resultam simultaneamente em
redução de tempos de concentração e em aumento do volume de escoamento
superficial, causando extravasamento de cursos d’água. Considerando a importância da
inter-relação entre uso e ocupação do solo e os processos hidrológicos superficiais,
deve-se destacar inicialmente que a abordagem dos problemas precisa considerar a
extensão superficial na qual estas relações se manifestam. A bacia hidrográfica é a
unidade mínima para qualquer estudo hidrológico e, assim, têm sido historicamente
realizados os trabalhos teóricos, experimentais e as ações de planejamento de recursos
hídricos. Entretanto, esta unidade é ainda ignorada em muitos trabalhos de drenagem
urbana.

Ainda segundo Pompêo (2000), as inundações provocadas pela urbanização se


devem a diversos fatores, dentre os quais destacam-se o excessivo parcelamento do solo
e a consequente impermeabilização das grandes superfícies, a ocupação de áreas
ribeirinhas tais como várzeas, áreas de inundação frequente e zonas alagadiças, a
obstrução de canalizações por detritos e sedimentos e também as obras de drenagem
inadequadas.

14
A inundação urbana ocorre quando as águas dos rios, riachos e canais saem do
seu leito menor de escoamento e escoa através do seu leito maior que foi ocupado pela
população para moradia, transporte (ruas, rodovias e passeios), recreação, comércio,
indústria, entre outros. Isto ocorre quando a precipitação é intensa e o solo não tem
capacidade de reter e infiltrar a água precipitada, assim é gerado um grande volume
d'água que escoa para o sistema de drenagem, superando a capacidade do leito menor.
Este é um processo natural do ciclo hidrológico devido à variabilidade climática de
curto, médio e longo prazo. Estes eventos chuvosos ocorrem de forma aleatória em
função dos processos climáticos locais e regionais.

Já as inundações ribeirinhas, de acordo com TUCCI (2005), ocorrem quando o


rio sai do seu leito e ocupa a planície. Geralmente isto ocorre com frequência média de
2 anos. Os impactos são importantes quando a cidade ocupa com alta densidade esta
área. A gestão desta área pode ser realizada através de medidas estruturais que são obras
que alteram o rio para proteger a população ou com medidas não estruturais, em que a
população convive com as inundações por meio do zoneamento das áreas de
inundações, incluída no Planejamento Urbano e no Plano de Drenagem, além de
sistemas de alerta das inundações, entre outros.

A Lei Federal 11.445/2007 (BRASIL, 2007), que estabelece as diretrizes


nacionais para o saneamento básico, define, em seu Art. 3º, Inciso I, alínea d, o conceito
de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas como: “conjunto de atividades,
infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de
transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de vazões de cheias, tratamento
e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas”.

A partir desta definição, Carneiro e Miguez (2011), destacam que o termo


manejo é utilizado mais recentemente de forma a englobar o tratamento das águas
coletadas, o amortecimento e a infiltração, ampliando a visão tradicional de apenas
conduzir os escoamentos para os corpos receptores. Segundo os autores: “a função da
drenagem se mostra essencial no contexto de uma cidade, pois uma rede de drenagem
que apresenta mal funcionamento é responsável por enchentes severas, com grandes
áreas alagadas, causando prejuízos e expondo a população a riscos diversos”.

15
Dentro do conjunto de sistemas que envolvem o saneamento ambiental -
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais e coleta e
tratamento de lixo – fica evidente a necessidade de interação entre eles, pois se percebe
que são sistemas complementares, e não excludentes entre si. É essencial o correto
funcionamento de um para a eficiência ótima do outro. Desta forma, nota-se claramente
que se houver deficiência no sistema de coleta de lixo, por exemplo, o sistema de
drenagem não funcionará adequadamente. Assim como, o lançamento irregular de
esgoto sanitário na rede de drenagem pluvial também é um fator de degradação do
sistema (CARNEIRO e MIGUEZ, 2011).

Tucci (2007) define que a drenagem urbana é constituída de sarjetas, bueiros,


condutos e outros dispositivos para coleta e condução da água, chamados de
microdrenagem. Já os canais e rios naturais, que coletam toda a microdrenagem, são
chamados de macrodrenagem.

A urbanização tende a produzir, nas bacias hidrográficas, aumento dos picos de


vazão (Figura 2.2), erosão e carreamento de sedimentos, degradação da qualidade da
água e redução do tempo de concentração.

Figura 2.2 - Aumento do pico de vazão com a urbanização (TUCCI, 2007)

16
Dentro do processo de urbanização e crescimento das cidades, segundo Miguez
(2001), a própria calha secundária dos rios acaba recebendo obras de urbanização, com
ruas e até quadras inteiras tomando o seu espaço, o que agrava ainda mais o processo de
cheias, já comprometido pela disponibilização mais rápida de um volume maior de
água. Uma vez eliminado o espaço que deveria ser deixado livre para acomodação das
grandes enchentes, as águas acabam procurando outros caminhos, se espalhando e
atingindo regiões antes não alagáveis naturalmente.

Na maioria das vezes, esta situação é agravada por problemas de ordem


socioeconômica. Assim, em países mais pobres é comum, embora não desejável, que a
evolução necessária das mudanças em infraestrutura, que deveriam contrapor-se a estes
efeitos, seja muito lenta, ou mesmo praticamente inexistente. Da mesma forma, as
populações mais pobres, especialmente onde a distribuição da renda é mais
desequilibrada, o que acentua o problema, acabam se instalando em condições de sub-
habitação em áreas de pouca ou nenhuma infraestrutura urbana (MIGUEZ, 2001).

Medidas de Controle e Minimização de Inundações

Diante da problemática exposta, surge a necessidade de se realizar a gestão das


águas urbanas de forma integrada, com a introdução e absorção de novos conceitos e
paradigmas relacionados às águas urbanas, utilizando para isso, medidas de controle e
minimização das inundações, especialmente com atuações distribuídas e na fonte.

Segundo Righetto (2009), os primeiros conceitos introduzidos em projetos e


planos de drenagem urbana diferenciam as ações estruturais e não estruturais para o
controle e resolução de problemas de inundações municipais.

2.1 Medidas Estruturais de controle e minimização de inundações

Resumidamente, as medidas estruturais são as que tem o intuito de atuar sobre


os processos naturais de formação e propagação das cheias e dos escoamentos
superficiais, modificando a magnitude das vazões e os níveis de inundação, relacionam-

17
se às obras de captação, armazenamento, laminação de cheias e transporte das águas
pluviais dentro de limites estabelecidos pela quantificação dos riscos e pelo
conhecimento prévio das ondas de cheia, ajustadas às condições locais por meio de
estruturas de contenção. Tais medidas incluem:

 obras de captação: como sarjetas, bueiros e bocas de lobo;


 obras de transporte: como galerias e canais;
 obras de detenção: como as bacias de detenção e reservatórios de
acumulação de águas pluviais;
 obras de proteção: como diques e pôlders;
 obras de laminação de cheias: barragens;
 obras de desvios: com novos canais.

As medidas estruturais são tradicionalmente utilizadas no Brasil e em diversos


países do mundo. A seguir são apresentadas algumas características inerentes a estas
medidas:

 São muito eficientes para modificar o nível do risco de inundação na área de


abrangência;
 Não eliminam completamente o risco;
 Em alguns casos estão atreladas a um elevado impacto ambiental;
 Favorecem a implantação e o desenvolvimento de comunidades ribeirinhas.

As estruturas de controle dos escoamentos devem estar bem dimensionadas para


atender a vazão que escoa superficialmente, e, além disso, devem passar por processos
de manutenção frequentes, já que a presença de qualquer obstáculo faz com que a
eficiência do sistema diminua, inclusive, como mencionado anteriormente, a gestão do
sistema de microdrenagem depende diretamente da gestão eficiente do sistema de coleta
de resíduos sólidos dos municípios. Canais e galerias também possuem esta
problemática, além da questão da rugosidade e outros obstáculos (no caso dos canais),
como seções mais estreitas em vãos de pontes, assim como os próprios pilares das
pontes, entre outros.

Tratando de reservatórios de grande porte destinados à acumulação e ao


amortecimento de cheias, definidos a partir de zonas de acumulação naturais, Pômpeo
(2000) comenta que estes são raramente encontrados em cidades brasileiras. A partir do

18
início do século foram introduzidos reservatórios subterrâneos artificiais (conhecidos
como “piscinões”) destinados a reduzir enchentes em áreas urbanas consolidadas; seu
custo é, ainda, muito elevado. A Figura 2.3 ilustra um tipo de reservatório de detenção
implantado no município de São Paulo.

Figura 2.3 – Reservatório de detenção, conhecido como “piscinão” em São Paulo.


Fonte: Nelson Kon (2013).

Em relação aos diques marginais e pôlderes (obras de proteção), são mais


utilizados em grandes rios que apresentam problemas de inundação frequentes. Os
diques são barramentos laterais que proporcionam proteção às planícies de inundação,
eles podem ser utilizados em apenas uma margem ou em ambas, dependendo do caso.
Se utilizado nas duas margens, os diques reduzem a seção de escoamento da cheia,
aumentando o nível d’água e a velocidade de escoamento do rio. Já os pôlderes, também
constituídos por diques, são mais comuns em áreas de baixada, protegendo uma área
interna que recebe uma drenagem auxiliar.

Em caso de cheias de magnitude maior que a de projeto, existe o risco de


colapso da estrutura do dique e, neste caso, o impacto é muito maior do que a condição
de não existência do dique, podendo ter consequências negativas drásticas. Em
situações em que há risco de vida para a população (geralmente em bacias urbanas), a
segurança deve ser maior, e medidas estruturais devem ser consideradas em conjunto

19
com medidas não estruturais, como um sistema de previsão e alerta de cheias em tempo
real (CARNEIRO e MIGUEZ, 2011).

A implantação de pôlderes se faz necessária em áreas mais baixas que a


drenagem principal, (Carneiro e Miguez, 2011), onde há a combinação do uso de
diques, que minimizam a influência dos extravazamentos do curso d’água principal
sobre a área do pôlder, e a implantação de drenagem local. As cotas de projeto do
sistema de drenagem local deverão ser mais baixas que os níveis d'água críticos do
curso d'água principal. Dentro da área alvo (pôlder), a drenagem poderá ser feita através
de sistema de microdrenagem convencional, ou seja, com bocas de lobo, coletores
secundários e principais ou por valetas a céu aberto, que destinam as águas pluviais para
um canal auxiliar e/ou bacia de acumulação temporária do escoamento da drenagem
local, conhecida como reservatório pulmão.

Ainda segundo Carneiro e Miguez (2011), após a passagem da cheia, a água


pluvial armazenada é posteriormente destinada ao curso d'água principal, através de
comportas e/ou estações de bombeamento), dependendo da topografia do terreno e
características do local. A utilização desta solução em drenagem urbana se restringe a
casos extremos, onde não há espaço para outras medidas, como armazenamento,
técnicas de infiltração e até mesmo canalização. As desvantagens são: custos muito
altos, grande alteração do sistema de drenagem natural e risco residual associado a um
possível galgamento com ou sem rompimento dos diques, isto é, o risco não é
totalmente eliminado.

Na Figura 2.4 pode-se observar o pôlder do Outeiro e o seu canal auxiliar (ou
canal de cintura) circundado por um dique-estrada na margem direita do rio Iguaçu,
dentro da área de estudo desta pesquisa. Na Figura 2.5 pode-se observar a estação
elevatória (bombeamento), localizada no ponto mais baixo do canal de cintura, para
possibilitar a drenagem do pôlder do Outeiro.

20
Figura 2.4 – Pôlder do Outeiro à direita e a Cidade dos Meninos à esquerda em segundo plano, com
o rio Iguaçu cortando as duas áreas (ACERVO PESSOAL, 2012).

Figura 2.5 – Estação de bombeamento do pôlder para o rio Iguaçu – gradeamento de entrada
(ACERVO PESSOAL, 2012).

21
2.2 Medidas Não Estruturais de controle e minimização de inundações

As medidas não estruturais, muito aplicadas atualmente em diversos países do


mundo, são ações de outra natureza, elas não têm a intenção de agir sobre a formação e
propagação das cheias, mas sim reduzindo os danos que são provocados; são medidas
que, quando utilizadas de forma preventiva, alcançam objetivos ótimos quanto à
redução dos problemas de drenagem urbana, porém exigem esforços de capacitação de
gestores públicos, conscientização da população, educação ambiental, legislação
apropriada, fiscalização do uso e de ocupação dos espaços urbanos, manutenção regular
dos elementos estruturais, dos pátios, jardins, pavimentos etc. Em suma, são ações que
integram a gestão das águas pluviais nas sub-bacias que compõem o território urbano de
uma cidade, enfocando não somente o problema específico das enchentes, mas,
sobretudo, o uso sustentável do espaço urbano, de forma a se otimizar o bem-estar, a
qualidade de vida, a estética e as múltiplas possíveis atividades de utilização do meio
ambiente urbano (RIGHETTO, 2009).

Jiménez Álvarez (2010) faz considerações importantes sobre as medidas não


estruturais, que em sua visão, consistem em uma gestão integrada dos rios e das
planícies de inundação para reduzir os danos causados pelas cheias, dividindo elas em
três grupos de medidas:

1. As que modificam a susceptibilidade ao dano das estruturas existentes;


2. As que gerenciam o desenvolvimento futuro da área inundável:
- Zoneamento (planos diretores);
- Restrições de uso e ocupação do solo;
- Seguro-enchente;
3. As que oferecem uma resposta frente às inundações:
- Sistemas de previsão e alerta de cheias;
- Defesa civil.

As características principais destas medidas são:

 Adaptação da ocupação e uso do solo ao risco;


 Não geram impacto sobre o meio ambiente.

22
Zoneamento de áreas inundáveis e restrições de uso do solo

Consiste em estabelecer restrições de uso do solo nas áreas ribeirinhas, mas para
isso é necessário desenvolver o mapa de inundação da cidade ou região, de acordo com
o perigo de inundação estabelecido para diferentes cotas destas áreas e ter estas
restrições bem regulamentadas por lei e fiscalizadas pelo poder público municipal.

Segundo Tucci (2007), a área de maior risco, conhecida como zona de passagem
das enchentes, deve ser completamente desobstruída, portanto, nada pode ser construído
neste local e as habitações pré-existentes devem ser realocadas pela prefeitura; esta área
poderia ter seu uso destinado à agricultura ou outro uso similar às condições naturais.
Neste sentido, Carneiro e Miguez (2011) propõem uma solução de uso sustentável para
esta área, com faixas de reserva florestal próximas às condições naturais (sempre que
possível).

Já as zonas com restrições, podem ser utilizadas para (TUCCI, 2007):

 Recreação - desde que o investimento seja baixo e as estruturas não se


danifiquem com facilidade, como parques e quadras poliesportivas;
 Uso agrícola;
 Habitações – estruturalmente protegidas contra inundações e com mais de um
piso, em que o piso superior deve ficar, no mínimo, no nível do limite da
inundação.
 Zona industrial-comercial – com áreas pouco nobres, como estacionamentos,
áreas de carregamento e de armazenamento de equipamentos facilmente
removíveis e não tóxicos e nem perecíveis;
 Serviços públicos – estradas e pontes, desde que corretamente projetadas,
linhas de transmissão de energia, adutoras de água tratada ou bruta e
interceptores ou emissários de esgoto sanitário.

Dentro deste contexto, Carneiro e Miguez (2011), mencionam que é comum


dividir a planície de inundação em duas zonas: a zona de passagem de cheias que já foi
descrita e a outra como planície de inundação, que são afetadas somente com
precipitações maiores, funcionando como área de armazenamento. No geral, a planície
de inundação está associada a Tempo de Recorrência de 50 a 100 anos e a zona de
passagem a TR de 25 anos.

23
Tucci (2007) descreve dois tipos de mapas de inundação: mapas de
planejamento, que definem as áreas afetadas por cheias de tempo de recorrência
determinados, e os mapas de alerta, utilizados junto aos sistemas de previsão e alerta de
cheias. Para o zoneamento e regulamentação do uso do solo o que interessa são os
mapas de planejamento.

Sobre o zoneamento de áreas de inundação, Jiménez Álvarez (2010) aponta


alguns problemas enfrentados na Espanha, que são possíveis de considerar à luz da
realidade brasileira, devido às suas similaridades:

- Ainda não está suficientemente desenvolvido na Espanha, ou seja, precisa


avançar;

- Deveria ser levado em conta, sistematicamente, no planejamento urbano e no


ordenamento territorial;

- Há dificuldades para ser colocado em prática;

- Traz problemas de competências, pois envolve diversos órgãos governamentais


e de mais de uma esfera (municipal, estadual e/ou federal);

- Há uma lacuna legal: deveria ser desenvolvida uma normativa mínima para
aplicação em todo o território federal.

No que tange aos Planos Diretores de Drenagem Urbana, Tucci (2007) salienta
que estes são um instrumento utilizado para planejar o controle dos impactos advindos
das enchentes urbanas dentro da cidade e orientar as ações de curto e longo prazo, para
possibilitar a obtenção de um desenvolvimento sustentável.

Tabela 2.1 obtida de Rezende (2012) elenca exemplos e características de


medidas estruturais (intensivas e extensivas) e medidas não estruturais.

24
Tabela 2.1 - Medidas para controle das inundações. Fonte: REZENDE (2012), adaptado de
BAPTISTA et al. (2005).

Por fim, conclui-se que, na conceituação atual de manejo de águas pluviais


urbanas, o controle e a minimização dos efeitos adversos das inundações urbanas não se
limitam ao principio dominante no meio técnico tradicional, como o de se propiciar o
afastamento e o escoamento das águas pluviais dos pontos críticos, mas à agregação de
um conjunto de ações e soluções de caráter estrutural e não estrutural, envolvendo
execuções de grandes e pequenas obras associadas ao planejamento e gestão de
ocupação do espaço urbano, com legislações e fiscalizações eficientes quanto à geração
dos deflúvios superficiais advinda do uso e da ocupação do solo.

25
3. REQUALIFICAÇÃO FLUVIAL

Os rios representam uma parte essencial do nosso patrimônio natural e cultural.


Em se tratando do continente europeu, eles têm sofrido uma importante deterioração
ecológica, nos últimos séculos, principalmente devido à: regularização das vazões (com
o uso de barragens), canalizações, ocupação das várzeas, agricultura, indústria e
urbanização (GONZÁLEZ DEL TÁNAGO e GARCÍA DE JALÓN, 2007). No Brasil
não é diferente.

Dada esta deterioração progressiva dos rios europeus, a gestão integrada dos
mesmos tornou-se prioritária, e, com esse objetivo foi concebida a Diretiva Quadro da
Água - DQA (EU WATER FRAMEWORK DIRECTIVE 2000/60/EC). Para isso, a
DQA considera essencial uma melhor compreensão dos sistemas fluviais e estabelece
que os indicadores biológicos devem determinar, em última instância, o estado de
deterioração em que um corpo de água se encontra.

A DQA foi estabelecida pela União Europeia em 2000 para a proteção e a gestão
da água e tem como principal objetivo alcançar um “bom estado” ecológico de todas as
águas comunitárias até 2015. Neste contexto foram criados os Centros de
Requalificação Fluvial e Centros de Restauração Fluvial (River Restoration Centre). Os
aspectos inovadores da DQA se refletem em novas práticas e abordagens de
planejamento e gestão dos recursos hídricos em toda a União Europeia e passam a
influenciar outros países.

Segundo González del Tánago e García de Jalón (1995), a restauração fluvial


pode ser definida como um conjunto de atividades que tem como objetivo devolver ao
rio sua estrutura e funcionamento como um ecossistema, de acordo com uma dinâmica e
processos equivalentes às condições naturais, ou às condições que estabelecemos como
“referência de um bom estado ecológico”.

Enquanto a renaturalização implica o regresso do ecossistema fluvial às suas


condições e funções originais, quase primitivas, com baixos níveis de intervenção
humana, considera-se mais adequada e atingível a designação de reabilitação ou
requalificação, ou seja, o retorno parcial às condições estruturais e funcionais existentes
antes da degradação do rio e que respeite os usos da água.

26
O termo requalificação fluvial, utilizado neste trabalho, tem origem no termo
italiano requalificazione fluviale e pode ser considerado sinônimo do termo em inglês
river rehabilitation. Segundo o Centro Italiano per la Riqualificazione Fluviale (CIRF,
2006), a requalificação fluvial é o conjunto sinérgico e integrado de técnicas e ações,
dos mais diversos tipos (desde aspectos jurídicos, administrativos e financeiros, até
aspectos estruturais), destinado a tornar um curso d’água e o seu entorno mais
conectado a ele ("sistema fluvial"), em um estado mais natural possível, capaz de
desempenhar as suas funções ecossistêmicas (geomorfológicas, físico-químicas e
biológicas) agregadas a um maior valor ambiental e buscando satisfazer, ao mesmo
tempo, os objetivos socioeconômicos.

Portanto, a requalificação fluvial tem como princípios fundamentais: a


diminuição do risco hidráulico, a recuperação geomorfológica, a melhoria da qualidade
da água e a melhoria dos ecossistemas fluviais.

Desta forma, requalificar rios é fundamental para possibilitar que outros usos
sejam novamente introduzidos no contexto fluvial urbano, em vez de sua utilização
apenas como corpo receptor de efluentes (tratados ou não) e de águas pluviais.

A Figura 3.1 ilustra a visão da requalificação fluvial, que é de reverter a


degradação, buscando nunca piorar, melhorando sempre que possível e tentando
alcançar uma condição ecológica melhor mais próxima possível do estado natural
(JACOB, 2013; CIRF, 2006).

27
Figura 3.1 - A visão da requalificação fluvial
Fonte: JACOB (2013); adaptado de CIRF (2006).

De acordo com CIRF (2006), apud Veról (2013):

A abordagem clássica que atribui aos rios características de canais


estáveis e fixos, com várias obras de defesa contra as cheias (diques,
proteção das margens, etc.), na maioria dos casos provou não ser a
melhor solução, ao longo do tempo. De fato, os prejuízos estão
aumentando e enormes quantidades de dinheiro são gastos a cada ano
para reparar estes danos e para realizar novas obras hidráulicas, numa
espiral interminável de custos crescentes. A abordagem da
requalificação fluvial, por outro lado, inclui a procura por um balanço
mais compatível entre as necessidades do homem e a dinâmica da
natureza, oferecendo oportunidades efetivas e mais sustentáveis para
enfrentar o problema do risco hidráulico.

Neste contexto, “devolver” a planície de inundação para o rio, que naturalmente


sempre pertenceu a ele, é considerado uma ação de requalificação fluvial, pois
possibilita atingir alguns de seus objetivos, como diminuição de riscos hidráulicos, a
recuperação geomorfológica e a melhoria dos ecossistemas fluviais.

Segundo Veról (2013), a proposta de desenvolvimento de soluções sustentáveis


de drenagem deve integrar-se em arranjos articulados com a paisagem urbana, em uma
abordagem que estabeleça relações multidisciplinares e sistêmicas, visando integrar o
urbanismo, a engenharia e o paisagismo. Logo, ressalta-se a possibilidade da
requalificação fluvial, em um sentido mais amplo, como instrumento para auxiliar no

28
controle de cheias e garantir ambientes mais saudáveis e naturais, bem como soluções
efetivas, econômicas, menos dependentes de manutenção e mais sustentáveis.

Devido à deterioração progressiva dos ecossistemas fluviais ao redor do mundo,


a revitalização dos rios surge como uma necessidade (MIGUEZ et al., 2012). Mesmo
que esta discussão esteja envolvida por muitas incertezas, existem diversos exemplos de
rios europeus e norte-americanos que passaram pelo processo de revitalização. Os
resultados obtidos podem ser avaliados não só do ponto de vista estético e de melhora
do entorno, como também do ponto de vista do funcionamento ecológico e hidráulico
dos trechos fluviais recuperados, na melhora da quantidade e qualidade dos recursos
fluviais e em potencial de uso para as populações ribeirinhas (GONZÁLEZ DEL
TÁNAGO e GARCÍA DE JALÓN, 2007, apud MIGUEZ et al., 2012). Alguns
exemplos são: o Rio Tâmisa na Inglaterra, o Rio Isar na Alemanha e o Rio
Cheonggyecheon na Coréia do Sul (AMARAL et al., 2011).

A questão da revitalização em zonas urbanas é mais complexa, em decorrência


das grandes alterações sofridas pelas áreas ribeirinhas ao longo do tempo, com
construções de edificações e traçado de vias, que tornam difícil dispor do espaço
necessário para recuperar a condição natural dos processos fluviais, tanto do leito, como
de suas margens (GONZÁLEZ DEL TÁNAGO E GARCÍA DE JALÓN, 2007). Mais
ainda, a própria bacia, fortemente alterada, não tem mais condições de manter funções
naturais dos rios (Veról, 2013)

Os rios urbanos apresentam uma configuração totalmente modificada de seu


estado natural, com meandros substituídos por trechos retificados, ocupação da calha
secundária por vias de circulação e ocupações irregulares de planícies de inundação,
dando lugar a bairros inteiros (AMARAL et al., 2011).

A implantação de parques urbanos pode ser introduzida como uma forma


alternativa aos tradicionais programas de investimento em canalizações de cursos
d’água urbanos, e que funciona como uma possível medida de revitalização
(CARNEIRO, 2008). Segundo Amaral et al. (2011), a inclusão destes parques em áreas
urbanas compõem um conjunto de medidas de revitalização implantadas ao longo dos
rios, que visam principalmente reduzir a incidência e efeitos das inundações, reduzir a

29
erosão sedimentação do solo e impedir o avanço da ocupação irregular das faixas
marginais dos rios.

A tipologia de parques urbanos consiste em diferentes definições de parques, os


quais possuem diferentes funções, conforme descrito abaixo (CARNEIRO, 2008) e
apresentado na Figura 3.2.

 Parque Urbano Fluvial – Parques longitudinais ao longo de rios, cuja finalidade


é a proteção das margens dos cursos d’água, assim como evitar a ocupação
irregular destas áreas por população de baixa renda.

 Parque Urbano Inundável – Parques longitudinais implantados propositalmente


em áreas com cotas baixas, de modo a permitir freqüentes inundações, que
contribuirão para laminar as cheias.

 Parque Urbano de Preservação Ambiental - Parques de maiores dimensões,


planas ou não, com finalidade de preservação e valorização ambiental, visando
manter superfícies permeáveis e minimizar a geração de runoff.

Figura 3.2 - Tipologia de Parques Urbanos. Fonte: COPPETEC (2010).

30
4. RISCO DE INUNDAÇÕES

Segundo Gouldby e Samuels (2005), o termo “risco” não possui uma única
definição específica, mas sim uma gama variável de significados, de acordo com o tema
a que está relacionado, como, por exemplo, as questões econômicas, ambientais e
sociais. A adaptabilidade do conceito de risco é um dos seus pontos fortes. Por outro
lado, a dificuldade com o termo "risco" é que ele foi desenvolvido através de uma ampla
variedade de disciplinas e atividades, e isto pode gerar interpretações equivocadas em
um processo de avaliação de risco. Neste sentido, torna-se de suma importância definir
o conceito de risco para cada caso específico, previamente a qualquer análise. Não
menos importante é a distinção que existe entre os termos "perigo" e "risco".

Portanto, com base em Zonensein (2007) e Gouldby e Samuels (2005), definem-


se, a seguir, alguns conceitos e termos a serem empregados neste trabalho.

Sobre as possíveis definições e conceitos de risco, pode-se citar que no âmbito


da estatística, o risco costuma ser usado como sinônimo da probabilidade de um evento
indesejável. Já no campo da engenharia, o risco está relacionado tanto à probabilidade
de ocorrência de um evento, quanto à expectativa de perdas causadas por ele.
Considerando esta última definição, o risco estaria, portanto, dividido em dois
componentes básicos: um que se refere à probabilidade de ocorrência de um evento, e
outro relativo às suas consequências. Tratando-se do risco de cheia, em particular, esta é
a definição tradicionalmente utilizada e aceita, sendo, portanto, adotada doravante.

O risco está condicionado à existência de um perigo, ou seja, um evento ou fonte


de origem do risco. No caso do risco de inundação, a chuva representa o perigo. No
entanto, a simples ocorrência deste evento não determina a presença de risco, que
também dependerá da avaliação quanto à vulnerabilidade de pessoas e/ou bens passíveis
de serem afetados, assim como do valor associado a estes.

Neste contexto, perigo refere-se à situação que tem potencial para causar danos e
ameaça a existência ou os interesses de pessoas, propriedades ou meio ambiente. Sendo
assim, destaca-se que o perigo é um evento inerente a determinada situação e não pode,
portanto, ser controlado ou reduzido. O risco, por sua vez, é passível de ser gerenciado,
alterando-se sua probabilidade ou suas consequências.

31
A componente do risco de cheia relativa à probabilidade pode ser associada ao
conceito de tempo de recorrência da chuva que dá origem à inundação (TR). O tempo
de recorrência de uma precipitação (medido em anos) designa o intervalo de tempo
médio em que este evento é igualado ou superado. É, também, o inverso da frequência
anual com que a precipitação é igualada ou superada. Desta forma, o tempo de
recorrência está associado a uma altura máxima de chuva, que, por sua vez, determinará
características específicas da inundação, tomada, por aproximação, com a mesma
recorrência, tais como altura, área, velocidade e duração da cheia. Dentro desta
componente de probabilidade também se enquadra a possibilidade de falha de uma
estrutura, como a ruptura parcial ou total de um dique, estas, porém, mais difíceis de
avaliar.

Quanto à componente do risco relativa às consequências da cheia, ela pode ser


definida em função da exposição e vulnerabilidade dos elementos sob risco. A
exposição ao risco refere-se à quantidade e qualidade dos elementos (número de pessoas
e propriedades) que podem ser afetados por um evento perigoso, enquanto a
vulnerabilidade resulta do valor associado a estes elementos. Ou seja, a vulnerabilidade
representa as propriedades de um sistema que descrevem seu potencial de ser danificado
(GOULDBY e SAMUELS, 2005).

Outro fator que influencia a vulnerabilidade é a percepção do risco, definida


como o julgamento intuitivo de um indivíduo ou grupo social acerca do risco ao qual
está submetido. Esta avaliação é realizada com base nas informações, incertezas e
experiências anteriores deste indivíduo ou coletividade. Uma baixa percepção do risco –
resultante, por exemplo, do fato de inundações serem raras em determinada região ou da
ausência de experiências anteriores – induz ao despreparo para situações de emergência.
Por isso, é importante que as partes interessadas (comunidades, especialistas, gestores)
compartilhem de uma percepção de risco relativamente homogênea, o que pode ser
promovido através de medidas educativas e de comunicação. Como consequência,
espera-se que haja uma maior cooperação e aceitação de políticas relacionadas à gestão
de riscos de inundação. A Figura 4.1 mostra a relação entre os conceitos explicados
anteriormente.

32
Figura 4.1 – Relação entre os componentes do risco. Fonte: ZONENSEIN (2007).

Risco residual

Pode ser definido como o risco que permanece após a soma de todas as ações de
gerenciamento de riscos de inundação (isto é, medidas para reduzir a probabilidade de
inundações e as medidas tomadas para reduzir a vulnerabilidade ou melhorar a
resiliência de certa área). Para evitar confusão, a data em que foi avaliado o risco
residual deve ser mencionada. Normalmente, o risco residual declarado de relevância
para o público está associado com os dias atuais. No entanto, para os gestores, a
compreensão de como o risco residual varia no tempo por causa do clima ou outras
alterações é crucial.

Danos e Prejuízos

Cidades cortadas por cursos de água, os quais são sujeitos a grandes variações de
vazões em tempos relativamente curtos, tornam-se extremamente vulneráveis aos
trágicos eventos de inundação, com prejuízos enormes a economia das propriedades
ribeirinhas e, sobretudo, de risco de perdas de vidas humanas. Nessas situações, a
implementação de um sistema de prevenção e de alerta, a organização e o acionamento
de uma instituição de defesa civil tornam-se obrigatórios e imprescindíveis como
garantia à vida cidadã da localidade. A existência de áreas ocupadas de alto risco de
inundação é da competência do Poder Publico municipal e, portanto, é de sua
responsabilidade oferecer condições de vida a todas as pessoas estabelecidas em locais

33
aprovados ou permitidos pela administração municipal. O avanço das leis democráticas
deve oferecer o suporte e a proteção necessários a todos os cidadãos, principalmente no
que se refere a moradias e estabelecimentos de trabalho (RIGHETTO, 2009).

No atual estágio de desenvolvimento do Brasil, o contingente populacional que


vive em condições abaixo do limite tolerável de pobreza é alto (apesar de estar
reduzindo) e o déficit habitacional continua sendo uma das principais fragilidades que
contribui para o baixo índice de desenvolvimento social do país. Por esse fato, a
ocupação de áreas de risco pela população de baixa renda é preocupante, já que muitas
áreas inundáveis urbanas são repentinamente sujeitas à favelização e, assim, suscetíveis
aos trágicos eventos de enxurradas e inundações, quando estas se localizam na calha
secundária de cursos de água ou em áreas de inundação em fundos de vales, lagoas, ou
mesmo às margens de córregos que drenam águas de extensas bacias de drenagem. É
uma situação de difícil solução, já que se configura como incompetência do Poder
Publico em assegurar a proteção de vida a população que vive dentro do espaço urbano
e que, em principio, deveria receber as garantias mínimas previstas pelo artigo 5º da
Constituição Federal Brasileira.

Os danos causados por inundações podem ser divididos em tangíveis e


intangíveis. Os tangíveis são aqueles cujo valor econômico associado é bem definido,
tal como danos físicos a construções (sua estrutura e conteúdo). Já danos à saúde,
fatalidades e impactos ambientais são classificados como intangíveis, devido à sua
difícil estimação monetária.

Danos diretos são os resultantes do contato direto com a água da inundação e


referem-se basicamente à deterioração física de bens e pessoas. Os principais danos
indiretos, por sua vez, decorrem de perturbações físicas e econômicas do sistema
produtivo, além de custos emergenciais por causa da inundação e podem afetar áreas
significativamente maiores do que aquela diretamente afetada pela inundação. Incluem
custos de limpeza e de serviços de emergência, lucro cessante, transtornos ao tráfego de
veículos, interrupção de serviços diversos e perda de valor da propriedade.

A Tabela 4.1 exemplifica cada um dos tipos de danos, de acordo com o setor
afetado.

34
Tabela 4.1 – Classificação de danos causados por inundações
Fonte: Machado et al. (2005).

Uma parte importante da análise de risco é a decisão sobre quais destas


consequências serão consideradas e como serão estimadas. Devido às dificuldades em
se contabilizar estes impactos socioeconômicos, alguns indicadores, tais como número
de pessoas e propriedades impactadas, seu respectivo valor, condições pré-existentes de
saúde e salubridade, idade das pessoas sinistradas, são utilizados para este fim
(MACHADO et al., 2005).

35
5. CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DOS
RIOS IGUAÇU - SARAPUÍ

Neste tópico do trabalho é apresentada a bacia hidrográfica de interesse, as


informações têm como base a revisão do Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010) e a tese de
Carneiro (2008).

No começo do século passado, o rio Sarapuí passou a pertencer à bacia do rio


Iguaçu, por ocasião das primeiras grandes obras de saneamento na Baixada Fluminense,
quando seu curso médio e inferior foi retificado e sua foz desviada para o curso inferior
do rio Iguaçu. Esta concepção era muito aplicada nessa época pelo extinto
Departamento Nacional de Obras de Saneamento - DNOS, tendo como um dos
objetivos combater a malária.

A bacia dos rios Iguaçu - Sarapuí possui uma área de drenagem total de 727 km²,
dos quais 168 km² representam a sub-bacia do rio Sarapuí.

A fisiografia da bacia dos rios Iguaçu-Sarapuí é caracterizada principalmente por


duas unidades de relevo: a Serra do Mar e a Baixada Fluminense, com um forte desnível
de cerca de 1600 metros, do ponto mais alto da serra (o pico do Tinguá) até a planície.
O rio Iguaçu nasce na Serra do Tinguá, desenvolve seu curso no sentido sudeste e
deságua na baía de Guanabara, percorrendo uma extensão total de cerca de 43 km. Seus
principais afluentes são os rios Tinguá, Pati e Capivari pela margem esquerda e Botas e
Sarapuí pela direita. Entre estes, as fozes dos rios Botas e do Capivari estão dentro da
área de estudo desta pesquisa.

O clima da bacia é quente e úmido com estação chuvosa no verão, com


temperatura média anual em torno dos 22º C e precipitação média anual em torno de
1700 mm. Os rios descem as serras em regime torrencial, com forte poder erosivo,
alcançando a planície, onde perdem velocidade e extravasam de seus leitos em grandes
alagados.

A bacia dos rios Iguaçu-Sarapuí abrange integralmente os municípios de Belford


Roxo e Mesquita e parte dos municípios de Nilópolis, São João de Meriti, Nova Iguaçu,
Duque de Caxias e do Rio de Janeiro (bairros de Bangu, Padre Miguel e Senador

36
Câmara), todos pertencentes à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, conforme
apresentado na Figura 5.1 a seguir.

A bacia limita-se ao norte com a bacia do rio Paraíba do Sul, ao sul com as
bacias dos rios Pavuna/Meriti, a leste com as bacias dos rios Saracuruna e
Inhomirim/Estrela e a oeste com a bacia do rio Guandu e outros afluentes da baía de
Sepetiba.

37
Figura 5.1 – Bacia hidrográfica dos rios Iguaçu-Sarapuí (COPPETEC, 2010).

38
Observa-se na bacia uma nítida compartimentação territorial. O primeiro macro-
compartimento consiste em áreas de remanescentes florestais sob proteção legal,
situadas nas serras abruptas que circundam a bacia hidrográfica e onde nascem os rios
que drenam a bacia, dentre outras, a Reserva Biológica do Tinguá e APAs municipais
como Rio D’Ouro e Tinguazinho, a APA Gericinó/Mendanha e o Parque Estadual da
Pedra Branca. Essas áreas, protegidas por leis municipais, estadual e federal, embora
sofram ameaças de toda ordem, guardam ecossistemas típicos de Mata Atlântica com
elevado grau de diversidade florística e faunística. Além da importância ecossistêmica e
biológica desses remanescentes florestais, são incomensuráveis os serviços prestados
por essas áreas à regulação climática e hidrológica da Baixada Fluminense.

O segundo macro-compartimento consiste na porção do território da bacia


adjacente à Reserva Biológica do Tinguá. Essa área da bacia, formada por planícies
entrecortadas por morros meia-laranja, apresenta espaços livres ainda não incorporados
à malha urbana. Essa porção da bacia exerce um papel estratégico para o controle das
inundações urbanas. Funcionam, também, como uma “zona de tamponamento” para a
Reserva Biológica do Tinguá e demais unidades de conservação situadas no alto curso
do rio Iguaçu e seus tributários, ao funcionar como “zona de transição” entre as
unidades de conservação e as áreas urbanas.

O terceiro macro-compartimento consiste na área urbana propriamente dita,


situada, principalmente, nas áreas planas e em cotas de terreno pouco acima do nível do
mar. A ocupação dessas áreas consolidou-se na década de 1940, com a melhoria da
ligação Rio-Nova Iguaçu, decorrente da eletrificação do eixo ferroviário e com a
abertura da rodovia Presidente Dutra em 1951.

O entendimento da interrelação entre esses três macro-compartimentos é


fundamental para o planejamento do uso do solo voltado para o controle das inundações
urbanas na bacia. A estratégia adotada pelo Projeto Iguaçu consiste no planejamento do
uso do solo em bases regionais, considerando os impactos no longo prazo que o
descontrole da urbanização poderá trazer para a bacia como um todo, principalmente em
relação à frequência e intensidade das inundações urbanas. Na imagem de satélite
mostrada na Figura 5.2 é possível visualizar a bacia dos Rios Iguaçu-Sarapuí.

39
Figura 5.2 – Bacia dos rios Iguaçu-Sarapuí sobreposta à imagem de satélite.
Fonte: Google Earth (2013).

40
6. METODOLOGIA

Neste capítulo, são descritos os materiais e métodos utilizados para se alcançar


os objetivos propostos nesta dissertação. Primeiro é apresentada uma revisão conceitual
do Modelo de Células de Escoamento – MODCEL (MIGUEZ, 2001), que foi o modelo
matemático escolhido para simular o comportamento hidrodinâmico da bacia e do rio
Iguaçu, possibilitando avaliar os cenários propostos, de acordo com as intervenções
utilizadas para o controle de inundações e do uso e ocupação do solo.

Em seguida, é abordado o método utilizado para materializar o risco de


inundação, em termos de prejuízos causados às residências das áreas alagadas.

Por fim, são apresentados os procedimentos para a realização da modelagem


matemática, incluindo informações da modelação topográfica, hidráulica e topológica,
considerando a configuração de projeto, adotada como Alternativa 1, proposta pelo
Projeto Iguaçu (2010), uma Alternativa 2 de projeto, que utiliza diques em escala
generalizada e uma Alternativa 3, que considera a situação atual, parcial, de
implantação do Projeto Iguaçu, todas em condições que superam a previsão de projeto
em termos de tempo de recorrência das chuvas. Também são descritos os dados de
entrada no modelo, dados hidrológicos, condições de contorno e procedimento de
calibração.

6.1 Revisão Conceitual do MODCEL

O Modelo de Células de Escoamento - MODCEL é um modelo matemático


hidrodinâmico completo, Quasi-2D, que possui uma relevante vocação para
diagnosticar e simular soluções para os problemas relacionados as inundações em áreas
urbanas. O fato de o modelo ser Quasi-2D significa que ele interpreta a realidade física
da bacia de forma bidimensional, mas as equações hidráulicas utilizadas para simular a
hidrodinâmica do escoamento são utilizadas de forma unidimensional.

De acordo com Miguez (2001) o modelo pode ser descrito da seguinte forma:

- O MODCEL é aplicado para modelagem hidrodinâmica de bacias sujeitas a


enchentes partindo do princípio que a bacia pode ser representada por compartimentos

41
interligados, formando uma rede bidimensional. Esses compartimentos são chamados de
células de escoamento. A bacia é subdividida em diferentes células interligadas entre si
e o escoamento entre as células é calculado por equações hidráulicas unidimensionais
definidas de acordo com o padrão topográfico e de urbanização da região, através de
relações hidráulicas, como, por exemplo, a equação dinâmica de Saint-Venant (na sua
forma completa ou simplificada), a equação de escoamento sobre vertedouros, a
equação de escoamento através de orifícios, equações de escoamento através de bueiros,
entre outras várias. A região subdividida em células forma uma rede de escoamento
bidimensional, com possibilidade de escoamento em várias direções nas zonas de
inundação, a partir de relações unidimensionais de troca.

Cada célula comunica-se hidraulicamente com células vizinhas, recebe a


contribuição de precipitações e realiza processos hidrológicos internos para
transformação de chuva em vazão. Às vazões trocadas com as células vizinhas soma-se
a vazão resultante da transformação da chuva.

A representação da natureza pode ser feita através de células isoladas ou


formando um conjunto, a fim de representar a complexidade dos possíveis caminhos das
águas em uma inundação. As hipóteses de aplicação do modelo de células em bacias
urbanas são:

1. A natureza pode ser representada por compartimentos homogêneos,


interligados, chamados células de escoamento.

2. Na célula, o perfil da superfície livre é considerado horizontal, a área desta


superfície depende da elevação do nível d'água no interior da mesma e o volume de
água contido em cada célula é diretamente relacionado com o nível d'água no centro da
célula.

3. Cada célula comunica-se com células vizinhas, que são arranjadas em um


esquema topológico, constituído por grupos formais, onde uma célula de um dado grupo
só pode se comunicar com células deste mesmo grupo, ou dos grupos imediatamente
posterior ou anterior.

4. O escoamento entre células pode ser calculado através de leis hidráulicas


conhecidas como, por exemplo, a Equação Dinâmica de Saint-Venant.

42
5. A vazão entre duas células adjacentes, em qualquer tempo, é apenas função
dos níveis d’água no centro dessas células.

6. As seções transversais de escoamento são tomadas como seções retangulares


equivalentes, simples ou compostas.

7. O escoamento pode ocorrer simultaneamente em duas camadas, uma


superficial e outra subterrânea, em galeria, podendo haver comunicação entre as células
de superfície e de galeria.

Com o objetivo de fazer com que o MODCEL representasse o espaço urbano,


surgiram diversas "células tipo", desenvolvidas para abranger a realidade da drenagem
urbana e propiciar uma representação adequada da mesma, conforme listados a seguir:

- Células tipo rio ou canal: são, efetivamente, trechos de rios e de canais, cujo
conjunto, em sequencia, normalmente forma a rede de macrodrenagem, excetuando-se a
representação das galerias, que é feita por células tipo galeria;

- Células tipo galeria: são trechos de canais fechados, subterrâneos, considerados


escoando a superfície livre, que, junto com o tipo anterior, compõem a macrodrenagem;

- Células tipo planície: representam escoamentos a superfície livre em planícies


alagáveis, bem como áreas de armazenamento, ligadas umas as outras por ruas,
englobando também áreas de encosta, para recepção e transporte da água precipitada
nas encostas para dentro do modelo, áreas de vertimento de água de um rio para ruas
vizinhas e;

- Células tipo reservatório: simulando o armazenamento d’água em um


reservatório temporário de armazenamento, dispondo de uma curva cota x área
superficial. A célula tipo reservatório cumpre o papel de amortecimento dos picos dos
hidrogramas de alguns corpos hídricos ou ainda podem estar associadas a reservatório
de amortecimento de barragens.

Alem dos tipos pré-definidos de células existem os tipos de ligações,


representados por leis hidráulicas, que são necessárias à comunicação entre as células,
ou seja, a troca de vazão.

A Figura 6.1 ilustra um esquema de uma região dividida em células.

43
Figura 6.1 – Representação esquemática de uma região dividida em células (MIGUEZ, 2001).

6.2 Materialização do Risco de Inundação em termos de Curvas de Prejuízo

Para efeito de comparação de resultados e soluções propostas, o risco de


inundação em termos de prejuízos é usado como indicador, mensurado através de
curvas de prejuízos em função da altura da lâmina d’água das áreas afetadas, obtidas a
partir da simulação hidrodinâmica (modelagem matemática).

Primeiramente foi feita uma revisão da metodologia desenvolvida no estudo de


Salgado (1995) para quantificar os prejuízos das inundações em áreas urbanas. Neste
estudo os prejuízos são mensurados através dos danos causados às residências, em
termos de danos às edificações e ao conteúdo das mesmas. O trabalho de Salgado
(1995) foi desenvolvido para a própria Baixada Fluminense.

Em seguida, adotam-se tempos de recorrência que começam com as definições


típicas de projeto de macrodrenagem, ou seja, a partir de 25 anos, e avança-se com
análises para tempos maiores, de 50, 100 e 200 anos, de forma a criar cenários críticos

44
de avaliação, onde se espera que as propostas de projeto falhem, realizando uma análise
do chamado risco residual, a partir da quantificação dos prejuízos, usando as curvas
desenvolvidas por Salgado (1995) com valores atualizados.

A partir dos resultados da simulação do funcionamento do rio Iguaçu e dos


pôlderes se identifica em que áreas as soluções de projeto falham, ou seja, onde ocorre
vertimento do rio para as suas margens e consequentemente alagamento de áreas
ocupadas por residências. É feita uma análise das células alagadas da área
urbanizada/ocupada, onde são extraídos os dados de altura de lâminas d’água (altura de
inundação) para o cálculo do prejuízo em função da área das casas afetadas. A partir da
área das casas, estimada por amostragens por quarteirões, são somadas todas as áreas
para se ter a área total afetada.

Usam-se imagens de satélite do aplicativo Google Earth e da ferramenta Street


View para estimar o número de residências nas áreas afetadas, assim como o padrão de
acabamento e as dimensões (por amostragem) como mostra a Figura 6.2 e a Figura 6.3.

Figura 6.2 – Imagem extraída em 2014 do Street View do Google Earth, rua localizada no
município de Duque de Caxias – RJ.

A Figura 6.3 ilustra o caso específico de contagem de casas em uma célula, e de


amostragem de medição das áreas das casas por quarteirões, para fins de quantificação
de prejuízos.

45
Figura 6.3 – Exemplo de amostragem de casas por quarteirões nas células afetadas por
alagamentos utilizando imagens de satélite do Google Earth.

Como dito antes, o cálculo do prejuízo tem como base as curvas de Salgado
(1995), apresentadas na Figura 6.4 (prejuízo às edificações) e na Figura 6.5 (prejuízo ao
conteúdo), ajustadas em termos de correção de valores. O uso dos índices para correção
de valores está detalhado na Tabela 6.5.

Salgado (1995) define o prejuízo direto às propriedades residenciais como


prejuízos à edificação, que contemplam todos os aspectos da construção, e aqueles
referentes ao conteúdo, que contemplam mobiliário, aparelhos de cozinha,
eletrodomésticos, roupas pessoais, alimentos, produtos de limpeza entre outros.

A quantificação dos prejuízos à edificação e ao conteúdo é expressa como fração


do valor monetário global. Devem ser aplicadas nas diversas residências representativas
da área potencialmente inundável e para cada item do prejuízo (edificação ou conteúdo).

O Prejuízo à Edificação é definido como o custo de reposição da edificação


corrigido por um fator de depreciação física. Matematicamente tem-se:

(6.1)

46
Onde: é o prejuízo; é o custo de reposição e é fator de depreciação.

O custo de reposição é determinado a partir do custo unitário de construção, em


função de atributos físicos obtidos de levantamentos de campo, tais como: tipo, área
construída, número de pavimentos e padrão de acabamento da construção.

A metodologia utilizada por Salgado para determinação do custo unitário de


construção para cada unidade representativa caracteriza-se pelos seguintes
procedimentos: inicialmente, selecionam-se projetos tipos que reproduzem
características das edificações existentes na área potencialmente inundável,
considerando área construída e padrão de acabamento. Em seguida, para cada projeto
tipo, foram determinados os custos totais de construção (materiais e mão de obra)
elaborados pela Empresa de Obras Públicas do Rio de Janeiro (EMOP), referidos a
dezembro de 1994, e apresentados nos “Boletins mensais de custos” e no “Catálogo de
referência – Sistemas de Custos Unitários” da Secretaria de Estado de Obras e serviços
Públicos (SOSP) em conjunto com a EMOP entre 1988 e 1995. Depois, foram
ajustadas equações associando o custo unitário de construção e a área construída para
cada padrão de acabamento. As equações ajustadas tem a forma geral:

(6.2)
Onde e são constantes que dependem do padrão de acabamento da
construção e é a área construída em metros quadrados

O fator de depreciação ( ) considerado pelo modelo corresponde ao critério


de Ross-Heidecke (1985), que considera a depreciação como função da vida útil, do
tempo de uso e do estado de conservação.

Na relação entre Altura de Inundação e Prejuízo à Edificação, tem-se como


principal questão o estabelecimento do quanto cada item correspondente da edificação é
danificado para cada altura de inundação.

A abordagem inicial proposta para caracterizar esses danos foi à realização de


pesquisa junto aos moradores de residências que já tivessem sido inundadas no passado.
Contudo, a falta de recursos para a realização de pesquisas de campo, fez com que
Salgado abandonasse esta alternativa. Como saída para este problema, os projetos tipo
selecionados como representativos das construções existentes na área inundável foram

47
submetidos a profissionais da área de construção civil para caracterização e
quantificação dos danos, associados a cada altura da inundação.

Conforme Salgado (1995), a quantificação desses danos tem caráter subjetivo e


depende essencialmente da experiência de cada profissional. As informações fornecidas
foram analisadas e, em seguida foram estabelecidos índices médios utilizados para
quantificação da extensão do dano.

Depois, foi determinado o valor do prejuízo pelos custos unitários dos serviços
(materiais e mão de obra) para reparar ou repor o componente danificado nas condições
idênticas às anteriores à inundação. Os custos utilizados também são os elaborados pela
EMOP, referidos a dezembro de 1994, e apresentados em SOSP-EMOP (1988 e 1995).

Assim, a relação função Altura de Inundação x Prejuízo às Edificações


residenciais representativas da área potencialmente inundável foi então determinada, por
Salgado, para incrementos de 0,25m de altura de inundação. É possível visualizar os
valores desta função para os três padrões de acabamento e os quatro projetos tipo na
Tabela 6.1. Ressalta-se que os valores mostrados são o próprio prejuízo expresso em
porcentagem do valor monetário da edificação, que para o presente estudo foi atualizado
conforme descrição mais adiante.

A Figura 6.4 mostra a curva obtida, por Salgado, a partir desta função para o
padrão de acabamento baixo, que foi o padrão adotado para os cálculos de prejuízo do
presente trabalho, conforme justificativa apresentada na sequência.

48
Tabela 6.1 – Valores da Função Altura de Inundação x Prejuízo às Edificações.
Fonte: SALGADO (1995).

Figura 6.4 – Curva da Função Altura de Inundação x Prejuízo às Edificações (expresso em


porcentagem do valor da edificação) para padrão de acabamento baixo.
Fonte: Adaptado de Salgado (1995).

Para cada altura de inundação, identifica-se o componente da edificação sujeito a


danos, avalia-se o valor monetário do prejuízo a partir dos custos unitários estabelecidos
e se totaliza o prejuízo associado ao nível d’água.

49
Quanto aos danos e índices médios adotados pela metodologia de Salgado para a
quantificação dos prejuízos, tem-se:

 Fundação e superestrutura: as velocidades de escoamento da calha


principal dos cursos d’água aumentam durante as cheias e,
eventualmente, provocam erosões localizadas, função das singularidades
e obstruções do leito, da erodibilidade do material do leito e margens etc.
Dependendo das características da fundação (cota de assentamento,
amarração, etc.) e de sua proximidade com a calha podem ocorrer
deslocamentos da fundação podendo causar rachaduras e trincas na
estrutura e em seu acabamento.
 Alvenaria de elevação: estes danos limitam-se às edificações
estruturalmente comprometidas localizadas em áreas de risco que
necessitam de reformas extensivas independente da ocorrência de
inundações.
 Revestimento das paredes: o emboço e reboco de revestimento das
paredes têm sua durabilidade reduzida com a umidade, logo, também
afetados com as inundações. Para efeito de quantificação destes danos,
Salgado admitiu a necessidade de recuperação de um porcentual da área
molhada das paredes internas e externas variável com a qualidade da
construção. Os índices empregados encontram-se na tabela Tabela 6.2:

Tabela 6.2 - Índice de Recuperação do Revestimento das Paredes (SALGADO, 1995).

Padrão de acabamento Paredes internas Paredes externas


Baixo 30% 40%
Médio 20% 30%
Alto 10% 20%

 Pintura: o contato direto com as águas de inundação suja e estraga a


pintura das paredes, exigindo que sejam lavadas e, em seguida,
repintadas. Para efeito de quantificação deste serviço, considerou-se
necessário a repintura de todas as paredes externas e internas,
independendo da altura da inundação.

50
 Esquadrias:
i) Portas: as edificações de madeira compensadas deformam-se e
danificam-se em contato com a umidade, exigindo reparos para
restaurar sua condição de uso. Para efeito de quantificação deste
dano, o autor considerou a substituição de todas as portas da
edificação, independendo da altura da inundação.
ii) Janelas: em geral, são constituídas de madeiras de lei que em
contato com a umidade também se deformam exigindo eventuais
reparos para restaurar sua condição de uso. Para efeito de
quantificação deste dano, o autor julgou necessária a substituição
de um porcentual de todas as janelas molhadas variável com o
padrão de qualidade da residência. As janelas foram consideradas
a 1,20 m do piso. Os índices empregados são mostrados na
Tabela 6.3:

Tabela 6.3 - Índice de Reposição de Esquadrias (SALGADO, 1995).

Padrão de acabamento Substituição de janelas


Baixo 40%
Médio 30%
Alto 20%

 Pisos
i) Pisos de madeira: para efeito de quantificação, o autor admitiu a
substituição total dos pisos de madeira independendo da altura da
inundação e da qualidade da construção.
ii) Pisos cerâmicos: o autor considerou a simples lavagem
compreendendo que este procedimento restituiria as condições
anteriores de utilização.
 Cobertura: pode ser danificada pelos objetos flutuantes transportados pela
inundação. Para efeito de quantificação,, o autor considerou apenas a
limpeza.

51
 Instalações Elétricas: admitindo que durante a inundação a rede elétrica está
desligada os danos à instalação elétrica restringem-se a eventuais danos às
tomadas interruptores bocais, disjuntores etc. Para efeito de quantificação,
admitiu-se a necessidade de troca dos dispositivos efetivamente inundados.
 Instalações Hidráulicas:
i. Água potável: em geral, os danos causados por inundações às
instalações de água potável resumem-se ao alagamento de
reservatórios o que exige a necessidade de limpeza e desinfecção
dos mesmos. Para efeito de quantificação dos danos, considerou-
se necessário a limpeza e desinfecção dos reservatórios de todas
edificações inundadas com altura superior a 0,20m.
ii. Esgoto e águas pluviais: em geral, não sofrem danos com as
inundações.

Para a quantificação do Prejuízo ao Conteúdo, Salgado (1995) usou a


abordagem clássica que consiste na realização de um levantamento de campo baseado
em entrevistas junto aos moradores de unidades representativas da área potencialmente
inundável com a finalidade de caracterizar:

- quantidade, tipo, estado de conservação e depreciação dos diversos itens;

- a localização e elevação de cada item na residência;

- o tipo de dano sofrido por cada item.

O valor monetário do conteúdo de cada residência depende, entre outros fatores,


das condições sociais, econômicas e culturais de cada família. Para efeito de sua
quantificação, admitiu-se, para cada projeto tipo, um conteúdo padrão, cuja qualidade
foi classificada como alta, média e baixa associada ao padrão de acabamento da
construção.

O valor monetário de cada item do conteúdo foi determinado levando em conta o


preço de compra à vista de cada artigo, como também da depreciação devido ao tempo
de uso. O fator de depreciação foi tomado igual a 0,5 para todos os itens independentes

52
do padrão de qualidade do conteúdo, considerando que os itens danificados terão, em
média, um tempo de uso igual à metade de sua vida útil.

Com base no conteúdo padrão e no valor de cada item, determinou-se o valor


total do conteúdo de cada residência. Em seguida, para cada unidade econômica
representativa, foram ajustadas equações associando o custo unitário do conteúdo e a
área construída, para cada classe de qualidade do conteúdo. As equações ajustadas são
da forma:

(3)

Onde: é o custo unitário do conteúdo dado em reais por metro quadrado;


e são constantes que dependem do padrão de qualidade do conteúdo e é a área
construída em metros quadrados.

Com relação ao preço dos itens do conteúdo de residências, foi executada uma
pesquisa de preços sem um tratamento estatístico rigoroso, devido ao pequeno tamanho
das amostras obtidas e a variabilidade de preços determinada pela diferença de modelos
de um mesmo item. Os principais critérios utilizados na pesquisa de preços foram à
consulta limitada a revendedores populares situados na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, a condição de pagamento à vista e quantidade unitária. Para a determinação dos
preços médios referentes a cada padrão de qualidade do conteúdo adotaram-se os
seguintes critérios:

i) alto padrão de qualidade: preço médio dos modelos mais sofisticados do


mesmo item ou o valor máximo amostral.

ii) médio padrão de qualidade: preço médio dos valores amostrais.

iii) baixo padrão de qualidade: preço médio dos modelos menos sofisticados do
mesmo item, ou o valor mínimo amostral.

Para a estimativa do valor do prejuízo associado a cada altura de inundação,


Salgado (1995) estabeleceu o quanto cada item do conteúdo é danificado. Para isso
foram realizadas pesquisas junto a lojas de reparos e de assistência técnica a
equipamentos domésticos. O valor do prejuízo de cada item foi determinado pelo menor
custo entre o de limpeza/conserto obtido junto a empresas especializadas, e o de

53
reposição corresponde ao preço de compra à vista, referido a dezembro de 1994.
Considerou-se também a depreciação do item devido ao tempo de uso.

Logo, a relação função Altura de Inundação x Prejuízo ao Conteúdo das


residenciais representativas da área potencialmente inundável foi então determinada, por
Salgado, para incrementos de 0,25m de altura de inundação. É possível visualizar os
valores desta função, para os três padrões de acabamento e os quatro projetos tipo, na
Tabela 6.4. Ressalta-se que os valores mostrados são o próprio prejuízo expresso em
porcentagem do valor monetário do conteúdo, que para o presente estudo foi atualizado
conforme descrição mais adiante.

A Figura 6.5 mostra a curva obtida, por Salgado, a partir desta função para o
padrão de acabamento baixo, que foi o padrão adotado para os cálculos de prejuízo do
presente trabalho, conforme justificativa apresentada na sequência.

54
Tabela 6.4 – Valores da Função Altura de Inundação x Prejuízo ao Conteúdo.
Fonte: SALGADO (1995).

Figura 6.5 – Curva da Função Altura de Inundação x Prejuízo ao Conteúdo (expresso em


porcentagem do valor do conteúdo das edificações) para padrão de acabamento baixo.
Fonte: Adaptado de Salgado (1995).

Para cada altura de inundação, o programa identifica o item sujeito a danos,


avalia o valor monetário do prejuízo a partir dos custos unitários estabelecidos e totaliza
o prejuízo associado ao nível d’água. Finalmente, o valor do prejuízo é expresso em
porcentagem do valor monetário do conteúdo.

55
Atualização/correção dos valores utilizados por Salgado:

Para a atualização/correção dos valores utilizados por Salgado (1995), foram


estudados diversos índices de custos do setor da construção civil. Entre eles: Índice
Nacional de Custo da Construção (INCC-FGV), Sistema Nacional de Pesquisa de
Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI) do IBGE, CUB (Custo Unitário Básico)
do Sindicato da Indústria da Construção Civil (SINDUSCON – RJ) e o Índice Geral da
Construção Civil 05.100 da Empresa de Obras Públicas (EMOP) do Estado do Rio
Janeiro.

Como Salgado (1995) utilizou como base para obter valores de prejuízo o índice
EMOP para custo do m² dos diversos padrões de residenciais afetados pelas enchentes,
buscou-se utilizar este índice específico da EMOP, porém o mesmo foi substituído pelo
Índice Geral da Construção Civil, que não avalia o custo unitário de mercado para o m²
residencial construído, mas, sim, avalia de forma geral os custos da construção civil
para diversos setores (conforme contato realizado com especialistas responsáveis por
este assunto na EMOP).

Foram consultados outros especialistas da área de construção civil sobre os


custos unitários, inclusive da EMOP e do Sinduscon-RJ. Também foram corrigidos os
valores através dos índices mencionados, usando como base as séries de dezembro/1994
a julho/2014, quando disponíveis (Tabela 6.5)

Tabela 6.5 – Índices de custos da construção civil e correção de valores do m2 construído


devido à inflação.
Índices de correção de Valor do m² em Valor atualizado - Valor atualizado - Valor do CUB
valores dez/1994 (EMOP) SINAPI jul/2014 INCC jul/2014 Sinduscon jul/2014
padrão baixo 211.17 823.34 1197.99 1243.83
padrão médio 283.39 1104.92 1607.71 1476.44
Percentual de correção 289.89% 467.31%

Após as consultas aos especialistas mencionados, optou-se por utilizar o CUB.


Não foi apresentado o percentual de correção do CUB referente ao à série avaliada, pois
ele passou por um processo de alteração da metodologia de cálculo durante este período.

O CUB é calculado conforme disposto na ABNT NBR 12721:2006, em


cumprimento à Lei nº 4.591/64, com base em novos projetos, novos memoriais
descritivos e novos critérios de orçamentação. Os valores correspondem aos do metro
quadrado da construção para os diversos padrões estabelecidos pela Norma.

56
Para utilizar as curvas de prejuízo de Salgado (Figura 6.4 e Figura 6.5) é
necessário definir/utilizar o padrão de acabamento das residências e dos conteúdos para
obtenção dos valores das funções de prejuízos à edificação e ao conteúdo.

Segundo dados do Mapa da Pobreza do IBGE (Censo demográfico de 2000),


Duque de Caxias apresentou incidência da pobreza 53,53 e Belford Roxo 60,06, valores
de incidência considerados altos, segundo critérios deste índice.

Já para o Índice de GINI (IBGE, 2000), que é usado para medir a desigualdade
social, Duque de Caxias apresenta um índice de 0,42 e Belford Roxo 0,38. Quanto
maior o valor deste índice, que varia de 0 a 1, maior o índice de desigualdade social.
Este índice também demonstra que esta área sofre com desigualdade.

Além destes índices, foi realizada uma visita técnica ao local do pôlder do
Outeiro em 2012, pois na época o autor trabalhava no Instituto Estadual do Ambiente
(INEA) e a frente de obras do Projeto Iguaçu se encontrava neste pôlder. Por serem
localidades (pôlder do Pilar e Outeiro) que possuem características e problemática
parecidas, as informações da visita também foram utilizadas para a avaliação do padrão
de acabamento das residências.

Também se utilizou a ferramenta Street view do Google Earth (Figura 6.2) para
avaliar o padrão de acabamento das residências. Portanto adotou-se, de forma
embasada, o padrão baixo para as residências e também para os conteúdos.

Portanto, o valor utilizado nos cálculos de prejuízos foi o CUB para residências
familiares de padrão baixo, que na data de referência adotada para este trabalho, julho
de 2014, era de R$ 1.243,83.

Para a correção dos valores dos conteúdos, utilizou-se o Índice Nacional de


Preços ao consumidor Amplo – IPCA do IBGE, devido à diversidade dos produtos
domésticos e a possibilidade de utilizar a série de dezembro/1994 a julho/2014.
Também foram consultados, informalmente, especialistas da área de economia, que
sugeriram o uso deste índice.

57
6.3 Procedimentos propostos

Este estudo tem como ponto de partida uma base de dados de diversas
modelagens hidrodinâmicas realizadas no contexto da revisão do Projeto Iguaçu (2010),
que tratam de risco e controle de inundações, entre outros aspectos.

Foi definida dentro da área do Projeto Iguaçu uma região para desenvolvimento
de análises comparativas entre diferentes concepções de projeto, em termos de controle
de inundação, para avaliar o risco em termos de prejuízos, de acordo com os objetivos
propostos.

Para preparar a base de modelagem do caso de estudo, utilizando os conceitos do


MODCEL mencionados, representando o rio Iguaçu e a bacia hidrográfica, foi
necessária uma série de informações, como, por exemplo, dados hidrológicos,
hidráulicos, fisiográficos e topográficos da área de estudo.

O levantamento de dados se iniciou a partir das informações topográficas obtidas


das plantas da Fundação CIDE de 1996, em escala 1:2000 e 1:10000. Também foi
utilizada a base SEA/IBGE de 2012, na escala de 1:25000, disponibilizadas pelo INEA,
e levantamentos topo-batimétricos de seções do rio Botas, provenientes dos estudos do
Laboratório de Hidrologia e Meio Ambiente da COPPE, como parte da revisão do
Projeto Iguaçu (2010).

Buscou-se atualizar e complementar estas informações a partir de imagens de


satélite, utilizando-se o aplicativo Google Earth.

Logo, entre as diversas células da área do estudo, algumas foram detalhadas,


especificamente para a região de interesse, como ponto de partida para a modelagem
matemática dos diversos cenários simulados (Figura 7.13 apresentada no Caso de
estudo), tendo como fundamento os conceitos da modelação topográfica, topológica,
hidráulica e hidrológica do MODCEL, e utilizando como ferramenta principal o
AutoCAD.

58
6.3.1 Dados e Estudos Hidrológicos

Os dados hidrológicos foram obtidos a partir dos estudos hidrológicos do Plano


Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu-Sarapuí (LABHID, 1996), com as
alterações que se fizeram necessárias, a fim de se adaptar às recomendações atuais do
Ministério das Cidades (BRASIL, 2012) para os estudos de inundações urbanas, uma
vez que segundo essas recomendações, o nível aceitável de risco corresponde às cheias
associadas às chuvas com tempo de recorrência (TR) de 25 anos. A Tabela 6.6 mostra
os tempos de recorrência para diferentes valores de precipitação total, mapeadas para a
bacia do rio Iguaçu.

Tabela 6.6 - Dados de chuva do estudo hidrológico do Plano Diretor de Recursos Hídricos
(LABHID, 1996).

TR P (mm)

5 115,66
10 133,92
20 149,86
50 175,91
100 193,13
200 211,11

Com base nestes valores de precipitação, foi feita uma regressão logarítmica que
melhor se ajustou aos pontos, a fim de se obter a estimativa da precipitação para o
tempo de retorno de 25 anos. A Figura 6.6 mostra a função de regressão obtida, e a
partir dela se obteve a precipitação de tempo de recorrência de 25 anos, P = 157,17 mm.

59
220

210 y = 25.941ln(x) + 73.669 TR 200


R² = 0.9992
200
TR 100
190

180
TR 50
Precipitação (mm)

170

160
TR 25
150 TR 20

140
TR 10
130

120
TR 5
110

100
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Tempo de Recorrência (anos)

Figura 6.6 – Função de regressão para se obter a chuva de TR 25 anos.

Após a obtenção de todos os valores de precipitação necessários para se utilizar


no presente trabalho, aplicou-se o Coeficiente de Redução (CR) ponto-área devido à
distribuição espacial da chuva sobre a bacia estudada (por possuir uma área grande), em
que se utilizaram curvas de redução ponto-área utilizadas no estudo hidrológico do
Plano Diretor (supracitado). Conforme este estudo, o CR aplicado foi de 0,61. Os
resultados finais de precipitação são mostrados na Tabela 6.7.

Tabela 6.7 – Chuvas com CR ponto-área utilizadas para a modelagem hidrodinâmica.

TR P (mm)

25 95,89
50 107,30
100 117,81
200 128,78

60
6.3.2 Modelagem topográfica, topológica e hidráulica

As células dos rios e canais principais foram definidas de acordo com as seções
do Projeto Iguaçu (2010), atualmente em implementação pelas obras do PAC 2. Tais
seções de projeto são utilizadas para o cálculo da linha d'água dos cursos d’água
principais. No capítulo do Caso de Estudo, a Figura 7.14 mostra o esquema topológico
utilizado na modelagem do presente trabalho, com destaque para as células da área de
interesse do estudo.

Aqui se recomenda a leitura em Sousa (2010) para mais detalhes.

6.3.3 Arquivos de entrada e condições iniciais

Para o Modelo de Células de Escoamento, quatro tipos de arquivos são


necessários para o seu funcionamento, quais sejam:

Arquivo de Dados Iniciais: contendo as informações referentes ao arranjo geral


das células e ao estado inicial de alagamento das células que compõem a bacia
modelada. O arquivo de condições iniciais é fundamental, pois apresenta a situação
preliminar da bacia modelada antes de ocorrer a precipitação de projeto e antes da
chegada da cheia. Desta forma, é possível delimitar quais as regiões da bacia iniciam o
processo de simulação alagadas ou não, bastando, para isto, correlacionar a cada célula
o seu respectivo nível d’água inicial no processo de simulação.

Arquivos de Características das Células: com os dados específicos de cada


célula e de suas ligações com as células vizinhas. O arquivo da base de dados indica a
discretização topográfica e hidráulica da bacia em estudo. Nele são dadas as
informações específicas de cada uma das células que compõem a topologia e também os
dados que permitem que cada célula se comunique com suas vizinhas. Após a
delimitação da bacia em células, passa a ser feito o levantamento dos dados necessários
para permitir a comunicação entre uma célula e suas vizinhas. Existem informações
gerais, necessárias para todas as células, e outras específicas, distintas para cada tipo de
célula e cada tipo de ligação. Também é necessária a avaliação inicial dos valores dos
diversos coeficientes que regem as ligações.

61
Arquivos de Precipitação: indicando a chuva que cai sobre cada célula da área
modelada, dependendo da distribuição espacial da rede pluviométrica disponível. Os
quivos de precipitação são essenciais para a realização das simulações. A entrada de
dados para este arquivo pode ser feita, basicamente, de duas formas:

- Através de uma chuva real medida, usualmente adotada para os processos de


calibração e de validação do modelo;

- Através de uma chuva de projeto, calculada por quaisquer métodos pertinentes,


adotada para as simulações desejadas.

Qualquer que seja o tipo de chuva adotado, medida ou projetada, a entrada de


dados no arquivo é feita de forma idêntica, apresentando uma altura d’água, em mm,
para cada intervalo de tempo da simulação.

Arquivos de Condições de Contorno: como função da rede hidrométrica


disponível e dos limites físicos estabelecidos para o modelo. As condições de contorno
são introduzidas no modelo matemático através de três formas distintas:

a) Nível d'água dado em função do tempo – Z(t): usualmente adotado para a


informação dos efeitos de controle de jusante, como a maré por exemplo;

b) Vazão dada em função do tempo – Q(t): adotado para a informação da vazão


de base de rios, de hidrogramas de cheias de afluentes junto aos corpos d’água
principais e da vazão efluente de reservatórios de amortecimento;

c) Uma dada relação entre vazão e nível d'água – Q(Z): adotado para a inserção
de uma curva-chave a qualquer ponto da bacia modelada.

Para este estudo, a montante, foram utilizadas condições de contorno do tipo


Q(t), representando as vazões afluentes ao longo dos rios Botas e Iguaçu. Para a
confecção destas condições, foram realizados estudos com o Sistema Hidro-Flu, a fim
de representar os hidrogramas de cada afluente a partir de uma chuva de projeto e de
acordo com um tempo de recorrência pré-determinado. Essa alternativa para as vazões
afluentes aos rios Botas e Iguaçu permitiu uma maior agilidade no processo de
modelagem.

62
A condição de contorno que representa o rio Sarapuí foi confeccionada a partir
da modelagem hidrodinâmica deste, realizado pela revisão do Projeto Iguaçu (COPPE,
2010). A jusante, a Baía de Guanabara foi representada por uma condição tipo Z(t),
referente à maré.

6.3.4 Calibração do modelo

A calibração de um modelo consiste em determinar parâmetros do modelo sob


os quais os resultados calculados pelo modelo se aproximam com razoável nível de
exatidão aos valores observados. Os parâmetros calibrados no modelo de células são
vários, destacando-se o coeficiente de Manning, que aparece nos escoamentos
superficiais e nos canais, e os coeficientes de vertedouro, que aparecem, principalmente,
no extravasamento de rios e canais. Os coeficientes de runoff também podem ser
ajustados, de forma a representar adequadamente a quantidade de água no modelo.

Os dados utilizados para a calibração corresponderam, em princípio, às vazões


encontradas no Plano Diretor de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Iguaçu-Sarapuí
(LABHID, 1996).

Para o coeficiente de Manning, os valores foram definidos a partir dos valores


utilizados no Projeto Iguaçu e alterados buscando aproximar os resultados de linha
d’água do modelo com os resultados obtidos nos estudos de tal Plano. O coeficiente de
runoff das células de planícies foram estipulados buscando reproduzir os efeitos das
características do terreno de cada célula, de acordo com o uso e ocupação do solo.

Após a calibração do modelo faz-se necessária a validação. A validação consiste


em reproduzir resultados observados diferentes daqueles usados no processo de
calibração utilizando-se parâmetros do modelo anteriormente obtidos. Devido à
ausência de dados medidos, não foi possível efetuar a validação neste trabalho.

Por fim, os dados da chuva que ocorreu das 18h30min do dia 30 até as
09h15min do dia 31 de dezembro de 2009, foram utilizados para a calibração do
modelo. A Tabela 6.8 mostra a localização das estações das chuvas registradas. O
método de Thiessen foi considerado na definição da área de influência de cada posto.

63
Tabela 6.8 – Localização das estações utilizadas na calibração. Fonte: Ribeiro (2013).

Estação Hidrológica Coordenadas Município

Santa Cruz da Serra 22°38'29,91"S 43°17'14,00"W Duque de Caxias

Ponte de Ferro Capivari 22°40'04,24"S 43°20'16,84"W Duque de Caxias

Catavento 22°39'0,130"S 43°25'06,43"W Nova Iguaçu

GBM Nova Iguaçu 22°44'55,98"S 43°27'25,54"W Nova Iguaçu

A Figura 6.7 mostra os resultados de chuva registrados por cada estação


considerada para o cálculo ponderado pelo método de Thiessen.

Figura 6.7 – Chuvas registradas pelas estações do Sistema de Alerta de Cheias da Baixada
Fluminense. Fonte: SOUSA (2010).

Os únicos dados de nível disponíveis, que o modelo buscou reproduzir foram


registrados pelo único posto fluviométrico, estação GBM Nova Iguaçu, ao longo do
evento de cheia, localizada em uma seção com fundo na cota 12,2 m. Esta estação foi
implantada em 2009 para o “Sistema de Alerta de Cheias da Baixada”, atualmente
operada pelo INEA.

Segundo Sousa (2010), para reproduzir os dados da calha dos rios Iguaçu e
Botas foram utilizadas as seções do Projeto Iguaçu, que no período do evento
reproduzido já haviam sido implantadas pelas obras do PAC em toda a calha do rio

64
Botas, e na calha do rio Iguaçu, até cerca de 1,5 km a montante da travessia da Avenida
Presidente Kennedy. Para o trecho a jusante de onde a seção de projeto já havia sido
implantada, foram utilizadas sete seções, levantadas para a revisão do projeto Iguaçu em
outubro de 2009.

A Figura 6.8 mostra os níveis calculados pelo modelo e os níveis registrados


pela régua do posto GBM Iguaçu.

17
16
Nível d`água (m)

15
14
13
12
11
0 200 400 600 800
Tempo (min)
Níveis Observados Níveis Modelados

Figura 6.8 - Níveis medidos e níveis modelados na régua do posto GBM Nova Iguaçu.
Fonte: Ribeiro (2013).

A partir da figura pode-se observar que os níveis de água estão na mesma fase e
os valores extremos são quase coincidentes. Este fato mostra que o modelo reproduz
adequadamente os resultados desejados, dentro das limitações de calibração existentes
pelos poucos dados, medidos, disponíveis.

65
7. CASO DE ESTUDO: RIO IGUAÇU

Conforme mencionado na introdução, foi concebido um caso de estudo para


verificar a hipótese de trabalho desta dissertação. Trata-se do trecho médio e inferior do
rio Iguaçu, desde a foz do rio Botas até as proximidades da rodovia Washington Luiz,
localizada na Baixada Fluminense. Este trecho do rio Iguaçu contempla os pôlderes
Cidade dos Meninos e Pilar, situados na margem esquerda do rio Iguaçu e, os pôlderes
do Outeiro e Núcleo São Bento, situados na margem direita. Com exceção do pôlder do
Outeiro, que se situa no município de Belford Roxo, todos os demais se situam em
Duque de Caxias.

Os pôlderes citados possuem as seguintes áreas de bacias hidrográficas


contribuintes: pôlder Cidade dos Meninos drena uma área de 15 km², pôlder do Outeiro
15,3 km², pôlder do Pilar 2,4km² e pôlder São Bento 4,7 km².

Na Figura 7.1 é apresentada a localização da área de estudo.

Figura 7.1 – Localização da área de estudo (Google Earth, 2012).

Destaca-se que o foco desta aplicação será sobre o pôlder do Pilar, que se
apresenta razoavelmente organizado e consolidado.

66
7.1 Diagnóstico preliminar das cheias que afetam a área de estudo

Conforme já comentado, em vários municípios da Baixada Fluminense observa-


se um crescimento descontrolado do perímetro urbano, deficiência na aplicação de
critérios técnicos, falta de planejamento na delimitação legal do perímetro urbano e uma
grande lacuna de infraestrutura básica, necessária para o bem-estar da população. O
Projeto Iguaçu (2010) estimou um universo de cerca de 180 mil pessoas vivendo em
áreas sujeitas a inundações na bacia, onde as condições socioambientais são as mais
precárias.

Podem-se elencar diversos aspectos problemáticos relacionados a esta região:

 Ocupação do leito maior dos rios e, em muitos casos, do leito menor, com
maior número de pessoas sujeitas aos impactos das inundações.

 Perda de conectividade do rio com sua planície de inundação, pela


introdução de diques e pôlderes, implantados para proteger estas pessoas em
áreas de risco.

 Acelerado processo de assoreamento e degradação dos corpos de água,


devido: ao desmatamento das áreas de Preservação Permanente – APP’s
(principalmente das matas ciliares), à falta de coleta de resíduos sólidos, ou a
sua destinação de forma inadequada, e ao lançamento de esgotos in natura
diretamente na rede de drenagem pluvial, nos rios, canais e outros corpos
hídricos. Há uma ineficiência da política de saneamento para a Baixada, pois há
abastecimento público de água, porém não há expansão da infraestrutura de
coleta e tratamento de esgotos e resíduos sólidos;

 Toda a Baixada é entrecortada por uma vasta rede de canais e rios poluídos
que transbordam por ocasião das cheias, causando sérios problemas de saúde
para a população – leptospirose, hepatite, dengue, gastroenterites, verminoses,
entre outras;

67
 Aumento do escoamento superficial devido ao crescimento populacional e à
consequente impermeabilização da bacia hidrográfica, acarretando em
inundações cada vez mais frequentes, nos mesmos locais e em áreas de jusante.

 Degradação das estruturas hidráulicas do sistema, ao longo do tempo, por


falta de manutenção e elevado custo de recuperação associado, além de ações
de vandalismo.

 Obstrução ou comprometimento do escoamento em decorrência de estruturas


de travessias mal dimensionadas (pontes rodoviárias e ferroviárias, tubulações
de água e esgoto).

 Muros e edificações que obstruem as calhas dos rios são parte do cenário
caótico resultante do processo de ocupação e uso na bacia.

Outros dois graves problemas de qualidade de água, insalubridade e saúde


pública são: a presença do Lixão (vazadouro) do Babi em Belford Roxo, localizado às
margens do Rio Botas, próximo à foz, e presença de uma área contaminada com
organoclorados na localidade Cidade dos Meninos. Estes dados e informações foram
levantados junto ao INEA em 2012, e foram acompanhados no decorrer da elaboração
deste trabalho, para que fossem o mais atuais possíveis. Em um estudo feito pela
Ambios (2002) constatou-se na área contaminada da Cidade dos Meninos, que os
compostos químicos analisados são de baixa solubilidade e de forte fixação em solos,
principalmente em solos com matéria orgânica e camadas de argila, como na Cidade dos
Meninos.

As Figura 7.2 a 7.12 apresentam imagens da área de estudo.

68
Figura 7.2 – Focos principais de contaminação na área de influência do estudo.
Fonte: Google Earth (2012).

Figura 7.3 – Polder do Outeiro à direita e a Figura 7.4 – Canal de cintura e ocupação da
Cidade dos Meninos à esquerda em segundo margem direita do rio Iguaçu, ao lado do dique
plano, com o rio Iguaçu cortando as duas áreas - Pôlder do Outeiro (ACERVO PESSOAL,
(ACERVO PESSOAL, 2012). 2012).

69
Figura 7.6 – Comportas de conexão entre o
Figura 7.5 – Canal de cintura próximo a
pôlder do Outeiro e o rio Iguaçu com falta de
confluência com o rio Iguaçu (ACERVO
manutenção (ACERVO PESSOAL, 2012).
PESSOAL, 2012).

Figura 7.7 – Canal de cintura – trecho assoreado Figura 7.8 – Casa abandonada na área de
(ACERVO PESSOAL, 2012). armazenamento do pôlder do Outeiro
(RIBEIRO, 2012).

Figura 7.10 – Estação de bombeamento do


Figura 7.9 – Estação de bombeamento (elevatória)
pôlder para o rio Iguaçu (ACERVO
do pôlder para o rio Iguaçu – gradeamento de
PESSOAL, 2012).
entrada (ACERVO PESSOAL, 2012).

70
Figura 7.12 – Canal do Ipê, início do trecho a
Figura 7.11 – comportas do canal do Ipê
céu aberto, condições precárias de
(drenagem local) para o rio Iguaçu (ACERVO
infraestrutura de saneamento (RIBEIRO,
PESSOAL, 2012).
2012).

Estes são os principais fatores, diagnosticados, que agravam as inundações na


região e, consequentemente, as condições de insalubridade.

Um fator positivo, constatado, é que parte das obras do Projeto Iguaçu (2010)
encontrava-se já implantada. A estação de bombeamento do pôlder do Outeiro já se
encontrava pronta para operar, grande parte da área do reservatório pulmão do Outeiro
estava desocupada, ou seja, várias famílias, já haviam sido realocadas, entre outras
obras, em outros pôlderes e nas calhas dos rios principais.

7.2 Modelagem da Alternativa 1, intervenções propostas no Projeto Iguaçu

Para a primeira alternativa de modelagem, utilizaram-se dados atuais propostos


pelo Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010). Esta alternativa aponta, como solução para
controle das inundações, o uso da margem esquerda do rio Iguaçu (pôlder Cidade dos
Meninos) como planície de inundação para armazenagem natural das inundações
(reservatório), além de manter o rio Botas “aberto” e livre para se conectar com sua
planície de inundação, na região de sua foz, como uma medida de controle de cheias,
mas, também como possibilidade de requalificar os rios e seu entorno - associado ao
planejamento do uso e ocupação do solo para estas áreas. Esta ocupação deve ser
estudada após a recuperação ambiental da área, conforme necessidade levantada no
diagnóstico do capítulo anterior, pois o uso será delimitado de acordo com o nível e
abrangência da recuperação e a concentração residual de contaminantes. Uma

71
alternativa para este reservatório proposto seria de ocupar a área com equipamentos
urbanos alagáveis, como parques fluviais, ou então com a criação de uma APA ou outro
tipo de Unidade de Conservação, que teria a sua ocupação restringida ou proibida por
lei, mas que exigiria fiscalização por parte do órgão ambiental.

Para preparar a base de modelagem, inicialmente se buscou representar a


natureza do funcionamento do rio e da bacia, discretizando as células internas dos
pôlderes estudados, de forma a possibilitar a avaliação das inundações dentro destas
áreas, conforme intervenções específicas propostas pelo Projeto Iguaçu. Esta etapa
correspondeu a um detalhamento da base existente e oriunda do Projeto Iguaçu.

Na Figura 7.13 é apresentada a divisão da área de estudo em células-tipo,


excetuando-se as células de galeria, já que o foco deste estudo não é visualizar ou
diagnosticar o funcionamento da rede de microdrenagem pluvial, mas sim analisar o
sistema de macrodrenagem, o funcionamento dos pôlderes e os impactos causados a
estas áreas. Também é possível visualizar o pôlder do Pilar que é foco da avaliação
deste estudo. Esta Alternativa é simulada para os quatro TR propostos neste estudo (25,
50, 100 e 200 anos) e os prejuízos de alagamentos no pôlder do Pilar, ocorridos por
galgamento dos diques, são calculados pelas curvas de prejuízo de Salgado (1995)
atualizadas.

Em seguida é apresentada uma ilustração do esquema topológico definido, de


acordo com as premissas teóricas do MODCEL (Figura 7.14).

72
Figura 7.13 - Células da área de estudo delimitadas com AutoCAD e sistematizadas com o ArcGIS

73
Figura 7.14 – Esquema topológico com discretização das células de escoamento e suas ligações.

74
7.3 Modelagem da Alternativa 2 – solução tradicional de engenharia

Para a Alternativa 2 é proposto um novo cenário, desta vez hipotético, para


modelagem e realização de novas simulações com os tempos de recorrência estipulados,
com objetivo de verificar a hipótese de trabalho. Esta alternativa:

 considera a solução tradicional de diques e pôlderes de forma generalizada, para


controle de cheias.
 consiste em “fechar” a comunicação do rio Botas com suas margens (simulando a
presença de diques) para sua posterior urbanização, e manter o pôlder Cidade dos
Meninos com diques, conforme situação presente de implantação do Projeto Iguaçu.

Fechar a comunicação do Rio Botas com suas margens, em termos de


modelagem, significa altear as cotas das ligações entre as células de canal que
representam o Rio Botas e as células de planície que representam a várzea do Rio, de
forma que o rio Botas fique confinado dentro da seção de escoamento neste trecho. A
verificação de que a simulação de diques ocorreu adequadamente é feita através da
análise dos resultados da simulação desta Alternativa, onde se verifica que o Nível de
Água (NA) do Rio não ultrapassou as cotas dos diques mencionadas.

Essa alternativa considera que a margem do rio Botas, no trecho de sua foz,
deixa de cumprir seu papel de planície de inundação e se incorpora a malha urbana com
novos loteamentos.

75
7.4 Modelagem da Alternativa 3 – situação atual de implantação do projeto
Iguaçu

Esta Alternativa de projeto contempla a situação atual de implantação do Projeto


Iguaçu, com o dique do pôlder Cidade dos Meninos fechado, e a foz do Rio Botas
aberta (preservada), conectando-se com suas planícies de inundação, respaldada pelo
zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) do Alto Iguaçu, que definiu esta
área (entre outras) como Zona de Contenção de Cheia (ZCC).

O objetivo desta alternativa é de buscar um meio termo entre as duas alternativas


anteriores, avaliando também esta possibilidade, que pode vir a ser a mais provável, em
termos de previsão futura, tendo em vista o problema de contaminação da área do
pôlder Cidade dos Meninos e as pressões por desenvolvimento urbano na região.

A base de modelagem é idêntica a da Alternativa 1, com exceção de uma ligação


entre uma célula do rio Iguaçu e do pôlder Cidade dos Meninos, em que a cota desta
ligação é considerada igual a da Alternativa 2, ou seja, sem conexão do rio com a sua
planície de inundação da Cidade dos Meninos. Conforme o estágio atual de implantação
do Projeto Iguaçu.

Enquanto o problema de contaminação ambiental da Cidade dos Meninos não se


resolver, esta alternativa continuará sendo a mais provável de continuar implantada.

76
7.5 Análise dos resultados de Prejuízos e Alagamentos para os Cenários
Simulados

Após a modelagem das três Alternativas propostas, foram simuladas quatro


situações de precipitação com Tempos de Recorrência (TR) de 25, 50, 100 e 200 anos,
para cada alternativa, com o objetivo de avaliar o funcionamento do Rio Iguaçu e dos
pôlderes em estudo, com um enfoque principal nos prejuízos estimados para o pôlder do
Pilar.

Como o modelo de Salgado realizava os cálculos de altura de inundação de 25


em 25 cm, os cálculos de prejuízos também possuíam esta característica. Para o presente
estudo definiu-se que as lâminas de água a partir de 20 cm seriam contabilizadas nos
cálculos estimados de prejuízos. Lâminas interiores seriam consideradas como
alagamentos de vias, sem maiores consequências. Para se obter os valores
intermediários dos pontos da curva de Salgado atualizada, utilizou-se o método de
interpolação linear.

A seguir são apresentados os resultados para cada Tempo de Recorrência


proposto, considerando as três alternativas de projeto.

7.5.1 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 25 anos

As simulações com este tempo de recorrência resultaram nos Níveis de Água


(NA) do Rio Iguaçu mostrados na Figura 7.15. Os perfis das Margens Esquerda (ME) e
Direita (MD) se referem às cotas dos diques ou às cotas das áreas ribeirinhas, em locais
em que não há diques.

Observa-se que só houve extravasamento do Rio Iguaçu em áreas a jusante dos


pôlderes. Para o caso do pôlder do Pilar (Alternativa 2), o nível de água máximo do rio
ficou apenas a 11 cm abaixo da crista do dique no trecho da célula 10. Existe o risco de
vertimento caso haja problemas de manutenção da altura do dique. No caso da
Alternativa 3 (situação atual) o bordo livre (freeboard) verificado após a simulação foi
de 0,31 m, um pouco menor que o valor adotado no Projeto Iguaçu (2010).

77
Figura 7.15 – Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR
25 anos.

Para esta condição de chuva, com tempo de recorrência de 25 anos, nenhuma


célula apresentou altura de inundação acima de 0,20 m (para as três alternativas de
projeto), ou seja, o prejuízo foi considerado nulo pela metodologia adotada, para
qualquer das alternativas consideradas.

A Alternativa 2 apresentou o maior perfil de linha de água, sempre acima do


perfil das demais alternativas, confirmando ser a alternativa de projeto mais
desfavorável, como já era esperado. Por outro lado, a Alternativa 1, que apresentou os
NA mais baixos, confirma ser a mais favorável.

7.5.2 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 50 anos

A partir da Figura 7.16, verifica-se que ocorre vertimento do rio para o pôlder do
Pilar apenas no caso da Alternativa 2, mas com uma lâmina de água máxima pequena,
de 8 cm acima da crista do dique. O vertimento ocorre no início do pôlder (de montante
para jusante), nas ligações das células 10 e 9 (do rio Iguaçu) com o canal auxiliar e
reservatórios-pulmão (células 113 e 114).

78
Figura 7.16 - Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR de
50 anos.

Verificou-se que o volume extravasado para dentro do pôlder do Pilar para este
cenário foi de 184.498 m3, através das ligações entre as células mencionadas.

Como o pôlder do Pilar tem a capacidade de armazenar até aproximadamente


651.634 m3 através de seus reservatórios-pulmão (dependendo do nível de água inicial,
que nas simulações foi considerado igual ao NA inicial do canal auxiliar), conclui-se
que o sistema armazenou este volume de 184.498 m3 vertido, se mostrando funcional
frente a esta situação, suportando a cheia de TR de 50 anos para a Alternativa 2 (pior
alternativa de projeto).

Corroborando com este resultado, as células urbanizadas não apresentaram


alturas de inundação expressivas, pois não houve extravasamento dos reservatórios-
pulmão. O nível máximo de água verificado nos reservatórios foi de 0,80m, enquanto as
células urbanizadas mais baixas possuem cota de arrasamento de 1,10 m.

A exemplo da condição de chuva de TR 25 anos, nenhuma célula apresentou


altura de inundação acima de 0,20 m para TR 50 anos, ou seja, o prejuízo também foi
considerado nulo pelo método adotado, para as três alternativas de projeto.

Porém, vale ressaltar que o dique foi galgado, e frente a esta situação sempre
existe a possibilidade de falha estrutural com consequente ruptura ou colapso do dique,

79
o que faz com que a população esteja submetida a um risco residual. Porque em caso de
ocorrência de uma ruptura, o sistema do pôlder não suportaria a vazão extravasada, o
que ocasionaria alturas de inundação significativas com velocidades altas e prejuízos
grandes.

Para este cenário de chuva, considerando a Alternativa 3 de projeto, o dique


ficou a apenas 6 cm de ser galgado, já para a Alternativa 1, o NA ficou a 31 cm da crista
do dique.

7.5.3 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 100 anos

Analisando a Figura 7.17, verifica-se que ocorre extravasamento do rio para o


pôlder do Pilar nos casos das Alternativas 2 e 3.

No caso da Alternativa 3, a lâmina de água máxima no extravasamento é


pequena, 7 cm acima da crista do dique. Assim como no cenário da Alternativa 2 para
TR 50 anos, o vertimento ocorre no início do pôlder (de montante para jusante), na
ligação das células 10 e 9 (do rio Iguaçu) para o canal auxiliar e reservatórios-pulmão
(células 113 e 114).

Já no caso da Alternativa 2, a lâmina de água máxima é mais significativa,


atingindo 16 cm acima da cota do dique, causando prejuízos nas células urbanizadas,
pois atinge alturas de inundação consideradas nos cálculos, como é possível ver na
Tabela 7.1 mais a frente.

80
Figura 7.17 - Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR de
100 anos.

Para esta chuva de TR 100 anos, verificou-se que o volume extravasado para
dentro do pôlder, no caso da Alternativa 3, foi de 184.708 m3, através das ligações entre
as células mencionadas. Este valor é muito parecido com o cenário da Alternativa 2 para
TR 50 anos. E ocorre a mesma situação, o pôlder do Pilar possui capacidade de
armazenar (com seus reservatórios-pulmão) esta vazão vertida, se mostrando funcional
também para esta situação simulada, suportando a cheia de TR de 100 anos para a
Alternativa 3. Neste caso, as células urbanizadas não apresentaram alturas de inundação
expressivas, pois não houve extravasamento dos reservatórios-pulmão. O nível máximo
de água verificado nos reservatórios foi de 0,82m, enquanto as células urbanizadas mais
baixas possuem cota de arrasamento de 1,10 m. Logo, nenhuma célula apresentou altura
de inundação acima de 0,20 m para TR 100 anos – Alternativa 3, ou seja, o prejuízo
também foi considerado nulo pelo método adotado, tanto para esta alternativa 3 de
projeto, quanto para a alternativa 1, que não apresentou extravasamento do rio Iguaçu
para dentro do pôlder.

Já para Alternativa 2, solução de projeto mais desfavorável, houve alagamento


das células urbanizadas. O volume vertido para dentro do pôlder foi de 996.853 m3,
superior a capacidade de armazenamento do pôlder do Pilar, que é de aproximadamente
651.634 m3. Este volume gerou lâminas de água máximas de até 42 cm dentro do
pôlder, causando prejuízos em 10 células, que apresentaram alturas de inundação iguais

81
ou acima de 20 cm. A Figura 7.18 mostra as células afetadas dentro do pôlder do Pilar,
assim como a área dos reservatórios-pulmão. Neste caso, apenas 3 células não tiveram
alagamentos consideráveis, por possuírem cota de fundo um pouco mais elevada.

Figura 7.18 - Células afetadas pela inundação no pôlder do Pilar, para o cenário de cheia da
Alternativa 2 – TR 100 anos. Fonte: Google Earth (2014).

A Tabela 7.1 mostra todos os dados levantados e utilizados para calcular os


prejuízos no Pôlder do Pilar através das funções que geraram as curvas de alturas de
inundação x prejuízos adaptadas de Salgado (1995), que culminaram em um prejuízo
total estimado de 47,28 milhões de reais, em termos de danos às residências e seus
conteúdos.

82
Tabela 7.1 - Prejuízos às edificações e aos conteúdos das residências para a Alternativa 2 e TR 100 anos no pôlder do Pilar.

Valor do Valor do
Valor total do
Pilar altura de fator função custo área total prejuízo à fator função - custo prejuízo ao Valor Total
número de área média prejuízo no
Alternativa 2 inundação - prejuízo à unítario construída edificação prejuízo ao unítario conteúdo do prejuízo
casas (m²) Pôlder (Milhões
TR 100 (m) edificação (R$/m²) (m²) (Milhões de conteúdo (R$/m2) (Milhões de por cela
de R$)
R$) R$)
Cela 43 128 99.71 0.37 0.084 1243.83 12763.01 1.33 0.439 126.984 0.71 2.04
Cela 44 221 102.51 0.32 0.065 1243.83 22654.11 1.83 0.420 126.984 1.21 3.04
Cela 40 174 72.86 0.42 0.103 1243.83 12677.81 1.62 0.459 126.984 0.74 2.36
Cela 42 118 96.51 0.42 0.103 1243.83 11388.12 1.46 0.459 126.984 0.66 2.12
Cela 47 784 104.04 0.37 0.084 1243.83 81566.97 8.52 0.439 126.984 4.55 13.07
47,285
Cela 46 473 95.98 0.32 0.065 1243.83 45398.78 3.67 0.420 126.984 2.42 6.09
Cela 38 252 99.73 0.42 0.103 1243.83 25131.46 3.22 0.459 126.984 1.46 4.68
Cela 48 322 103.49 0.42 0.103 1243.83 33323.14 4.27 0.459 126.984 1.94 6.21
Cela 51 226 121.67 0.22 0.021 1243.83 27496.72 0.72 0.378 126.984 1.32 2.04
Cela 53 283 106.56 0.42 0.103 1243.83 30157.50 3.86 0.459 126.984 1.76 5.62

83
7.5.4 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 200 anos

A partir da Figura 7.19, verifica-se que ocorre extravasamento do rio para o


pôlder do Pilar apenas nos casos das Alternativas 2 e 3, como no cenário de TR 100
anos. Já a Alternativa 1 não extravasa para o pôlder em nenhum cenário simulado. Neste
caso o NA máximo fica a apenas 10 cm de galgar o dique.

No caso da Alternativa 3, para esta condição de chuva de TR 200 anos, a lâmina


de água máxima que verte sobre a crista do dique é mais significativa do que no cenário
de TR 100 anos, atingindo 14 cm, causando prejuízos nas células urbanizadas, que
atingem alturas de inundação consideradas pela metodologia de cálculo, como é
possível ver na Tabela 7.2 mais a frente.

No caso da Alternativa 2, a lâmina de água máxima é ainda maior, atingindo 23


cm na passagem sobre o dique, causando enormes prejuízos nas células urbanizadas,
pois atinge alturas de inundação maiores, como é possível ver na Tabela 7.3,
apresentada na sequência.

Figura 7.19 - Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR de
200 anos.

Verificou-se que o volume extravasado do rio Iguaçu para dentro do pôlder,


considerando a Alternativa 3 de projeto com TR 200 anos, foi de 963.249 m3. Este valor
é muito parecido com o cenário da Alternativa 2 para TR 100 anos. Ocorre a mesma

84
situação: o pôlder do Pilar não possui capacidade de armazenar (com seus reservatórios-
pulmão) esta vazão vertida, se mostrando ineficiente frente a esta situação, o que causa
um alagamento considerável das células urbanizadas e consequentemente grandes
prejuízos. A Figura 7.20 mostra as células afetadas dentro do pôlder do Pilar para a
Alternativa 3. Neste caso, apenas 3 células não tiveram alagamentos consideráveis, por
possuírem cota de fundo um pouco mais elevada.

Figura 7.20 - Células afetadas pela inundação no pôlder do Pilar, para o cenário de cheia da
Alternativa 3 - TR 200 anos. Fonte: Google Earth (2014).

No caso da Alternativa 2, solução de projeto mais desfavorável, houve um


grande alagamento das células urbanizadas. O volume vertido para dentro do pôlder foi
de 2.471.401 m3 (quase o triplo do cenário para TR 100 anos), muito superior à
capacidade de armazenamento do pôlder do Pilar, que é de aproximadamente 651.634
m3. Este volume gerou lâminas de água máximas de até 1,10 m dentro do pôlder, o que
causa enormes prejuízos e torna a situação do pôlder caótica.

Para este cenário de chuva de TR 200 anos (maior condição de chuva) e


condição de projeto da Alternativa 2, todas as 13 células urbanizadas foram afetadas no
pôlder do Pilar, pois apresentaram alturas de inundação iguais ou maiores que 20 cm. A

85
Figura 7.21 mostra todas as células afetadas por este cenário, o mais desfavorável de
todos.

Figura 7.21 – Todas as 13 células afetadas pela inundação no pôlder do Pilar, para o pior cenário de
cheia (Alternativa 2 – TR 200anos).

A Tabela 7.2 (Alternativa 3) e a Tabela 7.3 (Alternativa 2) mostram todos os


dados levantados e utilizados para calcular os prejuízos no Pôlder do Pilar através das
funções que geraram as curvas de alturas de inundação x prejuízos adaptadas de
Salgado (1995), que culminaram em um prejuízo total estimado de 47,285 milhões e
95,722 milhões de reais, respectivamente.

Nesta condição de chuva, para a Alternativa 3, coincidentemente, as mesmas 10


células do cenário da Alternativa 2 - TR 100 anos foram afetadas no pôlder do Pilar.
Ressalta-se que houve coincidência, porém, para condições de chuvas diferentes,
confirmando que a Alternativa 2 é a pior solução de projeto para o pôlder do Pilar.

86
Tabela 7.2 - Prejuízos às edificações e aos conteúdos das residências para a Alternativa 3 e TR 200 anos no pôlder do Pilar.
Valor do Valor do
Valor total do
Pilar altura de fator função custo área total prejuízo à fator função - custo prejuízo ao Valor Total
número de área média prejuízo no
Alternativa 3 inundação - prejuízo à unítario construída edificação prejuízo ao unítario conteúdo do prejuízo
casas (m²) Pôlder (Milhões
TR 200 (m) edificação (R$/m²) (m²) (Milhões de conteúdo (R$/m2) (Milhões de por cela
de R$)
R$) R$)
Cela 43 128 99.71 0.37 0.084 1243.83 12763.01 1.33 0.439 126.984 0.71 2.04
Cela 44 221 102.51 0.32 0.065 1243.83 22654.11 1.83 0.420 126.984 1.21 3.04
Cela 40 174 72.86 0.42 0.103 1243.83 12677.81 1.62 0.459 126.984 0.74 2.36
Cela 42 118 96.51 0.42 0.103 1243.83 11388.12 1.46 0.459 126.984 0.66 2.12
Cela 47 784 104.04 0.37 0.084 1243.83 81566.97 8.52 0.439 126.984 4.55 13.07
47,285
Cela 46 473 95.98 0.32 0.065 1243.83 45398.78 3.67 0.420 126.984 2.42 6.09
Cela 38 252 99.73 0.42 0.103 1243.83 25131.46 3.22 0.459 126.984 1.46 4.68
Cela 48 322 103.49 0.42 0.103 1243.83 33323.14 4.27 0.459 126.984 1.94 6.21
Cela 51 226 121.67 0.22 0.021 1243.83 27496.72 0.72 0.378 126.984 1.32 2.04
Cela 53 283 106.56 0.42 0.103 1243.83 30157.50 3.86 0.459 126.984 1.76 5.62

87
Tabela 7.3 - Prejuízos às edificações e aos conteúdos das residências para a Alternativa 2 e TR 200 anos no pôlder do Pilar.

Valor do Valor do
Valor total do
Pôlder do altura de fator função - custo área total prejuízo à fator função - custo prejuízo ao Valor Total
número de área média Pôlder do
Pilar - inundação prejuízo à unítario construída edificação prejuízo ao unítario conteúdo do prejuízo
casas (m²) Pilar (Milhões
Alternativa 2 (m) edificação (R$/m²) (m²) (Milhões de conteúdo (R$/m2) (Milhões de por cela
de R$)
R$) R$)
Cela 43 128 99.71 1.05 0.147 1243.83 12763.01 2.33 0.701 126.984 1.14 3.47
Cela 44 221 102.51 1.00 0.143 1243.83 22654.11 4.03 0.698 126.984 2.01 6.04
Cela 45 201 97.11 0.70 0.138 1243.83 19519.91 3.35 0.499 126.984 1.24 4.59
Cela 49 305 97.71 0.80 0.140 1243.83 29801.25 5.19 0.540 126.984 2.04 7.23
Cela 50 69 117.75 0.75 0.139 1243.83 8124.72 1.40 0.500 126.984 0.52 1.92
Cela 40 174 72.86 1.10 0.151 1243.83 12677.81 2.38 0.703 126.984 1.13 3.51
Cela 42 118 96.51 1.10 0.151 1243.83 11388.12 2.14 0.703 126.984 1.02 3.16 95.722
Cela 47 784 104.04 1.05 0.147 1243.83 81566.97 14.91 0.701 126.984 7.26 22.17
Cela 46 473 95.98 1.00 0.143 1243.83 45398.78 8.07 0.698 126.984 4.02 12.10
Cela 38 252 99.73 1.10 0.151 1243.83 25131.46 4.72 0.703 126.984 2.24 6.96
Cela 48 322 103.49 1.10 0.151 1243.83 33323.14 6.26 0.703 126.984 2.97 9.23
Cela 51 226 121.67 0.90 0.141 1243.83 27496.72 4.82 0.620 126.984 2.16 6.99
Cela 53 283 106.56 1.10 0.151 1243.83 30157.50 5.66 0.703 126.984 2.69 8.35

88
7.5.5 Comparação dos resultados e Discussão final

As figuras e tabelas em sequência mostram um resumo dos diversos resultados


para todos os cenários simulados.

A Figura 7.22 mostra que a Alternativa 1 é a melhor solução de projeto. Porque


em nenhuma das quatro situações de Tempo de Recorrência de chuva houve
extravasamento do rio Iguaçu para o pôlder do Pilar. Sempre esta Alternativa
apresentou níveis de água máximos mais baixos que as outras duas alternativas.

Figura 7.22 – Níveis de água do rio Iguaçu para os diferentes TRs - Alternativa 1.

O gráfico da Figura 7.23 mostra que, no caso da Alternativa 2, para TRs acima
de 25 anos já há vertimentos para o pôlder, o que é preocupante, do ponto de vista de
risco de inundação. E para TR 25 anos (recomendação de projeto) o rio Iguaçu fica a
apenas 11 cm de galgar o dique, o que não é desejável. Recomenda-se um bordo livre
maior, como o adotado pelo Projeto Iguaçu, de 0,50 m.

89
Figura 7.23 – Níveis de água do rio Iguaçu para os diferentes TRs - Alternativa 2.

Já a

Figura 7.24 confirma que a Alternativa 3 é um meio termo entre as outras duas,
pois ocorre extravasamento para o pôlder somente a partir de TR 100 anos.

Figura 7.24 – Níveis de água do rio Iguaçu para os diferentes TRs - Alternativa 3.

90
A Tabela 7.4 mostra o nível de água máximo na célula 10 do rio Iguaçu (ponto
mais critico de extravasamento para o pôlder do Pilar) para todos os doze cenários
simulados. Os diques que margeiam esta célula possuem cota de projeto de 2,2 m, logo,
destacou-se em negrito os casos em que o NA máximo do rio supera esta cota dos
diques, ocorrendo extravasamentos, e realçou-se em verde os casos em que estes
extravasamentos causam prejuízos significativos.

Tabela 7.4 – NA máximo (m) na célula 10 para todos os cenários de simulação.

Alternativa 1 Alternativa 3 Alternativa 2


TR 25 1.64 1.89 2.09
TR 50 1.81 2.14 2.28
TR 100 1.95 2.27 2.36
TR 200 2.09 2.34 2.43

Já a Tabela 7.5 indica os volumes, em metros cúbicos, vertidos para dentro do


pôlder do Pilar para cada cenário simulado. Destaca-se em negrito as situações em que o
pôlder não suporta o volume vertido, causando prejuízos significativos.

Tabela 7.5 – Volumes vertidos do rio Iguaçu para o pôlder do Pilar (m3).

Alternativa 1 Alternativa 3 Alternativa 2


TR 25 0 0 0
TR 50 0 0 184.498
TR 100 0 184.708 996.853
TR 200 0 963.249 2.471.401

Observando a Tabela 7.6, verifica-se um grande aumento (102%) no prejuízo, no


pior cenário, quando se opta por uma solução generalizada de diques como forma de
proteção contra as cheias (Alternativa 2), quando comparada à situação atual
(Alternativa 3), que é o meio termo. Enquanto a Alternativa 1, mais favorável, não
apresenta prejuízos significativos contabilizados pelo método de cálculo utilizado nesta
dissertação.

91
Tabela 7.6 - Prejuízo total e diferença entre as Alternativas 2 e 3 para o pôlder do Pilar -
TR 200 anos.

Alternativa 2 Alternativa 3
TR 200 anos
altura de inund. prejuízo altura de inund. prejuízo
Cela 43 1.05 3.47 0.37 2.04
Cela 44 1 6.04 0.32 3.04
Cela 45 0.7 4.59
Cela 49 0.8 7.23
Cela 50 0.75 1.92
Cela 40 1.1 3.51 0.42 2.36
Pilar

Cela 42 1.1 3.16 0.42 2.12


Cela 47 1.05 22.17 0.37 13.07
Cela 46 1 12.10 0.32 6.09
Cela 38 1.1 6.96 0.42 4.68
Cela 48 1.1 9.23 0.42 6.21
Cela 51 0.9 6.99 0.22 2.04
Cela 53 1.1 8.35 0.42 5.62
Prejuízo Total (R$ Mi) 95.722 47.285
Diferença de prejuízo 102.44%

Com o confinamento do rio Botas pelos diques e com o pôlder Cidade dos
Meninos da forma como está implantado, sem seu uso como armazenamento natural das
cheias - Alternativa 2, o rio Iguaçu extravasou gradativamente para o pôlder do Pilar em
eventos que superam o horizonte de projeto, causando enormes prejuízos no cenário de
maior ocorrência de chuva, quando comparado com a Alternativa 3 e 1 (que não causa
prejuízos).

SIMULAÇÃO DE ALTEAMENTO DE DIQUES DO RIO IGUAÇU DE FORMA


GENERALIZADA COMO SOLUÇÃO CONTRA CHEIAS PARA O PÔLDER DO
PILAR

Com o objetivo de visualizar a necessidade de alteamento generalizado dos


diques como forma de proteção e solução para o pior cenário simulado, foi realizada
uma nova simulação, a partir da base de modelagem deste cenário (Alternativa 2 com
TR 200 anos), considerando alturas de vertimento (de ligação entre células) bem
maiores que as definidas pelo projeto, para se obter as lâminas de água máximas em

92
cada célula de rio para esta condição hipotética. Desta forma, este cenário considerou o
rio Iguaçu totalmente canalizado (todas as comunicações com suas planícies e
possibilidade de vertimentos para os pôlderes foram “fechadas”) dentro da área de
interesse.

Foram observadas lâminas de água de até 55 cm maiores do que as do pior


cenário (Alternativa 2 - TR 200 anos).

Os diques precisariam ser alteados conforme valores da Tabela 7.7. Os valores


são apresentados sem considerar o bordo livre (freeboard) de 0,5 m adotado pelo
Projeto Iguaçu (2010) e considerando o bordo livre de 0,5 m.

Tabela 7.7 – Alteamento necessário dos diques que margeiam o rio Iguaçu entre as células 6 e 10,
com e sem o bordo livre de 0,5 m.
Células de rio (canal) 6 7 8 9 10
NA máx com alteamento 2.49 2.59 2.64 2.90 2.98
cotas de projeto dos diques 2 2.2 2.2 2.2 2.2
Alteamento necessário sem
0.49 0.39 0.44 0.70 0.78
bordo livre (m)
Alteamento necessário com
0.99 0.89 0.94 1.20 1.28
bordo livre (m)

Este cenário pode ser considerado muito desfavorável, pois os diques


precisariam ser alteados de forma considerável e com reforço estrutural. No ponto mais
crítico, com bordo livre, o dique precisaria ter mais 1,28 m de altura, o que
incrementaria bastante os custos de implantação e manutenção do sistema de diques.

Para este caso específico de simulação, verificou-se que não há necessidade de


altear os diques a montante da célula 10 (sem considerar a necessidade de bordo livre),
ou seja, na região dos pôlderes do Outeiro e Amapá, mesmo verificando que houve
aumento dos NA máximos nestes pontos a montante, principalmente nas células
próximas ou vizinhas a 10, como as células 11 e a 12. Considerando a necessidade de
ter um bordo livre de 0,5 m, os diques precisariam ser alteados em alguns pontos.

O resultado da simulação hipotética de alteamento de diques como solução para


proteger os pôlderes para o pior cenário de chuva e pior Alternativa de projeto, mostra
que seria necessário um investimento muito alto, associado a um risco residual maior,
que não se justifica quando comparado com as Alternativas 1 e 3 de projeto, que
evitariam/minimizariam essa necessidade investimento.

93
8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho teve como objetivo avaliar o comportamento da variação do risco


de inundações no caso concreto da implantação do Projeto Iguaçu e de alternativas deste
projeto, na região dos Pôlderes Cidade dos Meninos, Outeiro, São Bento e Pilar,
atualizando este para as cheias associadas às chuvas com tempo de recorrência de 25
anos, conforme sugestão do Ministério das Cidades para projetos de macrodrenagem,
acrescentando também na análise, os Tempos de Recorrência (TR) de 50, 100 e 200
anos. Com esses tempos de recorrência maiores, se esperava que as algumas
Alternativas de projeto falhassem (o que de fato ocorreu), de forma a se fazer uma
análise comparativa entre soluções tradicionais de controle de cheias frente à
possibilidade de requalificação fluvial de trechos dos rios escolhidos para o caso de
estudo. As Alternativas de projeto propostas, partindo do Projeto Iguaçu, foram:

1. Considera a foz do rio Botas da forma como está, “aberta” e se comunicando


com sua planície de inundação, respaldada pelo zoneamento da Área de
Proteção Ambiental (APA) do Alto Iguaçu. Acrescentando a proposta
específica do Projeto Iguaçu (2010) que visava abrir o pôlder Cidade dos
Meninos, possibilitando a conexão do rio Iguaçu com uma de suas planícies de
inundação, considerando o conceito de requalificação fluvial para
amortecimento das cheias e diminuição de riscos hidráulicos;
2. Contempla a solução tradicional de diques e pôlderes de forma generalizada,
como um cenário hipotético para o controle de cheias. Esta proposta de projeto
consiste em “fechar” a comunicação do rio Botas com suas margens
(simulando a presença de diques que não existem), para sua posterior
urbanização e manter o pôlder Cidade dos Meninos com diques (fechado),
conforme situação presente;
3. Considera a situação atual de implantação do Projeto Iguaçu, com o dique do
pôlder Cidade dos Meninos fechado, e a foz do Rio Botas aberta, conectando-
se com suas planícies de inundação. É um meio termo entre as outras duas
Alternativas de projeto.

Os resultados obtidos através da modelagem hidrodinâmica com o MODCEL


permitiram gerar as alturas de inundação nas células dos pôlderes da área de estudo,

94
permitindo os cálculos de prejuízos pela metodologia proposta anteriormente por
Salgado (1995) e atualizada neste trabalho, que se mostrou satisfatória para comparação
das alternativas e horizontes de projeto, quanto ao risco em termos de prejuízos gerados
na presença de eventos mais críticos do que o definido em projeto (TR 25 anos).
Destaca-se que, aqui, o risco foi associado ao cômputo dos prejuízos gerados às
residências e seus conteúdos.

A hipótese de trabalho propôs que a execução de obras de controle de cheias,


sem a visão sistêmica do funcionamento da bacia hidrográfica e limitando as funções
naturais do rio na sua conexão com as planícies de inundação, pode gerar o
agravamento de risco e potencializar danos no longo prazo. Essa hipótese foi proposta
como forma de alerta para a necessidade de manutenção e recuperação de área de
armazenamento, como proposto no Projeto Iguaçu.

Pode-se afirmar que esta hipótese foi verificada, pois com o confinamento do rio
Botas pelos diques e com o pôlder Cidade dos Meninos da forma como está implantado,
sem seu uso como armazenamento natural das cheias, o rio Iguaçu extravasou muito
para o pôlder do Pilar em eventos que superam o horizonte de projeto, causando
enormes prejuízos, quando comparados com as alternativas mais naturais, de manter
planícies de inundação e requalificar trechos de rios.

A partir dos resultados obtidos, foi possível concluir que, para o TR de 25 anos,
o pôlder em estudo, ainda é capaz de suportar os eventos de cheias, mesmo para a pior
Alternativa de projeto (2), embora em alguns pontos os diques estivessem apenas a
poucos centímetros de serem galgados, conforme mostrado na análise dos resultados.
Cabe ressaltar que, para o TR de 50 anos, apenas na Alternativa 2 o pôlder do Pilar
sofre influência do extravasamento do rio, porém os seus reservatórios-pulmão ainda
teriam capacidade para suportar o volume vertido. A partir desta chuva ele começa a
funcionar próximo do limite. O mesmo ocorre para o cenário de TR 100 anos –
Alternativa 3. Isso mostra que a situação atual de implantação do projeto Iguaçu suporta
uma chuva maior do que a Alternativa 2 de projeto, que por sua vez simula uma
situação hipotética preocupante (mas passível de ocorrer) de expansão urbana na foz do
rio Botas e no pôlder Cidade dos Meninos.

95
Conforme mencionado anteriormente, no caso da Alternativa 3 não houve
vertimento do rio Iguaçu para o pôlder nas situações com chuvas de TR 25 e 50 anos, o
que condiz com as premissas do Projeto Iguaçu, devido também ao bordo livre adotado
de 0,5 m. Já para TR 100 anos, ainda considerando a Alternativa 3, houve vertimento
para o pôlder do Pilar, que suportou esta cheia sem prejuízos significativos, visto que os
reservatórios-pulmão não extravasaram para as áreas urbanizadas. Entretanto, para a
Alternativa 3 - TR 200 anos o pôlder não suportou a grande vazão vertida e a área
urbanizada alagou, acarretando um prejuízo total estimado de 47,28 milhões de reais,
em termos de danos às residências e seus conteúdos. Curiosamente, no cenário da
Alternativa 2 – TR 100 anos, as alturas de inundação das células do pôlder foram
praticamente iguais as do cenário supracitado, o que resultou no mesmo valor de
prejuízo total estimado: 47,28 milhões de reais. Isto se justifica com o fato de que na
Alternativa 2 (com a foz do rio Botas sem conexão com suas planícies) a condutância
após a confluência dos rios Botas e Iguaçu (em direção ao Pilar) é maior, e este valor a
mais de vazão é muito parecido com o incremento de vazão que a chuva de TR 200
anos proporciona em relação à chuva de TR 100 anos, no caso da Alternativa 3 de
projeto.

Em relação à Alternativa 1 de projeto, proposta pelo Projeto Iguaçu, esta foi a


que apresentou os melhores resultados sob a ótica de controle de cheias e risco de
inundação, por ter maior extensão de comunicação dos rios com as suas planícies de
inundação, utilizando a lógica da requalificação fluvial em alguns trechos dos rios
estudados. Os resultados mostraram uma redução significativa no nível d'água máximo
do rio Iguaçu, quando comparado com as Alternativas 2 e 3. Não ocorreu vertimento
para o pôlder do Pilar em nenhum cenário de chuva, ou seja, esta Alternativa suporta
cheias de até 200 anos de TR, apesar do NA máximo ficar próximo à crista do dique (10
cm).

A Alternativa 1 poderia ser executada, uma vez que a foz do rio Botas já se
encontra desocupada por ser Zona de Controle de Cheias (ZCC) da APA do Alto Iguaçu
e há poucas famílias para serem realocadas na Cidade dos Meninos. No entanto, há uma
condicionante para aceitação do órgão ambiental competente quanto à abertura do
Pôlder da Cidade dos Meninos, que só poderia ser executada após a remediação
ambiental da área, que no passado foi contaminada com organoclorados, o que ainda

96
não ocorreu. Caso ocorresse, essa região, que atualmente está sob o domínio da União,
poderia ser incorporada no Plano Diretor de Recursos Hídricos da Baixada Fluminense,
a exemplo da foz do rio Botas, com fins de redução de riscos de inundação e controle de
cheias, diminuindo a necessidade de implantação de novas obras que contemplem
soluções tradicionais de controle de cheias, reduzindo gastos com a implantação e
manutenção destas, bem como reduzindo consideravelmente os prejuízos decorrentes de
alagamentos.

Quando a solução da Alternativa 2 é privilegiada, além de ter potencial para


transferir e agravar inundações e causar enorme prejuízos, é também um passo mais
distante dos sistemas mais naturais. Para o cenário de chuva de TR 200 anos, todas as
13 células urbanizadas foram afetadas no pôlder do Pilar, pois apresentaram lâminas de
água iguais ou acima de 20 cm, totalizando um prejuízo estimado de 95,72 milhões de
reais, mais do que o dobro quando comparado à Alternativa 2 – TR 100 anos. Trata-se
do pior cenário, que consequentemente causa o maior prejuízo.

A Tabela 8.1 resume os casos em que o pôlder do Pilar suporta ou não os


cenários de cheias para as diferentes alternativas de projeto. Destaca-se em negrito os
casos em que há vertimento do rio Iguaçu, e em verde os casos em que os reservatórios-
pulmão não suportam a vazão vertida (NA máximo maior que a cota de arrasamento de
projeto) e extravasam para as áreas urbanizadas do pôlder, causando prejuízos.

Tabela 8.1 – NA máximo (m) nas células 113 e 114, que representam os reservatórios-pulmão do
pôlder do Pilar, para todos os cenários de simulação e cota de arrasamento para a área urbanizada.

Alternativa 1 Alternativa 3 Alternativa 2 cota de arrasamento


TR 25 0,49 0,49 0,49 1,10
TR 50 0,53 0,53 0,80 1,10
TR 100 0,56 0,82 1,52 1,10
TR 200 0,60 1,52 2,20 1,10

Enfatiza-se que a manutenção das cotas e estrutura dos diques dos pôlderes, em
geral, são fundamentais, mas no caso dos pôlderes do Pilar e São Bento (localizados a
jusante dos demais) é necessária uma atenção especial, pois, em caso de falhas os danos
podem ser drásticos.

97
Este trabalho não teve como objetivo avaliar os custos de implantação das três
alternativas de projeto. Porém, pode-se afirmar que a Alternativa 2 seria a mais onerosa,
por ser necessária a implantação de diques em ambas margens de um extenso trecho da
foz do rio Botas e com alturas e volumes significativos de aterro compactado para a
construção destes, além de estar atrelada a altos custos de manutenção a curto, médio e
longo prazo. Portanto, além de ser a Alternativa que potencialmente mais causa
prejuízos dentre os cenários simulados, é ainda a mais onerosa para se implantar e ser
mantida. Enquanto a Alternativa 1, que se mostrou mais favorável na avaliação de
prejuízos, teria um pequeno custo para ser implantada e teria menores custos de
manutenção do que as Alternativas 2 e 3, a médio e longo prazo. Porém, para a sua
implantação haveria o custo da remediação ambiental supracitada, que gira entorno de
80 milhões de reais, conforme Ambios (2002), o que não seria de responsabilidade do
Estado do Rio de Janeiro ou dos municípios, mas sim do Ministério da Saúde (União) –
responsável pela contaminação. A Alternativa 3, por se tratar da situação atual de
implantação do Projeto Iguaçu, não teria mais custos de implantação (além do que já foi
investido), mas teria custos um pouco maiores de manutenção do que a Alternativa 1 e
muito menores do que a Alternativa 2. Esta Alternativa apresentou prejuízos de
inundação de 47,28 milhões de reais apenas no caso da chuva de TR 200 anos (suporta
cheias de até TR 100 anos sem maiores prejuízos), mas não tem a condicionante de ter
que remediar a Cidade dos Meninos.

Corroborando com as conclusões apresentadas, Tucci (2003) já destacava que o


paradoxo era que os países ricos verificavam que os custos de canalização e de condutos
eram muito altos e abandonavam esse tipo de solução (desde 1970), enquanto países
pobres adotavam e adotam sistematicamente essas medidas, perdendo duas vezes: com
custos muito maiores para implantação e aumento dos prejuízos decorrentes das
inundações. Como exemplo ele cita os casos do rio Tamanduateí em São Paulo, onde o
custo da canalização foi de US$ 50 milhões por quilômetro (com o retorno das
inundações), e do rio Arrudas em Belo Horizonte, em que o custo chegou a US$ 25
milhões por quilômetro e, logo após sua conclusão, sofreu inundações. Valores estes
muito elevados.

Os resultados obtidos por esta dissertação refletem as condições do Projeto


Iguaçu, que está em implantação, conforme mencionado no decorrer do texto. Por

98
exemplo: cotas de diques, cotas de arrasamento da área urbanizada, cotas e áreas dos
reservatórios-pulmão, reassentamento de famílias, entre outras. Portanto, estas
condições devem estar (ou serem) implantadas conforme as indicações de projeto, para
que os resultados obtidos sejam válidos, conforme calculados, caso contrário, a
modelagem deve ser revisada e refeita para os novos dados do projeto as built (caso
haja alterações relevantes).

Por fim, conclui-se que a Alternativa 2 jamais deveria ser privilegiada, apesar de
ser a solução de engenharia mais tradicional, ela é a mais desfavorável em todos os
aspectos, principalmente nos aspectos econômicos que foram avaliados, o que justifica
plenamente a sua não aplicação pelo poder público. Isso também mostra que o
paradigma de “aplicação das soluções tradicionais de engenharia para drenagem
urbana” está sendo rompido, enquanto as soluções mais sustentáveis de drenagem
urbana e requalificação fluvial ganham espaço cada vez mais, por apresentarem
melhores resultados, trazendo vários benefícios associados para os rios e seus entornos,
como melhorias de qualidade de água, dos ecossistemas fluviais e da geomorfologia dos
rios, além da redução do risco hidráulico (objeto deste estudo).

RECOMENDAÇÕES

Uma recomendação de estudo futuro seria a de simular um cenário de ruptura de


algum dos diques dos pôlder do Pilar como referência, e recalcular os prejuízos
associados a essa situação extrema, que seria associada a um galgamento importante do
dique que o desestabilizasse estruturalmente, ou seja, esta seria uma situação possível de
ocorrer em qualquer caso de falha grave do sistema de diques, em que houvesse uma
vazão considerável vertida pela sua crista, o que corresponde a alguns dos cenários
simulados.

Também para estudos futuros, recomenda-se fazer uma revisão dos estudos
hidrológicos utilizados no âmbito do Projeto Iguaçu (Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do rio Iguaçu-Sarapuí de 1996), principalmente do Coeficiente de
Redução (CR) ponto-área, devido à distribuição espacial da chuva sobre a bacia
estudada, em que foram utilizadas curvas de redução ponto-área desenvolvidas pela

99
SERLA/Sondotécnica a partir de um estudo de temporais ocorridos no Rio de Janeiro
em 1966 e 1967.

Uma outra recomendação que se faz importante é sobre a rede de monitoramento


hidrológico, que deve ser ampliada, com a instalação, principalmente, de novas estações
fluviométricas com transmissão de dados por telemetria, para se aprimorar o banco de
dados dos órgãos responsáveis (como o INEA) e aprimorar estas informações em tempo
real, possibilitando também a modelagem hidrodinâmica em tempo real, e assim
melhorando o Sistema de Alerta de Cheias do INEA (por exemplo) como um todo.

Informações que vão ao encontro desta recomendação são mencionadas por


Miguez (2001), quando o autor refere-se à necessidade de uma base de dados
consistente, como algo fundamental na representação de uma bacia por um modelo
matemático, assim como no projeto de obras diversas de controle de cheias. Miguez
também destaca outros fatores importantes para a qualidade dos resultados obtidos,
como um monitoramento hidrológico detalhado e um cadastro técnico atualizado e
confiável.

O planejamento urbano das cidades da Baixada Fluminense deve ser integrado


com os planos diretores de recursos hídricos. Um olhar sistêmico da bacia hidrográfica
como um todo é fundamental. Recomenda-se a preservação e manutenção das Zonas de
Contenção de Cheias da APA do Alto Iguaçu, como por exemplo, na foz do Rio Botas.
Se o município de Belford Roxo “perder” esta área para a especulação imobiliária
(expansão urbana desordenada), os prejuízos podem ser enormes para as comunidades
que se encontram a jusante desta área. Este trabalho mostrou que se deve dar valor as
conectividades dos rios com suas planícies de inundação, como o caso da foz do rio
Botas e da Cidade dos Meninos. Neste sentido, sugere-se um estudo de implementação
de novas conexões com planícies de inundação em toda a bacia do rio Iguaçu (sempre
que houver possibilidade), para analisá-la de forma sistêmica.

Recomenda-se, também, a implantação de parques fluviais, ou outros tipos de


construções à prova de inundação, em áreas destinadas a reservatórios e em faixas
marginais de proteção, evitando a ocupação irregular e desordenada de áreas de risco de
inundações.

100
Por fim, a União em conjunto com o Estado deve dar uma solução para a
questão da remediação ambiental da Cidade dos Meninos. Da forma como está oferece
riscos à população e ao meio ambiente, e não possibilita um uso mais sustentável – do
ponto de vista hidrológico, hidráulico e urbano - para a bacia hidrográfica do rio Iguaçu.

101
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