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Rio de Janeiro
Dezembro de 2014
Pessina, Gabriel de Lyra
Análise de Risco de Inundações em Termos de
Prejuízos Gerados na Presença de Eventos mais Críticos
que o Definido em Projeto: Aplicação ao Rio Iguaçu -
Baixada Fluminense / RJ / Gabriel de Lyra Pessina. – Rio
de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2014.
V, 108p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Marcelo Gomes Miguez
Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de
Engenharia Civil, 2014.
Referências Bibliográficas: p. 102-108.
1. Risco de Inundação. 2. Modelagem Matemática. 3.
Requalificação Fluvial. 4. Pôlder. 5. Prejuízo. 6. Risco
Residual. I. Miguez, Marcelo Gomes. II. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de
Engenharia Civil. III. Título.
iii
Dedico a toda minha família, pelo amor, carinho e
apoio, fundamentais na minha formação e educação, em
especial a minha mãe Ana Luiza de Lyra Vaz, meu pai
Leonardo Roque Pessina Bernini, meu irmão Antonio de
Lyra Pessina, e ao mais novo integrante, meu sobrinho-
afilhado Francisco Bohm de Lyra Pessina.
iv
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Paulo Canedo de Magalhães, que muito contribuiu para este trabalho,
com suas ideias sempre pertinentes e inteligentes, seu vasto conhecimento sobre o tema
e o local de trabalho, desde a época em que foi meu mestre, depois na qualificação e
finalmente na banca.
v
À COPPE e UFRJ, pela oportunidade de um ensino de qualidade.
A toda a equipe e amigos do INEA, inclusive aos chefes que colaboraram com
as liberações para esta importante atividade de capacitação e, em especial, ao amigo
Edson Falcão pelas informações e apoio concedidos.
Aos meus Tios, Vera Maria e Mario Elian, por sempre terem me acolhido como
filho em seus lares. Considero vocês meus segundos pais. A todos meus Irmãos, Tios,
Primos e Sobrinhos do Rio de Janeiro e do Uruguai. Saudades dos que estão longe.
Aos meus amigos de longa data, Glauco Ladik Antunes, Fernando Fenelon e
Guilherme Senna, que me apoiaram nos momentos mais difíceis, ajudando em algumas
tarefas fundamentais.
A Deus, por ter me dado forças para superar os obstáculos do ano de 2014, com
certeza o mais difícil da minha vida, sempre tive fé que tudo iria correr bem.
vi
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Dezembro/2014
vii
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
December/2014
viii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 1
6. METODOLOGIA .................................................................................................... 41
ix
7. CASO DE ESTUDO: RIO IGUAÇU ..................................................................... 66
7.1 Diagnóstico preliminar das cheias que afetam a área de estudo ......................... 67
x
1. INTRODUÇÃO
1.1 Contexto
1
Nilo), Harapa (na bacia do rio Indu) e Roma (nascida junto ao rio
Tibre).
Ainda segundo Sayers et al. (2013), ao longo dos anos de 1960 a 1980, o
principal meio de mitigar os impactos de inundações permaneceu sendo o controle de
inundações tradicional (através de obras típicas de engenharia hidráulica, como
barragens, diques, pôlderes, canais de desvio e estruturas relacionadas). Como as
populações foram crescendo e se desenvolvendo nas planícies de inundação, os danos
causados por inundações continuaram aumentando, bem como a necessidade de
enfrentar estas inundações de forma diferente tornou-se mais evidente. Neste contexto,
foi necessária uma nova abordagem, que passou a utilizar o conceito de risco na prática
(em tomadas de decisões) e não apenas na teoria.
2
Essa dissertação pretende discutir este problema em um caso de estudo na bacia
dos rios Iguaçu-Sarapuí, especificamente no trecho médio do rio Iguaçu, desde a foz do
rio Botas até as proximidades da rodovia Washington Luiz, localizada na Baixada
Fluminense. Este trecho do rio Iguaçu contempla os pôlderes do Amapá, Cidade dos
Meninos e Pilar, situados na margem esquerda do rio Iguaçu, e os pôlderes do Outeiro e
Núcleo São Bento, situados na margem direita. Com exceção do pôlder do Outeiro, que
se situa no município de Belford Roxo, todos os demais se situam em Duque de Caxias.
O pôlder Núcleo São Bento se situa na faixa marginal direita do rio Iguaçu, no
trecho a jusante da Avenida Presidente Kennedy, na divisa entre os municípios de
Duque de Caxias e Belford Roxo. Essa área contém os bairros conhecidos como Nossa
Senhora das Graças e Boa Esperança, no município de Duque de Caxias. A região da
bacia hidrográfica contribuinte para o Pôlder do São Bento possui ocupação variando de
3
baixa a média densidade, apresentando desde ocupações irregulares (que vem se
tornando mais constantes) a loteamentos regularizados dotados de equipamentos
urbanos e estrutura de saneamento. As ocupações irregulares das áreas reservadas para
implantação dos reservatórios-pulmão reduziram consideravelmente o volume de
armazenagem previsto no âmbito do Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010).
O Pôlder do Pilar é delimitado pelo rio Iguaçu a oeste, pelo rio Pilar a leste e
pela Avenida Presidente Kennedy ao norte. Esta área apresenta alta densidade de
ocupação por habitações e, consequentemente, elevado nível de impermeabilização.
Segundo o Projeto Iguaçu (COPPETEC, 2010), a região, historicamente, sofreu
constantes inundações nas áreas baixas localizadas ao longo da margem do canal
auxiliar. Essas inundações ocorrem quando os escoamentos superficiais gerados pelas
chuvas precipitadas sobre a bacia coincidem com uma situação de nível d’água alto no
rio Iguaçu e assim impedem o deságue do canal auxiliar no rio Iguaçu.
1.2 Motivação
4
Segundo LABHID (1996) e Carneiro (2008), o caótico processo de urbanização
acarretou as seguintes consequências:
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sanitário e coleta de resíduos sólidos, o agravamento dos processos erosivos, a
obstrução ou comprometimento do escoamento em decorrência de estruturas de
travessias mal dimensionadas (pontes rodoviárias e ferroviárias, tubulações de água e
esgoto), muros e edificações que obstruem as calhas dos rios, são parte do cenário
caótico resultante do processo de uso e ocupação do solo na bacia dos rios Iguaçu-
Sarapuí e são os principais fatores que concorrem para o agravamento das inundações
na região e, consequentemente, para o agravamento das condições de insalubridade.
Portanto, a área entre o trecho médio do rio Iguaçu, desde a foz do rio Botas até
as proximidades da rodovia Washington Luiz, na Baía de Guanabara, merece uma
atenção especial quanto às intervenções para controle de inundações. Esta área abrange
os diversos pôlderes já mencionados, com destaque para o pôlder do Pilar, tomado
como referência principal de estudo.
O pôlder em questão foi o escolhido para o caso de estudo desta dissertação por
permitir explorar a discussão aqui proposta, em termos das interfaces entre controle de
inundações, planejamento urbano, redução de riscos e requalificação fluvial. Além
disso, tem como base um rol de informações e dados provenientes de projetos, planos
diretores de recursos hídricos, pesquisas e estudos sobre a bacia do rio Iguaçu-Sarapuí
como um todo e, inclusive, específicos para a própria área, que foram ou estão sendo
desenvolvidos pelo Laboratório de Hidráulica Computacional (LHC) e pelo Laboratório
de Hidrologia e Estudos do Meio Ambiente (LABHID), ambos do Instituto Alberto
Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (COPPE) da UFRJ.
Portanto, não se trata de um trabalho isolado, mas que vem complementar estes diversos
estudos, no que tange ao tema de requalificação fluvial associado à avaliação de risco de
inundações para diferentes eventos de cheias, quando comparado a métodos tradicionais
de controle de inundações, considerando, também, a hipótese destes eventos serem
superados (risco residual). De certa forma, pode-se dizer que esta dissertação propõe
6
avançar o quadro conceitual, acompanhando tendências internacionais, com a migração
do conceito de controle de cheias para a gestão do risco de cheias.
7
1.3 Hipótese de trabalho
Objetivos específicos:
8
implantação do Projeto Iguaçu, com o dique do pôlder Cidade dos Meninos fechado, e a
foz do Rio Botas aberta, conectando-se com suas planícies de inundação, respaldada
pelo zoneamento da Área de Proteção Ambiental (APA) do Alto Iguaçu, que definiu
esta área (entre outras) como Zona de Contenção de Cheia (ZCC), conforme o Art.3º do
Decreto Estadual 44.032 de 15 de janeiro de 2013.
9
Fazer uma revisão da metodologia utilizada por Salgado (1995) para quantificar os
prejuízos das inundações em áreas urbanas.
10
presente. Recalcular os prejuízos, para as diversas recorrências adotadas no estudo, a
partir da curva de prejuízo ajustada.
Buscar um meio termo entre as duas alternativas anteriores, avaliando também uma
Alternativa 3 de projeto, que contempla a situação atual de implantação do Projeto
Iguaçu, com o dique do pôlder Cidade dos Meninos fechado, e a foz do Rio Botas
aberta, conectando-se com suas planícies de inundação, conforme mencionado
anteriormente nos objetivos específicos. Essa alternativa pode vir a ser a mais
provável, em termos de previsão futura, tendo em vista o problema de contaminação
da área do pôlder Cidade dos Meninos e as pressões por desenvolvimento urbano na
região.
11
2. CHEIAS, INUNDAÇÕES E MANEJO DE ÁGUAS PLUVIAIS
URBANAS
12
processo de enchente que supera a capacidade da calha do rio e atinge as suas planícies
de inundação. A Figura 2.1 ilustra a diferença entre as enchentes e as inundações,
segundo Goerl e Kobiyama (2005).
Figura 2.1 - Elevação do nível de um rio provocada pelas chuvas, do nível normal até a ocorrência
de uma inundação (GOERL e KOBIYAMA, 2005).
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Conforme Miguez et al. (2012), as inundações são fenômenos naturais e
sazonais, que desempenham um importante papel ambiental, mas quando eles ocorrem
em ambientes construídos, sem controle, muitas perdas de diferentes tipos podem
ocorrer.
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A inundação urbana ocorre quando as águas dos rios, riachos e canais saem do
seu leito menor de escoamento e escoa através do seu leito maior que foi ocupado pela
população para moradia, transporte (ruas, rodovias e passeios), recreação, comércio,
indústria, entre outros. Isto ocorre quando a precipitação é intensa e o solo não tem
capacidade de reter e infiltrar a água precipitada, assim é gerado um grande volume
d'água que escoa para o sistema de drenagem, superando a capacidade do leito menor.
Este é um processo natural do ciclo hidrológico devido à variabilidade climática de
curto, médio e longo prazo. Estes eventos chuvosos ocorrem de forma aleatória em
função dos processos climáticos locais e regionais.
15
Dentro do conjunto de sistemas que envolvem o saneamento ambiental -
abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem de águas pluviais e coleta e
tratamento de lixo – fica evidente a necessidade de interação entre eles, pois se percebe
que são sistemas complementares, e não excludentes entre si. É essencial o correto
funcionamento de um para a eficiência ótima do outro. Desta forma, nota-se claramente
que se houver deficiência no sistema de coleta de lixo, por exemplo, o sistema de
drenagem não funcionará adequadamente. Assim como, o lançamento irregular de
esgoto sanitário na rede de drenagem pluvial também é um fator de degradação do
sistema (CARNEIRO e MIGUEZ, 2011).
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Dentro do processo de urbanização e crescimento das cidades, segundo Miguez
(2001), a própria calha secundária dos rios acaba recebendo obras de urbanização, com
ruas e até quadras inteiras tomando o seu espaço, o que agrava ainda mais o processo de
cheias, já comprometido pela disponibilização mais rápida de um volume maior de
água. Uma vez eliminado o espaço que deveria ser deixado livre para acomodação das
grandes enchentes, as águas acabam procurando outros caminhos, se espalhando e
atingindo regiões antes não alagáveis naturalmente.
17
se às obras de captação, armazenamento, laminação de cheias e transporte das águas
pluviais dentro de limites estabelecidos pela quantificação dos riscos e pelo
conhecimento prévio das ondas de cheia, ajustadas às condições locais por meio de
estruturas de contenção. Tais medidas incluem:
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início do século foram introduzidos reservatórios subterrâneos artificiais (conhecidos
como “piscinões”) destinados a reduzir enchentes em áreas urbanas consolidadas; seu
custo é, ainda, muito elevado. A Figura 2.3 ilustra um tipo de reservatório de detenção
implantado no município de São Paulo.
19
com medidas não estruturais, como um sistema de previsão e alerta de cheias em tempo
real (CARNEIRO e MIGUEZ, 2011).
Na Figura 2.4 pode-se observar o pôlder do Outeiro e o seu canal auxiliar (ou
canal de cintura) circundado por um dique-estrada na margem direita do rio Iguaçu,
dentro da área de estudo desta pesquisa. Na Figura 2.5 pode-se observar a estação
elevatória (bombeamento), localizada no ponto mais baixo do canal de cintura, para
possibilitar a drenagem do pôlder do Outeiro.
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Figura 2.4 – Pôlder do Outeiro à direita e a Cidade dos Meninos à esquerda em segundo plano, com
o rio Iguaçu cortando as duas áreas (ACERVO PESSOAL, 2012).
Figura 2.5 – Estação de bombeamento do pôlder para o rio Iguaçu – gradeamento de entrada
(ACERVO PESSOAL, 2012).
21
2.2 Medidas Não Estruturais de controle e minimização de inundações
22
Zoneamento de áreas inundáveis e restrições de uso do solo
Consiste em estabelecer restrições de uso do solo nas áreas ribeirinhas, mas para
isso é necessário desenvolver o mapa de inundação da cidade ou região, de acordo com
o perigo de inundação estabelecido para diferentes cotas destas áreas e ter estas
restrições bem regulamentadas por lei e fiscalizadas pelo poder público municipal.
Segundo Tucci (2007), a área de maior risco, conhecida como zona de passagem
das enchentes, deve ser completamente desobstruída, portanto, nada pode ser construído
neste local e as habitações pré-existentes devem ser realocadas pela prefeitura; esta área
poderia ter seu uso destinado à agricultura ou outro uso similar às condições naturais.
Neste sentido, Carneiro e Miguez (2011) propõem uma solução de uso sustentável para
esta área, com faixas de reserva florestal próximas às condições naturais (sempre que
possível).
23
Tucci (2007) descreve dois tipos de mapas de inundação: mapas de
planejamento, que definem as áreas afetadas por cheias de tempo de recorrência
determinados, e os mapas de alerta, utilizados junto aos sistemas de previsão e alerta de
cheias. Para o zoneamento e regulamentação do uso do solo o que interessa são os
mapas de planejamento.
- Há uma lacuna legal: deveria ser desenvolvida uma normativa mínima para
aplicação em todo o território federal.
No que tange aos Planos Diretores de Drenagem Urbana, Tucci (2007) salienta
que estes são um instrumento utilizado para planejar o controle dos impactos advindos
das enchentes urbanas dentro da cidade e orientar as ações de curto e longo prazo, para
possibilitar a obtenção de um desenvolvimento sustentável.
24
Tabela 2.1 - Medidas para controle das inundações. Fonte: REZENDE (2012), adaptado de
BAPTISTA et al. (2005).
25
3. REQUALIFICAÇÃO FLUVIAL
Dada esta deterioração progressiva dos rios europeus, a gestão integrada dos
mesmos tornou-se prioritária, e, com esse objetivo foi concebida a Diretiva Quadro da
Água - DQA (EU WATER FRAMEWORK DIRECTIVE 2000/60/EC). Para isso, a
DQA considera essencial uma melhor compreensão dos sistemas fluviais e estabelece
que os indicadores biológicos devem determinar, em última instância, o estado de
deterioração em que um corpo de água se encontra.
A DQA foi estabelecida pela União Europeia em 2000 para a proteção e a gestão
da água e tem como principal objetivo alcançar um “bom estado” ecológico de todas as
águas comunitárias até 2015. Neste contexto foram criados os Centros de
Requalificação Fluvial e Centros de Restauração Fluvial (River Restoration Centre). Os
aspectos inovadores da DQA se refletem em novas práticas e abordagens de
planejamento e gestão dos recursos hídricos em toda a União Europeia e passam a
influenciar outros países.
26
O termo requalificação fluvial, utilizado neste trabalho, tem origem no termo
italiano requalificazione fluviale e pode ser considerado sinônimo do termo em inglês
river rehabilitation. Segundo o Centro Italiano per la Riqualificazione Fluviale (CIRF,
2006), a requalificação fluvial é o conjunto sinérgico e integrado de técnicas e ações,
dos mais diversos tipos (desde aspectos jurídicos, administrativos e financeiros, até
aspectos estruturais), destinado a tornar um curso d’água e o seu entorno mais
conectado a ele ("sistema fluvial"), em um estado mais natural possível, capaz de
desempenhar as suas funções ecossistêmicas (geomorfológicas, físico-químicas e
biológicas) agregadas a um maior valor ambiental e buscando satisfazer, ao mesmo
tempo, os objetivos socioeconômicos.
Desta forma, requalificar rios é fundamental para possibilitar que outros usos
sejam novamente introduzidos no contexto fluvial urbano, em vez de sua utilização
apenas como corpo receptor de efluentes (tratados ou não) e de águas pluviais.
27
Figura 3.1 - A visão da requalificação fluvial
Fonte: JACOB (2013); adaptado de CIRF (2006).
28
controle de cheias e garantir ambientes mais saudáveis e naturais, bem como soluções
efetivas, econômicas, menos dependentes de manutenção e mais sustentáveis.
29
erosão sedimentação do solo e impedir o avanço da ocupação irregular das faixas
marginais dos rios.
30
4. RISCO DE INUNDAÇÕES
Segundo Gouldby e Samuels (2005), o termo “risco” não possui uma única
definição específica, mas sim uma gama variável de significados, de acordo com o tema
a que está relacionado, como, por exemplo, as questões econômicas, ambientais e
sociais. A adaptabilidade do conceito de risco é um dos seus pontos fortes. Por outro
lado, a dificuldade com o termo "risco" é que ele foi desenvolvido através de uma ampla
variedade de disciplinas e atividades, e isto pode gerar interpretações equivocadas em
um processo de avaliação de risco. Neste sentido, torna-se de suma importância definir
o conceito de risco para cada caso específico, previamente a qualquer análise. Não
menos importante é a distinção que existe entre os termos "perigo" e "risco".
Neste contexto, perigo refere-se à situação que tem potencial para causar danos e
ameaça a existência ou os interesses de pessoas, propriedades ou meio ambiente. Sendo
assim, destaca-se que o perigo é um evento inerente a determinada situação e não pode,
portanto, ser controlado ou reduzido. O risco, por sua vez, é passível de ser gerenciado,
alterando-se sua probabilidade ou suas consequências.
31
A componente do risco de cheia relativa à probabilidade pode ser associada ao
conceito de tempo de recorrência da chuva que dá origem à inundação (TR). O tempo
de recorrência de uma precipitação (medido em anos) designa o intervalo de tempo
médio em que este evento é igualado ou superado. É, também, o inverso da frequência
anual com que a precipitação é igualada ou superada. Desta forma, o tempo de
recorrência está associado a uma altura máxima de chuva, que, por sua vez, determinará
características específicas da inundação, tomada, por aproximação, com a mesma
recorrência, tais como altura, área, velocidade e duração da cheia. Dentro desta
componente de probabilidade também se enquadra a possibilidade de falha de uma
estrutura, como a ruptura parcial ou total de um dique, estas, porém, mais difíceis de
avaliar.
32
Figura 4.1 – Relação entre os componentes do risco. Fonte: ZONENSEIN (2007).
Risco residual
Pode ser definido como o risco que permanece após a soma de todas as ações de
gerenciamento de riscos de inundação (isto é, medidas para reduzir a probabilidade de
inundações e as medidas tomadas para reduzir a vulnerabilidade ou melhorar a
resiliência de certa área). Para evitar confusão, a data em que foi avaliado o risco
residual deve ser mencionada. Normalmente, o risco residual declarado de relevância
para o público está associado com os dias atuais. No entanto, para os gestores, a
compreensão de como o risco residual varia no tempo por causa do clima ou outras
alterações é crucial.
Danos e Prejuízos
Cidades cortadas por cursos de água, os quais são sujeitos a grandes variações de
vazões em tempos relativamente curtos, tornam-se extremamente vulneráveis aos
trágicos eventos de inundação, com prejuízos enormes a economia das propriedades
ribeirinhas e, sobretudo, de risco de perdas de vidas humanas. Nessas situações, a
implementação de um sistema de prevenção e de alerta, a organização e o acionamento
de uma instituição de defesa civil tornam-se obrigatórios e imprescindíveis como
garantia à vida cidadã da localidade. A existência de áreas ocupadas de alto risco de
inundação é da competência do Poder Publico municipal e, portanto, é de sua
responsabilidade oferecer condições de vida a todas as pessoas estabelecidas em locais
33
aprovados ou permitidos pela administração municipal. O avanço das leis democráticas
deve oferecer o suporte e a proteção necessários a todos os cidadãos, principalmente no
que se refere a moradias e estabelecimentos de trabalho (RIGHETTO, 2009).
A Tabela 4.1 exemplifica cada um dos tipos de danos, de acordo com o setor
afetado.
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Tabela 4.1 – Classificação de danos causados por inundações
Fonte: Machado et al. (2005).
35
5. CARACTERIZAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DOS
RIOS IGUAÇU - SARAPUÍ
A bacia dos rios Iguaçu - Sarapuí possui uma área de drenagem total de 727 km²,
dos quais 168 km² representam a sub-bacia do rio Sarapuí.
36
Câmara), todos pertencentes à Região Metropolitana do Rio de Janeiro, conforme
apresentado na Figura 5.1 a seguir.
A bacia limita-se ao norte com a bacia do rio Paraíba do Sul, ao sul com as
bacias dos rios Pavuna/Meriti, a leste com as bacias dos rios Saracuruna e
Inhomirim/Estrela e a oeste com a bacia do rio Guandu e outros afluentes da baía de
Sepetiba.
37
Figura 5.1 – Bacia hidrográfica dos rios Iguaçu-Sarapuí (COPPETEC, 2010).
38
Observa-se na bacia uma nítida compartimentação territorial. O primeiro macro-
compartimento consiste em áreas de remanescentes florestais sob proteção legal,
situadas nas serras abruptas que circundam a bacia hidrográfica e onde nascem os rios
que drenam a bacia, dentre outras, a Reserva Biológica do Tinguá e APAs municipais
como Rio D’Ouro e Tinguazinho, a APA Gericinó/Mendanha e o Parque Estadual da
Pedra Branca. Essas áreas, protegidas por leis municipais, estadual e federal, embora
sofram ameaças de toda ordem, guardam ecossistemas típicos de Mata Atlântica com
elevado grau de diversidade florística e faunística. Além da importância ecossistêmica e
biológica desses remanescentes florestais, são incomensuráveis os serviços prestados
por essas áreas à regulação climática e hidrológica da Baixada Fluminense.
39
Figura 5.2 – Bacia dos rios Iguaçu-Sarapuí sobreposta à imagem de satélite.
Fonte: Google Earth (2013).
40
6. METODOLOGIA
De acordo com Miguez (2001) o modelo pode ser descrito da seguinte forma:
41
interligados, formando uma rede bidimensional. Esses compartimentos são chamados de
células de escoamento. A bacia é subdividida em diferentes células interligadas entre si
e o escoamento entre as células é calculado por equações hidráulicas unidimensionais
definidas de acordo com o padrão topográfico e de urbanização da região, através de
relações hidráulicas, como, por exemplo, a equação dinâmica de Saint-Venant (na sua
forma completa ou simplificada), a equação de escoamento sobre vertedouros, a
equação de escoamento através de orifícios, equações de escoamento através de bueiros,
entre outras várias. A região subdividida em células forma uma rede de escoamento
bidimensional, com possibilidade de escoamento em várias direções nas zonas de
inundação, a partir de relações unidimensionais de troca.
42
5. A vazão entre duas células adjacentes, em qualquer tempo, é apenas função
dos níveis d’água no centro dessas células.
- Células tipo rio ou canal: são, efetivamente, trechos de rios e de canais, cujo
conjunto, em sequencia, normalmente forma a rede de macrodrenagem, excetuando-se a
representação das galerias, que é feita por células tipo galeria;
43
Figura 6.1 – Representação esquemática de uma região dividida em células (MIGUEZ, 2001).
44
de avaliação, onde se espera que as propostas de projeto falhem, realizando uma análise
do chamado risco residual, a partir da quantificação dos prejuízos, usando as curvas
desenvolvidas por Salgado (1995) com valores atualizados.
Figura 6.2 – Imagem extraída em 2014 do Street View do Google Earth, rua localizada no
município de Duque de Caxias – RJ.
45
Figura 6.3 – Exemplo de amostragem de casas por quarteirões nas células afetadas por
alagamentos utilizando imagens de satélite do Google Earth.
Como dito antes, o cálculo do prejuízo tem como base as curvas de Salgado
(1995), apresentadas na Figura 6.4 (prejuízo às edificações) e na Figura 6.5 (prejuízo ao
conteúdo), ajustadas em termos de correção de valores. O uso dos índices para correção
de valores está detalhado na Tabela 6.5.
(6.1)
46
Onde: é o prejuízo; é o custo de reposição e é fator de depreciação.
(6.2)
Onde e são constantes que dependem do padrão de acabamento da
construção e é a área construída em metros quadrados
47
submetidos a profissionais da área de construção civil para caracterização e
quantificação dos danos, associados a cada altura da inundação.
Depois, foi determinado o valor do prejuízo pelos custos unitários dos serviços
(materiais e mão de obra) para reparar ou repor o componente danificado nas condições
idênticas às anteriores à inundação. Os custos utilizados também são os elaborados pela
EMOP, referidos a dezembro de 1994, e apresentados em SOSP-EMOP (1988 e 1995).
A Figura 6.4 mostra a curva obtida, por Salgado, a partir desta função para o
padrão de acabamento baixo, que foi o padrão adotado para os cálculos de prejuízo do
presente trabalho, conforme justificativa apresentada na sequência.
48
Tabela 6.1 – Valores da Função Altura de Inundação x Prejuízo às Edificações.
Fonte: SALGADO (1995).
49
Quanto aos danos e índices médios adotados pela metodologia de Salgado para a
quantificação dos prejuízos, tem-se:
50
Esquadrias:
i) Portas: as edificações de madeira compensadas deformam-se e
danificam-se em contato com a umidade, exigindo reparos para
restaurar sua condição de uso. Para efeito de quantificação deste
dano, o autor considerou a substituição de todas as portas da
edificação, independendo da altura da inundação.
ii) Janelas: em geral, são constituídas de madeiras de lei que em
contato com a umidade também se deformam exigindo eventuais
reparos para restaurar sua condição de uso. Para efeito de
quantificação deste dano, o autor julgou necessária a substituição
de um porcentual de todas as janelas molhadas variável com o
padrão de qualidade da residência. As janelas foram consideradas
a 1,20 m do piso. Os índices empregados são mostrados na
Tabela 6.3:
Pisos
i) Pisos de madeira: para efeito de quantificação, o autor admitiu a
substituição total dos pisos de madeira independendo da altura da
inundação e da qualidade da construção.
ii) Pisos cerâmicos: o autor considerou a simples lavagem
compreendendo que este procedimento restituiria as condições
anteriores de utilização.
Cobertura: pode ser danificada pelos objetos flutuantes transportados pela
inundação. Para efeito de quantificação,, o autor considerou apenas a
limpeza.
51
Instalações Elétricas: admitindo que durante a inundação a rede elétrica está
desligada os danos à instalação elétrica restringem-se a eventuais danos às
tomadas interruptores bocais, disjuntores etc. Para efeito de quantificação,
admitiu-se a necessidade de troca dos dispositivos efetivamente inundados.
Instalações Hidráulicas:
i. Água potável: em geral, os danos causados por inundações às
instalações de água potável resumem-se ao alagamento de
reservatórios o que exige a necessidade de limpeza e desinfecção
dos mesmos. Para efeito de quantificação dos danos, considerou-
se necessário a limpeza e desinfecção dos reservatórios de todas
edificações inundadas com altura superior a 0,20m.
ii. Esgoto e águas pluviais: em geral, não sofrem danos com as
inundações.
52
do padrão de qualidade do conteúdo, considerando que os itens danificados terão, em
média, um tempo de uso igual à metade de sua vida útil.
(3)
Com relação ao preço dos itens do conteúdo de residências, foi executada uma
pesquisa de preços sem um tratamento estatístico rigoroso, devido ao pequeno tamanho
das amostras obtidas e a variabilidade de preços determinada pela diferença de modelos
de um mesmo item. Os principais critérios utilizados na pesquisa de preços foram à
consulta limitada a revendedores populares situados na Região Metropolitana do Rio de
Janeiro, a condição de pagamento à vista e quantidade unitária. Para a determinação dos
preços médios referentes a cada padrão de qualidade do conteúdo adotaram-se os
seguintes critérios:
iii) baixo padrão de qualidade: preço médio dos modelos menos sofisticados do
mesmo item, ou o valor mínimo amostral.
53
reposição corresponde ao preço de compra à vista, referido a dezembro de 1994.
Considerou-se também a depreciação do item devido ao tempo de uso.
A Figura 6.5 mostra a curva obtida, por Salgado, a partir desta função para o
padrão de acabamento baixo, que foi o padrão adotado para os cálculos de prejuízo do
presente trabalho, conforme justificativa apresentada na sequência.
54
Tabela 6.4 – Valores da Função Altura de Inundação x Prejuízo ao Conteúdo.
Fonte: SALGADO (1995).
55
Atualização/correção dos valores utilizados por Salgado:
Como Salgado (1995) utilizou como base para obter valores de prejuízo o índice
EMOP para custo do m² dos diversos padrões de residenciais afetados pelas enchentes,
buscou-se utilizar este índice específico da EMOP, porém o mesmo foi substituído pelo
Índice Geral da Construção Civil, que não avalia o custo unitário de mercado para o m²
residencial construído, mas, sim, avalia de forma geral os custos da construção civil
para diversos setores (conforme contato realizado com especialistas responsáveis por
este assunto na EMOP).
56
Para utilizar as curvas de prejuízo de Salgado (Figura 6.4 e Figura 6.5) é
necessário definir/utilizar o padrão de acabamento das residências e dos conteúdos para
obtenção dos valores das funções de prejuízos à edificação e ao conteúdo.
Já para o Índice de GINI (IBGE, 2000), que é usado para medir a desigualdade
social, Duque de Caxias apresenta um índice de 0,42 e Belford Roxo 0,38. Quanto
maior o valor deste índice, que varia de 0 a 1, maior o índice de desigualdade social.
Este índice também demonstra que esta área sofre com desigualdade.
Além destes índices, foi realizada uma visita técnica ao local do pôlder do
Outeiro em 2012, pois na época o autor trabalhava no Instituto Estadual do Ambiente
(INEA) e a frente de obras do Projeto Iguaçu se encontrava neste pôlder. Por serem
localidades (pôlder do Pilar e Outeiro) que possuem características e problemática
parecidas, as informações da visita também foram utilizadas para a avaliação do padrão
de acabamento das residências.
Também se utilizou a ferramenta Street view do Google Earth (Figura 6.2) para
avaliar o padrão de acabamento das residências. Portanto adotou-se, de forma
embasada, o padrão baixo para as residências e também para os conteúdos.
Portanto, o valor utilizado nos cálculos de prejuízos foi o CUB para residências
familiares de padrão baixo, que na data de referência adotada para este trabalho, julho
de 2014, era de R$ 1.243,83.
57
6.3 Procedimentos propostos
Este estudo tem como ponto de partida uma base de dados de diversas
modelagens hidrodinâmicas realizadas no contexto da revisão do Projeto Iguaçu (2010),
que tratam de risco e controle de inundações, entre outros aspectos.
Foi definida dentro da área do Projeto Iguaçu uma região para desenvolvimento
de análises comparativas entre diferentes concepções de projeto, em termos de controle
de inundação, para avaliar o risco em termos de prejuízos, de acordo com os objetivos
propostos.
58
6.3.1 Dados e Estudos Hidrológicos
Tabela 6.6 - Dados de chuva do estudo hidrológico do Plano Diretor de Recursos Hídricos
(LABHID, 1996).
TR P (mm)
5 115,66
10 133,92
20 149,86
50 175,91
100 193,13
200 211,11
Com base nestes valores de precipitação, foi feita uma regressão logarítmica que
melhor se ajustou aos pontos, a fim de se obter a estimativa da precipitação para o
tempo de retorno de 25 anos. A Figura 6.6 mostra a função de regressão obtida, e a
partir dela se obteve a precipitação de tempo de recorrência de 25 anos, P = 157,17 mm.
59
220
180
TR 50
Precipitação (mm)
170
160
TR 25
150 TR 20
140
TR 10
130
120
TR 5
110
100
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Tempo de Recorrência (anos)
TR P (mm)
25 95,89
50 107,30
100 117,81
200 128,78
60
6.3.2 Modelagem topográfica, topológica e hidráulica
As células dos rios e canais principais foram definidas de acordo com as seções
do Projeto Iguaçu (2010), atualmente em implementação pelas obras do PAC 2. Tais
seções de projeto são utilizadas para o cálculo da linha d'água dos cursos d’água
principais. No capítulo do Caso de Estudo, a Figura 7.14 mostra o esquema topológico
utilizado na modelagem do presente trabalho, com destaque para as células da área de
interesse do estudo.
61
Arquivos de Precipitação: indicando a chuva que cai sobre cada célula da área
modelada, dependendo da distribuição espacial da rede pluviométrica disponível. Os
quivos de precipitação são essenciais para a realização das simulações. A entrada de
dados para este arquivo pode ser feita, basicamente, de duas formas:
c) Uma dada relação entre vazão e nível d'água – Q(Z): adotado para a inserção
de uma curva-chave a qualquer ponto da bacia modelada.
62
A condição de contorno que representa o rio Sarapuí foi confeccionada a partir
da modelagem hidrodinâmica deste, realizado pela revisão do Projeto Iguaçu (COPPE,
2010). A jusante, a Baía de Guanabara foi representada por uma condição tipo Z(t),
referente à maré.
Por fim, os dados da chuva que ocorreu das 18h30min do dia 30 até as
09h15min do dia 31 de dezembro de 2009, foram utilizados para a calibração do
modelo. A Tabela 6.8 mostra a localização das estações das chuvas registradas. O
método de Thiessen foi considerado na definição da área de influência de cada posto.
63
Tabela 6.8 – Localização das estações utilizadas na calibração. Fonte: Ribeiro (2013).
Figura 6.7 – Chuvas registradas pelas estações do Sistema de Alerta de Cheias da Baixada
Fluminense. Fonte: SOUSA (2010).
Segundo Sousa (2010), para reproduzir os dados da calha dos rios Iguaçu e
Botas foram utilizadas as seções do Projeto Iguaçu, que no período do evento
reproduzido já haviam sido implantadas pelas obras do PAC em toda a calha do rio
64
Botas, e na calha do rio Iguaçu, até cerca de 1,5 km a montante da travessia da Avenida
Presidente Kennedy. Para o trecho a jusante de onde a seção de projeto já havia sido
implantada, foram utilizadas sete seções, levantadas para a revisão do projeto Iguaçu em
outubro de 2009.
17
16
Nível d`água (m)
15
14
13
12
11
0 200 400 600 800
Tempo (min)
Níveis Observados Níveis Modelados
Figura 6.8 - Níveis medidos e níveis modelados na régua do posto GBM Nova Iguaçu.
Fonte: Ribeiro (2013).
A partir da figura pode-se observar que os níveis de água estão na mesma fase e
os valores extremos são quase coincidentes. Este fato mostra que o modelo reproduz
adequadamente os resultados desejados, dentro das limitações de calibração existentes
pelos poucos dados, medidos, disponíveis.
65
7. CASO DE ESTUDO: RIO IGUAÇU
Destaca-se que o foco desta aplicação será sobre o pôlder do Pilar, que se
apresenta razoavelmente organizado e consolidado.
66
7.1 Diagnóstico preliminar das cheias que afetam a área de estudo
Ocupação do leito maior dos rios e, em muitos casos, do leito menor, com
maior número de pessoas sujeitas aos impactos das inundações.
Toda a Baixada é entrecortada por uma vasta rede de canais e rios poluídos
que transbordam por ocasião das cheias, causando sérios problemas de saúde
para a população – leptospirose, hepatite, dengue, gastroenterites, verminoses,
entre outras;
67
Aumento do escoamento superficial devido ao crescimento populacional e à
consequente impermeabilização da bacia hidrográfica, acarretando em
inundações cada vez mais frequentes, nos mesmos locais e em áreas de jusante.
Muros e edificações que obstruem as calhas dos rios são parte do cenário
caótico resultante do processo de ocupação e uso na bacia.
68
Figura 7.2 – Focos principais de contaminação na área de influência do estudo.
Fonte: Google Earth (2012).
Figura 7.3 – Polder do Outeiro à direita e a Figura 7.4 – Canal de cintura e ocupação da
Cidade dos Meninos à esquerda em segundo margem direita do rio Iguaçu, ao lado do dique
plano, com o rio Iguaçu cortando as duas áreas - Pôlder do Outeiro (ACERVO PESSOAL,
(ACERVO PESSOAL, 2012). 2012).
69
Figura 7.6 – Comportas de conexão entre o
Figura 7.5 – Canal de cintura próximo a
pôlder do Outeiro e o rio Iguaçu com falta de
confluência com o rio Iguaçu (ACERVO
manutenção (ACERVO PESSOAL, 2012).
PESSOAL, 2012).
Figura 7.7 – Canal de cintura – trecho assoreado Figura 7.8 – Casa abandonada na área de
(ACERVO PESSOAL, 2012). armazenamento do pôlder do Outeiro
(RIBEIRO, 2012).
70
Figura 7.12 – Canal do Ipê, início do trecho a
Figura 7.11 – comportas do canal do Ipê
céu aberto, condições precárias de
(drenagem local) para o rio Iguaçu (ACERVO
infraestrutura de saneamento (RIBEIRO,
PESSOAL, 2012).
2012).
Um fator positivo, constatado, é que parte das obras do Projeto Iguaçu (2010)
encontrava-se já implantada. A estação de bombeamento do pôlder do Outeiro já se
encontrava pronta para operar, grande parte da área do reservatório pulmão do Outeiro
estava desocupada, ou seja, várias famílias, já haviam sido realocadas, entre outras
obras, em outros pôlderes e nas calhas dos rios principais.
71
alternativa para este reservatório proposto seria de ocupar a área com equipamentos
urbanos alagáveis, como parques fluviais, ou então com a criação de uma APA ou outro
tipo de Unidade de Conservação, que teria a sua ocupação restringida ou proibida por
lei, mas que exigiria fiscalização por parte do órgão ambiental.
72
Figura 7.13 - Células da área de estudo delimitadas com AutoCAD e sistematizadas com o ArcGIS
73
Figura 7.14 – Esquema topológico com discretização das células de escoamento e suas ligações.
74
7.3 Modelagem da Alternativa 2 – solução tradicional de engenharia
Essa alternativa considera que a margem do rio Botas, no trecho de sua foz,
deixa de cumprir seu papel de planície de inundação e se incorpora a malha urbana com
novos loteamentos.
75
7.4 Modelagem da Alternativa 3 – situação atual de implantação do projeto
Iguaçu
76
7.5 Análise dos resultados de Prejuízos e Alagamentos para os Cenários
Simulados
77
Figura 7.15 – Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR
25 anos.
A partir da Figura 7.16, verifica-se que ocorre vertimento do rio para o pôlder do
Pilar apenas no caso da Alternativa 2, mas com uma lâmina de água máxima pequena,
de 8 cm acima da crista do dique. O vertimento ocorre no início do pôlder (de montante
para jusante), nas ligações das células 10 e 9 (do rio Iguaçu) com o canal auxiliar e
reservatórios-pulmão (células 113 e 114).
78
Figura 7.16 - Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR de
50 anos.
Verificou-se que o volume extravasado para dentro do pôlder do Pilar para este
cenário foi de 184.498 m3, através das ligações entre as células mencionadas.
Porém, vale ressaltar que o dique foi galgado, e frente a esta situação sempre
existe a possibilidade de falha estrutural com consequente ruptura ou colapso do dique,
79
o que faz com que a população esteja submetida a um risco residual. Porque em caso de
ocorrência de uma ruptura, o sistema do pôlder não suportaria a vazão extravasada, o
que ocasionaria alturas de inundação significativas com velocidades altas e prejuízos
grandes.
80
Figura 7.17 - Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR de
100 anos.
Para esta chuva de TR 100 anos, verificou-se que o volume extravasado para
dentro do pôlder, no caso da Alternativa 3, foi de 184.708 m3, através das ligações entre
as células mencionadas. Este valor é muito parecido com o cenário da Alternativa 2 para
TR 50 anos. E ocorre a mesma situação, o pôlder do Pilar possui capacidade de
armazenar (com seus reservatórios-pulmão) esta vazão vertida, se mostrando funcional
também para esta situação simulada, suportando a cheia de TR de 100 anos para a
Alternativa 3. Neste caso, as células urbanizadas não apresentaram alturas de inundação
expressivas, pois não houve extravasamento dos reservatórios-pulmão. O nível máximo
de água verificado nos reservatórios foi de 0,82m, enquanto as células urbanizadas mais
baixas possuem cota de arrasamento de 1,10 m. Logo, nenhuma célula apresentou altura
de inundação acima de 0,20 m para TR 100 anos – Alternativa 3, ou seja, o prejuízo
também foi considerado nulo pelo método adotado, tanto para esta alternativa 3 de
projeto, quanto para a alternativa 1, que não apresentou extravasamento do rio Iguaçu
para dentro do pôlder.
81
ou acima de 20 cm. A Figura 7.18 mostra as células afetadas dentro do pôlder do Pilar,
assim como a área dos reservatórios-pulmão. Neste caso, apenas 3 células não tiveram
alagamentos consideráveis, por possuírem cota de fundo um pouco mais elevada.
Figura 7.18 - Células afetadas pela inundação no pôlder do Pilar, para o cenário de cheia da
Alternativa 2 – TR 100 anos. Fonte: Google Earth (2014).
82
Tabela 7.1 - Prejuízos às edificações e aos conteúdos das residências para a Alternativa 2 e TR 100 anos no pôlder do Pilar.
Valor do Valor do
Valor total do
Pilar altura de fator função custo área total prejuízo à fator função - custo prejuízo ao Valor Total
número de área média prejuízo no
Alternativa 2 inundação - prejuízo à unítario construída edificação prejuízo ao unítario conteúdo do prejuízo
casas (m²) Pôlder (Milhões
TR 100 (m) edificação (R$/m²) (m²) (Milhões de conteúdo (R$/m2) (Milhões de por cela
de R$)
R$) R$)
Cela 43 128 99.71 0.37 0.084 1243.83 12763.01 1.33 0.439 126.984 0.71 2.04
Cela 44 221 102.51 0.32 0.065 1243.83 22654.11 1.83 0.420 126.984 1.21 3.04
Cela 40 174 72.86 0.42 0.103 1243.83 12677.81 1.62 0.459 126.984 0.74 2.36
Cela 42 118 96.51 0.42 0.103 1243.83 11388.12 1.46 0.459 126.984 0.66 2.12
Cela 47 784 104.04 0.37 0.084 1243.83 81566.97 8.52 0.439 126.984 4.55 13.07
47,285
Cela 46 473 95.98 0.32 0.065 1243.83 45398.78 3.67 0.420 126.984 2.42 6.09
Cela 38 252 99.73 0.42 0.103 1243.83 25131.46 3.22 0.459 126.984 1.46 4.68
Cela 48 322 103.49 0.42 0.103 1243.83 33323.14 4.27 0.459 126.984 1.94 6.21
Cela 51 226 121.67 0.22 0.021 1243.83 27496.72 0.72 0.378 126.984 1.32 2.04
Cela 53 283 106.56 0.42 0.103 1243.83 30157.50 3.86 0.459 126.984 1.76 5.62
83
7.5.4 Resultados para Tempo de Recorrência (TR) de 200 anos
Figura 7.19 - Níveis de água e dos diques (ME e MD) para as três alternativas simuladas com TR de
200 anos.
84
situação: o pôlder do Pilar não possui capacidade de armazenar (com seus reservatórios-
pulmão) esta vazão vertida, se mostrando ineficiente frente a esta situação, o que causa
um alagamento considerável das células urbanizadas e consequentemente grandes
prejuízos. A Figura 7.20 mostra as células afetadas dentro do pôlder do Pilar para a
Alternativa 3. Neste caso, apenas 3 células não tiveram alagamentos consideráveis, por
possuírem cota de fundo um pouco mais elevada.
Figura 7.20 - Células afetadas pela inundação no pôlder do Pilar, para o cenário de cheia da
Alternativa 3 - TR 200 anos. Fonte: Google Earth (2014).
85
Figura 7.21 mostra todas as células afetadas por este cenário, o mais desfavorável de
todos.
Figura 7.21 – Todas as 13 células afetadas pela inundação no pôlder do Pilar, para o pior cenário de
cheia (Alternativa 2 – TR 200anos).
86
Tabela 7.2 - Prejuízos às edificações e aos conteúdos das residências para a Alternativa 3 e TR 200 anos no pôlder do Pilar.
Valor do Valor do
Valor total do
Pilar altura de fator função custo área total prejuízo à fator função - custo prejuízo ao Valor Total
número de área média prejuízo no
Alternativa 3 inundação - prejuízo à unítario construída edificação prejuízo ao unítario conteúdo do prejuízo
casas (m²) Pôlder (Milhões
TR 200 (m) edificação (R$/m²) (m²) (Milhões de conteúdo (R$/m2) (Milhões de por cela
de R$)
R$) R$)
Cela 43 128 99.71 0.37 0.084 1243.83 12763.01 1.33 0.439 126.984 0.71 2.04
Cela 44 221 102.51 0.32 0.065 1243.83 22654.11 1.83 0.420 126.984 1.21 3.04
Cela 40 174 72.86 0.42 0.103 1243.83 12677.81 1.62 0.459 126.984 0.74 2.36
Cela 42 118 96.51 0.42 0.103 1243.83 11388.12 1.46 0.459 126.984 0.66 2.12
Cela 47 784 104.04 0.37 0.084 1243.83 81566.97 8.52 0.439 126.984 4.55 13.07
47,285
Cela 46 473 95.98 0.32 0.065 1243.83 45398.78 3.67 0.420 126.984 2.42 6.09
Cela 38 252 99.73 0.42 0.103 1243.83 25131.46 3.22 0.459 126.984 1.46 4.68
Cela 48 322 103.49 0.42 0.103 1243.83 33323.14 4.27 0.459 126.984 1.94 6.21
Cela 51 226 121.67 0.22 0.021 1243.83 27496.72 0.72 0.378 126.984 1.32 2.04
Cela 53 283 106.56 0.42 0.103 1243.83 30157.50 3.86 0.459 126.984 1.76 5.62
87
Tabela 7.3 - Prejuízos às edificações e aos conteúdos das residências para a Alternativa 2 e TR 200 anos no pôlder do Pilar.
Valor do Valor do
Valor total do
Pôlder do altura de fator função - custo área total prejuízo à fator função - custo prejuízo ao Valor Total
número de área média Pôlder do
Pilar - inundação prejuízo à unítario construída edificação prejuízo ao unítario conteúdo do prejuízo
casas (m²) Pilar (Milhões
Alternativa 2 (m) edificação (R$/m²) (m²) (Milhões de conteúdo (R$/m2) (Milhões de por cela
de R$)
R$) R$)
Cela 43 128 99.71 1.05 0.147 1243.83 12763.01 2.33 0.701 126.984 1.14 3.47
Cela 44 221 102.51 1.00 0.143 1243.83 22654.11 4.03 0.698 126.984 2.01 6.04
Cela 45 201 97.11 0.70 0.138 1243.83 19519.91 3.35 0.499 126.984 1.24 4.59
Cela 49 305 97.71 0.80 0.140 1243.83 29801.25 5.19 0.540 126.984 2.04 7.23
Cela 50 69 117.75 0.75 0.139 1243.83 8124.72 1.40 0.500 126.984 0.52 1.92
Cela 40 174 72.86 1.10 0.151 1243.83 12677.81 2.38 0.703 126.984 1.13 3.51
Cela 42 118 96.51 1.10 0.151 1243.83 11388.12 2.14 0.703 126.984 1.02 3.16 95.722
Cela 47 784 104.04 1.05 0.147 1243.83 81566.97 14.91 0.701 126.984 7.26 22.17
Cela 46 473 95.98 1.00 0.143 1243.83 45398.78 8.07 0.698 126.984 4.02 12.10
Cela 38 252 99.73 1.10 0.151 1243.83 25131.46 4.72 0.703 126.984 2.24 6.96
Cela 48 322 103.49 1.10 0.151 1243.83 33323.14 6.26 0.703 126.984 2.97 9.23
Cela 51 226 121.67 0.90 0.141 1243.83 27496.72 4.82 0.620 126.984 2.16 6.99
Cela 53 283 106.56 1.10 0.151 1243.83 30157.50 5.66 0.703 126.984 2.69 8.35
88
7.5.5 Comparação dos resultados e Discussão final
Figura 7.22 – Níveis de água do rio Iguaçu para os diferentes TRs - Alternativa 1.
O gráfico da Figura 7.23 mostra que, no caso da Alternativa 2, para TRs acima
de 25 anos já há vertimentos para o pôlder, o que é preocupante, do ponto de vista de
risco de inundação. E para TR 25 anos (recomendação de projeto) o rio Iguaçu fica a
apenas 11 cm de galgar o dique, o que não é desejável. Recomenda-se um bordo livre
maior, como o adotado pelo Projeto Iguaçu, de 0,50 m.
89
Figura 7.23 – Níveis de água do rio Iguaçu para os diferentes TRs - Alternativa 2.
Já a
Figura 7.24 confirma que a Alternativa 3 é um meio termo entre as outras duas,
pois ocorre extravasamento para o pôlder somente a partir de TR 100 anos.
Figura 7.24 – Níveis de água do rio Iguaçu para os diferentes TRs - Alternativa 3.
90
A Tabela 7.4 mostra o nível de água máximo na célula 10 do rio Iguaçu (ponto
mais critico de extravasamento para o pôlder do Pilar) para todos os doze cenários
simulados. Os diques que margeiam esta célula possuem cota de projeto de 2,2 m, logo,
destacou-se em negrito os casos em que o NA máximo do rio supera esta cota dos
diques, ocorrendo extravasamentos, e realçou-se em verde os casos em que estes
extravasamentos causam prejuízos significativos.
Tabela 7.5 – Volumes vertidos do rio Iguaçu para o pôlder do Pilar (m3).
91
Tabela 7.6 - Prejuízo total e diferença entre as Alternativas 2 e 3 para o pôlder do Pilar -
TR 200 anos.
Alternativa 2 Alternativa 3
TR 200 anos
altura de inund. prejuízo altura de inund. prejuízo
Cela 43 1.05 3.47 0.37 2.04
Cela 44 1 6.04 0.32 3.04
Cela 45 0.7 4.59
Cela 49 0.8 7.23
Cela 50 0.75 1.92
Cela 40 1.1 3.51 0.42 2.36
Pilar
Com o confinamento do rio Botas pelos diques e com o pôlder Cidade dos
Meninos da forma como está implantado, sem seu uso como armazenamento natural das
cheias - Alternativa 2, o rio Iguaçu extravasou gradativamente para o pôlder do Pilar em
eventos que superam o horizonte de projeto, causando enormes prejuízos no cenário de
maior ocorrência de chuva, quando comparado com a Alternativa 3 e 1 (que não causa
prejuízos).
92
cada célula de rio para esta condição hipotética. Desta forma, este cenário considerou o
rio Iguaçu totalmente canalizado (todas as comunicações com suas planícies e
possibilidade de vertimentos para os pôlderes foram “fechadas”) dentro da área de
interesse.
Tabela 7.7 – Alteamento necessário dos diques que margeiam o rio Iguaçu entre as células 6 e 10,
com e sem o bordo livre de 0,5 m.
Células de rio (canal) 6 7 8 9 10
NA máx com alteamento 2.49 2.59 2.64 2.90 2.98
cotas de projeto dos diques 2 2.2 2.2 2.2 2.2
Alteamento necessário sem
0.49 0.39 0.44 0.70 0.78
bordo livre (m)
Alteamento necessário com
0.99 0.89 0.94 1.20 1.28
bordo livre (m)
93
8. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
94
permitindo os cálculos de prejuízos pela metodologia proposta anteriormente por
Salgado (1995) e atualizada neste trabalho, que se mostrou satisfatória para comparação
das alternativas e horizontes de projeto, quanto ao risco em termos de prejuízos gerados
na presença de eventos mais críticos do que o definido em projeto (TR 25 anos).
Destaca-se que, aqui, o risco foi associado ao cômputo dos prejuízos gerados às
residências e seus conteúdos.
Pode-se afirmar que esta hipótese foi verificada, pois com o confinamento do rio
Botas pelos diques e com o pôlder Cidade dos Meninos da forma como está implantado,
sem seu uso como armazenamento natural das cheias, o rio Iguaçu extravasou muito
para o pôlder do Pilar em eventos que superam o horizonte de projeto, causando
enormes prejuízos, quando comparados com as alternativas mais naturais, de manter
planícies de inundação e requalificar trechos de rios.
A partir dos resultados obtidos, foi possível concluir que, para o TR de 25 anos,
o pôlder em estudo, ainda é capaz de suportar os eventos de cheias, mesmo para a pior
Alternativa de projeto (2), embora em alguns pontos os diques estivessem apenas a
poucos centímetros de serem galgados, conforme mostrado na análise dos resultados.
Cabe ressaltar que, para o TR de 50 anos, apenas na Alternativa 2 o pôlder do Pilar
sofre influência do extravasamento do rio, porém os seus reservatórios-pulmão ainda
teriam capacidade para suportar o volume vertido. A partir desta chuva ele começa a
funcionar próximo do limite. O mesmo ocorre para o cenário de TR 100 anos –
Alternativa 3. Isso mostra que a situação atual de implantação do projeto Iguaçu suporta
uma chuva maior do que a Alternativa 2 de projeto, que por sua vez simula uma
situação hipotética preocupante (mas passível de ocorrer) de expansão urbana na foz do
rio Botas e no pôlder Cidade dos Meninos.
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Conforme mencionado anteriormente, no caso da Alternativa 3 não houve
vertimento do rio Iguaçu para o pôlder nas situações com chuvas de TR 25 e 50 anos, o
que condiz com as premissas do Projeto Iguaçu, devido também ao bordo livre adotado
de 0,5 m. Já para TR 100 anos, ainda considerando a Alternativa 3, houve vertimento
para o pôlder do Pilar, que suportou esta cheia sem prejuízos significativos, visto que os
reservatórios-pulmão não extravasaram para as áreas urbanizadas. Entretanto, para a
Alternativa 3 - TR 200 anos o pôlder não suportou a grande vazão vertida e a área
urbanizada alagou, acarretando um prejuízo total estimado de 47,28 milhões de reais,
em termos de danos às residências e seus conteúdos. Curiosamente, no cenário da
Alternativa 2 – TR 100 anos, as alturas de inundação das células do pôlder foram
praticamente iguais as do cenário supracitado, o que resultou no mesmo valor de
prejuízo total estimado: 47,28 milhões de reais. Isto se justifica com o fato de que na
Alternativa 2 (com a foz do rio Botas sem conexão com suas planícies) a condutância
após a confluência dos rios Botas e Iguaçu (em direção ao Pilar) é maior, e este valor a
mais de vazão é muito parecido com o incremento de vazão que a chuva de TR 200
anos proporciona em relação à chuva de TR 100 anos, no caso da Alternativa 3 de
projeto.
A Alternativa 1 poderia ser executada, uma vez que a foz do rio Botas já se
encontra desocupada por ser Zona de Controle de Cheias (ZCC) da APA do Alto Iguaçu
e há poucas famílias para serem realocadas na Cidade dos Meninos. No entanto, há uma
condicionante para aceitação do órgão ambiental competente quanto à abertura do
Pôlder da Cidade dos Meninos, que só poderia ser executada após a remediação
ambiental da área, que no passado foi contaminada com organoclorados, o que ainda
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não ocorreu. Caso ocorresse, essa região, que atualmente está sob o domínio da União,
poderia ser incorporada no Plano Diretor de Recursos Hídricos da Baixada Fluminense,
a exemplo da foz do rio Botas, com fins de redução de riscos de inundação e controle de
cheias, diminuindo a necessidade de implantação de novas obras que contemplem
soluções tradicionais de controle de cheias, reduzindo gastos com a implantação e
manutenção destas, bem como reduzindo consideravelmente os prejuízos decorrentes de
alagamentos.
Tabela 8.1 – NA máximo (m) nas células 113 e 114, que representam os reservatórios-pulmão do
pôlder do Pilar, para todos os cenários de simulação e cota de arrasamento para a área urbanizada.
Enfatiza-se que a manutenção das cotas e estrutura dos diques dos pôlderes, em
geral, são fundamentais, mas no caso dos pôlderes do Pilar e São Bento (localizados a
jusante dos demais) é necessária uma atenção especial, pois, em caso de falhas os danos
podem ser drásticos.
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Este trabalho não teve como objetivo avaliar os custos de implantação das três
alternativas de projeto. Porém, pode-se afirmar que a Alternativa 2 seria a mais onerosa,
por ser necessária a implantação de diques em ambas margens de um extenso trecho da
foz do rio Botas e com alturas e volumes significativos de aterro compactado para a
construção destes, além de estar atrelada a altos custos de manutenção a curto, médio e
longo prazo. Portanto, além de ser a Alternativa que potencialmente mais causa
prejuízos dentre os cenários simulados, é ainda a mais onerosa para se implantar e ser
mantida. Enquanto a Alternativa 1, que se mostrou mais favorável na avaliação de
prejuízos, teria um pequeno custo para ser implantada e teria menores custos de
manutenção do que as Alternativas 2 e 3, a médio e longo prazo. Porém, para a sua
implantação haveria o custo da remediação ambiental supracitada, que gira entorno de
80 milhões de reais, conforme Ambios (2002), o que não seria de responsabilidade do
Estado do Rio de Janeiro ou dos municípios, mas sim do Ministério da Saúde (União) –
responsável pela contaminação. A Alternativa 3, por se tratar da situação atual de
implantação do Projeto Iguaçu, não teria mais custos de implantação (além do que já foi
investido), mas teria custos um pouco maiores de manutenção do que a Alternativa 1 e
muito menores do que a Alternativa 2. Esta Alternativa apresentou prejuízos de
inundação de 47,28 milhões de reais apenas no caso da chuva de TR 200 anos (suporta
cheias de até TR 100 anos sem maiores prejuízos), mas não tem a condicionante de ter
que remediar a Cidade dos Meninos.
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exemplo: cotas de diques, cotas de arrasamento da área urbanizada, cotas e áreas dos
reservatórios-pulmão, reassentamento de famílias, entre outras. Portanto, estas
condições devem estar (ou serem) implantadas conforme as indicações de projeto, para
que os resultados obtidos sejam válidos, conforme calculados, caso contrário, a
modelagem deve ser revisada e refeita para os novos dados do projeto as built (caso
haja alterações relevantes).
Por fim, conclui-se que a Alternativa 2 jamais deveria ser privilegiada, apesar de
ser a solução de engenharia mais tradicional, ela é a mais desfavorável em todos os
aspectos, principalmente nos aspectos econômicos que foram avaliados, o que justifica
plenamente a sua não aplicação pelo poder público. Isso também mostra que o
paradigma de “aplicação das soluções tradicionais de engenharia para drenagem
urbana” está sendo rompido, enquanto as soluções mais sustentáveis de drenagem
urbana e requalificação fluvial ganham espaço cada vez mais, por apresentarem
melhores resultados, trazendo vários benefícios associados para os rios e seus entornos,
como melhorias de qualidade de água, dos ecossistemas fluviais e da geomorfologia dos
rios, além da redução do risco hidráulico (objeto deste estudo).
RECOMENDAÇÕES
Também para estudos futuros, recomenda-se fazer uma revisão dos estudos
hidrológicos utilizados no âmbito do Projeto Iguaçu (Plano Diretor de Recursos
Hídricos da Bacia do rio Iguaçu-Sarapuí de 1996), principalmente do Coeficiente de
Redução (CR) ponto-área, devido à distribuição espacial da chuva sobre a bacia
estudada, em que foram utilizadas curvas de redução ponto-área desenvolvidas pela
99
SERLA/Sondotécnica a partir de um estudo de temporais ocorridos no Rio de Janeiro
em 1966 e 1967.
100
Por fim, a União em conjunto com o Estado deve dar uma solução para a
questão da remediação ambiental da Cidade dos Meninos. Da forma como está oferece
riscos à população e ao meio ambiente, e não possibilita um uso mais sustentável – do
ponto de vista hidrológico, hidráulico e urbano - para a bacia hidrográfica do rio Iguaçu.
101
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