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UNIBAHIA

Curso: Comunicação, Engenharias e Administração


Disciplina: Fundamentos de Economia
Professora: Ana Cristina Cerqueira

Aula 1: Economia Colonial e o Ciclo da Cana de Açúcar

“O passado, aquele passado colonial ainda está ai, e bem saliente; em parte
modificado é certo, mas presente em traços que não se deixam iludir. Observando o
Brasil de hoje o que salta à vista é um organismo em franca atividade e
transformação e que não se sedimentou ainda em linhas definidas, que não ‘tomou
forma’. No terreno econômico tem-se que o caráter fundamental da nossa economia
é a produção extensiva para mercados do exterior, e da correlata falta de um largo
mercado interno solidamente alicerçado e organizado. Numa palavra, não
completamos ainda hoje a nossa evolução da economia colonial para a nacional”
(PRADO JR, 2000:3).

RESUMO

A história do Brasil nos revela um longo passado de domínio e colonização


portuguesa. No século XVI vivia-se a época da expansão comercial mercantilista
na Europa, na qual a exploração de outras terras para o descobrimento de
riquezas determinaria facilidades para a metrópole. Nesse âmbito, tem inicio o
povoamento do Brasil (visando minimizar as ameaças da Holanda que rondava o
exuberante litoral do país) realizada através da plantação de culturas
consideradas exóticas na Europa.

O açúcar era uma dessas especiarias, afinal tratava-se de um produto tropical


com ampla aceitação nas terras temperadas da Europa. O êxito para a cultura da
cana de açúcar esteve associado ao conhecimento prévio dos portugueses nas
técnicas de cultivo aprendidas na região dos Açores. Possuíam ainda,
conhecimentos para solucionar problemas técnicos e o desenvolvimento de
equipamentos para a elaboração dos engenhos.

Mesmo sendo a metrópole do Brasil, Portugal não detinha recursos próprios para
o desenvolvimento da cultura. Nesse sentido, a Holanda serviria de financiadora
no refino, comercialização e transporte do açúcar (e também no tráfico negreiro).
Ou seja, o comércio pertencia muito mais à Holanda do que a Portugal.

1
A ocupação holandesa, durante 25 anos, em Pernambuco situava-se em grande
parte da região produtora de açúcar no nordeste e permitiu que os forasteiros
aprendessem as técnicas e a estrutura organizacional da indústria açucareira.
Posteriormente, quando foram expulsos já possuíam a base para o
desenvolvimento dessa cultura no Caribe (Antilhas). Com essa forte concorrência
ocorreu a quebra do monopólio e a queda dos preços (conforme a lei da oferta e
preocura). Tendo em vista que a região das Antilhas encontrava-se mais próxima
da Europa, o volume de exportações brasileiras caiu significativamente.

MERCANTILISMO: Doutrina econômica que caracteriza o período histórico da


Revolução Comercial (séculos XVI e XVII) e defende o acúmulo de divisas em
metais preciosos pelo Estado por meio de um comércio exterior de caráter
protecionista, ou seja, o alcance de uma balança comercial favorável (Sandroni,
2002: 383-384).

A COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA DO NORTE

A colônia da América do Norte não apresentava riquezas naturais abundantes.


Adicionalmente, o clima temperado similar ao existente na Europa, desestimulou
os interesses da metrópole inglesa em relação à exploração de sua colônia. Por
sua vez, tratou-se de realizar uma colonização de povoamento com a ida de
emigrantes europeus perseguidos religiosos que buscariam a sorte na nova
“Canaã”.

Com isso, conformou-se uma estrutura produtiva bastante diferenciada da aqui


existente. Era, em geral, formada por pequenas propriedades visando a produção
de artigos que pudessem ser cultivados em pequenos lotes de terra. Com esses
entraves foi uma economia que, inicialmente, teve lento desenvolvimento
comercial.

Para se aprofundar no tema pesquisar em:

* Gilberto Freire – “Casa Grande e Senzala”;

* Sergio Buarque de Hollanda – “Raízes do Brasil”;

* Caio Prado Jr. – “Formação do Brasil Contemporâneo”;

* Celso Furtado – “Formação Econômica do Brasil”.

2
Quadro Resumo – Tipos de Colonização

Brasil América do Norte


Tipo exploração povoamento
Cultura
Clima
Voltado para
Extensão
Mão de Obra
Capital
Renda
Rentabilidade
Hierarquia
Propriedade
Viabilidade

Bibliografia Consultada

BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996.

FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. Ed: Nacional, 1999.

PRADO JR, C., Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense-


Publifolha, 2000.

SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. Ed: Best Seller, 2002.

Aula 2: Ciclo do Ouro e Ciclo do Café


RESUMO

Ciclo do Ouro - Século XVIII

O panorama externo que se estabeleceu durante o Ciclo do Ouro no Brasil estava


assentado no acordo firmado entre Portugal e Inglaterra, comumente conhecido

3
como Tratado de Methuen. Nesse acordo, Portugal renuncia seu desenvolvimento
manufatureiro; o que implicou em transferir para a Inglaterra o impulso dinâmico
gerado pela extração do ouro brasileiro. A contrapartida desse acordo referia-se à
garantia oferecida pela Inglaterra no que tange à estabilidade territorial da
América Portuguesa.

Esse tratado foi importante, na análise da época, para o desenvolvimento


econômico de Portugal e Brasil, uma vez que este estabelecia reduções de 1/3 dos
impostos ingleses cobrados sobre o vinho de português. Com isso, Portugal
retirou o embargo sobre os tecidos ingleses (durante duas décadas o país
praticamente não importou tecidos da Inglaterra) 1.

O inicio do Ciclo do Ouro no Brasil se deu pela necessidade da Coroa Portuguesa


de manter a sua hegemonia na Europa que, na verdade, já vinha sendo abalada
por demonstrações de crises e escassez de recursos. Portugal apresentava-se
diante de situações indefinidas em relação ao rumo das colônias e a decadência
do ciclo do açúcar. Com isso, promove a busca por ouro e outros metais preciosos
no território brasileiro. Finalmente, o ouro foi descoberto em 1690 na região de
Minas Gerais, apesar de também existir em outras localidades como Goiás, Mato
Grosso e Bahia.

Diante dessa descoberta, tem-se o deslocamento do centro administrativo


localizado no nordeste, para o centro sul do país. O Rio de Janeiro passa a ser
capital do Brasil em 1763. A extração de ouro cresceu continuamente entre 1690
e 1760. O Brasil foi responsável por metade da produção mundial de ouro no
século XVIII. Dessa forma, atraiu grande contingente de trabalhadores imigrantes
livres vindos de forma espontânea de Portugal no intuito de enriquecerem
facilmente. Houve também um deslocamento da mão de obra escrava das, já
decadentes, fazendas de cana de açúcar situadas no nordeste.

O tipo de técnica utilizada na extração desse ouro era a de aluvião. Isso significa
que o ouro era facilmente encontrado nos leitos dos rios, o que dispensava a
mobilização de grande capital ampliando, dessa forma, as chances de acesso ao
metal precioso. Assim, o que se contatou foi a menor concentração de renda na
1
Vale destacar que se tratando de produtos (vinhos e tecidos) com valores agregados diferenciados,
Portugal observou persistentes déficits na balança comercial. Isso causou a desvalorização da
moeda portuguesa que passou a utilizar o ouro brasileiro como forma de honrar os compromissos
com a Inglaterra.

4
região (em relação ao que se verificava nos engenhos do Nordeste) e o surgimento
de uma população livre maior.

O breve Ciclo do Ouro possibilitou a expansão de culturas paralelas na região.


Tendo em vista o incremento da demanda por alimentos, houve a ampliação
dessa atividade em São Paulo - e também no nordeste. Propiciou ainda o
desenvolvimento do setor pecuário, uma vez que o transporte era realizado por
animais (principalmente, mulas). Esse ramo já existia antes do ciclo do ouro;
ampliando-se ainda mais o que ajudou a dinamizar outras regiões, a saber: Mato
Grosso e Rio Grande do Sul. Vislumbrou-se também a maior importação de bens
de consumo e equipamentos para a mineração.

Em síntese, a mineração possibilitou ainda o aumento das atividades voltadas


para o mercado interno já que a distância dos portos encarecia os produtos
importados. Todavia, não se verificou o crescimento manufatureiro. Acredita-se
que pela incapacidade técnica dos imigrantes haja vista que Portugal havia
renunciado a essa capacidade no tratado firmado com a Inglaterra. (Se houvesse
chegado imigrantes com conhecimentos de técnicas manufatureiras,
provavelmente, a colônia os teria melhor aproveitada).

Vale lembrar que Portugal era dependente das manufaturas inglesas. Dessa
forma, as sucessivas tentativas de equacionamento de seus desequilíbrios
comerciais serviram para transferir aos ingleses grande parte do ouro extraído do
Brasil, já que as exportações (vendas) inglesas eram saudadas com o ouro
brasileiro. É com base nessa perspectiva que se costuma afirmar que Brasil
financiou a I Revolução Industrial precedida pela Inglaterra. Como? Com o
acúmulo de metais, esse país passou a concentrar seus investimentos no setor
manufatureiro.

O declínio do Ciclo do Ouro ocorre no final do século XVII como esgotamento das
minas. Grande parte da população residente desloca-se, então, para o Planalto
Central e para o Sul do país.

5
Ciclo do Café - Século XIX

No final do século XIX, o mercado de açúcar já estava sendo considerado pouco


promissor. Nesse sentido, as economias brasileiras e portuguesas estavam
estagnadas e, dessa forma, pouca era a atração de fluxos de investimentos para
as respectivas regiões.

O café, que já era produzido no Brasil, passa a ganhar destaque com a melhora
do pode aquisitivo na Europa e pela alta no preço do produto causada pela
desorganização da produção no Haiti (colônia francesa). Inicialmente, a produção
localiza-se no Rio de Janeiro (até 1880) e chegou a ser considerado o principal
produto da pauta de exportação brasileira no século XIX. A proximidade do porto
e uma mão-de-obra disponível, deslocada da economia mineira, incentivam a
produção.

O café é uma cultura permanente, dessa forma, possui uma menor aplicação de
capital, comparativamente à cultura da cana de açúcar. Adicionalmente, a
utilização de equipamentos mais simples e de produção local potencializa o seu
plantio.

A mão de obra imigrante foi largamente utilizada nessas fazendas. Os próprios


fazendeiros traziam famílias da Europa e o imigrante vendia seu trabalho futuro
como forma de quitar os custeios da viagem. O governo fornecia subsídios
cobrindo o custo principal: o preço da passagem do colono. Para tal, o colono
firmava um contrato com os fazendeiros de que não abandonaria as terras até
que o pagamento da divida fosse saldado – o que não estabelecia prazos
determinados.

Por sua vez, os fazendeiros dependiam dos comerciantes locais para realizar os
lucros através da venda do produto e para obter financiamentos para a realização
da produção. Ou seja, o comerciante era, antes de tudo, o financiador da
atividade e emprestavam seus recursos para o plantio, a colheita e a manutenção
dos cafezais2.

Foi uma estrutura também baseada em grandes propriedades o que concentrava


o poder nas mãos de poucos. O ciclo do café foi longo e esteve politicamente

2
A remuneração desses comerciantes provinha da comissão de 3% obtida pela venda dos grãos e
por juros, da ordem de 9 a 12% ao ano, nos empréstimos concedidos aos fazendeiros.

6
amparado nas grandes oligarquias agrárias. Era também um produto
eminentemente voltado para o mercado externo. O ciclo foi bastante rentável e
com o preço internacional favorável, o Brasil tornou-se um grande exportador.

Bibliografia Consultada
BRUM, A. Desenvolvimento Econômica Brasileiro. Ed: Unijuí, 2002. Págs: 130
a 139.

FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. Ed: Nacional, 1999. Caps: do 1


até 7.

PRADO JR, C., Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo: Brasiliense-


Publifolha, 2000. Caps: Sentido da Colonização (da pg 7 à 21) e Economia (da
117 à 128).
SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. Ed: Best Seller, 2002.

Aula 3: Crise do Modelo Agro Exportador e a Crise de 1929

‘Ao longo da República Velha, a crise da economia cafeeira criou barreiras


protecionistas involuntárias, tanto pela desvalorização cambial como pela elevação
das alíquotas de importação. É importante notar que, em função daquelas
medidas, os comerciantes ligados à importação acabariam por se transformar nos
primeiros grandes industriais, compelidos que foram a produzir internamente os
artigos antes adquiridos no exterior” (MENDONÇA e PIRES, 2002, p.175).

RESUMO

A economia cafeeira passou a vislumbrar seu declínio em virtude da superoferta


do produto que tencionava para baixo seu preço no mercado internacional. Tendo
em vista que o café foi o principal motor de acumulação capitalista entre os anos
de 1880 e 1930 era difícil desestimular os cafeicultores a re-investirem nas
lavouras, uma vez que não havia no período produto que gerasse similar
rentabilidade. Então, o que fazer como excedente: queimar? abandonar? ou
recolher e tentar exportar?

A política de valorização do café estabelecida pelo Convênio de Taubaté (1906)


onde estabelecia que:

7
- o governo compraria o excedente produzido como forma de regular a oferta e a
demanda;

- o financiamento dessas compras e da estocagem seria com empréstimo


estrangeiro;

- os juros seriam pagos com um novo imposto, cobrado em ouro, sobre cada saca
exportada;
- haveria tentativa de desestimulo de novas plantações por parte do governo.

A política deu certo porém, como os altos lucros foram mantidos, vislumbrava-se
novas crises de superoferta no futuro, principalmente, tendo em vista que o
governo não obteve êxito ao tentar reduzir a capacidade produtiva das plantações.
A crise chega ao seu ápice quando em outubro de 1929 ocorre a quebra da Bolsa
de Nova York promovendo verdadeira derrocada dos paises desenvolvidos e
afugentando do Brasil qualquer possibilidade de financiamento externo para
manter a política de valorização.

A medida adotada pelo governo brasileiro para atenuar a crise foi a


desvalorização da moeda nacional que, neste caso, facilitou o setor exportador já
que o preço do café ficava ainda mais barato garantindo uma certa vendagem. No
limite, os cafeicultores decidiram por destruir o café como forma de conseguir o
equilíbrio entre oferta e demanda em um novo patamar de preços. Ao se manter
um preço mínimo de venda conseguiu-se, conseqüentemente, estabelecer o nível
de emprego na economia exportadora e, indiretamente, nos setores ligados ao
mercado interno. Isso por que a colheita cresceu à despeito da crise em vigor
tendo em vista que o valor do produto que se destruía era muito inferior ao
montante de renda que se criava.

Praticou-se, na realidade, uma política anti-cíclica, pois a manutenção do


emprego assegurou o nível de renda da economia. Tanto que a economia
brasileira já dava sinais de recuperação em 1933 oriunda da própria política
interna de defesa dos interesses cafeeiros. Com a desvalorização da moeda
nacional a renda gerada no setor cafeeiro ficou represada no país servindo para
pressionar os produtores internos. Dessa maneira o setor interno passa a oferecer
melhores oportunidades de investimentos que o setor externo.

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O aumento da rentabilidade das atividades voltadas para o mercado interno
(industrial e agrícola) se fazia concomitantemente a quedas nos lucros dos setores
voltados para o mercado externo. O setor interno recebia ainda mais recursos dos
grupos econômicos que se desinteressavam do mercado externo. A ampliação da
capacidade interna necessitava, certamente, da importação de máquinas e
equipamentos – que estavam mais caros em função da desvalorização cambial. A
maneira de contornar esse entrave deu-se com a melhor utilização da capacidade
instalada criando fundos necessários a sua subseqüente expansão. Obtiveram
ainda produtos de segunda mão a preços mais baratos.

A procura por bens de capital facilitou a instalação de fábricas desse tipo. Em


geral, é difícil a instalação dessas fábricas em economias dependentes pois elas
estão muito mais voltadas para o segmento agro-exportador e com facilidades de
importação de bens duráveis. Neste caso, a procura por bens de capital (ferro,
aço, cimento) se deu no momento em que as importações estavam caras
chegando a ocorrer cortes significativos.

A economia não só encontrou estímulos dentro dela mesma para anular os efeitos
depressivos vindos de fora e continuar crescendo, mas também conseguiu
fabricar parte dos materiais necessários a manutenção e expansão da capacidade
produtiva. Procurou-se então desenvolver industrias destinadas a substituir
importações de acordo com o nível relativo de preços entre o mercado interno e
externo.
ESQUEMA DE AULA

- Crise do Café
- Super-oferta;
- Demanda crescendo apenas a taxas de manutenção;
- Pressões para baixa do preço internacional;

- Política de Valorização
- Compra dos excedentes por parte do governo;
- Financiamento externo para estocagem;
- Tentativa de desestimular novas plantações;

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- Conseqüências da política de Valorização
- Evitou quedas muito acentuadas no preço internacional do café;
- Ajuste artificial da demanda e da oferta do café;
- Realização de lucros obtidos pela política de estocagem;
- Novos fluxos de investimento;

- Crise de 1929
- Crise de superoferta: queda do preço do café no mercado externo;
- Quebra da Bolsa de Nova York;

- Medidas para saída da crise


- Desvalorização cambial: produtos nacionais com preços mais atraentes no
mercado externo;
- Taxação às importações encarecendo os produtos estrangeiros;

- Política anticíclica
- Desvalorização cambial  Garantia de vendas externas  Lucros 
Investimentos  Manutenção do nível de emprego  Capacidade de
consumir produtos manufaturados

- Desenvolvimento Interno
- Necessidades de insumos e bens de capital para o desenvolvimento das
manufaturas de bens de consumo;
- Insumos e bens de capital importados mais caros devido à desvalorização
cambial;
- Compra de equipamentos de segunda mão;
- Melhor utilização da capacidade instalada;

- Processo de Substituição de Importações


- Substituição de produtos importados de acordo com o nível relativo de
preços;
- Produção Industrial cresceu 50% entre 1929 e 1937;
- A Renda Nacional cresceu 20% no mesmo período;

10
- Fatores que retardaram a industrialização no Brasil
- Mentalidade agrarista (República Velha 1889-1930);
- Falta de cultura tecno-cientifica;
- Ausência de um mercado interno significativo;
- Proibições da metrópole;
- Escravidão;
- Rede de transporte precária;
- Deficiência energética pelo uso do carvão mineral.

- Primeiras Industrias:
- têxtil;
- moageira;
- cerveja;
- fósforos;
- calçados

Aula 4: Industrialização por Substituição de Importações

“A industrialização baseou-se na reprodução dos padrões de consumo dos países


de capitalismo central, não ocorrendo, como no primeiro caso, o desenvolvimento
de um setor de bens de produção simultaneamente ao de bens de consumo. De
fato, a industrialização substitutiva desenvolveu-se à sombra da economia
primário-exportadora, e somente após a crise de 1929 houve uma mudança do
centro dinâmico da economia, que se voltaria, então, para o mercado interno”.
(MENDONÇA e PIRES, 2002, p.221).

RESUMO

Antes de tratar do processo de industrialização brasileira em seu sentido pleno é


necessário destacar que, desde 1880, já surgiram no país algumas industrias no
setor de calçados, tecidos, cerveja, fósforos e moagem. Não se pode, todavia,
considerar esta fase como de um processo de industrialização, pois o centro

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dinâmico da economia ainda estava ancorado no setor agro-exportador. Esse
período ficou marcado, nesse âmbito, como de crescimento industrial já que não
se tratava da formação de um sistema industrial diversificado e sim, da adição de
unidades similares em certos setores da atividade industrial.

A Grande Depressão de 30 representou, na realidade, o momento de ruptura com


o modelo agro-exportador em favor de um modelo de desenvolvimento voltado
para o mercado interno. A industria passa então a ser o centro dinâmico na
formação de capital e renda interna. Com isso, verificou-se a expansão da
produção interna de bens de consumo que eram anteriormente importados. Em
outra medida, teve-se a elevação da exportação de bens de capital e bens
intermediários necessários a essa produção.

Bens de Capital são aqueles que servem para produzir outros bens e, portanto,
não atendem diretamente às necessidades das pessoas como máquinas e
equipamentos, material de transporte e instalações industriais, etc..

Bens Intermediários são aqueles bens que vão passar por transformações
tornando-se, no futuro, bens de consumo ou bens de capital. São bens
manufaturados ou matérias-primas processadas que serão utilizadas na produção
de outros bens. São insumos utilizados no processo produtivo como cimento, lingote
de aço, fero gusa, etc.

Ao se ter como aspecto marcante da industrialização brasileira o fato dela ter se


detido, inicialmente, apenas ao setor de bens de consumo não duráveis deu a ela
a definição de Industrialização Restringida, ou seja, incompleta pelo fato da
matriz produtiva não contar com as indústrias de bens de produção e bens de
consumo duráveis.

Industrialização Extensiva: a substituição ocorre na faixa dos bens de


consumo, alguns produtos intermediários e bens de capital cuja tecnologia exige
baixa densidade de capital com uso abundante da mão-de-obra.

Industrialização Intensiva: a substituição ocorre na faixa dos bens de


produção pesados, pelos bens de consumo de alto valor unitário e utiliza técnica

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intensivas em capital.

É preciso esclarecer que o processo de substituição de importações não substitui


todas as importações de forma a tornar o país auto-suficiente. Ainda assim, o Brasil
apresentou nos anos subseqüentes a quase auto-suficiência na produção de bens de
consumo reduzindo significativamente a pauta de importações desses produtos. Por outro
lado, o incremento nas vendas internas exigiu novas importações de bens de capital e
insumos para a ampliação da capacidade instalada das empresas.
Taxa Média de
Crescimento
Períodos Agricultura Indústria
1920-1929 4,1% 3,9%
1933-1939 1,7% 4,9%
1939-1945 1,7% 3,2%

Os dados acima indicam o crescimento superior do setor industrial a partir de 30,


o que permitiu a saída mais fácil do Brasil da grande depressão que já dava
sinais de recuperação em 1933. A ênfase na política de desenvolvimento
industrial passou a ser planejada conjuntamente com o governo após a
instituição do Estado Novo (1937-1964) quando a posse do Presidente Getúlio
Vargas rompeu com a política dos governadores que alteravam o poder entre
Minas Gerais e São Paulo e estavam intimamente associados aos interesses da
monocultura exportadora do café3. Outras mudanças puderam ser notadas no
período:
- Diversos órgãos foram criados para o reaparelhamento do Estado;
- Banco do Brasil financiando o desenvolvimento industrial por meio
de carteiras de créditos;
- Criação da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas);
- Instituição do salário mínimo – auferindo poder de compra aos
trabalhadores, em 1944;
- Criação da Justiça do Trabalho e do Imposto Sindical.

3
Vale lembrar que o poder das oligarquias do café foram minimizados, mas não suprimidos. Segundo
Mendonça e Pires (2002, p.235) “sem dúvida é correta a conclusão de que a Revolução de 30 não atingiu
certas preorragativas básicas das elites tradicionais.”

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Deve-se ter em mente que a industrialização do Brasil gerou mudanças
estruturais pronunciadas que influenciaram o dinamismo da economia. Surge
então a classe média e maiores benefícios foram concedidos às classes
trabalhadoras. Ainda nesse sentido, a arrecadação do governo passou a ser
menor no que se refere aos Impostos de Importações (II) e cresceu, por outro lado,
as arrecadações do Imposto de Renda (que incide sobre salários e rendimentos).

É preciso destacar que a indústria nacional nasceu dependente de equipamentos


e tecnologias produzidas nos países centrais. O papel do Estado nessa primeira
fase de industrialização foi de organizar as unidades industriais básicas já que a
iniciativa privada, ou não possuía recursos ou não tinha interesses por tais
investimentos que envolviam grandes riscos e elevado período de maturação. O
que se precisava então? A criação de uma indústria de base – o que será feito nos
anos 50, quando o governo tenta criar nova etapa da matriz industrial do Brasil,
que nasceu incompleta.

Quando em 1939 foi deflagrada a II Grande Guerra Mundial, o governo brasileiro


mais uma vez desvalorizou a moeda nacional. A medida adotada foi a mesma que
se observou na crise de 1929, contudo o cenário interno agora era outro pois a
capacidade da economia estava sendo plenamente utilizada. Como as
importações se tornaram mais caras elas caíram em média 40%; houve sobretudo
expansão das exportações de produtos industrializados (calçados e têxteis)
brasileiros para os paises aliados, proporcionando o acúmulo de reservas. Essa
queda teve forte impacto na economia já que a pauta de importações estava
associada aos bens de capital indispensáveis para a continuidade da produção
interna. Reduz-se então o crescimento industrial e pressões inflacionárias surgem
devido a limitações na oferta (com a demanda maior que a oferta, dessa vez).

Quadro Resumo

Economia Agro Economia Industrial


Exportadora

Mercado Externo Interno

Produtos Agrícolas – Monocultura Industrializados - Bens de

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Consumo

Setor Dinâmico Primário Secundário

Governo Apêndice das camadas Planejou e participou do


dirigentes (Republica processo de
Velha) desenvolvimento industrial
(Estado Novo)

Renda Alta e concentrada nas Alta e um pouco mais


elites agrárias redistribuída (classe
assalariada)

Modelo de Agrário Exportador Substituição de


Desenvolvimento Importações

Dependência Externa De mercados para a Da importação de bens de


venda dos produtos capital e bens
agrícolas (exportações) intermediários pouco
presentes na matriz
industrial brasileira

ESQUEMA DE AULA

- Industrialização Clássica (Inglaterra, França e Bélgica)

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- Crescimento Industrial (1880-1930)
- Setores que surgiram inicialmente;
- Características da industria incipiente;

- Industrialização (pós 1930)


- Fatores impulsionadores;
- Mudanças políticas: Estado Novo (1937-1964);

- Substituição de Importação
- Características principais

- II Grande Guerra Mundial


- Siderúrgica de Volta Redonda;
- Entraves estruturais frente ao novo cenário econômico.

Bibliografia Consultada
FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. Ed: Nacional, 1999. Caps: 33 e
34.

LACERDA, A. C. et alli Economia Brasileira. Ed: Saraiva, 2000. Caps.4 e 5.

BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 50 à 61.

MENDONÇA, M. G. e PIRES, M. C. Formação Econômica do Brasil. Ed:


Thomson, 2002. Caps: 15, 16, 17 18 e 19.

Aula 5: Plano de Metas – “cinqüenta anos em cinco”

“Política econômica encabeçada pelo presidente Juscelino Kubitscheck (1956-


1961), eleito com o slogan “cinqüenta anos em cinco”, sendo responsável pela
aceleração da industrialização brasileira e pela complementação do parque
industrial do país, por intermédio da criação de industrias de base, de bens de
consumo duráveis e de máquinas e equipamentos. O Plano de Desenvolvimento
Econômico, conhecido como Plano de Metas, previa a articulação de investimentos
públicos e privados para a implantação de novos ramos industriais. Destaque-se o

16
incentivo governamental, por intermédio da Instrução 113, à implantação de
empresas multinacionais no Brasil que, a partir de então, passaram a controlar os
setores mais dinâmicos da economia. A construção da nova capital – Brasília –
que mobilizou expressiva parte do Produto Interno Bruto, além de criar demanda
para a indústria local, contribuiu para a ampliação do espaço econômico nacional,
devido à construção de mais de 7000 Km de rodovias com que pese o grande surto
de desenvolvimento, as políticas de JK legaram ao Brasil o descontrole das contas
públicas e a aceleração do processo inflacionário, além de provocar graves
denúncias de corrupção administrativa”. (MENDONÇA e PIRES, 2002, p.271).

RESUMO

O panorama externo desse período estava associado à expansão do capital


monopolista marcado pelo término da reconstrução das economias participantes
da II Guerra Mundial, pela constituição do Mercado Comum Europeu e pela
grande expansão de multinacionais americanas. O Brasil passa, principalmente
entre 1956-1967, a integrar essa ordem econômica mundial.

No cenário interno, o país ainda apresentava efeitos da recessão iniciada em


1953, com a ascensão da inflação e uma desaceleração das atividades
econômicas. Ainda assim foi um período de significativas mudanças estruturais
na economia brasileira: encerrou-se finalmente a primeira fase da revolução
industrial com a decolagem da indústria em virtude da presença do Estado no
fomento de grandes obras públicas e do incentivo à produção de bens de
consumo duráveis. O Estado assumiu o papel de agente e marcou essas
transformações deixando, definitivamente, para trás o caráter colonial que
marcou a economia.

Isto por que, apesar dos avanços da industrialização proporcionados pelo


processo de substituição de importações, a economia brasileira sofria com
diversos estrangulamentos da produção em virtude de impedimentos cambiais
para a importação de bens de produção além de impedimentos estruturais no que
tange os setores de transportes e energia. Dessa maneira, a seqüência necessária
à plena conformação da matriz produtiva do país exigia a continuidade do
processo com vistas a produzir internamente os bens de produção.

17
Segundo tipologia estabelecida por Karl Marx existem dois departamentos na
economia: o Departamento I produtor de bens de capital e bens intermediários e
o Departamento II produtor de bens de consumo (duráveis e não duráveis).
Historicamente, o crescimento das economias capitalistas industrializadas foi
impulsionado pelo maior crescimento no departamento I. No Brasil, por sua vez, a
industrialização deu-se com ênfase no departamento II o que resultou em pontos
de estrangulamentos que limitaram e diminuíram o ritmo de crescimento da
economia além de uma maior dependência desses insumos ofertados pelo
mercado externo. (LACERDA ett alli, 1996, p.80-81).

Foram dois os aspectos que permitiram o aprofundamento da industrialização, a


saber: o aumento da participação do governo nos investimentos (concedendo
inclusive incentivos fiscais e creditícios para a instalação de indústrias) e a
entrada de capital estrangeiro no país (contrariamente ao governo Vargas). Esses
fatores iriam ainda, a longo prazo, contribuir para pressões inflacionárias e
desequilíbrios regionais fomentadores da crise de 1960. Isto por que os
investimentos do governo brasileiro estavam sendo financiados com o capital
estrangeiro, ampliando a divida externa, justamente em um período de reduções
das divisas oriundas das exportações.

A criação do Conselho de Desenvolvimento Econômico durante o governo de


Juscelino Kubischeck (1957-1961) estava encarregada de analisar a situação
econômica do Brasil, bem como apresentar soluções e cujo principal fruto foi o
Plano de Metas (Plano de Desenvolvimento Econômico). O Plano tinha como
objetivo ampliar o nível de vida da população por meio da oferta de novas
oportunidades de trabalho vindo de investimentos nas atividades produtoras.

A base do Plano estava ancorada na construção dos estágios que faltavam à


matriz industrial brasileira e dessa forma daria continuidade ao processo de
substituição de importações; geraria investimentos diretos do governo nos setores
de energia-transporte e em algumas atividades industriais básicas (siderurgia e
refino do petróleo); e procuraria incentivar investimentos para a expansão e

18
diversificação do setor secundário e produtor de equipamentos e insumos com
funções de produções de alta intensidade de capital.

Para tal deveriam ser ampliadas as taxas de investimentos de empresas privadas,


nacionais e/ou estrangeiras, no país, através de medidas que visavam:

- “aumentar o influxo de capitais estrangeiros, seja sob forma de


investimentos diretos, seja por empréstimos a longo prazo, ou ainda pelo
recurso aos créditos comercias a prazo médio;

- aumentar o volume de poupança nacional, seja através do combate à


inflação, para incentivar a poupança voluntária, seja pela imposição de
tributos ou recurso a empréstimos compulsórios;

- coordenar os investimentos públicos, de modo a orienta-los para aquelas


obras de maior produtividade por unidade de capital aplicado, evitando a
sua pulverização e concentrado maciçamente os recursos existentes na
complementação das obras encetadas;

- Orientar investimentos privados com o objetivo de aumentar a sua


produtividade, canalizando-os para os setores de maior importância da
economia nacional e desincentivando o investimento santuário ou
improdutivo”(IANNI, O apud MENDONÇA e PIRES, 2002, p.275-276).

A política cambial estava amparada de forma a atingir as metas estipuladas pelo


Plano, ou seja, múltiplas taxas com a finalidade de ampliar o poder de compra no
exterior, especialmente de bens de capital e atrair investimentos estrangeiros.

Instrução 113 da SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito): permitia às


empresas estrangeiras instaladas no país importar máquinas e equipamentos
sem cobertura cambial, para a complementação dos conjuntos industriais já
existentes no país e classificados conforme a essencialidade dos produtos. Esse
subsidio não era concedido às empresas nacionais;

Instrução 70 da SUMOC: condicionava as importações aos interesses


industriais, mediante o leilão de divisas com câmbio diferenciado conforme a

19
essencialidade da importação.

A estruturação do Plano continha 31 metas organizadas em seis grandes grupos


de metas a serem atingidas:

1. Energia (elétrica, nuclear, carbonífera e petrolífera);

2. Transportes (construção e reequipamento de estradas de ferro, construção


e pavimentação de rodovias, portos e barragens, marinha mercante,
transportes aéreos);

3. Alimentação (trigo, armazéns e silos, frigoríficos, matadouros, mecanização


da agricultura, fertilizantes);

4. Indústrias de Base (aço, alumínio, metais não ferrosos, cimento, álcalis,


papel e celulose, borracha, exportação de ferro, veículos motorizados,
construção naval, maquinaria pesada e equipamento elétrico);

5. Educação;

6. Criação de Brasília que mobilizaria 2,3% no PIB nacional na sua


construção.

Algumas metas refletiram apenas a tendência de crescimento da produção e do


consumo de alguns insumos. Os resultados do Plano foram considerados
satisfatórios:

- A produção industrial cresceu em média por ano 11,9%, entre 1957-1962


(sendo que os ramos de Material de Transportes e Material Elétrico ambos
com 27% a.a., Mecânica com 16,5% a.a., Metalúrgica com 15,6% a.a. e de
Borracha com 15% a.a.) nos segmentos de bens de capital, bens
intermediários e bens duráveis de consumo;

- As indústrias de bens de consumo não-duráveis também apresentaram


incrementos, porém menores: (Têxtil 8,8% a.a. e Alimentos 7,5% a.a.);

- A construção de Brasília ajudou na ampliação da malha rodoviária


(pavimentação e construção de novas estradas) e no ramo de equipamentos
deveu-se o destaque ao setor automobilístico (em detrimento da Fabrica
Nacional de Motores – FNM).

20
As indústrias que mais se desenvolveram (exceto a mecânica) eram frutos da
Segunda Revolução Industrial e no Brasil foram fortemente amparadas pelo
capital estrangeiro e pela presença de grandes empresas multinacionais. Essas
empresas compunham o departamento I, produtor de bens de capital, e do
departamento II, no setor de bens de consumo duráveis.

As estratégias de desenvolvimento do parque nacional brasileiro estavam


intimamente associadas às iniciativas de desnacionalização dos setores, tendo em
vista que a base de investimentos estava amparada no tripé Estado-Capital
Estrangeiro-Capital Nacional. Na qual o governo fornecia incentivos, proteção,
subsídios, empréstimos e insumos industrias; o capital estrangeiro financiava os
gastos públicos e privados e o capital nacional, aparecia como sócio menor,
fornecedor de insumos e componentes.

As transformações ocorridas na economia oriundas desses investimentos


conformaram uma estrutura oligopolista, onde os principais ramos industriais
passaram a ser constituídos por um pequeno número de grandes empresas. A
participação majoritária do capital estrangeiro nas empresas brasileiras se deu
em virtude da mudança de perspectiva nas economias centrais que passaram a
ver o Brasil como uma possibilidade de expansão de mercados. Essa situação foi
dada pela própria lógica do capitalismo vigente onde grandes plantas, com
elevadas escalas de produção necessitavam de elevado capital investido.

A despeito do intenso desenvolvimento do setor de bens de capitais, o incremento


não foi suficiente para estabelecer uma autonomia no que tange a utilização de
tecnologias mais avançadas. Segundo Lacerda (p.95) “essa foi uma das
características básicas da nova fase de divisão internacional do trabalho. Assim, o
desenvolvimento industrial de paises subdesenvolvidos, superando parcialmente o
papel histórico de fornecedores de alimentos e matérias-primas, implicaria a
instauração de uma nova dependência financeira e tecnológica com relação aos
países desenvolvidos”.

Bibliografia Consultada
LACERDA, A. C. et alli. Economia Brasileira. Ed: Saraiva, 2000. Caps.6 e 7.

21
BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 62 à 84.

MENDONÇA, M. G. e PIRES, M. C. Formação Econômica do Brasil. Ed:


Thomson, 2002. Cap. 22.

Aula 6: Crise e Reformas Institucionais

“As políticas implementadas por Juscelino levaram à crise da industrialização


substitutiva e à estruturação de um novo modelo de desenvolvimento, que pode
ser definido como associado e dependente. De acordo com esse modelo, as
empresas estatais e privadas nacionais ficaram subordinadas às empresas
multinacionais, que passaram a controlar os setores mais dinâmicos da indústria.
Veremos agora, que a crise política que coincidiu com os governos dos presidentes
Jânio Quadros (janeiro-agosto/1961) e João Goulart (1961-1964) foi reflexo do
embate entre os dois citados modelos de desenvolvimento. O golpe militar de 1964
marcou a vitória definitiva dos grupos que defendiam a liquidação do processo de
substituição de importações e a adoção de um modelo de plena associação e
subordinação ao capital monopolista internacional”. (MENDONÇA e PIRES, 2002,
p.271).

RESUMO

A economia brasileira já se encontrava nesse período, de certa forma,


internacionalizada. Vale ressaltar que a ênfase nesse processo de
internacionalização foi dada com a acentuada entrada de empresas
multinacionais para atuarem em setores estratégicos brasileiros. Isto é, os
grandes setores dinâmicos encontravam-se nas mãos dos capitais estrangeiros, a
saber: os setores automotivo, químico-farmacêutico, petroquímico, metal
mecânico e eletrônico.

Estes setores encontravam-se bastante oligopolizados, enquanto as empresas estatais brasileiras vendiam seus produtos à preços
subsidiados: como o aço, a energia elétrica e derivados do petróleo. Por outro lado, os setores privados nacionais eram sócios
minoritários nessa estrutura produtiva.

SUBSíDIO. Tecnicamente, pode ser definido de várias formas: 1) benefícios a


pessoas ou a empresas, pagos pelo governo, sem contrapartida em produtos ou
serviços; 2) despesas correspondentes a transferência de recursos de uma esfera

22
do governo em favor de outra; 3) despesas do governo visando à cobertura de
prejuízos das empresas (públicas ou privadas) ou ainda para o financiamento de
investimentos; 4) benefícios a consumidores na forma de preços inferiores que, na
ausência de tal mecanismo, seriam fixados pelo mercado; 5) benefícios a
produtores e vendedores mediante preços mais elevados, como acontece com a
tarifa aduaneira protecionista; 6) concessão de benefícios pela via do orçamento
público e outros canais. (Sandroni, 2002: p.581)

No âmbito da estrutura econômica notou-se um aprofundamento das divisões


entre o empresariado e a classe trabalhadora. Entre esses últimos, observou-se
ainda uma polarização entre os que trabalhavam nos setores de ponta da
economia e os que se situavam nos setores tradicionais. Para os que estavam nos
setores mais modernos conformou-se uma situação em que estes passaram a ser
considerados como “aristocratas operários” devido a maior qualificação e
melhores remunerações. Vale destacar, por sua vez, que a estrutura salarial
estava “arrochada” para todos os trabalhadores, todavia os segmentos mais
organizados conseguiram estabelecer campanhas salariais por meio de sindicatos
mais fortes e combatentes.

Este período foi marcado por uma crescente instabilidade social pelo “luto”
sofrido com a perda de um projeto de desenvolvimento nacional para o país. A
campanha “O Petróleo é Nosso!” foi um marco - ainda que a parte mais rentável
do processo produtivo estivesse saído das mãos do monopólio estatal (a
distribuição do petróleo refinado).

A eleição de Jânio Quadros (em 1961) contribuiu para a desestruturação do


modelo de substituição de importações (PSI) enquanto o presidente centrava
ênfase nas elevadas taxas de inflação e tentativa de moralização do setor público
em virtude das denúncias de corrupção administrativa. Responsabilizava ainda o
ex-presidente JK (Plano de Metas) pela elevação inflacionária e acenava para
setores nacionalistas ao propor uma política externa “independente”. O
presidente Jânio teve a maior votação da história brasileira até aquele período
(posto assumido pelo atual presidente Luis Inácio Lula da Silva) e sua base estava
ancorada na UDN – diante de suas posições anti-getulistas e ainda, oposições a
políticas industrializantes e sendo a favor da internacionalização da economia
brasileira.

23
No combate a inflação adotou medidas econômicas ortodoxas como: diminuição
do déficit público, corte de subsídios, reduções nos gastos governamentais e
desvalorização cambial. De acordo com a Instrução 204 da SUMOC (1961)
eliminaram as múltiplas taxas de câmbio que procuravam favorecer os setores
agrícolas exportadores. Aumentou o custo de vida da população ao conceder
aumentos nos derivados de petróleo e do trigo.

Outras medidas adotadas por Jânio Quadros em seu breve mandato:

- perseguição e punição à funcionários públicos considerados relapsos;

- proibiu o uso de lança perfume no carnaval, de biquíni nas praias do Rio de


Janeiro, de maiôs cavados nos concursos de beleza, proibiu brigas de galo e as
corridas de cavalos durante a semana;

- perseguiu situações de apadrinhamento e clientelismo no emprego público.

Enquanto adotava uma política interna moralista e recessiva, Jânio Quadros


procurava realizar uma política externa independente que seria:

- ignorava o alinhamento do país com os Estados Unidos;

- busca de novos mercados para exportar.

Como Jânio Quadros realizava sua atuação política com demonstrações de


desprezo por partidos políticos o presidente perdeu assim, sua base de apoio.
Nesse sentido, redireciona-se para os setores de esquerda que estavam desejosos
para que as medidas recessivas fossem abrandadas.

Com a renúncia de Jânio Quadros (em 25 de agosto de 1961) quem deveria


assumir seria o vice João Goulart – o Jango – visto como um “getulista”. Ocorre,
todavia, o veto militar à posse de Jango e instaura-se o parlamentarismo no
Brasil. Jango só virá a assumir o cargo em setembro de 1961 com base no
sistema parlamentarista. Teve como 1° Ministro: Tancredo Neves e como Ministro
da fazenda Walter Moreira Sales - o que concedeu um caráter conservador dessa
cúpula.

Estávamos em meio à guerra fria. As medidas de João Goulart acenaram de


forma preocupante por parte dos militares e dos setores mais conservadores da
sociedade:

24
- reatou relações com a URSS (União Soviética):

- cancelou a concessão de exploração de minério por empresas americanas;

- realizou (1962) discurso que proclamava a Reforma Agrária.

Esses foram os distintos pontos do contexto brasileiro e internacional que


acenaram para o Golpe Militar em 31 de março de 1964.

ESQUEMA DE AULA

* Crise Política
- Governo de Jânio Quadros (Jan/Ago 1961)

- Governo de João Goulart (1961-1964)


- Golpe Militar em 31 de março de 1964

* Crise Econômica
- Modelo de desenvolvimento Associado e Dependente
- Desequilíbrios no Balanço de Pagamentos (nas contas Balança Comercial e
Conta Capital)
- Agravamento da divida externa

* Crise Mundial
- Guerra fria
- EUA rompe relações diplomáticas com Cuba
- Alemanha comunista ergue o Muro de Berlim

Bibliografia Consultada

BRUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000. Cap.6


LACERDA, A. C. et alli. Economia Brasileira. Ed: Saraiva, 2000. Cap. 8

MENDONÇA, M. G. e PIRES, M. C. Formação Econômica do Brasil. Ed:


Thomson, 2002.

SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. Ed: Best Seller, 2002.

Aula 7: O PAEG e o Milagre Brasileiro

25
“O que se convencionou chamar de milagre econômico brasileiro foi um período de
intenso crescimento do PIB e da produção industrial entre 1968 e 1973. A
economia internacional brasileira beneficiou-se do grande crescimento do comércio
mundial e dos fluxos financeiros internacionais para aumentar sua abertura
comercial e financeira em relação ao exterior. Novamente, neste ciclo expansivo,
observou-se a predominância dos setores produtores de bens duráveis e bens de
capital, a partir da estrutura industrial implantada ainda no Plano de Metas. Uma
das características marcantes desse processo, como já foi enfatizado, foi a
presença de capital estrangeiro, na forma de investimentos diretos, especialmente
através de empréstimos. Ao mesmo tempo que ocorreu um intenso crescimento
econômico, agravaram-se as questões sociais, com aumento da concentração de
renda e deterioração de importantes indicadores sociais”. (LACERDA ett alli: 2000,
p.109)

RESUMO

O PAEG (Plano de Ação Econômica do Governo)

O PAEG foi um plano elaborado durante o governo do marechal Castelo Branco


que conseguiu reduzir as taxas de inflação de 90% em 1964 para menos de 30%
em 1967, invertendo a tendência inflacionária existente desde 1930. O aspecto
mais importante do PAEG foi o conjunto de transformações institucionais
impostas ao país, como a reforma bancária e tributária e na centralização
autoritária do poder político e econômico.

Os objetivos básicos do plano foram:

- retomada do desenvolvimento, via retomada dos investimentos;

- estabilidade dos preços;

- atenuação dos desequilíbrios regionais;

- correção dos déficits do balanço de pagamentos;

- normalização das relações com os organismos financeiros internacionais.

É preciso destacar que as diretrizes do plano estavam diretamente vinculadas ao


tipo de processo inflacionário que se identificava; neste caso, embasado na
ortodoxia monetarista que via o excesso de demanda na economia com tendo

26
origem na expansão do crédito, nos aumentos salariais superiores ao incremento
da produtividade e pela monetização dos déficits públicos. O único aspecto que
poderia não se enquadrar nesse diagnóstico ortodoxo foi a proposta de uma
estabilização alcançada de forma gradual.

Com base nesse diagnóstico foram implementadas medidas buscando reduzir os


gastos do governo e ampliar as receitas; executar uma política monetária
restritiva com controle de emissão monetária e crédito, e uma dura medida de
contenção salarial. Essas medidas ocasionaram um efetivo arrocho salarial, que a
despeito da insatisfação dos trabalhadores foram levadas a cabo diante do regime
autoritário vigente.

Reforma Bancária de 1965 criou a estrutura básica do sistema financeiro


nacional, instituindo o Banco Central e o Conselho Monetário Nacional. Foi
instituída também a correção monetária, o que permitiu a convivência com
elevadas taxas de inflação por muitos anos. Procurava-se desenvolver um sistema
financeiro forte e competitivo.

Houve ainda, no período, a criação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e


do Banco Nacional de Habitação (BNH) possibilitando elevada ampliação do
fomento na construção habitacional e saneamento básico.

A Reforma Tributária em 1967 criou o sistema tributário ainda vigente no país,


ampliando a arrecadação e centralizando-a na esfera do governo federal. Além de
impostos, outros fundos foram criados como o FGTS (Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço), PIS (Programa de Integração Social) e o PASEP (Programa de
Assistência ao Servidor Público) – estando os últimos voltados a propiciar a
participação dos assalariados nos lucros das empresas.

O governo passou a se financiar também por meio da constituição de uma divida


pública baseada na ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) e,
posteriormente, pelas Letras do Tesouro Nacional (LTN). Essa nova estrutura
permitia ainda a ampliação das exportações através de diversos incentivos fiscais.

Pode se considerar positiva a ação do PAEG, mesmo diante dos custos para uma
parcela da população. O plano reduziu a inflação para até 20 % ao ano e
estabeleceu uma gama de modificações institucionais importantes para o avanço
da economia brasileira.

27
As criticas ao plano estavam assentadas no diagnóstico da inflação, nesse sentido
considerado equivocadamente como inflação de demanda, que culminou em uma
política recessiva e com elevados custos sociais. Na visão dos críticos a inflação
brasileira devia-se a elevação dos preços agrícolas decorrentes da quebra de
safras. Outras críticas destinavam-se ao autoritarismo na adoção de mudanças
institucionais que ratificavam o fortalecimento dos oligopólios e da
desnacionalização da economia brasileira.

O MILAGRE BRASILEIRO

O período de crescimento vertiginoso da economia brasileira, entre 1968 e 1973,


conhecido como milagre econômico, não deve ser compreendido dissociado do
panorama mundial. Isto por que, após a II Grande Guerra e até meados dos anos
70, o capitalismo mundial viveu semelhantes expansões em suas economias;
conhecido pela literatura como os trinta anos gloriosos.

Esses milagres foram caracterizados por altas taxas de crescimento das


economias, por longos anos, possibilitando saltos industrias mesmo em países
subdesenvolvidos, como foi o caso do Brasil.

Em 1967, durante o governo do general Costa e Silva, Antônio Delfim Netto que
estava responsável pela condução da política econômica brasileira realizou novo
diagnóstico para a origem da inflação: esta passou a ter um forte componente de
custos, decorrente de alta capacidade ociosa e altos custos financeiros. Deve-se
mencionar que o PAEG já havia realizado o ajuste das contas públicas e os
salários estavam controlados, ou seja, comprimidos. Diante de tal diagnóstico as
medidas adotadas para o controle inflacionário estavam associados à tentativa de
retomar o crescimento econômico.

Nesse sentido contou-se com uma política monetária expansiva (ampliação de


moedas em circulação na economia) e que houvesse grande ampliação no crédito
ao setor privado, estimulando a produção para o mercado interno e externo. Os
setores de bens de consumo duráveis e bens de capital foram os impulsionadores
da dinâmica econômica no período e alcançaram em média para o período
crescimento de 23,6% e 18,1%, respectivamente.

Quadro 1

28
Evolução Anual da Inflação, PIB e do Saldo na Balança Comercial (X-M)

Brasil, 1968-1973
Saldo (em
Crescimento
Ano Inflação % US$
do PIB %
correntes)
1968 25,4 11,2 26
1969 19,3 10,0 318
1970 19,3 8,8 232
1971 19,5 11,3 -343
1972 15,7 11,9 -241
1973 15,6 14,0 7
Fontes: Banco Central e FGV apud BAUM (200, p.323).

Manteve-se a matriz de crescimento implantada no Plano de Metas com a


ampliação das perspectivas voltadas para o mercado estrangeiro. Foi nesse
âmbito que as importações cresceram (de 5,4 para 8,6% do PIB) e as exportações
cresceram ainda mais proporcionando saldos positivos na balança comercial em
quase todo o ciclo. Destaca-se que o crescimento da indústria de bens de
consumo não-duráveis manteve-se abaixo dos outros setores, garantindo ainda
assim taxas de em média 9,4% ao ano.

Tendo assumido claramente o modelo de desenvolvimento dependente e


associado, a grande fonte de financiamento dessa pujança econômica foi o setor
externo. Em contrapartida, teve-se a ampliação da dívida externa. Contabilmente,
o estoque da dívida externa bruta é o “resultado acumulado da parcela dos
déficits em transações correntes não financiadas pelo ingresso de capitais de
risco ou pela redução de reservas internacionais do país” (Lacerda, 2000: p.113).

As taxas de juros reais baixas no mercado internacional serviram para atrair


empréstimos brasileiros nessas instâncias financeiras. Principalmente tendo em
vista que o sistema financeiro brasileiro não era um grande estimulador da
concessão de empréstimos de médio e longo prazo. Portanto, mesmo sem uma
necessidade estrita de empréstimos para financiar grandes déficits, a divida
externa liquida (divida externa bruta – reservas internacionais) se amplia

29
consideravelmente deixando o patamar de US$ 3,2 bilhões em 1965 para atingir
o patamar de US$ 6,2 bilhões em 1973.

O crescimento econômico do período não ofereceu desdobramentos significativos


para o conjunto da economia, percepção sintetizada na frase “a economia vai
bem, mas o povo vai mal”. Isto por que os louros da expansão direcionaram-se
para as classes mais elevadas de renda, ampliando a desigualdade social entre as
camadas, em virtude também das reduções do valor real do salário mínimo (perda
do poder aquisitivo de 42% entre 1964 e 1974). Esses dados fornecem a
dimensão da desigualdade uma vez que até 1972, mais da metade dos
assalariados percebiam até 1 SM.

Bibliografia Consultada
BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 87 à 100.

BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000. Cap.7.


LACERDA, A. C. et alli. Economia Brasileira. Ed: Saraiva, 2000. Caps.8 e 9.

Aula 8: Desaceleração Econômica e II PND

RESUMO

Desaceleração Econômica

O choque do petróleo ocorrido em 1973 quadruplicou o preço do produto; que


deixou o patamar de US$ 3,00 o barril em 1973 e foi para algo próximo de US$ 12,00 em
1974 (com o segundo choque, em 1979, o barril chegou ao pico de US$ 37,00 em 1981!)
(CARNEIRO, 2002: 53). Tendo em vista que o Brasil importava quase 80% do petróleo
que consumia, esse aumento teve impacto significativo na sua balança comercial - que
migrou de uma situação de pequeno superávit (US$ 7 milhões) para uma de déficit (US$
4,7 bilhões). Acompanhando o petróleo, elevou-se também o preço do carvão (segundo
combustível em importância econômica) e as matérias primas essenciais (aço,
petroquímicos, fertilizantes, papel e industrializados diversos). Com isso, a inflação tomou
novamente um impulso ascendente (inflação de custos).

I CHOQUE DO PETRÓLEO (1973): Crise decorrente de sucessivos aumentos nos

30
preços do petróleo decretados a partir de outubro de 1973 pelos Estados
integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Seu
elemento detonador foi o conflito árabe-israelense de 1973, mas o seu alcance era
muito mais amplo: a crise expressava o projeto dos países produtores de petróleo
no sentido de controlar a produção e distribuição da matéria-prima e de defender
seu preço no mercado internacional (SANDRONI, 2002: 457).

A conjuntura econômica mundial tornava-se desfavorável ao crescimento


econômico, ao menos no curto prazo: os países centrais (desenvolvidos) tiveram
que reordenar suas economias à nova situação adotando medidas de austeridade
- o que conduziu a economia mundial a um período de recessão (1974-1976).
Diante deste panorama o Brasil teria duas alternativas: reduzir substancialmente
o crescimento econômico (que vinha de uma média de 11% ao ano desde o
período do “milagre”) a fim de reduzir a conta de importações não referente a
petróleo ou optar pelo crescimento elevado e continuado, com implicações para a
redução das reservas cambiais e/ou elevação da dívida externa.
O governo Geisel optou pela segunda alternativa já que esperava pagar as altas
contas do petróleo com crescimento econômico. “A inaceitabilidade da estagnação
deveu-se não somente à aversão de Geisel a comparações desagradáveis com o
governo anterior, mas também estava ligada ao objetivo de gradual descompressão
política, que ele acreditava ser mais fácil de alcançar em um clima de crescimento”
(BAER, 1996: 105).

A idéia de crescimento do Brasil estava amparada no exemplo do “milagre”


japonês, tendo em vista que este país recuperou-se rapidamente da devastação
ocorrida com a II grande guerra e logo se apresentou como grande potência
econômica, financeira e tecnológica. Assim, procurou-se identificar semelhanças
e diferenças entre essas economias que pudessem sinalizar caminhos e opções
para o desenvolvimento do Brasil.

Nesse âmbito, destacou-se como vantagem comparativa do Japão o elevado nível


cultural da sua população, a existência de recursos humanos qualificados, a
autonomia cientifica e tecnológica e a presença de grandes empresas nacionais
privadas. Foi com base nessa perspectiva que os formuladores do “Avança Brasil”
estabeleceram as metas para o projeto. Vale destacar, que ignoraram um aspecto
fundamental: a capacidade de poupança da população japonesa (o que em

31
analogamente remete à dependência brasileira de empréstimos estrangeiros para
financiar seus investimentos).
II PND – Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979)

Amplo programa de investimento cujas metas principais eram:

- obter uma transição lenta, gradual e segura para um regime democrático;

- manter a performance obtida durante o “milagre” brasileiro, ainda que com


taxas de crescimentos inferiores às obtidas no período anterior;
- implantar um novo padrão de industrialização com base na expansão da
indústria de bens de produção ou indústria básica;

- diminuir as disparidades de renda;

- corrigir distorções no setor de transportes de modo a priorizar os sistemas


ferroviários e marítimos (mais baratos);

Os objetivos eram:

- agir com uma forte política anticíclica para enfrentar a crise do petróleo e
manter uma razoável taxa de crescimento, nível de emprego e consumo;

- obter uma rápida expansão da infra-estrutura econômica (energia hidráulica e


nuclear, produção de álcool, transportes e comunicação) procurando alcançar a
auto-suficiência e ainda desenvolver novos tipos de vantagens comparativas;

- mudar a estrutura da economia através da substituição de importações e


desenvolver uma nova capacidade de exportação;

- estimular os bancos internacionais a financiar o déficit da conta corrente e


prorrogar o ajuste externo;

As estratégias desenvolvidas para alcançar tais objetivos deveriam estabelecer:

- o setor de bens de produção como o carro chefe da economia substituindo o de


bens de consumo (servindo para preencher as lacunas deixadas pelo Plano de
Metas do governo de JK);

- as empresas privadas como líderes do processo de desenvolvimento nacional em


substituição das multinacionais (exemplificando a vertente nacionalista do
projeto);

32
- descentralização do crescimento econômico com a implantação de grandes
projetos nas regiões sul, norte e nordeste (para o desequilíbrio regional) e reduzir
desequilíbrios salariais e oferecer condições de cidadania à população em geral (o
que tange os desequilíbrios pessoais);

- intervenção estatal no sentido de atenuar o rigor das “leis de mercado” da “livre


empresa”;

- o financiamento seria estabelecido, em parte, com o uso de empréstimos


estrangeiros. Ainda assim o governo estimulou a poupança interna, lançou mão
de reservas em moeda estrangeira e utilizou o imposto inflacionário;

Os principais resultados foram:

- Crescimento do PIB de 7% em média até o restante da década (não alcançando os valores


obtidos durante o período do milagre);

Taxa de
Anos Crescimento
do PIB
1970 10,4
1971 11,3
1972 12,1
1973 14,0
1974 9,0
1975 5,2
1976 9,8
1977 4,6
1978 4,8
1979 7,2
1980 9,2
Fonte: BAER, 1996:
394.

- crescimento acentuado nos seguintes segmentos: indústria básica


compreendendo bens de capital (máquinas, ferramentas, equipamentos,
aparelhos), eletrônica pesada e a produção de insumos e matérias primas (aço,
alumínio, papel e celulose, petroquímica, fertilizantes); a grande mineração
(visando uma melhor utilização dos recursos naturais, a saber: bauxita, minério

33
de ferro, etc.); setor energético (construção de grandes hidrelétricas), aumento da
produção nacional de petróleo, criação de fontes energéticas alternativas
(Proálcool) e o ingresso na era nuclear;

- foi o único país do terceiro mundo a completar seu processo de substituição de


importações e, com isso, consolidou seu processo de industrialização;

- houve relativo progresso na descentralização do crescimento econômico dados


os projetos: II Pólo Petroquímico na Bahia; III Pólo Petroquímico no Rio Grande do
Sul; Projeto Mineral em Carajás-Pará; e a expansão da agricultura modernizada
na região do Cerrado (Brasil Central);

- obteve-se a diversificação da pauta de exportação tornando-se crescente


exportador de produtos industrializados, além de atingir novos mercados
consumidores;

- Por outro lado, a opção pelo crescimento culminou numa crescente elevação da
dívida externa do país; sem os empréstimos não teria sido possível pagar a conta
petróleo e continuar a importar os insumos necessários à produção de bens
industriais, principalmente, os relacionados aos planos do II PND. A idéia era que
as amortizações e juros seriam pagos com os superávits comerciais advindos da
nova capacidade exportadora do país;

- descontrole na balança comercial e no balanço de pagamentos;

- elevação da inflação;

PETRODÓLAR: Nome dado às divisas (geralmente em dólar) provenientes da


exportação de petróleo. O termo difundiu-se em 1973, quando a OPEP elevou o
preço do barril cru de 3 para 12 dólares, ocasionado um enorme afluxo de divisas
para os Estados exportadores. Mas vários milhões desses petrodólares não
encontraram aplicação dentro das limitadas estruturas econômicas de alguns
países membros da OPEP e retornaram ao Ocidente, injetados nos bancos e
grandes financeiras com sede nos países mais industrializados. Foi a origem da
grande liquidez do mercado financeiro internacional, que durou até o fim da
década de 70. (SANDRONI, 2002: 457).

ESQUEMA DE AULA

PANORAMA INTERNACIONAL:

34
- Guerra fria: polaridade mundial entre as duas grandes nações, EUA e
URSS: o Brasil já havia declarado o seu alinhamento aos Estados Unidos;
- Crise do Petróleo: elevação do preço do barril causando desequilíbrios nas
contas nacionais (déficits na BC e pressão inflacionária);
- Liquidez internacional: mercados financeiros internacionais apresentavam
extrema liquidez; os bancos internacionais estavam altamente providos de
petrodoláres e as taxas de juros eram relativamente baixas;

PANORAMA NACIONAL:
- Pré 74: crescimento continuado com taxas médias de 11% ao ano;
- Governo Geisel (1974-1979): tentativa de inserção do Brasil no estreito
círculo de países do 1° mundo (Projeto “Avança Brasil”)

II PND (1975-1979)
- Principais metas:
- Objetivos:
- Entraves: indústria com pouca capacidade ociosa (o que iria exigir vultosos
investimentos); deterioração nas relações de troca com o câmbio apreciado;
inflação em alta e uma matriz energética profundamente dependente do
petróleo.
- Instrumentos de ação:
- Resultados obtidos:
- Questionamentos: essa foi, seguramente a melhor opção? Isto é, promover
o crescimento econômico diante de uma conjuntura mundial desfavorável?

Bibliografia Consultada
BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 104 à 134.

BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 200. Cap.8.

CARNEIRO, R. Desenvolvimento em Crise: Ed: UNESP, IE/UNICAMP, 2002.


Cap. 1 e 2.

SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. Ed: Best Seller, 2002.

Aula 9: Crise Econômica dos Anos 80

“Nesse período, o Brasil e os demais países da América Latina diminuíram


sensivelmente seu ritmo de desenvolvimento econômico e social, ou sofreram
penosos anos de estagnação/recessão. A elevada divida externa obrigou-os a
realizar programas econômicos de ajustes internos em função dos interesses dos
credores internacionais. Em decorrência de tais ajustes, esses países passaram a
transferir para o exterior parcela expressiva da riqueza nacional produzida,
enquanto projetos vitais para o seu desenvolvimento foram abandonados ou
paralisados por falta de recursos para financia-los” (Baum, 2000: 419).

35
RESUMO
Diversos acontecimentos se somaram para determinar a crise econômica no
Brasil, durante os anos 80:

a) o 2° choque do petróleo (1979): duplicou o preço do barril do petróleo, tendo


em vista que esses já estavam elevados em conseqüência do 1° choque (1973).
Dessa forma o barril passou de US$ 15 a 16,00 para US$30/32,00. Certamente,
essa elevação causou pressões nos preços dos produtos industrializados que o
Brasil importava. Vale destacar que no período o Brasil importava 80% de todo o
petróleo consumido na região;

b) a recessão econômica nos países capitalistas industrializados: devida a alta


do petróleo e de medidas de ajustes impostas pelos governos nacionais
ocasionado o declínio do comércio mundial e queda da demanda dos produtos
das exportações brasileiras;

c) a elevação das taxas de juros no mercado internacional: os empréstimos


contraídos pelo Brasil até 1977 haviam sido negociados com taxas de juros de 4 a
6% ao ano. Tratava-se de taxas de juros flutuantes e não fixas. Com a elevação
unilateral dessas taxas pelos Estados Unidos, a partir de 1978, visando atrair
capitais externos para sua economia, os outros países desenvolvidos também
tiveram que elevar seus juros;

d) a suspensão de novos empréstimos para o Brasil: a moratória do México em


1982 fez com que os credores internacionais, receosos de novos “calotes”,
cortassem os recursos e empréstimos concedidos aos países em crise; dentre eles
o Brasil. Passa-se, então, a se ter o acompanhamento do FMI no desempenho e
condução das políticas econômicas nacionais.

Esses acontecimentos modificaram a dinâmica econômica e financeira


internacional. Nesse contexto, o Brasil deixou de ser receptor para ser emissor de
recursos para os países desenvolvidos sob a forma de pagamento de juros e
amortizações da divida externa.

Os pontos listados anteriores estão relacionados a questões externas e seus


impactos nas economias em desenvolvimento como um todo ao longo dos anos
80. No âmbito da economia nacional brasileira, é possível destacar como

36
elemento primordial para a crise da década de 80 o esgotamento do padrão de
desenvolvimento estipulado para o país, com base no processo de Substituição de
Importações (PSI). Buam (2000: 421) identifica como sintomas da crise os
seguintes aspectos:

i) redução acentuada no ritmo de crescimento da economia, caracterizando


uma situação de estagnação/recessão;

ii) processo inflacionário crônico e ascendente;

iii) elevadas dívidas externa e interna;

iv) baixo índice de investimento nas atividades produtivas, insuficientes para


expandir a produção, o emprego e os salários;

v) aumento do nível de desemprego, do subemprego e da economia informal;

vi) avanço do processo de concentração da riqueza e da renda nacional;

vii) pauperização de expressivos contingentes de trabalhadores;

viii) enormes disparidades regionais e contrastes sociais entre ricos e pobres;

ix) deterioração de importantes setores de infra-estrutura por insuficiência de


investimentos (transporte, energia elétrica, telefonia, etc.);

x) economia altamente oligopolizada com grupos com poder de comandar a


economia através do controle de setores básicos;

xi) defasagem tecnológica e relativa deficiência empresarial;

xii) grande parcela da população pouco educada e qualificada.

Nessa perspectiva, a crise da dívida externa faz parte de um contexto de crise


muito mais amplo na economia brasileira. Essa crise, em si, teve decorrência da
elevação das taxas de juros internacionais e da suspensão do crédito por parte
dos banqueiros estrangeiros. Com essas medidas estancou-se o fluxo de
financiamento externo e o Brasil perdeu a alavanca do capital externo, o que
culminou no descontrole das contas internas do Estado (que se destinavam, em
grande parte, ao pagamento de juros e amortizações).

Tabela 1

Fluxos Financeiros como Exterior

37
Brasil, 1979 a 1989
em milhões de dólares
Amortizações
Pagamento Divida
Anos Empréstimos de Médio e Reservas
de Juros Liquida
Longo prazo
1979 11.991 6.385 5.347 9.689 40.215
1980 13.315 5.010 7.457 5.853 47.995
1981 16.782 6.242 10.305 6.693 54.718
1982 12.451 6.952 12.550 3.994 65.720
1983 7.778 6.863 10.263 3.972 76.756
1984 8.768 6.468 11.449 11.995 79.096
1985 5.673 8.491 11.238 11.608 84.249
1986 4.233 11.546 10.245 6.760 94.999
1987 11.935 13.503 9.319 7.458 100.056
1988 14.857 15.226 10.591 9.140 93.415
1989 29.612 33.985 9.633 9.679 89.606
Fonte: Baum, 2000: 429.

Com isso, o país perdeu também a sua capacidade de financiamento dos


investimentos internos e, conseqüentemente, do crescimento da economia. Para
saldar a divida e realizar o pagamento de juros teve-se que incentivar o setor
exportador visando a obtenção de divisas. Procurou-se obter saldos constantes
na balança comercial inibindo, por outro lado, as importações. Em síntese, a
economia brasileira nos anos 80 ficou em função de atender os compromissos da
dívida.

Bibliografia Consultada

BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996.

BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000. Cap.9 e 11.

CARNEIRO, R. Desenvolvimento em Crise: Ed: UNESP, IE/UNICAMP, 2002.


Cap. 1 e 2.

Aula 10: O Ressurgimento da Inflação no Brasil

“A inflação é a ferrugem da moeda. Corrói-lhe o valor e provoca a redução de seu


poder de compra. Constitui-se no mais insidioso e sub-reptício dos “impostos”
contra os assalariados, sobretudo daqueles de menores ganhos, que não dispõem

38
de mecanismos para proteger-se contra o desgaste do poder aquisitivo da moeda.
É um fenômeno extremamente complexo. Simplificadamente, pode-se dizer que a
estabilidade da moeda depende principalmente da solidez e pujança da economia,
da confiança da sociedade no seu país, da cultura econômico-financeira da
população, da capacidade e eficiência das autoridades no gerenciamento das
políticas macroeconômicas, do comportamento dos agentes econômicos e, ainda,
do grau maior ou menor de normalidade das relações econômico-financeiras
internacionais ”(Baum, 2000: 334)
RESUMO

Nos países do Primeiro Mundo a inflação mantém-se em patamares baixos


ficando, em geral, na faixa de 3% ao ano. Por outro lado, os países ainda em
desenvolvimento, que não alcançaram patamares razoáveis de segurança e
confiabilidade, convivem com recorrentes surtos inflacionários e de inflação
crônica. Certamente, o descontrole da inflação reflete o descontrole da economia.

A inflação é o maior inimigo dos assalariados. Ainda assim existe uma


pequena parcela de beneficiários dela, principalmente, os bancos e os
especuladores. Ganham também os empresários - pelo reajustes de preços muito
acima da inflação – e o governo – através de correções para os tributos em atraso,
com o adiamento do pagamento de salários, fornecedores, prestadores de serviços
ou liberação de verbas públicas. O governo lucra também com a arrecadação do
“imposto inflacionário” quando utiliza o mecanismo de ampliação da base
monetária para tentar financiar seus déficits.

IMPOSTO INFLACIONÁRIO: é aquele decorrente das receitas obtidas pelo governo


pela emissão de moeda. Toda emissão de moeda que o governo realiza significa
automaticamente que ele aumenta sua capacidade de adquirir bens e serviços,
pagar dívidas, etc, isto é, fazer frente às despesas governamentais. É como se o
governo tivesse obtido tais recursos dos tributos que lança. Como tal atitude, via
de regra, provoca inflação, pois o aumento das emissões, expandindo os meios de
pagamento, resulta numa elevação dos preços, denomina-se essa arrecadação de
imposto inflacionário (Sandroni, 2002: 293).

39
Durante o período de 1968 até 1973 conseguiu-se compatibilizar um alto
crescimento econômico com taxas de inflação declinantes 4. A conjuntura mundial
favorável influenciou positivamente esse quadro: os países do primeiro mundo
também expandiam as suas economias servindo como um amplo mercado
consumidor dos produtos brasileiros. A elevada acumulação de capital contribuiu
para a entrada de divisas no país na forma de investimentos diretos (IDE) 5 e
indiretos.

Com a alteração da conjuntura internacional, ocasionada pelo primeiro


choque do petróleo (1973), as dificuldades brasileiras se intensificam. Diante da
opção do governo Geisel em manter o ritmo acelerado do crescimento obtido
durante o período do “milagre”, a inflação retoma sua trajetória ascendente. O
então governo utiliza amplamente o mecanismo do imposto inflacionário
garantindo lucratividade para o capital e mais recursos para os investimentos
que iriam expandir a economia (II PND) em detrimento, por sua vez, dos ganhos
do trabalho.

Com o advento do segundo choque do petróleo (1979), os planos de expansão do


ritmo de crescimento foram suspensos, tendo em vista a elevação das taxas de juros
internacionais e a total perda de capacidade de financiamento das economias periféricas
(crise da dívida), deixando ainda como saldo uma inflação crônica. Adicionalmente,
questões internas como secas e geadas contribuíram para a elevação dos preços agrícolas.
Um outro item que alavancou as taxas de inflação foi o componente inercial, ou seja, a
própria inflação criava inflação num processo autoperpetuante, em virtude da tentativa dos
agentes econômicos se protegerem (e anteciparem) as altas de preços.

INFLAÇÃO INERCIAl: Processo inflacionário muito intenso, gerado pelo reajuste


pleno de preços, de acordo com a inflação observada no período imediatamente
anterior; os contratos contém cláusulas de indexação que restabelecem seus
valores reais após intervalos fixos de tempo (Sandroni, 2002: 302).

4
Essas reduções foram obtidas por meio da estabilização fiscal e monetária, de uma política salarial
restritiva, do realinhamento dos preços controlados, de um sistema cambial ajustado lentamente e
do uso de mecanismos de indexação financeira (Baer, 1996: 135).
5
O Investimento Estrangeiro Direto (IDE) verifica-se quando aplicado na criação de novas empresas
ou na participação acionária de empresas já existentes (fusões, aquisições e privatizações). Já os
investimentos indiretos assumem a forma de empréstimos e financiamentos de longo prazo.

40
Recomendou-se o uso do choque heterodoxo, que ao congelar preços e
salários repentinamente, quebraria esse mecanismo de retro-alimentação da
inflação. Adicionalmente, seriam realizadas políticas monetárias e fiscais
passivas. É com base nessa concepção que surge o Plano Cruzado, em fevereiro
de 1986.

Tabela 1
Taxa Anual de Inflação Brasileira – 1951-1990

Anos % Anos % Anos % Anos %


1951 12,4 1961 47,8 1971 19,5 1981 95,2
1952 12,7 1962 51,6 1972 15,7 1982 99,7
1953 20,5 1963 79,9 1973 15,6 1983 211,0
1954 25,8 1964 92,1 1974 34,5 1984 223,8
1955 12,2 1965 34,5 1975 29,3 1985 235,1
1956 24,5 1966 39,1 1976 46,3 1986 65,0
1957 7,0 1967 25,0 1977 38,8 1987 415,8
1958 24,4 1968 25,5 1978 40,7 1988 1.037,6
1959 39,4 1969 19,3 1979 77,3 1989 1.782,9
1960 30,5 1970 19,3 1980 110,2 1990 1.476,6
Fontes: BACEN e FGV apud Baum, 2000: 335.

Bibliografia Consultada
BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 135 à 162.

BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000.

SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. Ed: Best Seller, 2002.

Aula 11: Plano Cruzado

RESUMO

A década de 80 inicia-se com diversos problemas a serem enfrentados, a saber:


 recessão econômica;
 déficit do setor público e elevada dívida interna;
 divida externa;
 elevados recursos enviados para o exterior na forma de juros e amortizações;
 defasagem de preços de bens e tarifas públicas prestadas pelas estatais;
 crônicos desequilíbrios na distribuição de renda;
 desemprego;
 elevados índices de inflação – acima de 200% ao ano.

41
Em meio a tantos entraves alguns pontos positivos também puderam ser
identificados como a retomada do crescimento econômico a partir de 1984; o
balanço de pagamentos apresentou uma situação saudável em razão da expansão
das exportações e houve uma certa folga das reservas cambiais, que atingiram
quase US$ 12 bilhões. Ainda assim essas melhoras não foram suficientes para
detonar uma estabilização dos indicadores macroeconômicos brasileiros. Dessa
forma, em 28 de fevereiro de 1986 o governo Sarney instituiu Plano Cruzado.

Os objetivos principais do Plano, além da estabilização e controle da inflação,


eram obter um crescimento econômico sustentado, restabelecer o poder aquisitivo
dos salários e ainda, recompor a base de sustentação política e o respaldo
popular.

As seguintes principais medidas adotadas foram:

i) substituição do cruzeiro por uma nova moeda – o cruzado – na proporção de


mil para um;

ii) extinção da indexação visando eliminar a correção monetária;

iii) congelamento de contratos, hipotecas, aluguéis por um ano e congelamento


dos preços por prazo indeterminado;

iv) reajustes reais dos salários procurando recompor perdas advindas da alta
inflação;

v) reajustes posteriores de salários por meio do “gatilho” sempre que a inflação


atingisse 20%;

vi) livre negociação entre empregados e empregadores na data do dissídio coletivo


de cada categoria;

vii) criação do seguro desemprego.

As medidas ortodoxas adotadas em outros planos, com efeito recessivo


acompanhado de contração de salários, não obtiveram sucesso. Dessa forma, o
Plano tinha um caráter heterodoxo e através de um choque de congelamento
procurava eliminar o componente inercial da inflação deixando margem para uma
ampla reforma monetária e fiscal. A extinção da correção monetária visava,

42
justamente, cortar as expectativas inflacionárias dos agentes econômicos, e
ainda, aliviava as pressões sobre o déficit público e a dívida interna.
Conseqüentemente, desestimula a especulação financeira tornando mais atraente
os investimentos produtivos. Esperava-se, com isso, que a economia retomasse
uma situação de “normalidade”.

CHOQUE HETERODOXO: Política econômica de combate à inflação que consiste


em aplicar o congelamento de preços em todos os níveis (preços em geral e
salários) durante um período determinado de tempo e liberar as políticas
monetária e fiscal. Diante da inflação intensa que diversos países vêm sofrendo a
partir dos anos 70, a política do choque heterodoxo foi aplicada em vários casos,
destacando-se a Argentina, Israel, Bolívia e Brasil (Sandroni, 2002: 95).

A inflação inercial era apenas um componente das causas da inflação brasileira.


Para atingir as causas estruturais (custos, demanda, divida externa, gastos
públicos, subsídios, etc.) era necessário adotar medidas mais profunda – que
seriam tomadas em um segundo momento do Plano. Isso daria uma certa folga
para o governo adotar medidas estruturais de médio e longo prazo. Nos primeiros
quatro meses o Plano foi um sucesso (de março a julho de 1986); todavia, como
as medidas complementares não foram adotadas o programa começou a perder
eficácia no segundo semestre de 1986.

Enquanto funcionou o Plano conseguiu alguns resultados positivos como


assegurar investimentos para a produção; expandir as atividades produtivas;
ampliar o emprego; aumentar o poder aquisitivo da população; promover sensível
distribuição de renda; aumentar o consumo; impulsionar o número de micros,
médias e pequenas empresas e recuperar a confiança da sociedade no país. No
âmbito político, o Plano garantiu a continuidade do processo de redemocratização
e concedeu ao presidente Sarney os maiores índices de aceitação, inclusive
favorecendo a eleição de governadores dos estados e membros do Congresso
Nacional pelo PMDB.

Algumas causas podem ser listadas como culminantes do fracasso do plano:


- inexperiência e amadorismo na execução do Plano;
- os preços de muitos bens não estavam alinhados no momento do congelamento
implicando em prejuízos para os respectivos setores;

43
- a abrangência do Plano ao tentar compatibilizar, simultaneamente, estabilização
inflacionária, crescimento econômico e distribuição de renda;
- o governo imaginou, equivocadamente, que no curto prazo o capital especulativo
se converteria em investimento produtivo, expandindo rapidamente a produção
para atender o crescimento da demanda;
- mais uma vez o governo equivocou-se ao imaginar que as pessoas ampliariam
seus depósitos em cadernetas de poupança quando o que se verificou, na
realidade, foi a ampliação das retiradas;
Segundo alguns analistas ortodoxos, os problemas identificados no plano foram:
- a realização de congelamentos sem a devida “austeridade” salarial, tendo em
vista que aumentos reais de salários foram concedidos contribuindo para ampliar
as pressões por consumo por parte da população;
- o estabelecimento de taxas de juros baixas quando era importante estimular a
poupança;
- tributação moderada da renda em um momento de crescimento acelerado do
consumo;
- rigidez cambial incompatível com a necessidade de manutenção de elevados
saldos na balança comercial;
- monetização acelerada da economia;
- inexistência de qualquer plano para sair do congelamento.

Bibliografia Consultada
BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 163 à 190.

BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000. Cap. 10.

SANDRONI, P. Novíssimo Dicionário de Economia. Ed: Best Seller, 2002.

Aula 12: Governo Collor

RESUMO

A eleição do presidente Fernando Collor de Mello representou o descontentamento


dos eleitores diante de promessas não cumpridas pelos governos anteriores, a
saber: o controle da inflação, o equacionamento da dívida externa, a retomada do

44
crescimento econômico e a distribuição de renda. “Sua imagem foi construída pela
mídia e sua base de apoio eleitoral assentava-se principalmente no grande capital;
nos setores mais atrasados do capitalismo brasileiro; amplos contingentes das
camadas médias, motivados pelo medo do avanço político das esquerdas; e nas
massas urbanas e rurais menos organizadas, motivadas pelo discursos moralista
e anticomunista, por promessas de mudanças e rápida melhoria das condições de
vida dos pobres (“os descamisados”).” (Baum, 2000: p.474).

A partir de seu governo esboçou-se um novo projeto nacional amplamente


amparado no ideário neoliberal. Desta forma, houve uma reorientação nas
propostas de desenvolvimento brasileiro assim como, uma redefinição do papel do
Estado. Tratava-se de promover a passagem de um capitalismo tutelado pelo
Estado para um capitalismo considerado mais moderno com base na
competitividade e produtividade dos mercados. A dinâmica central da economia
deixava de ser resguardada pelo Estado para ser assumida pelos agentes privados
– tanto nacionais quanto estrangeiros.

Nessa perspectiva adotou-se o Plano Brasil Novo, mais conhecido como o Plano
Collor, em 16 de março de 1990, e o Plano Collor II em 31 de janeiro de 1991.
Além da tentativa de controle da inflação, o Plano Collor tinha objetivos mais
amplos que se relacionam com a perspectiva de modernização da economia
brasileira em geral. Destacam-se como objetivos primordiais:

- desregulamentar a economia através da redução do excesso de exigências


burocráticas que dificultavam a ação das empresas e inibiam os negócios;

- promover o processo de abertura da economia através da redução das tarifas de


importação, expondo as empresas instaladas no país à concorrência internacional
e forçando a busca por modernização;

- tornar o país atrativo aos investimentos externos;

- reduzir o tamanho e a presença direta do Estado na economia por meio da


privatização das empresas estatais;

- tornar mais competitivas as exportações brasileiras, através da reforma dos


portos (privatização) e da redução dos custos de embarque e desembarque;

45
- promover o equilíbrio das contas públicas por meio de uma reforma tributária e
do reajuste fiscal.

Tabela 1

Crescimento do PIB, Inflação e Balança Comercial

Brasil, 1990 a 1992


em milhões de dólares
Crescimento Inflação
Anos do PIB (%) (%) Exportação Importação Saldo
1990 -4,3 1.476,60 31.414 20.661 10.753
1991 0,3 480,2 31.620 21.041 10.579
1992 -0,8 1.158,00 35.793 20.554 15.239
Fonte: Banco Central.

Quando Collor assumiu a presidência, em março de 1990, a inflação brasileira


média tinha uma taxa mensal de 81%. Visando combater a hiperinflação as
principais medidas adotadas foram:

- 80% de todos os depósitos do overnight, contas correntes ou de poupança que


excedessem a NCZ$ 50 mil (equivalentes a US$ 1,300 pelo câmbio da época)
foram congelados por 18 meses, recebendo durante esse período um retorno
equivalente à taxa corrente da inflação mais 6% ao ano;

- Foi introduzida uma nova moeda. O Cruzeiro substitui o Cruzado Novo


(CR$1,00 = NCZ$ 1,00);

- Foi cobrado um imposto extraordinário e único sobre operações financeiras


(IOF);

- Congelamento inicial de preços e salários (durante 45 dias), com ajustes


posteriores seguindo determinação governamental baseada na inflação esperada;

- Eliminação de vários tipos de incentivos fiscais e aplicação de imposto de renda


sobre os lucros provenientes de operações no mercado de ações, atividades
agrícolas e exportações; e a criação de imposto sobre grandes fortunas;

- Medidas buscando reduzir a sonegação fiscal;

- Aumento do preço dos serviços públicos;

46
- Medidas para promover a abertura da economia brasileira em relação à
concorrência externa6;

- Anúncio da intenção do governo de demitir cerca de 360 mil funcionários;

- Medidas preliminares para instituir o processo de privatizações.

Os impactos imediatos dessas medidas foram:

- redução extraordinária da liquidez do país, visto que os meios de pagamento


como porcentagem do PIB caiu de 30% para 9%;

- Quedas nas atividades econômicas levaram a um forte impacto recessivo (com


crescimento negativo de –7,8% do PIB no 2º trimestre);

- Redução do déficit público de 8% do PIB para um superávit de 1,2% (quando a


meta era de 2%);

- Quedas das exportações, -8,7% em 1990, devido o fim dos incentivos e da


sobrevalorização do cruzeiro e, por outro lado, aumento das importações em
11,5% (também pelo aumento dos preços do petróleo originados pela crise do
Iraque). As importações teriam aumentado ainda mais não fosse a recessão da
economia brasileira.

Plano Collor II

Devido o relaxamento do controle dos preços e salários e do processo de


remonetização da economia, a inflação começava a subir mais uma vez. Por essa
razão, a equipe econômica decide em 1º de fevereiro de 1991 lançar um novo
pacote. A estratégia constituía-se em uma reforma financeira limitada que
eliminava o overnight (Substituído pelo Fundo de Aplicações Financeiras) e em
um ataque à inflação inercial através de um congelamento de preços e salários e
extinção de mecanismos de indexação. Visava-se eliminar a “memória
inflacionária” possibilitando que as expectativas de quedas das taxas de inflação
pudessem ser incorporadas à formação de preços atual.

6
Como medidas para a abertura unilateral: i) aboliu a lista com cerca de mil produtos até
então proibidos para para importação; ii) eliminou obstáculos não-tarifários às
importações; iii) substituiu a proibição de importação por tarifas alfandegárias e adotou
uma estratégia relativamente veloz de sua redução progressiva.

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A busca pela austeridade (contenção dos gastos) consistiu em administrar melhor
os fluxos de caixa e a reduzir os gastos das empresas estatais. Houve o bloqueio
do orçamento dos Ministérios da Educação, Saúde, Trabalho e Bem Estar Social
deixando-os subordinados ao Ministério da Fazenda (os fundos seriam liberados
segundo critério do Ministério da Fazenda e da disponibilidade de recursos).

As privatizações iniciaram-se em outubro de 1991 e no fim do ano 5 empresas


foram privatizadas, produzindo uma receita de 0,5% do PIB. O controle dos
fluxos de caixa foi obtido, em grande parte, com a reposição dos salários do
funcionário público abaixo das taxas de inflação (os gastos reais com salários
declinaram em 43%). Os investimentos públicos também declinaram
representando apenas 30% do previsto para o ano. Os gastos com serviços da
divida caíram 80%.

Todavia, a ampliação da liquidez na economia em razão do inicio da liberação dos


ativos bloqueados associado a não adoção de medidas antiinflacionárias rígidas
fez com que a inflação, mais uma vez, desse sinais de elevação.

Bibliografia Consultada

BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996. Págs: 197 até 204.

BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000. Da 473


até 478.

Aula 13: Abertura Econômica

“Uma das metas políticas mais importantes da administração Collor foi abrir a economia do
país. As tarifas foram gradualmente abolidas, a reserva de mercado de certos produtos
(especialmente computadores) foi eliminada e vários estímulos artificiais às exportações
também foram removidos. Essas políticas continuaram a ser adotadas quando Itamar
Franco assumiu a presidência no final de 1992, além de terem sido progressivamente
instituídas várias medidas para facilitar os investimentos estrangeiros. A intenção de todos
esses projetos foi aumentar a eficiência da economia através da concorrência estrangeira e
aumentar o aporte de investimentos estrangeiros diretos (IDE)” (BAER, 1996: 223).

RESUMO

Para os ideários da política neoliberal, o desenvolvimentismo (entendido como o


movimento de crescimento da economia amparada fortemente na atuação do

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Estado) foi responsável pela perda de dinamismo da economia nacional devido,
principalmente, à incapacidade de manter o ritmo de incorporação do progresso
técnico e do aumento da produtividade. Isto, tendo em vista a falta de
concorrência decorrente da elevada proteção tarifária e o excesso de regulação ou
presença estatal (Carneiro, 2002: 310-311). Ou seja, a proteção gerou uma
estrutura produtiva ineficiente com excessiva diversificação e pouca
competitividade internacional; ainda que garantindo elevados lucros internos.

O novo modelo de crescimento para a economia brasileira, representado pela abertura do


comércio nacional aos produtos estrangeiros, levaria a concorrência ao patamar de motor
principal desse processo. Dessa forma, se estabeleceria uma política de oferta, sintetizada
na ampliação da concorrência, como meio de estimular a incorporação de novas
tecnologias. Com isso, a concorrência induziria uma rápida transformação da estrutura
produtiva herdada da substituição de importações, implicando modernização das plantas.

Reserva de Mercado: setor da produção no qual as autoridades econômicas


limitam a possibilidade de instalação das empresas. Em geral, utiliza-se essa
prática em setores importantes para a construção da economia nacional, com
forte absorção de tecnologia e desenvolvimento de um alto potencial produtivo
(por exemplo, comunicações, informática, indústria bélica, etc.). Pode-se limitar o
número de empresas que atuam num desses setores (evitando assim uma
concorrência em que todas teriam prejuízo) ou impedir que empresas de capital
estrangeiro atuem no país. Essas medidas podem ser reforçadas pela criação de
taxas e impostos de importação (Sandroni, 2002: 526-527).

No caso especifico do Brasil torna-se pertinente a realização de algumas ressalvas


no que tange a adoção desse modelo de “fora para dentro”. No panorama de
industrialização brasileira a concorrência e a inovação assumiram papéis
distintos haja vista que o país não possui um centro autônomo de inovação
tecnológica. O país aproveitou-se, na realidade, do beneficio de disseminação dos
avanços tecnológicos, o que em determinados momentos implicou em perdas já
que em setores que prescindiam de capacitação tecnológica esses avanços foram
reduzidos, assim como cederam lugar à constituição de monopólios e oligopólios.

No que se refere à possibilidade de troca do crescimento amparado no mercado


interno para uma economia que procura crescer a partir da ampliação de sua
fatia no comércio internacional, vale destacar que “a internacionalização de
setores cuja produção destinou-se essencialmente ao mercado interno produziu um

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dinamismo maior do que o padrão alternativo fundado no mercado externo”
(Carneiro, 2002: 312). A participação do Estado foi fundamental para esses
resultados, uma vez que este assumiu determinadas atividades na indústria de
base e infra-estrutura (empresas estatais) as quais não interessavam a iniciativa
privada.

Com a abertura comercial propriamente dita a partir dos anos 90, as barreiras
não tarifárias foram totalmente eliminadas. Foi abolido o Anexo C, uma lista com
cerca de 1.300 produtos com importação proibida em razão da Lei do Similar
Nacional. No que tange as tarifas, adotou-se um rápido processo de redução.
Entre 1990 e 1994, a proteção à industria foi drasticamente reduzida, em todos
os setores, para uma faixa de 0% a 40%.

Todavia, devido ao elevado influxo de importações que passa a ocorrer devido a


abertura da economia percebe-se a ocorrência de déficits no Balanço de
Pagamentos. Dessa forma, após 1995, observa-se uma reversão parcial na
abertura comercial ainda que não tenha retroagido aos patamares anteriores aos
anos 90.

Embora não faça parte do processo de liberalização econômica, a valorização


cambial deve ser considerada como importante instrumento em razão da sua
duração (5 anos). Isto é, a utilização de um regime de câmbio fixo no inicio da
década e da valorização da moeda nacional – o Real – causou o barateamento dos
produtos importados e, por outro lado, a elevação do preço dos produtos
nacionais no mercado externo, acirrando a competitividade das exportações.

No âmbito da estrutura produtiva nacional, a abertura comercial promoveu uma


ampliação do coeficiente importado (de 5,7% em 1990 para 20,3% em 1998). Este
coeficiente sinaliza a mudança no processo histórico brasileiro que havia sido a
diversificação e a redução da dependência de importação, incluindo até os setores
de meios de produção. Assim, o desenvolvimento da economia nacional passa a
depender mais fortemente das importações e, portanto, da qualidade de sua
inserção externa.

Bibliografia Consultada

BAER, W. Economia Brasileira. Ed: Nobel, 1996.

50
BAUM, A. Desenvolvimento Econômico Brasileiro. Ed: UNIJUÍ, 2000.

CARNEIRO, R. Desenvolvimento em Crise. Ed: Unesp- IE/Unicamp: 2002. Cap.


9.

PINHO, D.B. e SANDOVAL, M. A. (orgs.) Manual de Economia da USP. Ed:


Saraiva: 2003. Cap.22 e 23.

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