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FAIRYLLAN : O SOPRO DIVINO

‫ﻗﻟﻢﻢﻤﺚﺗﺱﻍﻻﻚﻖﻱﻬﻱﻯﺸﺿ‬
Dr.Egmon Strauss ‫מןסףثةסץתذضفה‬љ
‫غﻤنأطذثאﺾﺜﺳﺜﺘﻐﻜﻗﻚﻐ‬

Há muito tempo trás, num tempo tão longínquo


e distante quanto os sentimentos dos homens
existia um paraíso, um lugar no qual quem Escritos proféticos em língua fairyllan
mergulhasse sentiria a magia da Vida no seu desenhados pelos antigos sábios, cujo
mais elevado esplendor. Era o Reino das significado diz: “O sopro divino é eterno, e no
Fadas. Os grandes anciões do passado diziam futuro e para todo o sempre existirá e será
que cada elemento da criação feito por carregado, por novas guardiãs e guardiões;
Absollon, o Deus supremo, senhor do tempo, fadas sem asas que caminharão pela Terra... e
do espaço e de toda magia, tinha um destino terão o sopro divino em seus corações”.Canto
único e divino. O destino das fadas era XI
proteger Fairyllan, o sopro divino. Texto Sagrado do Reino das Fadas
A lenda que relata a estória de Faryllan e o
avanço da glaciação ordenada por Raice, o rei
do Gelo, para conquista do sopro divino foi
encontrada em alguns escritos. Os escritos
foram encontrados há muito tempo atrás por
um missão dos grandes sábios, abaixo de uma
camada de gelo de 400 metros de espessura,
nas profundezas de uma caverna de gelo
localizada onde a noite perdura por seis meses
e onde nasce a aurora boreal.
A extensão dos escritos tinha mais de 11.000
metros e o pouco que nos chegou é apenas
parte dos fragmentos que permaneceram
depositados nos corações e mentes dos sábios
do passado, que transmitiram a sabedoria das
fadas guardiãs para os homens.
No início de tudo somente existia o do momento de Tudo. Esta é a Sabedoria do
Silêncio: a respiração do Supremo...eis que Supremo, que vem sendo passado através
emerge das profundezas Absollon, o do Fairyllan desde dos tempos mais
incriado e criador de tudo. E do Silêncio o imemorias, bem anterior a todos os
todo poderoso fez surgir o Não-Silêncio. O Homens da Terra. Canto I
primeiro Não Silêncio criado nasceu a Texto Sagrado do Reino
partir do Coração de Absollon; o segundo das Fadas
da Mente; o terceiro nasceu da interação
entre a mente e o coração de Absollon, estes Enquanto o grande sábio instruía os
eram seus Olhos; o quarto Não Silêncio mais novos nos textos sagrados, eles
surgiu quando os Olhos de Absollon olhavam atentamente, com aqueles olhares
mergulharam nas profundezas de Tudo. expressivos próprios dos habitantes do
Assim o Deus Supremo criou Tudo Reino das Fadas; doces e de brilhos
que existe e há de existir; criou o Espaço e indescritíveis, como se fossem auroras
o Tempo Passado, Presente e Futuro. E boreais, alterando-se e expressando o
na sua imensa Sabedoria fez tudo baseado interior mais íntimo de cada um.Os olhos
no Silêncio e no Não Silêncio. Do Silêncio das fadas acompanhavam a expressão
o Supremo fez o “fairyllan, o sopro divino”, profunda e clara de seus sentimentos e
o poder da transmutação que transforma pensamentos.
Tudo, da mente, do coração, da matéria e Dentre todos os olhares o que
da energia. Do Não Silêncio fez as “batidas possuía o brilho mais singular era de
do coração de Deus”, que Tudo ordena e Nallab Enilorac, tinha uma rara
estabiliza através das Leis Sublimes do luminescência azulada, que se fosse focado
Amor. durante muito tempo tinha-se a impressão
Após a “respiração” de Absollon de mergulhar nos oceanos mais belos e
iniciar e o “coração” começar a bater, viajar as galáxias mais longínquas. Nallab
Tudo começou a seguir o ritmo do Supremo era detentora de um meigo sorriso, simples
então surgiu o Céu Infinito e Terras e belo, como as manhãs de Primavera
Infinitas, que serviriam de morada para os ensolaradas.
filhos e filhas do Senhor de Tudo.E assim Nallab pertencia a uma longa
foi feito... ascendência de sábios e guardiões do
No Silêncio das novas terras, Fairyllan, o sopro divino, e assim como
algumas começaram a despertar e nestas muitos dos que vieram antes de si, tinha o
surgiram à vida. E a vida se desenvolveu destino de proteger Fairyllan. No entanto,
seguindo o ritmo da “respiração e do sua missão seria árdua, a mais difícil em
coração” de Absollon, e eis então que 100.000, pois a Terra vivia o seu período de
surgirão os primeiros guardiões do “sopro transição; era chagado o tempo em que o
divino”, as Fadas. E Absollon então poder do Sol enfraqueceria e o Reino de
novamente fechou os Olhos e somente sua Raice, a geração mais recente dos reis do
Respiração e Coração, eram ouvidos.E Gelo, avançaria numa tentativa de dominar
assim o Supremo fez.... o “o sopro divino”, o poder da
Da comunhão entre o Silêncio e o transmutação. Mas, ela apenas pressentia,
Não Silêncio, nasceu a Mudança, a sensação que a envolvia em momentos que
expressão magna da Respiração de seu coração ficava em Silêncio, sentindo a
Absollon e símbolo da passagem de Tudo e “Respiração do Supremo”.

II
Nallab tinha os pensamentos dar vôos rasantes, que faziam subir uma
distantes, enquanto o sábio falava, estava nuvem de pólen.
mergulhada no respirar de Absollon... Nallab voava graciosa e enquanto ia,
_ Nallab! Nallab! Disse o sábio em direção a sua casa, brincava com
ancião com uma voz grave e poderosa. borboletas imperiais que faziam um
_ Simmm...grande sábio. Disse num verdadeiro redemoinho multicor ao seu
tom reflexivo e de murmúrio. redor. As fadas são seres divinos por
_Estava novamente desatenta, não natureza e lembram os melhores e mais
é? nobres sentimentos expressos pelos homens
_Desculpe-me é que às vezes sinto da Terra. Dotadas de uma alegria
que algo está para acontecer, depois que contagiante e poderes mágicos
papai foi levado para o Reino de Gelo... espetaculares que são usados para auxiliar
Não sei! Sinto tanto a sua falta... os ciclos da Natureza, curar seres doentes e
_ Minha, pequenina, Absollon têm o transmitir conhecimentos sutis e profundos
Tempo certo para todas as coisas e tudo que muitas vezes são esquecidos.
será respondido no momento certo, nem A direção da casa de Nallab
cedo demais, nem tarde demais, pois sua coincidia com o local onde o Sol de
resposta jamais chega atrasada. Primavera se punha, e enquanto volta para
O ancião fitou com doçura os olhos seu lar via-se em seu olhar azulado, os
de Nallab, que do azul começavam a reflexos de raios avermelhados e
brilhar nas bordas, numa tonalidade rósea, arroxeados do sol do poente.
cor que expressava um amor intenso e _ Até breve minhas amigas! Disse
profundo pelo pai. E num silêncio com um lindo sorriso, que lembrava uma
grandioso, a pequenina fada sentiu a daquelas expressões de surpresa, como
compaixão e o amor do mestre ancião. “Arrá, você estava aqui”.
Após o término do cultivo dos Então as borboletas voltaram para
sentimentos sagrados, nome dado à suas casas, assim como a fadinha. Logo ao
transmissão dos saberes pelo grande sábio, longe a pequena já avistava o seu radiante
as fadas levantaram vôo de cima das lar, que ficava no alto do Monte Cósmico,
grandes flores douradas. O Reino das local onde era possível observar tudo o que
Fadas era algo espetacular, em alguns se passava nos “corações” de todos os seres
momentos raros haviam sido vislumbrados do planeta, próximo a fonte de Fairyllan. A
por alguns homens, estes o descreveram ao casa de qualquer fada era sempre feita com
longo da história humana, como Nirvana, elementos belos e delicados sempre
Céu, Éden, Paraíso e outras incontáveis associados às belezas da natureza.
nomenclaturas. A entrada do Lar de Nallab era no
A doce Nallab deixava o olhar topo de um girassol gigante situado no alto
brincar nos ares e admirava os Rios do Monte Cósmico, e alimentado com a
Suspensos, que tinham cheiro dos perfumes magia das fadas. Sua entrada se fazia pelo
mais graciosos e eram brilhantes como os caule e no interior de sua casa as paredes
raios de luz; as árvores altas recobertas por lembravam cristais vivos que traziam
um musgo verde amarelado, que quase se imagens belas da floresta para o interior do
confundiam com o pôr do Sol. As flores seu reduto. Na adorável família de Nallab
macias e coloridas espalhadas por todo o Enilorac, tinha duas irmãs e sua querida
horizonte e sob as quais Nallab gostava de mãe; pois segundo as misteriosas vontades

III
do grande Absollon, um de seus irmãos não Todos se sentaram sob algumas
conseguiu sair do interior do ovo formas plumosas em forma de graciosas
cósmico(local de onde nascem as fadas) e plantas e animais, a mãe sentava-se na rosa
seu papai havia sido levado para o Reino do (o símbolo da fortaleza, que sobrevive
Gelo. Muitas vezes ela não entendia mesmo ao clima mais díficil); Prillan a
algumas coisas, mas sabia que tudo têm um mais nova, sentava-se no cão (símbolo da
propósito, mesmo que em inúmeras vezes fidelidade e amor a família); Grascy
não seja plenamente compreendido. sentava-se num pássaro que carregava um
Mas quando chegava em seu lar, graveto no bico(símbolo da temprença e
tudo ficava bem, o amor partilhado entre união do lar); e Nallab, a mais velha
suas irmãs e a adorável mãe eram intensos; sentava-se numa tartaruga com asas de
e ela sentia que um laço divino havia unido borboleta(símbolo do amor as profundezas
todas e sabia que às vezes o Supremo cria da vida e do amor a mudança para céus
condições estranhas para fortalecer os mais altos e azuis).
laços eternos do amor sincero. O amor Passados alguns instantes os olhos
sincero era considerado o maior bem que das quatro brilharam intensamente, como
uma fada poderia possuir, sendo que a sóis divinos emanando um brilho dourado.
totalidade de suas magias e seus dons Suas mãos se tocaram e começaram a
emanava deste sentimento. entoar um canto cíclico, lindo e sublime,
Naquela noite sua mãe havia feito como tudo que as fadas realizam...“mei
uma deliciosa sopa de vegetais, que pôde lanoá, dgui ento wish kali... inestra vive,
sentir logo ao entrar em seu lar. velo elk emn Waiji qw Absollon”, cujo
_ Neimaste! Disse alegremente a significado aproximado quer dizer, que a
pequenina ao entrar e avistar a família. união e o amor estejam acima de tudo; e
Esse termo na língua de fairyllan significa: um cristal puro jamais poderá ser quebrado
“Eu saúdo o seu Deus interior”. de fora para dentro e somente de dentro
Logo que a viram as suas irmãzinhas para fora, que Absollon o supremo sempre
correm em sua direção e a envolveram num sustente esta família e a mantenha unida
afetuoso e caloroso abraço. Sua mãe em todas as dificuldades e alegrias.
também percebeu sua chegada e flutuando Depois se levantaram e olhando-se
no ar enviou uma luz rósea na direção da firmemente nos olhos umas das outras,
filha, que ficou brilhando na mesma compartilham um delicado beijo nas faces
coloração. A família para Nallab era o róseas uma das outras. Essa tradição
presente mais precioso do mundo, às vezes, fortalecia os laços entre as fadas, pois elas
ela ficava pensando como tudo seria triste sabiam o que as formigas haviam ensinado,
se não houvesse pessoas para partilhar. tudo que fica solitário se enfraquece e tudo
_ Olá maninha! Disse afetuosamente que junto está fica vivificado. Findado o
uma das irmãs. tradicional ritual, sentaram-se para
_ Oi Prillan, você está linda hoje! E degustar o delicioso preparo da mãe.
as três sorriam e a casa se enchia de _ Mamãe...Disse com uma voz meiga
alegria. a pequena Nallab.
_ Venham minhas pequenas, hora de _Sim, minha fadinha!Sorriu a mãe.
permitir que Absollon nos alimente...Estas _Será que posso participar na
palavras da linda mãe fada ecoavam pelo próxima Lua Cheia, do ritual Sagrado na
espaço. Colina Cósmica?

IV
_Por que algo a pertuba?Olhou a Imperatriz e pediremos os seus sábios
mãe, com soubesse o que se passava nas conselhos...
profundezas da filha. A filha sorriu satisfeita e acariciou a
_Na verdade sim mamãe...Disse a mãos da adorada mãe. Depois que
pequena baixando os olhos e dando duas terminaram o delicioso jantar, Nallab foi
agitadas nas pequenas asas. colocar as irmãs para dormir, nos
_ Às vezes, quando mergulho no confortáveis FOLLENS, flores de uma
grande Silêncio, ouço e sinto um vento frio maciez de nuvens e quentes como os raios
me tocar as faces e imediatamente lembro de sol de uma tarde de verão. As fadas
do dia quando papai foi levado pelo Grande criam que atos delicados, amorosos e
Frio. sinceros, permitem que o coração fique
Os imensos e expressivos olhinhos de alegre e sensível; elas diziam que o coração
Nallab oscilavam entre o verde musgo e o dos homens se endurece, quando se
amarelo, somente o cerne permanecia com esquecem desta simples lição.
a habitual coloração de azul oceânica _Você vai dormir agora? Perguntou
profunda. Aos poucos o olhar materno a mãe numa voz suave.
ficou levemente orvalhado e começou a _Ainda não mamãe, eu quero
relembrar os alegres momentos quando, as admirar um pouco à noite e ouvir o grande
três irmãs brincavam próximas ao mar, Silêncio...
vigiadas pelos olhos dos dois esteios da A mãe então beijou a fadinha e
família. Rapidamente em sua mente veio o envolveu-a nos seus amorosos braços.
nascimento de cada uma das filhas, Nallab Nallab começou a agitar suas asinhas até a
havia nascido no Verão, e as outras duas na entrada do seu adorável Lar, e lá ficou
Primavera. durante alguns longos minutos, ouvindo a
A época de nascimento de uma fada melodia dos grilos e sapos, que naquela
tinha uma grande influência em sua vida, noite pareciam cantar em perfeita melodia
pois determinava as influências dos ciclos harmônica.
supremos, Nallab havia nascido no Verão, A fadinha tinha o olhar distante,
uma época incomum para uma fada cujo brilho lembra agora o de um cristal
nascer; a maioria nascia na Primavera dourado, e ali ficou sentada durante um
juntamente com o desabrochar das flores. longo tempo, sentindo o vento brincar nos
Sua mãe abaixou os olhos seus cabelos dourados e admirando a luz
emudecendo. E durante breves instantes das estrelas cadentes que percorriam o céu.
refletiu, ela sabia que a filha estava Seus pensamentos ficaram silenciados,
destinada a alguma missão concedida pelo simplesmente sentindo uma doce sensação
Supremo, pois somente uma fada a cada de paz, como estivesse sendo embalada por
10.000 anos nascia fora da Primavera. Absollon.
Também sabia que o ciclo de nascimento no E neste instante sentia todos que
Verão dotava a fada de poderes de amava próximos de si, lembrava de suas
transmutação do Fairyllan sobrenaturais. irmãs; de seu avô que estava se
Então esboçando um leve sorriso, recuperando de um Mal da Floresta; da
disse a filha: doçura de sua mãe e das aventuras que
_Amanhã quando o sol estiver a participava com o pai; do desejo de
pino, minha pequena, iremos procurar a encontrar o Grande Segredo da vida de
qualquer fada, o Amor Supremo.

V
Enquanto era envolvida por todas pareceram se agigantar, como um grande, e
estas sensações maravilhosas e abraçada crescente mal a estivesse envolvendo...
aos próprios joelhos, acompanhava o Estava envolvida num estado de
balançar das folhas, enquanto uma leve torpor, entre o mundo Real e o mundo dos
lágrima fugia de seus olhos. Aos poucos um Sonhos; o estado em que situações
leve som de asas batendo foi ouvido, era misteriosas ocorrem e ocorreram em todas
sua mãe. as gerações das Fadas e dos Humanos.
Parando ao lado da filha e estendo Uma sensação gélida invadiu o ambiente
sua delicada mão, convidou a fadinha a quente e aconchegante típico do lar de
entrar. Sem dizer uma palavra uma a outra, Fadas, e como uma mensagem corresse
iniciaram o que as fadas chamavam de a pelo ar ouviu, uma mensagem do vento Sul
“Voz de Absollon”, o momento em que dois lhe sussurrando aos ouvidos. O frio e
Silêncios se encontram. E seguiram para o áspero hálito de Raice aproximou-se de sua
interior do Lar. delicada e sensível alma, e em palavras
Mãe e filha, então se deitaram bem gélidas e penetrantes, que oscilavam entre
próximas, num mesmo FOLLEN, pois uma grave rouquidão e o silvo de uma
segundo a tradição das Fadas, a filha mais serpente, assim como espinhos ela sentiu
velha devia dormir junto com os pais. Essa uma voz dentro de sua mente...
tradição acreditava que todas as coisas _ Nallab...Nallab... sei
mais bonitas e invisíveis adquiridas na vida quem você é! E desta vez, suas
de uma fada eram transmitidas durante o gerações não suportarão o
sono; e a filha ou filho mais velho é que poder dos meus
deveria ser a guardiã das melhores antepassados...
vivências dos pais, para poder transmitir as _A milhares de anos, que
irmãs e irmãos, e suas gerações futuras. espero por esta oportunidade.
Assim Nallab adormeceu, envolta no Para conquistar o último dos
calor materno e sendo preenchida pela poderes, a força controladora
fortaleza e a bondade da mãe, que era da Natureza, o conhecimento
transmitida durante o sono: o momento em superior!
que as Fadas se encontravam na Mente e _ Eu vigio seus sonhos,
no Coração do Soberano Criador, e o seus pensamentos, conheço
instante em que o coração da mãe ensinava quem você é, mesmo que você
as lições mais nobres ao coração da filha. ainda desconheça... é chegada
a hora minha Rainha. A hora de
O sol ainda não havia se erguido no uma nova escolha e um novo
horizonte, e apenas os últimos e mais tempo.Ah, Ahhhh, Arahhhh!
vigorosos grilos iam entoando as últimas Após a última frase uma gargalhada
notas daquela longa noite estrelada de estridente foi sentida em seu interior e uma
cantoria. Nallab durante toda a noite teve sensação perturbadora dominou seu corpo.
sensações perturbadoras, às vezes emitindo Repentinamente sua respiração se acelerou
pequenos grunhidos, e noutras tendo e seus espasmos se multiplicaram, sua
pequenos espasmos no macio FOLLEN. A agitação foi crescendo intensamente. De
alguns instantes antes de Marte despontar súbito sua mãe acordou com os espasmos
no horizonte e dar lugar ao sol do da filha.
alvorecer, suas emoções perturbadoras

VI
_ Nallab, Nallab! Acorde, acorde! É _Nallab, você está bem? Disse a mãe
mamãe, minha filha! serenamente e olhando a filha com ternura.
A mãe de Nallab pressentiu algo Nallab abriu os olhos lentamente,
estranho no ambiente, ela já havia ouvido sem entender muito bem o que havia
falar do hálito de Raice, mas nunca havia ocorrido e repetindo de modo sussurrante
presenciado tal fato. Segundo os as últimas palavras que impregnaram a sua
conhecimentos das diversas gerações de doce alma: “é chegada a hora minha
fadas, o hálito de Raice, era um encanto em rainha”.
que o vento Sul era controlado, para _Mamãe, o que aconteceu? Eu
impregnar a mente de um ser, dando acesso estava ouvindo uma voz, triste que me deu
aos pensamentos e sensações mais ocultos muito medo. E com os olhos marejados e a
de cada ser. Nallab estava envolvida pelo respiração ainda veloz, a pequenina se
encanto do rei Raice e sua mãe sabia que lançou aos braços da mentora e amiga.
somente havia um modo de libertar sua _Calma filha, agora está tudo
pequena e amada filha. bem...Tudo já passou...
Aquela figura que antes tinha o rosto Um leve agitar de asas foi escutado
agitado começou a entrar num estado de vindo da direção em que suas irmãs
serenidade, a mãe de Nallab postou-se dormiam e uma voz doce e sonolenta
próximo à filha e começou a emitir o ressoou no ambiente.
“Chamado Sagrado”, que em língua _Mamãe, está tudo bem...eu e
humana dizia mais ou menos isso: Prillan, não conseguíamos nos mexer e
_ Ó grande Absollon, que em tudo sentimos um frio muito grande que nos
está e tudo governa, impregna-me com a acordou...
luz da manhã e o poder do vento cósmico. _ Calma minha pequena, agora está
Ó sagrada luz venha até nós e ilumine as tudo bem, mamãe está aqui e sempre estará
trevas. ao lado de vocês. Disse a mãe com uma voz
E como estivesse realizando um aveludada.
chamado cíclico, as palavras retornavam e _O mal já se foi... tudo ficará bem
vinham continuamente, até atingirem um agora.
estado contínuo como o murmurar das _ Que mal, mamãe? Disse Prillan
águas de uma cachoeira. com um olhar curioso e de brilho
Os olhos da mãe começaram a sofrer esmeralda.
uma transmutação, de repente seu olhar _ Venham minhas pequenas, sentem-
refletia lugares lindos e distantes, em que se aqui! Disse a mãe apontando para o
despontavam o nascer do sol. À medida que grande FOLLEN.
as luzes destes sóis erguiam-se no As meninas obedeceram ao pedido
horizonte, seu corpo começou a aquecer-se da genitora e ficaram em silêncio,
e dispersar o frio que estava instaurado no observando os gestos graciosos e amorosos
ambiente. Suas asas começaram a bater tão da mentora.
rápido, como as de um beija-flor; o centro _ Chegou o momento, meus
de coração e olhos, começou a irradiar um tesouros, de vocês conhecerem a Verdade
brilho róseo violáceo, que cresceu pouco a do que houve aqui. Ouçam com atenção e
pouco, e culminou numa pequena explosão guardem estas palavras em vossos corações,
de luz pura que iluminou e foi refletida por pois chegará o momento, que vocês
todos os cristais da parede. precisarão delas...

VII
E num tom profundo e emocionante, as coisas ordena e guia. E assim Absollon
a grande Fada começou a narrativa. silenciou, e através do Silêncio emanou o
“Quando Absollon fez o Tudo, deu a equilíbrio.
cada elemento um propósito único, feito Os sábios e sábias tentaram curar
especialmente para cada ser da Natureza. E Glacius, mas sua alma estava corrompida e
aos primeiros de nossos antepassados impregnada de orgulho e ambição
confiou os cuidados do Fairyllan, o sopro deletéria. E pouco a pouco, foi ficando
divino.” distante do Supremo; ficou distante do
E confiou aos antigos sábios do Silêncio e sua mente foi se tornando
fairyllan, o auxilio das forças agitada e o coração de fada começou a
transmutadoras, confiando a cada um deles esfriar. Depois que seu coração começou a
a influência e ordenação dos fluxos da esfriar e endurecer, o poder que ordenava
Natureza. Assim a energia fairyllan, podia começou a ordena-lo; e o frio que antes
ser vista agindo no nascer do Sol, no orientava, começou a orientar a si próprio.
movimento das águas, no nascer das Seu rosto doce e meigo de outra hora
sementes, nas relações da natureza, no tornou-se endurecido, e o frio transbordou
ciclo das chuvas e dos ventos, no frio e no por seus olhos, que ficaram semelhantes a
calor e em todos os outros inumeráveis e cristais de gelo; e depois todo o seu corpo
infindáveis processos da oscilação da vida. ficou gélido, pois o coração de uma fada é
Cada um dos antigos sábios estava que ordena sua forma exterior. Daquele
em harmonia com Absollon; a respiração momento em diante não era mais
de Absollon e dos sábios eram um único mensageiro da essência pura do fairyllan,
movimento; o bater do coração de Absollon mas mensageiro corrompido: era o Rei de
era o mesmo que o bater dos corações dos Gelo.
sábios; a mente e olhos do Supremo eram Durante muitos milhares de anos, o
um com os sábios. Absollon e os guias do Silêncio tem ordenado o Tudo, permitindo
fairyllan eram um único corpo. que ocorra o despertar da “consciência de
Os guias do fairyllan entoavam Absollon”, nas fadas e nos demais seres.
constantemente o “Canto do Silêncio”, Glacius tentou durante muito tempo,
sendo assim, suas mentes e corações eram controlar os segredos do fairyllan e obter o
as partes ativas do Supremo. Um dia algo conhecimento plenos para comandar todos
diferente começou a ocorrer e o que era os fluxos naturais do planeta.
certo, começou a ficar incerto... O poder de Glacius cresceu e a
Glacius era uma das fadas ligação que os sábios possuiam com o
responsáveis pelo movimento do fairyllan Supremo diminuiu. Então, o desequilíbrio
que ordenava o frio do planeta. Mas um do rei do Gelo começou a envolve-los, e
dia, sua respiração e batimentos do coração uma parte de seus corações esfriou. À cerca
começaram a destoar do movimento de 100.000 anos Glacius direcionou todo o
Natural do Supremo. Glacius queria seu poder para envolver a Terra, e o frio se
dominar, ser o senhor de todo o saber e espalhou por toda a superfície; e sua
assim ocupar o lugar de Absollon. intenção foi tão intensa, que o fairyllan o
Mas o Supremo conhecia cada obra transmutou num cristal de gelo.
de sua criação e Tudo sabia, e para com No entanto, antes de entregar-se
Tudo destinava seu Amor profundo no totalmente a sua ambição, uma parte de seu
Silêncio; pois, sabia que o Silêncio a todas coração de fada sentiu necessidade de ter

VIII
um filho para cumprir seus desejos, se ele paredes de cristal. Então erguendo as mãos,
falhasse. E assim aconteceu o improvável, disse: “naime saint lao, ma nabu”. E o
seqüestrou uma das antigas fadas que cristal da parede começou a brilhar e dele
ordenavam a energia do Calor, e nela gerou sai um cristal menor de cor dourada ligado
Raice, o único fada nascido no Inverno. a um elo de folhas prateadas, e tão
Depois roubou o conhecimento da brilhante quanto à luz das esferas celestes.
fada seqüestrada, uma das ancestrais de Caminhando em direção as filhas
nossa família e transmitiu o poder a Raice. que as olhavam surpresas, a mentora pôs o
Desse modo seu herdeiro, além de ser colar ao redor do pescoço de Nallab e
possuidor de um talento natural para olhando fundo em seus olhos disse:
manipular o fairyllan do Frio, havia _ Eis minha pequena, que lhe
aprendido também sobre a manipulação do entrego a chave de seu destino! A pequena
fairyllan do Calor. olhava atenta e admirada o pequeno objeto.
Após a morte de Glacius, seu filho Ao segura-lo de modo que estivesse
assumiu o trono e os propósitos do pai, todo envolto em sua pele macia, o cristal
assim utilizando-se de seus próprios iniciou um brilho súbito e uma voz ressoou
talentos inatos começou a dar no recinto, dizendo:
prosseguimento aos desejos do pai, figura “Ó pequena filha do Verão, és tu o
esta que nada mais era agora do que uma Sol, que afastará o Frio do novo tempo e
profunda marca em suas memória, suas verterá o gelo em água, e da água nova vida
ações e um amuleto no pescoço. O pai nascerá. Serás a lembrança daquele que se
transformado em cristal de gelo, ainda esqueceu do calor do amor...”
parecia vivo; ali dependurado no pescoço “Nós somos as vozes de todos
do filho na forma de uma corrente. O pai aqueles que passaram e hoje permanecem
era o amuleto de Raice, que impregnava o vivos dentro das memórias ocultas das
filho com os seus próprios desejos novas gerações: somos os Espíritos de seus
frustados. Antepassados”.
A força de Raice foi estimulada e Nallab não entendia racionalmente
refinada durante os milhares de anos que todos os fatos, mas sabia que de alguma
seu pai esteve ao seu lado e agora ele está forma que algo havia se transformado para
de volta, vivo numa ambição insana que sempre naquela manhã. Era como lanços
habita o espírito do filho”. distantes do tempo estivessem sendo
_Filhas, esta é a história, na qual os refeitos, pois ela sabia que o grande
nossos antepassados diretos se ligam a Silêncio de Absollon era misterioso e
Raice. certamente a guiaria rumo ao melhor
_ Mamãe, então era a voz de Raice caminho.
que ouvi em minha mente? Disse a _Quando parecer confuso é por que
pequena Nallab com um olhar o novo chegou, pois somente o novo
interrogativo e já mais calmo. incomoda, o que é velho pouca
_ Isso mesmo minha flor... transmutação causa. O novo move o
_Mas o que ele queria de mim? Por fairyllan, na direção do Supremo... Estas
que eu? palavras foram repetidas em tom
A mãe acariciou os cabelos sussurrante pelo jovem Nallab e era um dos
amendoados da filha, sorriu levemente e trechos pertencentes aos textos sagrados.
levantando-se caminhou até uma das

IX
O fairyllan interno começava a Logo ao longe o palácio da
agitar e reorganizar o seu interior, ela Imperatriz foi avistado, ele parecia ser
apenas percebia o fluxo ocorrendo em sua construído de luz e ao seu lado havia duas
mente. Ela tentava decifrar o mistério frondosas árvores, que mais lembravam
racionalmente, mas no fundo sabia que a dois gigantes, por onde corriam duas
verdade somente poderia ser extraída do cascatas cristalinas, que logo ao alvorecer
grande Silêncio, que Tudo Sabe e Tudo formavam duas cachoeiras arco-íris.
Responde. O castelo tinha a forma da mais
A jovem ergueu aquele lindo e linda flor da Terra e no seu topo havia uma
profundo olhar oceânico, e como estivesse gigantesca esfera que refletia toda o
admirando o infinito, olhou bem nas galáxia, que abarcava o Sistema Solar. O
profundezas da alma de sua mãe e disse: local onde a Imperatriz habitava era
_Mamãe, eu acho que este é o sinal guardado unicamente pela magia das
que confirma o chamado. Eu devo fadas, que num passado distante edificaram
participar do ritual sagrado na Colina uma barreira radiante, pela qual somente
Cósmica... as energias que seguissem a respiração do
A mãe olhou-a carinhosamente e Supremo poderiam atravessar.
apenas acenou a cabeça duas vezes, bem O centro do palácio ficava localizado
vagarosamente para cima e para baixo. no topo da Colina Cósmica, local onde
Então, as quatro fadas, se deram às mãos e estava situada a fonte; a fonte depositária
como soubessem o que cada uma estivesse do Fairyllan, o sopro divino.
pensando, começaram a agitar suas asas e À medida que iam se aproximando
seguiram rumo a saída da casa. da entrada do palácio, as quatro fadas
O sol acabava de despontar no céu e sentiam um cheiro doce e relaxante nas
lindo raios avermelhados e roxos, pintavam circunvizinhanças, e toda a agitação ia se
o horizonte e há tempos que os grilos já esvaecendo e sendo preenchida por uma
haviam se retirado para o descanso após a sensação de bem estar indescritível. Logo à
fatigante noite de cantoria. As quatro fadas, frente, das águas radiantes advindas das
tinham um elo intenso ligando-as, talvez ele cascatas surgiram quatro espirais
sempre tenha existido; algumas vezes o brilhantes, como se fossem discos de luz
silêncio de cada uma delas era um diálogo pura: um dourado, um violeta, um
terno e doce, sem palavras, mas que tudo esverdeado e outro rubi.
dizia. As quatro então se alinharam e
E naquele momento em que os segurando as mãos umas das outras,
primeiros raios da manhã as guiavam entre iniciaram a formação do “ fluxo de
as flores, o diálogo dizia é chegada à hora Absollon”, segundo a evocação de certas
de procurarmos a Imperatriz para cumprir palavras secretas emanadas numa
as vontades do grande Absollon, sejam tonalidade doce e calmante:
quais forem. ...Aimi...Aini....Aiti...woki,Dharma,
À medida que iam se afastando do jiti Kama ,Karma, guira... banta
seu adorável lar, este ia ficando cada vez lannki...Aimi fuipy kesy...Evocamos a ti, ó
menor, até que transformou se num pálido Todo Poderoso. Ó Absollon, nossa
ponto que confundiu se com os campos respiração é uma contigo e o ar que penetra
floridos, espalhados por todo o sem fim de em nós é o vosso próprio corpo.
terras do Reino da Fadas.

X
E assim, enquanto as quatro fadas, sua fronte, e ouvia a voz de Raice, dizendo:
iam repetindo tais palavras, aos poucos “é chegada a hora minha rainha...”.
seus olhos foram se transfigurando e do Subitamente sentiu um leve frio lhe
bater de suas asas, começou a ser exalado subindo pelas costas, o que desviou sua
um pó brilhante, semelhante a esferas atenção de seus próprios pensamentos e a
fluidas. Os olhos de Nallab ficaram na trouxe a focar sua atenção no caminho que
coloração do disco dourado; os de sua mãe a levaria até a Imperatriz.Seus olhos
ficaram violetas; os de Prillan ficaram apenas conseguiam reconhecer um imenso
esverdeados e os de Grascy se tornaram corredor tubular, cujo material era
rubis. estranho a tudo que já havia visto; era um
Lentamente suas mãos antes unidas, corredor feito por borboletas multicores,
se separaram; e flutuando separadamente, que realizavam um movimento espiral
envoltas pelas esferas fluidas, foram sendo continuo.
arrastadas por algum fluxo oculto na No final deste tubo vivo, estava
direção das espirais de luz, que presente uma linda flor de aparência
correspondiam às cores nos olhos de cada similar a uma rosa gigante, contudo mais
uma. Pouco a pouco, a luz das espirais brilhante que o próprio sol ao nascer do dia
pelas quais estavam envoltas; oscilou e e transparente como as puras águas de uma
desta oscilação, num movimento cascata. Ao redor desta flor, havia uma
ressonante, vibraram em uníssono com a fonte circular que não lembrava nada em
respiração de Absollon. toda a natureza, era como fosse uma
Neste intervalo nada existia somente vibração multicor elementar, que lembrava
o Supremo, onde tudo é harmônico. Desse talvez milhares de cordas de uma harpa.
modo à barreira havia assumido uma Em meio à transparência e ainda
forma ausente para as quatro fadas, pois ofuscadas pelo intenso brilho, visualizarão
agora elas não eram individualidades, mas uma linda e tênue imagem, em cujas mãos,
eram o próprio Absollon que em tudo havia ligado algo que parecia um
penetra e tudo ordena. condensado daquelas mesmas cordas.
Novamente, o fluxo que antes, as Delicadamente a Imperatriz tocava os
tinha separado; agora as uniam; cada uma minúsculos dedos, naqueles fios vinculados
numa ponta, fechando uma figura a fonte circular, a qual sofria constantes
geométrica que lembrava, uma estrela de transmutações em suas cores e formas.
quatro pontas. Dentro do perímetro do A Imperatriz tinha uma tez violeta
palácio havia um Fluxo Oculto que ordena radiante; longos cabelos negros e seus
os processos e os desejos, e graças a tal olhos...nossa! Seus olhos eram
fato, o desejo de Nallab foi ouvido; e o espetaculares, era como fossem camaleões,
fluxo as levou diretamente até a Imperatriz. pois onde ela olhava, dava a impressão que
Enquanto estavam envoltas naquela estavam penetrando na intimidade daquele
sensação de paz plena, Nallab observava ser, seja ele animado ou inanimado.
pequenos trechos de imagens que vinham a _ Como ela é linda...!Disse Nallab,
sua mente, imagens do pai na terra do baixinho para si mesma.
Gelo; imagens de flores congeladas e fadas Quando estavam a apenas alguns
que mais lembravam estátuas feitas de um metros de distância da Imperatriz, a imensa
gélido cristal. De repente via a si própria e peculiar rosa se abriu e do seu interior
com uma coroa de flores congeladas em emergiu a Imperatriz, linda como as fadas

XI
sempre são e vibrando segundo o bater do olhos oceânicos. A Imperatriz estava
coração de Absollon. E do interior da flor, conversando diretamente com o coração da
um perfume tão penetrante e relaxante, fadinha, aquele que tudo sabe e tudo
impregnou os pulmões das quatro. conhece; pois, algumas vezes as palavras
Ao verem tal beleza indescritível, as dão uma forma aparente a um sentimento
três filhas e a mãe ajoelharam-se real.
humildemente frente à Imperatriz; elas Uma fada sabe que os corações
ainda permaneciam naquele estado conhecem todos os caminhos, pois eles são
flutuante que as estava envolvendo desde a os ouvidos que percebem a vibração do
entrada. respirar do Supremo.
_ Se aproxime pequenina...Disse a Do rosto de Nallab escorreu uma
Imperatriz numa voz melódica e penetrante. grossa gota e em sua memória surgiu a
Nallab sabia que tais palavras se imagem de tempos difíceis, de um inverno
dirigiam a ela. Lentamente ela soergueu a rigoroso em que o alimento era escasso; e
cabeça permeada por seus lindos cabelos viu sua mãe trazendo somente algumas
dourados, e erguendo os olhos que já parcas raízes para alimentação da família,
haviam retornado a sua coloração azul as quais eram consumidas com lágrimas
oceânica. nos olhos de toda sua família. Se via
_ Sim, minha Imperatriz! Disse sentada solitária em cima de uma flor,
timidamente a jovem fadinha. rogando ao grande Absollon e silenciando
_“Nai bi, in te...nai bi, in te... nai bi, suas emoções angustiadas pelas
in te...” Repetia a Imperatriz numa lembranças de um passado difícil, que
entoação, que lembrava os canto das ainda desconhecia o significado para o seu
baleias. futuro.
Novamente o fluxo começou a agir Pouco a pouco, as grossas gotas
em Nallab, e num estado de quase foram escorrendo do canto de seus olhos e
semiconsciência foi sendo levada pela força percorrendo a face rósea da fadinha, até
flutuante até um palmo de distância da encontrarem se novamente na ponta de seu
Imperatriz. queixo; e cair em direção ao chão. No
_ Confie minha pequena entanto, à medida que a gota ficava mais
Nallab...Disse de modo tranquilizante, a voz próxima do chão foi alterando sua forma,
da Imperatriz. assumindo o formato de um cristal de gelo,
_ Estenda suas duas mãos e as que ao cair no chão quebrou em pequenos
ponha sobre seu coração Nallab. fragmentos e retornou a seu estado líquido.
Quando as delicadas mãozinhas da Aquela gota havia revelado os
fadinha estavam postas sobre o peito, houve segredos ocultos de seu coração e mais uma
um pequeno intervalo, que fez o respirar de das profecias dos textos sagrados havia se
Nallab ficar mais profundo e sereno. cumprido:
Então, a sábia Imperatriz ergueu suas “Em tempos difíceis o gelo
lindas mãos de luz e as fundiu com as mãos transformará as lágrimas da enviada e da
da pequenina. dificuldade do futuro ela buscará o calor
De longe a mãe e as irmãs, interno. E nesse processo o fluxo
admiravam a cena e viam um fluxo encontrará os opostos, então o Gelo irá
radiante sair do coração da Imperatriz e acender o Fogo, e o Fogo irá transformar o
adentrar no coração da adorável fada de

XII
Gelo; pois assim disse Absollon, o flor gigante de onde a Imperatriz havia
Supremo”.Canto VII saído.
Texto Sagrado do Reino Graciosamente a sábia fada estendeu
das Fadas as mãos e disse:
_Mia kundali, Mia kundali, mia
A Imperatriz havia escutado a voz do Kundali Nallab! Que em língua humana
coração da pequena até o recôndito mais significaria, “Ó fonte transmuta, ó fonte
profundo. E enxugando uma das lágrimas, transmuta, ó fonte transmuta Nallab”.
que persistia na face da fadinha, lhe disse: Uma espiral tripla emergiu daquelas
_ Minha pequena você é muito mais, misteriosas águas se ergueram até a altura
do que pensa que é, e o tempo lhe trará as da fronte de Nallab e começaram a entrar-
respostas de seu destino...Disse a sábia lhe pelas narinas, boca e ouvidos. A
imperatriz com um leve e afetuoso sorriso. fadinha sentiu-se tonta, e visualizou terras
_ Mas minha grande Imperatriz, por distantes com flores duras como pedras, e
que estas visões e a sensação de frio me outras em que as águas estavam escuras
perturbam? como o lodo. Depois viu as mesmas terras,
_ Por que é chegado o tempo... no entanto uma linda luz transmutava as
_ Tempo do que? Disse a pequenina duras flores, e estas ficavam macias e
com os seus lindos e penetrantes olhos tênues; e transmutava o lodo, que era
azuis. vertido em flores laranjas e amarelas, e as
_ Tempo de encontrar o que sempre águas ficavam brilhantes como cristais.
buscou, aquilo que você tentou encontrar A última memória que lembrava se
em muitos livros e em diversas fadas e vindo a mente foi a imagem de sua amada
situações criadas por ti... família, e um rosto liso e gelado, que
_E o que é?Disse de maneira brilhava como um fogo frio. Então, o frágil
intrigada, a jovem Nallab. corpinho de Nallab, foi se dobrando até
_ O sentido...o sentido de tudo; o ficar envolta tão somente pelo brilho
Fluxo que guia a vida de cada fada... radiante do pó, o qual fazia flutuar. Agora
_ É o... Disse timidamente a fadinha. a fadinha estava inconsciente e parecia
_ Sim, minha pequena é a energia dormir um profundo e tranqüilo sono.
Fairyllan, o sopro da vida, para nós fadas; _ Mãe se aproxime...Disse
e que têm o nome de Amor para os serenamente a Imperatriz.Lentamente a
humanos. Contudo é a energia que tudo mãe se aproximou da filha e da sábia fada.
move; é a respiração de Absollon. _ Sim, minha Imperatriz. Disse a
_ Tudo virá a seu tempo e o Supremo mãe de Nallab num tom respeitoso.
me disse, que seu preparo já começou, mas _ Sua filha dormirá durante 4 dias,
que muito ainda está por se fazer. Disse de os quais representarão todas as estações do
modo terno e com o seu penetrante olhar, a ano terrestre...durante esse processo ela
Imperatriz. morrerá e renascerá diversas vezes, como
Nallab abaixou a cabecinha e os próprios ciclos naturais. Disse a
enxugando as últimas lágrimas, sentiu Imperatriz em tom profundo e solene.
novamente aquela sensação fria em seu _Durante estes dias você e suas duas
corpo. Delicadamente a Imperatriz segurou filhas, devem realizar o “Canto do
uma das mãos da fada e dirigiu se rumo as Silêncio”, para que sua pequena inicie o
proximidades do círculo, que envolvia a que veio iniciar.

XIII
Enquanto a rainha falava, a mãe e Outono, o Inverno e a Primavera. Na
as filhas, olhavam atentas a cada uma das primeira estação entraria em contato com
palavras sagradas emitidas pela Imperatriz. as forças celestes do Supremo, sendo a
_ Sim, minha imperatriz! Assim será colhida pela chama interna do coração de
feito! Disse a mãe olhando a filha de modo Absollon, que tudo transforma.
afetuoso. Na segunda estação, o Outono, os
_ Que Absollon, o senhor dos pensamentos e as emoções antigas que não
senhores, nos guie através de sua tenham mais necessidade serão renovados,
respiração, orientando todos os processos e segundo as palavras do Supremo: “as
retirando dos nossos pensamentos e ações o folhas antigas cairão ao solo e a fonte da
Mal ilusório, que tenta confundir nosso ser. vida elas voltarão; então a fonte da vida irá
Disse a Imperatriz, serenamente enquanto transformar o velho em novo”. No período
emitia uma luz dourada, que era emitida a da terceira estação, será o momento de
partir de seu coração. Nallab voltar-se em direção a si mesma,
A luz cresceu e envolveu as quatro mergulhando em seu passado esquecido e
fadas, e enquanto a luz banhava cada uma encontrando o alimento precioso que a
delas, a Imperatriz recitava um dos trechos sustentará no frio desta estação, em que os
das antigas escrituras: músculos enrijecem e os “alimentos da
“Quando o Tempo é chegado, alma” ficam escassos.
somente o Respirar de Absollon impera, e Na última estação as sementes de
tudo segue o caminho que veio para seus atos criados ao longo de sua existência
seguir”. Canto II de fada virão à tona e despertarão do seu
Texto Sagrado do Reino sono nas profundezas da terra, dando
das Fadas origem as árvores frutíferas, as flores e a
_ Até breve, queridas servas de todas as belezas e encantos da Natureza...
Absollon...Disse a Imperatriz, enquanto já Durante quatro longos dias suas
se dirigia para o interior da tênue flor de irmãs e sua mãe realizaram o “Canto do
onde havia saído. Silêncio”, que ligaria Nallab a respiração
Repentinamente uma pequena do Supremo Absollon.
explosão se formou no recinto e o túnel de
borboletas transportou instantaneamente
Nallab e sua família, diretamente para o
seu adorável Lar. “A estação do Verão”

A realidade da pequena Nallab havia O corpo de Nallab movia-se


sofrido uma ruptura temporária; agora oscilando para cima e para baixo, agora ela
estava mergulhada no mundo de todas as acompanhava os batimentos do coração de
possibilidades, no qual ocorrem as quatro Absollon. Assim permaneceu durante
estações dos sentimentos, ela estava no alguns instantes; instantes estes que
coração de Absollon... pareciam tão longos como o nascer de um
Nos quatro dias de inconsciência da novo tempo. Lentamente a graciosa fada
fadinha, segundo as palavras da começou a abrir os seus expressivos olhos
Imperatriz, ocorreria a morte e o oceânicos, então sentiu uma agradável e
renascimento interno de Nallab. Assim, os doce sensação de acolhimento nunca antes
sentimentos da pequena viveriam o Verão, o experimentada em toda a sua existência.

XIV
Pairou os olhos no chão e viu uma pequena, e uma vontade irreprimível atraiu
imagem de um esplendor sem fim, parecia sua fronte e seu olhar em direção ao
uma um oceano, lindo e radiante, que se estranho fenômeno.
estendia até o infinito, com a superfície tão Vagarosamente ergueu seus olhinhos
macia quanto às flores de pétalas mais ainda marejados pelas últimas e
delicadas. Ao olhar para baixo visualizou persistentes lágrimas, avistou a imagem do
lindas imagens do adorável planeta Terra, que ela considerou a própria origem do
tais como graciosos casais de baleias e Fairyllan, uma linda Fênix Gigante estava
flamingos que cuidavam de seus filhotes e a sua frente, olhando diretamente em seus
ursinhos que brincavam na macia relva; úmidos olhos.
galáxias distantes e sóis tão lindos que mal O corpo da Fênix flamejava, suas
podia descrever. penas tinham um brilho dourado
Nallab foi tomada de uma emoção avermelhado, que oscilava em rápidos
sem igual, e ajoelhando-se perante tal padrões de mudança. Os seus olhos
imensidão e beleza, sentiu uma sensação de pareciam dois imensos sóis dourados, em
profunda gratidão a Absollon, o Supremo; cuja posição das pupilas, apenas existiam
e naquele instante era como sentisse toda a figuras dos mais distantes recantos do
imensidão da criação, não existia mais a Universo, por onde, imagens surgiam e
fada Nallab, somente existia a sensação desapareciam num piscar de olhos. Eram
que ela era apenas uma das infinitas imagens de todo sortilégio de vida, planetas,
expressões do Amor de Absollon. galáxias, paisagens, mudanças climáticas e
E enquanto as últimas e grossas expressões de emoções de variados seres
gotas de emoção fugiam de seus olhos vivos.
profundos, um brilho diferente começou a _ Seja bem vinda, pequena, Nallab...
envolver seu corpo. Então, seu corpo de Falou em tom profundo e sereno, sua voz
fada lembrou-se do passado e o que antes parecia uma mistura de uma suave brisa, o
era grande, foi retornando ao seu frágil murmurar de uma cachoeira e os trovões
corpinho de fada menina; e Nallab, de uma tempestade.
naquele instante voltou a ter o corpo de sua Nallab olhava admirada aquela
infância. Ela estava admirada com o imagem divina.
ocorrido, tudo era tão mágico, permeado _ Meu nome é Kundali, a Fênix
por uma magia delicada e sutil, que escapa sagrada. Sou a geradora das vontades de
ao raciocínio lógico. Absollon, expressas através do Fairyllan.
De longe, quase das bordas daquela _Pequenina Nallab, sente-se
imagem de oceano sem fim, surge um confusa, eu sei... Toda mudança é confusa,
brilho rubi, tão intenso como o brilho da todo intervalo entre o antigo e o novo é
estrela mais brilhante. A pequena não assim, pois no intervalo das coisas ocorrem
consegue admirar a imagem diretamente e as vontades imutáveis do Supremo.
desvia o olhar da figura. A fadinha olhava admirada tanta
Pouco a pouco, a misteriosa figura beleza, e balbuciando um pouco interrogou
se aproxima da fadinha. Um vento forte e a Fênix; e nesse instante, seus olhinhos
aconchegante é sentido nas róseas faces de começaram a assumir um brilho de um
Nallab, seus cabelos amendoados são azul tão puro e tênue, que não existiriam
acariciados pelo estranho vento; uma nova cores na Terra para efetuar a comparação.
e súbita emoção invade a mente da

XV
_ Ó grande Kundali, porque estou que sempre buscou, através de caminhos
aqui? outros, se realizará.
_Estás aqui, porque cada um está Uma nova pausa se fez e neste
onde deve estar. O fluxo de Absollon a instante Nallab ouviu e sentiu sob os pés
trouxe até aqui, para iniciar sua missão e apoiados naquele oceano sob o qual
ser livre, adquirir a liberdade de ser o que caminhava, o coração de Absollon...
veio ser. A grande Fênix se aproximou da
_E o que é? Disse docemente a pequena e a envolveu nas suas imensas
fadinha. asas. Um brilho intenso começou a fluir
_A expressão dos próprios potencias dos olhos de Nallab, e de repente viu todo o
infinitos, pois tu, pequenina, é a expressão seu corpo flamejando e nas suas asas de
da consciência da Natureza, e como tal, fada, começou a surgir o mesmo brilho das
nasceu para servir a tudo e a todas as penas da fênix.
coisas existentes. Kundali, a Fênix sagrada, começou
_ Ó grande Fênix, e o que ocorreu a flutuar com fadinha ainda envolta em
com meu corpo? suas asas e aos poucos aquelas duas
Fez se uma pequena pausa, então a figuras começaram a submergir naquelas
grande ave disse: fascinantes águas. Nallab sentia que algo
_ Teu corpo minha pequena Nallab é estava sendo transformado naquele
a expressão de seus pensamentos, vejo em instante, talvez estivesse imortalizando o
teus olhos a profundeza do coração de seu coração de criança.
criança... A grande Ave então abriu as imensas
_ O que isto quer dizer?! asas de fogo e segurou a fadinha com seus
_ Tudo na Natureza possui o coração pés, e estas duas figuras, que agora
de criança, das pedras às fadas. O coração pereciam um; deslocavam-se a uma
de criança é uma faculdade, que liga o ser velocidade de aceleração contínua em
aos mistérios profundos da vida, no qual o direção as profundezas do Oceano.
ser sente o próprio universo. Neste estado Os sons do coração de Absollon
cada segundo torna-se mágico. tornavam-se cada vez mais intensos e
_ Em nome de Absollon, lhe digo Nallab, sentiu algo estranho lhe envolvendo
Nallab, que encontrará em breve esta a mente e as emoções. O coração do
magia. Magia esta que virá do paradoxo, Supremo a envolvia. De repente a fadinha
no qual o gelo irá queimar, e neste avistou um brilho descomunal que pulsava
momento, se expressará o sinal de um novo e de cada pulsação surgia uma criação
tempo. infinita.
Nallab ficou olhando a grande ave, Quando estava bem próxima do
com um olhar interrogativo, não brilho, Kundali lhe lançou ao centro e lhe
compreendendo o significado daquele disse estas palavras:
paradoxo. _ Nallab, seja o que veio ser,
_ E o que devo fazer, grande Fênix? transmute os medos, as iras e o tédio... e
Disse a pequenina. assim, tuas asas serão o movimento de
_ Apenas seja, viva intensamente e Absollon, que em tudo está e tudo é.
serenamente. Siga a respiração de A fadinha começou a agitar suas
Absollon, sinta os olhos de Absollon; viva o asas flamejantes e mergulhou naquelas
coração do Supremo, e a expressão de tudo oscilações. Uma onda percorreu todo o seu

XVI
pequenino ser e neste instante seus olhos já espontaneamente em sua mente um último
não eram os mesmos, viam além; e seus pensamento:
ouvidos já não eram os mesmo, ouviam “Sou a expressão de
além; e suas asas já não mais eram as Absollon, e nesta existência
mesmas, iam além do tempo e do espaço; e serei a chama, que transmuta o
seu coração e mente, não mais estavam mal em bem e tudo que é frio
separados, mais eram uma unidade. será aquecido, pois sou aquela
E à medida que ia mergulhando que nasceu no Verão”.
mais e mais, e se aproximando da essência A última imagem que Nallab
do Supremo, percebeu que ia pouco a visualizou foi a de uma linda flor amarela e
pouco, tornando-se o próprio oceano: brilhante como a estrela vespertina, que
infinito e pacífico, no qual a felicidade e a nascia no meio do Gelo. Depois disso tudo
magia imperam. Sua consciência foi se se apagou e seu corpo se confundiu com as
expandindo e somente sentia uma vibrações do coração do Supremo.
compaixão imensa por tudo, e seu único
desejo era servir e entregar o melhor de si. “A estação do outono”
Subitamente surge em sua mente
uma imagem e uma sensação, ela visualiza “As folhas antigas cairão
Raice, o Rei do Gelo. Ele sente um breve ao solo e a fonte da vida elas
arrepio lhe subindo pelas faces, e admirou voltarão; então a fonte da vida
o olhar de Raice observando o pôr-do-sol. irá transformar o velho em
Seus olhos eram brancos como um cristal novo” Canto VIII Texto Sagrado
de gelo e expressavam profundidade. do Reino das Fadas.
Nallab sentiu uma grande compaixão por Nallab ainda sentia as sensações
ele; de algum modo parecia muito solitário, vivenciadas junto com a Grande Fênix, e
não uma solidão física, mas uma profunda aquele seu último pensamento ainda
solidão espiritual. ecoava em seu interior:
E nos seus olhos, viu fugirem duas “Sou a expressão de
lágrimas líquidas, Nallab sorriu para ele de Absollon, e nesta existência
modo doce e ele olhou para ela, e serei a chama, que transmuta o
timidamente baixou os olhos. Assim, num mal em bem e tudo que é frio
milionésimo de instante, a fadinha sabia será aquecido, pois sou aquela
que a chama do bem ainda vivia nele, pois que nasceu no Verão”.
o seu coração aqueceu suas lágrimas, que Ela sentia seu corpo leve e sereno, e
naquele segundo eram de forma fluida. já havia retornado ao seu tamanho
Logo em seguida a imagem original, e de algum modo misterioso sabia
desapareceu e a consciência de Nallab, que algo em sua essência havia se
começou a se confundir com a do rei do transmutado. Diante de seus olhos
Gelo, e aquele estranho de algum modo lhe brilhantes, avistou um lindo vale, com
parecia familiar, como localizado numa folhas secas pelo chão, cujas colorações
memória distante no tempo e no espaço. E variavam do marrom ao avermelhado.
à medida que a queda ia ocorrendo, a Nallab estava entre dois gigantescos
compaixão e o Amor novamente a paredões rochosos, em cujo chão
envolviam; então, emergiu repousavam folhas secas. No alto do vale
ela apenas, visualizava árvores

XVII
adormecidas, esta era a forma das fadas da estação do Verão e esta é a estação do
descreverem o momento em que as árvores Outono.
perdem suas folhas. Nallab ouvia atentamente as sábias
Então em voz alta, interrogou: palavras do grande espírito, aquele que
_ Que lugar é este?! revela a essência dos lugares e dos seres.
A resposta veio de todos os lados, na _Nallab, esse é o local em que o
forma de um eco que repetia sua própria velho será transmutado no novo, aqui
dúvida. Para descobrir que lugar era deverá encontrar a caverna dos Quatro
aquele, invocou as palavras mágicas da Ventos do Tempo: o Passado, o Presente, o
“Posição Suprema”, que revelam a Futuro e o Não-Tempo, onde tudo é uma
qualquer fada a essência do lugar. única essência.
Sua respiração foi ficando profunda _ E o porquê do eco em todas as
e calma, cada vez mais profunda e calma; direções? Disse a fadinha, se aproximando
suas asas ainda mantinham o brilho das de Revelatum.
asas da fênix, e lentamente a pequenina _ Os Ecos pequena fada, são fruto do
começou a agita-las e ficou pairando no ar. que você é, ele é o consolidar de novas
As palavras começaram a fluir dos lábios possibilidades. Disse Revelatum, emitindo
de Nallab, como uma leve brisa marítima, uma brisa com cheiro de perfume do
que percorre a costa, e assim disse: campo.
“Revelatum, ia kundali...revelatum _ Não entendo, grande Espírito, o
ia kundali...revelatum ia kundali ino que isto significa?
Absollon...” _ Minha pequena, cada emoção ou
E assim suas palavras foram se pensamento que ocorra em sua essência,
repetindo. De repente as folhas começaram fica ecoando em seu interior; alguns se
a agitar-se e uma corrente de ar luminosa repetem durante, segundos, minutos, dias e
na forma de um Urso correu do fundo do outros a vida toda. Isso é o Eco.
vale e seguiu em sua direção. _Sinto que em seu coração um novo
Aquela imensa figura parou frente à eco se forma, uma figura de Gelo, Raice,
fadinha e disse: têm visitado o seu coração e o seu coração,
_ És tu, ó pequena fada que evoca Nallab têm visitado o dele; você sente-se
Revelatum, o farejador de essências? Disse confusa, em dúvida. Mas, isso faz parte da
o grande espírito revelador. ação do Fairyllan, a transmutação está
_Sim, ó grande espírito... Disse tocando ambos.
Nallab, com os seus imensos olhos Nallab abaixou a cabeça, enquanto
radiantes, como os olhos de uma criança. pairava no ar, como estivesse buscando em
_ E o que desejas, minha pequena? seu interior as respostas do novo tempo.
_ Desejo saber onde estou... Disse a Após alguns breves instantes, a fadinha
fada de modo afetuoso. ergueu os olhos e disse:
_ Tu estas na terra das quatro _ Para que direção fica a caverna
estações, o mundo onde os sentimentos se dos Quatro Ventos do Tempo, ó grande
transmutam e a fada entra em contato com Espírito?
os seus poderes não-manifestos. _ Voe o mais alto que puder e
_ Você foi transportada para cá, pela quando estiver tocando a borda do céu
magia da Imperatriz, e...Você acaba de vir encontrara a fluxo da respiração de
Absollon. A partir deste ponto o fluxo a

XVIII
conduzirá ao que busca, não temas, as Aos poucos foi adquirindo altura e
grandes fadas estão contigo. às vezes quando admirava a terra, via a
Pouco a pouco, a figura do grande mesma encolhendo paulatinamente. Além
Urso foi assumindo uma forma mais da impressão de encolhimento da terra,
diáfana e antes de desaparecer emitiu a percebia que o seu intenso calor corporal ia
seguinte frase que ressoou por todo o vale: ficando a cada instante mais raro, sendo
“Quando um ser inspira, o universo seqüestrado constantemente pelos frios
inteiro entra em si; quando ele expira o ventos que pairam as grandes alturas.
universo inteiro sai de si”. Nallab tentou se concentrar,
_ E lembre-se Nallab, quando tornando sua respiração lenta e profunda,
libertar as correntes de seu pensamento irá numa tentativa de elevar sua temperatura
libertar as correntes de seu corpo... E assim física, mas tudo parecia em vão. Como
Revelatum desapareceu e apenas o eco de último recurso, emitiu um som inaudível a
sua voz permaneceu ecoando quatro ou quase totalidade dos humanos...e pouco a
cinco vezes, até desaparecer no infinito. pouco, o brilhante pó que lhe escapa das
Na mente da fadinha, as palavras do asas começou aderir ao seu corpo e emitir
grande Espírito ainda se faziam presente e uma luz avermelhada, a qual dava a
ocorria a manifestação do Eco, pois algo fadinha à forma de uma grande brasa
novo estava se consolidando... Aquele voadora.
momento representava o início do A terra já estava bem distante e os
cumprimento das profecias sagradas: pontos antes distintos de cores, parecia
“O sopro divino é eterno, e no agora um único todo esverdeado enevoado.
futuro e para todo o sempre A pequena fada transpassava imensas
existirá e será carregado, por nuvens que agora iam tornando-se mais e
novas guardiãs e guardiões; mais freqüentes no seu trajeto, que a inicio
fadas sem asas que caminharão eram grossas e espessas; e aos poucos iam
pela Terra... e terão o sopro tornando-se menos compactas.
divino em seus corações”.Canto Nestes momentos que se passaram
XI entre o céu e a terra, Nallab sentiu
Texto Sagrado do Reino das saudades de sua família e de seu pai que já
Fadas a muito havia desaparecido de seus olhos,
Falando em baixo tom para si mas não de seu coração. E ali naquelas
mesma, Nallab, dizia: grandes alturas, onde o silêncio impera e as
_ O Eco em minha mente, representa aparências das coisas são percebidas, a
a consolidação de algum novo momento... fada sentiu solidão; e no interior de sua
A fadinha ainda pairava no ar. mente ouviu novamente um velho Eco: “Ó
Lentamente soergueu a cabeça e com suas pequena filha do Verão, és tu o Sol, que
faces róseas como o pôr-do-sol no mar, afastará o Frio do novo tempo e verterá o
olhou para o céu infinito; então mirando a gelo em água, e da água nova vida nascerá.
borda do céu, disparou num vôo em espiral, Serás a lembrança daquele que se esqueceu
movendo as asas numa velocidade superior do calor do amor...”
ao dos beija-flores e deixando atrás de si, E aquelas palavras apenas
um rastro de um pó brilhante advindo do passearam pelo seu interior, pois a
movimento de suas asas. compreensão delas ainda estava velada a

XIX
mente de Nallab, somente o seu coração as busca do sentido da vida e da compreensão
entendia. das emoções, através de rituais sagradas e
A fadinha se encontrava a imensa símbolos sagrados; ecos de solidão e vazio;
altitude, tão alta que até as estrelas já ecos do presente; ecos distantes do futuro...
começavam a aparecer. Foi neste instante nestes últimos apenas via algo como uma
que a pequena visualizou uma imagem fada de gelo, que assumia uma nova
divina...e as palavras de Revelatum forma...via também duas pessoas abraçadas
tornaram-se reais; ela conseguiu encontrar chorando uma ao ombro da outra. Eram
o fluxo da respiração de Absollon, a qual ecos de emoções profundas, daquelas que
lembrava um imenso cardume composto dão sentido as nossas vidas, mas não um
pelas mais diversas, matizes de cores da sentido qualquer e sim um sentido mágico
Natureza, que alternavam do azul brilhante de ser cuidado e de cuidar.
dos olhos de Nallab às delicadas cores das O caminho de Nallab dentro do
orquídeas amarelas. fluxo, foi uma jornada interior em todos os
A fadinha estava maravilhada com Tempos, que assumiam para a fadinha a
aquela imagem e naquele instante, nasciam imensa diversidade de Ecos que lhe
em sua mente todas as mais belas e intensas tocavam o coração e a mente.
figuras naturais que sua memória havia E assim foi sua jornada em direção a
armazenado durante sua vida. Então num caverna dos Quatro ventos do Tempo... aos
tom solene e reflexivo disse para si mesma: poucos avistou uma linda imagem, que ali
_ Ó Absollon, quantas maravilhas das grandes alturas lembrava uma estrela
existem... oito pontas, com quatro pontas maiores e
E após repetir tais palavras, era quatro menores ligadas aos intervalos
como seu coração antes agitado pelas estabelecidos entre duas pontas maiores.
memórias de saudade, houvesse retornado Ali no topo da montanha, havia uma
a um estado de paz. Pouco a pouco, foi abertura com a forma de disco
sentindo uma leve correnteza de energia... incandescente, cujo centro possui uma
que a puxava em direção ao fluxo. Neste coloração dourada; foi por este ponto que o
instante suas vontades ficaram quase intenso e suave fluxo que guiava Nallab
inutilizadas pois nenhum de seus adentrou na abertura que permitiria a
pensamentos se concretizava numa ordem pequena entrar em contato com os quatro
para seu corpo fádico, ela estava totalmente tempos...
sendo guiada pelo fluxo. No intervalo entre o exterior e o
Assim o fluxo e Nallab tornaram-se interior da montanha, um último Eco lhe
um único ser; agora ela parecia uma linda surgiu espontaneamente... “apenas procuro
e leve flor silvestre que é guiada pela a felicidade, viver com o coração de
correnteza de um ribeirão límpido. criança, num mundo sem dor, sem morte e
Enquanto o fluxo a impulsionava ela via sem coisas que tragam tristezas”. E depois
imagens rápidas e fugazes, que pareciam desse último Eco, sentiu saudades de um
materializar-se e desmaterializar-se em mundo que ela sentia ter estado, mas não se
frações de segundo; após este processo lembrava e de repente tudo se apagou.
apenas um Eco restava dentro de si.
Ecos de sua infância alegre; ecos de
sua busca; ecos da época conhecida entre O fluxo foi tornando-se mais e mais
as fadas, como das bem-aventuranças, ou lento; enquanto o corpo de Nallab descia

XX
como seguro por uma mão invisível. Pouco De igual maneira a figura lhe respondeu,
a pouco, uma sensação de leveza invadiu emitindo um lindo vento que arco-íris que
seu frágil corpo e lentamente ela abriu serpentou em sua direção.
aqueles expressivos olhos, lindos e _Meu nome é Taimitus, o
profundos como os mais belos oceanos. representante dos quatro tempos, o Vento
Abaixo de si sentiu uma morna brisa Sagrado, que em tudo penetra e tudo move.
que a sustentava e tocando curiosa o foco Sou aquele que traz significados a
daquela sensação, sentiu um leve e existência... aquele que liga os fios de tudo
agradável formigamento. Ao erguer suas que existe.
mãozinhas e admira-las, percebeu um Nallab admirava a figura com os
brilho fluido semelhante aos da aurora olhos marejados de emoção e a coloração
boreal, que serpenteava por seus dedos. dos olhos oscilava entre o azul infinito e o
Num breve intervalo de tempo, seu róseo.
corpo deixou de descer e ficou inclinado na _ Ouça pequena, cada elemento que
posição da base de uma montanha vê ou sente, seja nas profundezas de sua
sustentada por uma planície. Então mente ou nas profundezas de seu coração,
apoiando suas mágicas mãos sob a brisa foi são fios... fios tecidos por Absollon para
se erguendo. criar a Teia Suprema, a teia da Existência.
Sua cabeça admirava o brilho _Todos nós temos um destino, uma
magno que vinha da abertura superior, papel a ser desempenhado, o meu é unir os
naquele instante Nallab lembrava as fios da criação.
sementes que emergiam das trevas na _E qual é o meu grande Espírito do
direção da luz. E como estivesse refletindo Tempo? Disse a fadinha em tom
em baixo tom disse: balbuciante e com a voz cheia de emoção.
_Acho que estou aonde devia _Minha pequenina és na tua doçura
estar...Esta deve ser...Sim, a caverna dos que encontrará a resposta...Disse o grande
Quatro Ventos. E ao final de sua última Taimitus.
frase, as palavras “quatro ventos”, _Que resposta?
começaram a se repetir numa intensidade _ Você nasceu com um dom, o dom
cada vez maior. de perceber e manipular fairyllan. É por
Um pequeno tufão então se formou, este motivo que seu coração se compadece
mas era um tufão diferente...que brilhava diante da dor e do sofrimento, é por isso
como um diamante e trazia consigo uma que diante de cenas de amor e bondade
sensação de paz.e leveza. De repente, um seus olhos brilham mais do que o da
halo de luz violeta se formou a meia altura maioria e seu coração sente mais do que o
e a partir começou a se definir algo, que dos outros. Tu tens o dom da comunicação
Nallab descrevia como rostos magníficos, suprema, pois o coração e aquele que tudo
cujas formas lhe pareciam ser instáveis. entende, ele seria o idioma de Absollon, a
Respeitosamente a fadinha se pôs de língua que com tudo pode falar.
joelhos e abaixando a fronte disse: _Mas... eu acho, que não sou o que
_ Neimaste... Disse a pequena. você me diz.... disse humildemente Nallab.
Sua voz era solene e respeitosa, _Você somente é, aquilo em que
expressando o profundo significado paira sua consciência, não temas ser; seja o
daquela palavra, cujo significado em língua que veio ser neste mundo.
fádica era: “Eu saúdo o seu Deus interior”. _Mas como?

XXI
_Deve vencer os seus medos, suas Neste instante a fadinha, havia
dúvidas, suas descrenças... as respostas percebido algo mágico, como uma voz
estão na direção dos quatro ventos, quando interior que lhe dizia: suas respostas não
você, minha adorável fada, ao inspirar cada estão na família tão somente, nas memórias
um dos Ventos, será transportada em boas ou ruins ou num companheiro; o real
direção às respostas... Fez-se um instante significado que busca habita um lugar, e
de silêncio que para Nallab, foram este lugar se chama Sonho.
equivalentes a uma eternidade Pouco a pouco, a figura de Taimitus
_Adorável Nallab, o Tempo segue o seguiu na direção de uma abertura circular
movimento de minha forma; e para que cabia tão somente Nallab. Assim
encontrar o que busca lembre-se... inspire Taimitus desapareceu, num imenso clarão e
cada um dos ventos do tempo, eles farão a única coisa que restou no ar foi às
parte de ti e eles trarão até você as memórias que haviam acabado de ser
respostas que a impulsionarão rumo à forjadas e uma suave voz que disse:
respiração de Absollon. O Vento do Passado _Tenha coragem estarei contigo, siga
lhe mudará o presente e o Vento do o Vento do Passado e saiba que o que
Presente mudará seu futuro, pois são elos procuras vive neste lugar chamado Sonho,
de uma mesma cadeia, até chegar a o seu grande sonho, o local onde tudo se
compreensão do Tempo Integral. sustenta por si só; não temas o velho, pois o
Nallab ouvia atentamente cada passado também é guia. Não temas a
palavra do grande Espírito, sua atenção mudança, pois teme-la é temer a própria
estava toda centrada naquele ser. energia do fairyllan...
_E lembre-se minha pequena, nada _E que Absollon a guie...
temas, confie em seu coração, pois você tem E assim Taimitus desapareceu, mas
os olhos que vêem o que muitos ignoram; sem perceber o primeiro Vento já guiava a
têm os ouvidos que escutam o que poucos graciosa fada, o Passado a partir daquele
escutam e têm o coração que sente o que instante seria o seu guia. Dentro do
poucos sentem, sua tristeza vem da coração de Nallab um novo Eco era criado,
incompreensão da Verdade... que vibrava na seguinte freqüência: “o que
_Que Verdade, grande procuras vive num lugar chamado
Taimitus?Disse a fada com os olhos que Sonho...não temas a mudança, pois teme-la
brilhavam agora como duas esmeraldas. é temer a própria energia do fairyllan”.
_Tuas tristezas são invisíveis, eu sei A fadinha ergueu a cabeça e
de suas angústias do passado, quando fazia novamente admirou a luz e sem saber o
perguntas e ninguém respondia e tentou porquê, diante do Eco que pairava em seu
buscar em muitos caminhos; mas eles não coração sentiu vontade de chorar. E seguiu
faziam por mal, cada um somente pode em direção a entrada pela qual o Vento do
entregar o que encontrou. Passado haveria de guia-la, e quanto mais
De repente um forte som começou a próxima encontrava-se da entrada mais
ser emitido do centro do tufão, que oscilava seus olhos se enchiam de lágrima.
como as ondas do oceano... O Vento do Passado impregnou sua
“OHM....OHM...OHM...OHM...OHM...”, alma e neste instante sentiu saudades dos
então o frágil corpo de Nallab sentiu uma tempos em que era apenas uma fadinha; as
tênue vibração, que pouco a pouco foi se saudades moram no Vento do Passado.
intensificando.

XXII
À medida que avançava através do Vento do Passado. Vagarosamente dobrou
túnel, sentia a lágrimas a descerem como os seus delicados joelhos sobre o chão da
grossos filetes por entre os róseos vales de caverna e ali de cabeça abaixada chorou...e
suas bochechas macias. Ela viajava agora neste momento o brilho azulado de seus
pelo universo do tempo passado, no qual olhinhos foi tornando-se cinza, como
entraria em contato com a sua criança nuvens de tempestade que se abraçam ao
interior, no tempo em que era apenas uma céu azul. Sua mente e seu coração sofriam
semente de fada. e sorriam, pois às vezes, o fluxo do passado
Pouco a pouco, sua visão foi ficando é assim.
turva e sensações de emoções intensas do E enquanto chorava cabisbaixa algo
passado vinham à tona; as lágrimas haviam aconteceu, um Eco límpido e reluzente
inundado seus olhos brilhantes e seu ressoou em sua essência...era um tesouro,
coração ia paulatinamente sendo abatido uma daquelas memórias mágicas, feitas de
pelo sopro do passado. amor e delicadeza, partes da expressão do
Nallab não agüentou avançar mais Supremo; elas impulsionam os seres na
nenhum passo, era um momento difícil direção de Absollon. Elas permitem que, a
olhar para tudo que o vento do passado lhe magia e ,o poder de fairyllan flua através
trouxera: a perda do pai; os momentos de destes seres.
solidão; as saudades daqueles que amava; o Frente a si começou a se formar
incomodo trazido através do sonho com uma esfera leve e fluida como as lindas
Raice; a sua visão da primeira morte de cores da natureza, e dela um delicioso e
uma fada e de um adorável ursinho pardo; adocicado perfume, foi exalado. E do
as cenas do não respirar de um peixe; os perfume, doces melodias de diversos
lindos amanheceres; as palavras alegres de pássaros permearam o ar, e pouco a pouco
amparo de sua mãe... tudo, simplesmente a esfera se transformou em diversas e
tudo renascia; todo o passado havia pequeninas esferas que, iam
retornado, com a intensidade de todas as paulatinamente sendo sorvidas pela
memórias e emoções que acompanham inspiração de Nallab.
cada uma das lembranças, pois as Então, a memória emergiu das
lembranças sempre são carregadas pelos profundezas de sua essência...
ventos das sensações. Nessa época Nallab
A pequena fada, então recomeçou a contava com a idade de quatro
marcha, contudo movia-se para trás, aquele luas, pois os ciclos de
encontro com a sua própria história a desenvolvimento das fadas
assustava; muitas emoções estavam seguem a influência direta do
confusas, algumas vezes temos que alenta- Sol e da Lua.
las; elas são vivas, precisam ser curadas e O pai de Nallab a tinha
acariciadas... as emoções são seres vivos, as apoiada em seu colo e os dois
fadas assim o criam. Os passos da fadinha admiravam uma violenta
faziam um som rítmico, que mesclava se ao tempestade de raios e trovões
som de sua respiração agitada... lágrimas do interior de uma bolha
ainda desciam intensas por sua face. mágica, que os protegia das
Passados alguns instantes, ali estava violentas gotas.
ela novamente no ponto inicial, frente a _ Minha pequena, por que
frente com a entrada por onde circula o temes os raios e a tempestade?

XXIII
Disse o pai de Nallab, com uma intensidade de seu coração...
voz austera e aconchegante. quanto maior a intensidade,
_Ela é brava! Disse a mais fairyllan fluirá por você.
pequenina, fazendo um Uma imensa pausa se fez
gracioso biquinho com os lábios no ar e ali de dentro da bolha
e escondendo a cabeça nos mágica, os dois, pai e filha
braços do pai. admiravam as forças da
_Minha criança não tenha tempestade.
medo das expressões de De repente o silêncio foi
Absollon....O pai sorriu rompido e o pai de Nallab
docemente, enquanto se disse:
formava uma serpente azulada, _Minha criança hoje eu lhe
um raio no céu. entregarei um presente...
_Ouça minha criança.... lembre-se sempre que estiver
sempre que sentir medo é frente a qualquer medo evoque
porque falta a verdade... estas palavras mágicas, elas
_Que verdade, papai? lhe levarão de volta ao fluxo da
Disse Nallab, virando respiração do Supremo e em
delicadamente sua cabecinha e direção a ausência de medo,
olhando profundamente dos pois todo medo é fruto de uma
olhos de seu adorável pai. árvore sem seiva.
_Lembre-se minha Oh amável, Absollon:
pequena, tudo que está
distante de Absollon gera Guie minhas palavras para
medo, pois Absollon é a que eu possa dizer a verdade a
verdade e a verdade é a mãe partir de uma consciência de
de todo Amor... amor. Abra minha mente e a
_Todo Amor mesmo, encha de amor, o fairyllan das
papai?! Disse a fadinha manifestações, como as
arregalando os seus imensos sementes que desabrocham e
olhos azuis. se enchem de Luz. Abra minha
_Sim, minha criança... Com boca e a encha de amor. Deixe
a verdade pode amar o medo, que as palavras que estou
os animais, as outras fadas, as prestes a dizer sejam
dificuldades, um companheiro, escutadas por ouvidos cheios
tudo nasce da verdade. Dela de amor. Mantenha-me em um
nasce à coragem, que é apenas estado constante e consciente
mais uma das expressões de de amor para que eu possa
Absollon, assim como a abrir meu coração de uma
tempestade, tudo no fim é maneira benéfica e amorosa.
verdade e amor. Sei que as palavras que estão
_Quando a verdade e o sendo sentidas são a verdade
amor agem juntos, emerge um da experiência de outra pessoa.
maior fluxo de fairyllan que, Sei que as palavras que digo
tende a acompanhar a vêm da minha experiência.

XXIV
Rezo para conseguir dize-las permaneceram durante um
com amor e para que elas longo período... ele,
sejam acolhidas com amor. Eu acariciando os seus macios e
te agradeço, oh Supremo! Pois perfumados fios amendoados;
és tu, a essência do amor, o ela tranqüila e serena, sentindo
fairyllan das manifestações., e a sabedoria e o carinho daquele
neste instante minha que a guiava nos mistérios da
respiração e sua respiração se existência....
fazem num único movimento.
Nallab ainda podia sentir as
Após o pai de Nallab sensações daquela memória: o carinho de
evocar estas palavras mágicas, seu pai, suas palavras de sabedoria... o Eco
o temor da fadinha havia das palavras mágicas. As palavras mágicas
desaparecido, a ilusão havia ecoavam em seu coração e durante aquele
sumido. Agora a pequenina momento sua tempestade interior silenciou,
sentia a verdade, que tudo e a pequena adentrou novamente no fluxo
emerge de Absollon, tudo é de Absollon.
parte e expressão do corpo de E assim a pequena havia
Absollon. encontrado, a mistério que a guiaria
_Papai?! Disse a fadinha através do Vento do Passado, Nallab devia
sorrindo tranqüila e com os permitir-se sentir a verdade... a essência de
olhos oscilando entre o róseo e cada memória do passado e ama-las, desse
o dourado. modo, o fairyllan das manifestações
_Diga minha transmutaria os processos; medo viraria
criança....Olhou o pai sorrindo coragem; dor viraria aprendizado; morte
levemente com os cantos dos seria transformada em transcendência e a
lábios. solidão se transmutaria em reflexão, um
_Nós fazemos parte do fluxo de significados entre ela e Absollon.
corpo de Absollon... Desse modo a pequenina fez, e aos
O pai oscilou levemente a poucos o cinza em seu olhar foi se
cabeça e então disse: dissipando e o brilho de azul infinito
_Minha, pequena Nallab, retornou para emoldurar sua face
sempre estivemos no corpo de angelical. Lentamente ergueu se com uma
Absollon e nele nenhum mal determinação plena no olhar e marchou...
existe, nenhuma dor existe, mais uma vez. Agora flutuava no ar e se
nenhum medo existe... tudo é dirigia rumo ao fluxo do Vento do Passado
uma ilusão criada pela não que seguia por aquela abertura a sua
percepção; que nada mais é frente.
que a saída ou o desvio do Novamente o Vento do Passado,
fluxo da respiração Suprema. permeou o seu interior e novamente todas
Então, pai e filha, ficaram as memórias lhe surgiram à mente, mas
admirando o brilho azulado dos agora era diferente...Nallab reconhecia que
cada experiência havia sido importante,
raios e o agitar das folhas das
cada uma expressava a sabedoria de
velhas árvores que vivenciavam
Absollon e desse modo à fadinha acolheu e
mais uma tempestade. E ali

XXV
amou todo o seu passado e agradeceu; visualizou num breve lapso de tempo,
agradeceu pelo que seus olhos viram; pelo Tamitus, cujas palavras ecoaram rápida e
que seus ouvidos ouviram; pelo que seu intensamente dentro de si:
coração sentiu; agradeceu ao fairyllan que _Eis que o Vento do Passado vira o
age na Natureza e ao avançar no espaço Vento do Presente, e deste encontro subsiste
por onde fluía o Vento do Passado, disse em um ponto em que a transmutação se
tom suave e doce: manifesta, um lugar que nem é passado
_Oh fairyllan, agradeço… agradeço nem presente, é tão somente
por você transformar o velho em novo e o transmutação...
novo em velho. E assim Nallab, adentrou num novo
_Sou grata, por transformar o que é fluxo, o fluxo do Vento do Presente que
não vivo em vivo, e o que é vivo em não seguia em direção a uma nova abertura que
vivo. transpassava o paredão rochoso e desse
_Agradeço pela noite virar dia e o modo ela o seguiu, buscando uma nova
dia virar noite e a tristeza se transmutar em lição, pois acaba se um momento e inicia-se
alegria. outro, o fluxo do tempo é constante e flui
_Agradeço também aqueles a quem em direção a Absollon, o Eterno...
vi adoecer, pela doença pois sei que tudo é
expressão de Absollon e existe um sentido Seu corpinho estava leve e a sua
de ser mesmo que eu desconheça. mente alegre, e algo havia ocorrido... talvez
_Hoje confio...confio em teu fosse devido à transposição da fronteira,
propósito e vejo que, todos os meus medos e falada por Taimitus. A forma com a qual
as minhas dores são advindos da não ocorriam as manifestações dos seus
confiança... somente a verdade e o amor pensamentos e das suas emoções estava
confiam. alterada.
_ Somente a verdade e o amor nada Ela tentava se lembrar do passado,
temem, pois juntos perfazem uma das mas nada emergia de seu ser...agora
manifestações do fairyllan, o fairyllan que Nallab, respirava um novo fluxo, o fluxo do
transmuta as ações, as emoções... a minha Vento do Presente. Uma onda de energia
existência. transpassava e agitava todo o seu ser, suas
Novas lágrimas desciam pelas róseas vibrações sutis lembravam o tocar rítmico
faces de Nallab, mas agora eram lágrimas dos tambores; o Vento do Presente era
doces, pois quando uma fada chora suas ritmado, ele ocorria em pulsos, como as
lágrimas assumem as propriedades das batidas de um coração.
emoções que as criam é por tal razão que Nallab tentou avançar na direção da
podem ser doces, amargas, azedas, ácidas, entrada por onde o fluxo do presente fluía,
frias ou quentes, as lágrimas são criadas mas nenhum dos músculos de suas asas
em seus corações fádicos. agitou-se. Ela estava paralisada. Não sabia
A fadinha sorria para si própria e o que fazia naquele lugar e quem era ela,
uma imensa alegria invadia o seu ser. pois estas respostas são carregadas pelo
Depois de seguir um longo caminho no Vento do Passado, o Vento do Presente
interior da abertura, Nallab avistou uma simplesmente pulsa.
luz azulada num local que parecia ser à Da entrada localizada no paredão
saída do fluxo do Vento do Passado. Ao rochoso ela observava um pulso, algo que
cruzar a fronteira de luz, a pequena era similar a uma serpente flamejante, que

XXVI
ora tinha uma chama avermelhada e ora deste, dependeria não de seus músculos e
tinha uma chama violeta, este era um sim de sua disposição, sua intenção; de seu
pequeno elo do fluxo do Vento Presente. desejo, pois o desejo é o elemento que move
Este ia avançando lentamente em sua o ser no Vento do Presente. A pequenina e
direção, e aos seus olhos era como este graciosa fada assim fez.... desejou com
pulso desaparece-se e reaparece-se intensidade e o deslocamento ocorreu.
continuamente, parecia não ter uma Quem a visse, teria a impressão que
seqüência de eventos, ou ela que apenas ela desaparecia e reaparecia em pulsos
não conseguia vislumbrá-los. constantes, que acompanhavam o pulsar do
O fluxo num movimento Vento do Presente. Desse modo a fada foi
serpenteante dirigiu-se para Nallab e então conduzida e seguiu o fluxo do tempo
parou frente à pequena e imóvel fada, que Presente e em seu coração à medida que
apenas pulsava. O pulso ficou ereto e foi era conduzida pela pulsação do presente
assumindo a forma de uma imensa serpente fazia uma descoberta, que mais tarde seria
flamejante, cujo lado direito tinha uma trazida pelo Vento do Passado... “viver é
chama avermelhada e o lado esquerdo pulsar; é o desejo que move; ele é o poder
tinha uma chama violeta; no entanto, a que canaliza fairyllan”.
cada pulsação as colorações se invertiam. O Vento do Presente pulsou e Nallab
De repente a serpente flamejante ressoou, acompanhando cada pulsar, até
dividiu-se, e cada uma de suas metades que finalmente através de um intenso e
entrou por cada uma das narinas da brilhante pulso ela chegou em uma nova
pequena fada; e desse modo o Vento do fronteira. Uma fronteira entre o presente e
Presente agiu em si, reconstruindo todo o o futuro, então Taimitus apareceu
seu ser; renovando o seu pulsar interno. novamente e a envolveu numa esfera
E ao longo desta renovação, sua dourada e fez vibrar palavras em seu
respiração se alterou; seus batimentos se coração:
alteraram; seus pensamentos começaram a _Minha criança, o Vento do Futuro é
vir em pulsos e não mais, se afiguravam a a janela que apresenta as inúmeras
um rio em movimento... e neste momento possibilidades se existir, cada escolha
ela sentiu que o presente era uma ilusão. O constrói um conjunto de possibilidades.
presente era um movimento pulsante, que _Mas independente de qualquer
quando era encadeado, como os elos de escolha, todas no tempo apropriado
uma corrente, dava a impressão do conduzirão você minha fadinha, até
movimento. Absollon, pois tudo retorna ao fluxo de sua
O pulsar das serpentes se espalhou respiração.
por cada fragmento e elemento oculto de _ Tudo é a sua respiração. Tudo é o
sua essência até permear tudo que ela é... E seu corpo. Tudo é feito da essência de
assim, Nallab sentiu-se sem nome e Absollon.
percebeu que seu real nome, era um pulsar; Os olhos da fada brilhavam
um pulsar de desejos e intenções profundas intensamente e imagens se formavam
e intensas, que se manifestam através de naquelas duas expressivas esferas que eram
seu corpo fádico. os seus olhos, imagens de flores nascendo;
E neste momento Nallab sentiu-se imagens de plantas murchando; imagens
integrada ao Vento do Presente e sentiu que de um mundo distante em que o céu e a
seu deslocamento em direção ao sentido terra eram cinzas e a terra antes macia era

XXVII
dura como uma rocha; e as fadas eram deseja se torna possível. Esta é a real forma
grandes e sem asas... do Vento do Futuro.
Nallab sentia tudo aquilo e ficou E desse modo, a mente da fada
maravilhada e triste ao mesmo tempo, pois sentiu-se novamente próxima de um
o futuro é assim confuso, ele é o Vento que mistério profundo, reconhecendo a
traz a mudança. E toda mudança traz fronteira entre o presente e o futuro, no
consigo um pouco de confusão, pois não é qual o desejo é o artífice do futuro; são as
passado e nem é presente, simplesmente é suas mãos modeladoras. Talvez, o desejo
uma terra a ser moldada pronta a receber seja as mãos de Absollon, pensou Nallab
qualquer semente. profundamente, num pensamento fugaz
E ao olhar para o novo paredão viu como a luz.
que este Vento não tinha uma única Nallab desejou tocar cada esfera e
passagem por onde fluía, mas tinha um pelo simples fato de desejar, assim se fez.
número infinito de passagem de fluxo. Nesse instante não eram mais seus braços
Então, pouco a pouco, a figura de Taimitus que tocavam, não mais eram suas pernas
foi ficando mais tênue e a esfera em que que se deslocavam, não era tão somente os
Nallab estava começou a se comprimir, até seus olhos que observavam... o desejo da
ficar minúscula. E à medida que ela se fada, era agora a extensão de sua
comprimia, o seu brilho ia se tornando percepção. Todos os seus aparelhos
cada vez mais intensificado. corpóreos haviam se amplificado pelo
Quando a esfera atingiu o tamanho poder do desejo.
de um grão de areia, ela explodiu numa Sua atenção focalizou-se numa
explosão simplesmente gigantesca; e o que brilhante esfera próxima a borda do
era tão somente um grão, assumiu uma infinito e naquele instante os olhos da fada
proporção infinitesimal. mergulharam na esfera, e um dos milhares
Neste mesmo momento, já não havia de futuros se abriu perante sua percepção...
mais o paredão, mas somente um infinito O planeta estava escuro, a terra
espaço aberto de coloração escura e de parecia recoberta por uma rocha de um
aparência infinita e impalpável. Era o cinza mórbido, e grandes árvores de pedra
Nada, de onde Tudo pode ser criado. E que refletiam as luz solar erguiam em
neste espaço, infinitos grãos dourados corredores longos e tortuosos...e muitos
flutuavam. E dentro de cada grão existia animais estavam doentes e famintos; seres
uma pequena e doce fada, eram infinitas bípedes com movimentos apressados
Nallabs que, ali existiam. cruzavam por entre o cinza, com um olhar
Uma dos grãos começou a crescer e confuso e vazio... Nallab, pensou consigo:
a Nallab, contida nele também. E em torno este futuro seria muito triste, para todos
deste, os outros começaram a gravitar... nós.
A fadinha vivenciava emocionada a Após alguns instantes seu desejo foi
cena e seus olhos iam ficando orvalhados, dirigido à outra esfera e nesta, uma nova
diante de tanta beleza. Após alguns breves janela do tempo se abriu:
segundos de admiração, Taimitus surgiu Num tempo lindo onde instrumentos
novamente e com uma voz de trovão, disse: voadores feitos de um material tão sutil
_Pequena Nallab, este é o campo de quanto às asas de uma libélula, flutuavam
todas as possibilidades... no qual, tudo que pelo ar; milhares de seres viviam em
harmonia e seus olhos eram plenos de luz e

XXVIII
consciência. Assim eram... uma só família. olhar deslocou-se para além do horizonte
Os seus pensamentos eram suficientes para das limitações e ela mergulhou
modificar a matéria, o tempo e o espaço. novamente... nas profundezas do
Haviam mergulhado os segredos mais desconhecido não manifesto, que agora se
recônditos da Natureza e sabiam como e manifestava para si.
porquê pedir... As imagens e as sensações
Mais ao longe, Nallab via uma época permeavam sua alma de fada, e como a
em que a vida migraria para outras esferas chuva primaveril, caia para se juntar num
celestes, num tempo em que as sementes da grande veio de água. Sua mente sorvia cada
vida poderiam ser programas e depositadas gota deste futuro, ela era o solo que
em qualquer superfície inóspita, e então absorvia a chuva do saber.
esta grande semente, que possui os Nallab viu um tempo gélido, no qual
segredos da geração da vida aprenderia a a Cidade das Fadas estava destruída.
transformar o ambiente inabitado em Vislumbrou fadas congeladas, com a
habitado; iniciando uma sequência de aparência de estátuas de gelo. E ouviu
sinais geradores de uma multiplicidade de vozes...gritos de fadas, gritos daqueles que
vidas de toda ordem. amava. Viu legiões gigantescas de fadas e
Desse modo, a fadinha vislumbrou animais da floresta voarem em direção ao
diversas possibilidades, que ascendiam do palácio da Impetriz; porém a imperatriz
divino ao profano; da dor de diversos seres não estava mais lá, ela estava congelada,
do planeta a harmonia sublime; do vazio assim como a fonte de fairyllan.
existencial de seres futuros a sua Seus olhos foram se enchendo de
completude em Absollon; viu tempos de lágrimas e seu coração foi ficando
destruição de vidas, de esperanças, de apertado, pois, viver o futuro é trazer tudo;
sentimentos nobres, de sonhos puros; mas as memórias e as emoções vinham juntas,
também viu a criação e o entendimento da com as asas de um mesmo pássaro
linguagem da natureza, em toda a sua enigmático.
simplicidade e elegância... Ao longe viu em imagens rápidas de
O futuro era amplo, um horizonte Raice, cenas confusas; cenas de dor e de
finito, contudo sem fronteiras, que acorda uma grande mudança. Sentiu seus lábios
de seu profundo sono através de um desejo tocarem, os frios lábios de Raice; sentiu as
sincero e ativo nas profundezas de um seus mãos tocarem sua face e sentiu
Universo visível e invisível. tocando as faces de Raice. Viu uma guerra,
Nallab assistia a cada uma das cenas entre o Verão e o Inverno; entre o Velho e o
maravilhada, ela rompia a barreira do Novo, vislumbrou uma fusão cósmica...algo
Tempo. Lá ao longe viu algo... seu coração que liberaria o fairyllan.
acelerou e ao pousar seus olhos naquela Através da mente de Nallab imagens
esfera de coloração diferente das demais, de fadas sem asas marchavam por sua
sorriu silenciosamente. Daquele brilho mente e via uma expedição de sábios, uma
róseo emanava um segredo... o segredo de caverna extensa como as praias da costa
sua missão, o segredo de sua existência e de Oeste, com escrita fádica... com uma
seu propósito de existir. história intensa, que haveria de marcar
E assim, Nallab desejou uma Nova Era. Mas, o seu coração ainda
fervorosamente conhecer o interior daquela não entendia, pois alguns fragmentos do
esfera e seu desejo esticou os braços e seu futuro precisam ser experimentados, para

XXIX
revelarem o seu real sabor; antes disso, Paulatinamente a forma de Nallab
tudo permanece insólido, como a descrição foi avançando no tempo, sua imagem
do sabor de uma deliciosa fruta. envelhecia e envelhecia, mais e mais... até
Numa última cena, que dançava desagregar por completo. E de sua
insistentemente dentro de si, a fadinha viu desagregação os velhos fragmentos se
algo estranho, uma poça de água brilhante uniam a novas formas dos reinos animais,
e morna, em que via refletida sua própria vegetais, minerais; das esferas celestes e
imagem. Duas gotas caiam. A imagem das esferas fádicas.
agitava-se e ela sentiu paz, amor e alegria; O Vento do Futuro a carregava em
ela sentiu Absollon lhe sussurrando aos suas asas, esta era a razão da alteração de
ouvidos e auscultou o seu respirar. sua forma, no entanto, sua essência era
E como houvesse um tremor em seu mais fundamental e as alterações internas
espírito, sua alma vibrou intensamente e a que se processavam eram difíceis de serem
imagem que mais se aproximaria do que a visualizadas através do mundo dos sentidos
pequena experimentava, era o nascer de densos.
uma ilha no oceano... primeiramente todas Aos poucos o ambiente foi se
as partículas das profundezas se agitam e transformando e após um breve clarão ali
das profundezas emerge um novo estava ela, novamente na caverna dos
fragmento de terra. Um novo fragmento quatro Ventos. Seus cabelos e olhos já
que abrigará algo novo, vidas novas, uma haviam retornado a antiga forma, mas a
nova história, num universo de infinitas sua alma jamais haveria de retornar a seu
possibilidades. antigo tamanho, pois... sempre que a mente
Uma nova ilha de consciência surgiu e a alma se abrem a uma grande
dos recônditos desconhecidos de Nallab. experiência, jamais voltam a assumir seu
Algo que ela apenas conseguia sentir como tamanho original.
um calor, uma mudança de estado que ao Nallab abriu os olhos vagarosamente
tentar ser descrita, se perderia num e em seus ouvidos, ainda auscultava o
labirinto de palavras incompletas. sussurrar do futuro, numa tonalidade baixa
Os olhos da fada estavam e envolvente, que lembrava o agitar das
transfigurados e seus cabelos brilhavam folhas do bambu. Permaneceu parada
como uma tocha de chamas vermelhas e durante alguns instantes, sentindo a
douradas. Uma fraca brisa a início parecia respiração de Absollon; sentindo os
dirigir-se de todas as direções, para a vestígios do surgimento de uma nova
posição ocupada por Nallab. Pouco a consciência.
pouco, o que era apenas uma fraca brisa Vagarosamente foi retornando a um
transformava-se num forte vendaval, que estado de maior consciência de si e num
agitava violentamente os cabelos sussurro que lembrava o coro da doce voz
flamejantes da fada, que aparentemente de cem mil fadas ouviu:
parecia permanecer numa outra dimensão. “A integralidade é alcançada pelo
O forte vendaval unia-se em Nallab, não desejo, que tudo move; pela não força
ela era o centro, no qual todo o oscilar se que qualquer elemento desloca; pelo
aglomerava. Num movimento de dupla permanecer que tudo encontra;ela é o som
espiral, a fada permanecia suspensa e agia do silêncio... ela é o coração de Taimitus, o
como o centro do furioso tufão. guardião do Tempo”.

XXX
Após ouvir estas palavras o mistério sua criação; pois ela ouvia sua fada
volitou por cada espaço de sua doce mente, interior, uma essência guia que orienta
e como uma semente depositada em terra todas as fadas da Terra. A mente precisa
fértil germinou. E da dúvida adveio a luz. E estar silenciada para que possa ouvir a fada
da luz frutificou a verdade que guiaria interna, e intuitivamente a pequena fada
Nallab. E Nallab compreendeu... e dessa pressentia que o Vento do Tempo Integral,
nova compreensão descobriu que o Vento realizava tal milagre: o Silenciar da Mente,
do Tempo Integral somente permearia o seu o momento em que a mente flui como os
ser, se ela permanece-se. grandes rios, no qual, toda turbulência é
Então, Nallab permaneceu, e neste rapidamente dissipada pelo correr das
instante sua alma buscou o Silêncio; e águas.
neste instante ela simplesmente foi...e Os olhos de Nallab, brilhavam
permitiu que sua essência profunda se lindamente, e a sua coloração azulada dava
manifestasse. A pequena fada simplesmente a impressão de expressarem o correr
era. Naquele segundo, ela realizava o que tranqüilo de um rio em direção ao oceano
devia realizar e estava despida de todo e sem fim. Repentinamente, uma imensa
qualquer julgamento; era como um pássaro esfera construída por uma luz pastosa, foi
que simplesmente canta ou como um rio se formando a sua frente, vibrando ritma e
que simplesmente corre. Nallab, era; serenamente.
simplesmente era... Pouco a pouco, a imagem de
Foi assim que o Vento que carrega o Taimitus foi se configurando ao seu redor;
tempo integral movimentou-se, sem se o centro era a expressão do coração de
deslocar e penetrou, sem- penetrar; pois o Taimitus. E novamente a fada identificou
Tempo Integral é o local no qual tudo é, e aqueles rostos magníficos, cujas formas lhe
onde a lógica das palavras se transmuta, no pareciam ser instáveis. De repente como
paradoxo. Todo o medo havia se dissipado; ouvisse novamente aquele imenso coro de
toda dúvida havia se dissipado; toda a 100.000 doces vozes de fada, sentiu seu
descrença havia se dissipado; pois estas corpo vibrar, a cada palavra; a cada nota
emoções são todas os frutos da mente, elas sonora. Sentia o corpo como a fina
são advindas das sementes da ilusão, que membrana de um tambor, tocada por
evita reconhecer a impermanência de tudo delicadas mãos.
que existe e plaina nos campos do passado E a voz disse, numa mistura de sons
e do futuro. compreensíveis e incompreensíveis:
Nallb sentia-se segura internamente, “Pequenina os quatro Ventos lhe
serena como as tartarugas gigantes alimentaram a alma e junto aos quatro
marinhas, que mantêm a respiração Ventos, quatro verdades foram-lhe
profunda e os olhos serenos mesmo diante entregues, a verdade dos quatro tempos...”
dos maiores perigos do mar. Era uma Nallab, olhava de modo interrogativo
grande montanha, que permanecia e aquelas palavras pareciam fazer pouco
inalterada mesmo diante da mais violenta sentido em seu ser. O grande Espírito,
expressão da Natureza, sua mente era pura escutou os passos da dúvida caminhando
serenidade. em seu interior e afavelmente disse:
No interior desta sensação de _Seu coração está em dúvida diante
serenidade, Nallab novamente viu... ela de minhas palavras...
começava a entender parte do propósito de

XXXI
Nallab mantinha os olhos na figura Taimitus, terminou de falar e ao
de Taimitus, e acenou levemente a fronte terminar sua profunda e sabia fala, olhou para
para cima e para baixo de modo muito o fundo da alma de Nallab e nela viu surgir à
sutil, confirmando as palavras do grande luz do entendimento. Então, disse:
Espírito do Tempo. _ Aprendeste o que vieste aprender é o
momento de partir, pois quando findasse uma
E com imensa sabedoria Taimitus
estação começa-se outra...
filtrou o Saber e entregou para a Os olhos da fadinha luziam e um
pequenina, o refinado néctar do delicado sorriso foi se formando entre as duas
conhecimento e assim disse... extremidades de seus lábios róseos... e num tom
profundo e agradecido, Nallab disse:
Quando uma fada voa durante um dia e _Neismate...eu saúde o seu Absollon
uma noite numa só direção uma verdade é interior e eu parto agradecida pelos
revelada: a sombra de uma fada somente ensinamentos que me doaste...
torna-se perceptível, quando o seu corpo é A imagem de Taimitus foi
tocado pela luz de uma certa direção. Do desaparecendo, criando correntes de ar
nascer ao pôr do Sol, a sua sombra parece moldadas pela mistura dos Ventos. Pouco a
deslocar-se, num instante parece estar atrás, no pouco, os Ventos foram modificando o espaço
outro parece desaparecer mesmo havendo luz; da caverna, no qual vários orifícios iam se
posteriormente terá a impressão que ela está a formando por todos os lados. E por estes
sua frente e quando a luz desaparece por orifícios, tênues raios delicados como pétalas
completo a fada pode crer que sua sombra de rosas incidiam todos sob o corpo de Nallab.
desapareceu... De repente, os olhos da fadinha foram
Todos estes instantes são ilusões criados ficando pesados e diante deles somente
no interior da mente fádica. O Sol representa apareciam folhas secas e diversas árvores com
minha imagem, a fonte dos quatro Ventos. O folhas envelhecidas, que lhe pareciam
corpo da fada representa o Vento do Presente; sussurrar pelo leve farfalhar das folhas...
a sombra atrás representa o Vento do Passado;
a sombra para frente representa o Vento do “sempre chega o momento em que as
Futuro; a sombra que desaparece na luz, é o folhas velhas devem se renovadas para que sua
momento em que a fada vivente percebe, que essência sirva de alimento a um novo
somente Existe; a sombra que desaparece começo...”
diante da escuridão é o momento quando a
fada adentra na Fonte Celestial e mergulha em Uma sensação áspera e gélida
Absollon.
parecia envolver todo o seu corpo... Nallab
Através do meu movimento, pequenina,
cria-se a ilusão de Três Ventos do Tempo, o havia sido transportada para um novo
Vento do Passado, do Presente e do Futuro; em processo, o qual, representava a estação de
sua mente a inicio parecerão três realidades: a maior dificuldade. Era o momento de
posição da sombra atrás, a posição da sombra mergulhar nas próprias profundezas do
na frente, o desaparecer da sombra. Todos são passado; um mergulho no Abismo de si
e não são reais... e a única forma que existe é o mesma; num lugar gélido e seco, onde
Processo, o movimento da sombra em relação estaria sempre acompanhada pela privação
ao deslocar do corpo. Este Processo é a e escassez. Todo alimento deveria ser
expressão do Vento do Tempo Integral, para extraído do aprendizado de próprio ser; sua
qual todos os outros Ventos se manifestam e se falha em alimentar-se de sua essência,
revelam; todo véu de dúvida cai diante do seria o sinônimo de servir de alimento a
Vento do Tempo Integral.
própria terra.
“A estação do inverno”

XXXII
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