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Jaime Osorio

SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE1

DOSSIÊ
Jaime Osorio*

Este artigo é uma crítica às teses que sustentam que Marx não teria deixado dúvidas de que a força de tra-
balho de nosso tempo é paga por seu valor, o que exigiria abandonar a categoria de superexploração. Aqui,
procuramos mostrar que a violação do valor da força de trabalho é um problema inscrito na teoria marxista
e presente em O Capital. Por outro lado, argumentamos sobre a relevância da noção de capitalismo depen-
dente e seu significado para entender as particularidades desse capitalismo, que o separa das trajetórias e
objetivos do capitalismo desenvolvido.
Palavras-chave: Superexploração. Capitalismo dependente. Formas de capitalismo.

1
INTRODUÇÃO O suposto da análise geral

O que é um suposto para “a análise ge- Em sua exposição em O capital,2 Marx


ral do capital”, que as mercadorias, incluindo indica o “… pressuposto de que as mercado-
entre elas a força de trabalho, se compram e rias, portanto também a força de trabalho,
vendem por todo seu valor, é assumido por sejam compradas e vendidas por seu valor in-
algumas correntes marxistas como uma lei de tegral” (Marx, [1973, t. I, p. 251] 2013, livro
ferro. Porém existe em O capital uma tensão I, p. 389). As razões da afirmação anterior se
entre o suposto assinalado e as tendências que devem a que “a transformação do dinheiro em
pressionam por sua alteração, como o próprio capital tem de ser explicada com base nas leis

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Marx se encarrega de fazer notar em sua obra imanentes da troca de mercadorias, de modo
maior. O anterior alcança maior sentido quan- que a troca de equivalentes seja o ponto de
do se assume o capitalismo dependente como partida” (Marx, [1973, t. I, p. 120] 2013, livro
uma forma de capitalismo, a qual exige supe- I, p. 240-241). Isso implica que o “possuidor
rexplorar não só pelas particularidades de sua de dinheiro, que ainda é apenas um capitalis-
reprodução interna, como pelos processos que ta em estado larval, tem de comprar as merca-
resolve na reprodução do sistema mundial ca- dorias pelo seu valor, vendê-las pelo seu valor
pitalista.
2
N.T.: Para as citações de O capital transcrevemos os tre-
chos a partir da edição em português da Boitempo, sem-
pre as cotejando com a edição da Abril Cultural. No texto
original, o autor utiliza predominantemente a edição de O
1
capital da Fondo de Cultura Económica, remetendo-se, em
algumas passagens, contudo, à edição da Siglo XXI. Todas
as referências originais utilizadas pelo autor estão indicadas
ao longo da tradução entre colchetes. No caso das demais
* Universidad Autónoma Metropolitana. Departamento de obras citadas, que possuem edições em português, utiliza-
Relaciones Sociales. Unidad Xochimilco. Villa Quietud, mos igualmente as respectivas traduções já publicadas no
04960. Cidade do México – Distrito Federal – México. jo- Brasil, sempre indicando a referência do texto da edição
sorio@correo.xoc.uam.mx brasileira e, entre colchetes, a referência utilizada pelo au-
1
Traduzido do original em castelhano por Maíra Machado tor; e, no caso de textos ainda não traduzidos para o portu-
Bichir, Marina Machado Gouvea e Fernando Correa Prado. guês, a tradução é nossa.

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-49792018000300004 483
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e, no entanto, no final do processo, retirar da dos os lugares ou espaços5 e em todo tempo.6 É


circulação mais valor do que ele nela lançara possível que se chegue a reconhecer que exis-
inicialmente” (Marx, [1973, t. I, p. 120] 2013, tem processos nos quais o salário e o valor da
livro I, p. 241). força de trabalho diferem entre si, alcançando
Esse é o caminho para explicar a geração relevância histórica, porém isso não significa,
de mais-valia e a exploração capitalista. Mas para essas leituras, que tais processos alcan-
como, para o capitalista, “o valor de uso jamais cem relevância teórica. No máximo, serão con-
pode ser considerado como finalidade imediata siderados como anomalias ou exceções.7 Não
[…], tampouco pode sê-lo o ganho isolado, mas é difícil constatar que estamos diante de um
apenas o apetite insaciável de ganhar” mais-va- tipo de análise que assume uma ortodoxia mal
lia de forma crescente (Marx, [1973, t. I, p. 109] compreendida.
2013, livro I, p. 229), em definitivo, “o capital Situado na análise da mais-valia rela-
tem um único impulso vital, o impulso de se au- tiva, o que supõe a não alteração da duração
tovalorizar, de criar mais-valia, de absorver […] da jornada de trabalho, Marx sublinha que o
a maior quantidade possível de mais-trabalho. capital pode prolongar o tempo de trabalho
O capital é trabalho morto, que, como um vam- excedente reduzindo o pagamento correspon-
piro, vive apenas da sucção de trabalho vivo, e dente ao tempo de trabalho necessário, e que
vive tanto mais quanto mais trabalho vivo suga” isso implica “…compressão do salário do tra-
(Marx, [1973, t. I, p. 179] 2013, livro I, p. 307). balhador abaixo do valor de sua força de tra-
Veremos que nem sempre o capital logra essa balho” (Marx, [1973, t. I, p. 251] 2013, livro I,
apropriação de “trabalho vivo” por mecanismos p. 388). E, linhas adiante, agrega que, “nesse
que impliquem acatar o pressuposto acima des- caso, o mais-trabalho só seria prolongado se
crito, como o próprio Marx se encarregará de ultrapassasse seus limites normais, seus domí-
destacar em sua obra máxima. nios só seriam expandidos mediante a invasão
O que é um pressuposto da “análise ge- usurpatória do domínio do tempo de trabalho
ral do capital” (Marx, [1973, t. III, p. 235] 2017, necessário” (Marx, [1973, t. I, p. 251] 2013, li-
livro III, p. 274), isto é, no nível do modo de vro I, p. 388). Ao finalizar essas linhas, Marx
produção,3 é assumido por algumas correntes indica algumas razões que limitam o marco de
marxistas como uma lei de ferro, na qual, se sua reflexão. Ali, lemos: “Apesar do importan-
a realidade se comporta de outras maneiras, te papel que desempenha no movimento real
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pior para a realidade. Assume-se, com isso, do salário, esse método [compressão do salário
que o pressuposto deve prevalecer no capita- do trabalhador abaixo do valor de sua força de
lismo em todos os níveis de análise,4 em to- trabalho] é aqui excluído pelo pressuposto de
3
“A possibilidade de uma incongruência quantitativa entre que as mercadorias, portanto também a força
preço e grandeza de valor, ou o desvio do preço em relação à de trabalho, sejam compradas e vendidas por
grandeza de valor, reside, portanto, na própria forma-preço.
Isso não é nenhum defeito dessa forma, mas, ao contrário, seu valor integral” (Marx, [1973, t. I, p. 251]
aquilo que faz dela a forma adequada a um modo de produ-
ção em que a regra só se pode impor como a lei média do 2013, livro I, p. 388-389).8
desregramento que se aplica cegamente” (Marx, [1975, t. I,
v. 1, p. 125] 2013, livro I, p. 177, grifo do autor). 5
Sejam economias desenvolvidas, ou mesmo economias
[N.T.: No artigo original em castelhano, o autor destaca dependentes.
aqui que, diferentemente da edição da Siglo XXI, utilizada
por ele na citação acima, na edição da Fondo de Cultura 6
E, em caso de se alterar, isso foi próprio do capitalismo
Económica “modo de produção” é traduzido como “regime novecentista, porém não do de nossos dias.
de produção” (Marx, 1973, t. I, p. 63). Segundo o autor, a
mesma diferença está presente no tomo III de ambas as 7
O escrito mais recente nessa linha é “Aciertos y proble-
edições: “La tendência progresiva de la tasa general de mas de la superexplotación”, de Claudio Katz (2017).
ganancia a la baja sólo es […] una expresión, peculiar al
modo de producción capitalista […]” (Marx, 1976, t. III,
8
N.T.: No artigo original em castelhano, o autor salienta
v. 6, p. 271). Nas edições em português da Boitempo e da que, na edição da Siglo XXI, tal parágrafo apresenta mu-
Abril Cultural emprega-se “modo de produção”]. danças, as quais, entretanto, não alteram substancialmen-
te o sentido do texto anterior. A mudança mais significati-
4
Desde o modo de produção à conjuntura, passando pelo va estaria no uso de “procedimento” (Marx, 1975, t. I, v. 2,
sistema mundial e pelas formações econômico-sociais. p. 381), em vez de “método”.

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Destaquemos alguns pontos dessa cita- dância de mão de obra, onde a reprodução do
ção. Primeiro, Marx estabelece uma tempora- capital é voltada para mercados externos, o que
lidade, indicando “esse método é aqui exclu- facilita a “redução violenta” dos salários, e onde
ído”. E esse “aqui” está dado pelo nível em não há generalização de elevadas tecnologias
que se formula a reflexão, a análise geral do ou de altas tecnificações, o que favorece um
capital. Isso se reforça com o “partindo-se des- intercâmbio comercial desfavorável com outras
se pressuposto”. Fora desse momento ou nível economias. Tudo isso acontece justamente no
reflexivo, já não é necessário excluí-lo, porque capitalismo denominado dependente.
os problemas e processos apresentam determi-
nações que alteram o pressuposto.
Segundo, frente ao método ou procedi- Acerca do valor da força de trabalho
mento de “compressão do salário do trabalha-
dor abaixo do valor de sua força de trabalho”, Para refletir sobre a superexploração, é
Marx não poupa advérbios para acentuar sua pertinente destacar algumas ideias relativas
relevância, sublinhando o “importante papel ao valor da força de trabalho. Nas páginas de
que desempenha no movimento real do salá- O Capital, nas quais Marx se dedica especifi-
rio” (Marx, [1973, t. I, p. 251] 2013, livro I, p. camente a estabelecer critérios para determi-
389, grifo do autor). nar esse valor, não são indicadas cifras, nem
Terceiro, ao enfatizar o peso daquela sequer para a Inglaterra de sua época. Tal ele-
compressão “no movimento real do salário” mento se encontra fora do nível de análise sub-
(Marx, [1973, t. I, p. 251] 2013, livro I, p. 389, jacente ao livro, na medida em que elementos
grifo nosso), evidencia que, em níveis de maior histórico-morais intervêm no valor da força
concretude, ali onde opera um número maior de trabalho, o que exigiria análises mais con-
de determinações – como a competição entre cretas. Isso não significa, entretanto, que não
trabalhadores, o peso da superpopulação rela- encontremos bases para aproximações, nem
tiva, a força do campo trabalhador e a força do mecanismos que pressionem para a transgres-
capital, os espaços no sistema mundial, etc. –, são daquele valor. Essas duas perspectivas se
o “pressuposto” assumido tende a ser efetiva- conjugam de maneira permanente em O Capi-
mente alterado. tal, de modo que a afirmação de que “[Marx]
Não se trata de um assunto menor o fato concentrou seus estudos no caso inglês, para

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de que, de maneira reiterada, prevaleça a in- desvelar a lógica laboral imperante na era con-
dicação de que é o valor da força de trabalho temporânea” é correta, porém o mesmo não se
que se remunera abaixo de seu valor, o que não pode dizer daquela que a segue: “nessa indaga-
ocorre em relação a outras mercadorias. Isso ção [Marx] não deixou nenhuma dúvida sobre
está relacionado à particularidade dessa mer- a remuneração da força de trabalho pelo seu
cadoria, que não apenas cria valor, que gera valor” (Katz, 2017, p. 7).
valorização, mas também permite, por meio de Nem mesmo nos capítulos teóricos
prolongamentos da jornada de trabalho, da in- Marx deixa de lado a permanente tensão entre
tensificação do trabalho ou por salários abaixo o respeito ao valor da força de trabalho e sua
do valor da força de trabalho, elevar a taxa e a transgressão. Tampouco quando reflete sobre
massa de mais-valia, sem alterar a composição situações de maior concretude. E menos ain-
orgânica do capital, e tudo isso sem pressionar da quando destaca o que ocorria na Inglater-
para baixo a taxa de lucro. Aqui repousam al- ra com a jornada laboral, com a intensidade e
gumas das primeiras razões para explicar por com o trabalho de mulheres e crianças, apoia-
que o “pressuposto” se desnaturaliza naqueles do na informação dos “inspetores de fábrica”,
espaços do sistema mundial onde existe abun- nos Factory Reports, nos Reports in Mines, ou

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em Essay on Trade and Commerce, entre ou- de ser suficiente para manter o indivíduo tra-
tros, onde explicita o horror em que se en- balhador como tal em sua condição normal de
contravam os trabalhadores, as mulheres e as vida” (Marx, [1973, t. I, p. 124] 2013, livro I, p.
crianças que trabalhavam.9 245-246, grifo do autor).
“Por força de trabalho ou capacidade A referência a “manter o indivíduo tra-
de trabalho entendemos – aponta Marx – o balhador como tal em sua condição normal de
complexo [Inbegriff] das capacidades físicas e vida” mostra que Marx considera um critério
mentais que existem na corporeidade [Leibli- de normalidade que não está marcado simples-
chkeit], na personalidade viva de um homem e mente pela média existente, seja de horas de tra-
que ele põe em movimento sempre que produz balho, de salários ou de intensidade, mas que se
valores de uso de qualquer tipo” (Marx, [1973, estabelece por uma qualidade de vida de um ser
t. I, p. 121] 2013, livro I, p. 242, grifo nosso). humano, em cuja corporeidade repousa a força
Na determinação do valor da força de trabalho, de trabalho. Um trabalhador tem de se alimen-
é necessário considerar, portanto, “o valor dos tar, vestir-se, proteger-se sob um teto, descansar
meios de subsistência necessários à manuten- e se reproduzir nessa condição de vida.
ção de seu possuidor” (Marx, [1973, t. I, p. 124] Marx indica que as necessidades natu-
2013, livro I, p. 245). rais, vestuário, alimentação e moradia, variam
Aqui, Marx introduz dois elementos da de acordo com o clima e com as demais con-
maior relevância. O primeiro: que a força de dições naturais de cada país, e seu volume e o
trabalho somente se realiza trabalhando, o que modo de satisfazê-las constituem um produto
implica um gasto de uma determinada quanti- histórico, que depende do nível de cultura de
dade de músculos, de nervos, de cérebro huma- um país, e, sobretudo, das condições, hábitos
no, etc., que é necessário repor, e que “esse gas- e exigências sob as quais se formou a classe
to aumentado implica uma renda aumentada” dos trabalhadores livres. Por essa razão, existe
(Marx, [1973, t. I, p. 124] 2013, livro I, p. 245). um elemento histórico-moral no valor da força
A intensificação no gasto de energia vital impli- de trabalho. Uma das consequências da afir-
ca, “forçosamente”, maior receita, isto é, aque- mação anterior é que a reprodução da força de
le desgaste extra, seja por uma maior jornada trabalho não pode ser assumida como a repro-
laboral ou uma maior intensidade do trabalho, dução de animais de carga.10 Esse tema coloca
o que carrega, implicitamente, uma elevação em questão a utilização de cestas básicas de
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do valor da força de trabalho, que deve se ex- consumo para determinar os salários, tendo
pressar no salário. Isso implica que, em estudos em vista as proteínas, os carboidratos, etc.,
concretos, o número de horas trabalhadas, em que um ser humano necessita e considerando
média, e a intensidade média do trabalho de- em que condição tais produtos são encontra-
vem ser levados em consideração, já que esses dos (em geral, os mais baratos, para justificar
desgastes médios, ao se excederem, alteram o os reduzidos salários), porém sem respeitar os
valor da força de trabalho para cima. hábitos alimentares daqueles a quem se diri-
O segundo: que o desgaste médio da for- gem, nem o tempo histórico em que vivem. A
ça de trabalho tem um condicionante, porque, dimensão histórico-moral coloca limites tam-
“se o proprietário da força de trabalho traba- bém àqueles que consideram que “a força” do
lhou hoje, ele tem de poder repetir o mesmo antagonismo entre capital e trabalho pode de-
processo amanhã, sob as mesmas condições no finir o volume dos valores de uso incorporados
que diz respeito à sua saúde e força. A quanti-
dade dos meios de subsistência tem, portanto,
10
No século XVIII, assim como no século XXI, um animal
de carga pode se reproduzir consumindo os mesmos tipos
de pastagem, em quantidade e qualidade. Para um traba-
9
Ver Marx ([1973, t. I] 2013, livro I), capítulos VIII, XII e lhador satisfazer suas necessidades naturais, o volume e o
XIII, em particular. modo de satisfazê-las são elementos que variam na história.

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à cesta, ou os limites da jornada ou da inten- uma vez que o valor de toda mercadoria de-
sidade, para não falar da quantidade de salá- pende do tempo de trabalho necessário para
rio, já que essas mudanças estariam dentro da “fornecê-la com sua qualidade normal” (Marx,
lógica do valor. Os “graus de força” do capital [1973, t. 1, p. 126] 2013, livro I, p. 247).
podem propiciar mudanças nas condições sa- O capítulo XIII de O capital termina
lariais e de trabalho que atentem contra o valor com um parágrafo que critica aqueles que as-
da força de trabalho.11 Esse valor apenas pode sumem que, no mercado, a compra e venda de
se ver reduzido por uma elevação da produti- força de trabalho existe apenas pelo seu valor
vidade nos ramos produtores de bens-salários, e que sua utilização na produção se atém ao
e pela consequente queda de seus preços. “normal”, sem que apareça o “roubo sistemáti-
“A quantidade dos meios de subsistência co das condições de vida do operário durante o
necessários à produção da força de trabalho in- trabalho” (Marx, [1973, t. I, p. 353] 2013, livro
clui [...] os meios de subsistência dos substitu- I, p. 498). Marx afirma que: “Ao abandonarmos
tos dos trabalhadores, isto é, de seus filhos, de essa esfera da circulação simples ou da troca
modo que essa peculiar linhagem de possuido- de mercadorias [na qual ‘contratam como pes-
res de mercadorias possa se perpetuar no mer- soas livres, juridicamente iguais’, o ‘verdadei-
cado” (Marx, [1973, v. I, p. 125] 2013, livro I, ro éden dos direitos naturais do homem’], de
p. 246), o que implica, além de alimentos, ves- onde o livre-cambista vulgaris [vulgar] extrai
tuário, etc., saúde, medicamentos, gastos com noções, conceitos e parâmetros para julgar a
educação e com ócio e descanso, pelo menos, sociedade do capital e do trabalho assalariado,
para a média de filhos de uma família trabalha- já podemos perceber certa transformação, ao
dora em tempos determinados. De acordo com que parece, na fisionomia de nossas dramatis
esses tempos, o grau de educação que se deve personae [personagens teatrais]. O antigo pos-
proporcionar e os gastos com ócio e recreação suidor de dinheiro se apresenta agora como
podem variar em função dos distintos modos capitalista, e o possuidor de força de trabalho,
como eles são assumidos.12 Ainda assim, tais como seu trabalhador. O primeiro, com um ar
elementos devem estar contemplados no valor de importância [...]; o segundo, tímido e he-
da força de trabalho. Os filhos, sua criação e sitante, como alguém que trouxe sua própria
proteção, elevam necessariamente o valor da pele ao mercado e, agora, não tem mais nada a
força de trabalho. esperar além da…despela” (Marx, [1973, t. I, p.

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O valor dos meios de vida fisicamente 129] 2013, livro I, p. 251, grifos do autor).
indispensáveis indica o limite último ou míni- Apesar da suposição na qual se move
mo do valor da força de trabalho. Mas “se o (de que a força de trabalho é comprada e ven-
preço da força de trabalho é reduzido a esse dida por todo o seu valor), Marx tem de sol-
mínimo, ele cai abaixo de seu valor, pois, em tar as amarras, pois é a própria corporeidade
tais circunstâncias, a força de trabalho só pode do trabalhador e a normalidade de sua vida e
se manter e se desenvolver de forma precária”, de sua saúde que são postas em jogo, quando
ele entra na oficina ou na fábrica. E o drama,
11
Erroneamente, e depois das brutais quedas salariais como bem indica Marx, apenas está começan-
propiciadas pelas ditaduras do Cone Sul nos anos setenta
e oitenta do século XX, Valenzuela Feijóo indica: “O que do. Por isso, ao terminar a jornada de traba-
acontece quando v. g. [por exemplo] o salário real de ten-
dência cai? […] Devemos falar então de superexploração? lho “temos de reconhecer que nosso trabalha-
Em nossa opinião não. Em vez disso, deve-se falar de uma
queda no valor da força de trabalho, de uma redefinição dor sai do processo de produção diferente de
para baixo e pela via da redução salarial desse valor (Va- quando nele entrou. [...] O contrato pelo qual
lenzuela, 1997, p. 113).
12
Na primeira metade do século XX, não se podia conside-
ele vende sua força de trabalho ao capitalista
rar o uso da televisão, por exemplo, que se massifica nas demonstrava [...] que ele dispunha livremente
últimas décadas desse século, o que vale também para o
caso da América Latina. de si mesmo. Fechado o contrato, descobre-se

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que ele não era ‘nenhum agente livre’, que o aumenta em progressão geométrica, ao mesmo
tempo de que livremente dispõe para vender tempo em que se destroem todas as condições
sua força de trabalho é o tempo em que é força- normais de reprodução e atuação da força de
do a vendê-la, e que, na verdade, seu parasita trabalho. O preço da força de trabalho e o grau
[Sauger] não o deixará ‘enquanto houver um de sua exploração deixam de ser grandezas re-
músculo, um nervo, uma gota de sangue para ciprocamente comensuráveis” (Marx, [1973, t.
explorar’” (Marx, [1973, t. I, p. 240-241] 2013, I, p. 441] 2013, livro I, p. 594 grifo do autor).
livro I, p. 373). Essa é uma forma da superexploração, exposta
Na análise da jornada de trabalho, Marx e desenvolvida em O Capital.13
apresenta novos elementos que colocam em O mesmo pode ocorrer quando é a in-
questão a ideia de que, em O capital, “não dei- tensidade do trabalho que se impõe. Marx
xou nenhuma dúvida sobre a remuneração da afirma que “a redução forçada da jornada de
força de trabalho pelo seu valor” (Katz, 2017, p. trabalho, juntamente com o enorme impulso
7). Indica, na voz de um trabalhador: “Por meio que ela imprime no desenvolvimento da força
de um prolongamento desmedido da jornada produtiva e à redução de gastos com as condi-
de trabalho, podes, em um dia, fazer fluir uma ções de produção, impõe, no mesmo período
quantidade de minha força de trabalho maior de tempo, um dispêndio aumentado de traba-
do que a que posso repor em três dias. O que lho, uma tensão maior da força de trabalho,
assim ganhas em trabalho eu perco em substân- um preenchimento mais denso dos poros do
cia do trabalho. A utilização de minha força de tempo de trabalho, isto é, impõe ao trabalha-
trabalho e o roubo dessa força são coisas com- dor uma condensação do trabalho num grau
pletamente distintas”. Por isso, “exijo [...] uma que só pode ser atingido com uma jornada de
jornada de trabalho de duração normal” (Marx, trabalho mais curta. [...] A hora mais intensa
[1973, t. I, p. 179-180] 2013, livro I, p. 308). da jornada de trabalho de 10 horas encerra tan-
A defesa do trabalhador é vital, pois “o to ou mais trabalho, isto é, força de trabalho
capital não se importa com a duração de vida despendida, que a hora mais porosa da jornada
da força de trabalho. O que lhe interessa é úni- de trabalho de 12 horas” (Marx, [1973, t. I, p.
ca e exclusivamente o máximo de força de tra- 337-338] 2013, livro I, p. 482-483).
balho que pode ser posta em movimento numa Ora, “dentro de certos limites, o que se
jornada de trabalho. Ele atinge esse objetivo perde em duração se ganha no grau de esforço
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por meio do encurtamento da duração da for- realizado. Mas o capital assegura, mediante o
ça de trabalho, como um agricultor ganancioso método de pagamento, que o trabalhador efe-
que obtém uma maior produtividade da terra tivamente movimente mais força de trabalho”
roubando dela sua fertilidade” (Marx, [1973, t. (Marx, [1973, t. I, p. 338] 2013, livro I, p. 483).
I, p. 208] 2013, livro I, p. 338). Aumentar a velocidade das máquinas, pagar o
O prolongamento da jornada de trabalho salário por peça e estender o raio do maqui-
pode ser retribuído com o pagamento de horas nário que deve ser vigiado por um mesmo tra-
extras que busquem compensar o maior des- balhador são algumas das formas de elevar a
gaste de energia. Mas esse procedimento tem
um limite, mesmo supondo que o aumento do
13
Com apontamentos como este, cabe questionar que ver-
são de O capital é lida por aqueles que repetem e repetem,
salário por meio de horas extras pudesse co- como um mantra, que Marx sustenta que “a força de tra-
balho é remunerada por seu valor”. Não deveriam dizer
brir aquele desgaste maior. “Até certo ponto, o algo a respeito quando Marx indica o contrário? Ou ao
menos problematizar o tema, em vez de se conformarem
desgaste maior da força de trabalho, insepará- com a fórmula simples: se há salários insuficientes, jor-
vel do prolongamento da jornada de trabalho, nadas de trabalho extensas e intensificação elevada, deve
ser porque o valor da força de trabalho é baixo. E assim o
pode ser compensado com uma remuneração mantra segue vigente, em toda parte e a toda hora. Parece
ser mais importante salvá-lo, mesmo que isso nos afaste
maior. Além desse ponto, porém, o desgaste da realidade.

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intensidade do trabalho. Mas, também aqui, não pode se reproduzir em condições normais,
existe um ponto de agudização da intensida- sendo esgotada prematuramente. Toda a dete-
de no qual, por mais que se paguem melhores rioração propiciada pela superexploração se
salários, eles não podem recuperar o desgaste expressará nos anos futuros de vida.
produzido, destruindo-se as condições nor- Se o prolongamento da jornada de tra-
mais de reprodução da força de trabalho. balho e a elevação da intensidade operam na
Na medida em que o valor diário da for- esfera da produção, afetando o valor total da
ça de trabalho está determinado por seu va- força de trabalho e suas próprias condições
lor total, isto é, pelo tempo total de vida útil futuras de vida, na esfera da circulação o ca-
dos trabalhadores, com seu desgaste normal pital pode adquirir a força de trabalho por um
de energia, é no valor diário que os processos salário abaixo de seu valor no próprio momen-
de prolongamento da jornada de trabalho e de to da compra. É a forma mais tosca e visível
intensificação do trabalho se fazem presentes de superexploração. Sobre essa forma, Marx
como salários abaixo do valor.14 “Sabemos que indica: “Nas seções dedicadas à produção de
o valor diário da força de trabalho é calculado mais-valia, partimos sempre do pressuposto de
sobre a base de certa duração da vida do traba- que o salário era pelo menos igual ao valor da
lhador.]” (Marx, [1973, t. I, p. 451] 2013, livro força de trabalho. Mas a redução forçada do sa-
I, p. 609). Novamente, na voz de um trabalha- lário abaixo desse valor desempenha um papel
dor, Marx indica: “Se o período médio que um importante demais no movimento prático para
trabalhador médio pode viver executando uma que não nos dediquemos a ela por um momen-
quantidade razoável de trabalho é de 30 anos, to”. E conclui: “De fato, ela transforma, dentro
o valor de minha força de trabalho, que me pa- de certos limites, o fundo necessário de consu-
gas diariamente, é de 1/365 × 30, ou 1/10.950 mo do trabalhador num fundo de acumulação
de seu valor total. Mas se a consomes em 10 de capital” (Marx, [1973, t. I, p. 505] 2013, li-
anos, me pagas diariamente 1/10.950, em vez vro I, p. 675, grifo do autor).
de 1/3.650 de seu valor total; portanto, apenas Dessa forma, os trabalhadores são impe-
1/3 de seu valor diário, e me furtas, assim, dia- didos de se reproduzir em condições normais,
riamente, 2/3 do valor de minha mercadoria. afetando por sua vez a reprodução normal de
Pagas a mim pela força de trabalho de um dia, seus filhos, que crescerão e se desenvolverão
mas consomes a de 3 dias” (Marx, [1973, t. I, p. física e espiritualmente com as marcas da es-

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180] 2013, livro I, p. 308). poliação e do aviltamento.
O desgaste presente de anos futuros de
vida útil exige que o salário diário se eleve de
maneira equivalente ao valor da força de tra- Capitalismo dependente: outra forma de
balho. Se essa elevação não é equivalente ao capitalismo
desgaste produzido, está violentando seu va-
lor, isto é, está ocorrendo superexploração. A pergunta que subjaz ao exposto e aos
Também não devemos nos esquecer de que, múltiplos apontamentos em O capital sobre o
“até certo ponto”, é possível compensar o des- pagamento de salários abaixo do valor da for-
gaste maior. Passado esse ponto, por mais ele- ça de trabalho é o porquê da reiteração desse
vada que seja a retribuição, a força de trabalho tema por Marx, quando já se havia indicado, em
14
Nas páginas seguintes, quando nos referirmos ao salário contraste, que se assume o pressuposto de que
abaixo do valor da força de trabalho devido ao prolonga-
mento da jornada ou à intensificação do trabalho, diremos todas as mercadorias são compradas e vendidas
“salários abaixo do valor” – isto é, quando tratarmos da por seu valor, inclusive a força de trabalho.
forma como a força de trabalho é desgastada na produção.
Ao tratar diretamente da compra ou venda da força de tra- Minha resposta é a de que esse pressu-
balho no mercado abaixo de seu valor, empregaremos a
expressão “salários diretos abaixo do valor”. posto é necessário para o nível de abstração no

489
SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE

qual Marx o formula. A exploração no capitalis- e suas modalidades de exploração se integram


mo é possível, mesmo que se respeite o valor da e se articulam, e ali onde o capital funciona
força de trabalho. Sob essa premissa, é possível a como capital mundial.
produção de mais-valia. Mas quando aparecem Nessa fase, a organização do capitalis-
novas determinações, por aproximações suces- mo se apresenta como unidade diferenciada de
sivas ao concreto no uso de força de trabalho diversas formas de capitalismo. O capitalismo
por tempos, jornada de trabalho e condições de desenvolvido e o capitalismo dependente são
intensidade determinados, aquele pressuposto as formas fundamentais, com modalidades
sobre a compra de força de trabalho é sacudido particulares de reprodução de capital imbri-
pela ânsia insaciável por trabalho excedente, cadas. Assim, os padrões de reprodução, em
em meio à competição acirrada entre distintos umas e em outras formas de capitalismo, apre-
capitais,15 uma vez que a elevação do trabalho sentam originalidades que conferem conota-
excedente exige não apenas acréscimos no em- ções específicas ao processo de reprodução.
prego da força produtiva de novas máquinas e Por exemplo, o significado do desenvolvimen-
tecnologias, mas também o emprego de cres- to científico e tecnológico, ou o peso da mais-
cente força física dos trabalhadores. -valia relativa, na primeira forma fundamental
Os problemas se tornam mais agudos mencionada; e a cisão do ciclo do capital e o
quando aumenta a composição orgânica do ca- surgimento de uma estrutura produtiva afasta-
pital e onde a sobrevivência do conjunto dos ca- da das necessidades da maioria da população
pitais – e não apenas de alguns – se vê em risco trabalhadora, na segunda.
frente à queda da taxa de lucro e às crises. Esses É apenas a partir da consideração dos
processos se convertem em problemas urgentes níveis e elementos indicados anteriormente
que devem ser contidos, sendo o incremento que ganham sentido processos como a cons-
dos graus de exploração e o pagamento de sa- tante revolução das forças produtivas em uma
lários abaixo do valor dois dos fatores centrais forma de capitalismo, ou os salários estrutural-
dessa contenção. Esses elementos explicam a mente instalados abaixo do valor da força de
constante imbricação entre o pagamento da trabalho na outra. Esses processos não podem
força de trabalho por seu valor e abaixo de seu ser analisados de maneira isolada, sem se con-
valor, no decorrer de todo O capital. siderar a estrutura reprodutiva da qual fazem
Tais processos assumirão novas deter- parte, tanto em nível de economias nacionais
Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 483-500, Set./Dez. 2018

minações quando forem abordados problemas quanto no sistema mundial, tampouco sem
indicados por Marx que não competem a esse considerar sua relevância para a reprodução
livro e que seriam tratados em outros, como o do capital mundial.
comércio exterior, o mercado mundial e as cri- O sistema mundial capitalista está con-
ses,16 aos quais podemos agregar a troca desi- formado por diversas formas de capitalismo17
gual entre economias e a conformação de novas interdependentes, de modo que a sorte de umas
formas de capitalismo, o que alentará novas in- determina a sorte de outras. É nesses marcos
fluências sobre os pressupostos originários. que autores da teoria marxista da dependência
Na qualidade de fundamento do capita- formularam a necessidade de dar conta das leis
lismo dependente, o ponto de partida para a e tendências que regem a forma capitalismo de-
análise da superexploração é o sistema mun- pendente. Marini a apontava da seguinte manei-
dial capitalista, ali onde as diversas economias ra: “A tarefa fundamental da teoria marxista da
15
Não nos esqueçamos de que Marx afirmou que a questão
dependência consiste em determinar a legalida-
do pagamento de salários abaixo do valor da força de traba- de específica pela qual se rege a economia de-
lho é importante, mas é um tema que concerne à concor-
rência, de modo que, pelo momento, deve deixá-lo de lado. pendente” (Marini, [1973, p. 99] 2005, p. 193).
16
Ver Marx ([1971, t. I, p. 29-30] 2011, p. 61). 17
Osorio (2016, p. 403-442).

490
Jaime Osorio

Em 1970, Theotônio Dos Santos indicou incompleto, pois lhe faltam aquelas peças que
que “...a dependência havia sido geralmente explicam processos particulares, que permi-
entendida como um fenômeno externo à nos- tem explicar as relações e as hierarquizações
sa realidade [...] uma espécie de força exógena próprias de qualquer formulação teórica e de
[...] que se introduzia a partir do exterior e nos uma teoria marxista da dependência substanti-
era imposta”. E agregava: “...o que se explicitou va. O mesmo ocorre com denominações como
teoricamente foi, principalmente, o fato de que periferia, atraso, subdesenvolvimento ou paí-
a situação de dependência em que vivemos ses em vias de desenvolvimento. Não deixam
dentro do sistema capitalista mundial condi- de ser descrições – melhores ou piores, mas
ciona as estruturas internas de nossos países, descrições –, que não permitem avançar em
tornando-as dependentes em sua própria for- nada na explicação do porquê aquilo ocorre e
mação”. E mais, prosseguia Dos Santos: “cons- que tendências e forças o tornam possível.
tatou-se [...] que a dependência era algo muito É justamente nesse ponto que se estabe-
mais profundo, ligado a mecanismos internos lece um divisor de águas, expresso por Agustín
do funcionamento de nossas sociedades” e que Cueva e hoje repetido de distintas maneiras.
“há [...] um tipo de formações socioeconômicas Aqueles que falam de economias “subdesen-
dentro do sistema mundial capitalista que, de- volvidas” ou “atrasadas”, e não de capitalismo
vido a seu papel dentro desse sistema, tem leis dependente, o fazem porque seguem submer-
próprias de desenvolvimento, contradições es- sos nos mesmos dilemas de Cueva quando in-
pecíficas que devem ser analisadas” (Dos San- dicou que “... resta […] a inquietude de saber
tos, 1970, p. 7-8, grifo do autor). se, entre o capitalismo chamado clássico e o
Junto às tarefas de desvelar as relações dependente, existe realmente uma diferença
da forma capitalismo dependente no e com o qualitativa que autorize a formulação de leis
sistema mundial, bem como com o capitalis- específicas para um ou outro” (Cueva, 2007,
mo desenvolvido em suas diversas etapas e as p. 77). A inquietude inicial se torna, contudo,
consequências dessas relações para ambos e uma certeza: “Nossa tese”, afirma Cueva, “é
para a região, definitivamente a tarefa central […] de que não existe nenhum espaço teórico
da teoria marxista da dependência passa a ser no qual uma teoria da dependência, marxista
explicar a legalidade que impera no capitalis- ou não, possa assentar-se” (Cueva, 2007, p. 78).
mo dependente e que define sua reprodução. É Esse é o marco divisor de águas, pois,

Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 483-500, Set./Dez. 2018


nessa direção que ganham sentido noções como se os seguidores de Cueva também desconhe-
superexploração, cisão do ciclo do capital, de- cem a diferença qualitativa entre capitalismo
senvolvimento do subdesenvolvimento ou tro- desenvolvido e capitalismo dependente, efeti-
ca desigual, na qualidade de categorias de um vamente não existe espaço teórico para qual-
corpo teórico que define relações e determina- quer teoria marxista da dependência, de modo
ções e as conjuga, conferindo-lhes conteúdo. que discutir sobre a cisão do ciclo do capital, o
Seguir falando de economias com baixa desenvolvimento do subdesenvolvimento ou a
composição orgânica e baixa produtividade, superexploração aparece como assunto banal.
com salários baixos, produtoras fundamental- Nesse cenário, adquire perfeito sentido postu-
mente de matérias-primas e alimentos e com lar a “revisão” da superexploração, forma eu-
muita força de trabalho, bem como da maneira femística de dizer que ela deve ser “corrigida”,
pela qual isso propicia modalidades de inser- considerando que “a modificação substitui a
ção no mercado mundial que as desfavorecem, ideia de pagamento abaixo do valor da força de
é seguir movendo-se na superfície dos proble- trabalho pela baixa remuneração desse recur-
mas, com peças soltas e desarticuladas de um so” (Katz, 2017, p.15, grifo do autor), de modo
quebra-cabeça. Um quebra-cabeça inclusive que a essência da superexploração é confundi-

491
SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE

da e convertida em outra coisa.18 desenvolvimento do capitalismo, em uma re-


Seria mais pertinente, então, regressar gião com Estados formalmente independentes e
às discussões primárias, como: que relação cujas economias, neste já longo período, cami-
guardam entre si desenvolvimento e subde- nham pela rota do desenvolvimento do subde-
senvolvimento? São entidades autônomas, ou senvolvimento e não pela rota da Coreia do Sul.
se explicam somente pela relação que estabele-
cem entre si? Se se explicam apenas a partir da
relação que estabelecem entre si, apresentam Superexploração e esgotamento da força
apenas diferenças de grau ou contam com di- de trabalho
ferenças qualitativas?
Com a noção de capitalismo dependente, No capitalismo dependente, existem
o capitalismo deixou de ter apenas uma forma, condições objetivas para que a superexplora-
com variações marcadas pelo avanço de algu- ção se constitua como um mecanismo funda-
mas economias e pelo atraso de outras nas quais mental de exploração por parte do capital. O
estas últimas – de modo regular – podem avan- primeiro fator que a favorece consiste na cisão
çar para o desenvolvimento, ou a periferia pode do ciclo do capital presente nos padrões de re-
alcançar formas que a aproximem da condição produção do capital que se gestaram a partir
de centro. Trata-se de entidades que, no seio do dos processos de independência. A vocação
sistema mundial, prosseguem caminhos diferen- exportadora presente em todos esses padrões,
ciados e, em lugar de se aproximarem, separam- apenas atenuada na curta vida do padrão in-
-se. Com a nova formulação, passar do atraso ao dustrial, cria o cenário propício para que o ca-
desenvolvimento é possível, mas apenas como pital gere estruturas produtivas afastadas das
processo de exceção, e nunca como um cami- necessidades da maioria da população traba-
nho normal e regular de qualquer economia. lhadora. Dessa maneira, ao passo em que os
Ao contrário da visão predominante, a Coreia trabalhadores não têm um papel relevante na
do Sul, no sudeste asiático, é precisamente um realização dos bens produzidos pelas empresas
caso de exceção, e não a norma, no desenvolvi- de ponta na acumulação, o capital pode operar
mento de qualquer capitalismo.19 com maior folga para implementar as diversas
É paradoxal que seja a partir da América formas de superexploração, em particular o
Latina que se sustenta a ideia de “repetir o mi- pagamento direto da força de trabalho abaixo
Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 483-500, Set./Dez. 2018

lagre” do sudeste asiático, após dois séculos de de seu valor e o prolongamento da jornada de
trabalho. O segundo fator que favorece a su-
18
Katz assinala que “el punto de partida de la polémica perexploração está constituído pelas perdas de
(sobre la superexplotación) es la revisión encarada por
Marini”, onde “en su mirada de la globalización señaló valor sofridas pelo capitalismo dependente no
que la retribución de la fuerza de trabajo por debajo de mercado mundial, por meio da troca desigual e
su valor tendía a extenderse a las economías centrales”,
e que “esa ampliación suscita las controversias”, para de de outros tipos de transferências. Essas perdas
imediato assinalar a sua posição: “En nuestra opinión, la
superexplotación afecta las franjas más vulnerables (sic) alcançam algum grau de reposição através da
de los asalariados de todas las economías. “No define –
prossegue – distinciones entre regiones avanzadas, emer- apropriação, pelo capital, de parte do fundo de
gentes o subdesarrolladas”, para chegar ao central: “Esas consumo dos trabalhadores e de sua conversão
diferencias se concentran en la preeminencia de niveles
altos, bajos y medios del valor de la fuerza de trabajo”, em fundo de acumulação, ou da apropriação
para agregar que “cada país se sitúan unos de esos tres
rangos…”, (Katz, 2018, p. 1), (grifos do autor). Não é difícil presente de parte dos anos futuros de trabalho
ver que Katz e Marini estão falando de coisas muito dis-
tintas. Um de remunerações da força de trabalho “abaixo e de vida, por intermédio da extensão das jor-
de seu valor”, e o outro de “níveis altos, médios, ou baixos nadas de trabalho e da intensificação do traba-
do valor da força de trabalho”. Essa diferença, para Katz,
não é a que suscita a controvérsia, mas apenas o tema de lho. Nada disso seria possível se o capitalismo
sua ampliação. Mas ampliação do que? Do que assinala
Marini ou do que assinala Katz? dependente não gerasse mão de obra abundan-
19
(Cf. Osorio, 2015, 2016). te, o que permite, como terceiro fator, a pre-

492
Jaime Osorio

sença de uma extensa superpopulação relativa condições de pobreza devido às baixas pen-
que não apenas resolve a substituição imedia- sões e aposentadorias, sem a atenção médica e
ta dos braços esgotados prematuramente, mas os medicamentos requeridos e com enfermida-
também se constitui em uma força que o capi- des derivadas do esgotamento sofrido precoce-
tal emprega para pressionar as condições sa- mente em sua vida produtiva. “A economia dos
lariais e de trabalho dos trabalhadores ativos. meios de produção, que a produção mecaniza-
A capacidade de o capital criar braços da desenvolve sistematicamente pela primeira
excedentes na região é tal, que sequer os eleva- vez e que consiste, ao mesmo tempo, no desper-
dos movimentos migratórios, na segunda me- dício mais inescrupuloso de força de trabalho e
tade do século XX e no início do XXI, rumo às no roubo dos pressupostos normais da função
economias desenvolvidas e particularmente os do trabalho, revela agora tanto mais esse seu
Estados Unidos, afetam as necessidades do ca- aspecto antagônico e homicida quanto menos
pital operante na região. Inclusive ultrapassam estiverem desenvolvidas, num ramo industrial,
essas necessidades, gestando verdadeiros pro- a força produtiva social do trabalho e a base
blemas para a acumulação, como ocorre com a técnica dos processos combinados de trabalho”
concentração de paupers no entorno das gran- (Marx, [1973, t. I, p. 385-386] 2013, livro I, p.
des cidades, demandando serviços como água, 534). O esgotamento prematuro, embora não es-
luz, moradia, saneamento, escolas, unidades teja descartado, não se remete exclusivamente à
de serviços médicos, segurança, transporte, redução da expectativa média de vida, mas sim
etc. E isso apesar das políticas públicas volta- às condições em que sobrevivem os trabalhado-
das para a redução dos nascimentos e o retar- res nos anos restantes de vida.
damento da gravidez nos setores populares. Superexploração não é sinônimo de po-
Falar do esgotamento prematuro da for- breza absoluta. Em seu livro O desenvolvimen-
ça de trabalho como resultado da superexplo- to do capitalismo na América Latina, Agustín
ração não implica, necessariamente, morte Cueva utiliza noções e conceitos da teoria
prematura,20 embora possa gerar esse resulta- marxista da dependência, entre os quais o de
do em uma parcela de trabalhadores. O esgo- superexploração. Afirma, nesse sentido, que “a
tamento implica que um trabalhador (homem exploração e a consequente pauperização das
ou mulher) que se incorpore jovem à produção massas assumem o aspecto de uma ‘superex-
já não gera os mesmos rendimentos para o ca- ploração’” (Cueva, [1977, p. 99] 1983, p. 97,).

Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 483-500, Set./Dez. 2018


pital, uma vez alcançada a idade de 40 ou 50 A noção, contudo, é ali transformada em si-
anos. Daí em diante, pode se manter na produ- nônimo de empobrecimento absoluto (Cueva,
ção, mas sua produtividade minguará devido [1977, p. 228] 1983, p. 201).
ao desgaste prematuro, o que afetará o mon- Na determinação do valor da força de
tante de seu salário. Alternativamente, podem trabalho operam mecanismos contraditórios.
se manter realizando trabalhos que não exijam A incorporação de novos bens à condição de
a mesma energia física, mas com pior remu- bens-salários tende a aumentar o montante de
neração. E é muito possível que sua vida se valores de uso e elevar o valor da força de tra-
aproxime da expectativa média da sociedade. balho. Mas o aumento da produtividade tende
Seguramente, contudo, o esgotamento prema- a reduzir o preço desses produtos, o que ate-
turo da força de trabalho se verifica no caso nua aquela tendência anterior. A existência de
de uma grande parcela dos trabalhadores, em salários abaixo do valor da força de trabalho
faz com que, pela necessidade de obter certos
20
Como se depreende do comentário de Katz, no sentido bens-salários – como ter uma geladeira, em
de que, uma vez que a expectativa de vida média dos tra-
balhadores aumentou, a superexploração se desqualifica- tempos em que cresce o emprego de homens e
ria – ao ser associada à morte prematura (cf. Katz, 2017,
p. 2). mulheres, e a compra de certos alimentos, que

493
SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE

não pode ser feita diariamente, ou de televi- ta ou mais-valia relativa não pode nos levar a
sores ou celulares de segunda categoria, tendo afirmar que qualquer uma das formas de extra-
em vista que são bens necessários para ocupar ção de mais-valia tem o mesmo peso nas diver-
os momentos de ócio na sociabilidade impe- sas economias que formam esse sistema e que,
rante e os celulares formam parte das novas portanto, provocariam os mesmos resultados.
necessidades de trabalho –, a própria obtenção O mesmo equívoco ocorre quando se
desses bens implica deixar de atender a outras afirma que a superexploração está presente em
necessidades vitais, como, por exemplo, comer todo o sistema mundial capitalista, buscando
menos carne, verduras e frutas, ou então redu- desqualificar sua relevância no capitalismo
zir o dinheiro disponível para gastos com mé- dependente. É preciso ponderar e destacar as
dicos, dentistas ou remédios. particularidades da forma como a superexplo-
Nessas condições, a força de trabalho se ração ocorre em diferentes regiões, em diferen-
reproduz, mas em condições anormais, mas tes economias e formas de capitalismo, e cons-
não por maior pobreza absoluta, já que o mon- tatar que ela gera consequências diferenciadas
tante de bens incorporado ao consumo tende a na reprodução do capital e, portanto, no sis-
se incrementar, só que, em muitos bens e servi- tema mundial e na acumulação mundial. Isso
ços, se terá um consumo deficiente, de acordo exige, portanto, colocar a superexploração no
com as necessidades histórico-sociais prevale- contexto desses processos para compreender
centes, em razão do que isso pode afetar os anos seu significado histórico e teórico,22 e não ana-
futuros de trabalho e de vida e a própria geração lisá-la de maneira isolada.
dos novos braços que irão se incorporar futura- No capitalismo desenvolvido, a intensi-
mente ao mercado de trabalho. Em meio ao es- dade do trabalho tem um peso maior e há mui-
gotamento prematuro e salários diretos abaixo to menos pagamento direto de salários abaixo
do valor da força de trabalho, uma fórmula para do valor. Isso torna possível que a maioria dos
sobreviver passa pela crescente conformação de trabalhadores, nessas economias, tenha um
lares em que convivem duas ou três gerações de peso relevante na conformação do mercado
trabalhadores, o que permite resolver o cuidado interno, tenha acesso a bens que, em outras
dos menores de idade e dos trabalhadores ido- economias, são bens suntuários, que o bem-es-
sos, aposentados ou simplesmente retirados do tar material seja mais generalizado. E que a ca-
mercado de trabalho, além de conformar um sa- mada de trabalhadores que recebe diretamente
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lário familiar que potencializa a precariedade e salários abaixo do valor seja relativamente re-
a superexploração imperante nos rendimentos duzida.
de cada trabalhador.21 Isso é diferente no capitalismo depen-
O fato de que em todo o sistema mun- dente, onde predominam o pagamento direto
dial capitalista se produza mais-valia absolu- de salários abaixo do valor e a prolongação da
jornada de trabalho, processos que afetam a
21
Isso questiona a ideia de que “o capitalismo não precisa maioria da população trabalhadora, gerando
de mecanismos adicionais para se desenvolver” e que “a
sub-remuneração dos assalariados transgride os princípios estruturas produtivas voltadas fundamental-
da acumulação”, já que “a violação desses critérios ame-
açaria a própria sobrevivência dos trabalhadores” (Katz, mente para os mercados externos e para o es-
2017, p. 2, grifo do autor). Toda essa reflexão, referente treito mercado interno de alto poder de consu-
a apontamentos de Cueva, associa superexploração com
pauperismo absoluto. Katz realiza essa mesma associação mo, tudo isso impulsionado pelos setores mais
quando indica: “A retração do consumo obedece à simples
vigência de salários reduzidos. Não implica pagamentos dinâmicos do capital. São os capitais menos
abaixo do valor da força de trabalho. Se os salários fossem
tão insignificantes, os frágeis circuitos de compra sequer poderosos que direcionam sua produção para
poderiam emergir” (Katz, 2017, p. 9). Ao dissociar “salá-
rios reduzidos” de “pagamentos abaixo do valor da força 22
No próprio exercício feito por Katz, a superexploração
de trabalho”, remete esse último ao pauperismo absoluto, aparece em todos os estratos. Mas é evidente que a su-
o que se compadece com a conclusão: “os [...] circuitos de perexploração não opera em todos os estratos da mesma
compra sequer poderiam emergir” (Katz, 2017, p. 9). forma, nem com os mesmos resultados (Katz, 2017, p. 12).

494
Jaime Osorio

o mercado interno dos assalariados, mercado trito, entra no processo social de produção em
esse reduzido pelos efeitos da superexploração seu conjunto” (Marx, [1973, t. III, p. 232] 2017,
e pelo enorme número de trabalhadores con- livro III, p. 271) –, aparecem causas poderosas
finados na superpopulação relativa. Isso não que contra-arrestam essa lei e a fazem operar
significa que não existam núcleos e franjas de apenas como tendência, na medida em que “é
assalariados que não são superexplorados. Mas, contida, refreada e enfraquecida por circuns-
para a reprodução do capital no capitalismo de- tâncias contra-arrestantes” (Marx, [1973, t. III,
pendente, a superexploração é fundamental. p. 234] 2017, livro III, p. 273). Comentemos al-
gumas dessas circunstâncias.
A primeira causa apontada é o aumento
Superexploração e taxa de lucro do grau de exploração do trabalho. Aqui, Marx
aponta que “o grau de exploração do trabalho,
A extensão da superexploração, no con- a apropriação do mais-trabalho e da mais-valia
junto do sistema, se explica, por sua vez, pelo aumentam especialmente por meio do prolon-
fato de que, como menciona Marx, o pagamen- gamento da jornada de trabalho e da intensifi-
to de salários abaixo do valor da força de tra- cação do trabalho”. E agrega: “é especialmente
balho é uma das causas que contra-arrestam a o prolongamento da jornada de trabalho, essa
queda da taxa de lucro (Marx, [1973, t. III, p. invenção da indústria moderna, que incremen-
235] 2017, livro III, p. 274), tal como ocorre ta a massa do mais-trabalho apropriado sem al-
no período em que vivemos. Como as condi- terar essencialmente a relação entre a força de
ções de existência dos trabalhadores, em cada trabalho empregada e o capital constante que
economia, são diferentes, a generalização da ela põe em movimento e que, de fato, faz dimi-
superexploração tem consequências relativas nuir relativamente este último” (Marx, 1973, t.
diferenciadas em cada economia. III, p. 232-233).
No início da exposição das causas con- Mas o prolongamento da jornada de tra-
tra-arrestantes da lei da queda da taxa de lucro, balho e a intensidade do trabalho com avanços
Marx assinala que “a dificuldade que se apresen- tecnológicos atuam em sentidos inversos na
ta não é a mesma na qual os economistas trope- elevação do grau de exploração e na massa de
çam até hoje, isto é, a de explicar a queda da taxa mais-valia, com consequências diferentes para
de lucro, mas a dificuldade inversa, a saber: a de a queda da taxa de lucro, porque “as causas

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explicar por que essa queda da taxa de lucro não que elevam a taxa da mais-valia relativa são
é maior nem mais rápida. É preciso que aí atuem as mesmas que reduzem a massa da força de
influências contra-arrestantes, que interfiram na trabalho empregada”, de modo que “a tendên-
ação da lei geral e a anulem, dando a ela apenas o cia de diminuição da taxa de lucro é especial-
caráter de tendência, razão pela qual também ca- mente enfraquecida pela elevação da taxa de
racterizamos a queda da taxa geral de lucro como mais-valia absoluta, gerada graças ao prolon-
tendencial” (Marx, [1973, t. III, p. 232] 2017, li- gamento da jornada de trabalho” (Marx, [1973,
vro III, p. 271, grifo do autor). t. III, p. 233-234] 2017, livro III, p. 273).
Frente às causas que alimentam a que- Nem todo prolongamento da jornada ou
da da taxa de lucro e que a tornam lei – “se todo aumento da intensidade implicam supe-
consideramos o enorme desenvolvimento das rexploração. Mas o limite é muito tênue, como
forças produtivas do trabalho social apenas Marx já notou no livro I de O capital, quan-
nos últimos trinta anos e comparamos esse do trata da mais-valia absoluta e da mais-valia
período com todos os anteriores, e se levamos relativa, de modo que aquela primeira causa
em conta sobretudo a enorme massa de capital que contra-arresta a queda da taxa de lucro
fixo que, além da maquinaria em sentido es- tem vínculos estreitos com a superexploração.

495
SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE

Por isso, entre a perspectiva do capitalista – havido aumentos nas horas de trabalho no
que considera que a compra do valor diário da conjunto das economias, tanto desenvolvidas
força de trabalho significa que ela lhe perten- quando dependentes, é nessas últimas, em
ce por uma jornada, tratada como menor do geral, que se concentram as economias com
que um dia natural (mas, quão menor?) – e a maiores horas de trabalho. De acordo com da-
perspectiva do trabalhador – que deve acordar dos da OCDE de 2016, o México é o país com
no dia seguinte em condições “de trabalhar mais horas trabalhadas por ano por trabalha-
amanhã com o mesmo nível normal de força, dor dentre 35 economias em que se realizou a
saúde e disposição que hoje”, de modo que co- medição, com 2.237 horas anuais. Na sequên-
locará em movimento sua energia “apenas na cia, estão: Costa Rica, com 2.200 horas; Coréia
medida compatível com sua duração normal e do Sul, com 2.163; Grécia, com 2.037; e Rússia
seu desenvolvimento saudável” (Marx, [1973, e Chile, com pouco menos de 2.000 horas tra-
t. I, p. 178-179] 2013, livro I, p. 308) –, Marx balhadas por ano. Mais abaixo estão Polônia,
conclui: “entre direitos iguais, quem decide é a Israel, Lituânia e Islândia. Estados Unidos,
força” (Marx, [1973, t. I, p. 180] 2013, livro I, p. com 1.788 horas trabalhadas por ano, aparece
309). Daí a fragilidade dos limites da jornada no 15º lugar e o Japão no 21º, com 1.715 horas.
de uma extensão normal e a tensão que permi- Fecham a lista, com menos de 1.400 horas, Ho-
te que, “em seu impulso cego e desmedido, sua landa, Noruega, Dinamarca e Alemanha, essa
voracidade de lobisomem por mais-trabalho, o última com 1.360 horas trabalhadas por ano
capital transgride não apenas os limites morais por trabalhador (OCDE, 2016).
da jornada de trabalho, mas também seus li- A redução do salário abaixo do valor
mites puramente físicos” (Marx, [1973, t. I, p. da força de trabalho aparece como a segunda
207] 2013, livro I, p. 337). causa que contra-arresta a queda da taxa de
A tendência à superexploração é expres- lucro.24 “Isso só é mencionado aqui empirica-
sa por Marx também quando assinala que, “se mente, já que, de fato, tal como muitas outras
um trabalhador é forçado a efetuar o trabalho coisas que caberiam ser referidas, esse aspecto
que racionalmente só poderia ser executado não guarda nenhuma relação com a análise ge-
por dois trabalhadores, e se isso ocorre em cir- ral do capital, mas diz respeito à exposição da
cunstâncias nas quais ele poderia substituir concorrência, que não é tratada nessa obra. No
outros três, esse trabalhador produzirá tanto entanto, é uma das causas mais importantes de
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mais-trabalho quanto antes o forneciam dois contenção da tendência à queda da taxa de lu-
trabalhadores e, em tal medida, terá aumenta- cro” (Marx, [1973, t. III, p. 235] 2017, livro III,
do a taxa de mais-valia. Mas ele não produzi- p. 274, grifo do autor).
rá tanto quanto antes produziam três, e, desse O discurso de um anônimo capitalista
modo, a massa de mais-valia23 terá diminuído. inglês serve a Marx para dar conta da justifi-
Sua queda estará compensada ou limitada pelo cativa capitalista para os salários abaixo do
aumento da taxa de mais-valia” (Marx, 2017, li- valor: “‘Mas se nossos pobres’ (termo técnico
vro III, p. 273-274). Esse maior desgaste da força para trabalhadores) ‘querem viver de modo
de trabalho é um indicador de superexploração, 24
Não deve passar inadvertidamente que Marx não se con-
ainda mais quando um trabalhador é forçado a forma com a cômoda indicação de “salários baixos” ou “re-
munerações baixas”, solução tão generalizada como inútil
fazer o que corresponderia a dois trabalhadores. frente aos problemas que se busca explicar, como faz Katz
ao se perguntar: “Como se poderia reformular a intuição de
No bojo da atual crise, e embora tenha Marini sem os problemas da superexploração?”. E respon-
de: “A solução mais simples é postular que, nessas regiões
(economias dependentes), predomina um baixo valor da
23
N.T.: Neste ponto, o autor destaca que, na edição de O força de trabalho” (Katz, 2017, p. 3). Marx não se conforma
capital da FCE (Marx, 1973, t. III, p. 234), se utiliza, nes- com essas “soluções simples” e trata de “salários abaixo do
sa passagem, “taxa de mais-valia” (cuota de plusvalía), em valor da força de trabalho”. Com “soluções simples” os ca-
vez de massa de mais-valia (masa de plusvalor), o que tor- pitais podem assinalar que não existe exploração e corrigir
na ininteligível o raciocínio. Marx, da mesma forma que faz Katz com Marini.

496
Jaime Osorio

luxuoso [...], é evidente que seu trabalho tem contra-arrestante. Em relação a isso, Marx sus-
de ser caro [...]. Basta considerar a horripilante tenta que, “na medida em que o comércio exte-
massa de superfluidades (heap of super flui- rior barateia em parte, os elementos do capital
ties) que nossos trabalhadores manufatureiros constante, em parte os meios de subsistência
consomem, como aguardente, gim, chá, açú- nos quais se transforma o capital variável, ele
car, frutas importadas, cerveja forte, lenços es- atua no incremento da taxa de lucro, elevando
tampados, rapé e tabaco etc.’”. Não são poucas a taxa de mais-valia [mediante a redução do
as análises que atualmente destacam “as coi- valor da força de trabalho - JO] e reduzindo o
sas supérfluas que consomem os trabalhadores valor do capital constante” (Marx, [1973, t. III,
nesta parte do mundo”, chamando a atenção, p. 236] 2017, livro III, p. 276).
por exemplo, para as múltiplas antenas de TV Analisando esses processos a partir do
nos tetos em que se aglomeram “os pobres”.25 capitalismo dependente, Marini assinala que
E segue Marx: “Ele cita o escrito de um fabri- “a contrapartida do processo mediante o qual a
cante de Northamptonshire, que, mirando o América Latina contribuiu para incrementar a
céu, lamenta: ‘Na França, o trabalho é 1/3 mais taxa de mais-valia e a taxa de lucro nos países in-
barato que na Inglaterra, pois os franceses po- dustriais implicou para ela efeitos rigorosamente
bres trabalham duramente e economizam na opostos. E o que aparecia como um mecanismo
alimentação e no vestuário; sua dieta é com- de compensação no nível de mercado é, de fato,
posta principalmente de pão, frutas, verdu- um mecanismo que opera no nível da produção
ras, raízes e peixe salgado, pois comem carne interna” (Marini, [1973, p. 37] 2005, p. 154).
muito raramente e, estando caro o trigo, muito Dessa forma, a mudança do eixo da acu-
pouco pão.’” (Marx, [1973, t. I, p. 506] 2013, li- mulação no mundo desenvolvido da mais-va-
vro I, p. 676). E páginas mais adiante, ressalta: lia absoluta para a mais-valia relativa e a redu-
“O chamado trabalho domiciliar, por exemplo, ção das tendências à queda da taxa de lucro ga-
demonstrou qual é o papel que hoje desempe- nham sentido apenas na perspectiva da unida-
nha, na formação da mais-valia e, portanto, do de diferenciada, gerada pelo sistema mundial,
fundo de acumulação do capital, o roubo direto e se expressam no capitalismo dependente
perpetrado contra o fundo de consumo neces- com o estabelecimento de uma modalidade de
sário do trabalhador” (Marx, [1973, t. I, p. 508] exploração redobrada,26 que terá consequên-
2013, livro I, p. 678, grifo do autor). cias na determinação das particularidades do

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Tratemos do barateamento dos elemen-
tos que formam o capital constante. A persis-
26
“Recordar-se-á que a taxa de mais-valia depende, em
primeira instância, do grau de exploração da força de tra-
tência de padrões exportadores de matérias balho. A economia política confere tanta dignidade a esse
papel que chega ocasionalmente a identificar a aceleração
primas e alimentos na história econômica da da acumulação que resulta do aumento da força produti-
va do trabalho com sua aceleração, derivada do aumento
América Latina e a manutenção dessas expor- da exploração do trabalhador.” (Marx, [1973, t. I, p. 505]
tações, mesmo sob o padrão industrial, expres- 2013, livro I, p. 675). Ver o uso desse termo explotación
redoblada del obrero, referente à superexploração, também
sam a relevância da região não apenas para fa- nas páginas 511 e 540 do tomo I.
[N.T.: Aqui o autor se refere ao termo explotación redobla-
vorecer as necessidades de produção do capi- da, empregado, conforme por ele indicado, na edição da
Fondo de Cultura Económica (FCE). Tanto na edição em
tal no mundo desenvolvido, mas também para castelhano da Siglo XXI, quanto nas edições em português
conter as pressões de queda da taxa de lucro. da Boitempo – aqui utilizada para as citações – e da Abril
Cultural – com a qual sempre cotejamos – a forma utili-
Essa causa se associa com o comércio zada na passagem citada é, respectivamente, “aumento”
e “elevação” da exploração do trabalhador. Contudo, na
exterior, mencionado também como causa edição da Siglo XXI, nas passagens indicadas em seguida
por Jaime Osorio (p. 511, 540 do tomo I da edição do FCE),
se utiliza a expressão explotación redoblada (1975, t. I, v.
25
Em estudo sobre uma favela na Cidade do México, pu- 2, p. 749, 1975, t. I, v. 3, p. 794). Já na edição da Abril
blicado em 1973, Larissa Lomnitz aponta que “as caracte- Cultural (p. 238, 268), se utiliza nas outras duas passagens
rísticas econômicas gerais da favela são de uma pobreza “exploração mais elevada” e na edição da Boitempo se uti-
extrema”; contudo, 59,5% das moradias têm televisores liza numa passagem “exploração aumentada” (p. 829) e em
(Lomnitz, 1973, p. 62-63). outra “exploração redobrada” (p. 865).

497
SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE

conjunto do processo de reprodução do capital que as firmas multinacionais, em sua avaliação


nessa forma de capitalismo e na sustentação das taxas de lucro, levam a cabo “a simples es-
da acumulação mundial de capital. timativa de valores altos, médios ou baixos da
Todas as causas que operam para con- força de trabalho [...] para definir o local dos
tra-arrestar a queda da taxa de lucro alcançam investimentos”, pelo que esse seria o caminho
novos significados a partir da análise do mer- “mais pertinente para compreender a dinâmica
cado mundial e do sistema mundial capita- da mundialização neoliberal”, o que se perde
lista. Em O capital, Marx aborda essas causas pela “homogeneização, que implica sustentar
sem lhes outorgar pesos diferenciados entre as que há superexploração (Katz, 2018, p. 4-7).
economias que conformam esse mercado mun- Mas o caminho que propõe Katz hete-
dial e o sistema mundial capitalista, porque se rogeneiza pela superfície para homogeneizar
limita, como já assinalamos, à análise geral o substancial. Assim homogeneíza estrutural-
do capital, e porque os problemas pelos quais mente a economia mundial, para apresentar
abordaria aquelas dimensões da expansão do diferenças entre economías, porque o valor da
capital estavam pensados para serem tratados força de trabalho é mais alto em umas, médio
em outros livros, com maior concretude, que ou mais baixo em outras. Mas, no substancial,
não chegaram a ser escritos.27 falamos de uma única e mesma forma de ca-
Ao olhar os processos enunciados por pitalismo, somente com estratos diferenciados
Marx, que atuam “contendo, refreando e enfra- pelo montante de valor da força de trabalho.
quecendo” a queda da taxa de lucro à luz das Mas, em sua perspectiva, a análise se empo-
diferentes formas de capitalismo que confor- brece se temos economias em que sua repro-
mam o sistema mundial capitalista, revela-se a dução do capital repousa em violar o valor da
enorme relevância do capitalismo dependente força de trabalho.28 Ou se constatamos que as
para favorecer a acumulação do capital mun- empresas multinacionais se assentam em eco-
dial e para explicar por que a queda da taxa de nomias determinadas, porque ali se superex-
lucro “não é maior nem mais rápida” no con- plora, algo não difícil de entender se – como
junto do sistema mundial. Katz o faz – falamos de Bangladesh ou Filipi-
Aos elementos assinalados por Marx ca- nas. E tudo isso tem consequências na repro-
beria agregar a volumosa saída de mais-valia dução e acumulação mundial do capital
do capitalismo dependente em direção ao ca- “É nesse sentido que a economia depen-
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pitalismo desenvolvido, como parte dos lucros dente – e, por consequência, a superexplora-
dos investimentos de capitais desse último no ção do trabalho – aparece como uma condição
primeiro, e das transferências de valor na mes- necessária do capitalismo mundial, contradi-
ma direção, como resultado da troca desigual. zendo àqueles que [...] a entendem como um
fenômeno acidental no desenvolvimento des-
te” (Marini, [1973, p. 91] 2005, p. 188).
Superexploração e “homogeneidade” do A partir dessa perspectiva, é possível
capital compreender a magnitude do desarmamento
teórico derivado dos convites para “corrigir” a
Para Katz, a superexploração do traba-
lho impede compreender “processos que atu- 28
Sua ideia de que falar de superexploração “homogeneí-
za” é tão grosseira como dizer o mesmo quando tratamos
almente modificam as remunerações dos tra- de exploração. Existem diversas formas de superexplorar
e nem todas têm as mesmas consequências sobre como o
balhadores”, “a dispersão salarial” ou o fato de capital se reproduz, como os trabalhadores participam do
mercado interno, como o ferrão produtivista se alimenta
27
Em carta a Weydenmeyer datada de 1º de fevereiro de ou não, etc., como assinalamos em pontos anteriores. E na
1859, Marx anuncia a produção de seis livros: “Capital; pro- base desses processos se definem diversas formas de ca-
priedade territorial; trabalho assalariado; Estado; comércio pitalismo, com os quais as relações no sistema capitalista
exterior; mercado mundial” (Marx, 1973, t. I, p. 666). mundial se complexificam.

498
Jaime Osorio

categoria de superexploração, o que levaria a ______. Dialética da dependência. In: TRASPADINI, R.;
STÉDILE, J. P. Ruy Mauro Marini: vida e obra. São Paulo:
eliminar ou desvanecer, por sua vez, a catego- Expressão Popular, 2005.
ria de capitalismo dependente, tudo isso para MARX, K. El capital. México: Fondo de Cultura
Económica, 1973. t. I.
uma reformulação (sic) da teoria marxista da
______. El capital. México: Fondo de Cultura Económica,
dependência (Katz, 2017, p. 15), que não é ou- 1973. t.III.
tra coisa senão sua negação. ______. El capital. México: Siglo XXI Editores, 1975. t. I,
v. 1.
______. El capital. México: Siglo XXI Editores, 1975. t. I,
v. 2.
Recebido para publicação em 03 de abril de 2018
Aceito em 07 de maio de 2018 ______. El capital. México: Siglo XXI Editores, 1975. t. I,
v. 3.
______. El capital. México: Siglo XXI Editores, 1976. t. III.
v. 6.
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CUEVA, A. El desarrollo del capitalismo en América
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Latina. São Paulo: Global, 1983.
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Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 483-500, Set./Dez. 2018

499
SOBRE SUPEREXPLORAÇÃO E CAPITALISMO DEPENDENTE

ABOUT SUPER- EXPLOITATION AND SUR SUPEREXPLOTATION ET CAPITALISME


DEPENDENT CAPITALISM DÉPENDANT

Jaime Osorio Jaime Osorio

This article is a critique of the theories that sustain Cet article est une critique des théories qui
that Marx affirms that the labor force is paid for its soutiennent que Marx affirme que la force de
value. Here we try to show that a violation of the travail est payée pour sa valeur. Nous essayons
value of the labor force is a problem inscribed in ici de montrer qu’uneviolation de la valeur de la
Marxist theory and present in O Capital. On the force de travail est unproblèm einscrit dans la
other hand, it argues about the importance of the théorie marxiste et présent dans O Capital. D’autre
notion of dependent capitalism and its meaning to part, il argumente sur l’importance de la notion
understand its particularities that separate it from de capitalisme dépendant et sa signification pour
the traits and objectives of capitalism developed. comprendre ses particularités qui le séparent des
traits et des objectifs du capitalisme développé.

Key Words: Superexplotation. Dependent capitalism. Mots clés: Superexplotation. Capitalisme dépendant.
Capitalism patterns Modèles de capitalisme.
Caderno CRH, Salvador, v. 31, n. 84, p. 483-500, Set./Dez. 2018

Jaime Osorio – Docente e investigador do Departamento de Relaciones Sociales, Universidad Autónoma


Metropolitana, Unidad Xochimilco. Publicaciones: El Estado en el Centro de la Mundialización. Fondo
de Cultura Económica, 2004, 263 p.; Estado, biopoder y exclusión. Análisis desde la lógica del capital,
2012. Anthropos, UAM. 159 p.

500

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