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– O Senhor chama os discípulos no meio do seu trabalho, como também nos chama a nós nos
nossos afazeres.
– Trabalho e oração.
O Senhor procura-os no meio da sua tarefa quotidiana, tal como fez com os
Magos ao chamá-los por meio daquilo que lhes podia ser mais familiar: o brilho
de uma estrela; tal como o Anjo chamou os pastores de Belém, enquanto
cumpriam o seu dever de guardar o rebanho, para que fossem adorar o
Menino-Deus e acompanhassem Maria e José naquela noite...
Desde o momento em que nos decidimos a ter Cristo por centro da nossa
vida, tudo o que fazemos é afectado por essa decisão. Devemos perguntar-nos
se somos conscientes do que significa termos sido chamados para crescer na
amizade com Jesus Cristo precisamente no lugar em que estamos.
Para nos santificarmos através dos afazeres do lar, das gazes e das pinças
do hospital (com esse sorriso habitual para os doentes!), no escritório, na
cátedra, dirigindo um tractor, limpando a casa ou descascando batatas..., o
nosso trabalho deve assemelhar-se ao de Cristo – a quem pudemos
contemplar na oficina de José há poucos dias – e ao trabalho dos Apóstolos
que hoje, no Evangelho da Missa, vemos ocupados em pescar. Devemos fixar
a nossa atenção no Filho de Deus feito Homem enquanto trabalha e perguntar-
nos: que faria Jesus no meu lugar? Como realizaria as tarefas que me
absorvem?
O Evangelho diz-nos que o Senhor fez tudo bem feito5, com perfeição
humana, sem coisas mal acabadas. Entregaria as encomendas no prazo
combinado; arremataria o seu trabalho de artesão com amor, pensando na
alegria dos seus clientes ao receberem peças simples, mas perfeitas; chegaria
cansado ao fim do dia... Além disso, Jesus executou ainda as suas tarefas com
plena eficácia sobrenatural, pois ao mesmo tempo, com esse trabalho,
realizava a redenção da humanidade, unido a seu Pai por amor e com amor, e
unido aos homens por amor deles também6.
III. PARA UM CRISTÃO que vive de olhos postos em Deus, o trabalho deve
ser oração, pois seria uma pena que só descascasse batatas, em vez de
santificar-se enquanto as descasca bem; deve ser uma forma de estar com o
Senhor ao longo do dia.
Orar é conversar com Deus, elevar a alma e o coração até Ele para louvá-lo,
agradecer-lhe, desagravá-lo, pedir-lhe novas ajudas. Pode-se fazê-lo por meio
de pensamentos, de palavras, de afectos: é a chamada oração mental, que
deve estar presente nas próprias orações vocais. Mas pode-se fazê-lo ainda
através de acções capazes de mostrar a Deus quanto o amamos e quanto
necessitamos d’Ele. Neste sentido, também é oração todo o trabalho bem
acabado e realizado com senso sobrenatural8, isto é, com a consciência de se
estar colaborando com Deus na perfeição das coisas criadas e de se estar
impregnando todas elas com o amor de Cristo, completando assim a sua obra
de redenção realizada não só no Calvário, mas também na oficina de Nazaré.
O cristão que estiver unido a Cristo pela graça converte as suas obras rectas
em oração. Mas o valor dessa oração que é o trabalho dependerá do amor que
puser ao realizá-lo, isto é, da intenção com que o executar. Quanto mais
actualizar a intenção de convertê-lo em instrumento de redenção, não só o
realizará com outra perfeição humana, como será maior a ajuda que prestará a
toda a Igreja.
(1) Mc 1, 14-20; (2) Jo 1, 35-42; (3) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, Quadrante,
São Paulo, 1975, n. 45; (4) São Josemaría Escrivá, Sulco, Quadrante, São Paulo, 1987, n. 498;
(5) Mc 7, 37; (6) cfr. J. L. Illanes, A santificação do trabalho, 2ª ed., Quadrante, São Paulo,
1982, págs. 70 e segs.; (7) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 495; (8) cfr. R. Gómez Pérez, La
fe y los días, 3ª ed., Palabra, Madrid, 1973, págs. 107-110; (9) São Josemaría Escrivá, Carta,
15-X-1948; (10) Enchiridion indulgentiarum, Tip. Poliglota Vaticana, Roma, 1968, n. 1; (11) cfr.
S. Canals, Reflexões espirituais, 2ª ed., Quadrante, São Paulo, 1988, pág. 98; (12) São
Josemaría Escrivá, Sulco, n. 531.