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Bea Reis

O Caminho da Cerâmica
Conteúdo

Apresentação

1 Cerâmica ancestral: história e técnicas

2 Do que é feito o barro que a gente usa no ateliê?

3 Preparando o barro: beneficiar, amassar, acondicionar, reciclar

4 Técnicas manuais: belisco, cordas, placas e moldes

5 Torno: centralização, cumbucas, cilindros, garrafas, pratos, tampas e bules

6 Exercícios de repetição, escala e composição

7 Esmaltes, engobes, baixo-esmaltes e pigmentos

8 Acabamentos: brunido e texturas

9 Queimas: redução e oxidação, gás, elétrico, lenha, raku, fogueira

10 Cerâmica Contemplativa

11 Processo criativo e referências: fotos, desenhos e projetos

Bibliografia
Apresentação

Queridas alunas,
Essa apostila é a realização de um pequeno sonho! Sempre quis escrever um
material que organizasse a forma como ensino cerâmica e que ainda contemplasse
alguns assuntos teóricos que não consigo passar em sala de aula. É uma pena que
ela tenha demorado tanto tempo para nascer e tenha sido escrita em isolamento
social. No entanto, a quarentena tem sido um período muito rico. Estou aprendendo
muito (principalmente sobre mim mesma) e espero que vocês também.
Sou, ainda, uma jovem ceramista e ainda não me sinto capaz de falar sobre
todos esses assuntos com maestria. Portanto, pretendo que esse material se
transforme: com o tempo, vou acrescentar, modificar e reescrever até que o
resultado seja um livro que beneficie as pessoas da melhor forma possível. Então 3
todas as sugestões e críticas são bem-vindas! Vocês vão me ajudar a deixar esse
material cada vez melhor.
Antes de apresentar o conteúdo da apostila, escrevo um pouco sobre mim e
sobre a minha prática como ceramista. Acho que vocês, minhas alunas, já ouviram
essa história, mas acho importante repetir, pois ela revela as minhas motivações
e intenções no ateliê. Lá vai.
Quando, em 2009, entrei na graduação em Comunicação Visual – Design,
na UFRJ, meu sonho era trabalhar em um desses grandes estúdios de design. Eu
adorava design editorial e acho que até levava jeito para a coisa. A faculdade, no
entanto, me apresentou um universo que eu desconhecia: o ensino e a pesquisa.
Logo percebi que eu gostaria de continuar na academia, desenvolvendo trabalhos
de viés artístico aliados à produção de conhecimento.
No TCC, desenvolvi uma monografia que discutia a verdade da imagem e a
função do irreal em Nietzsche e Bachelard, a partir de um livro escrito, ilustrado
e diagramado por mim. No dia em que apresentei esse trabalho, me inscrevi para
o processo seletivo do mestrado em Artes Visuais da UFRJ – e passei! Durante o
mestrado, desenvolvi uma série de trabalhos, em diversos suportes e mídias, cuja
temática era a poética lunar e o ponto de partida, materiais que se transformavam
com o calor (a cera, o gesso, a cerâmica). A minha viagem era a seguinte: também a
Lua, e todos os corpos celestes, passam por transformações que se dão por trocas
de energia. A Lua já foi matéria mole, sem forma e quente, arrancada à força da
Terra, orbitando o planeta ainda vermelho, incandescente.
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Fico devendo fotos melhores dos


meus trabalhos, mas, na ordem:
Nave, Regolito, Mare Crater,
Cosmogonia da Pérola e Lunares,
todos desenvolvidos durante o
mestrado.
Em 2016 defendi minha dissertação de mestrado e passei a me dedicar ao
meu ateliê recém montado. Tinha descoberto a cerâmica durante os anos de pós-
graduação e estava completamente apaixonada. Eu não queria fazer doutorado
naquele momento (estava cansada de tanto pesquisar) e decidi me dar alguns
anos de “férias”. Em 2017, produzi muito, participei de feiras com a Caelum e,
em novembro, dei minhas primeiras oficinas aqui no ateliê. Os primeiros dois
anos não foram fáceis: produzindo, aprendi muito sobre mim e sobre o que me
motivava. Percebi que eu realmente não gostava de pegar encomendas e de fazer
coisas que estavam na moda. Era preciso coragem para assumir meus interesses
e meu estilo e as aulas me ajudaram muito nisso, pois tiraram dos meus ombros
o peso de ter que vender minhas peças. Eu podia produzir com calma e alegria.
Aos poucos, me cerquei de alunas inspiradoras, artistas e amigos que me
colocam no rumo certo e passei a pesquisar e produzir peças que me deixam
com um sorriso no rosto. Identifiquei aquilo que fazia sentido para mim e, desde
então, busco unir minhas referências e desenvolver um trabalho mais autoral que
realmente me completa. Das coisas que me inspiram, gostaria de destacar duas: a
primeira delas é a clara relação da cerâmica com a natureza. Daí surgiu o interesse
em pesquisar massas autorais, cerâmica ancestral, matérias primas e uso de
materiais não convencionais na produção das peças. A segunda é o Japão. Minha
memória mais antiga é meu pai chegando do Japão, quando eu tinha um ano de
idade. Desde pequena, sinto uma forte conexão com o país e a cerâmica japonesa
é, sem dúvida, a minha grande referência em termos de formas, cores e texturas.
Por causa do meu fascínio pelo Japão, conheci um grande amigo e, através 5
dele, a Arte Contemplativa. Por incentivo dele, comecei a pensar na relação entre
cerâmica e meditação. Em 2020, dei a primeira oficina de Cerâmica Contemplativa
e sei que esse é um caminho que me traz muita alegria. Meditação e cerâmica são
duas coisas muito importantes para mim e fico feliz em saber que as pessoas se
interessam pelo assunto. Aliás, acho que fui a primeira ceramista a oferecer uma
oficina do tipo (talvez no Japão façam isso, mas eu nunca vi em lugar nenhum).
No ano passado, 2019, dei início ao meu doutorado em Artes Visuais, também
na UFRJ. Dessa vez, decidi pesquisar cerâmica ancestral indígena e o que dela
sobrevive hoje, na prática contemporânea de algumas artistas brasileiras. Esse
tempo longe da academia me fez muito bem, pois pude respirar, identificar
meus interesses e como posso contribuir para a ampliação do meu campo
de conhecimento. Todas as minhas referências e inspirações (a natureza e a
meditação) e toda a minha prática (de ateliê e como professora) me ajudam a
construir essa tese – e isso me deixa muito feliz! É gostoso perceber que as coisas
se costuram e fazem sentido.
Nessa apostila, desejo que a contemplação (a prática meditativa) esteja
presente em todas as etapas do processo, bem como a fundamental relação entre
a cerâmica e a natureza - afinal, ela é a mãe que nos dá todas as matérias primas
para a prática dessa arte ancestral.
Mais do que um manual de técnicas, a apostila visa apresentar o universo da
cerâmica de forma ampla e abrangente. Ao longo dos capítulos, vou passear por
diversas tradições e culturas – afinal, o mundo inteiro faz cerâmica (alguns há
mais de 25.000 anos). Não creio que a apostila substitua a prática de ateliê, pois a
experiência é algo essencial para quem trabalha o barro. A mão precisa aprender
com a matéria. No entanto, creio que ela pode enriquecer a prática de vocês, no
sentido de fornecer referências e revelar a linda linhagem de mestres ceramistas
da qual vocês fazem parte.
Organizei os capítulos de forma a tratar de todas as etapas do fazer, na ordem
em que acontecem. Por fim, vou falar de Cerâmica Contemplativa, apresentando
alguns exercícios que podem permear a prática, auxiliando no desenvolvimento
de uma mente mais tranquila e silenciosa. Também escrevi sobre processo
criativo e desenvolvimento de um estilo pessoal, que sei que são assuntos difíceis
de abordar, pois cada um tem uma forma de entender o próprio trabalho. Aqui,
sugiro alguns exercícios que nos ajudam a entender melhor nossos interesses e
abrir mão de tantas expectativas.
Espero de coração que essa apostila seja de grande ajuda para todas vocês.
E que lhes ajudem a passar por esse período de isolamento social com mais
tranquilidade.

Beijo grande,
Bea.

Março de 2020

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Cerâmica ancestral: história e técnicas

Escrever sobre uma história da cerâmica não é tarefa fácil. Primeiro, porque não
é possível precisar quando e onde a humanidade começou a trabalhar o barro.
Segundo, porque não conseguimos pensar na cerâmica em termos de evolução
técnica, já que, em essência, ainda lidamos com a matéria da mesma forma que
nossos ancestrais. Além disso, as artes do fogo foram deixadas de lado quando
autores europeus, e posteriormente norte-americanos, começaram a desenhar
uma História da Arte “oficial” (com letras maiúsculas, porque dela nasceu a
disciplina que hoje estudamos na graduação). Me parece, portanto, que a única
forma de escrevermos uma História da Cerâmica (também em caixa alta, por que
não?) é entendê-la de forma não-cronológica e não-europeia. Um desafio de bom
tamanho para tempos decoloniais. Vamos lá. 7
Em 1925, em um sítio arqueológico na Morávia, República Tcheca,
pesquisadores descobriram sob uma fina camada de cinzas uma estatueta de
barro queimado. A escultura representava um corpo feminino volumoso, seios e
quadris fartos, e tinha pouco mais de 10 centímetros de altura. A peça, chamada
de Vênus de Dolní Věstonice, é até hoje assunto de artigos e estudos científicos,
pois consagrou-se como a mais antiga peça de cerâmica já encontrada: data de
aproximadamente 29.000 a.C – 25.000 a.C. Insere-se em um vasto conjunto de
outras estatuetas, também chamadas de Vênus, que também representam corpos
femininos e datam todas da mesma época, o Paleolítico Superior. Não se sabe ao
certo para que serviam as Vênus, mas especula-se que tinham funções rituais ou
simbólicas (podiam mesmo ser autorretratos das artistas que as produziam).
Fato é que as figuras antropomórficas em cerâmica estão espalhadas pelo
mundo. Talvez as mais famosas sejam os Guerreiros de Xian (ou Exército de
Terracota), criados por volta de 200 d.C. durante o reinado de Shihuangdi, o
fundador da Dinastia Qing, na China. São mais de oito mil soldados, além de
centenas de cavalos e carruagens, enterrados junto ao imperador, com a função de
protegê-lo depois de sua morte. Acredita-se que 700.000 pessoas trabalharam na
confecção desse enorme mausoléu, tendo demorado 38 anos para finalizar a obra.
Assim como na China, estatuetas de cerâmica, acompanhavam cerimônias
funerárias no Egito, no Japão, na América Pré-Colombiana, e outros. O tema
renderia um livro enorme e anos e anos de pesquisa dedicada. Não vou me debruçar a
fundo no assunto, mas fiquem com algumas imagens desses corpos de argila.
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Dogu (Japão, 1000 - 400 a.C.), Haniwa (Japão, século V - VI) e Urna Funerária Indígena (Amazônia, 1000 d.C.)
Há 5.000 anos, na região da Mesopotâmia, o povo sumério criou a escrita
cuneiforme. Com instrumentos em forma de cunha, eles marcavam placas de
argila que depois queimavam, caso desejassem que o documento se tornasse
permanente, ou reutilizavam, caso não precisassem mais do que estava ali escrito.
Junto com os hieróglifos egípcios, a escrita cuneiforme é a mais antiga forma de
escrita criada pela humanidade e foi amplamente utilizada na região por mais de
3.000 anos. Nas tabuletas e cilindros de argila, estão gravadas informações sobre
a agricultura, transações financeiras, registros astronômicos, e até mesmo sonhos
e notações musicais.
No entanto, a região da Mesopotâmia já tinha a sua tradição ceramista antes
das tabuletas escritas. Já produziam potes, panelas e garrafas pintadas e cozidas,
e por volta de 3.500 a.C. inventaram o primeiro torno. Aliás, eles inventaram não
só o torno, mas a roda! Usavam as rodas em carros que transportavam alimentos
e pessoas.
Nessa época, a cerâmica já estava presente em diversas culturas. A China e o
Japão já faziam cerâmica. Assim como o Egito e, logo depois a Grécia. As queimas
eram bastante rudimentares, em fogueiras ou fornos pouco eficientes. As
temperaturas não eram muito elevadas, mas nem por isso as peças eram menos
resistentes. Cada cultura desenvolvia suas próprias técnicas e estéticas e as peças
apresentavam resultados bastante diversos.
Em 2.700 a.C., os egípcios desenvolveram uma massa que, depois de queimada,
apresentava um efeito vitrificado em sua superfície. Este foi o primeiro esmalte
já criado. A pasta egípcia, como é chamada, é uma massa que contém pouca ou 9
nenhuma argila, mas ainda assim consegue ser modelada. Depois de queimada,
assume uma coloração azul ou verde e substituía a turquesa e a lápis-lazúli, que
eram difíceis de encontrar e bastante caras. Mais de 2.000 anos depois, em 575
a.C., o Portal de Ishtar foi construído na cidade da Babilônia, a pedido do rei
Nabucodonosor II. Os tijolos de cerâmica são quase todos esmaltados de azul.
As técnicas de esmaltação evoluíram muito ao longo desse tempo. Enquanto a
pasta egípcia proporcionava o efeito vitrificado depois de apenas uma queima em
baixa temperatura, os tijolos babilônicos eram prensados em moldes de madeira,
secos ao sol, queimados uma primeira vez, esmaltados e depois queimados
novamente. Os esmaltes eram compostos de cinzas de plantas, arenito e silicatos.
O azul se dava quando cobalto era acrescentado à mistura.
Mais ou menos na mesma época, entre 620 a.C. e 480 a.C., os gregos criavam
os vasos de figuras negras. Modelados a mão, decorados em ponto de couro com
engobes de diferentes cores e depois queimados a 950°C, eles ilustravam sua
mitologia e representavam seus deuses e suas histórias em potes, vasos e urnas.
Pouco depois, eles também desenvolveram a cerâmica de figuras vermelhas, que era
produzida da mesma forma e representava apenas outra manifestação estética
daqueles tempos. Pelo caráter figurativo, assim como pelos temas representados,
que foram depois apropriados pelo Império Romano, a cerâmica grega tornou-se
um marco na História da Arte, como sendo a mãe de toda a arte europeia. No
entanto, é fácil perceber o quanto a Grécia estava inserida em um contexto não-europeu de
produção estética, onde as trocas com regiões da África e do Oriente Médio eram intensas.
Nos séculos que se seguiram, as transformações políticas e sociais foram
intensas e a região da Mesopotâmia, da Grécia e do norte da África mudaram
muito. A Babilônia entrou em declínio, bem como o Egito (30 a.C.) e a Grécia.
O Império Romano nasceu (27 d.C.) e, também, as religiões Católica e Islâmica
(Maomé nasceu em 571 d.C.). Enquanto isso, a produção artística era cada
vez mais valorizada, pois assumia, pouco a pouco, um papel fundamental na
popularização religiosa e na legitimação das autoridades locais. As esculturas
em pedra eternizavam heróis e imperadores, enquanto as leis eram escritas em
pergaminhos. A cerâmica fazia parte do cotidiano e estava presente nas casas, nos
templos, nos ritos funerários: encontrou o seu lugar nos utilitários.
Na China, as dinastias sucediam-se e cada uma desejava marcar as suas diferenças
com relação às anteriores. Com isso, as louças estavam sempre mudando. Artesãos 10
especializavam-se e desenvolveram fornos, esmaltes e massas mais apropriadas
Vasos chineses das dinastias Yuan aos usos. A porcelana foi inventada pelos Chineses durante as dinastias Sui e Tang
(1271 - 1368 d.C.), Han (206 - 220 (581 d.C. – 907 d.C.), depois de milhares de anos de desenvolvimento. A história da
d.C.), Tang (581 - 907 d.C.) e Song cerâmica na China e no Japão mereceriam um capítulo à parte, mas eu não me sinto
(960 - 1270 d.C.) preparada para escrever sobre o assunto, então vejam essas imagens.
Marco Polo, grande viajante, foi responsável por apresentar aos europeus
um monte de invenções chinesas: a pólvora, a massa e a porcelana. Depois de
suas viagens, que aconteceram no final do século XIII, a cerâmica começou a se
popularizar na Europa. Com as grandes navegações, ela chegou à América e pouco
aconteceu até a invenção do Pinterest.
Bom, essa parte foi brincadeira. Muita coisa aconteceu, mas a cerâmica
utilitária não passou por transformações tão dignas de nota. A louça branca, que
imitava a porcelana, tornou-se popular. O ideal de beleza e de limpeza tornou-se o
branco, mas não é todo lugar que possui massa branca de qualidade, em depósitos
naturais. No Brasil, por exemplo, só temos uma grande jazida de barro branco.
De resto, o barro brasileiro é mais avermelhado. O problema desses ideais é que
acabam por apagar uma identidade nacional em prol de matéria prima importada.
A cerâmica indígena brasileira é mais antiga do que a chegada dos portugueses,
mas pouco sabemos das especificidades estéticas e técnicas das diversas tribos.
A não ser pela cerâmica Marajoara, que é mundialmente reconhecida, a história
da cerâmica indígena foi constantemente apagada. Hoje, enfim, a arte dos povos
originários está sendo estudada e valorizada dentro de universidades e museus.
Assim como a História da Arte, a Histórica da Cerâmica é pontuada pelo
racismo e pelo eurocentrismo. A História da Cerâmica Africana, bem como a
História da Cerâmica Americana (Sul-Americana e Norte-Americana, indígena e
ancestral) existem e merecem ser contadas. Falta informações sobre o assunto,
mas eu prometo a vocês que, muito em breve, escreverei um texto sobre isso.
Afinal, se as técnicas de modelagem, esmaltação e queima não se tornaram, nas 11
Américas e na África (com exceção do Egito), tão rebuscadas quando na Europa, no
Oriente Médio e na Ásia, que a gente possa exaltar o respeito pela ancestralidade.
As imagens a seguir visam apresentar um pouco dessas produções subalternizadas
no sentido de inspirar em vocês o desejo pelo ancestral e a vontade de se unir a essa
linhagem de mestres ceramistas que trouxeram, até nossos dias, as artes do fogo.
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Coluna da esquerda, de cima para baixo: Camarões, Angola e Ruanda.


Coluna da direita, de cima para baixo: Tanzânia, Zaire e Burkina-Faso.

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