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Este documento contém alegações finais de defesa de um adolescente acusado de tráfico de drogas. A defesa argumenta que (1) não há provas da materialidade do crime devido à ausência de laudos toxicológicos, (2) também não há provas suficientes da autoria do crime, e (3) existem indícios de que o adolescente foi usado pela polícia para forjar um flagrante contra um traficante conhecido. Dessa forma, pede a absolvição do adolescente.
Descriere originală:
Titlu original
Alegações Finais Ato Infracional Jef Tráfico 1.docx
Este documento contém alegações finais de defesa de um adolescente acusado de tráfico de drogas. A defesa argumenta que (1) não há provas da materialidade do crime devido à ausência de laudos toxicológicos, (2) também não há provas suficientes da autoria do crime, e (3) existem indícios de que o adolescente foi usado pela polícia para forjar um flagrante contra um traficante conhecido. Dessa forma, pede a absolvição do adolescente.
Este documento contém alegações finais de defesa de um adolescente acusado de tráfico de drogas. A defesa argumenta que (1) não há provas da materialidade do crime devido à ausência de laudos toxicológicos, (2) também não há provas suficientes da autoria do crime, e (3) existem indícios de que o adolescente foi usado pela polícia para forjar um flagrante contra um traficante conhecido. Dessa forma, pede a absolvição do adolescente.
EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA 1º VARA
CÍVEL DA COMARCA DE CAMBORIÚ/SC
Autos nº 0001604-12.2017.8.24.0113 Autor: Ministério Público do Estado de Santa Catarina Representado: Jeferson Mateus Rosa dos Santos
JEFERSON MATEUS ROSA DOS SANTOS, já qualificado nos autos do processo
em epígrafe, através do seu defensor dativo devidamente nomeado, vem respeitosamente e tempestivamente, perante este juízo, com fulcro no art. 193, §1º da Lei 8069/1990, oferecer
ALEGAÇÕES FINAIS em forma de MEMORIAIS
pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas:
MM. Juíza,
O adolescente responde a Procedimento de Apuração de Ato Infracional, em
razão da suposta prática de conduta similar ao crime descrito no art. 33, da Lei nº 11.343/06, sendo que ao final o douto representante do “Parquet” requereu o reconhecimento da prescrição da pretensão educativa do Estado. Entretanto, nos autos há provas suficientes para que o Representado seja absolvido por negativa de fato e de autoria. Levando em consideração que é um direito fundamental do Representado postular sua absolvição com base nos fundamentos legais presentes no art. 386 do CPP, não poderá o desinteresse do Estado em ver o Representado processado, por motivos prescricionais, impedir o mesmo de ver reconhecido pelo Judiciário a sua posição de ser, de fato, inocente. Primeiramente, cabe ressaltar, que não existem quaisquer comprovações da materialidade do delito. Isto porque inexistem nos autos quaisquer laudo comprovando que o material, supostamente apreendido, tratava-se de substâncias aptas a causar dependência física e psíquica. Ressalta-se: não existe, sequer, o exame prévio de entorpecente, e muito menos o laudo definitivo. Os §1º e 2º do art. 50 da Lei 11.343/06 dispõe: “§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea. § 2º O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1.º deste artigo não ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.” Pois bem, como não se encontram acostado nos autos nem o laudo de constatação, que indicaria se de fato o material apreendido, efetivamente, é uma droga incluída na lista da Anvisa, a disposição do art. 158 do CPP não resta cumprida. “Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado”. É pacifico na jurisprudência a necessidade de comprovação, por meio de laudo toxicólogo, da materialidade do crime de tráfico para a condenação. Vejamos: HABEAS CORPUS. PENAL E PROCESSO PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. LAUDO TOXICOLÓGICO DEFINITIVO. AUSÊNCIA. IMPRESCINDIBILIDADE PARA A COMPROVAÇÃO DA MATERIALIDADE DO DELITO DE TRÁFICO. RESSALVA DO ENTENDIMENTO DA RELATORA. ABSOLVIÇÃO QUANTO AO DELITO DE TRÁFICO. PEDIDO DE EXTENSÃO. SIMILITUDE DE SITUAÇÃO PROCESSUAL. INEXISTÊNCIA DE EMPECILHO INERENTE A CIRCUNSTÂNCIA DE CARÁTER EXCLUSIVAMENTE PESSOAL. APLICAÇÃO DO ARTIGO 580 DO CPP. POSSIBILIDADE. PLEITO DEFERIDO. 1. A Terceira Seção desta Corte, nos autos do Eresp n.º 1.544.057/RJ, em sessão realizada 26.10.2016, pacificou o entendimento no sentido de que o laudo toxicológico definitivo é imprescindível para a condenação pelo crime de tráfico ilícito de entorpecentes, sob pena de se ter por incerta a materialidade do delito e, por conseguinte, ensejar a absolvição do acusado. Ressalva do entendimento da Relatora. 2. Na espécie, não consta dos autos laudo toxicológico definitivo, não tendo as instâncias de origem logrado comprovar a materialidade do crime de tráfico de drogas, sendo de rigor a absolvição quanto ao referido delito. (...) (PExt no HC 399.159/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 08/05/2018, DJe 16/05/2018)
Sendo assim, pela inexistência de provas da materialidade delitiva, o
Representado deverá ser absolvido nos termos do art. 386, II ou III.
Continuando: se não existem provas concretas a respeito da materialidade,
também não existem provas quanto a autoria. Isto porque, diante das provas acostadas nos autos, fica óbvio o uso do menor apreendido para, exclusivamente, “estourar” a boca de fumo do conhecido traficante da região André Luiz Damaceno. Percebe-se uma série de desencontros nas alegações dos policiais, primeiro porque é bem difícil acreditar que realmente um intermediário para venda de drogas, deduraria, por livre e espontânea vontade, a casa do seu chefe de tráfico. É de conhecimento público as consequências de quem faz isso, caso esteja de fato inserido neste tipo de prática criminosa. Em segundo, percebe-se na inquirição do próprio Representado, às fls. 18, que o mesmo não conhecia as pessoas da casa, nem seus nomes, e que não presenciou a apreensão das drogas visto que permaneceu no camburão durante a vistoria do interior na residência. É perceptível, inclusive, que na audiência de interrogatório do representado em sede judicial o mesmo passou a ter uma atitude completamente diversa da anteriormente registrada em sede policial. Veja bem, ele foi o “motivo” de terem “estourado” a casa de André Luiz Dameceno, depois foi entregue a sua família conforme termo de entrega de adolescente (às fls. 8). Ressalta-se que tanto ele, bem como sua família, são moradores do Bairro Monte Alegre. Pois bem, em sede policial ele fala que não mora na residência, que não sabe direito quem é o dono da casa que entraram, que sabe que lá ficam os “piás do morro”, e que provavelmente o “dono” é o André. Realizou todo o interrogatório de modo consistente, calmo, fluído, sem se contradizer a qualquer momento. Entretanto, no depoimento em sede judicial, podemos perceber que o mesmo se contradiz a todo momento, sempre objetivando livrar o André da culpabilidade da denúncia. Afirma neste interrogatório que a casa que fora realizada a busca e apreensão tratava-se da sua residência, não a de André, que André não é traficante, e que era apenas seu vizinho, morador da casa ao lado. Que André é inocente, e ele culpado. PORÉM no começo do mesmo interrogatório ele afirma morar na rua Monte Meru, 534 (4:54 minutos, do interrogatório das fls. 97), o que é exatamente o que consta no termo de declaração acostado às fls. 9, sendo que o local do fato, onde a droga foi apreendida, é na Rua Rosa Branca, 361 (fls 1, e depoimentos dos policiais). Vejamos no Google Maps:
Fica claro que o Representado mentiu em seu interrogatório em sede judicial
para livrar André da acusação, pois apesar de morar relativamente perto, não existe maneira dos policiais terem confundido uma residência com a outra. Sendo assim, por morarem no mesmo bairro, podemos imaginar a que tipo de pressão o Representado passou por ter sido o “bode expiatório” da ação da polícia militar. Para piorar, os Policiais afirmam que a residência era bem característica, tipicamente local de boca de fumo, quase sem móveis, somente com sofá, sem cama. Porém, os policiais afirmam ter encontrado, exatamente num ambiente como o descrito, um item TÃO PESSOAL quanto uma fotografia, o que comprovaria tratar-se, portanto, da boca de fumo do André. Pois bem Vossa Excelência, nos autos contam supostamente apreendidas drogas que não foram periciadas (nem fotos existem), uma estranha fotografia, uma faca de 21 cm, e uma balança. Não foi apreendido dinheiro, o Representado foi abordado perto da sua real residência, e os policiais afirmam que André é conhecido por todos como traficante. Afirmam também que o Representado, apesar de NUNCA ter sido abordado por esse motivo, também seria conhecido por ser traficante, afinal já tinham o visto fazendo “corres” na região (fica a indagação do porque então não o prenderam anteriormente em flagrante, com provas mais concretas do que as desse processo). Por estes fatos, fica em dúvida se não ocorreu, por acaso, um flagrante forjado, com o intuito de adentrar na residência da Rua Rosa Branca, 361, para verificar se era de fato uma boca de fumo do conhecido traficante André. Ressalta-se que o Representado, infelizmente, pode ter sido sim usado somente para esse fim, visto, que por morar relativamente perto do local, poderia ser apenas um transeunte passando pela rua. Ressalta-se que foi exatamente essa versão que o Representado falou em seu interrogatório em sede policial. Nesse norte já decidiu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina: "A condenação pela prática do crime de tráfico ilícito de entorpecentes somente poderá ocorrer quando cabalmente comprovada a subsunção dos fatos concretos a uma das hipóteses do art. 33 da Lei n. 11.343/2006, cujo tipo é multifacetado. Todavia, no processo penal, a dúvida não pode militar em desfavor do réu, haja vista que a condenação, como medida rigorosa e privativa de uma liberdade pública constitucionalmente assegurada (CF/88, art. 5º, XV, LIV, LV, LVII e LXI), requer a demonstração cabal da autoria e materialidade, pressupostos autorizadores da condenação, e em sendo a prova nebulosa e contraditória quanto à autoria do delito, a absolvição é medida que se impõe, em observância ao princípio do in dubio pro reo" (ACrim n. 2010.002335-3, Desa. Salete Silva Sommariva, j. 22.06.2010). Então, se não for pela inexistência de provas da materialidade delitiva, o Representado deverá ser absolvido por insuficiência probatória diante da ausência de demonstração efetiva da autoria delitiva, nos termos do art. 386, VII do CPP. De qualquer forma, V. Excelência, conforme pontuado pelo MP, a pretensão educativa do Estado encontra-se prescrito, nos termos do art. 109, V c/c o art. 115, ambos do Código Penal, e portanto, mesmo não sendo as teses previstas aqui abarcadas pelo Excelentíssimo magistrado, não deverá ser aplicado quaisquer medidas socioeducativas no presente caso.
Diante de todo exposto requer:
1) A absolvição ante a inexistência de provas da materialidade delitiva, nos
termos do art. 386, II ou III do CPP, visto que nem o laudo de constatação foram juntados ao autos; 2) Subsidiariamente, requer-se a absolvição por insuficiência probatória acerca da autoria delitiva, nos termos do art. 386, VII do CPP; 3) Seja declarado a prescrição da pretensão educativa do Estado, com fundamento no art. 109, inciso V c/c o art. 107, IV, bem como art. 115 todos do CP, além dos artigos 103 e 104, §único, da Lei nº 8.069/90.