Sunteți pe pagina 1din 7

Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 512.401 - SP (2003/0027639-5)

RELATÓRIO

EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA:


Maria Cesaltina Conceição Duarte , cidadã portuguesa e ora recorrida,
ajuizou ação de investigação de paternidade cumulada com anulação de registro de
nascimento contra Júlio Simões , cidadão português e ora recorrente, e também contra
Maria Manuela Conceição Fernandes e Maria Celeste Costa , igualmente cidadãs
portuguesas e herdeiras do declarado pai Antônio Joaquim Cristóvão , marido da mãe
da autora.
Alega a autora que seu registro de nascimento, ocorrido na República de
Portugal por meio de declaração paterna, é falso ideologicamente, sendo o primeiro réu
seu verdadeiro genitor.
O MM. Juízo de primeiro grau, proferindo despacho saneador, rejeitou as
preliminares levantadas pelo réu Júlio Simões de impossibilidade jurídica do pedido,
decadência, prescrição, ilegitimidade ativa, litisconsórcio passivo, falta de interesse de
agir e inaplicabilidade da Legislação Brasileira.
O réu/recorrente, então, interpôs agravo de instrumento para o eg.
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que manteve, por maioria, a decisão
monocrática. Opostos embargos de declaração, o eg. Tribunal de origem rejeitou-os em
v. acórdão assim ementado:

"Investigação de Paternidade. Cumulação com anulação de


registro. Pedidos possíveis. CPC, 292. Código Civil, art. 348. Situações
de fato que justificam a cumulação das ações. Registro feito no
estrangeiro. Aplicação da lei brasileira a quem reside no país. Alegada
afronta aos arts. 7° e 13 da Lei de Introdução e 178, §9°, VI, 340, 344 e
362 do Código Civil e 27 da Lei n. 8.069/90. Prescrição e decadência
afastadas. Agravo improvido. Embargos de Declaração. Alegada
existência de omissões quanto à afirmação de decadência e posse de
estado de filho e de litisconsórcio passivo e de submissão a exame
hematológico só após anulação do registro. Alegação de contradição em
relação ao prévio cancelamento do registro. Embargos rejeitados." (fl.
187).

Irresignado, o réu Júlio Simões interpôs recurso especial com fundamento


nas alíneas "a" e "c", por alegada afronta aos arts. 7° da Lei de Introdução ao Código
Civil; 178, §9°, VI, 340, 344 e 362 do Código Civil; 27 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, e 3° do Código de Processo Civil, bem como dissídio pretoriano,

Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 1 de 7


Superior Tribunal de Justiça

sustentando aplicação do direito luso, decadência e falta de interesse de agir da


recorrida.
Respondido, o recurso foi admitido na origem, ascendendo os autos a
esta Corte.
O recorrente ajuizou, ainda, medida cautelar com pedido de liminar (MC
5.832/SP) a fim de ser atribuído efeito suspensivo ao mencionado recurso especial,
tendo sido deferida em parte por decisão da lavra do eminente Ministro Ruy Rosado de
Aguiar (fl. 347), de modo a suspender apenas o exame de DNA.
O douto Ministério Público Federal ofereceu parecer pelo não
conhecimento do recurso.
É o relatório.

Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 2 de 7


Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 512.401 - SP (2003/0027639-5)

EMENTA

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO E CIVIL.


INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DE ESTRANGEIRO. REGISTRO
EM SUA PÁTRIA DE ORIGEM. APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO
BRASILEIRA.

O elemento de conexão, no conflito de leis no espaço,


estipulado no ordenamento pátrio, é o domicílio da pessoa. Ainda que a
concepção, o nascimento e o registro da investigante tenham ocorrido no
exterior, estando ela domiciliada no Brasil, deve ser aplicado o
ordenamento nacional.
A demanda pela paternidade real, fundada na falsidade de
registro, não tem prazo decadencial, mesmo antes da promulgação da
Carta Magna. Precedente da Segunda Seção.
A ação de investigação de paternidade não depende da
prévia propositura da ação anulatória do assento de nascimento do
investigante, tendo o filho interesse de buscar a paternidade real, a
despeito de reconhecido como legítimo por terceiro com falsidade
ideológica.
Recurso não conhecido.

VOTO

EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator):


Não merece prosperar o inconformismo.
1. Quanto à suposta ofensa ao art. 7° da Lei de Introdução ao Código Civil,
sustenta o recorrente a subsunção do ordenamento português, "pois todas as situações
que envolvem o caso se deram em Portugal e todas as pessoas envolvidas são
portuguesas." (fl. 225).
Na espécie, a autora foi registrada na República de Portugal, pelo marido
de sua mãe, que, após seu nascimento, emigrou para o Brasil, onde são hoje
domiciliados tanto a recorrida como o recorrente.
A competência da jurisdição brasileira para conhecer do feito é
determinada pelo art. 88, I, do Código de Processo Civil, tendo em vista o local de
domicílio do réu.
Assentada a competência internacional, resta questão distinta relativa ao
ordenamento normativo aplicável à hipótese, se luso ou brasileiro, existindo conflito de
Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 3 de 7
Superior Tribunal de Justiça

leis no espaço. Nesse caso, é o elemento de conexão estabelecido pelo Estado


competente que indicará a legislação substancial incidente, restando desimportante
aquele indicado pela legislação lusa.
O ordenamento pátrio, seguindo o entendimento de Teixeira de Freitas e
de Savigny, acolheu o domicílio como elemento de conexão principal. Isto é, nos
conflitos entre o Direito nacional e o estrangeiro, prevalecerá a lei de domicílio da
pessoa, a teor do art. 7° da Lei de Introdução ao Código Civil, in verbis:

"Art. 7°. A lei do país em que for domiciliada a pessoa


determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a
capacidade e os direitos de família."

Com efeito, ainda que a lide seja entre estrangeiros ou que a concepção,
o nascimento e o registro tenham ocorrido alhures, tratando-se de direito de família e
estando a autora domiciliada no Brasil, é o ordenamento nacional que deve ser
considerado na solução da lide, haja vista a lex fori sobre conflito de leis no espaço.
Na realidade, o domicílio foi estabelecido como referência para o Direito
incidente, sobretudo tendo em vista a grande imigração ocorrida no País, gerando
conflitos entre pessoas das mais diversas nacionalidades, nada obstante o animus de
fixação definitiva em solo pátrio.
Assim, a fim de evitar a aplicação freqüente de leis alienígenas, entre elas,
as de potências inimigas durante a Segunda Guerra Mundial, estabeleceu-se o domicílio
da pessoa quando da propositura da demanda como referencial na Lei de Introdução ao
Código Civil. Ou seja, o ordenamento incidente independe da nacionalidade ou mesmo
do domicílio considerado à época dos fatos, ao contrário do argumentado pelo
recorrente.
In casu, o elemento de conexão que atrai a incidência das normas
brasileiras resta configurado: a autora tem domicílio em São Paulo-SP, devendo a
controvérsia ser sanada à luz do Direito material brasileiro.
Dessa forma, correto o acórdão recorrido, que entendeu incidente o
ordenamento brasileiro na espécie.
2. No que tange à alegada violação dos arts. 178, § 9°, VI, e 362 do Código
Civil de 1916 e 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente e ao dissídio pretoriano, o
recorrente afirma a decadência do direito da recorrida, tendo em vista o decurso do
prazo para impugnar o reconhecimento da paternidade antes da vigência da
Constituição de 1988.
Todavia, a col. Segunda Seção desta Corte pacificou recentemente
entendimento no sentido de que a aplicação dos arts. 178, § 9°, VI, e 362, CC/1916,

Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 4 de 7


Superior Tribunal de Justiça

refere-se apenas à hipótese de reconhecimento de filho natural - isto é, a ação que


impugna, sem necessário fundamento de falsidade, o reconhecimento de prole nascida
fora do casamento -, e não às demandas que pretendem comprovar a falsidade
ideológica de registro, seja de filhos legitimados, seja dos legítimos (EREsp
237.553/RO, relator para acórdão Ministro Ari Pargendler, julgado em 12.02.2003).
Dessarte, a ação de investigação de paternidade que pretende provar a
falsidade ideológica de registro não tem prazo decadencial, ainda antes da vigência da
atual Carta Magna, tendo em vista inaplicabilidade dos aludidos dispositivos da Lei Civil
ao caso em comento. A propósito, confiram-se os seguintes precedentes já seguindo a
orientação firmada pela col. Segunda Seção:

"CIVIL E PROCESSO CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA DE


REGISTRO. PATERNIDADE. FALSIDADE. LEGITIMIDADE.
DECADÊNCIA. ART. 178, § 6º, XII, CÓDIGO CIVIL DE 1.916.
INAPLICABILIDADE. IMPRESCRITIBILIDADE. ORIENTAÇÃO DA
SEGUNDA SEÇÃO. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA AOS PRAZOS
PRESCRICIONAIS. BUSCA DA VERDADE REAL. RECURSO
PROVIDO. DECADÊNCIA AFASTADA.
(...)
II - O art. 178, § 6º, XII do Código Civil de 1.916 tratava da
ação dos herdeiros de filho falecido que viessem a postular a declaração
judicial da filiação desse 'filho'. No caso, diferentemente, trata-se de ação
de irmão contra irmã, fundada no art. 348 do mesmo diploma legal,
requerendo a nulidade do registro dessa última.
III - Nesse caso, é de aplicar-se a orientação de ser
'imprescritível o direito ao reconhecimento do estado filial, interposto com
fundamento na falsidade do registro'.
IV - A orientação da Segunda Seção deste Tribunal,
relativamente aos prazos prescricionais nas ações de paternidade, tem
sido pela interpretação restritiva. A preocupação com a insegurança para
as relações de parentesco deve ceder diante do 'dano que decorre da
permanência de registro meramente formal, atestando uma verdade que
sabidamente não corresponde ao mundo dos fatos'." (REsp 139.118/PB,
relatado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ
25.08.2003).

"Civil. Investigação de paternidade. Registro civil. Anulação.


Prescrição.
I. - O direito do filho de buscar a paternidade real, com
pedido de anulação retificação de registro de nascimento em caso de
falsidade praticada pela mãe é imprescritível, não se aplicando o disposto
no art. 178, § 9º, VI, do Código Civil. Precedentes.
II. - Decisão mantida, porque em sintonia com a
jurisprudência mais moderna e majoritária desta Corte.
III. - Agravo regimental desprovido." (AGREsp 440.472/RS,
Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 5 de 7
Superior Tribunal de Justiça

relatado pelo eminente Ministro Pádua Ribeiro, DJ 19.05.2003).

"INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. Decadência.


Não se extingue o direito de o filho investigar a paternidade e
pleitear a alteração do registro, mesmo quando vencido integralmente,
depois da maioridade, o prazo de quatro anos.
Precedentes da Segunda Seção.
Recurso não conhecido." (REsp 208.788/SP, relatado pelo
eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ 22.04.2003).

Portanto, incidente o verbete n. 83 da Súmula desta Corte.


3. Relativamente à alegada ofensa ao art. 3° do Código de Processo Civil,
tampouco assiste razão ao recorrente.
De fato, a jurisprudência deste Tribunal firmou-se no sentido de que a
ação de investigação de paternidade não depende da prévia propositura da ação
anulatória do assento de nascimento do investigante, mas o filho com registro completo
tem interesse de buscar a paternidade real, a despeito de reconhecido como legítimo
por terceiro com falsidade ideológica. A propósito, confiram-se os seguintes
precedentes:

"AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE


PROPOSTA POR QUEM TEM EM SEU REGISTRO CIVIL DE
NASCIMENTO A DECLARAÇÃO DE SER FILHO LEGÍTIMO, NÃO
HAVENDO CONSTESTAÇÃO DO PAI REGISTRAL. POSSIBILIDADE
JURÍDICA DO PEDIDO, INDEPENDENTEMENTE DE PRÉVIA
ANULAÇÃO DO REGISTRO.
A falsidade do registro de nascimento pode ser
demonstrada no âmbito da ação investigatória de paternidade. A
procedência do pedido conduz ao cancelamento do registro, não se
exigindo pedido expresso nem muito menos ação própria.
Inaplicabilidade dos artigos 178, §9º, VI e 362 do Código
Civil, pois imprescritível o direito do filho de buscar a paternidade real.
Precedentes.
Recurso especial conhecido e provido." (REsp 162.028/MG,
por mim relatado, DJ 18.03.2002).

"Ação de investigação de paternidade. Anulação de registro.


Decadência. Precedentes.
1. É imprescritível o direito do filho a buscar a paternidade
real. Se há a prova da falsidade do registro, e se provada fica a
paternidade reclamada, não é possível impor prazo para a anulação do
registro, confirmada a falsidade.
2. Como bem anotado no precedente da Corte, o
cancelamento do registro será sempre uma simples conseqüência do
resultado da ação de investigação de paternidade.

Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 6 de 7


Superior Tribunal de Justiça

3. Recurso especial conhecido e improvido." (REsp


158.086/MS, relatado pelo eminente Ministro Carlos Alberto Menezes
Direito, DJ 28.08.2000).

"INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. CANCELAMENTO


DE REGISTRO. EFEITO DA SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. O FATO
DE O INVESTIGANTE ESTAR REGISTRADO COMO FILHO DE
OUTREM NÃO IMPEDE A PROPOSITURA DA AÇÃO, SENDO
DESNECESSÁRIO CUMULAR O PEDIDO COM DE CANCELAMENTO
DO REGISTRO PORQUE ESSE SERA O EFEITO DA SENTENÇA
QUE DER PELA PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.
PRECEDENTE.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO." (REsp
114.589/MG, relatado pelo eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, DJ
19.12.1997).

"INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. ALEGAÇÃO DE


FALSIDADE DO REGISTRO DE NASCIMENTO. NADA OBSTA QUE
SE PROVE A FALSIDADE DO REGISTRO NO ÂMBITO DA AÇÃO
INVESTIGATÓRIA DE PATERNIDADE, A TEOR DA PARTE FINAL DO
ART. 348 DO CÓDIGO CIVIL. O CANCELAMENTO DO REGISTRO,
EM TAIS CIRCUNSTANCIAS, SERA CONSECTÁRIO LOGICO E
JURÍDICO DA EVENTUAL PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE
INVESTIGAÇÃO, NÃO SE FAZENDO MISTER, POIS, CUMULAÇÃO
EXPRESSA.
RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO." (REsp
40.690/SP, relatado pelo eminente Ministro Costa Leite, DJ 04.09.1995).

4. Além disso, as alegações de integração da genitora da recorrida no


pólo passivo da demanda e da impossibilidade de o recorrente sujeitar-se à perícia
antes de comprovado que o marido da mãe da autora não é seu pai biológico estão
deficientemente fundamentadas, ante a ausência de indicação de norma federal violada
ou de divergência jurisprudencial, incidindo o verbete n. 284 da Súmula do Pretório
Excelso, no ponto.
5. Diante desses pressupostos, não conheço do recurso especial e
revogo a liminar concedida na MC 5832/SP, a qual julgo prejudicada pela perda de seu
objeto.

Documento: 912762 - RELATÓRIO E VOTO - Site certificado Página 7 de 7

S-ar putea să vă placă și