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Título: O trabalho do psicólogo na perspectiva da legislação e de profissionais de Direito da

Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

São Paulo
2016

RESUMO

Palavras-chave: psicologia jurídica; Defensoria Pública; interdisciplinaridade.

A Psicologia vem se fazendo presente nos mais variados setores da sociedade brasileira ao longo
de sua história. Uma das áreas nas quais a atuação do psicólogo foi demandada é a jurídica, na
qual o desenvolvimento e convivência de diversas práticas constituiu um importante campo de
trabalho para os psicólogos. O objetivo deste trabalho foi investigar noções acerca do trabalho do
psicólogo na interface com o Direito, focando as diretrizes do trabalho e atribuições deste
profissional na Defensoria Pública do Estado de São Paulo, por meio da análise da legislação que
rege a instituição, bem como de uma experiência de estágio nela realizado. Para tanto foi
realizada a análise das deliberações do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado de
SP referentes ao trabalho do psicólogo na instituição, além de observação no cotidiano da
Unidade de atendimento central da cidade de São Paulo a fim de se verificar como os sentidos
são construídos. Os pontos de análise foram apresentados levando em conta o princípio da
interdisciplinaridade e suas implicações. A análise das práticas discursivas presentes na
legislação da DPESP trouxe à tona duas perspectivas acerca do trabalho do psicólogo na
instituição. A primeira delas voltada ao apoio, dentro de um modelo de subordinação da
Psicologia com relação ao Direito ou do trabalho do psicólogo em relação aos profissionais de
Direito, que tem frequentemente despertado questionamentos e um mal-estar devido à
necessidade de autonomia profissional. A segunda perspectiva é voltada à complementaridade da
Psicologia com relação ao Direito, no sentido de atuar como uma ciência independente e não
como uma especialidade técnica voltada unicamente ao auxílio da prática jurídica. Foi possível
perceber que ambas as modalidades atravessam a relação interdisciplinar na DPESP e que esta
tem se expressado entre uma abordagem mais reflexiva e crítica e uma abordagem mais
relacionada à funcionalidade.

Área de conhecimento: 7.07.05.00-3 - Psicologia Social.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
1.1 Breve histórico da relação entre Psicologia e Justiça........................................................2
1.2 A Defensoria Pública no Brasil e no Estado de São Paulo.................................................6
1.3 A inserção do psicólogo na Defensoria Pública do Estado de São Paulo..........................11
1.4 Justificativa e objetivo..................................................................................................13
2 METODOLOGIA................................................................................................................14
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................................19
3.1 Apoio........................................................................................................................... 20
3.2 Complementaridade.....................................................................................................22
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................26
5 REFERÊNCIAS...................................................................................................................27
ANEXO A.....................................................................................................................................31
ANEXO B.....................................................................................................................................36
ANEXO C.....................................................................................................................................42
1

1 INTRODUÇÃO

A Psicologia vem se fazendo presente em diversos setores da sociedade ao longo de sua


história. A quantidade e a complexidade de demandas existentes levaram o psicólogo a atuar em
inúmeros contextos. Hoje em dia, é possível encontrar psicólogos na área da Saúde, da
Educação, do Trabalho, entre outras; em acréscimo à hegemonia da área clínica, pela qual a
ciência psicológica mais se destacou ao longo do século XX.
Uma das áreas nas quais o saber psicológico foi se constituindo como saber científico é a
jurídica. Por meio da produção de laudos e pareceres baseados no psicodiagnóstico, a Psicologia
Jurídica firmou-se como área de atuação, estabelecendo a Justiça como um importante campo de
trabalho para os psicólogos.
À medida que a Psicologia foi se desenvolvendo como ciência, também a atuação do
psicólogo jurídico sofreu transformações. Com o advento das teorias críticas, passou-se a
compreender um novo homem, cuja subjetividade é decorrente de determinações histórico-
sociais, o que levou muitos profissionais a reverem suas práticas. Aliadas a isso, diversas
transformações políticas e sociais, como as ocorridas na década de 80 do século passado no
Brasil, fizeram com que a atuação do psicólogo permanecesse objeto de constantes debates e
problematizações que perduram até os dias atuais.
Uma das instituições nas quais o trabalho do psicólogo foi demandado é a Defensoria
Pública do Estado de São Paulo (DPESP). Em 2010, psicólogos e assistentes sociais passaram a
compor a equipe de profissionais da instituição a fim de promover um atendimento integral aos
usuários por meio de uma atuação interdisciplinar. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é
compreender a noção acerca do trabalho do psicólogo na perspectiva da legislação da DPESP,
bem como na perspectiva dos profissionais de Direito que nela atuam.
Para tanto, será apresentado inicialmente um breve histórico da relação entre Psicologia e
Justiça, mostrando alguns dos caminhos que ela percorreu e alguns de seus desdobramentos ao
longo de sua história no Brasil, contextualizando a mudança de pensamento no que diz respeito
às bases da ciência psicológica.
Em segundo lugar, será exposto um histórico acerca da Defensoria Pública como
instituição no país, sua criação no Estado de São Paulo, sua estrutura e organização. Em seguida,
será apresentado um histórico sobre como se deu a inserção de psicólogos e assistentes sociais na
equipe de atendimento e a justificativa e objetivo deste trabalho.
Em terceiro lugar, serão apresentados a teoria e o método utilizados, bem como os
procedimentos de pesquisa que foram seguidos. Por fim, segue a discussão acerca das
informações identificadas e as considerações finais.
2

1.1 Breve histórico da relação entre Psicologia e Justiça

Historicamente, as primeiras aproximações da Psicologia com a Justiça se deram na


segunda metade do século XIX, na Europa, por meio do Direito Penal e da Criminologia.
Conforme Leal (2008), em 1868 o médico francês Prosper Despine publicou o livro Psychologie
Naturelle contendo estudos da personalidade de sujeitos que haviam cometido graves crimes na
época e concluiu, ao investigar as particularidades psicológicas dos sujeitos, que nenhum deles
apresentava enfermidade física ou mental, mas que suas “anomalias” diziam respeito às suas
“tendências” e a seu “comportamento moral”. Isso abriu espaço para que psicólogos, em
conjunto com psiquiatras, começassem a realizar estudos baseados no psicodiagnóstico, para
comprovar ou não a anormalidade do criminoso.
Outra prática que se desenvolveu na mesma época foi a chamada Psicologia do
Testemunho – estudo do relato de um sujeito nos processos jurídicos, por meio da análise
experimental dos processos psicológicos básicos (percepção, atenção, pensamento, memória,
etc.) a fim de atestar sobre a sua fidedignidade. Esta prática teve origem na França e Alemanha,
baseada em trabalhos de Alfred Binet sobre a sugestionabilidade da memória das crianças, e de
Karl Marbe e Hugo Munsterberg, que ressaltavam os problemas da vulnerabilidade das
testemunhas, além de erros perceptivos e de memória do sujeito que presenciasse um delito.
No Brasil, a relação entre a Psicologia e a Justiça remonta ao início do século XX. As
Faculdades de Direito foram as primeiras a criar cadeiras para o ensino de Psicologia na primeira
metade do século passado. Em 1938, ocorreu o I Congresso Paulista de Psicologia, Neurologia,
Psiquiatria, Endocrinologia, Identificação, Medicina Legal e Criminologia, onde trabalhos sobre
Psicologia aplicada ao Direito foram apresentados no campo da Criminologia.
Em 1939, foi criado o Instituto de Biotipologia Criminal da Penitenciária de São Paulo. Os
sujeitos que cumpriam penas eram analisados biológica e psicologicamente por meio do Estudo
da Biotipologia Criminal, que incluía em seu enquadre psicológico: estudo do comportamento do
sujeito, métodos psicográficos, testes Rorschach, questionários íntimos, desenhos e exames
experimentais com testes. O objetivo era certificar-se do grau de periculosidade que os sujeitos
continham e assim poder reeducá-los para que pudessem voltar a viver em sociedade. Além
disso, os resultados do Estudo poderiam servir como base para a prevenção e o desenvolvimento
de instrumentos de previsão de possíveis delitos.
Outro campo no qual a Psicologia foi demandada no Brasil nesta época foi o da assistência
social. Desde a promulgação do Código de Menores em 1927, o juiz de menores encaminhava
crianças e adolescentes para o Instituto de Pesquisa do Serviço Social de Menores para que
fossem realizados estudos biotipológicos e medico-psicopedagógicos. Após avaliação, a equipe
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emitia pareceres e indicava medidas de educação ou tratamento, e orientações para auxiliar a


decisão judicial.
Em 1950, foi implantado o Serviço de Colocação Familiar, em São Paulo, no qual se dava
assistência para crianças com até 14 anos e de famílias pobres, colocando-os, de forma
provisória e remunerada, em um lar substituto, até que a família de origem se “reajustasse às
condições consideradas normais”, evitando-se a internação.
Além de continuar atuando nesses e em outros serviços do juizado de menores, em 1956 o
psicólogo foi inserido informalmente no Tribunal de Justiça, integrando as equipes
interprofissionais para realização de avaliações e diagnósticos e, posteriormente, com a
promulgação do novo código de menores em 1979, começou a atuar nas audiências
interprofissionais junto aos assistentes sociais, inicialmente na vara central e depois nas varas
regionais.
Com o advento das teorias críticas nos anos 70 do século passado, as práticas psicológicas
passaram a ser problematizadas. Na América Latina, teóricos e profissionais passaram a
questionar o modelo de psicologia positivista que se tornou hegemônico principalmente após a
Segunda Guerra Mundial (ALMEIDA, 2012). Pressionados pelos regimes militares no
continente latino-americano e vendo a necessidade de uma psicologia que pudesse enfrentar as
desigualdades sociais existentes, começaram a apresentar suas críticas e propostas de
reformulação de paradigmas para a psicologia latino-americana (SPINK, 2006). As principais
críticas se referiam às práticas que pressupunham uma subjetividade natural que podia ser
analisada e descrita por meio de técnicas objetivas, muitas vezes sendo utilizadas de forma
reducionista.
A título de exemplo, podemos citar os resultados obtidos através de exames realizados pelo
Instituto de Biotipologia Criminal de São Paulo. Segundo Martins (1995), em um dos estudos
realizados sobre a relação entre a biotipologia e comportamento criminoso, analisou-se a
criminalidade de portadores de sífilis. Baseando-se nas informações de que cinquenta por cento
dos internos na época eram portadores da doença e que a maioria dos internos era mulata,
constatou-se que havia uma predisposição dessa “raça” em adquirir a doença, devido a sua
“promiscuidade e falta de higiene”, além do fato de ser uma mistura entre o branco e o negro, o
que levava a mais disfunções genéticas, mais disposição a práticas sexuais e maior facilidade de
contaminação venérea. Para concluir a análise, uma vez que a maioria dos internos estava presa
por furto e roubo, afirmou-se que um dos efeitos nocivos da sífilis era a predisposição dos
indivíduos a tendências degenerativas. Ou seja, concluiu-se que mulatos tinham maior potencial
criminoso. Esclarece Martins (1995):
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A preocupação quanto ao perigo não deveria se ater apenas ao homem


que já havia cometido o crime. Antes, as atenções deveriam ser dirigidas
para os sujeitos potencialmente perigosos, que se encontravam no
anonimato das multidões. Estes eram apontados pela Biotipologia:
"vagabundos, bêbados habituais, loucos, epiléticos, menores desocupados
e sem família, deficientes ou atrasados". Todos esses eram sujeitos
potencialmente perigosos, pois eram portadores de uma "latente
periculosidade criminal". (MARTINS, 1995, p. 49)

Num segundo exemplo, na atuação do psicólogo em conjunto com a assistência social


analisava-se o porquê de um indivíduo ou uma família estar numa situação de carência e miséria,
como se isso fosse uma questão de caráter individual. Assim, esperava-se que o psicólogo
pudesse analisar quais eram as “motivações internas” que levavam esta pessoa a ter um
comportamento desviante da norma. Havia uma perspectiva de indivíduo normal, de família
normal, a qual todos deveriam se adaptar.
Do ponto de vista das teorias críticas, os pressupostos da psicologia que embasava estas
práticas carregam contradições. A incorporação do modelo biológico pela Psicologia, trazendo
uma analogia entre o meio natural e o meio social, não é aleatória, mas carrega a ideia de que o
homem nada pode fazer diante do mundo e contribui para a consolidação da ideologia
dominante.

Concebendo o homem como um universo fechado em si mesmo, com


uma essência que resume suas qualidades e determina sua natureza, a
psicologia aceita que as estruturas do homem são permanentes e
imutáveis, cumprindo um destino inexorável, que pesa ao longo da
história da espécie (...). Para a psicologia [positivista], a sociedade é
considerada como algo "dado", apresentando-se como um epifenômeno
que se acrescenta ao fenômeno essencial (o ser humano), sem, no entanto,
alterar-lhe os rumos. A natureza histórica do homem e os fatos sociais, e
a relação entre homem e sociedade não são consideradas, mascarando,
assim, a existência das classes sociais, da ideologia e do poder.
(MALHEIRO E NADER, 1987, p. 12).

Para além da naturalização, vários autores apontam que a psicologia positivista “se
fundava na neutralidade, em um entendimento de que a psicologia do indivíduo explicaria a
psicologia da sociedade, e que sua característica naturalizante se baseava na compreensão de
uma cognição abstrata e descontextualizada e, por consequência, a-histórica.” (ALMEIDA,
2012, p. 132). A neutralidade científica, porém, não é possível, uma vez que o cientista vive uma
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realidade histórica, pertence a uma classe social e é comprometido com alguma visão da
sociedade, ainda que se declare neutro (MALHEIRO E NADER, 1987).
A psicologia positivista é considerada, ainda, por vários autores como instrumento de
alienação, ao cumprir uma função de agente de adaptação dos indivíduos à sociedade e suas
instituições. Ainda segundo Malheiro e Nader (1987), a preocupação maior da psicologia foi a de
se desenvolver no campo da prática, convertendo-se mais em instrumento de poder, do que em
elaborar um corpo teórico de conhecimentos a respeito do homem, exercendo secundariamente
sua função de saber. Esta função social, porém, não é inerente à Psicologia, mas se deu frente às
necessidades históricas do capitalismo, que orientam toda a dinâmica das relações sociais,
inclusive a produção de conhecimentos científicos.
Assim, por muitas décadas, os métodos e práticas psicológicos acabaram privilegiando
interesses de determinados grupos sociais e contribuindo para a expressão de diversos
fenômenos, como por exemplo, a patologização de questões sociais e a estigmatização de
determinadas populações, como os negros e seus descendentes, e responsabilizavam unicamente
os sujeitos, contribuindo para a exclusão e desigualdade social.
A perspectiva crítica influenciou também a prática dos psicólogos em interface com a
justiça. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, havia um curso de
especialização em psicologia clínica chamado Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos, que
posteriormente foi reformulado para, em 1986, ser vinculado ao departamento de psicologia
social (ALTOÉ, 2001).
Segundo Mattos (2013), um dos marcos que caracterizaram a transformação da atuação no
fazer psicológico junto à Justiça foi a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), em 1990. Impulsionado pelas discussões acerca dos direitos humanos e dos direitos
instituídos pela Constituição de 1988, o ECA tornou-se a nova lei de referência para crianças e
adolescentes, reconhecendo-os como sujeitos de direito e tratando-os como pessoas em
desenvolvimento.
Diante das novas perspectivas, a atuação dos psicólogos se ampliou. Em primeiro lugar
porque o ECA passou a considerar a necessidade de equipe interprofissional na abordagem a
crianças e adolescentes e, em segundo lugar, por propor novas intervenções para estes
profissionais, além do perito e do psicodiagnóstico, que envolviam o aconselhamento, a
orientação, o encaminhamento, a prevenção, etc. (BRASIL, 1990).
O psicólogo passou a ser demandado não só na Vara da Infância e da Juventude, como
também na Vara da Família, onde começou a atuar na orientação, acompanhamento e
aconselhamento em processos de divórcio, disputa de guarda, regulamentação de visitas, adoção,
destituição do poder familiar, etc. Outra importante prática desenvolvida desde então foi a
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mediação, em que as partes são as responsáveis pela solução do conflito com ajuda do psicólogo
como um terceiro imparcial, como mediador. Diz-se da mediação que ela é uma ferramenta que
confere mais autonomia às pessoas para que possam resolver suas desavenças da maneira mais
conveniente para elas, sem a necessidade de que o juiz decida por elas (MATTOS, 2013).
Além disso, conforme o vídeo Entre o direito e a lei: uma história da psicologia jurídica
em São Paulo, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (2014), pode-se dizer que hoje
se busca uma maior reflexão em relação à avaliação psicológica e diversos instrumentos e
técnicas além dos testes, que passaram a ser utilizados no intuito de compreender o indivíduo em
seu contexto.
Os psicólogos têm trabalhado, inclusive, elaborando perícias cíveis e criminais em diversas
instituições, como por exemplo, o Instituto Médico Legal. As perícias cíveis correspondem a
casos de interdição de pessoas, capacidade de testemunho em processo civil, perturbação mental,
seguro de vida, questões matrimoniais, curatela de pródigos, acidentes de trabalho etc. Há
também o trabalho desenvolvido em delegacias, programas de proteção à testemunha, ONGs que
atendem egressos das prisões, entre outros locais.
Como visto acima, desde o começo de sua relação até a diversidade de práticas existentes
nos dias atuais, a interface entre a Psicologia e a Justiça foi marcada por debates acerca do papel
do psicólogo, seu foco de atuação e sua postura crítica frente aos desafios impostos à profissão,
debates estes que perduram até hoje. Como este trabalho foca a interface entre Psicologia e
Direito na DPESP, a seguir vamos nos ater ao histórico de criação desta instituição e seus
desdobramentos.

1.2 A Defensoria Pública no Brasil e no Estado de São Paulo

A assistência jurídica a pessoas em necessidade remonta aos tempos do Império. As


Ordenações Filipinas, compilação jurídica que constituía a base do direito português desde o
século XV, teve algumas de suas disposições em vigência no Brasil até 1916. Dentre estas
disposições, estava a prestação de benefícios àqueles que apresentassem uma certidão de
pobreza. Assim, como apontam Dallefi e Funes (2008), o Brasil tem uma herança deixada por
Portugal que foi a prática jurídica gratuita.
Antes mesmo de ser prevista constitucionalmente, a assistência jurídica a pessoas em
necessidade já era uma realidade em alguns estados do país por meio de decretos e leis estaduais.
A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, existe desde 1897, mas só em
1977, com a Lei Estadual nº6, passou a vigorar como Lei Orgânica da Defensoria Pública do
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Estado do Rio de Janeiro, servindo de exemplo para outros Estados. A maioria dos outros
estados da federação passou a fundar Defensorias Públicas apenas na década de 1990, ainda que
alguns deles tivessem serviços de assistência jurídica previstos por leis e decretos estaduais,
como a Bahia.
A Constituição Federal de 1988 versa, no seu Artigo 5º:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (…) LXXIV - o Estado
prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos. (BRASIL, 1988)

Verifica-se, então, que dentre os direitos garantidos constitucionalmente está o direito à


assistência jurídica. Sendo assim, uma das instituições previstas para garanti-la são as
Defensorias Públicas, como visto a seguir, no Artigo 134:

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à


função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e
instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação
jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus,
judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma
integral e gratuita, aos necessitados, (…) (BRASIL, 1988).

O Estado de São Paulo foi um dos últimos estados no país a criar uma Defensoria Pública.
Até 2006, apenas dois Estados não possuíam Defensorias Públicas: São Paulo e Santa Catarina.
Conforme histórico levantado por Haddad (2011), embora houvesse movimentos desde a década
de 80 do século passado, a criação de uma Defensoria Pública em São Paulo enfrentou uma série
de resistências.
A assistência judiciária no Estado era prestada por meio da Procuradoria de Assistência
Judiciária (PAJ), parte da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Havia cerca de trezentos
procuradores atuando em apenas 26 cidades. Nas cidades em que não havia procuradores, a
assistência era feita por advogados particulares e entidades conveniadas. A maioria dos
procuradores não enxergava a necessidade da criação de uma Defensoria, visto que já realizavam
o trabalho de defesa da população necessitada. Além da perda remuneratória, baseada em
estimativas do cargo de defensor público em outros estados, a mudança aparentava instabilidade
profissional. Do ponto de vista político, o Governador do Estado em exercício também não tinha
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interesse em criar uma nova instituição, uma vez que a ideia recorrente no contexto político da
época era o corte de gastos por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000 (HADDAD,
2011).
Embora prestada de forma competente, havia muitas críticas sobre este modelo de
assistência. Dentre elas, a dificuldade de fiscalizar o trabalho realizado pelos advogados
particulares e das entidades conveniadas, “as condições precárias de trabalho dos procuradores
que atuavam no setor” e a “dupla atribuição da PGE de defender tanto os interesses do Estado
como os interesses do cidadão quando lesados por ele” (OLIVEIRA, 2015. p. 22).
Na medida em que a tensão dentro da PGE aumentava por conta da dupla atribuição,
certos procuradores, impulsionados pelo trabalho realizado em equipamentos que ampliavam o
atendimento jurídico à população carente, como os Centros de Integração da Cidadania 1 (CIC) e
os Centros de Referência de Apoio à Vítima 2 (CRAVI), também pelos movimentos sociais e por
um Grupo de Trabalho de Direitos Humanos da PGE, passaram a esboçar um projeto por uma
Defensoria Pública no Estado de São Paulo e, assim, em 2002 nasceu o Movimento pela
Defensoria Pública (MDPESP), o qual veio a envolver nada menos que 440 instituições e deu
início à organização de petições e manifestações públicas, além da busca de apoio para a causa
em setores importantes da comunidade jurídica e do sistema político (GOZETTO, 2011).
Após um longo processo de proposta, discussão e votação na Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo (Alesp), a Defensoria Pública foi implementada em São Paulo por meio da
promulgação da Lei Complementar nº 988, de 9 de janeiro de 2006.

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“O Centro de Integração da Cidadania (CIC) é um programa que visa proporcionar à sociedade os seus direitos por
meio da participação popular e garantir formas alternativas de acesso à justiça. Os centros estão instalados em 11
postos fixos localizados em áreas de alta vulnerabilidade social da capital e do interior do Estado. Nas Unidades
CIC, a população tem acesso a serviços públicos gratuitos e pode participar ativamente de ações para o
desenvolvimento local em seis pontos da capital paulista e nos municípios de Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos,
Francisco Morato, Campinas e Jundiaí. Nas unidades, são oferecidas palestras sobre temas diversos, oficinas
culturais, orientações sociais e jurídicas, mediação comunitária de conflitos, reuniões do Conselho Local de
Integração da Cidadania (Clic) e atividades educativas de promoção e conscientização na área de direitos humanos e
cidadania, focadas no Programa Estadual de Direitos Humanos. Nas Unidades CIC, também são emitidos
documentos pessoais como Carteira de Identidade, Carteira de Trabalho, 2ª vias de Certidões de Nascimento,
Casamento e Óbito, além da promoção de cursos e eventos em parceria com diversos órgãos.” FONTE:
http://www.justica.sp.gov.br/portal/site/SJDC. Acesso em maio de 2016.
2
“O CRAVI – Centro de Referência e Apoio a Vítima - é um programa da Secretaria da Justiça e da Defesa da
Cidadania, criado em julho de 1998 pelo Governo do Estado de São Paulo, que tem como missão: ser referência
para ações e políticas públicas que visem superar os ciclos de violência e promover reconhecimento, cidadania e
acesso aos direitos de vítimas de crimes violentos. O CRAVI oferece atendimento público e gratuito a vítimas, e
seus familiares, de crimes violentos. Conta com uma equipe interdisciplinar de triagem, especializada em receber,
triar e encaminhar os usuários para a rede ou serviços pertinentes a suas demandas, bem como uma equipe
interdisciplinar de atendimento especializada em acolher, atender, informar e orientar vítimas e familiares de vítimas
nos casos de crimes de homicídio, latrocínio e ameaça. O programa busca facilitar o acesso a informações,
orientação jurídica e serviços públicos. A assistência às vítimas auxilia no desenvolvimento de recursos psíquicos
que proporcionem atitudes positivas frente às consequências da violência e promove a reconstrução de laços sociais,
a confiança na Justiça e o exercício da cidadania. Realiza também mensalmente oficinas abertas para o público sobre
temas correlatos.” FONTE: http://www.justica.sp.gov.br/portal/site/SJDC. Acesso em maio de 2016.
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A Defensoria Pública, apesar de ser instituição estadual, não é vinculada ao governo. Sua
autonomia é prevista pela Constituição Federal, mais especificamente pela Emenda 45/2004,
emenda esta que contribuiu, inclusive, para sua criação no Estado de São Paulo. Esta autonomia
é uma garantia para que os Defensores Públicos possam representar os direitos da população sem
qualquer tipo de constrangimento, ao contrário do que ocorria muitas vezes na PGE.
A administração superior da instituição é conduzida pelo Defensor Público-Geral do
Estado, nomeado pelo Governador a partir de uma lista tríplice formada pelos candidatos mais
votados em eleição com participação de todos os defensores. O principal órgão para tomada de
decisões internas na DPESP é o Conselho Superior da Defensoria Pública. O Conselho Superior
é o órgão deliberativo máximo, do qual partem as deliberações que organizam a instituição.
Dentre as suas atribuições destacam-se exercer o poder normativo no âmbito da DPESP, fixar
parâmetros mínimos de qualidade para a atuação dos defensores públicos, aprovar o plano anual
de atuação da instituição, formular regras para a eleição do Defensor Público-Geral, dentre
outras (SÃO PAULO, 2006).
A DPESP atua em qualquer espécie de caso que seja de competência da Justiça Estadual,
sempre na defesa de um cidadão ou de um grupo de cidadãos carentes. No entanto, é possível
destacar algumas áreas de atuação. A Área Cível compreende ações na área do Direito Civil,
Direito de Família e de Sucessões, Direito do Consumidor, Direito Urbanístico, Direito
Ambiental, Direito à Saúde, Garantias Constitucionais, entre outras;
A Tutela Coletiva compreende a proposição de ações civis públicas na defesa coletiva
das demandas dos cidadãos carentes como Habitação, Urbanismo, Saúde, Meio-Ambiente e
Defesa do Consumidor. A lei prevê também que a Defensoria Pública promova termos de
ajustamento de conduta (acordos extrajudiciais com força legal) para garantir que as demandas
dessa natureza sejam resolvidas rapidamente e sem necessidade de um processo judicial.
A Área Criminal corresponde essencialmente à defesa dos réus de forma ampla e
abrangente. A Defensoria promove não apenas a defesa em primeira instância, mas maneja todos
os recursos cabíveis, tendo atuação marcante perante o STJ e o STF. Também é possível a
atuação em defesa da vítima, especialmente nas hipóteses de Juizados Especiais ou de aplicação
da Lei Maria da Penha (proteção contra mulheres vítimas de violência doméstica).
A Área da Infância e Juventude concentra a defesa de adolescentes acusados de terem
cometido atos infracionais ou que cumprem medidas socioeducativas por determinação judicial
(internação, liberdade assistida, serviços comunitários, entre outras). Outros casos incluem o
atendimento a crianças e adolescentes que vivem em abrigos; pedidos de adoção ou de guarda e
demais disposições relativas ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
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Por fim, a Área de Execução Criminal é a área responsável pela defesa de cidadãos que
estejam cumprindo pena após condenação judicial pelo cometimento de um crime. Inclui a
formulação de diversos pedidos, tais como: progressão de regime, liberdade condicional, indulto,
defesa em faltas disciplinares, além de outros relativos aos tratamentos dispensados dentro do
sistema penitenciário. Todos os presídios do Estado são visados por uma Coordenadoria de
Execução Criminal da Defensoria Pública, tendo em vista a atribuição da instituição de fiscalizar
as unidades prisionais e garantir o respeito aos direitos das pessoas detidas. Para isso, os
Defensores Públicos promovem vistorias (uma prerrogativa funcional prevista em lei) e recebem
denúncias. A Defensoria é responsável, ainda, por administrar os convênios que mantêm
advogados de entidades que prestam auxílio gratuito dentro dos presídios.
Cabe destacar que o público da DPESP é composto por pessoas que não têm condições
financeiras de pagar assistência jurídica. Para ser atendido é necessário comprovar essa situação,
a renda familiar, o patrimônio e gastos mensais, que podem ser pedidos por meio de documentos.
O limite para receber o atendimento da DPESP é receber menos de três salários mínimos.
A DPESP conta, ainda, com Núcleos Especializados cujo objetivo é promover uma
atuação estratégica da instituição em áreas de sensível importância. Os Núcleos coordenam os
debates e materiais produzidos pelos defensores públicos em sua área respectiva, fornecendo a
eles qualquer suporte técnico necessário. Além disso, também propõem ações judiciais e são
responsáveis por coordenar o acionamento de Cortes Internacionais quando for necessário.
Cabe aos Núcleos compilar e remeter informações técnico-jurídicas, sem caráter
vinculativo, aos Defensores Públicos; propor medidas judiciais e extrajudiciais, para a tutela de
interesses individuais, coletivos e difusos, e acompanhá-las, agindo isolada ou conjuntamente
com os Defensores Públicos, sem prejuízo da atuação do Defensor Natural; realizar e estimular o
intercâmbio permanente entre os Defensores Públicos, objetivando o aprimoramento das
atribuições institucionais e a uniformidade dos entendimentos ou teses jurídicas; realizar e
estimular o intercâmbio com entidades públicas e privadas, bem como representar a instituição
perante conselhos e demais órgãos colegiados, por qualquer de seus membros, mediante
designação do Defensor Público-Geral do Estado; atuar e representar junto ao Sistema
Interamericano dos Direitos Humanos, propondo as medidas judiciais cabíveis; prestar assessoria
aos órgãos de atuação e de execução da Defensoria Pública do Estado e coordenar o acionamento
de Cortes Internacionais (SÃO PAULO, 2006).
Os atuais Núcleos Especializados da Defensoria são: Cidadania e Direitos Humanos;
Infância e Juventude; Habitação e Urbanismo; Segunda Instância e Tribunais Superiores;
Situação Carcerária; Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito; Promoção e Defesa dos
Direitos da Mulher; Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência e Defesa do Consumidor.
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1.3 A inserção do psicólogo na Defensoria Pública do Estado de São Paulo

Como ocorre em outras áreas e instituições, a Psicologia foi chamada a atuar junto aos
profissionais do Direito no que concernem os objetivos das Defensorias. A Lei Complementar nº
988, de 09 de Janeiro de 2006, que organizou e regulamentou a DPESP, já previa em seu artigo
nº48 a atuação de outros profissionais, dentre eles o psicólogo, por meio da criação dos Centros
de Atendimento Multidisciplinar (CAMs).
Nesta lei o CAM é instituído como órgão auxiliar da DPESP, tendo como seu principal
objetivo assessorar os Defensores Públicos nas áreas relacionadas às suas atribuições. O texto diz
que os CAMs podem contar com profissionais e estagiários das áreas de psicologia, serviço
social, engenharia, sociologia, estatística, economia, ciências contábeis e direito, dentre outras.
Diz também que os CAMs serão coordenados por Defensores Públicos designados pelo Defensor
Público-Geral do Estado (SÃO PAULO, 2006).
Entretanto, somente em 2009 criou-se o primeiro concurso público para psicólogos e
assistentes sociais a comporem a equipe dos CAMs da DPESP, a partir do qual foram
contratados 47 psicólogos e 17 assistentes sociais que foram divididos em várias unidades da
Defensoria no Estado. Por fim, em agosto de 2010, o Conselho Superior da Defensoria Pública
publicou a Deliberação nº 187, a qual disciplinava e estruturava o funcionamento dos CAMs.
Sendo assim, é previsto que o CAM intervenha junto ao setor jurídico, numa atuação
interdisciplinar, considerando “a concretização dos princípios da integralidade e efetividade na
prestação da assistência jurídica (…)”. (SÃO PAULO, 2006). O modo como esta atuação
interdisciplinar se dá é particular de cada unidade. Mas de modo geral, a população que chega à
DPESP apresenta sua queixa ao setor jurídico e o defensor público analisa de que modo ele pode
auxiliá-la. Caso ele julgue necessária a intervenção dos profissionais do CAM, faz o
encaminhamento do assistido3 à equipe.
Ao longo dos primeiros anos de atuação, alguns dos primeiros psicólogos e assistentes
sociais que compuseram as equipes dos CAMs foram chamados a formar uma equipe de
assessoria a outros CAMs do Estado visando uma atuação cada vez mais especializada. Para
tanto, criou-se a Assessoria Técnica Psicossocial, localizada na unidade central da Defensoria
Pública do Estado, que assessora tecnicamente os profissionais das unidades do Estado. Como
exemplo dessa assessoria, foi elaborada uma série de cinco eixos para orientar e caracterizar a
atuação dos profissionais do CAM dentro da Defensoria, contribuindo para o reconhecimento e
alinhamento de seu trabalho junto a outros profissionais. São estes os eixos4:
3
Nome pelo qual o usuário é chamado a partir do momento que adentra à Defensoria.
4
Não foram produzidos documentos oficiais pela Assessoria Técnica Psicossocial acerca dos cinco eixos de
trabalho do CAM. As informações referentes a eles estão disponibilizadas em apresentação online na página:
12

1. Atendimento social e/ou psicológico - eixo que visa proporcionar à população a


autonomia necessária para que ela possa encontrar meios de superar suas dificuldades.
Portanto, do ponto de vista da Psicologia, por exemplo, não é realizado um atendimento
clínico com o assistido, mas uma orientação pontual sobre o modo como ele pode
encontrar equipamentos, estruturas, que melhor possam ajudá-lo em sua solicitação.
Neste sentido, a ação é o encaminhamento da população para atendimento no âmbito das
políticas públicas, que não estejam sendo acessadas ou por desconhecimento, ou por
deficiências das próprias políticas.
2. Produção técnica – eixo que engloba a elaboração de relatórios, laudos, quesitos e
pareceres, tanto por parte do psicólogo, quanto por parte do assistente social, para que se
possa embasar possíveis ações judiciais ou outras ações coletivas;
3. Mapeamento e articulação com a rede de serviços eixo que visa garantir o acesso da
população aos direitos à saúde, à educação, à cultura, por via administrativa, isto é, pelo
caminho pelo qual devem ser mesmo acessados, de acordo com cada política pública.
Dentro disso, também é importante realizar a identificação do percurso do assistido no
acesso ou não aos serviços públicos e ainda atuar como um observatório das políticas
públicas, verificando quais estão atendendo a população como deveriam ou não.
4. Educação em direitos e formação – eixo que engloba ações de educação em direitos
nos serviços/comunidades; capacitações e supervisões horizontais entre os profissionais
da Rede de Atenção Psicossocial; e atividades formativas voltadas para Defensores/as,
oficiais, terceirizados/as e estagiários/as.
5. Composição extrajudicial de conflitos – eixo que engloba as mediações extrajudiciais
que podem ocorrer de acordo com as seguintes prerrogativas: a) se as partes estão de
acordo, não há necessidade de intervenção do CAM; b) se as partes não alcançaram o
consenso e houve uma primeira tentativa de acordo pelo setor jurídico, resultando
infrutífera, e sendo identificados aspectos psicossociais que impedem o acordo, há
intervenção do CAM; c) e por fim, se as partes não alcançaram o consenso, e são
identificados fatores complicadores que podem ser abordados por outro profissional, e a
intervenção do CAM é imprescindível.

Assim, por meio dos métodos e práticas previstos nos eixos e de acordo com as demandas
encaminhadas ao CAM, o trabalho do psicólogo na DPESP vem se constituindo numa

https://prezi.com/eh6idgnbs073/assessoria-tecnica-psicossocial-atp/. Acesso em maio de 2016.


13

perspectiva de atuação interdisciplinar junto ao Direito e a profissionais de outros saberes, como


o Serviço Social e a Sociologia.

1.4 Justificativa e objetivo

Tendo como base o histórico da relação entre Psicologia e Justiça, a leitura de artigos e
teses sobre o assunto, bem como minha experiência de estágio na DPESP, pude verificar que este
é um campo repleto de questões e desafios para a Psicologia.
Segundo Arantes (2007), existe um mal-estar entre os psicólogos que atuam no âmbito
judiciário e que tem sido objeto de frequentes problematizações. Para além da insatisfação
quanto à restrição de seu trabalho a atividades avaliativas, somam-se os questionamentos e
conflitos decorrentes da “subordinação hierárquica, real ou imaginária, ao magistrado”, que leva
em conta a autonomia profissional, e “também uma tendência do judiciário de interferir no
espaço antes considerado próprio da atividade do psicólogo ou de outros profissionais da saúde”.
(ARANTES, 2007, p. 1).
Como exemplo de práticas que fazem emergir este conflito, podemos citar práticas como a
Justiça Terapêutica5 e o Depoimento Sem Dano6 que tem sido alvo de inúmeras críticas dos
Conselhos Federais e Regionais de Psicologia e Serviço Social, sendo uma das mais recorrentes
o desrespeito aos direitos humanos e à dignidade de crianças, adolescentes e adultos.

5
“A Justiça terapêutica ou tribunal das drogas tem sido uma das medidas adotadas pelo sistema judiciário em
diversas partes do mundo e principalmente nos Estados Unidos da América, lugar de sua concepção e origem na
abordagem dos problemas associados ao uso abusivo de drogas e ao aumento da violência e da criminalidade de rua
nos grandes centros urbanos. Como uma medida jurídica e penal, esses tribunais das drogas encaminham os usuários
de drogas e infratores que apresentam condutas violentas e antissociais para tratamento de desintoxicação em
clínicas médicas e hospitais. A medida tomada implica o monitoramento da execução da pena - tratamento com a
solicitação de avaliações, exames e relatórios da equipe de saúde e da assistência social e psicológica. (...) O Juiz
requisita o tratamento, como medida de proteção, já na audiência preliminar ou mesmo ao longo do cumprimento
das outras medidas, que são as socioeducativas propriamente ditas. Os jovens são encaminhados para tratamento
médico e/ou psicológico como medida “preventiva”. A mais grave é a internação, que implica a restrição de
liberdade. Entretanto, pelo estatuto da criança e do adolescente, o jovem é considerado uma pessoa em
desenvolvimento e o caráter excepcional e a brevidade das medidas devem ser observados, devendo sempre que
possível evoluir para medidas em meio aberto como a liberdade assistida.” (VERGARA, 2011, p. 58)
6
“No depoimento sem dano, a audiência com a criança ocorre em sala privada, ao invés de inúmeros depoimentos
frente ao juiz, o promotor, o réu e o advogado. A inquirição com a criança é realizada por uma psicóloga ou uma
assistente social. O juiz e os demais presentes na sala de audiência vêm e ouvem o depoimento da criança por um
aparelho de TV. Na sala de audiência, o juiz pode fazer perguntas e solicitar esclarecimentos por comunicação em
tempo real com o psicólogo. Assim, o depoimento sem dano tem sido implantado para reduzir o dano (daí o nome
da prática) das inúmeras oitivas às quais a criança é submetida no processo de abuso sexual, inclusive frente ao réu
(que geralmente é algum familiar). (...) A idéia do depoimento sem dano é adotar uma política de redução de danos e
“emprestar qualidade aos fatos narrados em seus depoimentos, permitindo dessa forma que também se
responsabilize o agressor”. (...) questiona ainda a exposição da criança a 4, 5, 6 inquirições no modelo legal vigente,
“buscando evitar não só que tantas exposições ocorram, provocando danos ao depoente, como também que aquela
inquirição que poderá embasar a responsabilização do agressor ocorra em tempo muito distante daquele que o fato
ocorreu, subtraindo com isso do julgador dados importantes para um correto e isento exame do mérito da acusação.”
(CONTE, 2008, p. 220)
14

Tendo a DPESP possibilitado um novo campo de trabalho para a Psicologia, este também
implica questões éticas e técnicas que podem servir como objeto de estudo sobre a relação entre
as duas áreas. Conforme aponta Vilar de Carvalho (2013):

A introdução da Psicologia na Defensoria Pública (…) acaba por


constituir-se como um novo e importante analisador para se refletir
acerca das práticas e dos saberes produzidos pela Psicologia nos dias
atuais. Cabe, assim, questionar em que medida esse novo locus de
atuação é mais um espaço que demanda práticas de herança positivista
e/ou que endereça novas demandas à Psicologia. (VILAR DE
CARVALHO, 2013, p.93).

Os conflitos decorrentes do encontro interdisciplinar entre profissionais da DPESP


produzem e são produtos de noções acerca de seu trabalho e dos saberes que o embasam. O
objetivo deste trabalho é compreender a noção de Psicologia na perspectiva da legislação da
DPESP, bem como na perspectiva dos profissionais de Direito que nela atuam, a fim de
contribuir com a reflexão acerca do trabalho do psicólogo na instituição.

2 METODOLOGIA

A perspectiva epistemológica que embasa este trabalho é a perspectiva construcionista.


Focando nos processos e estruturas da interação humana, ela busca explicar como as pessoas
“descrevem, explicam ou dão conta do mundo (incluindo a si mesmos) em que vivem” (SPINK,
2013, p.9). Esta abordagem surge como uma reação ao conceito instituído de pesquisa científica,
tendo como base:

 a Filosofia, no processo de desfamiliarização da dicotomia sujeito-objeto e na


crítica à concepção representacionista do conhecimento;
 a Sociologia do Conhecimento, no processo de desfamiliarização da retórica da
verdade, compreendendo a verdade e realidade como construídas socialmente;
 e a Política, como busca de empowerment de grupos socialmente marginalizados,
como por exemplo no questionamento da pesquisa feminista acerca dos vieses
androcêntricos da ciência tradicional.
15

Algumas vertentes da Psicologia Social contemporânea se aliam a esta perspectiva no


sentido de questionar as bases da ciência tradicional que aparecem, por exemplo, nas
perspectivas behaviorista e cognitiva, hegemônicas até os anos 70 do século XX, e tendo como
principal modelo a Psicologia Social norte-americana (ALMEIDA, 2012).
A abordagem da Psicologia Social construcionista se define por três dimensões: linguagem,
história e pessoa (SPINK, 2013). A dimensão da linguagem está centrada na linguagem em uso,
entendendo-a como prática social. Estão presentes nela os discursos e as práticas discursivas. Os
primeiros remetem ao uso institucionalizado da linguagem, seja de uma ciência, de uma
organização, ou até mesmo os speech genres, ou gêneros de fala, que são formas que buscam
coerência no contexto em que se encontram, como, por exemplo, os cumprimentos Olá, tudo
bem?, tudo bem e você?.
As práticas discursivas são momentos nos quais a linguagem se torna ação, quando há
ressignificações, produção de sentido e posicionamento nas relações cotidianas. Sua dinâmica se
dá por meio dos enunciados, os elementos endereçados de uma pessoa a outra, e vice-versa, e as
vozes, os interlocutores presentes ou presentificados nos diálogos. Os speeches genres também
as constituem, caracterizando sua forma.
Já o conteúdo das práticas discursivas são os repertórios interpretativos, que são “o
conjunto de termos, descrições, lugares-comuns e figuras de linguagem que demarcam o rol de
possibilidades de construções discursivas” (SPINK, 2013, p. 28). Por meio de sua análise, é
possível verificar a variabilidade presente nas comunicações cotidianas, de que maneira elas
foram construídas historicamente e quais os sentidos produzidos a partir delas.
A partir dos repertórios interpretativos, podemos analisar a dimensão histórica da
linguagem por meio do tempo longo, do tempo vivido e do tempo curto. O tempo longo
compreende os conteúdos culturais que formam os discursos de uma determinada época, quais
vozes ajudaram a constituir os enunciados ao longo da história. O tempo vivido corresponde às
experiências da história pessoal que ressignificam os conteúdos do tempo longo aos quais ela foi
submetida. E o tempo curto compreende o momento da interação face a face, por meio do qual é
possível verificar como se dá a produção de sentido no diálogo.
Por fim, a dimensão da pessoa conserva a noção presente na maioria das definições de
pessoa ao longo da História cuja característica essencial é a de relação. Ao invés da noção de
indivíduo ou de sujeito, mais voltadas ao individual, a noção de pessoa está em constante
processo de interação.
Tomando as práticas discursivas como práticas sociais, é possível identificar também a
construção de identidades através da relação. As práticas discursivas produzem determinadas
posições de pessoa, de acordo com os repertórios interpretativos que possuem, que se expressam
16

na relação e que são permeados por relações de poder. “As práticas discursivas, portanto,
implicam necessariamente o uso de repertórios e posicionamentos identitários” (SPINK, 2013, p.
37).
Assim, dentre as perspectivas de estudo do uso da linguagem, a perspectiva discursiva traz
a problematização do contexto discursivo considerando as relações de poder presentes na
interação e a determinação do discurso de maneira historicamente situada. Sendo assim, o
presente trabalho procurou analisar as práticas discursivas presentes na legislação da DPESP e na
relação de profissionais do Direito na instituição a respeito da Psicologia e do trabalho do
psicólogo.
Por meio de uma busca de documentos no site http://www.defensoria.sp.gov.br/ e partir de
uma leitura dinâmica, foram selecionados documentos legais produzidos pelo Conselho Superior
da DPESP que se referiam diretamente ao trabalho do psicólogo na instituição. São eles:

1. A Lei Complementar nº 988, de 9 de janeiro de 2006, que organiza a Defensoria


Pública do Estado e institui o regime jurídico da carreira de Defensor Público do
Estado;
2. A Deliberação CSDP nº 187, de 12 de agosto de 2010, que disciplina a estrutura
e funcionamento dos Centros de Atendimento Multidisciplinar; foi alterada pela
Deliberação CSDP nº 288, de 10 de janeiro de 2014;
3. A Deliberação CSDP n° 219, de 11 de março de 2011, que regulamenta as
hipóteses de atendimento pela Defensoria Pública ao usuário em sofrimento ou
com transtorno mental.

Sobre documentos públicos, Spink et al. (2014) afirmam que são produtos sociopolíticos
representantes de uma esfera de ação e discussão e que refletem práticas discursivas. Neste
sentido, a lei, como documento público, além de um relato que nos permite enxergar uma
conduta que é juridicamente relevante, também é resultado de um contexto mais amplo e produto
de seu tempo, muitas vezes resultando do diálogo, combativo ou não, de diversos movimentos
políticos e sociais, atores independentes e grupos de influência e de pressão (SPINK et al., 2014,
p. 217).
Levando em conta o histórico da criação da DPESP, a lei é resultado de embates e alianças
entre os integrantes do MDPESP e outros atores e, como prática discursiva, expressa
determinados posicionamentos, que foram objeto de análise.
Como instrumento para a análise das práticas discursivas presentes na legislação foi
utilizado o mapa dialógico. Dois passos iniciais embasam a elaboração do mapa: a transcrição
17

sequencial e a transcrição integral (SPINK, 2014). A primeira auxilia na definição de temas ou


categorias para uso no mapa. Identifica-se em toda a conversa ou no documento quem são as
pessoas quem falam, o que falam, para quem dirigem sua fala e qual o tema implicado nela,
como pode se verificar o exemplo no Quadro 2, retirado do capítulo O uso de mapas dialógicos
como recurso analítico em pesquisas científicas, do livro A produção de informação na pesquisa
social: compartilhando ferramentas organizado por SPINK et al (2014):

Quadro 2: Exemplo de transcrição sequencial.


Quem fala Sobre o que fala Tema
E Pergunta sobre sua família Família
E1 Diz que se encontra distante da família Relação com a família
E1 Diz que romperam ao sofrer violência dentro Violência
de casa familiar/doméstica
E Pergunta sobre outras violências Violências
E1 Conta sobre violência psicológica no Violência psicológica no
trabalho trabalho
E1 Descreve cena de violência vivida no Violência psicológica no
trabalho trabalho
E1 Altera tom de voz. Chora. Emoções
Fonte: SPINK et al., 2014, p. 255.

A transcrição integral, por sua vez, inclui todas as falas e expressões de forma literal e
serve para facilitar a compreensão da análise realizada. Para isso, numeram-se as linhas para que
sejam encontradas as falas a serem referenciadas na interpretação e no mapa. Após serem
realizadas as duas transcrições, o mapa dialógico é construído com linhas e colunas e organizado
com o objetivo do estudo, com os temas identificados na transcrição sequencial e a que aspectos
queremos dar visibilidade em nossa análise.
Os mapas dialógicos também auxiliam no processo de dar visibilidade aos passos da
construção da pesquisa que, dentro da perspectiva construcionista, implica seu rigor
metodológico. Spink (2014) esclarece:

A indicação dos passos de análise dá visibilidade ao processo de pesquisa


que, além de corresponder ao rigor metodológico, possibilita ao/à leitor/a
identificar os passos de análise e compreender as interpretações do/a
pesquisador/a, uma vez que a produção de conhecimento é sempre
contextual e situada no tempo. Esse modo de fazer pesquisa possibilita,
portanto, a reflexibilidade do/a pesquisador/a, pois é também um
posicionamento ético-político dar visibilidade aos procedimentos de
18

pesquisa, à interpretação e à dialogia presente no contexto do trabalho,


em que o/a pesquisador/a se posiciona e é posicionado/a. (SPINK, 2014,
p. 270).

Foram feito dois mapas dialógicos referentes à Deliberação nº 187, uma vez que ela
disciplina a estrutura e funcionamento dos CAMs, órgão auxiliar no qual o psicólogo atua na
DPESP. O primeiro mapa se refere aos princípios que regem o trabalho do psicólogo e está
disponível no Anexo A. O segundo mapa se refere à estrutura dos CAMs e às atribuições dos
agentes de defensoria como um todo e está disponível no anexo B. Alguns trechos do mapa
dialógico foram suprimidos a fim estreitar a análise apenas para os pontos referentes ao trabalho
do psicólogo.
Um segundo procedimento, concomitante ao estudo e confecção dos mapas dialógicos, foi
a observação no cotidiano da DPESP, mais especificamente na Unidade de Atendimento Inicial,
local no qual estou realizando estágio em Psicologia e cujo contrato foi intermediado pelo Centro
de Integração Empresa-Escola (CIEE). O foco da observação foram os encaminhamentos
realizados pelo setor jurídico ao CAM da unidade como forma de compreender qual a ideia de
Psicologia e/ou do trabalho do psicólogo do ponto de vista dos profissionais de Direito, entre
estagiários e defensores públicos.
Sobre a observação como método de pesquisa, Spink (2014) defende uma observação no
cotidiano, onde o pesquisador convive em espaços nos quais participa de ações e compartilha da
cultura as sustenta. “Essa postura ancora-se em uma abordagem construcionista da pesquisa
social, que busca compreender os sentidos produzidos pelas pessoas nas interações cotidianas
(...).” (SPINK et al., 2014, p.124).
Como instrumento para auxílio na observação, foi utilizado um diário de campo
preenchido a cada fim de expediente com as impressões acerca dos encaminhamentos realizados,
mantendo o sigilo de informações tanto dos casos encaminhados quanto dos atores envolvidos no
encaminhamento interno.
Cardona, Cordeiro e Brasilino (2014) apontam que diários de campo podem ser utilizados
tanto como material principal de pesquisa, como também ser auxiliares de um procedimento
principal, como a análise de entrevistas, análise de documentos, etc. Eles auxiliam nas análises e
interpretações e podem servir como ponto de reflexão e insight futuro. É nesta modalidade, de
auxiliar para o procedimento principal, que os registros do diário foram utilizados, a fim de
exemplificar as análises e contrapor dados da análise documental.
19

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Conforme o objetivo deste trabalho, esta seção apresenta a discussão sobre qual a noção
recorrente acerca do trabalho do psicólogo na DPESP. A partir dos elementos que foram
analisados nos mapas dialógicos, foram selecionados dois temas de análise, sendo estes o tema
Apoio e o tema Complementaridade. Ao longo da análise dos temas emergentes no mapa
dialógico, percebeu-se que todos podem ser analisados levando em conta o princípio da
interdisciplinaridade, um dos mais elementares na constituição da DPESP.
Em entrevista publicada por Haddad (2011), o então defensor público Vitore André Zílio
Maximiano, uma das principais lideranças do MDPESP, relata que a visão multidisciplinar que a
DPESP carrega decorre tanto da experiência acumulada no trabalho em instituições de garantia
de direitos como os CIC e os CRAVI, locais onde havia atuação conjunta entre diversos
profissionais; como também por conta da participação ativa dos movimentos sociais na
formulação do projeto pela criação da DPESP. Em 2002, houve a publicação de um manifesto
como ato de oficialização do MDPESP, no qual uma das propostas que já figurava era a de
“prestar atendimento interdisciplinar realizado por defensores, psicólogos e assistentes sociais.”
(HADDAD, 2011, p.63).
O princípio de interdisciplinaridade aparece nos repertórios interpretativos da legislação
em vários momentos. Por exemplo, no que diz respeito às atribuições institucionais da DPESP, a
Lei 988/2006 elenca “prestar atendimento interdisciplinar” (SÃO PAULO, 2006). Já a
Deliberação nº 187 reforça como um dos princípios do CAM a “diretriz de
interdisciplinaridade e de intersetorialidade da intervenção profissional” (SÃO PAULO, 2014).
Sendo assim, os pontos de análise serão apresentados levando em contato o princípio da
interdisciplinaridade e suas implicações. A fim de exemplificar sua ocorrência no cotidiano de
uma das unidades da instituição, alguns momentos do diário de campo serão apresentados no
decorrer do texto por meio da fonte “Courier New”, em itálico.

3.1 Apoio

A princípio, podemos nos ater ao tema APOIO, que inclui termos como assessoramento,
suporte, apoio e auxiliar, e se mostrou frequente nos repertórios interpretativos. Como
exemplo, temos os Artigos 48 e 69 da Lei Complementar nº 988, que dizem: “Artigo 48. As
Defensorias Públicas Regionais e a Defensoria Pública da Capital serão capacitadas com ao
20

menos 1 (um) Centro de Atendimento Multidisciplinar, visando ao assessoramento técnico e


interdisciplinar para o desempenho das atribuições da instituição […]. Artigo 69. Compete aos
Centros de Atendimento Multidisciplinar assessorar os Defensores Públicos nas áreas
relacionadas às suas atribuições.” (SÃO PAULO, 2006).
Outros exemplos aparecem nos itens II e XV do Artigo 5º da Deliberação estudada, que
dizem: “II - prestar suporte técnico aos Defensores Públicos, Servidores, estagiários, à
Ouvidoria-Geral e aos demais Centros de Atendimento Multidisciplinar; […] XV - Prestar apoio
ao serviço de atendimento especializado ao público;” (SÃO PAULO, 2014).
Estes repertórios parecem demonstrar a noção de uma função que está a serviço de outra
que configura como principal. Em se tratando de uma instituição onde a atividade fim é “a tutela
jurídica integral e gratuita, individual e coletiva, judicial e extrajudicial, dos necessitados,”
(SÃO PAULO, 2006), parece compreensível, à primeira vista, que o fazer jurídico configure
como função principal.
Porém, considerando que os fundamentos da instituição incluem a prevenção dos conflitos
e a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a erradicação da pobreza e da
marginalidade, e a redução das desigualdades sociais e regionais, compreende-se que são
princípios compartilhados por outras disciplinas e por isso o encontro entre elas, na prática, vem
a ser nosso objeto de reflexão.
VICENTIN e OLIVEIRA (2012) propõem uma análise da relação entre Psicologia e
Justiça que leva em conta as ideias de Michel Foucault sobre as fronteiras entre o Direito e
outros campos, bem como a partir de pistas que o autor fornece sobre levar uma vida contrária a
todas as formas de fascismo. Segundo as autoras, em seu prefácio à edição norte-americana do O
Anti-Édipo, livro de Deleuze e Guattari, de 1972, intitulado exatamente Introdução à vida não
fascista, Foucault nos convoca a agenciarmos outros modos de pensar a vida, principalmente o
de uma arte de viver contrária a todas as formas de fascismo, sejam as já instaladas ou as
próximas de ser.
Entretanto, esta ideia teria três adversários: os chamados funcionários da verdade, que
gostam de preservar a ordem pura da política, do discurso político; os chamados técnicos do
desejo, que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo às categorias do Negativo (a
lei, o limite, a castração, a lacuna) e o inimigo maior, o próprio fascismo, que está em todos nós
(VICENTIN e OLIVEIRA, 2012).
As autoras se propõem a mostrar algumas formas atuais da relação psi-jurídica,
representantes desses adversários, as quais deveríamos combater. A primeira delas se localiza na
linha dos funcionários da verdade, e se refere às práticas que fazem da ação psicológica um
método de extração da verdade a serviço da justiça. Como por exemplo a Psicologia do
21

Testemunho, que visa conferir a fidedignidade de um relato de um sujeito envolvido num


processo jurídico, se utilizando de perícia, exame criminológico ou parecer psicológico baseado
em psicodiagnóstico, como também práticas mais contemporâneas como algumas modulações do
depoimento sem dano.
A relação entre Psicologia e Direito aparece aqui num modelo que alguns estudiosos
(POPOLO apud FRANÇA, 2004) chamam de modelo de subordinação, no qual a Psicologia
busca atender às demandas jurídicas “como uma psicologia aplicada cujo objetivo é contribuir
para o melhor exercício do Direito.” (FRANÇA, 2004, p. 77). Assim como ocorre entre a
Psicologia e Psiquiatria forense, quando o saber psicológico está a serviço da Psiquiatria como
assessor e a responsabilidade do diagnóstico clínico é do médico e não do psicólogo. Vale
destacar que é deste modelo que nasce a Psicologia Jurídica, visto o histórico apresentado no
início deste trabalho, e ainda é modelo de relação predominante quando se trata da atuação dos
profissionais psi no âmbito criminal.
A DPESP, porém, como instituição de garantia de direitos, parece ter em sua base o
mesmo modelo. É possível também identificá-lo em outros trechos da Deliberação nº 187, que se
referem às atribuições específicas dos Agentes de Defensoria Psicólogos, mas que demonstram
um determinado posicionamento do psicólogo em relação ao defensor público. Por exemplo, o
item II do Artigo 5º, a Deliberação diz que cabe aos agentes de defensoria psicólogos utilizar
métodos e técnicas psicológicas a partir da estratégia apresentada pelo Defensor Público
(SÃO PAULO, 2014).
Cabe ressaltar que o modelo de subordinação aparece, inclusive, na organização
institucional da DPESP. Na Lei 988/2006, o Artigo 71 versa que os CAMs serão coordenados
por Defensores Públicos designados pelo Defensor Público-Geral do Estado. Na Deliberação n°
187, o item XIII do Artigo 5º versa que é atribuição dos agentes do CAM receber dos Defensores
Públicos e da Ouvidoria-Geral os pedidos de intervenção, cabendo-lhes, conforme escala pré-
definida, registrá-los e atendê-los, observando as prioridades e os critérios definidos pelo
Coordenador do Centro de Atendimento Multidisciplinar (SÃO PAULO, 2014), isto é, um
defensor público.
O sentido de interdisciplinaridade que emerge a partir deste repertório parece estar de
acordo com o modelo de subordinação anteriormente apresentado. Japiassu (1977), em estudo
clássico do tema, define uma interdisciplinaridade linear ou cruzada, na qual disciplinas
oferecem informações, como auxiliares, a uma disciplina principal, permanecendo numa relação
de dependência ou de subordinação. Entretanto, ao contrário das ciências naturais, aponta o
autor, as ciências do homem se caracterizam por uma ausência de hierarquia.
22

O modelo de subordinação parece também se expressar no cotidiano das relações entre os


profissionais da DPESP. Em certa ocasião, por exemplo, uma estagiária de Direito questionou a
equipe CAM sobre qual deveria ser o encaminhamento para uma mãe com um filho autista,
tendo recebido como resposta que poderia encaminhá-la a um Centro de Atenção Psicossocial
(CAPS) em sua modalidade Infantil, a fim de que pudessem receber a devida atenção à saúde. A
estagiária, porém, novamente veio a reclamar por auxílio, pois “não entendia desse assunto”
(sic), ainda que tivesse acabado de ser orientada sobre ele, e insistiu se a equipe CAM não
poderia conversar ou pelo menos passar o endereço do CAPS Infantil para que ela pudesse
repassar à assistida. Aqui, também, o sentido predominante parece ser o de um profissional que
venha a atender inclusive as demandas mínimas que surjam dos profissionais do Direito.
Outro exemplo sobre esta questão se refere a equipe CAM ter sido solicitada para
articular uma vaga fixa a um assistido em um centro de acolhida da cidade. Visto que o sistema
de disponibilização de vagas em centros de acolhida, administrado pela Secretaria Municipal de
Assistência e Desenvolvimento Social, segue determinados critérios, uma articulação por parte
do CAM não garantiria a vaga demandada. Aqui, cabe destacar que os profissionais do Serviço
Social na DPESP também estão em constante relação com o Direito e frequentemente se
deparam com questões parecidas com as da Psicologia.
Segundo Popolo Apud França (2004), embora não haja problema em responder às
perguntas e às demandas do jurídico, a Psicologia deve transcender estas solicitações, evitando a
sua estagnação e constantemente repensando se é possível responder, do ponto de vista
psicológico, a todas as perguntas que lhe são lançadas.

3.2 Complementaridade

Embora atravessadas pelo modelo de subordinação quando se trata da relação entre os


profissionais, as práticas discursivas também trazem repertórios que rompem com este antigo
modelo e que possibilitam ao psicólogo uma perspectiva mais crítica com relação ao seu
trabalho.
No que diz respeito às atribuições deste profissional, alguns exemplos como sugerir
propostas de regulamentação de procedimentos técnicos, contribuir na elaboração de projetos e
de procedimentos técnicos de atuação; fomentar estratégias alternativas de composições de
conflitos na comunidade e atuar como conciliador, facilitador e mediador, mostram uma
atuação mais abrangente do que a atuação clássica voltada aos laudos e pareceres baseados no
psicodiagnóstico, estando então em consonância com práticas mais contemporâneas de
23

Psicologia Jurídica. Essas práticas foram influenciadas pela entrada de psicólogos nas políticas
públicas e acompanhadas pela construção, na Psicologia, do compromisso social:

A partir dessa perspectiva, é valorizada a construção de práticas


comprometidas com a transformação social, em direção a uma ética
voltada para a emancipação humana. Diferentes experiências apontaram
alternativas para o fortalecimento dos indivíduos e grupos para o
enfrentamento da situação de vulnerabilidade. Como resultado dessas
experiências houve uma ampliação da concepção social e governamental
acerca das contribuições da Psicologia para as políticas públicas, além da
geração de novas referências para o exercício da profissão de psicólogo
no interior da sociedade. (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA,
2007, p.20).

A garantia de direitos decorre destas transformações e é exemplo de outra forma de relação


da Psicologia com o Direito: a complementaridade. Neste caso como ciência autônoma e não
como especialidade aplicada, a Psicologia produz conhecimento que se relaciona com o
conhecimento produzido pelo Direito, numa interseção. Neste caso há um diálogo, uma
interação, inclusive com outros saberes (FRANÇA, 2004).
Assim como o Direito está apto a garantir direitos à pessoa necessitada, assim também está
a Psicologia, a partir de uma escuta qualificada, a fim de dar voz à pessoa que busca a garantia
de seus direitos na DPESP, considerando a sua “singularidade, experiências de vida e
necessidades únicas,” (CAVALCANTE, 2015, p.52). Este modelo também está de acordo com a
chamada interdisciplinaridade estrutural proposta por Japiassu (1977), na qual as disciplinas
ingressam no trabalho ao mesmo tempo num diálogo em pé de igualdade.
Alguns exemplos do cotidiano da DPESP também ajudam a compreender esta modalidade
de complementaridade. Por exemplo, são recorrentes os casos em que o CAM é acionado para o
atendimento de usuários com o discurso confuso. Muitos deles procuram a DPESP em busca de
auxílio da justiça a questões que fazem parte de seu delírio, como por exemplo, retirar os
grampos telefônicos colocados por Lula e Dilma em sua residência, ou solicitar uma
indenização de Abílio Diniz ou Michael Jackson por ter direito à herança deixada por eles,
dentre outros. Nestes casos, há uma tentativa de compreender se há alguma demanda jurídica ou
não por parte da pessoa, a partir de uma escuta qualificada. Conforme já apresentado, a
Deliberação CSDP n° 219 de 11 de março de 2011 regulamenta as hipóteses de atendimento pela
Defensoria Pública ao usuário em sofrimento ou com transtorno mental. Esta deliberação prevê a
atuação do CAM caso o usuário apresente dificuldade de comunicação decorrente de aparente
24

sofrimento ou confusão mental. Neste caso, prevê que o defensor público pode solicitar a
intervenção imediata de profissional do CAM.
Uma defensora pública solicitou auxílio do CAM, pois estava atendendo uma mulher com
um discurso trazendo informações desencontradas. Segunda ela, embora tenha tentado
compreender alguma demanda jurídica em sua conversa com a mulher, não conseguiu
identificar nada. Desta maneira pensou em solicitar o auxílio do CAM, pois com um escuta mais
especializada talvez fosse possível uma identificação de demanda. Neste exemplo, a profissional
verificou a necessidade de intervenção do CAM, compreendendo a possibilidade da Psicologia
ou do Serviço Social responderem a uma demanda que o Direito não dava conta.
Outras situações, porém, vêm desafiar esta noção de complementaridade. Por exemplo, o
CAM já foi acionado algumas vezes para o auxílio de usuários que estão alcoolizados. Contudo,
teriam os psicólogos e assistentes sociais recursos para lidar com esta demanda dentro da
DPESP? São recorrentes também casos em que o CAM é acionado por conta do usuário estar
gritando ou chorando. De fato, o acolhimento ao sofrimento psíquico se configura como uma das
funções do psicólogo, mas cabe o questionamento sobre o que está por trás dos
encaminhamentos feitos ao CAM. Por exemplo, em determinada ocasião um estagiário de
Direito solicitou auxílio da equipe CAM, pois estava atendendo um casal que tinha uma filha
homossexual. Diante da demanda, a equipe CAM solicitou mais informações e, segundo o
estagiário, o casal estava em conflito familiar devido a esta questão. Ao realizar o atendimento
do casal, porém, a equipe CAM se deparou com um conflito permeado por uma situação de
violência doméstica e no qual a tal filha pouco tinha a ver com a questão. Cabe destacar que o
estagiário demonstrou certa dificuldade ao expressar a solicitação, principalmente quando foi
se referir ao termo homossexual.
Neste caso, qual seria o sentido da solicitação inicial do estagiário? O fato da filha do casal
ser homossexual justificaria o encaminhamento ao CAM ou a situação de violência doméstica?
Retomando a proposta de análise por VICENTIN e OLIVEIRA (2012) das relações psi-
jurídicas, cabe destacar outra linha de análise que é a dos técnicos do desejo. Nesta linha, o saber
psi é acionado na sua função normalizadora e o Direito é colonizado pela norma. Citando
Foucault, as autoras esclarecem que desde a Modernidade o controle dos indivíduos não poderia
ser efetuado apenas pela própria justiça, mas precisaria de uma série de outros poderes e
instituições relacionados, que atuariam como vigilantes e corretores, inclusive o saber
psicológico. Tais poderes constituem a base do mecanismo de controle do comportamento e da
população: a chamada sociedade disciplinar.
Na sociedade disciplinar, as disciplinas inventaram um novo funcionamento punitivo que
interliga as regras e os procedimentos das estruturas jurídicas e as regras e os procedimentos das
25

disciplinas, ou seja, há uma colonização recíproca entre as normas disciplinares e as práticas e os


saberes do direito (VICENTIN e OLIVEIRA, 2012).
Nesta linha, o saber psi aparece como algo que vai normalizar, ressocializar, reintegrar e
humanizar, principalmente, o aparelho penal. Neste contexto, aponta Arantes (2008): “Sujeitar a
norma psicológica a procedimentos judiciários, transformar a psicologia em direito, dizer a
norma psicológica como se diz a lei, é o que o mal-estar atual entre os psicólogos jurídicos
parece apontar.” (ARANTES, 2008, p. 2).
Neste sentido, cabe o questionamento sobre em que medida a complementaridade da
Psicologia vem para humanizar o atendimento ou para servir de instrumento de normalização,
suprimindo manifestações que estariam para além da esfera do direito, a fim de que se adequem
ao modo de ser deste como disciplina. O chorar, o gritar, a não-lógica do discurso, estariam
contemplados na perspectiva do Direito? Estas manifestações seriam justificativas para “a
intervenção imediata de Agente de Defensoria que integre o Centro de Atendimento
Multidisciplinar da Unidade.” (SÃO PAULO, 2011, p.1)?
No que diz respeito à interdisciplinaridade, Leis (2005) levanta um artigo de Lenoir &
Hasni sobre a diferenciação de alguns sentidos de interdisciplinaridade de acordo com a cultura
onde ela foi desenvolvida. Segundo o autor, uma delas é a interdisciplinaridade de perspectiva
francesa que deriva do Renascimento e do Iluminismo, e possui um caráter reflexivo e crítico,
orientado “para a unificação do saber científico ou também para um trabalho de reflexão
epistemológico sobre os saberes disciplinares.” (LEIS, 2005, p.7).
Já a perspectiva norte-americana de interdisciplinaridade, que segundo ele influenciou a
universidade brasileira como um todo, parte de uma lógica instrumental, na qual a emancipação
humana não está relacionada diretamente com os conhecimentos, mas com a capacidade de agir
sobre o mundo e é orientada para a busca da funcionalidade social.
Neste sentido, podemos dizer que a interdisciplinaridade na DPESP estaria, em alguns
momentos, seguindo um modelo mais reflexivo e crítico, mas ainda sendo predominante um
modelo voltado à funcionalidade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das práticas discursivas presentes na legislação da DPESP trouxe à tona duas
perspectivas acerca do trabalho do psicólogo na instituição. A primeira delas voltada ao apoio,
dentro de um modelo de subordinação da Psicologia com relação ao Direito ou do trabalho do
psicólogo em relação aos profissionais de Direito. Esta perspectiva se alia a uma atuação mais
26

tradicional da Psicologia e de maneira aplicada, e para alguns autores (ARANTES, 2008) ela tem
frequentemente despertado questionamentos e um mal-estar devido à necessidade de autonomia
profissional.
A segunda perspectiva é voltada à complementaridade da Psicologia com relação ao
Direito, no sentido de atuar como uma ciência independente e não como uma especialidade
técnica voltada unicamente ao auxílio da prática jurídica. Esta perspectiva se alia às ideias de
Cavalcante (2015) que demonstra em sua tese que esta é uma perspectiva emancipatória, pois
abre possibilidades para estimular a participação, reflexão e responsabilidade das pessoas na
tomada de decisões em suas próprias vidas.
Foi possível perceber que ambas as modalidades atravessam a relação interdisciplinar na
DPESP. O posicionamento de alguns operadores do Direito parece evidenciar a noção de
Psicologia como um saber auxiliar, pronto para responder a qualquer solicitação feita pelo
jurídico e ao mesmo tempo impede que os saberes sejam compartilhados por diferentes
profissionais. Por outro lado, o posicionamento de outros operadores do Direito evidencia a
noção de complementaridade do saber psicológico que vem a contribuir com a ação institucional,
num sentido de verdadeira troca interdisciplinar, sem que os profissionais percam sua autonomia
profissional e independência técnica. A interdisciplinaridade, neste caso, transitaria entre uma
abordagem mais reflexiva e crítica e uma abordagem mais relacionada à funcionalidade.
O objetivo deste trabalho era compreender qual a noção do trabalho do psicólogo do ponto
de vista da legislação e dos profissionais de Direto da instituição e foi possível compreender
alguns dos pontos que circulam o tema. Duas perspectivas resultaram desta análise e foram
apresentadas a fim de contribuir com a reflexão acerca do trabalho do psicólogo não só na
relação com a Justiça e com o Direito, mas como um todo.

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31

ANEXO A
32

MAPA A
Deliberação CSDP nº 187, de 12 de agosto de 2010, alterada pela Deliberação CSDP nº 288, de 10 de janeiro de 2014.
Quem Função Instrumentalidade Fundamentos/finalidade
Deliberação CSDP nº 187, de 12 de
agosto de 2010.
Disciplina a estrutura e
funcionamento dos
Centros de Atendimento
Multidisciplinar.
Considerando a
concretização dos princípios
da integralidade e efetividade
na prestação da assistência
jurídica reclama
a intervenção interdisciplinar;
Considerando o disposto nos
artigo 69 a 71 da Lei
Complementar nº 988, de 09
de janeiro de 2006;
Considerando a necessidade
de
padronização dos serviços
interprofissionais nas áreas de
Psicologia e Serviço Social na
Defensoria Pública;
O Conselho Superior da Defensoria
Pública do Estado,
com fundamento no Artigo
31, incisos III, da Lei
complementar n.º 988, de 09
de janeiro de 2006,
delibera: Seção I - Dos
Artigo 1º. São princípios que
33

informam os serviços dos Centros


de Atendimento Multidisciplinar:
I - Humanização do
atendimento;
II – Instrumentalidade da atuação
dos Centros de Atendimento
Multidisciplinar em relação à
missão institucional da Defensoria
Pública, prevista na Lei
Complementar nº 80, de 12 de
janeiro de 1994 e na Lei
Complementar Estadual nº 988, de
9 de janeiro de 2006;
III – não substitutividade da
rede de serviços das políticas
públicas;
IV - Não substitutividade do
atendimento jurídico cabível,
em cada caso, ao Defensor
Público;
V - Estrita obediência aos códigos
de ética e demais normas que
regulam o exercício das atividades
dos profissionais integrantes dos
Centros de Atendimento
Multidisciplinar;
VI - Preservação da independência
técnica na área de atuação;
VII - Fundamentação do
trabalho no respeito e na
promoção da liberdade, da
dignidade, da igualdade e da
integridade do ser humano;
34

VIII - preservação prioritária


dos interesses do usuário
atendido pela Defensoria Pública ou
pelo Defensor solicitante da
intervenção profissional,
sem prejuízo da independência
técnica;
IX – Preservação da
privacidade nos
atendimentos;
X - Intercâmbio de informações
entre os profissionais que atuam no
caso,
garantindo-se o sigilo de
informações colhidas;
XI - Respeito à autonomia do
usuário, considerando suas
potencialidades e limitações
individuais;
XII – não obrigatoriedade da
submissão do usuário ao
atendimento multidisciplinar
como condição à assistência
jurídica;
XIII - diretriz de
interdisciplinaridade e de
intersetorialidade da intervenção
profissional;
XIV - informação ao usuário
em relação à existência, ao
propósito e natureza da
intervenção multidisciplinar;
XV - Presteza no atendimento das
35

solicitações;
XVI – adoção da perspectiva
preventiva, socioeducativa e
emancipatória da cidadania;
XVII – Articulação com a rede de
serviços e de políticas públicas
36

ANEXO B
37

MAPA B
Deliberação CSDP nº 187, de 12 de agosto de 2010, alterada pela Deliberação CSDP nº 288, de 10 de janeiro de 2014.
Função Finalidade Relação
I – Sugerir propostas
de regulamentação de procedimentos técnicos
à Assessoria Técnica Psicossocial;
II - prestar suporte técnico
aos Defensores Públicos, Servidores,
estagiários, à Ouvidoria-Geral e aos demais
Centros de Atendimento Multidisciplinar;
VI - contribuir
na elaboração de projetos e de procedimentos
técnicos de atuação;
VII – fomentar
estratégias alternativas de composições de
conflitos na comunidade;
VIII - Atuar como conciliador, facilitador e
mediador;
IX - Fortalecer
a integração
entre os diversos Núcleos Especializados e os
demais órgãos da Defensoria e as entidades
conveniadas
de modo a evitar a fragmentação do
atendimento;
X - Mapear e se articular com
com a rede de serviços da respectiva Regional,
assegurando-se, quando do encaminhamento
do usuário, da contra-referência em
conformidade com os procedimentos técnicos
a serem estabelecidos;
XI – Manter registro atualizado da rede de
serviços acessível
38

a todos os Defensores Públicos, Servidores e


Estagiários,
encaminhando-o
à Assessoria Técnico Psicossocial;
XII - compor grupos de trabalho, de estudos,
de gerenciamento ou referenciamento de rede,
sendo estes institucionais, interinstitucionais e
intersetoriais nas suas áreas de atuação e
interfaces competentes;
XIII– Receber os pedidos de intervenção,
dos Defensores Públicos e da Ouvidoria-Geral
cabendo-lhes, conforme escala pré-definida,
registrá-los e atendê-los, observando as
prioridades e os critérios definidos pelo
Coordenador do Centro de Atendimento
Multidisciplinar;
XIV – Auxiliar, em sua respectiva área
temática,
o Coordenador do Centro de Atendimento
Multidisciplinar
na definição de escalas, prioridades e critérios
de atendimento multidisciplinar, no âmbito da
Regional;
XV - Prestar apoio
ao serviço de atendimento especializado ao
público;
XVI - Participar
das atividades de educação em direitos em
suas respectivas Regionais, de eventos
promovidos pelos Núcleos Especializados em
suas respectivas áreas de atuação
e fortalecer
a articulação com a sociedade civil;
39

XVII – manter registro atualizado de


atendimentos, conciliações e mediações em
sistema
indicado pela Assessoria Técnica Psicossocial
e arquivos seguros,
bem como preservar
o sigilo das informações contidas nos arquivos
físicos próprios do Centro de Atendimento
Multidisciplinar;
XVIII – orientar e supervisionar tecnicamente
estagiários;
XIX – participar de fóruns de discussão,
supervisões em grupo e encontros presenciais
periódicos,
com o intuito de aperfeiçoamento e troca entre
profissionais;
XX - acompanhar e participar, quando
possível, das deliberações das Conferências,
dos Conselhos Municipais, Estaduais e
Federais afetos às funções institucionais;
XXI - realizar
atividades externas, quando necessário, no
âmbito de suas atribuições;
XXII – Elaborar relatórios estatísticos,
quantitativos e qualitativos das atividades
mensalmente desenvolvidas,
de acordo com modelo a ser definido pela
Assessoria Técnica Psicossocial,
encaminhando-os
a tal órgão.
XXIII - atuar junto
ao Defensor Público, quando necessário,
para a melhoria dos serviços prestados por
40

instituições ou programas que atendam


criança e adolescente sob medida de proteção
ou em cumprimento de medida
socioeducativa, em observância à garantia de
seus direitos;
XXIV – atuar junto
com o Defensor Público, quando necessário,
em visitas, reuniões e demais atividades
externas em instituições e em programas que
atendam criança e adolescente sob medida de
proteção ou em cumprimento de medida
socioeducativa, bem como em instituições e
programas pertencentes ou ligados ao sistema
prisional;
XXV – atuar em todas as áreas de intervenção
da Defensoria Pública.
TRECHO SUPRIMIDO
II – os Agentes de Defensoria Psicólogos
devem utilizar métodos e técnicas psicológicas
para realização de estudos, avaliações ou
intervenções psicológicas, bem como
manifestações técnicas, laudos, formulação e
resposta de quesitos, interpretação de
documentos técnicos, discussão de casos, e
demais intervenções profissionais na área do
conhecimento Psicologia, a partir da estratégia
apresentada pelo Defensor Público, tendo
garantida a eleição do procedimento técnico
mais adequado ao caso;
III - assessorar e construir plano de
intervenção
junto ao Defensor Público
para garantia de convivência familiar de
41

crianças e adolescentes com pais e mães


privados de liberdade ou submetidos a
medidas de segurança, seguindo demais
normativas institucionais;
IV - atuar para garantir,
junto às entidades de atendimento das medidas
socioeducativas e de proteção,
a efetivação do Plano Individual de
Atendimento (PIA).
42

ANEXO C
43
44

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