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São Paulo
2016
RESUMO
A Psicologia vem se fazendo presente nos mais variados setores da sociedade brasileira ao longo
de sua história. Uma das áreas nas quais a atuação do psicólogo foi demandada é a jurídica, na
qual o desenvolvimento e convivência de diversas práticas constituiu um importante campo de
trabalho para os psicólogos. O objetivo deste trabalho foi investigar noções acerca do trabalho do
psicólogo na interface com o Direito, focando as diretrizes do trabalho e atribuições deste
profissional na Defensoria Pública do Estado de São Paulo, por meio da análise da legislação que
rege a instituição, bem como de uma experiência de estágio nela realizado. Para tanto foi
realizada a análise das deliberações do Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado de
SP referentes ao trabalho do psicólogo na instituição, além de observação no cotidiano da
Unidade de atendimento central da cidade de São Paulo a fim de se verificar como os sentidos
são construídos. Os pontos de análise foram apresentados levando em conta o princípio da
interdisciplinaridade e suas implicações. A análise das práticas discursivas presentes na
legislação da DPESP trouxe à tona duas perspectivas acerca do trabalho do psicólogo na
instituição. A primeira delas voltada ao apoio, dentro de um modelo de subordinação da
Psicologia com relação ao Direito ou do trabalho do psicólogo em relação aos profissionais de
Direito, que tem frequentemente despertado questionamentos e um mal-estar devido à
necessidade de autonomia profissional. A segunda perspectiva é voltada à complementaridade da
Psicologia com relação ao Direito, no sentido de atuar como uma ciência independente e não
como uma especialidade técnica voltada unicamente ao auxílio da prática jurídica. Foi possível
perceber que ambas as modalidades atravessam a relação interdisciplinar na DPESP e que esta
tem se expressado entre uma abordagem mais reflexiva e crítica e uma abordagem mais
relacionada à funcionalidade.
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
1.1 Breve histórico da relação entre Psicologia e Justiça........................................................2
1.2 A Defensoria Pública no Brasil e no Estado de São Paulo.................................................6
1.3 A inserção do psicólogo na Defensoria Pública do Estado de São Paulo..........................11
1.4 Justificativa e objetivo..................................................................................................13
2 METODOLOGIA................................................................................................................14
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................................19
3.1 Apoio........................................................................................................................... 20
3.2 Complementaridade.....................................................................................................22
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................................26
5 REFERÊNCIAS...................................................................................................................27
ANEXO A.....................................................................................................................................31
ANEXO B.....................................................................................................................................36
ANEXO C.....................................................................................................................................42
1
1 INTRODUÇÃO
Para além da naturalização, vários autores apontam que a psicologia positivista “se
fundava na neutralidade, em um entendimento de que a psicologia do indivíduo explicaria a
psicologia da sociedade, e que sua característica naturalizante se baseava na compreensão de
uma cognição abstrata e descontextualizada e, por consequência, a-histórica.” (ALMEIDA,
2012, p. 132). A neutralidade científica, porém, não é possível, uma vez que o cientista vive uma
5
realidade histórica, pertence a uma classe social e é comprometido com alguma visão da
sociedade, ainda que se declare neutro (MALHEIRO E NADER, 1987).
A psicologia positivista é considerada, ainda, por vários autores como instrumento de
alienação, ao cumprir uma função de agente de adaptação dos indivíduos à sociedade e suas
instituições. Ainda segundo Malheiro e Nader (1987), a preocupação maior da psicologia foi a de
se desenvolver no campo da prática, convertendo-se mais em instrumento de poder, do que em
elaborar um corpo teórico de conhecimentos a respeito do homem, exercendo secundariamente
sua função de saber. Esta função social, porém, não é inerente à Psicologia, mas se deu frente às
necessidades históricas do capitalismo, que orientam toda a dinâmica das relações sociais,
inclusive a produção de conhecimentos científicos.
Assim, por muitas décadas, os métodos e práticas psicológicos acabaram privilegiando
interesses de determinados grupos sociais e contribuindo para a expressão de diversos
fenômenos, como por exemplo, a patologização de questões sociais e a estigmatização de
determinadas populações, como os negros e seus descendentes, e responsabilizavam unicamente
os sujeitos, contribuindo para a exclusão e desigualdade social.
A perspectiva crítica influenciou também a prática dos psicólogos em interface com a
justiça. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, havia um curso de
especialização em psicologia clínica chamado Psicodiagnóstico para Fins Jurídicos, que
posteriormente foi reformulado para, em 1986, ser vinculado ao departamento de psicologia
social (ALTOÉ, 2001).
Segundo Mattos (2013), um dos marcos que caracterizaram a transformação da atuação no
fazer psicológico junto à Justiça foi a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA), em 1990. Impulsionado pelas discussões acerca dos direitos humanos e dos direitos
instituídos pela Constituição de 1988, o ECA tornou-se a nova lei de referência para crianças e
adolescentes, reconhecendo-os como sujeitos de direito e tratando-os como pessoas em
desenvolvimento.
Diante das novas perspectivas, a atuação dos psicólogos se ampliou. Em primeiro lugar
porque o ECA passou a considerar a necessidade de equipe interprofissional na abordagem a
crianças e adolescentes e, em segundo lugar, por propor novas intervenções para estes
profissionais, além do perito e do psicodiagnóstico, que envolviam o aconselhamento, a
orientação, o encaminhamento, a prevenção, etc. (BRASIL, 1990).
O psicólogo passou a ser demandado não só na Vara da Infância e da Juventude, como
também na Vara da Família, onde começou a atuar na orientação, acompanhamento e
aconselhamento em processos de divórcio, disputa de guarda, regulamentação de visitas, adoção,
destituição do poder familiar, etc. Outra importante prática desenvolvida desde então foi a
6
mediação, em que as partes são as responsáveis pela solução do conflito com ajuda do psicólogo
como um terceiro imparcial, como mediador. Diz-se da mediação que ela é uma ferramenta que
confere mais autonomia às pessoas para que possam resolver suas desavenças da maneira mais
conveniente para elas, sem a necessidade de que o juiz decida por elas (MATTOS, 2013).
Além disso, conforme o vídeo Entre o direito e a lei: uma história da psicologia jurídica
em São Paulo, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (2014), pode-se dizer que hoje
se busca uma maior reflexão em relação à avaliação psicológica e diversos instrumentos e
técnicas além dos testes, que passaram a ser utilizados no intuito de compreender o indivíduo em
seu contexto.
Os psicólogos têm trabalhado, inclusive, elaborando perícias cíveis e criminais em diversas
instituições, como por exemplo, o Instituto Médico Legal. As perícias cíveis correspondem a
casos de interdição de pessoas, capacidade de testemunho em processo civil, perturbação mental,
seguro de vida, questões matrimoniais, curatela de pródigos, acidentes de trabalho etc. Há
também o trabalho desenvolvido em delegacias, programas de proteção à testemunha, ONGs que
atendem egressos das prisões, entre outros locais.
Como visto acima, desde o começo de sua relação até a diversidade de práticas existentes
nos dias atuais, a interface entre a Psicologia e a Justiça foi marcada por debates acerca do papel
do psicólogo, seu foco de atuação e sua postura crítica frente aos desafios impostos à profissão,
debates estes que perduram até hoje. Como este trabalho foca a interface entre Psicologia e
Direito na DPESP, a seguir vamos nos ater ao histórico de criação desta instituição e seus
desdobramentos.
Estado do Rio de Janeiro, servindo de exemplo para outros Estados. A maioria dos outros
estados da federação passou a fundar Defensorias Públicas apenas na década de 1990, ainda que
alguns deles tivessem serviços de assistência jurídica previstos por leis e decretos estaduais,
como a Bahia.
A Constituição Federal de 1988 versa, no seu Artigo 5º:
O Estado de São Paulo foi um dos últimos estados no país a criar uma Defensoria Pública.
Até 2006, apenas dois Estados não possuíam Defensorias Públicas: São Paulo e Santa Catarina.
Conforme histórico levantado por Haddad (2011), embora houvesse movimentos desde a década
de 80 do século passado, a criação de uma Defensoria Pública em São Paulo enfrentou uma série
de resistências.
A assistência judiciária no Estado era prestada por meio da Procuradoria de Assistência
Judiciária (PAJ), parte da Procuradoria Geral do Estado (PGE). Havia cerca de trezentos
procuradores atuando em apenas 26 cidades. Nas cidades em que não havia procuradores, a
assistência era feita por advogados particulares e entidades conveniadas. A maioria dos
procuradores não enxergava a necessidade da criação de uma Defensoria, visto que já realizavam
o trabalho de defesa da população necessitada. Além da perda remuneratória, baseada em
estimativas do cargo de defensor público em outros estados, a mudança aparentava instabilidade
profissional. Do ponto de vista político, o Governador do Estado em exercício também não tinha
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interesse em criar uma nova instituição, uma vez que a ideia recorrente no contexto político da
época era o corte de gastos por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000 (HADDAD,
2011).
Embora prestada de forma competente, havia muitas críticas sobre este modelo de
assistência. Dentre elas, a dificuldade de fiscalizar o trabalho realizado pelos advogados
particulares e das entidades conveniadas, “as condições precárias de trabalho dos procuradores
que atuavam no setor” e a “dupla atribuição da PGE de defender tanto os interesses do Estado
como os interesses do cidadão quando lesados por ele” (OLIVEIRA, 2015. p. 22).
Na medida em que a tensão dentro da PGE aumentava por conta da dupla atribuição,
certos procuradores, impulsionados pelo trabalho realizado em equipamentos que ampliavam o
atendimento jurídico à população carente, como os Centros de Integração da Cidadania 1 (CIC) e
os Centros de Referência de Apoio à Vítima 2 (CRAVI), também pelos movimentos sociais e por
um Grupo de Trabalho de Direitos Humanos da PGE, passaram a esboçar um projeto por uma
Defensoria Pública no Estado de São Paulo e, assim, em 2002 nasceu o Movimento pela
Defensoria Pública (MDPESP), o qual veio a envolver nada menos que 440 instituições e deu
início à organização de petições e manifestações públicas, além da busca de apoio para a causa
em setores importantes da comunidade jurídica e do sistema político (GOZETTO, 2011).
Após um longo processo de proposta, discussão e votação na Assembleia Legislativa do
Estado de São Paulo (Alesp), a Defensoria Pública foi implementada em São Paulo por meio da
promulgação da Lei Complementar nº 988, de 9 de janeiro de 2006.
1
“O Centro de Integração da Cidadania (CIC) é um programa que visa proporcionar à sociedade os seus direitos por
meio da participação popular e garantir formas alternativas de acesso à justiça. Os centros estão instalados em 11
postos fixos localizados em áreas de alta vulnerabilidade social da capital e do interior do Estado. Nas Unidades
CIC, a população tem acesso a serviços públicos gratuitos e pode participar ativamente de ações para o
desenvolvimento local em seis pontos da capital paulista e nos municípios de Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos,
Francisco Morato, Campinas e Jundiaí. Nas unidades, são oferecidas palestras sobre temas diversos, oficinas
culturais, orientações sociais e jurídicas, mediação comunitária de conflitos, reuniões do Conselho Local de
Integração da Cidadania (Clic) e atividades educativas de promoção e conscientização na área de direitos humanos e
cidadania, focadas no Programa Estadual de Direitos Humanos. Nas Unidades CIC, também são emitidos
documentos pessoais como Carteira de Identidade, Carteira de Trabalho, 2ª vias de Certidões de Nascimento,
Casamento e Óbito, além da promoção de cursos e eventos em parceria com diversos órgãos.” FONTE:
http://www.justica.sp.gov.br/portal/site/SJDC. Acesso em maio de 2016.
2
“O CRAVI – Centro de Referência e Apoio a Vítima - é um programa da Secretaria da Justiça e da Defesa da
Cidadania, criado em julho de 1998 pelo Governo do Estado de São Paulo, que tem como missão: ser referência
para ações e políticas públicas que visem superar os ciclos de violência e promover reconhecimento, cidadania e
acesso aos direitos de vítimas de crimes violentos. O CRAVI oferece atendimento público e gratuito a vítimas, e
seus familiares, de crimes violentos. Conta com uma equipe interdisciplinar de triagem, especializada em receber,
triar e encaminhar os usuários para a rede ou serviços pertinentes a suas demandas, bem como uma equipe
interdisciplinar de atendimento especializada em acolher, atender, informar e orientar vítimas e familiares de vítimas
nos casos de crimes de homicídio, latrocínio e ameaça. O programa busca facilitar o acesso a informações,
orientação jurídica e serviços públicos. A assistência às vítimas auxilia no desenvolvimento de recursos psíquicos
que proporcionem atitudes positivas frente às consequências da violência e promove a reconstrução de laços sociais,
a confiança na Justiça e o exercício da cidadania. Realiza também mensalmente oficinas abertas para o público sobre
temas correlatos.” FONTE: http://www.justica.sp.gov.br/portal/site/SJDC. Acesso em maio de 2016.
9
A Defensoria Pública, apesar de ser instituição estadual, não é vinculada ao governo. Sua
autonomia é prevista pela Constituição Federal, mais especificamente pela Emenda 45/2004,
emenda esta que contribuiu, inclusive, para sua criação no Estado de São Paulo. Esta autonomia
é uma garantia para que os Defensores Públicos possam representar os direitos da população sem
qualquer tipo de constrangimento, ao contrário do que ocorria muitas vezes na PGE.
A administração superior da instituição é conduzida pelo Defensor Público-Geral do
Estado, nomeado pelo Governador a partir de uma lista tríplice formada pelos candidatos mais
votados em eleição com participação de todos os defensores. O principal órgão para tomada de
decisões internas na DPESP é o Conselho Superior da Defensoria Pública. O Conselho Superior
é o órgão deliberativo máximo, do qual partem as deliberações que organizam a instituição.
Dentre as suas atribuições destacam-se exercer o poder normativo no âmbito da DPESP, fixar
parâmetros mínimos de qualidade para a atuação dos defensores públicos, aprovar o plano anual
de atuação da instituição, formular regras para a eleição do Defensor Público-Geral, dentre
outras (SÃO PAULO, 2006).
A DPESP atua em qualquer espécie de caso que seja de competência da Justiça Estadual,
sempre na defesa de um cidadão ou de um grupo de cidadãos carentes. No entanto, é possível
destacar algumas áreas de atuação. A Área Cível compreende ações na área do Direito Civil,
Direito de Família e de Sucessões, Direito do Consumidor, Direito Urbanístico, Direito
Ambiental, Direito à Saúde, Garantias Constitucionais, entre outras;
A Tutela Coletiva compreende a proposição de ações civis públicas na defesa coletiva
das demandas dos cidadãos carentes como Habitação, Urbanismo, Saúde, Meio-Ambiente e
Defesa do Consumidor. A lei prevê também que a Defensoria Pública promova termos de
ajustamento de conduta (acordos extrajudiciais com força legal) para garantir que as demandas
dessa natureza sejam resolvidas rapidamente e sem necessidade de um processo judicial.
A Área Criminal corresponde essencialmente à defesa dos réus de forma ampla e
abrangente. A Defensoria promove não apenas a defesa em primeira instância, mas maneja todos
os recursos cabíveis, tendo atuação marcante perante o STJ e o STF. Também é possível a
atuação em defesa da vítima, especialmente nas hipóteses de Juizados Especiais ou de aplicação
da Lei Maria da Penha (proteção contra mulheres vítimas de violência doméstica).
A Área da Infância e Juventude concentra a defesa de adolescentes acusados de terem
cometido atos infracionais ou que cumprem medidas socioeducativas por determinação judicial
(internação, liberdade assistida, serviços comunitários, entre outras). Outros casos incluem o
atendimento a crianças e adolescentes que vivem em abrigos; pedidos de adoção ou de guarda e
demais disposições relativas ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
10
Por fim, a Área de Execução Criminal é a área responsável pela defesa de cidadãos que
estejam cumprindo pena após condenação judicial pelo cometimento de um crime. Inclui a
formulação de diversos pedidos, tais como: progressão de regime, liberdade condicional, indulto,
defesa em faltas disciplinares, além de outros relativos aos tratamentos dispensados dentro do
sistema penitenciário. Todos os presídios do Estado são visados por uma Coordenadoria de
Execução Criminal da Defensoria Pública, tendo em vista a atribuição da instituição de fiscalizar
as unidades prisionais e garantir o respeito aos direitos das pessoas detidas. Para isso, os
Defensores Públicos promovem vistorias (uma prerrogativa funcional prevista em lei) e recebem
denúncias. A Defensoria é responsável, ainda, por administrar os convênios que mantêm
advogados de entidades que prestam auxílio gratuito dentro dos presídios.
Cabe destacar que o público da DPESP é composto por pessoas que não têm condições
financeiras de pagar assistência jurídica. Para ser atendido é necessário comprovar essa situação,
a renda familiar, o patrimônio e gastos mensais, que podem ser pedidos por meio de documentos.
O limite para receber o atendimento da DPESP é receber menos de três salários mínimos.
A DPESP conta, ainda, com Núcleos Especializados cujo objetivo é promover uma
atuação estratégica da instituição em áreas de sensível importância. Os Núcleos coordenam os
debates e materiais produzidos pelos defensores públicos em sua área respectiva, fornecendo a
eles qualquer suporte técnico necessário. Além disso, também propõem ações judiciais e são
responsáveis por coordenar o acionamento de Cortes Internacionais quando for necessário.
Cabe aos Núcleos compilar e remeter informações técnico-jurídicas, sem caráter
vinculativo, aos Defensores Públicos; propor medidas judiciais e extrajudiciais, para a tutela de
interesses individuais, coletivos e difusos, e acompanhá-las, agindo isolada ou conjuntamente
com os Defensores Públicos, sem prejuízo da atuação do Defensor Natural; realizar e estimular o
intercâmbio permanente entre os Defensores Públicos, objetivando o aprimoramento das
atribuições institucionais e a uniformidade dos entendimentos ou teses jurídicas; realizar e
estimular o intercâmbio com entidades públicas e privadas, bem como representar a instituição
perante conselhos e demais órgãos colegiados, por qualquer de seus membros, mediante
designação do Defensor Público-Geral do Estado; atuar e representar junto ao Sistema
Interamericano dos Direitos Humanos, propondo as medidas judiciais cabíveis; prestar assessoria
aos órgãos de atuação e de execução da Defensoria Pública do Estado e coordenar o acionamento
de Cortes Internacionais (SÃO PAULO, 2006).
Os atuais Núcleos Especializados da Defensoria são: Cidadania e Direitos Humanos;
Infância e Juventude; Habitação e Urbanismo; Segunda Instância e Tribunais Superiores;
Situação Carcerária; Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito; Promoção e Defesa dos
Direitos da Mulher; Direitos do Idoso e da Pessoa com Deficiência e Defesa do Consumidor.
11
Como ocorre em outras áreas e instituições, a Psicologia foi chamada a atuar junto aos
profissionais do Direito no que concernem os objetivos das Defensorias. A Lei Complementar nº
988, de 09 de Janeiro de 2006, que organizou e regulamentou a DPESP, já previa em seu artigo
nº48 a atuação de outros profissionais, dentre eles o psicólogo, por meio da criação dos Centros
de Atendimento Multidisciplinar (CAMs).
Nesta lei o CAM é instituído como órgão auxiliar da DPESP, tendo como seu principal
objetivo assessorar os Defensores Públicos nas áreas relacionadas às suas atribuições. O texto diz
que os CAMs podem contar com profissionais e estagiários das áreas de psicologia, serviço
social, engenharia, sociologia, estatística, economia, ciências contábeis e direito, dentre outras.
Diz também que os CAMs serão coordenados por Defensores Públicos designados pelo Defensor
Público-Geral do Estado (SÃO PAULO, 2006).
Entretanto, somente em 2009 criou-se o primeiro concurso público para psicólogos e
assistentes sociais a comporem a equipe dos CAMs da DPESP, a partir do qual foram
contratados 47 psicólogos e 17 assistentes sociais que foram divididos em várias unidades da
Defensoria no Estado. Por fim, em agosto de 2010, o Conselho Superior da Defensoria Pública
publicou a Deliberação nº 187, a qual disciplinava e estruturava o funcionamento dos CAMs.
Sendo assim, é previsto que o CAM intervenha junto ao setor jurídico, numa atuação
interdisciplinar, considerando “a concretização dos princípios da integralidade e efetividade na
prestação da assistência jurídica (…)”. (SÃO PAULO, 2006). O modo como esta atuação
interdisciplinar se dá é particular de cada unidade. Mas de modo geral, a população que chega à
DPESP apresenta sua queixa ao setor jurídico e o defensor público analisa de que modo ele pode
auxiliá-la. Caso ele julgue necessária a intervenção dos profissionais do CAM, faz o
encaminhamento do assistido3 à equipe.
Ao longo dos primeiros anos de atuação, alguns dos primeiros psicólogos e assistentes
sociais que compuseram as equipes dos CAMs foram chamados a formar uma equipe de
assessoria a outros CAMs do Estado visando uma atuação cada vez mais especializada. Para
tanto, criou-se a Assessoria Técnica Psicossocial, localizada na unidade central da Defensoria
Pública do Estado, que assessora tecnicamente os profissionais das unidades do Estado. Como
exemplo dessa assessoria, foi elaborada uma série de cinco eixos para orientar e caracterizar a
atuação dos profissionais do CAM dentro da Defensoria, contribuindo para o reconhecimento e
alinhamento de seu trabalho junto a outros profissionais. São estes os eixos4:
3
Nome pelo qual o usuário é chamado a partir do momento que adentra à Defensoria.
4
Não foram produzidos documentos oficiais pela Assessoria Técnica Psicossocial acerca dos cinco eixos de
trabalho do CAM. As informações referentes a eles estão disponibilizadas em apresentação online na página:
12
Assim, por meio dos métodos e práticas previstos nos eixos e de acordo com as demandas
encaminhadas ao CAM, o trabalho do psicólogo na DPESP vem se constituindo numa
Tendo como base o histórico da relação entre Psicologia e Justiça, a leitura de artigos e
teses sobre o assunto, bem como minha experiência de estágio na DPESP, pude verificar que este
é um campo repleto de questões e desafios para a Psicologia.
Segundo Arantes (2007), existe um mal-estar entre os psicólogos que atuam no âmbito
judiciário e que tem sido objeto de frequentes problematizações. Para além da insatisfação
quanto à restrição de seu trabalho a atividades avaliativas, somam-se os questionamentos e
conflitos decorrentes da “subordinação hierárquica, real ou imaginária, ao magistrado”, que leva
em conta a autonomia profissional, e “também uma tendência do judiciário de interferir no
espaço antes considerado próprio da atividade do psicólogo ou de outros profissionais da saúde”.
(ARANTES, 2007, p. 1).
Como exemplo de práticas que fazem emergir este conflito, podemos citar práticas como a
Justiça Terapêutica5 e o Depoimento Sem Dano6 que tem sido alvo de inúmeras críticas dos
Conselhos Federais e Regionais de Psicologia e Serviço Social, sendo uma das mais recorrentes
o desrespeito aos direitos humanos e à dignidade de crianças, adolescentes e adultos.
5
“A Justiça terapêutica ou tribunal das drogas tem sido uma das medidas adotadas pelo sistema judiciário em
diversas partes do mundo e principalmente nos Estados Unidos da América, lugar de sua concepção e origem na
abordagem dos problemas associados ao uso abusivo de drogas e ao aumento da violência e da criminalidade de rua
nos grandes centros urbanos. Como uma medida jurídica e penal, esses tribunais das drogas encaminham os usuários
de drogas e infratores que apresentam condutas violentas e antissociais para tratamento de desintoxicação em
clínicas médicas e hospitais. A medida tomada implica o monitoramento da execução da pena - tratamento com a
solicitação de avaliações, exames e relatórios da equipe de saúde e da assistência social e psicológica. (...) O Juiz
requisita o tratamento, como medida de proteção, já na audiência preliminar ou mesmo ao longo do cumprimento
das outras medidas, que são as socioeducativas propriamente ditas. Os jovens são encaminhados para tratamento
médico e/ou psicológico como medida “preventiva”. A mais grave é a internação, que implica a restrição de
liberdade. Entretanto, pelo estatuto da criança e do adolescente, o jovem é considerado uma pessoa em
desenvolvimento e o caráter excepcional e a brevidade das medidas devem ser observados, devendo sempre que
possível evoluir para medidas em meio aberto como a liberdade assistida.” (VERGARA, 2011, p. 58)
6
“No depoimento sem dano, a audiência com a criança ocorre em sala privada, ao invés de inúmeros depoimentos
frente ao juiz, o promotor, o réu e o advogado. A inquirição com a criança é realizada por uma psicóloga ou uma
assistente social. O juiz e os demais presentes na sala de audiência vêm e ouvem o depoimento da criança por um
aparelho de TV. Na sala de audiência, o juiz pode fazer perguntas e solicitar esclarecimentos por comunicação em
tempo real com o psicólogo. Assim, o depoimento sem dano tem sido implantado para reduzir o dano (daí o nome
da prática) das inúmeras oitivas às quais a criança é submetida no processo de abuso sexual, inclusive frente ao réu
(que geralmente é algum familiar). (...) A idéia do depoimento sem dano é adotar uma política de redução de danos e
“emprestar qualidade aos fatos narrados em seus depoimentos, permitindo dessa forma que também se
responsabilize o agressor”. (...) questiona ainda a exposição da criança a 4, 5, 6 inquirições no modelo legal vigente,
“buscando evitar não só que tantas exposições ocorram, provocando danos ao depoente, como também que aquela
inquirição que poderá embasar a responsabilização do agressor ocorra em tempo muito distante daquele que o fato
ocorreu, subtraindo com isso do julgador dados importantes para um correto e isento exame do mérito da acusação.”
(CONTE, 2008, p. 220)
14
Tendo a DPESP possibilitado um novo campo de trabalho para a Psicologia, este também
implica questões éticas e técnicas que podem servir como objeto de estudo sobre a relação entre
as duas áreas. Conforme aponta Vilar de Carvalho (2013):
2 METODOLOGIA
na relação e que são permeados por relações de poder. “As práticas discursivas, portanto,
implicam necessariamente o uso de repertórios e posicionamentos identitários” (SPINK, 2013, p.
37).
Assim, dentre as perspectivas de estudo do uso da linguagem, a perspectiva discursiva traz
a problematização do contexto discursivo considerando as relações de poder presentes na
interação e a determinação do discurso de maneira historicamente situada. Sendo assim, o
presente trabalho procurou analisar as práticas discursivas presentes na legislação da DPESP e na
relação de profissionais do Direito na instituição a respeito da Psicologia e do trabalho do
psicólogo.
Por meio de uma busca de documentos no site http://www.defensoria.sp.gov.br/ e partir de
uma leitura dinâmica, foram selecionados documentos legais produzidos pelo Conselho Superior
da DPESP que se referiam diretamente ao trabalho do psicólogo na instituição. São eles:
Sobre documentos públicos, Spink et al. (2014) afirmam que são produtos sociopolíticos
representantes de uma esfera de ação e discussão e que refletem práticas discursivas. Neste
sentido, a lei, como documento público, além de um relato que nos permite enxergar uma
conduta que é juridicamente relevante, também é resultado de um contexto mais amplo e produto
de seu tempo, muitas vezes resultando do diálogo, combativo ou não, de diversos movimentos
políticos e sociais, atores independentes e grupos de influência e de pressão (SPINK et al., 2014,
p. 217).
Levando em conta o histórico da criação da DPESP, a lei é resultado de embates e alianças
entre os integrantes do MDPESP e outros atores e, como prática discursiva, expressa
determinados posicionamentos, que foram objeto de análise.
Como instrumento para a análise das práticas discursivas presentes na legislação foi
utilizado o mapa dialógico. Dois passos iniciais embasam a elaboração do mapa: a transcrição
17
A transcrição integral, por sua vez, inclui todas as falas e expressões de forma literal e
serve para facilitar a compreensão da análise realizada. Para isso, numeram-se as linhas para que
sejam encontradas as falas a serem referenciadas na interpretação e no mapa. Após serem
realizadas as duas transcrições, o mapa dialógico é construído com linhas e colunas e organizado
com o objetivo do estudo, com os temas identificados na transcrição sequencial e a que aspectos
queremos dar visibilidade em nossa análise.
Os mapas dialógicos também auxiliam no processo de dar visibilidade aos passos da
construção da pesquisa que, dentro da perspectiva construcionista, implica seu rigor
metodológico. Spink (2014) esclarece:
Foram feito dois mapas dialógicos referentes à Deliberação nº 187, uma vez que ela
disciplina a estrutura e funcionamento dos CAMs, órgão auxiliar no qual o psicólogo atua na
DPESP. O primeiro mapa se refere aos princípios que regem o trabalho do psicólogo e está
disponível no Anexo A. O segundo mapa se refere à estrutura dos CAMs e às atribuições dos
agentes de defensoria como um todo e está disponível no anexo B. Alguns trechos do mapa
dialógico foram suprimidos a fim estreitar a análise apenas para os pontos referentes ao trabalho
do psicólogo.
Um segundo procedimento, concomitante ao estudo e confecção dos mapas dialógicos, foi
a observação no cotidiano da DPESP, mais especificamente na Unidade de Atendimento Inicial,
local no qual estou realizando estágio em Psicologia e cujo contrato foi intermediado pelo Centro
de Integração Empresa-Escola (CIEE). O foco da observação foram os encaminhamentos
realizados pelo setor jurídico ao CAM da unidade como forma de compreender qual a ideia de
Psicologia e/ou do trabalho do psicólogo do ponto de vista dos profissionais de Direito, entre
estagiários e defensores públicos.
Sobre a observação como método de pesquisa, Spink (2014) defende uma observação no
cotidiano, onde o pesquisador convive em espaços nos quais participa de ações e compartilha da
cultura as sustenta. “Essa postura ancora-se em uma abordagem construcionista da pesquisa
social, que busca compreender os sentidos produzidos pelas pessoas nas interações cotidianas
(...).” (SPINK et al., 2014, p.124).
Como instrumento para auxílio na observação, foi utilizado um diário de campo
preenchido a cada fim de expediente com as impressões acerca dos encaminhamentos realizados,
mantendo o sigilo de informações tanto dos casos encaminhados quanto dos atores envolvidos no
encaminhamento interno.
Cardona, Cordeiro e Brasilino (2014) apontam que diários de campo podem ser utilizados
tanto como material principal de pesquisa, como também ser auxiliares de um procedimento
principal, como a análise de entrevistas, análise de documentos, etc. Eles auxiliam nas análises e
interpretações e podem servir como ponto de reflexão e insight futuro. É nesta modalidade, de
auxiliar para o procedimento principal, que os registros do diário foram utilizados, a fim de
exemplificar as análises e contrapor dados da análise documental.
19
Conforme o objetivo deste trabalho, esta seção apresenta a discussão sobre qual a noção
recorrente acerca do trabalho do psicólogo na DPESP. A partir dos elementos que foram
analisados nos mapas dialógicos, foram selecionados dois temas de análise, sendo estes o tema
Apoio e o tema Complementaridade. Ao longo da análise dos temas emergentes no mapa
dialógico, percebeu-se que todos podem ser analisados levando em conta o princípio da
interdisciplinaridade, um dos mais elementares na constituição da DPESP.
Em entrevista publicada por Haddad (2011), o então defensor público Vitore André Zílio
Maximiano, uma das principais lideranças do MDPESP, relata que a visão multidisciplinar que a
DPESP carrega decorre tanto da experiência acumulada no trabalho em instituições de garantia
de direitos como os CIC e os CRAVI, locais onde havia atuação conjunta entre diversos
profissionais; como também por conta da participação ativa dos movimentos sociais na
formulação do projeto pela criação da DPESP. Em 2002, houve a publicação de um manifesto
como ato de oficialização do MDPESP, no qual uma das propostas que já figurava era a de
“prestar atendimento interdisciplinar realizado por defensores, psicólogos e assistentes sociais.”
(HADDAD, 2011, p.63).
O princípio de interdisciplinaridade aparece nos repertórios interpretativos da legislação
em vários momentos. Por exemplo, no que diz respeito às atribuições institucionais da DPESP, a
Lei 988/2006 elenca “prestar atendimento interdisciplinar” (SÃO PAULO, 2006). Já a
Deliberação nº 187 reforça como um dos princípios do CAM a “diretriz de
interdisciplinaridade e de intersetorialidade da intervenção profissional” (SÃO PAULO, 2014).
Sendo assim, os pontos de análise serão apresentados levando em contato o princípio da
interdisciplinaridade e suas implicações. A fim de exemplificar sua ocorrência no cotidiano de
uma das unidades da instituição, alguns momentos do diário de campo serão apresentados no
decorrer do texto por meio da fonte “Courier New”, em itálico.
3.1 Apoio
A princípio, podemos nos ater ao tema APOIO, que inclui termos como assessoramento,
suporte, apoio e auxiliar, e se mostrou frequente nos repertórios interpretativos. Como
exemplo, temos os Artigos 48 e 69 da Lei Complementar nº 988, que dizem: “Artigo 48. As
Defensorias Públicas Regionais e a Defensoria Pública da Capital serão capacitadas com ao
20
3.2 Complementaridade
Psicologia Jurídica. Essas práticas foram influenciadas pela entrada de psicólogos nas políticas
públicas e acompanhadas pela construção, na Psicologia, do compromisso social:
sofrimento ou confusão mental. Neste caso, prevê que o defensor público pode solicitar a
intervenção imediata de profissional do CAM.
Uma defensora pública solicitou auxílio do CAM, pois estava atendendo uma mulher com
um discurso trazendo informações desencontradas. Segunda ela, embora tenha tentado
compreender alguma demanda jurídica em sua conversa com a mulher, não conseguiu
identificar nada. Desta maneira pensou em solicitar o auxílio do CAM, pois com um escuta mais
especializada talvez fosse possível uma identificação de demanda. Neste exemplo, a profissional
verificou a necessidade de intervenção do CAM, compreendendo a possibilidade da Psicologia
ou do Serviço Social responderem a uma demanda que o Direito não dava conta.
Outras situações, porém, vêm desafiar esta noção de complementaridade. Por exemplo, o
CAM já foi acionado algumas vezes para o auxílio de usuários que estão alcoolizados. Contudo,
teriam os psicólogos e assistentes sociais recursos para lidar com esta demanda dentro da
DPESP? São recorrentes também casos em que o CAM é acionado por conta do usuário estar
gritando ou chorando. De fato, o acolhimento ao sofrimento psíquico se configura como uma das
funções do psicólogo, mas cabe o questionamento sobre o que está por trás dos
encaminhamentos feitos ao CAM. Por exemplo, em determinada ocasião um estagiário de
Direito solicitou auxílio da equipe CAM, pois estava atendendo um casal que tinha uma filha
homossexual. Diante da demanda, a equipe CAM solicitou mais informações e, segundo o
estagiário, o casal estava em conflito familiar devido a esta questão. Ao realizar o atendimento
do casal, porém, a equipe CAM se deparou com um conflito permeado por uma situação de
violência doméstica e no qual a tal filha pouco tinha a ver com a questão. Cabe destacar que o
estagiário demonstrou certa dificuldade ao expressar a solicitação, principalmente quando foi
se referir ao termo homossexual.
Neste caso, qual seria o sentido da solicitação inicial do estagiário? O fato da filha do casal
ser homossexual justificaria o encaminhamento ao CAM ou a situação de violência doméstica?
Retomando a proposta de análise por VICENTIN e OLIVEIRA (2012) das relações psi-
jurídicas, cabe destacar outra linha de análise que é a dos técnicos do desejo. Nesta linha, o saber
psi é acionado na sua função normalizadora e o Direito é colonizado pela norma. Citando
Foucault, as autoras esclarecem que desde a Modernidade o controle dos indivíduos não poderia
ser efetuado apenas pela própria justiça, mas precisaria de uma série de outros poderes e
instituições relacionados, que atuariam como vigilantes e corretores, inclusive o saber
psicológico. Tais poderes constituem a base do mecanismo de controle do comportamento e da
população: a chamada sociedade disciplinar.
Na sociedade disciplinar, as disciplinas inventaram um novo funcionamento punitivo que
interliga as regras e os procedimentos das estruturas jurídicas e as regras e os procedimentos das
25
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise das práticas discursivas presentes na legislação da DPESP trouxe à tona duas
perspectivas acerca do trabalho do psicólogo na instituição. A primeira delas voltada ao apoio,
dentro de um modelo de subordinação da Psicologia com relação ao Direito ou do trabalho do
psicólogo em relação aos profissionais de Direito. Esta perspectiva se alia a uma atuação mais
26
tradicional da Psicologia e de maneira aplicada, e para alguns autores (ARANTES, 2008) ela tem
frequentemente despertado questionamentos e um mal-estar devido à necessidade de autonomia
profissional.
A segunda perspectiva é voltada à complementaridade da Psicologia com relação ao
Direito, no sentido de atuar como uma ciência independente e não como uma especialidade
técnica voltada unicamente ao auxílio da prática jurídica. Esta perspectiva se alia às ideias de
Cavalcante (2015) que demonstra em sua tese que esta é uma perspectiva emancipatória, pois
abre possibilidades para estimular a participação, reflexão e responsabilidade das pessoas na
tomada de decisões em suas próprias vidas.
Foi possível perceber que ambas as modalidades atravessam a relação interdisciplinar na
DPESP. O posicionamento de alguns operadores do Direito parece evidenciar a noção de
Psicologia como um saber auxiliar, pronto para responder a qualquer solicitação feita pelo
jurídico e ao mesmo tempo impede que os saberes sejam compartilhados por diferentes
profissionais. Por outro lado, o posicionamento de outros operadores do Direito evidencia a
noção de complementaridade do saber psicológico que vem a contribuir com a ação institucional,
num sentido de verdadeira troca interdisciplinar, sem que os profissionais percam sua autonomia
profissional e independência técnica. A interdisciplinaridade, neste caso, transitaria entre uma
abordagem mais reflexiva e crítica e uma abordagem mais relacionada à funcionalidade.
O objetivo deste trabalho era compreender qual a noção do trabalho do psicólogo do ponto
de vista da legislação e dos profissionais de Direto da instituição e foi possível compreender
alguns dos pontos que circulam o tema. Duas perspectivas resultaram desta análise e foram
apresentadas a fim de contribuir com a reflexão acerca do trabalho do psicólogo não só na
relação com a Justiça e com o Direito, mas como um todo.
5 REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Leonardo Pinto. Para uma caracterização da Psicologia Social Brasileira. Psicol.
cienc. prof., Brasília, v.32, no.spe, p.124-137. 2012.
27
CONSELHO REGIONAL DE SÃO PAULO. Entre o direito e a lei: uma história da psicologia
jurídica em São Paulo (vídeo). 2007. Disponível em
http://www.crpsp.org.br/memoria/juridica/default.aspx. Acesso em 28/05/2015.
CONTE, Bárbara Souza. Depoimento sem dano: a escuta da psicanálise ou a escuta do direito?
PSICO, Porto Alegre, PUCRS, v. 39, n. 2, pp. 219-223, abr./jun. 2008.
DALLEFI, Nayara Maria Silvério da Costa; FUNES, Gilmara Pesquero Fernandes Mohr. A
Defensoria Pública. Anais do IV Encontro de Iniciação Científica das Faculdades Integradas
Antonio Eufrásio De Toledo. 2008.
FRANÇA, Fátima. Reflexões sobre Psicologia Jurídica e seu panorama no Brasil. Psicologia:
Teoria e Prática, vol. 6, p.73-80. 2004.
LEAL, L.M. Psicologia jurídica: história, ramificações e áreas de atuação. Diversa, v. I, n2, p.
171-185, 2008.
MALHEIRO, Dirceu Pinto; NADER, Rosa Maria. Contribuição a uma análise da psicologia.
Psicol. cienc. prof., Brasília, v.7, n.2, p.9-13, 1987.
MATTOS, Elsa de. Psicologia Jurídica: Uma Interface entre a Psicologia e o Direito. In:
MOREIRA, Lúcia Vaz de Campos (Org.). Psicologia, Família e Direito. Paraná: Juruá, 2013.
SÃO PAULO. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Lei Complementar nº 988, de 9
de janeiro de 2006. Organiza a Defensoria Pública do Estado, institui o regime jurídico da
carreira de Defensor Público do Estado. Disponível em
http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=2939. Acesso em 15 de maio de
2015.
SPINK, Mary Jane. (Org.). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano. Rio de
Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais, 2013. Edição Virtual. Disponível em
www.bvce.org. Acesso em fevereiro de 2015.
30
SPINK, Peter; SPINK, Mary Jane. A Psicologia Social na atualidade. In: Jacó-Vilela, A.M.;
Ferreiro, A. A. L. & Portugal, F. T.. (Org.). História da Psicologia: Rumos e Percursos. Rio de
Janeiro: Nau Editora, 2006, p. 595-622.
VERGARA, Alcides José Sanches. Justiça Terapêutica: o tribunal das drogas na sociedade
de controle. Assis, 2011. 81 p. Doutorado em Psicologia e Sociedade. Universidade Estadual
Paulista.
VICENTIN, Maria Cristina Gonçalves; OLIVEIRA, Renata Ghisleni de. Intercessões Psicologia
e Justiça: por uma ação ético-política. Revista da Defensoria Pública - Ano 5 - n.1 – 2012.
ANEXO A
32
MAPA A
Deliberação CSDP nº 187, de 12 de agosto de 2010, alterada pela Deliberação CSDP nº 288, de 10 de janeiro de 2014.
Quem Função Instrumentalidade Fundamentos/finalidade
Deliberação CSDP nº 187, de 12 de
agosto de 2010.
Disciplina a estrutura e
funcionamento dos
Centros de Atendimento
Multidisciplinar.
Considerando a
concretização dos princípios
da integralidade e efetividade
na prestação da assistência
jurídica reclama
a intervenção interdisciplinar;
Considerando o disposto nos
artigo 69 a 71 da Lei
Complementar nº 988, de 09
de janeiro de 2006;
Considerando a necessidade
de
padronização dos serviços
interprofissionais nas áreas de
Psicologia e Serviço Social na
Defensoria Pública;
O Conselho Superior da Defensoria
Pública do Estado,
com fundamento no Artigo
31, incisos III, da Lei
complementar n.º 988, de 09
de janeiro de 2006,
delibera: Seção I - Dos
Artigo 1º. São princípios que
33
solicitações;
XVI – adoção da perspectiva
preventiva, socioeducativa e
emancipatória da cidadania;
XVII – Articulação com a rede de
serviços e de políticas públicas
36
ANEXO B
37
MAPA B
Deliberação CSDP nº 187, de 12 de agosto de 2010, alterada pela Deliberação CSDP nº 288, de 10 de janeiro de 2014.
Função Finalidade Relação
I – Sugerir propostas
de regulamentação de procedimentos técnicos
à Assessoria Técnica Psicossocial;
II - prestar suporte técnico
aos Defensores Públicos, Servidores,
estagiários, à Ouvidoria-Geral e aos demais
Centros de Atendimento Multidisciplinar;
VI - contribuir
na elaboração de projetos e de procedimentos
técnicos de atuação;
VII – fomentar
estratégias alternativas de composições de
conflitos na comunidade;
VIII - Atuar como conciliador, facilitador e
mediador;
IX - Fortalecer
a integração
entre os diversos Núcleos Especializados e os
demais órgãos da Defensoria e as entidades
conveniadas
de modo a evitar a fragmentação do
atendimento;
X - Mapear e se articular com
com a rede de serviços da respectiva Regional,
assegurando-se, quando do encaminhamento
do usuário, da contra-referência em
conformidade com os procedimentos técnicos
a serem estabelecidos;
XI – Manter registro atualizado da rede de
serviços acessível
38
ANEXO C
43
44