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A Língua Portuguesa nos nossos Meios


de Comunicação Social

POR

LITTERA-LU

1.a EDIÇÃO

PREFACIADA POR

ANTÓNIO CORREIA

JORNALISTA E LINGUISTA

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Ficha Técnica

A Língua Portuguesa nos nossos Meios de Comunica-


ção Social tem a autoria de Littera-Lu, um dos mais
conceituados e respeitados autores do sítio na Internet
Recanto das Letras, com o prefácio do jornalista e ana-
lista de Literatura Clássica António Correia.

Revisão do prefácio
Littera-Lu

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Índice
(0s números referem-se às páginas)

Prefácio……………………………………………..
Os diferentes textos de imprensa………………..
Sobre a notícia………………………………………
O erro crasso no ―BOM DIA ANGOLA‖………….
Capítulo 1 Media e «meios de comunicação»……...
Capítulo 2 O aportuguesamento da palavra ―media‖
Capítulo 3 Erros de Português……………………...
Nota final…………………………………………..
Referências bibliográficas…………………………
Referências electrónicas…………………………...

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É condição sine qua non¹ o respeito pela língua
portuguesa quando se fala na televisão e na rádio
públicas.

_________
¹ A locução latina «sine qua non» significa «sem a qual não». Está subentendido
o vocábulo 'conditio' (condição). Emprega-se para caracterizar uma circunstância indispen-
sável para a validade ou realização disto ou daquilo.

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Prefácio

Quando o estudioso Littera-Lu me solicitou para


que me predispusesse a prefaciar esta obra, compreendi
que encontraria dificuldade, de todo, dado que a referida
obra se destina a pessoas com um conhecimento linguís-
tico elevado e com um ―sensus litterae‖ de alto nível.
Ora bem, a língua, não simplesmente a portugue-
sa, é parte dos meios de que se serve o homem para com-
preender e ser compreendido no processo social. Domi-
ná-la é estar capacitado a inserir-se em vários contextos.
A pragmática da língua, particularmente a portu-
guesa, implica pressuposição de o domínio, ao pormenor,
da competência comunicativa que passa, necessariamen-
te, pela noção do que é ou não correcto no seu funciona-
mento.
Infelizmente, e porque isto contribui de forma
negativa para a manutenção de um péssimo trabalho de
comunicação, a maior parte dos jornalistas angolanos não
tem o domínio da língua portuguesa, tudo porque ou teve
mau professor ou foi péssimo aluno na língua portuguesa.
Assim como é importante a revisão do conteúdo
jornalístico, assim também o é o conhecimento da língua
portuguesa, pois para transmitir a notícia o jornalista tem
de fazer uso da língua.
Eis, a seguir, alguns dos principais erros regista-
dos nos textos de vários jornalistas:
Malanje terá 8 hospitais novos, a afirmação é do gover-
nador daquela província…
Quando deveria ser: ―desta província‖. Pois, na
lógica da estrutura frásica, usa-se ―este‖ para se referir ao
elemento mais próximo da frase anterior e ―aquele‖,
quando se está diante de dois elementos da mesma. Ex.:
uma estrada que liga Malanje ao Uíge será construída nos

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próximos dias, a afirmação é do governador daquela pro-
víncia, referindo-se à de Malanje, já que se disser ―esta‖
estará a referir-se à do Uíge.
Petro de Luanda e Primeiro de Agosto protagoni-
zam o jogo grande da jornada – quando deveria ser ―o
grande jogo da jornada‖, pois a anteposição do adjectivo
dá a ideia de qualificação, ao passo que a posposição dá a
ideia dimensional ou físico-real, neste caso particular e
noutros semelhantes.
O jogo disputa-se este fim-de-semana, quando
deveria ser ―neste fim-de-semana‖, implicando a interpo-
sição que é transmitida pela contracção preposicional
―em‖ + pronome demonstrativo ―este‖. Porque, também,
nalguns casos, o verbo se for de transição directa criará
equívocos.
Sem pretender corrigir todos os erros no prefácio,
digo:
A presente obra pretende ser um elemento ―sine
qua non‖ para os utentes da língua portuguesa, bem
como, e principalmente, para os profissionais da comuni-
cação social.
António Correia - jornalista e classicologista

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Os diferentes textos de imprensa

Os textos de imprensa englobam os chamados


géneros jornalísticos, que se dividem em informativos e
opinativos.

Estão na primeira categoria a notícia (o relato, em


texto, nos jornais, em som, na rádio, ou em imagens, em
televisão, de um determinado acontecimento considerado
relevante), a reportagem e a entrevista (relato escrito,
em jornal, ou transmitido via rádio ou televisão de uma
conversa/diálogo entre um jornalista, que faz as pergun-
tas, e alguém que responde).

Na segunda categoria, entre outros textos, temos o


editorial(artigo de fundo, assinado ou não, veiculando o
ponto de vista do jornal ou da sua direcção), o artigo de
opinião (subscrito por um jornalista, colaborador ou con-
vidado externo), o comentário (texto analítico usado em
especial na imprensa desportiva), as cartas dos leitores
(correspondência enviada pelos leitores), a crónica e a
crítica (apreciação por um especialista de cinema, teatro,
livros, artes plásticas, etc.)1.

_________
1
José Mário Costa, jornalista e coordenador editorial do Ciberdúvidas.

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Sobre a notícia

A notícia é um texto jornalístico que encerra um


conteúdo {factual}, pelo que deve assentar no uso de
substantivos e verbos (tempos simples em vez dos tem-
pos compostos, a voz {activa} melhor do que a voz pas-
siva), limitando os {adjectivos} ao estritamente necessá- Comentário [AA1]: Este parêntese não
tem oposto?
rio. São os requisitos básicos da escrita jornalística: cla-
reza, simplicidade e {exactidão}, além do indispensável
bom uso do português e do cumprimento das regras gra-
maticais.

A estrutura clássica da notícia corresponde a uma


sucessão de parágrafos curtos, cada um dos quais conten-
do uma unidade de informação simples, resumida na
fórmula «um parágrafo, uma ideia».

O primeiro parágrafo é o lead da notícia e deve


responder a cinco perguntas fundamentais, consagradas
na fórmula americana dos «cinco W» — Who (quem)?
What (o quê)? Where (onde)? When (quando)? Why
(porquê)?

Nos parágrafos seguintes são acrescentados por-


menores, por ordem decrescente de importância. Este tipo
de organização da informação recebeu o nome de «pirâ-
mide invertida».

O modelo da pirâmide invertida foi desenvolvido


e aperfeiçoado pelas agências noticiosas, que ainda hoje o
aplicam.

A estrutura da notícia na rádio e na televisão apre-


senta algumas diferenças, resultantes da especificidade da

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linguagem audiovisual. Por exemplo, a redundância
informativa é um defeito na notícia impressa, mas pode
ser obrigatória numa notícia radiofónica, se a duração da
informação assim o exigir.

O aparecimento da informação via Internet veio


introduzir novas alterações na estrutura da notícia, igual-
mente resultantes da linguagem específica do meio, que
combina texto, som e imagem. Um dos factores mais
importantes é o hipertexto, que permite ligações a outras
informações suplementares.

Apesar dessas variantes naturais, é conveniente


lembrar que uma notícia é, no fundo, uma história e,
como todas as histórias, deve ter princípio, meio e fim. E
quanto mais bem escrita, melhor2.

_________
2
José Mário Costa/João Alferes Gonçalves.

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O erro crasso no “Bom Dia Ango-
la(*)
A TPA 1 saúda diariamente os seus telespectado-
res com um Bom Dia Angola‖, através de um programa
informativo que ocupa as manhãs da televisão pública.

Fá-lo, contudo, de forma displicente, insatisfató-


ria. Refiro-me à ausência de vírgula entre a saudação
matinal e Angola, a qual pode passar despercebida ao
olho menos atento, mas que, na verdade, dá origem a um
erro sintáctico crasso: estando em posição de vocativo, o
nome Angola deverá ser obrigatoriamente separado por
vírgula.

O vocativo é o termo sintáctico que representa a


pessoa a quem o emissor se dirige. Este termo provém do
latim vocativu (que, por sua vez, provém do verbo voca-
re: «dirigir a palavra a alguém») e deve ser sempre sepa-
rado dos outros elementos por uma vírgula.

E desengane-se quem julga que a vírgula é um


adereço meramente estilístico. A presença ou ausência de
uma vírgula pode alterar o significado de uma frase:

— Cumprimentaste o professor Manuel?


— Cumprimentaste o professor, Manuel?
_________
(*) [Excerto adaptado do artigo «O erro crasso no “Bom dia Portugal”», da
autoria da linguista e consultora do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa Sandra Duarte
Tavares, publicado na rubrica Pelourinho, em 23.12.2010].

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Assim, para que a saudação da TPA faça sorrir os
angolanos, dia após dia, o nome do programa deverá
incluir este nobre sinal de pontuação, passando assim a
ser: «Bom Dia, Angola!».

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PRIMEIRA PARTE

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Media e «meios de comunicação»
Os termos mídia (Brasil) ou media (Portugal) são
sinónimos de «meios de comunicação». No entanto, se por
«meios de comunicação» se entende «meios de comunica-
ção social», então deve reconhecer-se que media tem
umsignificadomais vasto, como se verifica por uma das
definições da palavra do Dicionário Houaiss:

«[mídia] todo suporte de difusão da informação que


constitui um meio intermediário de expressão capaz de
transmitir mensagens; meios de comunicação social de
massas não diretamente interpessoais (como p. ex. as con-
versas, diálogos públicos e privados) [Abrangem esses
meios o rádio, o cinema, a televisão, a escrita impressa (ou
manuscrita, no passado) em livros, revistas, boletins, jor-
nais, o computador, o videocassete, os satélites de comuni-
cações e, de um modo geral, os meios eletrônicos e telemá-
ticos de comunicação em que se incluem tb. as diversas
telefonias3.]»

Recomenda-se que media se escreva em itálico ou


entre aspas, porque, sendo vocábulo não português — em
última análise, proveniente do latim —, deve ser tratado
como palavra estrangeira. Sobre a etimologia de media,
observe-se que o termo é uma criação da língua inglesa
com base no latim, conforme se anota no Dicionário
Houaiss (s.v. mídia): medius, a, um «meio; instrumento
mediador, elemento intermédio» >media (neutro plural,
usado em latim medieval) >mass media «meios de comuni-
cação» (em inglês norte-americano) >media (redução em
inglês norte-americano)4.
_________
3Manteve-se a ortografia de origem.
4 Carlos Rocha.

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SEGUNDA PARTE

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O aportuguesamento da palavra "media"
A língua portuguesa provém da língua latina, que mar-
cava três géneros: masculino, feminino e neutro. A língua
portuguesa foi integrando as palavras do género neutro no
masculino e no feminino.

Muitas palavras do género neutro terminavam, no acu-


sativo plural, com a letra A. Exemplos: singular matu-, plu-
ral mata. Daqui resultaram o mato e a mata (que tem muito
mato).

Os eruditos de língua inglesa gostam de utilizar pala-


vras de origem latina e, sem quererem, criam problemas
aos falantes das línguas novilatinas, especialmente aos bas-
baques.

Medium –> mediu- é uma forma do singular da língua


latina, e media, o respectivo plural. Como os ingleses têm
plurais com formas sem s final ("foot" – "feet"; "tooth" –
"teeth"¸ "ox" – "oxen") não têm relutância em usar também
"datum" – "data" e "médium" – "media".

Da língua latina para a língua portuguesa, medium deu


origem a duas palavras: medium –> mediu- –> médio (o
que joga a meio-campo e que, por vezes, marca golos muito
vistosos) e medium –> mediu- –> meio.
O plural latino media deu origem à palavra média e
passou para o singular feminino, como é normal.

Para ultrapassar este drama, já ouvimos, e muito bem,


falar em meios de comunicação social e meios de comuni-
cação.
Por que motivo havemos de criar um problema que já
foi resolvido?5
_________
5
A. Tavares Louro, in Ciberdúvidas. Manteve-se ortografia usada pelo autor.

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TERCEIRA PARTE

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Erros de Português

PREÇO

'Não existe preço caro5 ou preço barato. Só existe


preço alto ou baixo. 'O produto, sim, é que pode ser caro
ou barato'. Assim, temos:

O preço da gasolina está alto demais. A gasolina é


cara demais. O preço deste livro é baixo demais. O livro
é barato demais.
E viva o preço alto!...

Luiz Antonio Sacconi

O "Jornal de Angola" de 15.3.12 traz, à página 41:

«A Universidade Metodista de Angola (UMA) inaugurou,


ontem, em Luanda, o edifício do Clube do Livro, no âmbito das
comemorações dos 127 anos de existência da Igreja Metodista Uni-
da.
A ministra do Ensino Superior, Cândida Teixeira, que pre-
sidiu à cerimónia de inauguração, considerou o acontecimento como
um exemplo no país, principalmente pela falta gritante de livros
científicos nas universidades em Angola.
A criação do clube vai tornar o preço dos livros mais bara-
tos e permite o acesso à leitura a uma maior franja da população
estudantil universitária.
Reconheceu ainda que, além de serem caros, há, no merca-
do, falta de livros científicos e técnicos e bibliografias».

Está correcto isto?

_________
5
Os advérbios ("caro" e "barato") são invariáveis.

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Na Idade da Pedra, poderia até estar. Hoje, não: as
formas mais correctas da sequência em causa poderão
ser:
«vai tornar "o preço dos livros mais baixo"»
ou
«vai tornar "os livros mais baratos"».

Jornalistas do "Jornal de Angola", por favor,


emendai-vos!

OBSERVAÇÕES:
1.ª Consideramos "caro" aquilo que tem preço alto e "barato" aquilo
que tem preço baixo. Sendo assim, são inadequadas, embora relativamente
comuns, construções como "preço caro" ou "preço barato".
2.ª O mesmo vale para a palavra "custo" quando sinónimo de "pre-
ço": «As suas atitudes impensadas tiveram um custo alto».
Está errado falar «As suas atitudes impensadas tiveram um custo
caro»
3.ªCom os verbos, entretanto, empregam-se os advérbios "caro" e
"barato: «Custaram-lhe caro suas atitudes impensadas», «Cobraram caro pelo
serviço».
É correcto falar «Usava roupas caras, mas os meus sapatos eram
baratos.»

ASSASSINATO

A Dra. M. E. P. viu nalguns dicionários que


assassinato é o mesmo que assassínio, mas tem escrúpu-
lo em usar a palavra "assassinato".

É escrúpulo muito louvável e realmente funda-


mentado. "Assassinato" é galicismo; e, se há galicismos
indispensáveis, este não é dos tais: é um galicismo inuti-
líssimo, porque temos, em português de lei, a palavra
assassínio.

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Vejam, agora, como escreveu um jornalista do
―Jornal Z‖, 18.503, pág. 5-3:

9 anos depois da morte de Mfulupinga Lando Vítor, PDPA-


NA exige esclarecimento sobre o seu assassinato

A Rádio Nacional de Angola, da qual dependem


todas as Emissoras Províncias e Regionais, formando
assim a força poderosa que é a Comunicação Social,
informa:

Polícia Nacional apresentou hoje a presumível


autora do assassinato Bárbara de Sá Nogueira

O Jornal Angolense de 14 de Junho de 2013 traz,


à página 11:

Assassinato brutal
na Fronteira

E, agora, leiam a notícia abaixo do título:

O assassinato de uma jovem professora, segunda-


feira, dia após a apresentação do novo Comandante da
Polícia, concluída que estava a peça jornalística que o
caro leitor acaba de ler, continua na ordem do dia. (…)

Qual não foi minha surpresa quando, ao acessar o


sítio na Internet Club-K Angola, deparei ainda isto:

Ministério do Interior forçado a esclarecer


assassinatos praticados pela polícia

No sítio na Internet Maka Angola lê-se esta man-


chete:

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Polícia prende outro suspeito de assassinato de
Bárbara Menezes de Sá Nogueira

E, agora, vejam o que vem abaixo dessa mesma


manchete:

Luanda - A Polícia de Investigação Criminal


(DNIC) deteve um homem suspeito de ser um dos pre-
sumíveis autores do assassinato da gerente bancária Bár-
bara Menezes de Sá Nogueira, anunciou, nesta terça-
feira, em Luanda, uma fonte do Comando da Polícia
Nacional.

Em declarações à Angop, a fonte disse que o sus-


peito está já a ser investigado, no sentido de se recolher o
maior número de informações, para se apurar as causas
do assassinato.

A funcionária bancária esteve desaparecida deste Comentário [AA2]: Deve-se escrever


“desde”, mas como se trata de uma trans-
o dia 30 de Maio, desse ano, e foi encontrada morta, cin- crição deve-se verificar a forma original.
co dias depois, entre as localidades do Zango e Kikuxi,
no município de Viana.

As autoridades policiais detiveram já uma mulher


suspeita de ser a autora moral do crime.

Esta mulher, segundo Atos, o marido da vítima, é


uma suposta amiga de nome Judite Maria Graça da Silva,
que foi supostamente a mandante do sequestro e que
tinha confessado o crime e mostrou à Polícia Nacional o
local onde se encontrava o corpo da vítima explicando
também como Bárbara foi assassinada.

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Mas, não os jornais, que usam "assassinato" por
assassínio. Esta frase, por exemplo, é de um político:

Assistimos ao documentário do assassinato de


presidente Mohamed Kadahfi.

Reparem nesta manchete e texto subsequente de


um jornalista, no sítio no Internet Club-K Angola:

Policia apresenta autores do assassinato da


Deputada do MPLA

«Luanda - O Comando provincial da policia de


Luanda apresentou na tarde de hoje (Sexta Feira), três
cidadãos dos presumíveis autores dos disparos que ceifou
a vida da Deputada do MPLA, Beatriz Salucombo e do
seu irmão, Antonio das Neves, oficial dos Serviços de
Migração e Estrangeiros. (…)»

Por fim, a Direcção Nacional de Investigação


Criminal (DNIC), ao tratar do caso Bárbara de Sá
Nogueira, informa:

«Os autores desse crime de assassinato não


foram identificados até ao momento».

Sobre este «assunto» solicitei a opinião dalguns


irmãos na língua:

1- Ambos os termos – assassinato e assassínio – Comentário [AA3]: Crime de quem


assassina!
designam o ato de matar alguém de forma premeditada;
homicídio voluntário. Porém, ainda que sejam sinónimos, Comentário [AA4]: Acto de assassinar!

a tradição recomenda o uso da palavra assassínio, uma

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vez que assassinato é um italianismo (provém da forma
assassinato – particípio passado do verbo assassinare).

Sandra Duarte Tavares/Joana Dias

2- Diz-se e escreve-se assassínio. "Assassinato" é


cópia do francês "assassinat". Sobre a introdução dum
estrangeirismo, desnecessário, podemos dizer que empo-
brece a língua, porque põe de lado as palavras portugue-
sas. Sobre os neologismos, veja o que escreveu Rodri-
gues Lapa, na sua famosa "Estilística da Língua Portu-
guesa" (ed. Seara Nova).

José Neves Henriques/José Mário Costa

3- Os asseados no falar e escrever, como diria o


Castilho, só escreverão e dirão assassínio; os outros…
Não falemos dos outros. Deles talvez escreveu um poeta
célebre: «Santas gentes, a quem nas hortas nascem pepi-
nos e vocábulos».

Cândido de Figueiredo

ASSISTIR

O verbo assistir, com o sentido de «presenciar,


ver», é um verbo transitivo indirecto, devendo reger a
preposição a. Esta é a informação que encontramos em
qualquer dicionário ou gramática da língua portuguesa,
variante europeia ou brasileira.

É, assim, correcto dizer «assistir a um filme», mas


não «assistir um filme».

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Reparem, agora, nesta manchete veiculada pelo
sítio na internet Club-K Angola:

Huíla assiste encerrametoda 2º fase do curso


para altos dirigentes

E ainda deixaram de colocar ponto na abreviatura


de segundo: 2.º

Que acham vocês? Vai bem o jornalismo angola-


no?

OBS. –
Assisti, transitivo, sem a preposição a, p. ex.
assistir alguém, quer dizer ajudar, acompanhar, socorrer;
seguido de a (sempre fechado na pronúncia europeia) tem
o sentido de «presenciar».
F. V. Peixoto da Fonseca

1º NÃO É A MESMA COISA QUE 1.º(*)

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«(…)Sábado, na abertura da jornada, Interclube e
1º de Agosto empataram (1-1), num dos principais jogos
da jornada.(…)» «(…)O campeão angolano no ano pas-
sado à entrada da 15ª jornada do Girabola somava 37
pontos no comando(…)». «(…) Com os portões fechados
e sem apoio do público, o Porcelana FC derrotou o 1º de
Maio de Benguela, 2-1, no campo dos Dinizes, em N'da-
latando. Com esta vitória, a equipa de Joaquim Finda
―Mozer‖ trocou a 14ª posição pela décima, totalizando 17
pontos».

As citações são do diário "Jornal de Angola2",


mas bem podiam ter sido de qualquer outro jornal ango-
lano, tal a generalizada negligência no cumprimento do
obrigatório do ponto na grafia dos ordinais. Qualquer
abreviatura, como é o caso, obriga a levar o sinal respec-
tivo, o ponto:«1.ª, 2.ª e 3.ª conjugações3»; «1.ª oração, 2.ª
oração (…)4»; «Emprega-se o acento agudo na 3.ª pessoa
do singular [os derivados de ter e vir: contém, retém,
intervém, advém5».

__________

(*)[Excerto adaptado do artigo 2 º não é a mesma coisa que 2.º, da autoria de


José Mário Costa, responsável e coordenador editorial do Ciberdúvidas, publicado na
rubrica Pelourinho , em 19/01/2005 ].
2
―Jornal de Angola‖, 2.ª-feira, 8 de Julho de 2013, p. 47.
3
Nova Gramática do Português Contemporâneo, edições João Sá da Costa, pág.
402.
4
Moderna Gramática Brasileira, de Celso Pedro Luft, Editora Globo, São Pau-
lo, pág. 92.
5
Manual Prático de Ortografia, de José M. Castro Pinto, Plátano Editora, Lis-
boa, pág. 119.

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COMENTAR "SOBRE"

Quem comenta, comenta alguma coisa:

Todos comentavam o desastre.

Às vezes, comenta alguma coisa com


alguém:
Comentou comigo o seu divórcio.

Repare, agora, como falam os nossos polí-


ticos:
Eu já comentei de que esse assunto está
encerrado.

O raciocínio é simples. Preste atenção!


Quem comenta, comenta alguma coisa (onde está
o de?)
Não admitindo de, consequentemente,
também não admite "sobre", como nesta frase
infeliz, colhida alhures:

Líder da JURA comenta sobreos raptos de Comentário [AA5]: Pode ser utilizado.
Exemplo: “O jornalista fez um comentário
Cassule e Kamolingue infeliz sobre os escritores”.

Esta, agora, é de um de nossos jornais


semanais de informação:

«(…) a Polícia Nacional recusou-se a


comentar sobre o paradeiro de Isaías Kamoling e
Alves Cassule. (…)»

Não só a violência toma conta das nossas


cidades…

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"HÍFEN - COM NÃO"

Só há hífen depois do NÃO se a palavra


seguinte for SUBSTANTIVO. Exemplo: "...a não-
restituição causará transtornos..."

"Não académicas" e "não governamen-


tais", as duas palavras, colocadas depois do NÃO,
são adjectivos, portanto, sem hífen.

Reparem, agora, nesta informação do


"Jornal de Angola" de 20.6.12 e vejam se desta
vez o jornalista acertou:

O responsável pela Organização Não-


Governamental Mundo Jovem, que tutela o centro, Fernan-
do Xavier, agradeceu o gesto da empresa e disse que pre-
tende criar um projecto que visa construir rede de amigos e
parcerias solidárias com os problemas enfrentados pelas
crianças a viver na instituição.

A insegurança teria dado margem ao hífen,


com receio de, não usadas, pudesse haver alguma
crítica?

Como confiar num jornal que, ao usar a


língua, só coloca os pés pelas mãos? Que tipo de
jornalismo é esse que não conhece regras elemen-
tares da nossa língua? Em que escolas se forma-
ram esses jornalistas, que não aprenderam sequer
a usar um pequeno sinal, o hífen?

Não sabem nem mesmo usar o hífen. É


uma vergonha!

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Obs.: No Brasil, com o advento da última
Reforma Ortográfica, esse emprego do hífen antes
do vocábulo NÃO deixou de existir.

EVACUAR
Evacuam-se lugares e não pessoas. Jorna-
lista angolano deveria saber disso? Naturalmente.
Vamos ver se sabe? Leiam esta notícia retirada de
uma matéria jornalística que trata do caso Presi-
dente Mauritano:

«O Presidente mauritano, Mohamed Oul-


dAdbel Aziz, foi evacuado domingo para a França
a bordo de um avião-ambulância. O chefe de
Estado mauritano foi ferido à bala, sábado à noite,
num posto de segurança do exército quando
regressava de uma viagem pelo interior do país»
.(InJornalNova Gazeta, 18.10.12)

Qual não foi minha surpresa quando, ao ler


o grande e famoso "Jornal de Angola" de 6.8.12,
deparei ainda isto:

«Os corpos da vítimas mortais foram transladados


para a morgue do Hospital Josina Machel, em Luanda,
enquanto 18 dos 29 feridos foram evacuados para o Hospi-
tal Provincial do Kwanza-Norte, em Ndanlatando, devido à
gravidade dos ferimentos».

No "Jornal de Angola", que hoje está lon-


ge de ser aquele JA que todos respeitávamos e
admirávamos:

«(…) enquanto 18 dos 29 feridos foram


evacuados(…).»

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É um erro frequente, comum, demasiada-
mente comum, queconvém relembrá-lo. Não é
admissível é que venha de um jornal de referên-
cia...

Que significa, afinal, evacuar?

Basicamente, significa «esvaziar», «expe-


lir», «defecar». Por extensão, «abandonar uma
frente de combate». Os locais são – ou podem ser
– evacuados («com o alarme, toda a plateia eva-
cuou o cinema», «razões de segurança determina-
ram a evacuação da embaixada»), mas as pessoas
são de preferência retiradas, transportadas, realo-
jadas num determinado sítio.

Daí que teria sido preferível dizer-se


«Enquanto 18 dos 29 feridos foram «deslocados»,
«desalojados» ou «transportados para...». Sim,
porque no exemplo referido, é inadequado o uso
de verbo evacuar («esvaziar») referindo-se a
pessoas. Os lugares é que são «esvaziados», logo,
«evacuados».

"Evacuar um prédio", por exemplo, é


desocupá-lo, deixando-o vazio, enfim, fazer que
todas as pessoas saiam dele.

As pessoas, desses lugares ou situações


que lhes cause algum perigo, são «deslocadas»,
«desalojadas» ou «transportadas para...».

Teresa Álvares escreve sobre o verbo


«evacuar» o seguinte:

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«É raro um jornalista empregar bem esta
palavra, que já em latim significava «esvaziar».
Quando se diz: «Foram evacuados mil portugue-
ses da Guiné-Bissau», o que se afirma, na nossa
língua, é que mil portugueses foram esvaziados.
Ou seja: cada um desses portugueses ficou sem
entranhas.

Temos outros verbos, como transferir e


transportar, que permitem banir tamanha impro-
priedade.

Evacuar é bem empregado se dissermos:


«A cidade de Bissau foi evacuada.» Evacua-se
(esvazia-se) a cidade quando se transferem os
habitantes para outro local. Do mesmo modo que
se evacua (esvazia) o intestino quando dele saem
as fezes.

Os jornalistas, pois, quando pensarem num


verbo que empregam tão mal, devem ter cuidado:
não vão evacuar onde não devem».

Poucos consultores do Ciberdúvidas da


Língua Portuguesa, em todos os tempos, conhece-
ram tão profundamente a nossa língua como Tere-
sa Álvares e José Neves Henriques. Pena que
esses mestres eruditos já não estejam entre nós
para dar continuidade às suas excelentes … (se é
que me entendem).

Basta raciocinar um pouco, só um pouco


ou, então, ter um pouquinho de paciência e con-

- 30-
sultar um dicionário sério. Vai ver que evacuar
significa apenas «esvaziar», «expelir», «defecar».
Por extensão, «abandonar uma frente de comba-
te».

Mas é preciso consultar um dicionário


sério. Sim, porque há muitos dicionários que não
são sérios. O Dicionário Mini da Língua Portu-
guesa da Plural Editores, por ex., não é sério. É o
tipo de dicionário que tem "vítimas", em vez de
consulentes. Afirmo. Digo, afirmo. Comentário [AA6]: Sugiro a remoção,
pois a seriedade de um trabalho não se
mede pela inclusão de um erro.
Estaria eu, no entanto, a afirmar exacta-
mente isso porquê?

Perguntam-me vocês...

Exactamente por isso: na nossa língua não


existem palavras terminadas em t sem amparo em
vogal. O Dicionário Mini da Língua Portuguesa
da Texto Editores traz, à página 157:

déficit, s. m. saldo negativo.

Déficit?

Sim. Essa é a forma oficial, com registo no


Dicionário Mini da Língua Portuguesa da …,
mas ainda preciso crescer para poder entender
porque se aportuguesou (?) essa palavra apenas
mediante a inserção de um acento, que considero
erróneo, já que se trata de forma visivelmente
estranha à índole do português. Em nossa língua
não existem palavras terminadas dessa forma (t

- 31-
sem amparo em vogal). Assim, deveríamos fazer
como os consultores do Ciberdúvidas: aportugue-
sar realmente a palavra e escrever défice. Isso
seria o lógico. Mas… o Dicionário Mini da Lín-
gua Portuguesa da …é lógico?

Tirem (vocês) suas conclusões!

Mas, o Ciberdúvidas é lógico. Afirmo.


Digo, afirmo. Sim, porque no seu glossário encon-
trei:

«DÉFICE
...aportug. do latim "deficit" (e nunca o
barbarismo "deficite")».

A … é uma conceituada editora. Uma edi-


tora, aliás, uma nova e conceituada editora, que
por isso não tem o direito de se equivocar no
aportuguesamento dessa palavra…

Estamos bem de dicionários?

De há muito que venho a defender a forma


défice (em vez da tola "déficit", registada no
Dicionário Mini da Língua Portuguesa da …).

RAIOS X
…e não raio X. A forma mais consagrada
é raios X, pois é impossível emitir um raio só.

No "Jornal Nova Gazeta", porém, apareceu


esta manchete:

Ensino Superior ao RAIO X

- 32-
Como é que os jornalistas angolanos dese-
jam ser formadores de opinião confiáveis, reve-
lando, todos os dias, tamanha pobreza de conhe-
cimento da própria língua? Jornalista que escreve
"RAIO X" é o equivalente a um médico que diz
que o coração fica no umbigo…

Há, todavia, muito médico por esta Angola


afora que afixa uma enorme placa à frente do con-
sultório: RAIO X.

São confiáveis?

ALGARISMOS
Não se inicia o período (o início de uma
frase) com algarismos7. Portanto, em vez de:
"15" anos de existência completou o
Ciberdúvidas em 15 de Janeiro de 2012,
devemos escrever:
Quinze anos de existência completou o
Ciberdúvidas em 15 de Janeiro de 2012.

_______
7
Na indicação dos meses, só se usa o zero antes de 1 (corresponden-
te a janeiro) e de 2 (correspondente a fevereiro), para se evitarem possíveis adul-
terações: 12/01/2009, 15/02/1999. Se não procedermos assim, fica fácil, num
escrito, mudar o mês de 1 para 11 e de 2 para 12, de acordo com a conveniência
do falsificador. Como não existem os meses 13, 14, 15, etc., não há nenhuma
necessidade de usar umzero antes dos números 3 (março), 4 (abril), 5 (maio), 6
(junho), 7 (julho), 8 (agosto) e 9 (setembro). Portanto: 12/3/1949, 18/12/1977 e
assim por diante, ou seja, sem o 0 antes do algarismo indicativo do mês.

Será que os nossos jornalistas sabem dis-


so? Não, ainda não. Quem lê jornais em Angola
está condenado. Condenado a desaprender. Vejam
este trecho de um jornalista de um de nossos jor-

- 33-
nais semanais de informação, que tem mais anos
de jornal que eu tenho de língua:

9anos depois da morte de Mfulupinga Lando Vítor,


PDPANA exige esclarecimento sobre o seu assassinato

Vejam, agora, esta manchete do jornal ―O Comentário [AA7]: Num título é possí-
vel utilizar “100 anos” em vez da forma
País‖ (online): “Cem anos”.

‗100anos não são cem dias’, diz govern-


dora da Lunda-Sul

Que mente sã construiria assim? Nenhu-


ma, evidentemente. Então, por que construir com
algarismos?

Um recém-nascido construiria diferente:

Nove anos depois (…)

Reparem, ainda, que trocamos 1 por Um,


porque não se inicia período com algarismos.

Obs.: No Brasil, os nomes de meses são


todos escritos com inicial minúscula. Somente
quando designam nomes de lugares, logradouros
usam-se maiúsculas.

NECROTÉRIO

Preferível a morgue. Comentário [AA8]: Talvez explicar


porque razão se deve utilizar necrotério em
vez de morgue.

- 34-
Será que os nossos jornalistas sabem disso? A
ver-se por esta notícia colhida no sítio na Internet Maka
Angola, ainda não:

A Direcção Nacional de Investigação Criminal


(DNIC) ordenou a morgue do hospital Josina Machel
(Maria Pia) a não liberar os corpos dos dois dirigentes
mortos da UNITA por alegar que os mesmos estão por
sua tutela.

No Sábado passado, três agentes da Polícia


Nacional foram assassinados por meliantes, e no domin-
go, dois dirigentes da UNITA, irmãos Kamuku e Filipe,
foram assassinados em retaliação supostamente pela polí-
cia conforme a acusação do maior partido da oposição
angolana.

Todos estes incidentes ocorreram no bairro do


paraíso, no Kikolo, em Cacuaco – Luanda, mas a DNIC
detem os corpos dos dirigentes da UNITA na morgue,
enquanto os corpos dos agentes da polícia vão a enterrar
hoje nas províncias de Luanda, Bengo e Uíge.

―O velório dos nossos irmãos Kamuku e Filipe


não se vai realizar hoje porque simplesmente os senhores
da morgue do Maria Pia não aceitaram liberar os corpos
dos manos, dizendo que os corpos deles estão sob tutela
da DNIC e este mesmo órgão deixou orientações claras
no sentido de sob nenhuma condição devem entregar os
corpos dos nossos manos assassinados barbaramente pela
Polícia Nacional no Cacuaco,‖ disse Adriano Sapinala,
um dos dirigentes da UNITA.

- 35-
Ante isso, numa só notícia, não há como deixar de
perguntar: Está bem o jornalismo angolano em se tratan-
do de conhecimento da língua?

Esse é o tipo de jornalista que deveria voltar aos


bancos escolares e tomar um chá de caxinde.

ENQUANTO

Enquanto é equivalente a "no tempo em


que; ao passo que". Sendo assim, o que não tem
nenhuma função ou significado junto de enquan-
to[«Ele brincava enquanto eu estudava»].

É erro dizer ou escrever «Ele brincava


enquanto queeu estudava.»

Reparem agora nesta informação de um


jornalista de escolaridade duvidosa, colhida na
"Revista Sonangol Notícias" de 2011:

Na região setentrional de Ninewa, no Iraque, é um


dos campos onde a Sonangol começou agora a laborar.
Neste campo, com reservas conhecidas de 807 milhões de
barris, a Sonangol tem como objectivo a produção de
12.000 barris por dia, enquanto que no outro campo tam-
bém situado no Iraque, Najma, que possui reservas de 858
milhões de barris, a meta de produção fixada é de 110.000
barris diários.

Do Brasil, no entanto, vem Domingos Pas-


choalCegalla com o seu Dicionário de Dificulda-
des da Língua Portuguesa onde se pode ler sobre
«enquanto que» o seguinte:

- 36-
«A conjunção enquanto une orações que
expressam: a) fatos simultâneos: Malha-se o ferro
enquanto está quente. b) fatos opostos: Uns traba-
lham enquanto outros se divertem.
«No segundo caso, para que o contraste
entre os dois fatos fique bem nítido, pode-se usar,
em vez de enquanto, a locução enquanto que,
equivalente a ao passo que: Uns trabalham
enquanto que outros se divertem. / Somente
alguns criminosos foram presos, enquanto que a
maioria deles continua em liberdade. / Para as
grandes empresas, o custo do dinheiro ficou em
20% ao mês, enquanto que para as pequenas a
taxa atingiu 26%.»

A expressão "enquanto que" é condenada


por Rodrigo Sá Nogueira no seu Dicionário de
Erros e Problemas de Linguagem da forma
seguinte:
«Diga-se enquanto sem aquele que. Diga-
se, por ex.: 'Pedro estudava enquanto o amigo
brincava', em vez de: 'Pedro estudava enquanto
que o amigo brincava'. - A construção 'enquanto
que' deve ser resultado da analogia com 'ao passo
que', que lhe é equivalente, se é que não há aqui
influência do francês "pendant que".(...) - Em
quanto que provém de imitação do francês "tan-
disque". Manuel Bernardes, na Nova Floresta, II
(1759), 334, tem todavia: 'Mas d'estes conselhei-
ros... dissera eu o mesmo em contrário sentido,
em quanto res sacra quer dizer cousa maldita'. -
Como se vê, há aqui três sugestões para explicar a
construção 'enquanto que': 1.ª -- resultado da ana-
logia com 'ao passo que'; 2.ª -- influência do fran-

- 37-
cês "pendantque"; 3.ª -- imitação do francês "tan-
disque".

O brasileiro Napoleão Mendes de Almei-


da, no seu Dicionário de Questões Vernáculas
também mostra não apreciar a expressão:

«O que nem todos sabem é que enquanto


também significa 'ao passo que', ou seja, pode ser
empregado com sentido adversativo: 'João é estu-
dioso, enquanto António não é' - 'Você se saiu
bem, enquanto eu me saí muito mal'.
«O que nos leva a tratar desta conjunção é
precisamente o emprego dela com este segundo
significado, pois andam por aí, talvez por causa
do 'que' da locução sinônima 'ao passo que', a
escrever 'enquanto que'.Nada disto; joguem fora
este 'que' e passem a escrever como ficou exem-
plificado: 'Você se saiu bem, enquanto eu me saí
muito mal'.»

Napoleão Mendes de Almeida era muito


criticado pelos "linguistas da oralidade" (esses
que defendem a "questão" do "mendingo" e da
"mortandela"), mas nenhum deles lhe negou méri-
to de grande latinista e profundo conhecedor do
idioma. Poucos brasileiros, em todos os tempos,
conheceram tão profundamente a nossa língua
como Napoleão Mendes de Almeida. Pena que
esse mestre erudito já não esteja entre nós para
dar continuidade à sua excelente … (se é que me
entendem).

EX

- 38-
Prefixo sujeito ao emprego do hífen [ex-
mulher, ex-combatente, ex-amigo, ex-militar, ex-
professor, ex-jogador, etc.].

Os jornalistas da "Folha 8" sabem disso? A


ver-se por esta notícia, ainda não:

Ex militares das FAA viram erguer-se no horizonte


mais uma cortina de fumo nos últimos dias, mais umas
promessas de São Valentim surgiram do departamento de
Pessoal e Quadros do AMG das FAA, salários dos reforma-
dos e pensões passarão a ser liquidadas, as condições estão
reunidas, assim traduzem os generais deste sector. Convo-
cadas para o Quartel das Transmissões, milhares são os ex
combatentes que se nutrem dessas promessas lançadas para
um milagre a se produzir daqui à três ou quatro meses.

Por favor, não se cansem! Vejam esta


informação encontrada no mesmo jornal:

Continuam a reivindicar por seus direitos. O Folha


8, no quadro da sua linha editorial, não hesitou em publicar
o conteúdo dos protestos dessesex agentes secretos na edi-
ção n° 1108.

E ainda deixaram de colocar ponto na


abreviatura de número: n.º

Parece mesmo que os jornalistas angola-


nos não se convenceram de que toda abreviatura
termina em ponto. Até um recém-nascido sabe
que toda abreviatura termina em ponto. Mas os Comentário [AA9]: Talvez encontrar
outra analogia?
nossos jornalistas, depois de anos e anos de estu-
do, depois de formados, ainda têm dúvidas. Os
jornalistas do "Jornal de Angola", solidários com
todos os seus colegas, também não se convence-
ram que todas as abreviaturas terminam em ponto.

- 39-
A gente abre um jornal e vê uma notícia
bomba:
Igreja Teosófica comemora 56ºaniversário de exis-
tência.

O líder da Igreja Bom Deus, Simão Lutumba, dis-


cursa no 56º aniversário da Igreja Teosófica Espírita, no
Maculusso, em Luanda - Angola JM.

OBSERVAÇÕES:

a) «(…)só não se usa o ponto nos símbolos (ex.: elementos quí-


micos: ouro = Au; bário = B; etc.) e nas unidades de medida
(que também são símbolos: metro = m; quilómetro = km;
etc.)».
(José Mário Costa)

b) Quanto à grafia dos símbolos: como recomenda D' Silvas


Filho, além de não levarem ponto, devem ser escritos com um
espaço de intervalo a seguir ao algarismo que representa a
grandeza (exs.: 2 º ou 60 min).
(idem)

Mas – como a pobreza de conhecimento


da língua dos jornalistas angolanos é tão evidente,
é tão preocupante, é tão avassaladora, que eles
não sabem disso.

DEFESA Comentário [AA10]: Defesa é singular


feminino, mas também pode ser singular
Para boa parte dos jornalistas angolanos, masculino (quando utilizado no desporto).
defesa é palavra masculina: "o" defesa, "um" Consultar dicionário.
defesa, "dois" defesas, etc. O mais curioso, no
entanto, é que procuro em todos os dicionários do
mundo português e não encontro nenhum que
registe defesa como palavra masculina. Por que
será? Onde será que teriam visto a palavra defesa
como masculina esses formidáveis jornalistas
angolanos?…

- 40-
O Dicionário Aurélio, no verbete corres-
pondente, omite o masculino. O Michaelis acom-
panha o Aurélio. O Houaiss também não diz nada
sobre o masculino.

Qualquer criança de cinco ou seis anos de


idade sabe que defesa é palavra feminina, porque
jamais ouviu alguém dizer "um" defesa ou "o"
defesa. Mas os jornalistas angolanos sabem disso?
Vamos a ver por este trecho de um deles:

Em Dezembro do ano passado, o avançado do


Liverpool Luis Suárez foi suspenso por oito jogos e multado
em 40 mil libras por comportamentos racistas contra o
defesa do Manchester United, Patrice Evras. Comentário [AA11]: A forma “o defe-
sa” está correcta!
"O"defesa?! Que óptimo!...Vou agora
meter a colher em angu que não é meu. Creio que
todos gostaríamos de saber onde é que o jornalista
foi encontrar a palavra defesa como masculina.
Num dicionário sério não foi. Se não foi num
dicionário sério, sou levado a concluir que a
informação também não é séria. Faz rir.

HOUVE POUCA "ADERÊNCIA" DO PÚBLICO

É a mais nova invenção dos nossos jorna-


listas, que parecem não saber distinguir entre ade-
são e aderência. São dois vocábulos distintos;
cada um tem sua significação: adesão é união da
vontade das pessoas («O primeiro-ministro teve
boa adesão do público. / Adesão a uma moda. /
Adesão dos deputados a Assembleia Nacional. /
Adesão a uma academia») etc.; aderência é liga-

- 41-
ção de superfície («Pneus com boa aderência à
estrada»).

Os nossos jornalistas ignoram completa-


mente a diferença, a ver-se por esta notícia, colhi-
da algures, na qual ora se fala em aderência, ora
se fala em adesão:

« (…)Houve pouca aderência dos leitores


às Assembleias de Voto. Segundo o 'resultado
provisório', porém, a não adesãoà um partido polí-
tico entre a juventude justifica a pouca aderência
dos mesmos às Assembleias de Votos. (…)»

Vejam esta informação de um mesmo jor-


nalista; num, o dito-cujo usa adesão, correcta-
mente, mas no outro, ele se perde, usando "ade-
rência":

«(…) A campanha eleitoral iniciou há duas


semanas e a adesão da juventude à Coligação
Ampla de Salvação de Angola (CASA) é notória.
A CASA tem menos de seis meses de existência,
mas a aderência à mesma coligação é incrível.
(…)»

Seria útil que ele explicasse por que lá


usou adesão e aqui, "aderência". Muitos querem
saber, imagino.

O jornal ―Folha 8‖ de 8 de Junho de 2013


traz, à última página:

- 42-
Perto de 5.000 professores em serviço na
província de Lunda-Norte, estão em greve desde
Maio. O Sindicato Nacional dos Professores
(SIN-PROF) considerou haver uma aderência de
cerca de 90 porcento do total dos docentes do
ensino primário do Iº Ciclo. A paralisão afecta
mais de 156, 00 estudantes.

ENTRE
A preposição que se correlaciona com a
preposição entre é e, e não "a": ["Entre Abril e
Junho", "Entre 2004 e 2019", "Entre1e 3 anos
de idade", "Entre20 e 30 de Abril."].

Está errado falar "Entre Abril a Junho";


"Entre 2004 a 2010".

Vejam agora como uma jornalista da


"Nova Gazeta" de 18.10.12 redigiu a sua manche-
te e tirem suas conclusões se desta vez acertou:

O Centro de Educação Médica (CEDUMED), da


Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto
(UAN), realiza, entre 22a 23 de Outubro, em Lunada, o
primeiro encontro de educação médica, sob o lema 'Educa-
ção médica para melhoria da saúde das populações'.

Vejam agora estoutra maravilha cometida


por uma editora em seu site, ao usar o acento da
crase com a preposição entre:

O envio é feito por uma transportadora e o tempo


de entrega varia entre 24à 48 horas, uma vez impresso o
pedido.

- 43-
DIAS DA SEMANA

Os dias da semana escrevem-se com


minúscula [segunda-feira, terça-feira, quarta-
feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domin-
go].

Reparem, agora, como escrevem os jorna-


listas da "Folha 8":

O número (1) dos camaradas as eleições-gerias de


31 de Agosto deseja transformar a Província de Cabinda
num laboratório de combate à fome e à pobreza. José
Eduardo dos Santos fez saber tal pretensão na passada
Segunda-feira, 20 de Agosto de 2012.

Não sei onde é que foram achar que os


dias da semana se escrevem com inicial maiúscu-
la. Nunca, em tempo algum, os dias da semana
se escreveram em maiúscula. Nem agora nem na
época de Camões. Mas os jornalistas da "Folha
8", que mal sabem quem foi Camões, acabam
escrevendo em maiúscula.

Senhores jornalistas, prestem atenção!


Os nomes dos dias da semana escreviam-
se com minúscula inicial durante a vigência do
Acordo Ortográfico de 1945 e vão continuar a
escrever-se assim, com a entrada em vigor do
Acordo Ortográfico de 1990. A mudança a relevar
é a dos nomes dos meses e das estações, que –
estes, sim – passam a escrever-se com minúscula
inicial com a aplicação das novas regras.

ACENTO GRAVE
- 44-
O acento grave existe justamente para evi-
tar o uso de dois aa. Mas jornalista angolano ainda
não sabe disso…

O receio de errar no uso do acento grave,


indicador da crase, é tão grande, que jornalista
angolano prefere escrever assim:

A circulação rodoviária em Luanda é bastante cri-


tica, devido a a degradação das vias e uma sinalização que
agora começa a dar sinais de melhorias, o que cria um
impacto negativo caracterizado por uma visível falta de
serviços públicos de transportes, algo que é generalizado
ao longo do tráfego urbano de Luanda.

É…

- 45-
NOTA FINAL

Na verdade (já me convenci), os analfabetos (dos


que sabem ler) funcionais pululam mídia angolana.
Serão necessários duzentos anos para expurgá-los.
Nem vocês, nem eu, veremos isso…

Eu tenho um sonho (parodiando um líder negro


americano): nunca mais ter de escrever nada neste país
(por já não me darem chance os jornalistas)…

- 46-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Medicina, 3.ª edição, 1980, verbete ―Evacuar‖.
___ ALBUQUERQUE, Carlos Manuel. Bom Portu-
guês, 1.ª Edição, Porto: Porto Editora, 2009.
___ BORREGANA, António Afonso. Gramática Uni-
versal/Língua Portuguesa. Luanda: Texto Editores,
2003.
___ CUNHA, C. e Cintra, L. Breve Gramática do
Português Contemporâneo (versão da Nova Gramáti-
ca do Português Contemporâneo). Luanda: Edições
João Sá da Costa/Livraria Mensagem Editora, s.d.
___FIGUEIREDO, Candidode. Falar e escrever –
Novos estudos práticos da língua portuguesa ou con-
sultório popular de enfermidades da linguagem. 3.ª
ed., v. II, Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1926.
___Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Porto
Editora.
___ MATOS, João Carlos. Gramática Moderna da
Língua Portuguesa, 1.ª edição, Escolar Editora, Lis-
boa, 2010.
___ RELVAS, José Maria. Gramática Portuguesa –
2.ª edição revista, actualizada e aumentada, Europress,
2001.

- 47-
REFERÊNCIAS ELECTRÓNICAS
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novamente",Ciberdúvidas,< http://ciberduvidas.pt >
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José Mário Costa, "2 º não é a mesma coisa que 2.º


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José Neves Henriques, "Sou um dos que dizem",


Ciberdúvidas, < http://ciberduvidas.pt > [página con-
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J. N. H. e J. M. C., "Evacuar ",
Ciberdúvidas, < http://ciberduvidas.pt > [página con-
sultada em 20.3.2008]

Luiz Antonio Sacconi, "Blog de língua portuguesa",


Ciberdúvidas, <http://www.sacconi.com.br/blog/>
[blogue consultado em 2009 e 2010]

Príncipe da Solidariedade, "MÉDIA OU MÍDIA?",


Recanto das
Letras,<http://www.recantodasletras.com.br> [página
consultada em 1.12.2012]

"Português: os 100 erros mais frequentes":

- 49-
Manual de Redação e Estilo, jornal OESP /Eduardo
Martins, 1997. Acessado in *Kaleidoscópio Literário*
(site de Kathleen Lessa) a 20 de Abril de 2010 e 12 de
Setembro de 2012.

Wilton Fonseca, "Evacuar ",


Ciberdúvidas,< http://ciberduvidas.pt > [página con-
sultada em 23.8.2012]

- 50-

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