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ISSN 2675-3529 - Volume 1 - ed004 - 2020

Recebido: 29.05.2020 ||| Aceito: 30.05.2020 ||| Publicado: 30.05.2020

O general Sylvio Frota entre o poder


e as redações: conflito e queda de um
ministro do Exército no governo Geisel
Flávia Sanches de Carvalho

O atual momento político pelo qual passa a so- ganharam as páginas dos mais diferentes jornais, sendo
ciedade brasileira marcado pelas tensões institucionais pauta principal do trabalho da jornalista em questão,
agravadas pela presença massiva dos militares no alto em suas matérias para a Folha2.
escalão do governo traz à tona um outro período igual- Sylvio Frota exerceu o cargo de ministro do
mente difícil da história recente do Brasil, o período da Exército entre 1974 e 1977 e era conhecido por ser an-
ditadura militar. Naquele período, assim como agora, a ticomunista “linha dura” e que, no final de sua atuação
impressa teve um papel de destaque na visualização como ministro, deixou público seu distanciamento em
dos conflitos internos palacianos. Nesse sentido, busca- relação ao governo Geisel, para o qual teceu críticas se-
mos aqui problematizar um desses conflitos que acaba- veras, o considerando “ideologicamente à esquerda” e
ram, como veremos, tensionando, o processo sucessó- se colocando, já a partir de meados de 1976, com a in-
rio que elegeria o último presidente do regime militar tenção em suceder a Geisel na presidência o que deu
brasileiro. maior complexidade à dinâmica política do período, no-
Assim, buscando lançar luz ao anunciado, se tadamente até sua demissão, em outubro de 1977.
analisarmos o trabalho de Ana Mascia Lagôa1, uma jor- Cabe aqui recuperar que Frota chegou ao minis-
nalista da Folha de S. Paulo dedicada a cobrir especifi- tério mais importante daquele momento histórico
camente a área militar no governo Geisel, reconhece- tendo como seu antecessor o general Orlando Geisel,
mos diversos atores e instituições que fizeram do go- ministro do Exército de 1969 a 1974 e irmão do presi-
verno Geisel e do processo sucessório que elegeu o ge- dente recém-eleito. Sobre o irmão, em seu depoimento
neral Figueiredo a presidente, um momento ímpar do à D’Araujo e Castro (1997) Ernesto Geisel afirma que a
regime militar, muito em função do papel desempe- relação com seu irmão Orlando era de amizade, porém,
nhando pelo general Sylvio Frota que ocupou um dos suas opiniões divergiam em muitos aspectos. Ademais,
postos mais importantes do período, a saber: o minis- no entendimento do presidente, não seria viável
tério do Exército. O ministro e general Sylvio Frota pro- mantê-lo no cargo, pois, seriam dois irmãos nos dois
tagonizou grande parte dos conflitos envolvidos na su- cargos mais altos do governo brasileiro (D’ARAUJO;
cessão do presidente Ernesto Geisel, conflitos esses que CASTRO, 1997).

1 A jornalista Ana Lagôa foi responsável pela área militar nas sucursais da às tendências dos fenômenos mais gerais publicitados pelo jornal. Adianta-
Folha em Brasileira e no Rio de Janeiro durante o governo Geisel. Uma bio- mos que as biografias dos diversos atores aqui nominados podem ser con-
grafia mais completa da jornalista está disponível em: http://www.arqanala- sultadas no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea
goa.ufscar.br/artigos/QuemeAnaLagoa.asp. Acesso em 28/05/2020. do Brasil da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FVG), cujo endereço eletrô-
nico é https://cpdoc.fgv.br/.
2 A base documental utilizada nesse texto são as matérias assinadas ou atri-
buídas à jornalista, disponíveis no Arquivo de Política Militar da UFSCar. Não
faremos uma análise pormenorizada, buscaremos aqui apenas dar sentido

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O novo ministro, segundo as matérias analisa- usava chinelos sem meias. A partir daí ficou impossível
das, teria que aglutinar as forças armadas e, ao mesmo para o ministro evitar a exoneração do colega, que foi
tempo ser um homem da confiança do presidente. As- conduzida pelo presidente Geisel.
sim, como sucessor do irmão, o presidente indicou o ge- A exoneração do general Ednardo do comando
neral Vicente de Paulo Dale Coutinho que, inclusive, do II Exército abalou as forças armadas, pois, segundo
chegou a ocupar o ministério durante os primeiros me- se depreende das leituras das matérias disponíveis no
ses do governo, mas, devido a uma parada cardíaca em acervo, foi muito mal recebida, pois passou a impressão
maio de 1974, acabou falecendo, sendo sucedido pelo de que um general teria sido “punido por punir a sub-
general Frota, que era o próximo na hierarquia militar, versão”. O afastamento do general Ednardo teria tido
mas não era, por suposto, um homem de confiança de duas finalidades, segundo analisamos, seria uma forma
Geisel e não havia feito parte do projeto político do re- de punição e ao mesmo tempo uma demonstração de
cém empossado governo que, mesmo que timida- força do presidente que, se por um lado, fortaleceu Gei-
mente, falava em abertura política. sel politicamente, por outro lado, repercutiu negativa-
Os primeiros abalos no regime, e por conse- mente na área militar, a partir do entendimento de que
quência na relação entre o ministro e o presidente, ti- os “governos revolucionários” não poderiam ter ho-
veram como cerne os embates entre o governador de mens fortes.
São Paulo, Paulo Egydio Martins e o comandante do II O ministro do Exército, a partir da exoneração
Exército, general Ednardo D’Avila Mello em decorrência do comandante do II Exército passou a desempenhar
da evidenciação da violência no Destacamento de Ope- um papel mais político e buscou contato direto com a
rações de Informação – Centro de Operações de Defesa tropa, para se fortalecer dentro do governo. Todavia,
Interna (DOI-CODI) em São Paulo. em umas das matérias da jornalista Ana Lagôa, fica
O primeiro atrito que coloca o governo estadual claro que isso também era um problema, pois em meio
e o comandante do II Exército em campos opostos foi a as tensões daqueles tempos, um título de um de seus
invasão do Instituto de Arquitetos de São Paulo e a inti- trabalhos recuperava a fala do comandante do III Exér-
mação do arquiteto Eurico Prado Lopes para prestar es- cito: “Militar não pode fazer declarações”. Interessante
clarecimentos no DOI-CODI. Em decorrência desse epi- adiantar que a fala em questão foi do general Fernando
sódio, segundo Markun (2015) o governador foi procu- Belfort Bethlem que acabou por ser o sucessor de Frota
rado pessoalmente pelo arquiteto e sua esposa, que fo- após sua queda.
ram avisados por familiar que o arquiteto seria preso Em meio à busca por fortalecimento político o
pelo DOI-CODI, e diante disso, procuraram Paulo Egydio general Frota protagonizou uma das falas mais polêmi-
para que ele intervisse pessoalmente na situação. Gas- cas do Regime Militar, fala essa que ocorreu durante a
pari (2004), acrescenta que governador fez contato, solenidade em comemoração ao dia do Soldado em
ainda naquela noite, com o general Golbery do Couto e agosto de 1977. Ao homenagear o patrono do Exército,
Silva e com o Marechal Ademar de Queiroz. No dia se- Duque de Caxias, o ministro falou sobre a disciplina mi-
guinte foi divulgado que a intimação contra o arquiteto litar, ressaltando que ela era um dos fundamentos da
havia sido suspensa (GASPARI, 2002). vida castrense, fazendo questão de reforçar que ele
Em seguida, houve o assassinato do jornalista nunca a exerceu para tripudiar sobre a dignidade de
Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975 e decorrên- seus subordinados. Segundo o discurso publicado pela
cia uma “caça às bruxas”, empreendida pelo Regime Folha de S. Paulo ele “tinha pela lei profundo respeito,
contra o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Como se pois sabia que a lei é a força, repelindo a amoralidade
sabe, o jornalista foi levado ao DOI-CODI para prestar do conceito de que a força é a lei” (Folha de São Paulo,
esclarecimentos sobre suas relações com o partido. 1977).
Poucas horas depois, estava torturado e assassinado. As No entanto, o discurso de Frota trazia um tom
condições da morte do jornalista geraram grande reper- de despedida por dois motivos que o próprio Frota re-
cussão na opinião pública dentro e fora do país e pro- conheceu em suas memorias: o primeiro é que ele já
vocaram a cobrança de esclarecimentos por parte da tinha conhecimento que estava para ser exonerado e o
imprensa e da sociedade sobre sua morte ocorrida den- outro é que o presidente Geisel solicitou que seu dis-
tro das dependências do órgão militar. curso lhe fosse mostrado antes da leitura (FROTA,
Pouco tempo depois, em 17 de janeiro de 1976, 2006).
ocorreu o assassinato do operário Manoel Fiel Filho, por Grosso modo, existiu a configuração de dois
dois agentes do DOI-CODI, nas mesmas circunstâncias movimentos de Frota: primeiro, o posicionamento polí-
da de Herzog, também sob a acusação de pertencerem tico do ministro que buscou apoio político na facção “li-
ao PCB. No dia seguinte de sua prisão, os órgãos de se- nha dura” da tropa se colocando publicamente desfa-
gurança emitiram uma nota oficial afirmando que Ma- vorável à atuação do presidente no Planalto e, segundo,
noel havia se enforcado em sua cela com as próprias o movimento de queda de Frota que começou a cair
meias. Porém, de acordo com colegas, quando preso, com a saída do general Ednardo do comando do II Exér-
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cito em São Paulo. Segundo se depreende das leituras superior, sem seu consentimento. Como se sabe, ne-
das matérias que sustentam essa argumentação, o des- nhuma das duas opções ocorreu. O general Sylvio Couto
gaste de Frota teria se iniciado com a evidenciação da Coelho da Frota foi exonerado do ministério do Exército
violência em São Paulo, em especial com a saída do ge- pelo presidente Ernesto Geisel em 12 de outubro de
neral Ednardo D’Ávila do comando do II Exército. 1977.
Ficando clara a insustentabilidade do ministro Seu último lance no tabuleiro de xadrez do po-
no cargo, o recurso era uma “uma saída honrosa”. Se- der ocorre já no governo do general Figueiredo, em ja-
gundo o que observamos ou o general Frota seria no- neiro de 1979. Quando, em uma conversa com um ge-
meado como ministro do Supremo Tribunal Militar neral amigo de Frota, Ana Lagôa foi informada que o ex-
(STM) ou ele deveria pedir demissão do cargo, uma vez ministro estava escrevendo um livro em que iria relatar
que a decisão de demitir o comandante do II Exército os acontecimentos do tempo em que era ministro que
havia sido à revelia dele, decisão tomada em instância deveriam deixar o governo Geisel “muito mal”.

Flávia Sanches de Carvalho é tecnóloga em Marketing, Mestre em


Ciência Política (Universidade Federal de São Carlos) e Doutoranda
em Ciência Política (Universidade Federal de São Carlos). E-mail:
flaviasanches81@gmail.com

Referências

D’ARAUJO, Maria Celina. e CASTRO, Celso (org.) Ernesto Geisel. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas,
1997.
FROTA, Sylvio. Ideais traídos. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
GAPARI, Elio. A ditadura escancarada. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
GASPARI, Elio. A ditadura encurralada. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
HAYASHI, Maria Cristina. Piumbato Innocentini. Arquivo Ana Lagôa UFSCar. Que é Ana Lagôa, 2012. Disponível em:
http://www.arqanalagoa.ufscar.br/artigos/QuemeAnaLagoa.asp acessado em 20/08/2018.
MARKUN, Paulo. Meu querido Vlado: A história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. São Paulo: Objetiva,
2015.

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