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Texto: João Silveira Santos

Ilustrações: Carlus Campos


Texto: João Silveira Santos
Ilustrações: Carlus Campos

Fortaleza ● Ceará ● 2018


Copyright © 2018 João Silveira Santos
Copyright © 2018 Carlus Campos

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Coordenação Editorial, Conselho Editorial


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Antônio Élder Monteiro de Sales
Projeto e Coordenação Gráfica
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Daniel Dias
Antônia Varele da Silva Gama
Revisão Final
Catalogação e Normalização
Marta Maria Braide Lima
Gabriela Alves Gomes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S231p Santos, João Silveira.


As pequenas fabulosas aventuras do peixinho Alfa / João Silveira Santos;
ilustrações de Carlus Campos. - Fortaleza: SEDUC, 2018.
48p.; il.
ISBN 978-85-8171-184-3
1. Literatura infantojuvenil. I. Campus, Carlus. II. Título.
CDU 028.5

SEDUC - Secretaria da Educação do Estado do Ceará


Av. Gen. Afonso Albuquerque Lima, s/n - Cambeba - Fortaleza - Ceará | CEP: 60.822-325
(Todos os Direitos Reservados)
A
prendi que há muitas formas de se iniciar
uma história. Mas esta, semelhante a tantas
outras, começará como a sedutora e mági-
ca “era uma vez...”. Assim, era uma vez um peixinho
chamado Alfa. Ele pertencia a uma espécie de peixes
com escuras listrinhas onduladas, muito finas, sobre
largas listras amarelas, azuis e cor de prata. A casinha
onde ele morava parecia uma grande maçã verde com
uma porta bastante larga à frente e uma janelinha de
cada lado. Bem no alto da casa, havia uma peque-
na chaminé, que diferente de qualquer chaminé, dela
não saía fumaça. Havia nela, sim, um gracioso jarro
de flores de onde nasciam e voavam muitas e muitas
minúsculas borboletas marinhas.
Alfa tinha irmãos mais velhos: Tuna, Ravel e Eliz,
ou melhor, a Elizabeta.

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O caçula Alfa tinha um grande sonho em seu co-
ração: conhecer o imenso oceano Atlântico, tal qual
fez um dia o seu irmão Tuna.
Alfa perturbava muito o seu irmão, querendo ou-
vir dele as histórias de sua viagem, naquele imenso
lugar de seres aquáticos bem diferentes, em espécie e
tamanhos, de todos os que viviam no seu rio.
— Conta mais, conta mais! Pedia, alegremente, o
curioso peixinho.
Mas os pais de Alfa, ali por perto, sempre lhe diziam:
— Alfa, você ainda tem que crescer muito se qui-
ser conhecer esse lugar tão longe e desconhecido.

A família de Alfa morava num lindo rio de água


muito límpida e bastante navegável. Ao percorrer aque-
le rio, era possível encontrar,a certa altura, uma exu-
berante ilha de onde se podia avistar o imenso oceano
Atlântico. Estando naquela ilha, podia-se ver o rio se
dividindo em dois rios mais ou menos estreitos. Havia
ali também muitas árvores floridas e pássaros cantan-
tes, além de animaizinhos que brincavam nas areias.
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Mas, entre os animais, havia um que era temido: a chance de viajar ao oceano Atlântico. Ele estava
o jacaré! muito feliz. Nem podia acreditar. O sonho do jovem
O peixe xaréu, assim como o Sargo, costumava peixinho iria acontecer, finalmente.
contar histórias para os apavorados peixinhos: Quando abraçava apertado os seus pais, ouviu deles:
— Ele é muuuuito grande, muuuito. Dizia o xaréu. — Lembre-se, meu filho, não se afaste muito da foz
— E tem uma boca repleta de enormes dentes afia- do nosso rio. E tenha cuidado com as correntes mari-
dos, prontos para devorar todos aqueles que cruzarem nhas. Disse a atenta mãe.
o seu caminho. Completava o Sargo, estirando as bo- — Fôlego, meu filho, fôlego! Tão lindo quanto o
chechas para imitar o jacaré. nosso rio, assim é o mar, porém, muito mais imenso e
Por causa dessas histórias, quando o gigante Ja- belíssimo. Vá encontrá-lo, mas cuidado. Alertou o pai.
caré deixava a sua ilha para passear pelas cidadezi- Alfa despediu-se também dos irmãos e tomou o
nhas, no fundo do rio, muitos peixes e os outros seres rumo da corrente, sob os olhares de corações apertados.
evitavam sair de casa com medo de que fossem, por
ele, atacados.
Alfa, quando sabia da passagem do jacaré, ao con-
trário, se encostava à janela. Dizia que aquilo ali era
tudo “inventanças”. Na verdade, não conseguia ver
maldade alguma nos habitantes do seu lindo rio.
Passaram-se vários meses.Era uma linda e ensola-
rada manhã de verão e, por isso, o céu estava mara-
vilhosamente claro.Nesse clima de reluzente encanto,
Alfa teve uma grande surpresa: ganhou de presente

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Animado, nosso pequeno aventureiro seguia os — Estou indo conhecer o Atlântico. Respondeu o
passos do rio e estava a caminho do mar, quando se peixinho Alfa, buscando não demonstrar que, naque-
viu, de repente, diante do gigante e temido jacaré. le momento, sentia um pouquinho de medo.
Mesmo sem acreditar que ele era mau, vendo-o — Puxa, você é um peixinho muito corajoso. Eu
tão próximo e imenso, Alfa sentiu suas prateadas e sempre quis conhecer o Atlântico, mas já estou meio
brilhantes escamas se arrepiarem. velho e cansado, acho que não aguento mais uma
— Olá, peixinho, o que você faz por aqui? Pergun- viagem como essa...
tou o grandalhão Jacaré. E o jacaré se pôs a olhar na direção do mar, demo-
radamente, talvez até imaginando como seria fantás-
tico e incrível viver a aventura de conhecer o imenso
oceano. Depois, voltou-se para o peixinho:
— Me chamo Luc. Qual o seu nome, garoto?
— Eu sou Alfa.
— Você é uma corajosa e boa criatura, Alfa. Va-
mos. Eu acompanharei você até a foz do rio.
Agarrado às costas de Luc, Alfa cruzou mais rápido
o caminho das águas frias do rio. Chegando lá na foz,
se despediram. O jacaré estava emocionado e disse-lhe:
— Acredito que meus netinhos também ficarão
muito alegres em conhecer as suas histórias quando
você voltar. Até logo, meu caríssimo Alfa.

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O peixinho ficou muito feliz com aquele encontro — Imaginei que poderia ter surpresas, Alfa. Aliás,
cativante e com as sinceras palavras de encorajamen- a cada novo dia, viajando por esse grandioso oceano,
to vindas do novo amigo. O grandalhão mais temido deverá ter muitas.
seria agora o mais querido daquela ilhazinha. — Sim... Puxa, não é brincadeira...
Como a maré já estava bastante alta, não custou Alfa se agarrou à cauda do jacaré e, com ele, na-
muito e logo o peixinho conheceu a força das ondas vegou até as primeiras ondas, as mais fortes. Após
que surgiam, trazendo o sabor salgado do mar. Ele era atravessá-las, se despediu finalmente de Luc e desli-
capaz de ver as águas do rio, dando doces mergulhos zou numa bela onda, mergulhando no lendário ocea-
entre as espumadas e brancas ondas marinhas. no Atlântico.
Muito esperto que era o jovem peixinho ficou aguar-
dando o momento certo de saltar na melhor onda. Con-
tudo, num piscar de olhos, ele foi jogado bruscamente
para a praia por uma onda muito forte e inesperada.
E estava ali aquele pequenino peixe, meio atordoado,
buscando, sem muito sucesso, rastejar-se até o mar. Já
um tanto sufocado pela falta de oxigênio, e sob o sol
forte da manhã, ele forçosamente movimentava suas
prateadas nadadeiras, tentando alcançar as espumadas
ondas que vinham até a praia. Nesse instante, foi apa-
nhado por Luc, que decidira acompanhar seu amigo
mais um pouquinho:

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Mal havia ingressado no mar, o peixinho Alfa pas-
sou a sentir um leve ardor em seus olhos. Parou por
um instante. Fechou e abriu os seus olhos acostumados
com a água doce do seu belo rio. Foi aí que algo lhe
ocorreu: um som invadiu os seus ouvidos. Aos poucos,
esse som ficava mais forte, mais forte...“Seria o som do
mar, das ondas?” Não. Era o som do seu coração, sendo
embalado pelas maravilhas daquela fabulosa aventura.
Então, ele abriu bem aberto os seus olhos e seguiu
com muito mais emoção. Cruzava as algas, os peixes
com todas as suas diferenças de cores, tamanhos e
modos de nadar, tudo belamente desenhado pela na-
tureza marinha.

Já estava bem longe, quando deu conta de que era


tudo muito grande, muito mais do que ele imaginava,
muito mais do que tudo o que ele já tinha visto ou ou-
vido contar.
O Atlântico era mesmo um oceano fabuloso
– assim como o rio onde o peixinho Alfa morava,
porém,muito mais imenso e muito mais surpreenden-
te. E aquele fantástico mundo, tão cheio de vidas e de
cores, parecia esconder grandes mistérios.
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Umas trilhas, como se fossem ruas, circundavam as Mas, entre todos, o mais interessante foi o peixe-pa-
montanhas pequeninas no fundo do oceano. Após na- lhaço, muito famoso no oceano Atlântico e no teatro.
dar por uns minutos, Alfa chegou a um vilarejo onde os O peixe-palhaço, por falar muito rápido e “muuuito”,
habitantes pareciam não falar o seu idioma. também era chamado de peixe-tagarela. Parecia ter um
Na verdade, os seus ouvidos não estavam acostu- milhão de livros dentro de sua cabeça e um milhão de
mados com aqueles sotaques, mas, aos poucos, foi se histórias para contar. Além disso, ele contava as mais
percebendo entendedor das palavras marítimas que engraçadíssimas piadas e sempre tinha uma opinião
soavam, cada vez mais, familiares. Passou a observar a respeito dos mais variados assuntos que desejassem
os cidadãos daquele lugar: um siri que o cumprimen- conversar com ele.
tou com muita educação e com todas as patas. Depois, O peixinho Alfa, que era de certa forma bastante
um camarão vestido com um apertado paletó xadrez, tímido, se sentia muito alegre em estar na companhia
apressado para pegar a nave-concha. E outros mais, do peixe-palhaço.
cada um com sua graça.
Sentado na calçada de uma colônia, Alfa soube
que o peixe-palhaço teve uma crise no dia de seu ani-
versário. Não queria mais fazer ninguém rir. Cansou
de palhaçadas.
— Eu achava que não queria mais fazer ninguém
rir. Não queria nem contar piadas. Achava que não
tinha nascido para ser palhaço.
— Mas antes de ser palhaço, você não é peixe?
O peixe-palhaço, com essa pergunta, até riu:

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— Sim, pequeno Alfa. Sou peixe com muito orgu- — Você também é músico? Perguntou, admirado,
lho. Mas foi aí que eu vi diante de mim o oceano. Pres- o peixinho Alfa.
te atenção: o peixe-pedra não nasceu para ser palhaço. — Componho umas rimas, invento melodias e faço
O tubarão-lixa que ajuda a limpar a carapaça da tarta- os peixinhos soltarem a voz. Já criei até um coral só
ruga Margarida, não nasceu para ser tigre. Agora, veja com peixes-pedras e águas-vivas.
o tubarão-martelo que ajuda a fazer a casa do peixe-
— Puxa, eu quero ver e conhecer muitas coisas.
-papagaio, ele não nasceu para ser cavalo-marinho. E
Quero contar tudinho quando voltar para o meu rio.
mesmo assim e sendo assim, todos estão felizes.
Disse o Alfa, bastante entusiasmado, com tudo o que
Uma lágrima seguia a corrente marinha quando o estava vivendo.
peixe-palhaço levantou-se, abriu as barbatanas e gritou:
— E terá muitíssimas histórias. Com certeza, meu
— Eu nasci para dar alegria aos animais, peixes e caro peixinho.
humanos. Sou um peixe-palhaço, ora!
— Ah, gostei muitíssimo!
O peixe-palhaço morava numa casinha que mais
O peixinho Alfa, sem perceber, já estava entrando
parecia uma televisão, daquelas bem antigas, com
na onda do novo amigo, quase sempre exagerado em
duas antenas muito finas, apontando para o céu.
seu falar e que gostava de usar “íssimo/íssima” no final
— Não repare, garoto, sou um humilde peixe-palha- de quase todas as palavras que ele pronunciava.
ço, às vezes meio andarilho, às vezes meio de casa. Estou
— Temos também muitos corais, muitas florestas e
onde a felicidade me procura. Hoje estou me dedicando
o maior sítio de objetos misteriosos de todo o oceano,
mais às aulas de música e teatro com os peixes mais no-
fica aqui em nossa cidade, sabia? Perguntou o anfitrião.
vos aqui da minha cidade. Mas, acredite, já naveguei os
— Acredita que outro dia uns seres estranhíssimos, dis-
sete mares e sempre gostei de pintar o sete,e até o oito,
farçados de peixe, pretendiam explorar o nosso sítio?
com a peixarada daqui do meu pedaço de mar.
Pois é. Mas conseguimos expulsá-los de lá.

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Os objetos misteriosos para os peixes, na verdade,
eram coisas bem comuns do mundo dos humanos,
como: os restos de uma bicicleta, um rádio, um com-
putador, uma poltrona, carrinhos de madeira, bolinhas
de gude, alguns ioiôs; uma miniatura do Pinóquio, em
forma de marionete; um trenzinho sem trilhos, uma
espada de samurai; um escudo de bronze numa cai-
xa de vidro; um baú tombado, esparramando muitos
livros pelo chão marinho, entre os quais poderíamos
encontrar a capa do romance “Dom Quixote de La
Mancha” e muitos outros objetos.
O irreverente e divertido peixe-palhaço convidou
o peixinho Alfa para conhecer também um lugar que
era o cartão-postal do seu pequeno universo no fundo
mar: um aquarelado submarino, cheio de pequeninas
escotilhas que há décadas pousou ali, no topo de uma
imponente colina marinha.
À noite, as estrelas do mar transformavam aquele
submarino num atraente e iluminado objeto, deixan-
do-o ainda mais misterioso.
Alfa não resistiu e pôs seu olho de peixe no telescó-
pio, enquanto o peixe-palhaço assobiava uma canção.

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No final daquela tarde, o peixe-palhaço teve que Por causa desses seres marinhos de comportamen-
ir animar uma festa para os alunos de uma escola to estranho, Alfa não quis se aproximar de uma mul-
marinha. Apesar do convite insistente do amigo, Alfa tidão de peixes que fazia palhaçadas, ao mesmo tem-
não quis acompanhá-lo à festa e resolveu seguir so- po, em que zombavam de um sirizinho com cara de
zinho, em sua caminhada de aventura, pelo oceano. martelo. Sentou-se numa rocha:
Ele então embarcou numa nave-concha em dire- — Ô, seu peixe engraçadinho, por que veio me
ção às montanhas marinhas que cercavam a aconche- acordar? Disse a rocha, ou melhor, o peixe-pedra no
gante cidade do peixe-palhaço. Mal havia chegado ao qual Alfa acabara de se encostar:
seu destino, em meio às montanhas que guardavam — Perdoe-me, seu peixe, foi sem querer! Desculpou-
um adormecido navio cargueiro repleto de contêine- -se, um tanto envergonhado, e logo correu para trás de
res, se viu surpreendido por dois peixes de caras arre- um esverdeado pneu bem ao lado: “Tomara que essa
dondadas e olhos esbugalhados, como se estivessem coisa não seja mais um peixe adormecido”. Pensou.
furiosos de raiva. Foi uma cena jamais vista: os dois
peixes disputavam entre si um pedaço de comida que
havia sido jogado de um veleiro que passava, lá em
cima, na superfície do mar.
A partir de então, outras cenas surgiriam: um
tubarão-tigre, mostrando suas afiadas garras, tentava
assustar um cavalo-marinho. O caranguejo-ermitão
parecia estar com medo de sair da carapaça, ao ver um
peixe-dragão que buscava, sem sucesso, cuspir fogo
em direção a um atrevido caranguejo de patas azuis.

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Um grupo de arraias, com caras de morcego, pas- — Ocê tá perdido? Repetiu um peixe vestido de
sava quando um peixe-trombeta gritou do alto da papagaio sobre o ombro do golfinho.
ponta de um navio encalhado: Alfa, assustado, meteu caudas e nadadeiras na
— Venham, venham! É por aqui! carreira, com medo da dupla esquisita.
Do outro lado, uma sardinha, toda faceira, tentava Já longe, decidiu voltar para a cidade do amigo
se equilibrar num salto altíssimo. peixe-palhaço. Ainda trazendo as imagens na cabeça,
Passados alguns minutos, mas, sem conseguir en- Alfa encontrou uma tartaruga com uma mala na mão.
tender tudo aquilo, peixinho Alfa foi surpreendido por Ela lhe perguntou:
um golfinho, usando um tapa-olho e chapéu de pirata, — Olá, lindo peixinhozinho, você sabe onde fica a
a perguntar: cidade do navio adormecido?
— Você está perdido? — Sei, dona tartaruga, mas aconselho a senhora
que, assim, sozinha, não vá para lá.
— Mas, por quê?
— Porque lá é muito perigoso. Tem pirata golfi-
nho, tubarões com cara de tigre, arraias assustadoras,
um peixe carregando uma espada afiadíssima e mui-
tas outras criaturas mal-encaradas.
Para a surpresa do peixinho, a tartaruga deu uma
estrondosa e longa gargalhada, tão forte que quase a
deixou rouca:
— Perdão, lindinho, acho que exagerei.

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— S-s-sem problema, dona... Disse o peixinho, que queriam saber o que ocorria ali. “Tomara que seja uma
quase saiu em disparada por causa daquela escanda- festa”, imaginou o peixe-palhaço:
losa gargalhada. — Pula, pula, pula, hei! Nada, nada, nada! Vamos,
— Gostei de você, mas acho que, quanto aos se- peixinho, não podemos perder tempo! Glub-glub-glub...
res esquisitos que você viu, não precisa se preocupar. É festa, é festa, é festa! Vamos lá, peixinho!!! Uhuuuuu!
Parece-me que eles conseguiram se disfarçar muito Pula, pula, pula, hei!... Cantava assim o peixe-palhaço,
bem! Veja... animadíssimo, quando, ainda de longe, reconheceu o
A tartaruga abriu a sua malinha e dentro dela ha- velho amigo ouriço, mas tomou o cuidado de não abra-
via uma fantasia de astronauta: çá-lo, pois seu corpo é tomado de espinhos.
— Veja, criança, você acabou de sair de uma gran- — Amigo Felício, o ouriço mais inteligentíssimo
de festa à fantasia no meio do Atlântico. E eu é que desse vastíssimo oceano sem fim! Quanto tempo, não
não vou perder essa festa! é amigo? Quais as novidades?
Aliviado, Alfa despediu-se da tartaruga astronau-
ta. Jamais havia imaginado que poderia encontrar no
meio daquele oceano um lugar com seres tão esquisi-
tos, alegres e engraçados.
Mais tarde, ao reencontrar o amigo peixe-palhaço,
o nosso peixinho aventureiro foi conhecer outros novos
lugares, entre eles, a iluminadíssima cidade dos ouriços.
Ainda distante, os dois amigos avistaram uma mul-
tidão de peixes e outros seres marinhos no centro da-
quela charmosa cidade. Eles ficaram muito curiosos e

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Naquela pequena cidade, no fundo mar, Felício
vivia feliz com sua família. Grande admirador das es-
trelas que enchiam o céu, para além da superfície do
oceano. Ele passou a alimentar o sonho de conhecê-
-las, bem de pertinho, e, quem sabe, tocá-las e sentir
o seu magnífico brilho.
Às vezes, Felício até subia à superfície e olhava o
céu encontrando-se harmonioso com o mar ao longe.
Ele, no entanto, tinha dois irmãos, Marisco e Felícia,
que gostavam de música, de histórias de aventura e
viviam falando para o irmão que queriam viajar por
lugares fantásticos e distantes.
Após Felício falar de seus planos e dançarem por
algumas horas, o peixe-palhaço e Alfa se despediram
em busca de novos caminhos.
E foi cruzando os mares atlânticos que o peixe-
-palhaço confidenciou:
— Como você sabe, conheço muitos lugares aqui
no oceano onde moro, mas tenho um grande desejo:
conhecer o continente. Me disseram que é um lugar
repleto de lindas paisagens e de muitas belezas.
— Parece interessante. Mas, não fica muito longe
daqui? Perguntou o peixinho.
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— Fica ao sul. Duas ou três marés de distância, — Não, a ouriça... E a historinha do sapo Toró?
talvez. Precisaremos chegar à enseada Atlântica. Di- — Essa você ainda não contou.
zem que é de lá a melhor visão do continente. Disse o
— Pois bem. O sapo Toró tinha uma prima que não
peixe-palhaço. E perguntou:
gostava de cantar, mas quando era noite ela dizia:
— Você não gostaria de mais essa aventura antes quá, quá, quá. Ele também tinha um amigo que era
de voltar para o seu rio, pequeno? apaixonado por violão, mas ele só sabia tocar uma
Peixinho Alfa pensou um pouco e aceitou, mas sa- única música que dizia: drão, drão, drão...Tem tam-
bia que não poderia passar muito tempo nesse lugar, bém a história da borboleta sem cor...
pois poderia ficar doente e até mesmo morrer fora do E muitas outras histórias maravilhosas foram con-
seu ambiente natural. tadas pelo falador peixe-palhaço.
Na manhã seguinte, enquanto realizavam a tra- Durante a viagem, peixinho Alfa e seu amigo se
vessia, o peixe-palhaço buscava contar histórias di- perderam ao atravessar uma floresta marinha onde
vertidas para distrair o peixinho Alfa, que estava meio havia grandes árvores e escuros corais.
receoso dos perigos daquela viagem:
Quando os dois chegaram à praia, já era noite. Eles
— Você conhece a historinha do sapo que não gos- estavam numa linda enseada com muitas árvores à
tava de tomar banho? margem. A lua enchia a praia com sua suave e brilhante
— Sim. Você já me contou. luz. De lá, era possível ver as luzes de uma cidade com
— E a da princesa ouriça que perdeu sua coroa gigantescos prédios e ouvir o barulho de máquinas ao
de vidro? longe. Os vaga-lumes saltavam de galho em galho, ilu-
minando as folhas das plantas bem diferentes das que
— Você também contou essa.
havia no fundo do rio ou mesmo do oceano.
— Você achou bonita?
— A história?
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Os dois amigos se puseram a olhar para os lados,
buscando alguma criatura que pudesse guiá-los por
aquela praia.
Quando o peixinho Alfa se preparava para per-
guntar se havia alguém ali, uma grande coruja surgiu
num voo muito discreto e pousou num galho de ár-
vore bem baixinha. O peixe-palhaço tomou um susto
tão grande que ele quase não pôde retomar a sua voz.
Alfa, mesmo estranhando aqueles olhos tão grandes
e iluminados, perguntou:

— A senhora mora aqui?


— Eu moro um pouco distante, rapazinho, mas é
nesse lugar que trabalho de vigia com meu amigo mor-
cego. E vocês? Nunca os vi por aqui. O que procuram?
— Estamos, podemos assim dizer, de férias! Disse
o peixe-palhaço. — E meu mui amicíssimo Alfa e eu
viemos conhecer o continente.
— Um dia apenas, infelizmente. Disse o peixinho
Alfa. — E resolvemos dar um passeio por esse lugar.
Dizem que há por aqui muitas maravilhas, é verdade?

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— Ah, bom... Maravilhas? Sim. Mas aqui já foi mais Joaquina aproximou-se de Alfa e cochichou-lhe
bonito. Vejam aquelas nuvens. Conseguem vê-las? ao ouvido:
— Sim. Responderam os amigos peixes. — Acho que Netuno, com seu tridente, deve ter
— Pois é. Não são nuvens. São fumaças que saem acertado a cabeça do seu amigo. Ele é sempre assim?
daquelas torres escondendo as estrelas. O céu também já Esse seu mui espalhafatoso amicíssimo peixe parece
não é tão azul, visto de onde estamos. Aqui na floresta, ter engolido uma matraca. Ou então tomou chá de
há algum tempo, havia grandes árvores sobre as quais chocalho rouco.
podíamos viver, brincar e trabalhar com mais tranquili- — Ah, não liga. Disse o peixinho soltando palavras
dade. Hoje já não há. Muitos amigos tiveram que fugir quase mudas por entre os pequeninos dentes. — Às ve-
daqui, em busca de lugares mais agradáveis e tranquilos. zes ele não mede as palavras e acaba falando asneiras.
— Gostei de você, dona... É o seu jeitão: um velho peixinho palhaço feliz.
— Pode me chamar de Joaquina. E qual o nome de A coruja, em seguida, convidou os dois amigos
vocês? para que conhecessem onde moravam os morcegos.
— Meu nome é Alfa e o meu amigo é um peixe- — Vejam,amigos, é ali onde moram os morcegos,
-palhaço. naquela caverna.
— Coruja Joaquina... que nome engraçado... Estra- — São muitos! E aquelas luzes? Perguntou o pei-
nhou o peixe. xe-palhaço admirado com aqueles incríveis seres.
— Vindo de um peixe-palhaço, deve ser mesmo — São pirilampos, uns amigos nossos que con-
bem engraçado... quistamos, consequência desse trabalho noturno aqui
na floresta.
— Sim, mas entre o “peixe” e o “palhaço” existe
um tracinho que é para ficar mais elegante. — Eles parecem estrelas. Eles estão brincando? Que
objeto é aquele?

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— Ah, caro peixinho, aquilo é um carrossel. Qua-
se sempre os pirilampos e os morcegos se encontram
para se divertirem a bordo desse mágico objeto.
— Uma engrenagem dessas, certa vez, caiu bem pró-
xima da minha cidade. Mas lá a gente chama essa para-
fernália, cheia de cavalos marinhos que não se movem,
de disco voador estelar. Revelou o peixe-palhaço.
— Mas o seu verdadeiro nome é carrossel. Disse a
coruja.
— Você nunca é convidada para brincar no carros-
sel? Perguntou Alfa.
— Sim. Mas não gosto muito. Gosto mesmo é de
ficar observando, de longe, a festa que todos fazem.
Confirmou a coruja já um tanto sonolenta e bocejando.
— Dona Joaquina, você está com sono? Perguntou
o peixinho.
— Um pouco. É que já está amanhecendo, não é?
— Acho, então, que temos que ir. Disse o peixe-
-palhaço. — Não podemos passar muito tempo fora do
nosso ambiente.
E os dois aventureiros, após se despedirem da
amiga coruja, deram um espetacular salto olímpico
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no meio daquela enseada e foram-se embora, ainda faz ideia do quanto o meu mui amicíssimo Alfa ficou
muito admirados com os pirilampos que pareciam be- encantado com esta história. Tem também a história da
las estrelas verdes, luzindo a caverna e o carrossel. nave dos irmãos ouriço... com um novo final, é claro!
Pois então chegou a hora de Alfa voltar para casa. No rio, a alegria da família e dos vizinhos foi gran-
Os dois amigos teriam que se despedir. de em receber o peixinho Alfa de volta para casa. Havia
“Meio que sem jeito”, os dois estavam caladões, demorado muito mais do que esperavam e perceberam,
aproveitando os últimos momentos da companhia rapidamente, o quanto o menino havia crescido.
amiga. O peixe-palhaço sorriu e deu um abraço muito Em casa, à noite, Alfa dormiu muito cansado e
forte no peixinho e disse que “muitíssimo” breve o sonhou com as maravilhosas e coloridas lembranças
visitaria em seu rio. de saudade, alegria e festa.
Alfa sorriu. Não sei se acreditou na promessa ou
achou se tratar de uma piada, mas de uma coisa am-
bos sabiam: teriam saudades um do outro.
Foi quando Alfa foi-se embora sem mais nada dizer.
O peixe-palhaço, não é novidade, seguiu em sua
cidade, fazendo muitas outras palhaçadas e contando
novas histórias inspiradas nas aventuras vividas na
companhia do seu grande amicíssimo Alfa.
— Tio peixe-palhaço, o senhor pode nos contar a
história da dona Coruja Joaquina?
— Ah, queridos sobrinhos, já contei tantas vezes...
Eu não posso contar a história do crocodilo? Você não

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Mas no outro dia, pela manhã, ainda muito cedo, O peixinho Alfa ia dizer a verdade, mas olhando
acordou com dores no estômago. Sua mãe, muito pre- para a cara ansiosa dos pais, preferiu deixar para con-
ocupada, resolveu levá-lo ao médico. tar quando chegassem à sua casa, afinal, eles ainda
Chegando ao hospital mais próximo, com sua fa- não sabiam que ele havia ido muito além da fronteira
mília, peixinho Alfa foi logo atendido. do rio onde morava.

— Bom dia! O que os trazem aqui? Disse um mé- — Então, mamãe, dê a ele apenas um chá de alga-
dico golfinho muito atencioso. -santa e nada de sair para longe, hein? Repouso pelo
resto do dia.
— Doutor, o meu filho acordou com fortes dores
no estômago e não sei como cuidar dele. Disse a pre- Naquele fim de tarde, o sol se despedia enchendo
ocupada mãe. o rio de dourados raios. De repente, uma fagulha cru-
zou as nuvens e mergulhou na boca da noite e o céu
O médico pediu para que Alfa se deitasse numa
inundou-se de lindas estrelas!
cama ao lado para que pudesse examiná-lo mais de-
talhadamente. Examinou seus olhos e depois pediu E sob aquele céu mágico estava o peixinho Alfa,
para que ele abrisse a boca e mostrasse a língua. em frente à sua casa, partilhando para a um grupo de
amigos um pouco do que havia descoberto quando de
— Diga glub-glub três vezes. Ordenou o médico,
sua viagem ao oceano Atlântico.
encostando um aparelho na altura do pulmão do pei-
xinho para ouvir sua respiração. — Era uma vez um engraçadíssimo e espalhafato-
so peixe que amava fazer seus amigos rirem. Ele vivia
Depois de muito examiná-lo, o médico concluiu
numa fantástica cidadezinha, no meio do oceano, e con-
que as dores de estômago do peixinho Alfa eram cau-
tou para mim esta historinha inspirada numa fantástica
sadas apenas por questões emocionais.
viagem realizada por uma dupla de irmãos ouriços:
— Você teve alguma emoção muito forte por esses
Havia um ouriço, chamado Felício, que morava
dias? Perguntou.
feliz lá no fundo do mar. Ele alimentava um grande
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sonho: fazer um passeio lá pelo alto céu. Sempre que
possível, ele nas ondas subia e olhava o céu com sua
belíssima lua. De longe, ele avistava as estrelas luzin-
do e, voando alegre, saltava no mar.
Ele tinha um irmão chamado Marisco que gostava
de música e de grandes aventuras por lugares fantás-
ticos e distantes.

Certa vez Felício e Marisco traçaram um plano:


queriam um veículo para chegar até o céu. “É preci-
so uma nave veloz e segura”, diziam, “que possa nos
proteger dos perigos do mar”.Então, depois de muito
trabalharem,conseguiram construir uma linda nave-
-marinha. Porém, muitos de seus amigos, que não
acreditavam no projeto dos irmãos ouriços, acharam
linda aquela nave e com eles quiseram embarcar.
Estavam todos então ao redor da nave, quando, de
repente, chegou uma estrela-do-mar que disse: “Eu pos-
so ir com vocês? Pois quando for noite, eu posso ilumi-
nar.” Depois veio um pepino do mar que apelou: “Sou
bem pequenino. Irei em qualquer pequeno lugar.”
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E o sonho que era um segredo, muito de repente
se espalhou. Logo chegaram os amigos, vizinhos e
um grande sorteio foi realizado. Convocaram um pol-
vo escrivão e ele anotou o nome de todos os amigos.
Pouco a pouco a hora foi chegando e foram chama-
dos 4 sortudos: que venha o pepino chamado Pepe, a
estrela chamada Estela, o peixinho chamado Zinho, o
tubarão chamado Dão.
Os seis amigos iniciaram a aventura. Quanto mais
eles navegavam, mais longa a viagem se fazia e, do
vasto céu,mais longe pareciam estar.Assim, depois de
muitas desventuras, numa tarde para casa eles vol-
taram.Mas todos tiveram uma grande surpresa e, na-
quele dia, foi uma só tristeza no fundo do mar, pois
aquela nave tão bela e formosa não pôde ir ao céu por
não poder voar.
Contava a história, quando ouviu sua mãe o cha-
mar para jantar. Precisava ir.
— Ah, conte-nos mais! Pediu uma peixinha curio-
sa que nem ele e que também adorava as histórias de
aventuras.

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— Meus amigos, por hoje é só, depois eu conta-
rei outras belas histórias dessa dupla de inventores-
-aventureiros, e do meu amigo peixe-palhaço tam-
bém, é claro!
— Ahhhhhhhhh!!! Suspiraram os amigos que que-
riam saber mais sobre as histórias vividas pelo peixinho.

E assim, durante dias e noites, naquele rio, pequenos


peixes e outros seres se reuniam para ouvir as incríveis
histórias das pequenas e fabulosas aventuras do peixi-
nho Alfa, no imenso e desconhecido Atlântico, um oce-
ano de tantas, tantas belezas que parecia não ter fim.
“Era uma vez...”

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João Silveira Santos
Olá, leitor(a), sou João Silveira Santos,
professor de Língua Portuguesa. Desde a
infância moro em Paracuru, onde o mar é
lindo. Minhas leituras e paixão pelo mar é
que me inspiraram escrever esta história. Foi,
para mim, uma imensa alegria escrevê-la!
Assim, desejo que ela possa proporcionar a
você um delicioso momento de leitura.

Carlus Campos
Sou artista plástico e ilustrador. Iniciei minha
carreira em 1987, no jornal O Povo de
Fortaleza. Ao longo da minha carreira ilustrei
importantes publicações nacionais como
revistas e livros infantis. Na minha produção,
abordo diversas linguagens como: pintura,
desenho, infogravura e posteriormente a
xilogravura. Fui premiado no Rio de Janeiro,
São Paulo, Pernambuco, Brasília e Rio Grande
do Sul. Participei de diversas exposições em
Fortaleza. Desenhar é sempre reencontrar a
poesia que está dentro da gente.
Apoio

Realização

O Governo do Estado do Ceará desenvolve, com os seus 184 municípios, o


Programa de Aprendizagem na Idade Certa - MAIS PAIC, com o compro-
misso de garantir e elevar a qualidade e os resultados da educação de suas
crianças e seus jovens.
Publicada pela Secretaria da Educação do Estado, através do MAIS PAIC, a
Coleção Paic, Prosa e Poesia, rica em identidade cultural, reúne narrativas
de autores do Ceará que tiveram seus textos selecionados por meio de se-
leção pública. Esse acervo constitui um estímulo a mais para se ler e contar
histórias em sala de aula, garantindo, assim, um letramento competente.

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