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Caderno de
Resumos
Índice Geral
4
Página
Simpósios de
Estudos Linguísticos
SIMPÓSIO
O contexto atual de crescente desenvolvimento das tecnologias e acesso massivo às redes sociais
proporcionou um ambiente fecundo para discussões sobre identidade de gênero e sobre o feminismo.
Eventos ocorridos na mídia e sociedade passam a ocupar grande espaço e gerar mobilização nas redes
virtuais de interação, como foi o caso das manifestações de apoio à participante mirim Valentina, do
realityshow culinário Masterchef, que sofreu assédio sexual por parte de usuários da rede social Twitter.
Esse acontecimento gerou um movimento de grandes proporções na rede, chamado de “hashtag
transformação” em que mulheres relataram seus primeiros assédios sexuais na infância e adolescência
por meio de postagens na rede social, em tom confessional, organizados a partir do uso de uma palavra-
chave precedida por um sinal gráfico (#primeiroassedio). O presente trabalho buscou analisar como os
enunciados categorizados por essa hashtag serviram como ferramenta de materialização dos discursos de
empoderamento feminino e combate às manifestações discursivas de assédio e como os espaços virtuais
de interação funcionam como terrenos férteis para a prática discursiva empoderada.. Para tanto, foram
articulados conceitos de discurso e dialogismo desenvolvidos no Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2015;
VOLOCHÍNOV, 2013), além de teorias sobre identidade, sexualidade e feminismo (BASTOS e MOITA
LOPES, 2011; FOUCAULT, 2014; BEAUVOIR, 1967).
Com o alcance global da internet e a possibilidade de interconexão oferecida pelas redes sociais, lutar
por uma causa também passou a fazer parte do cotidiano online. Baseado nisso, este artigo estuda o
ciberativismo feminista através da análise da página do Facebook “Feminismo sem demagogia –
Original”. A partir de autores como Primo, Recuero e Santaella, o estudo analisa as interações
estabelecidas no ciberespaço, tendo as novas mídias como protagonistas de mudanças nas relações
sociais, entendendo as redes sociais como essas novas mídias. O trabalho objetiva relacionar o
ciberativismo ao estudo da recepção na construção da identidade feminista. Por meio da análise
quantitativa de interações nos posts e da proposta defendida por Recuero, pode-se observar que as
publicações das redes sociais têm relação direta com a formação de identidade e aprimoramento das
relações sociais dos seus usuários. Sendo assim, é possível afirmar que a página analisada se enquadra
no termo ciberativismo, já que promove a discussão, relação e identificação de seus membros em suas
publicações.
Este estudo faz parte de reflexões desenvolvidas a respeito das representações sobre a mulher no papel
social de mãe. Os corpora dos estudos são recortados de diferentes suportes materiais e trazem em
comum o fato de cerrarem sentidos sobre a prática da maternidade no que diz respeito, por exemplo, às
qualidades que caracterizam a ‘boa mãe’. Parece-nos que há um conjunto de saberes que sustentam
unilateralmente uma formação discursiva saturada de significantes em torno do que seja essa ‘mulher-
mãe’, que compactuam com discursos estabelecidos sobre o amor materno e impedem que outros dizeres
se efetivem de modo a neutralizar os que dão suporte ao que Badinter (1985; 2011) denomina como “o
mito do amor materno”. Nesse sentido, à luz da Análise de Discurso francesa, encontra-se o amparo
teórico-metodológico que permite trabalhar por entre as fissuras dos discursos dominantes e 'dominados',
bem como colocar em cena as práticas de silenciamento e, por consequência, as derivas de sentidos que,
mesmo não-ditos, fazem-se presentes e ressignificam o olhar da mulher-mãe a respeito de si própria,
despertando, inconscientemente, sentimentos conflituosos entre ser mulher e ser mãe. O problema a ser
refletido, na análise dos córpora, é a relação simbólica que se institui entre a maternidade e sua
responsabilidade pela alimentação do filho, que passa a se somar às escalas de valores melhorativos
sobre a boa mãe. O meio digital que suporta o(s) discurso(s) em análise implica num incomensurável
universo de revelação das ideologias que sustentam a sociedade atual, tornando-se, por isso, um espaço
privilegiado de pesquisa para refletir sobre o que pensam e como pensam os sujeitos sociais.
O parto/ou nascimento é considerado, historicamente, um evento natural, que ao longo da história das
civilizações, sofreu transformações, sem, contudo, perder o status de um dos acontecimentos mais
marcantes da vida dos sujeitos. De evento antes restrito ao âmbito familiar, e, logo, do domínio do
privado, ele passa a constituir um evento público, cercado por pessoas estranhas, em uma relação em que
os laços afetivos são desconsiderados. No ambiente hospitalar, a prática tecnicista e despersonalizada
privilegia os profissionais em detrimento das mulheres e os discursos sobre a violência obstétrica sofrida
por elas, há muito silenciados, tornam-se uma constante. No Brasil, a fim de tentar controlar essa prática,
que fere a dignidade do sujeito-feminino, a OMS, o Ministério da Saúde e ONGs, formularam propostas
de mudanças no atendimento às parturientes, as quais incluem o respeito “a sua individualidade,
valorizando o seu protagonismo no momento do nascimento e respeitando as diferenças, sejam elas
culturais, sociais, de crenças, ou outras. Em virtude dessas mobilizações, passou-se a discutir
amplamente acerca do nascimento, e irromperam discursos advindos de vários campos do saber, acerca
da violência contra a mulher e a negação dos seus direitos no momento do parto. Neste trabalho,
pretendemos investigar como a violência obstétrica é discursivizada no discurso jornalístico, que circula
na mídia social digital, e que memórias nele ressoam. Nos embasaremos em reportagens publicadas on
line. Para dar conta dos nossos objetivos, nos embasaremos nos pressupostos teóricos da Análise de
Discurso, fundada por Michel Pêcheux, na França e difundida por Eni Orlandi, e seg no Brasil.
Objetiva-se neste trabalho analisar discursivamente a hashtag #IstoÉMachismo, que circulou nas mídias
sociais digitais entre os dias 02 e 03 de abril de 2016, como reação de alguns perfis digitais à capa da
revista IstoÉ sobre a presidenta Dilma Rousseff. A referida capa, que trazia uma imagem do rosto da
presidenta Dilma Roussef em primeiro plano com uma expressão “de fúria”, acompanhada do enunciado
"As explosões nervosas da presidente”, e também a matéria interna da revista, intitulada “Uma
presidente fora de si”, geraram, instantaneamente, um número considerável de reações nas mais variadas
mídias sociais, que se organizaram em rede a partir da criação da hashtag #IstoÉMachismo. Nesse
contexto, pretende-se, especificamente, pensar de que modo conceitos como os de sujeitos ordinários
(SILVEIRA, 2015); tecnodiscurso (PAVEAU, 2013), palavra-argumento (HUSSON, 2015),
midialivrismo (MALINI; ANTOUN, 2014) – que surgem na atualidade como propostas possíveis para a
compreensão do funcionamento das hashtags no contexto digital - aliados aos conceitos de arquivo,
memória e formação discursiva, da Análise do Discurso, podem contribuir para pensarmos a disputa
coletiva que se instaura nas conjunturas midiáticas que funcionam, em rede, como formas de
desestabilização dos discursos dominantes em circulação, como é o caso dos discursos veiculados por
perfis ativistas que funcionam como contraponto aos discursos misóginos e machistas, como parece ser o
discurso veiculado pela capa da revista IstoÉ sobre a presidenta Dilma Rousseff.
Durante o período pré-eleitoral das eleições presidenciais no pleito de 2014, as notícias e os comentários
acerca das campanhas políticas dos candidatos à presidência foram de que nelas se adotaram discursos
agressivos, seja nos debates, nas redes sociais, nas campanhas televisivas, ou mesmo nos sites oficiais.
Isso se deu tanto no primeiro turno quanto no segundo, entretanto, em um quadro de disputa mais
acirrada pela sucessão presidencial, o período referente ao segundo turno, entre a presidente Dilma
Rousseff (PT) e o ex-senador Aécio Neves (PSDB), foi marcado pelo confronto também dito ainda mais
agressivo e acalorado. Tendo em vista que, de forma genérica, atribuiu-se a um e outro candidato a
liderança de uma campanha marcada pela agressividade, elegemos como objetivo deste trabalho a
análise do discurso dito agressivo, buscando compreender sua formulação e materialização no discurso
político, a qual pode se dar pelos recursos da ironia, da seleção temática, do dizer derrisório, do
escracho, da gestualidade, do tom de fala, dentre outros. O que seria o discurso agressivo, ácido,
desrespeitoso? Como ele se materializa no discurso político? Orientados por essas perguntas de pesquisa
e pelo arcabouço teórico da Análise do discurso de linha francesa, propomos a análise de imagens e
vídeos que circularam nas redes sociais (Facebook, Youtube), bem como nos sites oficiais de campanha,
no período pré-eleitoral, tendo o objetivo de compreender como se produz e circula o que, no Brasil, se
denomina agressivo no discurso político na atualidade.
As redes sociais da Internet têm papel fundamental nos movimentos sociais em nossa
contemporaneidade. Isso porque os meios de comunicação tradicionais são canais corporativos, ou seja,
estão nas mãos de grupos empresariais que controlam a produção e circulação discursiva de informações.
Em um cenário dominado por poucos, as redes sociais digitais conectam sujeitos que ousam se revoltar
contra a ordem dominante e, com isso, esses espaços se consolidaram como um novo lugar para as lutas
de classe. Um movimento bastante significativo nas redes sociais digitais é o que discute a questão da
liberdade de expressão no Brasil. Trata-se de um grupo de jornalistas, filósofos e pesquisadores de
diversas áreas que questionam a liberdade de expressão existente, devido ao fato de os veículos de
comunicação estarem sob domínio de determinado grupo. O movimento tem produzido e feito circular
produções discursivas diversas, organizado eventos em diferentes capitais e ainda produziu um
documento relacionado ao setor de comunicação, Plataforma para um Novo Marco Regulatório das
Comunicações no Brasil. A elaboração do documento teve apoio de representantes do poder público,
embora não possua qualquer valor legal, consiste em um olhar jurídico sobre os meios de comunicação.
Nessa conjuntura, o objetivo dessa comunicação é apresentar, por meio da teoria da Análise do Discurso,
um gesto de interpretação sobre o documento em questão e analisar alguns efeitos de sentido da
produção e circulação do texto em redes sociais digitais.
Sabe-se que atualmente o YouTube é uma grande ferramenta, ou App (abreviatura de aplicativo), como
muitos dizem. Este, que pode ser acessado de computadores, tablets, celulares e demais gadgets tem uma
enorme potência de levar as mais diferentes imagens aos internautas. Sabendo-se que o YouTube é uma
das mais famosas ferramentas de vídeo, que, em consulta, nota-se que há vídeos com milhões, bilhões de
visualizações, e que esses vídeos são postados com o propósito de serem vistos, é a partir daí que inicia-
se esse trabalho. O artigo apresenta os resultados alcançados na pesquisa acerca do esotérico na
constituição discursiva do Vídeoclipe da música “Dark Horse” de Katy Perry, retirado do próprio canal
da cantora no mencionado site, analisando, a luz de Pêcheux, o modo como o material de análise está
relacionado ao imaginário de esotérico versus religião cristã, partindo da historicidade esotérica-
ocultista, a fim de procurar respostas para o acontecimento discursivo do material, considerando seus
efeitos de sentidos e como estes estão produzindo dados sentidos.
Este artigo, embasado nos estudos pragmático-discursivos, tem como corpus o recorte de uma entrevista
da presidente Dilma Rousseff à Organização das Nações Unidas – ONU, em setembro de 2015.
Procurou-se no artigo, examinar, no pequeno recorte proposto, o ethos de especialista e o ethos de
credibilidade descrito em Charaudeau (2006). O presente trabalho trará breves reflexões sobre como
esses ethé se fazem presentes no discurso da presidente Dilma Rousseff e também como a mídia
procurou influenciar e propagar ethé opostos, afetando a produção de efeitos de sentido. Concluiu-se,
assim, que a mídia nem sempre faz propagar os ethé construídos pelo discurso, mas que por ela há, em
certas situações, a manipulação das informações criando assim, diferentes efeitos de sentido. Sendo
assim, o estudo em questão teve tem como objetivo principal verificar como o discurso de Dilma buscou
produzir um ethos de competência e de credibilidade e de como esse discurso repercutiu na mídia, bem
como seus efeitos de sentido.
O presente trabalho tem por objetivo analisar o processo de des-legitimação do sujeito-político Aécio
Neves por meio do HGPE/TV de segundo turno voltados à candidata Dilma Rousseff nas eleições
presidenciais de 2014. Para tanto, fundamenta-se em estudos postulados pela Análise do Discurso de
linha francesa representada pelo filósofo Michel Pêcheux. Propõe-se aqui a seguinte problematização:
como as imagens do sujeito-político Aécio Neves produzem sentidos, que se reproduzem ou se
transformam, a partir de sua representação por Dilma Rousseff no HGPE/TV das eleições de segundo
turno de 2014 em um processo de deslegitimação de seu lugar social de possível presidente da República
Brasileira? Nesse aspecto, fazemos uso de alguns conceitos teóricos como sujeito, formação discursiva,
formação imaginária, memória, bem como aquilo que, segundo Patrick Charaudeau (2005), se
compreende por legitimação, para, então, buscarmos observar e as maneiras pelas quais efeitos de des-
legitimação em torno de um sujeito-político pode ocorrer em nossa contemporaneidade. Alguns
resultados apontam para o fato de que de tal efeito de des-legitimação se dá a partir do imaginário que se
constrói e se recupera de questões políticas mal administradas, o que, de certa forma, sinaliza o efeito de
que o sujeito-político Aécio Neves corresponda à imagem que se tem de um possível presidente da
República por meio do discurso de Dilma Rousseff.
Este estudo objetiva analisar, a partir dos pressupostos teórico-metodológico da Análise do Discurso de
orientação francesa, os processos de produção de sentido na veiculação de notícias, no jornal eletrônico
G1, referentes à superação da obesidade. Para construção do corpus deste trabalho, buscou-se recortar
sequências discursivas de matérias do site G1, versão online, entre 2013 a 2015. A mídia é o grande
texto da atualidade, impregnado de referências culturais, gera consumo, constrói ideal de beleza e
padrões corporais. Ganha seu espaço na sociedade por se constituir um texto onipresente a interpelar as
qualidades alienadas da vida social moderna, constituído de um sujeito vazio e narcisista às vezes, que
necessita preencher sua vida por meio de algo que está fora dele. Esse novo enunciado dominante que se
dá pela mídia atravessado pelo mercado é o que regulariza e estabelece a conduta, costumes e os gostos
sociais. Dessa forma, a construção de sentidos em torno do corpo dado pela ótica midiática evidencia um
lugar de construção desse sujeito que é seduzido pelas “imposições” do sucesso traduzindo uma “ilusão
de completude” veiculada como a “fórmula de felicidade plena”, ilustrada em forma de ganhos, de
autoestima, beleza, ascensão profissional e pessoal. No funcionamento do discurso jornalístico, a busca
pelo Sentido da notícia se constrói a partir da ideia de que a língua e a história são transparentes. Estas
questões permitem compreender o funcionamento ideológico desses sentidos sobre a beleza, sobre a
saúde, sobre o sucesso intervindo na vida do sujeito, que aposta numa felicidade plena.
Sob a perspectiva teórica da Análise do Discurso de orientação francesa, nossa proposta de trabalho
consiste em analisar o material entregue na Conferência Regional da APP – Sindicato, produzido pelo
coletivo feminino do mandato do Deputado Estadual, Professor Lemos, cuja temática aborda a Lei
11.340/2006, denominada de Lei Maria da Penha. O recorte do corpus da pesquisa se dá a fim de
(de)marcar as diferentes maneiras discursivas encontradas no material. O objetivo da nossa discussão
girará em torno da relação que o sujeito discursivo, inscrito numa estrutura de formação social,
estabelece com o lugar social em que produz o dizível. A teoria adotada para a análise observa o lugar
em que se estabelece a relação entre o sentido, a constituição da formação discursiva, o sujeito revestido
de ideologia, observando o ato falho e o não dito em torno do dizível sobre a violência cometida para
com as mulheres. Isto porque, a Análise do Discurso (AD) é a responsável por encontrar o lugar em que
se pode observar a relação entre o sentido e o sujeito do discurso com as marcas do social, do ideológico
e do histórico que ele carrega em sua linguagem.
Objetivamos neste estudo dar uma “volta na história” para analisar, e problematizar a origem do discurso
fundador de inclusão. Para isso, na especificidade de nossas análises, buscaremos, através da Análise do
Discurso de linha francesa, investigar o modo como se formam e se cristalizam na memória de um povo
os referenciais imaginários que constituem seus discursos fundadores e os efeitos de sentidos que eles
produzem, tornando-os verdades. Partimos da hipótese de que o diferente é tratado de forma semelhante
ao outro e isso, de certa forma, silencia e nega as diferenças, ou seja, a inclusão do sujeito com
deficiências passa ser vista, no contexto escolar, como uma normalização. Para isso, metodologicamente,
analisaremos os discursos dos documentos legais que falam sobre a inclusão do sujeito deficiente no
ensino regular das escolas públicas do Brasil. Teremos com lentes Pêcheux, Orlandi, Foucault e outros
que trabalham com historicidade dos sentidos e a materialidade discursiva numa relação memória e
sociedade.
É recorrente, nos meios de comunicação, a veiculação de notícias que discutem as agressões sofridas por
mulheres indígenas nas aldeias. Nesse sentido, este projeto de pesquisa tem como objetivo examinar, em
dois processos criminais, os discursos produzidos em relação à mulher indígena douradense vítima de
violência doméstica e familiar. Para realização da investigação, utilizar-se-á abordagem de cunho
qualitativo-interpretativista, sendo os dados analisados sob a perspectiva da Análise de Discurso de linha
francesa. Para efetivação da pesquisa, analisar-se-á textos forenses extraídos de dois processos criminais
que tramitaram no Fórum da Comarca de Dourados-MS. Com o resultado dessa análise, espera-se
explicitar as formações ideológicas que permeiam as relações entre homem e mulher indígenas,
evidenciando-se, assim, a uma possível desigualdade de gênero. Espera-se, com este trabalho, fornecer à
sociedade douradense subsídios para as discussões e reflexões das questões que envolvem violência
doméstica e familiar em desfavor das mulheres indígenas, bem como auxiliar os profissionais que lidam
com essa temática nas instituições de justiça, segurança pública e assistência social.
Este artigo tem como objetivo analisar o discurso dos lexicógrafos sobre o mesmo verbete presente em
dois dicionários de língua portuguesa. Assim, faremos análises partindo da perspectiva da Análise do
Discurso de linha francesa, que, entre outros objetivos, busca a compreensão da produção social de
sentidos. Essa tendência de estudos surgiu na década de 60-70 na França, a qual era definida
inicialmente como o estudo das condições de produção do enunciado, considerando os aspectos externos
da língua, não se limitando às questões gramaticais e puramente linguísticas. Com o objetivo de entender
o contexto histórico-social do sujeito investigado, esta pesquisa se insere na visão discursivo-
desconstrutivista. Ou seja, não há apenas um sentido para cada discurso e a sua interpretação dependerá
de todos os âmbitos sociais ao qual ele foi pronunciado. Assim temos como propósito desconstruir
verdades construídas ao longo da história e buscamos refletir sobre questões sociais e ideológicas
presentes nos efeitos de sentidos do verbete de “estrangeiro” nos dois dicionários. Para tanto,
utilizaremos como pressuposto teórico autores como Coracini (2007), Nunes (2006) e Marakawa (1998)
e Pêcheux (1997), pois ao tratar de constituição da representação de identidade considera-se importante
salientar que na visão pecheutiana todo sujeito atribui imagens ao outro, assim como de si e são essas
imagens realizadas pelos discursos que vão dar à luz aos sentidos dependendo do lugar que ocupa.
utilizaremos também como base teórica autores da perspectiva da terminologia como Barros (2004) e
Biderman (2004).
Intentamos com este estudo investigar a obra de Milton Hatoum, Dois Irmãos, com o recorte nos
Sentidos Silenciados: Uma leitura dos espaços de memória dos imigrantes sírio-libaneses e os reflexos
no processo de desenvolvimento individual/social enquanto práticas de significação. DOIS IRMÃOS é
um grande tratado sobre a precariedade da memória e durante toda narrativa trava uma luta constante
contra o esquecimento, contra as transformações provocadas pela ação do tempo que a tudo e todos
consome. Nossos fundamentos teóricos são os da Análise do Discurso, de linha francesa de Pêcheux,
tendo como ponto de partida a constatação de que o trabalho de um analista deve dar conta de que a
memória suposta pelo discurso é sempre reconstruída na enunciação. Diante disso, ao identificar como
as transformações dos sujeitos são representadas na narrativa buscamos identificar o caráter
individual/social desse romance, e ao nos propormos delimitar os efeitos de sentidos resultantes da
memória em funcionamento, mergulhamos num universo desconhecido para muitos, no qual o implícito
se mostra a partir do nosso olhar e dos teóricos que sustentam nossas posições na busca por descrever e
interpretar o cotidiano dos personagens, sua influência sócio-histórica e urbana, a relação
língua/sujeito/memória materializada em recortes de língua(gem), cujos traços de memória se atualizam
enquanto definição de processos identificatórios, constituindo uma relação de interface entre Língua e
Literatura, considerando os espaços de memória produzidos na obra e seus efeitos na significação do
sujeito.
Simpósio 2: Aprendizado e ensino da leitura e da escrita: estudos linguísticos interdisciplinares com uso de tecnologias
virtuais e não virtuais
Com o objetivo de desenvolver um projeto de leitura e escrita de textos literários, verificando sua
viabilidade e almejando desenvolver a produção multimodal e os multiletramentos em meio digital,
vinculados à formação de leitores, propusemos um projeto a duas turmas de terceiro ano de ensino médio
de um colégio público na cidade de Londrina. Neste projeto, trabalhamos com o gênero conto e
microconto em uma perspectiva de exploração de análise linguística, da literatura e da produção textual,
a fim de investigar a eficácia da unificação destes conteúdos. Propusemos uma produção escrita
multimodal, a qual utiliza como suporte a rede social Glogster para verificarmos a interferência das
tecnologias no processo de aprender e ensinar. Desenvolvendo uma pesquisa interventiva, de caráter
interpretativo e qualitativo, Para analise de dados pautamo-nos em Sercundes (1997), Geraldi (1995),
Saraiva e Mügge (2006), Silva (2012), Soares (2009), Kleiman (2004), Cosson (2006; 2009), Ranauro
(s.d.) e Rojo; Moura (2012) sobre planejamento, práticas de letramento, letramento literário e os
multiletramentos. Após a análise do processo de ensino e aprendizagem proposta neste trabalho e
também do produto, ou seja, os textos dos alunos, entendemos que é possível e viável fazer da aula de
Português um evento de letramento que abarca análise linguística, Literatura e produção textual e que a
teoria dos multiletramentos também é aplicável nas escolas públicas, mesmo que com pouco respaldo
tecnológico.
Aprendizagem
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A contemporaneidade e a necessidade humana de interagir por meio das novas tecnologias e ambientes
virtuais demonstrou um novo cenário de transformações no ensino. Ainda, as concepções dos Estudos do
Letramento sobre um ensino de leitura e escrita por meio de práticas sociais, inseriu um novo olhar sobre
os objetos de ensino de Língua Portuguesa que permeiam as práticas docentes atuais. Nesse sentido, o
presente estudo objetiva apresentar uma proposta de trabalho docente que envolva os eixos de ensino em
práticas sociais reais do cotidiano dos discentes. Dessa forma, seleciona-se a rede social twitter como
veículo de informações e de aprendizado, com a intenção de possibilitar a aquisição de conhecimentos
acerca do gênero em questão: o tweet, que possui particularidades específicas no seu uso efetivo. Para
tanto, a pesquisa alicerça-se nos Estudos do Letramento por meio de Street (2002), Kleiman (2007) e
Soares (2008) e na proposta pedagógica de Gasparin (2012) para a elaboração do Plano de Trabalho
Docente. Nesse contexto, o presente trabalho observa que a inserção de práticas de leitura e escrita por
meio de instrumentos tecnológicos - especialmente redes sociais e blogs - auxilia na construção e
identificação dos principais elementos textuais (expositivos, argumentativos) e o reconhecimento das
especificidades das linguagens nas situações comunicativas. Portanto, mais que um elemento mediador
de conhecimento, o domínio multimodal existente nas novas tecnologias e ambientes sociais é uma
necessidade das interações sociais da contemporaneidade.
Este trabalho objetiva descrever uma sequência didática a ser aplicada com alunos do 9º ano do Ensino
Fundamental numa escola pública da rede estadual. O problema que motivou esta pesquisa surgiu a
partir da análise dos resultados das Devolutivas da Prova Brasil - Inep (2013), através da qual foi
possível perceber que os alunos submetidos a essa avaliação apresentaram dificuldades significativas no
que se refere à leitura e à compreensão de textos que conjugam variadas semioses - os textos
multimodais. Nesse sentido, esta proposta de intervenção foi pensada com o objetivo de desenvolver
habilidades de leitura e compreensão de textos multimodais, analisando também o gênero multimodal,
mais especificamente, o infográfico, a partir da sua composição, funcionalidade e circulação nos meios
sociais. A fundamentação teórica foi embasada em alguns autores como Bakhtin (2010), Marcuschi
(2008), Street (2012, 2014), Dionísio (2011), Rojo (2012), Rojo e Barbosa (2015) e Mayer (2009),
trazendo as concepções sobre gêneros, letramento, multiletramento e multimodalidade. Embasou-se
também em Santalella (2012) e Lemke (2010) para reforçar a necessidade do Letramento visual como
condição para a leitura e a compreensão dos textos multimodais. A sequência didática será desenvolvida
a partir de atividades planejadas no intuito de alcançar os objetivos propostos, tomando-se como base, o
Descritor 5 (D5) do tópico II da Matriz de Referência de Língua Portuguesa - 9º ano, que avalia a
formação de competências básicas visando à interpretação de textos que conjugam as linguagens verbal
e não verbal, e o reconhecimento da finalidade do texto através da identificação dos gêneros textuais.
O presente trabalho, impulsionado pelas dificuldades de compreensão leitora evidenciadas por alunos da
Educação Básica e apoiado em pesquisas que demonstram as contribuições e possibilidades do uso da
tecnologia no contexto escolar, tem por objetivo apresentar os pressupostos teóricos que embasam a
elaboração de um objeto de aprendizagem voltado para o ensino de leitura. Nesse sentido, o objeto de
aprendizagem, intitulado Na trilha do texto, que integra um projeto de mestrado em andamento realizado
no Programa de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS), parte da concepção de que a compreensão leitora é fator central e essencial nas aulas de
Língua Portuguesa e de que a consciência textual pode potencializar essa habilidade, uma vez que
pressupõe uma atividade realizada por um indivíduo que focaliza o texto como objeto de análise,
exercendo um monitoramento intencional. Sendo assim, o objeto de aprendizagem em questão busca
desenvolver essas duas habilidades a partir do uso da estratégia de predição leitora. Para tanto, utilizando
elementos dos jogos, simula uma situação de investigação em que um personagem na função de um
“leitor-detetive” conduz o aluno durante o processo de leitura, no qual ele deverá levantar hipóteses,
juntar e relacionar “pistas” para “solucionar” o mistério que lhe é proposto: descobrir a sequência do
texto. Espera-se, com isso, que os alunos reconheçam o papel das pistas linguísticas e dos conhecimentos
prévios para a construção de sentidos do texto e para uma efetiva compreensão leitora. O projeto
encontra-se em fase inicial de seleção de textos e aprimoramento do design técnico.
O uso de artefatos tecnológicos tem se tornado uma alternativa promissora para as práticas de
aprendizagem e favorecer o trabalho pedagógico com a linguagem. No contato com esses artefatos, além
de fatores comportamentais, psicológicos e sociais, fatores cognitivos estão envolvidos. Por essa razão,
investigações focalizadas no cérebro, que discutam atenção, memória, linguagem, leitura, matemática,
sono, emoção e cognição trazem valiosas contribuições para a educação (Bartoszeck). Nesse sentido,
este trabalho examina, a partir de abordagens cognitivas e neuroeducativas, ferramentas digitais para a
educação infantil, discutindo a relação dessas ferramentas com o desenvolvimento linguístico e cognitivo
na primeira infância, bem como a influência desses recursos no incentivo à leitura. A análise discute as
potencialidades dessas ferramentas para o uso pedagógico, como suporte à estimulação do
desenvolvimento léxico-semântico, prosódico, pragmático-inferencial e discursivo, bem como para a
estimulação atencional e mnésica.
O uso eficaz da linguagem é uma capacidade que deve ser desenvolvida na escola desde os anos iniciais,
com a compreensão e a produção de textos, sejam orais ou escritos, com práticas que partam do uso
possível e que promovam oportunidades que levem os alunos ao uso eficaz (BRASIL, 1997). Para tanto,
é necessário o emprego de atividades que promovam um exercício da reflexão acerca dos aspectos
constituintes do texto (coesão, coerência e superestrutura), a que chamamos de epilinguísticas, a fim de
explorá-los em suas diferentes possibilidades. Além disso, o uso do computador pode auxiliar no
trabalho pedagógico, tornando-o mais lúdico, mais interessante ao estudante e, portanto, mais produtivo
(PEREIRA, 2015). A partir disso, o objetivo deste trabalho é apresentar uma proposta de atividades
epilinguísticas para crianças em processo de alfabetização que contemplem o uso de tecnologia virtual.
Essas tarefas têm por base o gênero textual receita e o software utilizado para criá-las é o Ardora.
O ensino tradicional trata, ainda hoje em muitas escolas, as formas linguísticas denominadoras, como
formas descontextualizadas de valor social e comunicativo. O processo de nomeação é muitas vezes
apresentado de forma ingênua, como se não fossem parte de atividades interacionais e carregadas de
valor simbólico. O presente trabalho propõe um olhar multissitêmico dos nomes das fachadas comerciais
da Vila Leopoldina, em São Paulo (SP). Nossa proposta foi observar esse objeto e, após essa análise,
pensar sobre o seu potencial didático. Como um texto cotidiano, os nomes fantasia são facilmente
encontrados pela cidade, mas, o que não implica em sua simplificação. Como suporte teórico utilizamos
a análise multissistêmica proposta por Castilho (2010), analisando os nomes das “tabuletas” comerciais,
sob a ótica de avaliações que perpassam os diversos subsistemas linguísticos, do fonético ao pragmático-
discursivo e suas projeções para o sociocultural. Também, apoiamo-nos em Bourdieu (2008) para avaliar
a partir dos nomes analisados as mútuas interações entre a língua e o social. Por fim, buscamos suporte
em DOLZ; NOVERRAZ & SCHNEUWLY (2004), que por sua vez baseiam sua proposta de ensino-
aprendizado de língua materna na conjunção da concepção bakhitniana acerca dos gêneros textuais e da
metodologia vygotskyana de ensino-aprendizado. Nossa pesquisa apresenta os nomes comerciais das
fachadas como marcados por processos sofisticados de construção textual que permitiria aos alunos não
somente ampliar maestria nos usos da Língua, mas também discutir os temas de sua cidade e das
relações de poder em torno desta.
Estudos sobre multiletramentos visam não apenas ao ensino de uma língua, mas a formação de cidadãos
capazes de posicionarem-se criticamente e preparados para lidar com diferentes realidades. Parte desse
processo é a multimodalidade (KRESS; VAN LEEUWEEN, 1996; 2001), que se mostra cada vez mais
presente em nosso dia a dia e, vale ressaltar, não apenas por meio do acesso ao mundo digital. É nesse
cenário que surge um novo tipo de leitura: a leitura na tela, que por apresentar recursos diferenciados do
texto impresso, demanda um leitor multiletrado. Exemplo disso são os blogs, que eclodiram no final dos
anos 90 e perduram na atualidade em suas mais variadas formas, atingindo públicos diversos. O processo
de leitura, seja na tela ou no papel, engloba, de acordo com estudos da psicologia cognitiva, dois tipos de
conhecimento: o declarativo e o procedural (GAGNÉ; YEKOVICH; YEKOVICH, 1993), que
compreendem o conhecimento sobre grafemas, fonemas, morfemas, palavras, ideias, esquemas e tópicos
relativos a um texto e o conhecimento sobre habilidades e estratégias, incluindo: decodificação,
compreensão literal, compreensão inferencial e monitoramento da compreensão. Esses componentes são
a chave para a compreensão leitora que envolve a interação entre o texto e os conhecimentos trazidos
pelo leitor a fim de que a produção de sentidos ocorra. Diante disso, acreditamos ser relevante investigar
como ocorre o processo de compreensão de textos multimodais como os blogs, especificamente em
língua estrangeira, com o intuito de verificar as (diferentes) demandas de um mundo cada vez mais
globalizado e tecnológico.
Trazemos, neste artigo, reflexões que compuseram nossa tese de doutorado, cujo tema foi
“manifestações da linguagem oral na escrita: aspectos discursivos/textuais e didáticos”. O objetivo da
pesquisa foi analisar Cartas de Apresentação produzidas por alunos do 5º ano do Ensino Fundamental de
quatro municípios da Região Oeste do Paraná e por alunos do 1º ano da graduação em Letras da
Universidade Estadual do Paraná (UNIOESTE) (turma 2013). Estabelecendo relações com a
configuração dada ao conteúdo temático, construção composicional e estilo linguístico desse gênero
discursivo por esses dois públicos, olhamos para as transferências da linguagem oral para a escrita. Por
fim, o objetivo foi propor encaminhamentos didático-metodológicos para o trabalho com esse tema no
ensino da língua portuguesa. Para este texto em específico, nosso foco é a apresentação dessa unidade
didática, propondo atividades de reescrita do gênero discursivo carta de apresentação, as quais
contemplam o trabalho com as manifestações da linguagem oral para a escrita em nível
discursivo/textual. Trata-se de uma investigação qualitativa em pesquisa educacional, do tipo descritiva e
interpretativa-crítica, com base no dialogismo e no interacionismo. Essa pesquisa se inscreve no Projeto
“Formação Continuada para professores da educação básica nos anos iniciais: ações voltadas para a
alfabetização em municípios com baixo IDEB da região Oeste do Paraná”, inscrito no Programa
Observatório da Educação – CAPES/INEP, desenvolvido na Unioeste e coordenado pela professora Dra.
Terezinha da Conceição Costa-Hübes.
Este trabalho apresenta uma proposta pedagógica para atividades com poesia utilizando as tecnologias
como estratégia de ensino, com destaque na literatura cognitiva sobre aprendizagem significativa – teoria
defendida por Ausubel (1980). Visa demonstrar a possibilidade do uso de softwares como o Prezi, a
Ciberpoesia, a Webquest e o Cmap Tools como ferramenta de ensino e a rede social Facebook como
instrumento de interação entre professora-alunos e alunos-alunos, auxiliando na compreensão de
conceitos linguísticos através do gênero poesia, bem como a possibilidade de utilizar as tecnologias de
informação e comunicação como facilitadora da aprendizagem, conforme Lévy (1999) e Moran (2012).
A metodologia foi de revisão de literatura na área cognitiva a fim de fundamentar o desenvolvimento de
uma unidade de aprendizagem eletrônica para o trabalho com poesia desenvolvida no Programa de
Mestrado Profissional em Ensino de Línguas da UNIPAMPA. A validação do instrumento foi realizada
por meio de pesquisa experimental e contou com a participação de alunos do 9º Ano de uma escola
municipal de Bagé/RS, os quais foram divididos em dois grupos, o experimental e o controle, e foram
avaliados através de um pré-teste e um pós-teste sobre a poesia de Vinícius de Moraes intitulada Soneto
de Separação. Nas análises, inicialmente sintetizadas a partir da Taxonomia de Bloom revisada,
constatou-se que o grupo experimental obteve resultados melhores que o grupo controle, evidenciando a
validade da proposta didática apoiada em tecnologia como aliada ao ensino, favorecendo a aprendizagem
significativa.
Vivenciamos hoje uma grande transformação no modo de interagir e perceber o mundo. Basta um rápido
olhar ao redor, para encontrarmos pessoas conectadas por dispositivos móveis, que se configuram como
o mundo que se abre na palma da mão. Porém, apesar de todo desenvolvimento, principalmente no que
diz respeito às Tecnologias de Comunicação digital, ainda nas escolas insistimos com um modelo
cartesiano de ensino para atender uma geração de nativos digitais, sedentos por rotas de fuga e advindos
da sociedade pedagógica preconizada por Serres Deste modo, a leitura hoje também mudou,
principalmente para os nativos digitais, precisa sair do plano linear, possibilitando o entrelaçamento de
som, imagem e movimento, ser hipertextual em sentido amplo, constituir-se rizoma. Pois, essa geração
de educandos, possuem habilidades cognitivas desenvolvidas para e pelo meio digital. Na escola, este é o
panorama que se configura como um grande desafio docente, de um lado a falta de interesse dos alunos
nas aulas de leitura e produção de texto por considerarem as mesmas pouco atrativas e desestimulantes, e
do outro, docentes que por não dominarem as novas tecnologias continuam insistindo em um arcaico
modelo de leitura Diante do exposto, o presente trabalho traz uma reflexão realizada a partir do
desenvolvimento de um projeto de leitura e produção de texto em ambiente virtual. Para esta reflexão
chamamos à baila Lévy, Morin, Nicolescu, Dal Molin, Serres, Moran, entre outros pesquisadores do uso
da tecnologia em Educação.
Diante do contexto atual do mundo tecnológico, os alunos estão envoltos por uma infinidade de
mensagens midiáticas, entretanto recebem pouco ou nenhum treinamento que favoreça o
desenvolvimento de habilidades de análise ou avaliação de tais mensagens. Neste cenário, faz-se
necessário a utilização, em sala de aula, de alguns recursos da tecnologia, a fim de aproximar o ensino de
língua materna à realidade do educando, por exemplo, a criação de vídeos curtos pelos alunos. A
proposta apresentada enfatiza o letramento visual como competência leitora, objetivando através do uso
dos vídeos como texto, possibilitar a leitura crítica, levando os alunos a estabelecerem uma
aprendizagem significativa, pautada em mudança de comportamento coletivo. Considerando que,
trabalhar com as novas tecnologias, possibilita o estímulo à discussão oral, através dos aspectos
semióticos presentes nos vídeos, é possível desenvolver o poder de argumentação e discernimento por
meio da leitura das imagens. Nesta perspectiva pretendemos evidenciar que o conhecimento linguístico,
as experiências pessoais e sociais contribuem para o entendimento e a interação com o texto trazido
pelas imagens.
Esta comunicação tem como objetivo relatar pesquisa desenvolvida com o objetivo de examinar a
contribuição de materiais de ensino, construídos em tecnologia virtual e tecnologia não virtual, para a
leitura de crônicas por alunos do 1º ano do Ensino Médio, no que se refere ao uso das estratégias de
leitura de crônicas - predição, scanning e leitura detalhada. A pesquisa está fundamentada nos estudos
psicolinguísticos da leitura, com foco em estratégias de leitura (Goodman, 1991; Ruddell e Unrau, 1994;
Kato, 2007), voltados ao ensino, em interface com a Educação e a Computação. Metodologicamente,
abrange a elaboração e aplicação de materiais virtuais e não virtuais de ensino, a elaboração e aplicação
de pré e pós-testes em 52 alunos do 1º ano do Ensino Médio de uma escola pública selecionada com base
em interesse evidenciado. Constituem-se em resultados obtidos: a evolução dos alunos no uso das
estratégias de leitura, com diferenças significativas na relação pré/pós-teste; e diferença (não
significativa) na comparação da tecnologia virtual e da tecnologia não virtual, havendo tendência
favorável à tecnologia virtual, no que se refere ao uso da estratégia de predição e da estratégia de leitura
detalhada, e à tecnologia não virtual, no que tange ao uso da estratégia de scanning.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
Os trajetos metafóricos entre o discurso artístico e sobre o (fazer) artístico acerca da obra “Hypnagogia”,
do artista Tim Cantor, aqui tematizados, resultam de deslizamentos de sentidos entre esses discursos, e
que foram observados em trabalho analítico norteado pela Análise de Discurso (AD) francesa, de Michel
Pêcheux. É na relação de entremeio da AD, Psicanálise e Arte, ao se interrogar por quais trajetos
metafóricos se esboçam o dizer (d)a obra, do lugar de artista-pintor e artista-poeta, e o dizer sobre a obra,
do lugar de divulgação do (fazer) artístico, que se delinearam esses trajetos na análise discursiva do
corpus, constituído de recortes da pintura “Hypnagogia”, do poema “Hypnagogia” e do vídeo
“Nostalgia–Parte I”. No percurso teórico-analítico foram discutidas as propriedades e o funcionamento
do discurso artístico em contraponto com o discurso sobre o artístico, a partir do movimento surrealista,
do estado hipnagógico e da poética de Cantor, destacando os trajetos metafóricos esboçados entre o dizer
(d)a obra e o dizer sobre a obra, e do lugar de divulgação do (fazer) artístico. Sobre o vídeo, observaram-
se regularidades acerca do próprio fazer artístico, advindo um discurso “sobre” que se faz apenas acerca
do próprio fazer artístico de Cantor. O poema, também um discurso “sobre”, constitui-se ao mesmo
tempo em que a pintura, porém, por ser também descritivo, direciona a observação e leitura da obra. A
pintura apresenta-se como uma obra ambígua: ao mesmo tempo em que se configura no mundo
semanticamente normal, também se faz presente como o inapreensível (do) inconsciente. Assim, pintura
e poema apresentam-se como discursos constitutivos da obra Hypnagogia.
O objetivo do estudo é buscar os sentidos de algumas fotografias de Claudia Andujar (famosa pelas
imagens e ativismo em favor dos Yanomami), em especial as pertencentes à série “Sonhos” (2005). A
metodologia ancora-se na semiótica, sem a ela limitar-se no aspecto teórico. O propósito, longe de
classificar ou categorizar essas imagens, é trazer à luz o seu conteúdo, que é banhado na mitologia
Yanomami, a partir da compreensão do papel ativo das partes envolvidas nos processos de construção de
sentido (Landowski), ao mesmo tempo em que se reconhece o caráter polissêmico das imagens. A
fotografia, em si mesma, é paradoxal na medida em que, mesmo realizada sob a condição de
objetividade documental, deixa marcas de uma ideologia contextual e um modo de ver individual
(Flusser, Barthes, Dubois). A despeito dessa condição, é comum iniciar a leitura de uma obra fotográfica
a partir de uma classificação, especialmente registro documental (ou "analogon": fotojornalismo,
estudo/registro antropológico, etc.) ou ficção (criação artística, interferências técnicas, etc.). Uma
discussão aprofundada afrouxa os limites entre essas categorias e, no caso das imagens de Andujar, o
sentido sagrado das fotografias (presença do mito e da relação do índio com o seu meio) subverte o
entendimento sobre o que é ficcional e o que é registro de uma realidade
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
Segundo Gilles Deleuze e Félix Guattari (2010, p. 29), “dir-se-ia que o esquizofrênico passa de um
código a outro, que ele mesmo embaralha todos os códigos, num deslizamento rápido, conforme as
questões que se lhe apresentam, jamais dando seguidamente a mesma explicação, não invocando a
mesma genealogia, não registrando da mesma maneira o mesmo acontecimento”. Levando em
consideração as discussões desses dois teóricos franceses a respeito da relação entre Capitalismo e
Esquizofrenia, este trabalho pretende investigar algumas das multifaces da linguagem exercitada pelo
intelectual, poeta, dramaturgo, teórico, desenhista, esquizofrênico, etc. Antonin Artaud, refletindo sobre
a construção de seu discurso artístico através da evocação e articulação de diferentes “códigos”, signos.
A proposta é pensar sobre a conformação híbrida de alguns de seus textos escritos e imagéticos, em
especial Les sorts, cartas-desenho que ele endereçou a algumas pessoas em 1939, e 50 dessins pour
assassiner la magie de 1948, levando em consideração sua posição teórica e política enquanto intelectual
e artista.
A história do Brasil é atravessada pela relação entre política e religião. Neste trabalho, que é parte de
uma pesquisa mais ampla acerca dos elementos religiosos no discurso dos eleitores na campanha
presidencial de 2010, no Brasil, pretende-se analisar o funcionamento discursivo do demônio, isto é, o
ente que, na discurso religioso judaico-cristão se opõe aos projetos da divindade, nos comentários dos
eleitores, no site de relacionamentos Orkut e no site oficial da candidata do Partido dos Trabalhadores à
presidência, Dilma Rousseff. Para tanto, recorre-se ao conceito de formações imaginárias, conforme
formulado pela linha francesa da Análise de Discurso (AD) derivada de Michel Pêcheux, como forma de
compreender como a figura demoníaca é abordada pelos eleitores na justificativa da escolha ou rejeição
pelos candidatos à chefia do poder executivo nacional no referido período. Aliam-se a esses conceitos as
noções de interdiscurso e formação discursiva, formulados no escopo do mesmo referencial teórico, visto
que a inscrição do demônio nesses discursos se torna possível a partir de uma relação com elementos
outros derivados da memória discursiva e com saberes que afetam e/ou dominam o sujeito e determinam
o que pode e deve ser dito nas condições de produção mencionadas. Considera-se não se tratar apenas da
retomada de um discurso do cristianismo medieval, em que a religião dominava a forma-sujeito, mas de
novos efeitos de sentido que se estabelecem a partir da constituição da forma-sujeito de direito dominado
pelo Estado e afetada pelos rituais das vertentes neopentecostais das igrejas cristãs.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
Poucos conhecem a cantora e dançarina Inês Brasil, mas ela existe e sempre é colocada à margem.
Criada em uma família cristã, começou a vida na prostituição devido a problemas financeiros em sua
família, tornou-se nacionalmente conhecida após publicarem diversos vídeos de cunho humorístico em
suas redes sociais, incluindo o viral vídeo de inscrição para (tentar) a seleção do reality show da TV
Globo, Big Brother Brasil, no qual se inscreveu por cinco anos consecutivos, transformando-a em web-
celebridade, (re)conhecida como a dona do bordão “Alô, alô, olha quem sou eu. Alô, Alô, Graças a
Deus”. Inês Brasil toca piano e fala alemão fluentemente, porém é hostilizada por ser considerada
“vulgar” e “fora do comum”. Assim, esta pesquisa aborda a teoria Queer, Louro (2004, p. 38) define o
termo da seguinte forma: “Queer pode ser traduzido por estranho, talvez ridículo, excêntrico, raro,
extraordinário”. Uma vez que o sujeito é marginalizado, percebe presente em seus discursos a marcação
religiosa em que Inês Brasil constantemente suplica a Deus, dando a “ilusão” de reversabilidade do
plano temporal (humano), em que o sujeito fiel busca alcançar a Deus, ou seja, de baixo para cima, assim
como afirma Orlandi (2001). Sendo assim, o artigo buscará analisar de que forma o sujeito é visto na
web; de que forma o seu discurso religioso se sustenta entre real e imaginário; como o discurso religioso
se constitui e (re)significa em sua fala, entre outros conceitos da Análise do Discurso de orientação
francesa. Para tal proposta, autores como Chauí (1984), Foucault (2005, 2009), Lagazzi (2004), Orlandi
(1987, 2001) e outros serão essenciais para a elaboração do artigo.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
Tradicionalmente pensada como célula da sociedade, é no interior da família que nascemos, nos
constituímos como sujeitos e morremos. Neste trabalho, pelo viés discursivo, a compreendemos como
uma instituição política, na qual (con-) vivem sujeitos que ocupam posições diferentes e que nela
significam. Por se localizar no espaço urbano, essa instituição significa em razão da sua condição de
existência simbólica, visto que o corpo do sujeito e o corpo da cidade se imbricam formando um só. O
espaço urbano é marcado pela relação público/privado, de modo que o público, espaço do comum na
vida política da cidade, iguala os sujeitos sem considerar as relações peculiares existentes no domínio do
privado, isto é, daquilo que é próprio dos sujeitos, da casa e, por consequência, da família. Além disso, o
espaço urbano, logo, os sujeitos, é atravessado por discursos que circulam em vários suportes, como, por
exemplo, na internet, uma rede eletrônica que produz sentidos para aqueles que têm acesso ao
interdiscurso. Partindo dessas considerações, este trabalho pretende, pelo viés da Análise de Discurso,
analisar como a Lei 13.010/14 (Lei Menino Bernardo), vem sendo discursivizada no espaço digital, em
especial, em um corpus constituído por uma materialidade imagética que tem circulado na internet, parte
de uma campanha nacional lançada pela “Rede Não Bata Eduque”. Mais especificamente, buscamos
verificar que efeitos de sentido dela irrompem e quais memórias nela retornam, além de analisar que
formações discursivas (FDs) entrecruzam esses discursos e possibilitam compreender as posições
ideológicas colocadas em jogo nos processos discursivos.
Instituição secular de ordem privada, a família tem passado por significativas mudanças, que resultam
dos novos costumes e valores, da luta em defesa dos direitos humanos - que prezam pela igualdade e
pela liberdade - da evolução da ciência e da constante batalha pela desconstrução de mitos e
preconceitos. Apesar dessas transformações ao longo do tempo, o casamento ainda se mantém como
elemento fundamental para a constituição e manutenção da instituição familiar, que vem se modificando
com relação a sua constituição. São os discursos sobre essas novas configurações familiares, em
especial, aqueles que circularam na rede mundial de computadores em defesa do casamento civil entre
pessoas do mesmo sexo e contra o Estatuto da Família, que nos interessam, neste trabalho. Nosso
principal objetivo é analisar o funcionamento da memória (metálica/discursiva) no processo de produção
e circulação de sentidos acerca do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, no espaço digital, por
meio do funcionamento de hashtags e imagens-meme. Ao produzir o gesto interpretativo, o sujeito,
afetado pela língua e pela história, se inscreve em determinada formação discursiva e apaga/silencia
outras. Há, então, um avizinhamento entre memória discursiva e memória metálica no processo de
formulação/circulação dos dizeres no espaço virtual. A Análise de Discurso de linha francesa, tal como
proposta por Pêcheux, na França, e por Orlandi e pelo grupo de pesquisadores que a ela se ligam, no
Brasil, fornece o arcabouço teórico necessário para a realização do trabalho.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
O propósito da comunicação é apresentar nosso novo projeto de pesquisa institucional. Ele intenta dar
continuidade às duas últimas pesquisas que desenvolvemos nos últimos cinco anos na Universidade
Estadual de Maringá. Trata-se dos projetos “Práticas discursivas de subjetivação” (processo 11496/2011)
e “Análise do discurso da e sobre a velhice” (processo 1884/2014). Tanto em um projeto quanto em
outro, várias possibilidades de análise foram abertas, mas não as pudemos desenvolver no período
previsto. Desse modo, a segunda edição do projeto objetiva analisar como se materializam,
discursivamente, os processos de subjetivação em textos midiáticos e em contextos institucionais. Ao
fazer um resumo de toda sua obra, Foucault (1988) considera que aquilo que sempre perseguiu foi a
compreensão do sujeito, o que o levou a analisar os jogos de verdade (saber) que objetivam as pessoas,
as relações de poder que subjetivam os indivíduos e as técnicas de si que podem fazer da vida uma obra
de arte, portadora de valores éticos e estéticos. A pergunta “quem somos nós hoje?”, formulada por esse
autor, pode ser convertida em uma pergunta geral, que motiva a segunda edição do projeto “Práticas
discursivas de subjetivação”: O que as práticas discursivas de subjetivação fazem dos sujeitos na
atualidade? Essa pergunta de pesquisa desdobra-se em outras duas: (1) Quais acontecimentos discursivos
alavancam os processos de subjetivação em discursos midiáticos e (2) Como ocorrerem os processos de
subjetivação em tais produções discursivas? As respostas a tais indagações serão perseguidas, mediante a
análise dos seguintes “trajetos temáticos” (GUILHAUMOU e MALDIDIER, 1997): (1) A “guerra dos
sexos” em discursos midiáticos; (2) Discurso, sexualidade e verdade: a polêmica em torno da “ideologia
de gêneros”; (3) Discurso e produção de subjetividades na terceira e quarta idades; (4) Discurso e sujeito
da educação: movimentos de inclusão e exclusão.
A partir da análise do texto jornalístico, é possível perceber diferentes percepções que possibilitam
variados entendimentos acerca do que é ser mulher em diferentes épocas. O objetivo desta pesquisa é
analisar, através de textos presentes nas seções “Carnét da mulher que trabalha” e “Meu bebê é minha
vida”, presentes na revista Gran-Fina, do início da década de 1940, o perfil da mulher curitibana da
época, no que diz respeito ao mercado de trabalho e as “obrigações” que recaíam sobre as mães. Os
diferentes discursos e fontes legitimadoras que circulam nos produtos midiáticos apresentam percepções
do imaginário da época, tornando-se um campo privilegiado de análise sobre conflitos simbólicos por
representação e construção de significados dos diversos agentes que compõem o espaço social
(RIBEIRO, 2005). O discurso jornalístico não é entendido aqui como lugar de descrição histórica da
mulher, mas sim como um local de reiteração de sentidos que possibilitam entender o contexto histórico
e cultural em que a revista estava inserida e a forma como a mulher era vista na sociedade. Seguindo os
pressupostos de autores como Pierre Nora, Gilles Lipovetsky, Stuart Hall, e outros, o objetivo é analisar
os diferentes discursos acerca da mulher que circulavam através das reportagens da revista. A revista
Gran-fina foi escolhida por se tratar de um veículo paranaense, fundado em Curitiba no início da década
de 1940. Ela tinha como foco principal assuntos gerais, mas destinava algumas seções exclusivamente
para tratar de assuntos femininos.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
O presente trabalho busca por meio da pesquisa bibliográfica e da hermenêutica, analisar como as
masculinidades estão representadas na mídia impressa paranaense do início do século XX. Partindo dos
princípios dos Estudos Culturais e de sua vertente, os Estudos de Gênero, foi escolhida para análise a
ilustração da capa da revista curitibana O Olho da Rua, da edição nº 11 de 1907. Para embasamento
teórico foram utilizados autores como Robert Connell (2013), Stuart Hall (2003), Pierre Bordieu (2009),
Elisabeth Badinter (1993), entre outros. A partir desse estudo é possível perceber que o homem
representado na imagem faz parte do meio rural, e que o mesmo procura provar sua masculinidade por
meio da força e do trabalho. Sabemos que tanto a construção de gênero quanto a identidade são plurais e
que devem ser pensadas a partir das influências do meio social, cultural e histórico nos indivíduos. Deste
modo, a mídia trabalha como uma forma de disseminar e contribuir para a consolidação de estereótipos,
comportamentos e modelos, sugeridos para homens e mulheres. Procuramos também, contribuir para as
reflexões acerca da representação das masculinidades do homem paranaense do referido período.
O presente trabalho investiga, sob a ótica teórica da AD francesa, a possibilidade do absurdo no discurso
do jornal “O Estado de S. Paulo” acerca do sujeito-idoso. O corpus é constituído por 14 recortes de
títulos de notícias em que ocorrem a materialidade do item lexical idoso/a ou equivalente
semanticamente. Analisam-se as formações discursivas envolvidas na constituição do sujeito-idoso do
jornal e mobilizassem-se conceitos teóricos como memória discursiva e silêncio. O objetivo central desta
investigação é verificar a possível condição de absurdo do discurso sobre o idoso em títulos de notícia.
Os objetivos específicos são: a) conhecer a memória discursiva promovida pelo jornal sobre o idoso; b)
verificar os possíveis efeitos de sentido dos títulos como sendo possíveis efeitos absurdos; c) analisar as
condições que tornam possível o feito de sentido do discurso sobre o idoso como sendo o de um discurso
inusitado, diante de outras possibilidades de materialidade, mostrando, assim, o deslize de sentido em
que o discurso jornalístico eletrônico se constitui. Conclui-se que os recortes efetuados possuem caráter
de discurso absurdo, bizarro acerca do idoso e que em outro arranjo de enunciados, o que se diz do idoso
pode preencher os requisitos necessários para a mídia eletrônica sensacionalista.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
O presente trabalho analisa a ilustração de Libero Malavoglia Jr. que acompanha a crônica de Drauzio
Varella publicada no jornal Folha de S. Paulo, no dia 3 de julho de 2010, período em que ocorreu a Copa
do Mundo na África do Sul. Pretendemos, neste estudo, na perspectiva da Análise do Discurso de linha
francesa e no conceito de valência genérica considerada por Maingueneau (2015), refletir acerca de uma
evolução constante dos gêneros discursivos em determinada configuração histórica. Nossa análise será
pautada em duas perspectivas: a interna, distinguindo o núcleo de seus avatares; e a externa,
problematizando a distinção entre gênero discursivo (autônomo) e gênero textual (componente de um
gênero de discurso). Recorreremos, ainda, à prática intersemiótica, considerada por Maingueneau (2008)
como uma hipótese para a prática discursiva, estendendo o universo discursivo para além das margens
dos objetos linguísticos, superando formas de abordagem da questão que o autor qualifica de
impressionistas (ou intuitivas), por intermédio do recurso à noção de prática discursiva, a qual estará em
condições de integrar domínios semióticos variados (enunciados, quadros, obras musicais, etc.).
Pretendeu-se, na análise, enfatizar a relação de sentidos que o texto verbal e não verbal mantém com
quem o produz, com quem o lê, com outros textos (intertextualidade) e com outros discursos possíveis
(interdiscursividade), por meio de uma sequencialidade de produção discursiva de gêneros, na qual
núcleos e avatares variam sequencialmente e historicamente. Os resultados, ainda preliminares, permitiu-
nos notar a hibridização das modalidades escrita e visual no gênero crônica jornalística.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
Ao considerarmos a obra literária A Espuma dos dias (L’Écume des jours, 1947), de Boris Vian (1920-
1959), e a obra cinematográfica de mesmo título de 2013 de Michel Gondry, destas se destacariam
possíveis atmosferas paródicas da Paris posterior à Ocupação Alemã. Tal espaço reproduzido em ambas
às narrativas conforme nestas suas personagens protagonizam suas vidas em altos e baixos, sugeriria
uma modelagem estética urbana conjugada conforme a consumação de emoções e sentimentos das
protagonistas. Nesse contexto, tal consumo emocional sugeriria haver nessas obras a representação de
um sistema simbólico cuja influência arquitetaria os espaços em que as personagens transitam. Logo,
conforme se depreenderia a construção narrativa dos espaços atrelados aos protagonistas em refração à
consumação de seus sentimentos, embasada às teorias literárias, semióticas, simbólicas e mitológicas de
Barthes, Compagnon, Castro, Chevalier e Pierce, a presente pesquisa pretende traçar de prováveis
relações entre símbolo, personagem e espaço um fio condutor que problematize as concessões históricas,
econômicas e culturais arroladas à felicidade: mito eterno ou um bem provisório em jogo nas narrativas
literária e fílmica elencadas. Esperamos perfilar neste trabalho um estudo sobre o porquê e como
poderiam ser tratadas as fraturas das formas e dos sentidos atrelados ao mito felicidade perante as
núpcias da narrativa literária com a narrativa fílmica atualizando-o, para tanto, por meio de quatro
representações decorridas de suas concessões: a fortuna, o casamento, o trabalho e a morte; presumíveis
representações paródicas sociais, econômicas e culturais a serviço destas sortes discursivas de arte.
O trabalho busca avaliar, sob o ponto de vista da escola francesa da Análise do Discurso de que maneira
a presença dos narradores do romance de Vladimir Nabokov intitulado Lolita foi transposta para sua
versão em roteiro cinematográfico, elaborada pelo próprio autor, e para sua versão fílmica, dirigida por
Stanley Kubrick. Ao longo do trabalho, é identificada a presença do narrador em seus diferentes
formatos de mídia, além realizar-se uma descrição da caracterização do mesmo nos diferentes formatos
midiáticos da obra (romance, roteiro e filme). Através da análise considera-se que que as mídias
referidas conservaram a presença da figura do(s) narrador(es) como uma estratégia antropomorfizadora
da personagem do polêmico H. H. (o padrasto que se envolve em um relacionamento amoroso e sexual
com sua enteada adolescente) e da narrativa, que discorre sobre um tema bastante controverso.
Sabidamente, a obra literária de Nabokov encontrou grandes resistências devido ao tabu representado
pelo tema abordado. Igualmente, há que se considerar que o relacionamento íntimo de um homem de
meia idade e sua enteada desperte sentimentos contraditórios em diferentes públicos, em épocas
distintas. Nesse sentido, compreende-se que a figura do narrador interagente e aproximado ao espectador
atue como um aspecto “humanizador” de uma narrativa que, por si só, aborda temas polêmicos. Em
conclusão é estabelecida uma análise sobre os efeitos alcançados através dos diferentes recursos
narrativos utilizados no roteiro e no filme.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
Em 1949, Joseph Campbell lançou o livro “O herói das mil faces”, resultado de um longo estudo
relacionado às estruturas significantes dos mitos em diferentes culturas no mundo. Campbell constatou
que todas as histórias narradas até hoje – inclusas as literárias e as cinematográficas, têm uma essência
em comum: a presença de um herói em torno do qual o enredo se desenvolve. A partir da obra de
Campbell o roteirista de cinema Christopher Vogler criou os estágios da jornada do herói para ser
utilizado em narrativas contemporâneas. Em seu livro A jornada do escritor: estruturas míticas para
escritores, Vogler sugere alguns elementos importantes na construção de uma história e as doze etapas
vividas pelo herói que servem parar orientar os escritores. Assim como em diversas obras
cinematográficas, o personagem Aleksander percorre esta jornada no filme Antes da Chuva (1994).
Portanto, o objetivo deste trabalho é, a partir de uma pesquisa bibliográfica e da análise fílmica, verificar
as etapas sugeridas por Vogler que são vividas pelo personagem Aleksandar.
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APROXIMAÇÕES ENTRE DISCURSO E IMAGINÁRIO NAS VISUALIDADES
MIDIÁTICA E ARTÍSTICA
A Netflix é uma empresa americana que oferta serviços de televisão por internet a mais de 40 países que
juntos, mensalmente, consomem mais de um bilhão de horas em séries, filmes e produções originais. O
presente trabalho destaca um dos seus últimos lançamentos da empresa, a série Sense8 (2015). A
primeira temporada apresentou oito personagens de etnias, gêneros, sexualidades, culturas e realidades
distintas, em diferentes partes do mundo, psiquicamente conectados, compartilhando talentos,
conhecimentos, memórias e sentimentos, apontando para uma experiência mítica. Nesse sentido, o
objetivo deste artigo é apresentar um estudo sobre o mito como base dos textos culturais e sua presença
na narrativa da série a partir das subjetividades, memórias e subtextos presentes na composição da
personagem transgênera Nomi Marks, buscando averiguar se a questão da transexualidade influencia ou
não na narrativa primordial. A escolha do tema justifica-se pelas produções midiáticas constituírem parte
indelével da formação sociocultural do homem contemporâneo e pela abordagem do transgênero,
assunto em voga no atual panorama social. Para tanto, utilizou-se, como base, a metodologia da análise
fílmica de Vanoye e Goliot-Lété (2007). Conclui-se que a pesquisa do mito no cinema pode ser aplicada
às produções audiovisuais seriadas, além de validar os estudos culturais a partir de diferentes produções
midiáticas, revelando que, dos mitos às mídias, cada contexto histórico se pauta em linguagens e
narrativas do seu tempo mantendo vivas suas mitologias e, assim, revelar como o mito participa da
educação visual do homem e como proporciona uma leitura plausível da nossa atual condição cultural.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
O artigo apresenta um breve estudo sobre o trabalho com a construção mediada de perguntas de leitura.
O objetivo é demonstrar como a ordenação de perguntas pode levar o aluno do 6º ano do Ensino
Fundamental, a refletir sobre o texto e inferir criticamente a respeito da temática textual, construindo
suas respostas de forma independente. Concebemos a atividade a partir dos estudos propostos pelo
círculo de Bakhtin e da teoria histórico-cultural, a qual defende a ideia da formação do conhecimento por
meio das relações sociais. A partir dessa perspectiva, os alunos foram direcionados a perpassar pelas
várias etapas de construção de sentido: 1) decodificação; 2) compreensão; 3) interpretação; 4) retenção
(SOLÉ, 1998; COLOMER & CAMPS, 2002 e MENEGASSI, 2010). A fim de desenvolver a leitura e a
escrita, de forma autônoma e individual, pois os estudantes precisam figurar como protagonistas de seus
próprios pensamentos ao longo da leitura e da escrita, aprendendo a planejar, refletir e atribuir suas
perspectivas textuais (GARCEZ, 1998). O resultado demonstra que ao final da reflexão há a construção
de um novo texto, com um sentido que não é o trazido pelo professor ou as interpretações, muitas vezes,
equivocadas do aluno, mas o resultado da interação auto-texto-mediador-leitor/escritor, que surge como
um novo texto, original, único e possível dentro da materialidade textual, comprovando a importância da
mediação docente no processo de ensino-aprendizagem.
O presente estudo trata sobre duas pesquisas de mestrado que objetivam investigar se o trabalho em sala
de aula com os critérios de informatividade (Pesquisa A) e de intertextualidade (Pesquisa B) podem
promover avanços na habilidade de escrita argumentativa de estudantes do Ensino Médio. Tais pesquisas
têm o respaldo teórico centrado na Linguística do Texto (KOCH & ELIAS, 2014; FÁVERO & KOCH,
2012; BEAUGRANDE & DRESSLER, 1981; VAL 1981); no Sociointeracionismo, consoante os
princípios de mediação, interação, internalização e zona de desenvolvimento proximal (VYGOTSKY,
1991). O aporte metodológico utilizado foi a pesquisa-ação (THIOLLENT, 2011), a qual proporciona
corresponsabilidade entre pesquisadores e participantes. Visto que os estudantes do Ensino Médio
participantes da Pesquisa A revelaram dificuldades na construção textual, o critério de informatividade
auxiliou tais discentes a empregarem informações em seus textos e utilizá-las como ponto de apoio para
argumentação, conferindo, assim, desenvolvimento de ideias e progressão textual. Já os textos
produzidos pelos participantes da Pesquisa B revelaram pouca dificuldade de construção textual, todavia
não utilizavam intertextualidade em textos argumentativos. Destarte, o critério de intertextualidade
contribuiu na qualificação da produção escrita dos discentes do Ensino Médio, conferindo, desse modo,
uma construção textual mais articulada e argumentativa.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
Aborda-se o processo de revisão textual coletiva na prática docente junto a alunos de uma Sala de Apoio
à Aprendizagem de Língua Portuguesa (SAALP) – 6º ano do Ensino Fundamental, na região Centro-Sul
do Estado do Paraná. Embasada nos pressupostos do dialogismo, a partir do Círculo de Bakhtin, na
teoria histórico-cultural, privilegiando-se os aportes de Vygotsky, e nas concepções de processo de
escrita abordadas por Menegassi (2010), a pesquisa objetiva refletir como a modalidade de revisão
textual coletiva contribui para o aprimoramento do processo de ensino e de aprendizagem de escrita em
SAALP. Para tanto, emprega-se como procedimento de investigação a pesquisa colaborativa,
orientando-se o professor a refletir sobre a própria prática no trabalho com a produção escrita, a construir
novos conhecimentos a respeito das etapas do processo de escrita, a diagnosticar as dificuldades de
escrita dos alunos, a planejar ações de trabalho com a revisão textual coletiva em SAALP, a alterar as
ações cotidianas em sala de aula no que se refere à revisão textual, a avaliar os efeitos das mudanças
nesse contexto de ensino. Os resultados das análises demonstram: a) a internalização e a apropriação dos
pressupostos teórico-metodológicos concernentes às etapas do processo de escrita pelo docente; b) a
modalidade de revisão textual coletiva como alternativa para o desenvolvimento da escrita dos alunos da
SAALP; c) a necessidade de se fornecer ao professor de SAALP subsídios teórico-metodológicos quanto
ao trabalho com o processo de escrita, bem como acompanhar e orientar a sua prática pedagógica nesse
contexto específico de ensino.
Palavras-chave: Revisão textual coletiva, Formação docente contínua, Sala de Apoio à Aprendizagem
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de Língua Portuguesa
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
Este artigo relata uma experiência docente acerca do ensino das figuras de linguagem para alunos com
deficiência intelectual que frequentavam o contraturno de um colégio particular da cidade de
Maringá/PR. O objetivo deste estudo é refletir sobre a apropriação do sentido figurado das palavras e
como isso promove o letramento desses alunos. Pois, sabemos que nos dias atuais saber ler e escrever
não é o suficiente para responder as demandas contemporâneas. É necessário fazer com que o aluno com
deficiência intelectual pratique socialmente a leitura e a escrita, de forma critica, já que a linguagem é
interação e, como tal, requer a participação transformadora desses sujeitos que a utilizam. Ou seja, é
preciso letrar-se. E as figuras de linguagem são recursos que ajudam nesse processo, pois as utilizamos
tanto na fala como na escrita. Para tanto, este estudo teve como respaldo teórico os autores Vygotsky
(1989), Kleiman (2005), Soares (2003), Fierro (1995) e Câmara Jr (1977). Espero que esse trabalho
possa contribuir para as possibilidades de desenvolvimento desses alunos e, também, com os
profissionais da educação especial.
Nos dias atuais, no ensino de Língua Portuguesa, a produção do texto escrito tem sido cada vez mais
valorizada, razão pela qual o Ministério da Educação tem procurado inserir esse tipo de avaliação nas
escolas públicas do país, tendência que tem sido acompanhada pelas Secretarias Municipais e Estaduais
de Ensino. Todavia ainda se notam dificuldades por parte dos professores em relação à correção de
textos, especialmente no que diz respeito à ortografia, pois eles se sentem inseguros ao se depararem
com produções que contenham um elevado número de desvios. Nesse sentido, Morais (2009, p. 26)
menciona que ainda hoje “os erros de ortografia funcionam como uma fonte de censura e discriminação
[...] porque a competência textual do aluno é confundida com seu rendimento ortográfico”. Em função
disso, muitos docentes acabam por ignorar os progressos do estudante como produtor de textos,
focalizando mais seus erros ortográficos. Este estudo de caso se propôs a analisar oito redações de alunos
do sétimo ano do ensino fundamental de uma escola da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro.
Nosso objetivo era mapear as suas dificuldades em ortografia e se notou que a acentuação foi o aspecto
com maior incidência de problemas. Ao diagnosticar os desvios mais comuns, percebeu-se que eles
ocorriam com as palavras paroxítonas, especialmente as terminadas em ditongo crescente. Por esse
motivo, nossa pretensão foi propor uma sequência didática que contemplasse atividades focadas na
apreensão dessa regra, mas tentando ofertar ao aluno um novo modo de aprender esse conteúdo, mais
participativo, tentando lançar um novo olhar para o ensino desse tópico de ortografia.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
Esta pesquisa se inseriu no Programa Observatório da Educação –CAPES/INEP – em que atuamos como
pesquisadora voluntária dentro do Projeto Institucional, intitulado Formação Continuada para
professores da educação básica nos anos iniciais: ações voltadas para a alfabetização em municípios com
baixo IDEB da região Oeste do Paraná. No presente trabalho, apresentamos parte dos resultados de nossa
pesquisa de doutorado (em andamento), que objetiva verificar, junto aos professores da Educação Básica
- anos iniciais, participantes de momentos de um processo de formação em Língua Portuguesa em um
dos municípios do Oeste do Paraná - Brasil, se a formação continuada ofertada pelo Observatório da
Educação, no ano de 2012, contribuiu significativamente para o trabalho pedagógico no que se refere à
produção, correção e reescrita de textos produzidos por seus alunos e quais dificuldades ainda persistem
para esse trabalho. Para isso, desenvolvemos uma pesquisa diagnóstica e colaborativa. Para a pesquisa
diagnóstica tomamos como instrumentos geradores de dados a entrevista em grupo focal, as observações
em sala de aula e a análise documental. A partir dos dados gerados nessa primeira parte da pesquisa,
desenvolvemos a pesquisa colaborativa com os professores, por meio de sessões reflexivas, a fim de
discutir e trabalhar aspectos em torno da produção, correção e reescrita de textos. Todavia, nesse
momento, fizemos um recorte dos dados gerados, focalizando parte da pesquisa colaborativa, a partir de
sessões reflexivas pautadas nos resultados da pesquisa diagnóstica, com o intuito contribuir com a
formação do professor, oportunizando a reflexão em torno de sua prática em sala de aula.
O artigo analisa trechos do filme Como estrelas na terra – toda criança é especial, destaca as principais
características do protagonista e seu percurso escolar, fazendo analogias ao conceito piagetiano de
abstração reflexionante. Serão abordados, ainda que de forma breve, os conceitos de pedagogia diretiva.
Ao relatar a vida escolar do pequeno Ishaan Awasthi podemos destacar algumas características
apontadas por Becker (2012, p. 14) relacionadas à pedagogia diretiva. Para o autor, neste tipo de escola
“o professor fala e o aluno escuta” [...] “O professor dita, e o aluno copia” [...] o professor “ensina” e o
aluno “aprende”. Além disso, serão elencados os conceitos de ação de primeiro e de segundo graus.
Ishaan não teve a sorte de encontrar em sua trajetória de vida, escolas e professores que propusessem
exercícios desafiadores que promovessem seu desenvolvimento, pelo contrário, não havia lugar para a
Apropriação de ações efetivamente executadas, mas apenas para a repetição interminável de ações
planejadas por outro (o professor) [...] um grande processo de treinamento pelo qual o aluno é
pressionado [...] a resolver problemas que não são seus e a executar ações que não lhe dizem respeito.
(BECKER, 2012, p. 89) A superação deste modelo de aprendizagem parece ter sido o desenvolvimento
do processo de abstração reflexionante por parte de Ishaan, estimulado pela intervenção pedagógica do
professor Ram por meio do qual assumiu a construção de seus conhecimentos na instituição escolar. Será
destacada a importância da compreensão desses conceitos por parte do professor, bem como a
importância da afetividade para o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
O presente trabalho tem como objetivo investigar o nível de proficiência em leituras de alunos do 6º ano
que em 2015 foram avaliados pela Prova Brasil em um Município que se destacou, em 2013, como o
melhor IDEB do estado do Paraná. Para isso, partimos da seguinte indagação: em que se destaca a
proficiência leitora desses alunos e quais dificuldades em leitura ainda precisam ser trabalhadas? Como
amparo teórico, recorremos a Solé(1998), Koch e Elias (2007), Menegassi (2010), Costa-Hübes (2014,
2015), Rojo (2002, 2009), entre outros. Metodologicamente, esta é uma pesquisa qualitativa e
interpretativista (BORTONI-RICARDO, 2008), de cunho etnográfico, estudo de caso, com fundamento
na Linguística Aplicada. Trata-se, assim, de uma pesquisa de mestrado em andamento que pretende
contribuir com o município investigado ao conferir o nível de proficiência dos alunos, aplicando-lhes
atividades de leitura que, mesmo tendo por base os descritoresda Prova Brasil, organizam-se com
questões predominantemente subjetivas.
Objetivamos estudar as causas das dificuldades de escrita da língua portuguesa em alunos que
frequentam uma escola pública no estado do Paraná, Brasil. A inquietação para a pesquisa surgiu ao
analisar os erros cometidos por alunos do ensino fundamental, constatamos que, ao escrever, cometem
erros notacionais da escrita tais como: segmentação; traços da oralidade; acrescentam, invertem, omitem
e substituem letra e confundem letras parecidas entre si. Estudamos as possíveis causas para buscar uma
forma de intervenção pedagógica para saná-la. Após estudos bibliográficos verificamos que essas
dificuldades podem estar relacionadas à complexidade da língua portuguesa; a falta de habilidades
instrumentais no processo de apropriação da escrita e à formação do professor. Para sanar ou minimizar
as dificuldades, elaboramos um projeto de intervenção pedagógica e levamos a efeito com 20 alunos,
com faixa etária de 13 a 16 anos, que apresentavam erros na escrita e frequentavam a 7ª série em uma
escola pública no estado do Paraná. Durante o processo de intervenção utilizamos diferentes gêneros
textuais para o desenvolvimento da escrita. Após 6 meses de intervenção verificamos que os alunos
cometiam menos trocas, substituição e omissão de letras; não segmentavam, todavia escreviam com os
traços da oralidade. A intervenção está sendo continuada pela professora de sala de apoio da escola. Com
base nessa experiência é possível afirmar que os alunos quando colocados em situação pedagógica
adequada são capazes de sanar as dificuldades de escrita. Afirmamos que a pesquisa deve ser continuada
enfatizando também os aspectos discursivos da escrita, que não foi o foco dessa pesquisa.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
Este texto tem por objetivo apresentar uma experiência inclusiva vivenciada a partir de "sondagens de
alfabetização”, ou seja, a partir de atividades pré-intervenção alfabetizadora. Nesse contexto, verificamos
os níveis de conhecimento sobre a escrita de alunos que têm deficiência intelectual, bem como
discutimos a sua importância no processo da alfabetização. Participaram da pesquisa trinta e oito alunos,
sendo dois alunos inclusos de uma escola periférica do município de Sarandi, no noroeste paranaense.
Para as discussões, respaldamo-nos nas pesquisas de Ferreiro e Teberosky (1985), as quais consideram
que as crianças apresentam hipóteses de escrita, mesmo antes de iniciarem o processo de escolarização.
E, ainda acreditam que o processo de apropriação do sistema de escrita alfabética perpassa,
necessariamente, por níveis/etapas, as quais devem ser consideradas pelo professor alfabetizador. Diante
do exposto e, ao analisarmos a intervenção, ratificamos o expresso pelas pesquisadoras, pois
evidenciamos como fundamental e imprescindível para o processo de alfabetização, que o educador
observe e considere em seus planejamentos as experiências e conhecimentos cotidianos dos sujeitos
participantes. Dessa forma, quando as sondagens, hipóteses de escrita, serviram de ponto de partida para
o planejamento das atividades alfabetizadoras, considerando o nível de desenvolvimento real, mas com a
ênfase, de fato, nos níveis potenciais de desenvolvimento da escrita, evidenciamos o sucesso de sua
aquisição pelas crianças envolvidas.
A Concepção Dialógica da Linguagem considera que os enunciados são produzidos em situações reais
de interação verbal e pressupõe o trabalho com os gêneros discursivos como forma de possibilitar ao
aluno construir seu discurso moldado por formas típicas estabelecidas historicamente, apropriadas para a
esfera de comunicação na qual pretende atuar. O objetivo desse artigo é refletir sobre a elaboração de um
procedimento didático para o ensino de língua portuguesa com o gênero discursivo Regras de jogo
destinado aos alunos do 6º ano do ensino fundamental. A escolha do gênero justifica-se por sua
circulação na esfera lúdica, favorecendo ao aluno a associação do conteúdo escolar com situações reais
de uso da linguagem. Para isso, o construto teórico mobilizado ampara-se nos estudos do Círculo de
Bakhtin (2010[1979]; 2009[1929]); o desenvolvimento do procedimento metodológico sustenta-se nos
estudos de Dolz e Schnewuly (2004) que estabelecem a sequência didática para o trabalho com os
gêneros orais e escritos e nas adaptações propostas por Costa-Hübes (2008) para o trabalho com alunos
do ensino fundamental. Esse estudo faz parte de uma pesquisa de mestrado que diagnosticou as
deficiências no trabalho pedagógico com gêneros que exigem a capacidade de linguagem injuntiva e por
meio de estudos teóricos busca elaborar, aplicar e avaliar uma sequência didática com o gênero Regras
de Jogo para alunos do 6º ano do ensino fundamental, de modo a colaborar com o aperfeiçoamento da
competência discursiva desses alunos, uma vez que crianças nessa faixa etária já avançaram no contato
com o mundo da escrita e podem compreender as regras prescritas e até mesmo elaborá-las.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
O estudo tem como principal objetivo apresentar e problematizar a apropriação da leitura e da produção
de textos por estudantes que frequentam(ram) o Ensino Fundamental II (2º ciclo /anos finais) na
modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), no ano de 2015, na cidade de Vitória-ES,
tematizando as dificuldades apresentadas e as possibilidades de um trabalho didático-pedagógico ao
encontro das necessidades de aprendizagem evidenciadas. Trata-se de uma pesquisa documental,
dialogando com a perspectiva discursiva de linguagem de Mikhail Bakhtin e de seu Círculo, trazendo os
Relatórios de Estágio Supervisionado de estudantes do curso de Licenciatura em Letras/Português como
potentes documentos de pesquisa e reveladores das experiências vivenciadas e da discursividade entre
estagiários, professores e estudantes da escola-campo. Enfatiza tais documentos como enunciados
concretos que expressam a dialogicidade (ou não) entre teoria e prática no cotidiano escolar. Destaca o
trabalho com textos (gêneros discursivos) em sala de aula, no sentido de reconhecê-los como elementos
fundamentais do processo dialógico que necessita instaurar-se para o trabalho com a leitura, como
produção de sentidos, e com a produção de textos, como instância comunicativa, tendo em vista seus
contextos de interlocução e, nesse sentido, a emergência de uma prática discursiva no que tange ao
trabalho com a Língua Portuguesa. Evidencia, assim, a possibilidade e urgência da instauração da autoria
docente e, nesse sentido, da perspectiva da formação de um profissional reflexivo e problematizador de
sua práxis, trazendo o referido diálogo (teoria e prática) como inerente ao fazer pedagógico.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA
O presente estudo objetiva apresentar as contribuições dos jogos motores para o desenvolvimento de
habilidades instrucionais necessárias à apropriação da leitura e escrita em alunos com deficiência
intelectual. Participaram do estudo 6 sujeitos, com idades entre 9 e 12 anos, sendo 5 do sexo masculino e
1 do feminino. Estudam no 2º ciclo do ensino fundamental, em uma escola de educação especial de um
município da região noroeste do Paraná. Inicialmente trabalhamos atividades com cordas, pois
entendemos que tal atividade pode desenvolver habilidades como: coordenação motora, orientação
espacial e atenção, consideradas essenciais para aprendizagem da escrita. Verificamos por meio da prova
de quatro palavras e uma frase proposta por Ferreiro e Teberosky (1986) que os alunos que tem uma
melhor alfabetização conseguem pular corda. Um dos sujeitos teve dificuldade em compreender a
dinâmica do jogo, saltos verticais iniciais e não demonstrou compreensão na atividade trabalhada, esse
aluno se encontrava em fase inicial da leitura e escrita. Os dois sujeitos que tinham um bom
desenvolvimento motor estavam na fase silábico-alfabético. Foram considerados alfabéticos três alunos,
um deles demonstra dificuldade para pular corda, além de ser o único com a síndrome de Down, também
não tem orientação de tempo e espaço e salta com dificuldade. Ele é alfabético, todavia ainda não
consegue utilizar a escrita em atividades cotidianas. A pesquisa nos mostra que os jogos favorecem o
desenvolvimento de habilidades instrumentais, que são essenciais no processo de alfabetização de alunos
com dificuldade de aprendizagem oriundas da deficiência intelectual.
Esta pesquisa tem como ponto de partida a seguinte problemática: quais as dificuldades de aprendizagem
que os alunos do Ciclo de Alfabetização apresentam na área da linguagem? Esta investigação propõe-se
a refletir sobre as possibilidades para enfrentamento dos problemas que envolvem o ensino da leitura e
da escrita a partir de ações desencadeadas para a formação continuada de professores alfabetizadores. O
estudo tem como foco discutir as dificuldades dos alunos no processo de alfabetização e letramento e, a
partir destas questões, possibilitar ao professor compreender que a escola possui um papel muito
importante no processo de escolarização do aluno. Considerando as concepções de alfabetização e
letramento pretende-se a partir de estudo de natureza qualitativa, descritiva e analítica investigar as
dificuldades de aprendizagem dos alunos do Ciclo de Alfabetização na área da linguagem. Para a coleta
de dados utiliza-se as respostas dos professores alfabetizadores sistematizadas por meio do SISPACTO
2015. Relacionando os objetivos aos procedimentos metodológicos optou-se, numa perspectiva crítica,
nortear o estudo de modo que permitisse ao professor o repensar dos conteúdos para que fossem
trabalhados de forma contextualizada. Os resultados apontam que os professores participantes
demonstram mudanças na postura em relação ao encaminhamento do planejamento pedagógico.
Percebe-se, por meio dos relatos dos professores, que suas concepções acerca da educação,
alfabetização, dos conteúdos curriculares, passaram a ter um olhar diferenciado, tendo como ponto de
partida a própria prática pedagógica.
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Esta pesquisa, que será desenvolvida no Mestrado Profissionalizante em Letras (PROFLETRAS), sob a
orientação da Professora Dra. Luciane Braz Perez na Universidade Estadual de Maringá (UEM) terá
como foco de estudos, a análise dos comandos ou enunciados de produções escritas. Os textos serão
feitos por alunos do Ensino Fundamental, (6º ao 9º ano), de um colégio da rede Estadual de Ensino,
situado na cidade de Maringá, Norte do Paraná. Muitas análises e pesquisas apontam para grande
dificuldade que alunos do Ensino Fundamental apresentam em identificar o interlocutor, colocar-se no
papel de emissor da mensagem, compreender a situação de interação e contextualizar sua produção
escrita, tendo como referência enunciados fornecidos pelo professor ou pelo material didático. Nesta
perspectiva, por meio de pesquisa qualitativa e, com embasamento nas teorias discursivos-textuais, este
trabalho pretende: 1.identificar, os principais problemas que os sujeitos demonstrarão ao produzirem os
seus textos com base no enunciado fornecido pelo professor; 2.refletir sobre as estratégias de leitura e
produção fornecidos pelos comandos; 3.analisar o material produzido pelos alunos e, disponibilizado por
seus professores, tendo como referência conceitos e teorias já existentes sobre textos, leitura e
enunciados; 4.elaborar novas intervenções pedagógicas, com reestruturação dos comandos já aplicados,
para que o aluno possa realizar novas reflexões sobre a proposta de produção escrita; 5.encontrar
respostas para a problematização proposta por esta pesquisa, investigando os possíveis progressos
atingidos pelos sujeitos, sob a ótica dos estudos da língua, letramento e gêneros discursivos.
Subsidiado nos pressupostos da linguística textual e enunciativa, este estudo tem por objetivo identificar
as funções do aspeamento no gênero resposta de questão interpretativa-argumentativa, verificando em
que situação, por que ele ocorre e como se constitui, por conseguinte, em uma forma de heterogeneidade
mostrada. Para isso, toma-se como corpus de análise textos de alunos do terceiro ano do Ensino Médio
de uma escola particular, produzidos a partir da leitura do romance Triste Fim de Policarpo Quaresma,
de Lima Barreto e da música Todo Carnaval Tem Seu Fim, de Los Hermanos. O estudo aponta que o
aspeamento não é neutro, visto que permite perceber a polifonia de enunciadores utilizada para a
elaboração da argumentação. Isso possibilita a visualização de uma intertextualidade explícita
imprescindível para a coerência textual marcada pelo dialogismo ou “dialogização interna do discurso”
que se formula pelo discurso da música nas situações interpretativas-argumentativas expostas,
evidenciando a heterogeneidade mostrada. Consequentemente, é perceptível que respostas que não
trazem o aspeamento como recurso gráfico, não causam o mesmo efeito de sentido que as outras.
Nesta comunicação, apresentaremos uma abordagem didática de leitura de cunho discursivo, tendo-se
em vista a mobilização dos conceitos, a saber: condições de produção, intradiscurso e processos de
constituição de sentidos (na relação com a memória), com base em um vídeo informativo disponibilizado
no sítio eletrônico da Revista Veja intitulado “Exploradores urbanos”. A proposta de leitura tem como
objetivo apresentar possíveis encaminhamentos para o texto, tendo em vista a imbricação entre
diferentes materialidades. Vale destacar que o vídeo nos permite problematizar alguns aspectos
relevantes ao ensino de leitura, dentre os quais: (i) o efeito de evidência produzido pelo/no jornalismo
eletrônico como modalidade na qual a informação é sintética, simplificada e atinge sujeitos-leitores em
larga escala; (ii) o fato de que os sentidos textualizados no vídeo não existem em si, mas são
determinados pelas posições ideológicas colocadas em jogo, na medida em que “o teto da cidade” ou “o
alto dos arranha-céus” ou “as vilas abandonadas” são significados a partir de uma dispersão de posições:
hobby, lugar de risco, local de paz e tranquilidade, momento de aventura; (iii) a possibilidade da deriva,
ou seja, dos deslizes de sentidos, é muito produtiva no funcionamento do vídeo, uma vez que a
substituição de uma palavra por outra (PECHEUX, 1975), ou seja, os deslizamentos da designação
“exploradores urbanos”, “aventureiros” para “camaradas do telhado” nos levam a pensar na transferência
de sentidos. Dito de outro modo, sentidos de risco e de perigo associados à prática da exploração de
prédios deslizam para uma representação discursiva de diversão, aventura e busca de paz.
Esta pesquisa tem o objetivo de analisar letras de canções populares, com o recorte do universo
feminino, buscando compreender em que medida elas podem contribuir para a formação da competência
de leitura dos alunos do ensino fundamental. De modo que possam ir além do simples caminho da leitura
de decodificação, ou seja, a “leitura das linhas”, chegando à leitura reflexiva, crítica, a que está “por trás
das linhas”. Além disto, visa-se trabalhar a linguagem conotativa, por meio das figuras de linguagem,
intertextualidade e interdiscursividade, contextualizar e polemizar as concepções apresentadas sobre esta
temática do feminino. Para tanto, a proposta é de um trabalho na perspectiva dialógica da leitura,
tomando como teóricos os autores Cosson (2006) Kleiman (2007, 2011b), Leffa (1996, 1999),
Marcuschi (2008) e Solé (1998). O estudo levará em consideração o aspecto literário dos textos
utilizados, por concebê-los como poemas musicados. As letras das canções abordadas são do cantor Zé
Ramalho: “Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gemer sem sentir dor”, “Mulheres” e “Entre a
serpente e a estrela”. A partir dos textos tomados como córpus, será desenvolvida uma proposta de
intervenção que busque, principalmente: trabalhar a linguagem conotativa, por meio das figuras de
linguagem, intertextualidade e interdiscursividade. Desta maneira, intenta-se propor práticas de leitura
do gênero letra de canção popular, propiciando um debate sobre a imagem da mulher. Desta maneira,
propõe-se o desenvolvimento de uma sequência didática (SD). Para a aplicação da SD, será utilizada a
fundamentação teórica proposta por Cosson (2006), por meio do desenvolvimento da sequência básica.
Testes como o Exame Nacional do Ensino Médio, a Prova Brasil e outros como pesquisas internacionais
como o PISA- Programa Internacional de Avaliação de Estudantes têm, recorrentemente, apontado para
a constatação de insucessos na leitura e na escrita escolar de alunos brasileiros. Assim, a leitura é uma
prática social que constitui os sujeitos (escritor/leitor) e possibilita, a eles modificar o contexto sócio-
histórico-cultural em que estão inseridos. Diante disso, este trabalho tem como objetivo apresentar uma
proposta de leitura para alunos de Ensino Médio a partir do curta metragem Vida Maria. Para tanto,
mobiliza-se os conceitos de dialogismo, signo, palavra, responsividade proposto pelo Círculo de Bakhtin
(1994, 1998, 2003, 2006, 2008), que possibilitam a aplicação de atividades de leitura em uma
perspectiva dialógica. O trabalho se dará, metodologicamente, pela apresentação de uma proposta de
trabalho com perguntas de leitura que levará o leitor a uma reflexão, não como um ato mecânico, mas
como um processo reflexivo e dialógico.
Este artigo visa discorrer acerca das dominações, explorações e submissões que o continente africano e
seus povos, histórias e culturas sofreram e vêm sofrendo ao longo dos séculos, e que não se constituíram
apenas com a utilização da força física, a qual subjugou todo um complexo sociocultural existente. Os
processos psicológicos eurocêntricos de dominação exercidos sobre as Áfricas apresentaram
significativo êxito, com o emprego de discursos autoritários, políticos, religiosos e, acima de, tudo
dominantes, em que o racismo era e ainda hoje continua sendo, em grande medida, o eixo temático
central e norteador, para a elaboração de discursos racistas, que buscam inferiorizar, menosprezar e
ocultar as presenças e contribuições históricas, culturais e sociais dos negros, para as mais diversas
sociedades. Esses Discursos racistas são construídos com a finalidade de estabelecer a manutenção e
perpetuação de programas de colonização de corpos e mentes, que sofriam e sofrem com um intensivo
controle social, cultural e político dentro e fora do continente africano. O eurocentrismo, dessa forma,
atua sobre imposições físicas e psicológicas, determinando, definindo e estimulando o que pode ser
pesquisado, escrito, falado e divulgado, dentro e fora dos meios acadêmicos. As análises de discursos de
cunho racista, que foram e vêm sendo elaborados, possibilitam a compreensão, em grande parte, de
como funciona os mecanismos de colonização mental, capazes de interferir na forma como os negros se
veem e são vistos, em uma sociedade marcada por imposições e padrões elitistas, majoritariamente, de
tendência branco-europeia social, ideológico e racial, este último o foco desta pesquisa.
A leitura é uma das práticas que fazem e devem fazer parte do contexto escolar. Entendendo-a como
ferramenta para formação de cidadãos reflexivos, este artigo discute o funcionamento da leitura na
perspectiva discursiva a partir dos pressupostos formulados pela Análise de Discurso de linha francesa
fundada por Michel Pêcheux, na França, e disseminada por Eni Orlandi, no Brasil. Para discutir os
encaminhamentos teórico-metodológicos norteadores do trabalho em sala de aula, faz-se primeiro uma
revisão das Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná (DCEs) e, na sequência, estabelece-se
um diálogo que permite apontar a concepção de leitura discursiva como uma possibilidade para a prática
docente. A pesquisa tem como foco a leitura de imagens, por considerar que a referida materialidade não
merece o privilégio que deveria. Desta forma, uma fotografia sobre a greve dos professores do Paraná,
ocorrida em 2015, relacionada à outra sobre o Protesto na Praça da Paz Celestial, na China, de 1989,
tornam-se corpus para a proposição de questões de leitura aplicáveis a alunos de Língua Portuguesa do
Ensino Médio.
A presente comunicação visa apresentar e refletir, dentre outros parâmetros, sobre os aspectos de leitura
cotidiana de acadêmicos do Curso de Pedagogia do município de Ponta Porã, situado na fronteira
meridional, entre Brasil e Paraguai, do estado de Mato Grosso do Sul. A constituição do corpus teve
como lócus de pesquisa alunos do 1º ano, turma 2016, do respectivo curso, mesclados entre mulheres e
homens de idades distintas. Ao que se refere à obtenção de discursos dos alunos a respeito da leitura do
dia a dia, foi desenvolvido um questionário pelo professor titular da disciplina intitulada
“Desenvolvimento da Expressão Oral”. A análise metodológica foi a qualitativa e a quantitativa, com
aplicação de questionários e a teoria que norteia a pesquisa. Desse modo, a luz teórica que nos
embasamos para este estudo é, especialmente, Cagliari (1997), Freire (1996a/2011b) e Martins (1994).
Os dados preliminares apontam para o direcionamento de leituras relacionadas à academia, visto que os
alunos lêem, predominantemente, textos solicitados pelos docentes do Curso, ao passo que textos como
gibis, jornais e revistas ficam em segundo plano de leitura.
Considerando que muitos são os sujeitos, múltiplas são as leituras que cada um deles pode realizar. Isto
quando se pensa sob uma perspectiva de leitura entendida como processo discursivo. Nesta medida, no
trabalho proposto serão abordadas, primeiramente, as concepções de leitura estruturalista, cognitivista e
interacionista, para que se possa diferenciá-las da perspectiva discursiva de leitura. Uma vez que este
trabalho lança um olhar especialmente para a perspectiva discursiva, os conceitos teóricos e
metodológicos da análise de discurso, especificamente aqueles baseados na obra de Michel Foucault,
tornam-se relevantes. Desta forma, colocam-se os conceitos foucaultianos de discurso, enunciado,
função enunciativa, objetivação, subjetivação e atenção especial a relevância do olhar histórico. Por fim,
com o objetivo de apresentar a produtividade da concepção de leitura como processo discursivo, faz-se
um gesto analítico de leituras diversas entre professor-aluno e é colocada uma proposta de atividade com
um olhar discursivo.
O presente trabalho propõe uma atividade prática discursiva de leitura, na perspectiva de Michel
Pêcheux, linha de pesquisa da Análise de Discurso. A proposta constitui parte de um trabalho de
mestrado em andamento no qual se pensa a relação discurso e leitura. Em termos de contexto de uso da
linguagem, a proposta está voltada para uma sala de aula de Língua Materna, de nono ano, uma escola
particular na cidade de Maringá, PR, a partir do gênero discursivo Rap, buscando trazer à tona o
componente cultural em tais práticas como elemento essencial e não episódico. Eni Orlandi, em Discurso
e Leitura (1998) afirma que o espaço da leitura escolar exclui da sua consideração o fato de que o aluno
convive em seu cotidiano com diferentes formas de linguagem, dentre elas a música. Assim sendo, nossa
prática é uma tentativa de ampliar as possibilidades de abordagem de diferentes formas de linguagem em
sala de aula, na medida em que é possível trabalhar a convivência da linguagem verbal com a musical,
de um lado. De outro lado, um olhar discursivo oferece condições de pensarmos as práticas de leitura,
articulando a língua com a história e com as condições de produção mais amplas das textualidades
trabalhadas. Para este simpósio, serão apresentados dados e gestos de intepretação relacionados a uma
prática de leitura em torno de uma atividade relacionada ao que o livro didático denominou de Narração
poética. Em uma tentativa de deslocar práticas somente ligadas ao cânone literário ou de desfazer o
imaginário de que o rap não pode ser trabalhado em sala de aula. visto que tal proposta pode fomentar as
condições necessárias para que a autoria se realize em sala de aula.
Resumo A partir de nossa experiência docente na educação básica, o presente estudo visa a discutir a
questão que se segue: de que modo o gênero discursivo charge reflete e refrata realidades sociais, em
especial, as do campo étnico, no que diz respeito ao preconceito religioso. O trabalho objetiva
compreender a charge como possibilidade crítica no trabalho pedagógico com os alunos de um 9º ano do
Ensino Fundamental, de uma escola da rede pública do Estado de São Paulo. Para tanto, foram
elaboradas sequências didáticas cujo foco era o gênero discursivo charge. O material selecionado para a
proposta foram as charges do jornal francês Charlie Hebdo e as dos chargistas brasileiros Carlos
Henrique Latuff e Vítor Teixeira (Vitort), perscrutando nelas os efeitos de sentido desencadeados, as
críticas veiculadas, as questões da enunciação e o processo de formação do leitor que compreenda a
relação dialógica desse gênero. A análise se dará à luz das formulações basilares do Círculo de Bakhtin,
ancorados na teoria da análise dialógica do discurso (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2004; BAKHTIN,
2010). A pesquisa se ancora em uma perspectiva de abordagem qualitativa, com uma metodologia da
observação participante, uma proposta que possibilita diminuir a separação entre o sujeito e o objeto. Os
resultados apontam que o gênero discursivo em foco, quando bem direcionado didática e
pedagogicamente, possibilita um trabalho em sala de aula de língua portuguesa que permite aos alunos
construírem uma leitura crítica e cidadã desses enunciados.
Resistência é um tema que ainda suscita reflexões nos estudos da Análise de discurso e é fundamental
para compreender os deslocamentos de sentidos que ocorrem na interpretação dos discursos. Resistência
é vista na Análise de discurso como uma falha, um deslocamento, uma ruptura, que se manifesta na
linguagem. Ao analista, cabe observar nos discursos como essas falhas acontecem e quais são os efeitos
de sentido que causam. Nesse trabalho, objetiva-se analisar os sentidos de resistência presente no conto
O Plano, de Ferréz, observando nele suas falhas, rupturas, não pretendendo fechar os sentidos do conto,
pelo contrário, esperando mostrar que os sentidos sempre podem ser outros. Justifica-se a importância de
um trabalho como esse pensando que a resistência é constitutiva da linguagem e necessita maior atenção
por sua relevância para os estudos discursivos. Para a realização dessa pesquisa foi necessária a leitura
de textos muito importantes para a compreensão do tema, como algumas obras de Orlandi e Pêcheux,
além de muitos outros teóricos da AD.
A discussão sobre autoria nas provas de redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) não é
recente, mas é escassa. Se para Possenti (2001, 2002) a autoria em redações escolares é assunto
controverso, no ENEM ela se torna quesito de avaliação a ser mensurado quantitativamente. Nesse
sentido, o trabalho ora apresentado tem como objetivo discutir possibilidades de construção da autoria na
Redação do Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM por meio da análise do Guia do Participante do
ENEM (2013) e de uma redação produzida na prova de 2015 e divulgada pela imprensa por ter obtido
nota máxima em todos os níveis da avaliação. Subsidiada pela Análise do Discurso de orientação
francesa, nesta empreitada recorre-se aos conceitos de Cena Enunciativa (MAINGUENEAU, 1997;
2005; 2006), heterogeneidade discursiva (AUTHIER-REVUZ, 1990; 1992) e autoria (POSSENTI, 2001;
2002). A análise do corpus evidencia a heterogeneidade discursiva mostrada pode ser entendida como
um indício de autoria (Possenti, 2002), uma vez que por meio dela é possível entrever alguns dos
interdiscursos que engendram a enunciação e evidenciam a competência leitora e escritora do escrevente,
ao mesmo tempo em que respondem a outras enunciações, como a do Guia do Participante, por exemplo.
Se nas bases da heterogeneidade constitutiva está o dialogismo e o descentramento do sujeito; de outro
lado estão as negociações que sujeito faz para chegar à heterogeneidade mostrada, baliza que caracteriza
autoria no ENEM.
Esta proposta de trabalho é destinada a atividades de leitura para a Educação Básica, séries finais do
Ensino Fundamental II, com o aporte teórico da Análise de Discurso de orientação francesa. O objetivo
geral é aproximar os alunos da linguagem literária, tendo como material de análise o romance O
Corcunda de Notre Dame, de Vitor Hugo e seus desdobramentos em diferentes materialidades: livro,
filme, filme/desenho e poesia de cordel. A metodologia a ser usada compreende os três processos de
produção de discurso, abordados por Orlandi (2001/2005), quais sejam: constituição, formulação e
circulação, a partir dos quais desenvolveremos percursos de leitura considerando as condições de
produção de cada materialidade (verbal e visual), a possibilidade de deslocamento das diferentes formas
significantes, as formações ideológicas que as constituem, bem como as formações discursivas, os
silenciamentos e a questão da autoria. Como resultados, esperamos que os sujeitos alunos demonstrem
interesse ao participarem de atividades de pesquisa sobre a temática em pauta, em diferentes suportes; de
debates e de gestos de interpretação que contemplem uma relação menos ingênua com a linguagem
(Orlandi, 2001), a partir da compreensão de que o real da língua é a incompletude, e o real da história é a
contradição.
No estudo da Língua Portuguesa em ambiente escolar, dever-se-iam ser priorizados, segundo os PCN de
Língua Portuguesa (1998), a prática da leitura e da produção de textos orais e escritos e a análise e a
reflexão sobre a língua. Ainda assim, inegavelmente, a Gramática Normativa (GN) goza de lugar de
destaque, porque há o imaginário de que se ensinar gramática significa ensinar a gramática sob a
perspectiva das normas; outrossim, desconsidera-se as lacunas que ela apresenta. Este trabalho visa,
então, a partir da Análise de discurso francesa pechetiana, apresentar uma perspectiva de análise do
adjunto adverbial, levando em conta, a sua compreensão no âmbito da leitura. Para tanto, considera-se o
discurso, conforme Pêcheux (2008[1983]), como efeito de sentido entre interlocutores, (re)desenhando o
papel da sequência no processo de leitura. Em outros termos, ao invés de se considerar a contiguidade
dos elementos, considera-se que a sequência é produzida a partir do olhar leitor e, por isso, fala-se em
espiralação da sequência e, por conseguinte, os adjuntos adverbiais não mais considerados como termos
acessórios ou acréscimos contingentes, mas como mecanismos do funcionamento discursivos que
permitem (re)velar determinadas práticas no discurso em que funcionam. Esse, consoante à proposta dos
PCN, seria o caminho para conjungar a análise e a descrição linguística ao processo de leitura, já que a
questão discursiva pressupõe o conhecimento linguístico e a possibilidade de jogo da língua associado a
questões de memória discursiva, por exemplo. Dessa feita, o aluno ocuparia lugar ativo no
processamento das práticas de leitura e de análise linguística.
O presente trabalho traz uma leitura de O Desertor: poema herói-cômico de Manuel Inácio da Silva
Alvarenga, publicado em 1774, em Portugal, durante o período josefino, cujo mote é celebrar as
reformas empreendidas pelo Marquês de Pombal na Universidade de Coimbra e, consequentemente,
vituperar o ensino escolástico, trata-se de um importante “manifesto” a favor da propagação das Luzes
na Lusitânia no século XVIII. Ressalta-se que Silva Alvarenga envolve o leitor numa trama de difícil
decifração, ou seja, ao longo de todo o poema observam-se embates, sendo o aqui analisado a adoção de
modelos consagrados, neste caso, o épico e o cômico. Para a demonstração dos embates que residem em
seu interior, Silva Alvarenga empregou a solenidade da épica para tratar de assuntos vis e de
personagens ridículas, dessa inadequação entre a forma e o conteúdo, obtém-se o riso parcimonioso ou
por que não dizer irônico. Para além da forma, o principal referencial teórico adotado para a análise
textual é a Arte Retórica de Aristóteles e a Poética de Horácio, referenciais adotados que também geram
embates neste poema herói-cômico
O propósito da pesquisa é verificar os hábitos e práticas de leitura dos alunos ingressantes nos cursos
técnicos integrados ao Ensino Médio do Instituto Federal de Rondônia, campus Ji-Paraná, sobretudo no
que tange ao constructo leitor dos sujeitos investigados. Para tanto, valemo-nos de pesquisa bibliográfica
e de um questionário aplicado em 2015 e 2016. Os dados coletados conduziram o estudo para os
seguintes aspectos: a influência da escola e da família na formação leitura, preferência por autores
brasileiros ou estrangeiros, e com que objetivo se lê. Amparados em Bakhtin (1997), Geraldi (1999),
Orlandi (1988), Orlandi (2009), entre outros, e sendo a escola um espaço por excelência na formação
ideológica do sujeito, os resultados da pesquisa mostram que o aluno vê como indiferente a escola na sua
formação leitora, ao passo que a família influencia positivamente nesta formação. Além disso, a
preferência por autores estrangeiros corrobora esses dados, uma vez que a escola trabalha com autores
brasileiros, principalmente os chamados clássicos, e pelos quais os alunos não demonstram interesse,
conforme verificado. Isso sugere que, muitas vezes, o professor legitima o ensino da leitura
desconsiderando relações sócio-históricas, com a prática de atividades obrigatórias, que interferem nas
condições de produção e sentido textuais dos alunos. Tais análises apontam para a necessidade de
mudanças no modo como a leitura vem sendo trabalhada na escola. Com o fito de propor alternativas
metodológicas e pedagógicas, este estudo torna-se uma importante ferramenta para subsidiar futuras
intervenções nos espaços escolares que apresentam deficiência na formação leitora dos alunos.
Neste trabalho, entende-se que uma mediação adequada da leitura da literatura pode desempenhar um
papel substantivo na formação e emancipação do aluno leitor. Por isso, a proposta é investigar quais os
conceitos de literatura perpassam o ensino dessa disciplina no ensino médio, e mais especificamente o
veiculado pelo livro didático. A fim de identificar possíveis interferências dos atores envolvidos no
processo de criação da literatura escolar, a pesquisa tem como objetivo primeiro discutir que tipo de
leitura está proposta no ensino da literatura contido no livro didático Português: contexto, interlocução e
sentido, referendado pelo MEC, por meio do selo do PNLEM. À luz do referencial teórico e das
orientações oficiais para o Ensino Médio, descrevem-se diferentes aspectos, tais como a organização dos
conteúdos, os exercícios de aplicação e os procedimentos textuais e paratextuais apresentados no livro
pesquisado. Conforme as discussões e reflexões teóricas e crítica empreendidas nessa pesquisa é pela
materialidade do texto que leitores podem ser modelados e leituras pré-determinadas e legitimadas.
Nesse sentido importa ainda saber que, como apontam as OCN, no nosso país o livro didático tem se
tornado um dos principais meios de legitimação do quê e como se deve ler. Isso posto, conclui-se a partir
da análise dos dados do objeto em questão que, em toda a materialidade textual e paratextual ocorre uma
mediação que produz um modelo artificial de leitura e cerceia outros modos de entender a literatura ao
legitimar somente uma abordagem historiográfica e canônica da mesma, podendo imprime no leitor um
conceito de literatura como transmissora de valores nacionalistas.
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As pesquisas, com abordagem etnodirigida, procurando explicar o potencial terapêutico das plantas
medicinais no meio acadêmico têm crescido muito nos últimos anos. A disposição destas informações na
mídia tem acompanhado este crescimento, tanto na divulgação das pesquisas científicas, quanto da
disponibilidade das informações oriundas do conhecimento tradicional. Considerando estes aspectos e
que o uso de plantas medicinais sempre ocorreu em nossa sociedade, tendo sido, até à atualidade,
amplamente utilizadas pelos povos indígenas, constituindo-se como texto de cultura, objetivou-se
estudar os discursos produzidos no meio acadêmico por alunos indígenas da Faculdade Intercultural
Indígena da UFGD em seus trabalhos de conclusão de curso. A partir do posicionamento do aluno,
buscamos analisar como se constitui a memória sobre as plantas medicinais nas formações discursivas a
partir de uma interface entre a Semiótica da Cultura, desenvolvida por Iuri M. Lotman, e a Análise de
Discurso proposta por Michel Pêcheux e desenvolvida por Eni Orlandi, no Brasil. Observamos que, no
jogo entre a memória e a atualidade, em que a memória metálica (arquivos midiatizados) promove a
homogeneização, uma vez que não se constitui como depósito passivo, mas um mecanismo formador de
textos, sentidos são (re)construídos em relação ao discurso sobre as plantas medicinais dada a
elipticidade dos textos circulantes (LOTMAN, 1996). As complementações ou as omissões elípticas no
texto de cultura em análise (plantas medicinais) e nos discursos produzidos testemunham a passagem de
uma semiosfera para outra com um volume de memória maior: tanto para a comunidade indígena como
para a comunidade acadêmica.
Este artigo trata de um gesto analítico voltado a um discurso, de uma preferência masculina, por
mulheres muito novas, materializado nas músicas de Mc Sheldom, cantor pernambucano de Bregafunk.
A exacerbação desse discurso, nessas músicas, traz um efeito de evidência no dizer da mídia e do senso
comum de que só a partir daí o efeito “novinha” foi fundado, quando músicas antigas já o trazem. O
objetivo deste artigo é analisar esse efeito de evidência do discurso da preferência dos homens por
mulheres novinhas em músicas de Mc Sheldom. Este artigo é fundamentado na teoria e na metodológica
da Análise de Discurso pêcheutiana e nos seus desdobramentos a partir de estudos de Eni Orlandi. A
partir de marcas discursivas, traços de memória discursiva (Courtine) na música “Novinha, não chora,
não”, fomos em busca de já-ditos, de repetições e deslizamentos de sentidos na música brasileira de
outras épocas, para, então, compreendermos o funcionamento desse discurso em determinadas condições
de produção, calcados na afirmação que o já-dito sustenta o dizer (ORLANDI). Esse já-dito, dito de
outra forma e em outro lugar, constitui os dizeres das músicas Novinha, não chora (Mc Sheldom/Boco),
Panela velha (conhecida na voz do cantor Sérgio Reis), O xote das meninas (Luiz Gonzaga/Zé Dantas),
e, como um efeito de discurso fundador, em outra materialidade, aparece na Carta de Pero Vaz de
Caminha. O corpus discursivo deste artigo é constituído por recortes desses textos. Seguindo o
pensamento de Pêcheux, nessa materialidade feita de cacos e de fragmentos, recuperamos as condições
da existência de contradições por meio das quais a história se produz no movimento de repetições de
memórias.
O discurso midiático produz verdades, histórias, constrói realidades e memórias. Na lógica de mercado
da sociedade de consumo, se está na mídia é, se ainda não é, tornar-se-á. Lemos que ser feministas é se
masculinizar, perder a feminilidade e a doçura, querer ser mais que os homens, além de outros tantos
ditos. Assim, tem-se construído a história das feministas no Brasil, por apagamentos, silenciamentos,
censuras. Com base nos estudos da Análise de Discurso de linha francesa pechetiana, visamos analisar
discursos que circulam na internet, especificamente recortes discursivos de comentários feitos na
plataforma facebook (uma mídia social) a respeito de feministas, entendendo que uma sociedade produz
formas de se ver a realidade, ditos em diferentes formações discursivas que apresentam suas vontades de
verdade. No entanto essas visões têm sido resultadas de interesses de grupos dominantes, com discursos
que se propõe hegemônicos, portanto discursos antagônicos são vistos como extremistas, de
nazifeministas. Mesmo assim, os discursos feministas acerca da problemática de gênero no século XXI,
em defesa da pluralidade social e da igualdade de direitos entre homens e mulheres e acesso se
proliferam. Mas que história(s) do(s) movimentos feministas são propagadas e predominam? Que
memórias a mídia constrói/destrói em seus discursos sobre a violência contra as mulheres nesse contexto
das tecnologias de escrita contemporâneas? Os recortes foram feitos entre 2013 e 2015 e são comentários
feitos por usuários a partir de outros recortes de pesquisas divulgados amplamente nessa mídia social por
diferentes sites.
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Compreender o discurso jornalístico é o que tem movido minha pesquisas. Para tanto, há a necessidade
de pensar como a imprensa brasileira se legitimou nos quase 200 anos de existência. Se atualmente
vivemos uma fase conturbada da imprensa, em que a notícia e a informação são tomadas pelo mesmo
funcionamento, temos que olhar para o passado e buscar compreender como foi este processo de
transformação da imprensa no/do Brasil. Com a virada do século XIX para o século XX, o jornalismo
que antes era basicamente opinativo, se transforma em uma imprensa informativa. As marcas desta
transformação, da industrialização da imprensa, podem ser observadas na valorização da figura do
repórter, principalmente nos periódicos que circulavam no eixo Rio-São Paulo. Este modelo de
jornalismo que surgiu no início do século XX e que permanece até hoje, produziu efeitos nas Leis de
Imprensa e nas formas de “poder dizer” do jornalismo brasileiro. Portanto, meu gesto de análise pretende
compreender discursivamente as mudanças que a Lei de Imprensa produziu no discurso jornalístico
no/do Brasil. A minha pesquisa, que tem por base teórica a Análise de Discurso pecheutiana, tem como
proposta analisar discursivamente os sentidos de noticia e de informação e a posição-sujeito repórter no
discurso jornalístico brasileiro, tendo como corpus de análise as reportagens produzidas no inicio do
século XX.
Neste trabalho, voltamos nosso olhar a discursos sobre as manifestações no Brasil com circulação nos
anos de 2013 e 2015, com foco na relação entre língua, sujeito e memória que se marca nesses dizeres.
Da perspectiva teórico-metodológica da análise de discurso, voltando-nos ao movimento da língua de se
inscrever na história para a constituição de discursos e sujeitos, constituímos o nosso corpus a partir de
fotografias que compuseram galerias de imagens das manifestações de 2013 e dos protestos que se
autodenominaram contra a corrupção, realizados no Brasil, respectivamente, em junho de 2013 e nos
meses de março e abril de 2015, e que circularam amplamente na grande mídia. No primeiro momento,
recortamos para análise uma galeria de imagens intitulada “Manifestantes escorregam no português em
cartazes pelo Brasil”; no segundo momento, incorporamos ao nosso corpus fotografias de cartazes com
escritos em língua inglesa, registrados pela mídia como em circulação por ruas e avenidas de grandes
cidades brasileiras. Tomando a língua como constitutiva dos sujeitos e considerando o funcionamento
dos cartazes em manifestações recentes da história do país como espaços que singularizam os sujeitos,
tecemos nossas reflexões em torno dos seguintes pontos: i) o que (não) se diz do sujeito ao se dizer sobre
a língua; ii) o que e para quem (não) se diz em língua inglesa; iii) que efeitos de sentido se constituem
por esses dizeres em uma língua outra, língua do outro; iv) o funcionamento da memória de arquivo
nesses dizeres acerca das manifestações de rua no Brasil.
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EDUCAÇÃO CRÍTICA COM PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
Esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar a aprendizagem e a prática do Letramento Crítico
(doravante LC) por professoras de Língua Inglesa que passaram por um processo de educação
continuada. Ou seja, através da Grounded Theory analisei as entrevistas cedidas pelas docentes e neste
trabalho foco nos momentos em que elas descrevem os desafios de aprendizagem e as possibilidades de
uso do LC em sala de aula. As participantes desta investigação são três professoras que cursaram o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) nos anos de 2007 e 2008, quando estudaram e
utilizaram perspectivas críticas tanto em seu cotidiano pessoal quanto profissional. Tais participantes
ainda revelaram que o trabalho com o conteúdo crítico foi ao mesmo tempo desafiador, pois não haviam
lidado com abordagens críticas anteriormente e também motivador, uma vez que ao incorporar o
pensamento crítico em sala de aula elas obtiveram maior interesse por parte dos alunos, tornando suas
aulas mais dinâmicas, participativas e relacionadas com a vida de seus estudantes. Portanto, as análises
realizadas durante este estudo revelam que o trabalho com LC não é simples para aqueles professores
que se inserem em um contexto de educação continuada, haja vista que para muitos, este é seu o
primeiro contato com perspectivas críticas, porém, no caso das participantes aqui referidas, este trabalho
também possibilitou descobertas gratificantes e transformou suas vidas pessoais e profissionais.
Esta comunicação tem por objetivo apresentar e discutir resultados de uma pesquisa doutoral, situada na
área da Linguística Aplicada, no campo da educação de professores. Tendo como contexto o curso de
Letras de uma universidade estadual pública do noroeste do Paraná, especificamente a prática de ensino
de inglês voltada à ação e reflexão, a pesquisa teve como foco cognições sobre experiências de duas
participantes ao longo de sessões de orientação de estágio. Essa pesquisa reveste-se de epistemologia
interpretativista, de origem etnográfica. Como perspectiva teórica e unidade de análise adotou-se a
cognição, a qual foi analisada pelo método proposto pela Grounded Theory, bem como pela Análise
Paradigmática e Sintagmática, desenvolvida para estudos da linguagem. Com base nos resultados
obtidos, evidencia-se que a teoria gerada após o engajamento das participantes em um ciclo pentafásico
de ação-reflexão afirma que a prática docente em fase de preparação inicial, enquanto componente de
educação superior, é atividade responsável, responsiva, comprometida, situada (contextual), ativa,
consciente, acompanhada pelo conhecimento pessoal, marcada por mínima dependência externa inicial,
pelo constante desejo de sua (re)facção, pela vivência de ciclos reflexivos de tipos monofásico, bifásico e
trifásico, que são alternativos ao proposto pela literatura profissional precedente no campo da pesquisa-
ação. Na prática, o ciclo pentafásico de reflexão-ação não se completa conforme teoricamente proposto;
vivenciam-se ciclos reflexivos alternativos.
7
EDUCAÇÃO CRÍTICA COM PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRA
Resistindo à opinião de quem se propõe a falar de criticidade e criticalidade iniciando pelo tom de
deboche ao afirmar que há quem ainda "levante as sobrancelhas" diante do atributo "crítico" –, como se
estivesse diante de uma novidade - sem se basear em conhecimento produzido a custo de dados
primários (CORADIM; REIS, 2016), esta comunicação traz resultados de uma pesquisa em sala de aula.
Ela vem sendo desenvolvida continuamente como parte integrante de minha prática formativa como
professora do curso em licenciatura em Letras Estrangeiras Modernas (UEL) e alunos do segundo ano
dessa graduação. Gerados ecologicamente ao longo do ano letivo de 2015, os dados são de natureza
estável (viz. gravação em áudio de falas dos participantes e suas atividades didáticas resultantes de seu
esforço de sentido de teoria-prática). Análises preliminares por meio de lentes cognitivas e discursivas
me permitem afirmar que em processo de educação crítica dos participantes, visando à promoção tanto
de leitura crítica quanto de letramento crítico, a serem fomentados por aulas de inglês, a estudantes do
ensino médio, enunciações de saberes estruturam discursos de distintas texturas. Três serão destacados: o
primeiro é caracterizado por marcas de descobertas e aprendizagem enquanto leitor e professor; o
segundo, pelo protagonismo restrito ao papel de leitor; e o terceiro, pelo distanciamento do texto em
busca de ligações teóricas do repertório individual de leituras paralelas. Além disso, esses discursos
constituem-se possíveis em interações dialógicas ao se constituírem na diferença e na singularidade de
processos de aprendizagem abertos, imprevisíveis e únicos.
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ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: ESTRATÉGIAS DE
ENSINO E PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Simpósio 8: Ensino de Língua Portuguesa para surdos: estratégias de ensino e produção de material didático
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ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: ESTRATÉGIAS DE
ENSINO E PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
Por quase um século, o ensino de surdos, no Brasil, se deu exclusivamente por meio da fala. No ensino
da Língua Portuguesa, os professores utilizavam as mesmas estratégias usadas com alunos ouvintes,
desconsiderando que a perda auditiva acarreta dificuldades significativas na compreensão e no uso da
fala. Como resultado desta prática, a leitura da maior parte dos alunos surdos se caracterizava por
decodificação sem compreensão. Em 2005, a aprovação do Decreto 5626 estabeleceu a educação
bilíngue para surdos, na qual a Língua Brasileira de Sinais é a primeira língua e a Língua Portuguesa, a
segunda. Sendo primeira língua, o uso da língua de sinais vai permitir aos alunos surdos vivenciarem
práticas sociais que envolvem a escrita e, deste modo, constituirem o conhecimento desta língua.
Pesquisadores, como Svartholm, ressaltam que modelos usados para ensinar ouvintes a ler não são
adequados ao ensino de surdos, já que, para estes, o aprendizado da escrita envolve a utilização de uma
língua diferente da que usam para “falar”. A única forma de assegurar que os textos se tornem
significativos para os surdos é traduzi-los na língua de sinais. Para isso o professor deve ser capaz de
traduzir os textos para a língua de sinais. Estas ideias fundamentam o presente trabalho, que tem como
objetivo analisar as estratégias utilizadas por uma professora no ensino de adolescentes e adultos surdos
que frequentam oficinas de Língua Portuguesa de uma escola de educação bilíngue em São Paulo. No
trabalho, são analisadas estratégias adotadas pela professora, bem como os efeitos observados na
compreensão da leitura pelos alunos.
Palavras-chave: Ensino da Leitura para Surdos, Ensino da Língua Portuguesa para Surdos, Leitura e
Surdez
Este trabalho buscou desenvolver estratégias e atividades com o intuito de desenvolver habilidades de
leitura e escrita em Português como segunda língua para um surdo acadêmico do Curso de Licenciatura
em Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina — UFSC — através da Abordagem
Comunicativa e Interativa de Ensino de Línguas. A presente pesquisa buscou responder como um
processo educativo interativo entre professor e aluno surdo pode contribuir para o desenvolvimento de
tais habilidades e quais aspectos desse processo podem ser aprimorados por meio dessa Abordagem,
caracterizando-se como um estudo de caso, do tipo pesquisa-ação emancipatória. A análise das
atividades de leitura realizadas mostra que a leitura foi realizada não só de forma literal, mas também
com foco no sentido dos textos, explorando a Libras na compreensão do texto de diversas maneiras. A
análise das produções escritas mostrou o uso criativo de estratégias, destacando a estratégia de
(re)estruturação (retextualização), na qual conseguiu-se empregar adequadamente elementos
argumentativos, principalmente os conectivos. Conclui-se que o projeto de pesquisa mostra benefícios
tanto para o sujeito, quanto para o professor. Para o sujeito os benefícios foram tanto em termos da
aquisição e desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita em português, quanto em termos de
afiliação a essa língua. E para o professor, os benefícios foram a abertura de um processo inovador de
ensino, voltado à interação e à comunicação mediado por uma língua compartilhada, em que se
considera a realidade e as necessidades do aluno e do meio social e, em conjunto, buscando possíveis
soluções.
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Palavras-chave: Leitura e escrita do português como segunda língua para surdo, Libras, Ensino
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ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: ESTRATÉGIAS DE
ENSINO E PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
As línguas de sinais têm ganhado espaço nos estudos linguísticos e tem sido oficializada em muitos
países. Com esse reconhecimento, são consideradas línguas naturais das comunidades surdas e
preconizado que a educação bilíngue seja realizada na forma de que a língua de sinais seja adquirida
como primeira língua e a modalidade escrita da língua oficial do país como segunda língua pelo
estudante surdo. O presente trabalho tem por objetivo apresentar a criação de sequências didáticas
utilizando os gêneros textuais como forma de desenvolver práticas de educação bilíngue para surdos, em
especial voltadas ao ensino da modalidade escrita do português como segunda língua. A proposta de
apresentação de uma criação de sequências didáticas visa contribuir para a criação de alternativas
metodológicas e criação de materiais específicos que auxiliem professores da educação básica a refletir
sobre as práticas de letramento em língua portuguesa envolvendo estudantes surdos.O trabalho está
ancorado nos estudos que debatem as principais dificuldades conceituais e práticas sobre escrita
relatadas pelos professores e estudantes surdos (CEZAR, 2014), com base nos pressupostos teóricos das
práticas de letramento em contextos bilíngues para surdos (FERNANDES, 2012). Busca-se trazer
elementos à discussão da formação de professores de surdos a partir de uma perspectiva interdisciplinar,
pautada em uma pedagogia culturalmente sensível, e na visão ampliada de educação linguística para
além das línguas, tendo como processo norteador, a educação bilíngue (CAVALCANTI, 2013; MAHER,
2007; LADSON-BILLINGS; 1990), bem como os resultados das pesquisas anteriores de Silva; Pires-
Santos (2012; 2008).
O objetivo deste estudo é discutir a produção de material didático para o ensino de língua portuguesa
(LP) para surdos a partir de reflexões sobre o currículo e os princípios norteadores da educação bilíngue
e da elaboração do material. Ressaltamos duas especificidades relacionadas à questão: a primeira diz
respeito aos diferentes contextos em que se pode educar surdos. Notadamente, ensinar LP para surdos
em escolas inclusivas, especiais ou bilíngues exige tomadas de posição decisivamente diferentes, por
parte do professor e da produção de seu material. Em segundo lugar, a ausência de PCN específico ou de
uma matriz de referência para o ensino de LP para surdos faz com que essa prática se subordine apenas à
decisão de cada professor. Em escala nacional, tal posição resulta em falta de sistematicidade e ausência
de processo padrão. Assim, a produção de material didático, a nosso ver, precisa estar atrelada a uma
discussão mais profunda do contexto escolar, do currículo (com foco na organização e sequência dos
conteúdos das séries anteriores e posteriores) e dos princípios norteadores da educação bilíngue. A partir
dessa reflexão, elencamos princípios teórico-conceituais que parecem fundamentais, quando se pensa em
produção de material didático para o ensino de LP para surdos: i) o privilégio da noção de texto e
discurso; ii) a percepção de que gêneros discursivos são modos de ação social; iii) a compreensão da
leitura como um processo descendente; iv) a relevância de se organizar o currículo de forma espiral, com
progressões e retomadas e v) a importância motivacional de aspectos como a interatividade, a
visualidade, a ludicidade e a gameficação.
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8
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: ESTRATÉGIAS DE
ENSINO E PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO
A distância existente entre a língua de sinais e a escrita alfabética tem implicações severas no processo
de letramento de alunos surdos, de tal forma que se torna ousado almejar que um aluno surdo, que possui
a língua de sinais como primeira língua, se expresse, de forma eficaz, pelo português escrito. Emerge,
então, a necessidade de introduzir um sistema de escrita que atenda as necessidades educacionais dos
surdos e valorize o aspecto visual. É necessário compreender o que é a escrita dos sinais e como ela pode
ser inserida no currículo dos estudantes surdos, levá-los a uma alfabetização e a um letramento
significativo que ofereçam, dentro do princípio do bilinguismo, o tratamento adequado às línguas de
sinais. A motivação para que este estudo fosse realizado surgiu da necessidade de tornar conhecido a
escrita dos sinais pelo Sistema SignWriting e possibilitar aos leitores envolvidos nas questões
educacionais dos surdos uma reflexão sobre a escrita de uma língua sinalizada para os surdos. O sistema
proposto está atrelado ao método letramento aplicado na Sala de Recursos Multifuncionais/ Centro de
Atendimento Especializado ao Surdo – CAES, que tem possibilidades de inserir no ensino e na
aprendizagem do surdo a escrita de uma língua gestuo-visual, pois conhecem as limitações linguísticas
que a maioria dos surdos brasileiros têm ao receberem a informação em língua de sinais e serem
obrigados a escreverem essa informação em escrita de uma língua oral. Estudos têm mostrado que o
SignWriting é uma possibilidade para que os surdos tenham um novo caminho de acesso ao
conhecimento da sua própria língua, o registro dos seus pensamentos e da sua cultura.
59
Página
9
ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Aspectos recorrentes à formação inicial e continuada são objetos de estudo por parte de diversos
pesquisadores da área de linguística aplicada, cujas pesquisas abordam tanto investigações de como se
processa essa formação quanto quais conhecimentos, saberes ou competências são necessários para o
ensino de língua. Nesse contexto formativo se situa o subprojeto PIBID-Inglês UNESPAR “A World of
Englishes”, através do qual são desenvolvidas atividades educacionais extensionistas de formação inicial
e contínua, por meio da inserção dos alunos-professores do curso de Letras Português-Inglês nos
contextos educacionais, em atividades de discussão teórica, reflexão e produção colaborativa de aulas,
metodologias e materiais didáticos para os alunos da rede pública estadual em 3 escolas de um município
do litoral paranaense. As atividades desenvolvidas no subprojeto são norteadas por um arcabouço teórico
que engloba a perspectiva da língua como discurso (BAKHTIN, 2010; FOUCAULT, 1996; 2005; 2006;
JORDÃO, 2006; 2007, JORDÃO; FOGAÇA, 2007), do letramento crítico (MUSPRATT; LUKE;
FREEBODY, 1997) e do ensino de língua inglesa por meio do procedimento Sequência Didática
(DOLZ, NOVERRAZ, SCHNEUWLY, 2004). Conforme apontam pesquisas que envolvem esse
contexto de formação (KADRI; SILVA, 2013; PASSONI et al.; 2013; STUTZ, 2014), o programa tem
gerado impactos positivos nos espaços em que atua, com relevantes resultados na Educação Básica.
Assim sendo, o objetivo deste trabalho é o de apresentar os resultados da atuação do subprojeto em
termos de formação inicial e continuada e com relação à articulação entre a Universidade e as redes de
ensino por ele abrangidas.
O objetivo deste trabalho é trazer à tona discussões a respeito do ensino explícito de fonética e fonologia
para ajudar aprendizes de língua inglesa a melhorar sua produção oral. A relevância deste tópico se
justifica pela carência de estudos que investiguem como a produção oral tem sido tratada nos contextos
de ensino/aprendizagem de língua inglesa na atualidade. No passado, “habilidades orais eram
tipicamente ensinadas” focando a aquisição de uma “gramática e pronúncia precisa”. Atualmente,
“aprendizes são frequentemente encorajados a focar na conversação. Eles se expressam usando
quaisquer recursos linguísticos que possuam, porque ao ensino da linguagem comunicativa é dada
grande importância” (GOH, BURNS, 2012, p. 30), o que não está equivocado. No entanto, o que pode
ser feito para ajudar os alunos à alcançarem um nível de produção oral mais elevado, com uma
pronúncia e entonação mais claras? Acredita-se que ao familiarizá-los com os princípios da fonética e da
fonologia da língua alvo, neste caso inglês, eles possam aumentar sua consciência linguística
consideravelmente (FRASER, 2000; ROACH, 2009; ASHTON, SHEPHERD, 2012). Assim, creio que
ao tornar os alunos conscientes de como o sistema de sons da língua inglesa funciona, destacando
aqueles que podem causar confusão ou mal-entendido (GODOY, CONTOW, MARCELINO, 2006;
SILVA, 2012), nós, professores de inglês, podemos levar nossos alunos a terem uma pronúncia mais
inteligível, satisfatória e precisa.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
O propósito deste trabalho foi o de analisar, nos atuais discursos que circulam com relação à Língua
Inglesa (LI), quem é o sujeito atual configurado e subjetivado por representações em anúncios de escolas
do idioma. Para a realização dessa análise, buscamos questionar a necessidade/obrigação de se aprender
a LI que se impõe sobre os sujeitos, e investigar como se dá a representação (ou representações) do aluno
de LI nos discursos circulando em campanhas publicitárias das escolas de LI mais reconhecidas no
mercado, e a forma como tais representações produzem posições-sujeito. Buscamos trazer as
contribuições dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), vistos como um dispositivo que “faz falar”
da LI em contexto institucionalizado, para que fosse possível compreender o funcionamento dos
discursos nesse contexto, aliando-os às análises das propagandas. As análises partiram de um
embasamento teórico-metodológico pautado na análise do discurso de linha francesa, em especial nas
obras de Michel Foucault, com a contribuição das teorias de Pierre Bourdieu e autores da área de ensino
de LI e dos estudos culturais. Tomamos os anúncios como uma série enunciativa, unindo-os em quatro
quadros enunciativos, com base nas seguintes regularidades concernentes à LI: Trabalho, Sucesso,
Desafio e Mobilidade. A partir das análises, a inserção da LI nos currículos escolares nacionais foi
percebida como uma forma contemporânea de governamentalidade e de biopoder, uma vez que o
governo, através dessa imposição curricular, gere a população no sentido de preparar os cidadãos para
um mercado de trabalho que exige o conhecimento da língua como pré-requisito.
O ensino de PLE (Português como Língua Estrangeira) vem ganhando notoriedade no cenário atual de
aprendizagem de línguas estrangeiras como um reflexo do interesse gerado por fatores econômicos e
culturais que impulsionam escolas e outras instituições a tentar suprir essa demanda. Historicamente, a
implementação formal do PLE nos Estados Unidos vem ocorrendo desde as décadas de 1940 e 1950,
como demonstram os estudos de Luna (2002) e Furtoso (2013), e o número de cursos oferecidos em
universidades, atualmente, torna-se cada vez maior. Considerando semelhante contexto de expansão e
consolidação do idioma, esta comunicação tem como objetivo elucidar o crescimento do PLE em
universidades norte-americanas, apontando dados que revelam a ocorrência gradual de tal fenômeno e
relatar, principalmente, as motivações dos indivíduos envolvidos nesse processo de aprendizagem. Os
fatores motivacionais, como diretrizes desta análise, estão baseados em estudos contundentes sobre a
relevância da motivação (Intrínseca ou Extrínseca) do aprendiz de uma segunda língua, como assim
refletem Bock (2008), Gardner (2001), Ur (1991), Harmer (2009) e Guimarães (2009). Apesar dos
desafios enfrentados por educadores relacionados à pratica de ensino de PLE nos Estados Unidos, como,
por exemplo, a falta de uma variedade de materiais didáticos adequados, faz-se necessária uma reflexão
acerca das metodologias que envolvem o processo de ensino-aprendizagem, visando, assim, o
melhoramento das práticas pedagógicas e o consequente impacto que tais práticas terão no contexto de
sala-de-aula.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Com o processo de globalização e de ampliação das fronteiras comerciais e culturais, saber a Língua
Inglesa relaciona-se cada vez mais com melhores oportunidades no mundo do trabalho e nas práticas
sociais. Todavia, se por um lado há o discurso que condiciona a atuação dos sujeitos na atualidade ao
conhecimento do idioma, por outro, ainda vigoram discursos que questionam a relevância da disciplina
de Língua Inglesa na escola pública. Assim, entre contradições e expectativas, alunos e professores
convivem diariamente com o desafio de desconstruir discursos equivocados a respeito da finalidade da
disciplina de Língua Inglesa no currículo da educação básica. Fundamentado na perspectiva da
Linguística Aplicada Crítica (PENNYCOOK, 1994; JENKINS, 2006) e nos Estudos de Identidade
(HALL, 2005) o presente trabalho discute o lugar da Língua Inglesa na escola pública e problematiza um
conjunto de discursos sobre a finalidade do ensino do idioma bem como discute as implicações destes na
construção de identidades de alunos e professores na perspectiva de um grupo de professores de Língua
Inglesa em formação inicial. Os resultados indicaram que há uma tensão entre o reconhecimento da
necessidade em se adotar a Língua Inglesa como língua internacional e, como tal produção sociocultural
desterritorializada, ao mesmo tempo em que aumenta a expectativa de bons resultados do ensino e
aprendizagem de Língua Inglesa na escola pública.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Este trabalho fundamenta-se dentro de uma perspectiva pós-estruturalista que perceba a identidade não
mais como algo acabado e fixo, mas como fragmentado, formado por várias facetas (BHABHA, 1998;
RAJAGOPALAN, 2003; HALL, 2000), em um constante processo de reconstituição. Desta forma,
procura-se entender como a identidade do futuro profissional de inglês é apresentada nos documentos
oficiais e como é vista pelos participantes do estudo – alunos-professores pertencentes ao 4° ano de um
Curso de Licenciatura Plena em Letras Português/Inglês de uma universidade pública do Centro-Oeste
brasileiro. Assim, surgiu a necessidade de propor objetivos específicos a serem alcançados com os
acadêmicos em relação à sua própria interação com a língua-alvo. Os resultados, preliminares, apontam
que o grupo pesquisado pode enfrentar situações em que o inglês é visto como prática social que rege a
sua atuação dentro de sala de aula. Por outro lado, esses acadêmicos afirmam que às vezes têm
dificuldade por não conseguirem reconhecer a sua identidade de professor de inglês. Podemos mudar de
identidade ao nos defrontarmos com uma língua estrangeira, buscando uma afirmação de identidade
naquela língua, na medida em que os indivíduos buscam pertencer a um determinado grupo e ser um
falante que sabe se comunicar na língua-alvo.
Este trabalho tem como objetivo refletir acerca da necessidade da inclusão de espaços de manifestações
culturais nas escolas, especialmente no que se refere ao ensino de línguas, além de sugerir atividades
práticas para tais ações. O presente trabalho teve como motivação as oficinas “Reading Hablando y
Aprendendo”, que fizeram parte de um projeto de extensão de caráter sociocultural chamado “Campo
Cultural”, realizado no IFRS – Câmpus Sertão, durante o ano de 2014. Tal projeto teve como objetivo
central organizar espaços para manifestações artísticas e culturais diversas, dentre as quais cinema,
música, teatro, fotografia e linguagens. As oficinas de linguagens foram organizadas pelos professores
de línguas da instituição, em horário extraclasse e contaram com a participação de alunos, servidores e
da comunidade em geral. As oficinas tiveram um total de cinco edições, com temas que variaram desde
dinâmicas para o ensino de línguas até saraus literários. Todas as oficinas foram pensadas e executadas
de forma a atrair o interesse dos participantes, com a inclusão de atividades práticas e dinâmicas, como
músicas, saraus e jogos. Apesar da curta duração, é possível afirmar que as oficinas foram eficazes em
seu propósito de promover a cultura e aguçar nos participantes o gosto pela leitura e pelo aprendizado de
línguas estrangeiras. Pôde-se verificar que os alunos passaram a ter mais interesse e participação nas
aulas, o que consequentemente melhorou a qualidade das mesmas.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
O presente trabalho tem como proposta analisar a agência docente (JORDÃO, 2013, MORGAN, 2010,
MONTE MÓR, 2013) exercida e vivenciada nas práticas de ensinoaprendizagem na disciplina Língua
Inglesa do Programa de Formação Interdisciplinar Superior (ProFIS) da UNICAMP. Nesse cenário
sócioeducacional voltado exclusivamente aos alunos da rede pública da cidade de Campinas, esta
pesquisa busca responder como os diferentes papeis, valores e discursos são tensionados e
(re)negociados pelos professores-participantes ao longo do processo de ensinoaprendizagem. Como
aporte teórico, este estudo está amparado pelas discussões discursivas de linguagem (BAKHTIN, 1990
[1934-1935], 2003 [1979], 2004 [1929]) articuladas com as teorizações dos Novos/Multiletramentos
(COPE & KALANTZIS, 2009, 2011; KALANTZIS & COPE, 2001). Os dados parciais gerados a partir
de uma pesquisa qualitativa de cunho etnográfico evidenciam os processos de (re)design (COPE &
KALANTZIS, 2009, 2011) de práticas pedagógicas e de discursos por parte dos professores-
participantes, sem desconsiderar a agência discente como parte fundamental deste processo. Além disso,
esse estudo traz como contribuição um repensar do ensinoaprendizagem de língua inglesa voltado
práticas educacionais críticas e transformativas (ROCHA; MACIEL, 2013).
Este estudo parte de uma dissertação em andamento que visa apresentar as dimensões ensináveis do
gênero textual roleplaying game (RPG) de mesa para o ensino de inglês como língua adicional para
alunos de níveis avançados. Para este trabalho expor-se-á a situação de ação de linguagem (contexto
físico e sociossubjetivo de produção e conteúdo temático), o plano geral e os tipos de discursos do
primeiro capítulo da uma aventura pronta do gênero em questão, que fazem parte da construção de um
modelo didático segundo o interacionismo sociodiscursivo. O RPG foi inaugurado por Gary Gygax e
Dave Arneson em 1974, quando publicaram três livros de Dungeons & Dragons, que tem como temática
a era medieval. Lost Mine of Phandelver, publicado em 2014, nosso corpus, é direcionado para o mestre,
o jogador que guia os passos dos demais participantes, e é composto por introdução, quatro capítulos da
aventura, dois apêndices que contém itens mágicos e monstros e, por fim, um índice de regras que são
encontrados no Starter Set Rulebook. O tipo de discurso mais recorrente foi a narração (50% dos
segmentos), depois discurso interativo encaixado na narração, discurso interativo, narração encaixada no
discurso interativo e relato interativo encaixado na narração. Nota-se que os tipos de discursos
identificam a história a ser narrada, as instruções a serem seguidas pelo mestre e as direcionadas às
personagens. As dimensões ensináveis contidas no modelo didático proporcionam o arcabouço teórico
necessário ao docente sobre os diversos elementos que compõe a configuração do gênero e, dessa forma,
viabilizam a construção de propostas de trabalho fundamentadas em estudos científicos.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Avaliação, presente no cotidiano da sala de aula, funciona como elemento integrador entre ensino e
aprendizagem. Este trabalho faz um levantamento teórico sobre avaliação, aborda avaliação somativa e
destaca a formativa, e como esta pode ser realizada em sala de aula para que haja contínua verificação da
qualidade do ensino-aprendizagem, tanto mostrando ao professor pontos fortes de sua prática pedagógica
e aqueles a serem reorientados, quanto possibilitando que o aluno constantemente desenvolva suas
habilidades linguísticas. Assim sendo, baseamo-nos em Brown (2004) e Luckesi (2005) para abordarmos
o que são testes e como eles não devem ser vistos como sinônimos de avaliação; descrevemos as
diferenças entre avaliação formativa e somativa; discutimos a importância de feedback eficaz para uma
avaliação formativa sucedida de acordo com Hattie (2012); abordamos a questão dos instrumentos
avaliativos conforme Fisher e Frey (2007) e Haydt (1995); tratamos da importância dos resultados da
avaliação formativa e seu compartilhamento entre professor e aluno, seguindo Furtoso (2011) e Bonesi e
Souza (2006). Alicerçados nisso, objetivamos verificar, por meio de questionários aplicados a um grupo
de dezessete professores de um instituto de idiomas, suas concepções de avaliação, o que eles entendem
por avaliação formativa e somativa e como eles as relacionam à prática de sala de aula. A partir da
análise dos dados, elaboramos e descrevemos uma proposta de intervenção no formato de workshop
sobre o tema da avaliação com ênfase na avaliação formativa, incluindo informações teóricas e
atividades práticas, com a finalidade de elucidar e esclarecer dúvidas que possam haver sobre o tema.
A perspectiva do Inglês como Língua Franca (doravante ILF) tem atraído a atenção de muitos
pesquisadores da Linguística Aplicada (SEIDHOLFER, 2004, 2005, 2011; JENKINS 2007, 2009,
COGO e DEWEY, 2012; BORDINI, GIMENEZ, 2014, GIMENEZ et al, 2015), por compreender usos
diversos da língua inglesa em contextos transfronteiriços (RUBDY e SARACENI, 2006). Dentre tantas
conceituações, SEIDLHOFER (2011, p. 7) define o ILF “como qualquer uso da língua inglesa entre
falantes de diferentes línguas maternas para quem o inglês é o meio de comunicação de escolha, e muitas
vezes a única opção”. No que se refere ao direcionamento da perspectiva do ILF ao ensino-
aprendizagem de inglês e, também, aos materiais didáticos, propostas de análise e de elaboração são
empreendidas, visando o reconhecimento de variedades outras da língua inglesa e a sensibilidade
intercultural (DENDRINOS, 1992; JENKINS, COGO e DEWEY, 2011; SIQUEIRA, 2012, EL KADRI
e GIMENEZ, 2013; TOMLINSON e MASUARA, 2013, TAKAHASHI, 2014). Nesse sentido, a
perspectiva do ILF sugere uma descentralização na ênfase às variedades de países do Círculo Interno e
em seus aspectos culturais, promovendo um reconhecimento de outros usos do inglês e a valorização da
identidade e cultural do falante bilíngue, além de promover um olhar mais atento e crítico em relação aos
materiais didáticos e ao ensino-aprendizagem de língua inglesa.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Esta comunicação tem por objetivo apresentar as representações por um grupo de professores em relação
a suas práticas de ensino de Língua Inglesa e o entendimento destes a respeito do Inglês como uma
Língua Franca. Para embasamento teórico, utilizaram-se os apontamentos de McKay (2012), Jenkins
(2007), Cogo (2012) e Seidholfer (2005) sobre o conceito e o ensino de Inglês Língua Franca e, em
relação ao status assumido pelo Inglês enquanto uma Língua Franca, foram retomadas as contribuições
de Pennycook (2007). Os dados analisados neste estudo são parte de minha dissertação de mestrado em
Letras, pela Universidade Federal do Paraná, e foram gerados por meio de questionário e entrevistas, em
uma perspectiva qualitativo-interpretativista de pesquisa. Utilizou-se, também, a metodologia de análise
de conteúdo e a Grounded Theory para perquirição e possíveis teorizações resultantes dos textos
analisados. Os professores participantes desta pesquisa compartilham um mesmo contexto de formação
acadêmica e todos estavam atuando no ensino de Língua Inglesa durante o período de condução da
investigação. Dentre os resultados obtidos, destaca-se a importância do Inglês para a interação na esfera
global e ressalta-se o efeito do Inglês enquanto uma Língua Franca em variadas situações, dialogando
com as proposições de Pennycook (2007) acerca do mito do Inglês Língua Franca.
A disciplina de inglês pode favorecer o sentimento de inferioridade e exclusão em estudantes que não
aprendem. Oprimidos por discursos que supervalorizam o papel dessa língua no mercado de trabalho,
eles temem o fracasso (LONGARAY, 2009). O objetivo deste estudo é entender que representações
socais (RS) da língua inglesa atuam na construção das identidades de Davi, um estudante do curso
técnico em mecânica, integrado ao ensino médio. Para isso, é necessário descrever suas RS sobre essa
língua no ensino fundamental e médio e observar se Davi se representa como aluno, estudante ou usuário
dessa língua. Esta é uma investigação qualitativa, descritiva e longitudinal. Os dados foram coletados
entre 2012-2013 em um campus do Instituto Federal do Paraná, com base em: questionários, narrativas
de aprendizagem, sessão reflexiva, grupo focal e entrevista. As análises foram orientadas por paradigma
interpretativo, teoria das RS, de Moscovici (1978), reflexões sobre identidade (SILVA, 2012;
BAUMAN, 2005) e ensino de inglês (NORTON, 2000). Nos dados, aparecem RS da rede pública como
espaço de não aprendizagem e de estudantes se posicionando como vítimas do sistema. As principais RS
da língua inglesa estão relacionadas à: 1) comunicação e ao 2) trabalho. Entretanto alguns estudantes
como Davi apenas dissimulam essas RS para produzir reconhecimento e evitar conflitos. A posição
assumida é a de aluno que ancora essa língua na escola como disciplina (re/aprovação, nota) e se
relaciona com ela a partir de uma comunidade real (sala de aula, professor, turma).
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Neste trabalho fazemos algumas considerações sobre uma experiência durante a orientação de um
estágio supervisionado no curso de Letras (Português/Inglês) da Universidade Estadual do Paraná –
UNESPAR, Campus de Paranavaí. Nessa atividade os estagiários planejaram e aplicaram uma produção
didático-pedagógica em torno dos gêneros textuais, em turmas do Ensino Médio de escolas públicas na
cidade de Paranavaí e região, buscando proporcionar práticas reais de linguagem em sala de aula.
Durante a preparação para o estágio, discutimos alguns dispositivos teórico-metodológicos com os
graduandos apoiando-nos no Interacionismo Sócio-Discursivo (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY,
2004) para fundamentar nossas reflexões sobre a sequência didática (SD). Por conseguinte, os estagiários
fizeram observação nas turmas, buscando informações necessárias para o desenvolvimento do estágio.
Posteriormente, auxiliamos os estagiários na elaboração das SD e acompanhamos a aplicação das aulas
com a colaboração do professor-regerente em sala de aula. Os resultados demonstraram que o ensino de
língua inglesa baseado no uso de um gênero textual por meio da elaboração e aplicação de uma SD, no
estágio supervisionado de língua inglesa, possibilita aos futuros licenciados o trabalho com as práticas
discursivas, elegendo, como objeto de ensino a língua e as capacidades de linguagem e as operações que
compõem tais capacidades. Além disso, o estágio proporcionou a elaboração de uma produção didático-
pedagógica que auxilia a prática do professor em sala de aula e ao aluno a dominar as especificidades de
um gênero textual, permitindo que o mesmo escreva, fale e leia-o de forma mais adequada ao se
comunicar.
Este estudo tem como objetivo tecer reflexões sobre contextos de inserção/distribuição do livro didático
(LD) no Brasil, abordando questões relativas ao percurso da criação desse material e as políticas de
envio para as escolas brasileiras desde épocas mais remotas até a atualidade. Diante de tais contextos,
constitui-se como objetivo a análise do papel do professor enquanto usuário e principal interessado do
LD, de modo a compreender quem exerce poder de decidir acerca do gerenciamento e escolhas relativas
a esse instrumento de trabalho dentro do contexto escolar brasileiro. Os dados são oriundos de pesquisa
desenvolvida, com sete professores de língua inglesa de quatro escolas públicas da cidade de Maringá-
Paraná, respondendo a questionários, entrevistas e conversa entre pares. Assim, os resultados apontam
para a (re)construção de identidades profissionais docentes marcadas por aspectos conflituosos, na
medida em que a gestão do livro didático, ao longo dos anos, é permeada por práticas autoritárias, de
regulação, de interesses políticos, ideológicos, sociais e econômicos, que contribuem para o
enfraquecimento da autonomia do professor.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Ensinar e aprender uma língua estrangeira é um processo que parte do individual ao coletivo, permeando
a particularidade do aprendiz e priorizando o contexto e o propósito de um grupo. Logo, surgiram (e
ainda surgem) métodos e abordagens de ensino-aprendizagem enfatizando ora a língua, ora o aprendiz,
ora o professor, ora o processo da aprendizagem em si. Tais métodos sintetizam as concepções que se
tem de cada um dos envolvidos nesse processo de ensino-aprendizagem, como uma maneira de construir
uma fórmula fixa para a assimilação da língua estrangeira passível de ser aplicada a todo um conjunto de
aprendizes. Contudo, a unicidade do método não contempla a heterogeneidade de uma sala de aula, ou
ainda, o contexto cultural de um aprendiz. Considerando que aprender uma língua estrangeira é aprender
culturas (no plural) e ativar identidades, a unicidade dá seu lugar à multiplicidade e à adaptabilidade, em
que professores de língua estrangeira tornam-se autônomos e, por conseguinte, pesquisadores e
detentores de seu próprio ensinar. É nesse contexto que surge a denominada Condição Pós-Método, de
Kumaravadivelu (1994), que propõe a redefinição da relação entre a teoria, o método e aqueles que os
praticam. Tendo isso em vista, este trabalho objetiva realizar um estudo da Condição Pós-Método,
tomando como base o ensino da Língua Inglesa na Educação Básica Brasileira. Propomos a observação e
a análise de uma situação de aprendizagem pertencente ao currículo de Língua Estrangeira Moderna do
Estado de São Paulo, com vistas a ilustrá-la em uma Condição Pós-Método.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Este trabalho objetiva analisar criticamente um conjunto de estudos publicados nos anais da Conferência
Internacional em Aprendizagem Móvel, no período de 2008 à 2012, cuja temática é a aprendizagem de
língua estrangeira mediada por telefone celular. A fundamentação teórica deste estudo está baseada nos
pressupostos vygotskyanos sobre aprendizagem mediada por instrumento e os conceitos de
aprendizagem móvel, CALL e MALL. Ainda, são consideradas as taxas de difusão do telefone celular e
principalmente, suas potencialidades. Por meio de revisão sistemática e meta-análise, buscou-se
identificar semelhanças e diferenças entre as características apontadas nos estudos cuja abordagem é
aprendizagem de línguas e telefone celular. A partir da análise dos resultados, verificou-se que o telefone
celular destaca-se por sua mobilidade e portabilidade. Além disso, esse dispositivo apresentou aspectos
positivos em relação à motivação dos alunos na aprendizagem de línguas. Constatou-se também que os
desafios no uso dessa ferramenta não são técnicos, mas didáticos e metodológicos, incluindo a
necessidade de refletir sobre propostas práticas. As conclusões deste trabalho poderão direcionar novas
investigações na área de aprendizagem de línguas mediada por telefone celular e aprendizagem móvel.
As novas tecnologias estão cada vez mais sendo utilizadas no contexto escolar favorecendo as
possibilidades de interação entre todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. As redes
sociais, por sua vez, ganharam a adesão dos jovens e adultos e, devido, às ferramentas e aos aplicativos
que muitas delas oferecem têm sido utilizadas por professores com o intuito de favorecer a aprendizagem
dos alunos. Sendo assim, o presente estudo mostra os resultados do uso do facebook para aperfeiçoar a
prática escrita dos alunos em Língua Inglesa a partir de dois gêneros textuais: o meme e o foto poema.
Para isso, a pesquisa baseou-se nos pressupostos de Marcuschi e Xavier (2010), Bettega (2010),
Dudeney e Hockly (2007) e Singhal (2012), os quais discutem a leitura e a produção textual na era
digital e o ensino de línguas baseado nas novas tecnologias. Como procedimentos metodológicos foram
utilizadas as pesquisas descritiva, bibliográfica, analítica, experimental, de campo e pesquisa-ação. Os
resultados mostraram que os alunos apresentaram-se mais empenhados nas atividades propostas uma vez
que elas seriam socializadas junto aos colegas da turma e, também, seriam visualizadas pelo público
externo. Eles compreenderam bem o objetivo da prática da escrita no que se refere ao conteúdo, ao estilo
e à composição textual. Espera-se, com os resultados obtidos, oferecer contribuição positiva para a
prática escrita nas aulas de Língua Inglesa.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Considerando um desafio fundamental para a formação inicial de professores de línguas, este trabalho
visa a discutir o desenvolvimento da capacidade reflexiva do futuro professor de Língua Inglesa acerca
do trabalho docente por meio do registro de observação de sala de aula no momento anterior ao período
da regência no estágio supervisionado. Pautamos nossos estudos nos pressupostos teórico-metodológicos
do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) (BRONCKART, 1999/2009), no ensino de línguas com base
em gêneros textuais, nas capacidades de linguagem (BAKHTIN, 1979/1992/2003; SCHNEUWLY;
DOLZ, 2004; CRISTOVÃO, 2009, 2013; CRISTOVÃO; STUTZ, 2011; STUTZ; CRISTOVÃO, 2011),
no aspecto da reflexão crítica (SCHÖN, 1983, 1987; ZEICHNER, 1994, 2001; GIMENEZ;
CRISTOVÃO, 2007; CRISTOVÃO; STUTZ, 2011; STUTZ, 2012), bem como nos saberes necessários à
formação docente: os saberes a ensinar e para ensinar (HOFSTETTER; SCHNEUWLY (2009). Para
tanto, apresentaremos análises de fichas de observação para o momento prévio ao período da regência no
estágio supervisionado propostas pelo Curso de Letras e por uma professora formadora, além de uma
proposta para observações de aulas da Didática das Línguas da Escola de Genebra e alguns registros de
observação de aulas com foco nas reflexões sobre tais aulas desenvolvidas pelo futuro professor. Os
resultados apontam possibilidades de desenvolvimento tanto para o futuro professor como para o
professor formador por meio de ressignificações do trabalho docente, bem como de reconfigurações de
práticas formativas.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
O escopo deste trabalho é apresentar propostas didáticas direcionadas as aulas de Espanhol como Língua
Estrangeira/Adicional (ELEA) dentro de uma perspectiva social, histórica e cultural. Mediante o diálogo
entre as múltiplas linguagens, valendo-nos de músicas, pinturas e textos literários latino-americanos,
objetivamos abordar temáticas que versem sobre aspectos históricos, políticos, sociais e culturais
relacionados à América Latina, a fim de resgatar a memória coletiva subterrânea latino-americana muitas
vezes omitida, silenciada e distorcida pela grande maioria dos livros. Assim, buscamos desvelar aos
alunos as outras versões da história do nosso continente, para que os mesmos possam refletir sobre sua
identidade, (re)conhecer-se como parte do processo histórico e perceber-se como sujeito integrante e
participante da sociedade. Nesse sentido, apoiamo-nos Pollak (1999) e Halbwachs para tratar sobre
memória coletiva subterrânea e identidade e fundamentamo-nos em Bakhtin (1994; 2006), Fiorin (1990)
e Brandão (2008) para comprovar a estreita relação que há entre língua, linguagem, palavra e ideologia.
Ademais, debruçamo-nos em Marcuschi (2013) e Dionísio (2013) para evidenciar a importância do uso
das múltiplas linguagens no contexto de ensino e aprendizagem e baseamo-nos em Lajolo (2002) e
Santos e Pauluk (2013) e Ferreira e Sanches (2005, 2006, 2008) para tratar, respectivamente, sobre o uso
do texto literário e do componente musical e da pintura como recurso didático nas aulas de ELEA. Por
conseguinte, para alcançarmos o objetivo, sugerimos propostas didáticas para auxiliar o professor em seu
labor.
Os espaços de aprendizagem telecolaborativa surgem a partir dos benefícios das TIC sendo propícios à
emergência de práticas tidas como translíngues, uma vez que permite a formação de grupos de falantes
de línguas distintas com objetivo de aprender uma língua em comum. Nesse contexto online, a língua
transcede os limites geográficos e normativos, tornando-a dinâmica e híbrida à medida em que seus
interlocutores negociam e constroem significados para uma comunicação efetiva. Isto posto, o presente
trabalho busca refletir sobre as interações escritas entre brasileiros e mexicanos, participantes de um
grupo de WhatsApp que foi criado para otimizar a aprendizagem de língua inglesa de seus participantes.
Os registros das três primeiras interações foram analisadas a partir do conceito de translíngua. Além
disso, o trabalho também propõe uma reflexão sobre o papel do professor de inglês nesse contexto de
telecolaboração e de trasnlíngua. Os resultados parciais em relação ao impacto na aprendizagem dos
estudantes envolvidos nessa prática telecolaborativa apontam para uma aprendizagem significativa na
qual o estudante desenvolve maior autoestima e segurança em relação ao seu próprio aprender. Outro
ponto importante é a redefinição do conceito de língua, tanto pelo estudante quanto pelo professo, e as
transformações da prática pedagógica que reposicionam o professor tornando-o mediador do processo de
aprendizagem dos estudantes.
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9
ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
São muitos os desafios enfrentados nos diferentes contextos de ensino e aprendizagem de Língua Inglesa
(doravante LI). No que se refere ao desinteresse e à falta de engajamento dos estudantes às propostas de
ensino dessa língua, reconhecemos que um trabalho por meio do uso das novas tecnologias pode
contribuir para uma mudança no que tange ao engajamento dos estudantes em práticas de uso da
linguagem, tendo em vista a predisposição desses para a realização de atividades que contemplem
recursos tecnológicos. Diante disso, nesta comunicação objetivamos apresentar uma proposta didática
para o ensino de Língua Inglesa por meio da leitura imagética de um curta-metragem, na qual propomos
alternativas que envolvam os novos letramentos digitais e multissemióticos, assim como uma reflexão
sobre os novos produtos culturais de nossa época. Para tanto, ancoramo-nos nas bases teóricas e
metodológicas de Rojo (2009), Rojo e Barbosa (2015), Rojo e Moura (2012, 2013); na teoria
enunciativo-discursiva do Círculo de Bakhtin; no desenvolvimento das capacidades de leitura que
buscam explorar diferentes modos semióticos empregados no discurso, bem como nas funções dos
recursos multimodais na construção dos sentidos no texto, como defendido por Kress (2010). Esperamos
que nossa proposta possa ajudar/inspirar professores de línguas a pensarem em práticas de letramento
favoráveis à formação cidadã de seus estudantes em um mundo globalizado.
Falantes de português brasileiro (PB) aprendizes de inglês (aqui, LI), tendem a não apresentar pronúncia
regular do segmento final ([ɪ]#) em palavras como 'really' e 'study', podendo produzir monossílabos para,
e.g.: 'were' – 'worry' ou 'sit' – 'city'. Foram analisados, no programa PRAAT, três corpora orais, quais
sejam, o SBCAE, de falantes nativos da LI, o LINDSEI-BR, de aprendizes brasileiros de inglês e o C-
ORAL BRASIL, de fala espontânea do PB. No corpus LINDSEI, de aprendizes de nível avançado,
verificou-se influência do contexto fonológico, e.g., 'really' em 'really nice' tem tendência a perder ou
reduzir o [ɪ]# em relação a 'really kind', devido aos pontos de articulação de /l, n/ vs. /l/ e /k/. Houve,
ainda, o uso frequente de ênfases ou hesitações nas palavras com [ɪ]#. Observe-se que, em palavras
análogas do PB, não há distinção fonológica para a duração ou existência do segmento analisado
(variação livre), embora haja, na representação subjacente dos falantes, um /i/ ou /e/ final, e.g.: [ʒẽtɪ]
(gente), [lõʒɪ ] (longe). Os resultados sugerem que deva ser dada especial atenção ao ensino da pronúncia
relativa a contextos contendo palavras ou fronteiras de palavras percebidas, a priori, como iguais às do
PB, sendo esse tipo de (não-) percepção uma possível causa de deficiências em pronúncia de língua
estrangeira. Em relação ao segmento pesquisado, os aprendizes poderiam gravar a própria produção oral,
com palavras com o [ɪ]#, antes e depois de análise de áudios de falantes nativos da LI.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
Esta comunicação tem o propósito de apresentar nosso projeto de pesquisa no Mestrado Profissional de
Letras Estrangeiras Modernas. O estudo visa a contribuir para o ensino de língua inglesa para crianças. O
foco deste projeto é oportunizar ações utilizando canções infantis por meio de recursos tecnológicos.
Pressupomos que seja possível ensinar inglês de forma natural com interações e práticas significativas.
Pretendemos, ainda, analisar como a criança que está habituada ao uso de recursos tecnológicos
internaliza a língua inglesa com apoio desses recursos. Nosso trabalho está baseado em estudos sobre
teoria de aquisição de língua estrangeira (ROD ELLIS, 1994; KRASHEN, 1982); sobre reflexões a
respeito do ensino da língua estrangeira para crianças (COOK, 2000; RINALDI, 2011; TONELLI, 2013;
2015); sobre o uso das TICs (tecnologias de Informação e de Comunicação) no contexto escolar
(LEOPOLDO, 2002; ROBLEDO, SÁENZ, FRANCO, 2015); e sobre o uso da música em sala de aula
(GRIFFE, 1992 apud GOBBI, 2001; FARIA, 2001; ROCHA, 2009; FERREIRA, 2010). Os princípios
metodológicos que nortearão este estudo englobam a abordagem qualitativa por focarmos na
investigação do comportamento humano e seus contextos históricos sociais por meio de documentação
indireta (referências bibliográficas) e direta (pesquisa de campo); nosso campo de pesquisa serão escolas
de cursos livres, nosso contexto de atuação. A partir dos resultados obtidos, pretendemos proporcionar a
prática pedagógica um meio eficaz de se trabalhar a língua inglesa com crianças utilizando as novas
tecnologias.
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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS: PERSPECTIVAS E
POSSIBILIDADES
A relação da língua com a cultura é indissolúvel, sendo uma das formas de representação sociocultural
de um povo. Costumes, tradições, valores e conhecimentos podem ser descritos por meio de uma
pluralidade linguística e cultural, as quais têm como objetivo atender uma determinada necessidade, um
fenômeno específico dentro de uma comunidade, o qual pode ser determinado por fatores geográficos,
históricos e sociais. Trabalhar com aspectos culturais em sala de aula é uma forma de aquisição de uma
segunda cultura, de desenvolvimento e conhecimento intercultural. Rojo (2013) observa que o professor
competente é aquele que vai além das limitações do livro didático, o qual tem caráter genérico e por isso
não pode contemplar todas as especificidades de um determinado contexto. Sendo assim, deve-se
complementar, ajustar e/ou aprofundar determinado conteúdo ou tema abordado no material didático,
assim como apresentar e relacionar assuntos que o manual não contemple, mas que sejam necessários
para o desenvolvimento do conhecimento e da formação intercultural do estudante, de uma forma crítica
e reflexiva. Nesse sentido, será apresentada uma análise de livros didáticos de italiano como língua
estrangeira utilizados para o ensino formal em Cascavel/PR, assim como aspectos socioculturais,
históricos e linguísticos da comunidade. Dessa forma, existe a necessidade de integrar a Linguística
Aplicada à Sociolinguística, a estudos culturais e históricos para que não ocorra um apagamento da
pluralidade linguística e cultural de um grupo em favor da língua padrão, mas sim respeitar a identidade
sociocultural linguística desses italodescendentes na região.
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Página
Simpósio 10: Epistemologia do discurso e analises de discursividades midiáticas e políticas em diferentes materialidades
significantes
A publicidade apresenta ao indivíduo não apenas a oferta de um determinado produto ou serviço, mas a
oportunidade de adesão a um estilo de vida, a um ideal de sujeito e a ocupação de um lugar social. Em
última instância, o imperativo do discurso publicitário possui um caráter pedagógico que visa orientar as
escolhas de vida, acenando com a promessa ilusória, caso sejam seguidas suas proposições, do alcance
de um sentimento de adequação à sociedade e ao mundo contemporâneo e de uma sensação de
completude como sujeito. A psicanálise freudiana considera estes como ideais inalcançáveis, visto que
essa condição de felicidade perpétua intencionada é incompatível com a economia psíquica da vida em
sociedade, bem como da impossibilidade de completude uma vez que o sujeito psíquico é um sujeito em
falta. Desse modo, há uma incompatibilidade nesses dois discursos, na medida em que a publicidade se
utiliza desta condição faltante para mostrar ao sujeito a participação no universo do consumo como ação
capaz de suprimir a falta e interromper o movimento de busca do desejo. Assim, tem-se que o objetivo
deste trabalho é analisar os recursos e estratégias utilizados pelo discurso publicitário e, a partir de um
diálogo com a Psicanálise freudiana, discutir de que forma este discurso se relaciona com a constituição
do sujeito na contemporaneidade em sua relação de desejo e consumo.
Este trabalho tem por objetivo refletir sobre aspectos da inclusão escolar de alunos com necessidades
especiais. Nossa hipótese de pesquisa é que se vivencia, nas escolas de ensino público e regular, uma
exclusão velada, que tem sido designada pelo discurso escolar, institucional e midiático de “inclusão”.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa no viés discursivo, com base no método foucaultiano, constituem
nosso arcabouço teórico conceitos pertinentes da AD de linha francesa. Observamos que, embora leis
tenham sido criadas para assegurar que a inclusão de alunos com necessidades especiais se torne uma
realidade e várias pesquisas venham discutindo a questão, a exclusão continua sendo vivenciada. O que
mudou, ao longo dos anos, é a sua forma, não sua existência, pois hoje não é “politicamente correto” ser
preconceituoso; o controle social determina o que podemos dizer. E isso tem causado um deslocamento
do sujeito, que está no entremeio. Embora resista, esse “lugar” tem prevalecido no presente e gerado
desconforto, pois que o remete, de volta, ao passado. No caso dos sujeitos entrevistados, adotam como
estratégia dizer que não se sentem excluídos no âmbito escolar, embora as marcas em seus dizeres
revelem o contrário, e acabam assujeitando-se para que consigam estar entre os “normais”. E no intuito
de não aceitar a exclusão que, embora velada, lhes é dirigida, preferem utilizar os discursos das leis
relacionadas à inclusão escolar e camuflar sua realidade.
Pretendemos com esta pesquisa relacionar a evasão do ex-aluno do curso de matemática da Universidade
Estadual de Maringá (UEM) e seu trabalho, à luz da teoria de Michel Foucault, utilizando dos
enunciados dos próprios alunos evadidos. Para realizar tal intento iniciamos com um levantamento dos
dados oficiais da UEM acerca da evasão registrada no curso de Matemática entre os anos de 2003 a
2013. Esquadrinhamos um recorte no arquivo que trata o objeto evasão, um estudo de trabalhos
científicos e documentos correlatos. Elaboramos e aplicamos uma entrevista com amostra estratificada
dos acadêmicos evadidos. A materialidade dos enunciados nas entrevistas se associou ao campo das
pesquisas e os discursos que tratam o referencial evasão, para marcamos a posição do sujeito que passou
pelo curso de matemática e não se formou. O objetivo, além da verificação das representações que os
evadidos têm da sua evasão e seu trabalho, é incitar uma discussão crítica acerca das representações do
maior envolvido com a evasão, uma vez que observamos que as representações mostram sua
subjetividade. Pretende-se com essa pesquisa descrever quais são os sujeitos evadidos e que discurso os
insere. Com este estudo pretendemos ainda dar voz aos sujeitos excluídos. Podemos adiantar que
“sujeito evadido” se constitui em seu próprio discurso. Ele é um agente passivo, influenciado, pelas
subjetividades e pelas objetividades do curso, indivíduo resistente ao poder, a ele exercido, capaz de
concluir outros cursos superiores ou mesmo o curso que o evadiu em outra instituição a modalidade,
deixando de ser um dado no papel e sendo um sujeito do discurso.
A Análise do Discurso (AD) de origem francesa, campo multidisciplinar de pesquisa, apresenta-se como
dispositivo de interpretação do uso da linguagem e, também, da realidade em que se vive. Para AD, os
sujeitos são históricos e os sentidos, produzidos socialmente, por isso, cada vez mais, o discurso
midiático tem sido alvo de interesse dos analistas do discurso. Nessa perspectiva, o presente trabalho tem
por objetivo investigar, com base nos pressupostos teórico-metodológicos da AD, duas notícias
veiculadas pelo jornal O Globo, no mês de março de 2016 – ambas destaques nas capas das edições em
que aparecem. As manchetes “Brasil vai às ruas contra Lula e Dilma e a favor de Moro” e “Aliados de
Dilma e Lula fazem manifestação em todos os estados” abordam os protestos contrários e favoráveis ao
atual governo federal, intitulando os textos jornalísticos integrantes do corpus de análise. Por meio deste
estudo, buscamos, mais uma vez, desmistificar a imparcialidade tanto apregoada no universo
jornalístico, corroborando a inexistência de neutralidade durante o processo de produção da notícia. A
linguagem, ideológica por essência e suporte para o discurso, movimenta sentidos, os quais, quase
sempre, não são óbvios.
O discurso político é marcado pela disputa entre o partido de situação e o partido adversário. Esse lugar
discursivo em que a tensão é a mola propulsora de práticas discursivas e sociais possibilita ao analista
interpretar como essas práticas - que ora se reproduzem e ora se transformam - produzem efeitos de
sentido numa determinada situação comunicativa. A partir dos pressupostos teórico-metodológico da
Análise de Discurso de linha francesa, este estudo analisa o funcionamento da dissensão característica do
campo político, baseado na noção de contradição constitutiva dessa vertente teórica. O problema que
norteia a análise é a maneira pela qual o interdiscurso funciona como memória, possibilitando a
circulação de enunciados que podem ser (re)significados através de um jogo parafrástico. Para tanto,
optou-se como material de análise por duas propagandas televisivas, sendo uma do PT e outra do PSDB.
Após o gesto de leitura, percebeu-se que a contradição constitutiva configura-se no ponto de partida das
análises, por supor o duplo, e aponta para a constante relação de forças, reiterando o “primado da
contradição sobre os contrários”, o qual é a base de uma perspectiva materialista de análise de discurso,
sendo possível concluir que a contradição constitutiva é uma categoria ontológica das análises do campo
político pelo viés da AD.
As eleições presidenciais são sempre marcadas por disputas, sejam elas de ideias, propostas ou de qual
candidato ao cargo diz a verdade em seu discurso. No segundo turno das eleições presidenciais de 2014,
no Brasil, foi possível observar uma intensa disputa política, nos mais variados sentidos, entre os
candidatos Dilma Rousseff (DR), candidata à reeleição, e Aécio Neves (AN) como candidato da
oposição. Para que cada candidato possa apresentar sua imagem, um dos meios de maior visibilidade é o
Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), que, transmitido pela televisão e rádio, permite aos
candidatos exporem seus discursos, planos de governo, jingles e slogans. A partir disso, lançamos a esse
material um olhar discursivo, o analisando enquanto arquivo a ser lido, em busca dos funcionamentos
que tornam possíveis o surgimento e a interpretação desse discurso. Dessa forma, questionamos como o
efeito de verdade é construído e sustentado no discurso dos referidos candidatos em circulação nesse
HGPE/TV. Nosso objetivo geral é analisar funcionamentos discursivos que instauram e sustentam
efeitos de verdade nesses discursos. Podemos dizer que, em uma investigação inicial, foi possível
perceber a organização o funcionamento discursivo em torno de eixos temáticos. Um dos
funcionamentos observados se constitui na própria formação discursiva política eleitoral, no qual a
verdade é construída a partir de um funcionamento que estabiliza logicamente a questão da verdade e da
mentira, de modo que se instale no discurso o espaço da verdade para o enunciador e o da mentira para o
candidato da oposição.
Pêcheux (1999) ao desenvolver a teoria da memória discursiva como um componente teórico da Análise
de Discurso (AD) que produz efeitos na/pela materialidade linguística nos direciona a olhar
analiticamente um acontecimento político eleitoral, abrindo possibilidades para se repensar e
desconstruir o conceito de língua imaginária e aparentemente literal (ORLANDI, 2009) que, no jogo da
metáfora, abre-se, na repetição das promessas em tempos de eleições, para possibilidades capazes de
restabelecer implícitos que desvelam, na sua opacidade, efeitos de sentidos que vão além da
apresentação midiática espetacularizada. Nosso objetivo é produzir uma análise das promessas para a
segurança pública durante a propaganda eleitoral dos presidenciáveis Dilma Rousseff, (PT/situação) e
Aécio Neves, do (PSDB/oposição), durante o pleito de 2014, a partir das transcrições de Sequências
Discursivas (SDs) extraídas de um arquivo composto pelo Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral
(HGPE/TV) e pelos debates daquela campanha. Neste percurso analítico os resultados relacionados a um
tema de relevância social, se ampararam em promessas que viriam do endurecimento dos Aparelhos
Repressores do Estado (ALTHUSSER, 2008), pela oposição, quanto pelo investimento na integração dos
setores de segurança, apoiados por um aparato tecnológico, pela situação. Apesar das divergências
políticas entre os candidatos, ambas as propostas necessitam de mudanças em questões relacionadas ao
sujeito jurídico (HAROCHE, 1992) fazendo-se necessário uma alteração da legislação, ou seja, da
Constituição Federal e do Código Penal e de instituições como o Ministério Público, para que tais
promessas sejam cumpridas.
Esse artigo pretende descrever/interpretar o fluxo dos sentidos referente ao adolescente em conflito com
a lei em uma reportagem jornalística transmitida pelo Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Ao
considerar que a questão discursiva que nos orienta é a de como os espaços midiáticos representam
discursivamente o sujeito adolescente que transgride a lei, traçar um gesto de leitura dos sentidos que
circulam e se fazem operantes na reportagem elegida para análise nos auxiliará a observar a rede
discursiva enredada acerca desse sujeito. Alicerçados pela Análise de Discurso de linha francesa, em
especial nos pressupostos de Michel Pêcheux, traremos, em nosso percurso analítico, uma retomada do
histórico que sustenta os dizeres sobre o adolescente, bem como apresentaremos as orientações legais
que demarcam o lugar discursivo do mesmo, a fim de que possamos descrever o processo discursivo
dado na reportagem que analisamos. Os sentidos presentificados no e pelo objeto discursivo em questão
significam e ressignificam o adolescente em conflito com a lei num movimento de ir e vir, cuja
descrição possibilita observar que a representação discursiva feita sobre esse sujeito o coloca num lugar
permeado pela desumanização, pela criminalização e pelo castigo como forma de punição justa e
legítima.
O conceito de ethos discursivo há muito tempo vem trazendo produtivas pesquisas dentro dos domínios
epistemológicos de teorias que lidam com análises discursivas e comunicacionais. É deste espaço de
observação que trabalhos cujo objeto trata mais especificamente da comunicação política que essa noção
adquiriu grande alcance. Em um de seus últimos artigos, Maingueneau (2014) afirma que a concepção
usual de ethos discursivo é insuficiente e que, por isso, ele apresenta reflexões sobre a complexidade das
estratégias que os destinatários devem mobilizar para atribuírem um ethos ao enunciador. Pensando-se
nas reflexões e ampliações que Maingueneau propõe ao fazer um retorno crítico ao conceito de ethos
discursivo, nossa proposta de comunicação tem como objetivo apresentar os deslocamentos
epistemológicos feitos por este estudioso e aplicá-los em outro tipo de corpus, um corpus verbo-visual e
com enunciadores em interação: as entrevistas televisivas feitas com as presidentes sul-americanas.
Nessa empreitada, pretendemos demonstrar gestos interpretativos que evidenciam como o ethos pode ser
construído nos enunciados das questões feitas pelos jornalistas, nos enunciados das respostas dadas por
essas presidentes e nos comentários escritos que os internautas postam no Youtube, ou seja, se antes o
conceito de ethos era considerado apenas como “a imagem de si no discurso”, agora ele também é
pensado como o outro construindo essa imagem. (FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo: Processo 2013/12814-2).
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FÓRMULAS, PEQUENAS FRASES, AFORIZAÇÕES: QUESTÕES TEÓRICO-
ANALÍTICAS
A proposta deste trabalho é analisar a produção de sobreasseverações nas falas dos candidatos à
presidência do Brasil, a partir de um corpus composto por quatro debates televisivos veiculados no
segundo turno das eleições de 2014. Parto do princípio de que os debates políticos são acontecimentos
duplamente orientados pelas mídias e pela política, e que as condições de produções da fala política, que
definem, mais ou menos, suas características e o lugar de circulação do gênero, interferem também nas
produções das falas pretensamente sobreasseveradas. As análises demonstram a recorrência de tentativas
de controle da irradiação da fala política, processos bastante sofisticados e reguladores sobre aquilo que
é dito e sobre a adaptação dos candidatos às cenografias dos debates, capazes de criar, na cenografia
mais fechada do gênero, cenografias periféricas que singularizam os candidatos. As sobreasseverações
classificadas neste trabalho são produtos que advêm da relação de irradiações interna e externa à
enunciação dos debates, processos reveladores de sujeitos que tentam antecipar o destacamento de suas
falas e que reconhecem o alcance daquilo que dizem, a partir da enunciação dos debates. O alcance da
irradiação, a partir do debate como núcleo genérico, parece ser relativamente estável no campo
midiático, embora sempre haja espaço para novas possibilidades, sobretudo por causa dos avanços
tecnológicos, atrelados ao surgimento de novos gêneros ou à adaptação de gêneros já existentes na
conjuntura social.
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FÓRMULAS, PEQUENAS FRASES, AFORIZAÇÕES: QUESTÕES TEÓRICO-
ANALÍTICAS
Com a finalidade de verificarmos como os efeitos de sentido se estabelecem em nossa sociedade, esse
trabalho, sob a perspectiva da Análise do Discurso de orientação francesa, objetiva reconhecer a
notoriedade de certos enunciados apresentados no campo do humor, mais especificamente, por meio do
gênero charge. A fórmula discursiva carrega valores construídos sócio-historicamente e valida os
discursos diante das condições de produção, levando em consideração uma série de aspectos, dentre os
quais é possível citar a formação discursiva (FD) e a formação ideológica (FI). A noção de fórmula
constrói e reconstrói discursos, pois ela designa um conjunto de formulações que se cristalizam em
determinado momento e espaço. Esse caráter cristalizado é possível de ser verificado nas charges que
servem de corpus para esse trabalho. As fórmulas conservam-se na mídia por meio de palavras, pequenas
frases, sintagmas e, no objeto de estudo em questão, temos manifestações imagéticas que tendem a
atestar as construções cristalizadas e que valem de identificação com determinado grupo social. Para esse
estudo, selecionamos como corpus charges referentes à greve dos professores que ocorreu no Estado do
Paraná, em 2015. Por meio do discurso de humor e a partir das percepções discutidas, é admissível
ponderarmos o quanto a ideologia disseminada corrobora não só para a emissão e compreensão dos
sentidos, mas para a própria constituição dos discursos e da ideologia que neles se materializam. Esse
estudo está vinculado ao projeto de pesquisa “PAD – Pesquisas em Análise do Discurso: o processo de
significação em diversos gêneros”, desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina.
Uma das personagens de Luís Fernando Veríssimo é o analista de Bagé. O autor o caracteriza como
“grosso” (indiretamente, porque diz que algumas das pessoas menos grossas que conhece vêm de Bagé).
A grossura do analista é visível em seu comportamento (aplica a terapia do joelhaço, derruba clientes no
pelego, eventualmente “com um peitaço”, “avança” neles, recebe certos clientes “a tapa” etc. Outra
caracterização é menos direta, e decorre de suas falas breves e “definitivas”, versem sobre técnicas
psicanalíticas ou sobre outras questões “da vida”. É em suas inúmeras pequenas frases (comparações,
falas proverbiais ou aforizações) que tal ethos se materializa. As frases são “inspiradas” na cultura
gauchesca, eventualmente estereotipada, embora muitas sejam provavelmente criações do autor.
Algumas sção comparações, como “Mais ortodoxo do que reclame de xarope”, “mais enrolado do que
salame de venda”, “mais eficiente que purgante de maná e japonês na roça” etc. Há outros tipos de
frases, como “história apócrifa é mentira bem educada”, “em mulher e cavalo novo não se mete a
espora”, “carência afetiva é falta de homem”, que soam doutrinárias, sentenciosas, embora lhes falte a
“elevação” típica destes enunciados, em geral apresentados como súmulas da alta sabedoria, não da
popular. Os propósitos do trabalho são três: a) propor que a quantidade de pequenas frases faz com que a
enunciação aforizante de certa maneira predomine (nos textos); b) estabelecer uma espécie de tipologia
das pequenas frases; c) sustentar que tanto a enunciação marcadamente aforizante do analista e o ethos
implicado (que se manifesta também em seu comportamento), compõem um sujeito que se apresenta
como não dividido, ou seja, um Sujeito.
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FÓRMULAS, PEQUENAS FRASES, AFORIZAÇÕES: QUESTÕES TEÓRICO-
ANALÍTICAS
Nesta comunicação, com base na proposta de uma análise discursiva da comunicação, concebida por
Alice Krieg-Planque (2006; 2009 e 2011) e na teoria das frases sem texto, perscrutada por Dominique
Maingueneau (2010; 2011; 2012 e 2014), buscamos compreender o funcionamento discursivo da
comunicação política brasileira. Para tanto, frequentamos um arquivo constituído por um conjunto de
matérias; posts; iconotextos e jingles de campanha, que dizem as eleições presidenciais brasileiras, no
período de abril a outubro de 2014 e que foram dados a circular nos jornais Folha de S. Paulo e Valor
Econômico; na Revista CartaCapital; nos sites e nos facebooks e referem-se aos três principais
candidatos a presidente do Brasil: Dilma Rousseff; Aécio Neves e Marina Silva. Num primeiro
momento, procurando compreender a comunicação política de um ponto de vista discursivo,
mobilizamos bases linguísticas e discursivas, por intermédio das quais são postas à luz a capacidade dos
enunciados de serem destacados e entrarem em circulação nas diferentes plataformas midiáticas eleitas
para a análise. Num segundo momento, após elencarmos as pequenas frases com maior circulação nos
textos e plataformas eleitas, perseguindo seus diferentes percursos de retomada ou transformação,
discorremos sobre as características linguístico-discursivas que favoreceram a retomada, a transformação
e a circulação dessas pequenas frases destacadas em diferentes ambientes. Em conclusão, refletimos
acerca da tensão ideológica, que se estabelece entre os textos outros que circulam no interdiscurso e as
pequenas frases que foram postas em circulação durante as eleições 2014.
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FÓRMULAS, PEQUENAS FRASES, AFORIZAÇÕES: QUESTÕES TEÓRICO-
ANALÍTICAS
O desenvolvimento recente de uma configuração midiática totalmente nova, que associa diretamente a
mídia impressa, o rádio, a televisão, a internet e a telefonia móvel, permitiu aumentar significativamente
o destacamento e a circulação de “pequenas frases” e/ ou “aforizações”. Na tentativa de compreender
esse fenômeno, analisamos um conjunto de enunciados destacados dos discursos do papa Francisco e
dados a circular na mídia. Não se trata de um caso simples de citação, em que os enunciados destacados
são postos a circular em outros textos, demarcados por uma sinalização de distanciamento, mas de um
trabalho hermenêutico do enunciador jornalista. A meta é verificar, em que medida, esse trabalho
interfere na interpretação do acontecimento narrado, fornecendo ao leitor uma espécie de percurso
interpretativo. Mobilizamos, para isso, vários conceitos da Análise do Discurso de orientação francesa,
em especial, os desenvolvidos por Maingueneau (2006; 2010; 2014): destacabilidade, sobreasseveração,
participação e aforização. Aplicados ao corpus, tais conceitos tornam-se bastante operacionais: por um
lado, oferecem o arcabouço teórico-metodológico para descrever e analisar o funcionamento linguístico
e discursivo do nosso objeto, por outro, tornam pertinente a afirmação de que o procedimento de
“destextualização” (MAINGUENEAU, 2014), potencializa a (re)produção e circulação de “simulacros”
sobre o pontífice, na esfera midiática. Nesses simulacros, observamos uma constante tentativa de
aparentar que o papa Francisco é tão inovador e revolucionário que acaba por contrariar a doutrina e a
tradição da Igreja. Tem-se, por consequência, a construção da imagem de um papa heterodoxo.
Esta pesquisa tem por objetivo analisar o funcionamento discursivo da construção de ethé do sujeito que
discursiviza suas práticas pedagógicas a partir do lugar social de tutor virtual, perpassando essa análise
pelo processo de identificação desse sujeito, e a materialização de estereótipos relacionados à docência.
Nosso material de pesquisa constitui-se de 30 entrevistas com tutores virtuais atuantes em cursos EaD,
em diferentes regiões do país. O corpus discursivo foi organizado em sequências discursivas de
regularidades no funcionamento do ethos nesse discurso, o que exigiu um trabalho de relacionar ao
conceitos de ethos (MAINGUENAU, 2008a; 2008b) à questão do estereótipo (AMOSSY, 1997; 2008a;
AMOSSY; PIERROT, 1991), e à memória discursiva (PÊCHEUX, 1995; 1999), partindo do processo de
constituição do sujeito pela ideologia nas modalidades de desdobramento do sujeito discursivo previstas
por PÊCHEUX, (1995). Nosso percurso de análise demonstrou que quando o sujeito tutor virtual
discursiviza sua prática docente reproduzindo o que é próprio da EaD, ele se mostra em processo de
identificação com os saberes inscritos na discursividade da modalidade a distância e as reproduz
construindo pois um ethos de tutor eficiente, de acordo com esses saberes, a partir do necessário
silenciamento do que é próprio ao discurso da modalidade presencial, que só retorna em momentos de
falha nesse ritual. Por outro lado, outros sujeitos tutores se mostraram contraidentificados, questionando
os saberes da EaD de forma a fazer aparecer conflitos com o Outro do discurso da modalidade
presencial.
11
FÓRMULAS, PEQUENAS FRASES, AFORIZAÇÕES: QUESTÕES TEÓRICO-
ANALÍTICAS
85
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No âmbito dos estudos da Fraseologia Especializada, as combinações lexicais podem receber diferentes
denominações, a depender da linha teórica adotada. Em nosso estudo, partimos dos construtos teóricos
acerca de “colocação” para estudarmos as coocorrências lexicais de um domínio de especialidade as
quais chamamos de colocações especializadas (ORENHA-OTTAIANO, 2004; 2009). Por sua vez, em
Terminologia, o termo, entendido por nós como “uma unidade lexical com um conteúdo específico
dentro de um domínio especializado” (BARROS, 2004, p. 40), pode se formar por apenas uma palavra
(ou lexema), o qual se denomina termo simples; ou por dois ou mais lexemas, aos quais se podem
acrescentar outros elementos e cuja denominação é termo complexo (BARROS, 2004). Considerando
que tanto a Terminologia quanto a Fraseologia Especializada estudam as combinações lexicais
veiculadas na comunicação especializada à luz de pressupostos teórico-metodológicos distintos,
objetivamos, nesta exposição, discutir as diferenças classificatórias que subjazem à estrutura
morfossintática e lexicossemântica dos termos complexos e das colocações especializadas
especificamente da área jurídica a partir de um corpus textual formado por transcrições de cerca de 350
certidões de casamento civil brasileiras. Quanto à metodologia de nossa investigação, apoiamo-nos na
Linguística de Corpus como auxílio à análise e à delimitação das combinações lexicais presentes em
nosso corpus de estudo. Nesta exposição, apresentaremos os casos de coincidência e de não coincidência
classificatórias que encontramos em nosso estudo a fim de discutirmos a linha tênue que diferencia as
86
O presente estudo busca demonstrar os louvores referidos à Nossa Senhora do Rosário durante as suas
festividades, que acontecem no mês de outubro na cidade Catalão-GO, como uma grande manifestação
de cultura popular. A festa é dividida em duas partes, a religiosa e a folclórica, nas quais os
dançadores/devotos e a população que dela participa propagam sua devoção à Santa do Rosário, expondo
uma relação de interdependência entre a tradição (o sagrado) e o espetáculo (o profano), embasados
assim nos estudos de Brandão (1985). Ressaltamos que tanto a tradição (rituais sacros) quanto a
espetacularização (rituais profanos) são recorrentes no festejo, pois os símbolos como a imagem de
Nossa Senhora e a Cora saem do âmbito do sagrado e são levados para rua, lugar considerado profano, e
lugar por excelência dos espetáculos que a Congada faz durante a festa, mesmo sendo a rua o local onde
são feitos os cortejos e procissões que fazem parte do sagrado da festa. Neste sentido, a rua é o espaço
pleno das interfaces da tradição e do espetáculo e a Igreja como um espaço secundário desta relação, já
que é o locus máximo para o sagrado. Buscaremos, por meio de algumas cantigas, demonstrar os
louvores dos dançadores à sua padroeira e ao mesmo tempo a “profanação” durante os cortejos, valendo-
se dos estudos lexicográficos, construindo assim um pequeno vocabulário. Para tanto, buscaremos
respaldo nos estudos de Coelho (2008) acerca do vocabulário, sendo algo sucinto e os estudos de
Biderman (2001), Borba (2006), Zavaglia (2012), dentre outros estudiosos, que traz seus estudos sobre o
léxico, sendo ele o tesouro cultural de uma certa sociedade.
Pretende-se, neste trabalho, discorrer sobre algumas questões culturais intimamente relacionadas à
criação metafórica e fraseológica no Brasil referentes ao âmbito do futebol e, mais especificamente, ao
papel central desempenhado pela bola. Desta maneira, retoma-se o pensamento de Lakoff y Johnson
(1980) na tentativa de demonstrar que muitos processos cognitivos que envolvem transferências de
sentido valem-se de categorias de níveis básicos, aspectos visíveis que dão suporte ao pensamento
conotado, o que de certa forma indica uma delimitação mental e, por conseguinte, cultural. É o que
acontece com os fraseologismos estar com a bola toda, ser a bola da vez, pisar na bola, dar uma bola
fora, dar uma bola dentro, dar bola (para alguém ou alguma coisa), bola pra frente, abaixar a bola (de
alguém), levantar a bola (de alguém), estar com a bola murcha, estar com a bola toda, não bater bem das
bolas, entre alguns outros. Para esta análise, foram utilizados os construtos teóricos da metáfora
conceptual, principalmente por meio dos trabalhos de Kövecses (2010), Lakoff e Johnson (1980) e
Sardinha (2007), e também a Teoria dos Espaços e Redes Mentais desenvolvida principalmente por
Fauconnier (1985, 1997), Fauconnier e Turner (1998, 2002). Segundo este último modelo, a cognição
humana deve seu ecletismo aos espaços mentais, assim não é preciso um modelo pré-concebido para
toda codificação metafórica e fraseológica, mas sim, uma rede interconectada capaz de buscar em
diversos espaços mentais componentes básicos que juntos levam à compreensão, a um novo espaço
chamado blend.
O mínimo paremiológico pode ser definido como “o número de parêmias que faz parte da competência
linguística passiva e ativa do falante nativo” (Tarnovska 2005: 199). Conforme assinala Sevilla Muñoz
(1999: 104), parêmia é “toda unidade funcional memorizada em competência e que se caracteriza por ser
uma unidade fechada, fixa, breve, sentenciosa e antiga”. Depois de ter finalizado o Mínimo
Paremiológico do Português Europeu (Portugal continental e insular), que será publicado pelo Instituto
Cervantes no site do Centro Virtual Cervantes, o projeto tem continuidade com a elaboração do “Mínimo
Paremiológico Português do Brasil”, um projeto em andamento e bastante avançado onde se recolhem
aquelas unidades paremiológicas — ditados, provérbios e expressões proverbiais — que os falantes
reconhecem e utilizam no seu cotidiano. A partir dos dados coletados no Mínimo Paremiológico do
Português (europeu e brasileiro), nesta comunicação analisarei do ponto de vista contrastivo algumas
parêmias de Portugal e do Brasil assinalando não apenas diferenças formais (p. ex. Mais vale um pássaro
na mão que dois a voar / Mais vale um pássaro na mão que dois voando), mas incidindo especialmente
naqueles provérbios que são específicos de cada variedade (Gaba-te cesto que vais à vindima / A
rapadura é doce, mas não é mole não).
Nelson Rodrigues é considerado o renovador da linguagem teatral brasileira. Sua experiência como
jornalista, cronista e repórter policial é avaliada, tanto por críticos quanto por estudiosos de sua obra,
como fator de influência para a singularidade dos diálogos de seus personagens. Em A falecida, seu
oitavo texto dramático, escrito e encenado no ano de 1953, o autor avança em sua pesquisa dramatúrgica
e, de forma pioneira, introduz a fala coloquial, o diálogo rápido da língua cotidiana e o uso abundante da
gíria. Com base em ensinamentos de Magaldi (1997, 2010), Faria (2013), Koch e Elias (2010), Lopes
(2007), Marcuschi (2008), Preti (2004, 2006), Tarallo (1999), Prado (2001), dentre outros, neste
trabalho, serão analisados os aspectos citados, e, também, como esses recursos ampliam os sentidos do
texto, a partir da investigação das falas dos personagens protagonistas, Zulmira e Tuninho, uma vez que
têm mais espaço de ação e, consequentemente, mais diálogos com todos os outros personagens e que, de
certo modo, espelham em seus diálogos as falas dos demais com os quais contracenam. Contribuindo,
assim, este estudo, para a dramaturgia brasileira, processo criativo, argumentação e linguagem, além de
estudos fraseológicos e linguísticos-culturais.
Eves (2004, p. 25), afirma que “a espécie humana, mesmo nas épocas mais primitivas, tinha algum senso
numérico”, o que é natural, pois a existência de “uma linguagem para relacionar forma e quantidade e
suas várias inter-relações” se configura como uma necessidade (GUNDLACH, 1992, p.1). Considerando
que os números estão amplamente presentes em nosso cotidiano, na linguagem formal, com exatidão e
precisão, mas também na linguagem informal, por meio de representações simbólicas, esta comunicação
tem como objetivo: 1) apresentar uma amostra de unidades fraseológicas (UFs) que contenham números
no português do Brasil (PB) e no francês da França (FF); 2) tentar apontar quais são os números de
preferência de cada língua na composição das UFs; 3) discutir como ocorre a equivalência dessas UFs no
par de línguas estudado. Questionamos se as UFs com números (locuções, expressões idiomáticas e
provérbios, por exemplo) também denotam os hábitos culturais de um povo. Entendemos que “as
unidades fraseológicas são o objeto de estudo da fraseologia, que são unidades léxicas formadas por
mais de duas palavras gráficas (...)” (CORPAS PASTOR 1996, p. 20), a que Zuluaga (1980, p.16),
chama de também de expressões fixas, definindo-as como “construções linguísticas formadas por
combinação fixa de duas ou mais palavras”. Pela proximidade cultural e origem no latim de ambas
variantes linguísticas, provavelmente haverá muitas semelhanças, como em: “dois pesos e duas medidas”
(deux poids et deux mesures); “faca de dois gumes” (couteau à double tranchant); “em duas (uma)
palavra” (en deux (un, trois, quatre) mots); mas há também diferenças como em: “ir às mil maravilhas”
(baigner dans l’huile).
As expressões idiomáticas (EIs) estão entre as lexias complexas mais expressivas utilizadas na
linguagem por qualquer falante de uma comunidade linguística. Essas expressões são constituídas por
imagens do mundo real, imagens estas que têm o papel de criar pontes conceituais entre essas estruturas
léxicas e seus reais significados. Dessa forma, cada povo utiliza seu repertório de imagens para produzir
e manifestar uma estrutura lexical (DOBROVOL’SKIJ; PIIRAINEN, 2005) e, por conseguinte, cada
língua terá seu repertório próprio de idiomatismos, com traços específicos e intrínsecos a sua cultura.
Esses traços, no entanto, podem ser compartilhados entre duas ou mais culturas e assim, podem ser
observadas correspondências entre línguas que compartilham imagens da mesma motivação cultural. É o
que ocorre com “vermelho como um pimentão” e “rouge comme un poivron”, expressões
correspondentes entre o português do Brasil e francês da França, que, sendo de matriz comparativa,
contemplam o mesmo alimento. Nesta comunicação abordaremos a questão da
correspondência/equivalência no sistema e no discurso com relação a essas duas EIs, pois a expressão
com mesma estrutura léxico-sintática se mantém, a motivação é a mesma, mas elas sempre vão ter exata
correspondência no discurso?
Nas escolas brasileiras, não é incomum identificarmos um trabalho pedagógico de ensino de língua
pautado quase que exclusivamente em métodos e recursos tecnológicos tradicionais – principalmente o
livro didático – contemplando um modelo de letramento que Street (1995) chamou de autônomo. Nesse
modelo, desconsidera-se as práticas sociais, priorizando o conteúdo técnico como um produto completo
por si só. No Ensino de Jovens e Adultos, isso cria um problema redimensionado, por se tratar de um
público bastante diferenciado. A prática pedagógica no EJA exige mais criatividade do professor, já que
ele compete com fatores que agravam o desinteresse do aluno pelo estudo. Assim, as aulas de língua
portuguesa que tomam os gêneros discursivos e as novas tecnologias como instrumentos para o ensino
no EJA devem tentar atingir certo nível de flexibilidade que permita atender a essas demandas
diferenciadas. Neste trabalho, consideramos o fator “chamar a atenção” como um dos principais motivos
para a criação de uma mediação pedagógica que coloque o aluno como protagonista de sua linguagem.
Para oferecer ao aluno um estudo do objeto direto e possibilidades expressivas de uso dessa categoria,
foi selecionado o gênero humorístico “stand-up” por considerá-lo atrativo e provocador a alunos de uma
faixa etária mais avançada, que nos permite, por isso, trabalhar em sala de aula com temas mais
amadurecidos, ainda que emanados de vídeos cômicos disponibilizados na internet. A ideia é fazer com
que as peças exibidas motivem não só a participação oral do aluno, mas também a produção de textos
escritos mais e menos monitorados a partir da aplicação de etapas projetadas pela abordagem
colaborativa.
O presente artigo, volta seu olhar para o desenvolvimento das diferentes capacidades e competências
leitoras, a partir do gênero digital e-mail, buscando uma concreta inclusão de alunos da Educação de
Jovens e Adultos, doravante EJA, nas práticas sociais intermediadas pela rede digital. Nesse sentido, por
meio do estudo das especificidades linguísticas, enunciativas e discursivas do e-mail, objetiva-se ampliar
as experiências com as diferentes funções sócio-comunicativas que o gênero oferece. Sob tal enfoque,
esta pesquisa enfatiza um trabalho efetivo com o gênero da esfera digital e-mail, visando o
desenvolvimento do letramento digital de alunos com pouco ou nenhum contato com computadores.
Para transposição didática do gênero busca-se aporte teórico em Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p.
95), por meio da Sequência Didática, cujo objetivo é o de permitir que o aluno domine melhor um
determinado gênero, possibilitando a adequação da sua escrita ou fala a cada situação de comunicação
que participar.
Na nova era tecnológica, aprender a lidar com o meio e usar as novas tecnologias em sala de aula, faz-se
essencial na formação de alunos e professores. O pensamento tecnológico e criativo precisa ser
examinado para que assim se formem alunos preparados para lidar com essa realidade, ou seja,
desenvolver o pensar abstrato, lógico, criativo e interpretativo. O trabalho de exploração da criatividade,
da interpretação e do raciocínio são requisitos fundamentais para a formação de alunos/cidadãos que irão
se deparar com esse ambiente na vida adulta e no mercado de trabalho. Nesses limites, elaborou-se, em
Mestrado Profissional, um projeto de construção do Livro “Averbações Literárias Criativas”, visando
investigar o pensamento abstrato do aluno, bem como o trabalho com a criatividade e interpretação na
liberdade de construir o seu próprio livro, analisando ainda como o pensamento tecnológico pode ser
explorado e inserido no meio escolar no contexto de produção de determinados gêneros de discurso. Para
tanto, a pesquisa-ação está sendo desenvolvida em um colégio privado com alunos de uma turma de
segundo ano do Ensino Médio. Dados da testagem preliminar com a carta pessoal revelaram resultados
satisfatórios nos quesitos humanização e desenvolvimento de pensamentos/ações criativo-interpretativas
no processo de construção do livro, provando que tal atividade contribui para gerar cidadãos engajados
no novo contexto de mercado de trabalho, que requer pessoas autônomas com pensamentos reflexivos,
abstratos e lógicos.
A alfabetização é um período de muita importância para a formação das crianças, pois, nesta etapa, para
a maioria delas, ocorre um encantamento com a possibilidade do conhecimento, por meio das letras,
palavras e histórias de um outro mundo, o da escrita. E, como as Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs) estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas e também no contexto
escolar, entendemos que as TICs podem contribuir favoravelmente com o processo de alfabetização, pois
possibilita o acesso a inúmeras propostas de leitura e escrita para a aquisição do código escrito.
Considerando tais pressupostos, objetivamos apresentar uma reflexão teórica sobre a alfabetização na
perspectiva do letramento, destacando a necessidade de se trabalhar com os multiletramentos. Nessa
perspectiva, recorremos teoricamente a autores como Bakhtin (2003), Rojo (2009, 2012), Soares (2000),
Lemke (2010) e Kleiman (2006) para fundamentar nossas reflexões. Assim, faz parte desse artigo uma
proposta de trabalho com o gênero discursivo lista de compras para uma turma de 2º ano do Ensino
Fundamental com atividades de leitura e escrita em que ocorre o uso das TICs. Como resultado,
esperamos que as TICs possam contribuir nesse processo para que o aluno se aproprie da leitura e
escrita, finalidade básica da alfabetização.
Este artigo propõe uma reflexão acerca da inserção de textos do gênero discursivo charge no trabalho
pedagógico com a alfabetização. Para tanto, amparamo-nos em Bakhtin (2003) para a discussão dos
chamados gêneros do discurso e em Romualdo (2000), Flôres (2002) e Teixeira (2005) como subsídio
para a discussão das concepções de charge. A charge é compreendida como texto verbo-visual que
expressa uma opinião sobre acontecimentos atuais, geralmente da esfera política, ela circula socialmente
em jornais impressos e em ambientes digitais. Consideramos o texto chargístico como possibilidade de
recurso pedagógico na alfabetização. A partir de uma charge, que retrata a dengue, selecionada de um
ambiente digital, abordam-se algumas especificidades em relação à didatização do gênero. Discutimos a
charge com ênfase na mediação pedagógica a ser realizada pelo professor, pois o leitor da charge precisa
compreender as entrelinhas do discurso posto na charge, refletindo sobre as relações sociais, uma vez
que a charge é a expressão de um fato atual. Em síntese, compreende-se o texto verbo-visual charge
carregado de possibilidades de leitura, e sua exploração com os alfabetizandos revela-se como
importante instrumento de compreensão das tramas sociais.
O braile, enquanto sistema utilizado no processo de ensino-aprendizagem de pessoas cegas, é uma forma
de integrá-las à sociedade, pois se trata de uma ferramenta que as conecta ao universo da informação e
do conhecimento. Entretanto, com o advento da era digital e de seus modernos meios, abrem-se novas
possibilidades de inclusão. A utilização de computadores e de tablets por deficientes visuais acontece por
meio de ferramentas e softwares específicos, cujo uso tem gerado discussões acerca de uma suposta
“desbrailização”. Esta comunicação visa a discutir a respeito do braile e das chamadas novas tecnologias
enquanto ferramentas para o ensino e, notadamente, para as atividades de leitura e de escrita, e almeja
vislumbrar uma resposta à questão que a intitula. De um lado, um código pensado há quase 200 anos,
que se prestou ao tato e permitiu que os cegos não tivessem de criar individualmente suas próprias
soluções para ler e escrever; de outro, tecnologias modernas, que permitem a transição da mídia impressa
para a hipermídia, na qual predomina a ampliação da utilização dos sentidos para uma nova forma de
organização da informação. As bases teóricas para as discussões aqui levantadas são pesquisas que
tratam das potencialidades do braile e das novas tecnologias e problematizam-nas no que se refere à
inclusão de alunos cegos no âmbito escolar e acadêmico. De antemão, é importante salientar que o
desenvolvimento tecnológico é um grande aliado de pessoas com necessidades educacionais especiais no
que concerne a sua autonomia e ao próprio processo de inclusão, contudo isso não exclui as faculdades
do braile, fundamentais à emancipação desses indivíduos.
O objetivo da pesquisa é desenvolver um modelo teórico do gênero Mangá para as aulas de Língua
Portuguesa destinadas ao Ensino Fundamental II, tendo como foco a apreensão dos processos de ensino-
aprendizagem de leitura e produção de textos a partir de uma pedagogia de multiletramento que
privilegie experiências de linguagem de forma significativa em ambientes do ciberespaço. Como objeto
de estudo utilizamos a versão online do Mangá One Piece (Volume 01), distribuído no Brasil pela
Editora Conrad, reedição de 2003, considerando a necessidade do fomento de ações didático-
pedagógicas que possam contribuir para o estudo escolar de gêneros multimodais, ou seja, aqueles que
relacionam em sua estrutura a linguagem verbal e a não verbal (gestual, sonora, visual etc), bem como
potencializar ações de ensino-aprendizagem voltadas a contemplar o ambiente virtual para uma prática
de multiletramento social. Primeiramente, buscamos tecer reflexões sobre as semelhanças e diferenças
dos Mangás com as HQs ocidentais. Em sequência, demonstramos os aspectos composicionais e
estruturais dessa narrativa híbrida, evidenciando que na sua forma comunicacional perpassam as formas
ideológicas e históricas aceitas na sociedade capitalista. Posteriormente, realizamos considerações a
respeito dos modos semióticos que norteiam a linguagem icônico-verbal dessa narrativa em relação
direta com a construção dos efeitos de sentido sustentados por esse Mangá. Salientamos que utilizamos
como ferramenta didática pedagógica os sites - Máquina de quadrinhos, ToonDoo, Make beliliefs comics
em suas versões gratuitas para que os alunos pudessem desenvolver suas próprias narrativas em formato
Mangá.
Com o presente estudo, objetivamos contribuir para a análise de material apostilado de língua
portuguesa, motivados pela necessidade de aprimorar o contexto do ensino com gêneros digitais. Logo, o
objetivo geral é analisar as aulas que apresentam estes gêneros como objetos de ensino para alunos de 1º
ano do Ensino Médio. Os objetivos específicos são: I) verificar quais gêneros digitais essas aulas
abordam; II) compreender o plano global das aulas que apresentam os gêneros digitais como objetos de
ensino; III) analisar as atividades das aulas que têm os gêneros digitais como objetos de ensino por meio
das capacidades de linguagem. Na investigação utilizamos a abordagem qualitativa, quantitativa e a
pesquisa de caráter documental. Entendemos a importância dessa análise para termos uma visão precisa
sobre a configuração apresentada e a forma como são distribuídas as tarefas e textos que versam sobre os
gêneros digitais. O arcabouço teórico-metodológico do interacionismo sociodiscursivo com o conceito
de gêneros textuais (BRONCKART, 2012; SCHNEUWLY, 2004), as noções de capacidades de
linguagem, macroestrutura (DOLZ; SCHNEUWLY, 2004; DOLZ; TOULOU, 2008), bem como as
noções de gêneros digitais (XAVIER, 2005; MARCUSCHI, 2008) e material apostilado (PIERONI,
1998; BUNZEN, 2001; AMORIM, 2008; SILVA, 2008) ancoram a pesquisa. Os resultados apontam que
o material apostilado em análise não contempla de modo satisfatório os gêneros digitais. Diante disso,
acreditamos que a apostila utilizada por alunos do 1º ano do Ensino Médio precisa de reformulações para
um trabalho adequado em relação os gêneros digitais.
As crescentes mudanças nas sociedades contemporâneas, não apenas em relação às práticas sociais e às
novas formas de interação, mas também em relação aos processos educacionais de ensino e
aprendizagem, sobretudo no que se refere ao surgimento das epistemologias digitais (LANKSHEAR;
KNOBEL, 2003), tornam fundamental a reflexão contínua acerca das práticas realizadas na escola. O
objetivo desta comunicação é apresentar o desenvolvimento de uma proposta didática que abordou o uso
das tecnologias digitais aplicadas à construção de narrativas multimodais para o ensino e aprendizagem
da língua inglesa no Ensino Médio, em uma escola técnica federal. A ideia da proposta foi abordar
diversas formas de narrativas, as quais estão imersas na cibercultura, e que se utilizam de diferentes tipos
de modos semióticos, explorando o potencial de criação e a criatividade dos alunos para o aprendizado
da língua inglesa. O aporte teórico baseia-se em uma breve revisão da literatura acerca dos conceitos de
multimodalidade, epistemologias digitais, cibercultura e ensino e aprendizagem no século XXI, desde
Kress (2003), Lankshear e Knobel (2003; 2103) e Levy (2004), até estudos recentemente publicados
como Benade (2015), Gibbons (2015) e Floridi (2015). Serão apresentadas a descrição dos passos para o
desenvolvimento da proposta, a análise dos dados coletados e algumas considerações acerca dos
resultados obtidos.
As novas tecnologias não só causaram modificações nas formas de interação dos sujeitos na sociedade
em geral, como também passaram a ser incorporadas em atividades escolares nos diversos níveis. Assim,
propostas de trabalhos utilizando a internet, computadores pessoais e os smartphones têm sido cada vez
mais frequentes. No entanto, a nosso ver, o uso de tais novidades na sala de aula requer que o professor
compreenda as possibilidades que aquela tecnologia oferece, para que a atividade sugerida possa ir além
do diferente, marcando-se como realmente construtora de conhecimento. Partindo dessa hipótese,
objetivamos analisar as interações feitas pelo professor em uma proposta avaliativa desenvolvida no
aplicativo WhatsApp com graduandos do segundo ano de um curso de Letras. Procuramos mostrar o(s)
papel(éis) que o professor desempenha e como o(s) faz, considerando que o aplicativo se caracteriza por
facultar aos seus usuários a troca mensagens escritas, de áudio, de vídeo e imagens pelos celulares e que
a atividade valia nota para os alunos, o que deveria restringir ou promover determinadas atitudes do
professor. Por fim, pelas análises das interações, pretendemos mostrar ainda se o professor pode ser
considerado mediador nessa atividade, lembrando que para esse papel específico devemos observar se
ele: i) utilizou o que estava ao seu alcance para explicar da melhor maneira possível (intencionalidade);
ii) promoveu a compreensão dos conceitos de forma que pudessem ser utilizados em outras situações e
contextos (transcendência); e iii) contribuiu para que conceitos aprendidos pudessem ser relacionados a
outros já assimilados pelos alunos (mediação do significado).
O presente estudo apresenta uma análise dialógica do fórum de discussão intitulado “adaptações
cinematográficas”, inserido no Portal Educacional do estado do Paraná – Dia a dia Educação. Buscou-se
compreender os eventos de letramento constitutivos da interação sociodiscursiva do referido fórum. Para
tanto, foram selecionados 10 (dez) enunciados materializados no fórum do Portal, no ano de 2013. Sob
esse prisma, o presente trabalho baseia-se nos Novos Estudos do Letramento de Barton, Lee, 2015;
Barton, Hamilton, 1998; Street, 1995; Street, 1995; 2003 e na concepção dialógica de linguagem do
Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 2015; VOLOCHÍNOV, 2013). A pesquisa buscou descrever/analisar os
eventos de letramento que se dão nesta situação de interação gerada a partir de um hibridismo da esfera
governamental e esfera escolar. Além disso, são problematizadas essas implicações nos modos de
construção do conhecimento pelo professor em uma situação de formação continuada. No contexto dessa
formação há uma participação mais conteudista que dialogal dos sujeitos envolvidos, e uma valorização
mais proeminente dos materiais disponibilizados do que os posicionamentos dos professores frente ao
tema proposto.
As novas tecnologias estão presentes nas mais diversas áreas da sociedade, fazem parte de nossas vidas
desde os aspectos mais prosaicos e corriqueiros, como programar um despertador ou chamar um taxi, até
aquelas atividades que envolvem a economia de países com operações internacionais em bolsas de
valores, por exemplo. Vivemos em uma sociedade em que a busca por melhorias é incessante, a
frequência de oferta de inovações é tão alta que faz com que nos sintamos sempre em defasagem,
eternamente a um passo atrás do que pode ser a solução perfeita para nossos problemas. Esta ansiedade
na busca por soluções e a crença de que as novas tecnologias digitais são o caminho para um mundo
melhor levou a um novo entendimento sobre a educação. Para além da necessidade de adequar os
processos de ensino-aprendizagem à realidade atual e ao contexto tecnológico em que nos encontramos,
há uma tendência a incorporar ferramentas e recursos digitais aos processos educacionais sem que se
reflexione sobre sua aparente neutralidade, relevância, aplicabilidade e objetivo. O objetivo desse
trabalho é investigar o nível de letramento digital dos agentes envolvidos na elaboração de materiais
didáticos, em especial aqueles desenvolvidos para os meios digitais, propondo uma reflexão sobre as
diferenças existentes entre os processos de ensino-aprendizagem praticados até então e os que a nova
sociedade digital cobra. Para esse propósito, analiso os resultados de uma pesquisa aplicada entre
autores, editores e desenvolvedores de material didático digital, fundamentando minha análise no
entendimento de gênero do Círculo de Bakhtin, bem como nas reflexões sobre tecnologia e letramento
de diversos autores.
A seguinte análise tem como objetivo apontar a sedimentação, segundo o conceito de paráfrase Pêcheux
(1995) que circula no discurso de documentos oficiais - Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
Médio - e Sistemas de Gerenciamento de Aprendizagem (SGA), sobre o que é ser professor no século
XXI. Esses sistemas surgem da necessidade de um ambiente no ciberespaço que seja projetado para
funções acadêmicas e não apenas adaptações de mídias sociais como Facebook e Twitter. Por meio de
Sequências Discursivas (SD) pretendemos apontar o paradoxo entre a emergência do uso de Tecnologias
Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) em sala de aula e a imagem social que se constituiu do
docente missionário no século XVI e que se propaga até hoje. Recorreremos aos estudos de Dominique
Julia (2001) sobre o séc. XVI para entender a origem de corpos especializados em educação e assim
pontuar um possível início da criação da imagem social da Escola enquanto instituição que regulariza o
ensino e como ela influencia a imagem docente. Entenderemos que esse processo de sedimentação ecoa
até hoje no que compreendemos por essas instituições e por consequência o que a memória histórica
define como imagem social do professor. Ao refletir sobre esse paradoxo entre retrocesso e inovação,
propomos um questionamento sobre o sentido de pertencimento a uma classe que é interpelada por
diversos discursos antagônicos e como os deslizes metafóricos poderão modificar o mecanismo
imaginário que afeta diretamente o processo de identificação que responderia a questão: o que é ser
professor no séc. XXI?
Na contemporaneidade, a novas mídias sociais digitais têm sido um importante espaço interacional de
produção e circulação de discursos. Nesse contexto discursivo-axiológico produtivo e instigante para os
estudos da linguagem, em que se desvelam novas formas de construção identitárias, este estudo analisa
comentários on-line, produzidos em uma rede social com vistas a observar novas discursividades e/ou a
manutenção de discursos já-ditos, nesse espaço interlocutivo, acerca da identidade docente. Para tanto,
os dados da pesquisa são compostos por 32 (trinta e dois) enunciados do gênero comentário on-line,
postados no grupo “Professores do Paraná”, inserido na rede social Facebook. A análise teve como base
teórico-metodológica a concepção dialógica de linguagem dos escritos do Círculo de Bakhtin
(BAKHTIN, 2010, 2015; VOLOCHÍNOV, 2013); os estudos sobre identidade e identidade docente
(KLEIMAN, 2006; 2014; GEE, 2000) e pesquisas sobre redes e comunidade virtuais (RECUERO,
2014). Os resultados apontam para uma discursividade, historicamente construída, que toma a identidade
do professor de modo depreciativo no que respeita à sua formação teórica e profissional. Há uma
tendência dos participantes (professores) do grupo aceitarem/acolherem a identidade que lhe é imposta
socialmente. No entanto, foram observadas vozes dissonantes que fazem emergir discursos de
(re)existência ao propor um outro modo de discursivizar a identidade do professor.
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IDENTIDADES SOCIAIS, FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO-APRENDIZAGEM
SOB A LUPA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
Simpósio 14: Identidades sociais, formação docente e ensino-aprendizagem sob a lupa da análise crítica do discurso
Este artigo tem como interesse elucidar o posicionamento ideológico da presidenta Dilma Rousseff a
respeito da representação social de gênero feminino e as formas/modos de atuação da linguagem frente à
construção discursiva da presidente e suas distintas identificações (mãe, trabalhadora, governante). Para
esta análise, escolheu-se, portanto, um pronunciamento feito pela presidenta em comemoração ao dia
internacional da mulher, em março de 2013, tendo como suporte o texto reproduzido na íntegra de seu
pronunciamento feito em rede nacional de televisão. Esse estudo toma como método a Análise Crítica do
Discurso (ACD) para a interpretação do discurso, situando-se entre a linguística e a Ciência Social
Crítica. Busca-se identificar a forma como ela se identifica como presidente e mulher e de que maneira
essa identificação tem contribuído para o fortalecimento ou não da identidade de gênero. Como toda
prática linguístico-discursiva precisa conhecer os aspectos histórico-sociais envolvidos, fez-se necessário
um breve estudo acerca da história da atuação política feminina em nosso país.
O PODER NOS DISCURSOS DAS INSTITUIÇÕES CAU E ABD: UMA BREVE ANÁLISE
Considerando a atual luta da classe profissional dos designers de interiores para alcançar seu
reconhecimento perante a sociedade brasileira e, a não aceitação deste reconhecimento por outros
profissionais envolvidos nesta mesma área de atuação, os arquitetos e urbanistas, o presente artigo pode
observar como funciona e, como está presente no discurso as características apontadas como relevantes à
teoria da Análise do Discurso apresentada pelo pesquisador Teun Van Dijk em sua obra Discurso e
Poder do ano de dois mil e oito (2008). O objetivo do artigo foi encontrar e buscar compreender nos
textos as características sobre o conceito de poder abordadas no tópico da obra intitulado “Análise do
Poder”, e a partir delas observar seu funcionamento. É importante informar que entre as instituições
estudadas existe uma diferença de atuação, tendo em vista que, uma delas é um órgão de regulamentação
efetivo perante a Lei, e o outro é um órgão de reunião de profissionais em busca de fortalecimento,
efetivo perante a Lei, no entanto, possuindo atividades restritas. Tornando o estudo ainda mais
incrustrado dentre as possibilidades de desequilíbrio de poder como salienta os estudos críticos do
discurso de Van Dijk. Enfim, o presente artigo verifica como estes elementos do poder podem ser
encontrados a partir do discurso oficial de ambas instituições profissionais, o CAU-Conselho de
Arquitetura e Urbanismo e a ABD-Associação Brasileira de Design de Interiores, revelando o abuso de
poder por parte do Cau e o contrapoder exercido pela ABD.
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IDENTIDADES SOCIAIS, FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO-APRENDIZAGEM
SOB A LUPA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
Palavras-chave: Proposta Didática, Ensino de Língua Inglesa Crítico, Análise de Discurso Crítica
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IDENTIDADES SOCIAIS, FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO-APRENDIZAGEM
SOB A LUPA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
Este estudo visa apresentar uma análise crítica do discurso sob a perspectiva da linguística sistêmico
funcional e a intencionalidade comunicativa de uma propaganda da empresa Hortifruti. baseando-se no
tema da campanha “Pense fora da caixinha”. Pretende-se mostrar como as pessoas são influenciadas por
uma anúncio, sendo ele apresentado por meio de palavras, imagens e símbolos. Nesse sentido, optou-se
por analisar as condições de produção, o funcionamento discursivo, percebendo as várias vozes que
constituem o discurso publicitário de uma propaganda/contrapropaganda da empresa, que é uma rede
varejista de hortifrutigranjeiros do Brasil. A análise abordará também como o uso da linguagem é visto
como prática social, simultaneamente constituído de: Identidades Sociais; Relações Sociais; Sistema de
Conhecimento e Crença de acordo com as acepções da ACD e LSF. Para tanto, será subsidiada pelos
pressupostos teóricos de alguns filósofos e pesquisadores conhecidos no mundo da Linguística Aplicada
e da ACD, tais como, Mikhail Bakhtin, Fairclough e Halliday entre outros.
A partir de 2010, principalmente após o terremoto que abalou profundamente o Haiti provocando
emigração expressiva de sua população, o Brasil se tornou, para grande parte desse grupo, o destino para
a busca de uma vida melhor. Todavia, esse fluxo migratório, que inclui também povos africanos como os
Ganeses, tem sido alvo de debates nas esferas governamentais e na mídia em geral. Nosso objetivo neste
trabalho é investigar como os recentes imigrantes Haitianos e Ganeses no Brasil são verbal e visualmente
representados em diferentes meios de comunicação (e.g blogs, mídias sociais, jornais, etc.) Para a análise
verbal, utilizamos o suporte da linguística sistêmico-funcional (Halliday & Matthiessen, 2004) e da
análise crítica do discurso (Fairclough, 2003; 2010) para discutir a representação de imigrantes
construída na oposição ‘in-group’ versus ‘outgroup’ (van Dijk, 1993; 2000), bem como padrões de
processos e participantes. A análise das imagens é baseada na gramática do design visual (Kress & van
Leeuwen, 2006), mais especificamente, utilizando-se as funções representacional, interacional e
composicional. Estas perspectivas teóricas permitem a investigação tanto das instâncias linguísticas
quanto dos recursos visuais nos textos analisados, com foco na investigação crítica de tais
representações. Os resultados parciais sugerem que ainda existem representações preconceituosas sobre
as identidades de imigrantes específicos, especialmente quando essas identidades são retratadas em
situações de vulnerabilidade. Este estudo destina-se a lançar luz sobre diferentes pontos de vista
socioculturais mais amplos dos diferentes agentes sociais envolvidos em tais representações.
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IDENTIDADES SOCIAIS, FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO-APRENDIZAGEM
SOB A LUPA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
Este trabalho objetiva discutir a aproximação realizada entre os referenciais de teorias socioculturais de
aprendizagem e a Análise de Discurso Crítica nas teses de doutorado de Calvo (2013) e El Kadri (2014).
Em Calvo, (a) considerou-se a comunidade de prática (CP) em foco uma prática social, estabelecendo
uma relação entre a estrutura mais ampla na qual é situada e a agência das participantes; (b) destacou-se
a visão de aprendizagem em CPs, vinculando-a com a da ADC; (c) utilizou-se o arcabouço metodológico
da ADC para a análise de dados, especialmente para a compreensão da dinâmica das relações
estabelecidas entre as participantes da CP na negociação das ações do “empreendimento conjunto”. Em
El Kadri, (a) argumenta-se pela necessidade de incorporar uma análise crítica da linguagem nas
pesquisas sobre {co-ensino|diálogo-cogerativo}como uma maneira de superar a crítica sobre o
“romanticismo” dessas pesquisas e como ferramentas para analisar a representação, identidade e agência
forjadas nesses contextos; (b) demonstra-se a articulação de pressupostos chaves em ambas as teorias
com base na centralidade do diálogo, na posição do analista, na orientação para agendas emancipatórias
para o aprendizado e transformação social e na concepção de sujeito, agência e poder; (c) utilizou-se o
arcabouço metodológico da ADC para a análise de dados, especialmente para a compreensão das
maneiras de agir, representar e ser de professores em formação inicial no contexto do Pibid-Letras/Inglês
(poder, representação e identidade). Os resultados discutem as aproximações entre os referenciais
utilizados e o papel da ADC nas pesquisas sobre formação de professores.
Considerando o aspecto dialógico da linguagem, este estudo busca identificar possíveis formações
ideológicas e os efeitos de sentido apresentados em discursos midiáticos (televisivos) sobre o
adolescente infrator. A mídia, tendo o discurso, como seu principal produto, exerce grande poder
ideológico, pois dissemina suas ideologias na sociedade, tanto de forma explícita como implícita.
Acredita-se, neste sentido, que a linguagem retrata e reflete o mundo. O corpus analisado são discursos
proferidos pela jornalista Rachel Sheherazade no telejornal em que é uma das apresentadoras. A temática
discutida neste estudo envolve a conduta “infracional” do adolescente. O referencial teórico apresentado
é analisado à luz da Análise Crítica do Discurso (ACD), uma teoria multidisciplinar que surgiu com a
preocupação de estudar as estruturas linguísticas ligadas às estruturas sociais. Nestas perspectivas,
pensa-se o discurso como a “palavra em movimento”, a língua concebida em seu aspecto sócio-histórico
e ideológico.
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IDENTIDADES SOCIAIS, FORMAÇÃO DOCENTE E ENSINO-APRENDIZAGEM
SOB A LUPA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSO
Para a Análise Crítica do Discurso, o discurso nos direciona a uma exterioridade à língua, não qual se
encontram fenômenos linguísticos e de natureza linguística, construídos com bases no social, no
histórico, cultural e ideológico. Para Fairclough (1992) surgiu a partir do desejo de um grupo de
linguistas em busca de um método para analisar a linguagem que reunisse as teorias linguísticas, sociais
e políticas, já que via assim a única maneira de tratar a linguagem, uma vez que esta é um objeto
dinâmico. Esta abordagem do discurso e da linguagem que une conceitos e métodos advindos da
Lingüística e das Ciências Sociais pode ser considerada inovadora. Chouliaraki&Fairclough (1999:16)
caracterizam a ACD como "síntese mutante de outras teorias". Uma das formas mais importantes de
construção discursiva se dá pela mídia e a forma como representa os sujeitos sociais, sendo assim, é
possível apontar que esta tem uma importante função na consolidação dos papéis sociais que os
indivíduos assumem na sociedade. Além disso, é importante pontuarmos o quanto vivemos em uma
suposta “democracia racial”, na qual se acredita não haver racismo, e que todas as relações de poder já
foram superadas, mesmo quando todas as estatísticas provam justamente o contrário. Por meio da análise
de notícias retiradas de um site com um número expressivo de acessos, cujos editores pertencem à mídia
tradicional, buscamos demonstrar na concretude do discurso o quanto ela dialoga com essa sociedade
hipócrita e com um baixo nível intelectual para perceber as mais escondidas nuances do discurso. São
esses nuances que a Análise Crítica do Discurso busca trazer à tona.
105
Página
A proposta do trabalho é discutir o conceito de autoria e sua aplicabilidade como critério de correção de
redações escolares. Como se trata de um conceito que serve de referência para a correção de redação do
ENEM, bem como de diversos exames vestibulares, sua discussão e problematização se fazem
necessárias. Nesse sentido, o trabalho de investigação procura discutir de que maneira avaliar uma
redação escolar, pautando-se pela noção de autoria, sem incorrer em critérios subjetivos ou mesmo
fugidios. Parte -se do pressuposto de que o emprego de tal conceito para correção e avaliação de
produções textuais escolares demanda um exercício de delimitação e definição de sua natureza, a fim de
que não se torne uma referência arbitrária, sujeito a veleidades de cada corretor. Ao corrigir redações
escolares, não é difícil perceber a diferença qualitativa entre algumas produções, e essa percepção, de
certa forma, indica a manifestação do efeito de autoria ( ou indícios, a depender do critério), e sob esse
aspecto a questão que se coloca é como delimitar ou identificar os recursos textuais e discursivos que
conferem um efeito de autoria a certas redações e se encontram ausentes de outras, de modo que sua
sistematização contribua para o ensino de produção textual , isto é, produções textuais com marcas
autorais.
Barthes diz que o nome próprio reúne características que o definem por seu poder de lembrança, isto é,
por meio de sua espessura semântica. Tal propriedade já caracteriza o nome próprio como signo. Para
Mill, o nome próprio é senão uma categoria que denota, mas nada conota, numa relação de uma “ideia de
um objeto” que se liga a um nome próprio. Embora esta não tenha sido a primeira intenção de Mill,
porque o seu limite é o da Lógica, ele também admite que o funcionamento semântico do nome próprio
se dá em razão das enunciações, que promovem o nome próprio em diferentes instâncias discursivas, tais
como a familiar, a social, a religiosa, a política etc. Jespersen também oferece uma nova perspectiva para
a análise dos nomes próprios, pois os aproxima do funcionamento de grande parte dos nomes comuns na
linguagem ordinária, visto que a atribuição de significados depende não só de uma convenção que
associe intrinsecamente o significante ao significado, mas também a aspectos sociais, culturais,
históricos e também psicológicos. Essa visão é importantíssima, pois, em parte, associa um valor — o
nome próprio — não a um sentido, mas a diferentes funções, numa relação que implica a linguagem com
o mundo, ultrapassando a visão que associa o nome próprio a uma mera etiqueta colada a um referente.
Objetiva-se, neste artigo, ver o nome próprio como um fator importante no processo de desenvolvimento
da persuasão no texto argumentativo, não só por meios das figuras de linguagem, como a antonomásia,
ou o argumento de autoridade, mas também como ativador de interpretante, que, numa relação de texto/
contexto, impulsiona não só a progressão textual como também a orienta a argumentação.
O presente estudo tem por objetivo demonstrar como a leitura da primeira página de jornais pode
contribuir para o desenvolvimento de habilidades de leitura e de interpretação textual, permitindo ao
aluno tornar-se um leitor mais proficiente e crítico. Tomando por princípio a convicção de que a leitura
não se restringe à mera decodificação de letras, sílabas ou palavras, configurando-se um processo muito
mais complexo e abrangente, propõe-se uma leitura semiótica da primeira página de jornal. Nessa
leitura, são levados em consideração tanto o material linguístico presente na superfície textual quanto os
elementos não verbais, tais como o emprego de cores, o tamanho e o formato das letras, as fotografias,
incluindo-se a disposição gráfica dos elementos na primeira página. Ao comparar diferentes capas de
jornais publicadas no mesmo dia, podem-se constatar as mais variadas abordagens que os veículos de
comunicação dão ao mesmo fato e que se materializam na seleção lexical, na escolha e na disposição dos
elementos não verbais na primeira página do jornal, o que é relevante no processo de formação de
leitores mais críticos e conscientes. Como referencial teórico para essa análise, além da contribuição da
Semiótica de Peirce (2005), propomos ainda os estudos de Lúcia Santaella (2008) e Darcília Simões
(2003, 2009) sobre Semiótica aplicada e os de Angela Kleiman (2004), Teresa Colomer e Anna Camps
(2002) sobre leitura.
O excesso de fala interior da personagem principal da novela Vidas Secas causa estranheza ao leitor
quando considerada a falta de habilidade linguística dos personagens. Essa característica da obra, já
analisada pela crítica de Álvaro Lins, levanta a suspeita de um empreendimento maior. Partindo da
hipótese de que essa aparente contradição não configura inabilidade com a escrita, senão fruto de uma
ação pensada, presume-se que essa característica não se restringe à personagem principal, mas pode
configurar a estrutura da obra. Por essa razão, intenta-se investigar outros aspectos dos quais a
contradição seja parte integrante. Para essa investigação, escolheu-se trabalhar com os nomes eleitos
pelo autor na identificação das personagens. Entende-se que, especialmente em obras consagradas, a
escolha de nomes de personagens não é feita de modo aleatório, senão intencional. Por isso buscou-se
identificar, à luz da teoria da iconicidade verbal (SIMÕES, 2009), de que forma esses nomes contribuem
para a construção da ideia de contradição e para o sentido da obra como um todo.
O presente trabalho visa apresentar a construção e o processo realizado para amenizar as dificuldades de
interpretação e produção de texto dos discentes do curso de Letras Espanhol da UNIR (Universidade
Federal de Rondônia). Tal processo fez-se necessário por perceber que a única disciplina de produção
textual em língua espanhola só é ofertada no sexto semestre acadêmico dessa instituição, e por notar que
os alunos apresentam imensa dificuldade em ler, interpretar e produzir textos em espanhol. Para tanto,
foram pensadas e aplicadas atividades que estivessem relacionadas ao mundo real, buscando, assim,
atraí-los para o contexto “sala de aula” em todos os sentidos, seja como alunos e como futuros
professores. Fundamentamo-nos, como base teórica para a construção da disciplina em BAKHTIN
(1992), MARCUSCHI (2002), KOCH (2010), ALMEIDA FILHO (1993) e LEFFA (2011). Como
resultado, percebeu-se uma enorme participação por parte dos alunos, os quais se engajaram em
apresentar seus trabalhos em eventos por Rondônia, como também apresentaram uma preocupação com
o currículo acadêmico. Com isso, mostra-se a importância de oferecer essa disciplina e esse conteúdo
não apenas no sexto semestre, mas no início do curso, pois essa cadeira colabora para o desenvolvimento
dos acadêmicos na leitura, interpretação e escrita de textos em língua espanhola, direcionada ao âmbito
acadêmico e profissional.
O presente trabalho tem como objetivo sugerir um encaminhamento de aula de leitura, o qual pode ser
desenvolvido com alunos do Ensino Fundamental, a partir da análise do conto O bife e a pipoca, de
Lygia Bojunga, obra dirigida ao público infanto-juvenil. A teoria que embasa as discussões teóricas é a
Semiótica, de linha francesa, que tem como foco principal depreender as significações de diferentes
textos (verbais, não verbais e sincréticos). No que tange ao texto verbal, a teoria sugere observar os
sentidos por meio de um percurso gerativo, que compreende três níveis distintos, o fundamental, o
narrativo e o discursivo. Na análise em pauta, priorizaremos aspectos relacionados ao nível narrativo e,
mais detalhadamente, ao discursivo, uma vez que trataremos dos percursos figurativos e temáticos, além
das projeções da enunciação no enunciado. Por fim, relacionamos aos conceitos teórico-metodológicos
da Semiótica Greimasiana a perspectiva Bakhtiniana de gêneros discursivos, para melhor dar conta dos
sentidos do conto. A análise teórica resultou num encaminhamento de atividade de leitura, como dito
anteriormente, nosso principal propósito neste estudo.
109
Página
O trabalho em sala de aula exige diversificados saberes e conhecimentos para além do conhecimento do
conteúdo da disciplina que se ministra (TARDIFF, 2014). Entende-se, por isso, que a troca de
experiências entre os professores e a comunidade científica deva ser cada vez mais frequente. Este artigo
visa favorecer esse intercâmbio de experiências, apresentando uma experiência com o gênero discursivo
(BAKTHIN, 2004) relato de aula em uma sala de aula do sétimo ano (EF) em um colégio público de
Curitiba. Esse gênero foi utilizado como instrumento pedagógico de memorização de conteúdos e
experiências de aulas de Português. Um dos alunos da sala fazia – a cada aula – o relato da aula e, no
início na aula seguinte, o relato era lido para a turma. A experiência demonstrou que os alunos além de
desenvolverem a escrita, apresentam autonomia ao escolherem conteúdos para relatar e, coletivamente, a
experiência permitiu maior interação entre os colegas e autoestima na sala de aula. Sendo assim,
observou-se que o relato pode ser utilizado como prática em sala de aula e como instrumento pedagógico
para auxiliar na fixação dos conteúdos e desenvolvimento da uma escrita significativa no contexto
escolar. Neste sentido, esse gênero integra práticas letradas escolares/acadêmicos (LEA; STREET, 1998;
2006), relacionando escrita, leitura e oralidade.
Este trabalho tem como objetivo analisar os usos e valores atribuídos a textos escritos na construção
conjunta de conhecimento - entendida aqui em termos de evento de letramento - em uma equipe de
trabalho interseriada de alunos de ensino médio em uma escola privada do Noroeste do Paraná. Para
isso, analiso em segmentos de fala-em-interação como os interagentes lidam com textos escritos como
“recursos” e/ou “fontes de informação” no trabalho de construir conjuntamente um conhecimento
necessário para dar conta de um objeto de aprendizagem contingente e emergente do aqui-e-agora de
uma interação. O aporte teórico que subsidia as análises e asserções aqui feitas são a Análise da
Conversa Etnometodológica (ACE) e os Novos Estudos do Letramento (KLEIMAN 1995; BARTON;
HAMILTON, 2004; STREET, 2014). Os dados desta pesquisa foram gerados no último bimestre letivo
de 2014 por meio de trabalho de campo, que envolveu observação participante, gravação de 30 horas de
material audiovisual da atividade interacional de professores e alunos de diferentes séries do ensino
médio; em seguida, foram feitas a segmentação e transcrição multimodal seletiva de dados de fala-em-
interação. Os resultados deste estudo mostram que, no trabalho de construir conhecimento em conjunto,
textos escritos são legitimados pelos interagentes como fontes de informações necessárias para lidar com
um objeto de aprendizagem. Outro resultado interessante é como um dos participantes da interação é
legitimado pelos demais com competência para confirmar e/ou interpretar as informações de um texto
escrito.
Este trabalho é um recorte de uma pesquisa mais ampla, que se encontra em fase inicial, sobre o papel do
letramento no ensino de línguas (portuguesa/guarani) em uma comunidade indígena, situada na
comunidade do Pinhalzinho, Tomazina- PR. Tendo como princípio que o Referencial Curricular
Nacionais para as escolas indígenas (RCNEI) (1998) é um documento norteador das ideias básicas de
trabalho para o conjunto das áreas do conhecimento e para cada etapa escolar das escolas indígenas
inseridas no Ensino Fundamental, pretendemos neste trabalho analisar as orientações teórico-
metodológicas presentes neste documento à respeito das diferentes práticas de letramento no contexto
escolar, especialmente do letramento indígena, e como estas orientações estão recontextualizadas nos
planos de trabalho docentes de língua portuguesa e guarani. A metodologia utilizada será a da pesquisa
bibliográfica e também análise documental (RCNEI e Plano de Trabalho docente). Do ponto de vista
teórico, nos apoiaremos em: Cavalcanti, Maher (2005) e Street (2014), dentre outros. Desse modo,
esperamos ao longo dessa pesquisa contribuir para compreensão dos processos de recontextualizadas e
retextualização das orientações oficiais no contexto da educação escolar indígena.
Esta investigação faz parte de um trabalho de doutoramento cujo objetivo geral é investigar o conceito
de proficiência que constitui as práticas de letramento nas aulas de língua alemã em uma escola situada
em um contexto plurilíngue suábio-brasileiro no interior do Paraná. Para esta comunicação, propomos
descrever práticas sociais de uso da escrita (STREET, 2014) no contexto investigado, focando materiais
escritos disponíveis em ambientes socialmente compartilhados, procurando compreender como essas
práticas contribuem para o gerenciamento das relações de poder, das dinâmicas identitárias e das
diversas forças atuantes naquele contexto. Trata-se de uma pesquisa etnográfica nos moldes propostos
por Blommaert (2010) em que se registram fotograficamente hábitos de uma comunidade e/ou
ocorrências linguísticas, bem como se recolhem materiais representativos das práticas linguísticas locais.
Analisamos dados da paisagem linguística da comunidade, como folders de estabelecimento de ensino,
de viagens, assim como revistas e informativos produzidos pela própria comunidade. Preliminarmente,
observamos que, nessas práticas linguísticas, são usadas duas línguas de prestígio local, português e
Hochdeutsch, de modo a promover uma identidade construída pelo grupo, a de brasileiros descendentes
de alemães. Outro resultado do trabalho, relacionado ao gerenciamento das relações de poder, é o de que
essas escolhas linguísticas apontam para uma representação identitária valorizada no e pelo grupo da
comunidade, invisibilizando uma língua local, o Schwowisch e o brasileiro.
Ao desenhar agimos e interagimos com o meio, por meio deste ato pode-se contar, relembrar uma
situação, modificar-se, ou seja, seu corpo inteiro se desenvolve na ação. Cada desenho tem uma história,
um significado pessoal que é interpretado pelo outro. O desenho é mais linguagem do que representação
propriamente dita, pois é um relato gráfico sobre algo. Alguns autores consideram que a linguagem é
fundamental na formação da consciência, tendo importância decisiva na reorganização da atividade
consciente do homem. Ocasionando desta forma pelo menos três mudanças essenciais para sua
atividade: a capacidade de representação, a capacidade de abstração e generalização e a capacidade de
transmitir informações. Partindo deste pressuposto que o desenho é simbólico e que o ato de desenhar
exige o desenvolvimento de uma linguagem interna, esta pesquisa tem como objetivo investigar a
relação do desenho como mediador na reestruturação da linguagem de um sujeito afásico. Para o
desenvolvimento da pesquisa foi analisado sessões terapêuticas de um sujeito afásico no decorrer de um
ano. Esta análise foi baseada na abordagem discursiva da linguagem, e percebeu-se que com a intenção
de comunicar-se o sujeito busca sempre figurar elementos da realidade e daquilo que sabe existir nela,
mas nem sempre é legível para seus interlocutores (pois os desenhos se constituem de linhas e círculos
muitas vezes traços imperfeitos), sendo necessário um conhecimento prévio e o envolvimento no
contexto. A utilização do desenho pelo sujeito na maioria das vezes vem auxiliar a construção de um
enunciado que não esta sendo compreendido pelo outro, substituindo a fala.
A presente pesquisa objetiva analisar os discursos sobre o ensino de língua portuguesa no documento
Processo de implantação da nova estrutura educacional, elaborado na década de 1970 pelo Colégio
Catarinense, situado no município de Florianópolis-SC. A base teórico-metodológica parte da concepção
sócio-histórica de linguagem do Círculo de Bakhtin e considera a situação política, histórica e
sociológica que abrangeu o cronotopo no qual o documento se insere. Na década de 1970, o governo
brasileiro, sob o regime militar, buscava o desenvolvimento do país mediante a criação de um novo
modelo econômico aliado a mudanças na educação. Para isso, foi formulada a LDB 5.692/71 que
priorizava o desenvolvimento no aluno de habilidades técnicas a serem realizadas no campo de trabalho.
Nesse contexto, a abordagem proposta para o ensino de língua portuguesa tenta romper com a concepção
tradicional para uma concepção de ensino da língua como um instrumento de comunicação e expressão.
Já o Colégio Catarinense, fundado pelos padres jesuítas no final do século XIX , tem desenvolvido
historicamente uma pedagogia a partir do documento Ratio Studiorum, que serviu de orientação para
suas atividades escolares. Na análise do documento, percebe-se o dialogismo com o ensino tradicional,
ao mesmo tempo em que o Colégio tenta incorporar a nova perspectiva de língua vista pela LDB,
reinterpretando o que ela propõe. Revela-se as finalidades para o ensino daquele momento, ressoando, na
maior parte do documento, os discursos já-ditos da tradição de ensino. A partir desse embate dialógico,
podemos refletir de onde surgem os discursos presentes nas propostas de ensino de língua portuguesa na
112
atualidade.
Este artigo trata do trabalho com a linguagem enquanto prática social presente no primeiro ciclo do
Ensino Fundamental, o ciclo da alfabetização. Ao pensar nesse viés da linguagem, a preocupação desta
pesquisa está no entendimento que se constrói sobre o Letramento e o Interacionismo no segmento
mencionado. Assim, são objetivos deste estudo: conceituar e entender o atual direcionamento teórico do
processo de alfabetização de acordo com as novas políticas linguísticas e, posteriormente, verificar como
essa abordagem teórica se manifesta na prática de um grupo de professores que atuam em uma escola
pública de um município paranaense. Metodologicamente, optou-se por discutir o conceito de
Letramento e Interacionismo em suas múltiplas relações com o ensino de língua materna e,
posteriormente, analisar de que maneira esse conceito se manifesta no contexto de sala de aula. Ao final
dessa pesquisa, constatou-se que o tempo dedicado ao processo de alfabetização é reduzido pela
infinidade de outros temas e projetos que devem ser trabalhados na escola, o que revela que os
professores ainda têm a visão de alfabetização centrada especificamente no domínio formal do código
linguístico e ainda, como resultado, constata-se que o grupo de professores vê o Letramento como um
momento da aula representado por atividades específicas que trazem o rótulo Letramento.
Este trabalho tem por tema os multiletramentos da cultura digital, principalmente, as redes sociais e o
ensino de língua portuguesa. Ao inserir os multiletramentos no contexto escolar, tem-se a preocupação
de não torná-los, exclusivamente, objetos escolarizados, desconsiderando sua natureza ideológica e
cultural, ou seja, sua categoria de prática social. O contexto desta pesquisa foi uma pesquisa-ação,
realizada em uma escola pública, com uma turma do oitavo ano, tendo como foco os multiletramentos.
Nessa prática, um aspecto fundamental foi compreender como os estudantes se relacionam com os
multiletramentos do contexto digital a fim de que esses usos locais e singulares pudessem,
primeiramente, ser compreendidos pelo professor para que, posteriormente, passassem a ser
contemplados em sala de aula. Neste sentido, esta comunicação tem por objetivo apresentar uma análise
a respeito dos usos e dos significados dos multiletramentos pelos alunos do oitavo ano do ensino
fundamental. O quadro teórico é constituído pela concepção dialógica de linguagem do Círculo de
Bakhtin, pela abordagem antropológica e cultural de letramento, segundo os Novos Estudos sobre o
Letramento (STREET, 2003, 2007, 2010, 2014), e pela teoria dos multiletramentos (GRUPO DE NOVA
LONDRES, 1996; ROJO, 2013, 2013). Os resultados mostram, sobre o envolvimento dos estudantes
com as práticas multiletradas da cultura digital, a utilização prioritariamente da rede social Facebook,
espaço de atuação e expressão desses adolescentes na sociedade, constituindo-se como um importante
aspecto na constituição de suas vidas juvenis.
Nesta comunicação, partindo dos Novos Estudos do Letramento (STREET, 2014), propomos reconhecer
o conceito de autoria em textos argumentativos produzidos por alunos do primeiro e terceiro anos do
Ensino Médio. As propostas didáticas para produção de textos do tipo dissertativo-argumentativo têm
enfatizado o uso de recursos textuais (verbo-sintático-semânticos) que conduzam à objetividade textual
de tal gênero por meio, dentre outros aspectos, da supressão da subjetividade, ou seja, da “elipse”
autoral. Street (2009), observando as dimensões ocultas na escrita de artigos acadêmicos, e Corrêa
(2011), relacionando a análise etnográfica à discursiva na heterogeneidade da escrita, fundamentam
epistemologicamente a análise de 40 textos produzidos por esses alunos. Procuramos perceber a atuação
discursiva e as estratégias mobilizadas pelo escrevente ao argumentar sobre um tema distante de seu
cotidiano e um tema relevante à sua prática social diária, temas que foram escolhidos a partir da
aplicação de um questionário cuja finalidade era identificar marcas autorais de práticas sociais
historicamente estabelecidas (JESUS, 1997). Sem a apreciação valorativa da ideologia presente na
escrita de cada aluno, os resultados apontam que o conceito de autoria é flutuante de um tema para o
outro e que os temas permitem (um mais, outro menos) a manifestação tácita de práticas sociais dos
educandos.
A análise dos processos de letramento no ambiente hospitalar foi gerada a partir da análise de um
questionário de pesquisa aplicado aos professores do programa de escolarização hospitalar no Paraná
(SAREH), com foco no modo como o professor ensina os conteúdos de língua. Trata-se de um recorte do
trabalho de conclusão do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) desenvolvido na
Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), cuja finalidade é investigar as práticas de letramento
escolar realizadas no SAREH e produzir orientações para subsidiar a área de códigos e linguagem desse
programa. A pesquisa tem como referencial teórico de base os estudos sobre letramentos (SOARES,
2004; KLEIMAN, 1995; ROJO, 2015; MOLLICA, 2012; STREET, 2014; entre outros). Segundo Soares
(1998) “no Brasil, os conceitos de alfabetização e letramento se mesclam, se superpõem e
frequentemente se confundem”. Já Kleiman (1995) define letramento como: “Um conjunto de práticas
sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos,
para objetos específicos” (KLEIMAN, 1995, p. 19-20). O letramento significa, entre outras coisas,
compreender o sentido, numa determinada situação, de um produto cultural escrito; por isso, uma prática
de letramento escolar poderia implicar um conjunto de atividades visando ao desenvolvimento de
estratégias ativas de compreensão da escrita, à ampliação do vocabulário e das informações para
aumentar o conhecimento do aluno e à fluência na sua leitura.
O poema satírico de Tomás Antônio Gonzaga, Cartas Chilenas, foi escrito por volta do ano de 1789.
Sendo a obra em análise uma das mais representativas do Arcadismo, o poema lírico de Gonzaga é um
marco da poesia satírica árcade no Brasil. Compostas por treze cartas de um conteúdo crítico que chama
a atenção pelos detalhes reveladores, Cartas Chilenas é um protesto dos poetas e intelectuais da
sociedade mineira do Século XVIII contra os atos fraudulentos e tiranos do Governador Luiz Cunha de
Meneses, no período de 1783 a 1789, na Cidade de Vila Rica. No poema, Critilo revela a Doroteu o
governo anti-social e corrupto da Capitania do Chile, e expõe, por meios subjetivos e históricos, as
dificuldades, a opressão e o abandono em que se encontra sua terra. Assim, este trabalho tem por
objetivo analisar a terceira das treze Cartas Chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, um dos poemas mais
representativos do Arcadismo. As Cartas Chilenas apresentam a sátira como procedimento central de sua
construção. Tal categoria escolhida para a análise do modo de expressão do eu lírico, será abordada à luz
do ensaio “A questão da sátira”, de György Lukács. Os dados nos revelaram que a sátira, ao criticar de
forma perspicaz, condena a falta de simetria e a desproporção, e confronta-se com as injustiças e os
abusos elucidando por meios detalhados o obscuro do acaso. Logo, concluímos que a sátira em última
instância, faz aquilo que nenhum outro estilo literário se propõe fazer: elevar um fato ocasional a pura
necessidade de ser criticado, imortalizado e expressado com tal ridicularização.
A partir dos anos 1950 o teatro brasileiro passa por grandes mudanças temáticas e formais, no plano da
dramaturgia, e de modos de organização e produção diante do contexto histórico turbulento e crítico do
pós-guerra. Necessitava-se de autores brasileiros falando de temas nacionais que exigiam novas formas e
novos públicos, diferente dos dramas burgueses até então inspirados no teatro francês. Dessa perspectiva
histórica iremos estudar alguns aspectos da obra de Jorge Andrade, apontando sua contribuição para a
construção do teatro moderno brasileiro. Seu teatro – em especial o ciclo de dez peças Marta, a árvore e
o relógio – retoma momentos históricos críticos da história do país, sem nostalgia ou ódio, mas com
distância épica e crítica, apontando para a discussão do presente em que escreve. Ao fazê-lo, Jorge
Andrade nunca se satisfaz com formas prontas, o que será também objeto de estudo. O recorte desse
artigo recai sobre uma das peças do ciclo mencionado, a saber As confrarias, escrita em 1969. Essa peça
se localiza no século XVIII, para tratar de temas como a exclusão social e a formação de sujeitos
conscientes, bem como do papel da arte na sociedade, marcada pela tradição do teatro épico. Uma das
personagens é uma mãe, que não tem apenas a função maternal na peça, mas se apresenta como uma
personagem que realiza o percurso crítico da formação que, explícito como aparece, ganha forte
elemento didático. Para estudá-la, faz sentido realizar uma análise comparativa com a peça A Mãe, de
Bertolt Brecht, que também apresenta forte caráter épico e formador, encontrando em ambas traços de
uma peça didática, elemento de suma importância para a presença da dialética.
Partindo dos pressupostos teóricos da análise de discurso, propostos por Michel Pêcheux e constantes em
seu livro Semântica e Discurso: Uma crítica à afirmação do óbvio (1997), estudaremos um texto literário
pelo viés discursivo. Trata-se de uma crônica de Machado de Assis, que foi publicada em 21 de fevereiro
de 1865, na coluna “Ao acaso” (Crônicas da Semana), seção criada pelo escritor carioca e veiculada
entre 12 de junho de 1864 a 16 de maio de 1865, no Diário do Rio de Janeiro. O objetivo é verificar
como se dá a construção do sentido sobre o novo ideário republicano, a partir do discurso da forma-
sujeito assumida pelo narrador-cronista. Acreditamos tratar-se de um sujeito interpelado pela ideologia
da classe dominante, presente nos aparelhos ideológicos da sociedade carioca do Segundo Reinado,
período histórico compreendido entre 1840 e 1889. Pretendemos, enfim, mostrar que esse sujeito é
também sujeito de seu próprio discurso, o que implica o seu assujeitamento diante de um discurso pré-
construído.
Este trabalho tem como base para análise o livro “Mariana do Contra” (literatura infantil). Este livro é de
autoria de Rose Sordi e conta a história de uma menina que não se conforma com as regras e padrões
sociais e passa a questioná-los e quebrá-los. É perceptível a presença do discurso feminista na narrativa e
é por conta disso que se deu a escolha por essa obra, já que o movimento feminista passa por importantes
mudanças e novas formas de organização atualmente, transformando também a sociedade como um todo
e, consequentemente, as FDs que constituem as miragens femininas. A proposta aqui, então, é, por meio
de uma análise discursiva, discutir as diferenças entre os conceitos de FDs em Pêcheux e Foucault, tendo
em vista que Foucault propõe este conceito sob a perspectiva do método arquegenealógico e Pêcheux a
partir do materialismo histórico colocando os objetos em relação à(s) ideologia(s), para, a partir deste
conceito em cada abordagem teórica, entender como os sentidos são produzidos e como os efeitos de
sentido se dão, já que neste movimento do movimento feminista, as miragens femininas têm passado por
transformações.
A teoria semiótica greimasiana tem oferecido instrumentos apropriados para uma leitura compreensiva
do sentido de textos. Dessa forma, este trabalho propõe uma análise do discurso do romance Lavoura
Arcaica, de Raduan Nassar, 1975, e a sua relação para o formato cinematográfico, de Luiz Fernando
Carvalho, 2001. O romance e o filme em tela são obras primas cujo conteúdo denso deixa transbordar o
trágico e o lírico que na narrativa se entrelaçam, sensibilizando o enunciatário para a revolta e sofrimento
do narrador protagonista André. O objetivo do enunciador ao revelar seu drama é manter um diálogo
com temas, problemas e valores que marcam de forma indelével a família. O enunciador revela o
comportamento humano frente a uma sociedade rural arcaica. O romance trata do embate aos valores
éticos e morais vigentes na sociedade libanesa/brasileira. Os membros da família possuem sentimentos
contraditórios de amor, paixão, desprezo, raiva e ódio. Nesse contexto, levantaremos aspectos
discursivos, narrativos e profundos nas obras escolhidas. A compreensão desses níveis de abordagem do
texto é demonstrada pelo percurso gerativo de sentido proposto pela análise semiótica. Os textos serão
analisados enquanto texto sincrético, para onde converge diferentes linguagens no trabalho de construção
de determinado efeito de sentido, em que os caracteres imagéticos mantêm relação entre o plano de
conteúdo e o plano de expressão.
Neste estudo, discorremos sobre o processo de adaptação de peças teatrais para o cinema, tendo como
pano de fundo as imagens produzidas sobre o Brasil na década de 1950 e nos primeiros anos de 1960. A
pesquisa analisa o processo narrativo das peças O Pagador de Promessas (1959) e O Bem-Amado
(1962), do dramaturgo baiano Dias Gomes, adaptadas para o cinema. À luz de autores que estudam o
processo de adaptação (HUTCHEON: 2011), da Narratologia (CORSEUIL:2009) e da estética no
cinema (AUMONT et.al: 2013), apresentamos um estudo da composição do “herói vencido” e dos
“falsos mitos” na passagem entre mídias. Dentre as possibilidades de análise, analisamos elementos
como montagem, som, cenografia, ponto de vista narrativo, personagens, espaço e tempo na narrativa
fílmica, focalizador e caracterização do enredo. Portanto, a ação do herói e a presença de falsos mitos
saem do texto dramático para serem percebidos sob o enfoque dos enquadramentos, planos, angulações,
closes, luzes, sons e aspectos da linguagem cinematográfica. O argumento da pesquisa fundamenta-se na
ideia de que a narrativa fílmica é um enunciado apresentado como discurso, uma vez que envolve um
enunciador e um leitor-espectador. Analisamos o texto dramático apreendido pela linguagem
cinematográfica, tendo em vista os aspectos da estética do texto e do filme, bem como os aspectos da
cultura representados nas obras.
Discursos sobre o corpo feminino, especialmente sobre o corpo da mulher gorda, que circulam em
diferentes materialidades são marcados pela predominância da representação de uma imagem negativa
da mulher. Essas representações reforçam práticas de exclusão e de invisibilidade historicamente
constituídas sobre a diversidade do corpo. Dessa forma, os discursos sobre “o verdadeiro de uma época”,
são distribuídos pelas relações de saber-poder e veiculados por meio de práticas discursivas componentes
de materialidades fílmicas. Comumente, as imagens do que é ser gorda representam essa mulher como
preguiçosa, frustrada, infeliz, simpática em excesso e inadequada aos padrões de beleza social e
culturalmente instituídos. As mulheres gordas, na contemporaneidade e no contexto brasileiro, têm
conquistado um tímido espaço representativo na mídia com a moda plussize, em contraposição a outros
espaços de enunciação e discursivização como o cinema. Essas discussões mobilizam a pesquisa “Moda
plus size e gordofobia: fronteiras entre as visibilidades e invisibilidades do corpo da mulher gorda na
contemporaneidade brasileira”, em desenvolvimento na Universidade Estadual de Maringá, em nível de
mestrado e vinculada ao Grupo de Estudos em Análise do Discurso da UEM – CNPq. Para o simpósio
proposto, como parte da pesquisa, sob os fundamentos da Análise do Discurso, em especial,a partir das
noções erigidas por Michel Foucault, articuladas aos Estudos Culturais e à História, propomos como
objetivo compreender, pelos mecanismos de (in)visibilidade e de (in)dizibilidade, o modo como a
imagem negativa da mulher gorda é (des)construída no filme Como ser solteira (2016), dirigido por
Christian Ditter.
(in)dizibilidade
Página
As proposições apresentadas neste trabalho, que emergem de nossas pesquisas de doutoramento e das
discussões desenvolvidas no Grupo de Estudos em Análise do Discurso da UEM (GEDUEM/CNPq),
têm como temática o investimento discursivo cinematográfico sobre o corpo com deficiência na
contemporaneidade. Nesse campo de investigação, sob os fundamentos teórico-metodológicos erigidos
por Michel Foucault, nosso objetivo é compreender o modo como o discurso cinematográfico articula as
formas de ver e de enunciar o sujeito com deficiência ajustando-se às tecnologias políticas
contemporâneas de normalização. Considerando o corpus selecionado para a tese, que é composto por
quatro documentários do Festival Assim Vivemos (2007), pelo filme francês Intocáveis (2012) e pelo
filme Colegas (2012), observamos a emergência discursiva de um governo do corpo que se constrói a
partir de uma maquinaria política de produção de subjetividades, que encontra no cinema um espaço
potencialmente fecundo para a produção e validação de verdades e, consequentemente, para o exercício
da biopolítica. Os resultados demonstram que a dispersão de visibilidades desses corpos encontra sua
unidade discursiva pelo exercício da ruptura/produção de subjetividades, que se dá consigo mesmo e/ou
com o outro, numa espécie de transgressão dos lugares socialmente e historicamente marcados para
ocuparem. Esses corpos são, assim, produtivos porque funcionam como estratégias discursivas que
atendem a uma demanda da política moderna, que consiste em apagar o sujeito com deficiência para
colocá-lo na cadeia produtiva.
Partindo do princípio de que a formação do espectador crítico de cinema pode ser pensada em
similaridade com a formação do leitor literário, a partir de questões próximas e aportes teóricos comuns,
discuto a possibilidade de uma proposta de auto-formação do espectador de cinema como leitor,
privilegiando a aproximação à obra cinematográfica numa perepectiva do receptor, isto é, a partir das
próprias condições de leitura materializadas nos sujeitos-leitores. Evitando um aporte essencialista sobre
o valor estético da obra, esta ideia de formação não afirma a noção de um repertório fílmico a ser
conhecido por seu valor canônico, por sua condição de clássico ou por seu prestígio enquanto cinema de
arte, mas promove a aproximação a estes e outros repertórios a partir da relação do próprio espectador
com a obra fímica, dos reconhecimentos e estranhamentos que o contato com estas obras podem lhe
provocar e do próprio desejo de cuidar de si, no sentido explicitado por Foucault (1994), isto é, de se
deflagrar um trabalho do sujeito sobre si mesmo. Em uma dimensão pedagógica, trata-se de esboçar uma
proposta de formação leitores de cinema que parta do diálogo crítico com seu próprio horizonte de
expectativas (Jauss 1993), com seus pontos de conforto e com sua vontade ou recusa de ir além. Trata-
se, nesta perspectiva receptiva, de abrir espaço para que os espectadores-leitores negociem criticamente
com seus referenciais e possam por-se em diálogo com eles a partir do contato com novas obras e da
construção de novas percepções, não apenas do próprio cinema, mas subjetivamente de si mesmos.
Este trabalho tem como objetivo conduzir um movimento de análise discursiva de um conto e de suas
traduções: verbal e imagética. Para tanto consideramos importante o conhecimento sobre os operadores
de leitura da narrativa, assim como os elementos que compõe o gênero textual conto. Dessa forma,
trabalharemos com o texto: O coração delator (The tell-tale heart) de Edgar Allan Poe, a tradução de
Ferraz e a animação da United Productions of America dirigido por Parmelee. O desenvolvimento deste
trabalho busca compreender e relacionar os fatores que no decorrer do texto promovem uma possível
interpretação, analisando como os textos materializados em forma de tradução podem contribuir para a
construção de diferentes efeitos de sentido quando comparados com a obra original. Pode-se considerar
que o texto traduzido é prático, e muito útil para aqueles que enfrentam a barreira da língua, porém
existem várias traduções e elas são diferentes entre si, assim como são diferentes do texto fonte.
Aplicaremos a teoria da Análise do Discurso (AD) francesa desenvolvida por Michel Pechêux (1995) e
seus desdobramentos no Brasil para procedermos com nossa análise. Utilizaremos a obra de Rosemary
Arrojo (1986) no que diz respeito a teorias pós-modernas da tradução e Jullier e Marie (2009) para
entender as nuances do cinema. Os resultados de análise e discussão deste trabalho sinalizam, para a
relevância da leitura crítica para o aprimoramento da capacidade de análise e interpretação de textos
literários, em materialidades verbais ou imagéticas, além de contribuírem para a produção de análises
possíveis e cada vez mais amplas.
Vivemos em uma sociedade bastante fragmentada, fruto de um mundo multi identitário de diferentes
ideologias. A sociedade capitalista preserva a ideia de autonomia, de um sujeito “livre”, que acredita que
o seu discurso é instrumento do pensamento e reflexo da realidade (ORLANDI, 1999). No entanto, o
confronto deste sujeito “livre” com outras formações discursivas produz impactos violentos e
inexplicáveis em nosso contexto atual. Em uma sociedade já habituada à luta histórica dos movimentos
feministas por igualdade de direitos, e onde o corpo feminino é explorado comercialmente pela mídia,
diariamente, parece estranho que a exposição do corpo feminino, como forma de protesto, seja vista tão
ofensiva e negativamente. O documentário “Ukraine is not a brothel” relata a história do movimento
internacional feminino FEMEN, que seguindo o lema “meu corpo, minha arma”, luta contra a sociedade
patriarcal em suas três manifestações (exploração sexual da mulher, ditaduras e religião) expondo seus
corpos seminus. Neste trabalho, será utilizada a Análise do Discurso de linha francesa de Michel
Pêcheux, com o objetivo de fazer uma reflexão sobre como se apresentam os sujeitos neste
documentário, como estes reproduzem seus discursos e quais são os efeitos de sentido produzidos.
O olhar sobre a favela hoje é diferente. É um olhar mais curioso, e por que não, mais compreensivo
também. Hoje podemos dizer que há um “boom” de produções culturais dentro e sobre estas
comunidades que estão sobre os focos de várias mídias. Podemos pensar, por exemplo, em produções
como os filmes Cidade de Deus (1997), Cidade dos Homens (2007), Era uma vez (2008). Em romances
como o próprio Cidade de Deus (1997), Capão Pecado (2000), Manual Prático do Ódio (2003), Falcão:
Meninos do Tráfico (2006) e Cabeça de Porco (2005). Em minisséries como Suburbia (2012). Em
Documentários como Falcão: Meninos do Tráfico (2006). Sem contar os inúmeros grupos de Rap
espalhados pelas periferias de nosso país. Diante disso, o objetivo do presente artigo é propor uma
reflexão sobre o funcionamento e circulação de sentidos advindo da cultura da periferia. Partindo de um
corpus composto por “sequências” do livro de HQ, intitulado Desterro, escrito por Ferréz e Demaio,
procurou-se observar o funcionamento e circulação de sentidos decorrentes das cenas narrativas
construídas pelo livro. Também se observou como os autores mobilizaram elementos das ruas para as
legitimidades da cenografia e do ethos. Para tanto, partimos de pressupostos elaborados pela Análise de
Discurso de linha francesa, especificamente aqueles trabalhados por Maingueneau (2004, 2008 e 2011).
Proposta por Pêcheux e Orlandi, a Análise de Discurso, a qual nos filiamos, trata da língua, da
gramática, mas o seu foco é o discurso, a “língua em curso”, fazendo sentido a partir de sujeitos
interpelados pela ideologia e atravessados pelo inconsciente. Trata-se de uma teoria discursiva – prática
política – que constitui efeito de sentidos por meio de processos discursivos, como os constituídos na
obra “Quarto de despejo – diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, que significa a favela
como o lugar em que fica tudo que não presta – o quarto de despejo – num jogo de linguagem, que
desconstrói esse espaço e todos os que moram nele. A obra, de acordo com a reportagem de Audálio
Dantas, trata da “história de miséria pequena, que maiores há”, principalmente no caderno de Carolina,
no qual são narradas “grandes misérias”, envolvendo “cristãos jogados no ‘quarto de despejo’”. O
jornalista destaca que muitos já falaram de favela, mas ninguém o fez de dentro dela, mostrando o
cotidiano de pobreza e de violência. Propomos, diante disso, a análise do enunciado “Casa é casa,
barraco é barraco”, com o objetivo de destacar os processos discursivos que dão visibilidade à
desidentificação da personagem com o espaço da favela, o qual, segundo ela, é o “quarto de despejo” da
casa – a cidade de São Paulo. Nessa cidade, o Palácio – Câmara dos Deputados – é a sala de visita e o
jardim é a cidade em si. A favela é o “quarto”, onde fica tudo que não “serve” para nada, que deve ser
queimado ou jogado no lixo. Nosso objetivo é, então, mostrar como pela língua na história se constituem
efeitos de desidentificação e de rejeição ao espaço favela e a tudo que o significa.
No ano de 2015, um desastre ambiental atingiu o Estado de Minas Gerais. A tragédia aconteceu em
Mariana, que comporta(va) o subdistrito de Bento Rodrigues. No dia 5 de novembro de 2015, ocorreu o
rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco- cujos donos são a Vale e a anglo-
australiana BHP Billiton – deixando o distrito de Bento Rodrigues completamente encoberto pela lama,
que se espalhou, destruiu cidades, rios, vidas. Com base nisso, nossa pesquisa é desenvolvida em duas
partes que se encaixam na área de concentração “Interfaces entre língua e literatura”. Em um primeiro
momento, convocamos Ítalo Calvino (1990) e Bachelard (2008) para abordarmos a relação entre o
desastre em Mariana, “As cidades invisíveis” e a relação de topofilia desenvolvida entre as pessoas e os
lugares. Em seguida, trazemos à tona imagens que circularam nas redes sociais, especificamente no
twiter e no facebook, após a “morte” do Rio Doce. Tomamos a Análise de Discurso de linha francesa
como norte, para a qual os sujeitos internautas realizaram gestos de interpretação em relação ao fato e às
imagens, que aqui tratamos como “enunciados-imagem” que significam pela memória, como espaço
interdiscursivo. Em ambas as partes somos interpelados pela ideologia, pois as cidades de Calvino
(1990) e textos-imagens que circularam na internet fazem ressoar o desastre e as memórias são
ressignificadas, convocando e movimentando efeitos de sentido.
O objeto de investigação para a Análise do Discurso é encarado como um significante capaz de produzir
qualquer efeito de sentido, não apenas o óbvio, desde que observado seus contextos de produção, por
este pensamento que este artigo caminha, situando o leitor quanto aos contextos de produção, pautado
nas teorias de Pêcheux (1975) e Orlandi (2001) sobre o sujeito e suas formações discursivas e como se
dá as relações com a mídia. Este estudo pretende analisar um comercial publicado no ano de 2008 como
meio de divulgação da empresa cosmética “O Boticário”, pautada na teoria da Análise do Discurso no
que compete a constituição do sujeito na sociedade contemporânea. A mídia, afetando os sujeitos a partir
de seus discursos, opera poder sobre a formação de identidades dos expectadores da campanha em
estudo, reproduzindo um discurso de que apenas o belo é capaz de transformar atitudes. A campanha
mostra um ambiente sem cor, representando uma sociedade cinza e sem vida e somente após o contágio
com uma jovem mulher usando o batom da marca é que o vídeo mostra as pessoas inserindo cores,
limpeza e organização na cena.
A finalidade desta comunicação é apresentar uma leitura do saber midiático com relação ao sexo e à
sexualidade de sujeitos homem e mulher tal como descrito na trilogia 50 tons de cinza (2012), no “guia
de cura” A ilusão dos 50 tons(2012), assim como em enunciados produzidos por revistas semanais e
mensais como Veja, Época e Caras (2012, 2013, 2014). Partindo do pressuposto foucaultiano de que o
pesquisador deve compor séries de enunciados captados em diversas cronologias, pauta-se em seu
método serialista com intuito de entender os discursos que possibilitam o estabelecimento e a
cristalização de certos sentidos na cultura brasileira propósito do dispositivo da sexualidade, uma vez
que as subjetividades são históricas e não naturais. A partir do quadro constituído por recortes
enunciativos acerca do tema, observou-se que não há verdade a ser buscada nas diversas etapas
constitutivas do saber sobre o homem e a mulher, mas sim discursos historicamente detectáveis que
constroem verdades acerca desses sujeitos e possibilitam o exercício do poder, travando entre ambos
uma “guerra” que tem lugar na mídia.
Os discursos sobre o feminino são recorrentes nas mídias digitais, que funcionam como lugares onde os
dizeres circulam e são repetidos, estabilizando já-ditos ou deslizam, se deslocam, rompendo com
sentidos já sedimentados no imaginário coletivo. Na pós-modernidade, o facebook, por exemplo, tornou-
se uma rede social midiática que tem sido usada não apenas para encontrar amigos/amores, mas também
para convocar/interpelar os sujeitos a se posicionar a favor/contra interesses comuns, influenciado o
domínio do político e a ordem social, inaugurando uma nova forma de (con-)viver em sociedade,
resultante do desejo de ver e de ser visto, conforme assinala Dias (2015; 2014; 2011). Contudo, os
discursos produzidos na/em rede, não são homogêneos e se inscrevem nas mais variadas formações
discursivas, que se materializam por meio de postagens, compartilhamentos, comentários e “likes”.
Esses gestos atestam os movimentos do sujeito e dos sentidos na história e também da posição que ele
ocupa em uma formação social. Assim, o objetivo deste trabalho é analisar quais os discursos que
circularam sobre a obra “O segundo Sexo” da feminista e ativista Simone de Beauvoir, na página
“Empodere duas mulheres”, no facebook, em meados de outubro de 2015. Para tanto, sustentamos as
análises nos pressupostos teóricos da Análise de Discurso de linha francesa, pautada em conceitos
propostos por Michel Pechêux e desenvolvidos, no Brasil, por Eni Orlandi e por pesquisadores que com
ela tecem redes, proporcionando importantes avanços teóricos.
A tônica da pesquisa foucaultiana (2008) é compreender a história dos diferentes modos de subjetivação,
levando em consideração o pressuposto de que o sujeito é uma fabricação histórica das/nas práticas
discursivas. Essas práticas, como conjuntos de regras anônimas, históricas, determinadas pelo tempo e
pelo espaço, desvelam as condições para que haja a irrupção de enunciados, os quais se desenvolvem no
campo imenso de possibilidades. Admite-se, com efeito, que a verdade é contingente e circunstancial e
se dá em regimes, pois respeita (esse é um processo coercitivo) uma ordem: a ordem do que se pode e
deve dizer. Tendo por base tais pressupostos teórico-metodológicos da “arqueologia do saber”, em
especial do exercício da “função enunciativa”, a pergunta norteadora do estudo ora apresentado é: como
o sujeito viril dominador é “discursivizado” em propaganda de perfume masculino Zaad, da marca O
Boticário, que tem como dizer central “você pode ser quem quiser”? Objetiva-se explorar a
materialidade linguística e imagética em sua estreiteza, singularidade e regularidade, haja vista o sistema
enunciativo que atribui à virilidade características como segurança, maturidade, beleza (física e moral),
força e potência (financeira e sexual) (VIGARELLO, 2011). Empreende-se um gesto de leitura segundo
a qual há uma incidência de saberes de ordem econômica que sustentam o regime de verdade, cuja
tessitura histórica garante que a adoção de signos de sucesso (como o cheiro) promoverá a ascensão
social e, assim, construirá a subjetividade do dominador. Nesse caso, duplamente constituída: pelo
dinheiro e pela habilidade de tornar “inseguras até as mulheres mais seguras”.
O chamado envelhecimento da população trouxe mudanças nas relações da sociedade com a velhice, o
que desencadeou uma reconstrução das identidades de idoso postas em circulação. Diante disso, nesta
pesquisa, analisa-se a subjetivação do idoso em contexto de ensino na Universidade Aberta à Terceira
Idade (UNATI) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Enquanto alguns trabalhos abordam o
discurso sobre o idoso, propõe-se analisar as práticas que compõem um discurso do idoso sobre si.
Embasada em uma perspectiva discursiva, calcada no pensamento de Michel Foucault, objetivou-se
descrever o processo de subjetivação do estudante da UNATI-UEM, a partir da oposição sujeição-
subjetivação. Nesta discussão, são mobilizados da teoria foucaultiana conceitos como: discurso,
memória, objetivação, subjetivação, cuidado de si. A série enunciativa analisada foi composta de dez
entrevistas semiestruturadas feitas com estudantes da UNATI-UEM e de doze relatos produzidos por
eles. A análise apontou que os sujeitos pesquisados estabelecem resistência ao ideal de novo idoso, na
medida em que adotam algumas das práticas que compõem essa subjetividade – como a atualização, a
atividade e a jovialidade-, enquanto rejeitam outras - como a sexualidade aflorada, as novas formas de
organização familiares e certas atividades de lazer.
De acordo com a teoria discursiva, nada pode ser pensado sem tomar a cidade como pano de fundo, já
que é nela que os sujeitos produzem sentidos e se significam. Sobredeterminada pelo urbano e regida por
um conjunto de leis e regras de convivência que visam a manter sua organização, nela (con)vivem
sujeitos heterogêneos, que além de não dividirem esse espaço de forma igualitária, também não são
afetados do mesmo modo por esse conjunto de normas. Nesse espaço, os transgressores são postos à
margem da sociedade, segregados em prisões ou, no caso de menores, em instituições criadas pelo
Estado, cujo objetivo é aplicar medidas socioeducativas, apesar de a história mostrar que a grande
maioria delas são ineficientes e funcionam como uma espécie de “escola do crime”. Recentemente, a
grande mídia tem dado grande visibilidade à questão da diminuição da maioridade penal, fazendo
circular discursos sobre a delinquência juvenil, suas causas e os meios para “acabar” com ela. Neste
trabalho, temos por objetivo, sustentados pela teoria discursiva, compreender como o menor infrator tem
sido significado e se significa em dois documentários intitulados “Maioridade Penal” e “A Idade do
Crime”, que circularam, respectivamente, em 14/04/2015 e 18/10/2015, na Rede Globo de Televisão
(Profissão Repórter) e no Sistema Brasileiro de Televisão/SBT (Conexão Repórter). Pretendemos, ainda,
verificar que memórias ressoam nesses discursos, contribuindo para silenciar ou modificar sentidos já
sedimentados no imaginário coletivo acerca do que constitui a delinquência juvenil.
Na Análise de Discurso, a língua acontece na história, constituindo efeitos de sentido, sempre em relação
a, tanto na literatura quanto na mídia e mesmo no cinema. Se todos falassem, escrevessem ou se
comunicassem da mesma forma, o mundo seria muito mais igual. Metáforas e metonímias dão
movimento, colorido e, acima de tudo, instauram a ambiguidade e o antagonismo em discursos que
circulam na formação social. A língua imaginária e a língua fluída, especialmente esta última, funcionam
como argumentos e encaminham para determinadas conclusões porque os sujeitos que as empregam
diminuem as distâncias entre o dizer e a interpretação, esquecendo-se de que o dizer sempre pode ser
outro e que o dito só faz sentido porque há um discurso que o sustenta. A mídia e a Literatura têm sido
bastante produtivas em tempos de crise, quando sujeitos e instituições devido a interdições e a interesses
individuais e coletivos precisam dizer no menos o mais e vice-versa. Nos primeiros dias de março de
2016, Lula foi coercitivamente encaminhado a depor, na Operação Lava Jato, como suspeito. Esse
acontecimento político, segundo a imprensa, causou um tsuname na formação social. A mídia
corroborou para instaurar o efeito de espetáculo em torno de Lula, do PT e do acontecimento. Como
'vitima' do radicalismo o ex-presidente se significou como ‘o perseguido’ que vence o mal e se auto-
designou de jararaca, dizendo: “se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo. A
jararaca está viva, como sempre esteve.” O enunciado,em tela, é altamente polissêmico e só pode ser
interpretado pela memória, pela língua na história a partir de distintos domínios, dentre eles o religioso.
Este trabalho tem como corpus analítico os 10 vídeos e o documentário “A chama da língua” disponíveis
em um canal do youtube denominado “A Língua tem museu”, centrando-se no Museu da Língua
Portuguesa, que funcionou até o início do ano passado, na cidade de São Paulo, na Estação da Luz. A
partir desse site vamos mostrar o funcionamento do museu considerando-o como um lugar de memória à
medida que guarda memórias que poderiam ser relegadas ao esquecimento caso não estivessem nesse
lugar. O Museu da Língua Portuguesa, recorte de nosso trabalho, diferencia-se por celebrar/comemorar
não um acontecimento histórico, nem uma cidade, nem um nome, mas a língua. Também possui uma
parte interativa em que os visitantes podem participar da amostra e, mais uma vez, contrapondo-se aos
museus tradicionais, possui uma parte digital e temporária. Não só a Análise do Discurso, domínio
teórico a que nos filiamos, mas também outros domínios destacam que a língua está “sempre em
transformação”, não se subjugando nem à gramática, nem ao dicionário. Essas duas ferramentas se
transformam e se modificam constantemente e, apesar disso, não abarcam a língua no seu todo. Já o
Museu é significado como lugar de culto ao passado, buscando livrá-lo do esquecimento ou
interpretando o presente por meio desse passado, o que possibilita pensar a partir desses dois tempos, o
futuro. Assim, objetivamos compreender como se dá a manutenção da memória em relação à língua
portuguesa, contrapondo museus tradicionais e o museu da Língua Portuguesa. Como isso, colocamos
em suspenso o fato de ser o Museu “da” língua e não “sobre” a língua.
129
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Simpósio 18: O cinema em sala de aula como a construção de saberes e a (re)construção de identidades: propostas
metodológicas para a educação básica
Ao percebermos que a escola pública, no que se refere ao tema da leitura literária, vive um momento de
transição entre os suportes impresso e digital e que, muitas vezes, privilegia mais o suporte impresso,
criando, assim, um descompasso com a prática digital que os alunos trazem como sujeitos do processo
de ensino-aprendizagem, pretendemos com este projeto apontar uma possível solução para que esse
problema possa ser minimizado tendo como base uma abordagem de intervenção pedagógica que
privilegie a leitura literária e a produção textual. As etapas de nossa proposta contemplarão a forma
literária conto e o seu trânsito em diferentes mídias, com o intuito de levar o leitor a despertar o interesse
pela literatura a partir de diálogos que podem ser estabelecidos entre os suportes impresso e digital.
Trata-se de uma sequência didática que cria zonas de interseção entre um conto, um curta-metragem
baseado no conto e, posteriormente, a produção escrita final, como resultado do contato com as duas
mídias anteriores, a ser exibida em um suporte de comunicação que faz parte do cotidiano dos
estudantes, o aparelho de telefone celular. A ideia é tornar o processo de aprendizagem mais prazeroso e
dinâmico, desenvolvendo o significado de que o texto literário não precisa e não pode ser algo
enfadonho e distante do aluno, podendo fazer parte do cotidiano e das práticas de comunicação do dia a
dia.
Este trabalho tem por objetivo oportunizar uma leitura crítica do filme “O Lórax, em busca da trúfula
perdida” (2012), a fim de despertar no aluno o desejo de mudança de atitude. É fato que nas escolas são
valorizadas as leituras de textos escritos, deixando a desejar no que se refere às leituras imagéticas, tendo
em vista essa afirmação foi proporcionado aos alunos matriculados no terceiro dos anos iniciais de uma
escola municipal do município de Apucarana-PR, uma leitura do filme proposto, analisando-o e
explorando-o de acordo com as dimensões expressas neste texto. Para tanto, o referencial teórico está
pautado na perspectiva sócio-histórica e crítica, com reflexões acerca do materialismo histórico-dialético
no processo educacional e da pedagogia histórico-crítica nos conteúdos escolares. Os autores que
embasaram este trabalho foram: Saviani (2011), Gasparin (2012), Franco (2012), Martins e Duarte
(2010), Sala (2010) e Silva (2011). Concluiu-se que é possível trabalhar a leitura nessa perspectiva,
tendo em vista a mudança de atitude que se obtém ao final do processo.
Este trabalho apresenta práticas didáticas (relato de experiência) e reflexões a partir da leitura de
imagens em movimento (cinema) nas aulas de espanhol como língua adicional. A proposta analisa as
obras Como agua para chocolate, direção de Alfonso Arau e roteiro da mexicana Laura Esquivel, e Festa
no céu, do produtor Guillermo del Toro e diretor Jorge Gutierrez. Os filmes abordam temáticas
socioculturais dos mexicanos como crenças, valores, costumes, ideologias e religiosidade. A partir das
representações sociais e estereótipos sobre a cultura hispânica apresentados pelos alunos dos primeiros e
segundos anos do Ensino Técnico Integrado ao Ensino Médio de um Campus do IFPR- Instituto Federal
do Paraná, selecionamos estratégias para possibilitar a construção de novos saberes e a (re) construção
de identidades, visando um olhar menos preconceituoso e estigmatizado com relação à cultura do outro.
Este trabalho fundamenta-se na abordagem sociocultural de Stuart Hall (1997), autor que enfatiza o elo
entre a linguagem, representação, significado, cultura e identidade. O que pensamos, sentimos, como
significamos, tudo está em consonância com nossas representações, que são reflexo de nossas
interpretações e práticas sociais. As discussões fundamentam-se também em Santos (2009), autora que
discute os princípios que norteiam a transdisciplinaridade. Com uma forma de pensar articulada e
contextualizada, diferentemente do pensamento linear e fragmentado cartesiano, os conceitos da
transdisciplinaridade propõem a “religação dos saberes compartimentados” (SANTOS, 2009, p. 15),
132
Esta pesquisa parte de uma perspectiva arqueogenealógica e tem como objetivo geral compreender o
modo como o discurso cinematográfico nacional, mais precisamente o filme Tatuagem (2013), dirigido
por Hilton Lacerda, por meio de um simulacro do cotidiano das relações, desconstrói a normalidade
heteronormativa cristalizada na nossa sociedade brasileira. Neste trabalho, concebemos o cinema como
uma prática discursiva que possibilita apreender modos de percepção e de representação da realidade
social. Modos estes que constroem identidades e que constituem sujeitos. Nessa direção, buscamos
compreender o modo como a materialidade fílmica, alinha-se a esse trajeto proposto de perceber o
discurso cinematográfico por meio de um simulacro do cotidiano das relações, já que consideramos ser
esse discurso portador de regimes de verdade acerca da união homoafetiva. Assim concebido, a prática
discursiva à qual se inscreve essa temática pode exercer uma certa força normalizadora dessas relações,
questionando a conduta ética-moral que designa o medo de mudança. Sob tal perspectiva, a prática
discursiva cinematográfica é, para essa materialidade discursiva, superfície de existência de enunciados
que (re)apresenta, constitui e (re)significa essas outras relações. O cinema, funcionando como prática
discursiva, pode ser fundamental para compreender o mecanismo sociopolítico contemporâneo, visto que
o homem está inserido em práticas sociais, nas quais ele é governado por jogos de poderes.
O presente trabalho pretende apresentar a Lei 13006/14, que institui a exibição mínima de duas horas de
filme nacional na escola, como possibilidade de catalisar a reflexão e produção de Cinema Brasileiro no
ambiente da escola pública. Almeja, a partir das discussões de Sirino (2012) e Fresquet (2013), que
abordam a relação de cinema/educação e de textos da literatura brasileira, apresentar a metodologia
desenvolvida para produção e exibição de audiovisual no ensino médio no Colégio Estadual Lucy
Requião de Melo e Silva, em Fazenda Rio Grande. Para além da exibição de filmes, propõe-se a
educação do olhar e do ouvir, a percepção do tempo, o estudo das reações humanas em diferentes
contextos, as relações fluidas entre texto e imagem, as relações entre literatura e cinema, passando pela
criação de roteiros, a formação de público para o Cinema Brasileiro, técnicas e tecnologia básica para
captura de imagem, e a organização e execução de produção audiovisual no espaço da escola pública.
Por fim, relatar as transformações pedagógicas após a experiência de trabalhar com múltiplos códigos
para compor a linguagem cinematográfica a partir de nossa cultura heterogênea muitas vezes silenciada
na instituição escolar.
Palavras-chave: Lei 13006, Cinema Brasileiro e Educação, Produção audiovisual na escola pública
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A presente pesquisa tem por objetivo relatar experiência inovadora na Formação Continuada dos
Professores Mediadores Escolares e Comunitários (PMECs) da Diretoria de Ensino – Região de
Taquaritinga da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo realizada pelos responsáveis pela Gestão
Regional do Sistema de Proteção Escolar e colaboradores. O percurso metodológico baseou-se na
utilização de recursos fílmicos para sensibilizar, mobilizar e desencadear ações que suscitem mudanças
no ambiente que os PMECs atuam, em especial, nas escolas e comunidade local. O resultado desta
prática foi muita receptividade por parte dos envolvidos durante a formação continuada e proporcionou
um novo olhar para o processo de mediação escolar e comunitária em cada contexto educacional visando
ampliação do diálogo e a minimização dos processos de conflito por meio do trabalho desenvolvido
pelos professores mediadores (PMECs) utilizando os filmes como recursos para estimular o pensamento
crítico dos educandos.
O presente trabalho tem como objeto de estudo a análise da obra cinematográfica Pleasantville a partir
da Teoria das Representações Sociais, proposto por Moscovi, e da construção da identidade, vinculado a
Hall,. O objetivo geral da pesquisa é verificar de que forma os estereótipos sociais, trazidos pelo senso
comum ao longo da história, são representados no cinema, haja vista, este auxiliar a constituir ou
representar a visão que temos do mundo e dos papéis sociais. Como objetivos específicos, elencamos
observar como se dá a construção das identidades na obra e verificar as relações intertextuais e
simbologias presentes no filme. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica centrada nos
estudos de Moscovi (2003), de Kristeva (1969), Bakhtin (1999), Hall (2000), Koch (2003) e Woodward
(2000),) e a pesquisa documental do filme mencionado. Cabe ressaltar que nas representações, os
estereótipos são tratados como memórias ou combinação de fatos verificados, os quais podem ser
considerados como modelos calcados na sociedade, que podem ser matizes de uma deformação social,
por exemplo, rotulando todos que exercem a profissão.
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O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES E
MINORITÁRIOS: TRAJETOS, CONTORNOS E (NOVAS) PERSPECTIVAS
Simpósio 19: O português brasileiro em contextos multilíngues e minoritários: trajetos, contornos e (novas) perspectivas
Desde o século XVII, quando Comenius cunhou a palavra didática como a arte universal de ensinar tudo
a todos, inúmeras transformações vêm ocorrendo no campo pedagógico. Na contemporaneidade a
educação está sendo gestada numa sociedade neoliberal, na qual a técnica e a ciência se tornaram
inseparáveis e os saberes são direcionados à produção econômica. Essa mudança fez surgir a expressão
Sociedade do Conhecimento para indicar o uso competitivo do conhecimento e da inovação tecnológica.
No campo mercadológico, “inovação” é concebida como o desenvolvimento criativo de ideias e
invenções que gerem produtos ou processos com valor econômico e vantagens competitivas. Já no
campo educacional, seja em contexto minoritário seja em contexto multilíngue, não nos parece se tratar
de uma simples transposição do objeto. A partir de nossa pesquisa vinculada ao GEDUEM-CNPq, nosso
objetivo é compreender a formação do conceito inovação, para então estabelecer o modo como o
conceito é (re)significado e discursivisado no campo pedagógico, a partir de suas condições de
emergência e de (co) existência enunciativa, as quais possibilitam estabelecer regimes de verdade do que
é inovação na educação. Subsidiado pelos pressupostos teórico-metodológicos erigidos por Michel
Foucault, este estudo teórico-analítico orienta-se pelas seguintes inquietações: dada a condição de a
educação ser regida por princípios políticos de governamentalidade que atuam sobre os corpos em busca
de instituir condutas modelares de sujeitos, podemos considerar inovadoras práticas pedagógicas que
estejam sob a égide da biopolítica? Nesse quadro e cenário, o que se mantém ou se apaga da concepção
de didática de Comenius?
19
O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES E
MINORITÁRIOS: TRAJETOS, CONTORNOS E (NOVAS) PERSPECTIVAS
Este trabalho tem por objetivo compreender a emergência contemporânea da diferença e da identidade
como uma questão central no Brasil e em Moçambique, enquanto países multilíngues. Tomamos lugar
(língua, etnia, sociedade) como uma entidade heterotópica que vem ganhando destaque no contexto atual
de debate teórico (e prática política) pós-moderno. Baseando-se nos pressupostos teóricos elaborados por
Michel Foucault, entendemos heterotopia como “[...] espaços de ilusão que denunciam como mais
ilusório ainda qualquer espaço real, todos os posicionamentos no interior dos quais a vida humana é
compartimentalizada. Ou pelo contrário, criando […] um outro espaço real, tão perfeito, tão meticuloso,
tão bem-arrumado quando o nosso é desorganizado, mal disposto e confuso” (FOUCAULT, 2006).
Questionamos como os contextos multilíngues e minoritários têm lugar no espaço brasileiro e
moçambicano e como a coexistência do Português com outras línguas constitui um fator de diferença e
de identidade linguística. Buscamos demonstrar como os discursos dos dispositivos adotando o
Português como língua oficial contribuem para a emergência de discursos sobre a situação linguística
nesses países. Concluímos que o Português está imerso em contextos multilíngues e minoritários, sendo
falado pela maioria da população no Brasil e pela minoria em Moçambique, propiciando a existência de
diferenças linguísticas e a formação de identidades.
O presente resumo apresenta uma reflexão em torno das práticas discursivas de letramento, no eixo
leitura, em Moçambique e se enquadra no projeto “Discurso, Letramento e Proficiência em Regimes de
(In)visibilidades: Língua Portuguesa como Adicional e Estrangeira”. Ao falarmos daquelas práticas
naquele país, temos sempre em conta o multilinguismo que subjaz o sistema educacional, fazendo
irromper daí o dispositivo da diversidade cultural que vai definir os modos de conduta dos sujeitos das
aprendizagens que vão ser conduzidas, na escola, à luz da biopolítica. O acontecimento que faz irromper
regimes outros de olhar a educação pós-colonial é a proclamação da Independência Nacional em de
1975. Daí vincularmos a nossa pesquisa ao arquivo regido por aquele acontecimento, designadamente,
os documentos que regulam o funcionamento da educação.Em função disso, compreendemos que o
objetivo geral da pesquisa seja avaliar os dispositivos de letramento e de leitura e o funcionamento
discursivo envolvidos nas práticas pedagógicas de professores de Língua Portuguesa, em contextos
multilíngue, no Ensino Básico, na Província da Zambézia. Para a análise das nossas materialidades
usaremos o método arquegenealógico da Análise do Discurso francesa, subsidiada pelos princípios
teóricos erigidos por Foucault. Palavras-chave: Práticas Discursivas de Letramento , Biopolítica e
Acontecimento.
19
O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES E
MINORITÁRIOS: TRAJETOS, CONTORNOS E (NOVAS) PERSPECTIVAS
O Vestibular para os Povos Indígenas no Paraná se constitui como possibilidade de ingresso de indígenas
nas universidades públicas desse Estado, enquadrando-se como direito às populações indígenas.
Garantido por lei e amparado pela Constituição e por outros documentos que advogam pelas
especificidades linguísticas e culturais no processo de escolarização. No entanto, apesar do contexto
multilíngue de algumas comunidades indígenas paranaenses, as escolas públicas que atendem a essas
populações apresentam uma prática de ensino monolíngue. Considerando que o letramento implica o
reconhecimento e a participação em práticas culturais de escrita de uma sociedade, por que o estudante
indígena, depois de passar pelo processo de formação e letramento escolar, apresenta fragilidades
expressivas na produção escrita no vestibular? Diante disso, este trabalho tem por objetivo compreender
o modo como a língua portuguesa no Brasil como tecnologia/dispositivo de segurança em contexto
multilíngue a partir das práticas de letramento escolar como condição do exercício da cidadania. Sob
esse propósito, o objeto de pesquisa é as redações do Vestibular para os Povos Indígenas no Paraná. Esse
processo seletivo implica um ritual de passagem em que são avaliados os saberes em língua portuguesa.
Habilidades e competências de leitura e de escrita que são empreendidas no trato com língua em
condições específicas, conforme a variação linguística e o gênero textual/discursivo solicitados na prova.
Para tanto, as investigações são subsidiadas pelos pressupostos teóricos da Análise do Discurso franco-
brasileira; pela Linguística; pela Linguística Aplicada; e, pelos Novos Estudos do Letramento Social.
O presente trabalho pretende, com base em dados de uma etnografia da linguagem, dentro da Linguística
Aplicada, discutir desafios para o ensino-aprendizagem de língua portuguesa em uma escola pública
localizada em uma comunidade rural multilíngue (português brasileiro, brasileiro, ucraniano e polonês)
no município de Prudentópolis, sudeste do Paraná. Nessa escola não há uma proposta oficial
diferenciada que contemple a realidade multilíngue, do mesmo modo, no que tange ao ensino-
aprendizagem de língua portuguesa. Nessa perspectiva, reconhecendo a relevância do plurilinguismo e
também que o português brasileiro é um recurso necessário para mobilidade linguística (BLOMMAERT,
2010) e social em diferentes espaços e situações sociais, e, além disso, que dispor dos saberes
elementares da língua oficial para utilizá-la sociopoliticamente é fundamental no reconhecimento da
cidadania (TASSO; GONÇALVES, 2014), compreendemos a relevância de se refletir e discutir sobre os
desafios do ensino-aprendizagem de língua portuguesa nessa escola. Dentre os desafios, precisaríamos
de mudanças de ideologias linguísticas (KROSKRITY, 2000) e mitos e concepções linguísticas
(ALTENHOFEN, 2004), plano de ensino para aulas de língua portuguesa e projetos voltados para as
demandas locais e cursos de formação continuada para os professores. Além disso, uma proposta para o
plurilinguismo e para uma pedagogia do plurilinguismo (BROCH; ALTENHOFEN, 2011; BROCH,
2014), além de contribuir para a promoção das línguas brasileiras de imigração, das línguas estrangeiras,
também contribuiria para a língua portuguesa brasileira.
137
19
O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES E
MINORITÁRIOS: TRAJETOS, CONTORNOS E (NOVAS) PERSPECTIVAS
O presente trabalho visa tecer considerações sobre o ponto de vista multicultural em que os conceitos de
bilinguismo, num enfoque plurilíngue, e o bidialetalismo sejam considerados como complexos
fenômenos da linguagem que abarcam relações sociais e culturais amplas, uma vez que a temática é
abordada de forma incipiente através dos livros didáticos. Para tal, discute-se a origem e desdobramento
do mito do monolinguismo no Brasil, o qual proporcionou políticas linguísticas repressivas e
homogeneizadoras. Para fins de análise da referida abordagem, realiza-se uma revisão crítica dos
critérios do PNLD para aprovação dos livros didáticos dos anos finais do Ensino Fundamental,
defendendo uma linguística educativa plurilíngue no contexto escolar. A questão da heterogeneidade da
Língua Portuguesa no ensino de língua materna é referendada a partir de documentos oficiais que
norteiam o ensino, como os PCN. No entanto, é notório que a escola - e a sociedade- não aceita o caráter
heterogêneo da língua. Dessa forma, há uma marginalização das demais variantes. Ou seja, há uma
tradição quanto ao ensino de um padrão linguístico determinante. Dessa forma, as implicações para o
ensino de Língua Portuguesa mediante o referido contexto sócio-histórico, são bastante evidentes até
hoje. Essa atitude tem raízes históricas relacionadas à identidade linguística no Brasil. Dessa
forma,pautando-se nas postulações de Bortoni-Ricardo (2004), também asseveramos a necessidade de
construção de materiais didáticos que esclareçam aos alunos a noção de variação linguística,
construindo, assim, uma proposta de “educação bidialetal" ou plurilíngue.
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O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES E
MINORITÁRIOS: TRAJETOS, CONTORNOS E (NOVAS) PERSPECTIVAS
Entende-se que a língua Guarani se destaca como de importância sócio histórica na América Latina,
principalmente na região fronteiriça do Brasil, Paraguai e Argentina considerada o berço da cultura
Guarani. O objetivo deste trabalho é apresentar alguns apontamentos da proposta de investigação sobre
atitudes linguísticas manifestas por falantes indígenas da língua Guarani na região oeste do Paraná,
especificamente na aldeia Avá Guarani Ocoy, no município de São Miguel do Iguaçu. Graças a seus
contextos de fronteiras, de imigração e/ou migração do povo Guarani, essa localidade constitui cenário
sociolinguístico complexo e desafiador para a pesquisa. Um dos objetivos da pesquisa é desvendar
questões relativas ao prestígio ou preconceito em relação ao Guarani por parte de falantes monolíngues e
bilíngues, para os quais esta é a língua mãe e para os quais o português constitui a segunda língua. Os
princípios teórico-metodológicos da Sociolinguística, de Crenças e Atitudes, da Etnografia da
Comunicação, da Psicologia Social e da Sociologia da Linguagem serão utilizados para nortear o estudo,
partindo do pressuposto de que língua e identidade étnica estão intimamente relacionadas à maneira de
ser, de pensar, de agir e de ver o mundo em cada individuo e em cada grupo social. Para tanto, serão
considerados encaminhamentos dados ao Projeto Crenças e Atitudes Linguísticas (CAL), desenvolvido
por Vanderci de Andrade Aguilera (2009). A análise dos dados permitirá comparar os dados relativos
aos falantes monolíngues e bilíngues, verificando em que medida se assemelha e se distinguem,
buscando identificar quais são os fatores responsáveis pelas semelhanças e distinções.
Este trabalho é resultado parcial de uma pesquisa de mestrado, cujo objetivo principal é investigar como
acontece, na visão dos professores envolvidos, o processo de elaboração das avaliações na disciplina de
língua portuguesa pelo grupo que atua em um colégio de Ponta Grossa/PR. No referido colégio, por
exigência da direção, os professores das diferentes unidades devem elaborar em conjunto as avaliações
mensais e bimestrais as quais são aplicadas em todas as sedes da escola. Metodologicamente, a pesquisa
é qualitativa e os dados foram obtidos através de entrevistas e grupos de estudos. Para participar das
entrevistas e do grupo de estudos, foram convidados professores de língua portuguesa que atuam do 6º
ao 9º ano. O referencial teórico baseia-se em autores como Rajagopalan (2003, 2013), Sobrinho (2003),
Costa (2005), Faraco (2008), Barcellos(2004, 2007), Silva(2007), Moita Lopes (2013) e Correa (2014).
Alguns dos resultados levantados foram: segundo os docentes, o trabalho de elaborar avaliações em
grupo é muito complexo, pois pressupõe administrar confrontos e lidar com divergência de ideias, que
dizem respeito tanto a questões de relacionamento pessoal, quanto às relativas a formação acadêmica,
tratamento de conteúdos, dentre outros fatores. Outra reflexão levantada foi sobre a responsabilidade que
é maior ao preparar uma avaliação para todos os alunos da mesma série e não apenas para os “seus”
alunos. Expressaram também que sentem-se mais seguros ao trocar ideias sobre o que cobrar e como
cobrar dos alunos determinado conteúdo, sentem mais segurança também ao receber opiniões e outros
pontos de vista durante as correções.
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O PORTUGUÊS BRASILEIRO EM CONTEXTOS MULTILÍNGUES E
MINORITÁRIOS: TRAJETOS, CONTORNOS E (NOVAS) PERSPECTIVAS
O “Vestibular para os Povos Indígenas no Paraná”, desde 2001, compõe o quadro das iniciativas
governamentais do Estado voltadas à inserção social dos povos minoritários aos espaços que ainda se
lhes apresentam como desafios a serem transpostos. Nessa conjuntura, faz-se mister compreender o
papel desempenhado pela língua portuguesa nesse evento acadêmico, uma vez que a Comissão
Avaliadora do Vestibular, ao se certificar de que o candidato indígena atingiu a pontuação mínima
exigida, legitima e o qualifica proficiente em língua portuguesa, apto ao ingresso em um curso de nível
superior. Prática decorrente do status atribuído ao saber escolar, já que o texto elaborado sob
determinadas regras de formação e formulação – condição esta do processo seletivo “vestibular” –, é um
instrumento de comprovação de escolarização, de alfabetização e de letramento, tríade conceitual que
legitima o saber escolar da linguagem bem como o da proficiência em língua portuguesa, na modalidade
escrita. Assim, subsidiados pelos fundamentos teóricos da Análise do Discurso franco-brasileira e da
Linguística Aplicada, elegemos como objetivo deste estudo, vinculado ao Projeto “Discurso, Letramento
e Proficiência em Regimes de (In)Visibilidades: Língua Portuguesa como Adicional e Estrangeira”
(UEM-GEDUEM-CNPq), tecer uma análise teórico-crítica acerca do processo avaliativo da Prova de
Redação. Para isso, recorremos à Planilha de Avaliação da Redação, uma vez que os critérios ali
estabelecidos fazem operar relações entre a memória discursiva e os saberes escolares linguístico-
discursivos.
No presente trabalho, tivemos como objetivo comparar a distribuição das segmentações não-
convencionais de palavras encontradas em textos do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I, a fim de
traçar um perfil dessas ocorrências em função das variáveis: (a) tipos de escolas (públicas e privadas);
(b) anos letivos (1º ano, 2º ano, 3º ano, 4º ano e 5º ano); e (c) sexo/gênero (masculino e feminino). Para
tanto, compusemos um banco de dados – denominado EscIn – composto por 4.230 textos resultantes da
aplicação de uma proposta de atividade de escrita, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental I, de cinco
escolas privadas e de dez escolas públicas do Município de Marília (SP), durante o ano de 2012. A partir
desse banco de dados, formamos uma amostra estratificada de 10% dos dados de cada variável de nosso
objetivo, perfazendo um total de 427 textos do corpus a ser analisado. Fizemos análise estatística
descritiva e inferencial dos dados de segmentação não-convencional, comparando as variáveis. Os
resultados das ocorrências de segmentações não-convencionais mostram que: (1) ocorrem em maior
percentual nas escolas públicas do que nas escolas privadas; (2) tendem a diminuir em ambos os tipos de
escolas com a progressão dos anos letivos, mas, de forma diferente – nas escolas públicas a queda é
contínua, com um pico do 2º para o 3º ano, já nas escolas privadas a queda é acentuadamente do 1º para
o 2º ano e, a partir do 3º ano, o percentual zera; e (3) são mais numerosas entre os meninos do que entre
as meninas nas escolas públicas, mas não nas escolas privadas. A forma de segmentar dos escreventes
mostra-se, pois, como heterogênea, na medida em que é condicionada pelos tipos de escolas.
Nosso objetivo, neste estudo, foi investigar a possível relação entre hipossegmentações – junções entre
duas ou mais palavras – e a instância enunciativa da qual emergem – Discurso Direto (DD) ou Outros
Contextos (OC) – em produções textuais infantis. Essas ocorrências foram examinadas a partir de quatro
constituintes prosódicos propostos por Nespor e Vogel (1986): C (grupo clítico), Φ (frase fonológica), I
(frase entoacional) e U (enunciado fonológico). A pesquisa partiu da concepção de escrita como
constitutivamente heterogênea (CORRÊA, 1997, 2004) e compreende as hipossegmentações como
indícios do trânsito dos escreventes por práticas orais e letradas (CAPRISTANO, 2007), CHACON
(2009), TENANI (2008). Foram analisadas ocorrências de hipossegmentação que advém de 462
produções textuais elaboradas por escreventes das antigas quatro primeiras séries do ensino fundamental.
Os resultados obtidos permitiram-nos observar que em relação aos constituintes C e Φ, não havia
diferença qualitativa quando consideravam-se as duas instâncias enunciativas. Em relação aos
constituintes I e U havia diferença tanto quantitativa quanto qualitativa entre as duas instâncias: haviam
mais ocorrências no DD. Esse resultado pode ser explicado a partir da consideração de que essas
ocorrências são indícios da circulação do escrevente pelo eixo da gênese da escrita (CORRÊA, 1997,
2004), circulação que, pelas próprias características de expressividade do DD, se manifestaria, mais
marcadamente, nessa instância enunciativa. Assim, pode-se concluir que considerar a instância
enunciativa em que o escrevente produz seus enunciados é relevante para o exame de segmentações não
convencionais.
141
Neste trabalho, investigamos hipossegmentações de palavras escritas que se caracterizam por emprego
não-convencional de uma fronteira gráfica (por meio de branco ou hífen) dentro dos limites de palavra,
como “encasa” (em casa), “derrotalos” (derrota-los). O objetivo é discutir possíveis motivações para as
hipossegmentações que sejam advindas de informações morfossintáticas que envolvem, principalmente,
palavras gramaticais que sejam monossílabos átonos. Os dados são identificados em textos selecionados
de amostra longitudinal do Banco de Dados de Escrita do EF II (TENANI, 2015). Para a realização deste
trabalho, assumimos que a escrita é um produto heterogêneo da relação entre os modos de enunciação
falado e escrito (CORRÊA, 2001). Em uma análise preliminar de textos de 19 alunos dessa subamostra,
foi possível coletarmos um total de 109 hipossegmentações, sendo 97 pela ausência do branco e 12 pela
ausência do hífen. A partir desse levantamento, identificamos as seguintes tendências: (i) há
hipossegmentação por ausência da fronteira gráfica branco e hífen em todos os anos do EF II, com um
aumento no nono ano de hipossegmentação pela ausência do hífen; (ii) predominam hipossegmentações
de palavras gramaticais monossilábicas, como preposições, artigos, conjunções, pronomes que ocorrem,
em sua maioria, em posição proclítica a palavras lexicais. (Apoio: FAPESP 2015/26763-6)
Neste trabalho, investigamos hipossegmentações de palavras escritas que se caracterizam por emprego
não-convencional de uma fronteira gráfica (por meio de branco ou hífen) dentro dos limites de palavra,
como “encasa” (em casa), “derrotalos” (derrota-los). O objetivo é discutir possíveis motivações para as
hipossegmentações que sejam advindas de informações morfossintáticas que envolvem, principalmente,
palavras gramaticais que sejam monossílabos átonos. Os dados são identificados em textos selecionados
de amostra longitudinal do Banco de Dados de Escrita do EF II (TENANI, 2015). Para a realização deste
trabalho, assumimos que a escrita é um produto heterogêneo da relação entre os modos de enunciação
falado e escrito (CORRÊA, 2001). Em uma análise preliminar de textos de 19 alunos dessa subamostra,
foi possível coletarmos um total de 109 hipossegmentações, sendo 97 pela ausência do branco e 12 pela
ausência do hífen. A partir desse levantamento, identificamos as seguintes tendências: (i) há
hipossegmentação por ausência da fronteira gráfica branco e hífen em todos os anos do EF II, com um
aumento no nono ano de hipossegmentação pela ausência do hífen; (ii) predominam hipossegmentações
de palavras gramaticais monossilábicas, como preposições, artigos, conjunções, pronomes que ocorrem,
em sua maioria, em posição proclítica a palavras lexicais. (Apoio: FAPESP 2015/26763-6)
Nesta pesquisa, partimos do pressuposto de que rasuras feitas pelos escreventes podem indiciar conflitos
vividos por eles no processo de aquisição da escrita. As rasuras podem ser entendidas como momentos
em que o escrevente suspende o gesto de escrever para voltar-se sobre aquilo que escreveu, retomando
sua escrita, reformulando-a e reconhecendo diferenças entre sua escrita e a escrita do outro, ora
acrescentando, ora substituindo, suprimindo ou alterando a configuração e a disposição de letras, sílabas,
palavras ou trechos inteiros (CAPRISTANO, 2013, 2014). Objetivamos, à luz desse pressuposto,
investigar rasuras presentes na produção escrita de alunos do Ensino Fundamental II, especificamente
aquelas que emergem sem a intervenção de um professor. Nosso propósito é o de verificar quais aspectos
da (sua) escrita esses escreventes podem entender como “errados” e/ou “inadequados”. As análises serão
feitas a partir do exame de produções textuais escritas de alunos do 6º e 7º ano de uma escola de Ensino
Fundamental II da cidade de Terra Boa – PR. Para a análise, consideraremos as variáveis: ano e
quantidade de enunciados. Pretendemos realizar um estudo comparativo entre as duas séries iniciais do
Ensino Fundamental II. O aporte teórico para este estudo será, em especial, os trabalhos de Capristano
(2013, 2014), Corrêa (2004, 2013) e Abaurre (1997).
Este estudo teve como proposta analisar o registro das consoantes líquidas em posição de coda silábica
na escrita de crianças em processo inicial de alfabetização. Os objetivos específicos foram: i) caracterizar
a ocorrência das consoantes líquidas na posição de coda; ii) verificar se existe relação entre as omissões
das líquidas /l/ e /r/ em posição de coda e a sua ocorrência em diferentes posições na palavra e iii)
analisar a ocorrência das omissões das líquidas em relação à classe gramatical das palavras. O corpus foi
constituído por textos escritos por crianças matriculadas no 1º, 2° e 3º do ensino fundamental, de uma
escola pública, da cidade de Salvador. Após a digitalização do material, foram identificados e
selecionados no corpus apenas registros que podiam ser lidos. Na análise dos dados, observou-se que a
maioria das crianças registrava a coda contendo as líquidas de maneira correta. Quando as crianças
erravam, observou-se que a maioria dos registros estava relacionado as omissões. Notou-se, também, que
as crianças acertavam mais a coda lateral /l/ do que a coda não lateral /r/, fato que pode estar
correlacionado tanto aos aspectos fonológicos e acústicos, quanto ao modo como essas crianças circulam
pelo código escrito institucionalizado. Quanto à correlação das omissões na coda preenchida por uma
consoante líquida com a posição na palavra e a classe gramatical, observou-se que a posição da final de
palavra e a classe gramatical de substantivos e verbos parecem ser as estruturas preferenciais para que as
omissões ocorram. Este estudo, em andamento, corrobora com outros (CORRÊA, 2004) no sentindo de
romper com a dicotomia fala/escrita/oralidade/letramento.
Tendo como base os chamados Novos Estudos de Letramento (STREET, 2010, 2014), a partir dos quais
se passa a conceber o letramento como prática social, o objetivo deste trabalho é possibilitar uma
reflexão sobre o papel da oralidade em práticas de letramento acadêmico nos cursos de Letras de
universidades paranaenses. Para tanto, busca-se especificamente analisar ementas e planos de ensino de
disciplinas voltadas para o desenvolvimento de competências relativas à leitura e à produção textual nos
cursos de Letras de cinco universidades paranaenses, a fim de verificar como o trabalho com a oralidade
é (ou não) tomado como prática de letramento acadêmico no contexto dessas disciplinas. A análise se
fundamenta nos modelos de letramento autônomo e ideológico propostos por Street (2010, 2014) e visa a
uma reflexão sobre as práticas de oralidade realizadas a partir do trabalho com gêneros orais proposto
para o desenvolvimento do letramento acadêmico de futuros profissionais da educação da área de Letras.
Esta comunicação é um relato de experiência, pela qual a oralidade é ferramenta fundamental para a
efetiva interação da Língua Portuguesa com as demais áreas do conhecimento, entre alunos do Ensino
Médio e do Fundamental I e II, em três instituições privadas e públicas de ensino, no município de
Curitiba, no ano de 2013. A promoção do evento “Faça e compartilhe” foi fundamentada pela
problematização pertinente ao descaso da sociedade e do poder público quanto à poluição do Rio Belém.
Fundamentados pelas leituras e discussões orais nas aulas de Sociologia e de Língua Portuguesa, os
alunos sentiram a necessidade de intervenção e, assim, delimitou-se a organização de um evento oral a
fim de se possibilitarem, entre as comunidades escolares, as condições reais de interação e parceria para
uma educação voltada ao processo cultural da Ecobiologia interior, tendo como ponto crucial a prática
dos gêneros orais. O evento foi organizado e protagonizado pelos alunos, mediado pela professora de
Língua Portuguesa e de Sociologia, com o objetivo de divulgar e promover a conscientização dos demais
colegas e da comunidade escolar de variadas instituições de ensino. O evento promoveu o uso da
oralidade pelos alunos em situação real de interação e de intercâmbio em seus respectivos papéis na
condução do evento, encaminhados pelos mestres de cerimônia, os quais conduziram os alunos
palestrantes, as apresentações cênicas e musicais. Como resultado, o protagonismo juvenil demonstrado
no evento incentivou a adesão de outros colaboradores, fomentando novos grupos de discussões e de
ações junto aos órgãos públicos competentes, como, por exemplo, a câmara de vereadores.
Toda ação pedagógica deve pautar-se pela interação social entre os sujeitos envolvidos no processo de
ensino-aprendizagem. Neste contexto, é necessário criar um ambiente adequado à utilização da oralidade
em situações reais de uso. Assim sendo, este artigo propôs-se a refletir sobre o espaço da oralidade na
prática docente. A pesquisa foi fundamentada teoricamente pelos estudos de MARCUSCHI; DIONISIO
(2007) e SCHNEUWLY; DOLZ (2010); O percurso metodológico utilizado foi: a) realização de
Oficinas Pedagógicas, por meio de Curso de Extensão no LALUPE (Laboratório Lúdico de Pedagogia)
na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) com alunos do Curso de Licenciatura em Letras e
Pedagogia cujo objetivo visava à socialização de práticas da oralidade e letramento; b) coleta de dados
com os sujeitos participantes a partir das avaliações realizadas nas oficinas; c) análise e categorização
dos resultados coletados dos discursos dos sujeitos. Foram estabelecidas 3 (três) categorias de análise:
As dificuldades com a oralidade, o desenvolvimento de práticas orais e a importância da oralidade no
ambiente escolar. Como resultado da pesquisa verificou-se que é necessário criar espaços para novas
metodologias e instigar os alunos à busca de estratégias diferenciadas para o desenvolvimento de ações
significativas no contexto escolar, pois é no cotidiano que as experiências acontecem e revelam-se como
forma de aquisição dos usos sociais da linguagem.
O presente estudo é resultado de pesquisa realizada junto a professores em formação continuada de uma
Rede Municipal de ensino. O trabalho realizado consiste em orientar os docentes quanto ao
encaminhamento teórico-metodológico para ensino de Língua Portuguesa. Das observações, foram
constatados diferentes conflitos em relação aos aspectos teóricos e à prática didática, sendo o ensino da
oralidade um dos entraves para o desenvolvimento das capacidades de linguagem oral dos alunos. Pelos
relatos das experiências dos docentes com o ensino da oralidade foi possível averiguar que o trabalho é
dificultado por proposições de atividades de ensino limitadas, com intervenções pouco eficazes, que
correspondem às condutas de comunicação oral espontâneas. Tendo em vista essa problemática, neste
trabalho objetiva-se tratar da questão do ensino da oralidade nos anos iniciais do ensino fundamental de
modo a fundar um ensino formal, sistematizado e intencional capaz de transformar os conhecimentos
espontâneos em conhecimentos científicos. Assim, essa discussão ancora-se nos postulados da Teoria
Histórico-Cultural (VIGOTSKY,2000), dos preceitos bakhtinianos e inspiradas no dispositivo Sequência
Didática (DOLZ; NOVERRAZ, SHCNEUWLY, 2004). Também, nos deteremos às pesquisas de
MARCUSCHI (2001) para termos uma noção – ainda que preliminar – sobre os conceitos de oralidade e
escrita, e de SOARES (2003) e KLEIMAN (2005-2010; 2007) que aliam essas modalidades ao conceito
de letramento, dentro do âmbito escolar. Como resultados, espera-se que este artigo possa trazer uma
contribuição sistemática, com aprofundamento na formação docente de modo que possa complementar o
trabalho em sala de aula.
Este trabalho, de natureza quali-quantitativa, objetiva compreender de que modo o registro do acento
gráfico age como pista de um imaginário que a criança constrói sobre a escrita ao produzir um enunciado
escrito. A pesquisa justifica-se pelo fato de haver poucos estudos direcionados à aprendizagem e por
trazer reflexões sobre o processo da aquisição formal da escrita infantil, com foco na acentuação gráfica,
sob o viés da concepção de escrita constituída de modo heterogêneo (Corrêa, 2004). O material de
análise é formado por 49 enunciados escritos infantis, que compõem parte do banco de produções
textuais dos Grupos de Pesquisa Estudos sobre a linguagem (GPEL/CNPq) e Estudos sobre a aquisição
da escrita (CNPq), focalizando as palavras que são graficamente acentuadas, de acordo com o sistema
ortográfico do Português Brasileiro. Partir-se-á dos seguintes questionamentos: Por qual(is)
imaginário(s) circula o aluno em processo de aquisição da escrita, ao registrar o acento gráfico? Como
esse imaginário é construído? Foram identificadas ocorrências dos diacríticos agudo (´) e circunflexo (^),
os quais se dividiram, de modo geral, em dois grupos: (1) palavras que devem ser acentuadas
graficamente (convencionais/não convencionais) e (2) palavras que não devem ser marcadas
graficamente, mas, foram acentuadas (não convencionais). A hipótese inicial foi confirmada, pois as
práticas sócio-históricas das quais os alunos participam também interferem no imaginário criado por eles
ao marcarem ou não o diacrítico, o que contribui para consolidar a relação intrínseca entre práticas do
oral/falado e do letrado/escrito nas produções textuais escritas.
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O presente trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre a relação entre o oral e o escrito a partir
de dados de translineação. Especificamente, busca-se (1) verificar, nos enunciados escritos infantis que
compõem o corpus de análise, os registros convencionais e não convencionais de translineação, para (2)
propor uma classificação a essas recorrências e, assim, (3) levantar hipóteses explicativas para
compreender a relação entre os registros de translineação e a relação oral e escrito. Para isso, utiliza-se
como material de análise 758 enunciados escritos por crianças em fase de aprendizagem formal da
escrita, os quais pertencem ao Banco de Produções Textuais dos Grupos de Pesquisa (CNPq) Estudos
sobre a aquisição da escrita e Estudos sobre a linguagem. A partir dos dados quantitativos, observou-se
299 registros de translineação, que foram divididos em (1) 242 convencionais; (2) 32 não convencionais,
sem hífen e sem ruptura; (3) 5 não convencionais, sem hífen, com ruptura; (4) 16 não convencionais,
com hífen e com ruptura; (5) 4 não convencionais, com hífen e com junção. Qualitativamente, por meio
da translineação, pode-se inferir que as crianças levantam hipóteses para a partição da palavra que,
simultaneamente, envolvem fatores fonológicos, característicos das práticas orais, e gráficos,
perceptíveis nas práticas letradas, fato que corrobora com uma concepção de escrita heterogeneamente
constituída.
Ao lançar olhar para sete enunciados escritos por crianças, Capristano e Oliveira (2014) observaram que
os escreventes direcionavam um mesmo enunciado para mais de um Outro/destinatário. Ao fazer essa
observação, elas consideraram que as marcas que indiciam essa oscilação no endereçamento poderiam ser
tomadas como pistas das relações intergenérias. Partindo dessa hipótese, propomos este trabalho com o
objetivo de investigar marcas linguísticas que indiciam o endereçamento de enunciados produzidos por
crianças do Ensino Fundamental I, verificando se a presença dessas marcas, de fato, podem ser
interpretadas como pista das relações intergenéricas e, consequentemente, da constituição historica do
enunciado. Para tanto, foram analisados 274 enunciados infantis, recolhidos a partir de seis propostas
aplicadas na antiga quarta série no Ensino Fundamental I. Essa análise foi direcionada pelos princípios
teóricos-metodológicos do paradigma indiciário, tal como proposto por Ginzburg (1986). A partir dessa
análise, pudemos observar que: (a) a oscilação do endereçamento é uma tendência nos enunciados
analisados, mas não uma regularidade, pois houve casos em que não conseguimos eleger marcas
linguísticas que apontavam para um duplo endereçamento; (b) o endereçamento mais presente nos
enunciados oscilantes foi a instituição escolar; (d) as marcas linguísticas que indiciam a oscilação do
endereçamento apontam para a cirulação do escrevente por práticas orais/letradas, faladas/escritas,
principalmente, das esferas publicitária, escolar e cotidiana; (e) a proposta de produção é um fator
importante na maior ou menor incidência de oscilação.
Neste trabalho, busca-se um ponto próprio de observação da argumentação, em textos produzidos por
sujeitos do primeiro ano do Ensino Fundamental de uma escola pública e periférica de Assis (SP),
portanto, em fase de aquisição do modo escrito de enunciar. Para isso, propõem-se relações entre o
conceito de Tradição Discursiva, baseado no pressuposto de que os textos têm história e de que essa
história – tomada em sua relação de tradição e atualização – pode determinar os usos textuais,
independentemente de seus modos de enunciação, e os elementos juntivos do texto, considerados
em/como espaços de repetibilidade que mostram os diferentes tipos de circulação do escrevente pelo que
imagina ser: (a) a gênese da escrita; (b) o código escrito institucionalizado e (c) o já-falado/escrito, os
quais, para o analista, constituem três eixos de observação da heterogeneidade constitutiva da escrita.
Esses eixos, ao lado de um critério bidimensional (sintático e semântico) de descrição dos distintos
mecanismos de junção, constituirão os instrumentos metodológicos para a descrição da argumentação e
para sua identificação como uma tradição de dizer/escrever.
A partir de dificuldades encontradas em produções orais e escritas de textos do tipo argumentativo por
alunos de uma turma de oitavo ano, surge a ideia de realizar atividades pedagógicas, em etapas,
considerando contribuições da Análise do Discurso. Nesse caso, pretendemos elaborar uma pesquisa que
mostre como as condições de produção em sala de aula podem auxiliar na formação discursiva e,
portanto, argumentativa dos discentes. A metodologia utilizada é de natureza qualitativa (BORTONI-
RICARDO, 2008), compatível com a pesquisa-ação (THIOLLENT, 2009), por meio da qual serão feitas
as intervenções em cada etapa proposta. As atividades didáticas a serem realizadas têm como ponto de
partida os Temas Transversais apontados nos PCN. Consideramos análises de KLEIMAN (2011) sobre
estratégias de leitura na abordagem de textos e de KOCH (2014) sobre estratégias de produção textual, as
quais nos servirão de parâmetro para a análise do material a ser produzido. Pretende-se que a produção
final seja a retextualização, defendida por MARCUSCHI (2010), do texto oral registrado para um texto na
modalidade escrita, de tipo argumentativo, e vice-versa; além do preparo de um arquivo de áudio, o
podcast, como motivação para expressão oral dos alunos. Serão apresentadas, portanto, relações entre o
tratamento da oralidade e da escrita no ensino de Língua Portuguesa. As produções serão veiculadas no
blog e no jornal da escola onde a pesquisa tem sido realizada. Espera-se como resultado que as etapas
propiciem aos discentes uma análise mais sistemática dos recursos argumentativos e uma melhor reflexão
sobre sua linguagem.
Tencionamos, neste trabalho, problematizar a relação entre práticas letradas digitais e práticas letradas
acadêmicas no contexto de ensino superior no Brasil, levando em consideração a perspectiva da
instituição universitária. Nosso interesse pela temática decorre, por um lado, da prevalência do discurso
do déficit quanto a práticas de leitura e escrita de sujeitos universitários (no caso desta proposta,
licenciandos em Letras, professores em formação inicial), por outro, da prevalência de um discurso
segundo o qual a inserção de práticas digitais no contexto educacional proporcionaria ensino “inovador”,
o qual apresentaria resultados mais concretos na produção de conhecimento. Os pressupostos teóricos
advêm dos Novos Estudos de letramento (STREET, 20014), em especial, dos estudos sobre letramentos
digitais no ensino superior (JONES, 2013; GOODFELOW, 2012). Com base nesses pressupostos,
propomos avaliar, de um ponto de vista interpretativo que privilegia essas (novas) práticas de leitura e
escrita (LEA; STREET, 2014), um conjunto formado de quatro ementas de disciplinas que tratam de
leitura e escrita e de produção textual num Curso presencial de Licenciatura em Letras, numa
universidade federal brasileira no interior da Amazônia. Interessa-nos, de maneira particularizada,
investigar uma noção de “texto” que é privilegiada pela instituição.
Esse estudo objetivou analisar os sentidos e significados que adultos com deficiência intelectual (DI)
atribuem à alfabetização e letramento. No âmbito teórico-metodológico, fundamentou-se nos
pressupostos histórico-culturais. Trata-se de pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso múltiplo e os
instrumentos adotados foram análise documental, entrevista semiestruturada e aplicação de um protocolo
de avaliação em leitura e escrita. Os sujeitos foram cinco adultos com DI com idades variando de 36 a 46
anos. A análise dos dados foi realizada por meio de levantamento de três núcleos de significação: sentido
e significado atribuído à leitura e à escrita; bens culturais e materiais relacionados ao desenvolvimento do
deficiente intelectual e lugar social de leitor/escritor ocupado pelos sujeitos da pesquisa. Para esse texto
destacamos apenas o primeiro núcleo. Os dados revelaram que os sujeitos conhecem materiais escritos, os
quais perpassam por diferentes instrumentos técnicos semióticos, mas nem todos acessam esses materiais
da mesma forma. Alguns avançaram nos aspectos referentes à língua escrita e outros não. Os sentidos e
significados atribuídos à leitura e à escrita reverberam o modo como ocorre a alfabetização, em que o
significado estabilizado resultante de práticas pedagógicas de leitura e escrita geralmente não tem ligação
com o contexto social, evidenciando o distanciamento entre a leitura e a escrita trabalhadas dentro da
escola e as vivenciadas em outras instâncias. Os resultados indicam ainda necessidade de realização de
mais pesquisas sobre as zonas de sentido que se fazem presentes no processo de alfabetização e
letramento, pois o significado é apenas uma delas.
Dando continuidade ao estudo neurolinguístico - empreendido por vários pesquisadores que focalizam a
tríade fala, leitura e escrita, e sua interrelação - da entrada da criança no mundo das letras, processo que
tem muito em comum com a involução que o afásico experimenta, este texto põe em relevo o modo como
a criança lê o que escreve, em suas primeiras tentativas, por um lado, e o modo como afásico também o
faz, por outro. Muitas de nossas pesquisas com afásicos retomando a escrita e com crianças
experimentando a escrita mostram a presença da fala na escrita. Este texto objetiva focalizar, em especial,
um certo ajuste que o falante faz ao ler depois de escrever, para que a escrita que propôs caiba na fala que
lê, diferente de como diz a palavra sem a escrita como apoio. É constitutiva a questão do ritmo da fala e
da escrita, como alguns linguistas já apontaram, tanto para a criança quanto para o afásico. Serão
apresentados dados, e proposta sua análise, de crianças e de afásicos em situações de escrita em que, por
exemplo, um segmento da palavra é omitido ao escrever e expandido em sua leitura, diferentes sílabas
complexas são escritas como simples e um segmento é inserido na leitura do que se escreve. Os
resultados, produzidos por sujeitos diante de um sistema em estruturação (aquisição) e em desestruturação
(afasia), mostram caminhos comuns que afásicos e crianças tomam e, assim, contribuem para uma maior
compreensão tanto do processo normal de aquisição e uso da escrita quanto de processos patológicos que
ocorrem na afasia.
O objetivo desta comunicação é analisar a construção da coerência textual (KOCH &Tavaglia, 2003),
focando a relação entre escrita e imagem (SANTAELLA, L. & NÖTH, 2012; KRESS &VAN
LEEUWEN, 1996) de três textos de estudantes do 5º ano do Ensino Fundamental I, de uma escola pública
de Itaporã, interior do Mato Grosso do Sul. A proposta de escrita é baseada em uma tira de Maurício de
Souza: o 5º ano deveria produzir uma narrativa baseada nas imagens. Os dados, selecionados
qualitativamente, apontam para o tipo de relação que os escreventes estabelecem entre imagem/escrita na
construção da coerência textual. Dois, desses três dados, foram selecionados em função daquilo que a sua
singularidade revela, com base no Paradigma Indiciário (GINZBURG, 1999). São ocorrências que levam
à reflexão de que a construção da (in)coerência textual pode estar intrinsicamente relacionada a práticas
de letramento (STREET, 2006) - portanto, o conceito de coerência, em situações de aquisição da escrita e
de ensino, será melhor compreendido se deslocado do campo estritamente textual para tais questões, que
envolvem as práticas sociais.
Com o objetivo de analisar a apropriação da escrita, especificamente no que tange à dialogia com o já
falado/escrito, propomos apresentar uma análise de produções textuais escritas de estudantes/escreventes
do 3º ano do Ensino Médio, elaboradas a partir de um processo didático-pedagógico com o ensino do
gênero “artigo de opinião”. Para tanto, ancoramo-nos nos pressupostos teóricos de Bakhtin, sobre a
dialogia da linguagem, na proposta de unidade didática, feita em Oliveira (2013) e, por fim, no modo
como Corrêa (2004) entende a constituição da escrita. Adotamos como procedimento teórico-
metodológico o paradigma indiciário. Portanto, esta pesquisa é de base investigativa qualitativa e, por
meio dela, buscamos demonstrar a circulação dialógica que os escreventes fazem na apropriação de
discursos dos artigos/textos lidos/trabalhados durante o processo produção textual. Na discussão dos
dados, são abordados os seguintes aspectos: (1) apropriação de discursos: informações e dados dos textos
já escritos lidos/estudados; (2) apropriação do discurso dos questionamentos escritos e debatidos sobre o
conteúdos dos artigos de opinião presentes na produção escrita; e (3) apropriação de aspectos linguísticos
dos artigos trabalhados e das atividades realizadas, por remissões e colagem de itens lexicais e de uso de
pontuações específicas. Por meio desse estudo, vimos o quanto é fundamental a organização e
sistematização do ensino – consoante a Vigotski (2010) – para que, de fato, o estudante adquira, amplie e
desenvolva seus conhecimentos. E, assim, enquanto professores, possamos propiciar condições para um
letramento escolar eficiente, como recomendam os estudiosos da linguagem.
Este estudo, ainda em andamento, objetiva desvendar a imagem que uma docente universitária tem do que
seja o gênero relato reflexivo e do que seja um relato reflexivo bem escrito. Analisa-se um relato escrito
por uma bolsista do Programa de Incentivo à Docência (Pibid), o qual é desenvolvido na Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), campus de Dourados, no curso de Pedagogia. As análises são
empreendidas à luz dos estudos de letramento, especialmente, aos de Corrêa (2001, 2004). O linguista
defende a heterogeneidade da escrita, que é vista como interior à escrita e não exterior a ela (2001),
podendo ser reconhecida por pelo menos três eixos: (1) em relação a aspectos da representação gráfica;
(2) na escrita, como na língua; (3) na circulação dialógica que o escrevente faz ao produzir o texto escrito.
Para as análises, adotaram-se os tipos de correção (Ruiz, 1998, 2010), como também a presença dos eixos
como critério de análise. Entre os tipos de correção identificados, destacam-se o indicativo, o resolutivo e
o textual-interativo. Quanto aos eixos apresentados por Corrêa, os três revelam-se. Verificou-se que o
Pibid se estabelece como um programa que proporciona às bolsistas e aos professores universitários um
espaço real de avaliação do fazer docente, bem como de aspectos ligados à produção textual e à relação
entre o oral/falado e o letrado/escrito.
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Simpósio 21: Os gêneros jornalísticos nas diferentes práticas de linguagem: da formação em letras ao ensino de línguas
Este trabalho tem como foco de estudo os gêneros jornalísticos carta do leitor e editorial abordando suas
características linguístico-discursivas e considerando as situações de produção, bem como seus
interlocutores. A partir desse estudo comparativo, tecemos algumas considerações a respeito da inclusão
desses gêneros no ensino de língua portuguesa, seja na Educação Básica ou no Ensino Superior. De
acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008), é função da escola
apresentar diversos textos com funções sociais diferentes, proporcionando ao aluno o contato com as
práticas de uso da língua. Entendemos que o exercício do jornalismo é uma prática social ao mesmo
tempo em que se configura como espaço privilegiado de formação de opinião. Nesse sentido, nossa
proposta é refletir sobre os gêneros textuais presentes na esfera jornalística de forma a integrá-los como
instrumentos de ensino em aulas de Leitura e Produção Textual de Língua Portuguesa. Ao se colocarem
como produtores destes gêneros, o alunos/acadêmicos devem compreender as capacidades discursivas
inerentes ao jornal e perceberem o(s) discurso(s) (re)produzidos pela mídia, seja impressa ou digital. Para
fundamentar teoricamente este estudo, traçamos o conceito de gênero (BAKHTIN, 2010), as
contribuições do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 2009), assim como estudos de
especialistas da área de comunicação e jornalismo a respeito dos gêneros abordados (BELTRÃO, 1980) e
(MELO, 1994).
No contexto da educação básica, os apelos para a introdução nas aulas de dispositivos didáticos que
ultrapassem o uso do livro didático impõem a necessidade de inovação dos recursos materiais,
tecnológicos e semióticos que possibilitem a “presentificação de objetos de ensino” (SCHNEUWLY,
2009). Nos ouvidos do professor ressoam tais apelos para que se abram as portas da escola para “a
abordagem pluralista de culturas e a multissemiose” (ROJO e MOURA, 2012). Isso implica a necessidade
de uma “pedagogia dos multiletramentos” que aponte para a multiplicidade semiótica de constituição dos
textos por meio dos quais as pessoas se informam e se comunicam. Nessa perspectiva, o telejornal e o
tipo de mediação que ele produz são frutos de uma construção social que, no contexto educacional,
tomado como mídia dos alunos pode ser construído com implicações sociais diversas, dependendo do
modo como se dá esse processo. Com fundamentação teórica do Interacionismo Sociodiscursivo, em sua
vertente voltada para o ensino (BRONCKART, 2003; 2006) e na noção de sincretismo (FLOCH, 1985;
1988), o nosso objetivo é o de apresentar uma proposta de atividades sequenciais a partir das atividades
modulares com telejornal que pode ser adaptada em diferentes contextos de ensino e aprendizagem da
educação básica. Focalizamos o telejornal como uma produção cultural complexa que faz dele um
megainstrumento semiótico que exige capacidades e práticas de compreensão e produção para fazer
significar e apresentamos uma proposta de transposição didática do gênero em aulas de língua portuguesa
que se constituem como práticas textuais e discursivas para multiletramentos.
A finalidade desta comunicação é apresentar uma análise do processo de transposição didática do gênero
“reportagem” no contexto de formação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(PIBID) da Universidade Estadual do Norte do Paraná, campus de Cornélio Procópio. Esse gênero é um
dos que foram trabalhados no subprojeto “Letramentos na escola: práticas de leitura e produção textual”,
o qual tem como foco a construção de um jornal escolar – o Jornal PIBID – mediada pela metodologia
das de sequências didáticas gêneros (SDG) criada pelo Interacionismo Sociodiscursivo (SCHNEUWLY;
DOLZ, 2004). Tal jornal já conta com duas edições: uma de 2014 e outra de 2015. O objetivo deste
trabalho é investigar o processo de didatização do gênero “reportagem” conduzido por uma SDG
elaborada para o ano de 2014 e modificada/adaptada para as intervenções de 2015, comparando o
trabalho realizado nos dois anos, a fim de evidenciar alterações nas concepções dos atores envolvidos no
processo em relação à língua, ensino e ao próprio gênero unificador da intervenção didática. Trata-se de
uma pesquisa-ação em que a pesquisadora é também a coordenadora do subprojeto em questão. Os
resultados preliminares apontam uma tentativa de, no segundo ano de intervenção, dar mais voz e
autonomia aos alunos-jornalistas na condução das atividades de construção do jornal escolar.
O objetivo da apresentação é refletir sobre os gestos profissionais para acionar recursos materiais e
semióticos pelos quais um professor opera processos de ensino e aprendizagem nas atividades com
gêneros textuais do jornalismo impresso. A discussão está ancorada no pressuposto de que a formação
continuada de professores na abordagem do interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 2008)
deveria integram dois polos: o do trabalho de ensino e o ensino como trabalho. No primeiro, o foco recai
sobre os saberes específicos da disciplina em conformidade com as prescrições oficiais (a leitura, a
escrita, a oralidade, a análise linguística com foco nas práticas discursivas). No segundo, o foco recai no
trabalho docente situado (MACHADO & BRONCKART, 2009; FAITA, 2004 ) e nos gestos profissionais
(BUCHETON, 2013). A integração dessas abordagens nas atividades de formação contínua de
professores pode permitir a emergência de espaços de reflexão que contribuam para a tomada de
consciência sobre o agir em relação ao gênero profissional e seu ajustamento na ação educacional.
Partindo da premissa de que os gêneros de textos constituem os formatos das interações humanas que
propiciam o desenvolvimento, os dados apresentados indiciam gestos do coletivo de trabalho e gestos
singulares de adaptação em função do contexto das atividades emergentes de um projeto didático de
produção, editoração e circulação de jornal escolar em escola pública, assim como as ações implicadas
nesse processo.
Nossa proposta de discussão nesse simpósio é o gênero Carta Aberta que, como outros gêneros, nasceu
das práticas sociais, começa a ganhar espaço na escola e atinge o status de gênero em situação de
vestibular, devido à sua importância para a sociedade. De gênero pertencente à esfera jornalística, a carta
aberta vem sendo apropriada pelo cidadão comum na defesa de seus direitos. A simpatia e/ou o
engajamento de seu espectador é fundamental para o seu êxito. Isso porque essa variação de carta tem
sido recurso de lutas sociais, numa tentativa de minimizar essa relação entre dominante e dominado.
Aquele (indivíduo ou grupo) que se sente em prejuízo diante de uma situação (individual ou coletiva),
recorre a esse gênero como uma forma de fazer valer outro olhar: o seu. Em sala de aula, além de se
considerar as condições de produção, o foco de atenção na construção desse formato de texto é o
desenvolvimento da consciência, no estudante, de que a carta aberta busca interagir e persuadir, por meio
de argumentos e de reflexão sobre esses argumentos, um público (o espectador) e não, necessariamente
seu destinatário (a menos que esse seja também o público). Em outras palavras, a argumentação
apresentada na carta aberta deve ser capaz de conseguir a adesão desse público, para que ele tome partido
da linha de defesa do autor sobre um tema ou sobre um fato.
As Orientações Curriculares para o Ensino Médio: linguagens, códigos e suas tecnologias (BRASIL,
2006) prescrevem que o ensino médio tem como um de seus objetivos capacitar os alunos para o
aprendizado permanente, seja no eventual prosseguimento dos estudos, seja no mundo do trabalho. Nesse
sentido, a fim de colaborar para que os alunos possam ter acesso à prática letrada de participarem de um
vestibular, com a finalidade de cursar uma graduação, a equipe do subprojeto Letras/Português, que
integra do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Estadual
do Norte do Paraná (UENP), campus Jacarezinho, elaborou e implementou no ano de 2015, um projeto de
letramento, tomando como objeto de ensino e aprendizagem o gênero textual artigo de opinião como
redação do vestibular. O objetivo de nossa comunicação é, portanto, apresentar o referido projeto, o qual
foi organizado tendo como pressupostos as definições de letramento de Kleiman (2000; 2005; 2008) e
Soares (2003), e os conceitos de gêneros textuais e de seu ensino instituídos pelo Interacionismo
Sociodiscursivo (BRONCKART, 2009; DOLZ, NOVERRAZ E SCHNEUWLY, 2004). Os resultados
demonstram que várias e diferentes estratégias tiveram que ser construídas para que todos os elementos
que formam o gênero artigo de opinião como redação fossem tomados como objeto de ensino e
aprendizagem e que para o gênero fosse o conteúdo escolar ensinado e ao mesmo fosse o guia para o
ensino das dimensões, das especificidades de um gênero e de suas operações de uso.
Palavras-chave: Gêneros textuais, Artigo de opinião como redação de vestibular, Projetos de letramento
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Este trabalho filia-se ao grupo de pesquisa GEELLI (Grupo de Estudos em Ensino de Línguas e
Literatura), sediado no IFMT - Campus Cuiabá, cujo objetivo é o desenvolvimento de pesquisas
relacionadas às práticas discursivas e pedagógicas que envolvem o ensino de línguas e literatura na
educação profissional de nível médio técnico e de nível superior. Baseando-se nas orientações
curriculares para o ensino médio, este trabalho propõe apresentar os resultados de implementação de uma
sequência didática do gênero artigo de opinião realizada em duas turmas do 4o. ano do Ensino Médio
Integrado ao Técnico de Edificações do IFMT - Campus Cuiabá. Seguindo pressupostos teórico-
metodológicos do interacionismo sociodiscursivo proposto por Bronckart (1999, 2006, 2008) e
Schneuwly e Dolz (2004; 2009), a sequência didática ocorreu por meio de oficinas de trabalho com vistas
ao desenvolvimento de capacidades de ação, capacidades discursivas e capacidades linguístico-
discursivas do gênero em questão. Entre essas capacidades de linguagem, o enfoque maior foi dado
àquelas relacionadas ao domínio dos mecanismos linguístico-discursivos da sequência argumentativa. Os
resultados dessa ação pedagógica demonstrou que os alunos, além de se apropriarem de capacidades para
a prática de produção de textos para a progressão acadêmica via Enem, puderam vivenciar práticas sociais
de referência ao semiotizarem seus pontos de vista em artigos de opinião que foram publicados em jornais
de circulação regional da cidade de Cuiabá-MT.
À luz da concepção interacionista de linguagem que encontra respaldo na teoria dialógica do círculo de
Bakhtin e nas bases teóricas da Linguística Aplicada sobre as práticas discursivas de leitura, escrita e
análise linguística, temos como objetivo, dentro de uma concepção de escrita como trabalho, promover o
desenvolvimento da capacidade de escrita de alunos de curso de Letras, a partir de um suporte didático-
pedagógico definido, em ambiente virtual, com base em gêneros jornalísticos, nos moldes de um jornal-
laboratório, buscando diminuir a artificialidade que tradicionalmente permeia o processo de produção
textual escrita nos diferentes níveis de ensino. A criação e a manutenção de um suporte também podem
atender ao preceito de que o jornalismo compreende a divulgação dos mais diversos fatos e temas
orientada pelas características desse campo da comunicação humana, o que vem ao encontro das
necessidades reais de preparar futuros professores para a compreensão de diferentes discursos. Como
resultado dessa proposta, tivemos a experiência de escrita no subprojeto de PIBID Formação docente em
Letras e os gêneros jornalísticos no ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa, com cinco edições no
jornal Espaço das Letras, instrumento que concretizou uma das ações previstas para os iniciantes à
docência. Atualmente estamos trabalhando com outro suporte, em projeto de ensino intitulado Jornal O
Consoante: instrumento didático-pedagógico para a produção escrita de acadêmicos do curso de Letras.
Ao partir do pressuposto de que um cidadão que não domine as habilidades de leitura e escrita está
propenso ao fracasso escolar e à exclusão social, logo, é possível afirmar que estas são aprendizagens
essenciais de todo o sistema de instrução pública. O presente artigo consiste em um estudo de natureza
qualitativa e bibliográfica a respeito da relevância do trabalho com gêneros argumentativos em sala de
aula, em específico, o artigo de opinião. A escolha do gênero tomou como base a análise de sua complexa
estrutura, que possibilita ao aluno um variado repertório de marcas linguístico-discursivas, ao mesmo
tempo em que permite o acesso às formas de socialização mais complexas da vida cidadã. Essas são
características fundamentais do trabalho com gêneros textuais, tendo em vista o que preceitua a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) segundo a qual é necessário vincular a
educação escolar à prática social. Para tanto, serão analisados os relatos de experiência a despeito da
aplicação de uma sequência didática com turmas de ensino médio, nas quais a produção do artigo de
opinião foi concretizada, tendo como objetivo geral desenvolver a habilidade crítico-discursiva dos
alunos. O percurso teórico-metodológico foi delineado através das ideias de autores como BRÄKLING
(2000), BAKHTIN (1997), BRONCKART (2006), entre outros. Os resultados apontam para a
importância do trabalho com o gênero textual artigo de opinião para o desenvolvimento da habilidade
crítico-discursiva dos alunos e sua relação com a prática social.
Para esta comunicação o objetivo é apresentar o processo de modelização do gênero, cuja finalidade é
produzir e analisar um caderno pedagógico conduzido pelo gênero "reportagem de divulgação científica",
utilizando a metodologia das sequências didáticas de gêneros criada pelo Interacionismo Sociodiscursivo
(ISD). Serão alvos das análises da sequência didática: as capacidades de linguagem mobilizadas nas
atividades , os tipos de tarefas e atividades, a sequenciação das atividades, a articulação entre as práticas
de leitura, escrita, oralidade e análise linguística. Será apresentada uma análise da sequência didática
produzida, tendo como parâmetro o confronto entre o modelo teórico( BARROS, 2012) e o modelo
didático (DE PIETRO; SCHNEUWLY, 2014) do gênero em questão produzidos para a pesquisa e a
análise das capacidades de linguagem pressupostas pelas atividades planificadas. A modelização tem
como corpus dez reportagens de divulgação científica publicadas pelas revistas Veja, Super Interessante,
Unespiciência e o jornal Folha de Londrina. Os resultados mostram que a didatização desse gênero requer
uma adaptação quando seus propósitos comunicativos, uma vez que o aluno não irá "divulgar"uma
pesquisa recém publicada. Com este trabalho procura-se contribuir com a área de ensino da língua
portuguesa, sobretudo, no que diz respeito à elaboração de materiais didáticos.
Este trabalho pretende mostrar como a Teoria da Estrutura Retórica - RST - constitui um arcabouço
teórico metodológico eficaz para o desenvolvimento da habilidade do aluno na produção textual,
especialmente no que se refere à produção de textos do gênero resumo escolar. A adequação dessa teoria
está no fato de ela se preocupar em descrever a organização coerente do texto em suas partes. Parte-se da
segmentação de textos, de tipologia narrativa, em unidades informacionais, para mostrar como a
estratégia de levar o aluno a detectar as unidades centrais do texto, bem como as relações retóricas que
emergem entre tais unidades e as partes secundárias, ou periféricas - ou, em outros termos, das partes que
constituem o núcleo e o satélite - podem contribuir para um melhor desempenho do aluno na atividade de
produção de resumo escolar. Pretende-se verificar se a adequação do resumo de determinado texto se
deve, ou não, ao fato de ele conter aquelas unidades informacionais que melhor expressem a temática
central do texto fonte, revelando o objetivo comunicativo do produtor desse texto. Pretende-se também
verificar em que medida as unidades informacionais materializadas pelos satélites podem, ou não, ser
descartadas na confecção do resumo, revelando se a decisão do aluno, ao produzir o resumo, centra-se na
nuclearidade da informação ou no efeito da relação retórica emergente entre as porções núcleo e satélite.
Entende-se que o trabalho com a RST em sala de aula pode render benefícios não só para a compreensão
do eixo temático de um texto como também para a reorganização, em forma de resumo, das informações
tidas como ideias centrais do texto.
Este trabalho propõe analisar a organização retórica de textos pertencentes ao gênero textual artigo de
opinião, publicados nas revistas Carta Capital e Veja, abordando diferentes temáticas. Adotam-se os
postulados teóricos do Funcionalismo Linguístico, especialmente a Teoria da Estrutura Retórica
(Rethoric Structural Theory – RST), teoria descritiva defendida por Mann &Thompson (1983), Mann
(1984), Mann & Thompson (1988), que não entende o texto como uma mera sequência de frases e tem
como objetivo estudar a sua organização, para identificar e caracterizar as relações que se estabelecem
entre as suas partes, bem como explicar a coerência textual. O estudo aqui proposto debruça-se sobre
esse campo com a finalidade de verificar se há uma caracterização específica do artigo de opinião
enquanto pertencente a esse gênero. Parte-se da hipótese de que esse gênero apresenta a incidência de
relações retóricas de evidência, justificativa e avaliação, visto que o produtor tem o objetivo de
convencer o leitor das ideias discutidas. Prioriza-se a microestrutura do texto, para verificar a forma
como as orações se articulam, com a finalidade de se atingir o fim comunicativo, considerando o
produtor e possíveis leitores. Nesta pesquisa, o conceito de texto alinha-se a Antunes (2010), ao afirmar
que “por mais que esteja fora dos padrões considerados cultos, eruditos ou edificantes, o que falamos ou
escrevemos, em situações de comunicação, são sempre textos” e gêneros textuais são entendidos como
tipos relativamente estáveis, conforme postula Bakhtin (1979).
Um estudo acerca da relação entre nomes substantivos e adjetivos e o gênero textual Artigo de opinião é
o tema desse trabalho. O objetivo é estudar se os substantivos e os adjetivos participam da construção
argumentativa do Artigo de Opinião. Para tanto, utilizamos os seguintes procedimentos metodológicos:
Primeiramente, buscamos referenciais teóricos acerca da argumentação (definições, construção,
efetivação) e como ela constitui o gênero textual Artigo de Opinião. Pautamo-nos em estudiosos da
linguística, cujo enfoque é a efetivação do discurso, como Adilson Citelli (1986) e (1994), e Othon
Garcia(2002). Na sequência, valemo-nos dos funcionalistas Ataliba de Castilho (2012) e Maria Helena
de Moura Neves (2000), para relembrarmos as noções gramaticais acerca dos nomes substantivos e dos
nomes adjetivos, bem como o funcionamento discursivo desses, a fim de fundamentarmos as discussões
acerca da relação deles com o gênero textual em questão. Por fim, realizamos o cruzamento das
informações: procedemos a análise do artigo de opinião "O Ocidente escolheu o pior caminho:a guerra",
de Leonardo Boff. Destacamos a construção argumentativa desse gênero da esfera do argumentar,
evidenciando tese e argumentos que o constituem; evidenciamos os substantivos e os adjetivos nele
presentes; avaliamos a relação desses nomes com a construção da tese, dos argumentos, como evidência
do ponto de vista do autor. A partir da análise realizada, constatamos que a seleção de determinados
substantivos e adjetivos é fundamental para construção da coerência argumentativa do gênero textual
Artigo de Opinião, evidenciando que há, de fato, relação intrínseca entre eles.
Este trabalho é um recorte da tese intitulada “A organização textual do sermão bíblico: um estudo
funcionalista das relações retóricas entre tópicos discursivos”. Com o objetivo de descrever a
organização macroestrutural do sermão e de identificar estratégias argumentativas, o presente trabalho
adotou a Teoria da Estrutura Retórica (Rhetorical Structure Theory - RST) e a Perspectiva Textual-
Interativa (PTI) como embasamento teórico. Como unidade de análise, selecionou-se o tópico discursivo.
Apresentar-se-á a análise da macroestrutura de um dos três tipos existentes de sermão. A análise
demonstrou que existe uma organização macroestrutural ordenada conforme os princípios da retórica
(basicamente: introdução, desenvolvimento e conclusão). Foram identificadas nesse nível as seguintes
relações: fundo, parentética, evidência, elaboração, sequência e conclusão. Além disso, identificaram-se
as relações que serviram à argumentação. Na macroestrutura, por exemplo, os satélites das relações de
fundo e evidência apresentam o texto bíblico que fundamenta o sermão. Dessa maneira, verificou-se que
as relações retóricas não apenas são essenciais para a compreensão da organização do texto, mas também
se manifestam a favor da persuasão. Portanto, acredita-se que a articulação teórica proposta possa
contribuir no tratamento também de outros gêneros que requerem um planejamento prévio e que tenham
um caráter persuasivo.
Este trabalho tem por objetivo apresentar algumas questões teóricas e operacionais surgidas da
consideração do tópico discursivo como unidade informacional na análise das proposições relacionais
em gêneros textuais escritos. Para tanto, seguimos orientações apresentadas em Chafe (1980) e em Decat
(2014), relativamente à noção de unidade informacional. Quanto à noção de tópico discursivo, seguimos
orientações de Jubran et al. (2006) e Brown; Yule (1983). A análise demonstra que, assim como as
proposições relacionais, nos termos de Mann; Thompson (1988) e Matthiessen; Thompson (1988), o
tópico discursivo também apresenta propriedades relacionais. Desse modo, a análise das relações que se
estabelecem entre os tópicos discursivos, além de favorecer uma compreensão ampla de certos aspectos
ligados ao fenômeno da coerência constitui um importante procedimento para a análise de certos gêneros
textuais. Esperamos, ainda, com o trabalho, possibilitar discussões acerca de procedimentos operacionais
eficazes, no âmbito da Teoria da Estrutura Retórica, relativamente à segmentação do tópico discursivo
como unidade informacional, haja vista que esse tipo de segmentação, em certos gêneros, requer recortes
nem sempre bem consolidados pelas teorias atuais.
O objetivo deste trabalho é analisar a relação retórica de reafirmação que emerge em repetições e suas
respectivas funções textuais-interativas em língua fala. Para isso, a pesquisa utilizará o corpus de
pesquisa do Funcpar (Grupo de Pesquisas Funcionalistas do Norte/Noroeste do Paraná), que são
transcrições de aulas acadêmicas (elocuções formais), as quais já possuem papéis e posse de turno
previamente fixados, sem muitas marcas de interação. A concepção de língua falada considera que esta e
a língua escrita não são modalidades estanques, ou seja, organizam-se dentro de um contínuo tipológico,
embora existam características específicas da fala. Adotou-se, no trabalho, a teoria da RST (Rethorical
Structure Theory), na qual parte-se da ideia de que, no texto, há relações que se estabelecem por meio de
suas partes, além das que são identificadas pelo seu conteúdo explícito. A relação retórica de reafirmação
é sinalizada quando um elemento constitui, em primeiro lugar, a repetição de outro, com o qual se
encontra relacionado, sendo estes de importância semelhante para os propósitos do falante tem por
finalidade ampliar a compreensão do leitor sobre algo dito anteriormente. Dessa forma, este trabalho
apresentará quais funções textuais-interativas emergem juntamente com a relação de reafirmação em
porções de texto que marcam a estratégia de repetição em aulas de ensino superior.
Em pesquisa em construção com crianças do 6º ano escolar, estudantes do Centro Pedagógico da UFMG,
os dados já levantados apontam para que seja percebido que a estrutura retórica do texto está a serviço da
produção textual, estando o uso de uma ou de outra relação diretamente relacionado à construção de um
gênero. A proposta de escrita de um Conto pretende investigar se as crianças usam uma ou outra relação
retórica, de maneira recorrente, como base para a construção do sentido surpreendente pretendido pelo
gênero Conto. Além dos passos fundamentais para a elaboração da tessitura textual, pôde ser percebido
claramente que relações retóricas semelhantes estão presentes em todos os textos produzidos, fazendo-se
supor que tais relações têm lugar definido pelo produtor do gênero Conto, como sendo essenciais para
que o sentido pretendido se consolide. Um dos princípios da RST, segundo Mann e Thompson (1988),
diz sobre os sentidos que emergem das construções verbais para a criação da coerência do texto
alcançando, assim, a organização textual, a partir da caracterização das relações que se estabelecem entre
as partes desse texto. Destaca-se que existem proposições implícitas, além do conteúdo proposicional
levantado pelo produtor do texto, ou seja, proposições surgem da combinação de orações e não precisam
de marcas linguísticas específicas, como conjunções, por exemplo, para que tais relações existam. Foram
encontradas, nos textos das crianças, relações núcleo-satélite de reformulação, de resumo, de causa, de
condição, de circunstância, de elaboração. Quanto às relações multinucleares, foram encontradas as
relações de lista, de contraste, de sequência.
Vlogs são canais de comunicação on-line em que os conteúdos, de cunho argumentativo, são expressos
por meio de vídeos curtos. Neste trabalho, analisamos dois vídeos do Canal JoutJout Prazer,
administrado pela jornalista Julia Tolezano, o qual atinge, atualmente, cerca de 800.000 inscritos,
abordando temas cotidianos e polêmicos. Realizamos a transcrição de dois vídeos de cerca de 4 minutos
e fizemos a segmentação das porções textuais para analisarmos as relações retóricas estabelecidas na
macroestrutura textual. Para a análise, utilizamos a Teoria da Estrutura Retórica, teoria descritiva que
tem como objeto de estudo as relações que se estabelecem entre as partes do texto. De acordo com essa
teoria, as relações entre as porções textuais podem estar marcadas ou não e são relações implícitas,
identificadas pelo conteúdo semântico e pragmático das orações, recebendo o nome de “proposições
relacionais”. Essas relações podem se dar hierarquicamente, na forma de núcleo-satélite, ou unir
informações de igual importância, na forma de relações multinucleares. Ao identificar as relações
retóricas presentes na macroestrutura textual, buscamos verificar recorrências ou padronizações na
construção textual do texto falado do Vlog em questão, procurando compreender melhor os mecanismos
de coerência utilizados pelo falante para gerar efeitos de sentido de acordo com sua intencionalidade.
Neste trabalho analiso o emprego da anáfora esquemática em textos escritos por alunos do Ensino
Fundamental II da rede pública do estado de Minas Gerais, com o objetivo de averiguar se as relações
retóricas que emergem entre as porções textuais, onde se configura a anáfora esquemática, favorecem a
construção do referente, uma vez que a anáfora esquemática não possui um referente pontualizado no
contexto enunciativo. O aporte teórico que fundamenta esta pesquisa é balizado pela linguística textual
no que se refere ao emprego da anáfora esquemática proposta por Marchuschi (1998). A anáfora
esquemática obedece às instruções oriundas tanto do sistema lexical como do plano discursivo, de
maneira que a administração referencial da anáfora não é somente de ordem lexical nem puramente uma
questão pragmática. A análise também se descreve pelo viés do Funcionalismo Linguístico,
especificamente a Teoria da Estrutura Retórica (Rethoric Structural Theory – RST), teoria descritiva
defendida por Mann & Thompson (1983); Matthiessen & Thompson (1988), que tem por objeto o estudo
da organização dos textos, caracterizando as relações que se estabelecem entre as partes que os
compõem. Os textos foram segmentados em unidades de informação, de acordo com Chafe (1980), que
as define como “jatos de linguagem”. A abordagem é qualitativa, pois visa à compreensão do emprego
da anáfora esquemática ancorada pelas relações retóricas e os tipos de relações que contribuem para a
construção do referente. Sobressaíram as relações de Núcleo-Satélite como resultado, elaboração e
multinucleares como a sequência, indicando a possibilidade de ancoramento para a construção do
referente e da coerência textual.
Neste trabalho, implementou-se um corpus composto por cem textos do gênero resposta argumentativa,
identificando-se a Unidade Central (UC) de cada texto, à luz da Teoria da Estrutura Retórica (RST -
Rhetorical Structure Theory), proposta por Mann e Thompson (1988), a qual tem como objetivo
investigar a coerência do texto no que diz respeito às relações mantidas entre suas partes, tanto na macro
quanto na microestrutura. A pesquisa revelou um padrão de UCs: a UC é a declaração inicial; a resposta
retoma a questão e a UC apresenta a estrutura “O segrego do vestibular + cópula + [conjunto de]
fator(es)”. Investigou-se também a concordância e as discrepâncias entre as anotações, concluindo-se
que as discrepâncias foram motivadas por erros dos anotadores (identificação da conclusão como UC;
consideração de algumas palavras como um sinal mais forte da UC) ou por erros dos autores (escolha de
um fator e depois a escolha de outro(s) fator(es); transmissão da mesma resposta duas vezes por
paráfrase). Os resultados desta pesquisa podem auxiliar na criação de ferramentas de sumarização de
textos argumentativos e no desenvolvimento de aplicações de avaliação automática.
O presente trabalho tem como intuito analisar a relação entre os conceitos funcionalistas que estão
descritos na proposta pedagógica da coleção de livros didáticos e os exercícios que se materializam no
interior desses materiais. Para o desenvolvimento da pesquisa, escolheu-se a coleção dos livros do ensino
fundamental II - 7º ano, 8º ano e 9º ano - dos autores William Roberto Cereja e Thereza Cochar
Magalhães. Percebe-se, no capítulo inicial dos livros em análise, que há um número expressivos de
definições e de exercícios que foca a língua apenas por um viés normativo, excluindo a sua
funcionalidade e os conceitos propostos no projeto pedagógico da coleção, contrariando também os
pressupostos defendidos pela maioria dos autores que são citados nas referências bibliográficas. Ao
longo do estudo, constata-se que muitas vezes os textos motivadores das unidades são apenas
empregados como pretextos ao ensino de exercícios normativos - que agregam poucos conhecimentos
aos usuários e não concebem a língua enquanto prática social -, relegando a um segundo plano questões
como: conteúdo temático, aspectos coesivos e coerência textual. Fato que demonstra uma legitimação
dos aspectos normativos da língua.
Este trabalha apresenta uma revisão teórica do tratamento dado ao fenômeno das construções complexas
indicativas de causa em português. Para tanto, toma como aparato os estudos do funcionalismo de
Halliday (1985) e, de modo especial, as contribuições dos postulados de Dik (1989/1997) e, mais
recentemente, Hengeveld e Mackenzie (2008). Em conjunto, os autores rejeitam as concepções
tradicionais e propõem novas perspectivas para uma análise conjugada, capaz de levar em consideração
os traços sintáticos, semânticos e pragmático-discursivos inerentes ao processo. Por lado, rompe-se com
a dicotomia clássica “coordenação vs subordinação” ao se adotar a noção de um continuum de
interdependência sintático-semântica proposto pela perspectiva norte-americana. Tal fato suscita, por sua
vez, uma reanálise das noções também dicotômicas de “causa vs explicação”. Por outro, extrapolam-se
os limites da oração ao se conceber a estruturação dos enunciados a partir de diferentes níveis de
organização formal e semântica.
posposição.
Dentro do arcabouço teórico da Gramática Funcional, Hengeveld (1988, 1989) e Dik (1989) sugerem
uma representação em camadas da estrutura da oração, propondo uma organização hierárquica em quatro
níveis: Predicado, Predicação, Proposição e Ato de Fala. Crevels (1998, 2000a, 2000b), ao analisar
orações concessivas do espanhol, estabelece uma relação entre esse tipo oracional e as camadas
propostas pelos autores e propõe o acréscimo de uma camada denominada Unidade Textual. Ao aplicar a
proposta de Crevels na análise de orações concessivas introduzidas por aunque no espanhol peninsular
falado, identificamos construções concessivas que não se enquadravam em nenhum dos domínios
propostos. Tais estruturas, bastante representativas nos dados, não apresentavam uma oração principal
com a qual pudessem estabelecer uma relação clara e ainda pareciam marcar o início de um novo
movimento discursivo. Buscando explicar o funcionamento dessas construções que aparentemente
apresentavam a mesma estrutura morfossintática, mas que serviam a propósitos diferentes buscamos
apoio no modelo teórico da Gramática Discursivo-Funcional (GDF), que prevê quatro níveis de análise:
Nível Interpessoal (Pragmática), Nível Representacional (Semântica), Nível Morfossintático e Nível
Fonológico. Assim, o objetivo deste trabalho é verificar como as estruturas tipicamente classificadas
como construções concessivas atuam tanto no Nível Representacional como no Nível Interpessoal. Os
resultados da análise nos permitem afirmar que o uso interpessoal da concessão é uma estratégia legítima
entre os usuários do espanhol peninsular e revela importantes aspectos do processo comunicativo.
Os enunciados dos quais se encarrega o tradutor em sua vida profissional são multiformes, pois emergem
nas diferentes esferas da atividade humana que os elaboram e requerem a tradução como suplemento
(DERRIDA, 2002). Desse modo, eles refletem as especificidades de cada esfera da comunicação que
elabora para as suas práticas sociais, de acordo com Bajtín (2005), tipos relativamente estáveis de
enunciados em função de seus objetivos. Tais enunciados formam parte do intertexto e podem brindar ao
tradutor modelos textuais elaborados sócio-historicamente para consulta no proceso da tradução. É,
portanto, por meio de modelos textuais traduzidos, no ámbito da tradução da União Europeia, que
apresentaremos o comportamento de verbos modais vertidos nas línguas espanhola e portuguesa.
Pretendemos verificar a conexão que se tece entre o gênero textual e os mecanismos linguístico-
discursivos mobilizados na tradução dos textos, por meio de uma pesquisa de cunho contrastivo, cujo
foco está na compreensão da função exercida pelos verbos modais nos gêneros traduzidos nas línguas
portuguesa e espanhola. Dessa forma, este trabalho está em consonância com Castilho (2004), de que a
língua deve ser estudada em seu complexo de relações sintáticas, morfológicas, fonológicas, semântica e
pragmática. Com base nessa compreensão, o gênero torna-se instrumento indispensável de análise por
reunir todo o complexo de relações linguístico-discursivas para a compreensão e produção de
significados, uma vez que, como afirma Derrida (2002), não há uma relação direta entre as palavras e as
coisas, pois os significados são construídos por meio da união de todos os elementos presentificados pelo
gênero textual.
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Partindo-se das assunções de que semântica equivale a conceptualização e de que, em decorrência disso,
essa conceptualização penetra em toda a gramática da língua, neste trabalho discute-se a relação entre
gramática e cognição centrando-se na questão, especificamente, do envolvimento de operações
construturais na expressão gramatical dos eventos. Para tanto, elegeu-se como território de significação o
da concessividade e um conjunto de três construções gramaticais que instanciam esse significado, a
saber: as construções (subordinadas) adverbiais introduzidas por um subordinador adverbial concessivo,
as construções (correlativas) introduzidas por se não... pelo menos, e as construções (coordenativas)
introduzidas por mas... pode até. Defende-se, aqui, que o significado concessivo instanciado por
diferentes construções gramaticais é decorrente da atuação de diferente operações construturais atuantes
na expressão gramatical dos eventos. O que significa que, no que diz respeito à verbalização da
experiência, as diferenças construcionais na instanciação do significado concessivo implicam diferenças
na conceptualização da “experiência concessiva”. O exame das construções é feito a partir de
ocorrências de córpus.
Este estudo apresenta uma proposta de classificação das relações de concessão no espanhol falado à luz
da Gramática Discursivo-Funcional de Hengeveld e Mackenzie (2008). As orações concessivas em
espanhol são tradicionalmente definidas como aquelas que “expõem uma objeção real ou possível ao que
é dito na oração principal” (RAE, 1991, p. 397). Assim, em Aunque llueve, voy (RAE, 1991, p.397), a
chuva não representa obstáculo suficiente para impedir a ida do falante. Esta pesquisa mostra que as
relações de concessão ocorrem nas camadas mais altas do Nível Representacional e do Nível
Interpessoal, quando constituem, respectivamente, função semântica (único caso apresentado pelos
compêndios tradicionais) e função retórica, uma estratégia utilizada pelo falante para atingir seus
objetivos conversacionais. No Nível Interpessoal ainda, a concessão pode ocorrer como uma estrutura
parentética (JUBRAN, 2006) inserida pelo falante quando deseja acrescentar uma informação
contrastiva com relação ao contexto anterior, o que caracteriza, na GDF, um Movimento e constitui caso
de função interativa (STASSI-SÉ, 2012). Os dados permitem observar que algumas conjunções atuam
em uma única camada, enquanto outras, parecem apresentar apenas uma preferência por algum estrato, o
que confirma parcialmente a hipótese inicial do estudo de que há diferenças semântico-pragmáticas que
assinalam as várias conjunções concessivas do espanhol. O universo de investigação consiste no corpus
do projeto PRESEEA (Proyecto para el Estudio Sociolinguístico del Español de España y de América),
que reúne inquéritos representativos do mundo hispânico e sua variedade geográfica e social.
O presente trabalho apresenta um recorte dos resultados iniciais do projeto intitulado Transparência e
opacidade nas línguas indígenas da família Maku, que tem como proposta investigar as relações de
transparência e opacidade em quatro línguas dessa família: Dâw, Hup, Nadeb e Yuhup. Para tanto, toma-
se como aparato teórico a Gramática Discursivo-Funcional (GDF), como apresentada por Hengeveld e
Mackenzie (2008), que distingue quatro níveis interatuantes de organização hierárquica: o Nível
Interpessoal, o Nível Representacional, o Nível Morfossintático e o Nível Fonológico. Na GDF, as
relações de transparência e opacidade podem ser aplicadas tanto entre os níveis quanto dentro deles.
Dessa forma, a transparência deixa de ser definida apenas como um mapeamento de um-para-um entre
significado e forma, passando para a exigência de um mapeamento de um-para-um nos quatro níveis de
análise. Hengeveld e Leufkens (2015) propõem, então, 10 critérios de análise da relação de transparência
entre e dentro dos níveis da GDF. Dentre esses critérios, enfocamos a questão da Concordância de
Pessoa (concordância dentro da oração) em oposição ao Acordo (concordância dentro do sintagma). De
acordo com a GDF, esses processos semelhantes e, normalmente, classificados do mesmo modo,
ocorrem em níveis distintos, estabelecendo relações de opacidade ou transparência de acordo com a
dupla marcação ou não de traços semânticos. Desse modo, a partir da análise desses critérios nas línguas
indígenas citadas, é possível diferenciar os dois fenômenos, mostrar as relações de transparência e atestar
a inovação teórica da análise em um modelo de camadas.
Este trabalho investiga relações de transparência e opacidade no português brasileiro, à luz da Gramática
Discursivo-Funcional (HENGEVELD; MACKENZIE, 2008). Parte-se da hipótese que o PB seria uma
variedade mais transparente, devido ao rico contato histórico com outras línguas em seu processo de
formação. Compreendendo transparência como uma relação direta entre forma e significado, o propósito
desta pesquisa é investigar a variedade brasileira para estabelecer até que ponto o fenômeno das línguas
em contato pode contribuir para a transparência de uma língua. Para atingir tal objetivo mapeou-se o
sistema linguístico do PB, investigando fenômenos do Nível Morfossintático da teoria, tais como:
alçamento; expletivo; cópia de marcação de tempo; gênero, declinação; conjugação; concordância e
morfologia fusional (HENGEVELD, 2011a) e seu uso no discurso, observando a ocorrência de
redundância, desintegração de domínio e formas sem significado (LEUFKENS, 2015). Esta etapa da
pesquisa se restringiu ao NM com a intenção de isolar os parâmetros referentes a esse nível e testá-los na
sistematização e determinação das propriedades opacas e transparentes dessa variedade. O corpus foi
composto por inquéritos do CORPUS MÍNIMO do Projeto da Norma Urbana Culta (NURC) e por
inquéritos do IBORUNA, banco de dados online do Projeto de Amostras Linguísticas do Interior
Paulista (ALIP). Os resultados indicam que houve presença de todos os fenômenos investigados no NM.
Com base nesse resultado, notou-se que o português brasileiro está menos transparente, contrariando as
expectativas iniciais, caminhando para a opacidade, o que contribui para a complexidade de sua
aquisição e compreensão.
Os verbos de atividade mental, tais como achar, acreditar, admitir, concordar, supor, imaginar, calcular e
outros, expressam estados ou atividades que dão origem a percepções, conhecimentos, ideias, crenças ou
julgamentos e, por manifestarem processos mentais, estão inequivocamente ligados à subjetividade do
falante. Em sua função prototípica de predicado, exigem complementos que vão de termos a orações
com diferentes configurações sintáticas. Porém, os mesmos verbos podem ser usados como parentéticos.
Os parentéticos são unidades textuais independentes da sentença, que têm como domínio o enunciado
como um todo ou parte dele. Servem como instrução sobre como interpretar o conteúdo proposicional e
têm função subjetiva, já que interagem com a força assertiva da frase em que ocorrem, portando aspectos
relacionados à codificação da atitude do falante e seu julgamento acerca da informação veiculada na
oração, como na ocorrência “Os espaços eram amplos e, suponho, caros” (Folha de São Paulo). Este
trabalho pretende delinear as propriedades semântico-sintáticas dos enunciados com os quais as formas
parentetizadas se envolvem e, ao mesmo tempo, investigar os efeitos desses elementos na interação,
evidenciando seus perfis na fala e na escrita do português brasileiro.
No âmbito dos estudos de mudança linguística, evidenciam-se trajetórias de mudança que atravessam
diferentes línguas e que levam, portanto, a regularidades de natureza morfossintática e/ou semântico-
pragmática. É recorrente, assim, a identificação de tendências de mudança universais, que permitem
hipotetizar a existência de princípios globais de uso da língua (TRAUGOTT; DASHER, 2005, p. 03),
fundados em processos cognitivo-comunicativos que extrapolam as particularidades das línguas. Neste
trabalho, objetivamos explicitar regularidades de mudanças semântico-pragmáticas e morfossintáticas
que fornecem evidências da relação entre mudança linguística e sistema cognitivo. Para tanto,
investigamos, por meio de um estudo diacrônico-comparativo, os processos de gramaticalização
percorridos pelas construções com “agora”, do português, e pelas construções com "now”, do inglês,
que, além de seu funcionamento adverbial, exibem, no português e no inglês contemporâneos, funções
juntivas, atuando, assim, no âmbito da combinação de orações ou de porções textuais maiores. Em sua
nova função categorial, “agora” e “now” veiculam, a partir das relações textuais que estabelecem,
significados que revelam atitudes subjetivas dos falantes/escreventes. Assumindo os pressupostos
teóricos da gramaticalização, nos aproximamos de perspectivas funcional-cognitivas fundamentadas no
princípio de que processos cognitivos estão na base dos processos de mudança linguística (HEINE et al.,
1991; BYBEE, 2002; SWEETSER, 1991; TRAUGOTT; DASHER, 2004). Para a análise das
construções, utilizamos textos de tipologia variada produzidos ao longo dos séculos XVIII, XIX e
XX/XXI. (Apoio: FAPESP 2015/21358-6)
Tradicionalmente a partícula ‘nem’ tem sido considerada uma conjunção aditiva, pois se entende que
estabelece entre elementos uma relação de acréscimo. Este trabalho tem como objetivo discutir o estatuto
desse elemento no português brasileiro, utilizando o aparato teórico da Gramática Discursivo-Funcional
(HENGEVELD; MACKENZIE, 2008),um modelo teórico que privilegia a intenção comunicativa do
falante ao fazer uso do sistema linguístico em situação de interação. Para isso, utiliza o córpus do Projeto
PHPB, constituído de documentos escritos no Brasil, dos séculos XVII ao XX. Os dados analisados
revelam que ‘nem’ pode ocorrer numa relação de justaposição entre atos discursivos, ou entre termos de
diferentes categorias semânticas. Representa, além da negação, uma estratégia de intensificação,
utilizada pelo Falante para atingir seu propósito comunicativo. Dessa forma, a hipótese é de que não se
trata de uma conjunção aditiva, como tradicionalmente é entendida, mas sim de um operador complexo
que indica, ao mesmo tempo, intensificação, uma categoria interpessoal, e negação, uma categoria
semântica.
Este trabalho tem como objetivo analisar as orações condicionais introduzidas por conectores complexos
no português do século XVI numa abordagem semântico-pragmática de modo a verificar se a
constituição lexical da conjunção tem alguma influência sobre sua configuração morfossintática. Desse
modo, como objetivos específicos, analisaremos a base lexical do conector condicional, que pode ser
verbal, nominal, prepositiva e adverbial, com relação a outros critérios tais como ordem em que a oração
condicional ocorre e correlação modo temporal que figura na construção condicional. O que se pretende
verificar é o comportamento dos conectores e seu grau de gramaticalização. Partindo de pressupostos da
teoria da gramaticalização, acredita-se que quanto mais gramaticalizado um conector, mais ele poderá
ser aplicado a uma variedade de contextos. Os dados desta pesquisa foi coletado na base de dados online
Corpus do Português (FEREIRA, DAVIES, 2006). A análise está assentada em pressupostos
funcionalistas e cognitivistas, tal como encontrado em de Sweetser (1990); Dancygier (1998); Sweetser;
Dancygier (2005); Bybee (2010); Traugott; Trousdale (2013). Espera-se, por meio desta análise, poder
contribuir para uma sistematização do modo como as bases lexicais dos conectores de condição se
relacionam com aspectos do significado condicional e, assim, compreender o modo como auxiliam na
construção da relação condicional em português.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Simpósio 23: Ressignificações possíveis na formação inicial e continuada do professor de língua portuguesa
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Este trabalho tem como objetivo apresentar resultados parciais de uma pesquisa de mestrado
profissional, os quais caracterizam um processo de elaboração didática a respeito das práticas de leitura e
análise linguística com o gênero discursivo post, para um 8º ano do Ensino Fundamental. Os textos
digitais são muito atrativos, pois são multimodais, misturando linguagem escrita e imagens, geralmente,
com intenção de produzir humor. Pela experiência em sala de aula, percebemos que muitos alunos
compartilham ou repassam “posts” que reforçam estereótipos negativos. A questão problematizadora
gira em torno do fato da internet ser um veículo livre, por onde circulam conteúdos de origem ou alcance
desconhecidos. Nesse sentido, o objetivo da pesquisa pretendida não é censurar, mas fazer uma reflexão
sobre alguns “posts” que circulam nessas esferas, evitando repassar ou disseminar conceitos e/ou valores
inapropriados. A investigação parte da fase de diagnóstico, na qual a pesquisadora produz registros de
análise por meio de aplicação de questionário a alunos de um 8º ano, e de observação de 12 horas-aula,
com o objetivo de caracterizar o contexto desta pesquisa, apontando as concepções destes alunos a
respeito da prática de leitura e do gênero post. Teoricamente, o trabalho ancora-se na concepção
interacionista de linguagem e na sua perspectiva dialógica oriunda dos estudos bakhtinianos (BAKHTIN,
2003; SILVEIRA, A. P. K.; ROHLING, N.; RODRIGUES, R.H., 2012).
Nas décadas de 80 e 90 novas propostas chegaram das Universidades aos professores da educação
básica, inclusive, com o surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que trouxeram, de modo
inovador, o ensino por meio das sequências didáticas (doravante SDs) que, posteriormente, foram
reproduzidas em diretrizes de vários estados. Com a forte influência dos estudos genebrinos (DOLZ;
NOVERRAZ; SCHNEWLY, 2004) e sua disseminação em documentos oficiais norteadores, o
dispositivo SD têm sido amplamente explorado em sala de aula pelos professores de Língua Portuguesa
para o trabalho sistematizado com os gêneros. Além de várias publicações acadêmicas endereçadas aos
professores, uma das maiores publicações nacionais especializada na área de Educação, a revista Nova
Escola, tem proposto materiais didáticos por meio de sequências, publicados mensalmente para várias
disciplinas. Este trabalho tem como objetivo verificar a ressignificação do conceito de SD por uma
professora de Língua Portuguesa e, para a análise, partimos do conceito cunhado pelos estudos
genebrinos para, posteriormente, compará-lo à utilização dos conceitos pela revista, a fim de investigar
os dialógicos teórico metodológicos presentes em um material didático elaborado pela professora.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Este trabalho tem por objetivo apresentar resultados parciais de uma pesquisa de mestrado profissional,
que preza por gêneros discursivos com foco na análise linguística de discursos argumentativos para
alunos de um 5º ano do Ensino Fundamental. O discurso argumentativo tem abertura na maioria das
sociedades porque permite a sustentação ou refutação de ideias, evidências, negociar posições,
apresentar opiniões e convencer, enfim, colocar-se diante do discurso do outro. Diante de práticas
discursivas em sala de aula, percebemos que os alunos apresentam um discurso argumentativo precário,
mais presente na oralidade e não tão percebido implicitamente em momentos de leitura e na organização
dos argumentos e justificativas na elaboração de textos escritos. Num primeiro momento, será analisado
alguns momentos de envolvimento dos alunos com práticas discursivas em que se faz necessário o uso
de argumentos, exposição de opiniões e ideias, a partir do trabalho com gêneros da esfera do argumentar.
Para esta fase diagnóstica, será aplicado um questionário a professores do 5º ano e equipe pedagógica
com o intuito de realizar um levantamento das concepções em relação às práticas de leitura e análise
linguística em que são expostos os alunos com os gêneros que se utilizam da argumentação. Além disso,
realizaremos um período de observação de aulas, cujos registros de pesquisa serão gerados por notações
de campo e gravações de aulas e aplicação de uma proposta pedagógica de leitura e análise linguística.
Teoricamente, o trabalho ancora-se na concepção interacionista de linguagem e na sua perspectiva
dialógica oriunda dos estudos bakhtinianos e na Pedagogia Histórico Crítica.
Refletir sobre as teorias que embasam o Currículo de Língua Portuguesa do estado de São Paulo é um
dos objetivos desse estudo, uma vez que esse material norteia a prática pedagógica de todos os docentes
da rede pública paulista. Assim, o objetivo geral é identificar e analisar a proposta de mediação docente,
implícita no Documento Paulista. Trata-se de um recorte da pesquisa de Mestrado intitulada “A
mediação docente e a formação do leitor no Programa São Paulo Faz Escola” (GUIMARÃES, 2016),
vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Oeste Paulista- UNOESTE,
Presidente Prudente- SP. É, pois, uma investigação qualitativa, com inclusão de uma análise documental
do Currículo Paulista. O aporte teórico centrou-se nos estudos da Filosofia Materialista da Linguagem,
sobretudo em Bakhtin (2006; 2014) e Vygotsky (1993; 1998). A partir da análise, à luz da semiótica
(histórico-cultural), verificamos que o Currículo de Língua Portuguesa está em consonância com os
pressupostos teórico-metodológicos dos atuais estudos da linguagem, calcado, principalmente, na
vertente bakhtiniana. Em outras palavras, o Documento pode servir de apoio teórico à formação
continuada dos professores de língua portuguesa.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre o conhecimento construído a respeito da formação
inicial em Letras em relação à proposta de desenvolvimento de práticas de letramento digital pelos
professores em formação, no período de 2011 a 2014, na Universidade Estadual do Norte do Paraná,
campus de Jacarezinho (UENP/CJ). Consideramos os pressupostos sobre a formação docente inovadora
(VEIGA; VIANA, 2012), formação tecnológica do professor (PAIVA, 2012) e autoheteroecoformação
tecnológica (FREIRE; LEFFA, 2013), dentre outros, para analisarmos os documentos institucionais do
Curso de Letras da UENP/CJ. Embasados nos preceitos da Linguística Aplicada, tomamos alguns
princípios metodológicos como: pesquisa de natureza qualitativa, preocupação com o idiossincrático, o
particular e o situado (MOITA LOPES, 2013) e caráter inter/transdisciplinar. Nossa pesquisa configura-
se como sendo um estudo de caso do tipo etnográfico. O corpus do trabalho consiste em documentos
institucionais, como projetos pedagógicos de curso; grades curriculares; planos de ensino; projetos de
pesquisa e extensão; resumos das produções científicas da comunidade acadêmica, disponibilizadas em
cursos e eventos ocorridos na instituição de ensino superior, correspondentes ao período delimitado. A
análise resultante desses instrumentos é articulada com outras informações advindas da realização de
grupo focal e entrevista com os professores em formação inicial e uma docente do curso. Buscamos,
dessa maneira, construir uma contribuição acadêmica voltada a conhecer melhor o trabalho das
licenciaturas em Letras, no que diz respeito às tecnologias digitais e à formação dos futuros professores.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
O presente trabalho surge da observação crítica acerca da concepção existente e ainda arraigada de que a
responsabilidade de se trabalhar a leitura e a escrita é uma competência exclusiva dos professores de
língua materna. Por isso, em nosso trabalho, investigamos a concepção dos professores em relação à
leitura e à escrita e, a partir desse processo perscrutativo, objetivamos discutir e aplicar proposta
dialógica (Bakhtin: 1992, 2003) com a prática estruturada da leitura (Solé, 1998) e da escrita (Geraldi:
1997, 2012) voltada a outras áreas de conhecimento da Educação Básica, por meio da organização do
parágrafo-padrão (Garcia, 2002) e do gênero textual resposta argumentativa. Tendo em vista que o nosso
objetivo é minimizar os problemas de leitura e escrita em uma turma de 9.º ano do Ensino Fundamental,
a partir de atividade interdisciplinar com as áreas de História, Geografia e Ciências, pretendemos
contribuir para uma concreta organização da prática da escrita dos alunos nas outras disciplinas e sua
consequente ressignificação. Assim, voltando ao nosso intento inicial, neste simpósio, apresentaremos a
análise dos dados, que consiste em três etapas diferentes da investigação: 1ª: a do material e a das
respostas dos professores à formação continuada ofertada pela Secretaria Estadual da Educação (Seed)
acerca do Projeto Político Pedagógico da escola (PPP) e da Base Nacional Comum Curricular (BNCC);
2ª: a do questionário respondido pelos profissionais atuantes no Ensino Fundamental II a respeito de
questões técnicas de formação e atuação, além da sua prática pedagógica aliadas à leitura e escrita; 3ª:
análise dos textos diagnósticos aplicados ao 9.º ano.
Este trabalho apresenta alguns dados referentes ao projeto de pesquisa financiado pelo CNPq intitulado
“A formação do professor dos anos iniciais do ensino fundamental para superação do fracasso escolar:
perfil teórico-metodológico e propostas para o ensino de língua materna”.Nesta investigação foi utilizada
a abordagem qualitativa e os procedimentos para obtenção dos dados foram: questionários aplicados a
professores e gestores e análise documental. A nossa amostra foi composta por professores e gestores de
vinte e duas escolas municipais vinculadas à Secretaria de Educação do Município de Presidente
Prudente. Os questionários destinados aos docentes foram utilizados para caracterizar o perfil pessoal,
profissional e o teórico-metodológico do professor que leciona nos anos iniciais do ensino fundamental,
bem como as dificuldades enfrentadas cotidianamente no ensino de língua materna, quais são as práticas
formativas que consideram eficazes e como avaliam a contribuição da gestão escolar, com relação à
superação do fracasso escolar em língua materna.O recorte proposto para o presente trabalho sobre
oralidade, cujo objetivo é analisar as respostas dos professores da rede municipal de Presidente Prudente
ao questionamento "como você trabalha com a oralidade em sala de aula", será o de considerar os dados
referentes às respostas dos professores de apenas quatro escolas, totalizando 25 docentes.Os dados foram
analisados à luz da análise de conteúdo proposta por Bardin (2011) e os resultados apontam que,
frequentemente, os professores associam o trabalho com oralidade à oralização da escrita.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Objetivamos com este trabalho apresentar uma proposta de intervenção por meio de uma sequência
didática em 12 módulos, para o ensino e aprendizagem da metáfora como recurso linguístico inerente ao
caráter literário do gênero memórias literárias. A proposta, tecida à luz da perspectiva sócio-
construtivista de gênero e da Teoria Cognitiva da Metáfora, faz parte de uma dissertação de mestrado do
curso Mestrado Profissional em Letras – PROFLETRAS, já em andamento junto a uma turma de 8º ano
do ensino fundamental, em uma escola pública de Tracuateua-PA. Os fatores que justificam tal
abordagem é a constatação, a partir da prática docente e de estudos teóricos, de que a adequação ao
caráter literário do gênero memórias literárias constitui uma dificuldade de escrita dos alunos de 8º ano
do ensino fundamental. Esperamos, com isso, levar os alunos a refletirem sobre a metáfora no cotidiano
e na esfera literária; escrever adequando a escrita do gênero em questão ao campo discursivo a que
pertence e contribuir com estratégias metodológicas que possam subsidiar novas formas de abordagem
da metáfora no contexto de ensino-aprendizagem de língua, em especial, com o gênero memórias
literárias.
Desde a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PNC), em 1998, o ensino de Língua
Portuguesa deve privilegiar o texto como unidade de ensino. Contudo, quase vinte anos após a
publicação dos parâmetros, poucas são as práticas de ensino cujo enfoque seja o texto em sua relação
com o gênero, sendo o objetivo deste trabalho analisar materiais didáticos com vistas a perceber de que
modo o trabalho de análise textual é realizado em sua relação com o gênero. Nosso corpus de análise foi
constituído por materiais didáticos produzidos no interior do Programa de Desenvolvimento Educacional
do Estado do Paraná (PDE/PR), um programa de formação continuada construído a partir da articulação
entre o nível Básico e o Superior de ensino. Como enquadre teórico, elegemos o Interacionismo
Sociodiscursivo (ISD), especialmente em sua vertente didática, a saber, a chamada Escola de Genebra,
com a adoção da Sequência Didática (SD) para o ensino de gêneros. Corroborando a orientação dos
PCNs, entendemos que o gênero seja o objeto de ensino, mas o texto empírico é sua unidade, já que o
ensino de línguas pressupõe análise da materialidade linguística em relação às suas condições de
produção. Em um constante trabalho de mão dupla, do gênero ao texto e vice-versa, não se pode perder
de vista que as condições de produção exercem coerções na língua, mas é na materialidade linguística, a
partir das escolhas do produtor textual, que percebemos a situação comunicativa de um dado texto.
Assim, a partir da presente pesquisa, podemos dizer que o trabalho com a língua em sua relação com as
condições de produção ainda não é efetivado em sua plenitude.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Uma das modalidades da pós-graduação que mais crescem no Brasil é o Mestrado Profissional (MP).
Enquanto o mestrado acadêmico volta-se à formação de pesquisadores, o profissional destaca-se pela
formação teórico-prática. O programa de Mestrado Profissional (MP) em Letras –PROFLETRAS foi
criado nacionalmente em 2013 e tem como público-alvo docentes que lecionam língua portuguesa no
ensino fundamental. Desde sua criação, o programa tem enfrentado várias dificuldades que vão desde a
uma suposta classificação de um curso de menor prestígio em relação aos programas acadêmicos, até o
fato de não se voltar à pesquisa. No entanto, o grande diferencial do MP deve-se a sua natureza
interventiva, na medida em que obrigatoriamente deve apresentar, a partir de uma problematização, uma
proposta de intervenção a ser utilizada na escola. Essa proposta pode ser de natureza variada: unidade
didática, oficinas, jogos, audiolivros, dentre outros. Nesse sentido, o objetivo desta comunicação é
apresentar um panorama dos trabalhos desenvolvidos da primeira turma do MP da Universidade
Estadual de Maringá, no ano de 2013. De forma específica, ressaltamos as práticas linguageiras
escolhidas, os eixos teóricos e a natureza das propostas apresentadas. Os resultados evidenciam que os
trabalhos, em sua maioria, adotam a transdisciplinaridade (ROJO, 2007) própria da Linguística Aplicada,
utilizam uma diversidade de referencial teórico e apresentam propostas de intervenção de natureza
variada, que se voltam especialmente aos problemas enfrentados por cada professor nas salas de aula do
ensino fundamental.
Para construir a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) foram consultados documentos curriculares
em vigência em todo país, assim como, estão sendo avaliadas as contribuições de diferentes atores da
educação, como gestores, professores e estudantes para uma base comum dos conteúdos estruturantes
para o ensino. Esse movimento iniciado pelo Governo Federal fomentou a necessidade de que cada
município, por sua vez, repense e reelabore seu currículo interno. Esse trabalho é realizado com base
nessas propostas dos saberes considerados preponderantes para a aprendizagem e nas práticas de ensino
trabalhadas pelas escolas. Cabe, portanto, à formação continuada de professores ressignificar o trabalho
docente a partir dos conteúdos apontados pelo currículo, porém, para isso, é preciso a compreensão do
documento em seus fundamentos teórico-metodológicos e conteúdos selecionados. Neste trabalho,
apresenta-se uma proposta de organização curricular com base no trabalho com gêneros do discurso
(BAKHTIN, 1979) sob uma perspectiva sociointeracionista da linguagem (BRONCKART, 2003, 2006 e
2008), colocando-se em discussão em que medida os aspectos e características dos gêneros de textos
(análise das condições textuais de produção, a planificação, a textualização e vozes), ao aparecem
explicitados como orientadores das práticas pedagógicas, podem contribuir para a melhoria da qualidade
de ensino. Os dados apresentados resultam do trabalho e das discussões realizados por assessores
pedagógicos de Língua Portuguesa de um município do Norte do Paraná e os resultados esperados
convergem para elaboração de sequências de atividades didáticas que aperfeiçoem o trabalho com
gêneros de textos.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
À luz da Linguística Aplicada, este trabalho apresenta a elaboração de uma proposta de intervenção, que
põe em evidência o trabalho com a prática de leitura, a partir da concepção de Projeto Pedagógico de
leitura e escrita de gêneros discursivos, de Lopes-Rossi (2008), com adaptações. O Projeto Pedagógico
elaborado visa cooperar com atividades de leitura, pautadas na concepção dialógica da linguagem numa
perspectiva bakhtiniana. Este Projeto integra uma dissertação em andamento do Curso de Mestrado
Profissional em Letras - PROFLETRAS (UFPA - Belém) e faz parte do Projeto de Pesquisa “Práticas de
linguagem e formação docente” (UFPA- Castanhal). A partir de execuções pedagógicas, esperamos
alcançar os objetivos, a saber: a) promover o desenvolvimento de habilidades de leitura a partir do
gênero charge; b) levar o aluno a posicionar-se de forma responsiva ativa, por meio de atividade escrita,
perante a charge; c) levar o aluno a perceber os efeitos de sentidos provocados pela linguagem verbal e
não verbal no contexto da charge. Para tanto, elaboramos três módulos didáticos de leitura: o 1º módulo
apresenta atividades diagnósticas de leitura dos alunos; no 2º módulo, as atividades concentram-se no
desenvolvimento da leitura; o 3º módulo é destinado às atividades de retenção do conhecimento.
Salientamos que esta proposta encontra-se em fase de execução numa Escola Pública Estadual do
Munícipio de Soure-PA. Os alunos contemplados estão matriculados no 9º ano do Ensino Fundamental.
Assim, esperamos contribuir para o processo ensino e aprendizagem do ato ler, por meio do gênero
charge, visando ao desenvolvimento da capacidade reflexiva, crítica e responsiva discente.
A formação docente é um tema fecundo nas discussões acadêmicas no cenário brasileiro. As exigências
dessa formação preconizam uma atuação reflexiva do professor, exigindo-lhe conceber a linguagem
como prática social, a qual deve ser estudada em sala de aula contextualizada e analiticamente. Nesse
sentido, esta comunicação visa a analisar uma experiência de estudo da linguagem via enunciados
concretos do gênero discursivo ensaio literário, durante as aulas na disciplina de Práticas de Leitura e
Produção de Textos, refletindo se as ações contempladas contribuem para uma aprendizagem
significativa do futuro professor. A pesquisa, proposta para uma turma de primeiro ano do curso de
Letras Português, investiga conhecimentos prévios que os educandos trazem para o ensino superior ao
longo dos estudos na educação básica, para, a partir desses conhecimentos, propor a teorização da prática
social de modo a conduzir o estudante a uma postura reflexiva e crítica do conteúdo. Para tanto, acredita
que o trabalho com os gêneros discursivos, compreendidos como eixo de progressão e articulação, e com
os enunciados concretos ou textos-enunciados que os representam, possibilita uma proposta de ensino do
português a partir do uso social da língua e, portanto, pode representar um caminho para um ensino-
aprendizagem significativo e crítico na formação docente inicial.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
Esta comunicação objetiva discutir a interpretação do agir do coordenador pedagógico, por meio de
análise linguístico-enunciativa, configurada em diário de campo produzido durante a formação
continuada, na escola, em reuniões designadas como Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), de
acordo com a unidade escolar de Ensino Fundamental I, do município do noroeste paulista, onde ocorreu
a coleta dos dados. Dentre outras finalidades, a HTPC visa à reflexão sobre a prática docente, à troca de
experiências, ao aperfeiçoamento individual e coletivo dos educadores e ao acompanhamento e avaliação
do processo ensino-aprendizagem. A análise se apoia nos aportes teórico-metodológicos do
Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART 1999, 2006, 2008), (BRONCKART; MACHADO,
2004 e 2009). Esta apresentação está vinculada a uma pesquisa de mestrado cujo objetivo é conhecer o
trabalho do coordenador pedagógico na HTPC e as dificuldades que surgem nesse momento. Os
resultados, parciais, apontam que em relação ao agir do coordenador no plano motivacional as razões
que o levam a agir, em sua maioria, são de ordem externa (Secretaria Municipal de Educação). No plano
da intencionalidade prevalecem as finalidades, pois os objetivos partem do coletivo. O agir assim
interpretado caracteriza o coordenador como agente (actante desprovido de intenções, motivos e
capacidades) e não como ator, no processo formativo dos professores. Esta comunicação contribui para a
discussão sobre a formação continuada do professor por meio da reflexão sobre o agir do responsável
por essa formação na escola.
O presente trabalho, embasado na teoria bakhtiniana acerca dos gêneros do discurso, nos estudos sobre
intertextualidade de Kristeva (1967) e Samoyault (2013) e nos passos postulados de Cosson (2014) para
a formulação de uma sequência expandida de leitura, apresentará, em primeiro momento, a leitura e
análise comparada das obras “O Pequeno Príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry, de 1947, e “O
Pequeno Príncipe em Cordel”, de Josué Limeira, publicada em 2015, priorizando os aspectos
linguageiros que compõem a caraterização das personagens e a intertextualidade da obra de Limeira com
a de Saint-Exupéry. Na sequência, apresentaremos algumas propostas de motivação para a leitura
comparada das obras em foco, tendo em vista a descrição comparativa da caracterização da personagem
principal em Limeira e Saint-Exupéry, através de atividades de análise linguística, componente
importante para a compreensão e interpretação dos textos. O momento da motivação é primordial para
preparar o aluno para o contato com o texto – neste caso, o conto filosófico do escritor francês e a texto
em literatura de cordel do autor pernambucano – explorando ou antecipando aspectos que serão
trabalhados nos passos posteriores da sequência expandida. Com este trabalho esperamos contribuir para
as práticas voltadas para o letramento literário, através da motivação da leitura e da análise linguística.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
O ensino de filosofia grega e, mais especificamente, das ideias de Platão na escola, acontece no primeiro
ano do ensino médio e sempre figura no quadro de debate o mito da caverna, segmento do livro A
República. Devido a sua importância, adotamos o capítulo VII do livro de Platão, no qual figura a
alegoria da caverna, para o trabalho didático, revisitado por Maurício de Souza em uma HQ do
personagem Piteco. Nosso trabalho foca as estratégias de leitura que construímos ao longo do processo
de interação com o texto, objetivando ampliar, a partir da narrativa de Piteco, o conhecimento acerca das
estratégias de compreensão leitora, em seleção, antecipação, verificação e inferência. Para tanto,
adotamos como método a leitura segmentada com o intuito de demonstrar como operam as estratégias
durante o processamento textual. Ao final, apresentamos sugestões para o trabalho com a HQ na sala de
aula, com atividades que apontam para o antes, durante e após a leitura. A pesquisa está embasada na
concepção dialógica da linguagem expressa por Bakhtin/Voloshinov e nos estudos realizados por Solé
(1998) e Menegassi (2005) a respeito das habilidades fundamentais que possibilitam a formação e o
desenvolvimento de um leitor crítico e competente.
O ensino de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental tem como um dos objetivos a formação do leitor
crítico, aquele que é sujeito do processo de ler e não receptáculo de informações. O trabalho com leitura
em sala de aula pela perspectiva discursiva pode contribuir para a formação do leitor crítico, porque
considera as condições de produção e de recepção do texto, as quais são determinantes para a
constituição do sentido. Dessa forma, o objetivo desta comunicação é apresentar uma proposta de
intervenção didático-pedagógica, contemplando a leitura discursiva, a ser aplicada a alunos do 9º ano do
Ensino Fundamental. As atividades são formuladas tendo por aporte teórico a Análise do Discurso de
linha francesa arquitetada por Pêcheux, a partir dos estudos de Orlandi e de Brandão. O gênero
discursivo escolhido para se trabalhar a leitura é o vlog (vídeos do YouTube), cujo suporte é a internet,
por ser de grande popularidade entre os adolescentes. Nessa proposta de intervenção, foram elaboradas
atividades sobre o vlog argumentativo “A raiva”, produzido por Rafinha Bastos. Pretende-se, por meio
desta pesquisa, fazer com que o aluno reflita sobre o sujeito que produz e o que lê o discurso, ambos
ideologicamente constituídos e inseridos em momentos sócio-históricos determinados.
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RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
O presente momento histórico aponta para caminhos diversos dos pensados para a Universidade Pública,
quando da sua concepção por intelectuais do peso de Humboldt, por exemplo. Gradativamente, a
educação superior perde o seu caráter de bem de direito público, passando a figurar como uma
mercadoria, cujo comércio não mais fica sob a responsabilidade de uma oferta subsidiada integralmente
pelo tesouro do Estado, que cumpriria apenas o papel de regulador e avaliador da produção e resultados
dela decorrentes. A oferta da educação posta como mercadoria, em particular aqui a educação superior,
ao ser concebida como um “peso” para o Estado, vai aos poucos perdendo a sua essência, o seu caráter
diferenciador, que privilegia o trabalho intelectual, a pesquisa e o conhecimento, para dar espaço à
criação de uma universidade operacional, conforme denominou Freitag, em Le naufrage de l’ université.
Tendo esse cenário como pano de fundo, a partir de uma revisão bibliográfica sobre o assunto, este
trabalho traz considerações sobre os rumos da universidade pública no Brasil, no século XXI. Entende-se
que, por mais problemas que se possa apontar, a preservação das universidades públicas, em virtude de
seu histórico compromisso com o preparo científico, pedagógico e político de licenciados e pós-
graduados, significa constituir e manter o lócus privilegiado de formação, produção de pesquisa e
conhecimento.
Este trabalho, vinculado ao Projeto de Pesquisa “Práticas de linguagem e formação docente” (UFPA),
apresenta um recorte de uma investigação maior, com o objetivo de discutir a criação de uma proposta
de intervenção para o 9º ano do Ensino Fundamental, que põe em evidência o trabalho com as práticas
linguageiras, dando ênfase à análise linguística (AL). À luz da Linguística Aplicada, a pesquisa ancora-
se na visão sócio-histórica da linguagem (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1992) e na perspectiva dos
gêneros discursivos (BAKHTIN, 2003). Dentre as diversas possibilidades para a elaboração didática,
optamos pela proposta de projetos pedagógicos de leitura e produção de gêneros discursivos de Lopes-
Rossi (2008), com adaptações, a partir de Perfeito, Ohuschi e Borges (2010), Ritter (2012) e Ohuschi e
Paiva (2014). Especificamente sobre a prática de AL, desenvolvemos atividades com base no enunciado
“A última crônica”, de Fernando Sabino, contemplando aspectos epilinguísticos e metalinguísticos na
compreensão textual. Refletimos sobre o uso do adjetivo, cuja função discursiva é a construção do jogo
argumentativo do locutor para que se alcance o efeito de sentido desejado no interlocutor. Os resultados
preliminares explicitam que o enunciado traz uma visão axiológica particular do cronista em relação ao
conteúdo temático abordado (preconceito racial), já que a adjetivação demonstra uma posição individual
do locutor, por meio das escolhas feitas a fim de provocar a reflexão do leitor sobre o fato contado.
Dessa maneira, buscamos levar o aluno a perceber como o narrador, ao utilizar adjetivos, arquiteta na
língua tais signos linguísticos com o propósito de refratarem sua posição ideológica.
23
RESSIGNIFICAÇÕES POSSÍVEIS NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DO
PROFESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA
O ensino de Língua Portuguesa (LP), conforme os PCN (BRASIL, 1998) e as DCE (PARANÁ, 2008),
deve se pautar pela concepção de linguagem como forma de interação. Nesse contexto, espera-se que o
professor trabalhe com seus alunos atividades de leitura, escrita/reescrita e análise linguística dos mais
variados gêneros discursivos, a fim de adequar sua linguagem às diferentes situações de interação. No
entanto, para que esse ensino se efetive, é necessário que os futuros professores de LP recebam uma
formação inicial coerente com tais propósitos. Assim, esta pesquisa, cuja base teórica pauta-se em
autores como: Bakhtin (2011, 2014), Geraldi (1984, 1997) e Nóvoa (1992, 2009), parte da seguinte
indagação: Qual a compreensão de gêneros discursivos que está sendo possibilitada aos acadêmicos do
Curso de Letras da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – campus Cascavel? No intuito de
respondê-la, realizamos uma pesquisa qualitativa e interpretativista, inscrita na Linguística Aplicada, a
fim de verificar se o Curso garante subsídios para os futuros professores atuarem conforme o que
preconizam os documentos oficiais. Para tal, aplicamos questionários e realizamos uma entrevista tipo
grupo focal com estudantes do quarto ano. Como resultado, observamos que a compreensão de gêneros
discursivos que o Curso possibilita aos acadêmicos é incipiente. Os estudantes apresentam dificuldades
para defini-los teoricamente e para explicar como seria um trabalho pautado pela concepção
interacionista utilizando os gêneros como ferramentas de ensino. Ainda, apontam para um estágio
insuficiente, do que decorre não se sentirem aptos para o ensino de LP no Ensino Fundamental e Médio.
Consideramos a importância da produção de material didático para o ensino de língua portuguesa, dentro
de um processo de estudo que envolva o professor em formação inicial ou continuada. Partindo desse
princípio, nosso objetivo é apresentar um processo de estudos e reflexões sobre o ensino da leitura e da
análise linguística, que envolveu professores da educação básica e alunos da graduação e pós-graduação
em Letras, de modo que resultasse na produção e publicação de um Caderno Pedagógico (COSTA-
HÜBES, 2015a) direcionado mais especificamente para professores do 5º ano – anos iniciais do ensino
fundamental. Os estudos e produções sustentaram-se na concepção dialógica
(BAKHTIN/VOLOCHINOV, 2004[1929]; BAKHTIN 2003[1979]) e interacionista (GERALDI, 1984,
1991) de linguagem, considerando a leitura em uma perspectiva interacional e discursiva (KOCH e
ELIAS, 2007; MENEGASSI, 2010; ROJO, 2002) e a prática de Análise Linguística também sob um viés
discursivo. As atividades elaboradas seguiram o princípio do método sociológico para estudo da língua,
conforme proposto por Bakhtin/Volochinov (2004[1929]), uma vez que, ao olharmos para um texto do
gênero selecionado, procuramos considerar sua dimensão social (contexto sócio-histórico e ideológico
de produção) e sua dimensão verbal (conteúdo temático, estilo e construção composicional). Esse
processo de estudo e produção resultou na publicação de 700 Cadernos Pedagógicos os quais foram
distribuídos gratuitamente entre professores dos 5ºanos, uma vez que contamos com o apoio da CAPES
para custear as publicações.
Linguística
Página
O estudo realizado a partir da temática leitura, no período da antiguidade ao século XXI, tendo como
destaque as concepções de leitura e de texto, a fim de explicitarmos as mudanças ocorridas e como o
leitor é situado neste processo. Nos procedimentos metodológicos fomentamos um diálogo com a leitura
(texto) e suas concepções, tendo como estratégia de análise um paralelo em relação aos métodos,
modelos e concepções de leitura e de texto do passado, presente e como isso influencia o futuro. Que
tipo de leitor foi constituído a partir das concepções de leitura e de texto abordados em cada período?
Quais são as mudanças e os focos apontados neste percurso temporal em termos de concepções de leitura
e de texto? O desenvolvimento do trabalho foi subdividido em três momentos distintos, porém todos
com foco na leitura e nas concepções de leitura (texto). Na primeira etapa, destacamos “a leitura em voz
alta e a leitura silenciosa”, como concepções que suscitaram atividades por meio de um método, para que
sentidos fossem construídos. A segunda etapa se constituiu no contexto múltiplo dos métodos, a partir da
década de 1960, concepções de leitura que ora tinham o foco no autor, ora no texto. Por fim a terceira
etapa em que a concepção de leitura e de texto tem o foco no autor-texto-leitor, concepção que
defendemos e que subjaz, necessariamente, a ideia de que há, em todo texto uma gama de implícitos, dos
mais variados tipos, somente detectáveis pela mobilização do contexto sociocognitivo no interior do qual
se movem os atores sociais. Um diálogo fomentado por meio das concepções de leitura e de texto e a
situação do leitor no percurso da leitura.
O trabalho acerca do tema Simplificação da Linguagem Jurídica vem sendo desenvolvido desde 2005
com alunos da 2ª fase do Curso de Direito da Católica de Santa Catarina, na disciplina Direito e
Linguagem. Tal movimento surgiu a partir de uma campanha iniciada pela AMB, em agosto de 2005,
junto à FGV-RJ. Com este trabalho busca-se discutir qual o limite entre uma linguagem jurídica técnica,
culta e coerente, utilizada, atualmente, por muitos, e os jargões, a prolixidade e outros vícios de
linguagem historicamente utilizados na área jurídica e defendidos pelos mais conservadores. Questiona-
se sobre onde termina a arte de uma técnica bem empregada e começa a perda da clareza do texto. Outro
objetivo é conscientizar os (futuros) Operadores do Direito sobre o uso de uma linguagem jurídica
menos rebuscada e hermética, pois, acredita-se que, a partir dessa mobilização, haja o emprego de uma
linguagem mais concisa e clara, uma vez que os novos profissionais da área jurídica terão uma tendência
maior a aceitar esse processo de mudança na linguagem de uma forma mais natural, pois o exercício da
leitura e aprendizagem da língua portuguesa com esmero permite ao advogado expor seus argumentos
limpos de vícios, termos arcaicos desnecessários e confusos ao ouvinte. Quanto à metodologia, buscou-
se discutir junto a Operadores do Direito qual seu posicionamento frente ao tema.
A análise linguística é uma atividade de reflexão sobre o funcionamento da língua nos textos e, dessa
forma, compreende o processo de categorização sobre a linguagem que, segundo Adam (2001), faz parte
das atividades cognitivas espontâneas dos sujeitos. Em práticas de ensino de língua portuguesa, a análise
linguística envolve procedimentos que exigem autonomia e domínio das relações entre texto, discurso e
materialidade linguística. Com vistas aos desenvolvimentos dos estudos textuais e à formação de
professores, esta pesquisa tem como objetivo discutir os resultados obtidos a partir de um questionário
aplicado a acadêmicos do primeiro e do último período da graduação em Letras, em cinco universidades
públicas situadas no Paraná, a fim de verificar o domínio dos acadêmicos sobre a análise linguística em
gêneros textuais. Para tanto, buscamos referenciais teóricos a respeito dos níveis hierárquicos da
organização textual, como as relações entre os gêneros e as sequências textuais, conforme Adam (2001 e
2011), estas definidas como protótipos de base construídos pela atividade cognitiva dos sujeitos na
vivência com os textos. A tais conceitos, associamos as definições de Talmy (2001) sobre os sistemas
cognitivos estruturadores da linguagem, pois entendemos que a relação entre as abordagens permite
oferecer pontos de apoio para a realização da análise linguística. Neste trabalho, exploramos os
resultados da análise linguística realizada pelos acadêmicos a partir de dois textos com sequência
narrativa dominante. Os resultados obtidos demonstraram pouca precisão, em ambos os períodos de
graduação pesquisados, ao identificar marcas linguísticas e ao lidar com a metalinguagem.
Nosso trabalho situa-se no âmbito das reflexões acerca das tendências atuais do estudo do texto,
focalizando, em particular, o tema da construção do tópico discursivo e o tema da caracterização de
gêneros textuais. O trabalho insere-se no quadro teórico-metodológico da Perspectiva Textual-Interativa,
vertente da Linguística Textual especializada no estudo dos processos de construção do texto. Nossa
discussão vincula-se a uma tendência recente na Perspectiva Textual-Interativa que consiste em analisar
como os processos de construção do texto se manifestam em diferentes gêneros textuais, com base na
hipótese de que os gêneros se diferenciam uns dos outros, dentre outros aspectos, por particularidades no
funcionamento dos processos de construção textual. Nesse sentido, abordamos um processo particular de
construção do texto, a Organização Tópica, delimitando uma parte desse processo, a saber, o
sequenciamento de Segmentos Tópicos mínimos, e demonstramos como esse sequenciamento ocorre em
dois gêneros diferentes, Narrativa de Experiência e Descrição. Conforme mostramos, os dois gêneros
manifestam diferenças consideráveis entre si quanto ao uso de estratégias de sequenciamento tópico,
sendo a principal diferença o fato de que, em Descrições, verifica-se uma incidência maior de estratégias
de descontinuidade tópica do que se verifica em Narrativas. Como discutimos, essa diferença parece
estar vinculada a aspectos da funcionalidade sociocomunicativa desses gêneros. Assim, nosso trabalho
aponta na direção da confirmação da hipótese de que particularidades dos processos de construção
textual fariam parte dos elementos linguísticos caracterizadores de diferentes gêneros textuais.
188
No dia a dia das salas de aula, observamos alunos, no último ano do Ensino Fundamental, com graves
deficiências no domínio da leitura e da escrita, domínio este que deveria ser pleno ao final dessa etapa ̶
conforme LDB ̶ o que compromete o seu desenvolvimento não apenas em Língua Portuguesa, mas
também em outras áreas de conhecimento. Essas deficiências têm sido corroboradas pelos baixos índices
no IDEB e pelas más colocações do Brasil no ranking do PISA. Considerando-se a importância do
ensino da produção textual para o ensino/aprendizagem da língua e para a instrumentalização dos alunos
para um efetivo exercício da cidadania, é necessária a implementação de procedimentos metodológicos
que possam embasar novas práticas que contribuam efetivamente para esse processo. A presente
pesquisa, através de uma abordagem metodológica qualitativa-interpretativista nos moldes da pesquisa-
ação, se propõe a promover uma mudança na realidade de uma sala de aula do Ensino Fundamental,
através da implementação da avaliação formativa no processo de ensino/aprendizagem da produção
textual escrita. Inserida no contexto da sequência didática proposta por Dolz, Noverraz e Schneuwly,
esse tipo de avaliação pode orientar professores e alunos de forma reflexiva e dialógica, favorecendo
uma aprendizagem mais autônoma, eficaz e significativa da escrita.
Muitas áreas do conhecimento tomam o texto como seu corpus de pesquisa. Nesse contexto, podemos
citar áreas ligadas à psicologia e psiquiatria, por exemplo, ou áreas da comunicação. E, nessa diversidade
de áreas, muitas são as definições para esse objeto, denominado “texto”, o que evidencia sua
complexidade, bem como as diversas concepções teórico-metodológicas acerca de sua abordagem como
instrumento de trabalho nas aulas de línguas. Assim, o presente trabalho busca compreender as
definições de texto que embasam as práticas pedagógicas dos professores da região de abrangência da
UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul) Campus Erechim, por meio das respostas de um grupo de
alunos universitários. Isso porque, detectar tais definições nos permite compreender algumas das
dificuldades na recepção e produção de textos apresentadas pelos universitários e alunos da educação
básica. O presente trabalho está organizado da seguinte forma. A primeira seção mostra os pressupostos
teóricos que estão orientando nossas análises, buscando definições propostas pela Linguística Textual
para nosso objeto de investigação, o texto. A segunda seção apresentará o questionário aplicado aos
alunos e a análise dos dados obtidos por meio desse questionário. Na última seção, apontamos os
resultados mais significativos da pesquisa, as possíveis contribuições dessa e possíveis formas de
ampliar essa pesquisa.
Este trabalho visa apresentar uma sequência didática construída para o ensino do gênero textual resumo
acadêmico. Parte-se do princípio que a leitura e produção de textos científicos são práticas
sociocomunicativas efetivas inerente à interação em ambiente acadêmico. A noção de gênero textual
parte da compreensão da língua/linguagem como fenômeno inerente ao homem e às práticas sociais
deste. Se a língua está ligada às práticas sociais, é possível notar que não comunicamos por meio,
exclusivamente de palavras Outra observação, para que se consolide a noção de gênero, refere-se ao fato
de que as práticas sociais são diferentes entre si. Logo serão diferentes, mas relativamente estáveis as
interações verbais que organizarão essas práticas. Para sustentar a noção de gênero, recorremos aqui a
concepção de bahktiniana. Os gêneros textuais organizam nossas atividades profissionais, escolares,
familiares e em outras áreas nas quais nos inserimos. Em cada uma dessas esferas, vamos reconhecendo
os gêneros que permeiam nossas práticas sociais e os realizamos. Por essa razão, pensar o ensino de um
gênero textual, no ensino superior, deve seu alvo de organização e sequenciação, a fim de levar os
aprendentes ao que se concebe como letramento acadêmico, ou seja, ao saber-fazer em relação às
práticas de leitura e escrita que estão inseridas e/ou que constituem a dinâmica da academia. Neste
sentido, apresentar-se-á a construção e efetivação de uma sequência didática do gênero resumo, para
alunos de 1º ano dos cursos de engenharia.
Com base nas premissas básicas da Análise da Conversação, este trabalho tem como objetivo principal
apresentar análises das funções pragmáticas desempenhadas pelos marcadores conversacionais de acordo
com as estratégias comunicativas utilizadas pelos falantes em contextos forenses, como audiências
judiciais. Assim, examinamos como os participantes empregam estes mecanismos para a realização de
suas intenções, ajustando-os para alcançar os efeitos de sentido pretendidos, contribuindo também para
coesão e coerência textual. Neste trabalho, baseamo-nos em autores como Koch (1992) e Marcuschi
(2006) para as bases teóricas da Análise da Conversação em relação de interface com a Linguística
Forense, da qual utilizamos como apoio alguns dos estudos realizados por Coulthard (2015) e Caldas-
Coulthard (2008). Para Koch (1992), a Análise da Conversação é uma disciplina que teve origem na
sociologia interacionista americana, baseada em dados reais, analisados em contexto natural, tendo como
conceito fundamental a interação. No nosso caso, a interação acontece em um ambiente formal, no qual
buscamos analisar de acordo com o enfoque interacionista as produções linguísticas nestes ambientes
institucionais e o contexto com base em critérios próprios da tipologia textual em estudo. Utilizamos
interações reais de ambientes forenses para a realização deste trabalho e, para constituição do corpus da
pesquisa, gravações de audiências judiciais na comarca de Mirandópolis, interior de São Paulo. E, os
excertos são transcritos com base nas normas do NURC (Projeto da Norma Urbana Oral Culta) para
análise dos dados.
Este trabalho visa a utilizar recursos da Análise da Conversação como instrumentos de análise da
interação em tribunais realizados em língua inglesa. Dessa forma, esta pesquisa consiste em uma
abordagem textual-interativa da língua inglesa falada, pautada em conceitos da Análise da Conversação
em relação de interface com os estudos da Linguística Forense. Pretendemos evidenciar as estratégias de
tomadas de turno conversacional, as formulações e os procedimentos de polidez e de preservação da
face, assinalando a forma como são empregados pelos falantes para a obtenção de resultados específicos.
O corpus é formado de transcrições do julgamento de Jodi Ann Arias, o qual recebeu grande atenção da
mídia nos Estados Unidos. Em 2013, ela foi declarada culpada pelo assassinato de seu ex-namorado e
condenada à prisão perpétua em 2015, sem direito à liberdade condicional. O material sob análise está
disponibilizado na Internet e é composto do vídeo do último dia de inquirição cruzada de testemunhas do
tipo cross-examination realizada pelo promotor (25º dia), transcrita de acordo com as normas sugeridas
por Preti (2003, p. 13-14), e de transcrições oficiais de dois dias do julgamento. Vale ressaltar que, a
partir da abordagem textual-interativa da língua falada, é possível observar o processo de construção
textual e as estratégias convenientes aos interesses e propósitos dos participantes envolvidos nesse tipo
de contexto forense.
Este trabalho tem por objetivo discutir o uso dos marcadores conversacionais na formulação do texto
falado em inglês, assinalando suas funções e os efeitos de sentido produzidos nos ouvintes em tribunais.
Cabe salientar que a presença dos marcadores contribui para orientar o ouvinte quanto à intenção
comunicativa do falante, interferindo na forma como este pretende que sua mensagem seja interpretada.
Desse modo, o interesse de desenvolver essa pesquisa sobre os marcadores conversacionais deve-se ao
fato de que estes desempenham papel fundamental na intenção comunicativa do falante, e, de maneira
geral, na interação verbal. Nesse sentido, para Urbano (1997, p.81), os MCs são elementos de “variada
natureza, estrutura, dimensão, complexidade semântica-sintática, aparentemente supérfluos ou até
complicadores, mas de indiscutível significação e importância para qualquer análise de texto oral e para
sua boa e cabal compreensão”. Segundo o autor, trata-se de “elementos, típicos da fala, são de grande
frequência, recorrência, convencionalidade, idiomaticidade e significação discursivo-interacional”. Por
fim, no dizer de Risso, Silva e Urbano (1997, p. 21), os MCs englobam um amplo grupo de elementos
que, no plano verbal, envolvem “sons não lexicalizados, palavras, locuções e sintagmas mais
desenvolvidos, aos quais se pode atribuir homogeneamente a condição de uma categoria pragmática bem
consolidada no funcionamento da linguagem. Este estudo consiste, portanto, em uma abordagem
interacional das estratégias empregadas pelo falante em seu texto oral, utilizando como arcabouço
teórico, as formulações advindas da Análise da Conversação.
Este trabalho pretende discutir a função de alguns recursos do texto falado em inglês, observando o papel
que eles exercem na caracterização do discurso do sujeito “drag queen”, uma vez que, é na e pela
linguagem que os sujeitos se constituem e se representam. Para tanto, verificamos a maneira pela qual
esses recursos são empregados pelo sujeito “drag queen” em relação à identidade de gênero. A exposição
inicia-se pela conceituação e caracterização da reformulação retórica, hesitação e preservação da face; a
seguir, é discutido o papel que esses recursos exercem na conquista do interlocutor. O corpus deste
trabalho é constituído pela gravação do episódio denominado “Reunited” da segunda temporada do
reality show “Ru Paul Drag Race”, atualmente na sua sétima temporada e sendo veiculado no canal a
cabo “Multishow” nas segundas- feiras, às 23:00. Ressaltamos que o nosso corpus pode ser classificado
como conversação espontânea, embora, se trate de uma entrevista, pois apresenta características básicas
de uma conversa, tais como: falta de planejamento antecipado, o envolvimento dos interlocutores entre si
e com o assunto e a existência de um espaço compartilhado entre os interlocutores. Assim, nos valemos
das descrições da materialidade linguística e das interpretações qualitativas alicerçadas em conceitos da
Análise da Conversação. Finalmente, pudemos constatar que a constituição identitária do sujeito “drag
queen” pode ser compreendida não somente como “um efeito de ato de fala “ritualizado” BUTLER
(1998) , mas que se dá também em um continuum, que se inicia no gênero de origem e se movimenta em
direção ao gênero oposto, e é no entremeio desse que o gênero “drag queen” emerge.
O presente trabalho trata dos processos intralinguísticos mais recorrentes na linguagem homossexual,
tendo como foco a classificação neológica das palavras incorporadas à linguagem do grupo. Sabe-se que
faz parte da essência da linguagem oral buscar o máximo de expressividade. Alves (2004) salienta que os
neologismos podem ser formados por mecanismos oriundos da própria língua, os processos autóctones,
ou por itens léxicos provenientes de outros sistemas linguísticos. Enquanto algumas palavras deixam de
ser utilizadas e tornam-se arcaicas, uma grande quantidade de unidades lexicais é criada pelos falantes de
uma comunidade linguística; o português, como as demais línguas, utiliza vários meios para formar
novas palavras: recursos linguísticos próprios, formações sinestésicas ou onomatopaicas e importação de
elementos de outras línguas. Metáforas e metonímias são recursos comuns e resultados de uma busca por
maior expressividade por parte dos falantes. Assim, buscou-se, neste trabalho, descrever a formação de
novas palavras na linguagem do respectivo grupo, abordando processos neológicos – como neologismos
semânticos, neologismos formados por composição (siglas ou acronímica), truncação e empréstimos.
Procuramos, também, mostrar qual processo apresenta maior produtividade na criação de novas palavras
dentro do grupo.
Argumentar é a base do discurso político, uma vez que aqueles que se valem de tal discurso têm, por
objetivo primeiro, o convencimento ou até mesmo a persuasão de seu eleitorado ou possíveis eleitores.
Portanto saber utilizar ou mesmo ter consciência das técnicas de argumentação utilizadas em
determinado discurso é um recurso fundamental para depreender os sentidos mais profundos que podem
ser emanados de um texto, ultrapassando assim o limite de uma leitura superficial e adentrando a uma
compreensão plena. Para tanto, faz-se necessário, para compreender os processos argumentativos
envolvidos em determinado texto, uma análise lingüística integrada, em que níveis sintático, semântico e
pragmático sejam interdependentes e, nessa relação, auxiliem um na construção/compreensão do outro.
Nesse sentido, o objetivo desse artigo é propor uma análise semântico-pragmática do discurso da
presidente Dilma Roussef concedida ao entrevistador Jô Soares em seu programa noturno na Rede
Globo, no dia 12 de junho de 2015, observando também os recursos sintáticos apresentados pelo texto
em questão e os processos argumentativos utilizados pela presidente. Para delimitar ainda mais a análise,
é preciso salientar que, nesse estudo, ao propor uma análise semântico-pragmática, pensa-se, enquanto
semântica, em Semântica Argumentativa e, enquanto pragmática, em conceitos da Análise da
Conversação.
O presente trabalho tem por objetivo investigar a construção argumentativa em gêneros ‘redação de
vestibular’. A ideia do trabalho é analisar a relação entre o texto do candidato e a proposta do vestibular,
observando como o candidato constrói a argumentatividade de seu texto e que recursos são recorrentes
para a comprovação do seu ponto de vista. Para tal pesquisa, baseamo-nos nos trabalhos de Perelman e
Olbrechts-Tyteca (2005), sobre os estudos da argumentação; Reboul (2004), sobre os estudos da
Retórica; Fiorin (2015), no que concerne aos estudos da argumentação e das inferências que compõem
os textos e Koch (1996), no estudo do texto e do sentido. Temos ciência de que os textos produzidos em
contexto de vestibular são produções pontuais, ou seja, diferenciam-se de produções processuais, em que
o professor tem a possibilidade de sugerir encaminhamentos para uma escrita satisfatória e o aluno tem a
possibilidade de reescrever o seu texto, no caso, melhorando a sua argumentação. Entretanto, ao
assumirmos, com base em Bakhtin, que todo texto apresenta uma linha argumentativa, preocupa-nos
investigar como a argumentatividade se manifesta e se organiza no texto dos vestibulandos. É de suma
importância considerar a proposta que é apresentada aos inscritos, tendo em vista que os textos que
servem como base representam marcas dialógicas no texto dos candidatos e, por extensão, promovem a
argumentatividade. Neste estudo, apoiamo-nos também nos estudos sobre avaliação, sugeridos por
Wachowicz (2015) a fim de investigar questões atuais para o trabalho com o texto e com a
argumentação.
Esta comunicação faz parte do projeto de pesquisa intitulado “Gêneros discursivos e argumentação”,
desenvolvido na Universidade Estadual de Londrina. Atualmente, o estudo dos gêneros incorpora a
grade curricular de quase todos os níveis escolares, pois eles estão intimamente vinculados aos eventos
sociais mais diversos. Para este trabalho, selecionamos o gênero manchete, que serve para chamar a
atenção do leitor e, consequentemente, induzi-lo para a leitura completa do texto. As manchetes
escolhidas foram retiradas de jornais (sempre da primeira página) e de capas de revistas (a manchete de
destaque). Dessa forma, nesta comunicação, faremos o estudo de quatro tipos de manchete: a) manchetes
de jornal (Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Folha de Londrina); b) manchetes de revista de
opinião (Veja, IstoÉ e Época); c) manchetes de revista de informação (Superinteressante, National
Geographic e Planeta); d) manchetes de revista de entretenimento (Claudia, Atrevida e Capricho). Na
análise, focalizaremos, principalmente, os seguintes recursos argumentativos: frase nominal, seleção
lexical, adjetivação, artigo definido e numeral (como lugar retórico de quantidade). Esses elementos são
imprescindíveis para a construção da trama persuasiva da manchete, pois eles têm a função de viabilizar
a mensagem desejada de forma rápida e criativa.
A propaganda tem forte presença na sociedade, pois é um recurso utilizado por anunciantes para
apresentar seus produtos no mercado e conquistar o consumidor. O público infantil é marcado pela
interferência de várias mídias simultaneamente e nosso objetivo é estudar anúncios publicitários
direcionados a essa faixa etária, a fim de constatar o incentivo ao consumo por meio da interação
ideológica e de conteúdos implícitos, já que, atualmente, grande parte dos consumidores do Brasil são
crianças. Empresas de produtos alimentícios, de vestuário, de brinquedos investem na utilização da
imagem de personagens de jogos ou de desenhos animados para fabricarem seus produtos e, por meio da
divulgação de seu anúncio, cativam o público mirim que, por sua vez, tenta convencer os pais quanto à
aquisição dos produtos. Apresentaremos alguns elementos presentes em peças publicitárias capazes de
persuadir o público infantil pelo uso estratégico da linguagem, na tentativa de desvendar, por meio dos
estudos discursivo-argumentativos, os valores explícitos e implícitos da enunciação. Investigaremos o
perfil do consumidor mirim, considerando o ethos como instância subjetiva e sua presença nos anúncios
selecionados, com o objetivo de captar a construção do anseio da criança. Pretendemos elucidar a
capacidade do discurso propagandístico, em persuadir e levar a criança ao consumismo, demonstrando
que os valores ideológicos estão repletos de informações implícitas.
O objetivo desta comunicação é mostrar que, dentro do variado leque de mecanismos intensificadores,
encontram-se as figuras de repetição, que servem para enfatizar a carga semântica de uma palavra ou
enunciado, reforçando o caráter discursivo-argumentativo dessas figuras. Pesquisadores da área elencam,
mais ou menos, trinta figuras de repetição, no entanto, para esta comunicação, selecionamos apenas
onze: 1) aliteração, 2) anáfora, 3) concatenação, 4) epístrofe, 5) homeoteleuto (rima), 6) paralelismo, 7)
polissíndeto, 8) quiasmo, 9) reduplicação, 10) reiteração e 11) ritornelo. As repetições podem ocorrer de
formas variadas, dependendo da posição da expressão, palavra ou fonema que se repetem no interior do
enunciado ou do verso. A aliteração, por exemplo, é a repetição do mesmo som consonantal; a anáfora é
a repetição de palavra ou expressão no início de enunciados ou versos; na concatenação, repete-se a
palavra ou expressão no final de um enunciado e no início do enunciado seguinte; na epístrofe, os termos
recorrentes estão no final do enunciado; o homeoteleuto (ou rima) é a correspondência de sons
semelhantes no final de enunciados e, principalmente, de versos; o paralelismo é a repetição da mesma
estrutura ou sequência sintática; no polissíndeto, repete-se, intencionalmente, um determinado conectivo;
o quiasmo é a recorrência de palavras ou expressões com a inversão da ordem; na reduplicação, acontece
a utilização sucessiva de uma palavra; a reiteração é a recorrência de palavra sem estar em uma posição
definida, pode ocorrer no início, no meio ou no final do enunciado, aleatoriamente; o ritornelo é a
repetição de um grupo de palavras (um enunciado ou um verso) quase em sua totalidade.
Esta proposta de trabalho intitulada Metáfora, argumentação e ideologia no conto " O homem da
multidão", de Edgar Allan Poe, aborda os postulados de Lakoff & Johnson (2002) acerca do uso das
expressões metafóricas linguísticas para estudar a natureza dos conceitos metafóricos. Para que haja uma
melhor compreensão sobre o conceito de metáfora, podemos considerar os conceitos de produção que se
utilizam da linguagem para se referirem ao mundo. Nessa perspectiva, as expressões metafóricas
possuem um caráter multidimensional, pois, dependem das articulações contidas no discurso no instante
em que são utilizadas. Este trabalho tem como objetivo explorar a dimensão argumentativa das
metáforas usadas no referido conto. Para tanto, ater-nos-emos às teorias sobre argumentação de Koch
(2011) abordando as relações discursivas entre enunciado e enunciação, as então denominadas relações
ideológicas ou argumentativas. Conforme a autora, nessa perspectiva, o ato de argumentar constitui o ato
linguístico fundamental, pois, a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia.
Esta pesquisa tem por objetivo rever os conceitos de texto, ampliando-os de forma a promover análises
de textos não apenas compostos pelo elemento verbal, mas também por aqueles que apresentam em sua
materialidade o elemento visual, como, por exemplo, um filme, considerando, desse modo, o caráter
sincrético de uma produção. Assim, quando estamos diante do estudo da intertextualidade entre
materialidades distintas quais são as bases para fazer essas relações. Esse estudo assinala para a
possibilidade de se observar a intertextualidade entre textos de naturezas diferentes. Trata-se de analisar
as relações intertextuais entre filme e livro, para observar quais elementos presentes no filme permitem
ao espectador e leitor associar as obras, examinando-se suas semelhanças e diferenças. À luz das teorias
do texto e de contribuições da teoria literária, bem como da linguagem cinematográfica, é possível notar,
tomando como objeto de análise o filme O diário de Bridget Jones e o livro Orgulho e Preconceito, um
ponto comum entre literatura e cinema: a estrutura narrativa. Nesse sentido, buscamos, nessa
semelhança, elementos que nos serviram de guias para a nossa análise, de modo que operadores
narrativos como fábula, trama, conflito, personagens, tempo, espaço e narrador contribuíram para
certificarmos de que maneira se dá a intertextualidade entre os dois objetos, aqui pesquisados.
Com este trabalho, pretende-se discutir os efeitos discursivos das estratégias de referenciação escolhidas
pelo autor, em textos jornalísticos, para a construção de referentes, destacando-se o emprego de
descrição (in)definida e de nomes próprios. Para isso, vale-se da teoria da Referenciação, da Linguística
Textual de linha sócio-cognitivo-interacionista, e da perspectiva assumida acerca do nome próprio por
Bassetto (2015), segundo a qual, em determinadas situações de uso, o nome próprio pode ser: (a) mais
designativo, no seu uso mais prototípico; (b) mais atributivo, sendo as características construídas
sociocognitivamente no momento da interação verbal; e (c) atributivo, com características mais
cristalizadas social e culturalmente, de modo a estar mais próximo do nome comum. Desse modo, neste
trabalho, considera-se que o emprego de nomes próprios na referenciação não tem um efeito discursivo
“neutro”, embora seja essa a perspectiva assumida em trabalhos da área. Ao contrário, assume-se um
ponto de vista de que o nome próprio pode ser, além de designativo, também atributivo e, por isso,
contribui para a construção referencial. Assim, acredita-se que a escolha por um nome próprio em vez de
uma descrição (in) definida é realizada a partir de um propósito comunicativo do autor e tem efeitos
discursivos relevantes tanto para a construção referencial, quanto para a construção textual. A partir
desse olhar acerca do nome próprio, pretende-se demonstrar a importância do emprego desse recurso
linguístico na construção de referentes, considerando-o uma estratégia de referenciação, assim como a
descrição definida e a indefinida, todos com efeitos discursivos relevantes.
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Fahrenheit 451 é uma distopia na qual livros são banidos e literalmente queimados, pois entende-se que a
literatura causa infelicidade e rebeldia. Quem os queima são os bombeiros, numa total distorção do real.
Neste romance futurista, há a primazia da alienação do ser humano em detrimento do pensamento, o que
o transforma cada vez mais num ser apático às relações sociais. A obra original tem origem no livro de
Ray Bradbury, porém atingiu seu real sucesso com o filme de François Truffaut. O diálogo entre cinema
e literatura em Fahrenheit 451 possibilitará um estudo cultural, político e, obviamente, discursivo, e
poderá ser explorado a partir das teorias da adaptação e das ideias disseminadas por estudiosos das novas
tecnologias e aparelhos multimodais. Apesar da história ter mais de cinquenta anos, a análise do enredo
em diferentes meios será essencial no entendimento do que diz respeito à formação do leitor
contemporâneo e às diferentes formas de leitura disseminadas atualmente. Para tal, o estudo da definição
de leitura será, também, primordial.
A imagem sempre exerceu um fascínio sobre o homem, afirmação confirmada nas origens remotas de
nossos registros de linguagem, que eram pictográficos. Já com consciência filosófica e científica,
intelectuais debatem, no decorrer dos séculos, a relação entre a palavra e a imagem, as coisas ou sua
representação. No domínio da arte, não é raro o intercâmbio entre artes visuais e literatura,
estabelecendo-se o tema deste artigo de cunho bibliográfico: a relação entre literatura e pintura. Para
discuti-lo, seu objetivo geral é refletir como a pintura se faz presente em livros de literatura infanto-
juvenil divulgados nos catálogos das editoras Ática, Moderna, Salamandra e Scipione. Como objetivos
específicos, propomos levantar quantitativamente as obras derivativas desses catálogos, para apontar
quais derivam da arte da pintura, e analisar dois livros desse corpus, enfocando o trabalho de tradução
intersemiótica realizado e os objetivos que se esboçam para a obra nova. Quanto ao processo de
adaptação ou tradução intersemiótica, salientamos que a mudança de um sistema de signos para outro é
complexa. O adaptador/tradutor precisa entender como os significados se constroem na obra de partida,
desconstruindo-a, em um exercício de apreensão de significados. De posse desse entendimento, a partir
dos recursos sígnicos de que dispõe na nova mídia em que trabalha, ele reconstrói a obra de partida. Com
essa percepção do processo criativo, jubjaz a nossa abordagem, que uma obra derivada, adaptada ou
traduzida não é inferior a sua obra primária, matriz ou original, mas um produto com objetivos e
características próprios que o particularizam.
O presente artigo é uma análise comparativa do best-seller “O menino do Pijama Listrado”, de John
Boyne, e sua adaptação cinematográfica homônima, dirigida por Mark Herman. Três aspectos foram
levados em conta na execução da análise: as supressões feitas na trama em sua adaptação fílmica, a
classificação do público alvo de ambas as narrativas e, por fim, como elas dão conta de reforçar ou
derrubar a ideia de que os alemães contemporâneos do nazismo eram coniventes com as atrocidades do
regime. No primeiro aspecto ficou claro que as supressões em questão não configuram deslizes de
tradução, pois elas são impostas pelo próprio formato alvo; no segundo aspecto foi possível constatar
que, enquanto o texto de Boyne é destinado ao público infanto-juvenil, sua adaptação cinematográfica se
destina ao público adulto; quanto ao último aspecto, a análise comparativa possibilitou a conclusão de
que tanto o livro como o filme demonstram que havia alemães contrários aos absurdos praticados pelos
nazistas, porém, eles estavam impossibilitados de reagir. Entretanto, o filme, ao fazer com que a
personagem da mãe se rebele de forma veemente contra o marido nazista, é mais enfático no que tange a
expor a indignação dos alemães contrários ao regime. Por fim, o presente trabalho reforça a ideia de que
não existe superioridade de uma narrativa com relação à outra, já que cada uma delas é, com suas
peculiaridades, capaz de contar a mesma história, não sendo a adaptação cópia da obra que a inspirou,
mas sim um agente perpetuador da mesma. Como suporte teórico da análise citam-se as contribuições de
Derrida (2005), Benjamin (2008), Diniz (1999) e Hutcheon (2006), além de outros autores visitados.
Este trabalho tem como objetivo principal realizar uma análise da tradução intersemiótica dos contos A
queda da casa Usher (1839) e O coração revelador (1843) de Edgar Allan Poe, e suas versões para
animação Extraodinary Tales (2015), produzida e dirigida por Raul Garcia. Especificamente pretende-se
analisar a maneira com que o espaço e os personagens são retratados em ambos os meios, levando em
consideração os diferentes recursos do meio impresso e da animação, que dispõe de recursos como som e
imagem. Justifica-se a importância deste trabalho por tratar-se de uma análise de obras renomadas de um
autor que inovou a literatura americana nas décadas de 30 e 40 (séc XIX) e que foram traduzidas para
uma animação produzida recentemente. Ressalta-se também a importância dos estudos no campo de
tradução intersemiótica, por esta ser uma prática crescente nos dias atuais e ainda por este processo de
tradução do meio escrito para o meio fílmico permitir que obras literárias cheguem à um número maior
de espectadores, valorizando letramentos diferentes dos requeridos no meio impresso. Dessa forma,
serão discutidos alguns conceitos sobre personagem e espaço (BACHELARD, 1978; DIMAS, 1987),
aliados às teorias da tradução sob um viés pós-moderno (AMORIM, 2006; DERRIDA, 2005; DINIZ,
2005).
Para esta comunicação propomos uma exposição e discussão acerca de nossa tradução de uma ária da
ópera “La Traviata” (VERDI, 1853), escrita por Francesco Maria Piave, do original em italiano para o
inglês e o português. Tal tradução foi feita como requisito parcial para uma disciplina de tradução
poética, oferecida no ano passado pelo programa de pós-graduação em estudos da tradução da UFSC.
Para este fim, o arcabouço teórico selecionado consiste principalmente nos textos de Humboldt (1816) e
Laranjeira (2003), em função da reflexão destes acerca da tradução e do ritmo. O desafio é considerável
porque, em paralelo com a poesia, o texto operístico se configura como um cenário no qual melodia e
texto precisam estar em consonância para que o previamente não-dito possa, de fato, confluir em
palavras. Nesse contexto, quando se pensa em tradução de ópera, espera-se a produção de um texto
capaz de transmitir os elementos tidos como cruciais na construção de todo o senso estético e artístico
que envolvem essa arte – melodia, texto e vozes. “Un dì felice, etérea” – ária que escolhemos para esse
exercício de tradução – consiste em um momento significativo do primeiro dos três atos que compõem a
ópera na qual se insere. É importante lembrar que a tradução que propomos e os nossos comentários
acerca dela resultam de nossa interpretação particular daquilo que julgamos interessante, necessário ou
inerente à obra de Verdi e de Piave. Ou seja, ela não passa da concretização de uma das centenas de
leituras que podem existir deste mesmo material.
Este estudo tem como objetivo geral discutir a tradução do livro infantil The Gruffalo para o português
brasileiro. O livro, publicado pela primeira vez em 1999, conta a história de um rato se aventurando em
uma floresta europeia. A ficção é contada a partir de rimas, o que, certamente, contribuiu para a
popularidade do livro no meio infantil na última década, pois proporciona uma leitura musicalizada e
estimulante. É importante ressaltar, também, o crescimento dos estudos no âmbito da literatura infantil
em Língua Inglesa nos últimos tempos, fator relevante no desenvolvimento das pesquisas envolvendo
histórias infantis como The Gruffalo e suas traduções para diversos idiomas. Ao considerar tanto a
relevância da literatura infantil nos estudos literários atualmente quanto a abrangência e popularidade de
tal história, este trabalho propõe analisar as estratégias utilizadas pelo tradutor para transmitir o efeito de
sentido e a forma textual da língua de partida na língua de chegada – considerando, principalmente, o
desafio de traduzir uma narrativa construída a partir de rimas. Para tanto, esta pesquisa fundamenta-se,
principalmente, em Vermeer (1985), Arrojo (2007) e Derrida (2002). As análises executadas neste
trabalho revelam que dentre os grandes desafios para o sujeito tradutor está a tradução de textos rimados,
pois estes englobam não somente um conteúdo textual, mas também uma forma específica e complexa a
ser reconstruída na língua de chegada. Dessa forma, devido a impossibilidade de construir, na língua de
chegada, um texto idêntico em forma e esquema rítmico, vale considerar o objetivo do tradutor e suas
escolhas para reformular o novo texto.
Em meio a era digital, em que as informações são difundidas com grande velocidade e alcance, os guias
turísticos ainda são importantes no estímulo às viagens. Prova disso é o fato de a editora Lonely Planet,
há mais de 40 anos no mercado, produzir um grande leque de manuais em até 11 línguas, por sua vez,
distribuídos em muitos países. O guia Brazil (2013) foi elaborado por uma equipe de autores que esteve
ou morou no país por um período, o que procura garantir uma visão mais próxima da realidade
transmitida. No entanto, o ponto de vista não deixa de ser, em primeiro lugar, de indivíduos do
hemisfério norte que apresentam aspectos de um país sul-americano. Com o objetivo de discutir como
são apresentados os marcadores culturais, foi selecionado, para este trabalho, o corpus paralelo
constituído pelo guia em inglês e por sua tradução em italiano, Brasile (2014). No entanto, será analisada
apenas a sessão introdutória, “Welcome to Brazil/Benvenuti in Brasile”. Como base teórica, serão
utilizados principalmente os estudos de Aubert (1981, 2006).
Este estudo tem como objetivo analisar a versão de alguns episódios publicados no canal de humor do
website YouTube Porta dos Fundos, o qual, devido a sua repercussão tanto nacional como internacional,
recebeu, em alguns de seus vídeos, legendas para outras línguas, dentre elas, o inglês, e a partir desta
análise refletir sobre como se dá este processo de traduzir o humor para outra língua, sobretudo em uma
situação restrita às características da legendagem. O humor é um aspecto da linguagem que, a fim de
alcançar seu efeito em uma tradução, depara-se com diversos empecilhos, tais quais como variações
sociais, históricas, econômicas e geográficas. Em decorrência destes fatores, realizar uma tradução que
envolva humor deve também ser um processo a considerar todas as características deste gênero,
principalmente quando o humor é essencialmente a base do produto a ser traduzido, como uma forma de
alcançar o objetivo de causar humor no receptor da mensagem. À vista disso, analisaremos as escolhas
linguísticas realizadas pelo tradutor como estratégia para causar o referido efeito e os recursos utilizados
por ele para manter a tradução adequada aos limites que esta modalidade, a legendagem, impõe aos
tradutores.
Este trabalho tem como objetivo apresentar dois recursos de acessibilidade que permitem aos deficientes
visuais buscar uma equiparação nas condições de acesso ao conhecimento. Dentre as várias tecnologias
assistivas existentes, optou-se por abordar neste artigo, o software MecDaisy e a audiodescrição, ambos
ferramentas que podem ser utilizados na produção de materiais didáticos. Apresenta-se aqui o contexto
de tentativa de inclusão vivenciado pelo deficiente visual na chamada era da pós-informação, onde o
conhecimento é disseminado e compartilhado através das tecnologias de informação e comunicação
(TIC) em suas diversas formas e manifestações, constituindo assim o que se entende por Sociedade do
Conhecimento. Não obstante, esse conhecimento ainda não é acessível a todos, há muitas barreiras
comunicacionais, sociais e políticas que precisam ser superadas. A audiodescrição que pode ser realizada
em diversas mídias, apresenta-se como uma possível tecnologia assistiva que permite a transposição de
parte da barreira comunicacional vivenciada pelo deficiente visual promovendo a sua socialização.
Aborda-se de maneira mais especifica a audiodescrição realizada no software MecDaisy como uma
representação de multimídia que permite ao deficiente visual a leitura do livro através da audição.
O presente estudo tem por objetivo analisar a tradução de trechos retirados do jogo World of Warcraft
referentes aos comandos /flirt e /silly da raça trolesa. O jogo foi desenvolvido pela empresa americana
Blizzard, em 2004, e devido à sua grande repercussão foi, posteriormente, traduzido para outras línguas,
incluindo o português do Brasil. Atualmente, com o mercado brasileiro de games em constante
expansão, as empresas que atuam na tradução desses jogos estão cada vez mais preocupadas com seu
público-alvo ao traduzirem o produto. Os trechos selecionados serão analisados sob uma perspectiva
crítica dos estudos da tradução, mais especificamente, nos pressupostos de Fish (1992), Vermeer (1985),
Venuti (1995), Derrida (2005) e Arrojo (2005) e também nas teorias sobre a localização na tradução de
jogos. Sendo assim, tomando como base a Skopos theory de Vermeer, que consiste em ressaltar o
objetivo pelo qual se traduz (nesse caso, para os jogadores brasileiros) e transformar o tradutor como o
responsável por fazer essas mudanças do texto-fonte para o texto-alvo, o jogo não foi simplesmente
traduzido, mas sim localizado, ou seja, houve uma preocupação em tornar os textos e falas mais
significativos para os jogadores do Brasil. Portanto, para que isso fosse possível, os profissionais
buscaram referências, gírias e bordões presentes na nossa cultura.
No contexto das discussões propostas pelo Simpósio “Variação linguística: enfoque histórico, geográfico
e social”, nosso trabalho aborda, particularmente, a questão da variação linguística histórica. O trabalho
é desenvolvido num quadro teórico-metodológico que integra princípios da Sociolinguística
Variacionista, sobretudo quanto à adoção de procedimentos metodológicos, e da Linguística Funcional,
esta última compreendendo a Gramática Discursivo-Funcional e o Modelo das Motivações em
Competição. Analisamos, no português brasileiro, uma propriedade linguística definida pela Gramática
Discursivo-Funcional como “transparência linguística”, que diz respeito ao grau (maior ou menor) em
que uma língua, num dado momento, apresenta relações biunívocas entre significados e formas
linguísticas (isomorfismo), grau este medido pela verificação da existência ou não de isomorfismo em
uma série de fenômenos morfossintáticos, como a concordância verbal e a nominal. De acordo com o
Modelo das Motivações em Competição, a estrutura das línguas é determinada, em grande medida, pela
competição constante de certas motivações cognitivo-funcionais, como a iconicidade e a economia. Com
base nessa visão do papel das motivações em competição, bem como em dados diacrônicos do português
brasileiro, argumentamos, no presente trabalho, que o grau de transparência de uma língua é influenciado
por essas motivações e que, dada a atuação constante e simultânea dessas forças, a mudança histórica de
grau de transparência não poderia ocorrer ininterruptamente numa única direção (de maior ou menor
transparência), mas oscilaria sempre entre um limite máximo e um limite mínimo de transparência.
Sem dúvida, o fenômeno evolutivo é a fundamental característica das línguas. Como servem de
instrumento de comunicação, é a própria constância no uso que lhe imprime tal propriedade. As línguas
resultam de “complexa evolução histórica e se caracterizam, no tempo e no espaço, por um feixe de
tendências que se vão diversamente efetuando aqui e além.” (SILVA NETO, 1952, p. 13). Dentro desta
perspectiva, este trabalho de tese de doutoramento investiga o alçamento da vogal posterior /o/, como em
s/u/licitando ~ s/o/licitando, /u/mitimos ~ /o/mitimos, registrado em alguns manuscritos das antigas vilas
paranaenses de Antonina, Castro, Curitiba, Guaratuba e Paranaguá, nos séculos XVIII e XIX. Esta tese
se insere nos estudos empreendidos pelo Projeto Para a História do Português Paranaense, ambos
desenvolvidos na Universidade Estadual de Londrina. O alçamento é bastante comum na oralidade
contemporânea e, conforme estudos realizados por Bisol (1981), Viegas (1987), Bortoni et al (1992),
Kailer (2003, 2008, 2013), é descrito ora como harmonização vocálica, ora como redução. A opção
metodológica de análise de manuscritos reside na indisponibilidade de material oral de séculos anteriores
ao XX, tornando-se necessário o estudo de documentos remanescentes para uma possível descrição da
língua em uso em períodos remotos. Utilizamos os pressupostos teóricos da Linguística Histórica, em
sua vertente sócio-histórica, aliados aos da Teoria da Variação, de orientação laboviana, buscando a
frequência e sistematização dos contextos envolvidos na variação. Esta comunicação pretende discutir e
disseminaros resultados parciais já obtidos.
Segundo Faraco (2005), todos os níveis da língua são passíveis de variação, mas o que mais se permite
notar é o fonético-fonológico. Pautadas nesta premissa e levando em consideração que a língua popular
falada nas localidades onde os bandeirantes paulistas cruzaram caminho nos séculos do ouro é um
material profícuo para se atestar a preservação de traços linguísticos falado no tempo das bandeiras,
objetivamos com este trabalho, buscando explicações linguísticas e extralinguísticas, elencar, descrever e
analisar os processos morfofonológicos vocálicos ocasionados pela subtração de fonemas finais, mediais
ou iniciais dos vocábulos (COUTINHO, 1970) proferidos pelos entrevistados do projeto Filologia
Bandeirante. Para tanto, lançaremos mão das quatro entrevistas escolhidas para compor o corpus da
dissertação intitulada “Vocalismos em narrativas orais nas trilhas do Filologia Bandeirante”, que
excetuando Mato Grosso, abarcam os Estados de Goiás, São Paulo e Minas Gerais. Em virtude da grande
quantidade de vocábulos acreditamos que os processos realizados nos vocábulos configuram variações
típicas da língua oral que vigoraram em tempos dantes e foram conservados por estes falantes sem
muitas modificações. Apesar de o projeto ter tido como desiderato identificar vestígios da língua
bandeirante, aventamos que os moradores destas localidades se deixaram influenciar, também, pelos
dialetos indígena e africanos, que aí conviveram concomitantemente em tempos idos.
O presente artigo visa a analisar dados semântico-lexicais com o intuito de mostrar que é possível
encontrar marcas de territorialidade que são expressas por meio do léxico, as quais podem ser
consideradas marcadores territoriais linguísticos. A partir da identificação desses marcadores, o artigo
objetiva fazer uma análise lexical comparativa da variação encontrada, o que evidenciará a constituição
de territórios linguísticos. Para tanto, se ampara no arcabouço teórico da Geolinguística, da Lexicologia e
da noção de território e territorialidade da Geografia Humana. Os resultados mostraram que, ao se
considerar o léxico como o elemento linguístico que melhor representa o ambiente físico e a cultura de
um determinado povo, isto é, que o relativismo linguístico é um princípio que age diretamente na
variação lexical e semântica das línguas, e levando-se em consideração o fato de que o poder que
delimita as dinâmicas socioespaciais vem das ações dos indivíduos que vivem a/em uma porção do
espaço, pode-se concluir que o vivido territorial, de certa forma, influencia nas escolhas lexicais
empreendidas pelos falantes, sendo possível perceber marcas de territorialidade que formarão territórios.
linguísticos.
Sabendo-se que a língua reflete a cultura de uma sociedade e que o léxico é o nível linguístico que mais
explicita essa relação (SAPIR, 1969, p. 45), propomos uma análise da inovação lexical no vocabulário
político, enfocando a influência do fator gênero em relação à preferência por determinados tipos de
padrões de formação. A criação lexical está ligada ao dinamismo da língua ao possibilitar novas
formações que possam dar conta das mudanças ocorridas dentro de um sistema linguístico e, ao mesmo
tempo, aprimorar a recepção da mensagem dentro daquele grupo social. Diante do fato de que a língua
contém diferentes processos de formação para a criação de novas palavras, perguntas que naturalmente
surgem são: O que leva a escolha de um ou outro padrão de formação? Padrões de formação mais
conservadores (derivação prefixal e sufixal) prevalecem sobre formações mais inovadoras (palavra-
valise e semântico)? Buscando ampliar o alcance de estudos que pontuam o fator extralinguístico e de
sua importância voltada à lexicologia, nossa pesquisa sociolinguística tem como ponto de partida um
corpus coletado em dois blogs de política com perfis ideológicos opostos, o GGN do jornalista Luis
Nassif e, na revista Veja online, o blog do jornalista Reinaldo Azevedo, durante o segundo turno eleitoral
no Brasil, realizado entre 05 de outubro e 26 de outubro de 2014. Nos resultados preliminares,
verificamos que o tipo de formação preferencial entre o gênero masculino é a palavra-valise, enquanto o
feminino opta pelo uso de derivação sufixal, corroborando nossa hipótese de que padrões mais
conservadores e considerados de prestígio estariam mais presentes no léxico das mulheres.
Este simpósio tem por objetivo promover discussões acerca da variação linguística na Língua Brasileira
de Sinais, que é a língua materna do Surdo brasileiro.Hoje já existem muitas pesquisas abordando os
seus mais variados aspectos, pois a linguística traz essa possibilidade e a língua de sinais está
disseminada entre as comunidades surdas, nas universidades como disciplina obrigatória ,e seus usuários
estão interagindo através de seu uso .Atualmente, muitos estudiosos estão ancorando suas pesquisas nos
aspectos linguísticos da língua, e por sabermos que a tradição de relacionar linguagem e sociedade, ou
mais precisamente, língua, cultura e sociedade, está inscrita na reflexão de vários autores do século XX,
acreditamos que nossas inquietações sobre as diferenças de sinais encontradas na língua do surdo
brasileiro, possam ser explicadas a partir de estudos que envolvam não apenas a língua, mas também os
aspectos socioculturais e seus usuários.A Teoria da Variação e Mudança Linguística desenvolvida por
Weinreich, Herzog e Labov (principalmente) toma como objeto de estudo a estrutura e a evolução da
língua dentro do contexto social de uma comunidade de fala, revelando a função social e comunicativa
da língua. Por este aspecto, parte-se do pressuposto de que a variação é inerente ao sistema linguístico e
que a noção de heterogeneidade não se apresenta incompatível com a noção de sistema. William Labov
vê a língua como fenômeno social, dela, ou seja, é através da língua que são desenvolvidas necessidades
e habilidades comunicativas, justificando, então, que a língua só poderia ser estudada em sua função
social. Diante dessa assertiva é que propomos essa discussão.
Considerando o fato de que “em toda comunidade de fala são freqüentes as formas linguísticas em
variação” (TARALLO (1990, p. 8), neste trabalho analisamos o léxico enquanto variante linguística de
três comunidades do Vale do Ribeira: Abobral, Nhungara e São Pedro, e tendo como corpus 15 palavras
retiradas de enunciados dos informantes destas comunidades. Os dados analisados foram coletados por
Careno (1997) no período de 01/10/1988 a 30/09/1994 nessas localidades, com o objetivo de coletar o
maior número de dados para futuras análises e resgatar informações de comunidades que já estavam
perdendo suas raízes históricas e culturais, já que o alvo da pesquisa era a população mais idosa,
possuidora de informações e de variantes mais expressivas dos negros. Nessas comunidades,
possivelmente remanescentes de quilombos, os falantes são, em sua grande maioria, descendentes de
africanos, ou melhor, uma mistura afro-brasileira, e acredita-se que possuam um léxico específico,
característico. Por este motivo objetivamos analisar as palavras no seu aspecto léxico-semântico e
verificar o conhecimento linguístico dos falantes ao usar a derivação analógica na formação das palavras,
já que há momentos de fala em que as pessoas, na falta do conhecimento de uma palavra que se adeque à
veiculação de uma ideia, formam palavras seguindo, inconscientemente, modelos de formação de outras
palavras. A nossa proposta de trabalho se firma na subjetividade dos falantes no ato de fala, embora seja
preciso nos respaldarmos na objetividade das regras da língua padrão, pois é por elas que encontramos
explicações para os processos de formação de palavras utilizados pelos falantes.
O trabalho que aqui se apresenta teve como objetivo a elaboração, com base nos parâmetros teórico-
metodológicos da Lexicografia moderna, de um vocabulário eletrônico do português colonial paranaense
registrado nos documentos manuscritos que integram a base de dados do PHPP: Para a História do
Português Paranaense, projeto criado na Universidade Estadual de Londrina (UEL), com o objetivo de
investigar e colaborar para a construção da identidade do português usado no Paraná, que dispunha, à
época da confecção do vocabulário, de um corpus com setecentos e trinta e quatro manuscritos
produzidos no Paraná relativos ao recorte temporal compreendido entre os séculos XVIII e XIX. O
vocabulário, elaborado a partir desse corpus, tem uma nomenclatura de 419 entradas de palavras lexicais,
entre simples e complexas. Dentre as 419 entradas, há algumas palavras que não têm registros em
dicionários atuais, como Houaiss ou Aurélio, nem em dicionários antigos como Bluteau ou Morais.
Todas as entradas contam com: palavra entrada; classe gramatical; definição; formas encontradas nos
textos de origem e abonações datadas.
Este trabalho analisa o alçamento das vogais médias pretônicas na variedade do interior paulista,
fenômeno variável em que as vogais médias-altas /e/ e /o/ são pronunciadas, respectivamente, como as
altas [i] e [u], como em s[i]nhor e b[u]né. Esta pesquisa avança em relação ao estudo de Carmo (2013)
por analisar, especificamente, o alçamento decorrente de redução vocálica, como em m[i]lhor e
alm[u]çar. Por meio desse processo (ABAURRE-GNERRE, 1981; BISOL, 2009), os segmentos tornam-
se mais semelhantes entre si pela diminuição de diferença articulatória da vogal em relação à(s)
consoante(s) adjacente(s), diminuindo, desse modo, o grau de sonoridade da pretônica. Com o recorte
proposto neste trabalho, são excluídas as pretônicas com vogal alta em sílaba seguinte, cujo alçamento
pode ser explicado por harmonização vocálica (BISOL, 1981), como em p[i]rigo e p[u]lítico. Como
córpus, são investigadas amostras de fala espontânea de 38 inquéritos do banco de dados IBORUNA
(Projeto ALIP – IBILCE/UNESP – FAPESP 03/08058-6). Para a análise dos dados, segue-se a Teoria da
Variação e Mudança Linguística (LABOV, 1991 [1972]) e utiliza-se o pacote estatístico Goldvarb X.
Como exemplo de resultado obtido, observa-se que o alçamento da pretônica /e/ é favorecido pela
consoante dorsal/velar subsequente, o que pode ser explicado pelo ponto de articulação alto dessa
consoante. No que concerne à pretônica /o/, constata-se que a consoante labial adjacente atua em prol do
alçamento, resultado passível de explicação pelo Princípio de Similaridade (HUTCHESON, 1973), que
postula que a assimilação tende a se aplicar entre segmentos relativamente semelhantes no que tange à
composição de traços.
Esta pesquisa visa descrever e analisar o processo de redução das proparoxítonas por meio da síncope da
vogal postônica, à luz da Teoria Métrica do acento (HAYES, 1995) e da sílaba (SELKIRK, 1982), e sob
a égide da perspectiva da Sociolinguística Variacionista (LABOV,1994 [1972]). O corpus foi composto
por entrevistas orais obtidas junto a 64 informantes, distribuídos em 16 pontos de inquérito no interior
paranaense, com base nos dados do Projeto Atlas Linguístico do Brasil - ALiB. Destarte, foram
averiguadas a frequência e possíveis fatores linguísticos e extralinguísticos que podem vir a incidir no
favorecimento/manutenção do fenômeno de redução nas proparoxítonas, em onze itens lexicais que
constam do Questionário Fonético-Fonológico (QFF) do Questionário do ALiB (COMITÊ NACIONAL
DO ALiB, 2001), a saber: lâmpada, elétrico, fósforo, pólvora, abóbora, árvore, sábado, número, fígado,
vômito, hóspede. Ao procedermos à comparação com o estudo acerca do mesmo fenômeno no Atlas
Linguístico do Paraná (AGUILERA, 1994), levado a cabo por Castro (2008), constatamos que, na
atualidade, o fenômeno em pauta caminha para a perda de traços do português coloquial e,
consequentemente, indica um cenário linguístico de favorecimento da manutenção da proparoxítona. Os
resultados ainda dão testemunho de que o contexto fonológico seguinte à vogal postônica, a estrutura
silábica e seus adjacentes interferem na ressilabação, fator que explica a preferência pelo apagamento de
determinados segmentos das sílabas postônicas pelos falantes.
Este trabalho de cunho geossociolinguístico busca descrever e analisar as variantes obtidas como
respostas para o objeto que fica nas paredes e serve para acender a lâmpada que corresponde à Questão
175 do Questionário Semântico Lexical do Atlas Linguístico do Brasil – ALiB (COMITÊ NACIONAL
DO ALiB, 2001). O segundo objetivo é discutir a motivação que subjaz à criação de nomes populares
que vão se incorporando na fala devido às mudanças operadas na vida moderna. O corpus é formado
pelas respostas de 188 informantes das 41 localidades do interior e das três capitais da Região Sul que
compõem a rede de pontos do ALiB. Esses informantes estão estratificados segundo o sexo, a faixa
etária (nas capitais, a escolaridade) o que permite uma análise sob a ótica da Dialetologia
Pluridimensional, defendida por Thun (1998), para quem a “a língua não é somente um complexo de
variedades regionais, mas também uma superposição de variedades socioculturais”. A criação de signos,
como bem tem demonstrado Alinei (1999), nem sempre é arbitrária, ou melhor, na maioria dos casos é
motivada e a motivação reflete as estruturas socioculturais dominantes durante a evolução das
sociedades humanas desde as eras mais remotas. Os resultados desta pesquisa apontam, pois, para a
importância da metáfora e da metonímia, bem como da onomatopeia, para explicar a criação de formas
populares para designar novos objetos ou artefatos, no caso, o interruptor de energia elétrica.
Este estudo concentra-se na área da Sociolinguística e investiga as realizações das formas tchá e tchô em
vez de senhora e senhor no falar da comunidade de Cáceres, localizada a 240 km da capital do Estado de
Mato Grosso, Cuiabá. O trabalho descreve variantes linguísticas no nível fonológico, que identificam o
falar local, e apontam traços aparentemente particulares das regiões mais antigas do Estado de Mato
Grosso, que chamam a atenção do falante de outras regiões brasileiras, como ocorre nos exemplos a
seguir: (01) a tchá Romana... tava numa gaiaria ((galharia)) de pau aí de tarde; (02) ela gritô... me acode
tchá Crara... me acode; (03) aí a tchá Crara pegô a criança e levô pra casa dela. O corpus analisado neste
estudo foi constituído a partir de entrevistas realizadas conforme sugestões de Labov e Tarallo. Foram
entrevistados doze informantes nativos da cidade de Cáceres. Os informantes se distribuem em duas
faixas-etárias: a primeira, de 42 a 51 anos e, a segunda, de 59 a 91 anos. Nos resultados alcançados neste
estudo consideramos as descrições de Marroquim (1934) e Zágari (2009) em referência às formas de
senhor e senhora, inferimos que as formas usadas na comunidade cacerense podem ter resultado de
senhor/senhora, conforme a seguinte evolução: (a) senhora sinhá siá tchá [si‘a] [ᶴta]; (b) senhor sinhô siô
tchô [si‘o] [ᶴto]. Provavelmente o uso tchá/senhora e tchô/senhor ocorre em outras cidades do interior do
Estado de Mato Grosso, na região Sudoeste. Essa região sofreu a miscigenação entre povos indígenas e
bandeirantes da Capitania de São Paulo e bandeirantes portugueses, resultando na rica diversidade
linguística.
O presente artigo tem como objetivo analisar as respostas dadas à Questão nº 032 do Questionário
Morfossintático (QMS), do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB): “Paulo tem muita força e Luís tem pouca
força. Podemos dizer: Paulo tem mais força do que Luís. Luís, pelo contrário, tem _________ força do
que Paulo” (COMITÊ NACIONAL, 2001). Os dados foram obtidos junto a 164 informantes naturais de
41 municípios do interior do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em cada localidade foram
entrevistados quatro informantes, todos com ensino fundamental, estratificados segundo as variáveis
sexo (masculino e feminino) e faixa etária (faixa etária I 18-30 e faixa etária II 50-65 anos). Como
objetivos, propõem-se: (i) descrever o processo de variação quanto ao uso do pronome indefinido
“menos”; (ii) identificar se os contextos extralinguísticos interferem no uso da variável em estudo; (iii);
comparar o uso da forma padrão e da não padrão nas localidades do interior dos três estados sulistas; (iv)
comparar os resultados obtidos no interior da região Sul com os das capitais do Brasil publicadas no
ALiB (CARDOSO et al, 2014). Os dados revelam que a realização deste pronome não é uniforme entre
as localidades do interior dos três estados, ora predominando a variante popular “menas”, no caso do
Paraná, ora a da variante prestigiada “menos”, no caso dos dois estados.
Palavras-chave: Pronome indefinido menos ou menos, Região Sul, Atlas Linguístico do Brasil
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Este estudo busca identificar e analisar a forma como os informantes das capitais brasileiras empregam
os pronomes pessoais, eu e mim, por meio das respostas dadas à questão 23. EU/MIM do Questionário
Morfossintático (QMS) do Projeto Atlas Linguístico do Brasil. Partindo da pergunta: Alguém pede para
você/ o/(a) senhor (a) fazer uma tarefa. Mas outra pessoa acha que a tarefa era para ela. Então, você/ o(a)
senhor(a) diz: Esta tarefa, na verdade, é para___ fazer. (Comitê Nacional, 2001), formulada a fim obter
como resposta os pronomes pessoais eu ou mim. Nas gramáticas tradicionais (CUNHA, 1017-1989);
(BECHARA, 1928), o pronome pessoal do caso oblíquo mim não substitui o pronome pessoal do caso
reto eu. No entanto, na língua falada, muitas vezes, nos deparamos com o uso do caso oblíquo mim
funcionando como o sujeito da oração. Partindo dos pressupostos da Sociolinguística e Geolinguística, o
Projeto ALiB busca descrever a realidade linguística do Brasil, no que tange à variedade brasileira a
partir das diferenças diatópicas (fônicas, morfossintáticas, léxico-semânticas e prosódicas). É nesse
contexto de variação lingüística, com enfoque no campo da morfossintaxe, que este estudo está inserido.
Propõe-se (i) analisar os dados de 200 informantes, sendo oito entrevistados em cada uma das 25 capitais
brasileiras, na perspectiva dada Geossociolinguística; (ii) identificar quais fatores linguísticos e
extralinguísticos favorecem o uso de um por outro, isto é, de eu por mim.
Um estudo do fenômeno da língua (gem) pelo viés da Sociolinguística pode explicar as relações sociais
nas mais diversas esferas discursivas da comunicação humana. Nesse sentido, ao refletirmos sobre ‘as
falas’ de alguns escritores, da mídia impressa, televisiva e digital, ao refletirmos sobre as conversas
sobre a língua (gem), seja em qualquer esfera da vida social; ao refletirmos, sobretudo, a respeito do
ensino da língua portuguesa no curso de Letras e em cursos que incluem em suas matrizes curriculares
essa disciplina, observamos que há um conceito unívoco sobre a língua: no caso dos falantes da língua
em suas práticas sociais há uma concepção de que a língua limita-se ao falar e escrever bem, isto é, há
uma concepção de que as manifestações de nossa língua são sinônimos da materialização do formalismo
linguístico. No âmbito de alguns cursos de ensino superior, especificamente, o curso de Letras e áreas
afins em EaD, há uma expectativa de se aprender, exclusivamente, a norma, isto é, os graduandos
possuem uma crença de que durante o curso de Letras ou os cursos que têm a disciplina de Língua
Portuguesa, aprenderão ‘a língua’ e não ‘sobre a língua. Assim, o objetivo deste trabalho, assenta-se na
tentativa de desconstruir o conceito de língua unívoca, a fim de evidenciar se a Sociolinguística pode
funcionar, ou não, como uma ferramenta favorável à desconstrução da concepção de uma variedade tida
como padrão, única, para que, assim, sejam traçadas pedagogias, livros, manuais e instruções sobre os
estudos da língua (gem) aos alunos e professores de Letras e áreas afins. Para tanto, este trabalho alia
estudos Sociolinguísticos aos estudos de natureza funcionalista.
Este trabalho é um recorte de uma pesquisa de doutorado que teve como objetivo geral investigar o
fenômeno da concordância nominal de número no falar dos habitantes do alto Solimões (Amazonas), à
luz da Sociolinguística Variacionista e da Dialetologia Pluridimensional. Pretende-se, nesta
comunicação, refletir sobre os resultados que dizem respeito apenas ao município de Fonte Boa. A fim
de entender o funcionamento do objeto em estudo foram controladas as seguintes variáveis
independentes linguísticas e extralinguísticas: posição relativa, posição linear, classe gramatical,
“saliência fônica”, marcas precedentes, contexto fonético/fonológico subsequente e características dos
itens lexicais, idade, escolaridade, sexo, diatopia, ocupação, mobilidade e localismo. Quanto à amostra,
no munícipio de Fonte Boa foram entrevistados 10 informantes. Para análise dos dados, foi utilizado o
programa estatístico Goldvarb 2001. O resultado geral da análise evidenciou que os habitantes de Fonte
Boa utilizam com mais frequência a variante “presença de marcas formais/informais de plural”. Quanto à
análise estatística dos grupos de fatores controlados, considerando a rodada sem a variável classe
gramatical e também sem as variáveis mobilidade, ocupação e localismo, as seguintes variáveis
mostraram atuar sobre a aplicação da regra, por ordem de seleção: posição em relação ao núcleo/núcleo,
marcas precedentes, escolaridade, “saliência fônica”, sexo/gênero e contexto fonético-fonológico
subsequente. Como se verifica, tanto variáveis independentes linguísticas quanto extralinguísticas se
mostraram relevantes para entender a regra de funcionamento do fenômeno em estudo no município de
Fonte Boa.
“Não vai ser um sotaque que vai me dar uma rasteira. Da caipiríssima Grazi Massafera, que interpretará
Lívia, uma típica garota carioca, em Negócio da China, próxima novela das 6 da Globo”. Essa nota bem
como o comentário defensivo da atriz Grazi Massafera foram publicados na edição 2070 da revista Veja.
O comentário, que em princípio pode parecer uma simples crítica à competência de Massafera como
atriz, remete, na verdade, à sua origem e ao seu dialeto. Natural de Jacarezinho, no Norte do Paraná,
Massafera foi convidada, naquela ocasião, a interpretar uma personagem nascida no Rio de Janeiro;
havia dúvidas sobre sua capacidade para desempenhar o referido papel, já que o sotaque carioca é
bastante diferente do norte-paranaense. Ao referir-se à atriz como “caipiríssima”, Veja faz um
julgamento negativo daquela, visto que o termo caipira é geralmente imputado à pessoa com pouca
instrução e de convívio e modo rústicos. Massafera, por sua vez, afirma que não será “derrotada” por seu
sotaque, ratificando, assim, o desprestígio de seu dialeto. Esse exemplo traduz bem o valor social que a
fala possui e revela que o preconceito em relação à atriz é, na verdade, um preconceito linguístico. Este
trabalho, pautado na Sociolinguística e nos estudos de Crenças e Atitudes linguísticas, investigou as
avaliações realizadas pelos norte-paranaenses em relação ao seu dialeto. Para tanto, analisou-se um
corpus constituído de dados recolhidos da fala de 16 informantes norte-paranaenses, obtidos por meio de
entrevistas. Os resultados apontam para uma situação de preconceito quanto ao próprio dialeto, trazendo
indícios de deslealdade linguística.
Trataremos neste trabalho do ensino da coesão referencial no que diz respeito ao objeto direto anafórico
de terceira pessoa num continuum de oralidade-letramento, nos termos de Bortoni-Ricardo (2004).
Assim, partiremos de textos mais orais (como as HQs), passando por textos intermediários (como letras
de música), até chegar a textos de maior grau de letramento (como as reportagens), de maneira que os
gêneros textuais são distribuídos ao longo do continuum. Acerca da realização do objeto direto que
retoma um item já mencionado no discurso (objeto direto anafórico) no português do Brasil, estudos
sociolinguísticos, como os de Duarte (1989), Freire (2000, 2005, 2011) e Averbug (2008) dentre outros,
apontam quatro variantes:a) Pronome átono ou clítico; b) Pronome reto; c) SN (sintagma nominal)
anafórico; d) Objeto nulo. Segundo esses estudos, a variante prestigiada pela tradição gramatical (o
pronome átono) apresenta baixo uso na língua oral espontânea, sendo mais empregado na chamada
escrita culta, quando então atinge índices bem significativos. Tal constatação leva a concluir que essa
variante, no português do Brasil, é produto do processo de letramento, já que aparece com mais força
somente na escrita de indivíduos cultos. Nossa intenção será, pois, (a) verificar quais estratégias de
representação do objeto direto anafórico de terceira pessoa aparecem na escrita dos alunos de 9o ano do
EF ao longo do continuum oralidade-letramento, verificando se a escolarização exerce ou não efeito
sobre a escrita do aluno; (b) levar tais alunos a perceber a pertinência dessas variantes em eventos de
oralidade ou de letramento (cf. BORTONI-RICARDO, 2004).
O ambiente escolar, na maioria das vezes, ainda desconsidera a diversidade da língua, pois falta preparo
teórico-metodológico para o professor lidar com um fenômeno comum, entretanto incompreendido pela
sociedade. Dada tal situação, é crucial uma alteração na tarefa do profissional que lida didaticamente
com a língua portuguesa no Brasil, uma vez que os estudos sobre a diversidade linguística brasileira já
avançaram consideravelmente. Pensando no distanciamento entre a realidade escolar e os avanços
empreendidos no meio acadêmico, busca-se, na presente pesquisa, propor uma sugestão de trabalho
envolvendo questões relacionadas ao dialeto caipira. Para isto, primeiramente serão tratados temas
específicos da Sociolinguística, mais especificamente a respeito de norma e de variação linguística; em
seguida, serão comentados estudos relacionados ao dialeto caipira e, finalmente, serão analisadas
músicas em que tal dialeto se apresenta, contribuindo para a manutenção de identidade do caipira e
contribuindo para a identificação estética da obra. Serão evidenciados traços característicos do dialeto
caipira, como por exemplo, o rotacismo, a metátese, a iotização e a falta de concordância verbal e
nominal, a fim de buscara origem desses fenômenos. Tal pesquisa pretende, pois, apresentar
possibilidades de abordagem da variação da língua, evidenciado a natureza de determinados fenômenos
que são preservados no dialeto caipira, o que confere sua riqueza cultural. Trata-se de uma busca de
abordagem ampla da língua, em que os alunos se reconheçam como falantes da língua que estudam.
O presente trabalho integra o projeto de tese de doutorado, cujo objetivo principal é verificar como os
estudos sociolinguísticos, aplicados às aulas de Língua Portuguesa, podem auxiliar os professores e os
alunos, no que diz respeito ao letramento. O letramento é entendido, neste trabalho, como a apropriação
da cultura letrada pelo sujeito e implica a capacidade de interagir por meio da leitura e da escrita nas
práticas sociais cotidianas. Muitas pesquisas realizadas no Brasil revelam o baixo desempenho dos
alunos em interpretação e produção de textos e demonstram a deficiência dos adolescentes para
interações que demandam leitura e escrita, justamente as interações necessárias no mercado de trabalho.
Pesquisadores como Bortoni-Ricardo (2004, 2005 e 2008), Camacho (1984 e 2013) e Cyranka (2008 e
2011) vêm propondo a sociolinguística aplicada ao ensino a fim de melhorar o letramento do alunado.
Cyranka e Oliveira (2014) defendem que o ensino de Língua Portuguesa com base sociolinguística
contribui para ampliar o domínio do falante sobre sua língua em situações formais e informais. A partir
do aporte destes e outros pesquisadores, este trabalho pretende analisar em que posição do continuum
oralidade-letramento proposto por Bortoni-Ricardo (2005) encontram-se os alunos de uma determinada
instituição que visa a inserção no mercado de trabalho; buscar a aplicação da sociolinguística ao ensino
por meio de pesquisas e elaboração de propostas de ensino; aplicar as propostas elaboradas; avaliar o
desenvolvimento da proposta em sala e do desenvolvimento dos alunos em relação à interação com
leitura e escrita de textos.
Este trabalho tem o objetivo de apresentar um uso bastante incomum na imensa maioria dos dialetos
brasileiros: a variante [i] na terminação verbal de terceira pessoa do plural do pretérito perfeito do
indicativo, detectada na fala cotidiana da comunidade de Cruz, Ceará. Assim, iremos observar os dados
colhidos in loco e tratados para mostrar que esta variante de repercussão morfofonológica possui um uso
preponderante sobre as demais variantes na comunidade - [ãw], [u] e apagamentos sonoros destas
terminações – de modo a se especificar tanto os grupos de falantes segundo a escolaridade, sexo e idade,
quanto os fatores linguísticos condicionantes: contexto fonológico seguinte, formas desinenciais dos
verbos e posição dos verbos na sentença. Os dados demonstram que os fatores extralinguísticos foram
mais significativos do que os fatores linguísticos, sendo que a variante em foco parece representar mais
uma variante tradicional conservadora do que mesmo uma inovadora, dada sua acessibilidade por grupo
de falantes mais velhos e menos escolarizados, todos moradores da cidade do interior cearense.
Este trabalho procura investigar a comunidade escolar de um colégio público estadual da cidade de São
José do Rio Preto (SP), a fim de verificar o fenômeno de CV como marcador de construção da
identidade social de duas comunidades de prática ideologicamente opostas-. Nesta comunicação,
pretendo discutir as relações simbólicas e, principalmente, as dinâmicas de cada indivíduo no grupo ao
qual pertencem e com as outras comunidades de prática existentes no ambiente escolar. Nossa intenção é
discutir como eles se integram em suas comunidades de prática, a fim de esboçar as características
linguísticas e sociais mais relevantes dos grupos em questão Analiso, dessa forma, duas comunidades de
práticas: a primeira com características relacionadas à instituição escolar e a segunda com característica
mais rebelde dentro do colégio e que, por vezes, se autodenomina de grupo da "zuação" ou do funk.
Adoto a análise qualitativa, no molde etnográfico, visto que este tipo de análise é caracterizada por um
contato direto do pesquisado com a situação investigada, onde as relações cotidianas são construídas, e a
análise quantitativa de base variacionista. Discuto ainda os métodos qualitativos de coleta de dados,
utilizados neste trabalho sociolinguístico, revelando as dificuldades encontradas dentro do campo de
pesquisa.
A sociolinguística conta com um método bem estabelecido de coleta de dados, conhecido por matched
guise test (MGT). Criado por Lambert e colegas (1960; 1965), ele permite medições de reações afetivas
implícitas a traços linguísticos específicos. Basicamente, o teste consiste em pedir aos informantes
avaliar um mesmo fragmento de fala expresso duas vezes pelo mesmo falante. De uma situação para
outra, o texto muda apenas quanto às variantes linguísticas (guises) a ser avaliadas (sotaques,
vocabulário, pronúncias etc.). A primeira vista, MGT parece bastante robusto porquanto é assumido seja
capaz de controlar variáveis intervenientes como conteúdo semântico, contorno de pitch, taxa de fala e
vários aspectos da qualidade de voz. Entretanto, o número crescente de trabalhos acabou por evidenciar
suas limitações, especialmente a incerteza quanto às crenças associadas às variantes-estímulo (OBIOLS,
2002). É praticamente impossível controlar a rede de associações cognitivas que mesmo em situação de
teste as variantes podem suscitar. Haveria assim outro método capaz de controlar essa rede associativa
inelutável? A resposta é positiva, e ele até já foi empregado com sucesso. Trata-se do paradigma de
priming afetivo auditivo, adaptado por Speelman et al. (2006) para medir reações linguísticas implícitas.
O objetivo desta comunicação é assim descrever esse método alternativo, contudo ponderando os dois
pontos: (a) caráter estritamente afetivo do teste, permitindo mensurar tão-só a dimensão emocional das
variantes; (b) afiliação dele ao framework da cognição corpórea/situada (BARSALOU, 2008), indicando
abertura dos estudos variacionistas às questões cognitivas.
Palavras-chave: Matched Guise Test (MTG), Priming Afetivo Auditivo, Cognição Corpórea/Situada
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O presente trabalho tem como objetivo fazer uma leitura de Um camponês na capital (2009) e De pai
para filho (2010), dois livros de Miguel Sanches Neto voltados para o público juvenil. A pesquisa visa
compreender a representação da infância nestes dois livros do escritor paranaense por meio da
fundamentação teórica que entende a experiência da infância como possibilidade para a mudança da
sociedade e os rumos da própria História. É nessa perspectiva que memória e infância são evocadas nas
crônicas de Um camponês na capital (2009) e De pai para filho (2010). A infância nas narrativas curtas
do escritor aparece como força de evocação do passado, fonte de sabedoria e experiência. Ao se valer de
personagens que se recordam da infância, essas lembranças são redimensionadas e não fazem um apelo
somente individual e subjetivo, mas se tornam, por meio de imagens do inconsciente, coletivas. Em sua
obra Miguel Sanches Neto reconhece que o passado não é algo tão distante, isto é, o passado não passou,
é possível, ainda, encontrá-lo no presente. Em muitas crônicas de Um camponês na capital e De pai para
filho, diferentemente do adulto, que ao longo do tempo, devido à influência da rotina, foi perdendo a
capacidade de olhar o mundo com sensibilidade, a criança está inebriada e envolvida com tudo o que os
adultos não querem ver, por isso ela tem sutileza e competência suficiente para ensinar aos adultos, para
fazê-los pensar sobre uma outra possibilidade de olhar o mundo e reconduzir a própria existência. Esta
pesquisa visa também produzir material analítico para auxiliar professores da Educação Básica, visto que
Um camponês na capital (2009) foi comprado pelo MEC no ano de 2012.
A expansão da literatura infantojuvenil é marcada por uma renovação literária a partir do crescimento da
indústria cultural. Em meados de 1960 e 70, começa a florescer uma produção literária dirigida ao
público juvenil, devido ao grande número de escritores e ao surgimento de uma vertente da crítica
destinada a estudar os novos títulos. Com a produção cada vez mais volumosa e valorizada no mercado
por especialistas, a literatura juvenil, a partir de 1980, consolida-se e expande sua produção, aspecto esse
que renova, de forma bastante criativa, o subsistema literário. A partir dessa perspectiva, a expansão do
mercado jovem e a bem-sucedida importação de produtos da indústria cultural permitiram que a
literatura destinada a essa faixa etária trabalhasse com a introdução de elementos típicos de gêneros
literários voltados, primeiramente, ao público adulto, como o romance policial, a ficção científica, a
linha psicológica, entre outros. Também se delineia a incorporação da oralidade na linguagem escrita, a
ruptura com a poética tradicional, a incorporação de procedimentos narrativos, tais como: a
metalinguagem e a intertextualidade, as alterações na cronologia linear da narrativa e a incorporação de
recursos não verbais (no caso, as ilustrações). Logo, pretende-se observar, a partir do levantamento e
seleção de narrativas juvenis contemporâneas como o texto de Luís Dill se constitui como objeto estético
tornando as obras cada vez mais atrativas para os seus leitores, ao mesmo tempo que fortalece o mercado
editorial desse subsistema literário.
A literatura juvenil, na tentativa de fisgar o leitor, utiliza-se de temas e formas do interesse dos jovens e
adolescentes, como aqueles presentes nos mitos. O desenvolvimento deste trabalho científico objetiva
relacionar alguns desses mitos literários de ontem e de hoje a uma obra contemporânea - A maldição do
olhar (2008), de Jorge Miguel Marinho, submetendo-a a uma análise segundo essa perspectiva,
particularmente no que concerne á composição dos personagens. Utilizando-se da presença do mito do
vampiro e do mito de Don Juan, dois mitos distintos, mas que se relacionam no interior da obra, Marinho
funde-os num único personagem. O autor utiliza-se das características desses dois mitos para dar vida a
um terceiro, em que o fantástico e o real se misturam mais uma vez para a criação de uma obra ficcional
emblemática e intrigante, uma narrativa juvenil composta em 17 capítulos. Jorge Miguel Marinho
também dialoga com outra obra conhecida do público leitor, Alice através do espelho e o que ela
encontrou por lá, livro escrito por Lewis Carroll no ano de 1871. Na narrativa de Marinho, Alice
continua presa no espelho e esse espelho está dentro do quarto de um personagem diferente, estranho e
que ela não consegue decifrar. Ela vem do País das Maravilhas para o mundo mais real. Mas, a realidade
vista por Alice será realmente a realidade? O desafio do leitor é compreender esse mundo ficcional e real
ao mesmo tempo.
Na segunda metade do século XX, Odette de Barros Mott lançou, no Brasil, 77 obras direcionadas ao
leitor infanto/juvenil. Dentre sua produção encontramos textos que abordam diversos temas, sendo vista
como ousada por alguns críticos literários por versar sobre assuntos considerados “tabus” para época de
lançamento das obras. Apesar de produzir desde o final da década de 40, foi em 1964, com As aventuras
do escoteiro Bila, que a escritora despontou na literatura juvenil. Em 1970, lançou o livro que se tornou
seu bestseller, Justino, o retirante. Depois do sucesso dessas obras, muitas outras as sucederam, e só na
década de 70, a escritora ofertou ao público jovem 15 títulos. Em 1995, quase meio século após seu
primeiro lançamento, encera o ofício de escritora, não sendo mais possível continuar o trabalho devido à
fragilidade de sua saúde. Sua produção ainda é pouco explorada, demandando estudo para
compreendermos a importância e o modo de participação na formação do subsistema literário juvenil
brasileiro. Esse trabalho tem como objetivo apresentar, brevemente, alguns aspectos dessa produção que
contribuíram para a constituição do subssistema juvenil no contexto do sistema literário/cultural
brasileiro. Aspectos históricos, sociais, de maior amplitude são referenciados como pano de fundo para
melhor compreensão do papel da escritora cuja obra indicia vertentes da literatura juvenil presentes no
mercado editorial de hoje.
Palavras-chave: Literatura juvenil, Odette de Barros Mott, formação do subsitema literário juvenil
brasileiro
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Nos best-sellers juvenis de origem norte-americana Diário de uma garota nada popular – Histórias de
uma destruidora de corações nem um pouco feliz, da escritora Rachel Renée Russel, e em Diário de um
banana – Segurando vela, do escritor Jeff Kinney, as coincidências vão além dos respectivos títulos, do
projeto gráfico ou do enredo. Por meio da trivialidade dos enredos, da disseminação de elementos da
cultura norte-americana e da exploração de clichês, as obras reafirmam os estereótipos de gêneros
enraizados na cultura contemporânea, estabelecendo claramente o que seriam os papéis masculinos e
femininos na busca pelo par amoroso. Salienta-se a passividade feminina, que espera pelo par amoroso,
que sonha em se igualar a princesas. Ao mesmo tempo, categorizam-se os papeis masculinos de forma
antitética e maniqueísta: os espertos e os “bananas”. Em complemento a isso, no estabelecimento das
relações de amizade, também validam os estereótipos da animosidade entre as mulheres, de indiferença
entre os homens, além de apontar para a impossibilidade desse tipo de relacionamento entre os gêneros.
Dessa forma, ambas as obras caracterizam o destino dos corações adolescentes como o do descompasso,
da animosidade e do sofrimento, ainda mais se tentar se distanciar dos padrões de comportamento pré-
estabelecidos socialmente.
O objetivo do trabalho consiste em analisar o trágico moderno no livro Monte verità (2009), de Gustavo
Bernardo. O livro conta a história de um contador de uma história - da própria história. Aproveita o
tempo alimentando uma arara inverossímil e contando a sua história que tem o poder de mudar o mundo,
por meio de seis mudanças radicais na vida de todos os povos. Mensagem a mensagem, mudança a
mudança, Gustavo Bernardo leva seu garçom incomum a atualizar os imperativos do filósofo alemão
Immanuel Kant. No mundo moderno, o confronto entre o homem e o capital é determinante para ação
trágica, mesmo que esta ação não redunde na morte do herói: diferentemente dos personagens trágicos
gregos, cujo combate às tensões era sustentado pelas forças interiores que lhes demarcavam o poder da
personalidade, a situação trágica moderna se estabelece a partir dos conflitos de valores, colocando o
homem às voltas com o ser e seu tempo. O personagem trágico moderno emerge da construção cotidiana
da história. O mundo moderno, regido pelo capital, possibilita o clima trágico, a partir da inserção dos
personagens na trajetória de perdas, de miséria, de penúria, não por vontade deliberada, mas a partir da
lógica do capital, cuja manutenção prospera tendo por base o aprofundamento da miséria do ser humano.
A hamartia do herói moderno se dá por meio da sua relação cotidiana com os bens em geral e com outros
homens, em sociedade individualista nascida da produção para o mercado. O herói moderno é solitário,
abandonado a mais absoluta fragilidade de si mesmo. Todos esses aspectos podem ser analisados no
livro em questão que revela que nós somos os únicos causadores de nossa própria miséria.
No que diz respeito à literatura infantil e juvenil contemporânea brasileira, percebemos a intensa
multiplicação de autores e de obras que despontam no mercado livreiro, por conseguinte, a necessidade
de ampliar os estudos dessa vertente. Devido à grande demanda no mercado editorial de livros dirigidos
ao público infantil e juvenil, é necessária uma análise cuidadosa para a distinção de obras que se
manifestam sob dois vieses. De um lado, aquelas que apenas apresentam um estereótipo, repetição de
fórmulas e, por outro lado, obras que privilegiam a participação do leitor no mundo ficcional, instigando-
o a imaginar e construir a sua própria subjetividade, definindo, assim, o valor emancipatório do texto
literário. Em virtude dessa preocupação, estenderemos nossa discussão à produção juvenil da escritora
brasileira Maria Otília Iamarino Farto Pereira. Sendo assim, este estudo tem por objetivo geral realizar
uma crítica integradora com o intuito de observarmos o aspecto emancipador da obra intitulada Júlia e a
parada do pen drive dourado (2012). O texto da autora em questão apresenta a narrativa de uma menina,
Júlia, aparentemente, tranquila, visto que vive com os pais e o irmão, em uma situação rotineira: estuda,
organiza projetos de leitura, tem um gato, convive com Rabico, animal de estimação do irmão, além das
aventuras, magias e mistérios que surgem no decorrer da história e convidam o leitor a participar deste
universo ficcional. Por conseguinte, instiga-nos a ler a obra cuidadosamente, pois percebemos a
importância de desvelar os elementos constitutivos da narrativa, sobretudo no que se refere à
organização do narrador e personagens, pois são como fios que se entrecruzam.
Palavras-chave: Literatura Literatura juvenil, Maria Otília Iamarino Farto Pereira, Leitura
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Os estudos na área da Literatura nos apontam a importância da formação de leitores na infância. Mas,
muitas vezes, é complicado o incentivo à leitura nessa fase. Sem uma base, é natural que no futuro esses
sujeitos não se interessem pela Literatura. Ocorre que em determinado momento no processo de
formação, esses sujeitos são obrigados a se deparar com a literatura clássica. Sem o costume de ler e da
forma como a Literatura é trabalhada na escola, de modo totalmente sistemático, os jovens acabam por
repelir esse tipo de leitura. É importante pensar, então, de que forma os novos escritores poderiam
contribuir para a inserção desses jovens na leitura do cânone literário. Há atualmente uma forte
referência aos clássicos da literatura através de livros contemporâneos. Os autores se debruçam em
estudar a literatura clássica e, assim, referir-se a ela em suas obras. Seja através de releituras explícitas
como “Branca dos Mortos e os Setes Zumbis”, do autor brasileiro contemporâneo Fábio Yabu, ou com
menções a autores ao longo das narrativas: “ela tinha um sorriso de Jane Austen”, como aparece no
romance Um Dia, de David Nichols. Há também aqueles autores que citam suas maiores influências,
como Stephen King, que faz questão de colocar seus personagens lendo contos de Edgar Allan Poe e H.P
Lovecraft e também homenagens, como a forte analogia a Frankenstein no romance “Revival”, também
de King. Sendo assim, é interessante notar que cada vez mais os jovens têm se interessado pela literatura
clássica a partir da leitura de livros contemporâneos. Seja para entender as analogias ou simplesmente
para conhecer os autores citados, os jovens têm buscado por essa leitura mais madura.
O sucesso que os livros destinados aos jovens vem ocupando no cenário da literatura brasileira a partir
das últimas décadas do século XX está relacionado a, no mínimo, dois fatores: o aparecimento da
juventude, faixa situada entre a infância e a idade adulta, como instância de relevante atuação na
sociedade (o que não acontecia até então), e o desenvolvimento do mercado editorial e livreiro, que vê
nesse segmento promissor espaço de circulação e consumo de seus produtos. A visibilidade desse objeto,
através da escola e das demais agências culturais, estimuladoras da formação de leitores, chama a
atenção da Universidade. A partir daí, começam a surgir trabalhos acadêmicos que analisam obras e
autores, com vieses teóricos, críticos, históricos e sociais, diagnosticam interesses dos jovens e propostas
pedagógicas da sala de aula, investigam o processo de leitura, sugerem metodologias de abordagem dos
textos, entre outros aspectos, no intento de descrever a literatura juvenil e construir leitores permanentes.
No entanto, muito há para ser realizado, com vistas a definir a natureza dessa literatura e sua importância
na dinâmica do sistema literário com um todo. Assim, a leitura de Crescendo na quadra, de Lino de
Albergaria, e A colina dos suspiros, de Moacyr Scliar, visa contribuir para a investigação, abordando um
tema presente na vida dos jovens – o esporte. Para isso, examina o tratamento literário dispensado ao
futebol e ao vôlei, em narrativas que ficcionalizam as vivências e os conflitos da faixa etária em questão,
tendo como pano de fundo o significado do jogo, enquanto atividade e linguagem.
É a partir do início da década de 1970 que surge na literatura juvenil brasileira um número grande de
autores abandonando o papel utilitário e pedagógico em sua aproximação com os leitores. Firmando
compromisso com a arte, eles abarcam novas propostas temáticas e recursos expressivos até então
específicos à leitura adulta. Nesta perspectiva, influenciado principalmente pelo cenário dos grandes
centros urbanos, o escritor João Carlos Marinho desenvolveu em seu livro de estreia, O Gênio do Crime
(2010), uma narrativa policial destinada ao leitor jovem, incorporando e parodiando, num enredo bem
engendrado, os elementos característicos deste gênero. A obra traz uma representação crítica da
realidade juvenil contemporânea ao seu lançamento, muito pautada no consumo e na influência do
comportamento agressivo, apresentando, de forma natural ou exagerada, inúmeros detalhes na descrição
de cenas ou ações que envolvem a violência. O presente trabalho propõe uma análise do tratamento dado
à violência no texto literário de Marinho e em sua adaptação cinematográfica, O Detetive Bolacha contra
o Gênio do Crime (1973), realizada pelo diretor Tito Teijido, visando uma maior compreensão da
relação entre o material escrito e o filmado, destacando as características específicas e modificações
associadas à transposição de uma linguagem à outra. Para embasar o nosso estudo, nos valemos
principalmente dos apontamentos teóricos de Gregorin Filho (2011) e Moraes (1894, 1991), auxiliando
na reflexão sobre a criação ficcional voltada ao público juvenil e sua exploração do conteúdo violento,
além de Hutcheon (2011) e Bazin (2014), a respeito da adaptação fílmica e do engenho cinematográfico.
Em Mato Grosso é preciso termos claro o desenvolvimento tardio da literatura, segundo Hilda
Magalhães (2002). Embora contemporaneamente construa-se um espaço literário sólido, ainda não há
vasto estudo sobre a constituição da literatura infantil e juvenil em Mato Grosso, e há considerações que
apontam para sua não-existência no cenário literário mato-grossense, considerando alguns autores como
pertencentes apenas aos público adulto. Assim, essa apresentação, parte integrante do Projeto de Pós-
Doutoramento em Letras, da Universidade Estadual de Maringá, busca apresentar os autores e as obras
produzidas no campo literário infantil em Mato Grosso e qual a relação entre o cenário social em que
foram escritas e a posição do autor ante este cenário, a fim de legitimar o campo literário e a produção
infantil e juvenil no estado. Nossa intenção, tanto de pesquisa, quanto da comunicação em si norteia-se
para o estudo do desenvolvimento desta literatura em Mato Grosso, e, a partir desse prisma, um outro
ponto surge para ser pensado: como são representadas as realidades sociais da região nas obras infantis
em Mato Grosso? E como é feita a construção do regional dentro desta literatura? Para tanto, nessa
comunicação levantaremos alguns textos de Ivens Cuiabano Scaff, Lucinda Persona, Neuza Batista Pinto
para que possamos verificar como esse espaço - o mato-grossense - se faz presente, contudo, sem o ser
bairrista.
Este trabalho apresenta uma pesquisa vinculada ao projeto Literatura e Educação da Universidade
Federal do Espírito Santo (Ufes) por meio do qual intenta-se sistematizar criticamente compreensões
sobre a literatura para jovens leitores, educação literária e sobre as práticas e representações de leitura de
leitores empíricos, a partir da análise de materiais bibliográficos e documentais relevantes (seja por sua
singularidade ou por sua representatividade), no contexto brasileiro dos séculos XX e XXI. A pesquisa
em questão, financiada pela universidade supracitada de caráter bibliográfico-documental e matriz
histórico-cultural elenca apropriações, representações e diferentes modos constituintes de leituras e da
literatura na obra Éramos Seis, de Maria José Dupré, inaugural à célebre Série editorial Vaga-Lume,
considerando diferentes reedições. A Série em questão foi importante no contexto brasileiro na formação
de gerações de leitores e na viabilização de inúmeros processos de ensino-aprendizagem da leitura
literária. Com efeito, a investigação explora protocolos de leitura e representações de perfis de leitores
inscritos na obra literária no tempo, modo e espaço em que esta foi escrita, publicada e circulou de modo
mais evidente. Para isso, adota-se um referencial teórico pertinente à História Cultural e, em particular,
ao pensamento de Roger Chartier e de outros autores com os quais é possível estabelecer diálogos. Nesse
sentido, apresenta-se uma análise literária, tendo em vista contribuir com a divulgação e apropriação dos
conhecimentos produzidos nas instituições públicas de ensino, pesquisa e extensão.
Segundo os estudos de Antonio Candido, o público e o autor de uma obra possuem uma estreita relação.
Sendo o público o atribuidor de sentido e realidade à obra, ele é o responsável por dar a ela um valor,
que também determinará seu consumo e circulação. Mesmo depois da morte de Machado de Assis, suas
obras continuam a circular e a serem consumidas, entretanto por um novo público. Sua complexidade
continua a ser a mesma, mas o mercado editorial reendereça essas obras a esse público atual. Sendo
outro o público, a apresentação das obras deve alcançar as expectativas dele. Por isso os editores lançam
mão de reestruturações de aspectos estruturais e extra-textuais como ilustrações, mancha textual
reduzida, glossários etc. Com isso as obras se tornam, segundo Escarpit, objetos e passam a possuir um
valor, um proprietário e uma firma, sendo encontrados não apenas em livrarias e bibliotecas, mas em
qualquer estabelecimento de vendas que possua uma seção de almanaques. Observando o livro
selecionado para o presente estudo, “Conto de Escola”, sua estrutura envolve o material das folhas, a
capa dura, o livro em brochura, ilustrações e mancha textual reduzida em cada página. Essa mudança na
forma é que alcança esse novo público (no caso, o juvenil) maior em número e menos erudito. A mancha
textual pequena, por exemplo, atende ao que Chartier (1997) assegura sobre essa leitura exigir
sequências breves e separadas. Por sua vez, a presença da ilustração auxilia na indicação ou
memorização do sentido. Todos esses pontos contribuem para a compreensão do conteúdo do conto em
questão.
O presente estudo visa contribuir para formação de jovens leitores, procurando construir nesses uma
atitude de leitura ativa, de modo que o leitor se aproprie das informações de textos verbais e não verbais
com argumentos, contestando, refutando e explicando o que lê, ou seja, se posicionando como sujeito
ativo e crítico da própria leitura. O referido estudo não apresenta uma fórmula mágica a ser seguida,
entretanto, mostra caminhos reais e possíveis que podem servir como um ‘norte’ aos professores que
atualmente atuam em salas de aula e que precisam implementar ações de leitura para alunos
diversificados frente a diferença linguística, garantindo a esses o aprendizado da leitura como um ato
individual e intransferível. O desenvolvimento do leitor crítico passa pelo trabalho com uma série de
estratégias e habilidades de leitura, mediante à diversidade de gêneros textuais que circulam na
sociedade. Assim, para que esse leitor se constitua como crítico é preciso que desenvolva determinadas
características próprias, que, na escola, são orientadas pelo material trabalhado e pelo professor. Por
tanto, a linha de ação desse estudo é de cunho bibliográfico, traz uma Unidade de Ensino com base em
gêneros textuais e fundamenta-se nas contribuições pedagógicas do Método Recepcional como uma
proposta metodológica aplicada em sala de aula.
O presente trabalho tem como norteamento central conduzir reflexões acerca do impacto das sagas
fantásticas na literatura juvenil brasileira. Sagas são narrativas seriais que estabelecem um paracosmos:
um mundo ficcional e autoconsciente. Sagas estrangeiras são reconhecidas como fenômenos, por
exemplo, Harry Potter, O Senhor dos Anéis, entre outras. Nos últimos anos, observa-se o surgimento de
sagas escritas por autores brasileiros.Um exemplo é Dragões de Éter do autor Raphael Draccon.
Publicada em 2007, tornou-se um fenômeno de vendas nos anos seguintes. A trilogia se apoia em
relações intertextuais com contos de fada com personagens dos clássicos contos de fada, como
Chapeuzinho Vermelho, João e Maria, para criar um mundo chamado Nova Ether. O estudo tem caráter
bibliográfico e para analisar sagas literárias utilizaremos como principal fundamentação teórica os
estudos de Martos Garcia e Martos Núñez, além de nos apoiarmos no conceito de intertextualidade e nos
estudos recentes acerca dos rumos da Literatura Juvenil Brasileira. Por meio da análise dos elementos
constitutivos de Dragões de Éter, tencionamos refletir sobre a influência das sagas no panorama geral da
literatura juvenil brasileira e suas implicações. Sagas são um fenômeno cultural do nosso tempo, fruto da
convergência midiática, da existência de um perfil de leitor ativo consumidor ávido de cultura de massa.
As sagas reelaboram estruturas míticas e elementos fantásticos. Em Dragões de Éter é possível perceber
o uso de diferentes estratégias narrativas, tais como um narrador que se apresenta como um contador de
histórias, personagens clássicos reconfigurados, e referências diretas à cultura pop.
O presente artigo se propõe a expor brevemente a constituição dos lugares vazios, enquanto mecanismos
de inserção do leitor no texto ficcional, presentes, ou ausentes, no conto “Os objetos”, de Lygia
Fagundes Telles. Para tanto, optou-se pelo aporte teórico delimitado por Wolfgang Iser em sua obra “O
ato de leitura” acerca dos lugares vazios do texto, considerando a interação do leitor especificamente
com o texto de cunho literário. A identificação desses lugares vazios no texto ficcional de Lygia dar-se-á
através da análise de uma possível interpretação do conto, considerando alguns pressupostos de um leitor
comum (não acadêmico), comparando-a com os postulados de Iser. Para esse fim, considera-se como
leitor comum, no presente artigo, aquele que interage com o texto a partir de uma situação casual, sem
alguma mediação prévia que o norteie com relação à maneira como deverá acessar ou construir os
significados do texto ou a sua interpretação, em particular, o leitor jovem de ambiente escolar.
Este trabalho pretende analisar como se dá o resgate da memória da cultura africana nas obras Do outro
lado tem segredos, de Ana Maria Machado, O mar que banha a ilha de Goré, de Kiusam de Oliveira,
e O espelho dourado, de Heloisa Pires de Lima. Conforme Alfredo Bosi (1992), são guardiãs da
memória de um povo e possibilitam que novas gerações entrem em contato com os costumes
vivenciados no passado. Isto se dá graças às mediações simbólicas. Assim como em Do outro lado tem
segredos, obra de Ana Maria Machado, em O mar que banha a ilha de Goré, de Kiusam de Oliveira, há
a busca pela identidade e assim o resgate da memória africana. Nesta segunda narrativa, porém, se faz o
caminho inverso, da África ao Brasil, recuperando a história da diáspora africana. O mar divide, então,
duas terras distantes que intercruzam suas culturas e sua gente, criando uma espécie de “terceira
margem”. A narrativa O Espelho Dourado, de Heloisa Pires Lima, traz um pescador que narra uma
história medieval de Gana, onde havia a crença de que os mortos viviam num mundo que é a imagem
espelhada dos. Lacan trata da questão de estar refletido e se reconhecer, se identificar. Na narrativa de
Heloisa Pires Lima há o questionamento se do lado de lá é igual ao lado de cá - mundo dos mortos e dos
vivos, do mesmo modo que na narrativa de Ana Maria Machado há a descoberta do outro lado, que
parece ser um espelho, considerando que há a dualidade da cultura africana e o reconhecimento dos
afrodescendentes em ambos os continentes. Em O Espelho Dourado aparece a seguinte crença
achanti:“[...] os mortos habitam um mundo que é a imagem espalhada do mundo dos vivos. Por isso, os
antepassados não estão exatamente mortos, mas, sim invisíveis. O país do lado de lá é igual ao do lado
de cá. (LIMA, 2003, p. 09),Nas três narrativas da literatura juvenil escolhidas para esta análise, é
possível observar a presença da água em forma do mar. É possível inferir que ele passa a ser o espelho
do povo africano, que reflete a sua cultura que se espalhou por outros continentes. O mar, como espelho,
permite o reconhecimento do que está outro lado do mar e o espelhamento como forma de resgate da
identidade da cultura africana. Para a consecução dessa análise, buscar-se-á a fundamentação teórica
em Ecléa Bosi (2004), Le Goff (2003) e Alfredo Bosi (1992), entre outros.
Durante muito tempo, de acordo com Batista (2012), os estudos literários relegaram ao leitor e a
recepção literária a um papel secundário, quando não os ignoraram explicitamente. Compagnon
(2001),diz, ainda, que os estudos literários dedicam um lugar muito variável ao leitor, e que sua
importância é medida entre dois pólos distintos. De um lado, as abordagens que ignoram tudo do leitor, e
de outro as que valorizam, ou até o colocam em primeiro plano na literatura. Por consequência, se
considerarmos que os dois grandes pontos de referência da teoria literária deste século são o formalismo
e o pós-estruturalismo, não seria correto afirmar que as teorias da recepção fazem parte apenas dos
movimentos pós-estruturalistas. Objetivamos focar o leitor literário como produtor de sentido no texto,
usando-se dos seus horizontes de expectativas na busca da construção do sentido. Para tanto, nos
respaldamos em postulados de Hans Robert Jauss e Wolfgang Iser, que refletem o método da Estética da
Recepção, colocando o leitor e a leitura como elementos privilegiados nos estudos literários. Com intuito
de tornar o ato da leitura um momento prazeroso e significativo. Tendo como corpus a narrativa juvenil
Pântano de Sangue, de Pedro Bandeira. Em sua temática aborda o suspense inserido em seu enredo que
cremos ser de interesse para os jovens, devido ao seu elo instigador entre: amizade, mistério e aventura.
Partindo desta perspectiva, pretendemos observar como o leitor pode ou não ser motivado a um
horizonte de expectativa, diante de uma obra literária, pelos meios de mediação da leitura que a
circudam e por seu próprio repertório.
No que se refere à literatura contemporânea para crianças e jovens, o mercado editorial brasileiro tem
publicado cada vez mais obras que refletem aspectos da cultura nacional, buscando em fontes histórico-
culturais diversas, motivos e temas para a renovação de sua produção. Entre essas obras, destacamos
Cunhataí: um romance da guerra do Paraguai, de Maria Filomena Bouissou Lepecki (Talento, 2003), que
recebeu da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 2004, o Prêmio Jovem e o de Escritor
Revelação. O livro ficcionaliza a Guerra do Paraguai (1864 -1870), maior conflito armado da América
do Sul, que envolveu o Paraguai e a chamada Tríplice Aliança, composta por Brasil, Uruguai e
Argentina, provocando milhares de mortes entre a população dos três países. Trata-se de romance cuja
forma, ao espraiar-se por diferentes territórios, ampliando as fronteiras de modalidades narrativas
reconhecidas como históricas, regionalistas, de formação, ou ainda romance-reportagem, justifica, no
que se refere à teoria do romance, o lugar intervalar por ele ocupado. Neste trabalho, estabelecendo um
recorte nas possibilidades de leitura da obra em questão, procuramos levantar aspectos do romance
histórico tradicional, em diálogo com os elementos da narrativa contemporânea, com o intuito de apontar
o caráter combativo dos romances históricos da pós-modernidade, que assumem e veiculam pontos de
vistas divergentes nos relatos; não objetivam a verdade, mas as possibilidades de interpretação dos fatos,
que dependem de onde e de quem emana o narrado, propiciando a reflexão acerca da veracidade dos
acontecimentos.
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Palavras-chave: Ficção e história, Cunhataí: uma romance da Guerra do Paraguai, Narrativa juvenil
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O presente trabalho busca olhar para a produção cronística de Hilda Hilst, organizado na obra Cascos e
Carícias, na tentativa de revelar de que maneira ela constrói sua escrita por meio da conjugação entre
realidade e ficção, revelando uma densidade estilística que faz confluir toda a hibridez de sua produção
anterior a um discurso que se instaura leve frente a uma problemática que traz em seu bojo o anseio pelo
reconhecimento, em textos que congregam seu vigor irônico e fogem de clichês. O trabalho cronístico da
autora não se constrói na tentativa incisiva de uma referencialidade ao real, pois não deseja traduzi-lo,
mas sim elaborar uma tentativa de construir uma realidade possível, já que ao buscar no jornal a matéria
para sua escritura, a cronista reconstrói literariamente os fatos e os lapida para que permaneça além da
temporalidade que o consagra. Seu processo de escritura contempla traços metanarrativos que fogem do
jogo lúdico e instauram reflexões relevantes seja sobre a condição humana, sobre a condição da cultura,
do escritor brasileiro, ou até mesmo para investigar o abismo existente entre seus textos e os leitores,
fazendo de suas crônicas meio de reflexão acerca da função do escritor em um mundo dominado pela
mídia e pela cultura de massa. Além disso, o espaço da crônica no jornal é ‘subvertido’ pela autora e
torna-se uma vitrine representativa de toda a sua obra. Portanto, o estudo da produção cronística de Hilda
neste trabalho objetiva um debruçar-se nas crônicas de Hilda para investigar todo a urgência de seu
tempo contempladas em sua escritura.
Este estudo propõe enfocar o "diálogo civilizacional" que Cecília Meireles entabula com a Índia e que se
revela como marca indelével de sua poética e formação intelectual. Pretendo desenvolver uma reflexão
sobre a autora como tradutora da filosofia e cultura indianas, por meio de sua poesia e de suas crônicas.
Com relação à produção de Cecília que dialoga abertamente com a Índia, ressalto o livro "Poemas
escritos na Índia”. Ao abordar traços constantes dessa obra, é possível avançar para pensar os traços mais
sutis da filosofia e cultura indianas que permeiam a produção da autora, desde suas crônicas até poemas
de renome como "Mar Absoluto". Dessa forma, o termo tradutora se refere a um aspecto mais amplo da
tradução, tornando-se possível pensar as implicações representadas pela autora, como tradutora, no
modernismo brasileiro. Uma vez que a poeta está sempre atrelada ao cânone literário como uma voz
dissonante no modernismo, por vezes, sua obra é reduzida sendo aproximada ao movimento simbolista.
Isso se justifica, em parte, devido à participação de Cecília na revista Festa, no entanto, o que pretendo
trazer para a reflexão é que, justamente, o traço de dissonância de um modernismo pautado na busca pela
identidade brasileira, faz com que Cecília se destaque como uma voz moderna no modernismo. A
modernidade em Cecília, assim, se daria, por meio do olhar ao Oriente que, antes de ser uma influência
em sua produção literária, é o campo fecundo de onde sua escrita brota. Portanto, pensar a obra de
Cecília Meireles desconsiderando a mirada ao outro oriental é enfraquecer o eixo dinamizador de sua
poética e de sua ativa participação em seu momento histórico literário.
No Brasil o verso passou a ser questão central no debate da poesia desde que os modernistas tomaram o
verso livre como seu maior símbolo. Este trabalho propõe-se a identificar questões relevantes sobre o
verso livre a partir da análise de poemas de três poetas contemporâneos: Carlito Azevedo (1961 —), Ana
Martins Marques (1977 —) e Marília Garcia (1979 —). Tal análise se concentrará sobretudo no ponto de
corte do verso. Interessa-nos investigar aqui quais possíveis critérios levam tais poetas a decidir quando
um verso livre se perfaz e quando é oportuno mudar de linha. No poema "Água Forte", de Carlito, nota-
se um alto investimento no valor plástico do verso: propõe-se que uma única palavra seja bastante para
dar unidade ao verso, o que, certamente, contribui para a construção notadamente fotográfica do poema.
Em "Migalhas", de Ana Martins Marques, parece possível encontrar outro padrão: cada verso parece
conter uma informação semântica que desestabiliza o que o leitor já sabia a respeito da cena que se
constrói. Já em "Teste de Resistores", Marília Garcia renuncia aos recursos poetizantes e nos apresenta
uma poesia que aposta radicalmente no verso como último divisor entre a poesia e a prosa. Este trabalho
pode interessar não só aos leitores especializados da poesia, mas também aos casuais e, ainda, aos não
leitores, entre os quais não raro ainda se vê sobreviver a ideia de que a extensão do verso livre é sem
critérios e que a poesia contemporânea é "prosa cortada aleatoriamente".
Jules Laforgue é um poeta simbolista francês, autor de obras poéticas como L'imitation de Notre-Dame,
la lune, Le sanglot de la Terre, Les complaintes e de obras em prosa como Moralités Légendaires. Nelas,
o poeta quis fazer arte pura, isto é, arte distante de qualquer referencialidade, o que buscou no uso da
paródia e da ironia, e ao retomar lendas, tradições literárias, estéticas, isto é, o território da Arte. Serviu-
se de tradições diversas, que são o material inspirador para suas fantasias e divagações, cultuando seus
paraísos artificiais – onde estão as plenas possibilidades do pensamento, do sonho e da imaginação, e nos
mostrando, também, seu papel de poeta simbolista e moderno. A poesia de Laforgue implicou em uma
mudança radical no modo de conceber a literatura e, vale ressaltar, que não é um poeta marginal nem
maldito. É, sobretudo, um poeta excêntrico. Sua relevância poética consiste no grande avanço que em
pouco tempo impôs à poesia, desbastando a modernidade herdada dos românticos de uma retórica em
desuso para injetar-lhe a impaciência nervosa de uma linguagem viva. Toda essa originalidade
influenciou diversos poetas, tanto na Europa como no Brasil. Nosso objetivo, aqui, é demonstrar, de
maneira breve, as influências da obra do poeta francês nas primeiras obras poéticas de Manuel Bandeira
e Carlos Drummond de Andrade, apontando, sobretudo, a influência da ironia e da oralidade, constantes
na obra do poeta francês.
O escritor francês Villiers de L’Isle-Adam (1838-1889), ainda que não tenha participado do movimento
simbolista, é considerado paradigma da estética dos símbolos. Sua aversão ao burguês, seu desprezo pelo
estilo de vida da nova sociedade que se formava, seu culto a uma Arte Ideal influenciaram jovens autores
e fortaleceram o comportamento daqueles que, assim como ele, assumiam a face de decadentista
inadaptados àquela realidade do final do século XIX. Reconhecido como um dos mestres da língua
francesa em decorrência do estilo peculiar de sua linguagem literária, Villiers foi um inovador no que
concerne à mistura de gêneros literários e à presença da linguagem poética nos gêneros pelos quais
transitou. Ao lado de sua tendência em buscar o Ideal por meio de uma linguagem pura e nobre há
também a preocupação em construir textos que são verdadeiras sátiras à sociedade burguesa e aos
progressos tecnológicos, como pode-se ler em seu romance L’Ève future (1886). Pela análise de tal
romance, pretende-se evidenciar a representação das personagens femininas sob a ótica crítica do
decadentismo.
O Simbolismo se deu em um grande carrefour, uma época em que fortes correntes e escolas literárias
disputavam espaço tanto nos jornais e nas publicações, como nas ideias de maior autoridade. Baudelaire
é quem guia o início de uma nova era: a modernidade. Os grandes poetas simbolistas, tais como
Malarmé e Rimbaud, buscavam atingir a poésie pure, uma poesia não deturpada nem pelo exterior e nem
pelo interior do poeta. Os símbolos e o elevado trabalho intelectual marcaram essa literatura e o poeta do
mediterrâneo: Paul Valéry. Este trabalho tem o intuito de localizar Valéry em sua época e período
literário, assim como discorrer sobre a poética do escritor e fazer uma leitura breve de seu grande poema
Le Cimetière Marin. De acordo com Barbosa (1986), “O Cemitério Marinho” trata do “encontro da
linguagem consigo mesma” e esse encontro “intervém como espaço criador das hesitações do
significado”; portanto, nessa análise, tratamos das questões do fazer poético, da relação do poeta com a
linguagem e com a poesia: o movimento das ondas também é movimento do poema, a calma e a fúria
coexistem no poeta; o espaço entre a luz e a sombra, a vida e a morte, o cemitério e o mar também são
fonte da poesia, fonte de reflexão. Contamos com o aprofundamento teórico e análises de estudiosos do
assunto, tais como Edmund Wilson, João Alexandre Barbosa, Machado Leite, Todorov e outros.
As análises feitas pelo viés comparatista, aqui expostas, partem da leitura de poemas de dois escritores
que trazem no seu horizonte de expectativa o desejo de luta. Uma reflexão que veio à luz durante nossos
estudos de doutorado, que ainda encontran-se em fase inicial. Os textos a serem trabalhados são oriundos
das seguintes antologias: Antologia Retirante, Cantigas Menores e Versos Adversos de Pedro
Casaldáliga e Renúncia Impossível e Sagrada Esperança de Agostinho Neto. Casaldáliga, é espanhol,
veio para o Mato Grosso/Brasil, em 1968, e é do Bispo Emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia.
Sempre colocou-se em oposição declarada aos grandes proprietários de terra, saindo em defesa das
minorias. Agostinho Neto, angolano. Filho de pais professores e missionários religiosos. Decidido a
formar-se em Medicina, embarcou para Portugal em 1947 e se matriculou na Faculdade de Medicina de
Coimbra. As entradas nos poemas permitem ensaiar estudos comparados sobre as relações culturais,
políticas e sociais existentes entre os autores de Brasil e Angola e que irão denotar uma rede de
solidariedade entre as duas nações. Essa rede fraterna é sustentada não só pelos textos produzido pelos
autores em questão, mas de sobremaneira pela atuação séria e comprometida dos mesmos como
cidadãos. A poesia que emana dos versos das obras estudadas é carreada por uma força interna capaz de
ferir, mas também de fazer florescer uma primavera de mudanças para os membros da sociedade onde
estão inseridos os poetas.
Tomando por base as perspectivas pós-modernas, o presente trabalho de pesquisa tem por objetivo
refletir acerca do diálogo que o romance Fim (2013), livro da autora carioca Fernanda Torres, estabelece
com a obra clássica Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Para tanto,
problematizamos uma discussão sobre a questão do tradicional e do atual. Para efeitos do campo de
consciência e da questão do ponto de vista ou focalização, que constitui uma categoria crucial para a
teoria da narrativa, analisaremos na obra o fato de haver mais de um narrador-personagem ou um
narrador em “terceira pessoa”. Esta proposta de pesquisa surgiu, inicialmente, de uma questão
fundamental: quem são os novos ficcionistas no cenário literário brasileiro do século XXI e com que
temáticas e estilos dialogam? Diante disso, cabe investigar como se realiza o diálogo entre os textos.
Observaremos a partir do fluxo de consciência dos cinco narradores criados realisticamente pela autora,
o modo como a obra contemporânea reescreve, através de um texto poético, lírico, as passagens
memorialísticas de cinco personagens que estão no extremo da vida. Buscamos a produção de um
trabalho de pesquisa profícuo, de modo que possa se estender a estudos posteriores, pois como Fernanda
Torres é uma autora pouco estudada, pouco conhecida em instituições acadêmicas. Nossa pesquisa é
inédita e poderá embasar futuros trabalhos sobre a autora.
Os artistas franceses “fin de siècle”, decepcionados com a realidade que os cercava, recusavam a moral
de seu tempo, o positivismo e o cientificismo. Desejosos de um ideal, eles buscaram refúgio na arte e o
artifício se revela como uma forma de evasão, um modo de mascarar a ausência de sentido no mundo.
Villiers de l'Isle-Adam (1838-1889), autor de Axel, L'Ève future et Contes cruels, é um importante
escritor do século XIX e sua obra, rica em significações, nos permite refletir sobre a essência e a
aparência das coisas. Crítico do progresso e da burguesia, Villiers, que valoriza o mistério e a
imaginação, vai rejeitar o mundo exterior, imperfeito, e transformá-lo, em sua obra, segundo a vontade
do sujeito, a fim de consertá-lo e melhorá-lo. O escritor vai criar um mundo de sonho, que, embora
ilusório, será superior ao mundo real. L'Ève future representa bem estas ideias do escritor. O ideal
artificial aparece então, nessa narrativa, como o único modo de transfigurar a realidade decepcionante e
atingir o infinito, e a mulher artificial será a intermediária entre o mundo real e o au-delà, espaço onde
reina o mistério e o desconhecido. Outras formas de artifício, como o subterrâneo, a iluminação artificial
e a representação teatral aparecem na narrativa e ajudam a revelar a relação e os limites entre o eu e o
mundo. Nosso objetivo é estudar o papel do artifício em L'Ève future e como ele se apresenta nessa obra,
considerando que, contra as aparências e as ilusões oferecidas pelo mundo, é preferível criar sua própria
ilusão e sua própria verdade.
Este trabalho pretende propor reflexões sobre questões pertinentes à literatura e à arte modernas, a partir
das teorias do poeta e escritor Charles Baudelaire, em seu ensaio Sobre a modernidade, no qual faz uma
análise crítica da arte de seu tempo, e às teorias de Walter Benjamin, nas quais o autor alemão faz
explanações sobre o conceito de modernidade. Para a concretização de tal reflexão, utilizar-se-á como
corpus do trabalho o poeta Cruz e Sousa, no qual, em seus poemas, encontram-se questões
transcendentais, e ao mesmo tempo críticas em relação ao seu tempo e a modernização do mesmo. Pode-
se dizer que o poeta brasileiro transformou a própria vida em obra de arte, trouxe a modernidade para a
sua obra sob o viés da modernização de sua sociedade. Sabendo que Baudelaire e Cruz e Sousa viveram
sob o mesmo arco histórico, o qual é marcado pelo surgimento da metrópole moderna, utilizar-se-á
alguns poemas do autor francês, junto com os do poeta brasileiro, para compreender as relações que
ambos os escritores mantiveram com seus espaços de modernidade.
29
AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
Em 1872, no prefácio ao romance Sonhos d’ouro, José de Alencar, fazendo breve retrospecto da
Literatura Brasileira produzida até então, no qual destaca a sua própria obra, estabelece uma divisão por
fases, três no total, assim divididas: primitiva, histórica e pós-independência. Em relação à segunda fase,
em que aparecem O guarani (1857) e As minas de prata (1865-66), chama a atenção a seguinte
observação do romancista: “há aí muita e boa messe a colher para o nosso romance histórico; mas não
exótico e raquítico como se propôs a ensiná-lo, a nós beócios, um escritor português”. Embora não
mencione nome, acreditamos tratar-se de José da Silva Mendes Leal Junior, autor de Calabar (1863). A
suposição parte do questionamento que, anos mais tarde, Alencar empreende em “Como e porque sou
romancista” (1873), quando reage à ideia, sustentada por Mendes Leal na introdução de seu livro, e
corroborada pela crítica brasileira do período, de que Calabar seria a primeira manifestação de romance
nacional. Depois de citar o autor português, escreve: “Quando Mendes Leal escrevia em Lisboa estas
palavras, o romance americano já não era uma novidade para nós; e tinha n’O guarani um exemplar, não
arreado dos primores do Calabar, porém incontestavelmente mais brasileiro”. Entretanto, Alencar parece
desconhecer que Calabar, publicado integralmente no Correio Mercantil em 1863, tivera uma primeira
tentativa interrompida no mesmo jornal, em 1853, ou seja, quatro anos antes do romance alencariano.
Assim, propomos analisar a importância de Calabar, em contraste com o posicionamento de José de
Alencar, para o debate que se estabelece, em meados do século XIX, sobre a formação do romance
brasileiro.
29
AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
A extensa produção romanesca de Camilo Castelo Branco denota, juntamente com seu espólio epistolar,
que o escritor português escrevia, não raramente, sob pressão de cunho pecuniário. O exemplo de
Camilo pode ser observado na produção de muitos outros romancistas do século XIX, os quais
escreviam a fim de satisfazer as necessidades da vida prática, aceitando encomendas de jornais que
publicavam as obras de forma seriada. Camilo Castelo Branco nutria uma profunda amizade com
Faustino Xavier de Novais, poeta lusitano que emigrou para o Brasil em 1858 e fundou, em 1862, O
Futuro: periódico literário luso-brasileiro. Essa amizade contribuiu para que Camilo tenha se tornado um
dos colaboradores mais assíduos do periódico, que ostentava um perfil editorial marcadamente artístico e
bilateral, circulando no Rio de Janeiro, mas responsável por mediar conexões luso-brasileiras. Dentre os
gêneros textuais praticados por Camilo n’O Futuro está o romance Agulha em palheiro, que foi
publicado aos capítulos no periódico. A obra encomendada por Faustino e, portanto, se afinava estilística
e ideologicamente com as especificidades do periódico, que o ofereceu com exclusividade aos seus
assinantes. A presente comunicação pretende analisar as abordagens criativas de Camilo quando este
publicou, quinzenalmente, as oito primeiras partes da obra n’ O Futuro.
Em 1878, o meio literário brasileiro era dominado pelo efeito ruidoso das cenas adulterinas do romance
O primo Basílio, de Eça de Queirós. Avesso às soluções da estética “realista”, Machado de Assis
combateu ostensivamente a influência dessas inovações no desenvolvimento da literatura brasileira. Em
contrapartida, a repercussão dessas tendências forçaria o escritor brasileiro a repensar os caminhos da
sua própria ficção. A busca pela superação desse impasse adquiriria visibilidade no decurso da sua
colaboração no periódico O Cruzeiro, resultando em experimentações e transformações decisivas para a
sua escrita. Assim, no momento em que a última moda literária do Ocidente amparava-se na
objetividade, racionalidade e modernidade das soluções realistas, o escritor faria opção por revisitar e
reinventar tradições literárias de um passado longínquo, que remontam à linhagem da sátira menipeia.
Desse modo, este trabalho pretende averiguar as transformações que se observam em seus paradigmas de
criação romanesca, especialmente em função da reduzida repercussão alcançada por sua obra Iaiá
Garcia. Nesse romance, prevaleceria ainda o domínio absoluto da austeridade do “narrador panóptico”,
que decifra olhares, identifica intenções subjacentes, esquadrinha gestos e tons de voz e concede ao leitor
a chave do escrito, esclarecendo as suas possíveis dúvidas. A partir das Memórias póstumas, a literatura
machadiana priorizaria um conjunto diferenciado de técnicas, tais como “ambiguidade hermenêutica,
duplicidade de sentido, impossibilidade conclusiva”, em suma, procedimentos que conduziriam a uma
radicalização da “resistência à interpretação”, cuja obra paradigmática seria Dom Casmurro.
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AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
Os anos 1930 ficaram marcados na história literária brasileira como o período em que o romance teve,
como forma privilegiada para tratar dos temas emergentes de então, o seu momento de mais intensa
experimentação. Da necessidade de promover a renovação do campo artístico e intelectual surgiram
obras regionalistas e de cunho social e intimista que manifestaram preocupação em promover um mais
amplo e profundo reconhecimento da diversidade cultural e social do Brasil. Em Uma história do
romance de 30 (2006), Luís Bueno analisa obras em cujas formas manifestam-se tais preocupações de
renovação da produção romanesca, identificando nela uma polarização que do campo político se
estendeu ao literário. Nesse processo de mudanças pelo qual passava o romance brasileiro, a ficção de
José Lins do Rego teve uma notável contribuição. Embora tenha se assumido como um tradicionalista, o
autor de Menino de engenho desenvolveu um projeto romanesco que transcendeu a polarização apontada
por Bueno, não obstante ter iniciado sua carreira literária com base em sua escolha partidária e ter sido
mesmo acusado de panfletário. Em vista disso, torna-se relevante considerar Fogo morto, tido pela
crítica como a sua mais alta realização romanesca dada ao tratamento do declínio do nordeste açucareiro,
levando em conta a sua construção propriamente dita, o distanciamento em relação ao universo narrado e
um enquadramento social das personagens menos idealizado que em seus romances anteriores,
ressaltando, assim, a experimentação e a trajetória intelectual de José Lins de sectário de Gilberto Freyre
ao romancista que se apresenta na obra de 1943.
Nota-se no romance do século XX diversas modificações no que tange aos elementos narrativos
constitutivos, tais como a eliminação ou ilusão da espacialidade, bem como o esfacelamento da ordem
cronológica. Assim, de um modelo de ficção acabada passa-se a uma narrativa essencialmente mais
aberta, marcada pela pluralidade de significados e alicerçada pelo fluxo de consciência, determinado a
descrever a experiência psíquica dos personagens. Em tais circunstâncias insere-se a narrativa O lustre,
de Clarice Lispector. Publicada em 1946, esta obra aborda o itinerário de Virgínia, desde sua infância
vivida na propriedade rural de Granja Quieta até sua maturidade e ida para a cidade, onde morrerá
tragicamente por atropelamento. No texto, a trajetória da personagem é marcada pelos deslocamentos
espaciais entre o campo e a cidade e sua inadaptação a qualquer um destes lugares. A configuração
psíquica de Virgínia é evidenciada logo no início do romance a partir da cena construída em torno da
sugestão de um afogamento, consubstanciando um processo vertiginoso vivido pela protagonista, que
experimenta em devaneios o conhecimento da morte advinda das águas turvas. Desse modo, o objetivo
desta comunicação é discutir o sema da água como aspecto constitutivo de O lustre, no que se refere à
fluidez da personagem e às confluências possíveis entre as pulsões de Eros e Thânatos no corpo
narrativo. As análises serão empreendidas pela interface entre literatura e psicanálise, compreendendo as
teorias de Sigmund Freud a respeito das pulsões, bem como de estudiosos da narrativa moderna, tais
como Jean-Yves Tadié, Anatol Rosenfeld, entre outros.
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AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
O presente trabalho versa sobre o romance Manual de Pintura e Caligrafia (1977), do escritor português
José Saramago (1922-2010), considerado pelo autor, no subtítulo das primeiras publicações, um Ensaio
de Romance. Nesse sentido, visamos discutir o caráter experimental e formativo dessa obra, analisando o
hibridismo genológico e interartístico presentes na estrutura da diegese romanesca, que resultaram numa
das produções mais arrojadas do autor, e que nos permitem intuir sua aderência às singularidades
teóricas da narrativa contemporânea. Assim sendo, pretendemos destacar os seguintes aspectos: o
discurso metanarrativo, a construção dialógica intergêneros e a intertextualidade com as teorias
renascentistas sobre a comparação entre as artes. De fato, esses elementos revelam a composição
fragmentada desse romance-ensaio, que corrobora para o seu enquadramento na estética pós-modernista,
evidenciando sua articulada estrutura labiríntica, bem como a presença do pastiche e das interfaces de
linguagens artísticas, que tanto nortearam a ficção do escritor.
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AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
Bakhtin, em Estética da criação verbal, disserta sobre o processo de criação discursivo, trazendo a
comunicação para o plano da realidade cotidiana. Ou seja, Bakhtin busca uma teoria que se paute menos
em abstrações e mais em concretizações da linguagem. É pensando nisso que ele opera conceitos como
enunciado e alternância de sujeitos. Assim, ele consagra uma crítica da textualidade não pautada no
gramatical, mas no que o discurso faz funcionar na comunicação. Judith Butler, em Problemas de
gênero, também elabora sua teoria de alguns conceitos basilares, como o de performatividade de gênero.
Com isso, o gênero sexual deixa de ser compreendido como algo naturalizado e passa a ser interpretado
como o que se estabelece pela repetição discursiva. Sendo assim, a constituição discursiva do gênero
coloca algo em funcionamento, em produção, em performance. Articulando essas visões sobre a
constituição do discurso, Saramago – em romances como História do cerco de Lisboa e Ensaio sobre a
cegueira – apresenta uma representação ficcional da realidade cuja alternância de sujeitos aponta para
uma nova discussão, via reconsideração do valor do enunciado, do “real” e dos gêneros sexuais como
performance. Nesse sentido, a realidade na qual circulam os personagens é transformada porque isso é
algo que se constrói pela reconsideração do romance como gênero discursivo: o filosófico, o dissertativo,
enfim, juntam-se ao romanesco, dando novo caráter ao enunciado tido como ficcional. Ao mesmo todo,
o papel e o funcionamento dos gêneros sexuais, dentro desse amplo processo de mudanças, também
sofre reconsiderações que apontam para um novo valor da existência, da realidade e da ficção.
O romance pode ser classificado como um gênero híbrido e inacabado, uma vez que representa
dinamicamente o mundo contemporâneo, mundo este em constante movimento, indefinições e
transformações (BAKHTIN, 1998). Além disso, possui caráter híbrido por englobar, em sua
estruturação, possibilidades de outros gêneros, como o trágico e o dramático (LUKÁCS, 2000). Desse
modo, o romance possibilita a representação da complexa e angustiante trajetória do indivíduo
contemporâneo, em suas dificuldades, experiências e escolhas. Da Literatura Brasileira Contemporânea,
Milton Hatoum destaca-se cativando leitores brasileiros e estrangeiros, uma vez que traz uma
perspectiva desmistificada das regiões do Amazonas, desconstruindo exotismos fantasiosos e, ao mesmo
tempo, evidenciando as dificuldades dos habitantes de Manaus e seus arredores por meio de um olhar
autóctone. Assim, esse trabalho objetiva discutir a construção do romance “Dois Irmãos”, de Milton
Hatoum, com enfoque na percepção da trajetória das personagens protagonistas e do papel do narrador,
evidenciando-se a necessidade de se considerar ambos os aspectos estrutural e temático para uma análise
interpretativa crítica. Com base em Bakhtin, Lukács e Antonio Candido, entre outros, enfatiza-se na
leitura analítica do romance uma representação do herói problemático em busca de sua identidade, além
de reflexões acerca da própria criação ficcional. Outras escolhas formais, como questões espaciais e
temporais, também contribuem na obra para a reflexão sobre a complexidade da existência humana
contemporânea, em um mundo repleto de relativismos, contradições e incertezas.
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AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
Tendo como objetivo estudar a escrita autobiográfica de Cristovão Tezza (1952- ), o presente artigo
volta-se, de modo especial, para O filho eterno, livro publicado em 2007 que, comparado aos seus onze
romances anteriores, pode ser considerado o ponto mais alto de suas confissões. Dessa forma, procura-se
mostrar que a história pessoal de Cristovão Tezza funde-se às estratégias e a recursos estilísticos para
dissimular e/ou afastar-se do “material verídico,” insinuando-se, assim, o distanciamento do gênero
puramente biográfico. Neste contexto e diante da impossibilidade de delimitar os gêneros “romance” e
“autobiografia,” a narrativa de Tezza parece definir-se como uma confissão com ficção. Para tanto,
partimos da ideia inicial de que todo romance é mais ou menos uma confissão, mesmo quando não
escrito em primeira pessoa e ainda que o romancista se esconda atrás de cada página ou se dissimule sob
a máscara de um ou de múltiplos personagens. Cristovão Tezza parece pertencer à categoria dos
romancistas que mais se confessam, isto é, daqueles que menos se escondem e menos se dissimulam
(não pela falta de tentativa). Os seus romances estão repletos de alusões e indicações de natureza
autobiográfica – alusões e indicações feitas com um mínimo de disfarce, às vezes até sem disfarce
algum.
Em 1991, Maria Gabriela Llansol escreve um discurso em agradecimento pelo recebimento do Grande
Prémio do Romance e da Novela. Nele, ela acaba por tentar "confortar" aqueles que se recusavam a
aceitar que uma obra como a sua (no caso, O beijo dado mais tarde) recebeu um prêmio dedicado ao
romance, uma vez que aquilo muito pouco, ou nada, refletia a estrutura das célebres obras que tornaram
a forma romanesca o espelho da modernidade. Todavia, a autora tinha consciência de que sua escrita
desviava desse formato, posto que a matéria que desejava dar a ver não cabia naquele molde e tampouco
em qualquer outro. Ela percebia que sua obra dava um passo além em direção a algo novo e não
uniforme, mas estava consciente de que os rumos que tomava tinham como ponto de partida o romance,
tendo em vista o que outrora este fora capaz de materializar do homem frente à realidade em que vivia.
Mas Llansol não é esse homem: ela não admite apenas uma realidade, mas várias, e essas surgindo a
partir do olhar que se cruza por diversos pontos de vista. Por conseguinte, seu texto torna-se a própria
porta de entrada para outras dessas realidades. Nessa comunicação, tomaremos tal panorama como base
para analisar a sobreimpressão – modo de composição das realidades pelo texto e tudo que delas faça
parte. Nosso objetivo é explorar como essa dinâmica de criação é capaz de perpassar desde a
constituição das paisagens até o processo de formação das figuras, forma correspondente à personagem
no romance. Como corpus de análise, selecionamos o Inquérito às quatro confidências (2011), um dos
diários da autora, que trará ainda mais estofo para as discussões sobre a ficção contemporânea.
29
AS TRANSFORMAÇÕES DA FICÇÃO ROMANESCA EM PORTUGAL E NO
BRASIL
Serão analisadas neste estudo as obras ficcionais Uma Viagem a Índia, de Gonçalo M. Tavares (2010) e
A Máquina de Fazer Espanhóis, de Valter Hugo Mãe (2013). Utilizando como instrumental teórico o que
é sugerido pela reflexão de Gerard Genette a respeito das formas de transtextualidade, observaremos nas
obras analisadas as relações intertextuais que elas estabelecem com textos anteriores (Os Lusíadas, em
Uma Viagem à India e o poema Tabacaria, em A Máquina de Fazer Esapnhóis) aos quais se reportam de
modo crítico. As narrativas de Tavares e Mãe dão grande destaque ao modo como os protagonistas
vivenciam, em cada caso, experiências de leitura dos textos citados, e revelam faces complexas da
construção de significados por parte deles. No texto de Tavares, o protagonista Bloom viaja à Índia
refazendo, nos dias atuais, o percurso dos navegadores portugueses exaltados na epopeia camoniana.
Auto-identificando-se como um bibliófilo à procura de sabedoria, ele tenta reconstruir os sentidos de sua
existência a partir do que lê. Já no texto de Mãe, o protagonista narrador Silva, internado em um asilo em
meio vazio de sua experiência atual - de que faz parte uma reflexão crítica sobre os descaminhos de
Portugal na contemporaneidade - conhece um outro interno que se identifica como o inspirador do
poema Tabacaria de Álvaro de Campos, no qual Silva se projeta. As leituras de ambos ocorrem sob o
impulso da discussão de problemas contemporâneos ligados à recepção do que é lido. Discutiremos
também na ficção dos autores analisados a possibilidade de se nomeá-los, com a complexidade de suas
propostas artísticas, como romancistas contemporâneos, considerando a abrangência desse conceito.
243
Página
Estudos acerca do silêncio mostram que ele significa sempre, em todas ou quaisquer situações que vão
desde aspectos gráficos em um texto até a construção de tudo o que existe no Cosmos. Na arte, é
possível perceber que o silêncio adquire nuanças plurissignificativas. Nesse sentido, o silêncio abafa a
manifestação das palavras (até porque ele está dentro delas), e mergulha a personagem na interioridade
de si, isolando-a, o que faz com que os silêncios se tornem potente arma frente às intempéries que a
assolam (ORLANDI, 1997). O silêncio significa até mesmo onde menos se espera que isso aconteça. Em
certos momentos ele grita como forma de dar vazão à dor humana que corrói a alma. Dessa forma, o
contexto da guerra consegue, em silêncio, lançar gritos onde a paz deixou de reinar. O mais forte
sobrepõe-se ao mais fraco e é justamente nessa relação de submissão e medo que o silêncio consegue
gritar. A obra escolhida para investigação é o romance português Um homem: Klaus Klump, de Gonçalo
M. Tavares. O livro mostra o silêncio imperante que se apresenta em tempos de guerra, no qual há um
diálogo entre o lado instintivo e quase animal do ser humano e sua consciência lógica, na qual sobressai
a primeira. Tal acontece porque o mais fraco, lutando por sua sobrevivência, é forçado a se transformar,
para defender-se. O romance narra a história de Klaus Klump – editor de livros de uma cidade calma e
pequena – que tem a vida transformada quando a cidade é invadida pelos tanques de guerra das forças
inimigas. A crueldade da guerra assola a pequena cidade, e os militares começam a ter atitudes de
profanação, violando casas, famílias, e tudo mais que se coloque no caminho deles.
O presente trabalho expõe a provocação de um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis, no
que diz respeito à construção literária como reflexo social. Especialmente por meio da configuração de
perfis femininos, representativos claros da questão da identidade, opressão e, com isso, o silenciamento
de suas figuras. O que se analisa é a imagem e a postura da mulher machadiana, especificamente no
conto “Confissões de uma viúva moça”, escrito em 1967, publicado em folhetins que tinham como
principais leitores o público feminino do Brasil Imperal. Por meio da junção de teorias pertencentes às
formas do silêncio na literatura e formação de identidade, busca-se explanar o contexto histórico da
época em que o escritor compunha sua obra e assimilá-lo as angústias, a questão da repressão e o
silêncio do indivíduo. Nesse sentido, o trabalho terá como pano de fundo o paralelo inegável da literatura
e a moral das épocas consideradas e o modo como esse cenário definia o espaço e o comportamento
feminino.
“NÉVOA-NADA”: SILÊNCIO
Em nossa apresentação, interessa-nos refletir sobre o silêncio e suas nuances na obra do poeta
contemporâneo Marcelo Ariel (Santos-SP, 1968). A expressão “névoa-nada” utilizada por Haroldo de
Campos na tradução do Eclesiastes é um dos elementos centrais nesse trabalho, à medida que evoca uma
noção de vazio e fluidez compatíveis com os diversos paradigmas instaurados pelo tema nos versos de
nosso poeta. Em Ariel, há o silêncio do trauma diante do Real lacaniano, compreendido como aquilo que
“não cessa de não se escrever” e que se estabelece através da experiência do eu lírico em meio à
catástrofe ambiental e à violência urbana generalizada. Há também o silêncio enquanto leitmotiv de certa
tradição poética moderna relacionada a uma intensa reflexão sobre a linguagem e seus limites que surge,
sobretudo, com Stéphane Mallarmé e que encontra em Maurice Blanchot um importante objeto de
teorização. E, há ainda, o silêncio que se dá enquanto forma na tentativa de aproximação da poética
hermética do romeno Paul Celan, uma das referências mais significativas na poesia de Ariel.
Esta comunicação tem por objetivo discutir as semelhanças – tanto na estrutura quanto na evocação das
imagens – entre a obra Prelúdio Op. 28 No. 4 de Frédéric Chopin (1810-1849) e o poema homônimo
“Chopin: prelúdio no. 4”, do simbolista gaúcho Eduardo Guimaraens (1892-1928), que se encontra na
parte II do livro Divina Quimera (1916). Nomeado “Suffocation” por Hans von Bülow, o prelúdio n. 4
foi tocado no funeral de Chopin, atendendo a um pedido feito pelo próprio compositor. Combinando
uma melodia lenta na mão direita que prolonga até a resolução tônica e blocos de acordes repetidos na
mão esquerda que descem cromaticamente, a peça é considerada de uma tristeza e beleza pungentes. No
soneto, a música de Chopin embala, “através do seu vago perfume de passado”, a ressurreição dessas
mesmas sensações a princípio contraditórias: angústia e beleza. Além das “notas soltas” e um de
“delírio”, compartilhados por ambas as composições, há a presença marcante de um silêncio: quebra
(inesperada?) no prelúdio de Chopin, preparando para o desfecho; exclamativa inaugurando o último
terceto – espaço tradicionalmente destinado à conclusão – em Guimaraens. De todo modo, trata-se de
uma circunstância de produção artística particular e instigante para o analista: um poema que descreve,
pelo olhar de um eu lírico, a apreciação estético-sensorial de uma obra musical mundialmente
reverenciada, ao mesmo tempo em que simula estruturalmente parte de seus movimentos, transformando
notas em palavras, e pausas em menção a silêncio.
O ser humano é exímio equilibrista: sustenta-se oscilando entre o racional e o vertiginoso. A tensão entre
esses universos pode enfraquecer o ser humano, fragilizando-o e o despedaça na tentativa de se
compreender. Esse tipo de personagem é comumente analisado no texto literário. Por outro lado,
Gonçalo Tavares (2010) apresenta em A máquina de Joseph Walser um novo padrão de construção.
Joseph Walser, peça central do romance, é um homem que significa primordialmente no silêncio de seu
interior. Do aparato de trabalho ao instrumento de combate, Walser reconhece-se na frialdade do metal,
por ver nele a perfeição exata, sua maior paixão. Dividindo sua existência entre trabalho e descanso, a
personagem cursa sua trajetória de maneira enigmática ao leitor, que pode mais facilmente compreendê-
lo através dos respingos de silêncio que Walser deixa em suas pairagens. Considerando a atmosfera de
guerra sob a qual o romance se desenrola, é nítida a valoração que a personagem tem pelas máquinas e
armas de guerra, destacando em contramão sua indiferença pelas pessoas. Isso se deve ao fato de que as
máquinas trabalham com o que Walser chama de precisão, e durante os momentos em que a protagonista
opera a máquina, sente-se em posição de poder, pois é responsável pelo controle da perfeição que as
máquinas produzem. Essa condição é evidenciada pelas situações de silêncios que o circundam, e é
ressaltada devido ao estranhamento que as pessoas em seu redor têm ao tentar compreendê-lo. Logo, é
necessário um estudo sobre a construção contemporânea de Tavares, perscrutando, através das sucessões
de silêncios, limiares que permitam o reconhecimento de um novo indivíduo no romance
contemporâneo.
Esta pesquisa contempla uma análise do indizível em Hospício é deus - Diário I, da escritora mineira
Maura Lopes Cançado (1929-1993). Tal obra pode ser dividida em duas partes: a primeira, trata-se de
uma autobiografia; já, a segunda, de um diário escrito durante a internação da autora no Hospital
Psiquiátrico Gustavo Riedel/RJ, no período de outubro de 1959 a março de 1960. Caracterizamos a
segunda parte da obra pela denúncia à violência do sistema asilar em saúde mental e, especialmente, por
seu teor testemunhal. É a partir da ideia de testemunho de Giorgio Agamben, a qual pressupõe a vivência
de situações limites (horror), que escolhemos compreender os silêncios da narrativa em questão. O
testemunho é uma potência de dizer e, por isso, traz consigo uma lacuna: o indizível, aquilo que não
consegue emergir à enunciação devido às experiências traumáticas, às fissuras da memória, aos limites
expressivos da falante etc. A impossibilidade de dizer, na obra de Maura, concerne à figura de Deus, à
do próprio hospício, assim como às vivências violentas e vergonhosas (p. ex. eletrochoques e abuso
sexual). Neste jogo de forças entre a impossibilidade de dizer tudo e a necessidade de narrar, resta uma
lacuna, a qual, por vezes, é marcada graficamente pelo uso de longos travessões que interrompem a
linearidade da construção frasal: "Estou de novo aqui, e isto é ––––––––"; outras vezes, pela confissão de
que a palavra escrita não consegue arquivar a experiência sem comprometê-la, o que leva a narradora a
declarar que somente o cinema seria capaz de aproximar-se do horror padecido pelas vidas capturadas
pelo sistema manicomial.
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O presente estudo tem por objetivo abordar aspectos relevantes do livro Exercícios de ser criança, de
Manoel de Barros, poeta contemporâneo. A obra contém dois textos escritos em prosa poética, cujos
títulos são: O menino que carregava água na peneira e A menina avoada. O primeiro texto vem nos
mostrar como nasce um poeta e sua total liberdade de criação no processo de fertilização das palavras. O
segundo poema convida-nos a embarcar nas fantasias e peraltagens das crianças, na simplicidade das
coisas ingênuas, mas de valor incalculável ao imaginário infanto-juvenil. Cada palavra proferida é
vertiginosa força, capaz de impulsionar a alavanca da imaginação (imagem + ação), tamanha a sua
claridade. Pelo caminho da linguagem mágica o poeta pantaneiro chega ao silêncio, que nós leitores,
deveremos preencher, através da comunicação implícita, em que o silêncio é fundante, ou seja, matéria
significante segundo Orlandi (2007). A pesquisa é o resultado do trabalho com crianças e jovens do
Subprojeto de Língua Portuguesa do PIBID da UNESPAR – Campus de Paranavaí, tendo como base as
práticas pedagógicas na Educação Básica. O programa é desenvolvido em quatro Colégios da rede
pública do município de Paranavaí. O referencial teórico proposto por Góes (2009), Cosson (2014),
Orlandi (2007), Paz (1982), Zilberman (2005), entre outros, foram fundamentais para o desenvolvimento
da pesquisa. O estudo foi dividido em três partes, que são respectivamente: I) O processo de leitura do
texto poético; II) A arte de fabricar brinquedos com palavras; III) Compreender como foram feitas as
ilustrações do livro, do trabalho da família Diniz Dumont, extremamente inovador, com desenhos
bordados.
Entre genocídios há sempre um bloco fosco de silêncio a evidenciar o trauma. Partindo da poesia de Paul
Celan, em sua confecção obscura, de costura singular de silêncios fosforescentes, procura-se abordar o
não-dito (além texto) marcado pela violência. Por intermédio do trauma expresso em poesia no silenciar,
investigamos as intersecções entre o silêncio-evidente da poética celaniana e o silenciamento centenário
das poéticas e culturas ameríndias no Brasil. Tais intersecções de silêncios são analisadas no ato de
traduzir: tomando-se o perspectivismo ameríndio proposto por Eduardo Viveiros de Castro também
como uma teoria de tradução, pesquisamos os possíveis pontos de contato entre Holocausto e genocídio
ameríndio, através de uma forma antropofágica (“tupinizada”) de tradução da poesia de Paul Celan. Ao
se problematizar o silêncio enquanto silenciamento, intenta-se investigar as possibilidades dos silêncios
poéticos traduzidos entre genocídios: pela tradução do que se cala, expor no silêncio o que é calado.
O presente trabalho tem como objetivo discutir a relação entre trauma e silêncio no romance Jerusalém
de Gonçalo M. Tavares. Acompanhando a forma do romance e o movimento das personagens que
povoam essa narrativa tavariana, acredita-se que o trauma e o silêncio estão atrelados à forma do
romance e juntos formam uma narrativa fragmentária, inquietante e bastante perturbadora, no sentido de
que ela explora as várias facetas da violência, do medo e da loucura decorrentes do trauma. Jerusalém
(2006) é o terceiro romance da série o Reino e, nessa obra, o narrador apresenta um emaranhado de
dramas individuais que se entrecruzam e que rompem com qualquer noção de linearidade. Em um
romance em que há personagens obcecadas pelo registro da memória ou flageladas pelo trauma, o
emaranhado narrativo, bem como o estilo fragmentado e os planos temporais sobrepostos sugerem
marcas de um experimentalismo literário que tenta recobrar, pela forma, as experiências traumáticas das
personagens. Gonçalo M. Tavares explora com bastante excelência todos os dramas de todas as
personagens que confluem para abordar três temáticas que as ligarão umas as outras: a violência, a dor e
o medo. O tratamento conferido à narrativa realça a ideia de uma memória coletiva do horror e do
absurdo. O silêncio, nesse sentido, cumpre um papel fundamental, na medida em que permite que a
experiência traumática indizível signifique e de que esses fragmentos de memória que se dispersam na
narrativa são unidos por um único elemento: as construções de silêncio no romance.
Este trabalho propõe analisar algumas estratégias da autoria-modelo presentes no livro Orgulho e
Preconceito de Jane Austen (2010), obra publicada em 1813 na Inglaterra, em um espaço narrativo
circundado de casamentos para enriquecimento e salvação da herança familiar. Nossa questão inicial é a
respeito de como são construídas as afirmações da voz narrativa, as quais às vezes não questionam as
ações descritas, mas que indiretamente fazem repensar o papel, a caracterização e as falas de alguns
personagens ao longo do enredo e, ao mesmo tempo, que podem, após cada diálogo dos personagens,
fazer com que o leitor retorne à afirmação inicial do narrador em sentido de questionar a verdade ali
presente. Isto é, nossa análise se estabelece em dois pontos principais: a voz do narrador aparentemente
sem opinião, num silêncio a respeito do que está ali dito, e os diálogos dos personagens e as ações ali
descritas, que, por sua vez, problematizam a estabilidade dessas afirmações. Como fundamentação
teórica, utilizamos o conceito de autor-modelo de Umberto Eco presente no livro Seis passeios pelos
bosques da ficção (1997) e o conceito de vazios de Iser (1979).
O presente trabalho possui como objetivo analisar a peça Bagatelas, da escritora americana Susan
Glaspell (1876-1948), ainda muito pouco conhecida no Brasil. Escrita e encenada pela primeira vez em
1916, esta peça se baseia no caso real do assassinato de um fazendeiro supostamente por sua mulher
reportado pela própria Glaspell enquanto trabalhava como jornalista para o jornal Des Moines News.
Mencionado pela escritora como algo que havia permanecido em sua memória, o caso foi por ela
revisitado através de uma lente literária, sendo utilizado para construir uma peça marcante e inovadora
em termos de temática e uso da forma. Bagatelas aborda o silêncio e a condição feminina na sociedade
patriarcal do início do século XX, e lida com a relação entre espaço público/masculino e espaço
privado/feminino. O estudo eficiente desta obra deve dar conta dos diálogos bem como da hesitação e
relutância das duas personagens femininas que, por receio e por não saberem como expressar o que
descobrem sobre a vida da mulher do fazendeiro assassinado, simplesmente se calam – ou seja, o que é
dito é tão importante quanto o que não é dito. A fim de analisar a peça em relação à forma e a temática
da experiência feminina e do silêncio, serão utilizados os trabalhos de Sander (2007), Gainor (2001),
Ben-Zvi (2005) e Ozieblio (1989), principalmente.
O presente trabalho tem como objetivo trabalhar as nuances de silêncio dentro da obra Lavoura Arcaica,
de Raduan Nassar. Pretende-se, a partir do levantamento dos principais pontos onde o silêncio se faz
presente, compreender de que modo a interiorização, a ausência, a fuga, o luto e o não dito podem
ressignificar e possibilitar interpretações que não estão disponíveis no patamar do texto escrito.
Observou-se que, em Lavoura Arcaica, o silêncio é, em sua origem e complexidade, fundante, pois que
constitutivo de sentido, propiciando inúmeras possibilidades de leituras e significados, haja vista o seu
caráter subjetivo e artístico. Contudo, a política do silêncio também está presente na obra. Nota-se,
então, que as palavras estão repletas de silêncio e quando, por exemplo, opta-se por dizer “sim” em
detrimento de “não”, há uma carga semântica que ressoa pela linha do tempo histórica, cultural e social,
culminando numa árvore genealógica (mas nem sempre da mesma família), pois que com galhos
dispersos, de sentidos.
Clarice Lispector contribuiu para a literatura brasileira por ter introduzido, já em seu primeiro romance, a
introspecção que tanto caracterizou seu fazer literário inovador, na medida em que se detinha mais nos
pensamentos e nas angústias interiores de suas personagens do que nas ações e diálogos travados entre
elas. Desse modo, a autora em questão consegue criar, em sua produção literária, uma forma de pensar-
se no disfarçado da palavra, buscando dizer o que é, muitas vezes, indizível. Nesse sentido, as
personagens têm grande dificuldades de se comunicarem quando colocadas em situações nas quais
devem interagir, ainda que inseridas em um ambiente familiar como é o caso do conto Laços de Família
que dá título ao livro de contos que consagrou Clarice Lispector como contista. Em decorrência desse
aparente fracasso comunicacional entre suas personagens, a autora recorre a recursos como o monólogo
interior, o fluxo de consciência e o próprio silêncio. Este último será o ponto de partida para nossa
análise, uma vez que o silêncio é uma grande estratégia da criação literária clariciana, na qual por meio
de uma experiência transcendente, preconizada pelo silêncio, a personagem consegue desvencilhar-se do
seu cotidiano e refletir sobre o seu estar no mundo e sua angústia interior. Assim, o silêncio seria tanto
uma forma de contato com a essência do ser, como também propiciaria uma força poética e imaginativa,
na medida em que permitiria ao leitor atribuir interpretação de sentido ao silêncio que, em Clarice
Lispector, grita mais que as palavras. Afim de abordarmos a temática do silêncio e da angústia, nos
valeremos, sobretudo, das ideias de Orlandi e de Heidegger.
A veracidade das histórias bíblicas acerca de Jesus Cristo - seu nascimento, sua pregação, sua morte e
ressureição - geralmente, é pouco questionada. As histórias são aceitas e respeitadas por todo aquele que
se denomina cristão, mesmo que surjam dúvidas e estranhezas, afinal, a Bíblia é soberana, e a Palavra de
Deus é verdadeira. Quem ousaria contestá-la? Quem a contesta é José Saramago, um escritor ateu que
utiliza como temática principal, em algumas de suas obras, a releitura de textos bíblicos, evidenciando a
figura de Deus a partir do ponto de vista de alguém que nele não acredita e que busca, em sua escrita,
descaracterizar a imagem de um Deus Criador, Bondoso e Soberano. Em O Evangelho Segundo Jesus
Cristo (1991), Deus é cruel, egocêntrico, tirano, egoísta e sanguinário; não se importa com a criatura
humana, apenas pretende utilizá-la para satisfazer as suas vontades mesquinhas. A descrença nas
histórias contadas na Bíblia parece ser uma forte característica desse autor. Em suas personagens,
percebe-se a influência clara de seu ceticismo e ateísmo, a ponto de, em alguns textos, divinizar o
homem e criaturizar Deus. A presença de Deus na obra de José Saramago é uma constante, e a crítica ao
cristianismo é feita de modo a utilizar, contra a própria Bíblia, fatos nela narrados, uma capacidade
inerente apenas a alguém que conhece, profundamente, a Teologia e as personagens bíblicas em geral. A
proposta neste artigo é analisar a partir das leituras teóricas de Eni Orlandi, Steiner e Nazio, dentre
outros, os muitos silêncios que permeiam o romance de José Saramago.
O silêncio não é apenas um estado que proporciona a ausência total de sons audíveis, assim como é
designado em vários dicionários ao contrário, o silêncio é capaz de conter muitos significados e de
significar muitas coisas, atos e ações que talvez não consigamos expressar ou identificar apenas por
palavras. Devido a isso o presente artigo tem como objetivo analisar o silêncio e seus significados dentro
do contexto da loucura presente na obra Jerusalém de Gonçalo M. Tavares. O silêncio dentro dessa obra
é peça fundamental para que consigamos interpretar algumas de suas partes, ele também é necessário
para que haja uma compreensão sobre alguns dos personagens principais da obra que possuem traços de
loucura como, as personagens Mylia, Ernest e Hinnerk, o silêncio ainda consegue caracterizar dentro da
obra o lugar em que os loucos habitavam denominado, o hospital George Rosenberg, sendo assim o
silêncio é indispensável para que possamos compreender mais profundamente sua importância dentro
sentimentos, ações e situações vividas pelos personagens dentro da trama.
A obra de Dalton Trevisan apresenta – ao menos a partir da década de 1990 – uma forte tendência ao
enxugamento formal, de modo que seus contos foram se tornando cada vez mais diminutos, como se o
escritor, em uma obsessão pelo mínimo essencial da linguagem, buscasse o silêncio diante da brutalidade
e mesquinhez da vida. Dessa maneira, este trabalho tem como propósito analisar alguns minicontos da
bibliografia trevisaniana, a saber: Ah, é? (1994), Pico na veia (2002), Arara bêbada (2004) e Desgracida
(2010). O foco principal, portanto, é verificar como a miniatura do conto remete a um efeito silenciador
e como se dá a construção de diálogos marcados por elipses significativas. Como aparato teórico,
observaremos as noções de “pontos de indeterminação”, estipulados por Roman Ingarden em A obra de
arte literária (1963), e de “lugares vazios”, de Wolfgang Iser, discutidos em O ato da leitura: uma teoria
do efeito estético (1999). Já para subsídios críticos, serão estabelecidos diálogos com as pesquisas de
Berta Waldman reunidas em Ensaios sobre a obra de Dalton Trevisan (2014).
O segundo romance de Clarice Lispector, "O lustre", publicado em 1946 e pouco comentado e
problematizado pela crítica até recentemente, onde trabalhos acadêmicos têm se debruçado, sob
diferentes perspectivas, na tentativa de decifrar seus mistérios e reacender a obra dentro do projeto
estético-literários da escritora, forja em seus movimentos narrativos, na figura da protagonista Virgínia e
numa estilística sinestésica o silêncio, fenômeno instaurado nas fronteiras entre o reino das palavras e
seus abismos inefáveis, ou seja, a fracassada e sublime demanda, nas palavras de Benedito Nunes, de
fixar pela linguagem aquilo que a ultrapassa e a transcende de sentido, posto que grandioso demais . Esta
comunicação pretende refletir acerca de como se manifesta e se concretiza n'O lustre o silêncio enquanto
categoria de análise literária, investigando como esse silêncio clariceano no romance em questão revela
uma profunda e indissociável ligação com a presença da estética impressionista, eminentemente
pictórica, na malha narrativa tecida pela jovem escritora e recém iniciada nas letras nacionais, Clarice
Lispector.
Este trabalho tem por objetivo analisar a questão do silêncio na obra poética de Emily Dickinson (1830-
1886) a partir de pressupostos da crítica literária feminista norte-americana sobre os papéis sociais de
homens e mulheres, em especial no contexto do século XIX, e sobre o uso do subtexto literário como
espaço de discussão desse contexto e, portanto, de transgressão. Mais especificamente, propomos a
leitura de poemas que versam sobre o silêncio como tema e que também se utilizam de recursos poéticos
para gerar espaços de silêncio no poema – como a elipse, o travessão e a economia lexical, marcas da
poesia dickinsoniana que colocam o silêncio como uma característica intrínseca de sua obra.
Acreditamos que, ao contrário de uma ausência de sentido, o silêncio em Emily Dickisnon se torna um
sistema de construção de sentidos, pois o que ela não diz é tão relevante quanto o que está explícito em
seus versos. Quando articulamos essa questão com a leitura da crítica literária feminista norte-americana,
verificamos que o silêncio é, na verdade, uma marca da autoria feminina uma vez que se constitui como
característica tradicionalmente relacionada ao conceito de feminilidade. Por isso, ao tratar do silêncio em
alguns de seus poemas e ao se utilizar de recursos gráficos que demarcam esse silêncio, acreditamos que
Emily Dickinson subverte a posição tradicionalmente feminina de seu contexto para se projetar como
poeta consciente do poder transgressor da palavra de romper com o silêncio e de protestar contra o
sistema patriarcal que nega à mulher a liberdade de expressar sua criatividade artística.
“Sentou, e segurando o cigarro, continuou calado, os olhos absortos, ausente da conversa”. O trecho,
retirado do conto À luz do lampeão, publicado originalmente em 1973 no livro O fim de tudo de Luiz
Vilela, apresenta o comportamento da personagem “o velho”. Esta pesquisa tem como objetivo
apresentar como se configura o silêncio da personagem do conto supracitado. Acreditamos que esse
silêncio desvelaria a subjetividade da personagem, a partir da revelação da comunicação escondida em
sua aparente ausência. Na elaboração deste trabalho, foi desenvolvida uma pesquisa do tipo
bibliográfica. Como aporte teórico, são utilizados, dentre outros, os estudos de Mikhail Bakhtin, Eni
Puccinelli Orlandi e Yvonélio Nery Ferreira. Observamos que o silêncio da personagem apresentado na
descrição de suas ações ao longo do conto se revelou como elemento constitutivo de sua identidade,
além de denunciar o deslocamento da posição social de “o velho” de figura respeitada para uma posição
marginalizada, sem voz.
Este trabalho tem por proposta dialogar com a obra do escritor espanhol Jorge Semprún, A Escrita ou a
vida, (1994), sob a ótica dos silêncios dentro da narrativa, buscando relações destes com a memória e o
esquecimento do narrador-sobrevivente. Semprún foi um sobrevivente do campo alemão de
Buchenwald, e foi somente depois de um intervalo de mais de quatro décadas que colocou no papel a
vivência dos quase dois anos que passou no referido campo. Segundo pensadores dos estudos da
memória, a melhor maneira de “esquecer” algo é pelo ato de narrar. Entretanto, em narrativas de
testemunho, como a de Jorge Semprún, os não ditos e os interditos falam muito sobre as vivências deste
narrador-sobrevivente, tornando assim “os silêncios” presentes na obra repleto de sentidos. Segundo o
narrador, o esquecimento era a solução para abster-se de toda explicação sobre o que presenciara no
campo. Escolheu, no momento da libertação, ser o silêncio do não dizer, não externando em palavras
suas ideias e experiências. Assim, a partir das reflexões já dialogadas na dissertação de mestrado
terminada ano passado, mas nem por isso encerradas, e acompanhadas de pensadores como Eni Orlandi
(1993) e Harald Weinrich (2001), pensaremos a obra em questão como um contínuo vai e vem de
esquecimentos e lembranças, mostrando que ela é mais que uma narrativa testemunhal: é uma obra de
arte na qual a poeticidade tem tanto peso e importância como as memórias registradas, e que o silêncio é
um terreno de múltiplos significados, e que pode dizer muito, ainda quando não se fala uma única
palavra.
Este trabalho propõe-se a examinar a importância dos silêncios e como estes se articulam por meio de
imagens no conto “I love my husband”, da autora Nélida Piñon. Sendo este um texto abundante em
marcas silenciadoras, pretende-se conferir prioridade à análise das imagens, extraindo fragmentos
sinalizadores de silêncios subjacentes às camadas opacas da narrativa, identificando os aspectos que,
artisticamente forjados, conferem à tessitura do conto sua peculiar beleza estética. Para tanto, buscar-se-á
garimpar os indícios de silêncios significativos mesclados às imagens, verificando como tais estruturas
oscilam entre as instâncias do visível e do não-visível, ajustando-se estrategicamente para exprimir
múltiplos sentidos no interior da trama. Dar-se-á especial atenção, portanto, às figuras de linguagem,
destacando os recursos que, no conto, comportam-se como cruciais operadores de silêncios, tais como
intertextualidade, ironia, metáfora, eufemismo, sinestesia, entre outros, os quais são entrecortados pelas
falas de uma narradora autodiegética, protagonista de uma realidade pessoal difusa, tediosa e
controversa.
Este artigo realiza uma leitura interpretativa das crônicas de Berna, escritas por Clarice Lispector e
publicadas no Jornal do Brasil, entre 1967 e 1973, com destaque para os temas do silêncio. Objetiva-se
demonstrar como a produção literária da escritora está vinculada a sua própria experiência de
deslocamento e segregação, representadas nos textos pelo recurso da ficcionalização de “enunciadores”
que transitam em um estado subjetivo de melancolia e vazio, não se identificando com o espaço
estrangeiro e com o outro que ali habita. Nas crônicas, a autora explora a percepção do espaço público
urbano, oferecendo um olhar que capta o cotidiano e o representa em um misto de “crônica de viagem”
com “reflexão lírica”. Berna será caracterizada como um “cemitério de sensações” e o espaço exterior
será marcado pelo vazio e pelo silêncio. Logo, as crônicas apresentam o ato de silenciar, que não
representam a ausência de linguagem, mas o excesso de sentido, que se espelha na tessitura literária,
constituída pela junção de frases fragmentadas, ocasionando vazios no próprio texto.
A proposta do presente trabalho é situar no romance A obscena Senhora D (1982) da escritora brasileira,
Hilda Hilst, elementos que comprovem sua ‘liricidade’. Outrossim, se objetiva expor configurações em
que o silêncio representa sentidos e significações. O silêncio referenciado como construtor de sentidos
dentro do romance, o silencia significa, ele carrega e movimenta o texto. O romance lírico ou gênero
híbrido mescla a prosa com a poesia, criando uma forma nova e única de fazer romance, de cunho mais
filosófico, busca a autenticidade do ser, em detrimento às frivolidades cotidianas, o questionamento
radical sobre o mundo, o significado das coisas em suas essências, assim como, o sentido do ser estar no
mundo. Método de pesquisa utilizado: análise do texto literário, considerando teorias acerca do romance
lírico e sua caracterização.
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CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
LEITURAS LITERÁRIAS
No final do século XVIII, a racionalização cultural e social ocidental dissolveu as formas de vida
tradicionais, configurando os tempos modernos e o reconhecimento da liberdade subjetiva dos
indivíduos. Sob todas as formas, o ocidente impõe o colonialismo, promovendo uma desarticulação nas
sociedades africanas. Como reação à vertiginosa transformação do mundo moderno e à tentativa de
destruição dos velhos padrões sociais, os colonizadores apropriaram-se do trabalho ideológico de
“invenção da tradição” com objetivo de promover uma continuidade entre o passado e o presente da
sociedade, numa estratégia de subversão/dominação. Contudo, a tradição se perpetua entre as gerações,
configurando uma dupla tradição: africana versus europeia. Sob este prisma, este trabalho tem como
objetivo analisar o conflito entre a tradição e a modernidade em Tiara (1999), de Filomena Embaló, onde
coloca em cena a juventude guerrilheira guineense na luta pela libertação, e sua pertinência em
assumir/transgredir a tradição.
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CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
LEITURAS LITERÁRIAS
Tendo em vista a Lei 10.639/03, alterou a Lei 9.394/96, estabelecendo a temática da “História e Cultura
Afro-brasileira” em âmbito nacional e obrigatoriamente incluída no currículo oficial da Rede de Ensino,
torna-se necessário a compreensão de como a figura do negro e sua cultura vem sendo representada no
ambiente escolar. Assim, esta dissertação tem por objetivo analisar os acervos do Programa Nacional
Biblioteca na Escola, disponibilizados na rede pública de ensino, de 2010 a 2015, para os anos finais do
Ensino Fundamental, avaliando se as obras literárias selecionadas reforçam representações identitárias
pautadas em concepções redutoras, preconceituosas e/ou estereotipadas da cultura negra ou auxiliam na
sua emancipação. Para tanto, será feito um levantamento das obras que abordam esta temática e,
posteriormente, será selecionada uma obra, mediante ficha avaliativa, considerando quatro requisitos:
gênero literário, representação do sujeito africano e/ou afrodescendente, ilustração e público alvo. A
partir desta narrativa, será elaborada uma Sequência Didática Expandida, a partir da proposta de
letramento literário, de Rildo Cosson (2014), para alunos do 9º. ano do Ensino Fundamental.
Considerando este aporte teórico, serão organizadas atividades multimídias e multimodais com o
software JClic, assim como a sua divulgação em rede, através de uma página em hipertexto,
possibilitando não apenas o estudo da obra como manifestação historicamente situada estimulando a
leitura literária, mas também implementando o letramento literário baseado em práticas sociais reais.
Com a finalidade de dar sequência ao trabalho iniciado pela SESIL – Sociedade Editora do Santa Inês
Ltda (1962) -, a Ática lançou-se no mercado brasileiro como uma empresa de livros didáticos,
revolucionando o setor livreiro ao focalizar seus interesses na relação indissociável entre alunos e
professores. Através de uma abordagem diferenciada, os exemplares ganharam um formato mais
dinâmico e interativo, aproximando o seu público do material escolar. Para tanto, a fim de expandir sua
produção, séries literárias de sucesso são produzidas, como: Para Gostar de Ler, Vagalume e Bom Livro.
Seguindo nesta esteira, no ano de 1979 iniciou-se a elaboração de uma coletânea de livros literários
africanos, dirigida por Fernando A. A. Mourão: a Coleção Autores Africanos. Ao todo, foram editadas
27 obras de escritores expressivos, tais como: Luandino Vieira, Chinua Achebe, Pepetela, Arnaldo
Santos, Uanhenga Xitu, entre outros. Desta maneira, almeja-se discutir a importância desta antologia
para o (re)conhecimento das literaturas africanas no Brasil, visto que foi a primeira seleção orgânica de
leitura literária para muitos profissionais da então recente área de estudos.
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CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
LEITURAS LITERÁRIAS
O Movimento Negro, enquanto expressão legítima da cultura afro-brasileira, também tem se mostrado
profundamente arraigado na Literatura afro-brasileira. Essa literatura rompe o discurso da cultura oficial,
manifesta-se como um elemento de resistência à marginalização social e celebra o reencontro das raízes,
da ancestralidade e da memória cultural africana. Sob várias formas, essa literatura reflete e organiza a
consciência social do negro brasileiro, não somente o social, mas também o político e a sua religiosidade
que não se desarraiga dessa matriz, refletindo as inquietações, as reivindicações, as buscas de
alternativas e o sentimento de mundo, que se espraiam por todos os recantos da vida de indivíduos,
famílias, grupos e classes. As ações do Movimento Negro angariaram espaços e, consequentemente,
divulgação em outras mídias como as redes sociais. Esses ambientes virtuais se tornaram espaços de
visibilidade e de ensino, posto que alcançam a produção e a crítica de autores que se tornam conhecidos
e divulgados por essas plataformas digitais como o Facebook. Tais espaços oportunizam especialmente
que haja a expressão literária sem as amarras editoriais, proporcionando, inclusive, a divulgação da
produção a um número maior de leitores. Tendo em vista o exposto, a intenção deste trabalho é
vislumbrar a poesia e a prosa de Mel Adun (Salvador-BA), Alex Ratts (Goiânia-GO), Silvana Martins
(Florianópolis-SC) e Henrique Cunha Junior (Fortaleza-CE). Tais autores (as) também atuam como
críticos literários. Os/As escritores (as), serão cotejados nas análises das obras que têm sido publicadas
na referida mídia eletrônica.
Levando em conta a formação do leitor, pelo contato com alguns gêneros textuais literários, almejamos
propiciar aos alunos, durante o desenvolvimento do projeto, a inserção em uma esfera (SCHNEUWLY,
2004) que contribua para a formação crítica dos discentes, a partir da leitura literária das crônicas de
Cidinha da Silva, que traz como discussão o preconceito racial, e a produção escrita do gênero crônica.
Com o propósito de desenvolver um projeto leitura e produção de texto em uma turma de segundo ano
do Ensino Médio, em uma escola pública de periferia, que leve em conta os multiletramentos no meio
digital, esta pesquisa apresenta os seguintes objetivos: a) unificar o trabalho como literatura, análise
linguística e produção de texto em sala de aula; b) propor um projeto sobre as tecnologias como
ferramenta de ensino da literatura afro-brasileira; c) construir, com base nas leituras da crônicas de
Cidinha da Silva, uma sequência didática do gênero crônica, o qual utilizaremos como suporte o blog
para verificarmos a interferência da tecnologia no processo de aprender e ensinar. O facebook também
será usado como suporte para a leitura das crônicas de Cidinha da Silva. Esta pesquisa é de caráter
interventivo, interpretativo, qualitativo e como suporte teórico para análise dos dados pautamo-nos em
Geraldi (1995), Kleiman (2004), Soares (2009). No que se refere à sequência didática do gênero crônica
nos embasamos nos fundamentos teóricos-metodológicos do Interacionismo Sócio-discursivo
(BRONCKART, 2003, 2006; 2008) e na sua proposta de engenharia didática (SCHNEUWLY; DOLZ,
2004). E em Moura (2012) sobre práticas de letramento literário e multiletramentos.
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CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
LEITURAS LITERÁRIAS
A proposta deste artigo se destina a observar no blog “Nossa escrevivência”, de Conceição Evaristo, e na
página “Quilombhoje” que, referencia as produções poéticas da autora Esmeralda Ribeiro, a questão do
ponto de vista do sujeito afro-brasileiro. Verificar-se-á no trabalho estético, como as produtoras de arte
manipulam a linguagem, com vistas a cunhar a resistência das comunidades negras em reverter ao
esquema de silenciamento, ao racismo, de forma a desenhar a altivez dos povos que mantiveram acesa a
memória de seus ancestrais. Evidências contraditórias ao sistema patriarcal, arraigado no pensamento
social brasileiro, cuja dominação, exercida pelo homem branco, se enraíza em atitudes que abrangem as
questões de gênero, a de crença na inferioridade racial, legados do sistema escravista. Essa instituição
infiltrou-se, inclusive, na esfera política e tem acumulado circunstâncias de exclusão e segregação social
da mulher. Para abordagem dessas ideias, investigar-se-á a estruturação das páginas virtuais, como
fontes reveladoras de marcas identitárias e, além disso, elencar-se-á fragmentos de duas composições: o
conto “Olhos d’água”, de Conceição Evaristo, e a poesia “Ressurgir das cinzas”, de Esmeralda Ribeiro,
analisando nas tramas, a humanidade afro-descendente emanada dos versos. Ato subversivo, de
engajamento político, de combate ao esquema de inferiorização, com objetivo de (re)construção da
dignificação identitária do povo negro.
O presente artigo trata das possíveis relações entre a literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea e
a questão das relações étnico-raciais, destacando aspectos relacionados à crítica à discriminação racial e
combate ao racismo, bem como à representação da personagem afro-descendente nesta produção
literária. O encontro entre a literatura infanto-juvenil e as relações étnico-raciais resulta num complexo
conjunto de manifestações artístico-literárias, que engloba desde obras que tematizam o universo da
cultura africana e afro-brasileira ou que tematizam o preconceito racial diante a realidade social
contemporânea, até obras que tratam da escravidão e suas representações, da identidade negra e da
diversidade cultural do Brasil, entre outras. Trata-se, além disso, de uma discussão que pressupõe um
agenciamento resultante da conscientização da identidade negra, discutida no contexto normativo da lei
10.639/03. Diante desse quadro, caberia perguntar tanto acerca da natureza de uma literatura infanto-
juvenil especialmente vinculadas à questão étnico-racial, procedimento que encontra sua melhor resposta
na análise e interpretação da atual produção literária infantil e juvenil. Finalmente, o presente estudo
buscou discutir a ocorrência, na atual produção literária infanto-juvenil brasileira, de uma perspectiva
crítica que, de modo variado, denuncia atos de discriminação implícita ou explícita, ainda presentes de
forma crôncia na sociedade brasileira. Para este estudo, foram pesquisadas quatro escolas sediadas na
cidade de São Paulo, tendo sido aplicado um questionário, contendo quinze perguntas, a sessenta
professores da Educação Básica da rede pública e privada.
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CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO BÁSICA:
LEITURAS LITERÁRIAS
Os estudos sobre a literatura africana e afro-brasileira são recentes e muitos deles centram-se na
literatura adulta, deixando a literatura infantil e juvenil relegada a um segundo plano. Com a criação da
Lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003, essa literatura passou a fazer parte dos contextos escolares em seus
diferentes níveis. Na Educação Básica, muitos professores sentem dificuldade para desenvolverem um
bom trabalho, centrando-se na reflexão acerca do preconceito apenas. Como forma de ampliar o estudo
da literatura africana em contexto escolar, desenvolveu-se uma atividade na disciplina de literatura
Infantil e Juvenil, com a turma do 2º ano de Letras Português da Universidade Estadual do Paraná
(Unespar) com o objetivo de apresentar uma proposta de trabalho com os contos presentes na obra “O
segredo das tranças e outras histórias africanas”, de Rogério Andrade Barbosa. As propostas foram
diversificadas e suscitaram a discussão de alguns aspectos, como: a riqueza do imaginário; a presença
forte e bem marcada da cultura popular africana; as diferenças e semelhanças que podem ser levantadas
com textos da literatura infantil que conhecemos. Diante dessas considerações, este trabalho visa
apresentar uma reflexão feita sobre o ensino de literatura infantil e juvenil africana, no contexto escolar
brasileiro, destacando-se para isso as metodologias estudadas, dentre as quais o método recepcional.
A Educação se pauta na formação integral dos alunos e, para tanto, a preocupação com a cidadania deve
voltar seus olhos aos valores essenciais à vida em sociedade: o respeito e a liberdade. Dentre os fatores
que levam à desordem social estão o preconceito e a discriminação. Esses elementos revelam uma
formação desvirtuada dos cidadãos, que excluem ou até mesmo se excluem com base em estereótipos
inculcados por uma educação equivocada. Nesta proposta, num recorte atento às diversidades, volta-se o
olhar à Lei 10639/03, onde a recuperação de elementos formadores da cultura brasileira é um ponto que
merece destaque, sobretudo no que se refere à presença cultural africana. As marcas da escravidão foram
se reproduzindo nos bancos escolares, formando cidadãos e profissionais com uma visão desfocada, sob
o equívoco das generalizações e do preconceito. Dentre essas ideias preconceituosas já provenientes dos
antropólogos e outros estudiosos da área, a sombra da opressão colonialista ainda ronda a sociedade
brasileira que, em sua formação, é doutrinada a excluir os que fogem aos padrões estabelecidos pela
elite. A proposta de uma metodologia de ensino voltada à educação básica, em que teatro e literatura se
fundem para expressar as vozes dos afrodescendentes, sufocadas nas entrelinhas na maioria dos textos
literários, visa buscar alternativas na Educação para minimizar este problema da violência moral e
ressaltar o universo maravilhoso africano presente na cultura brasileira.
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DA CRÍTICA LITERÁRIA NO JORNAL PARA A CRÍTICA MIDIÁTICA:
PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
Simpósio 32: Da crítica literária no jornal para a crítica midiática: processos de canonização
O presente trabalho investiga a constituição do Sistema Literário Brasileiro do século XIX, buscando
entender a relação autor/obra/leitor nesse período, no qual jovens autores publicavam em folhetins seus
primeiros escritos. Vamos nos limitar a percorrer os caminhos de Machado de Assis, autor com uma
bibliografia vasta e alvo de muitas pesquisas, o que não limita as possibilidades de novas investigações,
principalmente, quando analisamos os folhetins em que circulavam suas obras. Assim, o corpus, deste
trabalho, é formado por textos não só de ficção publicados em folhetins, mas também dos diversos
gêneros textuais que os constituíam, pois acreditamos que podem fornecer informações importantes
sobre o momento da produção literária. Entre eles: A Estação, periódico feminino quinzenal de moda, no
qual Machado de Assis colaborou por dezenove anos, entre 1879 e 1898; A Semana, periódico semanal
com publicações aos sábados de 1885 a 1985, que divulgava textos de autores renomados e de novos
talentos. Como suporte teórico, recorremos a Candido (2002 e 2006); a Teixeira (2010); Chartier (2014),
entre outros. A investigação à A Estação, possibilitou-nos perceber que, possivelmente, os textos
publicados por Machado de Assis, nesse veículo, teriam um público “certo”: o feminino. Já em A
Semana, descobrimos que o folhetim promovia Plebiscitos literários, nos quais os leitores do jornal
respondiam a questões sobre suas preferências literárias e que Machado de Assis sempre estava entre os
melhores, na opinião dos leitores “comuns” desse folhetim.
O romance, quando surgiu, foi classificado como um gênero menor. Para se consolidar, abordava
temáticas moralizantes. Nesse contexto, a discussão sobre o gênero em um espaço reservado à crítica de
inúmeros títulos teve papel fundamental na imprensa periódica. Diante do exposto, este trabalho objetiva
analisar o material crítico acerca da obra Fabiola (1854) e para tanto, analisaremos notas, artigos, entre
outros aparatos críticos relacionados ao romance em tela, que foi veiculado nos seguintes jornais: o
Cruzeiro do Brasil (18bb- 1877), A Estrella do Norte (1863-1869), O Diário de São Paulo (1865-1878),
Correio Paulistano (1854-1942), Constitucional-RJ(1862-1864) e O Apostolo(1866-1901). Destacamos
ainda, que a imprensa periódica foi, ao longo do século XIX, um espaço privilegiado para divulgação de
romances publicados em série, como também foi lugar para inúmeros debates relacionados ao contexto
social, político e religioso. A referida obra, diferente das desaconselhadas pelos detratores do romance,
foi baseada em exemplos positivos de moral e virtude. Para embasar nosso aporte teórico-crítico
usaremos os trabalhos de Chartier (1999) e Abreu (2006).
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DA CRÍTICA LITERÁRIA NO JORNAL PARA A CRÍTICA MIDIÁTICA:
PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
No cenário das polêmicas que marcaram o início do século XX no Brasil, a figura de Antônio Torres
(1885-1934) dominará a década de 1920. Escritor dos mais lidos em sua época, Torres colaborou nos
principais jornais da imprensa carioca, como O Paiz, A Notícia, Jornal do Commercio, A Noite, A
Crítica, A Manhã, Última Hora e Correio da Manhã, onde publicou artigos e crônicas que despertaram a
atenção do público pela ousadia e irreverência com que defendia as suas idéias. Entre 1920 e 1925, o
autor mineiro publicou quatro livros, que tiveram grande repercussão e vendagem: Correspondência de
João Episcopo (com Adoasto de Godói). Verdades indiscretas, Pasquinadas cariocas, Prós & contras e
As razões da Inconfidência. Entre as vítimas de predileção de Antônio Torres estavam a Igreja
Positivista, o culto a Benjamin Constant, João do Rio, Antônio Austregésilo, Felinto de Almeida, Gilka
Machado, além dos portugueses, pelos quais nutria visceral aversão ou “tamancofobia”, nos termos do
autor. Para efeito desta comunicação, as crônicas reunidas no livro Pasquinadas cariocas, publicado pela
editora A. J. Castilho, do Rio de Janeiro, serão objeto das considerações sobre um dos vetores
dominantes da crítica mordaz de Antônio Torres: a Academia Brasileira de Letras.
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DA CRÍTICA LITERÁRIA NO JORNAL PARA A CRÍTICA MIDIÁTICA:
PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
Em O livro e a leitura no Brasil (2006), Alessandra El Far destaca o importante papel que as tipografias
tiveram para o desenvolvimento do mercado editorial nacional durante o século XIX e reafirma a
importância desses estabelecimentos ao destacar que muitos escritores que hoje compõem nosso cânone
literário tiveram suas primeiras obras impressas pelos seus prelos – e não pelo selo editorial de uma
grande livraria. Entre iniciativas particulares e sociedades, destacam-se as tipografias cuja principal
atividade era a publicação de periódicos, mas que, em suas horas ociosas, realizavam a impressão de
outros materiais, incluindo obras literárias. Sãos os casos das tipografias do Diário do Rio de Janeiro,
que em 1863 publicou Teatro de Machado de Assis, da Gazeta de Notícias, responsável pela impressão
de O Ateneu de Raul Pompéia em 1888, e do Jornal do Commercio, que publicou em 1857 A nebulosa
de Joaquim Manuel de Macedo. Nessa comunicação, buscaremos refletir, a partir das obras literárias
publicadas pela tipografia do Jornal do Commercio e anunciadas pelo jornal entre 1827 e 1865, qual
seria a atuação dessas tipografias do XIX nos processos de canonização de obras e autores.
Considerando que as publicações realizadas pelas tipografias em certo período não apenas influenciavam
na formação de um gosto literário (Bourdieu e Darbel, 2007), mas também estavam condicionadas ao
gosto de determinado público, buscaremos compreender se o sucesso editorial de uma obra literária,
observado por repetidos anúncios e reimpressões, caminharia junto a um reconhecimento institucional ou
se o reconhecimento institucional que motivaria a publicação de uma obra e seu sucesso junto ao
público.
O jornal paulistano O Estado de S. Paulo, fundado em 1875 sob o título A Província de S. Paulo e ainda
em circulação, relaciona-se de modo interessante com os temas culturais de um modo geral. Abordando
inicialmente tais temas em colunas publicadas de forma esparsa, como a “Palcos e Circos”, e
patrocinando publicações culturais para além de suas páginas, como a Revista do Brasil, em 1956 o
jornal lançou seu primeiro caderno essencialmente dedicado à Literatura, o “Suplemento Literário”, cuja
circulação se deu de forma semanal até 1974, ininterruptamente. A partir destas informações
preliminares, este trabalho pretende apresentar um panorama do contexto de surgimento e circulação,
bem como das principais transformações ocorridas nos suplementos do jornal O Estado de S. Paulo entre
os anos de 1956 a 1977. Para isso, pretende-se analisar a relação do jornal com os temas culturais, em
geral e, de maneira mais específica, descrever o “Suplemento Literário” (1956-1974), apontando suas
principais características tanto estruturais quanto temáticas, o “Suplemento do Centenário” (1975-1976),
que é o caderno imediatamente sucessor ao “Suplemento Literário” e de caráter mais histórico e
retrospectivo, e, finalmente, o primeiro ano de circulação do “Suplemento Cultural”, que, encerrada a
fase das comemorações ao centenário de existência do jornal, tornou-se o caderno que, na sequência
cronológica, retoma os debates das questões não só literárias, mas também culturais.
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DA CRÍTICA LITERÁRIA NO JORNAL PARA A CRÍTICA MIDIÁTICA:
PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
Este trabalho tem como objetivo analisar as obras do escritor sulmatogrossense Lino Villachá, a fim de
divulgar a fortuna crítica do mesmo, pouco difundida no campo literário e ao mesmo tempo dialogar
com o moderno e o contemporâneo. Após um levantamento geral de textos críticos sobre a obra do
poeta, decidiu-se optar como corpus do trabalho , os traços modernistas presentes na obra villachaniana,
que foge ao estereótipo ufanista da literatura sulmatogrossense. Como suporte teórico, utiliza-se as ideias
discutidas por Benedito Nunes e Marcos Siscar, respectivamente nos artigos “A recente poesia
brasileira” e “ A cisma da poesia”. No primeiro trabalho, Benedito faz um levantamento no que diz
respeito a expressão e a forma nos anos 80, além de ressaltar o privilégio de determinadas obras literárias
que atendem aos padrões estéticos,o que não acontece na literatura de Lino, e dos transtornos da vida
cultural e das ideias que determinam a prática da poesia. O teórico também discorre sobre as conquistas
do modernismo, tais como o verso livre, mistura entre elevado e vulgar ,coloquialismo,humor e imagens-
choques,fatores que contribuíram para estabelecer uma consciência criadora e atualizar a linguagem
artística no país,segundo Mário de Andrade. Já em “A cisma da poesia”, Marcos Siscar apresenta a
literatura marginal, e de como esta consegue se estabelecer no mercado editorial, sendo difundida.
Levando em consideração a particularidade da poética de Lino Villachá na esfera da literatura
sulmatogrossense , o objetivo deste trabalho é reunir toda a fortuna crítica do poeta,dialogando com o
moderno e o contemporâneo.
O objetivo deste estudo é refletir sobre a recepção crítica do romance Os retirantes, do jornalista José do
Patrocínio, à época de sua publicação, primeiramente em folhetins no ano de 1879, tanto nos periódicos,
como um suporte privilegiado de difusão da literatura no século XIX, como nos livros de história da
literatura. Fruto de apontamentos recolhidos por Patrocínio ao longo de sua estadia na cidade de
Fortaleza no ano de 1878, o folhetim, escrito sob o tom jornalístico de denúncia social, típico do autor,
procurou representar, através da ficção, o fenômeno da seca que assolava o antigo Norte da época. Nesse
sentido, considerou-se a contribuição de autores da imprensa oitocentita, Araripe Júnior, Silvio Romero,
José Veríssimo, Roger Chartier, Márcia Abreu, Valéria Augusti entre outros, pensando e refletindo como
esses discursos foram decisivos e forjaram o esquecimento e/ou apagamento de Patrocínio enquanto
literato nas mais diversas instâncias que filtram traduzem ou que atribuem juízo de valor a uma obra
através dos tempos.
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DA CRÍTICA LITERÁRIA NO JORNAL PARA A CRÍTICA MIDIÁTICA:
PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
Analisar, definir e/ou sintetizar a narrativa ficcional brasileira contemporânea hoje é uma empreitada
complexa que exige critérios para demarcar os limites espaciotemporais, o reconhecimento e o
destrinchamento de variantes. Investir nessa reflexão quando se está dentro desses limites é temerário
mas, ao mesmo tempo, necessário. Temerário porque de um lado a proximidade temporal entre autor e
leitor favorece a identificação, o que pode levar a conclusões precipitadas – o risco é permanente. Por
outro lado, a tentação de apreender a narrativa brasileira dos tempos atuais leva não só à tentativa de
categorizar a produção literária, mas também à busca por nomes representativos de projetos estéticos
e/ou práticas textuais. Diante desse contexto de multiplicidade da produção ficcional brasileira dos anos
1990 até os nossos dias um dos temas que tem se destacado é a da representação da realidade marginal e
periférica. Trazendo para o centro da discussão os excluídos sociais, a literatura marginal encerra no
ponto de vista interno e na própria origem social dos autores o seu fator de reconhecimento, criando, não
raro, uma escritura de testemunho, bem como um espaço de valorização da cultura da periferia. São
algumas vozes da crítica literária em torno da literatura promovida por autores ditos marginais o que se
propõe a discutir.
Geralmente quando pesquisamos sobre as relações literárias entre Brasil e Hispano-américa encontramos
a ênfase na distância e no desconhecimento que há entre essas zonas geográficas. Os exemplos mais
notáveis são os de Ligia Vasallo (2011), que destaca a distância histórica mantida pelo tratado de
Tordesilhas e a pouca presença da literatura brasileira na Hispano-américa na atualidade, e o de Ana
Pizarro (2004) que enfatiza os “desencuentros y vacíos” na comunicação entre esses universos culturais
e linguísticos. No entanto, a descoberta de ensaios sobre literatura e arte brasileiras da escritora hispano-
paraguaia Josefina Plá, publicados no jornal La Tribuna de Assunção nos anos 50’, traz uma nova
perspectiva para esse diálogo entre nossas literaturas. Além de analisar autores hoje considerados
canônicos, a autora fala de escritores menos conhecidos hoje, como por exemplo Gilka Machado. Este
trabalho tem o objetivo de dar a conhecer esses textos de Josefina Plá e iniciar um diálogo destes com a
tradição da crítica literária brasileira e latino-americana, na tentativa de verificar até que ponto esses
textos podem colaborar para pensar as relações literárias entre Brasil e os outros países da América
Latina. Permitindo, inclusive, a hipótese de que há um contato muito maior entre nossos países, mas que
esse contato está oculto em jornais e não necessariamente a disposição da crítica. Além disso, pode-se
pensar que pelo fato de ser publicados em um jornal de grande circulação, essas relações, ao menos entre
Paraguai e Brasil, são muito mais difundidas do que costumamos afirmar. Pretende-se assim repensar a
recepção de nossas literaturas e traçar suas características.
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DA CRÍTICA LITERÁRIA NO JORNAL PARA A CRÍTICA MIDIÁTICA:
PROCESSOS DE CANONIZAÇÃO
O estudo consiste em analisar as posturas assumidas pela ensaísta Eneida Maria de Souza no panorama
da crítica literária atual. Entenda-se por postura, conceito do teórico suíço Jérôme Meizoz, como maneira
singular de escritores e intelectuais ocuparem uma posição no campo da literatura. Mediante o
levantamento de entrevistas publicadas na internet, bem como a leitura de alguns livros, dentre os quais,
destacam-se Crítica Cult (2007), Tempo de Pós-Crítica (2012) e Janelas Indiscretas (2011), buscou-se
investigar o modo como Eneida Souza compreende o exercício da crítica literária e o próprio lugar que
ocupa nesse sistema. Almejou-se, também, perceber como a autora projeta uma imagem de si nos
espaços midiáticos, ao se utilizar de certos mecanismos para sua legitimação nas esferas culturais e
intelectuais das quais participa, construindo uma assinatura, uma dicção própria que procura, hoje,
agregar manifestações não somente literárias, mas políticas, sociais e populares, de modo que diversos
interesses e tendências se cruzam.
Atualmente, além dos livros de crítica literária publicados por editoras e vendidos em livrarias, há a
emergência da internet nesse campo, com a prática da escrita crítica em blogs e sites que se configuram
como suportes de amplo alcance e disseminadores de temas diversos. Somada (e unida) à multiplicidade
da sociedade em rede, e muito anterior a ela está a experiência acadêmica, cujas produções, registradas
em dissertações, teses, resenhas, ensaios e artigos, fornecem um amplo material crítico hoje
imediatamente disponibilizado na internet. Tomados esses dois pontos, internet e universidade, ambos
sob o signo da expansão, acrescentamos mais um: a emergência (ou o desrecalcamento) da figura do
poeta-crítico frente à crítica literária brasileira tradicional. Sensível à crise da crítica em sua função
eminentemente mediadora encontra-se a atividade do poeta-crítico, pautada em diversas produções
recentes que se utilizam da internet como suporte e junto à universidade que, como espaço de
desenvolvimento e troca incessante de ideias, tem fomentado as suas iniciativas, visto que há um grande
número de acadêmicos que exercem a crítica literária e são também poetas (e vice-versa, isto é, poetas
que atuam como críticos e são professores universitários). Internet e universidade atualmente se
encontram imbricadas quando o tema é a crítica literária realizada por poetas, especialmente quando o
assunto dessa crítica é a poesia contemporânea. A proposta dessa comunicação é abrir o debate sobre a
conjuntura atual da crítica literária, tendo como foco as relações entre internet, universidade e a tradição
do poeta-crítico no Brasil.
E. T. A. Hoffmann foi um escritor que representou os medos do século XIX. Neste século, o homem se
encontrava enfastiado com as ideias realistas, e o fantástico no qual o alemão se insere configura-se
como uma resposta à “pretensão iluminista de pôr o sensato por cima de tudo” (CESAROTTO, 1987 p.
110). Tendo o gótico esgotado as criaturas sobrenaturais mais conhecidas, o século XIX carecia de uma
inquietação que representasse o indivíduo da época. Entra, neste contexto, o autômato mecânico. É com
Hoffmann que sua configuração toma os devidos aspectos sinistros, inaugurando, desta forma, um
tratamento próprio. Além da conhecida boneca Olímpia, do conto “O Homem da Areia” (1815), temos o
boneco Turco, que, no conto “Os autômatos” (1817), perturba dois jovens com dizeres oraculares. O
boneco animado de Hoffmann habita entre terrenos paradoxais: o do ambicioso avanço científico da
época e o da crença primitiva no sobrenatural. Unindo-os, pode-se visualizar o medo do homem do
século XIX: de que a própria ciência tomasse aspectos sinistros. A presente pesquisa propõe efetivar
análise do conto “Os autômatos” de E. T. A. Hoffmann, descrito por Oscar Cesarotto como “um tratado
sobre as máquinas” (p. 147), sob a ótica da modalidade fantástica. Desta forma, pretende-se elucidar a
posição deste no fantástico do século XIX por meio de um de seus intérpretes, analisando o
funcionamento da hesitação sinistra na figura desta criatura que habita o panteão do medo do século
XIX.
O projeto literário desenvolvido pelo escritor estadunidense Nathaniel Hawthorne foi indelevelmente
marcado pela aguda crítica ao costumes e práticas das comunidades puritanas do século XVII. Obras
como A letra escarlate (1850) e A casa das sete cumeeiras (1851) se notabilizaram ao problematizar as
tentativas de consolidação prática dos ideias utópicos trazidos da Europa por esse grupo de sectários.
Nesse contexto de criação e criticidade, o conto “O Jovem Goodman Brown” (1835) apresenta uma
característica peculiar da bibliografia do autor que se repete em textos posteriores: o gênero fantástico é
operacionalizado na narrativa como instrumento de tomada de consciência e amadurecimento do
protagonista, o que potencializa a dimensão retórica da obra. Ao longo desse processo epifânico, o
caráter distópico da vila puritana de Salém é exposto pelas relações de seus membros com elementos e
criaturas aparentemente sobrenaturais. No entanto, a incredulidade do protagonista no comprometimento
da santidade de seu meio social produz a hesitação prevista por Tzvetan Todorov e que, devido ao grau
de abertura do texto em nível semântico, jamais se encerra. Contudo, ainda que o leitor - e a própria
personagem - não consiga oferecer uma explicação definitiva para os acontecimentos narrados, a crítica
social já foi efetivamente realizada e absorvida. Tendo em vista esses apontamentos, o presente trabalho
objetiva analisar a forma pela qual o efeito fantástico no conto engloba temas como o mito do herói e a
imaginação utópica, mobilizando discussões de cunho ético, moral e religioso.
O presente artigo procura articular a construção da mitologia de Cthulhu com as propostas teóricas de
Giorgio Agamben sobre a testemunha, o testemunhado e o lugar do testemunho em dois contos do
escritor estadunidense Howard Phillips Lovecraft, Nas Montanhas da Loucura e A Cor que Caiu do Céu.
Suas propostas aparecerão tecendo uma base para que as entidades inomináveis da mitologia de
Lovecraft sejam percebidas e reestruturadas em seus ambientes. As percepções dessas criaturas como
seres de outra realidade, exilados de seu planeta natal, ganham um novo sentido quando as descobertas
de que na verdade eles vieram antes da raça humana vão sendo reveladas aos personagens. O ambiente
místico em que se passam as narrativas amplia também a percepção do objeto estético empregado por
Lovecraft em sua mitologia, a crença naquelas entidades ganha forma conforme os relatos são
demonstrados, e o que um dia transpareceu como o que vem de fora, é mostrado agora como o que já
estava interno. Auxiliando nessa investida, Walter Benjamin traz para esse artigo algumas perspectivas
quanto ao narrador e suas funções no texto, o qual será articulado com a forma narrativa que Lovecraft
escolhe apresentar suas obras, e na forma de recepção onde esse mecanismo de linguagem é recebido
pelo leitor, propondo uma análise mais centrada na manipulação com que a forma de relato dos contos é
apresentado ao leitor. O medo do inominável e do incompreensível é o que carrega a obra lovecraftiana,
e o exercício de tentar testemunhar esse medo por um viés teórico é o que rege esse trabalho.
O presente trabalho tem como objetivo discutir as estratégias discursivas utilizadas para a construção do
sujeito pós-moderno na obra O Conto da Ilha Desconhecida (1998), do escritor português José
Saramago, focando em reflexões sobre o homem pós-moderno e suas inquietações. A metodologia
escolhida para esta pesquisa foi através de levantamento bibliográfico, perpassando pelas figuras da
alegoria, metáfora, o símbolo e identificando características do Pós – modernismo vivenciados na obra.
Retrata a trajetória de um simples súdito, que vai à procura do rei na esperança de conseguir um barco
para ir a busca de uma ilha desconhecida. Apesar de todos os impasses, ele não desistiu dos seus
objetivos e acaba influenciando algumas pessoas. Saramago utiliza-se de recursos estilísticos como a
metáfora, a alegoria e o símbolo para fazer uma crítica implícita aos níveis da sociedade, utilizando
personagens anônimos, mas com alto poder de decisão, que podem ser facilmente substituídos por
qualquer um de nós. Esta pesquisa não teve intenção de encontrar conclusões, mas considerações que
merecem reflexão: o homem pós-moderno também deverá buscar se libertar dos pesos e cobranças que a
sociedade impõe, se permitindo conhecer um pouco mais, lançar-se ao mar (a vida) de forma corajosa e
inquietante, deixando de lado a passividade aos acontecimentos do dia a dia. Conclui-se que, o homem
pós-moderno em momento algum, deve desistir dos seus sonhos e objetivos, obstáculos sempre haverá,
mas que seja encarado como um sujeito desafiador.
O Romantismo no Brasil não se configurou como uma reação ao ideal clássico, tal como ocorrera nos
países europeus. Essa característica permitiu que os autores brasileiros do século XIX pudessem se ver
como continuadores de uma literatura nacional, iniciada no século anterior, apoiados na imagem
idealizada do índio e da terra, elementos que, no intuito romântico de representar o país, tornaram-se os
pilares dos primeiros anos do movimento literário em nossa terra. Isso, por outro lado, fez com que a
literatura de horror fantástico, celebrada no estrangeiro com um Hoffmann ou um Poe, ficasse
essencialmente às margens do todo produzido no Brasil do século retrasado, sobretudo na primeira
metade. Uma das exceções à regra encontramos em Fagundes Varela – ele próprio mais poeta do que
prosador –, que escreveu pequenas histórias de horror ambientadas em solo brasileiro, algo um tanto
diferente do que fizera, anos antes, Álvares de Azevedo. Assim, nossa proposta é fazer algumas
considerações acerca das peculiaridades narrativas dessas obras, ressaltando as possíveis reverberações
de dentro e de fora do país, entre as quais se insere de modo um pouco mais evidente, apesar da
realização diversa, a Noite na Taverna.
A presente comunicação aborda o romance Fronteira, publicado em 1935, de Cornélio Penna, a partir
das representações de um processo criativo que aproveita elementos do gênero fantástico (TODOROV,
2007; CORTÁZAR, 2006; ROAS, 2014) na ficção do autor. Investigaremos como a focalização
narrativa conturbada contribui para a presença do impossível/insólito. A realidade empírica encontra no
fantástico um espaço de fragilidade; pois, no fantástico, a realidade é uma ficção que, muitas vezes,
ultrapassa o paralelo empírico de forma direta e cada indivíduo possui uma representação imaginária
daquilo que “vê”. Os limites fixos entre natural/possível versus sobrenatural/impossível são
flexibilizados no romance o que amplia a ambiguidade em relação à caracterização das personagens
centrais da narrativa. A proposta aborda a construção de uma narrativa ambígua perceptível na
linguagem, na focalização narrativa, na caracterização dos personagens e na representação mimética do
espaço interiorano, na primeira metade do século XX. Entendemos, por fim, que o espaço inventivo e a
ambiguidade do romance contribuem para a ambientação de Cornélio Penna ao contexto historiográfico
modernista no Brasil. Com a pesquisa contribuímos para a discussão da obra de Cornélio Penna, com a
preocupação de valorizar traços constitutivos de sua narrativa. Colaboramos também, para a valorização
do autor, ao focalizar um romance pouco conhecido do público em geral e, com isso, favorecer a
constante revisão da historiografia literária, em especial, a do escritor Cornélio Penna.
Este trabalho pretende discutir concepções do gênero fantástico, especialmente alguns aspectos que são
essenciais, a saber: a irrupção do sobrenatural em um mundo familiar, a questão da ambiguidade que
envolve o gênero, o medo e o terror como elementos para a configuração do fantástico na literatura. Para
realização deste estudo selecionamos a narrativa “Sem olhos” do escritor Machado de Assis, texto
publicado originalmente no Jornal das Famílias, dezembro de 1876. Machado de Assis revela interesse
pela narrativa fantástica já em suas primeiras produções literárias, linha que percorrerá vários de seus
textos a exemplo de “O País das Quimeras” (1862 no Futuro), “Uma excursão milagrosa” (1866), “Um
esqueleto”, (Jornal das Famílias, 1875), “Sem olhos” (1876), “A chinela turca” (Papéis avulsos, 1882),
“Entre santos” (1886), “Ideias do canário” (Páginas Recolhidas, 1899), entre outras. A narrativa “Sem
olhos” pode ser inserida no domínio do fantástico porque há elementos que a aproximam desse gênero,
conforme veremos. Para a realização desta proposta abordaremos diversas concepções de literatura
fantástica com base nos estudos desenvolvidos por T. Todorov, H. P. Lovecraft, Filipe Furtado, José
Paulo Paes, Remo Ceserani, David Roas, entre outros. Além do gênero fantástico abordaremos as
relações dialógicas entre o texto machadiano e o mito de Tirésias. Para tanto, apresentaremos os estudos
acerca da intertextualidade literária desenvolvidos por J. Kristeva, Gérard Genette, entre outros.
José J. Veiga, em grande parte das produções literárias que engendrou, teceu as categorias narrativas de
modo a sugerir a ambivalência espacial (real/irreal) e a cumplicidade do narrador (ausência de
estranhamento) diante do ilógico, a fim de criar um universo híbrido quanto à imbricação de veracidade
e imaginário. Valeu-se, assim, do elemento sobrenatural em profusão, mas com enfoques e realizações
diferentes ao combinar o fantástico tradicional, o fantástico gótico, o maravilhoso e o realismo-
maravilhoso. Narrativas de Veiga, por vezes, enfatizam a dúvida diante do insólito, no papel dos
personagens ou da focalização assumida, sugerem o terror e aludem ao medo, revelam lugares cujas leis
naturais são intrínsecas àqueles contextos de ficção ou criam espaços e seres realistas com acepções
sobrenaturais. Por meio de análises temático-formais pretendidas neste trabalho será possível averiguar a
tessitura do escritor goiano quanto à hesitação diante do insólito, defendida por Todorov (1970) como
essencial à configuração do fantástico literário, os efeitos de temor frente aos eventos fantásticos,
sistematizados por Lovecraft (1965), as mirabilias oníricas tão bem delimitadas por Bessière (1974) e a
realidade empírica repleta de maravilhas, originária do universo latino americano, conforme Carpentier
(1949) e os preceitos de Chiampi (1980) e Roas (2011). Em Cavalinhos de Platiplanto (1959) e no
romance Sombra de reis barbudos (1972), a singularidade da urdidura do insólito veigueano pode ser
descortinada e trazida a profícuas reflexões com vistas, inclusive, da percepção dos variados sentidos de
cunho social, existencial e metanarrativo nas entrelinhas das obras.
Diante das teorias dos intelectuais: Todorov, Ceserani e Louis Vax, acerca do Fantástico, é perceptível
que no romance Dona Flor e Seus Dois Maridos, escrito pelo baiano Jorge Amado, há uma personagem
central que desafia a própria morte e transforma-se no elemento-chave durante toda a narrativa – no
caso, o personagem Vadinho. Jorge Amado utiliza em seu romance a realidade humana atrelada ao
sobrenatural para ser a espinha dorsal de sua narrativa e, obviamente, isso desencadeia o clima do
insólito e, consequentemente, o discurso fantástico. A presente análise incide na mobilidade vida e morte
(tanto morte física como metafísica); e, passado e presente do malandro Vadinho que morre em pleno
carnaval de Salvador, mas que retorna – como espírito/fantasma – para satisfazer o desejo sexual de sua
mulher, Dona Flor. Este estudo ainda objetiva discutir a erotização de Vadinho, visto que não é comum o
escritor Jorge Amado atribuir com tamanha ênfase essa característica para seus personagens masculinos.
Similarmente aos contos de fadas tradicionais, a irrupção do maravilhoso constitui importante categoria
a ser destacada na dimensão composicional dos textos-enunciados pertencentes ao gênero conto de fadas
contemporâneo. Entretanto, se, como destaca Tolkien (2006), nos contos de fadas tradicionais,
configura-se a noção de Belo Reino, nos contos contemporâneos, tal noção sobrevive na ambivalência
discursiva. Em outras palavras, nos contos tradicionais, a irrupção do maravilhoso possui função
consoladora, recuperadora e compensatória (BETTELHEIM, 2007; ECO, 2004; MICHELLI, 2012;
TOLKIEN, 2006). Em contrapartida, nos contos de fadas contemporâneos, a irrupção do maravilhoso,
refletindo e refratando a fragmentação e liquidez da sociedade pós-moderna, ora esfacela o Belo Reino,
ora o recria, conferindo-lhe “uma nova roupagem linguística e ficcional”. (MICHELLI, 2012, p. 132).
Este trabalho objetiva, portanto, refletir sobre a irrupção do maravilhoso nos contos de fadas
contemporâneos, um gênero discursivo secundário híbrido, que emerge das condições sócio-histórico-
culturais do tempo-espaço da pós-modernidade, um cronotopo de profunda angústia existencial, no qual
se busca, incessantemente, ressignificar a efêmera existência humana. Tal como o romance operou um
corte na linearidade épica, instaurando o devir, o vir-a-ser – a evolução, o conto de fadas contemporâneo
esfacelou o mundo maravilhoso/ideal retratado nos contos de fadas tradicionais, no qual há “nenhum
lugar para o inacabado, para o que não está resolvido, nem para a problemática”. (BAKHTIN, 1993a, p.
408). O conto de fadas contemporâneo, então, é um dos gêneros que melhor representa o homem do
cronotopo atual.
A narrativa fantástica, forma que constitui um simulacro do universo cotidiano do leitor, proporciona
uma experiência imaginária dos limites da razão. Não se caracteriza somente pelo seu sentido de crítica
restritamente social, mas pelo sentido de que a obra contesta a si própria, contestando as convenções que
a tornaram possível. Dentre os teóricos que procuraram estudar o gênero, propomos discutir neste
trabalho algumas das noções defendidas sobretudo por Todorov (1975), Bessière (1974), e Finné (1980),
com o propósito de analisar a narrativa juvenil brasileira “A maldição do Olhar” (2008), de Jorge Miguel
Marinho, sob a ótica do fantástico. A obra relata a história de Alexandre, o Alê, um vampiro, e de Alice,
a garota “do país das maravilhas”, presa no espelho do guarda-roupa do quarto de Alê. Os personagens
vivem em clima de medo causado pelo extermínio das criaturas marcadas pela diferença que ocorre na
sociedade constituída na narrativa. É possível verificar que, embora o vampiro faça parte desse universo,
não é a sua presença que torna a narrativa inquietante. Os elementos fantásticos presentes no mundo
narrado não pertencem ao cotidiano dos personagens e provocam nestes o efeito de abalo, que faz com
que haja a busca por explicações racionais para as situações apresentadas, desafiado, assim, as fronteiras
entre o real e o imaginário e pluralizando os sentidos do motivo fantástico do vampiro.
Possivelmente seja na infância ou na adolescência que o leitor esteja mais disposto a aceitar o insólito na
literatura; época em que a construção do sujeito pode atravessar diversos textos que dialoguem com a
busca por uma identidade. Com vistas nessa busca, Teresa Colomer (2003) afirma que a “formação
literária das crianças e dos adolescentes de nossa sociedade produz-se através da leitura de textos de
ficção”, o que torna interessante observar que tipo de texto está direcionado a essa faixa etária de
leitores. Partindo dessas considerações, tornou-se pertinente analisar uma obra indicada pelo Programa
Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) que provavelmente estivesse em conformidade com o interesse
juvenil, assim, a obra “O Chamado do Monstro”, escrita por Patrick Ness e publicada em 2011 pela
editora Ática, mostrou-se como um texto que fornece traços do fantástico e do hiper-realismo em seu
enredo que são capazes de agradar ao jovem leitor. Desse modo, esse artigo busca apresentar algumas
reflexões acerca das marcas formais e temáticas que revelam as facetas desses modelos ficcionais
presentes nessa narrativa. Portanto, o estudo está fundamentado em pesquisadores que apresentam
reflexões sobre o hiper-realismo e o fantástico/insólito, assim como apontamentos acerca da literatura
juvenil, tais como: Roas (2014); Lewis (2009); Kothe (1994); Petit (2009); Colomer (2003) dentre
outros. Tendo em vista o papel da literatura no processo de formação do sujeito, indispensável se torna a
pesquisa que objetiva ampliar suas reflexões acerca das temáticas que pululam a leitura juvenil.
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A Literatura pode ser adaptada para o Cinema? Pode-se escrever um livro a partir de um filme? Em Uma
teoria da adaptação (2013), Linda Hutcheon demonstra como o contato entre esses dois campos
semióticos tem sido estimulado pelas condições pós-modernas da arte. Antonio CANDIDO (1998)
explica que a personagem de ficção pode ser palmilhada, observada e interpretada de maneira mais
profunda do que qualquer pessoa real. Os sentidos resultantes de uma imaginação ativa se multiplicam
depois de registrados por uma escrita que soube preservar a fértil imprecisão das palavras. No Cinema, a
maior dificuldade está no fato de se partir de uma exterioridade pura. Impossibilitado de filmar
pensamentos e sentimentos dos personagens, o cineasta só poderá lançar mão das aparências ou dos
jogos de câmera. Essa materialidade que distancia o signo literário do cinematográfico já convenceu
muitos críticos da impossibilidade de levar a semiose literária para o Cinema ou transportar o processo
criativo do Cinema para o literário. As objeções de Christian METZ (1972) à crítica de Cinema
perspectivada pela linguagem, as posições de PLAZA (2010) sobre a intraduzibilidade do signo estético
e as considerações de Denilson LOPES (2010) e Hernan ULM e Adalberto MÜLLER (2015)
demonstram a necessidade de se considerar qual o alcance de uma atividade comparativa. A taxionomia
do Cinema feita por DELEUZE (1999) redefine o conceito de pensamento justificando a tentativa que se
faz de compreender em que patamar se devem encarar as adaptações.
O presente trabalho propõe um diálogo interartístico entre o livro Dom Casmurro (1899), de Machado de
Assis e a microssérie Capitu (2008), dirigida por Luiz Fernando Carvalho, levando em consideração a
seguinte abordagem: a primeira, refere-se à afirmação de que a adaptação materializa, na TV brasileira, a
contabilização de todas leituras e releituras críticas da obra machadiana. Portanto, atende às premissas de
Linda Hutcheon, que em seu livro Uma teoria da adaptação (2013), afirma que o processo de
(re)interpretação de uma obra implica uma (re)criação, na qual estão implícitas as tensões ideológicas do
tempo da leitura. Esse processo adaptativo é analisado com base na estética comparada de Étienne
Souriau, desenvolvida em seu livro A correspondência das Artes: Elementos da Estética Comparada
(1969), no qual é proposto uma reflexão filosófica a partir do fenômeno estético como um todo. Os
estudos do filósofo francês propõem um confronto entre as diversas obras e estabelece um sistema de
investigação de correspondência entre as artes, a fim de revelar similitudes secretas entre estas. Desta
maneira, o presente trabalho busca, a partir da análise da cena final da microssérie, identificar em Capitu
(2008) alguns pontos de convergência e conformidades estéticas, estabelecendo um paralelo entre as
construções imagéticas da microssérie e a escritura ambígua de Machado de Assis no livro em Dom
Casmurro (1899).
Pasolini transpõe algumas estratégias do texto literário de Giovanni Boccaccio e dez de suas novelas
para o discurso audiovisual, porém dispensa a moldura narrativa principal, cuja força reside, segundo
Erich Auerbach, na forma social que engendra o ponto de vista das novelas. O cineasta utiliza a
mediação da cultura popular, salvaguardando a vitalidade desta tanto quanto preserva a capacidade do
Decameron de lidar com a variedade de fontes da tradição literária e oral. A organicidade do filme é
compreendida a partir da recriação de histórias-moldura para produzir dois blocos cheios de sentido. Os
irmãos Taviani transcriam cinco novelas com destaque para as condições sob as quais são transmitidas
como histórias contadas, ou seja, os diretores da recente produção valorizam a moldura narrativa e as
ações de seus protagonistas, a saber, dez jovens nobres cujo cotidiano moroso em meio aos horrores da
peste é preenchido com a alegria das novelas, com o senso de humanidade e beleza que lhes fazia falta.
Este trabalho investiga a estrutura das adaptações como transcriações, assim como examina a vertigem
criativa dos episódios que entrelaçam situações, pontos de vista e tipos trazidos da obra de Boccaccio
para os filmes, capazes de atualizar sua linhagem de referências com consciência do presente das
filmagens.
O artigo tem com objetivo analisar o processo de adaptação do livro Budapeste, de Chico Buarque, para
o filme homônimo que tem direção de Walter Carvalho. A narrativa conta a história de José Costa, um
GhostWriter, ou seja, um “escritor-fantasma” que escreve livros que serão publicados no nome de outras
pessoas. Morador do Rio de Janeiro, Costa acaba tendo um pouso de emergência na cidade de
Budapeste, na Hungria, durante uma viagem internacional. E é nessa cidade, onde ele perde a autoridade
sobre o que mais domina, a palavra, que o personagem entra em um processo diferenciado de embate
entre si e o outro. Além disso, esse acontecimento também leva à exploração de um constante
deslocamento espacial do personagem, que passa a transitar entre Rio e Budapeste. Assim, propõe-se
refletir sobre de que maneira livro e filme abordam essas relações de alteridade e esses deslocamentos,
buscando-se fundamentação teórica na “teoria da adaptação” de Linda Hutcheon - que considera a
adaptação não apenas como produto final, mas também como processo, ou seja, algo em movimento –;
na proposta de metodologia de Robert Stam – que elenca como elementos de abordagem “personagens”,
“permutas e modificações da história”, “autoria” e “contexto”; e no entrecruzamento de autores que
abordam questões de alteridade e espaço na contemporaneidade como Eric Landowski e Marc Augé.
Nessa travessia entre palavras e imagens, tela e papel, é possível observar que as temáticas da alteridade
e do deslocamento ganham novas perspectivas, que ressignificam elementos da narrativa, ampliando o
sentido do texto para o leitor/espectador.
Este trabalho faz uma reflexão sobre o processo de (re)criação do herói latino-americano, tanto no filme
Diários de Motocicleta (2004), dirigido pelo brasileiro Walter Salles, quanto na obra literária em língua
espanhola Diarios de Motocicleta (2005), que é uma compilação de trechos do diário de viagem do
jovem Ernesto Che Guevara quando saiu de moto da Argentina até a Venezuela com seu amigo Alberto
Granado, em 1952. A versão literária é, portanto, posterior à obra fílmica, sendo organizada para que
seja uma adaptação/tradução do filme, contendo ademais um prefácio escrito por Aleida Guevara, que é
filha de Che, trazendo uma visão ainda mais humanizada do guerrilheiro, antes que se inicie a leitura de
suas notas de viagem, selecionadas cuidadosamente. Note-se que em ambas as mídias ocorre uma
adaptação, (re)criação, transcriação, ou tradução de uma obra original, de acordo com teóricos como
Linda Hutcheon, Robert Stam, Julio Plaza e Humberto de Campos. Pode-se perceber ainda que Walter
Salles, ao fazer um recorte temporal da vida de Che, seleciona um momento em que a juventude e o que
pode remeter a ela - a esperança, a amizade, a lealdade, o espírito aventureiro, entre outros – estão
presentes na vida dele no auge de seus vinte e poucos anos, contribuindo para a construção da empatia
com o espectador. Busca-se com essas observações acercas das obras, enfatizar a forma como o cinema e
a literatura dialogam e recorrem a um enredo cuidadosamente convincente para apresentar uma
personagem em uma face até então desconhecida pelo grande público.
Em O beijo da mulher aranha, Manuel Puig nos apresenta a dois personagens, Molina e Valentín, presos
em uma cela. Nesse espaço, Molina se põe a contar histórias – mais precisamente filmes vistos por ele –
ao seu companheiro, ora como modo de alívio da realidade a que estão submetidos os protagonistas, ora
como estratégia de sedução. Em sua teia narrativa, Molina (re)cria filmes, constituindo-se, então, em um
adaptador da materialidade da imagem cinematográfica à palavra. Assim, o que se propõe neste artigo é
apresentar o exercício adaptativo do cinema para a palavra em O beijo da mulher aranha. Para isso, será
feito um corte específico em três dos seis filmes (re)criados e narrados por Molina: “A mulher pantera”,
“A mulher zumbi” e “Destino”. A escolha dessas histórias parte do princípio de que todas compartilham
de características estéticas comuns tanto ao cinema norteamericano clássico quanto às produções de
baixo orçamento das décadas de 1930-1940 – um cinema de predileção do próprio autor argentino. Logo,
para melhor examinar o exercício adaptatório, apresentar-se-ão as teorias da adaptação levantadas por
Robert Stam (2006) e Linda Hutcheon (2013).
Linda Hutcheon em seu livro Uma Teoria da Adaptação traz uma nova perspectiva aos estudos de
adaptação ao afirmar que adaptações devem ser consideradas como adaptações, observando tanto sua
revisitação de uma obra passada quanto sua originalidade. Com base nas discussões levantadas por Linda
Hutcheon, o presente trabalho propõe uma análise de elementos narrativos do filme Sherlock Holmes
(2009), da série Sherlock (2010–) e da série Elementary (2012–) considerando tanto as referências que
elas trazem das narrativas de Arthur Conan Doyle quanto sua originalidade. O personagem Sherlock
Holmes, criado por Arthur Conan Doyle, é um objeto interessante para os estudos de adaptação, pois
além de ser um dos personagens literários mais adaptados para os diferentes meios, apresenta
singularidades em relação às suas adaptações. Muitas características atribuídas ao personagem (como a
capa e o chapéu, e a frase “Elementar, meu caro Watson”) foram adicionadas ao personagem criado por
Doyle em posteriores adaptações, e são consideradas parte do universo do personagem. Além disso,
alguns fãs de Holmes participam de uma ficção conhecida como “Grand Game”, que estabelece
elementos possíveis no universo de Holmes e é determinante na reação do público a novas adaptações.
As adaptações mais recentes de Sherlock Holmes estudadas nesse trabalho recontextualizam o
personagem e adicionam ao texto elementos contemporâneos, gerando diferentes reações no público e na
crítica. Elas não só refletem as adaptações anteriores, mas também geraram conteúdo entre os fãs
(fanfiction), compondo uma complexa teia de referências.
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Esta comunicação propõe uma análise da forma como a escritora inglesa Jane Austen passou a ser, na
última década, a personagem de filmes e romances biográficos-ficcionais, e não mais somente a autora
de romances que foram adaptados para a TV e cinema. Essa transformação da autora em personagem
está intimamente ligada com a produção cinematográfica da década de 1990, especialmente com a
versão de 1995 da BBC para o seu romance mais famoso, ‘Orgulho e Preconceito’, responsável pela
reconfiguração da sua obra como um conto de fadas Regencial ou um romance romântico e sentimental,
além de ter insuflado a obsessão atual com a personagem de Mr. Darcy (a ‘Darcymania’). O resultado
dessa reconfiguração pode ser observado pelas diversas continuações, variações e paródias literárias de
‘Orgulho e Preconceito’ que reproduzem a interpretação divulgada pelo seriado como a “verdade” sobre
o romance, em uma relação incomum entre literatura e outras mídias: estamos acostumados com a ideia
de romances sendo base para filmes e seriados, mas aqui ocorreu o inverso, uma adaptação para a TV se
tornou a fundação de uma nova interpretação para um romance escrito quase duzentos anos antes. O
sucesso dessa adaptação garantiu também a fama da autora, a ‘Austenmania’ atual, que é responsável
pela apropriação da autora como personagem de romances românticos sobre sua vida mas que tentam
conectá-la com as histórias de suas obras. Assim, essa proposta pretende analisar o filme ‘Becoming
Jane’ (2007) e o romance ‘Jane by the Sea’ (2015) para discutir essa relação complexa entre obra
literária e sua adaptação cinematográfica e seus efeitos sobre a imagem do autor.
Inserido no intrincado campo de pesquisa das relações mútuas entre literatura e cinema, este trabalho
tem como objeto de estudo o roteiro não filmado O Imponderável Bento contra o crioulo voador (1990),
criação original de Joaquim Pedro de Andrade, um dos expoentes do Cinema Novo. Participando da
discussão a respeito do estatuto do roteiro – se literatura ou não –, pretende-se, aqui, analisar essa
espécie de misto de roteiro cinematográfico com novela literária, ressaltando-se o seu evidente cuidado
para com a palavra e seu método nada ortodoxo de composição, com raras indicações técnicas de
câmera, abandono dos tradicionais cabeçalhos de cada sequência e a preferência, muitas vezes, pelo
discurso indireto em lugar do direto. Ademais, pretende-se observar de que maneira as palavras de O
Imponderável Bento podem contribuir para iluminar as imagens dos filmes de Joaquim Pedro, uma vez
que esse roteiro não filmado guarda muitos traços em comum com a filmografia do cineasta, como, a
ironia, o humor, o sublinhar da hipocrisia das relações interpessoais, o interesse pela tradição cultural
brasileira e a investigação da identidade nacional.
Esta comunicação pretende cotejar o movimento apreendido pela poética do cineasta Luiz Fernando
Carvalho, com o trabalho realizado pelo escritor e roteirista Marçal Aquino em suas parcerias fílmicas
com os diretores Beto Brant e Heitor Dhalia. É importante ressaltar que Carvalho mobiliza
procedimentos cinematográficos dentro da especificidade e dos recursos da televisão, apresentando-nos,
em suas realizações finais, um produto que pode ser tratado e analisado a partir das teorias fílmicas.
Dessa forma, nossa proposta busca estabelecer, entre ambos, relações quase antagônicas: Carvalho, que é
cineasta, concebe o roteiro com características próximas ao texto literário, enquanto que Aquino,
escritor, concebe o roteiro mais parecido com uma partitura cinematográfica. Dessa forma, interessa-nos
examinar a maneira como, dentro da produção contemporânea, o objeto roteiro, por meio de uma
configuração textual que se mostra intercambiável e passível de dialogar dentro do cânone literário,
parece ganhar um novo estatuto. Para tanto, buscaremos problematizar e revisitar estudos existentes
sobre as especificidades da literatura e do roteiro, a partir da contribuição do conceito de
intermidialidade, tanto o que vem sendo estudado pela perspectiva da teoria semiótica francesa, como o
que sustenta as reflexões sobre o tema nos estudos transmidiáticos, visando à compreensão do roteiro
como gênero complementar para o estudo de obras literárias transpostas para outros meios.
É inegável que literatura e cinema caminham juntos há mais de um século, pois a sétima arte mostrou-se
influenciada pela literatura através do aproveitamento de textos ficcionais desde o princípio. A sensação
de veracidade transmitida pelo cinema pode ser considerada um fenômeno de muitas consequências
estéticas. Diz respeito a uma realidade (ficção) que provém do próprio espectador, das projeções e
identificações mescladas à sua percepção do filme. Assim, este trabalho tem por objetivo expor algumas
relações entre cinema e literatura abrangendo, especialmente, a adaptação fílmica. Antigamente, a
indagação de estudiosos era quanto à fidedignidade apresentada ao transcodificar um romance, um conto
ou outra obra literária para a linguagem fílmica. Agora se fala em obras independentes, intertextualidade,
texto de segundo grau, tradução intersemiótica. Diante desse estudo percebemos que para a transmutação
de formas não é necessária (nem possível) a fidelidade total à obra original. O que se deve esperar de
uma obra traduzida para o cinema é a inspiração, o intertexto ou um trabalho meramente baseado nela.
Para corroborar tais afirmações, são mostradas as conjunções, disjunções e transmutações ocorridas em
um fragmento de texto da obra queirosiana O Primo Basílio (1878) ao ser transformado em obra
cinematográfica por Daniel Filho (2007). Vemos traduções do romance para o roteiro e,
consequentemente, para a filmagem. Assim, é possível ilustrar e comparar as linguagens literária e
fílmica, como também mostrar o processo de tradução intersemiótica entre as linguagens. Para tanto
contamos com a bibliografia sobre o assunto, bem como a análise dos textos fílmico e literário.
Traçar a genealogia de uma história é uma tarefa presumida quando abordamos as adaptações fílmicas e
as relações, muitas vezes conflitivas, entre o Cinema e a Literatura, entre a tela e o texto, entre a imagem
e o papel. No caminho inverso ao esperado e mais frequente entre as duas artes, a do movimento e a da
palavra, Como agua para chocolate, obra da mexicana Laura Esquivel, surge para o público como um
romance em 1989, chegando à tela grande apenas quatro anos mais tarde, em 1993. A narrativa,
entretanto, surgiu primeiramente como um roteiro para o cinema; por falta de recursos, a autora termina
por ser ver-se compelida a adaptá-lo ao papel. Quais seriam, então, as passagens secretas construídas
para que o processo se realizasse, alcançando o êxito que obteve em suas expressões? Para tentar
desvendá-las, o presente trabalho busca percorrer na contramão o trajeto de passagem/ tradução/
transcrição literária-fílmica da obra em questão, analisando suas implicações tanto para a linguagem
cinematográfica quanto para a literária, tendo em vista as peculiaridades de cada uma delas em suas duas
formas de expressão artística.
Palavras-chave: Relações entre cinema e literatura, Como água para chocolate, Adaptação fílmica
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A partir de um olhar semiótico-comparativo entre filme de Bruno Barreto e livro de Jorge Amado,
elegendo como eixo analítico as receitas culinárias de Dona Flor, pretendeu-se evidenciar as ocorrências
sígnicas presentes nos ingredientes e nos modos (ritos) de preparo dos pratos. Para isso, foram
selecionados trechos da narrativa e suas sequencias correspondentes no filme: o velório de Vadinho; a
moqueca de siri mole, o cágado guisado e os quitutes para desfazer rixas entre orixás. Considerando o
complexo fenômeno da adaptação da linguagem literária para a linguagem fílmica, foi possível destacar
elementos peculiares para uma leitura semiótica da relação texto/imagem, dentre eles: os mitos, ritos,
símbolos, índices e ícones dos campos semânticos do luto, do erotismo, da masturbação e do misticismo
do candomblé. Em torno das receitas de Dona Flor, há associações conotativas marcantes entre os
componentes dos pratos e os desejos, gostos, sabores e odores das partes do corpo, entre o modo de
preparo e o ato sexual, assim como dos estados psicofísicos das personagens. Esta abordagem encontra
respaldo nos pressupostos teóricos da Estrutura Ausente, de Umberto Eco, do Obvio e Obtuso, de
Roland Barthes e da Linguagem e Cinema, de Christian Metz.
Para Di Moretti, premiado roteirista brasileiro, é imprescindível a presença poética na arte de escrever
roteiros cinematográficos. O bom roteiro quer seja ele de um filme de ficção ou de um documentário
descritivo é aquele que cultiva a sensibilidade humana e ela deve ser prioridade em sua elaboração. Este
trabalho visa analisar os recursos poéticos utilizados em três documentários roteirizados por Di Moretti:
O Velho (1998) – documentário sobre a vida do militante Luís Carlos Prestes em que houve necessidade
de criar empatia do público com o entrevistado e para isso foram utilizados elementos poéticos
específicos; Tropicália (2012) - documentário sobre um período crítico e curto da vida brasileira, de
1967 a 1972. O momento histórico e os artistas nele inseridos por si só exalam poesia; Dominguinhos
(2014) – este filme mostra através da arte muito mais do que o famoso sanfoneiro de ritmos nordestinos
brasileiros ou herdeiro de Luís Gonzaga. Sendo assim, pretendemos mostrar através desses três
documentários, o estilo criativo da descrição narrativa lançado por Di Moretti e aperfeiçoado na
montagem cinematográfica. A partir dessas reflexões, é possível avaliar até que ponto os elementos
ficcionais imagéticos, inseridos pelo roteirista para contar as respectivas histórias interferem no
documentário como um reflexo poético da realidade.
Esta apresentação tem o objetivo de analisar a construção do protagonista no conto A Hora e a Vez de
Augusto Matraga (1946), de João Guimarães Rosa e no filme de mesmo título, de Vinicius Coimba
(2011). Para essa análise, levaremos em conta as considerações de Walnice Nogueira Galvão
(Mitológica Rosiana, 1978) sobre os nomes de Augusto e seu significado na saga de redenção vivida
pela personagem no conto e no filme. Para Walnice, são três os nomes de Augusto: Matraga – o nome
mítico, da memória popular; Esteves – o nome social, de família e patrimônio, ainda que perdido e Nhô
Augusto – o nome individual, do homem em suas demandas pessoais, no momento da vivência do
processo de tornar-se o que é. A nossa perspectiva aponta para o movimento de espiral que faz com que
as identidades do protagonista se alternem e retornem, de modo a problematizar, quando não subverter,
os preceitos de arrependimento, fé e redenção. Nossa abordagem sustentará que tanto o conto como o
filme investem na construção de uma identidade múltipla para o protagonista.
Este trabalho procura analisar as relações entre o romance Lavoura Arcaica (1975), de Raduan Nassar, e
o filme homônimo de 2001, dirigido por Luiz Fernando Carvalho. Procura-se observar a sintonia entre o
livro e o filme, isto é, o modo como o diretor traduz as opções do escritor, especialmente no que diz
respeito à narração: as repetições do livro e as simetrias do filme; a distinção de tom do narrador quando
inserido no drama e quando evoca o passado; a forma como o texto e o filme expõem a tensão da voz
inserida no conflito e a serenidade da voz que o rememora; o modo como estes tons distintos
correspondem à revolta e à reconciliação, abarcando o discurso da liberdade e da regra, da
passionalidade e da tradição, unificando por fim a oposição entre o afeto e austeridade, o lado materno e
paterno da família. Em suma, busca-se compreender como a literatura e o cinema se valem de recursos
específicos para conferir determinados sentidos à narrativa, em especial o modo como se desdobra a
condição do narrador ou a voz deste como foco da enunciação.
Gritos e Sussurros (1972) é um filme que se assemelha muito mais a uma representação de um estado de
alma do que propriamente uma história a ser narrada dentro dos princípios tradicionais do cinema, uma
vez que retrata, a partir de um contexto de doença terminal, as emoções e os segredos das protagonistas a
partir do cromatismo do vermelho. De maneira similar, o romance Uma Duas (2011), de Eliane Brum,
utiliza-se da cor vermelha em seu livro para simbolizar o sangue derramado ao longo da narrativa,
simbolizando, além da tentativa de se separar da mãe, violências físicas sofridas e autoinflingidas.
Assim, a partir da famosa cena da mutilação genital e da amamentação – presentes na obra de Bergman e
representadas de maneira semelhante na obra de Brum – e tendo como convergência a representação da
figura da mulher, a mutilação e o cromatismo vermelho, a análise investigará de que maneira esses
elementos são representados nas obras cinematográfica e literária, respeitando os recursos próprios de
cada intermídia.
O objetivo deste artigo é averiguar como o roteiro cinematográfico Le camion (1977), de Marguerite
Duras, rompe com o roteiro cinematográfico tradicional, desembocando na criação de um novo gênero
discursivo (BAKHTIN, 2011). Recorreremos à teoria da recepção de Wolfgang Iser (2012), já que Le
camion (1977) demanda, de maneira incisiva, a participação intelecto-imaginativa do espectador.
Ademais, faremos uso dos conceitos de dialogismo e de polifonia de Mikhail Bakhtin, à luz dos quais
podemos analisar esta obra cinematográfica. A hipótese levantada é que Le camion (1977) aponta para
um novo gênero discursivo, que vai além de um híbrido entre literatura e cinema, conforme defendem
alguns estudiosos da obra durassiana (PARAISO, 2002). Convém ressaltar que é exatamente pela
influência exercida pela literatura durassiana na cinematografia da própria autora que o roteiro deixará
de ser um texto subserviente ao filme correspondente e passará, então, a um nível mais elaborado, mais
artístico, cuja leitura e análise podem ser feitas independentemente da tradução intersemiótica
cinematográfica. Este é o caso do roteiro cinematográfico Le camion (1977) que vale por si mesmo
enquanto portador de uma riqueza artístico-literária a ser explorada.
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ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
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ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise comparativa entre dois autores
fundamentais para o assentamento da Modernidade poética, a saber: Charles Baudelaire (1821-1867) e
Cesário Verde (1855-1886). Para tanto, o estudo se concentrará nas divergências e convergências dos
aspectos citadinos presentes em diversos poemas do livro Les fleurs du mal (1857) de Charles
Baudelaire, e na obra de Cesário O Livro de Cesário Verde (1887). Sabe-se que um dos temas
recorrentes da poética baudelairiana é a relação do eu-lírico com o espaço que o circunda, em específico:
a cidade de Paris em seu processo de urbanização. Com isto, o autor pode expressar a degradação
humana promovida pelo progresso social e econômico do capitalismo e, ao mesmo tempo, revelar o
tédio e a angústia do “eu” em face da nova configuração do espaço citadino. De modo análogo, Cesário
Verde fez de Lisboa inspiração poética, porém, apesar da indubitável influência baudelairiana, ao retratá-
la, Cesário parece imprimir aos aspectos do cotidiano maior pessoalidade, expressando por meio do
cenário lisboeta um descontentamento com seu legado histórico-social, desta forma não mantendo a
impessoalidade que reivindicava Baudelaire.
Esta comunicação versa sobre a poesia de Jorge de Sena, poeta português – e não só, tendo em vista seu
desenvolvimento bem sucedido por entre os campos da docência universitária, do ensaísmo crítico e da
ficção. Poeta de fundamental importância para o seu tempo e além, na medida em que fornece ao leitor
um modo novo de ler e entender a poesia, no que concerne às relações que se estruturam entre o ser e o
mundo e o plano da expressão estética; a esta poética Sena chamou de testemunho. Ligada à minha
investigação de mestrado acerca do olhar que lança o poeta sobre o mundo, sobretudo sobre os espaços
por quais peregrinou de modo infecto, ou de outra maneira, de modo profundo, esta comunicação
pretende analisar alguma poesia de Jorge de Sena a partir dos rastros de experiência infecta da paisagem,
no que remete materialmente ao sintagma “dedo sujo” presente no impactante “Em Creta, com o
Minotauro”, poema de 1965 escrito no exílio brasileiro do poeta. O “dedo sujo” remete, então, a um
modo de viver e peregrinar por paisagens tão diversas como são aquelas que se apresentam nos exílios
do poeta: Portugal (surgido como autoexílio), Brasil (1959-65) e Estados Unidos (1965-78, ano de seu
óbito); daí sua importância. Dito isto, Dardel (2011), Tuan (2012;2013) e Michel Collot são nomes
fundamentais para pensar o que aqui é proposto.
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ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
O presente trabalho pretende apresentar o cenário que é pano de fundo dos cantares do trovador Gil
Pérez Conde no contexto da guerra civil e deposição de D. Sancho II do reino de Portugal, sucedido por
seu irmão, Afonso III. As referências nos cantares, em especial nos CBN 1532 e 1524, aos territórios de
Hespanha (e.g. Olmedo, Badajoz e Toledo) integram um colegiado de cantigas que representam a fuga
de nobres, partidários de D. Sancho, que buscaram exílio em cortes estrangeiras. O objetivo precípuo
deste estudo é apresentar o cenário dos conflitos políticos, pessoais e ideológicos de Conde, uma vez
que, nesta paisagem geográfica, social e histórica, exulta o germe do furor patriótico português através
dos embates com o rei D. Afonso de Castela. A experiência do espaço e da paisagem traduzida nas
cantigas do trovador aduz à relação suserano-vassálica que ordenava a estratificação social de então e
são monumentos da movimentação nobiliárquica na Península, a Reconquista e a edificação da
identidade nacional de Portugal. A análise dessas produções apoia-se nas propostas da GSF, para a qual
a oração é um evento social, cuja estrutura serve para construir três tipos de metafunções simultâneas:
Ideacional (refere-se à informação), Interpessoal (refere-se à interação entre produtor e receptor do
processo linguístico) e Textual (refere-se à construção do texto de acordo com as exigências do meio
sócio histórico cultural). Através da análise da microestrutura textual é possível identificar estratégias
persuasivas de Conde com vistas à crítica ao rei e consequente sublevação do nacionalismo português no
espaço que é o cenário dos primeiros documentos patrióticos do povo português.
O tema da Idade de Ouro e seus correlatos, a partir da reativação da tradição clássica no século XVI, em
Portugal, comportam muitas entradas interpretativas, com seus devidos matizes ou alterações. Nesse
sentido, o caso de Francisco de Sá de Miranda (1481–1558) é particularmente exemplar. Mesmo porque
parece claro que a argumentação principal de Miranda reside na defesa de um “tempo da memória”, que
deve ser preservado, em oposição às vicissitudes da expansão marítima portuguesa e do tempo presente.
O impacto argumentativo dessa proposição pode ser melhor avaliado quando imerso em coordenadas
epocais mais específicas, em especial, conforme sua tradução literária nos lugares-comuns do de re
rustica (assunto de agricultura e de camponeses). Quer dizer, isso se faz a partir da mobilização de certos
topoi clássicos (locus amoenus, fugere urbem, tranquilitas animi etc.), perspectivados segundo a doutrina
da “economia” (oeconomia) e de outras matérias que tratavam da questão da família. Dessa forma, a
paisagem natural e os campos cultivados seriam o lugar privilegiado para o fortalecimento das virtudes,
para o aprimoramento de si mesmo, para as práticas literárias e para a construção de laços de amizade. O
que resultaria, para Miranda, na tão almejada “liberdade”; distante, portanto, do burburinho da cidade e
da busca por honrarias obtidas pela “servidão” a um senhor.
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ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
Em Vergílio Ferreira o espaço/paisagem ultrapassa os meros referentes externos para conduzir a uma
particular forma de percepção do real e da própria existência. Na obra desse escritor ecoam paisagens
portuguesas que marcaram decisivamente sua vida e permaneceram em seu imaginário, impulsionando
sua criação artística, a exemplo de Évora. Com base nisso, a proposta deste trabalho é discutir a
construção da paisagem eborense em Aparição, um dos mais importantes romances do ficcionista,
paisagem que remete a uma particular cartografia, carregada de lirismo, poética, memória e cromatismo.
Para sua consecução, concorrem, além da fortuna crítica do autor e de seus diários, obras que versam
sobre o espaço e, especialmente, a paisagem, quer no campo literário quer em áreas afins (Michel Collot,
Helena Buescu, Simon Schama, Eric Dardel, entre outros). As conclusões apontam para o particular
modo como se tece a paisagem de Évora em Vergílio Ferreira, em estreita ligação com um modo de ser e
de conceber a vida e o homem.
Exaltada sobretudo em seu primeiro livro, Poesia (1944), a noite passa a ser o recanto silencioso cada
vez mais revisitado por Sophia de Mello nos livros subsequentes. Passagem de tempo e espaço para
encontrar a si mesma, para desvendar os meandros da psique, para reencontrar a nostalgia dos lugares
queridos e amados da infância, para olhar cada vez mais atenta para as coisas, a paisagem noturna vai
ganhando novos matizes e novos contornos, sinal de um olhar cada vez mais consciente de sua presença.
Instaurando uma visão da noite como “irmã do dia”, a poesia de Sophia nos mostra a mística da Natureza
noturna, seus encantos e mistérios, sua beleza intensa que convida a fundir-se a ela quase como parte de
um ritual de júbilo dionisíaco. Como estrutura dual, ora a noite surge como a Grande-Mãe com seu
abraço materno, como recanto majestoso do sublime princípio obscuro, como o instante primordial e o
silêncio originário para o qual tudo regressa, como a noite primitiva geradora de onde precedem as
imagens. Ora a noite revela-se angustiante e terrificante, espaço/tempo de angústia, desvelando que por
traz da beleza sublime da noite reina também o abismo, a solidão e a irracionalidade. A presença da noite
na poesia de Sophia transcende a própria configuração de tema literário para ganhar uma dimensão
mítica e simbólica. Neste sentido, procurarei explorar o imaginário noturno em sua dimensão dual:
positiva e negativa, lugar de luminosidade e de trevas, silêncio e barulho, a partir da crítica do
imaginário.
35
ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
O presente trabalho vem apresentar aspectos das paisagens literárias nas obras Os Pescadores e As Ilhas
Desconhecidas, de Raul Brandão, a partir de suas delineações e incursões por linguagens artísticas
distintas, em especial, a literária e a pictórica, além de uma notável perspectiva moderna diante da
paisagem, do homem e da efabulação. Tais delineações desdobram-se no estudo detido dessa perspectiva
da paisagem a partir do registro das impressões poéticas e pictóricas, respectivamente, da costa
portuguesa e do arquipélago dos Açores e da Madeira, bem como da construção da figura dos
pescadores, marinheiros, pastores e lavradores. Dessa forma, é possível afirmar que Raul Brandão
utilizou-se, exemplarmente, de um novo olhar diante da paisagem, atribuindo dinamicidade a sua escrita
dos pescadores e dos arquipélagos. Voltou-se, então, para um exercício metaficcional através de uma
perspectiva do horizonte subjetivado e apropriou-se de recursos inovadores em sua abordagem da
paisagem literária sempre em mutação, seja por meio do uso de técnicas impressionistas em seus
discursos poéticos, seja pela aproximação de um grotesco expressionista da tragédia da vida social e
existencial. Pretende-se, então, refletir sobre alguns dos aspectos dessas delineações a partir das
ponderações de Michel Collot (2005) (2010) (2012), Helena Carvalhão Buescu (1990) (2011) e Simon
Schama (2009) acerca de uma abordagem moderna do conceito de paisagem.
A proposta deste artigo é apresentar uma leitura do espaço/paisagem no conto Singularidades de uma
rapariga loira, do escritor português José Maria Eça de Queirós, publicado em 1874. O conto retrata o
contexto lisboeta do fim do século XIX, o meio burguês, numa perspectiva crítica como o retrato das
personagens, da sociedade e, principalmente, dos ambientes. Deve ser ressaltada a originalidade do autor
nos recursos estéticos e estilísticos, a clareza da sua prosa, ao descrever os espaços e os ambientes
frequentados por Macário, o protagonista. Destacam-se dois tipos de espaço: o espaço/paisagem
geográfico ou físico, que se inicia numa estalagem no Minho, privilegiando os espaços interiores e o
espaço social e ambientes, que comporta dois ambientes em que se movem os tipos representativos da
sociedade da época, as duas reuniões que o narrador nos descreve desenrolam-se em espaços fechados:
sala de reuniões em casa do tabelião e a casa das Vilaças. De um modo geral, o conto destaca a paisagem
da cidade de Lisboa, os interiores das casas, as ruas, as lojas e os objetos, como influenciadores das
ações das personagens. Como apoio teórico, as ideias de Dimas (1985), Alves e Feitosa (2010), Brandão
(2013) e Collot (2013) foram fundamentais para demonstrar como o espaço/paisagem se apresenta no
conto e influência o movimento das personagens.
35
ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
A religiosidade das populações se traduz nas romarias às numerosas ermidas e a da jovem, em certas
cantigas de amigo, apresenta-se como pretexto para se livrar da vigilância da mãe e sair de casa para
encontrar-se com o namorado. A lírica profana registra quase sempre o amor como motivo da busca dos
centros religiosos. Enquanto a mãe se entrega às devoções, as moças aproveitam para encontrar o
namorado, ou avistar-se com ele. As romarias se apresentam como resquícios do sincretismo religioso,
pois se tornam lugar privilegiado de encontros amorosos, sem o sinal da culpa ou do pecado. Nas
cantigas de romaria, o motivo religioso e o tema sentimental são unidos – o sagrado e o profano são
interligados nessas composições. O local de culto religioso, o espaço sagrado, transformado em lugar de
namoro. Por encontrar-se em um espaço sagrado, o amor é divinizado, deixando de ser profano. O
estudo do espaço sagrado nas cantigas de romaria se justifica pelo fato de que o espaço constitui-se
importante categoria da narrativa e também da poesia, sobretudo nas cantigas de amigo, exercendo um
papel influenciador no comportamento e na construção do perfil da jovem que deseja concretizar o seu
desejo amoroso, muitas vezes, impedida pelo autoritarismo da mãe, de quem era dependente. O estudo
será norteado por autores como Maleval, Lapa e Ferreira entre outros.
O rei D. Alfonso aparece inscrito no horizonte literário medieval como uma figura relevante, cuja obra
profícua abarca campos diversos como a história, a jurisprudência, a astronomia, a astrologia,
espaço/paisagem e, de modo especial, a poesia de caráter pessoal escrita em galego-português. De
acordo com Borges Filho (2007, p. 13), “a literatura nada mais é que a investigação do homem e suas
relações com o mundo”. Dentre as indagações de Borges Filho (2007) sobre a realidade do espaço,
interessa-nos a primeira, a realidade física ou teológica, que concebe o espaço como lugar. O espaço é
visto como condição do mundo ou como um atributo de Deus. Já a segunda indagação do autor, teoriza
sobre a subjetividade do espaço – espaço como a imagem da coisa feita pelo sujeito imaginante, isto é, a
realidade depende de quem a interpreta. A presença do espaço ocupa um lugar de destaque nas
composições medievais. As Cantigas de Santa Maria representam o espaço sagrado. Com a função de
mediação entre os homens e as divindades celestes, o espaço registrado nos textos poéticos e inserido nas
imagens constitui-se importante instrumento da intermediação entre os fiéis e a Virgem Maria,
principalmente, os locais de culto, como os mosteiros e as igrejas. Nas Cantigas de Santa Maria, o
ilustrador deixa-se levar pela estética e intercala as cenas e os espaços que não aparecem na escrita.
Algumas cantigas apresentam uma iconografia que responde à fidelidade das imagens em relação aos
textos, juntamente com os documentos históricos. A nossa proposta de comunicação é apresentar o
espaço no texto poético e nas iluminuras em duas Cantigas de Milagre, de Dom Alfonso X, o Sábio.
35
ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
A presente comunicação objetiva apresentar uma leitura das marcas das cantigas lírico-amorosas na
reconstituição do espaço/paisagem em textos camonianos escritos em medida velha. A cantiga de amigo
representa o sofrimento amoroso da mulher solteira, a saudade de seu namorado (o amigo) decorrente da
angústia sentida pela ausência e incerteza de sua volta. A cantiga de amigo, classificada de acordo com o
lugar geográfico de seus acontecimentos, vem, geralmente, acompanhada de um cenário. Na medida
velha, Camões reformulou algumas dessas características, ao conciliar os valores medievais com os
valores renascentistas. Diversos são os tons e as formas utilizadas pelo poeta renascentista: do ligeiro ao
gracioso; do sério ao irônico; do metro tradicional (a redondilha) ao metro clássico. Paisagens
semelhantes estão presentes em suas composições, como por exemplo, o campo verde repleto de flores,
os rios calmos e cristalinos, a fonte (lugar de trabalho e de encontros amorosos), as mesmas árvores
frondosas, pássaros, entre outras.Nosso corpus de análise compõe-se de textos selecionados de cantigas
de amigo e de redondilhas de Camões. No estudo do texto poético dos dois períodos (Idade Média e
Renascimento), bem comodas paisagens naturais (espaço) presentes nos textos da lírica trovadoresca e
das redondilhas de Camões, concluiremos que, quanto aos aspectos físicos, a paisagem do Classicismo,
foi renovada em sua exposição de linguagem e na comparação da natureza com a beleza feminina.
Estaremos apoiados em teóricos que tratam do espaço e da paisagem literárias, bem como nos
Cancioneiros e nas Rimas de Camões.
Camilo Castelo Branco, em Amor de Perdição, estrutura o espaço com o mesmo procedimento que
constrói seus personagens – serve-se da oposição de retratos do homem e da vida inseridos na paisagem,
revelando a busca constante da (re) criação humana no espaço pictórico/narrativo. Esse espaço
produzido e transmutado na linguagem pode suscitar não só uma experiência representativa da própria
construção da linguagem romântica, mas, sobretudo, vislumbrar reflexões acerca da subjetividade e da
identidade humanas. Sob essa perspectiva de estudo, objetiva-se discutir de que forma a paisagem,
embora múltipla, ganha relevo nos momentos em que acentua traços que caracterizam as personagens ou
quando reforça a natureza das ações por elas executadas. A natureza apresenta-se não apenas um cenário,
mas como o espaço que reflete interioridade. A narrativa se organiza em torno de episódios sucessivos
que corporificam a natureza humana (enquanto integrada à natureza), recriada pela linguagem romântica
camiliana.
35
ESTUDOS DA PAISAGEM NA LITERATURA PORTUGUESA: POESIA E
NARRATIVA
O Fado é um tipo de canção que nasce da cultura popular portuguesa, sendo acompanhado por um tipo
de instrumento, característico dessa mesma cultura, a guitarra portuguesa, – cítara em forma de pera com
doze cordas –, traz também consigo um extenso repertório de poesia. Uma das mais importantes funções
sociais do fado é a proteção do portuguesismo, da tradição. Ele protege a cidade (e o país) da influência
externa, da pasteurização do que é genuíno, sendo importante elemento intensificador da identidade
lusitana. Lisboa é das cidades mais cantadas do mundo e a grande maioria dos fados que tratam de
Lisboa personificam -na como uma mulher. “Lisboa Menina e Moça”, canção escrita em 1976 por Ary
dos Santos,“o poeta das canções”, Joaquim Pessoa e Fernando Tordo, foi celebrizada por Carlos do
Carmo. Um dos fados mais apreciados do cancioneiro português, tornou-se um tema emblemático da
cidade. Neste trabalho, pretende-se analisar a personificação “de corpo inteiro” de Lisboa na canção,
alguns aspectos estilísticos e sociológicos e imagéticos e observar a paisagem multidimensional e
multissensorial em que ela se transforma. Para Michel Collot, em sua multidimensão, a paisagem “
existe no momento em que um sujeito lhe atribui significado e, observando-a, delimita-a a partir de um
determinado ponto de vista.”
O objeto de pesquisa deste estudo é a obra Versos (1997), da fadista Amália Rodrigues (1920-1999). O
objetivo desta pesquisa foi o de perceber como as canções de fado revelaram, na junção da melodia e da
letra, os estados de alma da solidão e da tristeza de um enunciador. Os procedimentos de análise foram
desenvolvidos por meio da teoria Semiótica de linha francesa e alguns conceitos de Semiótica da canção,
tendo em vista as modalizações da canção e o efeito de passionalização. Para tanto, a pesquisa revelou
que os estados de alma da solidão e da tristeza construíram-se por meio de elementos que compõem a
atmosfera lírica das canções, como por exemplo, a figuração das noites de luar, o mar, o céu cinzento, o
quarto escuro e fechado; dentre outros elementos figurativos que, uma vez articulados ao plano da
melodia vocal da fadista, revelaram o encadeamento das significações passionais da solidão, da tristeza,
da amargura, da melancolia e da angústia do enunciador dos fados de Amália Rodrigues. As imagens
poéticas ilustradas pelas figuras, nas letras dos fados, demonstraram o alto grau de subjetividade do eu-
lírico e a intensidade patêmica dos estados de alma do enunciador. Esta exposição revela-se como uma
síntese da pesquisa desenvolvida no trabalho de dissertação de mestrado, decorrente do ano de 2013 à
2015.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
O objetivo deste trabalho é analisar escritas paratextuais em romances históricos cujo tema é, direta ou
indiretamente, a Guerra do Paraguai. Por se tratar de um assunto gerador de controvérsias e buscas de
heróis e culpados envolvidos no maior conflito bélico da América do Sul (1864-1870), vários livros que
transitam entre a ficção e a história vem sendo publicados, especialmente, a partir do último quartel do
século XX. Dentre eles, destaquemos Ana Neri (1977), de João Francisco de Lima; A solidão segundo
Solano López (1982), de Carlos de Oliveira Gomes; Caballero (1987), de Guido Rodríguez Alcalá; Netto
perde sua alma (1995), de Tabajara Ruas; Xadrez, truco e outras guerras (1998), de José Roberto Torero;
A República dos bugres (1999), de Ruy Tapioca; Rios de sangue (2012) e sua continuação intitulada
Cinzas do sul (2012), de José Antônio Severo. Nessas obras, destacam-se em prólogos, nas abas da capa,
etc., informações indicadoras do tom e da perspectiva a serem adotados no desenvolvimento da
narrativa. São sugeridos desde enaltecimentos a personagens históricas até sentenças irônicas em
contraponto a imposições conceituais consolidadas no decorrer dos tempos e dos espaços. Para
fundamentar a presente análise, serão estabelecidos como fonte básica os estudos de Gérard Genette
(1982) e os escritos de Albuquerque e Fleck (2015).
Ao trazer para análise o romance Daímon (1978), do escritor argentino Abel Posse, este texto busca
apresentar aspectos relacionados à concepção de realismo mágico, originada nos movimentos literários
latino-americanos, presentes na obra citada. O referido romance histórico pertence à Trilogía del
descubrimiento (Daímon (1978); Los perros del paraíso (1983); e El largo atardecer del caminante
(1992), a qual consagrou o escritor entre os destacados romancistas hispano-americanos do boom. O
romance em questão traz como protagonista o personagem Lope de Aguirre, cuja existência se mescla
entre o real e o fictício: o primeiro trata da sua participação na expedição espanhola comandada por
Pedro de Ursúa, em 1560, em busca das riquezas imortalizadas no mítico El dorado; o segundo se dá
pelo fato de sua história ser recontada em um romance histórico que, embora esteja elucidando
acontecimentos comprovados por registros históricos, faz isso pelo viés ficcional, fato que possibilita ao
personagem transcender e permear os dois campos: do concreto à abstração. Nesse sentido, a análise em
questão propõe uma busca pela presença de elementos e recursos literários do realismo mágico e sua
contribuição na revitalização da controvertida figura de Lope de Aguirre. Como referencial teórico,
buscamos respaldo, entre outros teóricos da área do romance histórico, nos escritos de Alejo Carpentier,
especialmente na obra El reino de este mundo (1967), em apontamentos relativos ao tema na obra de
Gabriel García Márquez, dando ênfase para Cien años de Soledad (1967), além de estudos com a obra de
Jorge Luís Borges, aludindo o conto El Aleph (1949).
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
No romance Dois Irmãos de Milton Hatoum, publicado em 2002, o narrador Nael tece um discurso que
entrelaça passado e presente, procurando entender sua própria identidade. A estrutura do romance é
marcada pela construção de uma imagem por meio da memória: o narrador evoca o passado sob a óptica
da casa habitada. A casa além de representar a circunscrição espacial, constitui-se, também, em relação à
subjetividade da personagem e assim, contribui na arquitetura dos possíveis significados do enredo. É a
partir da imagem da casa que o narrador se coloca para contar a vivência de seus moradores. Nesse
sentido, este trabalho propõe uma análise da representação imagética da casa no referido romance,
observando a ligação entre o espaço narrativo e o desmoronamento do núcleo familiar, no qual o leitor se
vê diante de uma narrativa em ruínas, onde coletivo e individual são diluídos de forma subjetiva e
complexa. Para refletir sobre a importância da casa na construção do enredo aborda-se os apontamentos
de Antônio Dimas (1987) em seu "Espaço e romance", no qual o crítico apresenta a diferença entre
espaço e ambientação e para aprofundar na leitura do espaço da casa é Gaston Bachelard (1993), em seu
livro "A Poética do espaço" que aponta a casa como um espaço que abriga o vivido, que a experiência do
tempo não existe desvinculada do espaço. A casa da infância ganha vida nas lembranças do narrador
Nael que conta, de forma detalhada, as cores e os cheiros de cada local em que a família da qual fazia
parte vivia, e assim, ao reconstruir a casa da família libanesa a narrativa vai se construindo como uma
teia de lembranças. A casa é primordial na configuração do discurso narrativo.
Esta comunicação objetiva estudar comparativamente os trajetos dos personagens Macunaíma, da obra
homônima do escritor Mário de Andrade (1893-1945), e José Servando Teresa de Mier Noriega y
Guerra, protagonista do romance O mundo alucinante (2000), do escritor cubano Reinaldo Arenas
(1943-1990). Em ambas as obras, nota-se que a peregrinação desses dois personagens é permeada por
eventos insólitos, que se situam na categoria do Realismo Mágico. Embora haja uma distância temporal
significativa separando Servando e Macunaíma, este vivencia suas aventuras no início do século XX, e
aquele, no final do século XVIII, os dois irmanam-se ao se deslocarem por uma geografia “alucinante”,
na tentativa de se manterem livres de qualquer tipo de opressão. Dessa forma, busca-se destacar o espaço
de errância percorrido por Servando e Macunaíma, pautados pelos estudos de Arturo Urlar Pietri (1990),
Irlemar Chiampi (1980), Alejo Carpentier (1987), Oziris Borges Filho (2007), Mieke Bal (1995), David
Lodge (2011), dentre outros. Em síntese, verifica-se que tais personagens conformam uma atitude de
rebeldia, na qual o espaço converte-se numa metáfora pela conquista da liberdade, sejam quais forem os
espaços em que transitam.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Em 2012, o escritor rio-grandense Luiz Antonio de Assis Brasil completou a tetralogia Visitantes ao sul,
composta por O pintor de retratos (2001), A margem imóvel do rio (2003), Música perdida (2006) e
Figura na sombra (2012). As obras se agrupam sob uma abordagem comum: tratar da experiência de
viajantes europeus e brasileiros - históricos e ficcionais - em trânsito pelo Brasil e pela América do Sul e
as transformações que se operam nesses sujeitos a partir dos constantes trânsitos e deslocamentos, além
de como estes conflitos identitários e pessoais se operam e se desconstroem ao longo da jornada. Como
proposta deste trabalho, calcamos a análise em Figura na sombra (2012), obra que ficcionaliza e resgata
a biografia e a história do naturalista e médico francês Aimé Bonpland e a sua experiência de viajante
pelo território latino-americano. Por meio da viagem e pelas possibilidades que se abrem, a partir da
deambulação, o personagem é desvelado e ressignificado pelo fenômeno transcultural de trocas,
negociações e absorções. Isso se dá ao ser exposto ao contato com um novo espaço, uma nova cultura e
uma nova realidade, levando-o à afirmação de uma identidade que se sustenta na mescla de diferentes
componentes. Posto neste espaço de tensão e redescobertas, apresenta-se aos olhos do leitor como um
sujeito que concilia tanto a herança histórico-cultural primeira em diálogo com os efeitos, as influências
e as absorções de uma realidade segunda, e sob a qual vem a se firmar. Este estudo, portanto, apresenta
uma leitura da narrativa assisiana à luz do conceito de transculturação e o efeito acerca da disposição do
personagem na fronteira dos intercâmbios e assimilações.
A narrativa ficcional Desmundo (1996), de Ana Miranda, mostra episódios da história brasileira sob o
viés feminino. Esta perspectiva está centrada na experiência das mulheres portuguesas órfãs, enviadas ao
Brasil no ano de 1555 com a finalidade de aqui se casarem, procriarem e ajudarem seus esposos a
progredir na terra recém-descoberta. A função principal dessas desterradas era ser boas esposas, segundo
a concepção católica e falocêntrica da época. Nessa obra verifica-se que tais mulheres eram dependentes
de seus esposos, pois não desfrutavam de qualquer outra opção para sobreviver. Elas não tinham um
lugar de respeito na sociedade senão pelo matrimônio, que praticamente lhes era imposto. Assim sendo,
a narrativa mescla historiografia e ficção para revelar histórias que a história não registrou. Desse modo,
objetivamos averiguar a representação da submissão feminina no início da colonização brasileira no
século XVI, situação social feminina eludida dos documentos oficiais, mas recuperada pela arte literária.
Depreendemos que nessa narração o relato daqueles considerados inferiores, marginalizados e excluídos
surge para desmistificar a versão hegemônica da história e para oferecer uma nova perspectiva dos
eventos da colonização brasileira. O romance supracitado evidencia a presença de mulheres europeias na
luta pela conquista das terras recém-descobertas, o que praticamente os textos históricos não faziam, pois
a única versão histórica sobre esse passado foi a do o olhar falocêntrico. Entre outros textos teóricos,
nossa análise se servirá dos textos sobre o romance histórico contemporâneo de mediação de Fleck
(2007; 2011) e Albuquerque; Fleck (2015).
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Esta propuesta de estudio forma parte de la investigación de doctorado que lleva el mismo nombre: “Idea
Vilariño (Uruguay) y Helena Kolody (Brasil) – cantos a la vida: encuentros poéticos en América Latina”
que realizamos en el área de estudios Literarios de la Universidade de Vigo/España. Para esta
oportunidad tenemos el objetivos de realizar , de modo general, un análisis comparativo de la obra
poética de las autoras sudamericanas Idea Vilariño (Uruguay) y Helena Kolody (Brasil), estableciendo
las aproximaciones, o alejamientos, entre las obras de ambas autoras. Tal intento, a nuestro parecer, es
posible por el estudio de las temáticas cultivadas por las poetas, como la añoranza, las imágenes de los
inmigrantes, la música como inspiración poética, entre otras. Partimos de la antigua relación entre la
literatura y la música para revelar que esta encuentra aún hoy un espacio representativo en el cual se
logra potenciar las expresiones artísticas que las componen. El arte literario siempre ha inspirado
diferentes artistas a lo largo de la historia. Esos, apoyados en el ritmo natural y en la cadencia de los
versos líricos, son capaces de dar melodía e imprimir tonos a las palabras que, bajo esa confluencia
artística, adquieren nuevas y más profundas formas de expresar el subjetivismo del alma humana, como
se puede percibir en las composiciones de las poetas seleccionadas para nuestro estudio. Así, se puede
revelar como la confluencia de las artes y el pensamiento social se encuentra fuertemente presente en la
creación de obras de carácter híbrido, como parece ser el caso de la producción poética de Idea Vilariño
y Helena Kolody.
A presente comunicação visa destacar a relação estreita entre espaço, afetividade e tragédia no que se
refere à representação do fenômeno trágico na literatura brasileira, tendo como corpus de análise A Casa
do poeta trágico (1997). Neste romance, da autoria de Carlos Heitor Cony, podemos notar a ênfase sobre
“casa”, “mundo” e “ruína”. Estes lugares ora funcionam como unidades da ação fabular ora funcionam
como metáforas espaciais. Em ambos os casos, eles objetivam, segundo percepção do narrador e
propósito de Augusto, protagonista do romance, atribuir natureza trágica à existência das personagens e
ao casamento de Augusto e Mona, assim como conotar de trágico o fracasso da relação do casal, uma
vez que tal relação repete, em particular, os fracassos amorosos de cada um dos personagens, o que
acentua o sentimento de impotência de ambos diante dessas repetições. De maneira geral, as
considerações sobre o espaço em A Casa do Poeta Trágico ratificam a observação de que desde o
Romantismo poetas e escritores brasileiros salientam a relação estreita entre espaço e trágico,
contrariando, deste modo, a afirmação de alguns estudiosos da tragédia de que a unidade de lugar é fator
que pouco determina a manifestação ou representação do fenômeno trágico.
Palavras-chave: Romance, Espaço, Tragédia
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Página
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Em um momento de reorganização das forças antipopulares que ameaça as conquistas da última década
em nosso continente, consideramos necessário retomar algumas categorias presentes nos escritos de
Arturo Jauretche a fim de desvelar os mecanismos de perpetuação das “sonseiras” em nosso meio social.
Para tal, analisamos na obra do autor os conceitos de “colonização pedagógica” e “intelligentzia”,
buscando a hierarquização e ordem de relações estabelecidas entre os mesmos e entre as básicas
contradições próprio X alheio, americano X europeu. Não deixamos de apresentar, de igual modo, a
validade de semelhantes noções para a intervenção na realidade objetiva, para o qual é indispensável
abordar o “falseamento da história”, nas palavras de Jauretche, com exemplos concretos da diuturna
ofensiva contra os governos progressistas da região. Certamente faz-se importante avançar também,
ainda que de maneira breve, no conceito de descolonização discutido por Álvaro García Linera e outros
intelectuais que conferem à palavra um sentido insurgente e instrumentalizador da ação transformadora
sem o qual nosso esforço se aproximaria do coquetismo que aqui criticamos. Assim, partindo dos três
eixos supracitados – categorias jauretchianas, realidade nossa-americana e descolonização – tencionamos
contribuir minimamente para que o debate acerca de nossa condição colonial esteja orientado à sua
superação desde uma perspectiva integradora dos povos da Pátria Grande.
O presente trabalho analisa o romance Galileia, escrito por Ronaldo Correia de Brito. Objetivando expor
a reconstrução do Nordeste brasileiro operacionalizada pela obra, o estudo aborda os diálogos da
narrativa com discursos literários cristalizados sobre aquela região e, neste contexto, as estratégias
utilizadas para a atualização da temática. Trazendo à baila aspectos característicos dos romances
literários urbanos, especialmente os contemporâneos, o texto de Brito transforma a tradicional
ambientação sertaneja do romance brasileiro, intrinsecamente relacionada à natureza e à degradação da
civilização, e, assim o fazendo, compartilha com outros romances latino-americanos a tentativa de
superação da óptica europeia sobre a América Latina. Na criação em pauta, saltam aos olhos a
emergência de um espaço que, embora com geografia e histórias singulares, é, acima de tudo, marcado
pelo simbólico, por encontros e desencontros e pela busca de identidades, sobressai-se, portanto, o
estranhamento, o não-lugar. Sem pretensões localistas totalizantes, Correia de Brito constrói um romance
no qual a errância, o trânsito das personagens, a fragmentação e o individualismo tencionam a
territorialidade.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Xicoténcatl (1826) é o primeiro romance histórico da América Latina (UREÑA, 1994). Ele traz uma
proposta inovadora para o romantismo Hispano-Americano da época se o compararmos ao estilo de Sir
Walter Scott, pois apresenta um conteúdo que revela o patriotismo dos autóctones (UREÑA, 1994)
diametralmente oposto ao discurso histórico da conquista do México por Hernán Cortés. Ao mesmo
tempo, oferece, por primeira vez na literatura, a configuração da personagem histórica Malinche, Marina
Ténepal, a quem o ideário indigenista da Revolução Mexicana transformou e institucionalizou, com
Manuel Gamio, como a indígena responsável pela queda do império asteca, criando-se, assim, o mito da
Malinche. O romance Xicotécatl, que traz a primeira representação ficcional desta, no entanto, não a
mostra como uma traidora, mas sim como uma mulher indígena que, no final da narrativa, percebe que é
necessário voltar às suas raízes. Pretendemos nesta comunicação analisar as problemáticas de configurar
uma personagem sob a luz dos estudos da memória, já que a literatura é o lugar onde os espaços
deixados em branco pela história oficial são preenchidos com leituras possíveis do que aconteceu. A
análise estará pautada em teóricos como Paul Ricoeur (2014), Zilá Bernd (2013), Celia Fernández Prieto
(2006), Albuquerque e Fleck (2015) entre outros.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Romance ambientado na mítica Macondo e que conta a saga da família Buendía, desde o surgimento do
povoado até a completa extinção da estirpe, a história contada por García Márquez em sua obra máxima,
Cem anos de solidão, pode ser identificada com a história da própria América Latina. Entre os inúmeros
Arcádios e Aurelianos das sucessivas gerações que se envolvem em guerras, inventos, amores e mortes,
é a própria identidade do continente que se vai delineando a partir das existências individuais das
personagens, de tal modo que os acontecimentos históricos e o plano individual se interseccionam.
Partindo dessa premissa, o presente estudo tem por objetivo apresentar uma leitura da obra Cem anos de
solidão vista numa perspectiva histórica, procurando relacioná-la com o espaço e a identidade da
América Latina. Para tanto, este trabalho analisa dois grandes momentos a partir da fundação de
Macondo, a saber, a guerra civil e a chegada e partida da Companhia bananeira, a fim de perceber de que
maneira tais eventos estão relacionados à existência individual e coletiva das personagens ao longo da
história.
Pretendo aqui verificar como se constitui a comarca oral do “entre-lugar” pensando os pressupostos de
Silviano Santiago (2000) na narrativa dos escritores Visconde de Taunay e Hélio Serejo. Intento
encontrar as marcas provenientes e características do “entre-lugar” tomando como base as reflexões e
discussões relativas ao discurso crítico latino-americano, uma vez que os contos selecionados dos
escritores em análise representam um lócus específico, o da fronteira do Brasil/Paraguai, marcando uma
“comarca oral” pertencente ao contexto latino-americano conforme defendido por Carlos Pacheco
(1992). Refletir sobre o discurso crítico latino-americano, sobre as características da literatura do “entre-
lugar”, sobre a comarca oral que se constituí a partir desse lugar é condição sine qua non ao tomar para
análise uma literatura como a dos escritores Visconde de Taunay e Hélio Serejo. Lançar sobre as
narrativas dos escritores em tela uma luz diferenciada não permite a continuidade de um discurso
baseado nas relações de fontes e influências, uma vez que, como defende Silviano Santiago (2000, p.
18), esse método aponta a inópia de uma arte já carente devido às condições econômicas, ressaltando o
desprovimento de imaginação de artistas compelidos a se moldarem a padrões fixados pela metrópole. O
olhar enviesado que proponho aqui é focado na marcação de um lócus específico, uma literatura
particular: a latino-americana. Nela se encontra marcado um: quem fala, como fala, para quem fala, de
onde fala. Santiago (2000) colabora ao pensar esse campo de batalha, esse local como um lócus de
enunciação de um espaço territorial, geográfico e discursivo.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Este texto tem como objetivo analisar a obra de Lisa Sergio I am my beloved (1969) em suas relações
com a literatura e a história. Em uma primeira análise, busca-se compreender a intertextualidade presente
no título da obra com a citação bíblica em “Cânticos de Salomão 6:3”: I am my beloved's and my
beloved is mine. O texto norte americano apresenta uma perspectiva da vida de Anita Garibaldi que
corrobora com a visão de heroína construída no sul do Brasil: uma mulher símbolo de força e resistência.
No romance vemos que ela, por amor, enfrenta batalhas a fim de que possa permanecer ao lado de
Giuseppe Garibaldi. Em linhas gerais, I am my beloved (1969) descreve a vida do casal no Brasil,
Uruguai e Itália com um pano de fundo de batalhas e intrigas políticas. À luz dos pressupostos teóricos
de Jacques Le Goff em A história nova (1990) e Peter Burke em A escrita da história (1992) busca-se no
romance de Lisa Sergio a percepção de prismas que não os moldados pela história oficial. Consideram-
se ainda os estudos de Jim Sharpe (1992) no que diz respeito à “História vista de baixo” por apresentar
discussões pertinentes ao tema da representação histórica feita apenas pela elite. Em I am my beloved
(1969) percebe-se, portanto, um enredo que ora corrobora com os aspectos históricos, ora os
reapresentam, propondo diferentes perspectivas, por meio de intertextualidades literárias e históricas,
permitindo que essa personagem feminina, antes à margem do discurso histórico, ganhe atenção e
relevância.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Publicado em 1965, Chapadão do Bugre, de Mário Palmério, foi sucesso junto à crítica e ao leitor, sendo
alvo de várias edições. Em 1988, recebeu uma adaptação para a televisão, transformando-se na
minissérie homônima, exibida pela TV Bandeirantes. Não obstante esse sucesso do romance do escritor
mineiro, o fato é que no âmbito da crítica acadêmica pouco, ou quase nada, tem sido dito atualmente
sobre o autor e sobre esse seu grande romance, o qual explora, com maestria, as circunstâncias da vida
rural nos confins do Brasil do início do século XX. Tendo como pressuposto a importância desse
romance de Mário Palmério no cenário da literatura brasileira na segunda metade do século XX e seu
imerecido esquecimento, o objetivo do presente trabalho é a leitura do modo de figuração da paisagem
na obra em questão. A paisagem, em Chapadão do Bugre, revela-se elemento de importância primeira,
pois mostra, mais que a exibição pura e simples de cenários de um lugar, o chapadão do bugre, os modos
de percepção desse espaço. Assim, embora o grande espaço presente na narrativa seja o chapadão, as
paisagens são diversas e se transformam de acordo com o movimento de vida e experiência das
personagens, sobretudo, de José de Arimatéia, o protagonista. No romance, a paisagem não acena apenas
para montanhas, rios, matas, furnas, descampados e fazendas que compõem a topografia do lugar, mas,
antes, para os modos de ser e viver do homem sertanejo em toda a sua pujança, na complexidade de suas
relações com a natureza e com o outro.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Dalton Trevisan é famoso por utilizar Curitiba como espaço geográfico de sua construção literária. A
influência desse lócus é tão importante no universo daltoniano que é necessário fragmentá-lo – em
bairros, em pontos turísticos e até em hidrografia – para desenvolver enredos onde é possível ver o
sarcástico desnudamento da alma humana. A Curitiba em prosa e em verso é desmistificada em
narrativas cativantes e despudoradas, expondo o pior e o melhor, o sagrado e o profano, abrigados em
espaços mutantes, estonteantes e obscuros. O choque das trevas com a luz pode ocorrer no bairro Batel
de alta classe, na comunidade ribeirinha do Rio Belém, nas deploráveis pensões de migrantes perdidos e
sonhadores, nos bordeis e até em casas de respeitáveis casais de idosos. Não há idade, não há gênero e
não há religião que motive mais a criatividade em Dalton Trevisan do que o espaço geográfico. São
pessoas desnudadas vivendo em Curitiba – a cidade que sob o olhar clínico e cínico do Vampiro – é
esmiuçada e fragmentada para tirar de seu âmago as máscaras sociais hipócritas normais a uma cultura
provinciana. O esforço de Dalton Trevisan é alertar para a verdade: todos usam máscaras, todos são
hipócritas e em determinado momento sofrerão o julgamento divino, tal como é exposto no conto
Lamentações de Curitiba.
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FIGURAÇÕES DO ESPAÇO NA NARRATIVA LATINO-AMERICANA
CONTEMPORÂNEA
Busca-se analisar a representação do espaço no romance Pluie et Vent sur Télumée Miracle (1972), da
escritora guadalupense Simone Schwarz-Bart. Traduzida como A ilha da chuva e do vento por Estela
Abreu (1986), a narrativa contempla o processo identitário antilhano no período (pós)colonial a partir da
perspectiva da narradora Télumée. Ela retrata quatro gerações de mulheres cujas trajetórias espelham as
transformações no continente americano ao longo dos processos da abolição da escravatura, do fim da
empreitada colonial e da departamentalização. Para Diva Damato, os antilhanos experimentaram a
“depossessão do espaço” (p.148). Ela defende que “assim como essa terra não é o espaço ancestral, ela
também não é o espaço possuído” (p.151), será por muito tempo espaço do “migrante nu”, da
discriminação racial e da violência colonial. Schwarz-Bart, em profundo diálogo com o papel identitário
das literaturas latino-americanas, inicia seu romance de maneira emblemática: A terra depende quase
sempre do coração do homem: é minúscula se o coração for pequeno, é imensa se o coração for grande.
(...) Se pudesse escolher, seria aqui mesmo na Guadalupe que eu gostaria de nascer, sofrer e morrer. (...)
nesta ilha de vulcões, de ciclones e mosquitos, de mentalidades estreitas (p.9) O fazer literário acolhe em
sua tessitura as figurações do espaço como maneira de elencar o mundo que cerca e que norteia os seres
transplantados para os quais é imperativa a reflexão sobre fronteiras, paisagens, deslocamentos e
pertencimentos na (re)configuração da identidade latino-americana.
A presente comunicação discutirá como uma cela pode se converter no único universo dos torturados da
ditadura de Alfredo Stroessner. No caso, a cela 12 ou Celda 12, título do romance de Moncho Azuaga,
narra a história de um professor – preso por crimes contra o regime militar – e do próprio ditador, que
exige a escrita de sua biografia. Nesse microuniverso de uma cela, a narrativa esmiúça os horrores da
ditadura no Paraguai, revelando o lado mais obscuro e perverso da dominação dos militares sobre a vida
do povo paraguaio. No entanto, o romance descontrói a figura de Stroessner e de outros militares. O lado
humano dessas figuras insanas é desnudado quase escatologicamente: são homens fracos, com medos,
problemas de ereção, cheios de traumas, homossexuais, que usam a tortura como forma de prazer. O
território paraguaio é o espaço da sordidez humana, dos crimes silenciados, das vozes que se cortam por
meio da tortura. Nesse contexto, a escrita do professor é o instrumento de resistência contra a memória
oficial, desnudando a imagem política do ditador. Entre as sessões de tortura e as entrevistas com
Stroessner, a voz do professor sobressai e denuncia as fraquezas do karai gazu, do Grande General que
comanda a nação paraguaia rumo ao que ele considera ser o progresso. Neste contexto de incertezas na
América Latina, Celda 12 se converte numa grande metáfora dos horrores da ditadura, desse medo que
ainda assombra os países latino-americanos de voltar a ser um grande cárcere e de que novamente os
ditadores possam dizer: “No. Por más que quieras, Muerte, no llevarás mi nombre” (AZUAGA,2015,
p.41).
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
As afetividades que permeiam a vida de jovens adolescentes perpassam por experiências que envolvem
não apenas amizade entre meninos e meninas, mas relacionamentos que podem chegar a iniciação
sexual, que muitas vezes acontece de maneira precoce. Essas vivências podem trazer envolvimentos
desastrosos e marcar negativamente suas histórias dificultando o processo da autodescoberta. Refletir e
discutir sobre as experiências e vivências sexuais dos/as adolescentes no espaço escolar não é tão fácil,
pois os/as docentes ainda não se sentem à vontade para falar sobre o tema. Além disso, as famílias não
conseguem conversar com seus filhos e filhas sobre sexualidade, deixando que essas “descobertas”
aconteçam a partir de suas vivências, sem nenhuma orientação sobre relacionamentos afetivos. Neste
contexto, todos são prejudicados, contudo, percebe-se que as meninas negras, sentem-se rejeitadas e
desvalorizadas por vários motivos, dentre eles destaca-se o padrão de beleza que molda nossa sociedade.
Diante deste contexto, a proposta deste trabalho é refletir sobre as afetividades de adolescentes negras a
partir da escrita de mulheres, também negras. Percebemos que a escrita afrofeminina é uma porta para
conhecermos as vivências afetivas dessas meninas, por vezes tão solitário e secreto. Desejamos também
mostrar como essa escrita pode interferir e auxiliar professores/as e alunos/as nesta discussão tão
necessária para a construção de personalidades fortes e conscientes, capazes de libertarem-se de
estereótipos e aprofundarem-se na busca do que é verdadeiro em cada uma, fortalecendo-as em suas
identidades.
Conforme defende Stuart Hall (2015), o indivíduo moderno vive um constante processo de deslocamento
identitário, uma vez que, desde o seu nascimento, é inserido em um contexto composto por normas e de
uma cultura local a qual, devido a processos atuantes de nível global que cruzam fronteiras, integram e
conectam-se com outras comunidades em novas combinações de espaço-tempo. Dentre as construções
que podem ser arquitetadas pelo choque de culturas, pode-se verificar firmemente na história de
sociedades de qualquer época a imposição cultural estabelecida por um grupo dominador sobre um
grupo reprimido, dentre eles o dos negros, que, por conta da exploração sofrida, busca justiça e recuperar
sua dignidade, a qual encontra-se manchada até os tempos atuais. Sob esta perspectiva, o presente
trabalho propõe um estudo do romance Viva o povo brasileiro, escrito pelo baiano João Ubaldo Ribeiro,
com o intuito de verificar como se constitui a identidade do povo reprimido representado no romance em
questão e como esta se desenvolve com o passar do tempo.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
A proposta deste artigo consiste na análise do conto “Casas de ferro” inserido no livro Setentrião –
Índicos indícios I de João Paulo Borges Coelho, escritor moçambicano que se dedica a abordar as
questões pós-coloniais que permeiam a história e a memória de seu povo enfatizando, por meio de uma
vertente crítica, como a fragilidade identitária se reflete e entra em conflito com a cultura e a tradição de
Moçambique. Sabe-se que a memória histórico-cultural perpassa pelas personagens do conto, cujas
ações e características buscam representar, reapresentar e repensar questões identitárias, políticas e
sociais. Tem-se, desse modo, tanto a visão individual, como a coletiva, a partir do que a narrativa se
elabora, revelando algumas interfaces do tempo, do espaço, da memória, do passado, do presente. O
mote desse conto aponta para o desmantelamento social ocorrido na região da Beira após as guerras de
libertação e civil e a consequente miséria e descaso advindos de um longo e conturbado processo de
ruptura política. Stuart Hall contribui com sua visão sobre o descentramento do sujeito na modernidade
tardia que remete à fragmentação, cujos efeitos se estendem aos fatores socioculturais, colocando em
questão a identidade, a cultura, a língua, a palavra. Nesse sentido, se o sujeito se encontra em crise
identitária, é porque houve uma ruptura na sociedade que o levou a esse estado ou condição. Mas, se, por
um lado, os conflitos conduzem a essa crise, por outro, acredita-se que também faça parte da condição
humana a dificuldade de ser/estar no mundo.
O objetivo deste trabalho é analisar de que maneira os personagens do conto “Cemitério de elefantes”, de
Dalton Trevisan, podem ser inseridos na categoria de exilados. Inicialmente o texto foi apresentado pela
autora como parte da monografia de final de curso da disciplina Literatura, Subjetividade e Exílio,
ministrada por Keli Cristina Pacheco, no programa de Pós-Graduação em Linguagem, Identidade e
Subjetividade da Universidade Estadual de Ponta Grossa. O conceito de exílio pode ser tomado por
diversos vieses, tais como a ideia de errância, desterritorialização, diáspora, e outros que remetam ao
sentido de viagem, trânsito, saída, seja de um território ou da própria subjetividade. Pretendo abordar a
categoria de exílio como o estar fora do próprio, baseada principalmente nas contribuições de Jean-Luc
Nancy. A intenção é chegar a uma noção extrema de exílio, caracterizada pelo estar fora do que é
humano, da humanidade. Para Nancy, há uma ideia de exílio definitivo, sem retorno. O exílio é
caracterizado como um fora constitutivo da existência moderna, uma existência fora de si, do que lhe é
próprio. Neste caso, o fora não está vinculado apenas ao solo, mas a tudo que é próprio do sujeito – fora
do ser e da propriedade em todos os sentidos (Nancy, 1996). A ideia de animalização presente no conto
de Trevisan é fundamental para a análise proposta. Neste texto ficcional, é retratado um grupo de
bêbados que vivem às margens do rio Belém, na cidade de Curitiba, metaforizados na figura do elefante.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
O Conhecimento do inferno (1980) insere-se no que o seu autor chamou de Ciclo de Aprendizagem, do
qual fazem parte também Memória de Elefante e Os cus de Judas, ambos publicados em 1979. Nesta
trilogia inicial, destaca-se um substrato autobiográfico, sendo que os dois primeiros têm por cenário a
própria guerra colonial e o último, o "inferno" do retorno e da tentativa malograda de reencontro
identitário. Ao regressar de África, o narrador-personagem de Conhecimento do Inferno, vai trabalhar
como psiquiatra no Hospital Miguel Bombarda. Este local constitui uma metonímia da nação após o fim
da guerra e como artefato de demolição dos modelos psiquiátricos vigentes. entendemos que, ao
descrever a realidade como um cenário, a ironia e os simulacros, estes no sentido atribuído por Jean
Baudrillard, são recursos de uma poética pós-modernista intensamente usados pelo autor com o objetivo
de evidenciar, simultaneamente, a condição absurda dos retornados da guerra colonial, dos hospitais
psiquiátricos e também os traumas que invadem sua memória e desestruturam sua identidade. A reflexão
sobre o tema da loucura tem por base a crítica da psiquiatria de Michel Foucault, e a discussão sobre
identidade(s) segue os caminhos propostos por Stuart Hall. A construção das figuras marginais, que
atravessam a obra do autor, configura verdadeiro registro das transformações identitárias pós Revolução
dos Cravos e revelam a dureza e a impessoalidade da "burocratização da angústia" mencionada no
romance Conhecimento do inferno e a frágil condição humana, marcada pela solidão e violência do
mundo pós-moderno.
Esse trabalho centra-se na análise da representação da condição feminina indiana no romance pós-
colonial O Deus das Pequenas Coisas, publicado em 1997, pela escritora contemporânea Arundhati Roy.
Com base nos aportes teóricos da teoria pós-colonial (BONNICI, 2000, 2005, 2009; BRAH, 2005;
HALL, 2011) e da crítica feminista (MURARO, 1995; ZOLIN, 2009), tem como objetivo refletir sobre a
relação das personagens femininas com a sociedade indiana pós-colonial da década de 60, dividida em
castas e com uma rígida moral sexual e social em relação às mulheres. Também busca abordar os
sentimentos de deslocamento das personagens centrais – os gêmeos Rahel e Estha – provocados pelo
sentimento de orfandade causado pela exclusão da mãe do ambiente familiar. Ao representar o amor
transgressor, desesperado e desventurado entre Ammu, uma cristã-síria de casta superior, e Velutha, um
intocável, que não podia ser amado nem tocado por uma mulher de casta superior e a relação de
submissão de outras personagens femininas, que mostram as diversas facetas da mulher em tal
sociedade, a escritora problematiza o sistema de castas, ainda bastante marcante na Índia, e a
inferioridade da situação feminina em um mundo comandado por homens.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Com o olhar voltado à teoria sobre a pós-modernidade, o presente artigo propõe um estudo centrado na
análise crítica de uma das obras de Luiz Antonio de Assis Brasil, o romance “Concerto campestre”, de
1997, com apontamentos sobre a construção do sujeito ex-cêntrico, com identidade em permanente
movimento de descentramento. As considerações fundamentam-se em teorias de Hall; Bhabba; Bakhtin;
Hutcheon, entre outros, e constitui um estudo de pesquisa bibliográfica. Objetiva-se, portanto, discutir
como as personagens, em especial a pessoa do protagonista, envolvidas com a colonização do Brasil da
segunda metade do século XIX e com o contexto e personagens históricos do colonizador, Portugal,
testemunham as fissuras identitárias entre elas mesmas e do ser consigo mesmo, e também como o
distanciamento geográfico, físico, psicológico, étnico, gerado pelos fatores da dominação e da
aculturação, resulta na caracterização da modificação da identidade, caracterizando o ser pós-moderno,
personificação do diálogo permanente com o ser ontológico.
Marcio Souza segue um modelo de construção da identidade nacional brasileira a qual dificilmente é
apresentada pelo prisma das regiões periféricas revisitando um momento forte da história do Brasil
enquanto dialoga com a tradição literária brasileira e mundial. Como a obra Galvez Imperador do Acre é
pertencente ao subgênero romance histórico caracteriza-se e diferencia-se o mesmo nas suas formas
tradicional da contemporânea, recebendo o nome de metaficção historiográfica. Além disso, salienta-se
que esse subgênero incorpora as inovações próprias da pós-modernidade, mas tem seu locus de
enunciação nas teorias pós-coloniais, com os estudos sobre identidade, que devido à essas dicotomias
marginalizantes vigentes e através de oposições binárias que dividem o mundo em superiores e inferiores
mantêm os que vivem nas periferias numa subordinação constante levando-os a se curvar ou se deslocar
diante dessas divisões inflexíveis em vez de celebrar seu hibridismo e sua mestiçagem. Constata-se,
dessa maneira, a ocorrência de uma proximidade entre a teoria Pós-colonial e as ideologias da
globalização que apregoam formas híbridas semelhantes a essa, mas com a criação de novos espaços
para a periferia nos nichos dominados pela produção do centro. Trabalha-se com as concepções de Linda
Hutcheon e George Lukács no Romance histórico tradicional e na metaficção, Homi Bhabha, Edward
Said, Silviano Santiago e Jean-François Lyotard na estética pós-colonial e Zygmunt Bauman e T. S.
Eliot na estética pós-moderna tendo em Hutcheon, Calvino e Bakhtin uma ponte para as abordagens
intertextuais.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
O presente trabalho busca analisar a importância dos odores na composição do romance Sexo de André
Sant'anna. Escrito em 1999, o romance apresenta uma estrutura inovadora na Literatura Brasileira
Contemporânea ao reduzir o enredo narrativo, produzindo uma narrativa panorâmica, isto é, o narrador,
embora onisciente, interessa-se mais por apresentar quadros diferentes das personagens e quase sempre
não interligados entre si do que propriamente um modelo clássico de narrativa clássica que estabeleça
uma trama com começo, meio e fim. Com isso, o romance desloca o ato de narrar para a constituição das
personagens que não são identificadas por nomes, mas por uma excessiva adjetivação que evidencia
características, gostos, comportamentos e preconceitos. É nesse sentido, que o autor se utiliza dos odores
para identificar o lugar social que essas personagens pertencem e os efeitos perversos da sociedade
moderna na exclusão desses sujeitos. Mais especificamente a identificação da personagem O Negro, Que
Fedia e da personagem A Gorda Com Cheiro de Perfume Avon. Com base na obra Saberes e Odores: O
olfato e o imaginário social nos séculos XVIII e XIX do historiador francês Alain Corbin, propomos
evidenciar a construção histórica do olfato dentro do processo civilizatório da sociedade burguesa
capitalista para compreendermos a relevância dos odores e seu funcionamento na constituição das
personagens do romance Sexo.
O que é o "Livro do Desassossego" (LdoD) é uma pergunta que emerge quando se investiga o espólio de
Fernando Pessoa e as edições que cada especialista arruma numa manifestação concreta. O "Livro"
caracteriza-se pelo seu estado inacabado, o que motiva diferentes interpretações da obra. A análise dos
manuscritos e datiloscritos obriga a uma tipologia do fragmento que se relaciona com um determinado
deslocamento, uma determinada forma de ser e estar no mundo. O LdoD de Pessoa inscreve-se num
marco histórico onde podemos compreendê-lo como uma tentativa de resposta à morte de Deus e ao
deslocamento do sujeito do centro de qualquer explicação. Qual é o lugar do sujeito nesse novo
paradigma moderno? Que “princípio de identidade” é possível nesse contexto? É o LdoD um exemplo da
tese de Lyotard sobre o fim dos grandes relatos? A especificidade da obra afecta também aos autores
fictícios do livro que, nas suas fases de escrita, apresenta duas identidades diferentes. A verdade, neste
sentido, e segundo Nietzsche, é um exército de metáforas. Por tanto, a verdade não se descobre, constrói-
se. A hipótese que esta comunicação levanta é a de que a identidade não é um ponto de partida senão o
resultado do processo de escrita, leitura, correção e reescrita.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Esta comunicação, recorte da pesquisa de mestrado intitulada “Masculinidades e violência nas narrativas
de língua portuguesa do século XXI”, objetiva apresentar uma análise da representação das personagens
masculinas na obra “A varanda do Franjipane” (2007), do escritor moçambicano Mia Couto.
Considerando o projeto estético literário do escritor em tela, sua preocupação em (re)construir,
literariamente, a identidade moçambicana utilizando-se, muitas vezes, do confronto entre tradição e
modernidade, procuramos analisar o processo de construção de identidades e subjetividades masculinas
encontradas na narrativa, a partir do confronto dos modelos hegemônicos e não hegemônicos, conforme
proposto nos estudos de Raewin Connel (1997), na busca por compreender os relevos e embates das
identidades masculinas estabelecidas por Couto. Para isso, parte-se do pressuposto de que o gênero age
no desempenho de papéis sociais, sejam eles masculinos ou femininos, em uma determinada realidade
social e que, por meio dessas ações, intervindo nas ações sociais (SCOTT, 1990; BOTTON, 2007;
LUGARINHO, 2012), gerando, para além do confronto, uma crise identitária, a partir da qual se
questiona a ideia do "homem verdadeiro", "superior" e "perfeito", para estabelecer relações de tal ideia,
hegemônica, com masculinidades não hegemônicas, as quais estabeleceriam relações de subordinação,
cumplicidade ou marginalização.
Partindo das considerações de Eduardo de Assis Duarte (2011) acerca dos denominadores comuns que
definem a literatura afro-brasileira, no presente trabalho propôs-se o estudo do conto “A gente
combinamos de não morrer” de Conceição Evaristo, presente na coletânea de contos Olhos d’água
(2014). Pretendeu-se, ao analisar o conto da escritora mineira, verificar de que maneira se manifestam a
temática, a voz autoral, a linguagem e o ponto de vista ligado à afro-brasilidade, elementos distintivos
dessa literatura. Contemplando diversas vozes, o conto trata da violência presente na periferia. Buscou-
se compreender de que maneira esse artifício narrativo possibilita que a autora aborde, pelas múltiplas
perspectivas das quais pode se valer, desdobramentos outros ligados à violência, problematizando a
fixidez da identidade das personagens. Sendo assim, a presença de vários narradores permite a
composição de uma colcha de retalhos de relatos alinhavados na tessitura da narrativa. Ao estabelecer
relações do conto com outras obras da autora, entre elas os romances Ponciá Vicêncio (2003) e Becos da
memória (2013), objetivou-se observar algumas características de sua escrita marcada pelo tom
memorialístico e analisar a forma pela qual a escrevivência, relação estabelecida entre a experiência e a
escrita presente na produção literária de autores e autoras afro-brasileiros, relaciona-se com os
denominadores elencados por Duarte (2011).
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
“Des-locamento” não é questão exclusiva de um reposicionamento físico, mas pode estar relacionado à
ruptura no pertencimento ou a um deslocamento cultural, um sentimento de deriva dissociado do espaço
geográfico per se, mas associado a um sentido de lugar e/ou identidade. Levando em consideração as
dinâmicas coloniais, pode-se dizer que determinados povos nativos não foram fisicamente deslocados,
mas sua cultura foi deixada à deriva e suas raízes foram ceifadas de seus territórios. Eles se tornaram os
estrangeiros, o exótico em sua própria terra. Esse estranhamento, junto aos desafios enfrentados pelos
Maori para construir um novo sentido de lugar e identidade dentro de seu espaço, somado ao desafio de
dar lugar para uma realidade marginal dentro do discurso hegemônico, bem como a construção de uma
crítica à classificação estereotípica da população nativa ao lado de um retrato da resistência de um povo,
podem ser encontrados no conto “Parade” (1975) da escritora Maori e neozelandesa Patricia Grace. Este
trabalho pretende explorar, neste conto, a construção da noção de lugar, formação de identidade e a
geografia de si próprio (self), a partir de um referencial teórico que inclui Spivak (2003), Massey (1994),
Minh-na (1991), Hall (2001), Hutcheon (1988), entre outros. Pretendemos, dessa forma, examinar o
reposicionamento do senso de lugar, processos de formação de identidade na ruptura em um mundo pós-
colonial e o movimento por uma nova cartografia do existir.
Esta comunicação objetiva estabelecer um diálogo entre o poema The Waste Land (A Terra Desolada,
1922), de T. S. Eliot, e o conceito de interpassividade trazido pelo filósofo esloveno Slavoj Žižek,
responsável pela união entre a teoria marxista e a psicanálise de Jacques Lacan em uma linha de pesquisa
recente na área dos Estudos Culturais, o materialismo lacaniano. Ao contrário da noção hegeliana do
“eu” ativo através do Outro, isto é, o Outro age para que o “eu” possa permanecer ativo, a
interpassividade torna possível que o “eu” se encontre empenhado em várias atividades enquanto o
Outro garante que suas experiências sejam passivas. Assim, hoje, é possível identificar como
agrupamentos de indivíduos conseguem agir para impedir algo de acontecer, desempenhando “falsas
atividades”, ou “agir para que nada mude” (ŽIŽEK, 2010). No entanto, já no início do século XX, este
comportamento encontra respaldo no retrato que T. S. Eliot faz das estruturas sociais da modernidade, as
quais, em The Waste Land, ficam inertes perante as mudanças abruptas da sociedade do Pós-Primeira
Guerra por intermédio de seus falsos movimentos que garantem a manutenção do status quo. Logo, é
possível investigar como uma atitude potencializada na era pós-moderna já encontrava seus primeiros
resquícios nos primeiros anos de 1900, e de que forma o contexto sócio-histórico no qual se inseriu
permite sua interpretação.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Com base nos estudos de Hall, Baumann, entre outros, estudamos a identidade do nativo estadunidense
apresentada no conto “Blankets”, de Sherman Alexie. A pesquisa se dá pela interpretação do texto no
que tange à linguagem e estilo do autor, à relação do protagonista-narrador com outras personagens
indígenas e não-indígenas no conto, assim como aos aspectos culturais mantidos, negados e abraçados
pelas personagens indígenas. Tal interpretação servirá de base para perscrutarmos a identidade
deslocada, fragmentada do indígena, sendo o personagem protagonista representante de uma identidade
coletiva como sujeitos pós-modernos de identidade cindida. O estilo de escrita do autor será também
estudado para observar as estratégias de representação de sua identidade étnico-cultural na literatura.
Observa-se que Sherman Alexie se utiliza de ironia e da capacidade de contador de histórias
características do indígena, além de se valer de aspectos culturais, como canções de cura e o próprio
cobertor, símbolos de sua cultura étnica para problematizar não apenas estereótipos étnico-culturais, mas
também a situação do indígena moderno, apontando para uma cultura e uma identidade que se mostram
marcadas, embora híbridas.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Como fragmento de nossa pesquisa em torno de processos criativos como meios de suportar
adversidades e situações críticas, articulamos reflexões ao redor da obra em prosa de Conceição Evaristo
e de nossas experiências de mediação de leitura em espaço carcerário, trazendo parte de nossos mapas
para este trabalho. Tendo como centro reflexivo o conto “Ayoluwa, alegria do nosso povo”, publicado
no livro “Olhos d’água” (2015), traçamos um percurso de leitura que destaca um movimento de
compartilhamento da voz e do corpo pelas personagens, resultando numa construção de voz coletiva
através da qual retoma-se vivência criativa. De posse de nossas experiências no cárcere, observamos
processos semelhantes, de modo que as reflexões se cruzam em nossos trabalhos. Nossa pesquisa tem
como foco grafar mapas de caminhos por entre as obras de Evaristo e nossas memórias de campo,
apontando os meios pelos quais tanto as personagens ou narradores, quanto a própria autora e os rapazes
no cárcere constroem mundos por sobre ruínas de violência e exclusão, inventando caminhos de ser e
suportar a dor por meio da arte de narrar e compartilhar. Conceição Evaristo, assim como os apenados,
através do contar, cria possibilidades de retomada de poder sobre meios de produção de memórias,
subjetividades, devires. Como bases teóricas que transpassam por nossas leituras, destacamos Deleuze,
Guattari, Michèle Petit, Winnicott, e os próprios ensaios e entrevistas de Evaristo.
Conhecida pelas narrativas intimistas e pela ambiguidade dos enredos, em seu último romance,
publicado pela primeira vez em 1989, Lygia Fagundes Telles apresenta-nos um texto fragmentado, em
que a protagonista, Rosa Ambrósio, é uma atriz em décadence. No romance, Rosona, como é chamada
pelo gato Rahul, quer escrever suas memórias; no entanto, ao mesmo tempo em que temos sua versão da
autobiografia, outras personagens completam a narrativa, mostrando que nem tudo é como a ex-atriz
apresenta. Dentre as personagens que mais contribuem para a construção dessa narrativa fragmentada,
temos o gato reencarnado Rahul, que relembra suas vidas passadas numa atmosfera onírica e ambígua; a
empregada Dionísia; e a terapeuta Ananta, à qual daremos atenção específica neste trabalho, que mora
no mesmo prédio de Rosa Ambrósio e a atende algumas vezes. Ananta, conforme descrita pela própria
paciente, é uma moça apagada: roupas claras e sóbrias, sapatos sem salto, unhas curtas e envernizadas
sem cor, cabelos enrolados presos na nuca, óculos, fala baixo e é extremamente comedida em seus
gestos. A certa altura da narrativa, entretanto, Ananta informa ao leitor, que tem acesso à sua consciência
pelo monólogo interior/ solilóquio, que no último andar do prédio haveria um novo morador que,
chegando somente à noite ao apartamento, transforma-se em cavalo. Ananta ouve, então, os cascos
batendo no chão e, num delírio luxuriante, imagina-se se envolvendo com esse morador misterioso.
Neste artigo, portanto, propomos analisar de que forma o zoomorfismo relatado pela personagem
Ananta, contribui para a construção da identidade dessa misteriosa personagem.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
A partir da análise de poemas do livro Mágica terra brasileira, de Elias José, serão discutidos os
conceitos dos Estudos Culturais de identidade, nação e narração, desenvolvidos por autores como Homi
Bhabha, Hall e Anderson. A pesquisa se desenvolverá a partir das ideologias de identidade fragmentada,
processo de globalização, (re) construção da identidade, tradição e tradução, os olhares sobre a nação
(narrativas sobre a nação) e comunidades imaginadas. Vale ressaltar que não se discutirá somente a
forma como a nação brasileira é narrada, mas, sobretudo, faz-se um recorte para o interior das Minas
Gerais. Ou seja, averiguaremos se essa parte do Brasil é narrada de maneira performática, transgressora,
rasurando as margens da nação ou se é narrada de maneira pedagógica, teleológica, pautada na tradição
que fundamenta a origem da cultura e identidade local que também é refletida pelo país. Dessa maneira,
a perspectiva desta pesquisa é de, sobretudo, identificar os símbolos que caracterizam a identidade local
do interior do estado de Minas Gerais e como os seus membros se veem integrados a esta a partir do
reconhecimento desses códigos, capazes de uni-los através do mesmo sentimento de pertencimento. E,
além disso, analisar a maneira como esses símbolos ganham proporções ainda maiores por não ficarem
restritos apenas ao local em destaque na obra poética, mas sim, por fazerem com que os membros de
outras partes da nação também se reconheçam e criem o mesmo sentimento de nacionalismo através
deles.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Este estudo investiga a imigração brasileira nos Estados Unidos da América como um movimento
diaspórico interamericano e, como tal, fenômeno da diáspora contemporânea (SAFRAN 1991, REIS
2004, BRAH 2005), a partir da análise dos romances Sonho Americano (1997; 2003), de Ângela Bretas
e Azul Corvo (2010), de Adriana Lisboa, ambas imigrantes brasileiras residentes em solo norte-
americano. A escolha desses romances, dentre outras obras, faz-se pertinente justamente pelas
representações de etnicidade brasileira no exterior e, sobretudo, pela abordagem das consequências
socioculturais que a diáspora desencadeia. Portanto, entre choque e adaptação, Sonho Americano
representa o começo da imigração brasileira nos Estados Unidos e Azul Corvo o momento atual. Por
estar numa ‘zona de contato’ cultural, ambivalente e intervalar, fazendo alusão ao termo propagado de
Pratt (1992) o sujeito migrante se envolve nas ‘experiências de diásporas’ (BRAH, 2005) e, por meio
delas, encontra necessidade de ajustar seu contexto sociocultural ao da sociedade hospedeira. Por isso, a
literatura que marca a experiência de migração é altamente conectada com a práxis de uma comunidade
que se encontra ‘fora de casa’. Estar longe de casa é, ao fim e a cabo, a máxima que permite delinear o
que chamamos de Literaturas de Diáspora. Portanto, para analisar os fluxos migratórios entre as
Américas, por meio dos textos literários pertinentes, fala-se muito em literatura de migrância, em
literatura de imigração, em textos que representam mobilidades culturais contemporâneas, tais quais os
que neste estudo serão analisados.
O objetivo deste artigo é analisar de que forma Eliane Brum, em seu texto Enfim, a emancipação
masculina, publicada na obra A menina quebrada (2013), desconstrói as concepções de identidade e
gênero, as quais figuram um contexto de crise. A partir da crítica pós-estruturalista, pode-se observar que
o binarismo estruturalista tende a limitar rigidamente, a partir de vieses ideológicos, o que é aceitável e o
que não é. Tendo em vista a corrente de pensamento desconstrucionista, passam a figurar, juntamente, a
crítica feminista e os estudos de gênero (dentre outros). O movimento e a crítica teórica feminista
indagaram a distinção entre público e privado, questionaram politicamente a vida social, politizaram a
subjetividade, a identidade e o processo de identificação. O que os estudos das masculinidades vêm fazer
é reforçar a necessidade de desconstrução do conceito de “papéis” e, consequentemente, de gênero,
partindo do pressuposto de que não há um “homem de verdade”, conforme o ideal de “masculinidade
hegemônica” tenta dar conta. O que se vive, segundo essas pesquisas, é uma crise da masculinidade,
muitas vezes negada. Os estudos vão, portanto, totalmente ao encontro daquele que deve ser o maior
objetivo dos estudos feministas: uma mudança de consciência e, consequentemente, de comportamento
em relação às diferenças, sejam elas sexuais, de gênero, étnicas, culturais, de espécie, etc. A crônica em
questão pode ser considerada uma desconstrução em forma de texto narrativo, o que torna a discussão
interessante e acessível. Servirão de base teórica as concepções de Judith Butler, Stuart Hall, Connell,
Jean-Jacques Courtine, Kimmel, etc.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Segundo K. David Jackson (2011) a antropofagia oswaldiana pode ser relida no mundo globalizado
como uma forma de defesa, mesmo que curiosa, do saber local, ou seja, dos modos de ser do sujeito de
cultura subjugada em relação ao saber importado, advindo das forças dominantes. A fala de Jackson
encontra consonância com o pensamento de Silviano Santiago em seu “O entrelugar do discurso latino-
americano” (2000), ao nos revelar a importância do hibridismo cultural, ou ainda, da deglutição do polo
dominador pelo polo dominado, para assim se quebrar as ideias de unidade, pureza e hierarquia tão
importantes para determinadas elites, o que foi, certamente, uma das questões norteadoras da vanguarda
antropofágica, criada por Oswald de Andrade no contexto do modernismo brasileiro. Pretende-se, então,
a partir de um recorte da pesquisa de mestrado, observar os pressupostos em torno da antropofagia, suas
releituras e repercussões em tempos contemporâneos para assim observar a criação de Criolo e o modo
como o uso de técnicas vanguardistas em sua produção possibilita a (re)construção das identidades
periféricas no Brasil do presente e a quebra de estereótipos lançados por diversas instâncias de poder
para o espaço da margem.
Compreendendo que o evento da diáspora acontece por vários motivos, como o exílio e a necessidade de
sobrevivência por exemplo, torna-se necessário que estudemos como este evento afeta a vida de vários
sujeitos durante o percurso de suas vidas, e no caso da narrativa, através de como uma história é narrada.
Estudiosos sobre a diáspora nos confirmam que como produto da formação das sociedade atuais, a
diáspora também pode ser responsável por espaços identitários que podem ser preenchidos pelos sujeitos
contemporâneos, uma vez que, decorrente do entre-lugar que os sujeitos se encontram, os mesmos
podem optar por retomar ou não sua antiga identidade. Consequentemente, os vários sujeitos
contemporâneos buscam o sentimento de pertença a um determinado ambiente, e em um cruzamento de
culturas, procuram sentir-se, ou pertencentes aos seus locais de origem, como países, cidades, ou locais
de vivência, ou assumem novas posturas em relação ao local diferenciado em que está, buscando o
pertencimento sócio-cultural, e consequente contrução identitária individual. Nesse sentido, sujeitos
considerados como pertencentes a um Terceiro Mundo, sofrem mais ainda com a situação diaspórica-
identitária, já que, ao optarem por qualquer das opções, recriam suas identidades, individuais e nacionais,
fragmentando ainda mais sua identidade, e constituindo sua diáspora. Diante disso, analisaremos a
identidade da personagem Chamdi, presente na obra A canção de Kahunsha (2008), de Anosh Irani,
partindo dos estudos de Avtar Brah envolvendo a diáspora, os apontamentos teóricos sobre as sociedade
de terceiro e primeiro mundo, utilizados por Aziz Ahmad, e com os estudos sobre identidade de Stuart
Hall.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
O presente trabalho tem como intuito discutir a periferia como espaço característico das identidades em
deslocamento, visualizando a favela como espaço modal da literatura afro-brasileira contemporânea, de
modo a verificar o sujeito da modernidade tardia a partir do deslocamento de sua identidade, descentrado
por várias razões e que concentram atualmente estes indivíduos na periferia, o que nos coloca diante da
favela: o entrelugar dessas identidades em deslocamento, em outras palavras, a herança pós-colonial.
Trata-se de uma análise do conto Amanhecer de Quinta-feira do escritor Sacolinha, presente em sua
coletânea de contos Manteiga de Cacau (2012). O conto em questão é uma narrativa contemporânea que
se passa na zona leste de São Paulo, contando a história de dois traficantes que tem de lidar a todo o
momento com a traição e a ganância, personagens que evidenciam a realidade da periferia. As
considerações sobre identidade, gênero e espaço presentes neste trabalho são fundamentadas nos estudos
de Hall, Bernd, Duarte, entre outros, além de Benjamin para tratar do papel do autor como produtor.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
O presente artigo de reflexão analisa o romance Orlando, publicado por Virginia Woolf em 1928. A obra
é estudada de forma crítica-reflexiva. Trata temas como: o gênero, os trajes, a moda e os estereótipos de
gênero. É pelo texto que se analisam os episódios-chave da obra, nos quais o seu protagonista transgride
convenções sociais, por meio de trajes até o momento que atinge o travestismo. Dessa forma, estuda-se a
incidência das mudanças de vestimenta, de estado social e de gênero como transgressões e
normatividade. Orlando ( 1928) é uma obra literária , dentro de sua conta, manter um estofadas segredos
do armário , mistérios, intrigas , ironia , revisões e reflexões . Abrir as portas deste histórias de guarda-
roupa envolve confrontar fatos não convencionais e travestismo em tempos históricos , quando aclimatar
. Se envolver em é arriscado porque o leitor tem de enfrentar questões objecto de distorção com a norma
, inquéritos como : como Orlando é condicionada por seus papéis sociais e de gênero? Como Orlando
resiste a ser rotulado como os estereótipos de género , em uma identidade estática e rigorosa?
Palavras-chave: Travestismo , Orlando, Transgressão
O presente trabalho intenta fomentar questões acerca da função e contribuição dos primeiros versos de
Alice Walker, visto que eles foram, como afirma Thadious Davis (1993), prefácios e precursores das
narrativas. Assumindo que sua escrita poética fora bem mais que artística, nesta comunicação serão
discutidas duas hipóteses que surgiram e têm impulsionado meu projeto de investigação em curso.
Primeiro, pensa-se na poesia de Alice Walker como a força motriz de toda a sua escrita, isto é, como o
espaço primeiro de verbalização de suas incompreensões, sobre si e sobre seus semelhantes, que
gradualmente se expandem das linhas descontínuas versificadas às linhas contínuas em prosa. Além
disso, cogita-se que a poesia, sendo uma escrita de regresso e espaço primeiro de contestação das
assimetrias identitárias e do poder, não se atém ao lar da infância de Walker, o Sul dos Estados Unidos;
por isso, atravessa o Atlântico, em direção à mátria África, almejando trazer à luz uma contraescrita
histórica do passado de seu povo, problematizando a legitimidade do discurso de discriminação e
exclusão do negro, sem sacralizá-lo. Tendo como ponto de partida o poema “Hymn”, confluindo Poesia
e História, propõe-se discutir como Alice Walker maneja e se apropria do discurso poético como meio de
resistência, contestação e intervenção frente a discursos que subjugaram e violentaram a memória e
integridade de seu povo. Espera-se, portanto, demonstrar não apenas as estratégias de construção de seu
contradiscurso, mas também, em segundo plano, pensar em como elas serão desdobradas nos textos
literários em prosa, sugerindo alternativas e pontes para se transitar entre presente, passado e futuro.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
O objetivo de nossa comunicação é aplicar a teoria de Mulheres do Terceiro Mundo, de Gayatri Spivak,
às vozes expressas no poema “Vozes-Mulheres”, de Conceição Evaristo, discutindo a voz da mulher do
terceiro mundo e os estudos subalternos. As mulheres negras que compõem a família do eu-lírico são
representadas pelas vozes-mulheres. Essas vozes que ecoam no poema são estratégias de resistência no
afã de conquistar seu espaço na sociedade. Para desenvolvermos nossa análise, optamos por textos
teóricos que discutem se o subalterno tem voz, e as tentativas de agência desenvolvidas por Spivak
(1987), Mohanty (2003), Maggio (2007) e outros. Os resultados de nossa pesquisa evidenciam que o eu-
lírico constrói a sua subjetividade a partir do momento que ele descobre que a sua voz leva consigo as
vozes de outras gerações e que esta voz existe e pode ser ouvida. Ao focar sua condição de mulher, de
negra e de pobre, Conceição Evaristo ressignifica a voz da mulher do terceiro mundo e sinaliza que o
revide pelo discurso é o instrumento para a emancipação do eu-lírico negro.
A obra do escritor Germano Almeida caracteriza-se pela sua representação crítica da sociedade cabo-
verdiana pós independente. Nesse sentido, pode figurar como instrumento de censura à atuação dos
intelectuais responsáveis pela formação da identidade crioula homogênea, uma vez que ela exclui as
demais identidades presentes no Arquipélago. Esse discurso homogeneizante procura, sobretudo,
dissociar a imagem da identidade cabo-verdiana com representação africana, na medida em que a
aproxima da europeia, situando-a, assim, em um entre-lugar. Contudo, em uma terra de emigrantes
(estimativas dão conta de que mais da metade da população cabo-verdiana vive no exterior, donde envia
o sustento para as famílias locais), observa-se que a identificação com a cultura crioula deixa de
funcionar a partir do momento em que os habitantes saem do Arquipélago, especialmente os que se
dirigem à Europa, onde os cabo-verdianos relatam descobrirem-se negros. Com efeito, os romances Eva,
Dona Pura e os camaradas de Abril, e Os dois irmãos de Germano Almeida levam a uma discussão sobre
a condição cabo-verdiano e sua representação tanto dentro quanto fora do país.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Este trabalho analisa o texto “Celeste e Làlinha por cima de toda a folha”, inserido no livro O burro em
pé (1979), de José Cardoso Pires pelo viés da ironia, por meio das reflexões de Linda Hutcheon (1988,
2000) e promovendo paralelamente o questionamento sobre a identidade a partir de Hall (2006) e
Baumann (2005). Também recorremos a Eduardo Lourenço (1988), intelectual que estuda a identidade
portuguesa. A narrativa inicia-se com a fuga de uma família de retornados da Guerra de Angola rumo a
Portugal. A família é formada pela criança Celeste, sua mãe e sua avó. De Angola, a avó de Celeste traz
escondida a boneca negra Làlinha, de que a menina gostava tanto. Enquanto passeia pelas redondezas de
Lisboa, Celeste encontra traficantes de produtos da ex-colônia que a interrogam acerca de sua boneca,
insinuando a inadequação da mesma. Também as outras crianças refugiadas defendem um olhar sobre a
colônia distinto do da menina e, por isso, tentam roubar seu brinquedo. No texto, o narrador conta os
acontecimentos de acordo com o olhar infantil tanto da garota quanto dos meninos que a perseguem.
Desse modo, ele ridiculariza algumas personagens adultas, bem como alguns discursos preconceituosos
reproduzidos pelos garotos. Por outro lado, ao dar voz às personagens adultas, por meio do discurso
direto, ele permite com que façamos nossos próprios julgamentos sobre elas, incentivando a criticidade
frente ao discurso da metrópole sobre a ex-colônia. Dessa maneira, o texto de Cardoso Pires permite o
questionamento da imagem de Portugal como nação imperial por excelência, bem como abre brechas
para a reinterpretação do povo como indivíduos também em busca de sua identidade.
Após as correntes pós-coloniais perceberem a importância da denúncia contra as explorações gerada por
grandes nações imperiais, a voz do colonizado começou a ganhar força por meio das manifestações não
apenas literária, mas artísticas de forma geral. Por isso, este trabalho propõe um estudo sobre como
Ifemelu, no romance Americanah (2013), da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, consegue promover
a denúncia da sua exploração enquanto imigrante nos Estados Unidos, usando de um blog criado por ela
mesma para romper com a guetização e o ostracismo. Portanto, torna-se necessário uma justificativa que
traça a questão histórica e social do pós-colonialismo e como esses estudos conquistaram seus espaços
no âmbito social, destacando como o sujeito marginalizado consegue desenvolver e ampliar suas raízes
culturais mesmo com a opressão neo/colonizadora. Juntamente à teoria pós-colonial, é levado em conta
também o feminismo, que permite uma abordagem mais abrangente, vinculando questões de gênero,
configurando assim um corpus teórico que dê conta de analisar o fenômeno da marginalização em um
lugar estrangeiro. Pretende-se, assim, que essas correlações, identificadas no romance, em especial no
blog da protagonista, levem a algumas considerações sobre a situação da mulher, negra e imigrante que
se encontra sob o status de não-estar-em-casa, ou seja, deslocada em todos os sentidos.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Em seu romance de estreia publicado em 1985, Oranges Are Not the Only Fruit, a escritora inglesa
Jeanette Winterson narra o Bildung da jovem Jeanette, com especial atenção ao apego religioso da
personagem e seu despertar sexual. Já no romance Written on the Body, publicado em 1992, Winterson
dá voz a uma personagem sem nome cujo gênero é desconstruído pela ausência de uma identidade
definida. O que Winterson coloca em jogo nestes romances é o questionamento pós-moderno de que a
identidade do sujeito não é fixa e imutável, especialmente quando a autora subverte a identidade como
parte de uma construção social. Judith Butler questiona, assim como Stuart Hall, se as identidades são,
de fato, “persistentes ao longo do tempo, unificadas e internamente coerentes.” (2015, p. 42). Hall e
Butler oferecem arcabouço teórico para elaborar sobre como essas duas obras de Jeanette Winterson
apontam para as possibilidades de discutir a fragmentação da identidade, em especial quando analisamos
o Bildung das personagens centrais.
Este trabalho pretende apresentar uma leitura sobre a obra A Santa do Cabaré, Cordel Pós-moderno de
Amor e Morte, de Moacir Japiassu, inserindo-a nos limites da narrativa pós-moderna. Ao propormo-nos
a participar deste simpósio, reconhecemos o romance como um fenômeno literário que, sabidamente, é
representante e decorrente dos tempos modernos. Entretanto, o gênero burguês não passou incólume aos
preceitos basilares da Modernidade e, desse modo, pretendemos identificar na estrutura D’A Santa, os
elementos da narrativa pós-moderna, para sustentá-la como uma obra típica deste movimento.
Pretendemos, também, identificar, por meio dos elementos estruturais, como se constroem os horizontes
de expectativa nesse romance, a começar pela capa e pelo subtítulo do romance; os quais sugerem um
protocolo de leitura que guiam o leitor. Posteriormente, passaremos mais detidamente ao enredo e às
personagens, sem, todavia, negligenciar os demais elementos nele presentes. As personagens de Japiassu
demonstram a fragmentação do sujeito pós-moderno e os consequentes abalos que o indivíduo enfrenta
por essa constituição da sua personalidade. Tanto em Ladislau Vanda vemos uma espécie de loucura que
os leva aos fins trágicos na trama. A composição psicológica das personagens centrais D’A Santa do
Cabaré trata-se de uma representação da descrição que Rybalka (1991) faz do mundo pós-moderno,
como a de um Janus de duas cabeças, tendo duas faces e uma personalidade múltipla, sem ensaio de
sínteses ou de unidade. As personagens deparam-se enredadas em um limiar de religiosidade, de
sexualidade, de repressão mental: física e moral, do qual são incapazes de sair.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Dentre as/os escritoras/es indígenas que vêm ganhando destaque no país está Eliane Potiguara, Eliane é
uma indígena do povo Potiguar, formada em Letras (português-literatura) e fundadora da Associação
Grumim (Grupo Mulher- Educação Indígena). Em poesia e prosa, Potiguara retrata e refrata
(BAKHTIN,1995) a realidade dos povos Indígenas e, principalmente, das mulheres indígenas, através de
relatos autobiográficos que se mesclam à história de um casal indígena, Jurupinga e Cunhataí, e à poesia
de Potiguara. “Metade cara, metade máscara” traz uma escrita plural e libertadora, que pode ser pensada
como indígena e indigenista, feminina e feminista. Desta forma, o objetivo deste trabalho é analisar as
poesias da autora presentes na obra “Metade cara, metade máscara”, a partir das reflexões sobre
identidade e sobre uma literatura fronteiriça. Para esta análise, tomo como referencial teórico
(SAID,1995-2003; AGAMBEN,2008; BENJAMIN,1996; HALL,2003-2006 e GRAÚNA,2013). Num
primeiro momento farei uma apresentação da obra que será analisada para, em seguida, articular o
referencial teórico já citado com a obra de Potiguara. Por fim teço minhas considerações finais sobre esta
literatura, que sob vários ângulos se confirma como exilada.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
Por apresentar um trabalho estético concomitante com a crítica social brasileira, as narrativas do autor
contemporâneo Marcelino Freire tentem a problematizar e discutir a margem, ora enquanto espaço
urbano, ora como espaço identitário. A representação da identidade negra avulta como uma constante na
obra Contos negreiros (2005), frente às identidades multifacetadas que povoam a margem dos grandes
centros urbanos. Neste contexto o presente artigo, após considerar as constantes que aproximam e
distanciam o autor em questão da literatura afro-brasileira, objetiva analisar o conto “Solar dos
príncipes”, observando os desdobramentos identitários do negro no contexto contemporâneo.Haja vista
que estas se apresentam como uma “celebração móvel”, formando-se e transformando-se continuamente,
de acordo com a maneira que somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos
rodeiam (HALL, 1987 apud Hall, 2006). Para tanto será utilizado como escopo teórico, dentre outros
estudiosos, as reflexões de Bernd (1988), Duarte (2011), Mérian (2008) e Stuart Hall (2006).
A literatura negra no Brasil ou afro-brasileira tem conquistado espaço no cenário da literatura brasileira,
e por meio de sua escritura, em grande parte de cunho historiográfico, transporta o negro, antes deixado
à margem, para o centro da narrativa. Neste processo, um novo relato a respeito da história da formação
da cultura nacional é concebido sob a perspectiva de um indivíduo que teve sua identidade e seu corpo
marcados por um processo de colonização, expatriação e escravidão. A narrativa Um defeito de cor
(2011) retrata, em suas mais de 900 páginas, a sociedade brasileira escravocrata do século XIX, assim
como, propõe uma reflexão acerca das estruturas sociais da época, ideologias, sistemas simbólicos,
preconceitos e estereótipos engendrados na identidade, corporalidade e cultura do negro, fundamentais
para entendermos o processo de elaboração e prática de um caráter discriminatório e de interesse a partir
de um discurso ideológico hegemônico. Considerando a história e a trajetória pela qual a protagonista
percorre, o artigo se propõe a analisar as marcas ideológicas e modelos simbólicos que se refletem na
identidade e na corporalidade do negro escravizado no contexto do século XIX. Um defeito de cor
(2011) nos instiga a refletir sobre como as ideologias operam e o modo como são refletidas na
construção das identidades e dos corpos que se valem delas.
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IDENTIDADES EM DES-LOCAMENTO NA LITERATURA: PERSPECTIVAS
PÓS-MODERNAS
A proposta desta comunicação é apresentar uma leitura do conto “A proximidade do mar” (2011), do
escritor mato-grossense Ricardo Guilherme Dicke (1936-2008), relacionando-o com o pensamento de
identidade fragmentada nas sociedades modernas de Stuart Hall (2003). A narrativa se constrói a partir
do sonho de Beldroaldo de conhecer o mar e dos conflitos vivenciados pela personagem ao transitar
entre o espaço em transformação da capital Cuiabá e a chácara de seu sogro, e ao ouvir as rádios de
outros lugares do mundo. O conto está situado temporalmente na década de 1970, período caracterizado
por intensos movimentos migratórios de outras regiões do país para Mato Grosso. Assim, oferece
elementos para pensarmos como Beldroaldo reage diante do contato com diferentes culturas e das
transformações do espaço e da cultura local resultantes do movimento de modernização do estado de
Mato Grosso e como isso influencia na construção e deslocamento de sua identidade. Como metodologia
de análise, utilizamos a investigação bibliográfica por meio de autores que abordam o conceito de
identidade e encontros culturais como Hall (2003), Canclini (2001), Magalhães (2001), Precioso; Falcão
(2014), entre outros. Também nos serviram outras obras de Ricardo Dicke.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
O pouco hábito de leitura literária por parte dos alunos da Educação Básica é tema recorrente em
inúmeras pesquisas pelo país. Em tese, no meio acadêmico essa realidade seria distinta, pois se acredita
que aqueles que adentram o espaço universitário via um processo seletivo possuem, devido a seu perfil e
interesse em continuar os estudos, um nível mais avançado de leitura. Nossas observações e pesquisas
enquanto docentes nos fazem refutar tal tese. Ainda, nos cursos de Letras e Pedagogia (licenciaturas que
formam os futuros professores de literatura da Educação Básica), onde se esperaria repertório e hábitos
de leitura literária bem distintos dos demais cursos, essa problemática também é evidente e preocupante.
Nesse sentido, faz-se oportuno discutir a formação desses profissionais e buscar estratégias de
enfrentamento dessa problemática. Assim, a presente comunicação objetiva apresentar a nova/velha
proposta de realização de círculos/rodas de leitura no espaço universitário, na tentativa de oportunizar
aos alunos, principalmente aos licenciados, ampliar seus repertórios de leitura literária, bem como,
analisar o papel do professor como mediador na relação leitor-texto. Apresentaremos, ainda, relatos
sobre as primeiras ações do projeto extensão “Rodas de leitura: um caminho para formar leitores” em
desenvolvimento na Universidade Federal do Tocantins (com apoio do PRODOCÊNCIA) que enseja
auxiliar nesse enfrentamento. Nossas discussões seguem a trilha aberta por Mikhail Bakhtin, procurando
compreender o ensino de leitura literária tendo como perspectiva a interação dialógica entre autor e
leitor, tornada possível pela atuação decisiva do professor mediador.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Desde o final do século XX crianças e adolescentes vêm sendo, cada vez mais cedo, apresentadas e
estimuladas ao contado com mecanismos tecnológicos, muitas vezes superando os adultos no uso das
várias ferramentas disponibilizadas através da tecnologia. Sabendo que em meio tecnológico a
linguagem se recria e por vezes se desvincula do verbal, o que se torna interessante e necessário
trabalhar as ferramentas tecnológicas unidas ao estudo da arte literária, aproximando assim o universo
que o aluno já conhece das possibilidades de uso articuladas por ele, de forma pedagógica, lúdica,
transformadora e porque não dizer, sistemática. E é pautado nas possibilidades de discussões em torno
do textual, das descobertas referentes à linguagem e à formação de identidade que foi implantada nas
aulas de literatura no Ensino Médio do Colégio Geração Valparaiso da cidade de Valparaiso, interior do
estado de São Paulo o estudo das narrativas audiovisuais, tendo como objeto de pesquisa os games, os
filmes e as séries prediletas de nossos alunos como possibilidade de intervenção didática. Além do mais,
abordamos de forma singular o hibridismo, a intertextualidade e a contextualização que tanto defendem
os documentos oficiais que regem a educação brasileira. Como suporte, buscamos refúgios nos
ensinamentos de Paulo Freire (1979) no que se refere ao ato de ler e escrever; ancorando-se em Lajolo e
Zilberman (1996), Aguiar e Bordini (1993), Bosi (1992), Vieira (1989), acerca da configuração literatura
e escola; como também tivemos acesso aos textos de Tiphaine Samoyault (2008), ao que tange a
intertextualidade
O presente artigo “Letramento literário no acervo do PNBE 2013: reflexões a partir das representações
de leitura e escrita” é o resultado dos estudos realizados na disciplina Literatura e Ensino, cursada no
Mestrado em Letras Literatura, concluída no segundo semestre de 2014 na Universidade Federal da
Grande Dourados – UFGD. O trabalho objetiva provocar reflexões em relação à prática de leitura e
explorar o acervo do PNBE 2013 - nas obras em que a leitura e a escrita é praticada pelos personagens -,
além de apresentar propostas práticas de letramento, referenciadas através da “Sequência Básica”
(método de letramento literário desenvolvido por Rildo Cosson, 2006). Enfim, como o acervo é
composto de 180 obras, foi feito um recorte de cinco obras, selecionadas no conjunto de obras
pertencente ao gênero narrativo, romance. São elas: 1 – Um Sonho no Caroço do Abacate (Moacir
Scliar, 2010); 2 – Lampião na Cabeça (Luciana Sandroni, 2010); 3 – A Distância das Coisas (Flávio
Carneiro, 2012); 4 – Uma Ilha no Oceano (Annika Thor, 2011); e 5 - Paisagem (Lygia Bojunga, 2013).
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Esta comunicação apresenta uma análise sucinta e panorâmica do processo de seleção das obras literárias
para o ensino fundamental, do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) nos anos de 2006 a
2014, período histórico que teve o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (CEALE) da UFMG como
órgão responsável pela avaliação pedagógica dos livros de literatura para crianças e jovens a serem
selecionados para a composição dos acervos de bibliotecas das escolas públicas brasileiras. Para tanto,
propõe uma abordagem fundamentada nas contribuições da história cultural e da teoria literária, cujo
desenvolvimento será realizado mediante procedimentos de localização, recuperação, reunião, seleção,
ordenação e análise de fontes documentais e de bibliografia especializada. Com a finalidade de
compreender alguns aspectos do sistema literário por meio das instituições legitimadoras da literatura
infantojuvenil, recorre às fontes documentais, aqui consideradas como os documentos oficiais
produzidos pelo Ministério da Educação (MEC) – Editais, Portarias, Resoluções e Relatórios – para o
período em questão referente ao Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), iniciado em 1997 e
suspenso em 2015. De modo geral, pretende-se contribuir para a compreensão da importância das
políticas públicas de leitura na constituição de um cânone de obras literárias para crianças e jovens no
Brasil.
O livro "Caçadas de Pedrinho", de Monteiro Lobato, foi objeto de polêmicas de alcance nacional a partir
de denúncia, feita em junho de 2010, de que a obra faria "referência ao negro com estereótipos
fortemente carregados de elementos racistas". Após numerosos debates públicos, o Conselho Nacional
de Educação (CNE) emitiu um parecer a respeito do uso do livro nas escolas brasileiras, reexaminado,
posteriormente, pelo Parecer CNE/CEB nº 15/2010, "com orientações para que material utilizado na
Educação Básica se coadune com as políticas públicas para uma educação antirracista.". Esse último
documento, de autoria da Relatora e Conselheira Nilma Lino Gomes, propõe uma série de ações a serem
realizadas por diferentes instituições ligadas à educação, dentre as quais se destaca: "a necessária
implementação de política pública, pelos sistemas de ensino, junto às instituições de educação básica e
superior, de processos destinados à formação de professores que ampliem e aprofundem a discussão e os
estudos sobre educação, literatura e diversidade étnico-racial.". O presente trabalho nasceu de aulas da
disciplina Literatura Infanto-Juvenil, realizadas, ao longo de seis semestres, no curso de Pedagogia da
Universidade Federal de Ouro Preto. Um dos objetivos das aulas era justamente formar professores "que
ampliem e aprofundem a discussão e os estudos sobre educação, literatura e diversidade étnico-racial".
Para tanto, o romance "Caçadas de Pedrinho" foi lido por seis diferentes turmas de estudantes, os quais
propuseram diferentes práticas de leitura do livro em sala de aulanas escolas. As propostas didáticas
resultantes dessas aulas são apresentadas e analisadas neste trabalho.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Por meio do cotejamento de documentos divulgados pela Secretaria de Estado de Educação, Cultura e
Esporte de Goiás que visam apresentar orientações curriculares para o Ensino Médio com outros
documentos relacionados, como os PCNs e as OCNs, proponho — com o intuito de verificar em que
medida os documentos produzidos em Goiás inovam ou, ainda, refutam o documento federal — verificar
como o Estado prevê a presença da Literatura no ensino em Goiás. Dado o recorte proposto para esse
momento e o percurso adotado, apresento uma preocupação com os documentos estaduais analisados no
âmbito da Literatura. É certo que os usos aqui apresentados tanto das OCNs quanto dos PCNs
mereceriam um estudo de maior folego, mas é necessário deixar claro que não foram esses os
documentos que nortearam o interesse para a averiguação iniciada. O foco foi partir do geral para o
particular, sendo o particular os documentos do estado de Goiás que tratam do Ensino de Literatura no
Ensino Médio. O resultado desse cotejamento de documentos demonstra a ausência de discussão ou
perspectiva para o letramento literário nas orientações estaduais para o Ensino Médio. Mas, não só: o uso
da literatura como pretexto para o ensino de gramática e língua portuguesa é visível nas matrizes de
conteúdos. A apreciação fecha no vermelho já que os documentos apontam para a falta de um maior
destaque para a Literatura e a sua importância para a formação do sujeito social e ético.
O trabalho com o texto literário, na escola pública paranaense, deveria estar ancorado nas propostas
conceituais e metodológicas das diretrizes curriculares oficiais, a nacional ou a estadual. Desde os anos
90, a atenção, nelas, tem deixado de recair sobre a historiografia literária e se voltado para o texto, como
portador de sentidos ou de relevância em termos de elaboração estética. Abordagens que se ampliam do
ensino fundamental para o médio. Se a preocupação, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, de 1998,
recai sobre a formação de habilidades de leitura, e o texto literário ali pouco se distingue dos gêneros que
não pertencem à arte literária, nas Diretrizes Curriculares Estaduais, de 2006, aparece a preocupação
com a recepção textual e suas etapas e com a abordagem estética de cada obra. No entanto, tanto a
Estética da Recepção quanto a Teoria do Efeito Estético ainda constituem conhecimentos rudimentares
para o professor paranaense e, assim, não resultam em conceitos ou métodos de abordagem. Na prática,
as propostas oficiais parecem ter lado lugar a, basicamente, três possibilidades que justificariam a leitura
de obra literária: como prática aconselhável por si mesma, possuidora de prestígio social, que gera a
tentativa de formação do gosto pela leitura, sem que esta resulte em abordagens do texto; como pretexto
para o desenvolvimento de habilidades relacionadas à variante padrão, sobretudo à escrita; e como
depreensão de sentidos que, por sua vez, valem pelo teor axiológico ou informacional. No entanto, a
formação estética do aluno como leitor de obras de arte literária não chega a aparecer como uma
preocupação, de forma sistematizada.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
A pesquisa apresentada neste trabalhoteve como objetivo analisar como as violências são representadas
em narrativas infantojuvenis brasileiras selecionadas pelo PNBE/2013, a partir de um corpus de doze
narrativas, a saber: Um sonho no caroço do abacate (2002), do escritor Moacyr Scliar; Quarto de
despejo: diário de uma favelada (2013), de Carolina Maria de Jesus; Ordem, sem lugar, sem rir, sem
falar (2013), de Leusa Araujo; Sangue Fresco (2011), de João Carlos Marinho; O golem do Bom Retiro
(2011), do escritor Mario Teixeira; Antes que o mundo acabe (2012), de Marcelo Carneiro da Cunha; O
livreiro do alemão (2011), de Otavio Junior; Um na estrada (2011) e O outro passo da dança (2011) do
escritor Caio Riter; A primeira vez que eu vi meu pai (2012), de Márcia Leite; A distância das coisas
(2012), de Flávio Carneiro; O Homão e o menininho – Histórias de filhos e de pais (2010), de Luís
Pimentel. A metodologia de pesquisa teve um caráter descritivo, na medida em que objetivou descrever
de que modo se poderia observar o tema da violência representado nas narrativas a partir do estudo de
seus vários elementos constitutivos tais como a construção das personagens, da focalização, do tempo e
da linguagem. A fundamentação teórica teve base nos estudos de autores como Nilo Odalia (1983),
Angel Pino (2007), Irme Salete Bonamigo (2008), Ana Maria Borges de Sousa (2002, 2010), Michel
Maffesoli (1987), Regina Dalcastagnè (2008, 2012). As análises permitiram observar que a violência
acontece não apenas no plano do mundo representado, mas, também, no modo de construção do próprio
discurso literário.
Aproximar a poesia dos jovens leitores não é tarefa fácil para pais e professores e, dependendo da
maneira como isso for feito, existe o risco de prestar-se um “desserviço” (LAJOLO, 2006) ao ensino. A
poesia é vista com desconfiança pelos alunos devido às inúmeras atividades de gramática, morfologia e
recitais em datas comemorativas. O aspecto lúdico dos poemas reconhecido nos primeiros anos escolares
vai se perdendo conforme a criança avança de série e os currículos das instituições de ensino reservam
cada vez menos tempo para a fruição da poesia. O objetivo desta comunicação é apresentar os resultados
da dissertação de mestrado que fornece ideias de aproximação do gênero poético com os leitores,
utilizando como base teórica sugestões de trabalho baseadas na pesquisa de Costa (2007) e, como
referencial teórico, as publicações de Fernandes e Vieira (2010), Lajolo (2006), Souza (2012) e outros
estudiosos da área. Os diversos poemas escolhidos para o corpus foram retirados dos livros: Carteira de
identidade e O mar e os sonhos, de Roseana Murray (2010, 2011); Parque de impressões, de Eloésio
Paulo (2010) e Poesia de bicicleta, de Sérgio Capparelli (2013), publicações integrantes do acervo do
Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) do ano de 2013.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
A leitura literária nas escolas vem passando por problemas há muito tempo. As dificuldades no trabalho
com a literatura se arraigaram ao longo dos anos, tornando-se hoje banais. O tratamento ineficaz e
prosaico dos textos, a falta de capacitação dos professores, os mitos acerca do ensino da literatura e a
arbitrariedade na escolha das obras dos programas curriculares são alguns dos problemas que foram
abordados nesta pesquisa. Buscamos através de um estudo qualitativo e de uma experiência realizada
com alunos das séries iniciais do ensino fundamental, descobrir diferentes modos de trabalho com a
leitura, a partir de teorias sobre práticas de letramento literário. Do mesmo modo, procuramos refletir o
ensino da literatura sob uma perspectiva mais flexível e compartilhada com os alunos, incentivando a
liberdade e participação destes na escolha dos livros a serem trabalhados. Para tal, utilizamos os
pressupostos de Cândido (1995), Paiva e Oliveira (2010), Zilberman (2009), Cosson (2009), Magalhães
(2008), entre outros para nortear nosso estudo. Os resultados obtidos nos mostraram que, os professores
precisam reconhecer a importância da literatura para o sujeito, trabalhando diferentes textos de formas
diversificadas, considerando os processos de leitura e desmistificando alguns pressupostos equivocados
sobre o trabalho com leitura e literatura na educação básica. Ultrapassar o ensino escolarizado da
literatura e fugir dos mesmos exercícios de interpretação já cristalizados por práticas inexpressivas e
previsíveis, são soluções possíveis, em busca do verdadeiro letramento literário de nossos alunos e de
hábitos de leitura mais libertinos e autônomos dentro das escolas.
Esta comunicação tem por objetivo discutir uma proposta de trabalho para o estudante adquirir novas
competências e conhecimentos por meio da leitura, pois estamos vivendo numa época de inovações
tecnológicas, em que os primeiros lugares são ocupados por aqueles que possuem conhecimento.
Atualmente, as escolas que dispõem de bibliotecas aumentaram, graças a programas de incentivo do
governo, que distribuem acervos para as escolas públicas, possibilitando o acesso dos alunos às obras
literárias de qualidade para suas leituras. É importante o professor ter conhecimento desse local e
também desses programas, como o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) que tem como
objetivo fornecer obras literárias de apoio à prática da leitura literária. Neste trabalho, desenvolvido em
sala de aula, foi observado a importância da leitura literária, pois saber interpretar é desenvolver melhor
sua capacidade de compreender a si e a transformar a sua realidade. Como aporte teórico sobre os
benefícios da leitura, usaremos Martins (1994) que diz que saber ler e escrever para os gregos e romanos
significava possuir as bases de uma educação adequada para a vida, ou seja, conhecimento, educação
essa que visava não só o desenvolvimento das capacidades intelectuais, possibilitando ao cidadão
integrar-se a sociedade no caso a classe dos senhores, dos homens livres. Portanto, as leituras podem
modificar a vida de um individuo, e as leituras literárias possibilitam que ele se torne um cidadão apto a
desenvolver habilidades como: escrever, falar, interpretar, pensar, entre outras. Esse projeto foi
desenvolvido com alunos, do ensino fundamental, de 6º ano 9º ano, numa escola municipal.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Os problemas relacionados à Educação no Brasil são vários e de fácil constatação. De modo geral, as
histórias de sucesso ficam “guardadas” dentro da sala de aula e muitas vezes, sequer são valorizadas
pelos colegas quando estas são socializadas no pátio escolar. Desse modo, no Brasil, estamos mais
acostumados com histórias de insucesso que são, na maioria das vezes, confirmadas em pesquisas. O
ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio que foi criado com o objetivo de indicar a qualidade de
ensino no país, em 1998, envolveu um montante distribuído entre colaboradores, impressão de provas,
transporte, logística, segurança e despesas que somou 453 milhões, em 2015. O PNBE – Programa
Nacional de Biblioteca Escolar, entre 2006 a 2012 investiu 387.257.257, 92 de livros distribuídos em
nosso país. Agora, o governo está estrategicamente organizando o BNC – Base Nacional Comum
Curricular, em que 60% do currículo será padronizado, e em sintonia com o ENEM. O restante ficará
livre para adaptações geográficas e históricas por região. A ideia é fazer com que outros parâmetros que
não apenas os conteúdos vestibulares estejam relacionados com o programa do Ensino Médio. Além
desses dados, temos ainda a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil 3”, que concluiu: mesmo que 60%
das pessoas considerem a leitura importante, o índice de penetração do leitor caiu 5% em 2007. A cada
quatro estudantes se encontra o nível mais baixo na avaliação de Português. Alguns desafios se
apresentam para aqueles que são os responsáveis pela formação de leitores: escola, governo e família.
Esta comunicação se propõe a apresentar o projeto sobre as representações indígenas em obras literárias
selecionadas para o acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE/2014 (anos iniciais do
ensino fundamental) de autoria indígena, a ser desenvolvido em na minha pesquisa para o mestrado,
vinculada ao Grupo de Pesquisa “Centro de Estudos em Ensino, Leitura, Literatura e Escrita”
(CEELLE), sob a coordenação da Profª Drª Célia Regina Delácio Fernandes. Para tanto, os livros
selecionados para o corpus são quatro: Yaguarãboia – a mulher onça, de Yaguarê Yamã; Com a noite
veio o sono, de Lia Minápoty; Karu Taru – o pequeno pajé, de Daniel Munduruku, e A mulher que virou
Urutau, de Olívio Jekupe e Maria Kerexu. Considerando o edital do PNBE/ 2014, esta pesquisa analisará
a representação cultural das personagens indígenas nos livros de literatura infantil, primeiro pelo viés da
busca da identidade, com aporte teórico de Stuart Hall (2006), como é realizada a propagação da sua
cultura, com as teorias de Joseph Campbell (1988) e com os conceitos de representação de Chartier
(1991), aliando teorias entre o verbal e o visual, ancorados em ilustradores como Azevedo (2004), entre
outros. O enfoque desta pesquisa no contexto brasileiro se pauta em leituras da pesquisadora Bonim
(2007), que tratam de temáticas conflitantes da população indígena do país. Esta pesquisa pretende
cumprir o importante papel de propagador da cultura de um povo para construção de sua noção de
alteridade, contribuindo para que os povos indígenas garantam e ampliem seu espaço nos acervos do
PNBE. Como resultado, espera-se que nossos leitores em formação tomem conhecimento do legado
desse povo.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Muitos têm sido os desafios para os professores trabalharem a literatura e a leitura na sala de aula: falta
de bibliotecas, profissionais especializados, escassez de obras, entre outros. Este trabalho integra parte
dos estudos do Grupo de Pesquisa Literatura e Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo e,
portanto, tem a finalidade de analisar brevemente a importância da leitura e literatura e como as mesmas
interferem diretamente na construção de sentidos dos educandos. O presente trabalho caracteriza-se
teórico-metodologicamente como uma pesquisa bibliográfica e aspiramos debater, a partir dos estudos de
Darnton (1992; 2010) e Roger Chartier (1996), alguns aspectos importantes no que tange à leitura e
literatura como bem culturais da humanidade e como elas contribuem para a formação de leitores
inseridos nos seus tempos sociais, históricos e políticos. Percebe-se ainda que num mundo letrado como
é o nosso, a escrita associada à leitura tem e teve papel fundamental no desenvolvimento social e cultural
do ser humano. A leitura não se desenvolveu em uma só direção, teve variações ao longo do tempo e em
diversos lugares. Assumiu muitas formas diferentes entre diferentes grupos sociais e em diferentes
épocas da história. Inseridos nessa perspectiva, acontecem os processos de ensinar/aprender, que tendem
a cumprir suas finalidades quando fortalecem os aprendizes: sujeitos de linguagem, datados, concretos,
reais, que falam, que tem coisas a dizerem, que possuem modos de ser, de se relacionarem com/no
mundo, que sonham, sofrem, sentem, choram, cheiram, vivem enredados, em plena dialogia.
As escolas públicas brasileiras cadastradas no Censo Escolar recebem gratuitamente caixas de livros do
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) do governo federal. Considerando que as escolas são
abastecidas com novos acervos literárias financiados pelo dinheiro público pelo menos a cada dois anos,
é importante investigar como este acervo é recebido pelos alunos aos quais se destina. Neste sentido, o
presente trabalho visa apresentar os resultados finais da pesquisa de mestrado intitulada "Viagens
literárias: navegando pelo Ensino Médio, PNBE e ambiente virtual", cujo objetivo, dentre outros, foi o
de averiguar se o conjunto de obras literárias do PNBE recebido pelos colégios públicos do município de
Palotina, oeste do Paraná, é lido pelos alunos de Ensino Médio deste município. O recorte deste trabalho
gira em torno do acervo do PNBE 2013 para Ensino Médio e de dois colégios públicos que participaram
da pesquisa: um localizado no centro da cidade, outro em um bairro. Sessenta e seis alunos do segundo e
terceiro anos do Ensino Médio destes colégios responderam a questionários e os dados foram
compilados e organizados em gráficos. Taís números demonstraram pelo menos 73% dos alunos leram
ao menos um livro deste acervo. Entretanto, apenas 41% do acervo foi lido, o que demonstra que o
número de leituras é maior do que o número de livros lidos, uma vez que um mesmo livro pode ser lido
por diferentes alunos. Ainda, a pesquisa demonstra a preferência dos alunos por determinados títulos. A
maioria dos alunos recomendou obras que tratam de terror, mistério, suspense, fantasia, aventura e, em
menor número, drama familiar.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Este estudo tem por foco a análise de uma atividade de letramento literário proposta durante o 2º
semestre de 2012, junto a cinco turmas do primeiro período do curso de Direito de uma Instituição de
Ensino Superior privada brasileira, a qual levou ao banco dos réus o romance Natália, do ensaísta, poeta
e romancista português Helder Macedo, publicado no Brasil em 2010. Dentre os objetivos que nortearam
todos os trabalhos com as classes, destacam-se: i) vencer a premissa de que o que quase todos aprendem
na escola é o que devem dizer sobre determinados autores e livros, conforme Abreu (2006); ii) exercitar,
lembrando Eco (2003), a fidelidade e o respeito à fábula literária quando de sua interpretação; iii) dar um
tratamento específico ao romance Natália, um preparo especial, haja vista o fato de a leitura de um texto
literário não ser natural, retomando Aguiar (2000), com vistas a permitir que os grupos percorram todo o
roteiro de fingimento que Helder Macedo traçou quando da elaboração da obra; iv) romper com o
modelo autônomo, permitindo às classes a retomada do agenciamento da atividade de leitura; v) suscitar
leitores autorizados a incitar a construção de suas histórias a partir da leitura de uma obra literária, em
consonância com a proposição de “letramentoS” de Rojo (2009). A título de duração, a atividade de
letramento literário com as turmas cumpriu dezoito semanas, tendo se iniciado logo na terceira semana
de aulas do semestre e se findado na penúltima.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
BRASIL
Este trabalho realizou-se a partir de formações continuadas ofertadas pela Universidade Federal da
Fronteira Sul (UFFS), Campus Realeza, para professores das Escolas de Educação Básica Dr.
Theodureto Carlos de Faria Souto, localizada na cidade de Dionísio Cerqueira-SC e na Escuela de
Frontera Bilingue - Intercultural nº 604 Juan Carlos Leonetti, em Bernardo de Irigoyen, Misiones-AR,
por meio do Programa Escolas Interculturais de Fronteira-PEIF. Dentre as teorias usadas, encontra-se
PETIT, para as concepções de leitor e HAUSER para definições e usos da biblioteca escolar, bem como
ZILBERMAN (2012), quando define a escola como instituição que a sociedade definiu como
responsável para fornecer aprendizagem da leitura e da escrita. As escolas participantes do programa
estão inseridas nesse contexto, são responsáveis pela troca cultural, entre Brasil e Argentina, que também
ocorre por meio da leitura. Afinal, é função da escola, além de ensinar a ler, permitir o acesso de
materiais de leitura. Sendo assim, o presente trabalho objetiva investigar a trajetória leitora dos
professores participantes do PEIF e como veem sua atuação com a leitura na escola. Devido à essa
preocupação quanto ao incentivo da leitura nas escolas de fronteira, a pesquisa foi desenvolvida por
meio de um questionário, respondido por um total de 20 professores em uma das formações fornecidas
pela UFFS no segundo semestre de 2015. Através da pesquisa, concluiu-se que os professores,
brasileiros e argentinos, optam principalmente por trabalhar com contos clássicos e que a instituição
biblioteca representa ser pouco utilizada, tanto na vida pessoal, como na laboral, no trabalho com os
alunos.
O ensino de Literatura nas escolas públicas, cada vez mais superficial, devido ao fato de essa área estar
inclusa nas poucas aulas destinadas à disciplina de Língua Portuguesa, tem dado pouco espaço à
literatura de autoria feminina. Contudo, mulheres escritoras revelam, em suas obras, um discurso que
propõe uma liberdade temática e estética e que discute aspectos importantes da sociedade
contemporânea, o que justifica que sejam contempladas nas aulas de Língua portuguesa e Literatura. Por
isso, sob a perspectiva da Estética da recepção (JAUSS, 1994; BORDINI e AGUIAR, 1993; ZAPPONE,
2009), da inserção dos Estudos Culturais (CULLER, 1999; GUISNKI, 2008: SANTOS e
WIELEWICKI, 2009) e da Crítica Feminista (ZOLIN, 2009a, 2009b, 2009c; ALMEIDA, 2010), essa
comunicação propõe um trabalho para as aulas de Língua Portuguesa e Literatura, no Ensino Médio,
com o objetivo de discutir as representações de gênero no contexto contemporâneo, tendo como corpus o
Conto “Entrevista ao Vivo”, que integra a coletânea Inescritos, publicada em 2004, pela escritora
paranaense Luci Collin. Além disso, buscar-se-á um trabalho intertextual desse conto com outros
gêneros como uma entrevista e um filme.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
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Textos de diferentes gêneros circulam pela sociedade, e o surgimento de novas tecnologias suscita que
os sujeitos desenvolvam estratégias de compreensão que lhes possibilitem interagir adequadamente nesse
contexto. No entanto, a escola se converte no principal – senão no único – espaço para que os estudantes
aprimorem os mecanismos imprescindíveis à leitura do texto literário, cuja densidade semântica
contrasta com o utilitarismo imediatista de muitos gêneros textuais presentes na vida moderna. Nesse
sentido, coloca-se em discussão o papel dos livros didáticos de literatura na formação de leitores: o que
pretendem essas obras, formar e/ou meramente informar? A partir de um corpus ainda em organização,
pretende-se delinear o que seria uma “história dos manuais para o ensino de literatura no Brasil”,
pontuando, dentro de um recorte temporal de quase um século, o que se mantém ou que se modifica nas
propostas para o estudo da literatura nas salas de aula da Educação Básica. A presente pesquisa tornou-se
um projeto de Doutoramento vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade
Federal do Rio Grande – FURG.
A leitura literária praticada na escola brasileira está intimamente associada à ratificação do livro como
portador único e legítimo dessa categoria de texto, o literário (HANSEN, 2005). Assim, o modelo
autônomo de letramento (STREET, 1999, 2010, 2014), comum no ambiente escolar, adquire força e
autoridade sobre outras práticas de letramentos menos valorizadas pela escola e até mesmo fora dela,
com o fenômeno da “pedagoziação do letramento” (STREET, 2014). Com efeito, este modelo de
letramento está impregnado, ainda, em campanhas de incentivo à leitura veiculadas no Brasil e que
circulam principalmente nos ambientes escolares, reforçando a ideia da “boa leitura” ligada ao livro
(DALLA VECHIA e PETERMANN, 2014). Tendo em vista que o advento das tecnologias tem
influenciado as relações sociais e o modo de interação e acesso às narrativas, se faz pertinente a
discussão sobre multimodalidades (KALANTZIS e COPE, 2008) e leitura ficcional no contexto escolar,
sobretudo para pensarmos em uma escola mais articulada com as práticas sociais das comunidades em
que estão inseridas. Boa parte dos adolescentes em idade escolar está inserida nesse universo tecnológico
e constroem modos plurais de apropriação dessas narrativas. Este trabalho visa, então, discutir e explorar
os modos como, tanto na sociedade, quanto na escola, as concepções dominantes de letramento literário
são construídas e reproduzidas de tal maneira a marginalizar outras práticas de letramento, no caso, o
ficcional e multimodal, realizadas cotidianamente por jovens, não só fora da escola, mas dentro dela,
ainda que de forma velada.
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LEITURA E ESCOLA: QUESTÕES SOBRE O ENSINO DA LITERATURA NO
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Este artigo tem por objetivo explicitar algumas questões relacionadas às adaptações literárias no contexto
escolar, sejam elas escritas, sejam elas transpostas para outras mídias (como o cinema e a televisão),
verificando assim a proposta implícita de que é possível a realização de um diálogo entre os textos e, por
consequência, a ampliação do acesso à literatura aos leitores mais jovens. Para tanto, é necessário traçar
o perfil do leitor brasileiro, e, conforme discorre Antonio Candido (2006), de que forma pode ser
assegurado o seu direito à literatura. Também é útil discorrer sobre as diversas formas de tradução e
adaptação atuais, principalmente quando se observa essa relação já consolidada entre literatura e cinema,
que ora trazem benefícios, quando aproximam o aluno da obra original, e ora podem trazer malefícios
quando não proporcionam o diálogo entre os textos. Para isso, serão utilizadas as colaborações de Marisa
Lajolo (2005) no tocante ao papel da escola em relação ao letramento literário; Vitor Necchi (2009) o
qual aborda especificamente as adaptações de livros para o cinema e o seu contexto dentro da escola,
Amaya Prado (2010) em relação às adaptações de clássicos, e por fim, Andréa Antolini Grijó (2007) que
contribui com reflexões a respeito da qualidade das adaptações literárias e o tratamento dado à
linguagem nas mesmas.
Dentro do espaço escolar o ensino de literatura tem tomado diversas faces, entre elas está o diálogo com
outras artes, as quais enaltecem a literariedade do texto, lhe configurando, assim, seu estado de arte. A
pesquisa visa analisar uma experiência de leitura literária em função da criação de um laboratório de
linguagem, em que os objetos, Vidas secas (1938) de Graciliano Ramos e Claro Enigma (1951) de
Carlos Drummond de Andrade, serão apreciados por meio de um diálogo entre corpo e voz. Tratamos,
pois, de um estudo de recepção, mas uma que reclama o corpo do leitor como elo significativo na
apropriação da obra, neste caso, a performance. Zumthor (2007) diz que a performance é sempre
constitutiva da forma, é por isso que ela pode partir do texto, uma vez que este reintegra um conjunto de
formas. Ela afeta a natureza daquilo que é conhecido, modifica o conhecimento e marca o leitor em uma
perspectiva sensitiva. É por isso que se faz importante pensarmos em um espaço na escola que dê
aberturas para a realização da leitura literária por um viés performático, atrelando corpo e voz na
recepção dos textos. Não podemos ser inerentes que o leitor possui um corpo, o qual é peso sentido na
experiência de leitura, ele é o meio que materializa os sentidos que a palavra remete, aquilo que lhe é
próprio, uma realidade vivida, em que promulga uma relação com o mundo. A voz é uma alteridade,
porque articula a palavra do texto no sujeito. A pesquisa é de fundo bibliográfico, com abordagem
qualitativa, já que iremos observar a relação subjetiva do sujeito social com o texto literário, a partir de
Jauss (1994), Iser (1979), (2012), Larrosa (2007), Zumthor (2007) e Kefalás (2012).
Desde os anos 2000, a organização não governamental ‘Instituto Alfa e Beto’ (IAB) vem desenvolvendo
materiais e programas de ensino pautados na abordagem fônica de alfabetização. Seus produtos e
serviços vêm tendo ampla repercussão em mais de uma dezena de redes estaduais de ensino, inclusive
em Mato Grosso do Sul, estado onde foi realizada esta pesquisa. Dessa forma, pretende-se discutir neste
texto o caráter utilitarista da literatura infantil presentes no Programa Alfa e Beto de Alfabetização, bem
como suas implicações pedagógicas. Para tanto, ao compor este trabalho, utilizou-se dos resultados de
pesquisa de mestrado, cujo um dos objetivos foi analisar a concepção de leitura presente no ‘ABC do
Alfabetizador’, livro de formação do professor alfabetizador, do Programa Alfa e Beto de Alfabetização.
Quanto aos aspectos metodológicos da pesquisa, optou-se para a realização desta investigação pela
pesquisa de abordagem qualitativa cujas fontes de informação e os procedimentos de coleta são de cunho
documental. Os resultados da análise apontaram que o Programa considera a literatura infantil como
ineficiente e desnecessária na formação do aluno leitor, pois nessa perspectiva, os materiais de leitura
deveriam seguir os padrões determinados pela sequência didática de apresentação das famílias silábicas,
que somente se encontram nos minilivros decodificáveis e têm como objetivo aumentar a fluência da
decodificação.
As políticas públicas de incentivo à leitura tem por finalidade inserir os alunos de escolas públicas no
universo da cultura letrada durante o processo de formação escolar. Uma proposta que visa a reversão,
histórica e social, de restrição do acesso aos bens e serviços culturais limitados a parcelas privilegiadas
da população. Instituir uma política de formação de leitores é fundamental para democratizar o acesso as
fontes de informação, fomentar à leitura e garantir à formação de leitores competentes. O Programa
Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) é uma política governamental que distribuí obras literárias e
didáticas às bibliotecas, alunos e professores das escolas públicas de ensino fundamental que visa
superar a carência do fornecimento desses recursos ao longo do tempo. Este estudo pretende obter dados
sobre o uso dos livros encaminhados às escolas e o impacto do PNBE na formação de leitores, com a
finalidade de analisar as praticas pedagógicas de leitura em torno das obras distribuídas pelo Programa e
realizar um diagnóstico sobre o que os diretores, coordenadores, professores, bibliotecários, pais e alunos
pensam sobre os materiais literários que recebem, quais as praticas de leitura realizadas pelas escolas e o
papel que a biblioteca representa no projeto político-pedagógico das escolas públicas municipais de
Presidente Prudente, colaborando para a reflexão das praticas de leitura que são desenvolvidas nas
escolas, à formação dos profissionais envolvidos e o espaço físico apropriado para a biblioteca escolar,
para que esta possa ser integrada como ambiente centralizador no processo de aprendizagem e mediação
da informação.
Desde os seus primórdios, a leitura literária transita pelo mundo e está imersa nas sociedades como
instrumento de construção e reconstrução de sentidos que transcendem os símbolos, ideias e palavras.
Nesse aspecto, perpassa em diferentes contextos históricos e culturais, e seu protagonismo não deixa de
entrelaçar-se com os desafios tecnológicos da contemporaneidade. As transformações ocorridas na
sociedade são caracterizadas pela rapidez e fragmentação das informações e o mercado editorial tem sido
fortemente pressionado para esta difusão voltada ao universo virtual. Observa-se em meio às tecnologias
e ao crescente interesse pelas novas ferramentas tecnológicas a preocupação com a formação de leitores
competentes, críticos, criativos, reflexivos e solidários. Frente a esse universo atual, ao refletir sobre o
protagonismo da leitura literária no cenário escolar, cabe sinalizar que a sua importância, bem como sua
imprescindibilidade, está relacionada com novos suportes e novas formas de ler. Assim, analisando sites
de literatura infantil, serão discutidas as estratégias de leitura utilizadas pelos leitores para que haja a
interação com esses novos suportes de apresentação do texto literário. Para tanto, o estudo terá como
fundamentação teórica autores como Marcuschi, Hayles, Santaella, Yunes e Zilberman. É sobre a
importância da leitura literária na contemporaneidade e os entrelaces entre a leitura e as influências dos
novos recursos digitais, seus desafios e perspectivas que discorremos no presente artigo, entremeando o
contexto, as teorias, as reflexões.
Este texto apresenta uma análise de atividades realizadas a partir da história Chapeuzinho Vermelho
realizadas com vinte e oito crianças de cinco anos, em uma escola municipal de Rondonópolis (MT), a
partir das estratégias de leitura metacognitivas estudadas por Souza e Girotto (2010). Assim, o objetivo
da comunicação é analisar a presença das estratégias: conexão, inferência, visualização, sumarização e
síntese nas intervenções da mediadora, identificando a ampliação dos conhecimentos prévios das
crianças a partir da apresentação de versões diferentes da mesma narrativa, bem como apresentando aos
pequenos suportes diversificados. As práticas analisadas são fruto da coleta de dados do mestrado de
uma das autoras, tendo como metodologia a pesquisa-ação. A investigação revela que as crianças
puderam fazer estratégias como conexão, inferência, sumarização e síntese durante as atividades de
leitura. Desse modo, o presente estudo revela que experiências de leitura literária enriquecedoras podem
contribuir para a formação das crianças leitoras, mesmo se ainda não alfabetizadas, pois favorecem a
observação da criação artística e literária, alargando sua imaginação, ampliando seu conhecimento de
mundo, sua bagagem cultural e estimulando o desejo de novas vivências literárias.
O presente trabalho busca saber, através de estudos e pesquisa, como a leitura pode contribuir para a
reconstrução social dos indivíduos privados de liberdade e quais são os frutos dessa leitura nos presos
participantes do Projeto de Remição da Pena pelo Estudo através da Leitura na Penitenciária Estadual de
Ponta Grossa. Projeto que se constitui na disseminação da leitura nos espaços prisionais podendo
proporcionar a ampliação da capacidade leitora, oportunizando ao que lê a mudança de opinião e
construção de pensamentos que vislumbrem melhor convivência na sociedade. Para cumprir os objetivos
do trabalho, será apresentado um levantamento teórico sobre a importância da leitura e como ela pode
impactar e transformar a vida do leitor; para isso, tomaremos como ponto de partida a Estética da
Recepção, surgida no início dos anos 1970 com o teórico alemão Hans Robert Jauss e que vem sendo
diversificada com o passar dos anos. Também serão exploradas experiências em relação a esse tipo de
projeto e, após isso, será apresentada uma pesquisa realizada no projeto de leitura no qual o acadêmico
teve a oportunidade de participar por dois (2) anos, contribuindo para sua formação e estimulando a
realização dessa pesquisa.
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LÍNGUA/LITERATURA EM DIÁLOGO: INTERMIDIALIDADE E TRANSLAÇÃO
ENTRE MÍDIAS
Para o linguista Milner (1982), nada da literatura pode ser estranho à língua, visto que todo texto literário
é essencialmente constituído por sequências linguísticas em única e especial assemblagem ; assim sendo,
nenhuma língua pode ser completamente internalizada se não for ali integrada a possibilidade de sua
poesia. Se a literatura é uma manifestação específica que supõe a língua e se o uso pleno de uma língua
não se efetiva sem a criação/recepção de assemblagens inusitadas, indagaremos primeiramente nesta
comunicação o que há de língua em outros modos plurisemióticos de potencial artístico, tais como a
encenação teatral e a obra cinematográfica. Embora não se restrinjam à matéria prima linguística
(podendo até mesmo dispensá-la), estabelecem sentidos por arranjos enunciativos inabituais que incitam
à (re)descoberta do potencial estético da linguagem. Questionaremos em seguida a intermidialidade sob
este mesmo prisma, focalizando obras artísticas geradas pela translação entre a materialidade linguística
de um texto literário de gênero dramático e o arranjo enunciativo multimodal instaurado pela
cinematização. Para tanto, levantaremos sequências intermidiais que emergem da articulação entre o
texto teatral Une pièce espagnole (REZA, 2004) e o filme Chicas (REZA, 2010), bem como entre Le
dieu du carnage (REZA, 2006) e Carnage (POLANSKI ; REZA, 2011). Por fim, discutiremos
implicações dessas translações para o processo de discursivização em língua estrangeira, visto que
conforme nos aponta Anderson (1999; 2012), o ato enunciativo em língua Outra se encontra
intrinsecamente relacionado à irrupção de espaços ficcionais nos quais o aprendiz se inscreve enquanto
autor.
Assiste-se atualmente a uma remixagem da linguagem em que a imagem se conjuga, de forma cada vez
mais simbiótica, à escrita: le texte n’exerce plus sa domination absolue, mais doit partager son empire
avec le monde de l’image (VANDENDORPE, 2012). Nesse contexto, gêneros ditos tradicionais ganham
um novo frescor e tornam-se objeto de várias formas de re-significação que testemunha o impacto das
novas mídias. Destacam-se, aqui, as transposições midiáticas literárias que conjugam texto/imagens,
entre elas a HQ. Por meio da imagem, artifício antigo, o leitor contemporâneo percorre a leitura através
de um novo viés. Com a sequência de imagens fixas da HQ, desenhos são decodificados veiculando uma
nova ideia ao texto primeiro e desvelando a polissemia do literário. Segundo Boutin (2012), a HQ é um
multitexto (conjugação de múltiplos modos: textual, visual, gestual, sonoro, etc.) que propõe uma
multileitura (decodificação, compreensão, integração). Para o autor, « lire » de la bande dessinée, c’est
nécessairement se confronter à un message narratif d’une complexité certaine et beaucoup plus dense
que ne le laissent présager ses apparences (BOUTIN, 2012). Essa comunicação lança uma discussão
sobre o transposição midiática HQ a partir da adaptação do conto Le Horla de Maupassant para a HQ Le
Horla d’après l’œuvre de Guy de Maupassant (SOREL, 2014). Propõe ainda a descoberta do sentido das
calhas fantasmas (PEETERS, 1998) que figuram como vetores para realizar a re-criação da imagem
sequencial e ir além do sentido primeiro da transposição midiática do literário.
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LÍNGUA/LITERATURA EM DIÁLOGO: INTERMIDIALIDADE E TRANSLAÇÃO
ENTRE MÍDIAS
Nesta comunicação, vamos apresentar a reflexão feita sobre a possibilidade de realizar uma leitura
multimodal a partir de uma coleção de curtas feita com base em poemas do francês Jacques Prévert. Se
por um lado a poesia ativa o pensamento analógico e criativo, enfatizando uma produção mais livre e
solta em classe, por outro, muitas vezes, ela é vista como erudita e de difícil alcance para os alunos. Essa
coleção multimodal, uma vez que mescla texto poético, imagens e sons, permite uma proposta que além
de acrescentar recursos que propiciam a compreensão do texto escrito em língua estrangeira, abre
diferentes relações e interpretações, estimulando o aprendiz a elaborar sua própria leitura e a apropriar-se
da palavra em classe para produzir enunciados. Sendo assim, abordaremos os ganhos de um trabalho
com poesia e leitura multimodal no ensino da língua estrangeira, proposta esta que traz relevância ao
aspecto lúdico, cultural e, sobretudo, a um aprendizado significativo uma vez que traz à tona a
subjetividade do sujeito.
A intermidialidade vem sendo o foco de análises de pesquisas que incidem sobre as diferentes relações
entre as mídias e os meios de comunicação, bem como sobre a sua evolução histórica dentro desse
processo de diálogo com outras mídias, como nos lembra Irina Rajewsky (2012). Da comparação entre
mídias, considerando-se o texto literário uma delas, compete que se faça, segundo GAUDREAULT e
MARION (2012), uma abordagem fundada em olhar para uma nova mídia a partir da perspectiva da
outra mídia que a recebe em sua trajetória. Destarte, o presente trabalho apresenta algumas das reflexões
a que me proponho em meu projeto de Mestrado: reflexões acerca do diálogo intermídias e do papel que
as novas mídias vem ocupando na contemporaneidade. Trata, então, do diálogo intermídias que se
estabelece na passagem da obra de John Ronald Reuel Tolkien para a mídia videointerativa The Lord of
The Rings Online, disponibilizada pela Turbine Inc. em parceria com a Warner Bros Entertainment, com
foco nos espaços geográficos de A Sociedade do Anel. Objetiva elencar aspectos importantes na
construção desse diálogo, de como se instala e como se movimenta. O percurso teórico que norteia este
trabalho perpassa pelo processo de remidiação, estabelecido por BOLTER e GRUSIN (2002) como a
passagem da propriedade de uma mídia para outra que agregue à segunda mais do que apenas o conteúdo
da primeira ou, ainda, quando uma mídia é representada em outra, e compreende que novas mídias, aqui
as videointerativas, não são agentes externos a um contexto porque emergem de dentro de contextos
culturais.
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LÍNGUA/LITERATURA EM DIÁLOGO: INTERMIDIALIDADE E TRANSLAÇÃO
ENTRE MÍDIAS
Este trabalho pretende discutir sobre a adaptação fílmica de Alain Corneau do romance Noturno Indiano,
do escritor italiano Antonio Tabucchi. Para isso, intenta partir de uma discussão teórica sobre a
adaptação de obras literárias para o cinema, considerando-se esse processo como resultante da
interpretação do adaptador, o qual precisa fazer escolhas, que ora aproximam, ora distanciam o texto-
alvo do texto-fonte. Assim, partindo do conceito de intermidialidade, segundo Claus Clüver, considera-
se a adaptação como uma forma de relação intermidiática, a qual envolve a transposição de uma mídia
para outra. É nesse processo de adaptação que o texto de Antonio Tabucchi é recriado por Alain
Corneau, que através de escolhas e recortes do texto-fonte, dará origem a um novo texto. Sendo assim, o
cineasta cria soluções surpreendentes para superar os obstáculos impostos pelo próprio processo de
transposição de um texto de uma mídia para outra. Um exemplo significativo é a proposta de simulação
do “espelho” que se dá na cena final de Noturno Indiano entre os personagens Roux e Xavier. Além
disso, Alain Corneau insere em seu filme uma cena que Antonio Tabucchi havia retirado de seu romance
por julgar que seu tom diferia muito da atmosfera vaga e imprecisa da narrativa. Esse texto foi, portanto,
isolado pelo escritor italiano em um conto intitulado “Os trens que vão a Madras”. Com esta atitude, o
cineasta ignora a decisão de Antonio Tabucchi, construindo a trama de seu filme à sua maneira.
Este estudo tem por objetivo promover uma reflexão sobre aproximações entre a literatura e o cinema a
partir de dois textos, entendidos como ecos discursivos tanto do mundo real para a ficção, quanto da
ficção para a ficção: o conto O primeiro pecado, que integra a obra A vida como ela é...A coroa de
orquídeas (1993) de Nelson Rodrigues – obra que reúne publicações das décadas de 50 e 60, do Jornal
Última Hora - e o filme Traição (1998), com adaptação de roteiro feita por Patrícia Melo, Fernanda
Torres, Zacarias e Claudio Torres e com a direção de Arthur Fontes, José Henrique Fonseca e Claudio
Torres. Para a análise, serão evidenciados os diferentes elementos estéticos presentes na adaptação do
conto para linguagem cinematográfica – sobre a participação do narrador, o novo enfoque para ação
dramática, as cenas em evidência, com a interpretação das ressonâncias provocadas pelos dois textos,
num diálogo entre estruturas ficcionais e históricas, meios de expressão e mídias. A proposição visa a
desvendar os efeitos expressivos desses projetos expostos e as relações intermidiáticas. A pesquisa deu-
se a partir das contribuições teóricas de Rosenfeld (2002), Antonio Candido (2002), Kristeva (1974),
Samoyault (2008), Bakhtin (2002), Perrone-Moises (1990), Patrice Pavis (2011), Campos (2007), dentre
outros. Evidencia-se que o viés da interpretação fora organizado a partir do entendimento de que toda a
criação e adaptação literária/artística se configura como um novo projeto estético, com novos elementos
semióticos.
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LÍNGUA/LITERATURA EM DIÁLOGO: INTERMIDIALIDADE E TRANSLAÇÃO
ENTRE MÍDIAS
O mercado editorial e a indústria do livro exercem a função de aproximar autores e público leitor por
meio da publicação de livros acompanhada de ações de divulgação. Conforme o sucesso de determinada
obra, novas edições são publicadas, a fim de atender à demanda dos leitores. Além da obra na íntegra,
essas edições podem apresentar novos elementos que contribuam para a compreensão do texto literário:
capas, xilogravuras, ilustrações, formato etc. Este trabalho busca relacionar a materialidade entre as
edições da obra Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato, publicadas em 2001, 2007 e 2013
respectivamente pelas editoras Boitempo, Record e Companhia das Letras. Além de reconhecido e
respeitado pelo mercado editorial e pela crítica literária, suas obras oferecem vasto material de estudo.
Portanto, para este trabalho, foi selecionado o primeiro romance do autor, por meio do qual busca-se
explicitar a relação das capas e demais elementos gráficos das diversas edições com a enredo, outros
componentes narrativos e o contexto histórico da publicação.
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Página
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Simpósio 41: Literatura de autoria feminina contemporânea: questões estéticas, temáticas e ideológicas
Um crime que jamais é esclarecido. Uma narradora que confessa que mente. Um romance policial em
que o crime é o menos importante a esclarecer. Assim é o romance "Deixei ele lá e vim", de Elvira
Vigna, que tem como traço marcante a constante mobilidade das situações que permeiam o enredo cuja
protagonista tem um passado indeterminado, uma família indeterminada, um trabalho indeterminado, um
gênero indeterminado. Este trabalho visa a analisar a distinção entre a figura do autor e a figura do
narrador dentro do mencionado romance e, dessa forma, discutir a força do pensamento androcêntrico
em que se baseiam certas estruturas sociais. Assim, definições de autor e narrador e ainda questões
relativas à dominação masculina são consideradas elementos fundamentais para a elaboração do presente
estudo. Demonstra-se que a protagonista do romance examinado é construída de modo a revelar a adesão
às estruturas de dominação masculina que norteiam suas relações dentro de uma narrativa repleta de
ambiguidades.
Astrid Cabral escreve nas primeiras páginas de Infância em franjas (2014) que “A infância não passou de
todo. Recolheu-se a um armário de lembranças-fantasmas,” que – como ela diz – é “de onde às vezes
escapam e me visitam”. A atitude declarada pela autora lembra as palavras de outro autor, Walter
Benjamin (2007), quando esse menciona que “[o] verdadeiro método de tornar as coisas presentes é
representá-las em nosso espaço [...]. Não somos nós que nos transportamos para dentro delas, elas é que
adentram a nossa vida”. As franjas-poemas guardadas agora saltam pelas páginas do livro com poder e
violência desde os primeiros versos, que retomam e subvertem as palavras de Casimiro de Abreu,
quando ela ergue a voz e declara não ter saudades da infância, mas, ainda, que deseja “Enfrentar a lei dos
grandes / e encarar o fogo do inferno / como conversa de espertos”. Em “Cabeça de menina”, está longe
de escolher um ludismo inocente e delicado: os sapos não são mais príncipes como nos contos de fadas;
ao contrário, pedras e lascas cortantes, rasgando um espaço pelo qual podem vazar fantasmas. Assim, o
discurso lírico de Astrid Cabral volta-se à tradição lírica brasileira, a fim de inverter ironicamente seus
valores. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é analisar a paródia (HUTCHEON, 1985) que Astrid
Cabral executa sobre a memória literária e desdobrar seu efeito sobre a conduta patriarcal questionada
por seus poemas. É pela fratura no discurso canônico que o eu lírico feminino abre vagas para a
realização de sua memória, de sua subjetividade, isto é, de si.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
O tema mulher e sociedade carrega uma gama de discursos e práticas sociais que definem e dão corpo às
representações da identidade feminina. A mulher, sujeito histórico e social, conquista aos poucos o
direito de se representar através da voz de sua própria consciência. Na literatura brasileira, somente a
partir do século XIX é que ela consegue se expressar de maneira mais independente e libertária. Como é
a sua visão sobre o mundo? Quais são os seus ensejos, suas reinvindicações, seus valores, deveres e
direitos? Essas questões são reveladas em diversas obras literárias, posto que na contemporaneidade
aparecem de modo mais despojado, porém com engajamento. Em particular, o livro de Heloísa Seixas
“Pente de Vênus – histórias do amor assombrado” traz a configuração feminina impressa no desejo
amoroso. Portanto, reflexão e sentimentos se constroem juntos, no assombro do existir. Os contos não se
propõem a responder questões, mas convidam o leitor a participar do mistério de ser mulher e amante. O
presente trabalho se destina na análise de dois textos bastante significativos: “Assombração” e “Pente de
Vênus”, sob a pena de investigar, a voz das personagens em situação amorosa e assombrada. Para tanto,
recorre-se ao referencial teórico: “A dupla chama – amor e erotismo” (1914) e “Mimesis as Make-
Believe: On te Foundatios of Representational Arts” (1990). Na primeira, PAZ traz as configurações do
sujeito amoroso e do erótico; na segunda,Walton apresenta e discute os princípios geradores de ficção, os
quais compõem o quadro sombrio de ambas as narrativas.
Este estudo apresenta uma exegese sobre a poética da solidão presente em cinco contos da escritora sul-
rio-grandense Cíntia Moscovich, partindo, a priori, da perspectiva filosófica de Gaston Bachelard. Em
sua tese A poética do devaneio, o estudioso aponta que “as imagens cósmicas pertencem à alma, à alma
solitária, à alma princípio de toda solidão” (BACHELARD, 1996, p.15). Da mesma forma, na retórica
intimista de Moscovich, ressaltam-se protagonistas femininas imersas em uma profunda inquietação com
a platitude dos dias e a fugacidade do tempo. Embora em diferentes circunstâncias, nas narrativas
apreciadas, o momento epifânico da solidão enleva o despertar das personagens para a realidade efêmera
na qual se encontram, assim como intensifica o anseio por recuperar o irrecuperável: o algo perdido no
tempo, na ordem natural que aplacara a vida destas mulheres. Logo, uma vez que o fenômeno da solidão
se concentra no âmago dos enredos, este decorre num manancial cósmico que permeia a estética da
escritora gaúcha, em torno de temas como a velhice, a morte e a paixão. Assim, ao reconhecer uma
“poética da solidão” na obra da autora, esta análise fundamenta-se nas teses hermenêuticas de Bachelard,
que perscrutam a motivação simbólica inerente às solidões do ser, e de Gilbert Durand, que percebem os
símbolos enquanto constelações imagéticas compostas por estruturas que provêm da memória: “longe de
estar às ordens do tempo, a memória permite um redobramento dos instantes e um desdobramento do
presente; ela dá uma espessura inusitada ao monótono e fatal escoamento do devir” (DURAND, 2002, p.
402).
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Utilizando a Crítica Feminista na leitura dos livros de Leila Jalul, escritora acreana que reclusa, em
Ilheus, na Bahia, temos orientado vários trabalhos de PIBIC, no âmbito da pesquisa na UFAC, com
bolsistas de iniciação científica, desde 2011, com o objetivo de resgatar as históriasde mulheres que
viveram no Acre, retratadas na ficção, que deixaram grandes contribuições na cultura e na educação. No
decorrer dos trabalhos, foram trabalhados todos os livros de contos da autora denominados Suindara
(2007); das cobras, meu veneno (2010); Minhas vidas Alheias (2011) e Memórias Andantes (2015),
como também seus dois livros de poesia Coisas de Mulher (1997) e Absinto Maior (2001), além da
pequena novela Luziente (2012). Com esse material, nasceu a ideia de escrever um artigo analisando
algumas personagens históricas das mais expressivas, retratadas em contos de Leila Jalul tais como
Senízia Feitosa, mas conhecida como Dona Mozinha, Clarice Fecury, Dona Eutália, as lavadeiras e
costureiras da cidade de Rio Branco dos anos 1960. Como viés teórico, utilizamos capítulos de livros e
artigos de Lucia Osana Zolin, Guacira Lopes Louro e Margarete Lopes. A metodologia adotada, além da
leitura dos livros de Leila Jalul, foi fazer pesquisa bibliográfica (reportagens em jornais e revistas
procurando as mulheres retratadas por ela na literatura) e um trabalho de campo limitado a conversar
com amigos, buscando na literatura de escritores acreanos retratos dessas mulheres em prosa e verso.
Também pesquisamos no acervo particular de algumas delas Como resultado, reunimos diversos traços e
olhares das mulheres retratadas com maestria por Leila Jalul e que marcam a história das mulheres do
Acre.
Alumbramentos (2012, prêmio Jabuti de poesia de 2013), de Maria Lúcia Dal Farra, como a própria
escritora menciona, pode ser “dito simples palimpsestos” (p.15). Neste livro de poemas, a poeta se
inscreve no tecido arte, (re)tomando vozes poéticas femininas como de Anne Sexton, Mariana
Alcoforado, e outras vozes e linguagens como Lorca , Dali e Klimt. Através da analogia que se pode
fazer ao Palimpsesto, Dal Farra (re) cria sobre o tecido destas vozes, através e sobre voz do outro, uma
variedade de outras imagens, linguagens, e , principalmente, representações femininas, que se
multiplicam e ganham voz, identidades e novos olhares, sendo construídas através de elementos
sinestésicos, transformando o poema numa experiência sinestésica e multidisciplinar. Partindo desta
analogia, o presente tem como objetivo analisar a (re) construção das várias representações femininas na
poesia de Alumbramentos, mostrando como a poeta dá corpo e voz a mulheres emudecidas, mulheres do
papel ou da tela, (re) escrevendo-as no corpo, por vezes sensual, do papel, no corpo do tecido poético,
através do entrelaçado de vozes que se confundem e se fundem na voz do eu lírico feminino na poesia de
Maria Lúcia Dal Farra.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
O presente artigo propõe-se a analisar a literatura erótica feita por mulheres do século XXI através dos
contos “Curiosidade” e “Sessão das seis”, ambos de Tércia Montenegro. Ao final das análises, pretende-
se expandir literariamente aquilo de que tanto se fala na atualidade: a emancipação feminina quando
relacionada ao sexo. As personagens são representadas por meio de um discurso subversivo em relação
ao papel sexual da mulher em meio a uma sociedade patriarcal que as coloca apenas como objeto de
satisfação de desejos masculinos. São mulheres que têm pleno controle de sua libido. Para tanto, o
estudo foi pautado em teóricas feministas que tratam da sexualidade da mulher, como Simone de
Beauvoir, Elódia Xavier e Tânia Maria Cemin Wagner. Além disso, tem como base alguns
indispensáveis teóricos do erotismo: George Bataille, Francesco Alberoni e Luciana Borges. Como se
torna imprescindível a análise da linguagem pornográfica, Dominique Maingueneau também terá seu
espaço nesta pesquisa de maneira a analisar os mecanismos e finalidades da erotismo na literatura da
sociedade atual. Os textos literários selecionados para análise polemizam os fetiches e desejos
libidinosos femininos presentes nos contos selecionados. São encontrados o exibicionismo e o ménage à
trois, atitudes que representam a autodescoberta da sexualidade feminina. Espera-se, por fim, evidenciar
a mudança de comportamento sexual por parte das mulheres no século XXI.
Falar da literatura de autoria feminina na contemporaneidade é tatear por caminhos singulares, pois se
nos parece que o feminismo trouxe um grande avanço para as condições femininas, por outro lado, ainda
percebemos a necessidade de discutir as questões voltadas para a relação de poder que acaba por dar o
tom dos discursos acerca dos papéis sociais atribuídos socialmente à mulher. A literatura contemporânea
também passa por esse enfrentamento. Ora temos a representação de mulheres emancipadas, donas de
seu corpo e de seu destino; ora temos a submissão, a coerção como parte da identidade dessas mulheres
de papel. Para essa discussão teremos a análise de dois contos contemporâneos. O primeiro, “Sem asas,
porém...”, de Marina Colasanti, publicado em 1997 e inserido na obra Longe do meu querer; O segundo,
“A gaivota”, da autora Augusta Faro, faz parte da coletânea A Friagem, cuja primeira edição é de 1998.
Nos dois contos podemos ver essa oscilação dos discursos que permeiam a representação das mulheres
na literatura de autoria feminina: presas ao seu destino de mulher (destino esse pautado em um
pensamento patriarcal), ou na iminência de romper com essa prisão e buscar novos voos, enfim,
enfrentamentos de longa data e ainda assim contemporâneos.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
O romance Azul-corvo, publicado em 2010, por Adriana Lisboa, traz como núcleo narrativo central o
deslocamento de Vanja, ainda adolescente, do Rio de Janeiro para o estado do Colorado. Na busca pelo
pai biológico que nunca conhecera, ela se depara com Fernando, ex-marido da mãe recém-falecida e que
a havia reconhecido como filha. Dessa forma, a protagonista-narradora, de forma retrospectiva, tenta
reconstruir suas memórias, ao mesmo tempo em que busca compreender a história da mãe, voltando ao
lugar onde nasceu, refazendo seus passos e tomando conhecimento da história de Fernando. Dessa
forma, na obra, a memória individual cruza-se com a memória coletiva-histórica, apostando no papel
inquiridor da ficção em resgatar os fatos da Guerrilha do Araguaia, não contados pela história oficial.
Esse artigo – que se baseia, entre outros nos estudos de Hutcheon (1991), Bauman (1998), Heidegger
(2002), Hall (2011) e Ricoeur (2007) – tem como foco uma análise das relações entre história e memória
no romance de Lisboa, no qual é extremamente significativa a incursão de Vanja pela história recente do
país, por meio das percepções da memória, como reconstrução da experiência humana em resgatar o
vivido por meio de imagens quase sempre verticais e descontínuas, do personagem Fernando, um ex-
combatente da Guerrilha do Araguaia, expatriado na América. São as lembranças que o passado propicia
que levam ao sentimento de pertencimento a uma história e a um espaço. Pelo fato de o romance propor
uma visão alternativa desse conflito ocorrido durante a Ditadura Militar Brasileira, apresenta traços do
que tem se chamado, frequentemente, na literatura contemporânea, de metaficção historiográfica.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Há aproximadamente um século, devido o surgimento das mais diversas tecnologias e mídias, o mundo
artístico vem se desvinculando do convencional modelo de Arte, dando espaço às novas noções de
identidade e cultura. Com exceção da escrita, que busca manter seu caráter de identidade autêntica e
estável, a cultura da Arte tem aceitado o mundo digital e toda a sua complexidade. No entanto, algumas
figuras das letras contemporâneas tem se desvinculado dessa estabilidade, subvertendo a própria
estrutura literária de seus textos. Com base nisso, este trabalho tem como objetivo realizar uma análise
dos dois romances da escritora paranaense contemporânea Luci Collin, intitulados Com que se pode
jogar (2011) e Nossa Senhora d'Aqui (2015), levando em consideração até que ponto eles subvertem o
convencional modelo de Arte para dar espaço as novas noções de identidades e culturas. As análises
serão baseadas nos estudos Pós-estruturalistas, especificamente nos Estudos Culturais e na Crítica
Literária Feminista.
Este trabalho tem por objetivo apresentar uma análise do romance "Nossa Senhora D’Aqui" da escritora
paranaense Luci Collins, que representa uma das vozes da literatura de autoria feminina mais
proeminente da atualidade, sobretudo da Literatura Paranaense. Romance lançado em 2015, Nossa
Senhora D’Aqui traz uma estrutura romanesca exclusivo da prática escrita de Collin. O próprio título
define que tipo de história e de personagens serão contados: aqui – são os descendentes de várias raças
imigrantes de vários tempos que escolheram a região para morar com a construção de suas vidas, de suas
famílias, suas profissões, sua cultura e que dão essa composição um tanto miscelanesca ao povo
paranaense: “Aqui no sul todos nós temos uma avó estrangeira alemã africana árabe polaca bugra
japonesa pode ser espanhola ucraniana italiana, russa portuguesa síria holandesa”. (COLLIN, 2015, p.
30) Lá é o longínquo, o indefinido, o misterioso, o passado que se encontra no imaginário dos imigrantes
que o repassa aos descendentes na maioria das vezes. Assim a autora constrói personagens que são
partícipes desse mundo miscelânico curitibano.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Por suas afinidades em desestabilizar as hierarquias opressivas de poder com uma filosofia ao mesmo
tempo estética, política e ética, este trabalho convoca as categorias conceituais de Mikhail Bakhtin para
os debates da crítica feminista contemporânea, aqueles que interrogam a hegemonia cultural,
especificamente, quanto ao apagamento da matriz feminina afrodescendente e a sua subvalorização por
meio do estereótipo e da subalternidade, muitas vezes, travestidos de “voz”. Para tanto, propõe-se a
problematização do documentário A negação do Brasil (2000), escrito e dirigido por Joel Zito Araújo,
em diálogo com o romance Um defeito de cor (2006), da autoria de Ana Maria Gonçalves. Nas
telenovelas brasileiras, o primeiro lança um olhar crítico acerca do imaginário monológico do
preconceito, seja em relação ao ausente protagonismo, seja às parcas possibilidades diante de um
“branqueamento forçoso”, muito agudo no depoimento das atrizes negras e nas qualidades exigidas, por
exemplo, para uma escrava Isaura. Trata-se do “silêncio” também assumido no livro, ao transfigurar a
História brasileira em termos metaficcionais, para trazer o testemunho da escrava e narradora
autodiegética, Kehinde, nos seus aproximados oitenta anos de vida e em 951 páginas. Permite-se indagar
que a obra tenta sanar muitas lacunas representacionais dessa alteridade da mulher negra. O cotejo
pretende investigar a responsabilidade ideológica da representação neste tipo de ficção, considerando
que a polifonia não é a mera aparição do representante de um grupo, mas a constituição de uma voz que
seja capaz de questionar e de ser ouvida com ressonância, onde a arte não se encontre como simples
serva.
Meus Desacontecimentos: a história da minha vida com as palavras (2014), da jornalista e escritora
Eliane Brum, é uma jornada pelas suas memórias, que se deixa invadir pelo mundo sensitivo da
recordação sinestésica, narrando desde a sua mais tenra infância e como se “constrói” enquanto sujeito
feminino. A autora se revela e se constrói por meio da palavra, a escrita é a representação maior dessa
mulher, constituindo-a: “A palavra é o outro corpo que habito. Não sei se existe vida após a morte.
Desconfio que não. Sei que para mim não existe vida fora da palavra escrita. Só sei ser – por escrito.”
(2014, p. 36). Eliane expõe mais que suas memórias, ela expõe sua “carne” e sentimentos ao revelar o
significado de suas vivências, vivências enquanto menina e enquanto mulher, suas memórias familiares,
afetivas e íntimas. Partindo da relação palavra-corpo-identidade e das relações e construções femininas
“rememoradas” na presente obra de Brum, este trabalho, tem como objetivo investigar a construção e
representação social de suas personagens femininas, seja através das relações entre as próprias mulheres,
seja de sua relação com o outro (homem) ou com o mundo, problematizando a forma como tais mulheres
são reguladas e reprimidas pelo pensamento social ao constituir sua “identidade feminina”.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
A presença recorrente e central da figura feminina nos contos de fadas constitui um elemento de grande
interesse para os estudos feministas. Isso porque, em se tratando de um gênero cujo objetivo principal
desde seus primeiros usos na literatura infantil é estabelecer padrões de virtude moral, compreender os
modelos simbólicos de mulheres ali engendrados é fundamental para desvelar as possíveis relações de
opressão veiculadas nessas narrativas. O conto de fadas contemporâneo têm operado transformações
nesse gênero literário tanto do ponto de vista temático quanto estrutural. A princesa e a costureira
(2015), de Janaína Leslão, é um exemplo de narrativa que busca romper com questões de ordem temática
no que tange à representação de gênero. Ao apresentar duas mulheres lésbicas como protagonistas, o
texto propõe uma leitura crítica a respeito da heterossexualidade compulsória. Diante disso, esta
comunicação objetiva analisar essa questão em diálogo com outras estruturas de poder que sustentam a
inteligibilidade de gênero. Para tanto, empreendem-se as perspectivas da crítica feminina e dos estudos
queer.
Em pleno século XXI, a forma como se dá a representação feminina, tanto na literatura como na
sociedade, ainda causa indignação por parte das ativistas femininas pois embora tenha deixado de ser
associada a pecado como era na Idade Média, tendo em vista que a religião não é mais um fator tão
preponderante para as relações sociais na atualidade, o feminino continua sofrendo preconceito devido
ao simples fato de pertencer a tal gênero. É notório que a mulher vem conquistando seu espaço,
entretanto a discriminação de gênero ainda é visível no século atual. Silenciada durante séculos, a mulher
vem conseguindo seu espaço na sociedade, mas essa conquista não se deu de forma repentina, e sim em
pequenas fatias e a custa de severas críticas. Na Idade Média a mulher deveria manter-se afastada do
clero para não tentar os religiosos, deviam cobrir o rosto na igreja e se confessar apenas em presença de
outras, para que eles não caíssem em tentação, como apontam os estudos de Costa (2012). Nesse sentido,
nosso trabalho tem o objetivo de analisar a representação da mulher através das personagens femininas,
Ana Davenga e Maria Agonia do conto “Ana Davenga”, de Conceição Evaristo, autora contemporânea,
que possui uma escrita atrelada ao conceito cunhado por ela própria, o da “escrevivência”, isto é, uma
escrita que parte do lugar de vivência da autora. Pretendemos refletir acerca não apenas a violência
sofrida por essas personagens, fato evidente na obra, mas também, principalmente, analisar de que forma
cada uma é representada pela narradora da obra.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Silenciado por muito tempo, o discurso feminino traz traços de resistência à dominação patriarcal sob o
qual é produzido, especialmente no campo literário, onde a subjetividade traz à tona questões relevantes
sobre a identidade feminina. Nos textos da escritora paranaense Regina Benitez, é possível perceber que
as questões de alteridade são representadas a partir do grotesco, que atua como recurso para a
consolidação da resistência feminina à sociedade patriarcal. O grotesco feminino, de acordo com Mary
Russo (2000), está intimamente ligado com o ato de se expor. Sendo assim, toda mulher que foge aos
padrões que lhes são impostos, de certa forma, assume uma atitude que pode ser vista como grotesca.
Em Regina Benitez, o grotesco configura-se como um comportamento que promove um distanciamento
das personagens do ambiente opressor em que vivem, tornando-se, então, um recurso de alteridade. No
conto “A menina olhada pelo avesso” (2012), o grotesco se dá pela revelação do universo interior da
personagem, que constitui-se em metáforas para a inadequação da mesma frente à opressão feminina na
sociedade. Sendo assim, esse trabalho tem o objetivo de analisar o conto “A menina olhada pelo avesso”
sob a ótica da crítica literária feminista e das teorias sobre o grotesco.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Este trabalho tem por objetivo estudar as formas de representação da mulher na primeira parte da
coletânea Contos Mais Que Mínimos, de Heloisa Seixas, intitulada “A Morte dos Amantes”. Nesta parte,
os doze microcontos giram em torno de relacionamentos afetivos problemáticos. Por isso, as mulheres
das narrativas estão envolvidas pelos sentimentos de angústia, raiva, ódio, e/ou então, pelos sentimentos
de abandono, solidão, tristeza. Mesmo assim, a estruturação do discurso narrativo parece identificar
essas mulheres como libertas das amarras sociais pré-estabelecidas. Será, portanto, tal condição que
incidirá não só na presença da sexualidade, mas também da violência nas narrativas. Tal estudo pretende
demonstrar o vínculo estreito entre as manifestações da violência e a expressão da sexualidade,
conduzindo à representação do prazer como satisfação dos instintos mais primitivos e, portanto, mais
agressivos. Daí, a relação entre violência e sexualidade. Pois, em Além do princípio de prazer, Teoria
dos instintos e As duas classes de instintos, Freud defende a tese de que a natureza do ser humano se
estabelece através de duas classes de instintos que visam à autopreservação: “instinto sexual”, ou de
vida; e “instinto destrutivo”, ou de morte. Sendo assim, infere-se na teoria de Freud de que o homem
seria violento por natureza para se autopreservar. Para confirmar tal posição, há que se ressaltar os
estudos de René Girard e Roger Dadoun, os quais em A Violência e o Sagrado e A Violência: ensaio
acerca do homo violens, respectivamente, concluem que a violência se dá por meio das relações de
poder, mas não deixa de ser um elemento intrínseco, instintivo do ser humano.
A literatura contemporânea de autoria feminina tem se mostrado cada vez mais um instrumento de
rediscussão dos papéis de gênero na sociedade. Desde as décadas finais do século XIX, quando as
mulheres deram seus primeiros passos no universo da escrita literária, observa-se nas obras de autoria
feminina um esforço para desmantelar os discursos de subserviência feminina e de representação da
mulher como o famigerado “sexo frágil”. Ao fugir da visão binária de gênero, as novas escritoras
apresentam-nos as múltiplas faces que o feminino pode assumir, deixando de lado as limitações que o
moralismo e as visões positivistas de naturalização da diferença entre os sexos outrora impunham às
mulheres. Nesse sentido, a presente análise objetiva discutir a (des)construção da imagem feminina no
romance Pérolas Absolutas, da escritora contemporânea Heloísa Seixas. Tendo como ponto de partida a
tradicional alegoria da rivalidade feminina, a narrativa de Seixas subverte o conceito de mulher submissa
por meio de uma releitura do mito do andrógino. O duplo aparece na obra na medida em que as
protagonistas Sofia e Lídice deixam de lutar pelo amor do mesmo homem ao reconhecer uma na outra a
metade que lhes faltava, visto que, já no primeiro encontro, face a face as personagens descobrem o
“laço inquebrável” há muito construído, mas que só foi possível descobrir com a influência do Eros
encarnado em Anatole, o homem por quem duelam. Para a análise, lançar-se-á mão das contribuições de
teóricos da crítica feminista, como Duarte (2003), Zolin (2009a, 2009b) e Bordieu (2010), dentre outros
que se debruçam sobre a problemática da representação feminina na literatura.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
A literatura de autoria feminina, posta à margem do cânone literário, vem gerando debates no meio
acadêmico graças a um processo de revisionismo histórico e literário e se fortalece como resistência a
uma hegemonia de obras escritas por homens (na maioria, brancos, heterossexuais, de classes mais
favorecidas economicamente) que tenta exclui-la ou diminui-la. Portanto, sabendo-se que os princípios
que determinam o que é literatura têm bases em códigos que não são estéticos, mas sim, ideológicos,
revisitar obras escritas por mulheres – ou qualquer outro grupo marginal – é desmascarar esta suposta
isonomia na escolha das obras ditas literárias em contraponto às que não recebem este ‘selo’ validador.
Nessa seara, o final do século XX assiste a uma produção feminina em que as autoras buscam identidade
própria, rompendo com estereótipos de gênero que lhes havia sido impostos. É nesse contexto que a
paraense Maria Lucia Medeiros (1942-2005) enquadra-se. A sua produção de contos e crônicas
privilegia a construção de personagens femininas que rompam com padrões pré-estabelecidos para o seu
gênero, conforme ocorre com a protagonista do conto Chuvas e Trovoadas, estudante que choca às
demais alunas e professora com seus atos, sua liberdade, e um palavrão ao final do conto. Nossa
proposta com este trabalho é interpretar a construção da referida personagem em contraponto à postura
das demais personagens – todas mulheres –, a fim de discutir como “a menina dos cabelos
encaracolados” desconstrói a performance de gênero que se esperaria de uma mulher naquele contexto.
Para tanto, utilizamos, dentre outras obras críticas, as de Beauvoir (2008), Butler (2015), Woolf (2014) e
Zolin (2009).
A literatura feminina contemporânea nos traz temáticas da mulher emancipada e autônoma expondo
questões femininas atuais. Diferentemente das escritoras do século passado, que na maioria das vezes
ainda representavam a mulher inserida no regime patriarcal, as escritoras contemporâneas tem mais voz.
Dentre elas, pode-se destacar Sonia Coutinho, autora brasileira contemporânea, que em toda a sua obra
representa a trajetória feminina e suas problemáticas. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo
principal observar a representação da personagem feminina no conto Invisibilidade, da autoria de Sonia
Coutinho, publicado em 2011, em uma coletânea de contos intitulada Toda a verdade sobre a tia de
Lúcia. Serão observados os significados da invisibilidade que a personagem sofre em um momento de
sua vida, bem como a aparição de símbolos míticos, representando sua liberdade e fragilidade diante de
um mundo dominado por paradigmas que ainda não foram quebrados por completo. Como referencial
teórico serão observados conceitos sobre a condição feminina no século XXI e a trajetória feminina na
literatura brasileira.
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LITERATURA DE AUTORIA FEMININA CONTEMPORÂNEA: QUESTÕES
ESTÉTICAS, TEMÁTICAS E IDEOLÓGICAS
Angélica Freitas (1973), natural de Pelotas, RS, lançou seu segundo livro de poesias um útero é do
tamanho de um punho no ano de 2012. Esse livro reúne 35 poemas que tem como tema central a
desconstrução do estereótipo ocidental da mulher. A poetisa traz à tona a desconstrução como um
rompimento dos mitos culturais em torno do “gênero” feminino por meio de uma crítica aos estereótipos
impostos por uma cultura patriarcal e machista. Segundo Elaine Schowalter “A ginocrítica analisa a
história dos estilos, os temas, os gêneros literários e as estruturas literárias escritas por mulheres.”
(SHOWALTER, 2007: 132). Tomando como definição de gênero uma construção social, sendo,
portanto, uma construção de comportamentos e atitudes, este trabalho tem como objetivo realizar uma
análise crítica ginocêntrica das poesias da obra um útero é do tamanho de um punho, analisando temas,
construções femininas, estilo, apontando como Angélica Freitas produz uma crítica às “identidades
fixas” femininas, mostrando, por sua vez, o sujeito feminino em sua diversidade, culturalmente e
socialmente enquanto construto, e dinâmico, e não uma convenção, um padrão estabelecido.
Angélica Freitas é uma das poetas mais atuantes da poesia contemporânea nacional. Com uma
linguagem simples e ácida, propõe críticas contundentes ao cânone literário no que tange o próprio fazer
poético. Em Um útero é do tamanho de um punho (2013), a autora nos apresenta mulheres fraturadas,
descoladas, deslocadas, que simplesmente não se encaixam nos padrões tradicionais de representação
feminina. Mulheres que não se satisfazem com o papel de santas e nem de musas, que estão muito longe
da visão sagrada em que, durante bastante tempo, a literatura as colocou: são gordas, são sujas, são
putas, são malandras e são insubmissas, mas também são donas de suas vozes. Por meio da ironia, da
melancolia e de versos pungentes, Angélica Freitas propõe a releitura do lugar dessas mulheres dentro da
sociedade, e por consequência do ambiente literário, e descontrói a questão do feminino dentro de sua
poesia. De maneira não panfletária, e sim crítica, rompe com os clichês, com as barreiras e coloca em
xeque a própria máquina do sistema patriarcal. Assim, funda um ato de resistência em sua escrita, por
meio da qual as mulheres comuns e consideradas pela sociedade como imperfeitas podem se sentir
representadas e reconhecidas. Dessa forma, a proposta deste trabalho consiste em desvelar, por meio da
análise de poemas extraídos do livro supramencionado, quais temáticas, rupturas e questões intrínsecas
da linguagem poética, tornam possível tal desconstrução da representação feminina.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
Este estudo apresenta resultados parciais de uma pesquisa de doutorado em andamento, desenvolvida no
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e com fomento
da FAPES – Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo. Esta pesquisa, que teve como sujeitos
participantes os professores de Língua Portuguesa de Ensino Médio da rede estadual do Espírito Santo,
prentendeu definir o habitus de classe desse grupo na acepção bourdiesiana, relacionando-o à formação
do professor como leitor. Por meio de um questionário, procuramos entender o conjunto de estruturas
constitutivas específicas de seu meio, buscando as particularidades do cenário da família e da escola no
tocante à leitura e à leitura literária. A partir do pensamento de Bourdieu (2013), para quem o habitus
impõe definições sobre o certo, o errado, o possível, o provável e induz o indivíduo a sentir como natural
ou razoável práticas e aspirações que o outro sente como escandalosa, pudemos identificar os hábitos e
os gostos dos professores a partir do habitus vestido por eles, sua segunda pele. A partir de uma entrada
de dados no questionário que se intitulou “Hábitos e práticas de leitura na idade adulta” produzimos
informações que perfilam esse leitor constituído. O que lê, como lê, as barreiras à sua leitura,
regularidade com que lê, gêneros preferidos, e mais importante, quais são as obras e autores que têm
marcado sua frequentação à literatura e quais são os livros e escritores que deixaram marcas em sua
formação e que dão constituição à sua subjetividade leitora.
Nas últimas quatro décadas tem havido um intenso debate a respeito da literatura e da educação literária.
No que se refere à reflexão sobre propostas metodológicas para a formação do leitor – aqui interessa o
leitor literário - na maioria das vezes a discussão recai sobre os anos iniciais do Ensino Fundamental, que
prepara e inicia a formação do sujeito, e, com menor intensidade, para os anos finais e o ensino médio,
que a complementa. Derivada desta discussão – ou naturalmente imbricada – está a questão da formação
do professor que lida com o texto literário, sobretudo aquela denominada de inicial. Daí decorre a
relevância das formações continuadas e de novas (alternativas) práticas metodológicas, pois, para além
de diversos outros fatores, está, também, na prática docente a possível resolução de certos entraves para
a formação de leitores literários. Aqui, então, nos interessa a reflexão decorrente das propostas que
norteiam as atividades do subprojeto PIBID/CAPES, que objetiva desenvolver práticas pedagógicas que
possibilitem aos docentes adotar uma nova estratégia de educação literária. O estudo vincula-se ao
projeto institucional da Universidade Estadual do Norte do Paraná, cujo objetivo é o de valorizar a
integração entre escolas públicas da educação básica e cursos de licenciatura. As atividades estão
voltadas para o Letramento Literário, a partir dos pressupostos de Rildo Cosson (2007), dentre outros, no
desenvolvimento de atividades de leitura literária a partir da elaboração de sequências básicas e
expandidas. Esta vertente prevê, ainda, como aporte de material didático, adotar obras literárias
selecionadas pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola/MEC."
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
A leitura, segundo Gee (2004), envolve processo cultural. Ainda que necessite de uma instrução
estruturada, a leitura é uma experiência prática e contínua que nos permite obter um conhecimento de
nós e do mundo através do olhar do outro. Essa dimensão cultural envolve também a possibilidade de
interferir nesse mundo, reinterpretando os processos sociocognitivos da escrita e da leitura. O objetivo
dessa proposta é apresentar as atividades do projeto "Socializando a leitura", que organiza-se em função
de três diferentes ações: (a) propiciar cursos de formação para professores da rede pública, qualificando
e multiplicando o conhecimento sobre formas de incentivo ao ato de ler e escrever; (b) promover
atividades de incentivo à leitura e produção textual diretamente para alunos de escolas públicas e
comunidade em geral e (c) oportunizar espaços para os discentes de graduação e pós-graduação que,
envolvidos nas atividades, aplicam os conhecimentos adquiridos, proporcionando uma maior experiência
de docência em literatura, leitura e escrita. Ao longo dos anos, o projeto foi amadurecendo e expandindo-
se e, em 2016, contamos com uma série de projetos no âmbito da formação de professores e ampliação
do saber cultural, literário e linguístico, incluindo projetos de extensão, ensino e pesquisa. Para Paulo
Freire, ler não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele,
interferir no mundo pela ação. Nesse sentido, o “Socializando a leitura” incentiva e discute não apenas as
práticas de Literatura e Linguística, mas também aproxima essas áreas, promovendo o diálogo efetivo
entre elas.
A partir da constatação de que, no Brasil, há vasta publicação sobre leitura literária no espaço escolar e
uma produção incipiente sobre escrita literária no processo de ensino/aprendizagem, este estudo, em
nível de mestrado, investiga o tema buscando uma metodologia que incentive a escrita criativa,
especificamente o gênero conto, nas aulas de língua portuguesa, nos anos finais do ensino fundamental.
A proposição de uma metodologia voltada para estratégias de estímulo à escrita literária busca amparo
nos estudos da Escrita Criativa – EC (MANCELOS, 2007, 2010; SENA-LINO, 2013), que tem em sua
primeira acepção o ensino de técnicas para a escrita literária. Tal proposição objetiva formar autores e
não apenas produtores de texto, tendo em vista que, deste ponto de vista, autor de texto não é aquele que
tem um livro vendido por uma editora, mas aquele que, a partir da leitura de obras de diferentes épocas,
culturas e estilo, e com o estudo de técnicas e percepção estética dessas obras, desperte a sua criatividade
e, assim, escreva seus próprios textos literários, reconhecendo-se na subjetividade de sua escrita, como
um sujeito histórico e social. Aqui, portanto, como parte de um projeto de pesquisa maior, são
apresentados alguns conceitos sobre escrita criativa e os modos possíveis de concepção e uso no espaço
escolar.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
Este artigo faz parte de uma pesquisa intitulada "A leitura nos anos finais do ensino Fundamental: um
diálogo com os professores e as atividades de leitura registradas em cadernos escolares". Integra um
conjunto de estudos da linha de pesquisa "Educação e Linguagens" da Universidade Federal do Espírito
Santo, particularmente está associado ao grupo de pesquisas “Literatura e Educação”. Com base nos
pressupostos teóricos de Mikhail Bakhtin (2006; 2011) e nas contribuições de Geraldi (1997; 1998;
2013; 2014), o estudo tem como propósito investigar concepções de linguagem e leitura em correlação
com práticas dos professores atinentes à leitura. Para tanto, apresenta-se um breve recorte dos estudos
acadêmicos sobre a leitura e o seu ensino, síntese do grupo focal realizado com os docentes e análises
das atividades de leitura registradas nos cadernos escolares a fim de compreender como as concepções
dos professores se presentificam nas atividades de leitura propostas aos alunos dos anos finais.
Constatamos que a maioria das estratégias mediadoras de leitura dos professores é ancorada em
concepções de linguagem como expressão do pensamento e instrumento de comunicação e que são raras
as práticas de leitura em que o texto é oferecido ao aluno numa visão de leitura como interação para
produção de sentidos.
A base teórica está apoiada em dois autores franceses Cristian Poslaniec e Christine Houyel porque
abordam questões sobre os processos de aprendizagem da leitura, a relação dos leitores em formação e
os livros de literatura e as suas interações nos anos iniciais de escolarização. Três diferentes experiências
de leitura literária com alunos de ensino fundamental são relatadas: 4º ano, 6º ano e numa biblioteca
escolar. Elas são extraídas de pesquisas de natureza etnográfica e que, consequentemente, envolveram os
pesquisadores em ambientes escolares acompanhando bem de perto e por um longo tempo cada uma
delas. Analisa-se os principais aspectos, presentes nas três experiências, implicados na formação de
leitores, com destaque para as aulas especialmente dedicadas à leitura literária e com atividades
estimulantes; o acervo (qualidade, diversificação e adequação ao público); a disponibilidade do acervo
para manuseio dos alunos e respeito as suas escolhas e ritmos individuais de leitura; a promoção da
autonomia do leitor; o tempo disponível para a leitura e que favorece a imersão na obra; a interação entre
os alunos e com o professor sobre suas leituras; o professor como um mediador que cria as condições de
leitura para os alunos. Coerentemente com o que preconizam as pesquisas de natureza etnográfica, o
intuito não é sugerir prescrições, mas relatar as ações observadas, analisá-las e tomá-las como uma fonte
de reflexão para que professores possam avaliar as limitações e o potencial de algumas práticas
educativas com vistas à formação do leitor literário.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
Por compreendermos a leitura literária como uma prática cultural (CHARTIER, 2011), as escolas e as
aulas de língua portuguesa, em especial, constituem-se espaços potenciais para conhecer e se apropriar
dessa prática, especialmente para os alunos da escola pública. Dessa forma, entendemos ser necessário o
desenvolvimento de uma prática pedagógica sistemática que tome a leitura literária como objeto de
ensino de forma a promover o direito à literatura (CANDIDO) e a educação literária. Embora o acesso à
literatura seja direito de todos, ainda parece haver problemas na efetivação da leitura literária na escola.
Esses problemas podem estar relacionados aos materiais e à metodologia, uma vez que os textos dos
livros didáticos são fragmentados (DALVI, 2013) e as propostas de leitura de livros literários, quando
têm lugar, parecem não ter estratégias bem delimitadas (SOUZA, 2014). Partindo dessa problemática,
propomos uma reflexão sobre o uso das estratégias de leitura, amparada nos estudos da metacognição e
ensino explícito/reflexivo (SOLÉ, 2012) (GIROTTO, SOUZA, 2014) como uma alternativa
metodológica para a formação do leitor literário, uma vez que o livro Estratégias de leitura de Isabel Solé
faz parte do acervo de 2013 da Biblioteca do professor do Programa Nacional Biblioteca da Escola
(PNBE) e o texto de Girotto e Souza compõe o acervo do PNBE na Escola para a educação infantil,
2014.
O presente artigo tem como objetivo expor o trabalho com o método criativo cuja fundamentação teórica
está no livro de Maria da Glória Bordini e Vera Teixeira Aguiar, LITERATURA: A FORMAÇÃO DO
LEITOR ALTERNATIVAS METODOLÓGICAS(1993). O método coloca o aluno como sujeito criador
que explora suas carências pessoais por meio do texto literário refinando e inovando suas práticas. O
aporte literário para aplicação dessa metodologia foram os contos do escritor Luiz Vilela que estão
distribuídos em 16 antologias voltadas para o público infanto-juvenil. Buscamos através da inserção e do
desenvolvimento da proposta metodológica, propiciar aos alunos, estudantes do 8° ano do Ensino
Fundamental, uma formação literária adequada, que abranja e trabalhe com os sentidos globais e os
implícitos do texto, adequando-os as situações reais de vida dos alunos. Esses contextos, abordando
temas relacionados à juventude, sensibilidade, solidão, incomunicabilidade entre os seres humanos e
conflitos existenciais estão representados nas narrativas de Luiz Vilela, que, pela linguagem singela e
medida, pela temática real e reflexiva, propiciam elo adequado para o trabalho com a alternativa
metodológica estudada, observando-se que os problemas levantados durante o percurso desse estudo
revelam o crescente desinteresse pela leitura de literatura conforme o avanço no grau de escolaridade. Os
resultados da pesquisa demonstraram a importância da aplicação da alternativa e a necessidade de
adaptação da mesma ao público direcionado . As obras de Luiz Vilela provocaram grande interesse e
motivação nos alunos e trouxeram reflexões relativas a realidade deles despertando uma visão mais
críticas e autônoma.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
A presente comunicação tem o objetivo de verificar a forma como os textos de crônica vêm sendo
apresentados no ensino regular de Literatura na Educação Básica, bem como analisar aspectos referentes
ao ensino de literatura no contexto atual. Além disto, tem o intuito de propor alternativas para o trabalho
em sala de aula que privilegiem o gênero crônica como pertencentes ao contexto literário da
contemporaneidade, tomando como exemplo o trabalho de escrita de Fabrício Carpinejar, gaúcho com
relevante produção literária na atualidade, e os modos virtuais de divulgação dos textos do escritor.
Desta forma, pretendemos analisar as relações estabelecidas entre o ensino de Literatura na escola, a
crônica produzida pelo artista contemporâneo e publicada em blogs e redes sociais e como o ambiente
tecnológico pode ser utilizado como ferramenta para a formação dos novos leitores. Para tanto,
utilizaremos como referenciais teóricos estudos que abordam a crônica e sua consolidação na literatura
nacional, como Simon (2011), Arrigucci Jr (1987) e Cândido (1992), além de pesquisadores que vêm se
debruçando sobre questões inerentes ao ensino de literatura como Cosson (2006), Perrone-Moisés (2000)
e Moriconi (2011), e estudiosos que analisam as relações das novas tecnologias com a literatura e o
ensino como Bulhões (2012) e Santaella (2004).
Este trabalho é oriundo de uma dissertação que integra os estudos do Grupo de Pesquisa “Literatura e
Educação” da Universidade Federal do Espírito Santo. Visa a discutir se as duas obras juvenis, O
Fazedor de Velhos, de Rodrigo Lacerda (2008), e Lis no peito: um livro que pede perdão, de Jorge
Miguel Marinho (2005), indiciam um perfil modelo de obra literária e, assim, de leitor, já que possuem
aprovação simultânea de três instâncias relevantes para a literatura juvenil: as premiações literárias
concedidas por júri especializado (Prêmio Jabuti e FNLIJ) e o Programa Nacional Biblioteca da Escola
(PNBE). A análise desses livros é feita a partir de um referencial teórico pautado no sistema literário de
Antonio Candido (1999; 2000), no campo literário, de Pierre Bourdieu (1996; 2013), e nas comunidades
de leitores, de Roger Chartier (1994; 1999; 2002a; 2002b; 2011; 2015). Observou-se que o perfil das
obras e de leitores juvenis apontam uma ausência de uma perspectiva social e econômica mais aguda e
crítica no seu enredo, privilegiando conflitos do universo adolescente burguês e conjecturando, desse
modo, uma visão de certo modo romantizada, redentora e salvacionista da literatura.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
Este trabalho relaciona-se à temática da Educação Literária para surdos no Ensino Fundamental. Trata-se
de uma pesquisa documental, cuja fonte principal são registros audiovisuais. Ancorados nos
pressupostos da História Cultural, a partir do pensamento de Roger Chartier, pretende-se descrever e
interpretar a materialidade e os protocolos de leitura presentes nos DVDs de literatura da coleção
“Educação de Surdos” produzidos pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) em 2003 e
distribuídos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) às escolas de todo o país. Os resultados da
análise evidenciaram que, para além de seu conteúdo semântico, todos os elementos que constituem os
DVDs (capa, orientações pedagógicas, formato de edição, legendas, dentre outros) estão marcados sócio-
historicamente por representações de mundo e relações de poder dos agentes e instituições que
fomentam essas produções. Portanto, a leitura dessas obras literárias torna-se um ato historicamente
localizado, mas não totalmente determinado, pois o leitor, como produtor inventivo de sentidos, pode
subverter os condicionamentos pré-estabelecidos nessas obras.
A literatura infantojuvenil amazonense tem sido, no Centro de Estudos Superiores de Parintins – CESP,
objeto de pesquisa científica e de projetos de iniciação científica como o Programa de Iniciação
Científica – PAIC, Projeto de Extensão –PROEXT, Programa de Bolsas de Iniciação à Docência –
PIBID e Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC, no curso de Letras. A importância dada a esta
literatura tem sido, certamente, reconhecida e ampliada para além do espaço acadêmico, como por
exemplo, por meio do site lendoamazonia.com.br que divulga esse tipo de literatura através de guias de
leitura, da biografia dos escritores, como também de um pequeno glossário com palavras e expressões
típicas da nossa região. Além do mais, se tem feito um esforço no sentido de promover a divulgação de
eventos acadêmicos que nos oportunizam discussão e reflexão de aspectos ligados à literatura local. Com
base nessa argumentação, propõe-se o presente trabalho com o objetivo de trazer para a discussão a
importância da literatura infanto-juvenil amazonense na formação da cultura literária do leitor local e da
importância transdisciplinar desta literatura, uma vez que possibilita o diálogo com diferentes áreas do
conhecimento ,socializando as experiências de circulação e recepção dessa literatura nas escolas em que
se desenvolve projetos do PAIC, PIBID e PROEXT. Como suporte teórico deste trabalho toma-se como
base os estudos de Cosson (2014); Dalvi, Rezende, Faleiros (2013); Jouve (2012), Ricardo, Machado,
Castanheira (2013); Costa Lima (1979); Solé (1998); Faria (2013), Cadermatori (2012) e outros que
possam contribuir na temática em questão.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
Este trabalho apresenta reflexões a respeito do ensino de literatura no ensino médio, especialmente no
que diz respeito à sua finalidade, entendida aqui, basicamente, como a formação de um sujeito leitor
livre, crítico e responsável (ROUXEL, 2013) e pressupostos para sua realização no âmbito escolar.
Trata-se de um recorte da pesquisa institucional intitulada Ensino de Literatura no Ensino Técnico
Integrado: reflexões, metodologias e práticas (em andamento), que busca soluções para um ensino de
literatura mais efetivo para o público atendido (estudantes de um Campus do IFPR). Este público chega
ao ensino médio com dificuldades de leitura e escrita bastante conhecidas dos docentes brasileiros. A
carga horária destinada à Língua Portuguesa é de duas horas semanais, o que dificulta um trabalho que
ao menos amenize esses problemas. Considerando-se essas variáveis, cabe ensinar literatura a estudantes
que buscam uma formação técnica? Sendo a resposta afirmativa, por que e como fazê-lo? Pesquisadores
estrangeiros e brasileiros têm apresentado possibilidades de trabalho com a literatura que podem nortear
práticas docentes (não apenas na modalidade de ensino médio referida, como também no ensino básico
de modo geral). O objetivo deste trabalho é apresentar reflexões sobre o lugar da literatura nos
documentos oficiais para a modalidade de ensino referida e problematizações sobre a finalidade e
pressupostos do ensino de literatura em obras organizadas por Evangelista (2001), Dalvi (2013), entre
outros, considerando-se, também, reflexões já clássicas, como as de Candido (2011), Barthes (1979) e
Todorov (2002).
A Literatura se faz presente não somente nos textos escritos, mas também nas memórias dos alunos
narradas e associadas às histórias dos livros. Nesse sentido, embasado em teóricos como Arroyo (2005),
Freire (1989, 1997), Lajolo (1982), Eagleton (1983), Ecléa Bosi (1994), Soares (1998), Cosson (2014)
entre outros, objetiva-se desenvolver o letramento literário em alunos da Educação de Jovens e Adultos
(EJA). Pretende-se, pois, resgatar as memórias, as lembranças que vem e vão, que transitam pela mente
dos alunos e portanto, chamadas itinerantes. Esse resgate, contudo, é realizado a partir de obras clássicas
da Literatura, que fazem parte do conceituado cânone literário, com o intuito de favorecer o
entendimento da leitura de tais obras através do diálogo com as próprias histórias de vidas dos alunos,
garantindo, assim, o acesso a textos canônicos. Com isso, espera-se que a partir das histórias do cânone,
haja o resgate das histórias da alma, ou seja, histórias latentes de vida dos sujeitos da EJA. Para tanto, é
necessário retirar o selo de preconceito que carimba os alunos desta modalidade de ensino como menos
capazes de compreenderem obras igualmente carimbadas, entretanto, no sentido inverso. Obras que
receberam também um selo, porém um selo de qualidade, através do endosso de certos setores
especializados. Esses selos, essas marcas tacham os alunos e até mesmo a Literatura por meio de juízos
de valores que, por natureza, mudam de acordo com o tempo, com as pessoas e contexto. É necessário
retirar o halo de soberania que aureola o cânone literário sem, pois, deixar de reconhecer sua relevância.
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LITERATURA E EDUCAÇÃO: PROBLEMAS, PERSPECTIVAS, PROPOSTAS,
PESQUISAS E PRÁTICAS
O processo de ensino-aprendizagem tem sido um desafio para os professores que, cada vez mais,
precisam aliar o conteúdo ministrado em suas aulas aos interesses dos alunos, de forma a que o ensino
passe a ter, de fato, sentido. A presente comunicação é fruto da tentativa de emprestar um pouco mais de
sentido aos conteúdos de Literatura da 2a série do Ensino Médio, a partir da leitura de contos variados de
Machado de Assis. A proposta era a de unir Literatura, Gramática e produção textual a uma releitura, em
outra linguagem, que não a da narrativa escrita, de contos previamente selecionados. Partimos da leitura
do conto “A cartomante”, para empreender uma viagem tanto ao Século XIX quanto ao universo
singular da prosa machadiana, ressaltando semelhanças e diferenças entre as produções do período. Após
serem apresentadas ao contexto histórico-social do período e analisadas algumas características que
tornam a obra do autor peculiar no contexto da época, os alunos deram asas à própria imaginação,
produzindo fotonovelas adaptadas dos contos machadianos.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Simpósio 43: Literatura e geografia: águas, mapas, o urbano, o rural, o sertão, o cerrado, os pampas, as montanhas, as
floretas
Poucos críticos literários e estudiosos apontaram afinidades entre os escritores paranaenses Dalton
Trevisan e Wilson Bueno, embora ambos sejam frequentemente analisados no universo acadêmico, em
trabalhos de Mestrado e Doutorado. As aproximações geralmente apresentam duas limitações: ou não
aprofundam a análise comparativa, permanecendo em um nível superficial de leitura crítica, ou ainda são
marcados pelo conceito de influência. Este trabalho pretende realizar uma avaliação preliminar sobre os
aspectos reveladores de um diálogo entre os contos “Em Busca de Curitiba Perdida”, publicado por
Dalton Trevisan originalmente na obra “Desastres do Amor” (1968), e “Bolero Curitibano”, publicado
por Wilson Bueno, dezoito anos depois, na obra “Bolero’s Bar” (1986), procurando identificar as
possíveis aproximações entre os dois autores. Para tanto, o estudo deter-se-á sobre a análise comparada
das duas narrativas, com o intuito de demonstrar o que consideramos as principais afinidades: a
manipulação dos elementos poéticos e a mitificação de Curitiba.
Desde os relatos dos viajantes que desbravaram a Amazônia no século XVIII, esta é caracterizada tanto
como um inferno verde, como também um paraíso perdido. A partir da publicação de À Margem da
História (1909), de Euclides da Cunha tal concepção se perpetuou e estabeleceu uma tradição para as
narrativas ambientadas nessa região. Dessa forma, foram muitas as obras subsequentes que retrataram
seus personagens em um embate com uma natureza grandiosa, imponente e invencível. Anos mais tarde,
o escritor paraense Dalcídio Jurandir inicia a publicação dos dez romances que compõem o chamado
Ciclo do Extremo Norte (1941-1978), os quais rompem com o paradigma euclidiano, ao reconstruir uma
Amazônia paraense em que os personagens não estão mais inseridos num confronto entre homem e
natureza, mas vivenciando seus dramas em um espaço tão devastado quanto eles. Ou seja, a região
retratada pelo autor marajoara acompanha a corrosão dos personagens e nos é apresentada como
igualmente corroída. Este trabalho, portanto, objetiva perceber como a Amazônia paraense é
representada na ficção dalcidiana, evidenciando a relação do menino Alfredo – protagonista de nove
romances do Ciclo – com o rio de Cachoeira do Arari e com a cidade de Belém, assim como pretende
refletir de que maneira essa configuração do espaço é um dos aspectos que comprova o rompimento de
Dalcídio com a tradição literária amazônica.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Este texto surge a partir da experiência diária com a cidade e suas muralhas-palimpsesto: imagens
verbais em permanente inscrição e laceração e inscrição: estar-em-devir, estado aqui considerado
essencial enquanto gatilho-poético para o pensamento poiético (em arte/escrita) e como chave de leitura
para a construção poética (sobre arte/escrita). Aqui a cidade é percebida como um palimpsesto, como se,
na contemporaneidade, os antigos estuques cedessem seu espaço de emblema para as Marcas que,
através das publicidades, almejam gritar mais alto entre as Outras, alvejam dizeres sobre os seus
usuários. Em meio a esses layers textuais desloca-se o leitor-errante, leitor que alveja e é alvejado pelas
mais diversas verbo-voco-visualidades ecoadas e refletidas e grafadas ao longo do espaço urbano. Nesse
contexto, nossos olhos têm que reaprender a ver. Nesse contexto, nossos olhos têm que reaprender a ler.
Partindo desses apontamentos, é revelado ainda o intuito de discutir, com este texto, a cidade enquanto
possibilidade poética e ainda como lugar de corrosão do significante, decomposição causada pelas
constantes justaposições e sobreposições e imbricações de textos e imagens, motivando, no texto
decalcado sobre as superfícies urbanas, um caráter que beira o estado de textura frente ao leitor que o
decifra e o reconstrói em seu imaginário de leitor-andarilho, leitor-nômade, leitor-errante. Aqui, é
pensada a cidade e sua escrita e sua rasura e sua escrita enquanto publiricidade, ou seja, enquanto
partitura ou lírica citadina refazida e desfazida e refazida pelo seu público, tal como propunha Isidore
Isou (junto ao movimento lettriste) em suas poesias infinitesimais.
Este estudo desenvolve uma reflexão acerca da representação da paisagem natural e cultural de Mato
Grosso do Sul em sua produção poético-literária e o modo como o espaço geográfico e a paisagem se
inserem no contexto da geopoética, à luz da fenomenologia bachelardiana. Em seu conteúdo mais
substancial, busca-se desenvolver um estudo sobre a elaboração imagética do ambiente geográfico,
natural e cultural, na produção poética sul-mato-grossense, mediante a realização de análises
fenomenológicas de poemas construídos por poetas do Estado, com enfoque na perspectiva geopoética.
Realiza-se, também, a análise da produção poética do MS em seu aspecto transfronteiriço, no tanto em
que se ressalta a vinculação entre a poesia e o espaço, isto é, no seu viés geopoético, revelado na
linguagem dos poetas, na fotografia dos versos, os diferentes tipos de paisagens, naturais e culturais, da
região. Ao construir imagens pictóricas, a linguagem poética transcende a esfera real e concreta da vida
cotidiana em que cada indivíduo se insere e, por isso, a inter-relação dos elementos linguísticos, sociais e
do ambiente presentes na poesia favorece o sentimento de pertença do indivíduo a sua terra,
transcendendo as barreiras do geral para o que é mais particular e subjetivo.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Este artigo, intitulado “O espaço das ruas na ficção de João Antônio”, tem por objetivo analisar a
representação literária do espaço das ruas. Sabe-se que, o próprio João Antônio nutria certa ojeriza em
relação à forma artificial e sufocante da vida nas metrópoles. O artigo visa, também, examinar como esse
espaço urbano se converte, literalmente, na morada desse coletivo boêmio, malandro e “virador” que
povoa a ficção do escritor brasileiro, desenvolvendo uma espécie de flâneur à brasileira. O processo de
urbanização apresenta, como um de seus aspectos negativos, a tendência a concentrar seus esforços de
melhoria da infra-estrutura social nos centros urbanos, em detrimento dos espaços das ruas dos
subúrbios. São utilizados como parâmetros o viés da apreciação literária, sobre o tema, os contos mais
representativos do escritor brasileiro João Antônio. As contribuições desse autor serão submetidas ao
crivo crítico de Walter Benjamin e Marshall Berman, afim de verificar como essa representação do
espaço das ruas, “filho” distante do Ágora grego, foi transmutado pelo processo de urbanização,
tornando-se um local mais adequado ao crescimento e fortalecimento da violência e intolerância.
Manoel de Barros morou algumas décadas na zona rural do município de Corumbá/MS e deste local
retirou o que ele próprio denomina “fertilizante” (BARROS, 2008) para sua poesia: águas, seres ínfimos
do chão, paisagens e neologismos do pantaneiro que, transfigurados pela escrita do poeta, mostra uma
nova maneira de enxergar esse espaço. Nesta perspectiva, analisamos poemas do Livro de pré-coisas:
roteiro para uma excursão poética no pantanal, verificando aspectos identitários como questões
linguíticas, geográficas, telúricas que configuram a criação poética do pantanal manoelino. Nesta
perspectiva escolhemos poemas que tratassem do Pantanal em seus variados aspectos. Assim, "Narrador
apresenta sua terra natal" trata-se de um olhar poético sobre Corumbá; enquanto "Lides de campear"
acompanha a labuta do pantaneiro “no lampino do sol ou no zero do frio” (BARROS, 2007, p. 34) e suas
lorotas contadas para preencher a solidão nos campos distantes. Em "A nossa garça" as belezas das aves
são poetizadas na “conciliação – ou contrastes? – ao mar de Xaraés e obras de Modigliani resultando no
questionamento metalinguístico; e por fim assistimos ao nascimento do primeiro homem do universo
mítico pantaneiro em "No presente". Para tal, nos utilizamos principalmente do aporte teórico de Dorsa
(2006), que investigou intertextos e discursos apresentados na cultura sul mato-grossense; Paz (2012b)
para fundamentar sobre as imagens construídas nos poemas, e Rolon (2006; 2009) que traz análises
voltadas ao universo mítico e telúrico de/sobre Bernardo da Mata, tido como a principal personagem da
poética manoelina.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Em carta ao seu amigo diplomata Antonio Azeredo da Silveira, em 1946, o diplomata e escritor João
Guimarães Rosa alude a uma viagem rápida que faz à Alemanha, à Bélgica e à Holanda. Rosa denomina
a excursão como “turismo blitz”. O autor diz que deseja escrever um ensaio sobre as várias vantagens
desse tipo de viagem. Onze anos depois de manifestar o desejo de ter escrito sobre o assunto, o tema
volta a ser abordado no prefácio a um livro de viagens de seu amigo diplomata Vasconcelos Costa, em
1957. O escritor assinala que um estudo ético-psicológico sobre o “blitz-turismo” ainda estaria
aguardando uma escrita. Guimarães Rosa, tanto na carta quanto no prefácio, deixa pelo menos dois
tópicos importantes que comporiam o ensaio que, infelizmente, ficou devendo ao leitor. O primeiro
chama a atenção sobre não adentrar totalmente nos espaços visitados, pois se fica por um curto período
de tempo e assim conserva-se o elemento misterioso do lugar. Já o segundo tópico, assinala o olhar
intuitivo apurado pelo sensorialismo intenso capaz de penetrar nos espaços e deles captar algo que lhes
seja essencial. Tendo como aportes os tópicos assinalados por Rosa, o objetivo da comunicação é
realizar uma leitura dos textos provenientes da viagem do escritor pela geografia do Pantanal mato-
grossense, em julho de 1947, a saber: “Sanga Puytã”, “Ao Pantanal”, “Cipango”, “Uns índios (sua fala)”,
“Entremeio: com o vaqueiro Mariano” e “Meu tio o iauaretê”. Guimarães Rosa; blitz-turismo; Pantanal
mato-grossense.
O que percebemos em Yacala é uma evolução da miséria no cenário nordestino e no Brasil. Os espaços
apresentados nesse poema narrativo, do autor pernambucano Alberto da Cunha Melo, tendem a se
configurar de tal forma que o entrelaçamento homem/espaço levam sempre à condição de nulidade.
Yacala representa a generalização do homem mediante os problemas sociais e políticos de um país em
que a miséria e a pobreza consomem boa parte da população. Assim, tratar a espacialidade em um poema
narrativo contemporâneo é uma tentativa de mostrar que o espaço descrito não remete apenas a um local
determinado, pode ser em qualquer região do norte ao sul do Brasil. Objetiva-se, portanto, observar que
o espaço das personagens é restrito, mas o espaço imaginário é muito amplo, uma vez que estamos
tratando do cosmos, do espaço sideral. Temos, então, mais um caso de antítese. Yacala vive o contraste
do ambiente fechado do mosteiro e a busca pelo infinito, representada pelo “mar a altas distâncias”. A
tensão do poema é gradativa e envolve o leitor que, lentamente, envereda-se pelo ritmo e dramaticidade
do poema narrativo.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Em passagens de "A pedra do reino" (1971) para as quais o narrador-protagonista Pedro Quaderna
fornece datas e horários precisos – passagens que coincidem com episódios fulcrais –, é possível
constatar, por meio da reconstituição computadorizada da ambiência astronômica do espaço-tempo
narrativo, que certos planetas e constelações em posições determinadas encenam comentários ou
figurações celestes dos eventos contados. Com base em simulações das condições locais do céu nesses
momentos-chave da trama, penso haver recolhido indícios bastantes para reconhecer a existência de uma
dimensão astronômica na alegoria do livro. Por outro lado, a imagem simples e precisa do mapa da
viagem sagrada de Pedro Quaderna até a Pedra do Reino, no início da narrativa, se constitui como signo
geodésico da engenhosa filosofia da composição espacial de Suassuna em seu único romance, suma
teológica do sertão e livro-manifesto do movimento armorial. O escritor paraibano engendra uma
cosmologia ficcional sagazmente afinada com os parâmetros topográficos, ecológicos, históricos e, como
suposto, siderais dos territórios sertanejos recriados. Com efeito, se Quaderna não cessa de se declarar
um infalível profeta da ciência das estrelas, por que não haveria de existir uma “astronomia cenográfica”
ou alegórica nos céus do teatro de pedra do sertão da Pedra do Reino? Mas essa cenografia zodiacal e
planetária, claro esteja, não diz nada sobre eventuais “significados ocultos” do texto, desacreditados de
resto pela renitente galhofa autoirônica do narrador.
Publicado em 1936, Angústia, de Graciliano Ramos, apresenta um narrador autodiegético, Luís da Silva,
que, após cometer um homicídio e passar por um período de profundo abatimento causado por um abalo
nervoso, narra sua própria história por meio de um discurso memorialista, que mistura imaginação e
alucinação com episódios de sua infância, juventude e vida adulta. Em meio a suas lembranças, surgem
imagens de uma Maceió corrompida pelo vício, um locus horrendus, com vagabundos nas praças e
canais, prostitutas na Rua da Lama, comerciantes e capitalistas (“uns ratos”) na Rua do Comércio, enfim,
todos os tipos de sujeitos que habitam o espaço urbano moderno. O protagonista transita pelos vários
espaços dessa cidade caótica, observando tudo e todos, mas sempre incapaz de encontrar seu devido
lugar. Nas diversas vitrines do centro urbano, os autores se exibem através de seus livros, como as
prostitutas da Rua da Lama, oferecendo-se e vendendo-se aos olhos do protagonista aspirante a grande
escritor. O processo de mercantilização da obra de arte e sua reprodução em massa, condições impostas
pelos princípios da chamada “indústria cultural”, causam nojo e ódio a Luís da Silva e contribuem com
seu profundo sentimento de revolta e angústia. Feito “um molambo que a cidade puiu demais e sujou”, o
protagonista é um sujeito inadaptado à vida urbana, que perambula anônimo pelos vários espaços da
urbe degradada. Tendo isso em vista, o principal objetivo deste trabalho é apresentar uma análise sobre a
relação entre o sujeito e o espaço urbano moderno, a partir da experiência vivenciada pelo protagonista
Luís da Silva e de sua inadaptação à cidade corrompida pelo vício.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
A literatura pode ser considerada um espaço de recriação da memória histórica, embutida nas tradições e
raízes, recuperadas pelo imaginário do artista. E, dessa forma, contribuir para consolidação das
dimensões culturais do local, traduzidas nos mitos, crenças, linguagens, hábitos e comportamentos que
constroem a imagem identitária dos diferentes lugares e grupos sociais. O conto escolhido para ser
analisado é “São Gonçalo do Abaeté”, dedicado pela autora a todos os moradores de sua cidade natal. A
cidade reconstruída por Maura Lopes Cançado em seu texto - que encontra-se em O sofredor do ver -
não necessariamente se assemelha ou mesmo se identifica de fato com a do interior de Minas Gerais. O
que nos chama atenção não é se a descrição do espaço condiz de fato com a do Estado, e sim, quais
elementos a autora elege para construir o seu local de nascença. Traços de sua personalidade foram
construídos por ela ter nascido e crescido lá, como a própria narra em seus textos. Porém, os seus
sentimentos e suas sensações são trazidos à tona quando a autora escreve, dando voz a sua imaginação,
contruindo assim uma cidade "imaginada". A escrita, por sua vez, deseja perpetuar o vivo, mantendo sua
lembrança para as gerações futuras, transformando sua plasticidade em rigidez. E não só de boas
lembranças o texto é construído, pois mesmo que de forma delicada, Maura Lopes Cançado não deixa de
usar sua ácida escrita para criticar os moradores de sua terra. Para o bem ou para o mal, a literatura
transforma um espaço aparentemente inofensivo em algo cheio de sutilezas, possibilitando assim, vários
olhares sobre o mesmo objeto, nesse caso a cidade de São Gonçalo do Abaeté, em Minas Gerais.
Em suas viagens pelo mundo, o narrador das crônicas de Cecília Meireles (1901-1964) é personagem
atento e perspicaz. Seu olhar acurado busca apreender o irrevelável, auscultando a verdade velada pela
linguagem aparente das coisas e dos acontecimentos. Enquanto os demais personagens– frequentemente
representados pelos turistas – preocupam-se com assuntos de rasa relevância utilitária, o narrador
ceciliano observa o contingente profunda e lentamente. Suas reflexões o levam a constatar a
superficialidade das relações vãs que se estabelecem na cotidianidade, independentemente das fronteiras
geográficas e culturais. Autorreferindo-se como “viajante”, as visitas que realiza são iniciadas quando a
turba se distancia e a paisagem põe-se erma e silenciosa. Nas crônicas “Pergunta em Paris” e “Museus da
França”, os questionamentos e inquietações próprios à existência, por sua vez, amplamente expandidos
na esfera subjetiva, contrastam-se com os dados do imediato. O movimento que o viajante ceciliano
realiza é motivado pela imaginação: lugares, pessoas, objetos são verdadeiros símbolos que atuam como
vias de acesso à natureza essencial de si próprio e dos elementos que com ele se relacionam.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
João Cabral é um dos escritores de maior prestígio do século XX. Toda essa credibilidade está associada
ao compromisso do poeta com uma poiesis marcada pela artesania verbal em que o dizer e o fazer se
encontram em perfeita sintonia. Entre os macroespaços recorrentes em sua poética se encontram o Brasil
e a Espanha. Nessa comunicação objetivamos investigar a importância e os sentidos dados a três
microespaços comuns à obra de Cabral: o Sertão agreste, a cidade e a Zona da Mata, a partir da leitura de
O cão sem plumas (1949-1950), O Rio (1953) e Morte e vida Severina (1954-1955). Dos três espaços, o
único que apresenta uma paisagem marcada pela abundância de água e fertilidade da terra é a Zona da
Mata, daí o adjetivo “fêmea” ser o tom predominante na descrição do lugar. Nos demais ambientes, reina
a escassez de tudo: de água, de alimento, de terra para plantar, de políticas públicas, etc. Nas três obras, o
espaço caracteriza a vida das personagens, situando-as num contexto socioeconômico bem demarcado no
qual a ruptura é praticamente impossível. Representa também uma extensão da vida das personagens,
seus limites, anseios e aspirações. Apenas em um deles (Zona da mata), ele assume o papel de contraste
com as personas literárias, sendo uma nota fora de tom, dada a sua inutilidade no contexto de
transformação social ansiada pelos sujeitos que passam ou habitam o lugar. A análise das obras será feita
a partir dos textos: A poética do espaço, de Gaston Bachelard (1978); Lima Barreto e o espaço
romanesco, de Osman Lins (1976) e, principalmente, Espaço e Literatura: introdução à topoanálise
(2007), de Ozíris Borges Filho.
No interior da terra manauara, a Cidade Flutuante é um bairro de palafitas recorrente nos romances de
Milton Hatoum. Lugar que, como anuncia o próprio nome, não se fixa em solo firme. As relações
familiares, atravessadas por conflitos e desigualdades sociais, entre outras questões, denunciam as
fragilidades que caracterizam a casa familiar que pode ser comparada à imagem das palafitas, tão
comuns na região amazônica. Esta metáfora aproxima a casa familiar, dos romances, à Cidade Flutuante:
lugar de refúgio em momentos de conflito, em Relato de um certo Oriente; destruída, em Dois irmãos,
pelo progresso avassalador fomentado pela força do poder instituído na figura da ditadura militar;
cenário de destruição das moradias ribeirinhas, que se vê em Cinzas do Norte, com a devastação de
grandes áreas da floresta e de bairros inteiros do interior. Esta casa da infância, que “flutua” na memória
dos narradores, assemelha-se à vegetação da Amazônia, cujo ciclo contínuo de florescimento e podridão
delineia alguns dos aspectos alegóricos da construção das narrativas, que se faz sobre “uma ruína
pululante de vitalidade”. Alegoricamente, vida e morte, “podridão e verdor”, encontram-se e dispersam-
se como forças propulsoras, ou pulsionais, tensões que alimentam a construção do relato sobre aquilo
que restou como bloco vital à tarefa do narrar empreendido pelos narradores de Hatoum.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Este artigo, como o próprio título já prenuncia, analisa a forte relação existente entre oralidade e escrita
presentes em alguns trabalhos da cantora Maria Bethânia. A expressividade e a grandeza de sua atuação
serão analisadas a partir do encontro entre a palavra cantada e a palavra escrita. Encontro este, capaz de
ampliar as significações do eixo temático proposto em suas performances, transmitindo-nos uma
sensação de completude. Com enfoque na expressividade do oral nas composições que tratam do interior
nordestino, notadamente baiano, este trabalho também põe em pauta a força da memória na perpetuação
da identidade desta gente e deste lugar, valorizando, assim, sua capacidade criativa. As paisagens do
interior do Nordeste, grandes fontes de inspiração para a produção artística brasileira, seja nas artes
plásticas, seja na literatura, seja na música ou no cinema, aparecerão como importante elemento que
atravessa as produções aqui analisadas. No solo ressequido do semiárido onde avoa o Carcará, ou na
grandiosidade encantada do Rio Subaé que embeleza e nutre o Recôncavo baiano, ou no céu estrelado do
sertão nas noites de luar, ou ainda no curso do Velho Rio São Francisco, nestes espaços, feitos de terra
seca ou de umidade profunda, poderemos pisar e/ou mergulhar através de uma vasta e rica poesia
interpretada por uma das artistas mais atentas de todos os tempos na historiografia não só da música
popular brasileira, mas das artes no Brasil: Maria Bethânia.
O Pantanal se tornou parte constitutiva da produção poética de Manoel de Barros, apesar de aparecer
nomeadamente como tal apenas no “Livro sobre nada”, publicado em 1996, aproximadamente 59 anos
após seu primeiro livro. Desta forma, propõe-se para este trabalho uma reflexão sobre a relação entre o
pantanal barriano e a melancolia a partir de poemas escolhidos. O espaço funciona – principalmente nas
“Memórias Inventadas” (2003-2010) – como um refúgio, uma zona de conforto, no qual o eu lírico se
protege e questiona sua identidade. Bachelard, na Poética do espaço (2008), alerta que não se deve olhar
os espaços apenas com o olhar da mensuração ou da reflexão sobre sua geometria. Assim, busca-se
compreender o espaço que constitui as memórias inventadas como um lugar vivido em todas as
parcialidades da imaginação. O pantanal aqui não deve ser visto apenas como cenário para um
determinado acontecimento, mas como elemento participativo na constituição do sujeito lírico. A partir
disto, objetiva-se estabelecer uma leitura que relacione os aspectos espaciais de parte da poética barriana
a certas características melancólicas.
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LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
O sertão do Ceará no final do século XIX foi duramente castigado por várias secas que assolaram os
habitantes desta região. Alguns romancistas daquele momento denunciaram em seus romances o enorme
contingente de pessoas que estava morrendo de inanição em razão da seca, e a indiferença dos governos
locais e federal a esta questão. Nessa tarefa de denúncia se destaca Rodolfo Teófilo com o romance O
Paroara (1899), cujo foco é a migração dos sertanejos do sertão do Ceará para a Amazônia, região que
necessitava de grande número de mão de obra para a coleta da seiva da borracha. O romance revela, aos
olhos do leitor, a dura odisseia do sertanejo que parte para a floresta Amazônica com o sonho de ganhar
dinheiro e acaba sendo degradado e explorado. Temos, assim, a construção de dois espaços distintos e
ambos agressivos aos personagens, sendo que no primeiro o cearense é castigado pela fome das duras
secas; no segundo, na Amazônia, ele se transforma em seringueiro e é castigado pela voragem da selva
que o degrada à condição de inválido, e também por ser colocado à condição de sub-escravidão nos
seringais. Exposto isto, essa comunicação tem por objetivo apresentar dois espaços distintos e
degradantes aos personagens de O Paroara. O primeiro está relacionado a fatores climáticos e
geográficos que destroem e expulsam os personagens do campo; já o segundo está relacionado a fatores
econômicos, ao rico período de extração da borracha, cuja região necessitava de um exército de
trabalhadores, porém as condições de trabalho e sobrevivência eram degradantes.
O conto “O hóspede secreto", de Miguel Sanches Neto, apresenta uma moça da cidade, que evoca por
meio de uma imagem-lembrança (o galo de penas marrons) um elo com a infância. Tal acontecimento,
por curto tempo, possibilita uma reconquista do mundo perdido; transitar pela memória, visualizar
novamente o passado, é uma representação ao resgate da sua verdadeira identidade, embora ela saiba que
o canto do galo é apenas a verossimilhança e reconhecimento da infância, e que ele não trará de volta os
elementos do campo e os pais já mortos. A identidade da narradora está formada no campo, para ela o
seu útero acolchoado, e o seu peregrinar se dá na capital, por isso a dualidade de sentimentos, e a
comparação incansável do antes e depois. Capta-se no conto o sentimento de não- pertencimento à
cidade, a nostalgia, o saudosismo, a valorização dos elementos campestres, absorve-se também por uma
leitura minuciosa, a identificação real ou não, com os signos da infância, o costurar da “colcha de
retalhos” de cada indivíduo que ali se vê refletido. O objetivo deste trabalho é analisar o conto sob a
ótica das reflexões sobre memória, tendo como base considerações teóricas de Agostinho (1999), Le
Goff (1994), Bergson (1999), Bosi (1994), Nora (1993) e Pollak (1992). Busca-se compreender quais
são as evidências, no conto, que estabelecem a memória como formadora de identidade.
43
LITERATURA E GEOGRAFIA: ÁGUAS, MAPAS, O URBANO, O RURAL, O
SERTÃO, O CERRADO, OS PAMPAS, AS MONTANHAS, AS FLORETAS
Este trabalho tem por objetivo principal, identificar, analisar e interpretar a obra do poeta mineiro
Wilmar Silva, que se direciona em busca de uma “poética da natureza”. Ao longo da leitura de sua obra é
possível notar a onipresença dos elementos naturais como marcantes em sua lírica profundamente
marcada por um caráter experimental. Nesse sentido, seu objeto constitui-se de textos produzidos por
este poeta em que estes elementos fazem-se presentes. Os princípios teóricos-metodológicos assentam-se
nas teorias da Ecocrítica e Poéticas da Paisagem. Entre inúmeros trabalhos a respeito da Ecocrítica,
podemos destacar a visão crítica de Lawrence Buell, em seu livro The Environmental Imaginations
(1995) e Terry Gifford que se dedicou a investigar formas pastoris, tema abordado em seus livros Green
Voices (1995) e Pastoral (1999). Como obra lançada no Brasil, temos como base bibliográfica o livro
Ecocrítica (2006), primeiro e único trabalho com edição nacional, de autoria de Greg Garrard. No que
tange as discussões sobre as interações entre sujeito e ambiente, destacam-se os livros Poética e Filosofia
da Paisagem (2013), de Michel Collot e A invenção da paisagem (2007), de Anne Cauquelin. Portanto, a
proposta em tela traz, como principal contribuição, a apresentação e o entendimento da poesia
desenvolvida pelo poeta Wilmar Silva e as relações que desenvolve com os elementos naturais.
373
Página
A fábula é um dos gêneros mais universais e populares de que se tem notícia; seus autores são
normalmente herdeiros de uma tradição narrativa já consolidada, oral ou escrita. Pouco se sabe a respeito
da vida de Caio Júlio Fedro (séc. I d.C.), a não ser que viveu entre os reinados de Tibério e Nero, foi
exilado por ordem de Sejano, retornou a Roma depois da morte do príncipe e escreveu suas fábulas nos
reinados de Calígula e Cláudio. Segundo Conte (1996), o mérito desse fabulista romano, como narrador,
está em seu esforço sistemático e constante de dar à fábula uma medida, uma regra, uma voz bem
definida. Esse esforço foi posteriormente imitado nas traduções das fábulas para as línguas vernáculas. A
linguagem de Fedro é caracterizada pela métrica da comédia e da sátira romanas: gêneros baixos de
imitação, segundo Aristóteles. Esta comunicação tem como objetivo apresentar os primeiros resultados
de uma pesquisa a respeito da recriação do gênero baixo na tradição tradutória inglesa das fábulas de
Fedro durante a época Augustan (fim do séc. XVII e séc. XVIII). Os conceitos escolhidos para essa
discussão originam-se nos Estudos da Tradução, como veiculados por Milton (2010), Oustinoff (2011),
Meschonnic (1999), entre outros. Trata-se de uma proposta de pesquisa no âmbito das tradições
tradutórias para o gênero em questão.
Recentemente a autora de livros infantis e estudiosa da Literatura Infantil Ana Maria Machado publicou
Ponto de fuga (2016) uma compilação de ensaios e artigos, fruto de palestras proferidas Brasil afora. O
teor da obra tramita pelo campo da literatura infantil e sua manifestação na atualidade, seja no campo
estético, seja na sua produção, edição e divulgação. Tendo esta obra como ponto de partida, pretende-se
lançar mão de reflexões acerca da produção literária infantil que se tem promovido, em especial no
Brasil, do século XX em diante, com vistas a observar questões pertinentes a essa questão no que diz
respeito: 1) à descoberta da criança como público consumidor e “consumível”, 2) ao promissor mercado
editorial infantil; 3) à ideologia de que o autor/adulto se apropria para compor o universo infantil.
Ademais, as perspectivas de mercado para a literatura infantil caminham a passos largos, enquanto o
modus operandi do fazer literário voltado para a criança (e não feito por ela), preserva alguns traços e
insere outros, tendo em vista a adequação ao momento e ao leitor aos quais se destina.
Em “Os fantásticos livros voadores de Modesto Máximo”, livro do escritor norte-americano William
Joyce, publicado em 2012, o leitor é conduzido, através de palavras e ilustrações, a um mundo em que a
experiência de leitura redimensiona a relação da personagem da narrativa com a vida e a linguagem. Por
esse prisma, podemos notar que, no livro citado, a leitura se desenha como uma aventura, como uma
escrita de si, ao passo que proporciona novos vieses à personagem leitora de inserção no ambiente
ficcional. Além disso, as ilustrações presentes na narrativa podem ser compreendidas como recursos que
ressignificam o modo de narrar da história, oferecendo outros sabores à viagem pelo universo das
palavras feita por Modesto Máximo. Nesse contexto, buscaremos relacionar essa atmosfera da narrativa
com as noções de experiência do filósofo espanhol Jorge Larrosa (1999, 2002, 2011), compreendendo
como o ato de ler pode construir uma experiência que inquieta o leitor, direcionando-o a entrar em novas
veredas de interpretação do mundo. Dessa forma, trataremos a leitura como elemento constituinte da
(trans) formação do indivíduo, espaço de reconexão, no caso do livro mencionado, entre o sujeito que é e
o sujeito que está mediado pelo complexo entrelaçamento entre a vida, a linguagem e a experiência.
Este texto por objetivo refletir acerca da representação da criança no livro literário "Nícolas", edição de
2013, escrito por Agnès Laroche, ilustrado por Stéphanie Augusseau, e traduzido por Isabelle Gamin e
Rosana de Mont’Alverne Neto. Justifica-se a eleição dessa obra, pois sua narrativa, disposta em folha
dupla, apresenta valor estético tanto no plano verbal, quanto imagético, estabelecendo uma relação de
interação entre imagem e texto. Priorizou-se essa obra, que explora em sua configuração a folha dupla,
pois se acredita que neste tipo de representação tanto o texto verbal, quanto a imagem se dispõem
livremente, possibilitando aos criadores um campo fundamental e privilegiado de registro, e de
expressão. Justamente, por isto, constrói-se neste texto, a partir dos pressupostos teóricos da Estética da
Recepção, a hipótese de que a obra Nícolas favorece a ruptura com conceitos prévios do leitor,
ampliando seus horizontes de expectativas e permitindo-lhe discernimento de mundo e posicionamento
perante a realidade. Esse livro, em especial, possui potencialidades para “alfabetizar” o olhar desde a
infância, permitindo que as crianças se tornem leitoras críticas, pois ativa sua memória transtextual ao
permitir-lhes compreender o texto verbal e não verbal em interação, além do seu suporte.
Índices expressivos de bilheteria atestam que o gênero animação é aclamado por crianças e adolescentes,
embora não integre, de maneira efetiva, o cotidiano escolar, que prioriza a leitura do cânone literário a
partir de uma proposta metodológica ainda didatizadora, monológica e estruturalista. Os desenhos
animados, desse modo, penetrariam nas unidades de ensino como gênero marginal, vivo e incisivo nas
falas e comportamentos dos alunos. Tendo em vista esse quadro, a presente pesquisa tem como principal
objetivo problematizar as propostas estéticas veiculadas em desenhos tradicionais e contemporâneos,
produzidos, divulgados e comercializados em diferentes países. Parte-se, assim, da tese de que o cinema
de animação introduz, como protagonistas ou não, personagens infantis a partir de modelos bastante
heterogêneos sobre crianças, que refletem, via de regra, o ideário cultural de um país e os aspectos
ideológicos inscritos no contexto histórico e social no qual a animação está inserida. Para tanto, a
investigação, fundamentada no dialogismo bakhtiniano, na Estética da Recepção e nas abordagens
sociológicas sobre infância, pretende analisar duas produções tradicionais e duas contemporâneas.
Almeja-se, desse modo, a partir dos recursos empregados pelo estúdio na tessitura do texto visual e das
múltiplas vozes instauradas ao longo dos desenhos, identificar os modos de representação endereçada ao
seu grupo étnico e a outros povos, bem como o espaço direcionado às criança tanto em narrativas mais
“formais”, veiculadas nos anos 60 e 70, quanto nas produções mais “arrojadas”, firmadas após a década
de 90, de natureza polissêmica e emancipatória.
Ler a imagem é tarefa criativa, imaginativa. Mas a relação da imagem com o livro vai além do “ilustrar”;
diz respeito a formas de representação, e não apenas à capacidade psicológica que nomeamos de
imaginação. O presente trabalho toma como objeto central os livros ilustrados voltados ao público
infantil para discutir a concepção de Imaginário. Nos estudos da infância, a imaginação emerge
regularmente, sempre valorizada em sua inclusão no processo de formação da criança, análoga à
criatividade e à eficiência intelectual. Já o termo Imaginário surge de modo mais furtivo – apesar do
parentesco etimológico dos termos. Mas, ao lidar com a complexidade do simbólico, os estudos do
Imaginário encontram respaldo na materialidade do livro ilustrado em duas vias, a visual e a linguística,
como preconiza Jean-Jacques Wunenburger. Nos picturebooks, imagem e texto ocupam um o lugar do
outro, num incessante intercâmbio das linguagens. Numa breve arqueologia do conceito de
representação, até chegar ao Imaginário contemporâneo com Gilbert Durand, o estudo evidencia o
entrelaçamento entre o universo sensível e os códigos racionais aparentemente tão inerentes ao texto
escrito, projetando o livro infantil ilustrado enquanto objeto literário e sócio-histórico no interior dessas
conceituações.
O presente trabalho analisa o modo como as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC)
exploram novas formas de produzir conhecimento e, consequentemente, impactam os modos de
produção e leitura do texto literário direcionado ao público infantojuvenil, tendo em vista o surgimento
de uma literatura mediada pela tecnologia. Ancorado nos estudos do Multiletramento (COPE;
KALANTZIS, 2009), Ciberliteratura (BARBOSA, 1996), tipos de leitores e usuários da
contemporaneidade (SANTAELLA, 2004), Letramento literário (COSSON; PAULINO, 2009) foi
analisado o site da escritora e ilustradora mineira Angela Lago e o livro Sete histórias para sacudir o
esqueleto (2002), disponibilizado no mesmo endereço eletrônico, a fim de estudar a multiplicidade de
semioses que constitui esses objetos multimodais e as possibilidades de produção de sentido envolvidas.
Os resultados obtidos evidenciam o emprego de linguagem híbrida e hipermidiática, que se incorpora à
gênese do texto e potencializa os processos de produção de sentido pelo leitor.
Presente na lista do PNBE 2013, o livro Eu e o silêncio de meu pai (2011), do escritor Caio Riter, reflete
um sentimento peculiar para muitas crianças e adolescentes, a “orfandade paterna”, mesmo que este
ainda não tenha morrido. Embora o pai da personagem protagonista esteja vivo e presente em sua casa,
seu silêncio abre um abismo na convivência entre ambos. Com certos traços biográficos na trama, como
adverte o próprio autor, “Hoje, meu sonho de ser escritor é verdade. E este livro, Eu e o silêncio de meu
pai, traz algumas das minhas verdades, pintadas um pouco com tintas da fantasia. (RITER, 2011, p.100),
o escritor consegue trazer mais tonalidade ao drama descrito no enredo. O fato do garoto narrador não
apresentar um nome próprio, faz com que qualquer leitor possa ocupar o lugar do narrador diante do
conflito descrito, principalmente, quando lembramos que o esperado pelo horizonte de expectativa da
obra é um leitor infantojuvenil que acesse o impresso através do acervo de sua escola,. Toda esta
atmosfera é expressa não só com os recursos verbais, como também com o auxílio da diagramação e
ilustração do livro, começando, por exemplo, pelo título impactante da capa sobre um único pé de um
sapato social masculino, conotando o sentimento de solidão destes dois “eus” masculinos, o pai de um
lado e o filho de outro. Em suma, de capa a contracapa temos um rico trabalho de autor e ilustradores
para compor uma narrativa que, embora seja destinada aos jovens leitores, meninos ainda como nosso
personagem narrador, apresenta uma problemática de teor psicológico que não apresentará, ao final da
leitura, uma solução simplista e calcada na felicidade como premiação.
Considerado um divisor de águas na crítica especializada sobre literatura infantil e juvenil brasileira, o
escritor Monteiro Lobato (1882-1948) mantém-se como paradigma de "bons livros" para crianças. Na
perspectiva de uma abordagem temática, temas considerados polêmicos ou pouco afetos ao universo
infantil, como a "guerra" não foram negligenciados por ele. Em um de seus textos mais contundentes
sobre o assunto, A chave do tamanho, de 1942, o autor traz ao universo infantil discussões na clave de
uma iniciação às crianças no âmbito de um tema inerente à própria civilização. Suas reflexões mostram-
se argutas e problematizadoras, convidando o leitor infantil a pensar o mundo que o circunda. O objeto
deste trabalho, porém, não é um texto que compõem a saga do Picapau Amarelo, mas manuscritos
preservados no CEDAE/Unicamp, em que Lobato deixa registrada sua intenção de dar forma a novas
narrativas sobre o mesmo tema, notoriamente a partir de motes como a Cruz Vermelha. A análise destes
trechos busca refletir sobre aspectos da qualidade da literatura infantil contemporânea, bem como
contribuir para a percepção de aspectos sociológicos intrínsecos às escolhas semânticas e estilísticas
desta produção no contexto nacional.
379
Página
45
LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA: LETRAMENTO CRÍTICO E
TRANSCULTURAL
Este estudo é um recorte de uma pesquisa de mestrado que está em andamento, na qual pretende-se
analisar como a literatura infanto-juvenil multicultural pode favorecer a promoção do letramento crítico
nas aulas de língua inglesa. Sabe-se que a literatura faz parte da rotina de nossos alunos, mas os
professores de inglês raramente a incorporam nas suas aulas. No contexto brasileiro, esta carência de
literatura nas aulas de inglês se deve parcialmente à sua ausência nas políticas públicas estaduais e
nacionais sobre o ensino línguas estrangeiras nas escolas públicas brasileiras. Esta situação se complica
ainda mais ao considerar o lugar da literatura infanto-juvenil, devido a vários mitos e equivocações. A
falta de literatura infanto-juvenil, sobretudo de natureza multicultural, nas aulas de inglês ignora seu
grande potencial para auxiliar no processo de aprendizagem da língua além de perder a oportunidade de
estudar a língua inglesa de forma multicultural por meio do letramento crítico. Esta investigação se deu
por meio de um minicurso ofertado no âmbito da UFMG a professores de inglês com o objetivo de
demonstrar como a literatura infanto-juvenil pode ser abordada para promover o letramento e
multiculturalismo crítico no ensino da língua inglesa. Como parte deste minicurso, os participantes
tiveram que elaborar uma sequencia didática baseada em um livro multicultural que representava seu
contexto de ensino. Como resultado, serão apresentadas e analisadas de forma prática as atividades dos
professores com o fim de mostrar como incentivam o letramento crítico no ensino de inglês além de
apontar caminhos para a incorporação de literatura nos cursos de licenciatura em Letras.
Compreendemos que grupos sociais distintos desenvolvam maneiras particulares de se relacionarem com
a produção e a recepção de escritos, as quais configuram práticas sociais que interligam pessoas, fazeres
e o modo como constroem significados, de maneira articulada e complexa. De acordo com Lemke
(2010) e seus estudos sobre letramentos, significados são socialmente construídos de maneira efetiva a
partir da complementariedade entre elementos tipológicos e topológicos, sendo que o potencial de
complementariedade entre tais elementos ajudam a dar “dignidade e poder para pessoas híbridas reais”
(p. 467). Falar em letramentos e pensar a comunidade surda brasileira, portanto, implica na reflexão de
como esses indivíduos predominantemente visuais se relacionam com o mundo e criam significados
socialmente reconhecíveis a partir dele, visto que, como enfatiza Kress (2003), a percepção que
aprendemos a ter do mundo quando este nos é mostrado é muito diferente da percepção que aprendemos
ter quando ele nos é contado. Desta forma, este trabalho, enquanto recorte da dissertação de mestrado
intitulada A tradução de contos populares clássicos com escopos definidos: um passeio pelas versões
impressas de Cinderela Surda (2003), Rapunzel Surda (2003) e Patinho Surdo (2005) (2016), orientada
pela Prof. Dr. Vera Wielewicki, visa refletir sobre as obras Cinderela Surda (HESSEL; KARNOPP;
ROSA, 2003), Rapunzel Surda (KARNOPP; ROSA; SILVEIRA, 2003) e Patinho Surdo (KARNOPP;
ROSA, 2005) enquanto produtos simbólicos de uma comunidade identitária e linguisticamente
minoritária em nosso país, cujos indivíduos criam sentidos a partir de uma maneira peculiar de
percepção do mundo, a visualidade.
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45
LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA: LETRAMENTO CRÍTICO E
TRANSCULTURAL
A peça teatral Angels in America (2009) de Tony Kushner é considerada um divisor de águas no teatro
norte-americano. Isso porque, no auge da epidemia da AIDS e da era Reagan (GEIS, 2011), ela retrata o
quão multifacetada (KUHN, 2003) é a sexualidade humana e o quão as culturas convergentes, mas
principalmente as divergentes (NUNES, 2003) coexistem (e se influenciam) nesses Estados Unidos da
América. Por isso, o objetivo deste trabalho é o de investigar como a questão da pluralidade sexual
(QUEEN, 2007) é retratada por Kushner (2009) e até que ponto as diferentes culturas presentes em sua
peça teatral influenciaram estrutural e conteudisticamente (DUNWOODY, 2000) sua construção.
Portanto, a primeira parte deste trabalho foca na apresentação da complexidade das discussões sobre a
identidade do sujeito pós-moderno (HALL, 1997) comparando-as com as também complexas questões
acerca da configuração sexual (QUEEN, 2007) desse mesmo sujeito na contemporaneidade. Já a segunda
parte deste trabalho dá ênfase à análise estrutural (DUNWOODY, 2000) da peça em questão, focando
principalmente na caracterização dos personagens teatrais e como essa caracterização auxilia
substancialmente a construção do enredo escolhido por Kushner (2009) e a divisão de sua peça em duas
partes. Por último, os resultados parciais dessa análise são compartilhados e discutidos.
The teaching of literature is an issue that is being questioned today, in particular regarding the
organization of its syllabus still in terms of the national metaphor, say English Literature, or American
Literature, or Indian Literature in English, at a moment when society is marked by multilingualism and
multiculturalism. A country that should seem to defy the single language and ethnicity history of
literature and, in turn, its school syllabus, is India, in particular because it is a broad country where more
than 150 languages are spoken, belonging to four language families: Indo-Aryan, a sub-family of the
Indo-European; Dravidian, languages only found in India in its Southern parts; Tibeto-Burman, a sub-
family of the Sino-Tibetan; and Munda, a sub-family of the Asiatic language family (Sardessai, 2005, p.
3-4). In order to better understand the Indian way of teaching its main languages and literatures and to
see how much it differs or converses with those models in which a single language and ethnicity group
act as synecdoche for the nation (Valdes & Hutcheon, 1994, p.4) we will first consider some parts of the
Indian “National Curriculum Framework” (2005) that deal with the teaching of language, literature and
citizenship, to them focus on the particular case of the teaching of literature in the Goa, former
Portuguese colony both at high school and college level.
45
LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA: LETRAMENTO CRÍTICO E
TRANSCULTURAL
Uma pesquisa realizada com acadêmicos de um curso de Letras (LOURENCO, 2012), revelou que uma
parte significante dos participantes lê romances traduzidos fora da instituição de ensino, visto que a
universidade focaliza principalmente o ensino do cânone. Os dados coletados evidenciaram algumas
percepções de literatura distintas das publicadas em livros de teoria literária (AGUIAR E SILVA, 1973;
EAGLETON, 1983; HANSEN, 2005). Alguns dos participantes desconstruíram a relação hierárquica
entre cânones e best-sellers, atribuindo valor literário a ambos. Também desenvolveram letramentos
diferentes dos ensinados pela academia, os quais, muitas vezes, podem ser apagados pelo discurso
acadêmico. O letramento associado à escolarização é valorizado e os outros letramentos tendem a ser
desvalorizados, marginalizados (STREET, 2014). Neste trabalho, partimos dos dados da pesquisa citada
e de textos que discutem sobre a circulação da literatura não só na forma impressa (adaptações,
traduções), mas também em outros meios (filmes, seriados, vlogs), para debater sobre as possibilidades
de ensino de literaturas em língua inglesa na perspectiva dos novos letramentos. Diante das
transformações sociais e culturais dos leitores contemporâneos, consideramos relevante ampliar os
conceitos de leitura e de leitor para que a circulação da literatura em outros meios seja abordada em sala
de aula. Para tanto, é preciso descontruir representações hierárquicas da literatura, da escrita e do
impresso. E tais discussões precisam fazer parte da formação inicial e continuada de docentes da área.
O livro didático é um dos principais instrumentos utilizados pelos docentes no exercício da profissão. A
implementação do livro de inglês pelo Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) representa um
importante incentivo aos professores de inglês atuantes na rede estadual de ensino, que não contavam,
até 2011, com um material que pudesse auxiliá-los no planejamento e execução das aulas. Contudo, é
importante destacar que a obra selecionada pelo professor deve abranger todas as habilidades de língua
inglesa (Leitura, escrita, oralidade e compreensão auditiva), inclusive no que se refere à leitura literária,
o que justifica a escolha da coleção Alive High (2013), obra aprovada pelo PNLD 2015 para o Ensino
Médio. Nesse sentido, este artigo apresenta uma proposta didática aos docentes como uma tentativa de
oferecer uma alternativa para promover o encontro da língua com a Literatura no processo de ensino-
aprendizagem de inglês. Assim, será colocado em destaque o papel do letramento literário para a
formação crítica do indivíduo frente às demandas culturais, sociais e históricas que afetam a vida dos
aprendizes em sociedade. Para tanto, será utilizado neste trabalho a Sequência Básica de Cosson, uma
das metodologias que melhor se enquadra nas necessidades e anseios do jovem alunado brasileiro.
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LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA: LETRAMENTO CRÍTICO E
TRANSCULTURAL
A circulação de textos literários através de mídias que extrapolam o tradicional meio impresso é uma
característica comum das sociedades contemporâneas (JENKINS, 2009). Dentre as tantas mídias
audiovisuais, o cinema traz, com frequência, releituras de textos literários populares e canônicos que,
associadas à estética particular dessa mídia, tem grande apelo entre o grande público e mais
especialmente entre os jovens. Ao consumirem esses textos transpostos para o cinema, alguns desses
jovens se envolvem em práticas de letramento múltiplas que incluem não só o consumo, mas também a
produção de diferentes textos multimodais. Assim sendo, o objetivo deste trabalho é discutir a relação
entre o romance Drácula, do escritor inglês Bram Stocker (1847 - 1912) e as transposições
cinematográficas: Nosferatu (1922), Drácula (1931), Drácula (1979), Dracula de Bram Stocker (1992) e
Dracula Untold (2014) por meio de uma perspectiva de letramentos como pratica social (Street, 1984) e
multimodal (Kress, 2010). A análise se baseia no conceito de multimodalidades como uma “uma série de
recursos de representação e seus usos na comunicação. São conjuntos de recursos socialmente
organizados que contribuem para a construção de sentido.” (KRESS; JEWITT, 2010, p. 342) (minha
tradução). As análises dos filmes têm como suporte as ferramentas de análise fílmica apresentadas por
Jullier e Marie (2012). Ao final, apresentamos possibilidades de uso de textos literários e multimodais
em sala de aula com vistas à construção de leituras multimodais, transculturais e participativas.
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LITERATURAS DE LÍNGUA INGLESA: LETRAMENTO CRÍTICO E
TRANSCULTURAL
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
A oficina pedagógica “EU, ESCRITOR... - A arte de ler, pensar, refletir, saborear, produzir...” tem como
objetivo, utilizando os textos literários, estabelecer relação entre três aspectos – o ato de ler, pensar e
escrever - fundamentais para o processo de formação do ser humano enquanto indivíduo crítico, lúcido e
reflexivo. Muito se sabe a respeito da leitura. É através dela que as pessoas são capazes de adquirir uma
visão crítica do mundo, além de bagagem cultural e ampliação de pontos de vista. É inegável que a
leitura seja capaz de despertar senso crítico nas pessoas, tornando o bom leitor um sujeito capaz de
opinar sobre diversos temas e fatos sociais, políticos e econômicos de nossa sociedade, sendo também
capacitado a questionar, problematizar e propor soluções para diversos deles. O hábito de leitura nas
escolas é, portanto, imprescindível, visto que a escola é o espaço formal apropriado para a formação do
cidadão. Para isso, é necessário trabalhar com textos que provoquem o interesse do aluno. Nesse sentido,
colocamos o texto no centro da sala de aula seguindo, principalmente, os passos dados por Antonio
Candido em seu “O direito à literatura”, apresentando a literatura como instrumento de reflexão sobre a
vida e sobre a complexidade do ser humano – tanto em seus direitos quanto em seus deveres. A literatura
que aponta para o outro no sentido de transmitir o que significa a alteridade; literatura enquanto forma de
denúncia e do pensar social. Assim, a potencialidade que há no texto literário se refletirá no papel
transformador e formador que compreende a leitura.
Este trabalho procura investigar uma prática de leitura concebida para 6os, de uma escola particular da
cidade de Campinas, em que à leitura do livro Desenhos de Guerra e Amor, de Flavio Souza, associou-se
a escrita, pelos alunos, de um diário de leitura que contemplasse não apenas a trajetória de leitura da obra
(personagens, passagens da história, interpretação do enredo, por exemplo), como impressões de leitura
na interface do texto literário com a vida de cada estudante. Para além do compartilhamento dos sucessos
e percalços que envolveram o desenvolvimento desta prática de leitura, procura-se investigar, a partir da
análise de excertos de alguns diários produzidos, ao longo de cinco anos de trabalho, em que medida os
alunos desenvolvem uma noção de autoria e o quanto a literatura influencia ou se reapresenta na tessitura
da escrita da vida de cada um deles. Assim, é que se espera refletir, simultaneamente, sobre os modos de
apropriação do texto literário, não apenas como fruição estética, mas como modelo de recursos
estilísticos; e como terreno em que o estudante pode trafegar tanto como leitor quanto como autor. E,
nesse caso, o exercício da escrita literária como elemento importante também para sua formação
literária. Como corpus inicial de investigação, pretende-se analisar excertos de 05 diários, coletados em
diferentes turmas e de diferentes anos; buscando verificar os recursos de estilo utilizados pelos
estudantes no processo de tornar narrativa a própria experiência de leitura e a reflexão sobre as próprias
experiências no seu compartilhamento na tessitura do diário e quais desses recursos foram tomados de
empréstimo da obra lida.
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46
MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
O presente trabalho apresentará algumas possibilidades referentes à leitura escolar que auxiliarão na
formação do leitor literário. Atualmente, a grande maioria dos leitores jovens não adquiriu esse hábito
através da escola, mas por outras vias, como por exemplo, a influência da família e de amigos leitores.
Tal fato é preocupante, pois é, geralmente, na escola o primeiro contato com a leitura. O objetivo desse
trabalho é apresentar uma possível solução para o trabalho com o texto literário na escola, seja ele no
ensino fundamental ou médio, sendo o conto literário o ponto de partida para essa formação. Além disso,
o método recepcional vem ao encontro dessa proposta de formação de um leitor específico: o literário.
Utilizaremos como pressupostos teóricos: Bordini; Aguiar (1993); Lajolo (2005); Aguiar (2006); Soares
(2006); Cosson (2007); Bamberger (2008) e Chartier (2009). O método recepcional é, ainda, “estranho”
à educação brasileira, por exigir um maior planejamento (e tempo), bem como o conhecimento do
professor, pois, não se forma leitores sem ser um leitor e ter feito, consciente ou inconsciente, o percurso
que leva ao leitor literário. Contudo, quando falamos de professores engajados na formação do leitor,
conhecer, atender, romper e refletir acerca do horizonte de expectativa de seu aluno se torna
fundamental. Por fim, a aplicação do método recepcional aliado ao trabalho com o conto literário se
tornam opções viáveis para a formação de leitores, bem como para o professor que mediará essa
formação, pois, muitas vezes o tira de sua posição de conforto, indo à busca de leituras adicionais, ainda,
não conhecidas.
Sabe-se que o livro didático (LD) no tocante ao ensino de leitura literária tradicionalmente enfatizou a
identificação de aspectos estilísticos de uma dada estética literária (COSSON, 2009; LAJOLO, 2010).
No entanto, em concordância com as diretrizes do PNLD para avaliação do livro didático, formulamos a
hipótese inicial de que o ensino de leitura literária não estaria restrito à identificação de elementos
estilísticos. Com base em algumas ideias do Círculo de Bakhtin – entre elas, a noção de que a) a
compreensão é um processo responsivo; b) todo discurso interage com outros discursos e se materializa
em gêneros discursivos e c) todo dito envolve um não dito, reconstruído pelos sujeitos nas diversas
práticas discursivas – investigamos a abordagem dispensada à leitura de poemas líricos em livros
didáticos do Ensino Médio. Para tanto, elegemos como corpus atividades de compreensão leitora e o
manual do professor do terceiro volume da obra Português: linguagens, de William Roberto Cereja e
Thereza Cochar Magalhães (2008). Especificamente, objetivamos analisar como esses autores
exploraram as relações dialógicas existentes entre a voz de um poeta e outros discursos e de que modo
conhecimentos enciclopédicos eram mobilizados, para explorar tais relações. Em face disso, ao
confrontarmos as atividades propostas para a leitura de poemas com o manual do professor percebemos
que, embora adotem pressupostos do Círculo de Bakhtin, os autores exploram superficialmente as
relações dialógicas entre as vozes dos poetas estudados e outras vozes. Além disso, mobilizam
timidamente conhecimentos enciclopédicos para a construção dessas relações.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
CAMÕES 2.0
Nesta comunicação, pretendemos refletir acerca do ensino de Literatura no Brasil nos últimos anos,
avaliando como o mesmo ainda se encontra pautado por concepções e práticas de meados do século XX.
Nesse sentido, a insistência em se apresentar a disciplina a partir do viés historiográfico consiste
exemplo paradigmático dos equívocos que se fazem presentes nas instituições escolares. A partir da
necessidade de repensarmos as estratégias e os procedimentos para que a abordagem da Literatura em
sala de aula se dê a partir de parâmetros efetivamente significativos para os estudantes, tomamos como
referencial teórico a chamada “Pedagogia de Projetos”. Esta, ao proporcionar uma abordagem
interdisciplinar e que coloca em xeque as práticas da escola tradicional, permite ao professor estruturar
conceitos a partir de propostas diferenciadas. O projeto Camões 2.0, desenvolvido por este professor
com alunos do Ensino Médio do Colégio Pedro II, tradicional instituição pública sediada no Rio de
Janeiro, constitui uma experiência bem sucedida em que, a partir de pressupostos que remetem à
Pedagogia de Projetos, ultrapassam-se barreiras advindas de um currículo no qual o engessamento ainda
se faz presente.
Considerando a importância da leitura no contexto atual e sua relevância na formação docente inicial, a
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), nos campi de Marília e Presidente
Prudente, a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e a Universidade de Passo Fundo (UPF)
elaboraram um projeto de pesquisa intitulado "Leitura nas licenciaturas: espaços, materialidades e
contextos na formação docente". O estudo, com duração prevista de 4 anos (2014/2018), está vinculado
ao Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD) e tem como objetivo descrever o perfil-
leitor de universitários ingressantes nos cursos de Letras e Pedagogia e desenvolver um plano de ações
político-pedagógicas para qualificar a formação de leitores na universidade. A escolha desses cursos de
licenciatura deve-se ao fato de formarem professores que em breve atuarão na educação básica no
desenvolvimento de capacidades leitoras de seu alunado. Nesse sentido, conhecer práticas,
representações e apropriações de leitura em instituições formadoras de professores é um dos objetivos
específicos da pesquisa, que aplicou um questionário composto por 85 questões abertas e fechadas,
atingindo 455 sujeitos. Sendo assim, tem-se como intuito neste trabalho apresentar reflexões acerca do
papel das instituições e dos mediadores, analisado, sobretudo, o acesso desses ingressantes nas
licenciaturas a bibliotecas ou salas de leitura, a regularidade de suas leituras nesse ambiente, bem como a
frequência de leitura em espaços públicos. Como resultados preliminares, verifica-se a influência da
escola como uma instituição que possibilita o ingresso ao ato de ler.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
Essa comunicação pretende apresentar, à luz das discussões atuais sobre mediação de leitura, como a
personagem Dona Benta, das obras infantis de Monteiro Lobato, representa uma tipologia de mediação
que poderia auxiliar os professores-mediadores atuais. Para isso, utilizamos como referencial teórico
Cerrillo, Larrañaga, Yubero (2002), Cosson (2014), Silva (2009), Ceccantini (2009) dentre outros
estudiosos. Nossos objetivos são os de apresentar Dona Benta como contadora-mediadora de leitura na
obra infantil Hans Staden e, a partir de diversos exemplos desse texto, verificar como ela desenvolve
competências mediadoras que se revelam eficazes durante o processo de narração da história e poderiam
servir de orientação para professores-mediadores de leitura na escola. Hans Staden, assim como outras
obras infantis lobatianas, apresenta a personagem Dona Benta como narradora de histórias para as
crianças do Sítio, seus netos. Nesse processo, geralmente de reconto das narrativas, a avó executa um
papel de mediação entre o texto literário e seus ouvintes. Com isso, algumas competências dela como
mediadora se acentuam, como, por exemplo, a preocupação com a discussão da história, enquanto ela é
narrada, a fim de que a compreensão adequada dos fatos ocorra por parte dos pequenos ouvintes, ou
ainda as escolhas lexicais mais próximas à realidade das crianças, ou mesmo uma forma de narrar que
desperte a curiosidade e prenda a atenção dos ouvintes. São esses aspectos, que podem contribuir para os
professores-mediadores atuais pautarem suas mediações com seus alunos, que pretendemos pontuar,
explorar e analisar nessa apresentação.
O trabalho dedica-se a estudar algumas estratégias que podem ser adotadas, no ensino de literatura, para
ativar ou enriquecer, em leitores inexperientes, conhecimentos prévios necessários às leituras literárias.
Para isso, consideramos, inicialmente, a imprescindível abordagem de elementos frequentemente
negligenciados na leitura, como as informações presentes nas orelhas das obras escolhidas, na capa e
contracapa, as ilustrações, entre outros, que preparam o leitor para realizar predições sobre a obra.
Consideramos, ainda, a possibilidade de o cinema de gênero, especificamente a ficção científica e o
thriller, constituir uma instância de acionamento (ou de criação) de conhecimentos prévios para alunos-
leitores, que podem, assim, realizar leituras literárias, também voltadas para a ficção científica e a
narrativa policial, confirmando ou refutando as hipóteses que o universo cinematográfico lhes ofereceu.
No nosso estudo, não propomos que sejam utilizados filmes, ou adaptações cinematográficas, para
motivar a leitura da obra literária que foi ponto de partida para o filme, tampouco para comparar
literatura e cinema nessa transposição. Desejamos cotejar manifestações narrativas emblemáticas (por
exemplo, o uso de um léxico específico do que se entende por “futuro” ou a ocorrência da perseguição
policial) comuns ao cinema de gênero e à literatura. Nosso estudo advém sobretudo da nossa experiência
com estudantes de ensino fundamental no Colégio Pedro II, com cuja formação para o letramento
literário tentamos contribuir, sempre repensando nossas avaliações das leituras literárias não como
produtos a serem controlados, mas como processos a serem revisados.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
A proposta da apresentação é ajudar na reflexão sobre como os professores de literatura podem ministrar
aulas fugindo das tradicionais aulas baseadas na história da literatura e em dados históricos e biográficos.
Ao contrário, ao traçar um caminho por temática que interessem ao jovem estudante, a aula de literatura
pode e deve ser um momento de reflexão. Assim, um vídeo contemporâneo muito conhecido pelos
jovens serve de motivação para os alunos refletirem que a temática do selfie não é exclusividade do
século XXI e do mundo contemporâneo, pois há evidências de tais sentimentos em diversos textos
literários ao longo dos séculos e diferentes nacionalidades. Assim, a partir de um exemplo prático, a
apresentação serve de motivação para o planejamento de diversos métodos de mediação da literatura na
escola, sempre com uma finalidade de como realizar o incentivo da literatura, seja no Ensino
Fundamental, seja no Ensino Médio. As reflexões expostas são resultados da disciplina "Práticas do
ensino de Literatura" e do projeto de extensão "Vem Ler: incentivo à leitura".
Ler e escrever são competências básicas exigidas em nossa sociedade letrada, habilidades que, quando
dominadas, nos possibilitam uma maior consciência do nosso lugar no mundo e nos permite ter uma
visão mais crítica daquilo que nos cerca. A principal preocupação dos professores de Língua Portuguesa
se resume à pergunta: estamos trabalhando em prol da formação de alunos-leitores, capazes efetivamente
de serem autores de sua própria história? Para situar melhor a investigação a ser proposta, é necessário
pontuar que minha preocupação se volta com particular atenção para a educação pública brasileira, visto
que nela atuo e verifico cotidianamente grandes desafios nesse sentido. Em meio a reflexões como estas,
nasceu a ideia que move essa pesquisa: voltar o olhar para o potencial do trabalho com textos literários
na formação de leitores nas salas de aula do Ensino Fundamental, em especial no contexto da escola
pública. Mais precisamente, explorar as possibilidades de mediação da leitura de livros paradidáticos
(romances juvenis) com alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental. A leitura desses romances
será feita de modo planejado, a fim de que o professor possa de fato mediar o processo e propor
atividades que envolvam a turma. Estimular o gosto pela leitura, explorar a capacidade interpretativa e a
autoria de nossos alunos é (ou deveria ser) o principal papel dos professores de Língua Portuguesa. A
questão urgente com a qual convivemos diariamente em nossas escolas é: como fazer isso?O acesso à
literatura é um direito do ser humano, a falsa ideia de que os jovens simplesmente não gostam de ler
descansa sobre nossa imobilidade enquanto educadores.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
Dentre as práticas de leitura escolarizadas, a leitura fruição destaca-se como uma possibilidade de
trabalho que valoriza obras preferencialmente literárias, canônicas ou não. Esta prática consiste na leitura
de textos de quaisquer gêneros e temas, feita pelos professores, sempre realizadas no início das aulas.
Para este breve trabalho, tomei como ponto de partida a análise da leitura fruição realizada num colégio
da rede privada de Campinas/SP. Trata-se de leituras gratuitas, sem que haja verificação ou qualquer
mensuração. Neste trabalho, apresentarei um breve panorama que pretende analisar esta prática de leitura
como alternativa de acesso a textos literários consagrados ou não, considerando, ainda, que não se trata
de “mais uma” leitura escolarizada: na verdade, a leitura fruição pode ser concebida como experiência
(BONDÍA, 2002) e performance (ZUMTHOR, 2014), o que lhe confere alcance e particularidades
dignas de nota. Outrossim, por meio dessa prática de leitura, é possível que se reafirme o direito à
literatura, entendida neste trabalho, como metonímia de leitura. Ter acesso a textos vários, à fabulação,
apresenta-se, pois, como confirmação do direito a algo essencial ao ser humano, o direito à fabulação e à
fruição (CANDIDO, 2004). Desse modo, as leituras oportunizadas por esta prática podem se configurar
como táticas que confrontam ou constroem alternativas às estratégias por vezes ditadas pela escola
(CERTEAU, 2012) e os leitores, caçadores incansáveis, buscam obras por meio de uma abordagem que
valoriza a subjetividade e também o envolvimento gratuito com as obras. Para tal análise, utilizei como
pressuposto teórico-metodógico a História Oral (entrevistas).
Segundo Antonio Candido, o papel da literatura só pode ser compreendido quando a consideramos como
um “sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que
estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a” . Se admitirmos a concepção de Candido de que
a literatura não é um “produto fixo, unívoco, ante qualquer público” e nem que este possa ser “passivo,
homogêneo, registrando uniformemente seu efeito” (CANDIDO, 2010, p. 84), devemos modificar
também a maneira de trabalhar com a literatura na sala de aula, uma vez que o caráter fluente e
transformador da obra literária só pode ser percebido na relação próxima e efetiva entre texto e leitor. O
estudo do texto literário, portanto, deve comportar o trabalho com o leitor, permitindo que este possa
acessá-lo e incluir suas intermediações, deformações e opiniões diante do que foi lido. Trazer o texto
vivo para a sala de aula significa não se limitar a um trabalho individual de leitura, mas promover o
diálogo entre as muitas visões dos alunos acerca do texto, incluindo a do professor, como leitor primeiro
e mediador de leitura na sala de aula. Esse trabalho pretende analisar algumas experiências com o texto
literário nas salas de aula do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, e apresentar algumas
transposições/adaptações feitas por alunos do Ensino Médio a partir de uma proposta de leitura e
releitura de obras literárias brasileiras, permitindo que os jovens leitores, após o contato com as obras
originais, pudessem transpô-las para outras linguagens, incluindo a produção de recursos audiovisuais a
partir de suas vivências pessoais com o texto.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
No contexto da educação básica, o trabalho com oficinas literárias se mostra decisivo para se encarar a
literatura como, antes de tudo, uma prática. O leitor em formação se depara, durante as oficinas, com os
bastidores do texto literário produzido por ele mesmo, tornando evidentes não apenas as técnicas e as
forças empregadas em sua construção, como também os processos de canonização e disputas críticas que
uma obra percorre a longo da história. Assim é que a Oficina Literária Ato Zero, desenvolvida com
estudantes do ensino médio do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, se inscreve no contexto curricular da
educação básica. Desenvolvida como projeto de Iniciação Artística Jr., a oficina começou por se basear
nas práticas de oficina do grupo francês Ouvroir de Littérature Potentielle (OuLiPo) e hoje desenvolve
metodologia própria, que consiste em estudar os procedimentos de composição textual de uma obra e
reinventá-los num jogo coletivo cujo objetivo é a produção de uma nova obra. Essa comunicação se
propõe a refletir sobre a metodologia que vem sendo elaborada, dialogando-a com os conceitos de
escritura e força tais quais desenvolvidos por Roland Barthes (“Variações sobre a escritura”, 1973) e
Jacques Derrida (Essa estranha instituição chamada literatura, 1992). Além disso, serão estudadas obras
resultantes das oficinas, produzidas pelos estudantes, no formato de livro artesanal impresso.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
Lançado em 2009, o Skoob é uma rede social que reúne mais 2 milhões de usuários cadastrados. Nesse
espaço de interação, os leitores podem: assinalar os livros lidos ou aqueles que desejam ler, indicar
releituras e abandonos de leituras, avaliar as obras lidas, publicar resenhas, anexar textos e vídeos que
falem das obras e dos autores, apontar os autores de sua preferência. Entre as tantas leituras realizadas
pelos leitores do Skoob percebe-se a presença, quase sempre problemática, dos livros do cânone escolar.
O que dizem os jovens sobre esses livros? Quais são suas percepções e suas dificuldades diante do
cânone escolar? Quais práticas de desincentivo à leitura promovidas pela escola que podem ser
percebidas pelos comentários desses usuários? Para promover tal análise, pretendo focar nos comentários
dos jovens sobre as obras de Machado de Assis. Essa escolha se deve a postura admirativa que os
professores de literatura assumem em relação ao autor em contraste / confronto com a recepção dos
jovens leitores. Com isso pretendo: 1) discutir / problematizar a leitura na escola “tomando o lado desses
jovens leitores” (PETIT 2009); 2) pensar como o Skoob pode oferecer ao professor de literatura
subsídios para compreender como os jovens leem e interagem com as obras; 3) propor usos didáticos do
Skoob – incentivando uma crítica verdadeira às obras lidas na escola.
O que significa ensinar literatura na escola? Qual a diferença entre ensinar literatura e transmitir a
Literatura? Quais os entraves com que se depara quem pretende transmitir a arte da palavra em espaços
escolares? Quais as vantagens com que se conta para esse empreendimento num espaço de educação
formal? Esta comunicação pretende menos do que responder clara e univocamente a essas perguntas
levantar questões que coloquem em pauta e em discussão não apenas a práxis do professor de língua com
a Literatura, mas ainda, e principalmente, as reais condições de produção de leitura e de conversação
literárias com os seus discentes, dentro dos muros da escola. Busca-se um entendimento da práxis leitora
literária do professor de língua no sentido de compreendê-la como um lugar de ‘rebeldias’ e de
‘proposições’ nem sempre acordes com os currículos de ensino geralmente vigentes nas escolas
brasileiras; um lugar de pequenos ‘desfazeres’ dentro do fazer pedagógico. Essas reflexões e esses
questionamentos, que também se baseiam nas propostas de Rildo Cosson sobre círculos de leitura e
letramento literário, de Aidan Chambers sobre a conversação literária e de teóricos e pensadores como
Hans Robert Jauss, Umberto Eco, Tzvetan Todorov, Tania Rösing e Marisa Lajolo, fundamentam-se,
sobretudo, nas experiências trazidas por uma pesquisa com juventudes leitoras da cidade do Salvador,
por uma vivência de leitura na EJA de uma escola municipal soteropolitana e pelo conhecimento
empírico acumulado em 17 anos de magistério.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
O presente trabalho tem por objetivo expor uma prática desenvolvida pelo projeto “Oficina de contação:
a formação de leitores” na Escola Municipal de Ensino Fundamental em Tempo Integral Prof. Valdir
Castro, com alunos do primeiro ao quinto ano, através da temática “terror”, escolhida pelas crianças da
escola e elaborada a partir de uma história criada por um dos integrantes do projeto. Regina Zilberman
(1991) explica que é delegada à escola a função de despertar na criança o gosto pela leitura e isso tem se
tornado cada vez mais complexo visto que muitos professores utilizam textos literários como o mero
pretexto para o ensino e trabalho com língua portuguesa, esquecendo-se das riquezas que o mesmo
carrega. A temática escolhida, além de justificar-se pelo interesse dos alunos, justifica-se ainda pelas
afirmações de Rosana Rios (2013), que explica que o leitor que lê ou ouve os contos clássicos, com seus
detalhes tenebrosos e obscuros, possui melhor estrutura para enfrentar as carências e violências do
mundo em que vivemos. A partir da atividade proposta, nota-se que, se houver incentivo, as crianças
podem se interessar cada vez mais pela leitura, tornando-se leitores críticos, além de desenvolverem a
sua expressão oral e escrita. Para isso, basta que sejam oferecidas oportunidades em que os alunos
possam se desenvolver como leitores e escritores, através de atividades que despertem o interesse das
crianças e as façam perceber o quanto a leitura pode ser fantástica e divertida.
Este trabalho discorre sobre os desafios e perspectivas do Ensino de Literatura, apresentando uma
proposta de aula para turmas de Ensino Médio, a partir da análise do conto “Balada de Avigdor”, de
Cíntia Moscovich. Buscando desconstruir aspectos canônicos ora engessados, ao trazer uma narrativa de
escrita feminina e contemporânea, o trabalho também adentra as discussões de gênero
(masculino/feminino) e suas possíveis relações dentro da sociedade, ao ter como foco de análise a
construção das personagens Avigdor e Débora. Busca-se, portanto, atender a um ensino de literatura
baseado na formação de leitores críticos e reflexivos e na ampliação constante de seus horizontes, a
partir de uma prática de leitura de emancipação, sendo a literatura o cerne dessa transformação. O aporte
teórico baseia-se em autores como Candido (2004; 2008), Barthes (1987), Pound (2006), Todorov
(2010) e na proposta de Letramento Literário de Cosson (2006), além da observância das Orientações
Curriculares para o Ensino Médio – OCEM. Temos, então, um caminho onde seja possível problematizar
e redimensionar o papel da arte literária, em sua estética e seu conteúdo, atuando na construção do
indivíduo e reverberando na transformação dos sentidos sociais e individuais, buscando as relações entre
o “eu” e o outro.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
Desde há muito tempo, a leitura da obra literária é vista como algo enfadonho e sua realização acontece,
normalmente, em função de provas e resumos. Transformar este cenário e dar à literatura a sua devida
importância na formação do indivíduo não é tarefa das mais simples. No cenário escolar, é comum
encontrarmos o ensino de literatura desvinculado de teorias e sem uma metodologia adequada. Tais
práticas tendem a produzir leitores e mediadores frustrados, pois os resultados normalmente não atendem
às expectativas iniciais. Apegados a resumos de livros e à leitura de fragmentos literários, ambos se
veem envolvidos numa situação de trabalho árduo, porém sem eficácia. Frente a este cenário, este
trabalho pretende apresentar o relato de duas experiências de sucesso, no que se refere ao ensino de
literatura no Ensino Médio, cujo processo de intervenção ocorreu no Colégio Estadual Monteiro Lobato,
no município de Cornélio Procópio-PR. Tais experiências estiveram vinculadas ao PIBID, que propõe a
parceria entre Universidade e a Escola, e se pautaram na teoria do Letramento Literário, de Rildo Cosson
(2006), na elaboração de sequências expandidas de leitura. São os resultados e desafios do processo de
escolarização da literatura o que se propõe a discutir.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
O presente trabalho tem por objetivo apresentar o Projeto Rede de Letras da Secretaria de Estado de
Educação e Qualidade do Ensino do Estado do Amazonas SEDUC-AM e suas atividades. Desde sua
criação, em 2013, cerca de 800 mil livros foram distribuídos em todo o Estado para as escolas do 1º ao 9º
Ano do Ensino Fundamental, divididos em 59 títulos, cujos conteúdos estão em consonância com a
Matriz Curricular de Língua Portuguesa. Inicialmente, percebeu-se a dificuldade dos professores em
trabalhar as obras com os alunos, a partir desta constatação, a SEDUC-AM promoveu oficinas de leitura,
formação continuada envolvendo estratégias de leitura, além de propiciar a participação dos professores
que desenvolvem o projeto Rede de Letras, no I Encontro Amazonense de Professores de Línguas e
Literaturas - ENPROLL. O Rede de Letras tem obtido bons efeitos no processo de incentivo à leitura e
escrita, por proporcionar formação continuada aos professores, atingindo resultados significativos. Além
de oportunizar o contato dos estudantes com obras literárias de cunho infanto-juvenil e clássicas da
literatura brasileira, busca despertar o prazer da leitura e, posteriormente, o da escrita. Os resultados, a
priori, são positivos, pois o acesso do aluno às obras literárias, desde os anos iniciais, favorece o
desenvolvimento das habilidades leitoras. Outro ponto positivo observado foi o das Avaliações em Larga
Escala, que apresentou um avanço positivo de 16% na média em Língua Portuguesa. Assim, podemos
entender a importância das obras que o projeto detém, cuja diversidade temática aproxima inúmeras
áreas do conhecimento, que vão desde a preservação do meio ambiente, da ciência, da história.
Um dos desafios que se colocam para pesquisas sobre processos de letramento literário é o de construir
referenciais para acompanhar o seu desenvolvimento ao longo de um período de trabalho. Em atividades
de mediação de leitura realizadas por professores em formação inicial, os registros de campo e as
discussões após os encontros fornecem apoio para que o planejamento siga atento às pistas que respostas
de grupo ou individuais oferecem, apontando para “acontecimentos” de leitura que, além de sugerir
encaminhamentos didático-pedagógicos para a continuidade do trabalho, permitem aprender sobre a
leitura literária e seus efeitos. Assim sendo, na formação de professores é preciso dar destaque a essa
elaboração oral ou escrita, como espaço em que o mediador exercita, combinando recursos de leitor e
especialista, a escuta da leitura e do leitor iniciante. Nesse contexto, ao professor formador cabe não
somente indicar leituras teóricas como de fato promover, nas discussões e comentários aos registros de
observação, uma imbricação mais profunda entre a sensibilidade do mediador e sua capacidade analítica,
amparada conceitualmente, procurando auxiliar na constituição de uma identidade profissional que não
seja nem técnica nem totalmente intuitiva. A comunicação trará, com base na análise de conversas e de
relatos de oficinas ministradas em estágios supervisionados e em um projeto de Pibid, reflexões sobre o
que os alunos de licenciatura consideram como resposta positiva e indício de aprendizagem da parte dos
alunos que acompanham, buscando capturar seu próprio amadurecimento como agentes do letramento
literário.
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MEDIAÇÃO DE LITERATURA NA ESCOLA: TEORIAS E PRÁTICAS
SIGNIFICATIVAS
Múltiplas variáveis concorrem nas concepções de leitor e de leitura. A mais comum nos discursos acerca
da importância da formação de leitores na escola diz respeito às capacidades de interpretação, que
abrangem desde a simples decodificação e paráfrase dos textos até a análise e a crítica do que é lido. A
especificidade do texto literário demandaria, segundo essa perspectiva mais ou menos generalizada,
especial atenção à competência de análise dos diversos níveis do texto devido à ênfase no eixo
linguístico-formal em obras valorizadas pelo cânone moderno. Outra importante capacidade de leitura
fica, porém, recalcada em tais visadas da leitura literária: a “utilização” dos textos, a qual se refere,
segundo Rouxel (2013), à “esfera privada” e à “pesquisa de uma significação para si”. Neste trabalho,
buscamos compreender de que forma a consideração da leitura subjetiva pode favorecer a formação de
leitores pelas escolas. Para tanto, analisaremos um círculo de leitura realizado no Colégio Pedro II, da
rede federal de ensino. Composto por mulheres, o círculo privilegiou a leitura de autoras,
problematizando o cânone nacional, em que as vozes femininas são muitas vezes silenciadas. Além
disso, favoreceu os debates acerca das identificações e das projeções das jovens leitoras, cujas respostas
pessoais aos textos foram sempre levadas em consideração. O resultado parece demonstrar que a leitura
pessoal é indispensável não só para o desenvolvimento do prazer e do hábito de ler, como pode favorecer
interpretações aprofundadas das obras literárias.
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
Simpósio 47: Mídias, tecnologias e novas linguagens: questões contemporâneas do campo literário
O diálogo da poesia com outras artes não é novo, no entanto, para a produção deste trabalho não será
realizado um mapeamento das diversas facetas da poesia realizadas ao longo de sua história e que vão
para além da página branca do livro. Para tanto, o corpus de análise desta pesquisa é o enfoque de um
modelo de poesia que tem como base o vídeo, trata-se da videopoesia. O trabalho tem como objetivo
analisar o vídeo Nome (2005) de autoria de Arnaldo Antunes. O exame se dá por meio de uma
perspectiva intersemiótica e interdisciplinar. Dessa forma, levanta-se o seguinte questionamento: como
se dão as relações entre poesia, imagem, palavra e música? A hipótese que se levanta é a de que Nome
aponta para uma perspectiva em que a poesia dialoga de forma fecunda com as diversas ferramentas
eletrônicas/digitais postas à disposição do poeta/videopoeta. O que pretende-se é observar a obra de
Arnaldo Antunes e buscar compreender a superfície textual- e para além dela- de extrema relevância na
obra deste autor, pois embora Antunes “abuse” da palavra em seus videopoemas, inclusive sob a forma
da escrita, a questão da palavra em sua poesia não é tanto de ausência, mas de intersemiose. Deste modo,
a palavra, escrita ou oralizada, incluída em um contexto específico, os videopoemas, que são inter por
natureza, faz com que haja uma quebra no hábito do letramento como monosemiose, a palavra em um
contexto que apaga todas as outras relações, como a página branca do livro. A partir de Nome o que se
propõe é uma discussão mais específica no que tange a literatura e sua relação tensa e, ao mesmo tempo,
criativa entre escrita/voz, imagem/som.
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
Na popular série de quadrinhos Sandman (1990), o autor inglês Neil Gaiman cria uma obra de fantasia
singular que apresenta personagens e contextos originais ao mesmo tempo em que os entrelaça com
personagens e contextos previamente existentes. O resultado é um trabalho intrincado em que a
intertextualidade se torna inerente à própria existência da obra. O presente artigo tem como objetivo
analisar de que maneira todos esses personagens e contextos se enovelam para criar um universo
particular que é ao mesmo tempo inédito e familiar. Pretende-se ainda identificar os diferentes tipos de
intertextualidade utilizados pelo autor na composição deste universo textual e quais são as principais
obras e objetos com as quais o texto de Gaiman dialoga para a construção do texto final. A análise se dá
sob a luz da teoria sobre histórias em quadrinhos de Will Eisner (2010) e Scott McCloud (1995), entre
outros. Faz-se uso ainda dos estudos sobre intertextualidade de Ingedore V. Koch (2005) e dialogismo de
Mikhail Bakhtin (2005).
Duas recentes publicações de Ricardo Lísias pela editora Alfaguara, os romances "O céu dos suicidas" e
"Divórcio", respectivamente de 2012 e 2013, põem em xeque os limites da ficção por meio da
duplicação do autor em narrador. Embora possam ser rotuladas como obras autobiográficas, os romances
vão além desse conceito pertencente ao espaço biográfico e encontram uma possível rasura do real, em
que a assinatura literária somente não sustenta mais o projeto estético proposto pelo autor. No limite
tenso entre realidade e ficção, Lísias, em seu projeto ético-literário, retoma uma discussão que nasce com
o surgimento do gênero romanesco, levando-a à prova diante das ferramentas midiáticas de que se
dispõe. Partindo desse engodo, o presente artigo tem como objetivo investigar os limites entre a ficção, a
autoficção e a autobiografia, buscando, ainda que em um entrelugar, um espaço literário para a literatura
de Ricardo Lísias. A respeito disso, partimos do pressuposto de que o autor, a partir dos dois últimos
romances, vai de encontro a um novo projeto ético e literário, em que a literatura funciona como espaço
ético por ser literatura. A voz narrativa assumida em sua proposta leva-nos, seus leitores por intermédio
de diversos meios - Facebook, Twitter, Revista Piauí, Congressos por todo o Brasil -, à insegurança: em
quem confiar a narrativa, afinal? Para melhor embasar e responder - ou não - tal questionamento,
usaremos como base teórica Leonor Arfuch, Beatriz Resende, Ronaldes de Melo e Souza e Jacques
Rancière.
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
Esse trabalho se propõe a analisar a narrativa dos cinco episódios do jogo eletrônico The Walking Dead,
desenvolvido pelo estúdio Telltale Games, em 2012, tendo em vista os debates acerca da interatividade
propostos pelo filósofo Slavoj Žižek (2010) e pelo teórico Flávio Kothe (2007), o conceito de indivíduo
problemático de Georg Lukács (2000) e a metáfora acerca da figura do zumbi, também proposto por
Žižek (2015). Por mais que jogos eletrônicos se caracterizem por ser um tipo de produção cultural
bastante distinto da literária, essa análise utilizará como repertório teórico os operadores de leitura da
narrativa, de Arnaldo Franco Junior (2009). Dessa maneira, aproximando e comparando a narrativa
literária da narrativa encontrada no jogo The Walking Dead (TELLTALE GAMES, 2012), será possível
tecer comentários a respeito de como as cinco categorias da narrativa (foco narrativo, personagem,
tempo, espaço, e enredo) são afetadas ao estarem presentes (ou ausentes) em uma obra potencialmente
mais interativa do que a literatura. Além disso, verificar-se-á como justamente essa interação – ou a falta
dela – contribui para o impacto estético da obra.
Este artigo visa uma análise em torno da produção, circulação e recepção dos livros God Of War I
(2012) e God Of War II (2013). Com isso, elabora-se uma proposta a partir de três princípios: primeiro,
verificar o processo “inverso” de produção da narrativa considerando a adaptação do game para o livro.
Segundo, observar possíveis alterações na estrutura da linguagem durante o processo de adaptação. E,
terceiro, analisar até que ponto a questão mercadológica pode influenciar na literariedade da produção de
God of War I e II. Ressaltando, ainda, que o game é considerado multimodal devido aos recursos
atribuídos por seus produtores. Que, por sua vez, apresentam dúvidas quanto à classificação de seus
trabalhos: o produtor pode ser considerado autor? Por outro lado, tem-se a recepção estética de God of
War: quem é o público leitor? Jogadores do game God of War? Como embasamento teórica, recorremos
a Jenkins (2003; 2009), Lévy (1996;1998;1999), Gee (2007), Murray (2003), com estudos sobre mídias,
novas linguagens, mercado editorial e narrativas no ciberespaço; (Canclini, 2008), (Chartier, 1998), com
estudos sobre conceitos de escrita e leitura e Kress e VanLeeuwen (1996, 2001, 2006), com estudos
sobre Gramática Visual. Além de outros estudiosos que possam contribuir para os estudos sobre
produção, circulação e recepção do texto literário.
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
Considerado um dos gêneros mais expressivos e populares da literatura nacional, a crônica brasileira é
um exemplo de modelo textual que tem suas principais características marcadas na relação com a
plataforma na qual está inserida, como podemos perceber na teoria vigente do gênero que aponta para o
jornal todas as bases de compreensão da crônica, desde seu tamanho textual até a linguagem mais leve e
preocupada em dialogar com o leitor. Se tais bases fundamentais do gênero faziam sentido nas teorias
levantadas até o momento, com o enfraquecimento da plataforma do jornal (com quedas vertiginosas em
sua importância mercadológica) e o imponente espaço que o meio digital abre para os cronistas, uma
grande alteração se apresenta no gênero, principalmente na leitura sobre o espaço. Como se sabe, a
crônica brasileira é reconhecida por trazer a tona o recorte do espaço local do autor visto de forma
subjetiva de maneira que podemos enxergar facilmente o Rio de Janeiro nas crônicas de João do Rio e
Nelson Rodrigues ou São Paulo nas obras de Antônio de Alcântara Machado. No entanto, ao tentarmos
reposicionar esta leitura do espaço local na crônica de autores contemporâneos como Gregório Duvivier,
Xico Sá, Antônio Prata e muitos outros, esta leitura do espaço se dilui e não conseguimos mais
compreender a cidade na qual estes se situam, afinal, a leitura deles corresponde ao “espaço local”
globalizado ao qual se dirigem: as mídias digitais. O que se propõem neste trabalho, portanto, é um novo
olhar para a crônica contemporânea, entendendo de que maneira suas transformações de plataforma
alteram sua maneira de ser consumida e entendida pelo nosso tempo presente
Com o advento dos meios tecnológicos surgem também novos suportes para a leitura e a escrita, e
consequentemente a necessidade de um letramento digital. Assim, com a proliferação das redes de
telecomunicações, principalmente a internet, foi possível conectar todas as partes do mundo. Diante
disso, evidencia-se o aparecimento do ciberespaço, em que se questiona qual é o tipo de leitor do século
XXI, e quais são as habilidades necessárias no contato com as mídias digitais, bem como, qual é o
conhecimento que está sendo produzido virtualmente. Desta forma, este trabalho, a partir de uma
pesquisa bibliográfica, visa discutir as relações culturais em meio aos avanços tecnológicos, bem como,
as habilidades cognitivas do leitor imerso nas mídias, e a sua relação com a produção cultural encontrada
no ciberespaço. Além disso, buscar-se-á compreender como ocorre a criação e recepção do discurso
literário no âmbito midiático, em que se destaca o processo de formação do leitor de literatura, na sua
criação e construção de sentidos no uso das tecnologias digitais de informação e comunicação.
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
Considerando as novas dinâmicas na construção de um texto literário e as relações que este estabelece
com outras formas de expressão esta pesquisa tem como temática central a água, um elemento recorrente
nas artes e que possui significados distintos relacionados à fonte de vida, mas também às profundezas e à
morte, numa tensão que atrai e merece reflexão pelo importante papel simbólico que assume em
diferentes contextos. Analisar comparativamente o elemento hídrico, a partir de poemas de Quintana e
da tela Água (1945), de Portinari, explorando a simbologia e os sentidos que esse elemento assume nas
obras, é o nosso objetivo. Para tanto, faz-se necessário neste confronto observar a especificidade das
linguagens poética e pictórica com apoio especialmente em Souriau (1983) e Praz (1982). Fundamentam
o estudo da poética, Paz (1982) e Candido (2006) e, os estudos comparados, Nitrini (2010) e Carvalhal
(1986). No tocante aos aspectos simbólicos, a crítica temática de Bachelard (2002) é essencial para a
pesquisa bem como os estudos de Chevalier e Gheerbrant (1999).
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
Refletir e/ou teorizar a respeito da literatura é sempre retomar suas bases interrogativas: O que é? Pra
que serve? Inúmeros estudos acerca das suas definições são retomados e discutidos visando um
aprimoramento da hermenêutica e da historicidade dos estudos literários. A comunicação da obra, o jogo
estético presente entre produção, aparição e recepção, é elemento decisivo para o valor da obra e da sua
relevância histórica. Mais ainda, o próprio conceito de arte passa a ser determinado pela recepção. O
horizonte de expectativa no processo de recepção da arte sequencial sofreu inúmeras alterações ao longo
da história das narrativas gráficas. Sua constante conquista no comércio livreiro, no espaço da crítica e
como fonte de adaptação - cinematográfica e teatral - nos possibilitam inserir o gênero da arte sequencial
no cerne das perguntas universais a respeito da literatura. Para Stierl “a história da recepção é ainda a
história do horizonte em que cada ficção encontra o seu lugar. Cada geração histórica tem seu horizonte
de ficções, que se define a partir da diferença entre as ficções que o assinalam” (STIERLE, 2011, P.180).
Desta forma podemos receber a arte sequencial, sobretudo as graphic novels, sob um novo panorama de
recepção, em que a circulação das obras produzidas dentro do gênero atrai uma massa cada vez maior de
leitores e ampliam a visão e a construção teórica sobre o próprio fazer ficcional, em que os esquemas de
linguagem, e narrativos, do gênero possibilitam novas formas de enxergar a realidade e alteram,
juntamente com a literatura verbal, o horizonte de expectativa do público leitor contemporâneo.
O presente trabalho tem por objetivo refletir acerca de uma proposta de tese que objetiva analisar o
ensino de literatura antes da inserção da tecnologia e depois. Tal pesquisa será realizada através de um
levantamento qualificado bibliográfico sobre o ensino de literatura antes da inserção tecnológica e
posterior a ela; assim como pretende-se investigar fontes bibliográficas que discutam a adequação da
tecnologia ao ensino e, por fim, realizar um comparativo dos dados coletados nas pesquisas. Almeja-se,
ainda, investigar o modo como os instrumentos da plataforma Moodle têm sido utilizados em prol de um
ensino de literatura construtivo, sendo exploradas todas as possibilidades de uso de todas as ferramentas
dele presentes: fórum, envio de tarefas em doc de arquivo de qualquer formato, o chat, o glossário, a
wiki, o questionário, entre outras atividades menos utilizadas.A base teórica desta investigação será
composta por estudiosos que abordaram o uso de tecnologias na educação, como Moran (1997), Bonilla
(2011) e Levy (2011, bem como autores que veem a literatura em sua função social, levando em conta o
conceito de Letramento Literário, trazido por Cosson (2006). Por fim, espera-se abrir uma rede de
discussões, permitindo uma visão mais ampla da pesquisa, enquanto um objetivo apenas de reflexão a
ser posto em ação.
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MÍDIAS, TECNOLOGIAS E NOVAS LINGUAGENS: QUESTÕES
CONTEMPORÂNEAS DO CAMPO LITERÁRIO
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Página
A série britânica "Black Mirror", exibida desde 2011 pelo canal Channel 4 e disponível no Brasil e em
outros países pelo serviço de conteúdo sob demanda Netflix, bebe da narrativa fantástica e distópica à
moda de grandes autores literários dos gêneros, como Edgan Allan Poe e Aldous Huxley, abordando
com toques de pesadelo os temas da vida contemporânea ligadas à tecnologia e à mídia. O título "Black
Mirror" (em português, "espelho negro") remete às telas escuras das tecnologias recentes, como
celulares, tablets e televisões LCDs, nos quais seus reflexos mostrariam a face negativa do uso destas
mesmas tecnologias: paranoia, dependência, entorpecimento. O presente trabalho faz uma leitura do
segundo episódio da primeira temporada, chamado "Fifteen Million Merits" sob o Materialismo
Lacaniano de Slavoj Žižek especialmente os seus conceitos sobre o Real e o grande Outro, que
correspondem, respectivamente, às acepções lacanianas de trauma e internalização de regras, sob a
leitura do Materialismo Histórico, se tornam presentes na vida social sob as formas de rupturas coletivas
e da absorção de regras ditadas pelo senso comum em nome de certa hegemonia social. Como o futuro
distópico envolto pelo ciberespaço apresentado em "Fifteen Million Merits", sobre individualidades
transformadas em produtos, pode ser interpretada à luz do Materialismo Lacaniano? O Real pode ser as
telas onipresentes no episódio, a partir do momento em que esta mesma tela esconde e produz o próprio
trauma ao qual o protagonista é submetido. O grande Outro se mostraria na forma do sistema de
produção voltado ao espetáculo, presente neste mesmo episódio.
Qorpo-Santo foi uma personagem gaúcha bastante curiosa. Professor das primeiras letras em Porto
Alegre em meados do século XIX, também tipógrafo (escreveu e imprimiu uma enciclopédia própria, a
Ensiqlopédia qorposantense, na qual encontra-se desde suas obras dramatúrgicas até tratados sobre
literatura e religião, toda escrita com sua peculiar grafia criada para uma possível reforma ortográfica),
teve seus bens interditados pela própria esposa sob a alegação de ser mentalmente incapaz de geri-los
sozinho. Tais peripécias do caractere gaúcho e outras ocorridas em Porto Alegre são relatadas no
romance de Luiz Antonio de Assis Brasil, Cães da Província (1987). Produto das pesquisas de doutorado
de Assis Brasil, o romance apresenta o momento da vida de Qorpo-Santo no qual seus bens foram
interditados pela justiça gaúcha e passou por uma avaliação psicológica com o propósito de verificar
suas faculdades mentais para comprovar, ou não, sua incapacidade de lidar com o próprio patrimônio.
Nas obras dramáticas de Qorpo-Santo, por sua vez, é possível identificar alguns elementos que aludem a
sua biografia, como nas peças Hoje sou um; e amanhã outro, A separação de dois esposos e As relações
naturais. Considerando as características tanto do romance de Luiz Antonio de Assis Brasil quanto da
obra de Qorpo-Santo, o presente trabalho consiste na proposição de um estudo comparado da obra Cães
da Província e das peças supracitadas de Qorpo-Santo, além de alguns aforismas presentes em sua
Ensiqlopédia qorposantense, a fim de compreender como a personagem do dramaturgo gaúcho é
construída a partir da relação entre estas obras.
Walter Benjamin em “Sobre o conceito da História” (1940) afirma que a tradição dos oprimidos nos
ensina é que estado de exceção que vivemos é a regra. O século de Benjamin, assim como de Kafka, foi
marcado por estados de exceção. Genocídios, catástrofes, ditaduras fizeram parte do século XX e tornou-
se necessário que as diversas áreas do conhecimento procurassem formas de representação e reflexão
frente ao que era anteriormente impensável. As artes, bem como a literatura - em especial de testemunho
- precisou lidar, frente a eventos traumáticos, como um paradoxo: a necessidade da representação do
trauma, bem como a sua impossibilidade. Esta comunicação pretende ler intertexualmente K. - relato de
uma busca (2011), de Bernardo Kucinski, e O Processo (1925), de Kafka como duas formas de diálogo
sobre o confronto com a lei e com a exceção. A chave da leitura comparada é da noção cunhada por
Campos (2012) de que muitos romances pós-catástrofes seriam “herança de Kafka”, isto é, narrativas
que apresentam o legado de uma permanência da crise presente em Kafka, como a marca do
esgotamento da experiência pela escrita e a demanda de um sentido de interpretação. Tais obras revelam
o universo das leis e das normas sob o signo da ambiguidade e do irreparável. A reinscrição da herança
de Kafka funciona no sentido de pensar, a partir de outra literatura, uma consciência modificada pela
violência da história e sua relação direta com o Direito. Pretendemos mostrar a obra de Kucinski não
como reescrita de O Processo, mas como uma interpretação que permite pensar o momento histórico da
ditadura civil-militar brasileira também como uma alegoria dos labirintos da lei.
Palavras-chave: Estado de exceção, Literatura comparada, Ditadura civil-militar
O teórico cultural jamaicano, Stuart Hall, postula três concepções de identidade e no presente trabalho,
interessa-nos mais a do sujeito pós-moderno: um indivíduo que possui identidade móvel, não unificada e
construída historicamente. Hall (2005, p. 13) afirma que os sistemas de significação e representação
cultural se multiplicam e causam confrontos identitários, uma vez que são múltiplas, desconcertantes e
cambiantes as identidades possíveis, ainda que temporariamente. O processo de identificação é que
define a identidade móvel do sujeito e é uma construção, um processo que nunca se completa (Hall,
2005, p. 106), ou seja, o “reconhecer-se” com determinada identidade é crucial para a formação do
sujeito e está sempre inconcluso, em percurso de mudança. No caso de Evangelina (pode-me chamar de
Vanja!), protagonista de Azul-Corvo (2010), essa identidade é cindida em múltiplas possibilidades. Orfã
de mãe, sem nunca ter conhecido o pai biológico, vai morar com o ex-padrasto na ânsia de encontrar
uma possível identidade. Ao desterritorializar-se, os afetos e a identificação passam a ter vivência e
sentidos diversos. Assim, da relação com o Outro, do exterior constitutivo, Vanja constrói, destrói,
reorganiza, assimila, delimita e extravasa identidades possíveis. O presente trabalho, pretende passear no
bosque da obra Azul-corvo, de Adriana Lisboa.
Todo ser humano sabe que a morte é a única certeza e, ao mesmo tempo, o maior mistério da
humanidade. Lidar com tal fenômeno de forma natural ainda é um tabu na sociedade Ocidental, pois o
ser humano foi, ao longo dos séculos, direcionado a temer a morte. Levando em consideração a
relevância do tema na Literatura e, é claro, para a vida, pretende-se, neste trabalho, analisar como
Machado de Assis, Juan Rulfo e José Saramago apresentam personagens mortas nas obras Memórias
póstumas de Brás Cubas (1881), Pedro Páramo (1955) e em O ano da morte de Ricardo Reis (1984),
respectivamente. As três obras apresentam em comum personagens que estão mortos. Brás Cubas, por
exemplo, narra sua vida depois de morto, Juan Preciado sai em busca de seu pai em uma cidade fantasma
e descobre que ele mesmo está morto e Ricardo Reis passa a conviver com o fantasma de Fernando
Pessoa, seu criador. A partir de um aporte teórico que sustente o pensamento sobre a morte, como o de
Ariès (2003), Rodrigues (1983) e Chiavenato (1998), aliado a autores que discutem a personagem na
Literatura, como faz Candido (2011), será possível mostrar como esses escritores veem a morte e como a
problematizam nas sociedades que constroem nas narrativas.
Com raras exceções as mulheres são historicamente marcadas por seu papel marginal na sociedade e, por
conseguinte, na literatura. A voz sempre foi um privilégio do masculino, responsável pela promulgação
das leis, pelo trabalho com a ciência e tecnologia. Questionar o silenciamento das mulheres bem como a
elipse de seu fazer é algo corrente nas mais variadas esferas atualmente, inclusive na psicanálise e na
filosofia, assim sendo, este trabalho tem por objetivo analisar sob o viés do Materialismo Lacaniano o
papel da mulher no século XVII no teatro shakespeariano considerando a estratégia de travestimento
utilizada por elas para alcançarem status de igualdade e poderem ser ouvidas em uma época dominada
pelo patriarcalismo. Entendendo que os papeis femininos nas peças da época eram desempenhados por
homens, refletimos que William Shakespeare avaliou tal situação para compor as mulheres em suas
obras. Utilizam-se como corpi as comédias Noite de Reis e Como Gostais escritas por volta dos anos
1600-2, nas quais as personagens Viola e Rosalinda se travestem para atingir seus intentos. Os resultados
mostram que o travestimento, ou o véu, constitui a mascarada feminina discutida por Lacan, na qual a
sua natureza em si é mais importante do que aquilo que subjaz ao próprio travestimento.
O romance brasileiro Eles eram muitos cavalos (2001), de Luiz Ruffato, lança um olhar atento para os
mais diversos habitantes de São Paulo: paulistas, forasteiros, opressores, oprimidos, explorados,
abandonados e minorias. Os personagens são como muitos cavalos que, embora existam, e alguns até
possam enxergá-los, ninguém sabe os seus nomes, suas origens e suas vivências. Esta obra literária
expõe o ser humano, suas angústias, suas ansiedades, suas dores, seus prazeres e, sobretudo, a violência
vivenciada cotidianamente, a qual se espalha como se fosse uma metástase cancerígena. Tudo é exposto
na narrativa por meio de uma linguagem inovadora, pois o texto é fragmentado: mistura bilhete, carta,
anúncios de empregos, trechos de textos semelhantes ao texto jornalístico, cardápio, oração impressa em
panfleto, nomes livros presentes previsões de horóscopo e fragmentos de diálogos marcados pela
oralidade. Não por acaso, este trabalho foca nas manifestações de violência presentes neste romance de
Ruffato, escritor chamado de “combatente social” por Sérgio Sant'Anna. As definições de violência a
serem utilizadas são a violência subjetiva e a objetiva, conceitos estes postulados pelo filósofo e
psicanalista esloveno Slavoj Žižek, especialmente em suas obras: Violência: seis reflexões laterais
(2014) e Vivendo no fim dos tempos (2012). Este estudo busca, portanto, verificar como e por quais
motivos tais violências se manifestam dentro da narrativa, bem como suas consequências.
As confluências entre o cinema e a literatura têm despertado cada vez mais a hibridização destas duas
formas de arte que, uma vez unidas, conseguem potencializar suas significações e interpretações. O filme
brasileiro Nome Próprio, de Murilo Salles, produzido em 2007 é um exemplo de que o cinema tem se
aproximado cada vez mais do universo da escrita e vice versa. O longa metragem apresenta a
personagem Camila, blogueira, subversiva e com viés existencialista, a jovem enfrenta diversas
angústias e conflitos psicológicos mesclados com sua necessidade compulsiva por escrita e leitura.
Obstinada por escrever um livro e, por conseguinte, tecer a vida, a protagonista é a representação
daquele que escreve esperando que a sua literatura transforme a própria história. O filme é uma
adaptação inspirada no romance Máquina de Pinball, de Clarah Averbuck, publicado em 2002. No livro,
Camila é um alter ego da própria autora e apresenta características potencializadas na adaptação para o
cinema. Este artigo visa elencar elementos híbridos presentes nas obras, suas intersecções,
distanciamentos e analisar a forma como o texto escrito foi reinventado na construção fílmica. Para
tanto, serão consultadas a bibliografia que sustenta a teoria da condição pós-moderna de Bauman, do
existencialismo de Sartre e as ligações entre cinema e literatura presentes na adaptação.
A história em quadrinhos contemporânea se mostra cada vez mais aberta ao múltiplo e ao indefinido,
tendo grande espaço para experimentações de todo tipo, o que reafirma a posição dos quadrinhos
enquanto linguagem expressiva autoral e deixa para trás algumas definições redutoras que enxergavam
nos quadrinhos apenas uma forma de comunicação de massa e divertimento ingênuo. Essas
experimentações acabam por nos levar aos limites dessa linguagem sincrética explorando a narrativa, a
figuração, os gêneros e os personagens, enfim, tudo o que muitas vezes se mostrou como constante nos
quadrinhos. Tais novos caminhos explorados mostram a possibilidade de desenvolvimento desses
aspectos ou mesmo da possibilidade de eliminação de alguns deles. Dessa forma propomos a análise de
histórias em quadrinhos que contemplem uma construção experimental e uma narrativa inovadora nas
quais encontramos uma forte ligação entre a forma narrativa e o seu conteúdo narrado. Questões
intimistas, existenciais ou mesmo questionamento da nossa submissão aos paradigmas científicos e
filosóficos podem ser encontrados em formatos dos mais diversos – do quadrinho de inspiração punk até
o quadrinho abstrato – normalmente relegados ao underground, ficando restritos a um público específico
e muitas vezes não recebendo um reconhecimento adequado ao seu conteúdo crítico e potencial
expressivo.
Este trabalho aborda a relação estabelecida nos filmes que compõe a tetralogia do poder, de Aleksandr
Sokurov, entre os poderes políticos e o cinema clássico - em particular o cinema industrial norte-
americano. Em um primeiro momento, nos ateremos às relações imagéticas que apontam para a relação
entre o poder e a representação, a partir da tensão que se cria entre os "Dois Corpos do Rei". Depois,
procuraremos esclarecer as referências que Sokurov faz ao cinema clássico quando cita certos artistas e
certas tópicas desse cinema, procurando, ao mesmo tempo, entender como essas citações dialogam com
o tema principal da tetralogia: o poder. Por último, investigaremos o diálogo efetivo de Sokurov com o
cinema clássico a partir da análise do uso estrutural, ou seja, significativo, da técnica de decupagem que
explora o extracampo da imagem, ou seja, que trata como central aquilo que as imagens não mostram,
mas indicam, revelando em si mesmas a pressão que o exterior exerce sobre elas, apontando assim para
as principais técnicas de foco ideológico do Cinema Clássico, como a "técnica do holofote", tal qual
descrita por Eric Auerbach.
O objetivo deste estudo é analisar a presença do Fantástico na obra fílmica de Lucrécia Martel - La
Mujer Sin Cabeza. Ao assistir ao filme nos vemos envoltos em uma sequência de cenas que parecem
mais a mente da protagonista que a realidade que a cerca. Há destaque para alguns detalhes, como o
insistente close-up na marca de mãos de crianças no vidro do carro após o suposto atropelamento que a
personagem principal causa levando-nos a concluir que era uma pessoa o “objeto atropelado”, dando
uma ideia de “fantasma”. Os escritores/roteiristas/cineastas que se dedicam ao que não pertence ao real,
utilizam o vestígio, o indicio, a sugestão para criar essa sensação de algo impossível, mas aceitável,
característica própria das narrativas fantásticas. Para que essas análises se tornem aceitáveis faremos uso
dos conceitos teóricos de realismo fantástico, das concepções da intersemiótica e da tradução semiótica.
O objetivo desta pesquisa é confrontar os elementos fílmicos com as especificações das teorias acima
citadas para assim fundamentar e discutir a existência do fantástico no filme La Mujer Sin Cabeza.
A obra Em liberdade, de Silviano Santiago, apresenta-se como o diário de Graciliano Ramos. Ao mesmo
tempo, o subtítulo da obra aponta que tratar-se de uma “Ficção de Silviano Santiago”. Diante dessa
situação, nos deparamos com um texto que oscila entre a estética de um diário e de um romance, o que
demonstra a justificativa para a análise desse texto, haja vista que encontramos uma oportunidade para
refletir sobre a autotransformação e autorrenovação do gênero, conforme um dos interesses deste
simpósio. Assim, nosso objetivo neste trabalho é demonstrar como o texto se configura em um diário,
aproximando-se desse modelo de escrita, mesmo que saibamos que se trata de um pastiche da escrita de
Graciliano Ramos. Ao mesmo tempo, analisaremos como o gênero romanesco trabalhou com essa
especificidade. Para isso, utilizaremos as ideias de Phillipe Lejeune em O pacto autobiográfico: de
Rosseau à Internet, cuja primeira edição data de 2008, para nos referirmos ao diário e teóricos como
Marilene Weinhardt no trabalho com o romance.
O livro das passagens, o mais duradouro e ousado dos projetos intelectuais de Walter Benjamin,
permaneceu inacabado com a morte de seu autor. O mais interessante de se pensar acerca deste projeto
monumental é o fato de que ele foi inspirado pela leitura de Le Paysan de Paris, de Louis Aragon,
conforme Benjamin revela a Adorno em sua correspondência. Ora, a proximidade entre a proposta da
imagem dialética do pensador (a ser explorada no livro das passagens) e as qualidades que ele próprio
enxergava no Surrealismo e ressaltou no ensaio de 1929, dedicado ao movimento, é inegável. A imagem
dialética seria a composição de uma imagem (ou sobreposição de imagens) capaz de revelar o hiato entre
o signo e o referente. Entendendo os objetos urbanos como linguagem, caberia ao filósofo não fundir
signo e referente em uma totalidade ilusória (como na imagem contemplativa), mas colocar essa
totalidade em questão. Assim, se alcançaria a apreensão crítica dos objetos. A transitoriedade da verdade
se expressaria nessas imagens dialéticas, compostas dos extremos contraditórios. A proposta de trabalho,
então, é de pensar em que medida esses extremos contraditórios que formam a imagem dialética estão
presentes no romance de Aragon, O Camponês de Paris.
Distrito 9 chegou as telas de cinema do mundo todo em 2009, inspirado no curta-metragem Alive in
Joburg (2005) marcou a estreia do sul-africano Neill Blomkamp como diretor de longas-metragens.
Edward Said (2011:34) disse que “a invocação do passado constitui uma das estratégias mais comuns
nas interpretações do presente” e é nisso que aposta Distrito 9, em um repensar os acontecimentos
sociais de uma parcela menos favorecida da população. Adotando o formato de mockumentary retrata a
história de uma raça alienígena que se encontra presa na Terra e embora seja absorvida pela sociedade
enfrenta intensas manifestações de xenofobia. Dizer que o filme traz uma alegoria sobre o apartheid seria
um eufemismo, o fato fica evidente já na escolha em ambientar a história no país de Mandela. Contudo,
referências ao Holocausto, aos processos migratórios ou mesmo a política terrorista da era Bush podem
ser observadas quando prestamos atenção as minúcias da obra. Assim, o filme pode ser compreendido
como uma espécie de manifesto contra as condições sub humanas que ainda vivem boa parte da
população. Através de uma linguagem dinâmica e perturbadora Distrito 9 reflete sobre como a
humanidade lida com o que classificamos como “outro”.
A pesquisa ora apresentada faz um recorte da tese de doutorado intitulada “Medeia sob o viés žižekiano:
a atualidade do mito”, e sugere uma reflexão sobre contextos muito distantes no tempo e no espaço, mas
que possuem pontos em comum no que diz respeito à eterna demanda humana por preencher os vazios
interiores e por transpor o histórico de submissão. A tragédia Medeia, de Eurípides, continua atual na
época hodierna, sendo um terreno profícuo para um grande número de análises, entre elas, a que destaca
um prisma psicanalítico, o qual vai revelar uma personagem que resiste à ordem Simbólica instaurada,
buscando forças na situação de opressão que vive, para ir ao encontro de sua alteridade. A protagonista
euripidiana comete o crime hediondo do infanticídio, que vai muito além de um ato de genuína
crueldade: configura a passagem da posição de não-existência para a ressignificação da ordem
Simbólica. A partir da base teórica coletada na densa obra de Slavoj Žižek, o qual reinterpreta o
Materialismo Lacaniano, é possível compreender a “falta” que consta no gênero humano, fato que
aproxima a personagem trágica dos sujeitos “barrados” do universo contemporâneo.
Em seu livro de crítica, Literatura Brasileira Hoje, Manuel da Costa Pinto diz que em meados dos anos
1990, a publicação de um determinado livro teria “deflagrado um processo de renovação da prosa
urbana”. A informação, por mais grandiosa que pareça ser, incide sobre uma obra de valor verificável:
Subúrbio, do paulistano Fernando Bonassi. O fio que conduz a narrativa é cotidiano de um casal de
idosos, que vive na região periférica de, pode-se inferir, São Paulo. Dividido em dois momentos, o texto,
publicado em 1994, é constituído por chaves mestras que, simbolicamente, representam alguns
problemas que grande parte das sociedades contemporâneas enfrentam. A violência, um deles, é
representada de várias formas durante toda a narrativa e se apresenta em diversos momentos – da palavra
que não se troca à mulher que apanha. Seja no plano simbólico, psicológico ou físico, a violência está
distribuída pela obra e é prima irmã de outra característica patente na obra: o silenciamento, que
potencializa ou ameniza os dilemas, mas que é tão representativo da incomunicabilidade contemporânea
quanto os outros episódios agressivos de Subúrbio. Este trabalho pretende, assim, analisar os aspectos
formais e conteudísticos da referida obra, pautados nesses dois principais eixos, na tentativa de visualizar
como este catálogo de hostilidades pode representar uma crítica – desesperançosa – da
contemporaneidade.
Nós, os do Makulusu, romance do autor angolano Luandino Vieira, compõe-se a partir da narrativa em
fluxo de consciência do narrador, Mais-Velho, que dirige-se ao enterro do irmão, Maninho. A memória
ajuda a narrativa a “percorrer” as ruas de Luanda, recuperando diferentes episódios, sentimentos e
ideologias que tensionam a vida de quatro amigos os quais cresceram juntos no Makulusu (antigo
musseque luandense), mas se posicionam de modo distinto no processo de luta de libertação do
colonialismo português. A narrativa carrega uma prerrogativa utópica de que finalmente cessariam as
opressões colonialistas e que haveria ao colonizado, enfim, acesso ao governo de si mesmo. Contudo,
também delineia nós intrincados que unem colono e colonizador. É no torvelinho das lembranças do
passado, memórias de infância, conflitos do presente e expectativas do futuro que o narrador permitirá
ver as fissuras e contradições que o perturbam e põem em questão as posições na luta. Estas não se
estabelecem a partir de certezas, mas a partir de tensões contraditórias, em uma narrativa que não alisa a
história a fim de encadear os fatos, mas revela as asperezas, falhas e imperfeições no percurso tortuoso
do contar, rememorar e questionar. Por denunciar a tensão de interesses bastante diversos dentro do seio
da luta pela descolonização, Luandino Vieira já aponta para o refluir de forças que efetivamente vão se
configurar no pós-luta e que podem ser responsáveis pela frustração que marca um compasso e um
percurso que chega até a atualidade de uma Angola cheia de desigualdades, contradições e tensões que já
se desenhavam no contexto da guerra.
Katherine Mansfield (1888-1923) foi uma importante escritora neozelandesa cujo principal interesse
centralizou-se na produção de contos e poemas. Este trabalho tem o objetivo de analisar um dos contos
que fazem parte de sua obra, The Doll’s House, publicado pela primeira vez em 1922, em um jornal, e
posteriormente publicado no livro The Dove's Nest and Other Stories. Sua história, toda construída em
torno de crianças e peculiaridades de seus relacionamentos, acaba se configurando como uma metonímia
crítica da sociedade da época e da sociedade contemporânea como um todo, especialmente no que se
refere à questão das discriminações em torno do conceito de classes sociais produzidos pela sociedade
capitalista. Para analisar tal conto, trabalhamos primeiramente sua estrutura, encontrando alguns índices
importantes e, posteriormente, analisamos o conto de uma forma mais ampla, observando dialeticamente
forma e conteúdo do texto escolhido, bem como sua relação com a sociedade e ideologia, uma vez que,
de acordo com Lucáks (1965, p. 24), a ordem capitalista “repercute na literatura independentemente da
subjetividade dos escritores”. Nesse sentido, notamos a existência de uma contradição entre o conteúdo
manifesto e a estrutura da obra, quando se trata do acesso do grupo inferiorizado ao objeto barrado. Na
explicação dessa contradição, remetemos a Žižek (2011) quando afirma que há obras as quais
transmitem em seu conteúdo manifesto uma mensagem multicultural, de respeito, paz e liberdade, etc.,
enquanto sua estrutura mais íntima revela os mesmos preconceitos da estrutura comum da sociedade.
Publicado em 1968, o romance de José Cardoso Pires O Delfim representa um marco fundamental na
literatura de Portugal, haja vista sua dupla proposição narrativa: repensar a literatura portuguesa no
século XX e, mutatis mutandis, a literatura policial contemporânea, já que a obra possui algumas marcas
desse gênero. Nesse sentido, o romance lança mão de recursos estilísticos que permitem filiá-lo à
literatura de expressão pós-moderna, perspectiva que justifica a importância alcançada pela obra no
período em questão. Décadas mais tarde, o cineasta Fernando Lopes, representante do Cinema Novo
Português, decide realizar a adaptação cinematográfica do romance de seu conterrâneo, obra homônima
vinda à lume em 2002. Trata-se de um desafio em termos de transposição semiótica já que o romance de
Cardoso Pires apresenta uma tessitura particularmente complexa e sofisticada do ponto de vista da
construção narrativa, assim como explora com propriedade o viés filosófico da linguagem. Importa nessa
proposta de análise verificar quais são os recursos empregados pelo diretor e sua equipe para estabelecer,
de modo colaborativo, o diálogo recriador com o texto literário.
A obra Cangaceiros é dos meados do século XX, romance literário brasileiro sertanista da qual José Lins
do Rego faz parte como um dos autores clássicos deste período regionalista e retrata o cangaço visto fora
e dentro dele. Objetiva-se, no entanto apresentar fragmentos da obra Cangaceiros de José Lins do Rego
aos episódios narrados sob o prisma da memória. Esta abordagem apresenta como base algumas
reflexões acerca da literatura e da memória a luz dos elementos da narrativa ao considerar o
questionamento como (re) conhecer a memória na obra Cangaceiros? Procura-se estudar as causas que
provocam as lembranças nos personagens, bem como, as mudanças que a memória sofre no fluxo
temporal e o seguimento em que acontece a junção dos elementos do presente, que pelo narrador seriam
responsáveis por gerar o desconforto. Por fim, pretende-se destacar os problemas desse tipo de
recordação e os elementos que admitem uma tentativa bem sucedida. Para os pressupostos a que se
propõe tomar-se-á como referência as teorias de Antonio Candido, Lígia Chiappini Moraes Leite, Henri
Bergson, Michael Pollak e Maurice Halbwachs. Cangaceiros é um romance contínuo de Pedra Bonita; na
última a obra foi publicada em 1938 pela mesma editora sendo que ambas representam o ciclo do
cangaço, do misticismo e da seca. A relação sociedade e linguagem com a literatura estão vinculadas a
memória, afinal a literatura e a memória se conectam, não exclusivamente pelo viés do romance, do
conto, da crônica, (auto) biografia, da poesia, enfim no ato de ler e escrever.
O presente estudo propõe uma investigação sobre a produção inaugural de Chico Buarque no cenário
literário, cujo enredo constrói uma representação do Brasil da década de 1970, quando se vivia uma
intensa censura, consequência da Ditadura Militar. Trata-se de “Fazenda Modelo: novela pecuária”,
produzida em 1974, um texto narrativo que institui uma intensa crítica sociocultural e política sobre o
país, num período conhecido como os anos de chumbo. Nesse contexto, para efetivação deste trabalho,
colocamos em pauta as ideias de autores críticos e teóricos que estudaram a relação da literatura e da
sociedade, além de pesquisadores que auxiliaram na composição da fortuna crítica de Chico Buarque. A
pesquisa justifica-se pelo fato do escritor brasileiro possuir um intenso histórico de engajamento
sociocultural e político, tanto no campo musical quanto na produção literária, seja na representação do
feminino ou na discussão sociocultural e política do Brasil, no período ditatorial. “Fazenda Modelo”,
mesmo sendo a obra que insere o autor no âmbito da ficção literária, não possui uma crítica muito
extensa como lhe é peculiar na música e no teatro; esse aspecto certamente instiga a investigação desta
produção literária. Na esteira desse pensamento, este estudo procurou desvendar a escrita do autor e, ao
mesmo tempo, discutir, pelo viés da literatura, o cenário brasileiro da época, mais especificamente como
essa narrativa disseminou o substrato social e político na urdidura textual.
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O RISO E O HUMOR NAS NARRATIVAS BÍBLICAS DO JUDAÍSMO E
CRISTIANISMO
Georges Minois (2003), em A história do riso e do escárnio, afirma que o verdadeiro cristianismo é
sorridente e que os hebreus conjugaram riso e lágrimas em sua literatura – incluindo os escritos que
compõem a Bíblia – assim como fizeram os povos vizinhos. Em Mimesis, Erich Auerbach (2015)
sustenta que o humor está presente nas narrativas bíblicas embora nem sempre de uma maneira muito
explícita, tendo em vista que os autores bíblicos, tal qual faziam os gregos, estavam propensos a
conjugar ou justapor o cômico com o trágico, sem fazer distinção de gêneros. Fundamentando-se em
Minois e Auerbach, a pesquisa que deu origem a este artigo teve como objetivo analisar a presença do
humor nos evangelhos canônicos com base na obra Com a Graça de Deus, de Fernando Sabino, na qual
o autor concebe a imagem de um cristo muito mais humanizado do que seu arquétipo cristão; um cristo
que está propenso a variações de humor e que, no convívio com seus discípulos, encontra espaço para
exercer a sua jocosidade. Por fim, com a análise do romance sabiniano, busca-se iluminar o humor que
se encontra velado nos evangelhos canônicos e, deste modo, comprovar que, entre suas diferentes
manifestações, havia espaço para o bom-humor na figura de Jesus, sobretudo, quando este se encontrava
em meio aos apóstolos.
Humor e Cristianismo costumam ser vistos como duas coisas totalmente distintas, e que, de forma
alguma, conseguem misturar-se sem que o riso causado pela primeira, seja visto de maneira ofensiva
pela segunda. No entanto, o sul-rio-grandense Anderson da Luz, provou, ao criar o personagem do
Pastor Gaúcho, muito conhecido nas redes sociais, como o facebook, por exemplo, que é possível
reinterpretar as passagens do livro basilar da literatura ocidental, a Bíblia Cristã, sem desrespeitar o
conteúdo nela presente, e a cultura que se desenvolveu a partir dela. O presente trabalho, portanto,
objetiva apresentar e discorrer brevemente sobre as adaptações de algumas passagens bíblicas, tanto do
Novo quanto do Antigo Testamento, realizadas pelo gaudério pastor, que costuma extrair excertos
bíblicos e reescrevê-los a partir do dialeto do gaúcho dos pampas, a fim de, com isso, mostrar que o
humor presente em suas releituras não tem como objetivo desrespeitar ou ofender os cristãos, mas sim de
evangelizar a partir de pregações bem-humoradas e respeitosas, que divertem leitores e fiéis, ao mesmo
tempo em que pregam o evangelho cristão.
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O RISO E O HUMOR NAS NARRATIVAS BÍBLICAS DO JUDAÍSMO E
CRISTIANISMO
O drama cristão retoma o fio teatral na Idade Média. As representações litúrgicas são de início encenadas
no interior da Igreja, participando do Ofício religioso. Paulatinamente, todavia, devido ao riso que
despertam, passam para o pórtico das igrejas e em seguida ganham as praças públicas. É neste contexto
que se insere o dramaturgo português, Gil Vicente, autor de quase cinco dezenas de autos, entre 1502 e
1536, com temas e gêneros variados, dentre eles autos religiosos, a exemplo do Auto da Barca do
Inferno (1517). Contemporâneos de Vicente, os dramaturgos Afonso Álvares, o qual nos legou quatro
autos religiosos de caráter hagiográfico (Auto de Santa Bárbara, Santo Antônio, São Vicente e Santiago),
como também D. Francisco da Costa com quase uma dezena de autos religiosos, apresentam em suas
peças elementos cômicos. Considerando o contexto comum aos três dramaturgos, buscar-se-á neste
trabalho refletir sobre a estrutura do cômico nos autos religiosos Auto de Santiago, Auto de Santo
António e A Conceição de Nossa Senhora observando em particular a personagem do Diabo, que com
sua linguagem acentua o elemento cômico presente nesta literatura dramática religiosa.
O início do título desta comunicação remete ao personagem Jorge de Burgos, de “O nome da rosa”, de
Umberto Eco. Em uma argumentação com o personagem franciscano Guilherme de Baskerville, o
beneditino argumentou que não havia nas Escrituras uma indicação sequer de que Jesus houvesse
sorrido. Textualmente correta, a assertiva foi, até a Contrarreforma, assumida como mandatária no
cristianismo do Ocidente. Isto foi um divisor entre as narrativas bíblicas vétero e neotestamentária, uma
vez que o Judaísmo rabínico – vale dizer talmúdico – se servia de muitos midrashim anedóticos para a
transmissão do conteúdo escriturístico. Isso se refletiu no Ocidente nas edificações religiosas, ora
austeras e sólidas, como as paleocristãs e românicas, ora com altíssimo empuxo vertical, como as
góticas. Todas elas a partir de um Deus-homem que não sorria. No Oriente, onde a influência da filosofia
grega se fez sentir de maneira mais forte, o riso – ou, por outro lado, o não-riso – de Jesus recebeu outras
interpretações, consolidadas nos ícones, assim como na arquitetura bizantina. Desta forma, buscar-se-á
apresentar o Cristianismo bíblico tal como lido, especialmente pelas Patrístiicas latina e grega, e de que
forma estas influenciaram na arte e arquitetura especialmente nos primeiros séculos do Cristianismo,
sendo característica imanente pelos dezessete séculos seguintes, até o apogeu da Contrarreforna. A
inexistência de referências explícitas ao riso de Jesus no Novo Testamento foi interpretada pelos Pais da
Igreja como quase que um interdito ao riso e às manifestações de alegria, logo consagradas nas artes
plásticas, sobretudo na pintura, assim como na arquitetura.
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O RISO E O HUMOR NAS NARRATIVAS BÍBLICAS DO JUDAÍSMO E
CRISTIANISMO
Segundo Dirk Geeraerts (2003), o Livro de Jó apresenta vários aspectos humorísticos: os discursos e
diálogos são eivados de ironias e sarcasmo, os personagens têm características caricaturais, a estrutura
narrativa do texto corresponde à da comédia (no sentido de tudo terminar bem, não no sentido de ser
uma história engraçada com personagens divertidos) e a existência de repetições e inversões cômicas. Ao
revisitar a história de Jó na peça The soap opera, o americano James Morrow corrobora e acentua esses
aspectos humorísticos do texto bíblico. Em seu texto, o autor aborda a questão do sofrimento
injustificado de Jó, o qual exige uma retratação, um pedido de desculpas de Deus. Tal abordagem
questiona a ideia de que Jó suportou, passiva e estoicamente, o sofrimento imposto a ele decorrente da
aposta de Deus com o Adversário. A peça se passa em um lixão, em meio a eletrodomésticos quebrados,
como televisões, geladeiras, secadora de roupas e restos de mobílias. Esses itens desempenham uma
dupla função na peça: criticar o consumismo desenfreado da sociedade americana, onde tudo é
facilmente descartado e substituído e estabelecer o contato com o divino. A secadora, por exemplo, cujo
giro provoca um turbilhão, transforma-se na voz de Deus. Articulando esses elementos de forma satírica
e humorística, Morrow promove uma crítica impiedosa e ao mesmo tempo, divertida, da mídia e modo
de vida americanos e também das interpretações tradicionais do livro de Jó.
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O RISO E O HUMOR NAS NARRATIVAS BÍBLICAS DO JUDAÍSMO E
CRISTIANISMO
Esta comunicação tem como objetivo analisar a postura do biólogo Richard Dawkins (2007) acerca da
moralidade bíblica por meio da obra Deus, um delírio. A obra de Dawkins, que tomamos como fonte
histórica, tem como intenção principal a divulgação de um ateísmo militante, assim o autor procura
desconstruir as balizas pelas as quais a religião se sustenta. Ao tecer reflexões obre o Antigo e Novo
Testamento, Dawkins questiona a ideia de que muitos religiosos reclamam para a religião,
principalmente a cristã, o modelo moral sob o qual a sociedade estaria assentada. Assim, Dawkins
procura se afastar dessa perspectiva, apontando que as crenças em torno do “certo” e do “errado”
correspondem não a uma origem bíblica, mas sim dizem respeito ao que seria o Zeitgeist de uma época.
Entendendo que Dawkins, assim como sua obra, é produto/produtor de um determinado período, é
importante nos determos nas apreensões históricas que permitem que Dawkins indique um “novo”
caminho para a questão da moralidade e além disso represente uma realidade de acordo com suas
próprias referências. Para tal, nos utilizaremos das concepções teóricas de Edgar Morin (2005) e Roger
Chartier (1991).
O fato do Brasil ter um Estado laico traz como premissa a confiabilidade à razão crítica e ao debate do
destino da esfera secular do brasileiro. Isso indica uma atribuição de livre consciência do indivíduo a
adesão, ou não, a uma religião. A laicidade do Estado, foi como herança do iluminismo, a afirmação do
povo em separar a religião do Estado. Porém, não significa sacrificar sua herança histórico-cultural. Ela
teve grande importância social, mas o cristianismo não perdeu a sua hegemonia, ainda hoje a religião
católica é maioria no Brasil, porém vem sendo vista sob um novo paradigma religioso. As igrejas
neopentecostais têm tido uma forte influência no apontamento desse novo paradigma bíblico. Com esse
sentido de mudança de paradigma que, atualmente, o uso das mídias eletrônicas pelas igrejas tem
demonstrado uma transmutação na experiência religiosa, apontando assim para um novo paradigma
religioso. As novas mídias, em especial a internet, mostram-se como um meio interessante de discussão.
É nesse ciberespaço que a mais variada forma de manifestação religiosa vem aparecendo. Dessa forma, o
presente trabalho busca oferecer uma reflexão sobre a construção da paródia na perspectiva de um novo
paradigma desenvolvido pelo humorista Marcio Américo, na personagem Pastor Adélio: o pastor mais
sincero do mundo. Para tal, far-se-á uma breve apresentação sobre a proposta teórica de Thomas Kuhn e
Michel Foucault através da perspectiva do pensador italiano Giorgio Agamben. No que se refere a
compreensão de paródia, propõe-se introduzir uma síntese sobre os pressupostos que norteiam a
construção da paródia, tendo como base a obra Uma teoria da paródia de Linda Hutcheon.
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O RISO E O HUMOR NAS NARRATIVAS BÍBLICAS DO JUDAÍSMO E
CRISTIANISMO
Nesta comunicação objetivo pensar a representação do Diabo na literatura a partir de uma análise
comparativa de dois autores: o primeiro é o alemão Oskar Panizza (1854-1921) com sua peça
anticatólica O Concílio do Amor “Tragédia celestial em cinco atos”, de 1895, na qual apresenta a origem
da sífilis como a vingança de Deus contra a devassidão sexual, representada na obra pelos personagens
da corte papal de Alexandre VI. Na peça, Deus está senil e cansado, Jesus é indolente e decadente e,
finalmente, Maria é obcecada por sexo e consada de ser virgem. Tal peça levou Panizza à prisão. O
segundo é o irlandês C.S. Lewis (1898-1963), católico convertido, com a obra Cartas do Diabo ao seu
sobrinho, de 1942, composta por um conjunto de cartas breves que um velho demônio, Escrutopo,
escreve a um jovem sobrinho, Orugario, para ensinar-lhe o ofício da tentação aos homens,
especificamente conseguir a condenação eterna de um jovem inglês durante a Primeira Guerra Mundial.
Centradas nos costumes, apesar da diferença de estilo e de propósito, essas obras utilizam do humor para
apresentar o Diabo descrevendo os valores cristãos: Panizza criticando a instituição e Lewis defendendo
a religião. Um católico que se torna ateu e um ateu que se converte ao catolicismo.
A comunicação analisa filme "O novíssimo testamento" (2014) de Jaco van Dormael, diretor belga. O
intuito é perceber como as releituras das narrativas bíblicas do Cristianismo realizadas sugerem o riso e o
humor. Deus, alcoólatra e perverso, criou o mundo não por amor, mas por tédio. Narrado em primeira
pessoa, por Ea, filha de Deus e irmã de J.C. (Jesus Cristo), a trama se divide em nove momentos:
“Gênesis”, o início, onde é apresentado a processo de criação do mundo. “Êxodo” que narra como ao
descobrir as maldades do pai, Ea envia aos seres humanos a data de suas respectivas mortes. E, foge para
o mundo dos humanos por uma máquina de lavar roupas. O que haverá no fundo do risível? As reflexões
de Henri Bergson elucidam também as próximas partes do filme, divididas entre os evangelhos segundo
os apóstolos de Ea: Aurélie, Jean-Claude, o obcecado sexual, o assassino, Martine e Willy. O riso no
filme, partindo de Freud, refere-se menos ao cômico propriamente que ao lugar onde devemos buscá-lo,
no humano. "A canção das canções" é a última parte do filme, mas instaura também um novo início e
nesse sentido, talvez corresponda visão de Freud ao nos alertar que os processos defensivos são
correlativos psíquicos de um reflexo de fuga e realizam a tarefa de impedir a geração de desprazer a
partir de fontes internas. Todavia, mais do que isto, riso e o humor no filme criam conexões entre
história e literatura bíblica, pois como sugere Paul Ricouer, possibilitam a autocrítica da memória
coletiva, sendo a memória seletiva, auxiliado nesse aspeto pelas narrativas, implica que os mesmos
acontecimentos não sejam memorizados da mesma forma em diferentes contextos históricos.
Com o presente trabalho tem-se o intuito de propor uma breve reflexão sobre o romance "Lavoura
Arcaica", de Raduan Nassar, e discutir sobre uma de suas temáticas, que é a relação incestuosa entre o
protagonista e narrador André e sua irmã Ana. Em "Lavoura Arcaica", a relação entre os irmãos parece
já estar condenada por atentar contra valores morais e éticos que fazem parte da base da família do
protagonista e também por ir contra princípios de regimento de uma sociedade pautada por normas. O
incesto pode ser considerado um dos cernes do romance, pois é por causa da impossibilidade de relação
com sua irmã que André se revolta contra a autoridade paterna e entra em conflito consigo mesmo e com
sua família, desencadeando acontecimentos transgressores e degradantes. No momento em que aflora a
paixão carnal de André e Ana, um mundo familiar, tradicional, centenário e petrificado desmorona.
Porém, para André, considerado o transgressor e uma espécie de herói trágico, tal fato é o limiar de sua
construção como personagem. Parece que o amor que André sente por Ana é o núcleo, é a semente e o
princípio de seu mundo individual e fator que o motiva a confrontar as imposições de ordem social.
Cumpre destacar que a transgressão por parte dos irmãos Ana e André parece que se faz devido a um
certo anseio de ambos por descobrir a sacralidade da natureza e também é possível falar de certa
nostalgia inconsciente por uma existência paradisíaca e livre de inibições. Neste sentido, a relação
incestuosa de André e Ana pode ser de alguma forma associada a "hybris" desmedida diante de uma
família/sociedade regulada por medidas.
O romance The life and opinions of Tristram Shandy, gentleman (1760-1767), de Laurence Sterne, é
considerado por alguns teóricos, dentre os quais Ian Watt (2010, p. 312), como a obra precursora dos
modernos. Isso porque, Sterne, ao lançar mão de uma narrativa completamente imersa no fluxo de
consciência do protagonista narrador, subverteu a apresentação do tempo e dos espaços no romance,
relativizando as concepções dos mesmos. Sua obra delineia uma nova noção de enredo, que se concretiza
em uma afronta aos padrões convencionados em seu período e rompe com as formas estruturais da
literatura em prosa, o que demonstra sua busca pela liberdade literária. Tendo em vista que a narrativa
toma forma a partir das memórias e reflexões de Tristram, percebe-se uma inversão da noção de realismo
e de enredo, uma vez que, ao partir das delimitações da verossimilhança, amplia o sentido da ficção e a
noção de realidade literária. Deste modo, a partir dos trabalhos de Sandra Vasconcelos (2007), Watt
(2010), Tânia Pelegrini (2009), Adorno (2003), entre outros, buscaremos evidenciar que a recusa de
Sterne pela forma tradicional do romance se configura num olhar pontual do problema que constituía a
primeira noção de realismo, que dera origem a produções que buscavam capturar a realidade de maneira
linear. Em Tristram Shandy o que se observa é uma afronta às convenções literárias em busca da
liberdade romanesca e o despertar para uma nova tendência literária que se pauta na ruptura das formas
para representar o caos em que se vê imerso o indivíduo moderno.
A comunicação que ora se propõe tem como objetivo mostrar o modo como a contingência atua na
trajetória de Jean-Baptiste Clamence, protagonista do romance A queda, de Albert Camus, na medida em
que o leva a uma terrível percepção de si mesmo e ao desenvolvimento da consciência infeliz. Georg
Lukács, em seu livro A teoria do romance, caracteriza o herói romanesco como o homem em que toda a
substancialidade se dissipou em reflexão (LUKÁCS, 2000, p. 31), assim, apartado do mundo e de si
mesmo por sua consciência, ele acaba definido pela fragmentação, pelo vazio, pela falta. É nesse sentido
que Lukács afirma que “a intenção fundamental determinante da forma do romance objetiva-se como
psicologia dos heróis romanescos: eles buscam algo” (p. 60), eles buscam a antiga relação com o mundo,
a totalidade perdida ou simplesmente uma forma de lidar com seu caráter reflexivo e com o abismo que
ele criou entre si mesmo e o mundo. Em A queda, a narrativa traz esse momento decisivo na trajetória do
herói, o momento de ruptura em que a consciência o coloca diante de si mesmo e do mundo, mudando
radicalmente sua vida, que vai da plenitude ao tormento da fragmentação e, então, ao início da busca. O
presente trabalho propõe-se, desse modo, a mostrar como Jean-Baptiste Clamence é refém da
contingência no romance - na medida em que o evento desencadeador de sua consciência reflexiva foge
completamente ao seu controle e o muda radicalmente como homem -, além de responder qual a
natureza da busca que se instaura, a partir desse evento, na vida do herói.
Este artigo tem como corpus o romance Lavoura arcaica, de Raduan Nassar e objetiva analisar a questão
do hibridismo prosaico que impõe uma apreciação dos elementos básicos dessa mistura: a prosa e a
poesia, ambas com impregnação lírica. Pode-se entender lirismo como sendo uma qualidade da obra
poética marcada pelo subjetivismo sentimental. Esse entendimento corrobora a crítica do que é “lírico”,
sendo apresentado como manifestação do estado e da expressão dos sentimentos, em que predominam o
eu subjetivo, o eu poético. Por isso, o lirismo é responsável por externalizar a interioridade do sujeito, o
universo interior do poeta. Entendemos, portanto, que o lirismo pode participar da poesia e da prosa e
certifica, neste caso, o processo de hibridez do gênero romanesco com a presença “adjetiva” da poesia.
Em face disso, Lavoura arcaica se rotula como sendo um romance lírico. A infusão poética,
principalmente pela subjetividade e pela figuração, costuma se firmar como destaque do romance que
mesmo apresentando uma família arcaica e tradicionalista, a linguagem aponta, no quadro do jogo
categorial, um romance moderno, marcado pelo hibridismo e pelo discurso do narrador personagem, que
luta contra o arcaico, configurando, para alguns, um conflito diante do tradicional, do arcaico. Sendo
assim, o discurso moralmente agônico funde-se ao lirismo.
O trabalho que propomos tem por objetivo apresentar um estudo sobre o romance moderno a partir de
um de seus topos: a cena de baile. Durante muito tempo, o baile e suas representações estiveram
associados a uma festa aristocrática, luxuosa, com regras de etiqueta e bom comportamento e na qual um
acontecimento grandioso poderia ter lugar (como o encontro com um príncipe) que mudaria
indelevelmente o destino dos protagonistas. Se até o século XIX as cenas de baile na literatura tendem a
ser esparsas e não constituem realmente um corpus quantitativo interessante, a partir desse momento o
baile aparece de maneira cada vez mais sistemática, mimetizando, de certa maneira, a eclosão do baile
como fenômeno social burguês, classe social que se apropria de um imaginário idealizado da antiga
classe dominante, a nobreza. Muitos romancistas do século XIX começam a desenvolver uma literatura
que se preocupa com os detalhes, com o íntimo dos personagens: importa mais o estudo psicológico da
natureza humana que as ações em si. O baile transforma-se, assim, em uma temática recorrente. Esta
mudança literária acompanha a evolução dos costumes pela qual passa a sociedade: a partir da
Revolução Francesa uma nova mentalidade começa a se formar, na qual as noções de indivíduo e de
isolamento são colocadas em evidência. Através da leitura de três cenas de baile de romances franceses
do século XIX pretende-se apresentar alguns aspectos referentes às tensões e conflitos que marcam o
indivíduo e sua relação com o mundo moderno. No que tange à orientação teórica, merecem destaque os
estudos sobre o romance de Ian Watt e sobre a representação da realidade de Erich Auerbach.
Explicação dos pássaros, quarto livro do autor português, António Lobo Antunes, conta-nos a trajetória
sem identidade, as relações artificiais e os valores inautênticos vivenciados por um professor
universitário, Rui S. Entendemos tal livro e tal herói como sendo modernos, no sentido em que pensam
Georg Lukács, em A teoria do romance, e Ferenc Fehér, em O romance está morrendo?. É por meio da
leitura desses dois teóricos principais que estudamos tanto a organização das estruturas narrativas,
quanto a representação de mundo proposta por esse romance português. Para Fehér, o romance e o herói
são ambivalentes porque, ao mesmo tempo em que incorporam os valores do mundo burguês, recusam-
se a representá-los integralmente. Porém, para Rui, a negação desses valores representa sempre um
conflito muito grande entre aquilo que, de fato, deseja e às expectativas familiares e sociais que gostaria
de atender, mas que nunca é capaz de realizar. Dessa forma, percebemos, em Explicação dos pássaros,
um sujeito completamente desajustado com o mundo que o cerca e, por isso, vivendo uma condição de
completa solidão e total desacerto. É assim que, no ato final do livro, que descreve o seu suicídio,
percebemos sua última busca por uma possível identificação: a que se dá com os pássaros, que reflete
também um momento de explicação, agora não mais deles, como é descrita em vários momentos do
livro, mas já de si.
Este trabalho tem por objetivo o estudo do romance A queda de um anjo (1866), de Camilo Castelo
Branco, segundo o conceito de romance de leitura. A expressão “romance de leitura” (Lektüreroman) foi
cunhada pelo teórico alemão Volker Rollof: é o romance que tem como tema a leitura. Trata-se,
portanto, do romance em que os personagens se deixam envolver pela leitura de obras ficcionais a ponto
de se tornarem mais e mais dependentes da ficção e, desta forma, menos propensos a se adaptar à
realidade. Dom Quixote tem sua percepção do real afetada pelas leituras e não mais reconhece o mundo
em que vive: troca a realidade pelo ficcional, até que sua vida é transformada e vivida de acordo com as
convenções literárias dos romances de cavalaria. Emma Bovary lê romances românticos até cansar-se do
tédio da vida real; aspira aventuras como as dos romances românticos que leu. A queda dum anjo conta a
história de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, leitor dedicado principalmente de obras
clássicas da literatura portuguesa do século XVI, leituras que condizem com seu caráter ingênuo e
austero. Sua personalidade muda (a “queda de um anjo” aludida no título), isto é, Calisto se corrompe,
tornando-se quase um libertino, ao mesmo tempo em que se envolve com uma mulher leitora de
romances, “grandemente lida em novelas francesas”, que o leva mais tarde a preferir essas mesmas
leituras. A importância deste trabalho se atesta na medida em que se percebe a importância do gênero
romanesco para a cultura ocidental nos últimos séculos. Para além disso, o estudo do romance de leitura
é uma maneira da literatura refletir sobre a própria literatura, o leitor e o fazer literário.
UM ROMANCE À BRASILEIRA
O romance, ao seu modo, forneceu interessantes subsídios para o conhecimento da vida social no Brasil
do século XIX. Entretanto, com raríssimas exceções, os esforços e conclusões romanescos na
interpretação da vida social, embora bastante úteis e inovadores, serão rejeitados pela sociologia
brasileira, afetada por sua fragilidade e insegurança quanto à consolidação como ciência e inebriada por
vagas ambições institucionais e acadêmicas. Assim, aqui o romance é o pioneiro na tentativa de construir
um mito da criação e unidade nacional; a esboçar uma explicação da gênese do povo brasileiro; a
conferir interesse à vida privada e relacioná-la com a vida pública; a postular uma origem do Estado
brasileiro; a salientar a peculiaridade e originalidade da formação social; a explicitar as condições de
vida no campo e insinuar a cidade como lócus primordial, embora ainda provinciano, da sociabilidade; a
analisar os grupos e a estrutura social; a esboçar uma tipologia do homem brasileiro em suas hierarquias
e regionalidades; a construir explicações do caráter nacional; a avaliar a influência do meio e da “raça”
como determinações sociais; a considerar o papel do índio, da mulher e do negro na sociedade patriarcal
etc. Há muito, o romance, assim, pode oferecer uma interpretação da vida coletiva no Brasil com base na
leitura do social por meios não sociológicos, podendo sim oferecer subsídios para a compreensão e
explicação científicas da sociedade brasileira. Entretanto, a sociologia (e as demais ciências sociais, a
filosofia etc.), não obstante a propensão literária de muitos dos seus pioneiros, relegaram a contribuição
da literatura, mormente do romance, na interpretação do Brasil.
Memórias de um Sargento de Milícias (1854), de Manuel Antonio de Almeida, é a obra fulcral para
qualquer estudo da representação da figura do “malandro” na literatura brasileira. Através dos tempos, a
obra foi analisada por importantes críticos, até chegarmos ao aclamado ensaio de Antonio Candido, a
Dialética da Malandragem (1970), no qual o autor define Leonardinho Pataca como o “primeiro e
autêntico malandro” da literatura brasileira. Origem humilde, itinerância, esperteza e sagacidade são
algumas de suas características mais marcantes, renegando o trabalho e vivendo de oportunidades e
circunstâncias que favoreçam sua tortuosa trajetória, características que seguiriam modelando heróis
malandros nacionais e também o próprio brasileiro, conforme teorizaram Sérgio Buarque, Vianna Moog,
Roberto daMatta e muitos outros. Todavia, nós enxergamos efetivamente diferenças significativas entre
o comportamento de Leonardinho e as demais personagens daquele romance, a ponto de destacá-lo como
uma figura exótica e singular naquela sociedade específica? José Manuel, a comadre, o compadre, Major
Vidigal, Maria da Hortaliça, Vidinha e tantas outras importantes personagens do romance de Almeida
servem de contraponto a Leonardinho, ou seja, são assim tão distintos moralmente em relação ao rapaz,
caracterizando comportamentos de oposição aos seus? Especificamente neste trabalho, tentaremos
analisar Leonardinho em comparação àquela sociedade na qual ele estava inserido no romance,
revisitando esse fundador herói do romanceiro nacional, investigando suas características em contrapelo
às particularidades dos demais personagens de destaque da obra que inaugurou o romance malandro no
Brasil.
A comunicação tem por objetivo abordar as particularidades do romance e sua expressão em uma das
principais obras da literatura brasileira: Senhora de José de Alencar. Embora tenha forte presença na
memória coletiva e incorpore, popularmente, o próprio significado de literatura, o romance é um gênero
recente na história literária. Enquanto a epopeia, o drama, a lírica ou a fábula têm suas origens firmadas
na tradição oral, o romance surge após a escritura. Suas bases se fortalecem juntamente com os adventos
da burguesia e da imprensa e, no círculo do aqui-agora, o indivíduo passa a ser o centro das atenções.
Portanto, tendo como apoio os estudos de teóricos, como Auerbach, Bakhtin, Candido, entre outros, e o
“realismo formal” de Ian Watt, discutiremos as principais características do gênero romance para,
depois, analisar sua expressão na obra supracitada. Pertencente ao grupo dos romances urbanos de José
de Alencar, o livro Senhora, embora esteja enquadrado no ciclo do Romantismo, já apresenta sinais do
Realismo, ao retratar problemas sociais. Entretanto, para a sua composição como romance, importa
verificar de que forma representa a atuação de determinadas personagens que, situadas na sociedade
fluminense do século XIX, trazem um recorte da realidade brasileira.
Este trabalho analisa o romance Anna Kariênina (2011), escrito por Tolstói, estabelecendo relações
teóricas com György Lukács, sobretudo com a Estética (1965-1967) e Teoria do romance (2009),
pensando o romance como forma moderna privilegiada, sendo que ele é revisitado por outros gêneros
literários. O trabalho consiste em esmiuçar o problema do realismo, considerando-o como modo de
representação literária (e não só como o período literário). Explora-se o conceito de arte, que para
Tolstói é um meio de comunicação entre os homens e de contágio entre seus sentimentos. Trata-se do
espelhamento objetivo da arte; estuda-se a teoria do reflexo, e a arte literária como mimesis da realidade
social. Assim, a arte realista pode ser interpretada como uma obra transformadora, e não fatalista. Isso é
capaz de promover a catarse e a autoconsciência. Na modernidade, o que acontece é uma certa
romancização dos gêneros, no sentido de que o romance contamina outros gêneros, mas também é
contaminado, podendo, juntamente a eles, abarcar a totalidade. Então, Tolstói encontra a totalidade da
arte, conseguindo aliar tanto a ordenação da narração quanto o nivelamento da descrição, e os gêneros
literários da tragédia (categoria histórico-social), do drama (conflito interno) e da grande épica
(realismo). Logo, a literatura russa insere-se no sistema-mundo, por causa dos problemas com os quais
ela trabalha, isto é, problemas humanos.
O presente trabalho tem como principal objetivo desdobrar a leitura feita por Georg Lukács, em A teoria
do romance (2000), acerca da noção de indivíduo problemático e o modo como este irrompe à cena do
romance, tornando-se protagonista de uma existência que, não raro, se caracteriza pelo desajuste em
relação a si mesmo e ao mundo em que se situa e com o qual acaba por viver em permanente. Isso
porque o indivíduo problemático é aquele que toma consciência de si mesmo e, ao fazê-lo, descobre-se
sozinho diante da percepção dramática de que toda sua vida está fundada sobre os frágeis alicerces de
um passado irrecuperável e de um presente que é sempre a ponte incerta e vacilante para um dever-ser,
esse devir sem rosto e informe, que está em vias de realizar-se, mas sobre o qual o sujeito não tem, de
fato, nenhum controle. Some-se a isso a compreensão de que se vive em um mundo cuja ordem está
baseada em valores, princípios e regulações arbitrárias, um mundo definido a priori e,
consequentemente, alheio à vontade do indivíduo, e temos a figuração perfeita, no espaço do romance,
de um herói para o qual a vida e o mundo constituem, antes de tudo, fonte de inesgotável perturbação,
porque aqueles grandes referenciais metafísicos, como deus ou o destino, aos quais nos agarrávamos
como a resposta essencial aos dilemas da alma, nos abandonaram completamente. Nesse sentido, nosso
objetivo é entender a ideia lukacsiana (2000, p. 99) de que a alma do indivíduo problemático é mais
estreita ou mais ampla do que o mundo, refletindo como isso assinala a natureza do herói, determinando
suas ações e seu modo de estar no mundo.
Por vezes, podemos observar que, ainda, a dicotomia intimismo e realismo não foi plenamente superada
no âmbito dos estudos literários, sobretudo no que se refere à crítica que se dedica à literatura brasileira,
como nota-se no livro Ficção brasileira contemporânea, de Karl Erik Schøllhammer (2009). Sob muitos
aspectos, quando o intimismo e o realismo são compreendidos a partir de uma relação dicotômica, a
principal diferenciação entre ambos é que o realismo buscaria representar os aspectos sociais, culturais,
políticos e econômicos, enquanto o intimismo se atentaria para as questões da subjetividade, do universo
íntimo e da psicologia humana. Em seu livro intitulado A ascensão do romance: estudos sobre Defoe,
Richardson e Fielding (2010), Ian Watt apresenta o romance como um gênero literário essencialmente
realista, não no que diz respeito a uma escola literária, mas sim à procedimentos representacionais que
buscam colocar o real em cena. Entretanto, Ian Watt desenvolve sua reflexão sobre as relações entre
romance e realismo de modo a enfatizar a importância da experiência individual para o gênero
romanesco. Nestes termos, nossa comunicação buscará discutir como as reflexões teóricas de Ian Watt,
em A ascensão do romance: estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding (2010), podem contribuir para a
problematização da dicotomia realismo e intimismo no romance brasileiro.
O presente trabalho centra-se na investigação da noção de modernidade, seu surgimento, suas principais
características e o modo como estas seriam determinantes no processo de constituição dos aspectos
formais de um gênero literário nascido com o mundo moderno, ou seja, o romance. Discutiremos, de
acordo com as ideias de teóricos como Mikhail Bakhtin, György Lukács e Ian Watt, as particularidades
do discurso narrativo e de aspectos do romance que esboçam sua real noção de modernidade literária
como associada ao gênero que rompe com o tradicionalismo mais arraigado, que antes figurava na
literatura até fins do século XVIII. O ponto-chave estará na análise das peculiaridades literárias que
fazem de Madame Bovary, de Gustave Flaubert, uma obra romanesca, realista e moderna, originalmente
crítica, reveladora e extraordinária que, por sua linguagem altamente elaborada, seu rigor estilístico, sua
organização interna e seu compromisso com o real representa, minuciosamente, a bastante problemática
sociedade burguesa francesa do século XIX.
Pretende-se neste trabalho estudar o romance 2666, do chileno Roberto Bolaño, tecendo apontamentos
sobre como essa obra incorpora e intensifica as principais características do romance moderno. A
fragmentação, a desarticulação, a casualidade e o fracasso são algumas das características que permeiam
o mundo moderno e o sujeito que o habita. O romance, gênero emergido a partir de Dom Quixote, é a
forma que melhor sintetiza e representa esse mundo em que o sujeito encontra-se desligado não somente
dos outros, mas também de si mesmo, na tentativa, muitas vezes frustrada, de comunicar-se e de agir
sobre a realidade, segundo o teorizado por Georg Lukács, Walter Benjamin e Theodor Adorno.
Considerando esses pontos nevrálgicos do romance como gênero, podemos dizer 2666 é uma obra que se
ergue entre as grandes, tais como o próprio Dom Quixote, Crime e castigo ou Berlim Alexanderplatz,
obras que mostraram a fundamental incapacidade do sujeito moderno de controlar o mundo que o cerca,
sendo arrastado por um caminho tortuoso e frequentemente incompreensível, ao qual, no entanto, o
romance tenta dar forma. Dividido em cinco partes, “A parte dos críticos”, “A parte de Amalfitano”, “A
parte de Fate”, “A parte dos crimes” e “A parte de Archimboldi”, esta obra percorre vários tempos e
espaços que são entrelaçadas por três fios: literatura, violência e absurdo. A partir das características do
gênero acima apontadas, mostraremos, no estudo que se segue, percorrendo as cinco partes, o esforço
configurador de Bolaño para dar unidade a um mundo à revelia, incontrolável, caótico.
A partir da relação entre forma literária e processo social, com base na afirmação de Antonio Candido de
que “a ligação entre a literatura e a sociedade é percebida de maneira viva quando tentamos descobrir
como as sugestões e influências do meio se incorporam à estrutura da obra” (2006, p. 197) e pensando
com Lukács, para quem o decisivo é que a figuração literária exponha as complexas conexões entre a
superfície imediata e a dinâmica histórica profunda movida pelas relações de classe diante da qual o
escritor deve empregar meios técnicos adequados para apreender essas articulações (OTSUKA, 2011, p.
42), propõe-se uma leitura da presença da religião em Esaú e Jacó, de Machado de Assis, no qual a
escolha pelo mito judaico-cristão serve como princípio estruturante da narrativa e permite uma profunda
reflexão sobre a dinâmica social brasileira. O objetivo central desta proposta de estudo é pensar de que
modo a presença recorrente da religião na obra machadiana, especialmente no romance em questão,
contribui para a sua eficácia estética e também para os questionamentos e reflexões levantados pelo autor
em relação à história e à realidade brasileiras, pensadas aqui pela motivação bíblica e demais elementos
religiosos presentes na narrativa. Além desse objetivo específico, pretende-se ampliar a discussão acerca
da questão Machado de Assis e religião, tendo em vista o número escasso de estudos aprofundados a
tratar desse assunto, que contrastam com a excessiva presença desse tema na produção do autor.
O romance, sobretudo a partir do século XX, transformou-se numa importante e complexa forma de
expressão literária para os tempos modernos. De entretenimento, passou a um estudo mais profundo da
mente humana, imprimindo à ação importância secundária. O tempo, tônica da época moderna, passa a
ocupar notavelmente o interesse dos ficcionistas, atribuindo fundamental importância psicológica e
filosófica ao “momento” do personagem. Para fazer essa verificação introspectiva, o romance
modernista constantemente aborda o tempo psicológico dos personagens, contrapondo-o ao tempo
cronológico, chamando a atenção do leitor e suscitando reflexões sobre esse tema. Este trabalho se detém
numa leitura do romance do âmbito da literatura de língua portuguesa: Elói ou romance numa cabeça, de
João Gaspar Simões. O objetivo é verificar como a obra, através da descrição da consciência, explora o
tempo psicológico do personagem principal, configurando-o como um ser em situação extremamente
conflitante em relação ao seu meio social. Para realizar tal análise, contamos, entre outras, com as
considerações teóricas de Hans Meyerhoff, bem como as discussões de Walter Benjamin sobre o tempo
na narração.
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Nos tempos que correm é lugar comum discutir a crise, quando não a falência, da crítica para
compreender objetos artísticos e contribuir para processos formativos. Por um lado, essa situação
objetiva advém da instrumentalização da análise por mecanismos de medição precisos, por conceitos
neutros e universalistas; um caráter científico de matriz positivista torna-se obsessão que, não raro, afaga
o mercado. Por outro lado, identifica-se no polo oposto um impressionismo subjetivista e anti-histórico
avesso a qualquer redução racionalista, que vê o homem como um demiurgo acima de quaisquer
determinações que não as próprias. A crítica materialista e dialética, que estuda os objetos artísticos pela
mediação entre arte e sociedade e pela dinâmica complexa entre seus temas e formas, tem lugar restrito,
até porque se insurge contra o status quo - o que as outras têm dificuldade em fazer até por uma suposta
pureza da arte. Não é por acaso que aquelas sejam preponderantes em um cenário turbulento e perigoso
como o atual. Como antídoto é imperativo retomar a voltagem (o método crítico) de autores como
Benjamin, Szondi, Candido, Schwarz e Rosenfeld, até porque vêm sendo difamados por apropriações
que desarmam sua força dialética, muitas vezes pela mortalha do ritual canonizante. Nessa comunicação,
pretende-se não apenas repisar a atualidade da teoria e da crítica teatral de Anatol Rosenfeld, por obras
como O teatro épico e algumas críticas publicadas em Prismas do teatro, mas também mostrar os
mecanismos dialéticos nesses textos que impedem uma leitura tão superficial que resulte em sua
descaracterização e, no limite, os levam a falar como a voz dominante.
Na peça teatral o Rei da vela, Oswald de Andrade retrata a década de 1930 no Brasil com suas mudanças
sociais, econômicas e políticas e Procura nos conduzir de forma irônica e cômica a uma visão dos
acontecimentos da época, ou seja, a decadência da aristocracia do café e sua tentativa de sobrevivência
através da aliança com a burguesia. Percebe-se que o Oswald de Andrade na escrita da peça o Rei da
Vela deseja romper com o teatro fácil, o da ilusão das comédias de costume, para um teatro de reflexão.
O autor utiliza-se da espinafração, ou seja, desmascara a elite burguesa e a aristocracia rural em
decadência de forma bem aberta. Estes elementos serão explorados pela peça escrita a partir de 1933,
publicada em 1937 e somente encenada em 1967 pelo Teatro Oficina sob a direção de José Celso
Martinez Corrêa em plena Ditadura . Ao ler a peça não é difícil concordar com Magaldi (MAGALDI,
2004, p. 66): “O rei da vela representa a análise furiosa feita por Oswald de Andrade da realidade
brasileira e das classes dominantes a que pertencia por origem e cujos reveses tornaram tão agudo o seu
conhecimento dos problemas”. Justifica-se, assim, a existência desse trabalho que visa a empreender
uma discussão sobre a tentativa de Oswald de Andrade de apresentar uma ruptura com o formato teatral
de sua época. Espera-se reunir-se com demais pesquisadores que, por meio deste e de outros autores,
desejem expor os resultados de suas pesquisas sobre outras peças que procuram na ruptura da forma a
trazer para os palcos brasileiros uma arte que leve a reflexão e a pensar no coletivo.
Gota d’água (1975), de Chico Buarque e Paulo Pontes, é uma peça teatral que reabriu as portas ao teatro
político no Brasil, trazendo à cena uma discussão crítica e realista da sociedade, discutindo concepções
de mundo e qualidade de vida do povo. Considerado populista, o texto constrói um ambiente abalado
pelo período pós-64, cujo ápice deu-se com o Ato Institucional nº 5 (1968) que instaurou a censura no
país, criando uma polícia política. Nessa direção, Chico Buarque e Paulo Pontes propuseram analisar em
bisturi a realidade brasileira daquele período histórico, problematizando os diversos setores sociais,
impondo ao teatro uma nova postura crítica. Atualizando o mito de Medeia, a demoníaca feiticeira
bárbara da antiga Ática, este texto cênico apresenta uma linguagem crua, cortante, cínica, mordaz, às
vezes agressiva, para atingir o impacto necessário em uma sociedade em crise. Gota d’água cria uma
ruptura na linguagem, com expressões bem brasileiras que ferem as normas da língua culta, pois há lugar
à linguagem do cara que mora no morro, nas favelas, aqueles que não tiveram a oportunidade de
aprender a “falar corretamente” nos ambientes que eram destinados aos burgueses. É, portanto, nesse
contexto sociocultural e político que os dramaturgos fazem uma representação do Brasil da década de
1970, historicamente indicado como os anos de chumbo do país, um período em que a censura silenciava
os gritos pela democracia.
Palavras-chave: Moderno Teatro Brasileiro, Chico Buarque e Paulo Pontes, Gota d'água
De acordo com o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, ao assistir uma peça dramática o espectador se
identifica com o herói representado no palco e expurga seus sentimentos por meio da catarse. Esse
processo cria a ilusão de uma “quarta parede” que impede o espectador de assumir uma postura crítica
em relação a si mesmo como parte integrante do sistema de exploração capitalista. De encontro aos
ideais dramáticos, a teatro épico de Brecht propõe o rompimento da quarta parede. Claramente inspirado
em Brecht, o teatro dialético de Chico Buarque apresenta cenas que dialogam com o público a partir de
estratégias que buscam o distanciamento e o estranhamentodo do espectador frente à ilusão cênica. A
peça Ópera do malandro, que ostenta intertextualidade com os textos de Brecht e Gay, retratava
personagens marginalizadas como travestis e prostitutas em meio a ditadura militar brasileira, motivo
pelo qual não foi totalmente aprovada pelo crivo da censura e precisou de cortes e reformulações para ser
encenada. Em termos formais, vemos o distanciamento das bases tradicionais do teatro burguês, calcado
no ilusionismo e em conflitos entre subjetividades sobre questões domésticas. Sendo assim, a
comunicação em questão se propõe a analisar os elementos narrativos utilizados por Chico Buarque na
elaboração da peça que rompem com o dramático e reafirmam a historicização crítica e dialética do
teatro de Chico Buarque.
O presente trabalho pretende articular arte e política, em uma relação dialética entre a luta política dos
movimentos de camponeses desde a década de 1960 e a sua expressão por um teatro político, no plano
da forma e do conteúdo. Assim, tomou-se como objeto a peça Mutirão em Novo Sol, escrita em 1961 por
Nelson Xavier tendo como colaborador Augusto Boal. A peça foi encenada, pela primeira vez, no I
Congresso dos Trabalhadores Agrícolas em Belo Horizonte, em 1961, com direção de Chico de Assis,
tendo como elenco atores do Arena e do Oficina; no ano seguinte, a peça foi encenada por atores do
Movimento de Cultura Popular (MCP) sob a direção do próprio Nelson Xavier. Para realizar essa
articulação, lança-se mão da teoria crítica literária materialista, a partir de pesquisadores do gabarito de
Iná Camargo Costa, Rafael Litvin Villas Bôas e Sérgio de Carvalho. Busca-se, com esse trabalho, dar
uma contribuição aos estudos de uma peça e, de modo consoante, a todo um período que inicia a
produção de teatro com a temática camponesa que antecede o golpe empresarial-militar de 1964 no
Brasil.
Em uma peça de teatro, diferentes vozes ganham expressão em uma dinâmica de discursos reveladora do
contexto da qual emergiu. O movimento artístico-político denominado “Primeira Feira Paulista de
Opinião” (1968) intensifica a latência de seu tempo à medida que se configura como uma produção
mural (BOAL, 2014), proposta coletiva que reuniu seis dramaturgos com formas teatrais próprias no
cenário paulista: Augusto Boal, Bráulio Pedroso, Gianfrancesco Guarnieri, Lauro César Muniz, Jorge
Andrade e Plínio Marcos; além de compositores como Caetano Veloso, Ary Toledo, Edu Lobo, Sérgio
Ricardo e Gilberto Gil. Em meio ao auge da repressão militar, momento marcado por diálogos ausentes,
classes compartimentadas, leis arbitrárias e perseguição violenta contra estudantes e operários, a
“Primeira Feira Paulista de Opinião” se configurou como uma expressão plural de reflexão sobre a
condição do teatro de esquerda naquele período e de combate frente às forças políticas opressoras. O
objeto específico de estudo da presente comunicação será “Que pensa você da arte de esquerda?”,
manifesto de Boal na apresentação do programa da “Feira”, um questionamento aos modelos do teatro
engajado paulista dos anos 60. Ele destaca que as três orientações teatrais de esquerda - neorrealismo,
tendência exortativa (gênero Zumbi) e tropicalismo - precisam ser revistas. De maneira ousada, o diretor
do evento coloca em questão os temas, o público e as formas da produção do teatro político
desenvolvido pelos membros do grupo, não poupando nem a si, nem aos demais integrantes de um
exercício autocrítico que avalia ser essencial para que a arte de resistência cumpra seu papel.
Este trabalho tem como objetivo estudar a fase de Nacionalização dos Clássicos do Teatro de Arena
(1962-1964) com foco especial nas contribuições estéticas e teóricas de Augusto Boal. Este período
coincide com o intenso debate sobre a função do teatro e a busca por um público popular que culmina na
saída de alguns dos mais destacados integrantes do Arena, para logo em seguida fundarem no Rio de
Janeiro o Centro Popular de Cultura (CPC). Ao contrário da crítica, que relegou este período a uma mera
transição entre as fases da dramaturgia nacional e a dos musicais do Teatro de Arena, consideramos esta
fase chave para a compreensão dos caminhos trilhados pelo grupo, que foi um dos mais representativos
de todo o teatro brasileiro do século XX. Nossa hipótese é de que a opção pelos clássicos se deu a partir
de um processo de resistência frente aos mecanismos de cooptação capitalista em curso naquela época.
Em outras palavras, nos parece que Augusto Boal se apropria de formas supostamente universalistas e
conservadoras com o interesse de explicitar seu caráter histórico e interessado. Ao mesmo tempo em que
desmonta a tese de que essas formas são fixas e representam a elevação do homem, Boal e o Arena
mostravam que elas são históricas e podem servir para explicitar o caráter formador de uma apropriação
desmistificadora, utilizando-as como arma para combater o processo de alienação da forma-mercadoria.
Para isso, traçaremos um panorama que tentará abarcar os pressupostos de que definiram este projeto e
sua perspectiva estética, culminando no estudo de duas peças fundamentais para o período: A
Mandrágora de Maquiavel e Melhor Juiz, o Rei de Lope de Vega.
Esta comunicação pretende expor como as formas épico-narrativas na peça Café, de Mário de Andrade e
na peça A Moratória, de Jorge Andrade foram fundamentais para a expressão de questões sociais e
históricas. Os autores utilizam da forma épica, para assim fazer a formalização do processo histórico
representado pela crise de 1929, pois esta é a única capaz de apresentar uma reflexão crítica sobre
determinado momento e indivíduos sociais. Sendo assim, a análise buscará entender como estas obras
teatrais dialogam por meio de uma formalização estética com o processo histórico, recorrente a ruptura
da economia cafeeira no sudeste paulista. Além disso, tem como finalidade observar como os dois
autores mesmo inseridos em ciclos de politização diferentes, isto é, Mário de Andrade, ao primeiro,
recorrente ao Modernismo e Jorge Andrade, ao segundo, as Tendências Contemporâneas, se destacam
por levantar questões individuais e coletivas de modo a analisar como determinada ruptura histórica
pode influenciar e transformar a sociedade brasileira. Logo, interessa compreender a relação entre
literatura e sociedade bem como a dialética entre forma literária e processo social.
Em meio à efervescência que tomou conta da cena teatral na década de 1950, o princípio norteador dos
espetáculos, tendo como principal expoente o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), ainda estava
centrado nas comédias ligeiras e nas adaptações de peças consagradas em grandes centros teatrais. Entre
os anos de 1953 e 1955, as encenações apostavam na centralização ao redor do ator ou da atriz de
renome e atratores de público. É o período em que o fazer teatral se construía sob o signo das estrelas.
Na contramão dessa proposta, alguns dramaturgos buscavam uma experimentação pela ruptura com essa
modernização tbcista, algo que fugisse aos princípios do teatrão do século XIX e da modernidade que
copiava os modelos estrangeiros de sucesso. O presente trabalho tem como objetivo destacar como essa
busca por estratégias de ruptura está presente nas obras A moratória, de Jorge Andrade e Os Cinco
Fugitivos do Juízo Final, de Dias Gomes, ambas escritas em 1954. A tipificação de personagens, assim
como a desconstrução de certos arquétipos sociais, o uso da alegoria, o questionamento de valores
sociais em espaços diversos, a apreensão de um momento particular da história pela lente da obra de arte
são alguns dos elementos utilizados tanto por Gomes quanto por Andrade para fugir aos padrões
tradicionais, abrindo espaço a novas propostas estéticas, no campo da forma e do conteúdo. Desse modo,
esta pesquisa se justifica como tentativa de compreender como essas construções, realizadas à margem
do que estava consagrado no momento em que foram escritas, contribuíram para o consolidação do
moderno teatro brasileiro.
Ao longo de séculos, o teatro brasileiro trilhou um caminho próprio e autônomo com relação às práticas
em voga na Europa. A força dos “musicais ligeiros” no século XIX, por exemplo, ou a independência da
cena quanto às estéticas literárias, exige que interpretemos de forma específica nossa historiografia. A
partir da segunda metade do século XX, as linhas de modernização do teatro brasileiro colocam-no
pouco a pouco em diálogo com a produção mundial. Em pleno século XXI, falamos do teatro
contemporâneo nacional com base em criações potentes, que podem ser lidas à luz de teorias
estrangeiras sem riscos de digressões. É justamente o que este trabalho propõe. Nossas reflexões
centram-se nos espetáculos da intérprete Maria Bethânia, que, com a colaboração de diretores teatrais,
refinou uma forma dramatúrgica feita por sucessivas costuras de canções e excertos literários. Este
tecido intertextual pode ser entendido como um “drama rapsódico”, segundo definição de Jean-Pierre
Sarrazac, pois recupera no atual contexto o gesto essencial do rapsodo clássico. Utilizaremos premissas
da teoria francesa para verificar quais aspectos do espetáculo de música teatralizado de Maria Bethânia
podem filiá-lo à chamada cena contemporânea. Dentre estes aspectos, estão a montagem, a colagem, a
polifonia, a poeticidade, a fragmentação dos personagens (ou figuras) e os níveis de performatividade.
Tal forma, inserida no terreno da música popular, anunciaria, ainda no início da década de 1970, uma
série de características que se tornariam paradigmáticas nas arenas do teatro brasileiro.
Geralmente as obras literárias são classificadas segundo os gêneros, ou seja, de acordo com as
particularidades compositivas e mesmo estilísticas que as distinguem entre si. Este tipo de descrição
teórica tem levado a verificar que grande parte das obras literárias, principalmente a partir do
romantismo, estão longe de poderem se encaixar calmamente, cada uma, num só gênero literário.
Infelizmente se observa que ainda hoje embora respeitemos essa possibilidade compositiva de uma obra
literária muito pouco ou quase nada se estuda sobre o gênero dramático nas escolas tanto na educação
básica como nos cursos de Letras. O estudo e investigação da abordagem do texto dramático nos vários
níveis de escolarização é extremamente relevante, tendo em vista que este gênero desde a antiguidade
clássica permeia a vida social e comunitária do ser humano. A pesquisa em tela visa a discutir como é
realizada a abordagem do teatro dentro dos estudos literários nos materiais didáticos do ensino
fundamental e médio.
Tem-se como objetivo desenvolver uma proposta de leitura da fábula contemporânea como dispositivo
de sintaxe da tessitura do texto dramático que aproxima, no trabalho com a linguagem, os princípios de
teatralidade e performatividade. A compreensão que o sistema formal de encadeamento das ações para a
manifestação da mimesis vem historicamente sofrendo um processo de transformação tem como mola
propulsora as problematizações que determinadas produções dramatúrgicas ditas pós-dramáticas vêm
propondo. Cabe ressaltar que estas produções não se constituem uma totalidade ou maioria, visto que na
contemporaneidade tanto o teatro clássico, o político, ou o chamado teatrão, convivem, se não em
harmonia, de forma democrática. Buscar-se-á demonstrar que até a crise do drama apontada por Peter
Szondi, a fábula estava orientada como um mecanismo poético de condução do pensamento ao
reconhecimento de um conhecimento sobre a vida. Contudo, com os desdobramentos que os vários
elementos do drama (personagem, ação, conflito, catástrofe, etc.) sofreram no século XX e início do
XXI, em conjunto, a fábula passa por uma transformação no encadeamento de elementos, que não visa
mais a condução racional do espectador, e sim, ativar por meio do estético, o sensível. Se na tradição, a
mimese da ação tem força formal de construção do drama como fenômeno estético pautado pelo
procedimento lógico-causal, no contemporâneo, um grupo de escritas dramáticas sugere que o processo
de concatenação da linguagem, com foco, na cena, no evento teatral, faz com que haja uma aproximação
frutífera entre os conceitos e mecanismos de constituição da teatralidade e do performativo na tessitura
do drama contemporâneo.
A dramaturgia brasileira vem mostrando nos últimos grandes festivais, seja por peças independentes,
seja por grandes companhias, uma nova configuração do eu em cena, não mais apenas como o teatro
documentário ou a dramaturgia do eu. Tanto um como o outro, aliás, são precursores de um (novo?)
gênero que propõe uma apresentação incerta do eu, não mais encerrado em si, mas em construção.
Estamos nos referindo a peças teatrais que, ao eleger uma abordagem híbrida que confunde realidade e
ficção, rompem com um discurso dramático tradicional e levam a autoficção, já bem consolidada em
romances e contos, para os palcos, promovendo uma cena metadramática e intermidiática e evidenciando
o retorno ao real e o retorno do autor nas Artes. Assim, nosso objetivo é demonstrar como a autoficção
cênica na dramaturgia brasileira atual constitui uma modificação formal do drama a partir do
pensamento de teóricos como José Garcia Barrientos (2014), José A. Sánchez (2007), Vera Toro (2010)
e Philippe Weigel (2011).
É irrefutável a importância que o teatro de Gil Vicente representa para a história da literatura dramática
portuguesa. No entanto, pensando nas instâncias que incidem sobre a definição do que é canônico, torna-
se necessário refletir sobre as condições que propiciaram a criação de uma tradição literária denominada
de Escola Vicentina por Teófilo Braga (1898). Nesse sentido, além de levar em conta que entender um
dramaturgo é também entender os seus pares, aqueles com quem ele dialoga, é evidente que não se pode
desvinculá-lo do contexto histórico no qual está inserido. Com base nisso, e em consonância com o
pensamento de José Antônio Saraiva (1981), em Gil Vicente e o fim do teatro medieval, a proposta deste
trabalho se configura como um esforço de projetar luzes na história da literatura portuguesa para
repensar, assim, a afirmação de que a obra de Gil Vicente é uma espécie de resumo de toda uma época.
Para tanto, propõe-se estudar de que modo Simão Machado, poeta e dramaturgo português do século
XVI, se relaciona com a história ao lançar mão de um argumento histórico-épico para compor a sua obra
dentro dos limites do gênero comédia. Dessa maneira, é patente que, na Comédia de Diu, a construção
dos heróis nacionais extrapola os limites da relação entre ficção e história. Isso porque, no contexto de
decadência em que se encontrava Portugal quando a peça foi impressa (1601), a história recuperada
através do texto dramático não é apenas repetida, mas experimentada no “aqui e agora” inerente ao
drama.
Este trabalho visa compreender de que forma a perspectiva crítica emergente no teatro brasileiro da
década de 1960 – constituinte fundamental de movimentos como o Teatro de Arena e o Centro Popular
de Cultura (CPC) – reverberou nas ficções televisivas da década seguinte, imbricando-as com clivagens
socioculturais então em voga. Autores como Bráulio Pedroso, Dias Gomes, Lauro César Muniz e
Oduvaldo Vianna Filho fizeram de seus trabalhos para a televisão a extensão de sua obra teatral,
tematizando a questão da identidade nacional. Sob uma perspectiva transversal às áreas da Teoria
Teatral, Teoria Literária, História Cultural e Comunicação, a partir de vetores diacrônicos e sincrônicos,
analisam-se peças e ficções televisivas (principalmente telenovelas) do período, percebendo de que
maneira essas obras, além de dialogarem entre si, se inscrevem no contexto sociocultural e escrevem
esse contexto sociocultural. Por fim, procura-se apontar o refluxo e alguns desdobramentos dessa
ebulição – observados, por exemplo, na utilização de recursos didáticos e na hibridização entre ficção e
realidade – nas ficções televisivas das décadas subsequentes, chegando-se aos dias de hoje.
A meta deste estudo é valorizar a obra dramática do escritor pernambucano Osman Lins. O autor é
conhecido por sua atividade de inovação no âmbito da narrativa romanesca, todavia seus textos
dramáticos revelam igualmente uma atitude estética consciente de aplicação e subversão das fórmulas
clássicas de composição, sempre em favor do máximo de expressividade. Dentro da pequena, contudo
expressiva produção teatral do autor, optamos por Lisbela e o prisioneiro (1964). A obra tornou-se
bastante popular, sobretudo, em decorrência de uma adaptação realizada para o cinema por Guel Arraes,
em 2003. O filme movimentou os estudos sobre a obra de Lins, em especial trabalhos que se propõe a
comparar a peça e a versão cinematográfica. No entanto, ao percorrer esses estudos comparativos,
sentimos falta de trabalhos que realcem primordialmente a configuração dramática tão minuciosa
manifesta no escrito. Para entender esse arranjo e a eficácia do choque entre os temperamentos,
recorremos a Peter Szondi (2001), Jean-Pierre Ryngaert (2013), Anne Ubersfeld (2013) e Patrice Pavis
(2015). Também levamos em consideração textos de Sandra Nitrini (2003). Segundo Nitrini, a peça
revela a escrita meticulosa de Lins e sua busca pelo modo perfeito de contar, característica recorrente na
obra do autor. Ainda segundo Nitrini, o texto exibe uma espécie de poética do avesso e esse efeito é, em
parte, resultado do modo como o autor configurou o tradicional embate dramático entre as personagens.
O efeito dessa configuração revela a representação de valores libertários, como, por exemplo, o direito
de escolha dos seres humanos, tema formador da dramaturgia moderna, conforme os estudos de Szondi
(2001).
Ariano Suassuna declarava que seu teatro tinha um comprometimento com seu povo, que representava
uma preocupação com a desigualdade social e com a corrupção que assolam o Brasil. O dramaturgo
estabelece em suas peças uma conexão implícita aos seus ideais de justiça e de humanidade. A aparente
simplicidade do enredo, das situações dramáticas, esconde um compromisso com a sociedade nordestina,
mas é preciso ter um olhar atento para perceber que em sua comédia habita uma crítica audaz. Auto da
Compadecida possui um parentesco com gêneros antigos, pois Oscar (1971, p. 09) destaca que é possível
enquadrá-la na “tradição das peças da Alta Idade Média, geralmente designadas como Os Milagres de
nossa Senhora (do Séc. XIV), em uma história, às vezes muito profana, o herói em dificuldades apela
para nossa senhora, que comparece e o salva, tanto no plano espiritual como temporal”. Quanto à forma,
suas peças aproximam-se dos autos de Gil Vicente, bem como do teatro espanhol de Séc. XVII; também
é possível encontrar algo em comum com a comédia dell’arte, tanto no desenvolvimento da ação como
na concepção das personagens. Em Farsa da boa preguiça, o dramaturgo acrescenta que os poetas e os
artistas têm a sorte de poder unir o trabalho escravo com o trabalho criador em uma só atividade, e é isso
que tenta mostrar, através do personagem Joaquim Simão, o poeta “preguiçoso”. Porém, o que Suassuna
explicita no texto é que as desigualdades existem e devem ser combatidas, que essa “preguiça” do
protagonista é um ócio criador, que acaba sendo, de algum modo, um ato subversivo.
437
A expressão “teatro do absurdo” foi cunhada por Martin Esslin (1918-2002) para se referir às obras
teatrais produzidas pós-Segunda Guerra Mundial e se referem ao estado de solidão, desolação e ausência
de comunicação do ser humano na modernidade.O teórico inglês elencou como constituidores do teatro
do absurdo os dramaturgos Eugène Ionesco (1909-1994), nascido na Romênia, mas radicado na França,
o irlandês Samuel Beckett (1906-1989), o russo Arthur Adamov (1908-1970), o inglês Harold Pinter
(1930-1970 e o espanhol Fernando Arrabal (1932), entre outros. São raros os estudos das manifestações
desse teatro na dramaturgia brasileira, o que configura uma estrutura lacunar na historiografia do drama
nacional. Anatol Rosenfeld (1912-1973) foi o primeiro a aliar os dramas de da poeta e dramaturga Hilda
Hilst (1930-2004) ao absurdo, no ensaio “Hilda Hilst: poeta, narradora, dramaturga” (1970). A pesquisa
de doutorado que fundamenta esta comunicação, investigando elementos da tradição moderna de teatro
nos dramas hisltianos, busca elencar elementos que confirmem a filiação da obra hisltiana ao teatro do
absurdo. Essa discussão é relevante para trazer novas claves sobre a literatura de Hilda Hilst e sobre a
literatura dramática brasileira. Há uma desigualdade entre a crítica sobre o teatro e a crítica sobre outros
gêneros da autora, o que parece ser um sintoma do lugar dos estudos sobre teatro na crítica brasileira. O
absurdo presente no drama hilstiano se manifesta pela a incomunicabilidade e imbecilidade de caráter,
descrença, ideológica, estrutura dramática circular, alienação do tempo e subjetividade rasteira de
personagens entregues às circunstâncias.
Este trabalho parte da análise da ópera joco-séria As variedades de Proteu, de Antônio José da Silva, o
Judeu, com olhar detido nas metamorfoses do protagonista e de seu criado, Caranguejo, e das relações
estabelecidas entre as personagens baixas do enredo. Nosso intento é discutir as questões da leitura do
texto dramático e as implicações de sua dupla textualidade, cênica e literária. Tomamos como base a
teoria da carnavalização desenvolvida por Mikhail Bakhtin no livro "A cultura popular na Idade Média e
no Renascimento" (2010), expandida para contemplar a relação texto e cena existente no texto
dramático; assim, pretendemos trazer para o centro da discussão as questões de imaginação e
interpretação das ações que figuram no chamado texto espetacular, na definição de Aurelio González
("Texto y representación en el teatro de Siglo de Oro", 1997). Longe de esgotar tão vasto assunto,
buscamos levantar as questões referentes ao tema da leitura do texto dramático, especialmente daquele
texto escrito e representado em momentos históricos passados.
Este trabalho faz parte da dissertação de mestrado intitulada Formas épicas da dramaturgia da
Companhia do Latão: teoria, história e crítica, fundamentada no conceito do teatro épico-dialético e na
inserção dos traços estilísticos desse teatro ao longo da história da dramaturgia brasileira, ou seja, nos
embates que travou e tem travado com as formas dominantes de representação. Esse estudo específico,
no entanto, se centra, sobretudo, na análise da peça A comédia do trabalho (2000), da Companhia do
Latão, grupo representativo da retomada do teatro épico no contexto brasileiro a partir de 1990. Como as
demais dramaturgias do grupo, esta peça se interessa pelas relações materiais do mundo do trabalho e, ao
retratar um banco prestes a falir, tem como tema a crise do capitalismo financeiro e seus
desdobramentos: as mudanças nas formas de trabalho no século XXI, a falta de empregos, a dificuldade
de articulação da classe trabalhadora e o papel do Estado neste contexto. Este, ao assumir dívidas
privadas e se aliar ao capital estrangeiro, torna-se, nos tempos atuais, uma engrenagem ainda mais
necessária para o funcionamento do sistema de produção de mercadorias. O objetivo deste trabalho, que
tem como foco o objeto literário, é analisar alguns expedientes formais que permitem a amplitude
temática e crítica acima descrita, tais como a dialética entre o cômico e o trágico, a aproximação com o
teatro de revista, e a filiação da peça – pelo emprego da forma da comédia em chave crítica – à uma rica
tradição cômica brasileira que se inicia com Artur Azevedo e encontra ecos, por exemplo, em peças
como O rei da vela, de Oswald de Andrade e Revolução na América do Sul, de Augusto Boal.
A comunicação busca apresentar alguns dos resultados observados ao longo de um projeto de Iniciação
Científica. Nesse recorte, irei analisar a articulação das experiências estéticas e históricas que têm sido
utilizadas pelo grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre. A respeito da estética do grupo, algo que
vale ser notado e que será abordado é: como trabalha um grupo que tem em seus estudos e prática
influências tanto de rituais de Artaud quanto do teatro épico de Brecht. Desde o início da pesquisa, essa
indagação se fez presente, uma vez que é notável nas peças encenadas pelo grupo, tais como O Amargo
Santo da Purificação, Viúvas ou Medeia Eles procuram conciliar uma visão da história benjaminiana
tendência esteticizante significativa, além de eventualmente ritualística em suas encenações. Procurarei,
então, mostrar como se faz possível uma síntese dialética entre Artaud e Brecht, ou seja, como o grupo
consegue trabalhar de forma que o público, em momentos, fique “imerso” na peça, sem perder de vista o
distanciamento que permite a crítica desse mesmo mergulho. Vale ressaltar que chamou a atenção, desde
o início da pesquisa, o engajamento político do grupo, o qual, iniciou em 1978, durante a ditadura. O Ói
Nóis conseguiu desenvolver um trabalho estético notável sem perder de vista a dimensão política e social
que a arte possui. Procurarei aprofundar essas questões não só por meio de exposição oral mas, também,
por meio da discussão de excertos de encenações do grupo, como por exemplo das peças mencionadas.
Este trabalho tem como objetivo o estudo crítico da peça O deus da fortuna (2011), do Coletivo de teatro
Alfenim. O grupo paraibano, em busca de uma nova estética do fazer teatral, visando dar voz a
conteúdos que não se enquadram – por serem de cunho histórico e social – na forma dramática
tradicional, encontra no teatro de organização coletiva e na forma épica a articulação necessária para dar
expressão a eles, filiando-se a uma linha brasileira de teatro épico. Portanto, faz-se necessário, além da
análise da peça, traçar brevemente uma linha histórica sobre a dramaturgia dos anos 50-70 e dos 90 em
diante, abordando os pressupostos teóricos do teatro de Bertolt Brecht que fundamenta essas expressões
estéticas. Além disso, teremos como ponto de partida algumas cenas expressivas de outras peças do
Coletivo, Como Quebra-quilos (2007) e Milagre brasileiro (2010), objetivando entender de que modo os
recursos épicos presentes nas peças constituem o método dialético de trabalho característico do grupo.
Pelo fato de seu engajamento e da forma com que trabalha as contradições históricas do país, o grupo
torna-se significativo no contexto atual do teatro brasileiro frente a uma época de despolitização do fazer
artístico.
Exsilium, Exílio, Desterro, Estrangeiro, Inexistir, O Outro… Para sempre longe, um povo mantém os
laços com aquilo que um dia foi deixado para trás. Esta comunicação falará sobre o paradoxo de existir
no vazio; discutirá sobre como a inexistência de determinadas possibilidades e a violação de direitos
básicos acabaram por fazer milhares de pessoas a trilharem há quase quarenta anos pelos descaminhos
do desterro. Escrito por Erika Cunha, Norberto Pessoa e Alice Possani, Exilius é um espetáculo do
Grupo Matula Teatro, de Campinas. Nele, parafraseando Edward Said (2003), uma mulher saharaui
apresenta-se ao público como um ser em estado de descontinuidade permanente. Uma mulher sem
identidade que vocifera singularidades a fim de não deixar que as memórias de seu povo caiam no
esquecimento. Nossa intenção maior é deslindar este tipo de dramaturgia que oscila entre o fato histórico
e a experiência mítica. Ao entendermos a relação de exceção vivida pelos saharauis como uma relação
de abandono do nómos, explanaremos deleuzeamente determinados percursos de territorialização e
desterritorialização na criação dramatúrgica do Grupo Matula. Esperamos, assim, apresentar o projeto
Exilius como exemplo de uma de dramaturgia nacional que apresenta, por um lado, significativo diálogo
com a história dos direitos humanos; por outro, com relevantes questões de seu próprio tempo.
UMA COMÉDIA SOMBRIA DOS DIAS ATUAIS: MEDIDA POR MEDIDA DE WILLIAM
SHAKESPEARE E O CONTEXTO POLÍTICO BRASILEIRO CONTEMPORÂNEO
O dramaturgo William Shakespeare (1564-1616), a partir da proximidade com seu contexto sócio-
político, de suas possíveis leituras e influências do período elisabetano e ideais precedentes, como
postula HELIODORA (2005), utilizou questões de poder e do bom e mau governo em diversas de suas
peças, tanto em tragédias, quanto nos dramas históricos, mas, também, fez o tema presente em uma de
suas comédias sombrias, “Medida por Medida”. Não em favor de adiantar quaisquer discussões que
possam ser atuais acerca de questões de poder, o bardo fez presente na referida peça de 1603 (1604)
querelas que envolvem um ladrão julgando outro ladrão; a força da palavra de um ocupante de cargo
público frente à palavra de outros “abaixo” dessa condição; substituições de funcionários e
representantes oficiais de acordo com os interesses do governo vigente, não sendo, porém, em seu
desfavor; a validade e, até, desrespeito a leis vigentes por um período muito longo de tempo –
desatualizadas talvez. Porém, tais questões, como numa atualização da peça, parecem ocorrer na política
brasileira em desdobramentos do ano de 2016, sendo objetivo do presente trabalho tentar mostrar como a
arte produzida pelo bardo – mas não somente ela – continua a se relacionar, se reinventar e a questionar
verdades e interesses que permeiam os gestos e ações dos atores políticos.
Este texto tem como propósito refletir sobre o realismo grotesco e os possíveis diálogos entre as obras
Gargantua e Pantagruel (séc. XVI), de François Rabelais, e O Berço do Herói (1964), Saramandaia
(1976), Sucupira, ame-a ou deixe-a (1982), de Dias Gomes. Interessa analisar a presença da farsa, do
realismo grotesco e do riso carnavalesco e ambivalente e suas relações na criação de personagens, temas
e situações pelo dramaturgo brasileiro, refletir em que medida as personagens criadas por Dias Gomes
dialogam com a obra de Rabelais. Tem-se como base teórica os estudos de M. Bakhtin (1996), E.
Auerbach (2013), V. Hugo (2009), G. Minois (2003), H. Bergson (2001), L. Hutcheon (1985), entre
outros. O estudo ancora-se na perspectiva dos estudos comparados e pretende abordar, nesta
comunicação, o estilo da escrita literária que aproxima os autores, ainda que em distintas temporalidades
e espaços de produção, ao revelar em ambos uma visão cômica de mundo.
Gil Vicente é considerado, embora muitos contestem, o “pai” do Teatro Português. Para Stephen Reckert
(1983, p.15), ele foi o maior dramaturgo que surgiu na Europa seiscentista: “um poeta lírico sem igual na
sua própria língua entre el-rei D. Dinis e Camões, ou na Castelhana antes de Garcilasso”. O poeta deu
vida a personagens simples de seu tempo, como parvos, camponeses, criados, velhas, pastores, ciganos,
escudeiros etc; a membros da mais alta nobreza (reis, rainhas, príncipes, duques, duquezas); a
representantes da Igreja Cristã (padres, frades, bispos, papas etc); seres fantásticos como fadas; a deuses
mitológicos (Júpiter, Vênus, Juno, Cupido, Apolo etc); outros seres alegóricos como a Fé, Virtude,
Fama, Morte, Justiça, Injustiça etc; Seres Celestiais (Deus, Anjos, Serafins, Arcanjos, Jesus Cristo, a
Virgem, Santos, etc); seres infernais (o Diabo e seus demônios); personagens ímpares e estórias que
representaram Gil Vicente e sua época; repletas de tradição e modernidade; complexas no conteúdo e na
forma. No que se refere a Ariano Suassuna, para Geraldo de Costa Matos (1998), A riqueza de
personagens, ações, temas e referências de todo um universo cultural popular do autor paraibano, advém
de povos distantes como os europeus do mediterrâneo, principalmente os gregos, os italianos e os
ibéricos. Diante de uma produção tão vasta, com temas variados, sobretudo o teatral, podemos perceber
que é marcante a presença de elementos do medievo na obra do autor, principalmente, de Gil Vicente.
Sendo assim, nosso trabalho tem por objetivo investigar as influências do teatro vicentino no de Ariano
Suassuna, em especial, o Auto da Compadecida.
José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo, antes mesmo de aclamados dramaturgos contemporâneos,
compunha em sua obra o mais puro nonsense sobre a possibilidade de ir além das convenções do
discurso cotidiano e comunicar autenticamente. Antonin Artaud defende que o Teatro da Crueldade
representa a crueldade original do mundo e diversas manifestações do mal em ação; a cena permite
identificar, cristalizar, concentrar esta crueldade fundamental em um rito sacrificial para se libertar. Esse
teatro vai além de um jogo de estética. Artaud (1984: 114) acredita que não se faz um bom teatro sem a
violência dos sentimentos humanos: sem um elemento de crueldade na base de todo espetáculo, o teatro
não é possível. Há uma determinada pulsão do teatro de Qorpo-Santo para a cena, a teatralidade de suas
peças é evidente já no ato da leitura. Ao utilizar os princípios do Teatro da Crueldade para analisar as
peças de Qorpo-Santo, foco maior será dado na performatividade delas, voltada para a recuperação do
sentido do ritual, cru, primitivo, essencial, básico do fazer teatro e do homem desnudo, como defende
Artaud. O presente trabalho tem por finalidade expor o tema que será desenvolvido na composição da
minha dissertação de Mestrado no Programa de Pós-graduação em Letras e Estudos Literários da
Universidade Estadual de Londrina, segundo o seu objetivo principal: dissertar sobre as convergências
literárias e temáticas das peças teatrais do Qorpo-Santo com as características do Teatro da Crueldade de
Antonin Artaud.
A pesquisa em questão tem como objetos de estudo as peças Eurydice (1942) e Cher Antoine ou
l’Amour raté (1969), ambas de Anouilh, e o filme Vous n’avez encore rien vu (2012), de Alain Resnais.
Para a concepção do filme o cineasta se volta para o trabalho de Anouilh, se apropriando de suas peças e
levando-as para a narrativa fílmica. A peça Eurydice é encenada dentro de seu filme e Cher Antoine ou
l’Amour raté vem como argumento para Vous n’avez encore rien vu. Além de se apropriar das peças,
Resnais também trabalha com a poética dramatúrgica anouilhana, assim, por meio de um processo de
intermedialidade, o cineasta insere no filme elementos próprios da dramaturgia de Anouilh, obtendo
como efeito a teatralidade no cinema. Tendo em vista que o presente simpósio tem como pauta o estudo
do teatro no âmbito literário, a presente pesquisa se propõe a analisar as especificidades da dramaturgia
anouilhana nas peças citadas, bem como sua relação com o filme de Resnais. Nesse sentido, temos por
objetivo compreender como a relação entre o texto dramático e o cinema colaboram para o estudo dessas
diferentes mídias.
Inicialmente, para os gregos, o termo ethos abrangia a designação de “ethé”, que significava uma
construção feita pelo falante no momento de seu pronunciamento, de sua própria imagem, imagem cujo
destino seria garantir o êxito de seu ato de fala. Hoje o estudo do ethos, exceto pelos trabalhos realizados
por Dominique Maingueneau, está praticamente ausente das atuais pesquisas linguísticas e cada vez mais
afastado dos estudos literários. O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa de Mestrado e
apresentará a união possível entre a análise do discurso, pautada nos estudos de Maingueneau e alguns
textos teatrais de autoria do poeta italiano Gabriele D’Annunzio (1863-1938). Neste estudo, foi
verificada a presença de um ethos dannunziano em sua produção teatral levando o poeta ao que hoje
entendemos na Literatura Italiana por dannunzianesimo. Gabriele D’Annunzio é um poeta Vate e seus
textos refletem suas escolhas e afinidades sociais e literárias, deixando claro em sua poética a razão pela
qual se tornou um ícone para os poetas decadentistas da época.
O objetivo desta comunicação é apresentar uma leitura crítica-filosófica da peça "AS MASSAS E O
HOMEM" (1983) de Ernst Toller (1893-1939), tendo como parâmetro de análise o conceito de "Autor
como produtor" (2012) de Walter Benjamin (1892-1940). Para proceder à análise da peça a partir do
conceito benjaminiano faz-se necessário compreender o Expressionismo como uma estética
revolucionária, consequentemente antiburguesa. Para exemplificar o caráter revolucionário de parte
significativa dos expressionistas alemães, tanto na estética formal quanto no conteúdo político, destaca-
se o escritor Ernst Toller, propagandista pela saída da Alemanha da Primeira Guerra, logo depois
membro dirigente do conselho político da Baviera. Segundo Isabel Loureiro, em sua obra A revolução
Alemã (2005), Toller foi gradativamente se envolvendo na luta política, até chegar a sua prisão
condenado a vinte anos de reclusão pelo crime de “alta traição”. Foi neste ambiente de encarceramento
que o projeto estético da peça "AS MASSAS E O HOMEM" surge buscando uma síntese dialética do
devaneio do sonho, o delírio da febre e da realidade social vivenciada pelo dramaturgo, quando estava na
prisão no ano de 1921. Este projeto estético, como afirma no prefácio da peça, é endereçado à classe
trabalhadora como uma “arte proletária”. Como procedimento teórico-metodológico a análise da peça
terá como suporte crítico os estudos de BENJAMIN (2012), CARPEAUX (1994), GUINSBURG (2002),
LOUREIRO (2005), TOLLER (2015), SZONDI (2001), ROSENFELD (1968).
Luigi Pirandello (1867-1936) é um dramaturgo moderno que vem resistindo à passagem dos anos. As
ideias do autor, principalmente os questionamentos do drama e da arte teatral como tema central de suas
peças, reverberam no teatro contemporâneo. Na presente comunicação será analisada a peça Esta noite
se representa de improviso (1929-1930) e o modo como as questões temáticas levantadas por Pirandello
em sua dramaturgia, como os limites entre realidade e ficção, são colocadas em questão não apenas no
enredo, mas também pelas indicações cênicas podemos pensar que o assunto tratado ganha forma, não só
textual, mas espetacular. Pirandello, ao colocar em discussão em sua dramaturgia debates como a relação
autor-ator-encenador, provoca mudanças também na cena, mudando seu olhar de dramaturgo em relação
à importância do teatro para a obra escrita e do trabalho do ator para a encenação. Ao analisar sua
dramaturgia com um novo olhar, é possível realizar uma nova leitura de sua obra dramatúrgica, pois o
autor anuncia conteúdos que servem de base para a revolução formal do teatro contemporâneo, tais
como: a relação do espectador com o espetáculo, afirmando ser possível outro relacionamento com o
público no grande jogo teatral; desejo de engajar o espectador na realização dramática; implosão do
espaço da representação (extravasamento do palco italiano); desnudamento do fazer teatral.
O teatro, uma das principais manifestações literárias e artísticas da Irlanda, exerceu um papel importante
na relação entre a literatura e a história nacionais, contribuindo para a incorporação e assimilação da
identidade irlandesa. Sobretudo no início do século XX ocorreu uma acentuação do debate em torno de
uma identidade autenticamente irlandesa em sincronia com a intensificação da cultura nacional
promovida, em especial, por meio de manifestações literárias. O encontro desses dois fenômenos fez
com que o nacionalismo cravasse suas marcas na identidade irlandesa. A identidade feminina, da mesma
forma, não ficou imune aos efeitos dessa influência nacionalista. Os padrões comportamentais da mulher
irlandesa desse período sofreram variações diante desse contexto nacional, o que pode ser observado
como uma alteração de identidade devido à interseção do nacionalismo no gênero feminino. Sean
O’Casey, dramaturgo irlandês, pôde, em suas produções apresentadas no Abbey Theatre, ilustrar como
uma produção artística exerce impacto, não só na forma como representa a questão nacional para uma
sociedade, mas também ao levar para os palcos personagens femininas destoantes do estereótipo
feminino nacionalista. Em suas três primeiras produções no palco do Abbey Theatre, The Shadow of a
Gunman (1923), Juno and the Paycock (1924) e The Plough and the Stars (1926), O’Casey retratou
pessoas comuns que tiveram suas vidas, bem como suas identidades, alteradas por ideais nacionalistas
durante o processo da independência irlandesa. Essas três peças nos oferecem um excelente material para
análise do comportamento feminino, possibilitando averiguar uma desestruturação da tradicional figura
feminina.
Ellida Wangel é a personagem que dá título A dama do mar, peça de autoria de Ibsen, publicada em
1888. Segunda esposa do Dr. Wangel, médico de uma estação balneária na costa da Noruega, aguarda
por anos o retorno de uma personagem, designada estrangeiro, com quem manteve intensa relação
amorosa. A volta do estrangeiro abre intenso debate – revelado pelo diálogo ora travado entre Ellida e
seu marido, ora entre Ellida e o estrangeiro, ora entre Ellida, o estrangeiro e o dr. Wangel – sobre a
liberdade pessoal da dama do mar cujo ethos, pelos olhos do dr. Wangel no segundo ato, é o de esposa
de “alma reta” e “coração fiel”. Seja no casamento, seja nas relações sociais ou de afetividade e
sexualidade, Ellida confronta – mas não afronta – o dr. Wangel com a possibilidade de colocar um ponto
final no matrimônio a fim de se dedicar ao antigo amor. Segundo Patrice Pavis, citado por Renata
Pallottini em Dramaturgia: a construção da personagem (2013, p. 113), o conflito, contido e mostrado ao
longo da ação, “pode ter sido produzido antes do início da peça: a ação é apenas a demonstração
analítica do passado”. O passado, gradativamente revelado nos diálogos por meio da análise actancial
sugerida por Anne Ubersfeld em Para ler o teatro (2005, p.34), gera uma sintaxe da narrativa teatral por
meio da qual identificam-se os conflitos. Os conflitos permitem assimilar a modalização do ethos de
Ellida e de seu exercício de liberdade, erigidos pela reversão, intercâmbio entre as posições de sujeito e
de objeto, garantindo-se ao sujeito, nas palavras de Ubersfeld (2005, p. 50), sua instalação na autonomia
e no “triunfo de seu desejo”.
445
Ancorado nas contribuições de Pallottini (1989), Magaldi (1998), Ryngaert (1996, 1998), Pavis (1999) e
Ubersfeld (2005) acerca das noções que constituem o discurso teatral; nos estudos de Mignolo (2003),
Beverley (2004), Spivak (2010), sobre o conceito de subalternidade; nos pressupostos teóricos de Lins
(1990), Arendt (2010) e Ginzburg (2012) no que se refere ao conceito de violência; e nas reflexões de
Louro (1997), Moro (2001), Lipovetsky (2000, 2004) e Moita Lopes (2002) sobre a configuração do
gênero feminino, o objetivo deste trabalho é demonstrar a existência de invariantes que estruturam o
projeto estético-social do dramaturgo Plínio Marcos na peça Signo da discoteque (1979). Por meio da
análise e interpretação de contornos identitários, sociais, ideológicos e histórico-culturais delineados na
obra, é possível estabelecer relações entre as marcas discursivas inscritas nas falas das personagens e a
ideologia do seu criador; observando as influências do meio em que vivem, assim como abordar
questões de gênero, identidade e representações sociais na produção teatral. Além disso, constata-se que
ficam latentes as contradições entre o “poder” e o “não poder”; entre as aspirações e as frustrações
individuais em decorrência da situação histórico-social das personas, uma vez que a subalternidade
torna-se fator preponderante para a compreensão do estado de inadaptação dos protagonistas, instaurado
pela sociedade do consumo. A obra congrega fatores que desnudam a condição da mulher neste status
quo.
Esta pesquisa teve por objetivo analisar a representação das mulheres na dramaturgia de Jorge Andrade
pela mediação entre a estética e o processo social, por meio do materialismo dialético e buscando a
articulação com autoras que discutem gênero. Tendo como referência o ciclo das peças Marta, a Árvore
e o Relógio, de autoria do dramaturgo, investigaram-se as relações de gênero que permeiam o teatro e a
sociedade, em especial em A moratória e em As confrarias, tecendo assim, algumas considerações a
respeito do papel da mulher nessas obras, a fim de compreender como este pode ser um forte
modificador social na atualidade por meio do teatro. Não se trata de uma forma definida, mas perceber
como essas personagens dialogam com o plano social, além de discutir porque é relevante, encenar esse
tipo de teatro, pensar sobre ele e sobre essas relações de gênero tão evidentes em sua época e talvez
ainda presentes nos dias de hoje. Adotando a perspectiva de que a Arte pode ter caráter formador,
fizemos um estudo do teatro brasileiro dos anos 1950 a 1970, buscando compreender como se deu a
recepção crítica e o desenvolvimento do teatro épico-dialético no Brasil no mesmo período.
Este trabalho investiga algumas estruturas imaginativas da Bíblia. Northrop Frye, na obra O Código dos
Códigos: a Bíblia e a Literatura (2004), ofereceu bases significativas para uma aproximação da Bíblia
que alarga o entendimento, não só de uma estética do texto, mas do universo das personagens. Com isso,
é possível entender que a estrutura imaginativa da Bíblia povoa o universo mitológico e cultural do
Ocidente desde muito tempo. Tais escritos bíblicos, contudo, são claramente rebeldes a esse gênero em
razão das mitologias vizinhas (Egito e Mesopotâmia ou antigo Oriente Próximo), cujos cultos eram
politeístas. Mesmo assim, é inegável que alguns relatos estejam ligados ao seu entorno numa relação de
dependência e analogia, qual seja, seu conteúdo cultural, literário e teológico. Essas narrativas épicas
evocavam uma repetição ritual que contrastava com a liberdade humana e seus sucessos na história,
demonstrando como o narrador hebreu, a uma só vez, rompe com a noção pagã inflexível e ganha
inúmeros recursos para narrar a própria história, que é marcadamente antropológica e, portanto,
carregada de contradições. Outrossim, Gn 1-11 não trata de fatos isolados que ocorreram numa época
remota, mas de textos que - apoiando-se em imagens, símbolos e temas das mitologias vizinhas -
interpretam a Deus, o mundo e o ser humano com perspectivas muito peculiares, levantando problemas
que estão além das ciências naturais.
O presente texto busca investigar a recepção dos filósofos pré-socráticos na obra Ardinghello und die
glückseligen Inseln (1787), de Friedrich Wilhelm Heinse no intuito de compreender de que forma a
inserção no corpo romanesco das teses dos filósofos antigos possibilitou ao autor a construção tanto de
uma critica ao modelo filosófico racionalista cartesiano e espinosano quanto a proposição de um modelo
poético-estético que, em resposta a esse movimento de compreensão filosófica, pudesse dar sentido ao
fazer artístico-literário, o que serviu de base para um movimento de valorização do papel da literatura na
formação do homem moderno por recurso à construção de uma nova mitologia, tese defendida por
Hölderlin, Schelling e Hegel no texto conhecido como ‘o mais antigo programa sistemático do Idealismo
Alemão’ (1796/97). Em anteposição ao modelo de conhecimento centrado numa racionalidade que
desprezou os dados advindos dos sentidos em nome da segurança dada pela clareza e distinção às
certezas abstratas, Heinse defende no Ardinghello que o conhecimento artístico deve fundar-se no
‘prazer’ e na ‘percepção estética’ e aposta, assim, na revitalização do papel dos sentidos e na
revalorização da construção do conhecimento estético pelo contato com os objetos do mundo como
meios de alcançar seu objetivo. No confronto com a pesquisa especializada, em especial, com Henrich
(1999) e Schipper-Hönicke (2003) que defendem uma interpretação espinosista do romance, busca-se
defender aqui que o retorno de Heinse à filosofia primeira dos pré-socráticos não só não se conaduna
com aparato técnico tanto do racionalismo espinosano quanto cartesiano como foi por ele
veementemente criticado.
447
O manuscrito 2998 da sala de reservados da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra contém 104
romances atribuídos ao poeta Antônio da Fonseca Soares (1631 – 1682). Adequando-se a uma elocução
mais baixa, os poemas apresentam um caráter “vulgar”, explorando gêneros e tipologias textuais como a
epístola, a poesia erótica e sátira. A literatura clássica é uma das tradições que informa esse conjunto de
poemas. Em um esforço de examinar o artefato literário em sua materialidade, este exame de suas
referências clássicas será feito à luz de inovações teóricas nos estudos filológicos, procurando extrair
significados de elementos textuais e paratextuais. Dessa maneira, procuraremos esclarecer o contexto de
produção e recepção de tal obra, com intenção de recriar para o leitor moderno protocolos de leitura que
iluminem a compreensão da poesia seiscentista portuguesa, assim como seu uso da mitologia. Tal
recurso à materialidade procurará reestabelecer tal poesia tanto crítica quanto historicamente, com a
finalidade de superar críticas de natureza anacrônica como “frivolidade”, “excesso de ornamentação”,
além de preservar o patrimônio cultural da literatura de língua portuguesa, que, no caso, corre risco de
destruição em bibliotecas e arquivos do Brasil e Portugal.
Dois dos estudos mais recentes acerca da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha como de Kunst (2012) e
de Pontes (2014), ressaltam a potencialidade mítica atribuída ao sertanejo. Essa atribuição ao sertanejo
está atrelada, para os autores, às características típicas do herói-guerreiro que teriam permitido sua
adaptação e sobrevivência ao meio bárbaro e hostil. Essas alusões expressam a função de resistência do
sertanejo aos projetos de modernização da República brasileira ocorrida durante o massacre de Canudos
(1987). Para Euclides, havia um elemento paradoxal no modelo civilizador sutilmente disfarçados sobre
a cândida boa-fé humanitária que não promoveu a emancipação do sertanejo da pobreza através do
progresso científico, mas resultou no massacre de Canudos para salvaguardar a República. O objetivo do
trabalho é explorar o elemento paradoxal nos conceitos de Modernidade e de Civilização na obra
euclidiana, a partir da potencialidade mítica, intrínseca ao processo civilização e barbárie. Propõe-se,
então, uma discussão a luz da Dialética do Esclarecimento (1985), de Adorno e Horkheimer, que aponta
os desmandos do projeto de emancipação da sociedade ocidental, centrado na racionalidade. A discussão
revisita alguns estudos da fortuna crítica euclidiana como Rama (1985), Sevcenko (1989), Bernucci
(1995), Costa Lima (1997) e Melo e Sousa (2009). Assim como, algumas contribuirdes teóricas sobre
Adorno como Bahia (2004), Duarte (2002, 2009) e Tiburi (2009), dentre outros estudiosos.
Na modernidade, os estudos de crítica literária apontam para uma relação primordial entre mito e
literatura. A teoria arquetípica de Frye (1973) baseia-se na análise da narrativa literária como um
movimento cíclico. Esse processo tende a imitar as ações humanas, realizando um retorno às origens, aos
mitos e aos ritos que serão constantemente retomados na literatura. Motta (2006) destaca que a
circularidade da narrativa empreende um percurso de retorno às fontes matriciais da tradição, buscando a
infância perdida da semente mítica e o protótipo do código de convenções do seu sistema de
representação. Mito e rito constituem-se, assim, o embrião temático da narrativa ficcional. No dizer de
Gusdorf (1986), é pelo rito que o homem se associa ao mito, podendo usufruir das forças e energias que
brotaram nas origens, de forma a transcender a realidade vivida e incorporar-se ao sagrado. Partindo
desses princípios, percebemos na obra de Guimarães Rosa uma narrativa permeada por elementos
míticos e ritualísticos, especialmente, no romance Grande sertão: Veredas, considerado por Nunes
(1997) “um romance mitomórfico, escrito na perspectiva do mito”. Sendo assim, o presente trabalho tem
como objetivo destacar como o rito e o mito contribuem para a particularização da obra de Rosa, além de
salientar a temática da travessia, sempre recorrente nos textos do autor, como metáfora da vida.
Atravessar. Eis o grande desafio das personagens de Rosa, eis o desafio da humanidade.
Ao privilegiarmos o estudo traduções: Bere’shith (1993) e Qohélet = O-que-sabe (1990), que se referem,
respectivamente, aos livros do “Gênesis” e do “Eclesiastes” da Bíblia Sagrada (1990), em conjunto com
o III canto de A máquina do mundo repensada (2000), nossa tentativa é analisar uma outra direção
tomada pelo projeto poético haroldiano, influenciado por uma tradição religiosa de modo comprovar
que, apesar de representar, em seus poemas, um eu-lírico agnóstico, Haroldo elege o texto bíblico na
construção de seu paideuma, apropriando-se tanto da simbologia como da linguagem religiosa, à
semelhança do que fez em outros poemas e transcriações, nas quais absorveu as influências da tradição
literária. Dessa maneira, a partir da leitura de Bere'shit, que retrata o mito da origem, observamos que o
poeta Haroldo de Campos parece criar um "mito poético" do qual ele se apropria como uma "religião", a
fim de enaltecer o lugar da poesia. Tal "religião" em nada se aproxima do conceito ao qual estamos
habituados, pois, a nosso ver, a força superior que alimenta a fé haroldiana é, unicamente, a poesia. Em
suas transcriações, o poeta transgride os limites do texto religioso, transformando-o; é a transcendência
poético-criativa que o impele. Pode-se não crer em nada, ou crer-se em tudo, mas crê-se, acima de tudo,
na excelência da linguagem poética.
A relação que se institui entre o indivíduo e o mundo não é direta, e sim mediada por uma dimensão
simbólica. O símbolo tem, pois, a função transcendental de permitir ir além do mundo material objetivo.
Devido à dimensão da ambiguidade, o símbolo está sob constante processo de reequilíbrio, tais como o
equilíbrio vital, o equilíbrio psicossocial e o equilíbrio antropológico. Toda estrutura elabora-se no texto
da cultura e, por inclusão, no âmbito das artes e, especialmente, na literatura. A poesia, por usa vez, cria
uma retórica da imagem simbólica e reabilita a dimensão dos arquétipos, apontando a força e atualidade
dos mitos. A lírica de Dora Mariana Ribeiro Ferreira da Silva, poetisa, ensaísta e tradutora, é exemplo
dessa verve poética em que a ambivalência do símbolo, seu significado ao mesmo tempo “concreto” e
“transcendente”, brota de uma nascente irisada por arquétipos. Esta comunicação intenciona lançar um
olhar sobre a obra Retratos da origem (1988), considerando-a a partir de três imagens simbólicas
estruturantes do imaginário na obra, quais sejam, a porta, as conchas e a floresta. Em Dora, o símbolo
não é mediação primeira entre sujeito e coisa concreta, mas entre o sujeito e o transcendente. Em sua
poesia, o símbolo promove a manifestação do sagrado. Sagrado não como testemunho deliberado de
adesão a uma confissão religiosa, mas a uma natural disposição de sensibilidade sobre a realidade, um
espaço aberto à hierofania. No domínio de sua obra, esta presença do sagrado não deve ser entendia no
sentido restrito de manifestação direta do divino, e sim no sentido mais amplo de ânsia de transcendência
do Eu rumo ao arquétipo e ao mito.
Em 2012, Daniel Galera publica Barba ensopada de sangue, romance que narra história de um jovem
atleta porto-alegrense que decide esclarecer um mistério familiar: o assassinato de seu avô em uma
pequena cidade do litoral de Santa Catarina, um enigma que todos parecem tentar dissuadí-lo. Nessa
incursão de auto-isolamento e de busca por desvendar um incômodo segredo, em que o protagonista é
levado a defrontar-se com sua identidade, suas desilusões e com assuntos que deveriam permanecer
incógnitos, reconhece-se uma analogia do mito de Orfeu, filho do deus Apolo (ou de Eagro) e da musa
Calíope: pastor e poeta, transtornado pela morte da esposa Euridice, desce até mundo inferior para, com
o encantamento de sua lira, convencer os governantes do Hades a permitirem-lhe trazer a amada de volta
à vida, ao que é atendido desde que, para tanto, respeitasse uma única regra: não olhar para trás. A partir
da mitocrítica, modelo interpretativo proposto pelo antropólogo e estudioso do imaginário Gilbert
Durand, este trabalho procurará evidenciar as manifestações do mito de Orfeu como narrativa
fundamentadora do romance de Daniel Galera.
Afastando-se ao longo dos séculos das ciências, da história e da filosofia, o mito termina por encontrar
abrigo nas manifestações artísticas, entre eles, na literatura. É nela que o mito encontra uma forma de se
preservar. É evidente que o mito chega ao século XXI com inquestionáveis alterações e transformações,
e por essa razão, faz-se necessário compreender a sua trajetória desde a antiguidade até os tempos
modernos. Mielietinsky em A poética do mito (1987) afirma que a literatura está geneticamente
relacionada com a mitologia. A relação primordial entre mito e literatura é explorada desde a
modernidade e trazida à tona por estudos como o de Frye (1973) e Motta (2006), entre outros. Este
aspecto se torna interessante ao pensarmos que, na dramaturgia africana, o caráter originário do mito,
que se refere à possibilidade de repetir o ato criador quando necessário, faz-se também evidente devido
às características próprias do gênero teatral e também devido a características próprias da cultura
africana, preservadas até a atualidade, como o apreço ao rito e ao sagrado. Portanto, pensando na relação
do mito com a linguagem e com o teatro, este trabalho se propõe a refletir sobre as peças de temática
tradicional do angolano José Mena Abrantes, especialmente Nadyala ou a Tirania dos monstros (2013,)
com o objetivo de compreender em que medida o mito se faz presente no drama, seja em símbolos,
imagens ou na existência de sentimentos que transcendem sobremaneira a consciência lógica e que
terminam por trazer a tona um tema cujo fulcro é a reflexão sobre a existência humana no mundo.
Esta pesquisa da área de Análise e Crítica Literária, subárea de Literatura Portuguesa Contemporânea,
investiga a desconstrução do mito sobre a figura divina de Jesus Cristo e sua respectiva ressignificação,
observadas no romance contemporâneo O evangelho segundo Jesus Cristo (1991), do escritor português
José Saramago, em que nota-se um Jesus humanizado por meio da linguagem, que, por sua vez, também
é a responsável pela construção de um novo mito. Ainda, analisa-se o emprego em terceira pessoa,
narrador heterodiegético e o uso do discurso indireto livre nessa obra de discurso mítico, em que tais
características se fazem presentes, e a contribuição desses recursos para essa desconstrução da
personagem. Para isso, esse estudo utiliza como suporte teórico conceitos da Psicanálise Freudiana, da
Filosofia e da Semiótica, abordando os trabalhos de Sigmund Freud (2014), de Mircea Eliade (2013), de
Ernst Cassirer (2013) e de Roland Barthes (2010) para compreender o sujeito e a sua relação com o mito
e com a linguagem, implicando a expressão do mítico proporcionada pelo homem no uso de língua e
linguagem e, consequentemente, na construção de signos. Dessa forma, relacionando o mítico à
Literatura, o trabalho identifica as inúmeras possibilidades literárias de usufruir-se do mito para desfazê-
lo e, concomitantemente, proporcionar a ele diversos significados, reconstruindo-o sob uma nova
perspectiva. Destarte, a pesquisa verifica essa desconstrução do mito e constata a construção de uma
personagem ficcional, o que implica vital relevância para o enredo, além de evidenciar o papel da arte na
representação do real e, mais uma vez, destacar a associação entre o mítico e o literário.
O trabalho em questão visa realizar uma leitura comparada das obras D. Juan de los manjares (2012), do
autor costarriquenho Rafael Ángel Herra e A mulher que venceu Don Juan (2013), da escritora
portuguesa Teresa Martins Marques, analisando todos os elementos concernentes ao Mito Literário de
Don Juan, enfocando as relações de alteridade presentes em ambas as obras. Assim, pretende-se elucidar
o sentido do donjuanismo nelas, construído a partir da revisitação contemporânea ao mito universal do
sedutor, a fim de discutir as relações de gênero suscitadas. Objetiva-se, ainda, enfatizar a presença
marcante do voyeurismo e a importância do simbolismo da comida nos procedimentos de antropofagia
erótica delineados por Rafael Ángel Herra em sua literatura erótica/policial, estabelecendo um paralelo
com o comportamento e estratégias de sedução empregadas pelo Don Juan de Teresa Martins Marques.
Esta última obra é considerada o primeiro romance folhetim português publicado em rede social
(Facebook). Trata-se de uma “revisitação” moderna desse gênero híbrido entre a prosa e a narrativa
criado no início do século XIX e que se constitui em um registro do quotidiano.
Apesar de pouco conhecido no Brasil, Albert Thibaudet é um dos expoentes da crítica literária francesa
da primeira metade do século XX; suas concepções, que no Brasil alimentaram os comentários críticos
de um autor do porte de Sérgio Milliet, por exemplo, justificam a presente comunicação. Esta visa, por
um lado, apresentar Thibaudet e suas ideias críticas e, por outro, evidenciar seu olhar sobre a crítica
literária do século XIX, por meio da análise de algumas de suas “Reflexões sobre a Literatura”, nome da
coluna que manteve na Nouvelle Revue Française de 1912 até sua morte, em 1936, recolhidos, em sua
maioria, no volume Réfléxions sur la littérature (2007), por Antoine Compagnon e Christophe Pradeau.
Em textos sobre as críticas de Jules Lemaître, Charles-Augustin Sainte-Beuve e Hippolyte Taine,
Thibaudet não só expõe suas concepções literárias, como também reflete sobre sua própria atividade
crítica, à luz de ideias de grandes autores que marcaram o século XIX com seus juízos de valor, seus
erros e acertos, iluminando a paisagem literária de seu tempo, o século XIX francês.
René de Castro Thiollier (1884-1968) publicou contos (Senhor Dom Torres, em 1921, e A Louca do
Juqueri, em 1938), estudos histórico-biográficos, ensaios e um romance inacabado, Folheando a Vida,
que, de 1942 a 1950, saiu nas páginas da Revista da Academia Paulista de Letras. Thiollier, filho do
proprietário da Casa Garraux (principal livraria paulistana no último quartel do século XIX), fez, antes
de formar-se em Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, parte de seus estudos em Paris. O
acadêmico paulista participou de dois dos mais significativos acontecimentos de nosso Modernismo: a
Semana de Arte Moderna de 1922 e a famosa “viagem de redescoberta do Brasil” – ao lado de Mário de
Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Paulo Prado e Blaise Cendrars – às cidades históricas
de Minas Gerais em 1924. Pretende-se, nesta comunicação, examinar – do excepcional complexo de
epígrafes com o qual, nas franjas da narrativa, é construída uma teoria da literatura – excertos de
Alphonse Daudet e de Émile Faguet que revelam o quão longa foi a sobrevida da estética real-naturalista
em nossas paragens.
O fim do século XIX francês particularizou-se pelo surgimento das petites revues, a exemplo do Mercure
de France. Tais publicações, oriundas dos agrupamentos simbolistas, se opunham àquelas da grande
presse, como a Revue des Deux Mondes, e aos empreendimentos dos grandes editores da época. A partir
de 1890, o Mercure divulgou textos diversos, entre os quais os de crítica literária. A crítica das petites
revues caracterizou-se pela contestação dos ditames do campo literário, pela valorização do novo e pela
busca da originalidade na literatura. Marguerite Eymery, que adotou o pseudônimo Rachilde, destacou-
se, entre outras colaborações, por manter no Mercure de France a rubrica “Les Romans”, destinada à
divulgação de resenhas de romances publicados naqueles anos. Nesta comunicação, apresentaremos a
análise das resenhas que aparecem entre 1896, primeiro ano de “Les Romans”, e 1898, pontuando o
posicionamento de Rachilde diante dos escritos e dos autores da época – do prestigiado Émile Zola aos
jovens menos conhecidos. Traremos à luz, também, dados da biografia de Rachilde e de sua trajetória
literária e na imprensa do fin-de-siècle. Consideraremos, ainda, aspectos das sociabilidades entre
escritores e colaboradores das petites revues, que se refletiram na crítica literária que figurava nas
páginas desses periódicos.
Rubem Fonseca é um autor cuja faceta mais conhecida é a da violência, sendo essa uma marca da sua
narrativa. Contudo, em uma vasta produção na qual há textos de diferentes gêneros, é possível perceber
outras que possibilitam outras maneiras de leitura da obra do autor. Uma dessas marcas é a
intertextualidade presente de maneira recorrente que, embora, exerça diferentes funções dependendo do
texto, podemos considerar parte do processo criador do autor. No romance Bufo & Spallanzani (1985), a
relação intertextual se apresenta de diferentes modos, tendo uma ênfase com a literatura francesa do
século XIX, o que pode ser percebido pelo protagonista que declara ter escolhido seu nome, Gustavo
Flávio, em homenagem ao autor francês Gustave Flaubert. A presença da literatura francesa no romance,
no entanto, não se limita ao autor de Madame Bovary; ainda há a presença de outros autores do cânone
literário francês do século XIX, Victor Hugo e Baudelaire. É a relação intertextual entre os últimos e o
romance que o presente trabalho busca analisar, tendo em vista que a obra dos autores em questão e o
gênero policial podem, em um primeiro momento, parecer incomunicável. Far-se-á esta analise à luz do
conceito de intertextualidade de Samouylt (2008), para quem a intertextualidade é capaz de trazer a
biblioteca do escritor, e de Perrone-Moysés (2006) para quem comparar é vermos as semelhanças e,
também, as diferenças. Desse modo, o presente trabalho visa uma maior compreensão de como essa
relação intertextual modifica a perspectiva do romance.
Conhecido pelas narrativas fantásticas que dão mais ênfase ao questionamento das impressões de
realidade vivenciadas pelos seus personagens, normalmente desenvolvidas a partir de estados alterados
de consciência, Jean Lorrain pode ser considerado, juntamente com Marcel Schwob ou Henri de
Régnier, um dos precursores do fantástico moderno em língua francesa, o qual, a partir do século XX, irá
se pautar na impossibilidade de definir se uma experiência sensorial resulta da rara condição de “ver
além” das aparências ou se o personagem se encontra incapaz de lidar com seus próprios sentidos.
Diante de um contexto histórico e social complexo e contraditório, a esperança no futuro e o otimismo
do presente se desfazem sem o lastro de um passado glorioso no qual se apoiar. Muitos autores do
período (1890-1910), tentando atribuir um significado ao novo mundo que está por nascer, buscam, antes
mesmo do Surrealismo, encontrar outra realidade onde o desespero da impotência humana diante do caos
social e existencial seja compensado ou ao menos justificado. Os contos fantásticos de Jean Lorrain,
entre os quais os presentes na coletânea "Contes d'un buveur d'éther", bem como seu mais conhecido
romance, "Monsieur de Phocas", são impelidos por uma necessidade de experiências estéticas que
desencadeiem fenômenos inexplicáveis e inverificáveis, impossíveis de serem admitidas seja como
ilusão dos sentidos ou o vislumbre de uma outra dimensão que interfere na vida cotidiana.
Literatura
Sessão de
Comunicações
Literatura de Língua Portuguesa e de Língua Estrangeira
1
Graduação Literatura Sessão 1: Literatura de Língua Portuguesa e de Língua Estrangeira
O sujeito, no romance moderno, é atingido por uma série de crises oriundas da própria sociedade que
experimentou um processo de ruptura de suas bases. Com isto, formou-se um indivíduo fragmentado,
sem uma identidade ou qualquer forma de caracterização. Conseguinte, Passeio ao farol, de Virginia
Woolf, ao adotar uma posição que desconstrói, o tempo/espaço, juntamente com os demais elementos da
narrativa, incorpora esta problemática a sua estrutura. Seus seres ficcionais perdem sua constância
exterior devido às técnicas modernistas que, por natureza, contribuem para o apagamento da figura do
homem, conforme Bakhtin (2010) e Manzano (2011). Assim, não se sabe quem é o homem enquanto
sujeito no romance de Woolf, porque ele será conhecível apenas pela sondagem interior “[...] Devido a
focalização ampliada de certos mecanismos psíquicos perde-se a noção da personalidade total de seu
caráter que já não pode ser elaborado de modo plástico (ROSENFELD, 1996, p.85).” A realidade física e
geográficas serão desfeitas, assim como a separação temporal de presente, passado e futuro. Logo, o
sujeito no romance moderno é um ser deslocado, sem direção, perdido em si mesmo, pois além de perder
nome, sobrenome, profissão, agora perde as duas noções básicas para a localização no mundo, o tempo e
o espaço, sendo assim o sujeito torna-se um ser inominável que não consegue dizer quem é nem de onde
vem.
Neste trabalho buscamos apresentar algumas possibilidades interpretativas para o poema Fragmento de
um mapa do lirismo português do escritor português E. M. de Melo e Castro de forma a dotar de
significação as possíveis construções espaciais e semânticas que o texto impõe. Pretendemos, também,
estabelecer o diálogo – que se dá por possibilidade do próprio texto literário – com a concepção de
tradição, no sentido utilizado por T. S. Eliot; das marcas líricas portuguesas que se manifestam ou são
negadas e da própria estética da poesia experimental portuguesa com ênfase em sua relação com a
disposição espacial do poema na tentativa de mapear, no texto, tal tradição por meio dos signos, dos
espaços e da forma, além da deslexicalização processual que transpassa os princípios de lineariedade e
tende a elevar o poema à forma, à estética e ao experimental trabalhando as ideias de lírica portuguesa,
sua tradição e recorrentes figuras que a tocam – tal qual a dor, a saudade, o sofrimento amoroso. Por fim,
demonstrar o constante diálogo que há entre o passado e o contemporâneo explorado pelo poeta numa
estrutura gregária que se alimenta e forma um contínuo monumento ideal localizado em uma
determinada época – talvez em busca do novo.
No presente trabalho nos propomos a analisar a relação dos objetos com a memória no romance
Quinquilharias Nakano (tradução para o português 2010) da autora japonesa contemporânea Hiromi
Kawakami. O romance, narrado em primeira pessoa pela personagem Hitomi Suganuma empresta o
título do nome da loja e conta as rememorações da narradora da época em que trabalhava no
estabelecimento do Sr. Nakano. As personagens envolvidas nessa narrativa são aquelas que ocupam esse
espaço e motivam as ações no romance: o Senhor Nakano, dono da loja, portanto envolvido com o
negócio de objetos usados, e também figura excêntrica no que diz respeito às relações amorosas; sua
irmã Masayo, artista plástica que vive do sustento da herança deixada pelos pais; Takeo, contratado
como “retirador” mas que é uma espécie de faz-tudo. A obra se divide em doze capítulos relativamente
proporcionais entre si, a começar pelo sumário, e observamos que são em sua maioria objetos que dão
título aos capítulos. Tais objetos motivam situações e/ou pensamentos dentro da narrativa, tornando-se
metáforas ou alegorias para as vivências dessas personagens, bem como para as situações do cotidiano
da metrópole. Embora a pesquisa esteja em sua fase inicial, exploramos como os objetos agem como
motivos dentro da narrativa, no âmbito da estrutura, e quais suas funções representativas sobre o
contexto que é narrado no âmbito dos significados. Utilizamos como referência as obras Rua de mão
única, Infância em Berlim por volta de 1900 e Imagens do pensamento, de Walter Benjamin (1987), e
nos interessa observar como os objetos são motivo de memória e, ao mesmo tempo, matéria estética,
podendo acenar para uma reflexão histórica.
Em A maçã no escuro (1999), de Clarice Lispector, a personagem principal rompe com a identidade que
lhe desagrada para, a partir dos seus próprios termos e decisões, criar outra identidade. Os pensamentos
de Martim mostram que ele havia se enquadrado ao pensamento capitalista. E se via como mais uma
peça da engrenagem social que mói os sonhos autênticos e reduz o indivíduo ao que ele tem. Em Ser e
tempo, Heidegger expõe a ideia de que o ser humano é ser-com-o-outro. Essa expressão é a tradução da
expressão original alemã mit dasein. O objetivo desse trabalho é o de mostrar a desconstrução voluntária
de uma identidade feita com base materialista, que valoriza o ter, e não o ser, e o processo de construção
de uma nova identidade, baseada na singularidade de cada pessoa. Esse objetivo maior possibilitará
estudar temas específicos da narrativa de Clarice Lispector, como a consciência da existência, a
problematização da linguagem, a inquietação com a morte. O principal suporte teórico será o
pensamento filosófico de Martin Heidegger em Ser e tempo (2002), e de Stuart Hall em Identidades
culturais na pós-modernidade (2011). Heidegger porque explica, com o conceito de ser, que é impossível
fixar-nos em uma identidade. Hall porque mostra como as mudanças sociais impedem que o ser humano
permaneça sempre igual a si mesmo.
O indivíduo lançado ao mundo é responsável por suas escolhas e pelas suas consequências, nada, além
dele mesmo, é justificativa para sua ação, ou seja, por meio de sua liberdade ele é agente de sua escolha
e dessa forma, não pode depositar sua responsabilidade de escolher em alguém. Esse conceito pertence a
filosofia existencialista, do escritor-filósofo J.-P Sartre (1905-1980), que busca entrelaçar a coexistência
de seu pensamento filosófico com sua literatura. A presente comunicação pretende demonstrar como
Sartre realiza essa transposição da filosofia para a literatura, destacando, para isso, a peça Huis Clos,
publicada em 1944. Resumidamente, a peça tem como cenário o inferno onde três pessoas são
condenadas a viver eternamente na presença do outro, de modo que o conflito estabelecido entre elas
repousa no fato de serem vistas e julgadas por um terceiro. Deste modo, observam-se as relações
concretas com o outro e ainda que homem seja livre, sua liberdade pode ser inibida pela
presença/liberdade de outra pessoa, pois o olhar do outro configura no indivíduo um conflito dele
consigo mesmo, mostrando muitas vezes uma faceta da qual ele não gosta. Para tal análise, teremos
como apoio o texto filosófico do mesmo autor, L’Être et le Néant (1943), mais especificamente a terceira
parte do livro na qual o filósofo se dedica às questões da relação com o outro. Como o indivíduo divide
espaço com uma outra pessoa, muitas vezes essa relação gera conflitos na consciência desse indivíduo,
temática que será abordada a partir das atitudes escolhidas pelos personagens na relação com o outro.
O belo na estética romântica, segundo Mario Praz (1996), se dá pela convergência de dor e prazer num
conceito único, de modo que os românticos passam a apreciar a corrupção da beleza clássica por aquilo
que anteriormente a contradizia, tornando-a doente e melancólica, cedendo espaço para uma confluência
com o horrendo. A morte, outrora avessa à concepção de beleza, torna-se motivo na produção romântica.
Ainda que já integrante de produções anteriores ao século XVIII, é neste momento que surge a
consciência plena e teorização do conceito de belo horrível, associando à beleza enquanto fonte comum
não somente a morte como também a volúpia e o sofrimento. Neste trabalho, recorte de nossa pesquisa
com quatro outros poemas, observaremos a presença do belo horrível na poesia romântica portuguesa e
alemã, por meio de um estudo comparativo dos poemas “A Noiva de Corinto” (1797), de Johann
Wolfgang von Goethe (1749 – 1832) e “O Noivado do Sepulcro” (1856), de Antônio Augusto Soares de
Passos (1826 – 1860). Nos poemas estudados, o belo horrível é plasmado na figura do espírito que
retorna do túmulo para consolidar o desejo não realizado em vida. Observando-se os dois poemas é
possível dizer que embora discorram acerca do desejo que transcende a morte, abordagens distintas os
configuram. O belo horrível enquanto conceito de beleza desenvolvido pelos românticos fundamentará a
análise dos poemas selecionados com vistas a expor alguns traços da produção ultrarromântica e da
perpetuação da estética gótica na produção poética alemã e portuguesa, a exemplo do movimento sturm
und drang, o qual Goethe integrou, e da produção macabra de Alexandre Herculano (1810 – 1877) e
Soares de Passos.
Machado de Assis realizou em seus romances (principalmente aqueles do período realista), a construção
de narradores capazes de encenar vários papéis. Narradores de múltiplas vozes, Brás Cubas, Dom
Casmurro e Conselheiro Aires trazem consigo múltiplos olhares. Como nos traz Souza (1955), a
multiperspectividade dos narradores machadianos concede aos seus escritos um teor dramático,
tragicômico, nos quais uma reversa harmonia do teor poético entre comédia e tragédia é, assim como faz
Shakespeare no drama, realizada por Machado no gênero romanesco. Este trabalho objetiva então, uma
análise da construção do narrador didascalo (SILVA, 2007) no romance Dom Casmurro (1899) e a sua
figuração e transposição para a linguagem cinematográfica da microssérie Capitu (2008), de Luiz
Fernando Carvalho, a segunda produção do Projeto Quadrante (projeto no qual Carvalho tenciona levar a
literatura brasileira para a televisão). Assim, entende-se aqui, que tanto a estrutura narrativa de Dom
Casmurro quanto a de Capitu se fazem por meio da atribuição de uma função dramática ao narrado e ao
narrador, sendo que este, através de construções e discursos didascálicos, age sobre o texto,
determinando entradas e saídas, gestos e posturas, e figuração das personagens diante das cenas, com os
olhos críticos, mãos e vozes de uma tríade narrador-dramaturgo-romancista.
Valendo-se do gênero textual que pertence a dos gêneros maiores, a literatura e o jornalismo, podemos
dizer que o professor e jornalista Emir Macedo Nogueira (1927-1982) inaugurou um estilo a partir da
publicação de suas crônicas no jornal Folha de S. Paulo. Inovou-se ao tratar e discutir questões
pertinentes à Língua Portuguesa com seus leitores a partir de temas cotidianos. A eficácia do estilo
empregado para a construção das crônicas pode ser mensurada pelos catorze anos praticamente
ininterruptos em que a coluna dominical “A Língua Nossa de Cada Dia” foi publicada, além da
participação de diversos leitores a partir do envio de cartas ao jornal. Embora o trabalho e os esforços de
Nogueira tivessem sido reconhecidos em vida, a morte do mentor daquelas que poderíamos considerar
“crônicas pedagógicas” traduziu-se no esquecimento e dispersão das crônicas dentro do jornal. O
presente trabalho apresentará o modo de organização utilizado em uma pesquisa de iniciação científica
em andamento, além de exemplificar a construção e o uso metalinguístico das referidas crônicas como
instrumentos para o ensino e reflexão sobre a Língua Portuguesa sem que as características específicas
do gêneros textual tivessem sido alteradas.
Esta comunicação visa estudar o texto O Coronel de Macambira: Bumba-meu-boi (1963) do ensaísta,
crítico, poeta e dramaturgo brasileiro Joaquim Cardozo, cuja produção pode ser conhecida pelo poder de
transfiguração de motivos e temas da literatura e do cancioneiro do Norte e do Nordeste. O texto O
Coronel de Macambira: Bumda-meu-boi é apresentado em dois quadros pelo autor, o boi é a figura
principal do enredo e Joaquim Cardozo resgata memórias como espectador de bumbas-meu-boi para
escrever a peça. Tem-se como proposta refletir sobre a estrutura formal e temática ancorada na estética
das festas populares e folclóricas. O repertório de imagens, espetáculos e ritos que formam os gêneros
espetaculares literários da cultura popular brasileira, que dão suporte à produção poética e dramatúrgica
de Joaquim Cardozo. O estudo buscará amparo teórico-metodológico nos pressupostos teóricos de M.
Bakhtin (1996), sobre o conceito de festa popular para caracterizar os espetáculos populares brasileiros,
que segundo Ana Carolina do Rêgo Barros Paiva (2009, 2012) é herança dos mais diversos gêneros do
fenômeno cultural da festa popular desde a Antiguidade. Também serão considerados os estudos sobre
intertextualidade na perspectiva de Júlia Kristeva (1974) e Tiphaine Samoyault (2008).
O presente estudo pretende fazer uma análise da visão crítica exposta na obra Los Rios Profundos
(1958), do escritor José María Arguedas, sobre o processo de transculturação evidenciado no Peru e a
dificuldade para estabelecer uma identidade nacional que abarque as regiões tradicionais peruanas. O
fenômeno de transculturação, segundo diz Pereira (2006), é um processo conflituoso no qual as partes
envolvidas se enfrentam com agressividade nas distintas áreas de contato. Essa visão realista sobre os
encontros culturais e as relações de poder aplica-se aos estudos literários latino-americanos que
procuram uma concepção mais clara do impacto colonialista, pós-colonialista e modernizador na região
Andina. A presente pesquisa parte do pressuposto de que um dos objetivos do escritor e etnólogo
peruano José María Arguedas é o de analisar e destacar a relevância das raízes quéchua na formação de
uma identidade cultural efetiva que consiga abranger as civilizações da serra, da costa e da selva
peruana. O escritor serve-se de um relato ficcional autobiográfico no qual se narram as experiências
vividas por um menino peruano e seus conflitos pessoais, para fazer transparecer as repercussões e
consequências que ocasiona o choque cultural entre as civilizações indígena e espanhola nos Andes. Em
outras palavras, o autor, pertencente à corrente literária neo-indigenista, revela a atroz injustiça existente
na região andina a nível individual, expondo, assim, o impacto cultural que desconstrói a identidade
nacional peruana.
A produção contemporânea tem explorado a fundo o aspecto psicológico como elemento fundamental na
constituição da Literatura Infantil e Juvenil Brasileira, destacando diversos autores que conseguem
sensibilizar os leitores e corroborar para que estes se identifiquem com as personagens e possam, com
isso, formar sua identidade e visão de mundo. Neste contexto, são analisadas as obras O abraço (2010),
de Lygia Bojunga, e A mulher que matou os peixes (1999), de Clarice Lispector, a partir de um
referencial teórico próprio do campo de estudos entre a Psicologia e Literatura. Cristina, protagonista em
O abraço, cede aos desejos de seu id, ignorando os conselhos e instintos do superego, representado por
sua amiga Clarice, e finalmente cai em hemartia. Por outro lado, Clarice Lispector, narradora
protagonista de A mulher que matou os peixes, demonstra ao leitor o erro cometido, não
intencionalmente, porém, expondo, a todo momento, que durante sua vida realizou os desejos do
superego, ao adotar animais, comprá-los e amá-los como se fossem sua família. Além disso, a narradora
utiliza-se da íntima e afetuosa conversa com o leitor, com o objetivo de que ele possa compreender o que
ocorreu e, talvez, perdoar Clarice. Portanto, sendo os elementos psicológicos inerentes à constituição das
obras literárias, especialmente às infantis e juvenis, pretende-se apresentar como se dá a exploração
desse campo nas obras mencionadas. Orientador: Thiago Alves Valente.
Este trabalho inseriu-se em projeto mais amplo, Portal da Literatura Paranaense: formação e
consolidação de um campo literário, financiado pela Fundação Araucária/FA, que tem como objetivo
levantar e analisar momentos da formação e da consolidação do campo literário no Paraná (1850 –
2010). Propusemos levantar temas e formas (notadamente o haicai) da produção poética de Alice Ruiz,
destinada a jovens leitores, enfatizando aspectos que traduzissem a inserção do gênero no quadro
histórico-estético da cultura brasileira, bem como os modos de interação da poeta com o sistema literário
brasileiro, em um processo de assimilação e difusão cultural, e com os destinatários preferenciais de
obras como Conversa de Passarinhos (2008), Salada de Frutas (2008), Jardim de Haijin (2010), Nuvem
Feliz (2010), Dois Haikais (2011) e Estação dos Bichos (2011), que compuseram o corpus do trabalho.
Como resultado, elaboramos um artigo sobre a produção poética de Ruiz e o haicai sob o signo
infantojuvenil.
O objetivo deste trabalho é discutir a importância da abordagem do teatro grego clássico (séc. V a III
a.C.), com ênfase no gênero trágico, dentro do contexto literário infantojuvenil. Propõem-se, através da
integração dos clássicos, facilitar a identificação intertextual por parte do jovem leitor em outras
literaturas. Nesse contexto as peças trágicas gregas se mostram de suma importância, já que representam
adaptações de mitos e costumes que até hoje influenciam a cultura. Essa formação clássico-cultural-
dramaticao também o integrará em outros diversos campos artísticos. Além do mais, inclui-se o jovem
no campo histórico-cultural da Grécia, que tem ligação direta com a tradição romana, que está
relacionado à própria história e cultura Ocidental. Para isso, consultar-se-á A adaptação literária para
crianças e jovens (CARVALHO, 2006), A adaptação dos clássicos (CECCANTINI, 2004), Porque ler os
clássicos (CALVINO, 2001), Entre vozes e leituras (DEBUS, 1996), Mitos gregos na literatura infantil
(MAZIERO, 2006), e Édipo-Rei e Antígone (bibliografia básica), de Gizelle K. Corso (2007). Com a
proposta de democratização da leitura e aproximação dos clássicos, Corso analisa as tragédias Antígona
e Édipo Rei (Sófocles), adaptadas para o leitor juvenil por C. Casas (adap; 2002 e 2004), e faz um
comparativo de peso/qualidade às traduções em português de M. G. Kury (trad; 2002) e em italiano de F.
M. Pontani (trad; 2004). Por fim, esta conclui que o principal objetivo da adaptação é apresentar aos
jovens os textos clássicos, com vocábulos rebuscados, porém, agradáveis à leitura e capazes de
contribuir consideravelmente na formação do leitor (p. 105-106).
O presente trabalho é um recorte de um PIBIC em andamento. O projeto é voltado para a área do teatro,
mais especificamente para a tradição épico-dialética, sob a perspectiva da crítica materialista, e seu
objeto será a peça A Ópera do malandro, de Chico Buarque de Hollanda, de 1978, bem como aspectos de
sua intertextualidade com a peça A Ópera dos três vinténs, de Bertolt Brecht, de 1928, e A Ópera do
Mendigo, de John Gay, de 1728. Serão levadas em conta, inclusive, as especificidades dos contextos de
produção das três obras. A Ópera do Malandro é publicada em 1978, já num momento de arrefecimento
da censura e em grande crise política, quando o Brasil está passando por um início do processo de
abertura. Por isso é possível afirmar que esse momento marca o recomeço do teatro crítico no país,
questionando a estrutura capitalista brasileira e trabalhando com uma revisitação da figura típica do
malandro. Seu diálogo intertextual com A Ópera dos três vinténs e A Ópera do Mendigo é muito
produtivo, pois mesmo que os contextos históricos difiram entre si, Chico Buarque de Hollanda busca
nesses textos referências para um teatro que consiga romper com a comodidade da tradição cristalizada.
O presente artigo visa apresentar atividades elaboradas e executadas junto a alunos do Ensino
Fundamental I, relacionadas com várias linguagens artísticas. Utilizamos o Festival Nacional de Teatro
de Presidente Prudente para contextualizar a Grécia. Os objetivos da pesquisa foi o de possibilitar o
contato com novas formas de perceber o mundo através das linguagens artísticas e estimular a leitura,
principalmente dos gêneros: contos mitológicos e poesia de cordel. No primeiro semestre de 2015
iniciamos nossa pesquisa em uma escola de Presidente Prudente/SP, em duas salas – 4º e de 5º anos. O
conhecimento artístico das Artes Gregas foi trabalhado por meio da literatura, dos mitos, da arquitetura,
da cerâmica e do teatro e, principalmente, dos contos mitológicos. No segundo semestre as propostas
estruturaram-se a partir de textos do livro “Cores em cordel”. O gênero cordel foi proposto, pois
esperávamos que os estudantes compreendessem melhor as suas estruturas para elaborar o produto final:
“um portfólio”. Destacamos que a obra é do acervo da escola e faz parte dos livros do Programa
Nacional Biblioteca na Escola. Como resultado final, podemos enfatizar que a arte possibilitou ensinar
de maneira diferente, contextualizada, além de permitir que o aluno relacionasse a atualidade com a
história da Grécia, e de destacar a importância da literatura e da escrita para o registro da memória
humana, tornando o ensino e a aprendizagem significativos. Orientadora: Prof.ª Dra. Renata Junqueira de
Souza.
Propôs-se, neste trabalho, por meio de uma sequência didática, com base na proposta de Schneuwly &
Dolz (2004), utilizando-se das aulas, na rede pública estadual sul-mato-grossense, oferecidas pelo
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação À Docência (PIBID), vinculado a Coordenação de
Aperfeiçoamento da Pessoa do Ensino Superior (CAPES), explorar gêneros textuais não convencionais à
sala de aula, a fim de trazer à baila propostas que visam potencializar o ensino de Literatura no espaço
escolar. Escolheu-se o gênero cinema para um sétimo ano do ensino fundamental; objetivando, como
produto final, a elaboração de um filme acerca do poder transformador da leitura. Iniciou-se o trabalho
apresentando aos alunos noções básicas de gêneros textuais, consoante Marcuschi (2010) e algumas
especificidades do gênero cinema, com embasamento nas definições da Agência Nacional do Cinema
(ANCINE). Em seguida, foi traçado um plano, em conjunto com os alunos, para que, ao final do
cumprimento da sequência, alcançássemos o objetivo de produzir um curta-metragem com a inclusão e
integração do corpo discente. No decurso das aulas, durante o processo de exposição da teoria
cinematográfica, executou-se passo-a-passo, o procedimento de criação da película, findando-se com a
execução do roteiro, produzido a partir do argumento inicial, ambos elaborados e executados pelos
alunos. A opção por este tipo de procedimento orientou-se por distintos critérios: o caráter social do
universo ficcional; a universalidade dos temas literários; a dimensão existencial e a força expressiva da
linguagem das artes (Literatura e Cinema).
O presente trabalho tem por objetivo apresentar as ações do projeto “Socializando a Leitura: Troca de
Livros”, do Instituto de Letras e Artes, da FURG, que atua na comunidade acadêmica e em eventos
externos à comunidade e objetiva estimular um maior contato da comunidade riograndina com os livros,
bem como despertar e incentivar o interesse pela leitura, visando contribuir na formação de leitores. Seu
acervo é constituído por intermédio de doações e sua metodologia consiste em trocar livros por outros do
mesmo gênero, mantendo, assim, a continuidade do acervo. Os gêneros das obras são categorizados em:
ficção, não ficção e literatura infantil e juvenil. O projeto atua desde 2013 em diversos eventos que
ocorrem dentro e fora do âmbito acadêmico: feiras de livros, feiras literárias de escolas públicas, eventos
universitários e saraus. Ademais, o projeto tem se desenvolvido semanalmente no Centro de Convivência
(CC) da FURG/Campus Carreiros. Em 2015, também passou a integrar, em parceria com a Secretaria
Municipal de Cultura, o projeto “Quitanda Cultural”, que acontece todos os primeiros sábados de cada
mês. A necessidade de se disponibilizar momentos que permitam ao leitor conviver e despertar a vontade
de ler, pois “uma prática constante de leitura [...] pressupõe o trabalho com a diversidade de objetivos,
modalidades e textos que caracterizam as práticas de leitura de fato” (PCNs, 1998, p. 57) tem sido a
prioridade do projeto. É com a prática de leitura e de construção de significados que o leitor vai também
melhorar sua competência discursiva, pois a leitura lhe fornece a matéria-prima para escrever, bem como
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Nos últimos anos o ensino de literatura vem sofrendo considerável apagamento na sala de aula do ensino
fundamental II. A partir do projeto PROLICEN, intitulado “Universidade e Escola: literatura nas aulas
de língua portuguesa? Onde está o texto literário no ensino fundamental?”,realizado no ano de 2015, nas
aulas Língua Portuguesa, constatamos a ausência do ensino de literatura na escola. Diante disso,
investigamos o que os professores entendem como “literatura” e qual a compreensão que possuem sobre
a função da literatura e as contribuições para a formação de seus alunos. Após essas observações, os
bolsistas do projeto, junto com a professora orientadora elaboraram material didático para a
implementação de oficinas nas escolas envolvidas, como alternativa para revisar os conceitos e práticas
do ensino de literatura, ampliando a percepção sobre o letramento literário na escola. A realização das
oficinas também oportunizou apresentar propostas para resgatar o trabalho literário em sala de aula, a
fim de contribuir para o ensino de literatura através de práticas significativas, que contribuam para o
desenvolvimento da percepção do professor para o caráter humanizador e social da literatura, além de
dar visibilidade à sua necessária presença nas aulas de Língua Portuguesa. É sob este olhar que o
presente trabalho apresenta resultados tanto da pesquisa realizada com os professores nas escolas, quanto
o impacto causado pela implementação das oficinas nas concepções sobre ensino de literatura nas
atividades docentes desses profissionais. O trabalho encontra-se embasado teoricamente nos estudos de
Candido (2004), Cosson (2006), Geraldi (2001), Abreu (2006), dentre outros.
O projeto “Leituras literárias e outras leituras na escola” é realizado através de oficinas e práticas de
leitura e tem três enfoques prioritários. Um deles é promover ações e atividades, com foco na formação
de leitores que ainda não cultivam o hábito da leitura, de forma a ampliar seu campo de visão em relação
ao mundo em que vivem, sua formação e seu posicionamento enquanto cidadãos. Visa igualmente
despertar o gosto pelo texto escrito, seja ele literário ou não. E, por fim, desenvolver atividades que
apresentem a variedade de gêneros literários, buscando utilizar ferramentas tecnológicas na construção
de uma radionovela. Em 2015, o projeto foi realizado na Escola Estadual Professor Taro Mizutori,
localizada no município de Barueri/ São Paulo. No desenvolvimento do trabalho, os alunos se depararam
com as características de um texto teatral, ao definir as falas dos personagens. Sonorizar e pensar nas
funções das personagens e do narrador permitiu ainda que os alunos percebessem a integração entre a
fala e os aspectos não verbais. Com esse tipo de atividade, buscamos abordar o uso das novas
tecnologias na pesquisa da informação e na produção de obras e difusão de conhecimento. Faço parte do
grupo de pesquisa, e, em conjunto com os demais colegas do projeto, participei da elaboração das aulas,
analisando possibilidades de estratégias e práticas em sala de aula. Utilizamos recursos tecnológicos e
novidades para que o interesse pela leitura fosse despertado ou redescoberto nos alunos por meio de
oficinas nas quais elementos das artes cênicas unissem os jovens do projeto.
A pesquisa tem por objetivo o estudo das narrativas juvenis do escritor paranaense Domingos Pellegrini,
observando nas obras elementos tais como: os modos de interação do autor com o subsistema literário
juvenil - temas e formas e ainda, com os leitores juvenis. O estudo é composto por elementos históricos,
teóricos e de crítica literária, enfoca a produção juvenil do autor - A árvore que dava dinheiro (1981), O
mestre e o herói (2006), Mestres da paixão:aprendendo com quem ama o que faz (2007) e Estação Brasil
(2011) -, com a análise de aspectos da construção narrativa das obras selecionadas: ambiente, enredo,
espaço, foco narrativo, narrador, personagens. O projeto integra a pesquisa Evolução e tendências da
literatura infantil e juvenil contemporânea: caminhos para a formação de leitores, que, considerando a
necessidade de revisão constante de questões estéticas, políticas e culturais referentes ao estudo da
literatura infantil e juvenil, empenha-se sobre esta produção para levantar e analisar, no âmbito da
composição literária – poesia, narrativa, teatro -, tanto seus aspectos imanentes como aqueles que
determinam o modo e a qualidade de seu consumo.
As ações que efetivam o contar histórias para bebês têm crescido, pois pesquisas mostram a influência
desse ato para o desenvolvimento integral das crianças na primeiríssima infância, de zero a três anos, e
na primeira infância, de quatro e cinco anos. Tussi e Rösing (2009), argumentam que ler para os
pequenos consiste em uma maneira lúdica de incentivar as dimensões neurofisiológicas, cognitivas,
afetivas e simbólicas, oportunizando a socialização e ampliando o repertório infantil. Partindo desse
pressuposto, o Centro de Estudos em Leitura e Literatura Infantil e Juvenil (CELLIJ), da
UNESP/Presidente Prudente-SP, desenvolve na Bebeteca “Colunas do Saber”, localizada na creche
Anita Ferreira B. de Oliveira, contações para as crianças da primeiríssima e da primeira infância. A
metodologia pauta-se na pesquisa de campo com abordagem qualitativa, sendo sujeitos as professoras e
as crianças do espaço pesquisado. Assim, destaca-se que o trabalho desenvolvido durante 2015 tem
gerado resultados, pois com a observação, em 2016, de uma sala de berçário atendida no ano anterior, é
possível constatar que o processo de mediação influenciou os hábitos precoces de leitura como, por
exemplo, a escolha voluntária por livros em vez de brinquedos. Em 2015, as intervenções foram assim
realizadas: bebês de até um ano, com as crianças no colo; de um a dois anos, com as crianças ao lado do
mediador; e com as crianças acima de dois anos, as contações eram feitas face a face. Este ano, o
trabalho é realizado coletivamente com o grupo de crianças. Acredita-se, assim, que ambientes
estimuladores e a apropriada mediação colaborarão para que se tenha leitores que sintam prazer e gosto
pela leitura.
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Este trabalho, vinculado ao Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino (UENP-CJ/CNPQ), pautando-se nas
proposições do Círculo de Bakhtin e Todorov (2007), objetiva apresentar uma proposta de análise
dialógica de um enunciado concreto pertencente ao gênero conto de fadas contemporâneo, mais
especificamente, o conto Entre a Espada e a Rosa, de Marina Colasanti. Propõe, então, uma análise
indissociável das dimensões social e verbal do mencionado conto, destacando o embate discursivo entre
vozes mostradas e não mostradas, na materialidade linguística, por meio do qual é possível depreender
que a autora mostra-se contrária à visão clássica da princesa indefesa e/ou da bruxa maligna, comum nos
contos de fadas tradicionais. Nessa perspectiva, pelo fato de o texto-enunciado em foco apresentar
elementos sobrenaturais, o principal elemento a ser destacado, em sua construção composicional, é a
manifestação do insólito. O foco de análise, portanto, refere-se à irrupção do maravilhoso, que, refletindo
e refratando a fragmentação e liquidez da sociedade pós-moderna, desvela uma nova concepção da
mulher e seu lugar na sociedade. Sob tal prisma, emerge uma nova roupagem linguística e ficcional ao
gênero conto de fadas.
O Gato Preto, conto de Edgar Allan Poe, é um clássico exemplar do gênero fantástico e também
instrumento de discussões no meio acadêmico, entretanto, estudar Poe pode ser um exercício anterior à
graduação. O objetivo deste trabalho é estabelecer relações entre o conto e o filme “Coraline e o mundo
secreto” (2009), baseado no romance “Coraline”, de Neil Gaiman, considerando a teoria do fantástico,
de Todorov (1981). As obras são analisadas levando-se em consideração, quanto à estilística, os aspectos
pertinentes ao texto literário e à linguagem cinematográfica que colaboram para a construção da
narrativa e do sentido atribuído ao fantasioso. Com este estudo, que demonstra mais uma faceta atual do
fantástico utilizado por Poe na primeira metade do século XVIII e também o diálogo entre a linguagem
escrita e cinematográfica, estima-se apresentar como por meio destas relações é possível levar o
conhecimento teórico e incentivar a prática de apreciação crítica da literatura e cinema na educação
básica.
O projeto em questão tem por objetivo estudar a presença do Grotesco em Dom Quixote, de Miguel de
Cervantes. Para tal, serão utilizadas, em especial, as considerações teóricas sobre a temática do grotesco
de Mikhail Bakhtin, presentes no texto A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto
de François Rabelais. Ainda como suporte, serão discutidos conceitos de teóricos que analisam a
polissemia do termo Grotesco em diferentes períodos históricos e as transformações do fenômeno ao
longo dos tempos, como é o caso de Bakhtin ,Vitor Hugo , Kayser, dentre outros. Na personagem de
Dom Quixote, a presença do Grotesco já se revela em seu nome, com nuances humorísticas, e se
concretiza nas atitudes satíricas e jocosas da personagem no discorrer da narrativa. Para Bakhtin, a
denominação do Realismo Grotesco está diretamente ligada às imagens da cultura cômica popular:
Feiras, praças e o carnaval. A obra de Cervantes, considerada uma das precursoras do romance moderno,
foi analisada, tendo em vista que, possui características do Grotesco da perspectiva dos três principais
teóricos citados acima, permitindo assim, atestar o fato em questão, de que o fenômeno estético, apesar
da divergência de opiniões entre os estudiosos e de suas múltiplas facetas de atuação e conceituação,
dialogam entre si, pois contribuem, em suma, para a ampliação e beneficiamento da arte.
A presente comunicação é resultado inicial da pesquisa de iniciação cientifica, que visa mostrar a
concepção de alguns teóricos da literatura fantástica, como Todorov no livro Introdução à literatura
fantástica (2012), e Ana Luiza Silva Camarani, em A literatura fantástica: Caminhos teóricos (2014), os
quais serão verificados acerca do percurso teórico do gênero. Busca-se nessa pesquisa apontar as
convergências e divergências entre as concepções do fantástico. Além disso, o estudo mostrará até que
ponto há influência de Todorov, considerado teórico do fantástico tradicional, em relação a estudos
contemporâneos. Para traçar o percurso histórico do fantástico, será apresentado o trabalho de José Paulo
Paes, As dimensões do fantástico (1985), o qual discorre sobre o surgimento da literatura fantástica. E
Karin Volobuef (2000), em seu trabalho: Uma leitura do Fantástico: A invenção de Morel (A. B.
Casares) e o processo (F. Kafka), que trata das fases de evolução do gênero e suas respectivas
abordagens.
O projeto literário de Julio Cortázar revela a elaboração estética do insólito por meio de hábil, agindo de
maneira apropriada as articulações da linguagem e também as categorias narrativas, as quais respondem
pelos díspares, ou seja, diferentes significados implícitos às tramas do conto. No conto Lejana de Julio
Cortázar, o conto “Distante”, é contado quase todo em primeira pessoa pela própria protagonista da
história, Alina Reyes, em seu diário. Apenas no final, a história passa a ser narrada em terceira pessoa, já
que a personagem principal se recusa a continuar escrevendo. A obra de Cortázar retrata a vida dessa
burguesa moradora da cidade de Buenos Aires, na Argentina, que parece insatisfeita com a rotina de sua
vida. Ao longo do conto, Alina Reyes vai cedendo cada vez mais à presença da outra, anulando seu
próprio tempo e aproximando-se cada vez mais desse encontro que se torna inevitável. Na obra em
específico, a sugestividade semântica do duplo realiza-se, de modo verossímil no texto, pela articulação
peculiar do sobrenatural no natural. O eficaz procedimento de urdir os eventos insólitos na malha
narrativa possibilita a imbricação de espaços, de tempos e dos personagens díspares em Lejana e
desencadeia vários efeitos no ato da leitura. A fim de descortinar o entrelaçamento estético e os possíveis
significados vigentes nas entrelinhas da obra, realizaremos, neste trabalho, uma análise temático-formal
de Lejana. Teremos como embasamento conceitos críticos e teóricos de escritores afins à literatura do
insólito, dentre eles, Todorov, Bessière, Furtado, Chiampi, além de alguns como Genette e Coelho que
estudaram o foco narrativo, os personagens, o espaço, o tempo.
Este trabalho tem por finalidade fazer uma análise do tipo de insólito que se desenvolve no filme japonês
Mononoke Hime, produzido pelo Studio Gihbli. A história traz as aventuras de Ashitaka que sai de sua
aldeia em busca de cura para uma maldição que o levaria à morte. Durante sua jornada, se vê no meio de
um conflito entre os deuses da floresta, cuja simbologia remete à natureza, bem como os aldeões da vila
de Lady Eboshi ao progresso. A obra demonstra o conflito entre essas duas forças e faz crítica ao
progresso desmedido que leva a natureza à ruína, antes, porém, se rebela em toda sua pujança. O insólito
da obra se mostra pelo viés do maravilhoso, pois um mundo repleto de deuses, entidades se faz presente,
de modo ordinário e, além disso, as forças da natureza são transfiguradas em seres irreais para que ocorra
a proteção desse ambiente. O sobrenatural presente nas obras japonesas está relacionado à tradição
religiosa e ao misticismo de um país politeísta quanto às crenças. Budismo, Xintoísmo e Confucionismo
são as principais religiões no Japão e estão em sua literatura e cultura, desde as primeiras tradições até a
história da formação do país. Acredita-se que a ilha foi criada como um paraíso para descanso e
refrigério dos deuses Isanagi e Isanami, lenda essa que configura uma primeira manifestação literária
classificada como uma epopeia de origem oriental. Análises formais revelam que histórias posteriores à
lenda, como o filme Mononoke Hime, dela derivam no que concerne à vigência de certa modalidade do
insólito artístico.
Linguística
Sessão de
Comunicações
DESCRIÇÃO LINGUÍSTICA
1
Graduação Linguística Sessão 1: Descrição linguística
O trabalho propõe o estudo filológico-lexical de uma procuração do Livro de Notas 02, do Cartório do 1º
Tabelionato de Notas de Jataí-Go, exarada em outubro de 1876, pela qual se nomeiam procuradores nas
regiões de Minas e de São Paulo para efetuarem a captura de um escravo de nome Pio. Nesse sentido,
tem como objetivo principal divulgar a edição semidiplomática do documento referido, que constituiu
uma das etapas do projeto em curso, "Os negros escravos e outros bens no Livro de Notas 02 (Jataí-GO):
um estudo léxico- filológico". Para além disso, a análise lexical se fará mediante o inventário das lexias
concernentes à espécie documental Procuração, tais como procuradores, outorgante, testemunhas etc.,
com vistas a demonstrar as suas especificidades, que visam a conferir-lhe valor legal. A relevância deste
estudo reside em contribuir com as investigações de natureza filológica em e sobre o Estado de Goiás,
relativamente escassas, em especial as voltadas para a descrição e análise de tipologia documental, do
âmbito da Diplomática. O aporte teórico- metodológico se constituirá das obras de: i) Megale e Toledo
Neto (2005), acerca das normas de edição; ii) Belloto (2002), sobre a descrição diplomática de
documentos da esfera jurídica; e iii) Cardoso (2013), no que respeita à relação entre as escolhas lexicais
e os gêneros discursivos.
A língua, vista sob a óptica lexical, é formada por um repertório de unidades em constante crescimento e
renovação. Com isso, os estudos da lexicologia e em especial a lexicografia deparam-se constantemente
com dificuldades relacionadas aos conceitos de unidades polilexicais, sobretudo quando se volta à sala
de aula. Essas unidades, de emprego corrente pelos usuários de uma língua estão presentes na oralidade,
mas também em gêneros escritos como a publicidade. Sob o desafio ser uma proposta esclarecedora
referente às unidades polilexicais, esse trabalho faz um estudo dos frasemas denominadas expressões
idiomáticas (EI’s) destacando seu conceito teórico e as perspectivas para o ensino no que se refere ao
léxico. Assim, por meio de uma pesquisa de campo é apresentado a concepção de professores da rede
básica de ensino em oposição à teoria inerente ao tema. Como principais resultados, destaca-se que a
maioria dos docentes entrevistados não conhecem dicionários especiais, mas trabalham com EI’s. Outro
dado importante centra-se na confusão praticada pelos docentes aos citarem outras lexias como sinônimo
de EI’s, o que correspondente as lacunas ainda presentes nesse campo.
Nesta pesquisa pretende-se estudar e analisar os fenômenos da fala nos níveis fonético-fonológico e
semântico-lexical que indicam os processos de manutenção e inovação linguística na fala de
Cascavel/PR. Os dados da pesquisa foram coletados por Busse (2010), para o estudo
geossociolinguístico da fala do Oeste do Paraná. A geolinguística auxilia na demarcação do espaço dos
dialetos, traçando o percurso da variação, identificando os níveis de conservação e inovação linguística.
A descrição da variação no interior das dimensões sociais – dimensão diastrática – oferece uma incursão
no tempo e na sociedade, identificando os elementos ‘condicionadores’ que atuam num determinado
espaço para a manutenção ou não dos traços linguísticos. A descrição dos falares no interior das
dimensões diatópica (areal) e diastrática (social) demonstra que as variáveis independentes, pertencentes
ao contexto ‘externo’ ou social, encontram-se sobrepostas e sua descrição possibilita o registro da
dinamicidade da língua. Os movimentos históricos responsáveis pela formação da região acenam para
uma heterogeneidade linguística particular em determinados aspectos e similar em outros, haja vista os
traços multiculturais da população. Parte-se da concepção de que ao assimilar e interagir como o mundo
circundante, o homem passa a estabelecer relações intermediadas pela linguagem. Nesse movimento
entre língua e sociedade, os estudos da variação linguística auxiliam a compreender alguns fenômenos
sociais que tem a fala como palco de representações dos processos socioculturais.
Ao descrever a fala e oferecer pistas para uma compreensão histórico-cultural da língua na sua face mais
viva – a fala de cada dia (ALVAR, 1996), a Dialetologia busca no método geolinguístico a base empírica
para representar a propagação de uma inovação linguística por uma região – seus pontos débeis e vitais,
e identificar as áreas de manutenção e de transição (CHAMBERS; TRUDGILL, 1980). A partir dos
princípios teórico-metodológicos da Dialetologia e da Geolinguística, pretende-se descrever as variantes
para a vibrante alveolar, em dados coletados por Busse (2010), no município de Cascavel/PR. A região
Oeste do Paraná é caracterizada pelo seu polimorfismo linguístico, resultado do encontro e da
convivência de diferentes culturas e etnias. Diante dessa realidade, para a identificação dos fenômenos
de manutenção e inovação linguística, foram tomados, além das variáveis areais a distribuição das
variantes linguísticas nos parâmetros e nas dimensões sociais. Em trabalhos anteriores (AGUILERA,
1994; ALTINO, 2007), é possível encontrar registros das variantes para a vibrante alveolar em coda
silábica que revelam uma segmentação da região em duas áreas: (i) uma de transição linguística, em que
formas inovadoras, como a retroflexa e a velar, coocorrem com as variantes dos falantes sulistas (tepe e a
vibrante múltipla), e outra de manutenção das variantes dos colonizadores sulistas. A descrição dos
falares, no interior das dimensões diatópica (areal) e diastrática (social), pode apontar as variáveis
pertencentes ao contexto externo’ ou social e ‘interno’ ou linguístico, que se encontram sobrepostos e
que favorecem a descrição da dinamicidade da língua.
476
Esta comunicação está inserida no projeto “Sala de cinema: implementação de espaço de cultura”, do
Programa Universidade Sem Fronteiras (Paraná) na modalidade de extensão, que é financiado pela
Fundação Araucária, esse trabalho tem ocorrido na Universidade Estadual do Norte do Paraná
(UENP/CCP), bem como na ONG MUSICARTE, que acolheu a proposta oferecida pela Universidade.
A proposta centra-se na veiculação de filmes considerados relevantes no contexto cinematográfico
nacional e/ou internacional, promovendo a aproximação entre diferentes segmentos sociais e o cinema.
Até o momento, os trabalhos têm focado a constituição de um acervo fílmico e o estudo de produções, a
partir de reflexões teóricas e metodológicas, com o intuito de se preparar os bolsistas para atuarem junto
à comunidade a partir do segundo semestre. Para este evento acadêmico, apresenta-se uma análise sobre
o filme nacional "Os famosos duendes da morte", o qual narra o comportamento juvenil, assim como
seus conflitos interiores (sentimentos, crenças, desejos, medos, insegurança, entre outros). O viés
analisado pretende focalizar o uso da linguagem adolescente presente como recurso identitário que
compõe os personagens jovens. Visto que a juventude atual apresenta grande impacto na sociedade, pois
os adolescentes são responsáveis por parte das variações linguísticas ocorrentes no cotidiano. Desta
forma, por intermédio de uma reflexão linguística presentes na cinematografia, o trabalho também
almeja representar as influências de fatores externos que corroboram para o discurso juvenil.
A presente comunicação propõe apresentar a variação linguística que ocorre no uso do pronome de
primeira pessoa do plural nós/a gente presente no falar dos moradores da Comunidade quilombola do
Tipitinga. O trabalho surgiu a partir do projeto de pesquisa “O Português Afro-Indígena na Amazônia
Oriental”, coordenado pelo Prof. Dr. Jair Francisco Cecim da Silva (UFPA/Campus de Bragança). O
presente projeto propõe investigar o sistema pronominal falado (vernacular) nas comunidades
quilombolas da Amazônia Oriental O foco principal para este trabalho é apresentar a variação
pronominal da primeira pessoa do plural, fundamentado a partir de Lopes (2003), Zilles (2007) e
Lucchesi, Baxter & Ribeiro. (2009). Para efetivar essa pesquisa, coletamos textos orais, por meio de
entrevistas. Baseado nesses dados recolhidos, observamos que ficou muito marcado o uso do substantivo
gente, que com o tempo veio a ser incorporado no quadro pronominal na forma cristalizada de a gente,
substituindo a primeira pessoa em variação do pronome nós, segundo Lopes (2003). Chama atenção no
estudo que essa variação vem acarretando mudanças no paradigma da concordância verbal Zilles (2007).
Lucchesi, Baxter & Ribeiro. (2009) também reafirma em seus estudos que tais mudanças são
evidenciadas no quadro pronominal do português afro-brasileiro. Segundo ainda Lucchesi, Baxter &
Ribeiro. (2009) não se trata de uma variação determinada pela força da gramática, mas de uma mudança
de hábitos linguísticos correlacionada a mudanças comportamentais no plano da cultura, da ideologia e
das relações sociais. Contudo, tais mudanças têm implicações gramaticais, na medida em que reduzem o
espectro flexional do verbo.
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De acordo com pesquisadores do ensino de línguas, a canção é um gênero sincrético que permite o
desenvolvimento dos conhecimentos sistêmicos e de cultura necessários no ensino-aprendizagem de uma
língua estrangeira. Desenvolvemos um projeto de iniciação científica cujo objetivo geral é o de estudar a
canção nas coleções de livros didáticos das séries finais do Ensino Fundamental e nas coleções do
Ensino Médio, aprovadas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Mostramos aqui como a
canção é utilizada para o ensino de língua inglesa nas coleções do Ensino Médio. Após o levantamento
das canções nos livros, realizamos uma análise quantitativa e, depois, uma qualitativa das propostas
didáticas com canções, baseando-nos os pressupostos teóricos sobre o gênero canção, a partir das
considerações de Bakhtin e seus seguidores, bem como dos Parâmetros Curriculares Nacionais de
Língua Inglesa. Os resultados da análise quantitativa mostram que 77% das canções de nosso corpus de
estudo são utilizadas para a interpretação textual; 33% para o preenchimento de lacunas; 27% para o
aprendizado de vocabulário; 16% para corrigir os erros presentes na letra da canção. Pelas propostas dos
exercícios, vemos que o texto é utilizado apenas como pretexto para o ensino de novas palavras e para
interpretação textual e auditiva, visto que não mencionam suas condições de produção, e, mesmo
explorando o caráter não-verbal da canção, as propostas não vão muito além de tocá-la para os alunos e
solicitar que eles façam o que o livro está pedindo, sem que haja uma discussão que aborde a canção
enquanto gênero discursivo, fazendo com que suas potencialidades não sejam totalmente aproveitadas.
Este trabalho parte da compreensão da linguagem enquanto exercício social que se dá através das
interações verbais, pressuposto que tem transformado a prática da escrita no universo escolar. O texto em
si não é o resultado de ações regidas por etapas sequenciais que, por sua vez, foram comandadas por
regras baseadas na boa formação frasal (Marcuschi, 2012). Dessa forma, a produção textual enquanto
elemento de ensino da prática da linguagem, tanto na modalidade escrita quanto na modalidade oral,
necessita estar fundamentada sob uma perspectiva que considere o texto como unidade de sentido e de
interação humana e que o entenda enquanto evento comunicativo. Neste sentido, adotando a abordagem
discursiva sociointeracionista como lente teórica e uma proposta metodológica de caráter qualitativo,
exploramos as propostas de produção textual apresentadas por meio das atividades identificadas no livro
didático Porta Aberta de Língua Portuguesa destinado ao 5º ano do Ensino Fundamental, buscando
descobrir em que medida a concepção sociointeracionista está sendo considerada nas atividades de
produção textual, uma vez que é esta a abordagem preconizada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) no tocante ao ensino de língua, além de ser amplamente defendida por estudiosos da linguagem
como, por exemplo, Bakhtin (1986), Geraldi (1991), Bonckart (1997), Marcuschi (2008) e outros.
Este trabalho tem como objetivo discutir resultados da reescrita em contexto escolar, a partir dos
pressupostos teóricos da Linguística Aplicada (LA) e da Análise Dialógica do Discurso (ADD) de
Bakhtin (2003, 1998). Para tanto, utilizaremos uma Sequência Didática (SD) de estudo do gênero relato
de experiência vivida elaborada por bolsistas do subprojeto de Letras do Programa Institucional de Bolsa
de Iniciação à Docência (PIBID) da Universidade Estadual de Maringá (UEM), aplicada à alunos do
primeiro ano do Ensino Médio participantes das oficinas de produção textual preparatórias para o
Processo de Avaliação Seletiva (PAS). Delimitamos como corpus cinco redações. O foco reside na
observação dos elementos de coesão e coerência textual (KOCH, 2015); no diagnóstico dos principais
desvios gramaticais encontrados nas versões iniciais; bem como, na presença de equívocos e melhoras
nas segundas versões. Através desse estudo, percebemos que a reescrita possibilita uma melhora na
organização textual e gramatical.
A relação entre língua materna (LM) e estrangeira (LE) tem sido abordada em estudos como os de
Coracini (2003, 2007) e o de Revuz (1998). Nesses trabalhos, defende-se a não simplicidade do contato e
da inserção em uma LE e a existência de uma relação intrínseca desta com a LM dos aprendizes de uma
LE. Afirma-se que, apesar de existirem diferenças óbvias entre LM e LE, elas não apresentariam limites
tão precisos, visto que existiria uma relação de imbricação entre essas línguas. Nesta pesquisa, baseando-
nos nesse arcabouço teórico e partindo da proposta da interpretação de Chacon (2015) da estrutura
hierárquica da sílaba (Selkirk 1982) na escrita infantil, objetiva-se analisar registros escritos de palavras
em inglês, feitos por crianças, falantes do português brasileiro (PB), que tiveram pouco ou nenhum
contato formal prévio com o inglês. Especificamente, investigam-se quais conflitos relativos à estrutura
silábica são vividos por esses escreventes quando se veem frente ao desafio de registrar palavras em
inglês e buscam-se indícios da influência ou não da LM dos escreventes para a instauração desses
conflitos.
Este trabalho é fruto de pesquisas realizadas para a concretização do projeto de Iniciação Científica
(financiado pela CNPq), “Jornalismo opinativo: uma proposta de ensino da língua por meio de gêneros
textuais”, vinculado ao projeto de pesquisa “Gêneros do jornal como objeto de transposição didática”,
coordenado pela Profa. Dra. Eliana Merlin Deganutti de Barros. Em sua base teórica, o projeto pauta-se
nos estudos do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), em especial aos voltados para a transposição
didática de gêneros textuais. O projeto de IC tem como objeto de análise as ações desenvolvidas no
subprojeto de ensino PIBID, “Letramentos na escola: práticas de leitura e produção textual”, do eixo
pautado nos Gêneros Textuais”, o qual visa promover o letramento em duas escolas estaduais parceiras
do programa a partir da ferramenta Sequência Didática (SD). Esta comunicação objetiva apresentar
como ocorreu a aquisição e o desenvolvimento das capacidades de linguagem em alunos de um 9º ano
(participantes do PIBID 2015), a partir de intervenções didáticas nas quais foi desenvolvida uma SD do
gênero artigo de opinião. Acreditamos que essa pesquisa possa contribuir com os estudos voltados para a
transposição dos gêneros, bem como ao incentivo do trabalho docente com esse instrumento de ensino, a
SD.
Este trabalho tem como pilar teórico os estudos desenvolvidos pelo Interacionismo Sociodiscurso,
sobretudo na sua vertente didática. O corpus de análise é composto por textos escritos por alunos do
Ensino Fundamental II participantes do subprojeto de Língua Portuguesa/Gêneros Textuais do PIBID. O
objetivo é verificar as potencialidades das estratégias de revisão/reescrita textual sob a perspectiva da
correção do professor, da revisão coletiva + lista de controle, autoavaliação do aluno + lista de controle
para o desenvolvimento de capacidades de linguagem nos aprendizes (DOLZ; GAGNON; DECÂNDIO,
2010). Além disso, pretendemos analisar a relevância desses instrumentos na produção do gênero textual
carta do leitor que compôs o Jornal PIBID (2ª edição). Almejamos, assim, contribuir para as pesquisas
voltadas para o ensino da escrita sob o viés sociointeracionista da linguagem, além de discutir o papel do
texto enquanto objeto do trabalho docente e os meios de trabalha-lo tendo como finalidade o ensino e a
aprendizagem da produção textual.
Partindo de uma experiência no Programa institucional de bolsa de iniciação à docência (PIBID) relata-
se, neste trabalho, a organização da sequência didática que explora o gênero argumentativo.
Fundamenta-se no conceito de gênero textual de Marcuschi (2008), e na proposta de trabalho pedagógico
com projetos de produção de gêneros discursivos desenvolvida por Pasquier; Dolz (1996) e Scheneuwly;
Dolz (2004). As hipóteses da pesquisa são que os temas das propostas de redação do Enem são de cunho
social e devem ser tratados pelo viés propriamente sociológico, mas também pelo político, histórico,
linguístico, científico etc. Aspectos sociais, dentre outros, dependendo do recorte temático imposto pela
coletânea de textos motivadores, são fundamentais em uma dissertação-argumentativa do Enem. O
aspecto intertextual da proposta de redação do Enem abre a possibilidade do intercâmbio de ideias e de
práticas por parte do candidato, que tem a sua frente várias possibilidades de abordagem do tema por
meio da intertextualidade e da interdisciplinaridade. O objetivo geral deste trabalho é refletir como se
deve ensinar as competências exigidas na redação do Enem, analisando a produção oral e escrita em
aulas de Língua Portuguesa do segundo ano do Ensino Médio. Os temas selecionados para este trabalho
são as relações interdisciplinares, cultura e identidade africana, tendo como suporte teórico Munanga
(2008); Felinto (2012); Cameschi (2008). Os resultados reafirmam que o trabalho interdisciplinar e
intertextual realiza um movimento de transformação no currículo, na didática, proporcionando um
diálogo entre as disciplinas, e um efeito positivo no desempenho da escrita dos alunos.
Este trabalho faz parte do subprojeto PIBID/UENP “Letramento na escola: práticas de leitura e produção
textual”, que se insere no eixo 2, Língua Portuguesa, coordenado pela Prof.ª Dr.ª Eliana Merlin
Deganutti de Barros. Este eixo focaliza o letramento por meio de gêneros do jornal, com a mediação da
ferramenta “sequência didática”, fundamentada nas pesquisas do grupo genebrino filiado ao
Interacionismo Sociodiscursivo (ISD), sobretudo sua vertente didática. O objetivo desta comunicação é
apresentar um modelo teórico (BARROS, 2014) do gênero “horóscopo”, comparando os diferentes
horóscopos que circulam em jornais, revistas e sites da internet. A elaboração do modelo teórico está
fundamentada na categoria “capacidades de linguagem” desenvolvida pelo Interacioniosmo
Sociodiscursivo (capacidades de ação, discursiva e linguístico-discursivo). Este trabalho é a primeira
etapa da transposição didática desse gênero, uma vez que ele dá possibilidade de o professor conhecer
melhor as características contextuais e linguístico-discursivas do seu objeto/ferramenta de ensino da
língua, para posterior adaptação ao contexto didático.
Este trabalho traz resultados das análises realizadas no projeto de iniciação científica “Representações
dos alunos em relação às ações do PIBID”, o qual tem como objeto de estudo as ações desenvolvidas no
subprojeto PIBID “Letramentos na escola: práticas de leitura e produção textual”, que toma os gêneros
jornalísticos como objeto de ensino. Os dois projetos são desenvolvidos na Universidade Estadual do
Norte do Paraná (UENP/CCP) sob a coordenação da Prof.ª Drª. Eliana Merlin Deganutti de Barros. A
pesquisa apoia-se nos estudos teórico-metodológicos do Interacionismo Sociodiscurso (ISD) e em
estudos que privilegiam os gêneros jornalísticos como objeto de ensino. Para esta apresentação pretende-
se, através de um questionário respondido pelos alunos atendidos no subprojeto PIBID, mostrar as
representações e crenças desses alunos a respeito do processo de reescrita de textos – umas das etapas
fundamentais da metodologia das Sequências Didáticas de Gêneros. A finalidade desse trabalho é expor
como os alunos veem o ensino da língua portuguesa através do subprojeto PIBID para que, assim, possa
ser melhorado esse programa que se faz muito importante para a formação inicial dos alunos na
graduação.
Esta comunicação apresenta resultados iniciais de um trabalho de iniciação científica em vigência, tendo
por objetivo evidenciar, através de uma seleção qualitativa-interpretativista dos dados, eventos de escrita
que revelem a interação da criança com o outro, mesmo quando ela não adquiriu a convenção ortográfica
da língua. Para isso, selecionamos quatro dados, dois correspondentes a escrita no 2º ano e outros dois do
4º ano, da mesma criança de uma escola particular de Campinas-SP, cuja pedagogia utilizada era a
freinetiana. Como os dados foram selecionados de um corpus que possibilita uma análise longitudinal,
uma vez que é composto de toda a escrita de um indivíduo realizada ao longo do Ensino Fundamental I,
acompanhar o processo gradual da escrita do sujeito. Partindo do pressuposto de linguagem como
atividade (FRANCHI, 1997), temos uma língua viva, dinâmica e variável, social, cultural e
historicamente constituída. No ato de escrever, conforme Franchi (op. cit.), o escrevente se apropria do
sistema linguístico, “no sentido de que constrói, com os outros, os objetos linguísticos sistemáticos que
vai utilizar, na medida em que se constitui a si próprio como locutor e aos outros como interlocutores”
(p. 12). Cabe ao professor enxergar no texto do aluno uma unidade significativa e não uma tarefa
escolar, ou seja, cabe ao professor tratar o texto como um acontecimento, como Corrêa (2006; 2007)
sugere. Entendemos a escrita como um processo a ser desenvolvido e não como produto. É através da
interação, motivação e importância que o professor dá ao texto que, na fase de aquisição da escrita, o
estudante aciona mecanismos complexos para fazer-se compreender pelo outro.
O filme “A duquesa” (2008) retrata a mulher na aristocracia britânica do século XVIII, relatando a vida
conjugal de Georgiana Cavendish, que é entregue a um casamento por contrato familiar ao duque
Devonshire. Seu único objetivo era ter um herdeiro, mas em suas tentativas dá a luz por duas vezes
seguidas a meninas, o que causa uma frustração no marido e nela mesma, pois a sociedade impunha a
eles que o herdeiro deveria ser um menino. Com o objetivo de estudar a representação da mulher e a
opressão por ela sofrida no casamento no contexto relatado, este trabalho analisa esse filme, o qual
mostra que, apesar de a mulher ter alguma representatividade política na sociedade inglesa desse
período, ela ainda é submissa e reprimida no referente ao contexto conjugal. Para tecer a análise, este
estudo busca os referenciais da Análise do Discurso de corrente francesa, sob a luz dos conceitos e
definições propostos por Pêcheux (1990), Orlandi (2005), dentre outros. Por meio do estudo do filme,
observou-se que a mulher, no casamento, tinha papel submisso ao homem, especialmente que no tange à
vida sexual e ao direito sobre os filhos. Ela era oprimida e reprimida tanto pelo marido que desejava ter
um filho do sexo masculino quanto pela mãe que não aceitava a separação do casal. Vivia à mercê dos
desejos conjugais e das vontades do esposo.
O presente trabalho tem como objetivo analisar, em pregações religiosas, a paráfrase como processo de
reconstrução de textos anteriormente ditos. É um recurso linguístico muito recorrente na língua falada,
pois busca uma nova forma de dizer um enunciado, anteriormente formulado, com outras palavras,
mantendo a mesma relação semântica entre eles, seja para explicar, expandir, sintetizar, ou dar ênfase no
texto proferido. Ou seja, conserva o sentido e reproduz um novo texto com ordem e escolha sintáticas
diferentes. Serão analisados os tipos, as funções, a recorrência e os efeitos de sentidos das paráfrases
proferidas em pregações dos pastores Silas Malafaia, Valdemiro Santiago e Edir Macedo. O trabalho terá
como fundamentação teórica estudos da Análise da Conversação e da Linguística Textual. Espera-se
contribuir com as pesquisas relacionadas ao gênero textual pregação religiosa e suas estratégias, ao usar
da paráfrase como processo esclarecedor de conteúdos apresentados, deixando a fala mais clara e
compreensível.
A pesquisa “O corpo feminino como discurso na performance Lovely Babies, de Márcia X.”, apresenta
como norte teórico e metodológico a Análise de Discurso de vertente francesa fundada por Michel
Pêcheux. Possui como objetivo geral investigar a discursivização e os sentidos do corpo feminino na
performance Lovely Babies, da artista Márcia X., e, mais especificamente, de compreender o corpo
como discurso artístico; estudar a performance como movimento artístico contemporâneo, na perspectiva
da arte e do discurso, numa relação de entremeio; apresentar características artísticas da proposta de
Márcia X.; descrever a performance Lovely Babies, explicitando suas condições de produção, com vistas
ao funcionamento discursivo; e, por fim, analisar discursivamente o corpo significando o feminino e
significado pelo feminino na performance da artista, considerando os entremeios discursivos do discurso
sobre/do feminino, sobre/do corpo e sobre/do corpo feminino. Na relação com o objetivo de investigar a
discursivização e os sentidos do corpo feminino em sua performance, interroga-se, na forma de problema
de pesquisa: como o corpo feminino é discursivizado e significa na performance Lovely Babies, de
Márcia X.? Ressaltamos que a presente pesquisa em desenvolvimento e sob orientação da profª Drª
Renata Marcelle Lara, possibilita-nos pensar a relação entre o discurso sobre/do feminino, sobre/do
corpo e sobre/do corpo feminino na performance em questão. Por último, busca-se como resultado, a
visualização discursiva da representação do corpo feminino na relação com a performance capaz de
apontar sentidos dessa relação mulher-corpo-performance.
As cartas do leitor publicadas em revistas e jornais são apenas trechos do texto enviado pelo leitor,
geralmente por e-mail, tornando desnecessário alguns elementos composicionais da carta. Os trechos
publicados apresentam a opinião do leitor sobre uma reportagem publicada anteriormente a qual ele teve
interesse pelo assunto. Já no contexto do vestibular é solicitado ao candidato que ele produza o gênero
com todos os elementos composicionais de uma carta a partir de um texto de apoio que nem sempre
possui um tema que o candidato tem afinidade. Entendendo o gênero discursivo como um enunciado
concreto inerente às relações sociais, este trabalho tem como objetivo apresentar uma parte da
transposição didática realizada nas aulas de produção textual do Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (Pibid), em uma escola do ensino médio do noroeste do Paraná. Para isso, vamos
utilizar as produções textuais dos sujeitos aprendizes, os quais participam do projeto. Delimitamos, para
este trabalho, evidenciar apenas o trabalho com o contexto de produção, norteado na Análise Dialógica
do Discurso (BAKHTIN, 2003, 1998) e no Interacionismo Sociodiscursivo - ISD (BRONCKART,1999).
Os resultados mostraram que apesar da diferença na estrutura das cartas que circulam no cotidiano para
as cartas solicitadas no vestibular os alunos conseguem produzir com todos os elementos solicitados, a
dificuldade está na interpretação tanto do texto de apoio quanto do comando de produção.
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