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NEOLIBERALISMO SE APROPRIA DA IDÉIA DE “INCLUSÃO” PARA PRIVATIZAR

A EDUCAÇÃO

Roberto Leher- Professor da Faculdade de Educação da UFRJ

Nas duas últimas décadas, uma hegemonia discursiva sobre a educação se afirmou de modo
penetrante. A narrativa neoliberal demonstrou extraordinária capacidade adaptativa ao assimilar
as palavras-chaves do discurso que se apresentou como a sua crítica, concentrada na idéia de
“exclusão e inclusão social” e educação.
Essa hegemonia discursiva incorpora, no sentido neoliberal, formulações, palavras e imagens
provenientes das lutas e da produção de conhecimento na universidade e nas entidades
acadêmicas. A incorporação dessas expressões ressignificadas confere ao discurso hegemônico
uma embalagem “progressista”, dita pós-neoliberal, e amplia a sua eficácia ideológica.

Para melhor compreender a hegemonia neoliberal na educação é importante problematizar o


pressuposto de que tal discurso é um caleidoscópio, marcado por mosaicos refeitos
permanentemente. Existe uma hegemonia de sentidos que confere coesão e coerência ao discurso
e, em termos materialistas, essa hegemonia tem de ser pensada considerando a correlação de
forças entre as classes sociais. A despeito de nuances, os discursos pósmodernos,
neodesenvolvimentistas e “pósneoliberais” não escapam do campo ideológico dominante. Seus
fundamentos, diagnósticos e alternativas desembocam no mesmo campo, esboçado a seguir.

Diagnóstico: o sistema de educação público é ineficiente, de baixa qualidade, ministrado por


professores desprovidos de responsabilidade social e indiferentes às múltiplas identidades dos
pobres. É, em uma palavra, excludente. É, portanto, responsável pela exclusão social e pela
pobreza. Como as políticas públicas centradas no Estado falharam, é preciso promover parcerias
com a sociedade civil, em especial com as organizações imbuídas de responsabilidade social e
comprometidas com o desenvolvimento sustentável. A participação da sociedade civil é
indispensável para identificar os grupos vulneráveis de excluídos que precisam ser
“empoderados” para que adquiram empregabilidade ou se afirmem como empreendedores,
condições para a inclusão social e a cidadania e, assim, garantir a paz social e a governabilidade.

Alternativas: a melhoria da qualidade da educação tem de ser baseada em indicadores objetivos


conferidos por sistema externo de avaliação que fundamentem as metas a serem alcançadas. O
alcance das metas exige o envolvimento de novos parceiros da sociedade civil. Os docentes
devem ser estimulados por meio de recompensas que envolvam toda a escola. Para ser inclusivo,
é imprescindível que o ensino seja focado em competências condizentes com as múltiplas
identidades dos pobres e produzam resultados práticos imediatos, como o alivio à pobreza.

Privatização da educação

Esse campo discursivo hegemônico desconsidera o capitalismo, as classes sociais, o bloco de


poder e o padrão de acumulação do capital.Trata-se de uma sociedade civil composta de
indivíduos e organizações de caráter neofilantrópico que manejam a educação de modo que ela
naturalize as profundas desigualdades de classe e o desemprego estrutural, a expropriação e a
hiperexploração. Ao focalizar a educação nas identidades, definidas muitas vezes por categorias
importadas de outros contextos, contribui para implodir qualquer projeto de educação pública
universal e unitária.

Essa agenda neoconservadora (“neo” pois incorpora perspectivas antes críticas) resulta da
relação de classes característica do capitalismo dependente, tal como definido por Florestan
Fernandes. A agenda é encaminhada localmente pelas frações locais da burguesia, que
recontextualizam as formulações dos organismos internacionais.

Entre os intelectuais coletivos que contribuíram para sua recontextualização no país, cabe citar o
Programa de Reforma Educativa na America Latina (PREAL/ USAID), o movimento “Brasil
Competitivo” nos anos 1990 a meados da presente década e, mais amplamente, o “Compromisso
Todos pela Educação”, a rigor, um lobby das grandes corporações dos setores financeiro, agro-
mineral, comunicação, editorial, telefonia e informática.

A principal medida educacional do governo Lula, o Plano de Desenvolvimento da Educação,


expressa a agenda dos setores dominantes, servindo de referência para que estados e municípios
se lancem em corrida rumo às parecerias públicoprivadas, principalmente com organizações que
lideram o “Todos pela Educação”, como Itaú-Social, Airton Senna, Roberto Marinho, Vitor
Civita, entre outros.

A maior ameaça é que o referido movimento avance na política de que o Estado deve abandonar
suas escolas públicas, ofertando-as à gestão privada. Esse risco é real e imediato, como se
depreende das reivindicações do PMDB ao programa da nova presidente Dilma Rousseff:

a) “Estender o sistema do ProUni aos níveis fundamental e médio de ensino”. Assim, o repasse
de verbas públicas para as entidades privadas-mercantis seria ampliado também para as escolas
do ensino fundamental e médio.

b) “Fazer, a partir da transformação do ensino médio, uma revolução de qualidade do ensino


público em todos os níveis. Adotar um ensino capacitador, com foco no básico – análise verbal
(português) e análise numérica (matemática)”. Em suma, também no ensino médio, bastam as
primeiras letras na velha fórmula reacionária: saber ler, escrever e contar.

A conclamação de Florestan Fernandes de que a luta pela educação pública requer um novo
ponto de partida, feita por há mais de duas décadas, é mais atual que nunca. Os setores
dominantes hegemonizaram o discurso educacional, conseguindo dirigir intelectual e
moralmente vários setores sindicais e intelectuais do campo educacional. Os que vivem do
próprio trabalho e são explorados precisam tomar a tarefa de “reinventar o público” como um
desafio estratégico da classe, pois, caso contrário, os setores dominantes irão difundir as
competências que convêm ao capital para mais de 55 milhões de crianças e jovens sem
contraponto à altura.

Essas lutas devem estar articuladas com os setores democráticos e comprometidos com a
educação pública nas universidades, escolas, entidades acadêmicas, pois envolvem uma áspera
batalha de idéias. Seria um grave erro deixar de contar com a energia criadora de estudantes e
professores que produzem conhecimento crítico. Mas não será a universidade que impulsionará
esse movimento, daí a responsabilidade diferenciada dos trabalhadores e de suas organizações
em propiciar espaços de produção de conhecimento novo em suas próprias organizações e em
coletivos da classe, nos moldes das universidades populares cuja maior inspiração, entre nós, é a
Escola Nacional Florestan Fernandes.

Fonte: http://www.mst.org.br/jornal/308/realidadebrasileira

Número: 308, Nov/Dez - 2010

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