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A EDUCAÇÃO
Nas duas últimas décadas, uma hegemonia discursiva sobre a educação se afirmou de modo
penetrante. A narrativa neoliberal demonstrou extraordinária capacidade adaptativa ao assimilar
as palavras-chaves do discurso que se apresentou como a sua crítica, concentrada na idéia de
“exclusão e inclusão social” e educação.
Essa hegemonia discursiva incorpora, no sentido neoliberal, formulações, palavras e imagens
provenientes das lutas e da produção de conhecimento na universidade e nas entidades
acadêmicas. A incorporação dessas expressões ressignificadas confere ao discurso hegemônico
uma embalagem “progressista”, dita pós-neoliberal, e amplia a sua eficácia ideológica.
Privatização da educação
Essa agenda neoconservadora (“neo” pois incorpora perspectivas antes críticas) resulta da
relação de classes característica do capitalismo dependente, tal como definido por Florestan
Fernandes. A agenda é encaminhada localmente pelas frações locais da burguesia, que
recontextualizam as formulações dos organismos internacionais.
Entre os intelectuais coletivos que contribuíram para sua recontextualização no país, cabe citar o
Programa de Reforma Educativa na America Latina (PREAL/ USAID), o movimento “Brasil
Competitivo” nos anos 1990 a meados da presente década e, mais amplamente, o “Compromisso
Todos pela Educação”, a rigor, um lobby das grandes corporações dos setores financeiro, agro-
mineral, comunicação, editorial, telefonia e informática.
A maior ameaça é que o referido movimento avance na política de que o Estado deve abandonar
suas escolas públicas, ofertando-as à gestão privada. Esse risco é real e imediato, como se
depreende das reivindicações do PMDB ao programa da nova presidente Dilma Rousseff:
a) “Estender o sistema do ProUni aos níveis fundamental e médio de ensino”. Assim, o repasse
de verbas públicas para as entidades privadas-mercantis seria ampliado também para as escolas
do ensino fundamental e médio.
A conclamação de Florestan Fernandes de que a luta pela educação pública requer um novo
ponto de partida, feita por há mais de duas décadas, é mais atual que nunca. Os setores
dominantes hegemonizaram o discurso educacional, conseguindo dirigir intelectual e
moralmente vários setores sindicais e intelectuais do campo educacional. Os que vivem do
próprio trabalho e são explorados precisam tomar a tarefa de “reinventar o público” como um
desafio estratégico da classe, pois, caso contrário, os setores dominantes irão difundir as
competências que convêm ao capital para mais de 55 milhões de crianças e jovens sem
contraponto à altura.
Essas lutas devem estar articuladas com os setores democráticos e comprometidos com a
educação pública nas universidades, escolas, entidades acadêmicas, pois envolvem uma áspera
batalha de idéias. Seria um grave erro deixar de contar com a energia criadora de estudantes e
professores que produzem conhecimento crítico. Mas não será a universidade que impulsionará
esse movimento, daí a responsabilidade diferenciada dos trabalhadores e de suas organizações
em propiciar espaços de produção de conhecimento novo em suas próprias organizações e em
coletivos da classe, nos moldes das universidades populares cuja maior inspiração, entre nós, é a
Escola Nacional Florestan Fernandes.
Fonte: http://www.mst.org.br/jornal/308/realidadebrasileira