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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 32

01/08/2018 PLENÁRIO

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.010 MATO GROSSO

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS PERITOS OFICIAIS CRIMINAIS DO
ESTADO DE MATO GROSSO - SINDPECO/MT
ADV.(A/S) : MARCOS DANTAS TEIXEIRA E OUTRO(A/S)

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART.


18, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI MATO GROSSENSE N. 8.321/2005.
AUTORIZAÇÃO DE PORTE DE ARMA PARA SERVIDORES PÚBLICOS
ESTADUAIS (PROFISSIONAIS DA PERÍCIA OFICIAL E
IDENTIFICAÇÃO TÉCNICA – POLITEC-MT).
INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA UNIÃO PARA
LEGISLAR SOBRE MATERIAIS BÉLICOS, QUE ALCANÇA MATÉRIA
AFETA AO PORTE DE ARMAS. SEGURANÇA PÚBLICA. INTERESSE
GERAL. PRECEDENTES: ADIS 2.729, 3.058 E 3112. AUSÊNCIA DE
CONTRARIEDADE AO PRINCÍPIO FEDERATIVO. O CAPUT E A PARTE
REMANESCENTE DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 18 DA LEI MATO-
GROSSENSE N. 8.321/2005, QUE ASSEGURAM DIREITO À CARTEIRA
FUNCIONAL DE IDENTIFICAÇÃO DOS SERVIDORES ESTADUAIS,
ESTÃO EM HARMONIA COM A CONSTITUIÇÃO. AÇÃO JULGADA
PARCIALMENTE PROCEDENTE PARA DECLARAR A
INCONSTITUCIONALIDADE DAS EXPRESSÕES “LIVRE PORTE DE
ARMA” E “LIVRE PORTE DE ARMA E” CONTIDAS NO PARÁGRAFO
ÚNICO DO ART. 18 DA LEI MATO-GROSSENSE N. 8.321/2005.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do

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ADI 5010 / MT

Supremo Tribunal Federal, em Sessão Plenária, na conformidade da ata


de julgamento, por unanimidade e nos termos do voto da Relatora,
Ministra Cármen Lúcia (Presidente), em julgar parcialmente procedente
o pedido formulado na ação direta, para declarar a inconstitucionalidade
das expressões "livre porte de arma" e "livre porte de arma e", contidas no
Parágrafo único do art. 18 da Lei n. 8.321/2005 do Estado do Mato Grosso.
Ausente, neste julgamento, o Ministro Luiz Fux.

Brasília, 1º de agosto de 2018.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.010 MATO GROSSO

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO
GROSSO
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS PERITOS OFICIAIS CRIMINAIS DO
ESTADO DE MATO GROSSO - SINDPECO/MT
ADV.(A/S) : MARCOS DANTAS TEIXEIRA E OUTRO(A/S)

RE LAT Ó RI O

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (RELATORA):

1. Ação Direta de Inconstitucionalidade ajuizada em 9.7.2013 pelo


Procurador-Geral da República contra o art. 18 da Lei mato-grossense n.
8.321, de 12.5.2005, que dispõe:

“Art. 18. O servidor da Carreira dos Profissionais da Perícia


Oficial e Identificação Técnica – POLITEC-MT terá direito à Carteira
Funcional de Identificação a ser fornecida quando do ingresso na
carreira.
Parágrafo único. A carteira de identidade funcional autoriza o
servidor o livre porte de arma e franco acesso aos locais sob a
fiscalização da polícia em todo o território estadual, e terá a seguinte
redação: ‘O portador tem livre porte de arma e franco acesso aos locais
sob a fiscalização da Polícia e ao mesmo deve ser dado apoio e auxílio
necessário ao desempenho de suas funções”.

O caso

2. O Autor destaca, inicialmente, que “a discussão que se estabelece é


sobre a possibilidade de concessão de porte de arma através de lei estadual”.

Argumenta, em síntese, que o dispositivo impugnado teria


contrariado os arts. 21, inc. VI, e 22, inc. I, da Constituição da República

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por versarem “sobre tema que não estava sob sua competência e cria nova
hipótese de porte de arma de fogo (…) interfer[indo] diretamente na
configuração dos tipos penais descritos nos arts. 12 e 14 da Lei 10.826/03,
invadindo a competência exclusiva da União para legislar sobre o tema”.

Argumenta que “a partir da competência exclusiva da União para tratar


sobre autorização e fiscalização da produção e comercialização de material bélico,
surgiu a Lei n. 10.826/03, Estatuto do Desarmamento [que] dispõe sobre o
registro, a posse e a comercialização de armas de fogo e munição, além de tratar
do Sistema Nacional de Armas – SINARM – e definir condutas criminosas
relacionadas a armas de fogo e munição”, o que evidenciaria a
inconstitucionalidade das normas questionadas.

Pede a declaração de inconstitucionalidade do art. 18 da Lei n.


8.321/2005, do Mato Grosso do Sul.

3. Em 13.7.2013, adotei o rito do art. 12 da Lei n. 9.868/1999.

4. Em suas informações, o Presidente da Assembleia Legislativa do


Mato Grosso alega estar-se “diante da hipótese de inconstitucionalidade
reflexa, portanto a alegação do Ministério Público Federal diz respeito a eventual
vício de ilegalidade do art. 18º da Lei Estadual nº 8.321/2005, em face do advento
da Lei Federal nº 10.826/2003 – Estatuto do Desarmamento, desviando à sede de
controle concentrado de constitucionalidade perante o Egrégio Supremo Tribunal
Federal”.

Afirma que, “examinando o teor do dispositivo legal contestado (...) se


verifica não se tratar de produção de material bélico (CF/88, art. 21, VI), tão
pouco estabelece disposição de direito penal (CF/88, art. 22, I); logo não existe
invasão da competência legislativa exclusiva da União”.

Assevera que “o rol dos autorizados a portar arma de fogo, artigo 6º do


Estatuto do Desarmamento, Lei nº 10.826/2003 é meramente exemplificativo,

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consoante se verifica no texto legal (…) [razão pela qual se] impõe reconhecer
que a uma série de categorias profissionais é conferida autorização, por meio de
legislação própria, para que seus integrantes possam portar armas de fogo,
consoante ocorre, com os magistrados e membros do Ministério Público”.

Aduz, ainda, que “a norma recriminada possui extração constitucional na


previsão do art. 25 da CF/88, por se tratar de legislação própria sobre assunto de
interesse eminentemente local, isto é, de natureza administrativa que autoriza o
porte de arma de fogo aos servidores da Carreira dos Profissionais da Perícia
Oficial e Identificação Técnica, disciplinando os requisitos para seu exercício”.

E conclui: “o artigo 18 da Lei Estadual n. 8.321/2005 complementa o


comando previsto no caput do artigo 6º do Estatuto do Desarmamento, na
condição de legislação própria, disciplinando matéria correlata à disposta na Lei
nº 10.826/2003, sem invadir a competência legislativa exclusiva da União, tão
pouco dispondo acerca de autorização ou fiscalização de produção ou comércio de
material bélico”.

Pede seja julgada improcedente a ação ou “seja julgada parcialmente


procedente para retirar somente a expressão ‘(...) o livre porte de arma (...) tem
livre porte de arma (...)’, deixando incólume o restante do texto do parágrafo
único do artigo 18 da Lei nº 8.321/2005”.

5. O Governador do Estado do Mato Grosso alega, preliminarmente,


que “a ofensa à Carta da República (…) é meramente indireta ou reflexa, já que
depende, para sua eventual constatação, da análise dos artigos 6º, 10, 12 e 14 da
Lei Federal n. 10.826/2003” (grifos no original).

No mérito, defende a constitucionalidade da norma questionada ao


argumento de que “o caso em análise (porte de arma de fogo por peritos
criminais) não se enquadra em absoluto no [art. 21, inc. VI, da Constituição da
República], já que não cuida de produção e/ou comercialização de material
bélico. Não bastasse isso, o dispositivo impugnado em verdade complementa a

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configuração dos tipos penais descritos nos artigos 12 e 14 da Lei Federal n.


10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento), que exigem que a conduta delitiva
esteja ‘em desacordo com determinação legal ou regulamentar’, não havendo
assim qualquer invasão da competência exclusiva da União para legislar sobre o
tema (artigo 22, I, da CF/88)” (grifos no original).

Afirma que “em grande parte dos Estados da Federação, o perito criminal
continua integrando as Polícias Civis, o que lhes garantiria o porte de arma por
força dos artigos 6º, II, da Lei Federal n. 10.826/2003 c/c 144 da Constituição
Federal. Todavia, as Constituições de alguns Estados da Federação preveem
carreiras autônomas para seus peritos criminais, como no caso de Mato Grosso.
Por essa razão, com o advento do Estatuto do Desarmamento, os peritos
criminais desses Estados ficaram em situação de desigualdade em relação àqueles
dos demais Estados da federação, pelo simples fato de se encontrarem organizados
e carreira própria e autônoma em relação às Polícias Civis. É essa situação de
disparidade que a norma impugnada corrige, ao conferir o porte de arma aos
peritos criminais mato-grossenses, usando uma prerrogativa legislativa não
vedada expressa ou implicitamente pelo texto da Carta Magna” (grifos no
original).

Pede a extinção da ação ou, no mérito, a sua improcedência.

6. A Advocacia-Geral da União manifestou-se pela procedência


parcial do pedido, alegando que a norma questionada contraria os arts.
21, inc. VI e 22, inc. XXI, da Constituição da República porque, “ em que
pese a objetividade das normas constitucionais referidas e a inexistência de lei
complementar [, nos termos do parágrafo único do art. 22, ] que permita aos
Estados legislar sobre material bélico, a Assembleia Legislativa do Estado de
Mato Grosso conferiu direito a porte de arma aos servidores da Carreira dos
Profissionais da Perícia Oficial e Identificação Técnica, invadindo a esfera de
competência legislativa constitucionalmente reservada à União”.

Destaca “cabe(r) ao legislador federal definir quem são os titulares do

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direito ao porte de arma, ainda quando se trate de autoridades públicas estaduais,


distritais ou municipais. Em outros termos não há autorização constitucional
para que o Estado de Mato Grosso disponha sobre o tema, de modo que a
concessão de porte de arma aos servidores da Carreira dos Profissionais da
Perícia Oficial e Identificação Técnica de referido ente dependeria da edição de lei
federal nesse sentido. Sendo assim, constata-se a procedência parcial do pedido
formulado pelo autor, devendo ser reconhecida a inconstitucionalidade das
expressões ‘livre porte de arma’ e ‘livre porte de arma e’ , constantes, em
sequência, do dispositivo impugnado, preservando-se o restante da norma inserta
no art. 18 da Lei n. 8.321, de 12 de maio de 2005”.

7. Em sua manifestação, a Procuradoria-Geral da República reiterou


os argumentos apresentados na inicial da presente ação, ponderando,
“contudo, que, na linha das informações prestadas pela Assembleia Legislativa do
Estado do Mato Grosso, o pedido pode ser julgado procedente para declarar a
inconstitucionalidade não de todo o artigo 18, parágrafo único, da Lei Estadual
8.321, de 12 de maio de 2005,2 mas apenas das expressões ‘...o livre porte de
arma e...’ e ‘...livre porte de arma e...’, constantes do parágrafo único, uma vez
que o restante da norma não padece de invalidade (tanto que nem foi atacado na
petição inicial) e é lógica e normativamente autônomo em relação a essas partes”.

8. Em 18.10.2013, admiti o Sindicato dos Peritos Oficiais Criminais


do Estado de Mato Grosso – SINDPECO/MT como amicus curiae.

É o relatório, cuja cópia deverá ser encaminhada aos Ministros do


Supremo Tribunal Federal (art. 9º da Lei n. 9.868/1999 c/c art. 87, inc. I, do
Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.010 MATO GROSSO

VOTO

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA (RELATORA):

1. Como relatado, na presente ação direta de inconstitucionalidade


se questiona a validade constitucional do parágrafo único do art. 18 da
Lei mato-grossense n. 8.321/2005.

2. A Procuradoria-Geral da República argumenta que a norma


impugnada, ao cuidar da “possibilidade de concessão de porte de arma através
de lei estadual”, teria contrariado os arts. 22, inc. VI, e 22, inc. I, da
Constituição da República.

3. O art. 18 da Lei mato-grossense n. 8.321/2005 dispõe:

“Lei n. 8.321/2005
Dispõe sobre a criação da Carreira dos Profissionais da
Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso
- POLITEC/MT, e dá outras providências.
(...)
Art. 18. O servidor da Carreira dos Profissionais da Perícia
Oficial e Identificação Técnica – POLITEC-MT terá direito à Carteira
Funcional de Identificação a ser fornecida quando do ingresso na
carreira.
Parágrafo único. A carteira de identidade funcional autoriza o
servidor o livre porte de arma e franco acesso aos locais sob a
fiscalização da polícia em todo o território estadual, e terá a seguinte
redação: ‘O portador tem livre porte de arma e franco acesso aos locais
sob a fiscalização da Polícia e ao mesmo deve ser dado apoio e auxílio
necessário ao desempenho de suas funções” (grifos nossos).

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Da preliminar de ofensa constitucional reflexa

4. Em suas manifestações, o Presidente da Assembleia Legislativa do


Estado de Mato Grosso e o Governador do Estado de Mato Grosso
sustentaram a impossibilidade de conhecimento da presente ação, ao
argumento de que a verificação de suposta inconstitucionalidade da
norma questionada demandaria o exame da Lei n. 10.286/2003.

5. Na jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal, tem-se que a


ação direta de inconstitucionalidade não é a via apropriada quando, para
a análise da constitucionalidade de uma norma, há de se cotejar a norma
infraconstitucional, não se admitindo a declaração de
inconstitucionalidade reflexa.

Na assentada de 23.11.2000, no julgamento da Questão de Ordem na


Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 2.344/SP, Relator o Ministro Celso
de Mello, o Plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu ser

“incabível a ação direta de inconstitucionalidade, se, para o


específico efeito de examinar-se a ocorrência, ou não, de invasão de
competência da União Federal, por parte de qualquer Estado-membro,
tornar-se necessário o confronto prévio entre diplomas normativos de
caráter infraconstitucional: a legislação nacional de princípios ou de
normas gerais, de um lado (art. 24, § 1º, ), e as leis estaduais de
aplicação e execução das diretrizes fixadas pela União Federal, de
outro, ([Constituição da República], art. 24, § 2º)... É que,
tratando-se de controle normativo abstrato, a inconstitucionalidade há
de transparecer de modo imediato, derivando, o eu reconhecimento, do
confronto direto que se faça entre o ato estatal impugnado e o texto da
própria Constituição da República” (DJ 2.8.2002).

Na mencionada questão de ordem, debateu-se ser, ou não, invasão


de competência legislativa federal a edição da lei paulista que dispunha
sobre o recuo nos trechos rodoviários que atravessassem perímetros

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urbanos, ao argumento de tratar-se de norma de direito urbanístico.

Para o Ministro Celso de Mello,


“Esse exercício de análise comparativa, caso pudesse ser
admitido em sede de controle normativo abstrato – cujo objeto único é
a verificação, em tese, da ocorrência de situação de litigiosidade
constitucional direta e imediata com o texto da Carta Política – levaria
esta Corte a proceder contra a sua própria orientação jurisprudencial,
que, por mais de uma vez (ADI 613-DF – ADI 842-DF), já advertiu
que, em sede de ação direta, ‘a inconstitucionalidade deve transparecer
diretamente do texto do ato estatal impugnado’, pois a formulação
desse juízo de desvalor não pode e nem deve depender da análise
prévia de outras espécies jurídicas infraconstitucionais, para, em
função desse exame precedente e em desdobramento exegético ulterior,
concluir-se, eventualmente, sempre, porém, de modo reflexo, pela
ilegitimidade constitucional do ato impugnado” (DJ 2.8.2002).

6. Os requisitos objetivos para análise de inconstitucionalidade


foram expostos por J.J Gomes Canotilho nos seguintes termos:

“A questão suscitada perante o juiz da causa... tem de ser uma


questão de inconstitucionalidade, isto é, tem de colocar-se o problema
da conformidade ou desconformidade de uma norma com a
Constituição. Esta questão de inconstitucionalidade deve configurar-
se da seguinte forma: (1) é uma questão concreta de
inconstitucionalidade, ou seja, deve tratar-se da questão da
desconformidade constitucional de um acto normativo a aplicar num
caso submetido a decisão perante o juiz a quo; ... (3) é uma questão de
inconstitucionalidade, isto é, pressupõe um juízo de conformidade ou
desconformidade de um acto normativo com normas ou princípios
dotados de estalão constitucional (= forma e valor constitucional) ou,
no caso de ilegalidade, de valor legal reforçado (legalidade qualificada),
excluindo-se as questões de natureza contencioso-administrativa
(legalidade ou ilegalidade de regulamentos, de actos administrativos),
as questões de mérito da causa” (CANOTILHO, José Joaquim
Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição. 7. ed.

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Coimbra: Almedina, 2003. p. 985).

7. Verifica-se, entretanto, que, no caso vertente, a demonstração de


invalidade da norma questionada não demanda o cotejo com o Estatuto
do Desarmamento.

Não se trata de analisar se o art. 18 da Lei n. 8.321/2005 está em


conformidade, ou não, com a Lei n. 10.286/2003, porque, como posto pela
Procuradoria-Geral da República e reiterado pela Advocacia-Geral da
União, a questão a ser analisada consiste em saber se o Estado de Mato
Grosso tem competência para legislar sobre porte de arma, à luz dos arts.
21 e 22 da Constituição da República.

Rejeito, portanto, a preliminar de não conhecimento, por não se


questionar inconstitucionalidade reflexa.

Mérito

8. Na tentativa de demonstrar a inconstitucionalidade do parágrafo


único do art. 18 da Lei mato-grossense n. 8.321/2005, a Procuradoria-
Geral da República afirma a incompetência do Estado de Mato Grosso
para legislar sobre porte de arma.

9. O art. 21, inc. VI, da Constituição da República prevê:

“Art. 21. Compete à União:


(…)
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material
bélico”.

Os incisos I e XXI do art. 22 da Constituição da República


estabelecem:
“Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário,

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ADI 5010 / MT

marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;


(...)
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico,
garantias, convocação e mobilização das polícias militares e corpos de
bombeiros militares;
(...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados
a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste
artigo”.

10. Ao discorrer sobre a competência privativa da União, Raul


Machado Horta assevera que:

“a competência legislativa incorpora os preceitos declaratórios e


autorizativos da competência geral na legislação federal, através da lei
e da norma jurídica, sob o comando privativo da União Federal, por
intermédio dos órgãos de manifestação da vontade legislativa. Daí a
correspondência entre as atribuições de competência geral e as da
competência de legislação, sem a qual a competência geral
permaneceria um corpo inerme, sem ação e sem vontade. A
correspondência entre as duas competências às vezes se exterioriza na
coincidência vocabular das expressões, como se dá na repetição de
atribuições (...), com idênticas palavras ou com expressões
equivalentes, e quando a correspondência não se exteriorizar de forma
ostensiva irá ela alojar-se no inciso mais genérico da competência
legislativa federal, abrigando-se no amplo conteúdo do direito material
e do direito processual (art. 22, I), que poderá absorver na legislação
codificada ou não codificada as atribuições da Federação, situadas na
competência geral do Estado soberano. (...)
[E continua] desfazendo a rigidez inerente à competência
privativa, a Constituição [da República] prevê no parágrafo único do
art. 22, após a enumeração das matérias incluídas na privatividade
legislativa da Federação, que lei complementar poderá autorizar os
Estados a legislarem sobre questões específicas relacionadas na
competência privativa. Essa forma de delegação legislativa da União
aos Estados, no nível dos ordenamentos constitutivos da República

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Federal, exige lei complementar, portanto, a aprovação da maioria


absoluta das duas Casas do Congresso Nacional (art. 69), e não se
reveste de generalidade, requerendo, ao contrário, a particularização
de ‘questões específicas’, subtraídas ao elenco das matérias incluídas
na privatividade legislativa da União” (HORTA, Raul Machado.
Direito constitucional. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2002. p.
351-353).

Na mesma linha, complementa Fernanda Dias Menezes de Almeida:

“o problema nuclear da repartição de competências na Federação


reside na partilha da competência legislativa, pois é através dela que se
expressa o poder político cerne da autonomia das unidades federativas.
De fato, é na capacidade de estabelecer as leis que vão reger as suas
próprias atividades, sem subordinação hierárquica e sem a intromissão
das demais esferas de poder, que se traduz fundamentalmente a
autonomia de cada uma dessas esferas. Autogovernar-se não significa
outra coisa senão ditar-se as próprias regras.(...) Está aí bem nítida a
idéia que se quer transmitir: só haverá autonomia onde houver a
faculdade legislativa desvinculada da ingerência de outro ente
autônomo.
Assim, guarda a subordinação apenas ao poder soberano – no
caso o poder constituinte, manifestado através de sua obra, a
Constituição -, cada centro de poder autônomo na Federação deverá
necessariamente ser dotado da competência de criar o direito aplicável
à respectiva órbita. E porque é a Constituição que faz a partilha, tem-
se como consequência lógica que a invasão – não importa por qual das
entidades federadas – do campo da competência legislativa de outra
resultará sempre na inconstitucionalidade da lei editada pela
autoridade incompetente. Isso tanto no caso de usurpação de
competência legislativa privativa, como no caso de inobservância dos
limites constitucionais postos à atuação de cada entidade no campo da
competência legislativa concorrente” (ALMEIDA, Fernanda Dias
Menezes de. Competências na constituição de 1988. 3 ed. São
Paulo: Atlas, 2005. p. 97).

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ADI 5010 / MT

11. No exercício da competência prevista nos artigos antes listados, o


Congresso Nacional aprovou, em dezembro de 2003, o Estatuto do
Desarmamento, que “dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de
fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm, define crimes e dá
outras providências”.

12. Das normas relacionadas diretamente com a presente ação


destacam-se:
“Art. 1º O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no
Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia Federal, tem circunscrição
em todo o território nacional.
Art. 2º Ao Sinarm compete:
I – identificar as características e a propriedade de armas de
fogo, mediante cadastro;
II – cadastrar as armas de fogo produzidas, importadas e
vendidas no País;
III – cadastrar as autorizações de porte de arma de fogo e as
renovações expedidas pela Polícia Federal;
IV – cadastrar as transferências de propriedade, extravio, furto,
roubo e outras ocorrências suscetíveis de alterar os dados cadastrais,
inclusive as decorrentes de fechamento de empresas de segurança
privada e de transporte de valores;
V – identificar as modificações que alterem as características ou
o funcionamento de arma de fogo;
VI – integrar no cadastro os acervos policiais já existentes;
VII – cadastrar as apreensões de armas de fogo, inclusive as
vinculadas a procedimentos policiais e judiciais;
VIII – cadastrar os armeiros em atividade no País, bem como
conceder licença para exercer a atividade;
IX – cadastrar mediante registro os produtores, atacadistas,
varejistas, exportadores e importadores autorizados de armas de fogo,
acessórios e munições;
X – cadastrar a identificação do cano da arma, as características
das impressões de raiamento e de microestriamento de projétil
disparado, conforme marcação e testes obrigatoriamente realizados
pelo fabricante;

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XI – informar às Secretarias de Segurança Pública dos Estados e


do Distrito Federal os registros e autorizações de porte de armas de
fogo nos respectivos territórios, bem como manter o cadastro
atualizado para consulta.
Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as
armas de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais
que constem dos seus registros próprios.
(…)
Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade
em todo o território nacional, autoriza o seu proprietário a manter a
arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou
domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho,
desde que seja ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento
ou empresa.
§ 1º O certificado de registro de arma de fogo será expedido pela
Polícia Federal e será precedido de autorização do Sinarm.
(…)
§ 3º O proprietário de arma de fogo com certificados de
registro de propriedade expedido por órgão estadual ou do Distrito
Federal até a data da publicação desta Lei que não optar pela entrega
espontânea prevista no art. 32 desta Lei deverá renová-lo mediante o
pertinente registro federal, até o dia 31 de dezembro de 2008, ante a
apresentação de documento de identificação pessoal e comprovante de
residência fixa, ficando dispensado do pagamento de taxas e do
cumprimento das demais exigências constantes dos incisos I a III do
caput do art. 4o desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.706, de 2008)
(Prorrogação de prazo)
(…)
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso
permitido, em todo o território nacional, é de competência da Polícia
Federal e somente será concedida após autorização do Sinarm.
§ 1º A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida
com eficácia temporária e territorial limitada, nos termos de atos
regulamentares, e dependerá de o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de
atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;

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II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;


III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo,
bem como o seu devido registro no órgão competente.
§ 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste
artigo, perderá automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja
detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob efeito de
substâncias químicas ou alucinógenas.
(…)
Art. 29. As autorizações de porte de armas de fogo já
concedidas expirar-se-ão 90 (noventa) dias após a publicação desta
Lei. (Vide Lei nº 10.884, de 2004)
Parágrafo único. O detentor de autorização com prazo de
validade superior a 90 (noventa) dias poderá renová-la, perante a
Polícia Federal, nas condições dos arts. 4º, 6º e 10 desta Lei, no prazo
de 90 (noventa) dias após sua publicação, sem ônus para o requerente”
(grifos nossos).

13. Ao estruturar o Sistema Nacional de Armas, afirmar que o seu


funcionamento está vinculado à Polícia Federal e que a circunscrição
alcança todo território nacional, o legislador federal objetivou, como
confirmado pelo Ministro Gilmar Mendes, “centralizar a matéria em âmbito
federal” (excerto de seu voto vista na Ação Direta de Inconstitucionalidade
n. 2.729/RN, Plenário, DJ 12.2.2014).

14. A discussão sobre a possibilidade de Estados-membros e


Municípios legislarem sobre armas não é nova neste Supremo Tribunal.

No julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 3.258/RO,


Relator o Ministro Joaquim Barbosa, o Plenário do Supremo Tribunal
Federal decidiu:
“EMENTA: CONSTITUCIONAL. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. COMPETÊNCIA DA UNIÃO
PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO PENAL E MATERIAL
BÉLICO. LEI 1.317/2004 DO ESTADO DE RONDÔNIA. Lei
estadual que autoriza a utilização, pelas polícias civil e militar, de

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armas de fogo apreendidas. A competência exclusiva da União para


legislar sobre material bélico, complementada pela competência para
autorizar e fiscalizar a produção de material bélico, abrange a
disciplina sobre a destinação de armas apreendidas e em situação
irregular. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente”
(DJ 9.9.2005, grifos nossos).

Em seu voto, o Ministro Joaquim Barbosa destacou:

“Trata-se da apontada violação da competência privativa da


União para legislar sobre direito penal e material bélico (art. 22, I e
XXI).
Há precedentes sobre problemas similares ao presente. Cito o AI
189.433-AgR (rel. min. Marco Aurélio, Segunda Turma, DJ
21.11.1997) e a ADI 2.035-MC (rel. min. Octavio Gallotti, Pleno, DJ
04.08.2000).
No julgamento da ADI 2.035-MC, a Corte aproximou-se do
entendimento de que a competência da União para “autorizar e
fiscalizar a produção e comércio de material bélico” (art. 21, VI)
afastaria a possibilidade de os estados-membros se imiscuírem nessa
matéria como pretendia, naquele momento, o estado do Rio de Janeiro,
ao promulgar lei vedando a comercialização de armas de fogo no
estado sob o fundamento da competência concorrente para legislar
sobre “produção e consumo” (art. 24, V).
Alinhou-se a Corte, também naquela oportunidade, à corrente
que interpreta a expressão “material bélico” da forma mais
abrangente, para abarcar não só materiais de uso das Forças Armadas,
mas também armas e munições cujo uso seja autorizado, nos termos
da legislação aplicável, à população.
Como se sabe, esse tema é da maior relevância. A segurança
pública é item permanente da pauta política, como se pode observar
em diversos julgados desta Corte que examinaram tentativas locais e
até mesmo da União (ADI 2.290-MC, rel. min. Moreira Alves, Pleno,
DJ 23.02.2001) de restringir a disseminação das armas de fogo.
No caso em exame, a controvérsia não se reveste do dramático
argumento da intervenção exagerada ou desproporcional do poder

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ADI 5010 / MT

público na atividade econômica como ocorreu na ADI 2.035 e na ADI


2.290.
A norma estadual ora atacada dispõe sobre a destinação de
armas apreendidas à força de segurança estadual. A priori, vejo esta
situação como hipótese nova, que não justifica a aplicação automática
dos precedentes citados, sobretudo em se considerando que a noção de
“material bélico” e a delimitação da competência para sua regulação
são, de certa forma, carentes de maior determinação.
Entretanto, essa constatação não obsta que, da leitura do texto
constitucional e das balizas fixadas pela jurisprudência da Corte, se
chegue a conclusão análoga à dos precedentes.
Parto da noção de que, em nosso sistema de controle de
constitucionalidade, a existência de lei federal (Lei 10.826/2003,
referente ao SINARM, mencionada no parecer da Procuradoria-Geral
da República) não prova a inconstitucionalidade da norma estadual,
mas apenas o óbvio: que a União legislou sobre a matéria.
O que vem a ser relevante, apenas, para a solução da questão é
que, na extensão em que esta Corte define a noção de “material
bélico”, a competência material da União para “autorizar e fiscalizar a
produção e o comércio de material bélico” (art. 21, VI) naturalmente
exclui a dos estados-membros em diversos planos.
Assim é que entendo que a fiscalização do comércio de armas
não pode dizer respeito apenas ao “comércio de balcão”, mas à
circulação como um todo dessas armas no território nacional, sob pena
de frustração e fraude do sentido do texto constitucional. Assim, a
disposição das armas apreendidas em situação irregular também é
matéria afeita à competência da União, nos termos do art. 21, V, da
Constituição.
Desse entendimento também só poderia decorrer a existência de
uma competência residual dos estados-membros para disciplinar
organicamente o modo e as regras de utilização das armas por suas
forças policiais.
No caso, por dispor a norma atacada sobre regra geral de
destinação de material sujeito à fiscalização exclusiva da União,
entendo procedente a presente ação.
Nesse sentido, voto pela procedência da ação, para declarar a

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ADI 5010 / MT

inconstitucionalidade da Lei 1.317/2004 do estado de Rondônia” (DJ


9.9.2005, grifos nossos).

Em 26.10.2007, no julgamento da Ação Direta de


Inconstitucionalidade n. 3.112/DF, Relator o Ministro Ricardo
Lewandowski, o Plenário deste Supremo Tribunal assentou:

“EMENTA: AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE. LEI 10.826/2003. ESTATUTO DO
DESARMAMENTO. INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL
AFASTADA. INVASÃO DA COMPETÊNCIA RESIDUAL DOS
ESTADOS. INOCORRÊNCIA. DIREITO DE PROPRIEDADE.
INTROMISSÃO DO ESTADO NA ESFERA PRIVADA
DESCARACTERIZADA. PREDOMINÂNCIA DO INTERESSE
PÚBLICO RECONHECIDA. OBRIGAÇÃO DE RENOVAÇÃO
PERIÓDICA DO REGISTRO DAS ARMAS DE FOGO. DIREITO
DE PROPRIEDADE, ATO JURÍDICO PERFEITO E DIREITO
ADQUIRIDO ALEGADAMENTE VIOLADOS. ASSERTIVA
IMPROCEDENTE. LESÃO AOS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA E DO
DEVIDO PROCESSO LEGAL. AFRONTA TAMBÉM AO
PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. ARGUMENTOS NÃO
ACOLHIDOS. FIXAÇÃO DE IDADE MÍNIMA PARA A
AQUISIÇÃO DE ARMA DE FOGO. POSSIBILIDADE.
REALIZAÇÃO DE REFERENDO. INCOMPETÊNCIA DO
CONGRESSO NACIONAL. PREJUDICIALIDADE. AÇÃO
JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE QUANTO À
PROIBIÇÃO DO ESTABELECIMENTO DE FIANÇA E
LIBERDADE PROVISÓRIA. I - Dispositivos impugnados que
constituem mera reprodução de normas constantes da Lei 9.437/1997,
de iniciativa do Executivo, revogada pela Lei 10.826/2003, ou são
consentâneos com o que nela se dispunha, ou, ainda, consubstanciam
preceitos que guardam afinidade lógica, em uma relação de
pertinência, com a Lei 9.437/1997 ou com o PL 1.073/1999, ambos
encaminhados ao Congresso Nacional pela Presidência da República,
razão pela qual não se caracteriza a alegada inconstitucionalidade

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ADI 5010 / MT

formal. II - Invasão de competência residual dos Estados para legislar


sobre segurança pública inocorrente, pois cabe à União legislar sobre
matérias de predominante interesse geral. III - O direito do
proprietário à percepção de justa e adequada indenização, reconhecida
no diploma legal impugnado, afasta a alegada violação ao art. 5º,
XXII, da Constituição Federal, bem como ao ato jurídico perfeito e ao
direito adquirido. IV - A proibição de estabelecimento de fiança para os
delitos de "porte ilegal de arma de fogo de uso permitido" e de
"disparo de arma de fogo", mostra-se desarrazoada, porquanto são
crimes de mera conduta, que não se equiparam aos crimes que
acarretam lesão ou ameaça de lesão à vida ou à propriedade. V -
Insusceptibilidade de liberdade provisória quanto aos delitos elencados
nos arts. 16, 17 e 18. Inconstitucionalidade reconhecida, visto que o
texto magno não autoriza a prisão ex lege, em face dos princípios da
presunção de inocência e da obrigatoriedade de fundamentação dos
mandados de prisão pela autoridade judiciária competente. VI -
Identificação das armas e munições, de modo a permitir o
rastreamento dos respectivos fabricantes e adquirentes, medida que
não se mostra irrazoável. VII - A idade mínima para aquisição de arma
de fogo pode ser estabelecida por meio de lei ordinária, como se tem
admitido em outras hipóteses. VIII - Prejudicado o exame da
inconstitucionalidade formal e material do art. 35, tendo em conta a
realização de referendo. IX - Ação julgada procedente, em parte, para
declarar a inconstitucionalidade dos parágrafos únicos dos artigos 14
e 15 e do artigo 21 da Lei 10.826, de 22 de dezembro de 2003” (DJ
26.10.2007, grifos nossos).

Ao analisar a alegação de que o Estatuto do Desarmamento teria


contrariado o princípio federativo e invadido a competência dos Estados-
membros para legislar sobre segurança pública, no que foi acompanhado
por todos os Ministros deste Supremo Tribunal, o Ministro Ricardo
Lewandowski asseverou:

“Sustenta-se, no que concerne aos arts. 5º, §§ 1º e 3º, 10 e 29,


que houve invasão da competência residual dos Estados para legislar
sobre segurança pública e também ofensa ao princípio federativo,

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ADI 5010 / MT

‘principalmente em relação à emissão de autorização de porte de arma


de fogo’.
Contrapondo-se ao argumento, a douta Procuradoria Geral da
República defendeu a aplicação à espécie do princípio da
predominância do interesse, ponderando que a “União não está
invadindo o âmbito de normatividade de índole local, pois a matéria
está além do interesse circunscrito de apenas uma unidade federada”
(fl. 194).
Considero correto o entendimento do Ministério Público, que se
harmoniza com a lição de José Afonso da Silva, para quem a Carta
Magna vigente abandonou o conceito de “interesse local”,
tradicionalmente abrigado nas constituições brasileiras, de difícil
caracterização, substituindo-o pelo princípio da “predominância do
interesse”, segundo o qual, na repartição de competências, “à União
caberão aquelas matérias e questões de predominante interesse geral,
nacional, ao passo que aos Estados tocarão as matérias e assuntos de
predominante interesse regional, e aos Municípios conhecerem os
assuntos de interesse local.”
De fato, a competência atribuída aos Estados em matéria de
segurança pública não pode sobrepor-se ao interesse mais amplo da
União no tocante à formulação de uma política criminal de âmbito
nacional, cujo pilar central constitui exatamente o estabelecimento de
regras uniformes, em todo o País, para a fabricação, comercialização,
circulação e utilização de armas de fogo, competência que, ademais, lhe
é assegurada pelo art. 21, XXI, da Constituição Federal.
Parece-me evidente a preponderância do interesse da União
nessa matéria, quando confrontado o eventual interesse do Estado-
membro em regulamentar e expedir autorização para o porte de arma
de fogo, pois as normas em questão afetam a segurança das pessoas
como um todo, independentemente do ente federado em que se
encontrem.
Ademais, diante do aumento vertiginoso da criminalidade e da
mudança qualitativa operada nas transgressões penais, com destaque
para o surgimento do fenômeno do crime organizado e dos ilícitos
transnacionais, a garantia da segurança pública passou a constituir
uma das atribuições prioritárias do Estado brasileiro, cujo enfoque há

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de ser necessariamente nacional” ((DJ 26.10.2007, grifos nossos).

Esse entendimento foi reafirmado no julgamento da Ação Direta de


Inconstitucionalidade n. 2.729/RN, em 19.6.2013, quando o Ministro
Gilmar Mendes, acompanhando os votos dos Ministros Eros Grau e
Carlos Velloso, explicitou as razões da inconstitucionalidade do art. 88 da
Lei Complementar n. 240/2002 do Estado do Rio Grande do Norte, que
garantia aos Procuradores do Estado o “porte de arma, independente de
qualquer ato formal de licença ou autorização”:

“A Corte acabou por aceitar tal entendimento extensivo do art.


21, VI, segundo o qual a competência privativa da União para
autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico
também engloba outros aspectos inerentes ao material bélico, como sua
circulação em território nacional.
No tocante ao presente caso, entendo que regulamentações
atinentes ao registro e ao porte de arma também são de competência
privativa da União, por ter direta relação com a competência de
autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico – e
não apenas por tratar de matéria penal, cuja competência também é
privativa da União (art. 22, I, da Constituição Federal).
Nesse sentido, compete privativamente à União, e não aos
Estados, determinar os casos excepcionais em que o porte de arma de
fogo não configura ilícito penal, matéria prevista no art. 6º da Lei n.
10.826/03.
Tenho a compreensão da necessidade especial que algumas
carreiras têm do porte funcional de arma, considerando o exercício de
atividades que lidam diariamente com situações de efetiva ameaça.
Ressalte-se que há, atualmente, pelo menos 41 projetos de lei
tramitando no Congresso Nacional com objetivo de flexibilizar o
Estatuto do Desarmamento. Tal flexibilização, por ser de competência
privativa da União, deverá ser por esta efetivada, de forma
centralizada, e não de forma fragmentada pelos Estados da Federação.
Ante o exposto, julgo procedente o pedido e declaro
inconstitucional o art. 88 da Lei Complementar n. 240/02, do Estado
do Rio Grande do Norte” (DJ , grifos nossos).

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ADI 5010 / MT

15. Ao contrário do que insistentemente defendido pelo Presidente


da Assembleia Legislativa de Mato Grosso e pelo Governador de Mato
Grosso, a expressão “salvo para os casos previstos em legislação própria”
(contida no caput do art. 6º da Lei n. 10.286/2003) não autoriza a criação de
normas pelos Estados-membros que versem sobre o porte de armas.

O exercício pela União de sua competência (art. 21, inc. VI, e 22, inc.
XXI, da Constituição da República), ao aprovar a Lei n. 10.286/2003,
demonstra que a proibição de porte de arma em todo o território
nacional, instituída em seu art. 6º, poderá ser flexibilizada apenas nas
hipóteses excepcionais elencadas pelo legislador federal. É dizer, o porte
de arma está vedado, salvo nos casos previstos nos incisos do art. 6º e
naqueles assegurados em legislação própria aprovada por quem de
direito.

16. Nas Ações Diretas de Inconstitucionalidade ns. 3.258/RO (DJ


9.9.2005), 3.112/DF (DJ 26.10.2007) e 2.729/RN (DJ 2013), ficou assentado
que os Estados-membros não têm competência legislativa para
regulamentar o porte de arma.

O porte de arma passa necessariamente pelo crivo da autorização e


fiscalização de comércio e material bélico, matéria de competência da
União (art. 21, inc. VI, da Constituição da República).

Ademais, a regulamentação sobre porte de arma, especialmente nas


hipóteses permissivas, como se dá na espécie vertente, se forem mais
abrangentes que as previstas no regramento geral (Lei n. 10.826/2003),
contraria a norma do art. 22, inc. XXI, da Constituição da República,
segundo o qual compete privativamente à União legislar sobre “normas
gerais de (…) material bélico”.

E como destacado no julgamento da Ação Direta de


Inconstitucionalidade n. 3.112/DF pelo Relator Ministro Ricardo

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Lewandowski,
“o dever estatal concernente à segurança pública não é exercido
de forma aleatória, mas através de instituições permanentes e,
idealmente, segundo uma política criminal, com objetivos de curto,
médio e longo prazo, suficientemente flexível para responder às
circunstâncias cambiantes de cada momento histórico.
Nesse sentido, observo que a edição do Estatuto do
Desarmamento, que resultou da conjugação da vontade política do
Executivo com a do Legislativo, representou uma resposta do Estado e
da sociedade civil à situação de extrema gravidade pela qual passava –
e ainda passa - o País, no tocante ao assustador aumento da violência
e da criminalidade, notadamente em relação ao dramático incremento
do número de mortes por armas de fogo entre os jovens.1
A preocupação com tema tão importante encontra repercussão
também no âmbito da comunidade internacional, cumprindo destacar
que a Organização das Nações Unidas, após conferência realizada em
Nova Iorque, entre 9 e 20 de julho de 2001, lançou o “Programa de
Ação para Prevenir, Combater e Erradicar o Comércio Ilícito de
Armas de Pequeno Porte e Armamentos Leves em todos os seus
Aspectos” (UN Document A/CONF, 192/15).
O Brasil vem colaborando com os esforços da ONU nesse
campo, lembrando-se que o Congresso Nacional, aprovou, em data
recente, por meio do Decreto Legislativo 36, de 2006, o texto do
‘Protocolo contra a fabricação e o tráfico ilícito de armas de fogo, suas
peças e componentes e munições, complementando a Convenção das
Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, adotado
pela Assembléia-Geral, em 31 de maio de 2001, e assinado pelo Brasil
em 11 de julho de 2001’.
Como se nota, as ações diretas de inconstitucionalidade ora
ajuizadas trazem ao escrutínio desta Suprema Corte tema da maior
transcendência e atualidade, seja porque envolve o direito dos cidadãos
à segurança pública e o correspondente dever estatal de promovê-la
eficazmente, seja porque diz respeito às obrigações internacionais do
País na esfera do combate ao crime organizado e ao comércio ilegal de
armas” (ADI 3.112/DF, DJ 26.10.2007).

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ADI 5010 / MT

Ao declarar a constitucionalidade formal da Lei n. 10.286/2003 (ADI


3.112/DF, DJ 26.10.2007), o Plenário deste Supremo Tribunal concluiu que
a concessão de porte arma afeta, diretamente, a segurança pública,
nacionalmente considerada, a justificar a prevalência do interesse geral
sobre o que poderia consistir interesse prioritariamente regional ou local.

Sobre o ponto, Hely Lopes Meirelles pondera:

“o interesse local se caracteriza pela predominância e não pela


exclusividade do interesse para o município, em relação ao do Estado e
da União. Isso porque não há assunto municipal que não seja
reflexamente de interesse estadual e nacional. A diferença é apenas de
grau, e não de substância” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito
municipal brasileiro.11. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 131).

Tanto significa, como pode ser constatado nas diferentes políticas


públicas implementadas pelo Governo Federal e nas dezenas de projetos
de lei tendentes a alterar o Estatuto do Desarmamento [1] que tramitam
no Congresso Nacional, que as diretrizes nacionais devem ser observadas
pelos Estados e Municípios, em que pesem as peculiaridades de cada qual
deles.

De se ressaltar, ainda, como dispõe o art. 22, parágrafo único, da


Constituição da República, que a competência privativa da União para
legislar sobre material bélico, gênero do qual as armas fazem parte,
somente pode ser exercida por Estado-membro se houver lei
complementar da União que autorize “os Estados a legislar sobre questões
específicas das matérias relacionadas neste artigo”.

Daí a dificuldade em se ter como válida a norma segundo a qual


poderia a entidade federada conceder o porte de arma para os servidores
da Carreira dos Profissionais da Perícia Oficial e Identificação Técnica –
POLITEC-MT.

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Voto - MIN. CÁRMEN LÚCIA

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ADI 5010 / MT

Como ponderado pelo Ministro Celso de Mello no Plenário deste


Supremo Tribunal, “a usurpação da competência legislativa, quando praticada
por qualquer das pessoas estatais, qualifica-se como ato de transgressão
constitucional. (...) Os Estados-membros e o Distrito Federal não podem,
mediante legislação autônoma, agindo “ultra vires”, transgredir a legislação
fundamental ou princípios que a União Federal fez editar no desempenho
legítimo de sua competência constitucional e de cujo exercício deriva o poder de
fixar, validamente, diretrizes e bases gerais pertinentes à determinada matéria”
(ADI 2.667/DF, DJ 19.6.2002).

17. Cumpre destacar que não se discute, aqui, a constitucionalidade


da criação de carreiras públicas pelos Estados- Membros, menos ainda a
periculosidade das atividades desenvolvidas pelos profissionais da
Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso.

E a notícia trazida pelo Sindicato dos Peritos Oficiais Criminais do


Estado de Mato Grosso – SINDPECO/MT no sentido de que “os Peritos
Criminais Oficiais do Estado de Mato Grosso eram vinculados e subordinados à
Polícia Civil desse Estado. Portanto era carreira policial e tinham o porte de
armas conforme o rol elencado no Estatuto do Desarmamento” não infirma os
fundamentos acima assinalados.

Se, por um lado, não sobrepaira dúvida quanto à competência dos


Estados-membros para regulamentar as carreiras dos servidores públicos
que prestarão os serviços indispensáveis para a manutenção e o
funcionamento da entidade federativa, como disposto nas normas
relativas à iniciativa, às matérias e ao processo legislativo previstas na
Constituição da República e nas Constituições estaduais, por outro, não
se pode admitir, à luz da jurisprudência do Supremo Tribunal, a validade
da outorga a membros de carreiras públicas estaduais de prerrogativas
que a legislação nacional não assegura aos demais cidadãos, servidores
públicos ou não, por razões de segurança pública. O porte de arma,
objeto da norma impugnada, está proibido nos termos do art. 6º da Lei n.

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ADI 5010 / MT

10.286/2003.

Consentir com entendimento contrário ao que está pacificado neste


Supremo Tribunal Federal significa:

a) reconhecer que o Estatuto do Desarmamento poderia ser


relativizado e, consequentemente, descumprido por aqueles que, por
força de norma estadual ou municipal, estariam autorizados a portar
armas;

b) autorizar, ainda que indiretamente, os Estados-membros a


legislarem sobre matéria penal (em afronta ao art. 22, inc. I, da
Constituição da República), porque a convalidação do porte de arma dos
profissionais da Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato
Grosso – POLITEC/MT, como proposto pelo parágrafo único do art. 18 da
Lei mato-grossense n. 8.321/2005, importa em descriminalizar a conduta
prevista nos arts. 12 e 14 da Lei n. 10.286/2003.

18. O Autor pede a declaração de inconstitucionalidade do art. 18 da


Lei n. 8.321/2005, do Mato Grosso do Sul:

“Lei n. 8.321/2005
Dispõe sobre a criação da Carreira dos Profissionais da
Perícia Oficial e Identificação Técnica do Estado de Mato Grosso
- POLITEC/MT, e dá outras providências.
(...)
Art. 18. O servidor da Carreira dos Profissionais da Perícia
Oficial e Identificação Técnica – POLITEC-MT terá direito à Carteira
Funcional de Identificação a ser fornecida quando do ingresso na
carreira.
Parágrafo único. A carteira de identidade funcional autoriza o
servidor o livre porte de arma e franco acesso aos locais sob a
fiscalização da polícia em todo o território estadual, e terá a seguinte
redação: ‘O portador tem livre porte de arma e franco acesso aos locais
sob a fiscalização da Polícia e ao mesmo deve ser dado apoio e auxílio

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ADI 5010 / MT

necessário ao desempenho de suas funções” (grifos nossos).

Pelos fundamentos apresentados, o caput do art. 18 e as normas do


parágrafo único da Lei mato-grossense n. 8.321/2005 segundo as quais “A
carteira de identidade funcional autoriza o servidor o (…) franco acesso aos locais
sob a fiscalização da polícia em todo o território estadual, e terá a seguinte
redação: ‘O portador tem (...) franco acesso aos locais sob a fiscalização da Polícia
e ao mesmo deve ser dado apoio e auxílio necessário ao desempenho de suas
funções” permanecem hígidas no ordenamento jurídico.

19. Pelo exposto, julgo parcialmente procedente a presente ação


direta de inconstitucionalidade para declarar inconstitucionais as
expressões “livre porte de arma” e “livre porte de arma e” contidas no
parágrafo único do art. 18 da Lei mato-grossense n. 8.321/2005.

Nota:
[1] Exemplos de projetos que tramitam na Câmara dos Deputados:
PL 6565/2013 (altera a Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para
conceder porte de arma funcional aos integrantes do quadro efetivo de
agentes e guardas prisionais); PDC 916/2013 (ficam sustados os efeitos do
inteiro teor do Decreto Federal n. 6.817, de 7 de abril de 2009, e da Seção
III, da Portaria IBAMA n. 11, de 10 de junho de 2009, que versa sobre
"porte, uso e emprego de armamentos" por servidores do Órgão); PL
6286/2013 e PL 5720/2013 (Acrescenta o inciso XII ao art. 6º da Lei Federal
n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre o registro, posse e
comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de
Armas - SINARM, define crimes e dá outras providências); PL 6089/2013
(altera a Lei n. 10.826 de 22 de dezembro de 2003, para dispor sobre
aquisição, registro e porte de arma de fogo por inativos); PL 5720/2013
(revoga o art. 26 da Lei n. 5.197, de 3 de janeiro de 1967. Explicação:
revoga dispositivo que permitia o porte de arma para servidores
designados para atividades de fiscalização ambiental); PL 5390/2013

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(acrescenta o inciso XII ao art. 6º da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de


2003, que dispõe sobre o registro, posse e comercialização de armas de
fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas - Sinarm, define
crimes e dá outras providências); PL 5343/2013 (altera a redação do § 3º
do art. 23 da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para tornar
obrigatória a inserção de um chip de identificação em todas as armas de
fogo comercializadas no Brasil); PL 5301/2013 e PL 3941/2004 (altera o art.
10 da Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, e dá outras providências.
Explicação: Estabelece a apreensão de arma de fogo que tiver sua
autorização de porte de arma suspensa para após elaboração de laudo
pericial e juntada aos autos seja encaminhada ao Comando do Exército);
PL 4938/2013 (altera a redação do § 1º do art. 6º da Lei n. 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de
armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas - Sinarm,
define crimes e dá outras providências. Explicação: Estabelece aos agentes
prisionais, guardas prisionais e guardas portuários o direito de portar
arma de fogo de propriedade particular ou fornecida pela respectiva
corporação ou instituição, mesmo fora de serviço); PL 4444/2012 (altera a
Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para regular a renovação do
registro e do porte de armas de fogo); PL 3722 (disciplina as normas sobre
aquisição, posse, porte e circulação de armas de fogo e munições,
cominando penalidades e dando providências correlatas. Explicação:
altera o Decreto-lei n. 2.848, de 1940 e revoga a Lei n. 10.826, de 2003); PL
3380/2012 (Altera o art. 25 da Lei nº 10.826 de 22 de dezembro de 2003,
para especificar os procedimentos para o aproveitamento das armas de
fogo, acessórios e munição apreendidos); PL 2801/2011 ( Altera a Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003 - Estatuto do Desarmamento, para
dispor sobre armas menos letais. Explicação: Armas de incapacitação
neuromuscular); PL 2516/2011 e PL 997/2011 (Acresce dispositivos à Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e
comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de
Armas - SINARM e define crimes. Explicação: Torna obrigatória a
utilização de chip de identificação eletrônica em todas as armas de fogo);

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PL 1966/2011 (Altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, que


"Dispõe sobre registro, posse e comercialização de armas de fogo e
munição, sobre o Sistema Nacional de Armas - Sinarm, define crimes e dá
outras providências", para permitir o porte de arma de fogo pelos
integrantes dos órgãos policiais das Assembleias Legislativas dos Estados
e da Câmara Legislativa do Distrito Federal); PL 1856/2011 (Altera a Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 - Estatuto do Desarmamento.
Explicação: Aumenta as penas dos crimes tipificados no Estatuto do
Desarmamento); PL 1754/2011 (Altera, inclui e revoga dispositivos na Lei
nº 8.906, de 4 de julho de 1994; revoga dispositivo da Lei nº 9.527, de 10 de
dezembro de 1997; e dá outras providências. Explicação: Autoriza que os
advogados portem arma de fogo para defesa pessoal e regulamenta os
direitos dos advogados públicos); PL 1697/2011 (Altera a Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003 - Estatuto do Desarmamento, obrigando a
gravação em arma de fogo do número da identidade do adquirente); PL
1548/2011 (Altera a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 - Estatuto do
Desarmamento. Explicação: Para dispor sobre armas de fogo e demais
produtos controlados de colecionadores, caçadores e atiradores
desportistas, como os Marcadores de Paintball); PL 1448/2011 (Altera a
Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente
e a Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 - Estatuto do Desarmamento
e dá providências correlatas. Explicação: Estabelece penalidades para
entidades desportivas, estandes, escolas, clubes ou academias que
admitem, para treinamento de tiro, criança ou adolescente); PL 1073/2011
(Altera a redação dos arts. 14, 16, 17 e 18, da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, tipificando penalmente a posse, o porte, o comércio e
trânsito não autorizados de peças e componentes de armas de fogo,
acessórios e explosivos); PL 1060/2011 (Altera a Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, para conceder o porte de arma aos Agentes de
Segurança Socioeducativos, e dá outras providências); PL 1031/2011 e PL
146/2007 (Altera o Art. 16 da Lei nº 10.826, que dispõe sobre o registro,
posse e comercialização de armas de fogo e munição, sobre o Sistema
Nacional de Armas - Sinarm, e dá outras providências); PL 997/2011

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ADI 5010 / MT

(Altera a Lei nº 10.826 de 22 de dezembro de 2003, que dispõe sobre o


Sistema Nacional de Armas - Sinarm, para obrigar, na marcação de
fábrica, o uso de "Chip" contendo os dados de identificação e segurança
das armas de fogo); PL 938/2011 (Acresce dispositivos ao art. 123 da Lei nº
11.907, de 2 de fevereiro de 2009, que reestrutura a Carreira de Agente
Penitenciário Federal, para autorizar o porte de arma de fogo aos seus
integrantes); PL 8018/2010 (Altera dispositivos da Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, que dispõe sobre registro, posse e comercialização de
armas de fogo e munição, sobre o Sistema Nacional de Armas –
SINARM); PL 7742/2010 (Autoriza os Agentes Penitenciários Federais e
Estaduais a portarem arma fora do horário de expediente. Explicação:
Altera a Lei nº 10.826, de 2003), entre outros.
Exemplos de projetos de lei que tramitam no Senado Federal: PL
51/2012 (Altera a Lei n. 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para
criminalizar o uso de arma de eletrochoque); PL 224/2010 (Altera o art. 14
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, para determinar como causa
de aumento de pena do crime de "porte ilegal de arma de fogo de uso
permitido" as circunstâncias ou os antecedentes do agente que indiquem
que sua conduta se destinava à prática dos crimes previstos nos arts. 157,
158 e 159 do Código Penal); PL 301/2009 (Altera a Lei nº 10.826, de 22 de
dezembro de 2003, para permitir o porte de arma pelos agentes e
inspetores de segurança do Poder Judiciário e pelos agentes de trânsito
dos Estados e do Distrito Federal); PL 287/2008 (Altera o inciso VII do art.
6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 - Estatuto do
Desarmamento, para estender o direito a porte de arma de fogo aos
agentes de vigilância do Poder Executivo Federal).

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 01/08/2018

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.010


PROCED. : MATO GROSSO
RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA
REQTE.(S) : PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA
INTDO.(A/S) : GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO
INTDO.(A/S) : ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO
AM. CURIAE. : SINDICATO DOS PERITOS OFICIAIS CRIMINAIS DO ESTADO
DE MATO GROSSO - SINDPECO/MT
ADV.(A/S) : MARCOS DANTAS TEIXEIRA (3850/MT) E OUTRO(A/S)

Decisão: O Tribunal, por unanimidade e nos termos do voto da


Relatora, Ministra Cármen Lúcia (Presidente), julgou parcialmente
procedente o pedido formulado na ação direta, para declarar a
inconstitucionalidade das expressões “livre porte de arma” e
“livre porte de arma e”, contidas no Parágrafo único do art. 18 da
Lei n. 8.321/2005 do Estado do Mato Grosso. Ausente, neste
julgamento, o Ministro Luiz Fux. Plenário, 1º.8.2018.

Presidência da Senhora Ministra Cármen Lúcia. Presentes à


sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar
Mendes, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Luiz Fux, Rosa Weber,
Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.

Procuradora-Geral da República, Dra. Raquel Elias Ferreira


Dodge.

p/ Doralúcia das Neves Santos


Assessora-Chefe do Plenário

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