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12 de Novembro de 2010
Conteúdo
1 Introdução 3
1.1 Representação Indicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.1 Índices livres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.2 Soma de vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 Múltiplos ı́ndices . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.4 Representação em várias bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Convenção da Soma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.1 Soma de produtos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.2 Produto Interno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2 Multiplicidades 8
2.1 O que é uma multiplicidade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2 Multiplicidades, produto de matrizes e notação indicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.3 Identidade e delta de Kronecker . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
1
4.4 Produto Externo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
4.5 Produto Misto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
6 Exercı́cios propostos 31
2
1 Introdução
O objectivo destas notas é familiarizar o aluno com a manipulação algébrica de vectores, ma-
trizes e outras estruturas matemáticas na sua representação indicial, que é aquilo a que se chama
genericamente Notação Indicial.
A notação indicial é utilizada principalmente no contexto da Álgebra e do Cálculo Tensoriais pois
pode ser encarada como a representação natural das entidades matemáticas dessas disciplinas. No
entanto, ela também pode ser utilizada, com grandes vantagens, em álgebra e no cálculo vectorial
usual. Este facto não é de estranhar pois de um certo ponto de vista os vectores são tensores. Para
além das vantagens intrı́nsecas da sua utilização, a notação indicial serve também para o leitor se
familiarizar com a linguagem natural dos tensores, que são uma ferramenta poderosa e utilizados
com sucesso e proveito em muitas áreas das Ciências e da Engenharia e. g. Electromagnetismo e
Relatividade, Ciência dos Materiais, Mecânica dos Fluidos, etc.
A notação indicial não é mais que um conjunto reduzido de regras, modos de representação e
convenções, com uma coerência interna que faz com que se torne quase intuitiva (e portanto fácil).
A sua simplicidade permite detectar e evitar erros permitindo ao praticante dedicar-se ao que é
importante — os conceitos por detrás da notação. Em suma, a notação indicial, pela sua clareza,
não obscurece o significado, antes pelo contrário.
O temor que muita gente exibe em relação à notação indicial advém do facto de ser para essas
pessoas uma linguagem completamente desconhecida. Depois de alguma prática, o iniciado começa a
apreciar a clareza das expressões nesta notação, com o seu aspecto compacto e simples, e a capacidade
de efectuar facilmente certos cálculos que de outro modo – com a notação clássica – seriam muito
mais complicados.
Neste texto parte-se do princı́pio que o leitor está familiarizado com a álgebra linear que é ensinada
numa primeira cadeira a nı́vel universitário sobre o assunto.
3
1.1.1 Índices livres
Considere-se um espaço linear de dimensão n. Qualquer base deste espaço será constituı́da por
um conjunto ordenado de n vectores linearmente independentes e. g.
Uma vez que o nome dos vectores da base se distingue apenas pelo valor do ı́ndice i. e. se o ı́ndice
é igual a 1 tem-se o primeiro vector da base, se o ı́ndice é igual a 34 tem-se o 34o vector da base,
outras formas de indicar a base serão
em que o ı́ndice i varia de 1 até à dimensão do espaço n que é o valor que faz sentido. O conjunto de
todos os valores que um ı́ndice pode tomar, tipicamente o conjunto do n primeiros números inteiros,
neste caso
{1, 2, . . . , n} (3)
denomina-se gama de variação ou campo de variação do ı́ndice.
~ deste espaço pode ser
Se a base em que se está a trabalhar estiver definida, qualquer vector A
representado pelo conjunto das suas n componentes
~ = {A1 , A2 , . . . , An } = {Ai } , i = 1, 2, . . . , n. (na base dada)
A (4)
Ai representa a i-ésima componente do vector A ~ nesta base. Como i pode ter qualquer valor entre 1 e
n, quando se escreve Ai sem especificar o valor de i está-se a escrever qualquer componente do vector
(na base em que ele está escrito) e portanto de algum modo o conjunto de todas as suas componentes.
Será então suficiente para representar o vector A ~ na base definida à partida a designação Ai desde
que se entenda que o ı́ndice i pode tomar todos os valores que fazem sentido i. e. que pode tomar
todos os valores da sua gama de variação. Estes ı́ndices com valor não especificado, que não têm
um valor numérico concreto, denominam-se ı́ndices livres, desde que não apareçam repetidos numa
multiplicação (nesse caso têm outro significado, cf. secção 1.2). Por outro lado, a partir do momento
que se considera que qualquer ı́ndice livre toma todos os valores da sua gama de variação, designar o
vector A~ por Aj é exactamente a mesma coisa que designá-lo por Ai . Isto significa que os ı́ndices livres
podem ter qualquer designação, desde que essa designação não entre em conflito com a designação de
outros ı́ndices eventualmente existentes na expressão matemática em causa. Na representação de um
vector A~ pela designação Ai está-se de algum modo a designar o todo pela parte e parece haver uma
certa dose de ambiguidade. Na prática não há dificuldades de interpretação (cf. exemplos abaixo).
Pode-se definir então formalmente uma regra de notação:
Todos os ı́ndices arbitrários que aparecem numa expressão podem ser interpretados
como estando implicitamente a tomar qualquer um dos valores da sua gama de variação,
representando a expressão na realidade um conjunto de expressões, uma para cada valor
concreto possı́vel do ı́ndice.
Assim, Ai não só pode representar a componente i arbitrária do vector A~ como o conjunto de todas
as componentes de A ~ na base definida ou seja o próprio vector. Por exemplo:
A adopção desta regra é vantajosa porque em muitos casos de interesse todos os ı́ndices têm a
mesma gama de variação. Por exemplo, num espaço vectorial de dimensão n, os vectores têm n
componentes, as bases são constituı́das por n vectores, etc. e raramente será necessário especificar
4
explicitamente a gama de variação de um ı́ndice. As expressões matemáticas tomam deste modo uma
forma mais compacta e simples que facilita a compreensão e poupa trabalho.
Com esta notação, uma proposição com um ı́ndice livre é na realidade um conjunto de n proposições,
uma para cada valor concreto do ı́ndice, em que n é o número de elementos da gama de variação do
ı́ndice livre (a não ser que haja indicação em contrário). Por exemplo, num espaço de dimensão n a
proposição
Ai = 0, (6)
é equivalente à colecção (ao conjunto) de n proposições
A1 = 0, (7a)
A2 = 0, (7b)
..
.
An = 0. (7c)
Ci = Ai + Bi (8)
i. e. o vector (de componentes) Ci resulta da soma (das componentes correspondentes) dos vectores
Ai e Bi (para todas as componentes). Repare-se que em (8) o ı́ndice i é livre pois não tem um
valor concreto e não aparece repetido em nenhuma multiplicação, variando de 1 até à dimensão n
do espaço. Para cada valor concreto de i está-se a somar cada uma das componentes de um vector
com a componente correspondente do outro vector e a afirmar que o resultado é a componente
correspondente do vector que resulta da soma. Fazendo-o para todos os valores que o ı́ndice pode
tomar resulta na soma dos vectores (na base dada). Repare-se que cada uma das expressões é uma
equação puramente algébrica. Por outro lado pode-se mudar o nome do ı́ndice, por exemplo de i
para k desde que se o faça em todos os sı́tios onde ele aparece. Assim, a expressão Ck = Ak + Bk
tem exactamente o mesmo significado que (8).
Ai + Bj = 2, (9)
5
representar respectivamente as componentes 1, 2, 3 dos vectores. Assim os ı́ndices podem tomar
qualquer dos valores x, y, z i. e. este conjunto é a sua gama de variação, o que corresponde a fazer a
identificação (x ↔ 1, y ↔ 2, z ↔ 3). Deste modo, quando se pensa em x está-se a pensar no primeiro
valor que o ı́ndice pode tomar (as gamas de variação de um ı́ndice são conjuntos ordenados). Quando
se pensa na componente y de um vector está implı́cito que se sabe qual é o número dessa componente
(neste caso a segunda) i. e. está subjacente o conjunto dos n primeiros números inteiros (neste caso
n = 3).
6
A expressão anterior é constituı́da por uma soma de termos em que cada termo é constituı́do por um
produto, neste caso a componente i do vector multiplicada pelo i-ésimo vector da base. A expressão
não tem ı́ndices livres pois ela não representa um conjunto de n expressões mas sim uma expressão
que é a soma de n termos. Quando se escreve a expressão na última forma em (13) verifica-se que
cada termo do somatório é um produto com um ı́ndice que aparece duas vezes (repetido) e que a
soma se faz sobre todos os valores que o ı́ndice pode tomar i. e. sobre a sua gama de variação.
Esta situação é muito comum e é possı́vel e desejável definir uma notação que poupe trabalho a
escrever as expressões. É a regra da convenção da soma de Einstein:
A não ser que explicitado em contrário, quando num produto de termos com ı́ndices
arbitrários (i. e. que não têm um valor determinado) estes aparecem repetidos, então
entende-se implicitamente que a expressão está a ser somada sobre a gama de variação
desses ı́ndices.
É uma forma económica e sucinta de escrever estas expressões e significa simplesmente que quando
num produto se tem ı́ndices repetidos, o sı́mbolo de somatório sobre a gama de variação do ı́ndice
está implı́cito. Esta notação permite evitar que sistematicamente se escreva o sı́mbolo de somatório
com os mesmos limites de variação (tipicamente de 1 até à dimensão do espaço). Se se sabe que todos
os somatórios têm os mesmos limites de variação, porquê escrevê-los explicitamente? A repetição do
ı́ndice indica que ele existe. No caso da equação (13) tem-se
n
X
Ai~ei ≡ Ai~ei . (14)
i=1
Com esta notação, só se torna necessário escrever explicitamente o sı́mbolo de somatório nos casos
(pouco frequentes) em que a soma não se faz sobre a gama de variação do ı́ndice.
Os ı́ndices que são utilizados num somatório são mudos i. e. mesmo que o seu nome mude eles
estão sempre a ser somados da forma determinada pelos limites do somatório. O nome do ı́ndice de
um somatório é irrelevante, desde que não colida com o nome de outros ı́ndices existentes na mesma
expressão ou seja
Xn Xn
Ai~ei ≡ Ai~ei ≡ Aj ~ej ≡ Aj ~ej . (15)
i=1 j=1
A convenção da soma torna necessária a existência de uma notação especial para o caso em que
se tem ı́ndices repetidos numa multiplicidade mas em que não existe soma. Para indicar que não há
soma, sublinha-se um dos ı́ndices. Por exemplo, sublinhando um ı́ndice na expressão do lado direito
de (15)
Ai~ei ≡ Ai~ei , (16)
a nova expressão (16) passa a ter o significado de uma única componente i multiplicada pelo respectivo
vector da base em vez de soma de todos os termos desse conjunto, válido qualquer que seja o valor
de i, ou seja um conjunto de expressões (o ı́ndice passou a ser livre).
7
pois ı́ndices repetidos significam que existe um somatório implı́cito nesses ı́ndices sobre a sua gama
de variação.
Tal como na notação clássica, quando se tem vários somatórios tem que se ter ı́ndices diferentes
para cada um deles. Por exemplo o produto interno de dois vectores elevado ao quadrado
n n
! !
2 X X
~·B
A ~ = Ai B i × Ai B i
i=1 i=1
n X
X n n X
X n
= Ai Bi Aj Bj = Ai Aj B i B j
i=1 j=1 i=1 j=1
(18)
= A21 B12 + A1 B1 A2 B2 + . . . + A1 B1 An Bn + A2 B2 A1 B1 + A22 B22 + . . .
Xn n
X
6= Ai Ai B i B i = A2i Bi2
i=1 i=1
= A21 B12 + A22 B22 + . . . + A2n Bn2 ,
Repare-se que cada termo do somatório é constituı́do por multiplicações de números e portanto a
ordem dos factores é arbitrária.
2 Multiplicidades
2.1 O que é uma multiplicidade?
Multiplicidade é, por definição, um conjunto de números organizados de tal modo a que cada um
desses números possa ser identificado pelos valores concretos que um ou mais ı́ndices possam tomar.
No caso mais geral tem-se
em que as gamas de variação do ı́ndices podem ser todas diferentes. A multiplicidade (20) diz-se
de tipo n1 × n2 × . . . × np e será quadrada se as gamas de variação dos seus ı́ndices forem todas
iguais. Cada número que é especificado quando são atribuı́dos valores concretos a todos os ı́ndices
denomina-se componente da multiplicidade.
Existem muitos conceitos matemáticos que podem ser considerados multiplicidades. Deve-se
no entanto notar que se certo objecto matemático é uma multiplicidade de um certo tipo, uma
multiplicidade do mesmo tipo não representa esse objecto matemático na sua totalidade. Por exemplo,
um vector escrito numa certa base é uma multiplicidade mas tem muito mais estrutura do que ela:
é elemento de um espaço vectorial, obedece a certas propriedades, etc. i. e. tem mais estrutura que
a descrita pela multiplicidade que o representa na base considerada. Mas desde que as propriedades
que não são descritas pela multiplicidade não interessem, pode-se dizer que essa multiplicidade é o
vector.
O número de ı́ndices necessário para descrever a multiplicidade é, por definição, a ordem dessa
multiplicidade. Não é necessário que todos os ı́ndices tenham todos a mesma gama de variação mas
esse é o caso mais comum (e o que tira mais vantagens da notação indicial).
O exemplo mais tı́pico, embora não o mais simples, de uma multiplicidade é o conceito de matriz.
Uma matriz é simplesmente um quadro de números organizados de modo a se ter várias linhas e
colunas. Cada elemento da matriz pode ser identificado pelo número da linha e pelo número da
8
coluna em que está situado i. e. por dois ı́ndices. Por exemplo, a matriz A (4 × 3)
A11 A12 A13 A14 1 2 3 4
Aij = A21 A22 A23 A24 = 5 6 7 8 (21)
A31 A32 A33 A34 9 10 11 12
tem elementos identificados por dois ı́ndices, i e j, o primeiro indicando o número da linha em que
se encontra e o segundo o número da coluna. Valores concretos destes dois ı́ndices são suficientes
para identificar cada elemento. Por exemplo, na expressão (21) tem-se A23 = 7. A matriz em (21)
é então uma multiplicidade de ordem 2 em que os ı́ndices têm gamas de variação diferentes (4 e 3
respectivamente).
É fácil descrever multiplicidades de todas as ordens, incluindo ordem zero. Uma multiplicidade de
ordem zero será um conjunto de números que não necessita de nenhum ı́ndice para ser representada;
é portanto apenas um único número i. e. um escalar. Uma multiplicidade de ordem 1 será um
conjunto ordenado de números que podem ser escritos ao longo de uma linha ou de uma coluna e
pode representar um vector escrito numa certa base. Pode-se imaginar uma multiplicidade de ordem
3 como um cubo de números. Para ordens superiores a 3 é mais complicado representar todas as
entradas das multiplicidades em conjunto mas é sempre possı́vel especificá-las através da listagem de
todos os valores. Por exemplo
especifica completamente uma multiplicidade Bij de ordem 2 em que os ı́ndices têm a mesma gama
de variação 1, 2 i. e. uma matriz quadrada 2 × 2.
Até ordem 2 é mais fácil representar todas as entradas em conjunto: no caso dos escalares não
há diferenças; um vector, por uma linha ou coluna de números — uma matriz linha 1 × n ou uma
matriz coluna n × 1; uma multiplicidade de ordem 2 por um quadro de números (matriz). Neste
ponto é necessário definir uma convenção. Repare-se que o elemento B12 não é o mesmo que o
elemento B21 . Se se pretende representar Bij num quadro com linhas e colunas, tem que se saber que
ı́ndice corresponde a número de linha e número de coluna, ao contrário da representação elemento a
elemento de (22) que é unı́voca mas mais trabalhosa. Convenciona-se que nas multiplicidades com
2 ı́ndices, o primeiro ı́ndice representa número de linha e o segundo número de coluna. Embora não
seja absolutamente necessário, é também conveniente representar os vectores sempre que possı́vel
por matrizes coluna. Esta opção tornar-se-á mais clara quando se estudar as operações com e entre
multiplicidades (secção 3).
No caso de multiplicidades de ordem 3, ainda é parcialmente possı́vel representar todas as entradas
em conjunto. Basta “cortar o cubo em fatias”. No entanto, é necessário saber como o cubo é cortado
e não existe uma convenção absoluta para este caso. Por exemplo na multiplicidade Cijk de ordem
3, definida univocamente por
C111 = 1, C112 = 2, C121 = 3, C122 = 4,
(23)
C211 = 5, C212 = 6, C221 = 7, C222 = 8,
convencionou-se que o primeiro ı́ndice corresponde a profundidade, o segundo a horizontalidade
(linha) e o terceiro a altura (coluna). Pode-se cortar o cubo em profundidade e representar Cijk em
9
duas camadas verticais:
1 2 5 6
C1ij = , C2ij = . (24)
3 4 7 8
Outra possibilidade será
1 2 3 4
Ci1j = , Ci2j = (25)
5 6 7 8
em que se usou a convenção de que, nos dois ı́ndices que não estão fixados, o primeiro que aparece
representa linha e o segundo coluna, embora sejam neste caso fatias horizontais do cubo. Como já se
disse não há neste caso uma convenção fixa e o melhor é confirmar explicitamente qual é a convenção
utilizada.
Para multiplicidades de ordem superior a 3 tudo se complica ainda mais e é geralmente preferı́vel
listar os valores das entradas como em (23).
A ordem por que aparecem os ı́ndices numa multiplicidade também pode fornecer outro tipo
de informações. Por exemplo dada uma multiplicidade Dij , pode-se dizer que Dji representa a
mesma multiplicidade pois difere apenas no nome dos ı́ndices não especificados i. e. mudou-se o nome
fazendo i → j, j → i. No entanto, se na mesma expressão aparecem ambas as representações, uma
representará a transposta da outra pois o ı́ndice que representa linha numa delas passa a representar
coluna na outra e vice-versa. Por exemplo a equação
indica que cada elemento da linha i coluna j é igual ao elemento da linha j coluna i e que portanto
D = D| ou seja que Dij é uma matriz simétrica. Em suma, Dij e Dji significam a mesma coisa quando
estão isolados pois os ı́ndices podem tomar quaisquer valores mas especificam coisas diferentes em
conjunto pois especificar um ı́ndice num deles implica especificar o mesmo ı́ndice no outro e esse
mesmo ı́ndice pode não estar no mesmo lugar. O facto de o mesmo ı́ndice aparecer em vários termos
de uma expressão implica que os termos em questão estão relacionados e podem apenas ser encarados
como livres em conjunto mas não independentes entre si.
10
Cada elemento Cik da matriz que resulta do produto matricial em (27) resulta da soma de produtos
de números. Mas a multiplicação usual entre números reais ou complexos é comutativa e portanto
(27) pode escrever-se
Cik = Bjk Aij . (28)
A expressão anterior não representa o produto matricial de B por A (o produto matricial não é comu-
tativo); continua a representar o produto AB. Olhando com cuidado para a expressão, e lembrando
que em multiplicidades de ordem 2 o primeiro ı́ndice representa número de linha e o segundo número
de coluna, nota-se que para i e k fixos, o lado direito da expressão (28) representa a soma de produtos
constituı́da por elementos correspondentes da linha i de A e da coluna k de B ou seja, por definição,
um elemento que resulta do produto matricial AB. É necessário algum cuidado e atenção para não
cometer erros e interpretar correctamente o produto matricial representado por (27) ou (28) que têm
exactamente o mesmo significado. A diferença entre as expressões (27) e (28) significa apenas que a
ordem dos factores não altera o produto (de números).
Não é obrigatório utilizar uma representação matricial para as multiplicidades. Elas podem ser
definidas apenas pela listagem das suas componentes. Para certos fins é conveniente definir uma
notação para a representação matricial de multiplicidades de ordens 1 e 2. Assim
Aij (29)
define-se como sendo a matriz que representa a multiplicidade Aij . Deste modo
Cik = Aij Bjk (30)
significa que a matriz que representa C é o resultado do produto matricial da matriz que representa
A pela matriz que representa B. Embora neste exemplo os ı́ndices que aparecem dentro das matrizes
sejam os certos para a multiplicação matricial, não tem que ser necessariamente assim. Os ı́ndices
podem ser só indicativos da ordem das multiplicidades. Voltar-se-á a esta questão na secção 3.6.
Lembrando a convenção de que um vector é representado por uma matriz coluna, pode-se também
representar uma transformação linear ou uma mudança de base pela multiplicação matricial de uma
matriz Mij por uma matriz coluna (vector) Aj
Mij Aj . (31)
Neste caso, como o segundo elemento da multiplicação só tem um ı́ndice, é necessário saber de
antemão que este representa número de linha (i. e. é uma matriz coluna) para interpretar a expressão
como um produto matricial.
É importante notar que se o ı́ndice que está a ser somado não for o segundo da primeira matriz e o
primeiro da segunda, a operação matemática representada por (27) não corresponde à multiplicação
das matrizes (cf. secção 3.6).
é determinado por
C21 = Bj1 A2j = B11 A21 + B21 A22 = 7 × 3 + 9 × 4 = 57 = A2j Bj1 (34)
11
Por outro lado, é fácil verificar que
embora seja uma operação possı́vel, não corresponde a nenhuma entrada da matriz resultante do
produto pois
1 2 7 8 25 28
AB = = = C. (36)
3 4 9 10 57 64
É imediato verificar que qualquer que seja a matriz quadrada Mij e o vector Ai se tem
δij Aj = Ai (38a)
δij Mjk = Mik = Mij δjk , (38b)
δik δkj = δij , (38c)
δij = δji , (38d)
sendo a última expressão indicativa de que o sı́mbolo de Kronecker é uma multiplicidade simétrica.
3.1 Soma
Tal como a soma de vectores e matrizes, define-se soma de multiplicidades como a multiplicidade
que resulta da soma das componentes correspondentes de duas multiplicidades1 :
Ci = Ai + Bi (39a)
Cij = Aij + Bij (39b)
Cijk = Aijk + Bijk (39c)
...
Só é possı́vel definir soma entre multiplicidades do mesmo tipo (mesmo número de ı́ndices, cada
um deles com a mesma gama de variação) e o resultado é ainda uma multiplicidade do mesmo
1
Nos exemplos ilustrativos serão em geral utilizadas multiplicidades de ordem não superior a 3 para não sobrecarregar
a notação e ajudar à compreensão. Naturalmente que, a não ser que indicado em contrário, as afirmações que se fazem
são válidas para multiplicidades de qualquer ordem.
12
tipo (e portanto com o mesmo número de componentes). Repare-se que os ı́ndices são iguais na
mesma posição em todas as multiplicidades pois são as componentes na mesma posição em cada
multiplicidade que estão a ser somadas.
A notação indicial permite imediatamente observar que a soma de multiplicidades é comutativa,
associativa, etc. i. e. goza das mesmas propriedades que a soma de números, com as diferenças óbvias
— por exemplo, o elemento neutro da soma é a multiplicidade com todas as componentes nulas e não o
número zero. Devido à facilidade em concluir sobre este tipo de propriedades em relação às operações
sobre e com multiplicidades, a sua discussão vai ser omitida a não ser em casos particularmente
relevantes.
3.2 Congelamento
A operação congelamento de um ı́ndice (ou mais) de uma multiplicidade corresponde a fixar esse
ı́ndice nos seus valores concretos. O congelamento de ı́ndices numa multiplicidade de ordem p dá
origem a multiplicidades de ordem p − q em que q é o número de ı́ndices congelados. Por exemplo,
numa multiplicidade de ordem 3 em que o primeiro ı́ndice tem gama de variação de 1 a n
A1jk = Bjk ,
A2jk = Cjk ,
congelamento de i
Aijk −−−−−−−−−−−→ (40)
A3jk = Djk ,
..
.
O congelamento do primeiro ı́ndice dá origem a três multiplicidades, uma para cada valor concreto do
ı́ndice congelado. Quando se congela um ı́ndice i. e. quando se atribui um valor concreto, o resultado
é ainda um objecto matemático descrito por ı́ndices ou seja uma multiplicidade, uma para cada valor
concreto do ı́ndice congelado. No caso de congelamento de um ı́ndice numa multiplicidade de ordem
1 obtém-se n escalares i. e. n multiplicidades de ordem zero.
Encarando o resultado do congelamento como multiplicidades, o ı́ndice congelado para cada uma
delas já não é ı́ndice, no sentido dado até agora, pois não pode variar, faz parte do nome. Por
exemplo, em (40) A1jk = Bjk é a multiplicidade de ordem 2 que se obtém da multiplicidade A
fixando o primeiro ı́ndice no valor 1 e pode ser designada por
Ajk (41)
1
para frisar que o ı́ndice que foi fixado em A faz agora parte do nome e já não é ı́ndice. Pode-se assim
designar o conjunto das n multiplicidades que se obtêm do congelamento do primeiro ı́ndice de Aijk
sem confusão possı́vel com A.
Ajk (42)
i
é o conjunto de n multiplicidades, uma para cada valor concreto de i.
Numa multiplicidade de ordem p o número de congelamentos distintos de q ı́ndices é dado por
p p!
= (43)
q q!(p − q)!
e o número total N de congelamentos possı́veis por
p p
p
X p X p
N = 2 − 1 = −1 + = . (44)
q q
q=0 q=1
13
3.3 Produto Directo
O produto directo de duas multiplicidades é uma multiplicidade cujas componentes se obtêm
multiplicando cada uma das componentes da primeira multiplicidade com qualquer das componentes
das segunda. Por exemplo
Cijkl = Aij Bkl . (46)
As multiplicidades envolvidas no produto directo podem ser de qualquer tipo e o número de compo-
nentes do resultado é o produto do número de componentes das multiplicidades. Como para se obter
cada uma das componentes do resultado se escolhem duas componentes, uma de cada multiplicidade,
fixando os respectivos ı́ndices, o resultado é um objecto matemático caracterizado pelo número total
de ı́ndices das duas multiplicidades (repare-se que os ı́ndices são todos diferentes). A multiplicidade
resultante do produto directo é então de ordem p + q em que p e q são as ordens das multiplicidades
implicadas na operação.
ou seja
5 6 7 15 18 21
C1ij = , C2ij = , (49)
10 12 14 20 24 28
com a usual convenção de o primeiro ı́ndice não especificado representar número de linha e o segundo
número de coluna.
3.4 Contracção
A contracção de dois ı́ndices (com a mesma gama de variação) de uma multiplicidade de ordem
p > 2, é uma multiplicidade de ordem p − 2 cujas componentes resultam da soma de todas as
componentes com o mesmo valor nesses dois ı́ndices. Por exemplo, a contracção da multiplicidade
Aijkm` de ordem 5 do segundo com o quarto ı́ndices
O resultado da contracção é um objecto matemático caracterizado por 3 ı́ndices, logo é uma multi-
plicidade de ordem 3: para cada conjunto de valores concretos de i, k e ` tem-se um número (uma
componente).
Repare-se que nesta operação há componentes que não contribuem para o resultado — todas
as da multiplicidade original caracterizadas por valores concretos diferentes dos ı́ndices que vão ser
somados. O número de componentes da contracção de uma multiplicidade A é dado por
no de componentes de A
no de componentes da contracção de A = (51)
n2
14
em que n é o número de valores que os ı́ndices contraı́dos podem tomar.
O traço de uma matriz (quadrada) é o caso mais conhecido de uma contracção,
Tr A = Aii . (52)
δii = n. (53)
3.5 Transvecção
A transvecção é um produto directo seguido de uma contracção. Por exemplo, o produto de duas
multiplicidades de ordem 3
Aijk B`mn = Cijk`mn (57)
seguido da contracção de dois ı́ndices
produto contracção
Ai , Bj −−−−−→ Ai Bj −−−−−−→ Ai Bi (59)
15
que o leitor esteja bem familiarizado com a forma como se multiplicam matrizes. É sabido que o
produto matricial não é comutativo e que cada elemento do resultado se obtém através da soma de
produtos de elementos correspondentes de uma linha da primeira matriz e de uma coluna da segunda.
Repare-se que neste cálculo estão envolvidas (as componentes de) uma linha da primeira matriz e
(as componentes de) uma coluna da segunda matriz. Esta é a ideia central do produto matricial
e é importante mantê-la presente para se compreender como ele pode emular uma transvecção.
Esta possibilidade existe porque uma transvecção também é uma soma de produtos de elementos de
algum modo correspondentes de duas multiplicidades. Se se conseguir fazer corresponder os elementos
envolvidos na transvecção às linhas e colunas certas nas matrizes que representam as multiplicidades,
o objectivo terá sido conseguido.
A multiplicação de matrizes utiliza, para determinar cada elemento do resultado, uma linha da
primeira matriz e uma coluna da segunda. Para obter a transvecção pretendida é necessário substituir
a matriz coluna, que representa a multiplicidade que aparece em primeiro lugar no produto matricial,
pela sua transposta.
Repare-se que neste caso seria impossı́vel multiplicar simplesmente as matrizes coluna que repre-
sentam as duas multiplicidades — o produto matricial entre matrizes coluna é impossı́vel. No entanto,
pode-se multiplicar matricialmente, por esta ordem, a matriz coluna que representa uma das multi-
plicidades com a matriz linha que é a transposta da matriz que representa a outra multiplicidade.
Por exemplo
A1 A1 B1 A1 B2 . . . A1 Bn
A2 A2 B1 A2 B2 . . . A2 Bn
B1 B2 . . . =
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . (61)
..
. An B1 . . . . . . . . . . An Bn
Este resultado não é a transvecção pretendida (que é a soma dos produtos das componentes corre-
spondentes de Ai e Bi ). A multiplicação (61) resulta no produto directo das duas multiplicidades
A1 B1 A1 B2 . . . A1 Bn
A2 B1 A2 B2 . . . A2 Bn ∗
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . = Ai Bj = Cij . (62)
An B1 . . . . . . . . . . An Bn
16
coincida com a transvecção que se pretende calcular, é necessário que as matrizes que representam as
multiplicidades figurem na equação por uma certa ordem e eventualmente transformar algumas delas
nas suas transpostas. Se a ordenação escolhida das matrizes na equação for diferente, as matrizes
que têm que aparecer transpostas serão eventualmente outras.
mas neste caso o resultado é uma matriz linha. Este facto não é importante porque, como só há uma
fila de números numa multiplicidade de ordem 1, esta fica definida sem ambiguidade por uma matriz
linha ou por uma matriz coluna.
Uma vez que em (65) se colocaram as matrizes numa ordem diferente, para o produto matricial
(que utiliza linha da primeira matriz e coluna da segunda) dar o resultado pretendido é necessário
utilizar as matrizes transpostas das matrizes que representam as multiplicidades.
Como o ı́ndice
i (fixo durante cada soma de produtos) representa número de linha e Aij é a segunda matriz do
produto, para o produto matricial coincidir com a transvecção o ı́ndice i tem que
passar a representar
número de coluna, o que acontece no caso de se utilizar a transposta de Aij . De modo similar, a
primeira matriz tem que ser uma matriz linha e portanto tem que se utilizar a transposta de Bj .
Repare-se que o ı́ndice livre i foi transformado (porque se passou Aij à sua transposta) num
ı́ndice que representa número de coluna. Isto está de acordo com o resultado obtido: uma matriz
linha em que ı́ndice representa número de coluna. Este facto é muito importante pois indica que o
que o ı́ndice livre representa no resultado, número de linha ou de coluna, é determinado pelo que
ele representa na expressão matricial na forma final (depois de determinada a ordem das matrizes
e quais delas foram passadas à sua transposta). De modo inverso, se o que o ı́ndice representa no
resultado, linha ou coluna, for determinado à partida, é possı́vel construir um produto matricial que
o calcule (este facto é a expressão do bem conhecido resultado de que o transposto do produto de
matrizes é produto das matrizes transpostas por ordem inversa; cf. (64) e (65)). Se nos exemplos
anteriores nunca há dúvidas sobre o resultado, quando este for uma multiplicidade de ordem 2 será
3
Vale a pena frisar que os elementos da transvecção não têm que ter a mesma ordem — o produto de números é
comutativo — e nem sequer uma representação matricial pois podem ser definidos pela listagem das suas componentes.
Só quando se pretende emular a transvecção utilizando matrizes e o produto de matrizes é que se torna necessário
colocar estas numa certa ordem para se obter o resultado pretendido.
17
necessário identificar que ı́ndices representam linha e coluna pois corre-se o risco de se estar a calcular
o transposto do resultado pretendido (cf. secção seguinte).
embora mais uma vez o resultado das duas expressões matriciais, à esquerda e à direita na equação,
seja respectivamente uma matriz coluna e uma matriz linha. Para verificar o resultado, por exemplo
com a expressão matricial da direita, basta reparar que quando se realiza a transvecção se está a
utilizar componentes de uma coluna de Aij pois o ı́ndice j, que representa número de coluna, está fixo.
Para o produto matricial igualar a transvecção indicada, é necessário utilizar a matriz transposta da
matriz coluna que representa Bi e colocá-la antes da matriz que representa Aij .
1. Em primeiro lugar é necessário ter presente as convenções de que numa multiplicidade de ordem
2, o primeiro ı́ndice representa número de linha e o segundo número de coluna da matriz que a
representa; nas multiplicidades de ordem 1 o único ı́ndice existente representa número de linha
(o que é consistente com o anterior porque sendo único também é o primeiro) e portanto a
matriz que a representa é uma matriz coluna.
2. Para iniciar o cálculo é necessário dispor as matrizes que representam as multiplicidades numa
certa ordem (nunca é de mais lembrar que nas expressões indiciais a ordem não é importante
pois está-se na presença de somas de produtos de números enquanto que com matrizes a ordem é
fundamental por o seu produto não ser comutativo). Cada transvecção vai ser representada por
um produto entre matrizes portanto as matrizes que as representam têm que estar em lugares
adjacentes (num produto de três matrizes não se pode multiplicar a primeira com a terceira).
Por exemplo na transvecção dupla (dois conjuntos de ı́ndices a serem somados) Aij Bk` Cik a
matriz que representa Cik tem que ficar no meio pois envolve transvecções com as outras duas
e tem que ficar adjacente a ambas. Arbitrariamente decide-se em que posição ficam as outras
duas. Uma possibilidade é que a matriz que representa Bk` fica colocada
em primeiro lugar
ficando nesse caso as matrizes ordenadas na forma Bk` Cik Aij .
3. Decidida a ordem por que aparecem as matrizes na expressão, tem agora que se fazer com que
as transvecções coincidam com o produto matricial. Uma transvecção, tal como o cálculo do
produto de matrizes, consiste numa soma de produtos de números. Para as duas operações
coincidirem, tem que se assegurar que os elementos envolvidos são os mesmos e do mesmo
modo. Para tal acontecer, em cada produto entre duas matrizes os elementos de cada linha
da primeira matriz e os elementos de cada coluna da segunda matriz têm que ser os elementos
das multiplicidades correspondentes envolvidos na transvecção e isso consegue-se utilizando, se
necessário, as matrizes transpostas em vez das próprias. No exemplo considerado, pense-se em
18
primeiro lugar no produto das duas primeiras matrizes Bk` Cik . Durante a transvecção os
ı́ndices ` e i estão fixos. Os elementos envolvidos na transvecção são os de cada coluna de Bk`
(pois `, o ı́ndice que representa número de coluna, está fixo) e os de cada linha de Cik (pois i,
o ı́ndice que representa número de linha, está fixo). Mas no produto de matrizes, os elementos
envolvidos no cálculo de cada componente do resultado são os de linhas da primeira matriz e col-
unas da segunda. Então, para a transvecção pretendida coincidir com o produto matricial, tem
| |
neste caso que se utilizar as transpostas das duas matrizes Bk` Cik . Considere-se agora
|
o segundo produto de matrizes. A primeira | matriz é Cik pois foi necessário anteriormente
transpor a matriz. Tem-se então Cik Aij . Como já se está a utilizar a transposta de Cik ,
o ı́ndice k representa agora número de linha e portanto quando se está a fazer a transvecção
está-se a utilizar
elementos de uma linha (número de linha = k, fixo) da matriz transposta. Na
matriz Aij é o ı́ndice j, que representa número de coluna, que está fixo durante a transvecção |
e portanto
os elementos envolvidos são os de uma coluna. Então em ambas as matrizes, C ik
e Aij , os elementos envolvidos na transvecção e os envolvidos no produto de matrizes são os
mesmos e não é necessário transpor nenhuma das matrizes. O produto matricial que deve ser
realizado para calcular todas as transvecções é então
| |
Bk` Cik Aij . (67)
4. Finalmente é necessário identificar o resultado e ter o cuidado de não o confundir com o seu
transposto. Seja D a multiplicidade que resulta da transvecção; esta multiplicidade é de ordem
2 caracterizada pelos ı́ndices livres j e ` da expressão da transvecção Aij Bk` Cik . O que tem
que se determinar é qual deles corresponde a linha e qual corresponde a coluna, de modo a
identificar correctamente o resultado
de (67). Repare-se que em (67) o ı́ndice `, porque se está
a utilizar a transposta de Bk` , representa número de linha e o ı́ndice j representa número de
coluna (se representasse também número de linha algo estaria errado). Então a multiplicidade
que é representada pela matriz que resulta de (67) é D`j e portanto
| |
D`j = Bk` Cik Aij . (68)
Como a ordem dos ı́ndices livres é arbitrária, poder-se-ia ter definido o resultado da transvecção
como Dj` = Aij Bk` Cik . Seguindo a convenção, j representa agora número de linha (é o primeiro
ı́ndice) e ` número de coluna, pelo que o resultado de (67) é a matriz transposta do resultado
anterior (68) pois |
Dj` = D`j . (69)
Suponha-se que se adoptava a ordem Aij Cik Bk` (note que C tem que estar sempre no
meio); então as transvecções pretendidas seriam calculadas por
| ∗
Aij Cik Bk` = Dj` = Dj` ; (70)
o resultado seria directamente a matriz que representa Dj` . Tal demonstra na prática o cuidado
que é necessário ter para calcular correctamente a multiplicidade que se pretende. Se a multi-
plicidade pretendida for Dj` , tanto (67) como (70) podem ser utilizadas; é contudo necessário
fazer a transposta de (67) para se obter o resultado pretendido.
19
1. Começa-se por escrever a expressão indicial indicando à partida a ordem dos ı́ndices que se
pretende ter no resultado. Por exemplo
Dj` = Aij Bk` Cik . (71)
2. A seguir ordena-se as multiplicidades do lado direito de (71) de modo a que, em primeiro lugar,
as multiplicidades com ı́ndices iguais (os das transvecções) fiquem adjacentes (o que implica,
como anteriormente, Cik no meio); as outras multiplicidades devem ser colocadas numa ordem
tal que a multiplicidade a que pertence o primeiro ı́ndice do resultado D (neste caso j) apareça
em primeiro lugar, e a multiplicidade a que pertence o segundo ı́ndice (`) de D apareça no fim.
A expressão fica então
Dj` = Aij Cik Bk` . (72)
3. É necessário identificar as linhas e colunas que são determinadas pelo resultado — neste exemplo
Dj` , em que j representa número de linha por ser o primeiro ı́ndice, e ` o número de coluna. A
identificação faz-se da esquerda para a direita da equação. Para a realizar, é boa ideia assinalar
na expressão matricial quais os ı́ndices que representam linha — por exemplo sublinhando-os4
(para melhor identificar os que representam linhas e os que representam colunas). Começando
pelo resultado, se j representa número de linha então j do outro lado da equação também
tem que representar número de linha; quanto aos ı́ndices iguais nas transvecções, se um deles
representa linha, o outro tem que representar coluna para poder coincidir com o produto ma-
tricial. No exemplo, o ı́ndice que representa linha em Dj` é o ı́ndice j; em Aij (do outro lado
da equação) j também tem que representar número de linha, o que implica por sua vez que i
em Aij representa número de coluna; isto por sua vez implica que i em Cik tem que representar
número de linha (o contrário do que representa na multiplicidade anterior) e assim por diante.
Assinalando os ı́ndices que têm que representar número de linha em (72) passo a passo:
Dj` = Aij Cik Bk`
= Aij Cik Bk`
(73)
= Aij Cik Bk`
= Aij Cik Bk` .
4. Finalmente, como as linhas têm que aparecer em primeiro lugar, é necessário substituir as
multiplicidades pelas matrizes que as representam, transpor as matrizes que têm o ı́ndice que
representa linha (sublinhado) no local errado (em segundo lugar). Em (73) isso só acontece
com Aij e portanto ter-se-á
∗ |
Dj` = Dj` = Aij Cik Bk` (74)
que é o mesmo resultado que (70). Para obter D`j e utilizando a mnemónica tem-se
∗ | | |
D`j = Bk` Cik Aij = Bk` Cik Aij = D`j = Dj` (75)
que é o mesmo resultado que (68).
O exemplo utilizado na explicação do procedimento e na mnemónica é o mais complicado possı́vel
porque envolve multiplicidades de ordem 2. Para multiplicidades de ordem superior a 2, ou se faz os
cálculos termo a termo (cada uma das somas de produtos de números explicitamente) ou se congelam
os ı́ndices que sobram de modo a se ter matrizes, que é o que se pode representar facilmente. No
caso de várias transvecções sobre as mesmas multiplicidades, elas têm que se realizar uma de cada
vez (cf. o exemplo abaixo com duas transvecções sobre as mesmas duas multiplicidades).
4
Estes ı́ndices sublinhados não têm nada que ver com o caso em que não se quer utilizar a convenção da soma quando
há ı́ndices repetidos. Aqui apenas se pretende assinalar os ı́ndices e pode-se utilizar outra notação. Como este problema
só aparece nas expressões matriciais i. e. durante o cálculo de resultados numéricos, não há confusão possı́vel.
20
Exemplo. Dadas as multiplicidades
1 3 4 7 8 11 12
Ai = , Bij = , Cij = , Dij = ,
2 5 6 9 10 13 14
(76)
15 16 19 20
E1ij = , E2ij = ,
17 18 21 22
21
4.1 Produto interno
O produto interno entre dois vectores já foi descrito a propósito da notação indicial. Por permitir
uma perspectiva diferente de operação vectorial definida a partir de operações com multiplicidades,
é novamente referido aqui.
O produto interno entre dois vectores A ~ = Ai~ei e B ~ = Bj ~ej escritos numa certa base pode
escrever-se
~·B~ = Ai~ei · Bj ~ej = Ai Bj ~ei · ~ej ,
A (83)
em que se utilizou o facto de o produto interno ser uma operação linear para colocar em evidência as
componentes dos vectores. Numa base ortonormada tem-se ~ei · ~ej = δij e lembrando que Bj δij = Bi
obtém-se
A~·B ~ = Ai Bj δij = Ai Bi (84)
i. e. que numa base ortonormada o produto interno de dois vectores é a transvecção das duas multi-
plicidades que os representam nessa base.
O ângulo θ entre dois vectores pode ser definido através de
~·B~ = Ai Bi = A ~ cos θ
~ B
A (85)
são
1 2 1 3
Aij = , Aji = , (89)
3 4 2 4
o primeiro correspondendo à própria multiplicidade e o segundo à única troca de ı́ndices possı́vel.
22
Para o conjunto de q ı́ndices de uma multiplicidade existem q! isómeros i. e. q! modos diferentes
de distribuir os ı́ndices. Este facto é facilmente verificado: se existem q ı́ndices para distribuir por q
posições, na primeira posição pode estar qualquer um deles e portanto há q possibilidades; na segunda
posição pode estar qualquer um dos ı́ndices excepto o que foi colocado na primeira posição e logo há
q−1 possibilidades, e assim por diante para todas as posições resultando em q×(q−1)×. . .×2×1 = q!
possibilidades.
A operação que, utilizando q ı́ndices numa dada configuração, os distribui de um modo diferente
denomina-se permutação de ı́ndices o que significa que a transposição é uma permutação de dois
ı́ndices numa multiplicidade. Por exemplo,
permutação
ijk` −−−−−−−→ ki`j. (90)
As permutações de dois ı́ndices necessárias para obter uma permutação qualquer não são neces-
sariamente sempre as mesmas nem no mesmo número. No caso da permutação anterior, ela pode ser
realizada através de
ijk` → jik` → jki` → kji` → kij` → ki`j (92)
i. e. as permutações de dois ı́ndices utilizadas foram diferentes e o seu número foi também diferente.
No entanto, o número de permutações de dois ı́ndices necessárias para realizar uma dada permutação
é sempre par ou ı́mpar. Este facto permite classificar as permutações em
• Permutações pares — as que são obtidas à custa de um número par de permutações de dois
ı́ndices;
A classificação anterior é transmitida aos isómeros de um multiplicidade pois eles são obtidos
através de permutações de ı́ndices. No caso de multiplicidades de ordem 2 tem-se
(
Aij (isómero par),
isómeros de Aij = (93)
Aji (isómero ı́mpar),
e nas de ordem 3
(
Aijk , Ajki , Akij (isómeros pares),
isómeros de Aijk = (94)
Ajik , Akji , Aikj (isómeros ı́mpares).
As denominadas permutações cı́clicas são úteis para determinar de uma forma sistemática todos
os isómeros e respectiva paridade no caso de multiplicidades de ordem 3. Uma permutação cı́clica
é a permutação que resulta de pegar no primeiro ı́ndice e colocá-lo em último lugar, fazendo todos
os outros ı́ndices recuar uma casa, ou pegar no último ı́ndice e colocá-lo em primeiro lugar, fazendo
todos os outros ı́ndices avançar uma casa:
permutação cı́clica
Aijkmn −−−−−−−−−−−→ Ajkmni , (95a)
permutação cı́clica
Aijkmn −−−−−−−−−−−→ Anijkm . (95b)
23
As permutações cı́clicas não são permutações de dois ı́ndices.
No caso de multiplicidades de ordem 3, como só existem 3 ı́ndices, as permutações cı́clicas são
pares e o conjunto de todas as permutações cı́clicas obtidas de um isómero geram todos os isómeros
com a mesma paridade do inicial. Para obter todos os isómeros de uma multiplicidade de ordem 3
Aijk , e saber quais são os isómeros pares e os ı́mpares, basta realizar permutações cı́clicas de Aijk
para obter os pares
todas as permutações cı́clicas
Aijk −−−−−−−−−−−−−−−−−−→ Ajki , Akij , Aijk , isómeros pares de Aijk (96)
e partindo de um isómero ı́mpar, por exemplo o que se obtém de Aijk por uma permutação dos dois
primeiros ı́ndices, os ı́mpares
todas as permutações cı́clicas
Ajik −−−−−−−−−−−−−−−−−−→ Aikj , Akji , Ajik , isómeros ı́mpares de Aijk . (97)
Este raciocı́nio só é válido para multiplicidades de ordem 3. Por exemplo para ordem 4, as permu-
tações cı́clicas são ı́mpares
e as sucessivas permutações cı́clicas geram sucessivamente isómeros com paridade diferente e igual à
do inicial. Mas o maior problema é que, ao contrário do caso de ordem 3, o número de permutações
possı́vel é superior à soma do número de permutações cı́clicas dos isómeros pares e ı́mpares (em
ordem 4 há 4! = 24 isómeros mas só 4 + 4 = 8 permutações cı́clicas). Em todo o caso, como as
multiplicidades de ordem 3 (ou inferior) são as mais comuns em aplicações, este método acaba por
ser bastante útil.
No caso de multiplicidades de ordem igual ou superior a 3 a simetria pode ser só em relação a alguns
ı́ndices. Por exemplo
Eijk = Ejik (100)
define uma multiplicidade simétrica apenas em relação aos ı́ndices i, j (os dois primeiros da multipli-
cidade).
Uma multiplicidade F diz-se anti-simétrica em relação a um conjunto de ı́ndices se for igual a
todos os seus isómeros pares e igual ao negativo de todos os seus isómeros ı́mpares nesses ı́ndices.
Para multiplicidades de ordem 2 e 3 completamente anti-simétricas:
Do mesmo modo que a simetria, a anti-simetria pode ser definida apenas em relação a um certo
número de ı́ndices . Por exemplo
Fijk = −Fikj (102)
define uma multiplicidade anti-simétrica em relação aos dois últimos ı́ndices.
24
O número de elementos independentes das multiplicidades simétricas e anti-simétricas é limitado
pelas relações que as definem. Por exemplo, numa multiplicidade arbitrária de ordem 2 em que a
gama de variação dos ı́ndices é n, o número de elementos independentes é n × n = n2 mas se ela for
simétrica existe o conjunto de equações (99a) que determinam algumas das componentes em função
de outras. Como nos casos em que os dois ı́ndices são iguais as equações (99a) são uma identidade
e não determinam nada, olhando para a multiplicidade de ordem 2 como uma matriz, os elementos,
por exemplo, da parte triangular inferior determinam os da parte triangular superior e os elementos
da diagonal principal não são determinados. Deste raciocı́nio resulta que o número de componentes
independentes é
n2 − n n(n + 1)
+n= . (103)
2 2
Se a multiplicidade for anti-simétrica, os elementos da diagonal principal são nulos pois (101a) implica
que Fii = −Fii (sem soma em i) o que implica que haja
n2 − n n(n − 1)
= (104)
2 2
componentes independentes. Repare-se que as multiplicidades simétricas e anti-simétricas de ordem
2 são respectivamente matrizes simétricas e anti-simétricas.
Em geral, numa multiplicidade de ordem q e gama de variação n, simétrica em relação a todos
os ı́ndices, ter-se-á
n+q−1 (n + q − 1)!
número de elementos independentes = = (105)
q q!(n − 1)!
Aij + Aji
A(ij) = , (108a)
2!
1
A(ijk) = (Aijk + Ajki + Akij + Ajik + Aikj + Akji ) , (108b)
3!
em que os parêntesis curvos indicam quais os ı́ndices que estão a ser misturados. A mistura é uma
operação que simetriza a multiplicidade e tal como nas propriedades de simetria, a mistura pode ser
feita apenas sobre alguns dos ı́ndices de uma multiplicidade. Por exemplo
Aijk + Ajik
A(ij)k = . (109)
2
25
A operação alternação é similar à mistura, com a diferença importante que, em vez de se somar
todos os isómeros, soma-se os isómeros pares e subtrai-se os isómeros ı́mpares. Para multiplicidades
de ordem 2 e 3:
Aij − Aji
A[ij] = , (110a)
2!
1
A[ijk] = (Aijk + Ajki + Akij − Ajik − Aikj − Akji ) , (110b)
3!
em que os parêntesis rectos são utilizados para indicar quais os ı́ndices que estão a ser alternados. Tal
como na mistura, a alternação pode ser realizada apenas sobre alguns dos ı́ndices da multiplicidade
Aijk − Ajik
A[ij]k = . (111)
2
Quando se tem apenas dois ı́ndices, verifica-se que
que é a expressão de que qualquer matriz é sempre a soma de uma matriz simétrica com uma matriz
anti-simétrica (no caso (112b) é a mesma coisa para cada congelamento dos ı́ndices restantes, neste
caso o ı́ndice k). Este resultado só é válido para mistura e alternação de dois ı́ndices. Para 3 ı́ndices
ou mais, em geral
Aijk 6= A(ijk) + A[ijk] . (113)
A mistura e a alternação são respectivamente multiplicidades simétrica e anti-simétrica:
• Se uma multiplicidade E é simétrica, ela coincide com a sua mistura e a sua alternação é nula.
Para multiplicidades de ordem 2
• Se uma multiplicidade F é anti-simétrica, ela coincide com a sua alternação e a sua mistura é
nula. Para multiplicidades de ordem 2
26
O sı́mbolo de permutação é uma multiplicidade completamente anti-simétrica pois todas as permu-
tações pares de (1, 2, . . . , n) têm o mesmo valor, todas as ı́mpares têm o valor oposto e as restantes
componentes (onde há repetições de ı́ndices) são nulas. Note-se também que, se a gama de variação
dos ı́ndices é menor que n, o sı́mbolo de permutação de n ı́ndices é nulo pois haverá necessariamente
ı́ndices repetidos.
Os sı́mbolos de permutação de n ı́ndices são especialmente importantes quando a gama de variação
dos ı́ndices é (1, 2, . . . , n) i. e. coincide com o número de ı́ndices do sı́mbolo de permutação. A não
ser que explicitado em contrário, toda a discussão sobre sı́mbolos de permutação será doravante feita
no caso em que o seu número de ı́ndices coincide com a gama de variação destes.
Como os sı́mbolos de permutação são completamente anti-simétricos, é possı́vel defini-los apenas
pelo valor de uma das suas componentes (no caso em que o número de ı́ndices coincide com a gama
de variação), por exemplo
e12...n = 1 (117)
pois todas as outras componentes são determinadas pelas propriedades de anti-simetria.
que é exactamente o mesmo resultado do que se obtém através do modo usual de cálculo pelo
determinante simbólico.
27
Como o sı́mbolo de permutação é anti-simétrico eijk = eikj então
~ ×A~ = eijk Bj Ak = −eikj Ak Bj = − A ~×B~
B i i
(124)
i. e. a propriedade do produto externo de que a mudança da ordem dos vectores troca o sinal é
imediata.
O módulo do produto externo também pode ser dado por
~×B ~ = A
~ B
~ sin θ
A (125)
ou seja, o ângulo θ entre os dois vectores pode ser determinado por
~×B ~ 2 ~×B ~ A ~×B ~
2 A A i i eijk Aj Bk eimn Am Bn
sin θ = 2 2 = = . (126)
~ B
A ~ Aj Aj B k B k Aj Aj Bk Bk
28
4.5 Produto Misto
O produto misto (em espaços de dimensão 3) é o produto interno entre um vector e outro que é
o resultado de um produto externo; logo
~·B~ ×C ~ = Ai B~ ×C ~ = Ai eijk Bj Ck = eijk Ai Bj Ck .
A i
(133)
É bem conhecido que o produto misto não se altera com a permutação cı́clica dos vectores. Este
facto é explicado pelas propriedades do sı́mbolo de permutação com 3 ı́ndices (anti-simétrico e em
que as permutações cı́clicas geram todos os termos não nulos). Por exemplo
~ ·C
B ~ ×A ~·B
~ = eijk Bi Cj Ak = −ekji Bi Cj Ak = ekij Ak Bi Cj = A ~ × C.
~ (134)
Exemplo. Sejam os vectores Ai = (10, 2, 3), Bj = (4, 5, 6) e Ck = (7, 8, 9). O produto misto
D=A ~·B
~ ×C~ é determinado por
que dá o mesmo resultado que o cálculo pelo método tradicional do determinante
10 2 3
~ ~ ~
D = A · B × C = 4 5 6 = −27. (136)
7 8 9
ou seja 2 2 2 2
~·B
A ~ ~×B
+ A ~ ~ B
= A ~ . (138)
Escrevendo a expressão anterior na forma indicial
que é equivalente a
eijk eimn Aj Am Bk Bn = Aj Aj Bk Bk − Aj Bj Ak Bk (140)
em que se utilizou o facto de, numa multiplicação, os ı́ndices que estão a ser somados são mudos e
podem mudar de nome desde que não sejam confundidos com outros ı́ndices existentes. Utilizando
as propriedades do delta de Kronecker e. g. Aj = δjm Am a expressão anterior é transformada em
29
ou seja
eijk eimn Aj Am Bk Bn = (δjm δkn − δkm δjn )Aj Am Bk Bn . (142)
Os vectores A~ eB~ são arbitrários pois as equações que foram utilizadas são válidas quaisquer que
eles sejam. Se a equação anterior é válida quaisquer que sejam as componentes dos vectores A ~ eB ~
então
eijk eimn = δjm δkn − δkm δjn . (143)
Por exemplo
ei12 ei21 = e112 e121 + e212 e221 + e312 e321 = −1 = δ12 δ21 −δ22 δ11 . (144)
| {z } | {z } |{z} |{z} | {z }
=0 =0 =1 =−1 =0
Realizando a contracção dos dois ı́ndices do meio (m = j) em (143) obtém-se outra igualdade
eijk eijn = δjj δkn − δkj δjn = 3δkn − δkn = 2δkn . (145)
Uma aplicação em que (143) é útil é quando se pretende demonstrar a igualdade vectorial
~× B ~ ×C ~ = A ~·C~ B ~− A ~·B
~ C.~
A (147)
Note-se que existe apenas um único ı́ndice livre i, como seria de esperar pois o resultado é um vector.
Lembrando que, por o sı́mbolo de permutação ser anti-simétrico, se tem
então
~× B
~ ×C
~
A i
= eijk ekmn Aj Bm Cn = ekij ekmn Aj Bm Cn
= (δim δjn − δjm δin )Aj Bm Cn
= δjn Aj δim Bm Cn − δjm Aj Bm δin Cn
= An Bi Cn − Am Bm Ci = An Cn Bi − Am Bm Ci
~·C~ Bi − A ~·B~ Ci
= A (150)
30
6 Exercı́cios propostos
1. Desenvolva em componentes as expressões com multiplicidades genéricas:
Calcule as suas mistura A(ijk) e alternação A[ijk] e diga justificando quantas componentes
independentes existem em cada um dos casos.
3. Dadas as multiplicidades:
1 2 −1 0 2 2
A1jk = , A2jk = , bij = ,
3 0 7 2 −1 5
4. Dadas as multiplicidades:
1 3 5
ai = 1 1 2 , bij = 11 9 7 ,
21 12 57
Calcule (a) Os elementos A(123) , A(213) e A(333) da mistura A(ijk) e (b) A multiplicidade Aijk δij .
6. Considere a multiplicidade
1 0 2 3
A1jk = , A2jk = ,
−1 2 −2 1
e determine (a) os isómeros Aikj , Akij ; (b) Ai(jk) e Ai[jk] ; (c) Bi = Aijj e Ck = Aiik ;
(d) Dik = Bi Ck .
7. Considere as multiplicidades:
1 4 3 8 7 4 3
Ai = , Bij = , C1jk = , C2jk = .
2 2 1 6 5 2 1
Determine (a) Ai Bij ; (b) A(i Bjk) e A[i Bjk] ; (c) as contracções Ciik , Cijj e Ciji ;
(d) Di = Cijk Bjk .
31
8. Dadas
2 1 3 5
ai = 2 , wij = 11 9 7 ,
3 21 12 57
calcule (i) cijk = ai wkj , (ii) c(123) e (iii) c[ij]3 ai wjk ak .
9. Dadas as multiplicidades
1 2 5 6 9
aij = , bk` = , cm = ,
3 4 7 8 10
calcule (i) aii , (ii) a[ij] , (iii) aij bkj , (iv) ci a1i e (v) bk` ci .
10. Escreva a forma genérica que permite calcular cada uma das componentes das operações
seguintes, efectuadas sobre a multiplicidade Aijk` de ordem 4:
a) Ai(jk)` e Ai[jk]` ;
b) Ai(jk`) e Ai[jk`] ;
c) A(ij)(k`) e A(ij)[k`] .
determine (a) Cjkk ; (b) Aij Bj ; (c) Ci(jk) e Ci[jk] ; (d) δij Aij ; (e) eijk Ajm Bk .
determine (a) B3ii e Ai Bi33 ; (b) B2jk Aj Ak ; (c) B2(jk) , B1[jk] e B3[jk] ; (d) eijk Aj B3k2 .
determine (a) Ai Bij ; (b) δij Bjk δk2 ; (c) C1(jk) , C1[jk] , C2(jk) e C2[jk] ; (d) ejk B1j C21k .
Calcule (a) A[ij] ; mostre que A(ij) = I; (b) Cijk = Aij Bk ; (c) Di = eijk` Bj Bk B` ;
(d) E = Aij Bi Bj .
32
15. Dadas
−1 1 2 3
vi = −3 , bij = −4 0 6 ,
4 3 2 7
11 12 −3 8 99 10 1 1 1
di1j = 4 10 3 , di2j = 4 −2 3 , di3j = 2 2 2
31 1 −7 4 2 70 3 3 3
calcule:
a) b(ij) e b[ij] ; f) c[ij]k e c(ij)k ;
b) vi vj ; g) c[ijk] e c(ijk) ;
e) ci[jk] vk − b[ij] + dik` b`k vj ; j) eijk cijk − eijk d[i`]m b(`m) v[j ck]nn .
17. Considere uma multiplicidade quadrada Aijk` de dimensão n com as seguintes simetrias:
Mostre que:
a) Aijk` = Ak`ij ;
b) Se bij é uma multiplicidade quadrada simétrica e de dimensão n então Aijk` = bik bj` −bi` bjk
tem as propriedades acima referidas;
c) O número de componentes não nulas e independentes de Aijk` é
n2 n2 − 1
.
12
(Sugestão: calcule o número de componentes independentes não nulas com dois, três e
quatro ı́ndices distintos e some.)
d) Exiba, para n = 3, um conjunto de componentes independentes não nulas de Aijk` .
33
h i
c) ~·B
A ~ C
~ ×B
~ ×A~ × kBk
~ 2 C.
~
34
Referências
Campos, L. M. B. C. 1992. Geometria Tensorial e Mecânica Clássica, Secção de Folhas da AEIST.
Spiegel, M. R. 1959. Vector Analysis and an Introduction to Tensor Analysis, Schaum’s Outline
Series, McGraw-Hill.
35
Índice
alternação, 26 duplo, 30
ângulo entre 2 vectores, 22, 28 num espaço de dimensão 2, 28
produto interno, 7, 22
componente de multiplicidade, 8 produto misto, 29
congelamento de um ı́ndice, 13
contracção, 14, 15 sı́mbolo de Kronecker, 12, 29
convenção da soma, 7 sı́mbolo de permutação, 26, 29
com 2 ı́ndices, 27
delta de Kronecker, ver sı́mbolo de Kronecker com 3 ı́ndices, 27
ı́ndice com n ı́ndices, 26
campo de variação, 4 definição, 26
com plica, 6 soma
gama de variação , 4 de vectores, 5
livre, 4 de multiplicidades, 12
permutação de , 23 transposição, 22
repetido não somado, 7 transvecção, 15
isómero, 22
matriz, 8
anti-simétrica, 26
produto em notação indicial, 10, 11
simétrica, 10
simétrica, 26
traço, 15
transposta, 10
mistura, 25
multiplicidade
anti-simétrica, 24, 26, 27
classificação, 9
componente, ver componente de multiplici-
dade
definição, 8
notação para matriz que a representa, 11
operações, 12–15, 22, 25, 26
propriedades, 13
ordem, ver ordem de multiplicidade
quadrada, 8
representação no caso de ordem 3, 9
simétrica, 24, 26
tipo, 8
ordem de multiplicidade, 8
permutação
cı́clica, 23, 29
impar, 23
par, 23
produto directo, 14
produto externo, 27
36