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E-BOOK

Piauí em Letras - 3
Piauí em Letras - 3

Piauí em Letras 3

Neto Saraiva

C O L E TÂ N E A
José Neto, Adrião. (Org.)
J83p Piauí em Letras./ Adrião José Neto. Teresina:
Gráfica Pinheiro, 2020.
Comitê Gestor:
Adrião Neto, Antonio José Sales
João Passos, José Paraguassú
Revisão Geral:
José Pereira de Andrade Filho
Revisão Final:
Autores
Capa:
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Contracapa:
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Design, formatação, impressão e acabamento:
Josely Ribeiro Mendes 9.9844-1897 Gráfica Pinheiro 9.9844-1897
ISBN 9 7885-955-380813
Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária
Larissa Andrade – CRB 3/1179

José Neto, Adrião.


J83p Piauí em Letras 3./ Adrião José Neto. Teresina:
Gráfica Pinheiro, 2020.
242 p. il.
1. Literatura Piauiense – Coletânea
2. Literatura Piauiense – Crônicas
3. Literatura Piauiense – Poesias
4. Literatura Piauiense – Contos
I.Título
CDD – B869.0
Piauí em Letras - 3

Apresentação
Mozaniel Almeida

Falar da Literatura atual torna-se imperativo retroagir no


tempo para ver algumas peripécias que se destacaram pelos óbices
imensos de sua época e que, outrossim, encantaram pela tenacidade
de seus executores. De Hesíodo, poeta grego, que sabia seus poemas
e contos de cor, a Agostinho de Hipona, escritor de mais de duzentos
livros, numa época que aprender a ler já seria uma façanha. Homens
assim nos enchem de satisfação e otimismo. Muitos de nós não
conseguem recitar um único verso de seus escritos, e, para muitos,
escrever é o mesmo que parir um filhote de dinossauro. Eu caibo nos
dois casos.
De todas as artes, duas mexem sobremaneira com nossa
mente: o ilusionismo (mágica de salão) e a Literatura. A Literatura se
completa pelas variadíssimas ilusões que causam em nossos corações.
Muitos livros são melhores que os filmes deles derivados. Ler é um
drink especial. Tive um amigo que, na falta de um livro, lia bulas de
remédios. É uma viagem completa. Muitas pessoas sacam um livro
do bornal para tornar suas viagens psicologicamente mais curtas e
agradáveis. Quem lê viaja na máquina do tempo.
Muita coisa mudou desde a descoberta de Gutemberg no
século XV, tanto que já temos hoje o e-book e a estante virtual, mas
nenhuma dessas novas tecnologias superam o charme e o fascínio do
velho e bom livro de papel. Esta semana fui visitar um médico em
seu consultório e fiquei encantado com sua estante abarrotada de
clássicos universais. Não é um fato corriqueiro, como não seria se os
encontrasse na casa de um peão.
O livro será sempre, ou por ainda muitos anos, o melhor
presente para um idoso ou para um jovem que foi estimulado a ler.
Neste contexto, fomos incumbidos, por livre e espontânea
imposição, à missão de lhes apresentar a terceira edição da Coletânea
Piauí em Letras.
Trazemos novas vozes, aumentou o número de participantes
e também a quantidade feminina, dando-lhes assim um novo colorido
às nossas letras. Não temos uma competição por espaço, mas um
espaço repleto de boas leituras. Muitos aqui são calejados, conhecem
os atalhos, saltaram ravinas, pegaram o touro a unha; outros estão
descobrindo o caminho das pedras numa estrada que se alinha a perder
de vista. Temos os românticos, os satíricos e os sádicos; os
historiadores, os caboclos e os cômicos.
Por fim, deixo escangalhada a porteira das críticas. Não nos
compete fazê-las, no entanto nos interessam e muito.
Boa viagem!

_
Mozaniel Almeida Poeta, cronista, contista e filósofo de botequim
Piauí em Letras - 3

Democratização da produção literária


José Luiz de Carvalho

No Piauí, o escritor Adrião José Neto, há vários anos vem


fazendo um trabalho de integração entre os escritores. Elaborou o
Dicionário Biográfico Escritores Piauienses de Todos os Tempos e,
depois, o Dicionário Biobibliográfico de Escritores Brasileiros
Contemporâneos.
Nesse esforço reuniu informações biobibliográficas de muitos
escritores da atualidade. Foi um trabalho único nesse gênero, que de
certa forma aproximou escritores em todo o Brasil.
Adrião Neto, que também se destaca como historiador e
romancista, tornou-se um líder entre os seus pares. Sempre preocupado
com a perpetuação da memória histórica e literária, decidiu reunir
esses escritores em coletâneas. Assim nasceram várias crestomatias
contemplando escritores piauienses e de outros estados. Atualmente,
está envolvido no projeto “Piauí em Letras” – uma coletânea em
andamento, com a participação de escritores de várias cidades, uma
verdadeira miscelânea; incluindo escritores do cerrado ao litoral,
passando pelo Meio-Norte, onde Teresina é também a capital da
literatura piauiense.
“Piauí em Letras” é o inter-relacionamento, a troca de
conhecimentos e de experiências literárias. Após o sucesso das edições
anteriores, em todo o estado do Piauí, Adrião parte agora para o
terceiro livro, pois é uma coleção em construção anual. Vale destacar
também o aspecto democrático, dando igual oportunidade para
qualquer escritor publicar os seus trabalhos, muitos destes em primeiro
momento, marcando a sua estreia no mundo das letras, juntos, e
misturados, com gente experiente nesse ramo. Isso permite a entrada
dos novos, sem sustos. Claro que os méritos literários virão com o
tempo, à guisa da crítica literária e do leitor consciente que
saberá separar e guardar os melhores textos. De forma natural, com
certeza muitos destes escritores irão ocupar o seu espaço na literatura
regional e até nacional.
Este ano vem aí uma obra mais vigorosa, com textos bem
elaborados e mais profissionais.

________________
José Luiz de Carvalho – Professor, escritor e jornalista. Presidente da Academia
Parnaibana de Letras.
Piauí em Letras - 3

Sumário
Adrião Neto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Aila Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Aldeni Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Antonio José Sales. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Augusto Barbosa Coura Neto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Cícero Rodrigues dos Santos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
Dilma Ponte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Dina Paraguassú. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Edivaldo Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Euzeni Dantas Nunes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
Eva Graça Brito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
F. Gerson Meneses. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
Glauce Barros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
Inácio Marinheiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
João Passos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
José Paraguassú . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Josely Ribeiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
Lena Lustosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
Lisete Napoleão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
Lucélia Maia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
Maria Christina Moraes Souza. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Milton Borges . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
Mozaniel Almeida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215
Sissi Carvalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225
Solange Veras Roque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233
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Piauí em Letras 3

Neto Saraiva

C O L E TÂ N E A

Teresina - Piauí
2020
Piauí em Letras - 3

Adrião Neto _ Adrião José Neto


é dicionarista biográfico,
historiador, poeta e romancista
com vários livros publicados. É o
autor da ideia da inclusão da data
histórica da Batalha do Jenipapo
(13 de março de 1823) na
Bandeira do Piauí e da proposta
vitoriosa para homenagear, com
estátuas, os vaqueiros e roceiros
no Monumento Nacional do
Jenipapo. Adrião Neto é um dos
Coliseu escritores mais premiados do
Estado. Sua produção literária
tem como principal objetivo o
estudo e a divulgação do Piauí em todos os seus aspectos. Seu nome
é citado em mais de quinhentas obras, inclusive em monografias,
dissertações de mestrado e teses de doutorado. É destaque em vários
livros editados no Brasil e no exterior. Em suas andanças foi visto em
mais de trinta países. Dentre outras honrarias, detém os Títulos de
Cidadão Teresinense, Cidadão Campomaiorense, Cidadão
Florianense, Cidadão Luzilandense e Cidadão Parnaibano; Comenda
da Ordem Estadual do Mérito Renascença do Piauí (medalha e
diploma), outorgada pelo Governo do Estado do Piauí; Comenda do
Mérito Heróis do Jenipapo (medalha e diploma), outorgada pelo poder
público municipal de Campo Maior; Medalha do Mérito Legislativo
Vereador Simplício José da Silva, outorgada pela Câmara Municipal
de Campo Maior; Diploma de Personalidade Cultural do Século,
outorgado pela Academia de Letras da Região de Sete Cidades;
Diploma de Honra ao Mérito de Bravura e Heroísmo Combatentes
da Batalha do Jenipapo, outorgado pela Academia Campomaiorense
de Ciências, Artes e Letras; Instituto do Mérito Cultural A. Tito Filho,
conferido pela Academia de Letras do Vale do Longá; Insígnia do
Mérito Cultural Eurípedes Clementino de Aguiar, concedida pela
Academia de Letras e Belas-Artes de Floriano e Vale do Parnaíba,
bem como os títulos de: Doutor Honoris Causa em Filosofia Universal,
Adrião Neto

Ph I, Filósofo Imortal e Comendador Nacional do Mérito Literário,


outorgados pela Academia de Letras do Brasil (Região Metropolitana de
Campinas), por iniciativa de seu presidente Dr. Camilo Martins _ Ph.I.
Outras homenagens:
Em agosto de 1997, em reconhecimento à sua luta pela divulgação e
valorização da Literatura Piauiense, um evento literário realizado na cidade
de Bom Jesus, sob a coordenação da professora Ieda Maria Santos, foi
denominado de “I Seminário de Literatura Piauiense Escritor Adrião Neto”.
Em 2010, em reconhecimento à sua luta pela inclusão da data histórica
da Batalha do Jenipapo na Bandeira do Piauí, Adrião Neto foi
homenageado pelo Prefeito João Félix com a inscrição de seu nome
numa das placas de metal do Memorial Histórico de Campo Maior,
erguido na Praça Bona Primo.
Em 2015, o escritor Adrião Neto foi alvo de uma homenagem feita pelo
Colégio Potencial, da cidade de Floriano, que, em demonstração de
apreço pela literatura piauiense, batizou uma das salas com seu nome.
Em abril de 2017, por ocasião da inauguração das “estátuas” em
homenagem aos vaqueiros e roceiros no Monumento Nacional do
Jenipapo, ocorreu o descerramento de duas placas de metal _ uma
alusiva à inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira
do Piauí, e a outra referente à inauguração das referidas estátuas. Em
ambas, a Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e Letras
registrou sua gratidão ao escritor Adrião José Neto. Na primeira, por
sua luta para inserir o “13 de março de 1823” no pavilhão estadual;
na segunda, por sua determinação para homenagear os nossos
verdadeiros heróis.
Ponderações:
Adrião Neto é hoje uma referência obrigatória no cenário cultural
do Piauí. Romancista, poeta, antologista e historiógrafo, expressão
de inteligência e saber. Nome consolidado pela crítica de todo país.
É autor de obras fundamentais de nossa literatura. (Lisete Napoleão
Medeiros, professora, escritora e pesquisadora do folclore piauiense,
Teresina/PI, 29-09-2009).
Piauí em Letras - 3

Adrião José Neto bacharelou-se em Administração de Empresas, mas


dedicou o fulgor de sua inteligência à arte literária. Escritor
polivalente, é destaque no cenário das letras piauienses como poeta,
romancista, historiador, dicionarista e antologista. Agitador cultural,
com suas brilhantes ideias. Detentor de inúmeras comendas de
instituições culturais no Brasil e no exterior. Adrião Neto, intelectual
por excelência, possuidor de extensa cultura, é um dos mais expres-
sivos expoentes da literatura piauiense contemporânea. (Domingos
José de Carvalho, médico e escritor, Campo Maior/PI, 13-03-2018).
***
Registro da nossa luta pelo resgate, valorização e
divulgação da História do Piauí (II)
Na matéria publicada na coletânea Piauí em Letras 2, com o
mesmo título acima epigrafado, destaquei minha luta vitoriosa pela
inclusão da data histórica da Batalha do Jenipapo na Bandeira do
Piauí e pela agregação de duas estátuas no Monumento Nacional do
Jenipapo em homenagem aos vaqueiros e roceiros.
Agora trato de algumas sugestões e de outros projetos de cunho
histórico, diretamente relacionados ao mesmo tema, o que sempre
faço apenas pelo cumprimento do meu dever de historiador
compromissado com o resgate, a valorização e a divulgação da
História do Piauí.
No entanto, por conta dessas realizações, fui alvo do
reconhecimento por parte do poder público municipal (executivo e
legislativo) e da Academia Campomaiorense de Ciências, Artes e
Letras _ (ACALE), que, em diferentes ocasiões, me agraciaram com
várias homenagens.
No meu discurso de recebimento da Medalha do Mérito
Legislativo Vereador Simplício José da Silva, pronunciado no dia 08
de agosto de 2019 _ data em que a Câmara Municipal, em sessão
solene, festejava os 257 anos de sua instalação, com a inauguração
da reforma de sua sede e a entrega de honrarias para várias
personalidades _ fíz uma retrospectiva histórica sobre Campo Maior
Adrião Neto

e, ao final, conforme veremos mais adiante, apresentei algumas


sugestões com vistas às comemorações dos 260 anos de instalação
da vila e do Bicentenário da Batalha do Jenipapo,
Na ocasião, lembrei que em outras solenidades, especialmente
nos eventos realizados pela ACALE, tive a oportundade de sugerir
àquela respeitada instituição cultural para que lutasse pelo
reconhecimento e a valorização das personalidades locais, que fizeram
a História de Campo Maior e do Piauí.
Lembrei também de três nomes dignos de todas as honrarias
por parte do poder público municipal.
Pela ordem de importância, mencionei os nomes do Mestre-
de-Campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, do Tenente e Vereador
Simplício José da Silva e do Rábula Lourenço de Araújo Barbosa _
três personalidades dignas do reconhecimento, do respeito e da
admiração dos campomaiorenses.
Em relação ao primeiro, falei que todas as homenagens que
pudessem ser prestadas a ele ainda seriam poucas. Lamentei que até
agora o poder público ainda não se preocupou em fazer justiça
histórica a essa grande figura, que tanto contribuiu para o povoamento
e o desenvolvimento político, religioso, econômico e social de Campo
Maior, do Piauí e do Maranhão.
No entanto, por conta de nossa insistência, a ACALE, tão
bem representada por seu presidente João Alves Filho, contando com
o apoio do empresário João Alberto Alves Rodrigues (Bertinho), fez
uma importante homenagem ao fundador de Bitorocara, mandando
afixar uma placa na frente daquela importante instituição cultural,
em reconhecimento aos relevantes serviços prestados pelo Coronel
Bernardo de Carvalho e Aguiar ao Piauí Colonial e em favor da Igreja
Católica, notadamente em relação à construção da Igreja Matriz de
Santo Antônio do Surubim.
Destaquei que, em relação às outras duas personalidades
mencionadas no meu pronunciamento, houve uma resposta rápida e
eficiente por parte do então e atual Presidente da Câmara Municipal,
Vereador Fernando Miranda, que, em 2018, contando com o nosso
assessoramento, os homenageou com placas afixadas no Monumento
Piauí em Letras - 3

Nacional do Jenipapo, resgatando assim a história de vida e de luta dessas


duas importantes figuras ligadas ao movimento separatista de 1822/1823.
Salientei que, além do mais, por iniciativa própria, em 2019 o
Presidente da Câmara conseguiu aprovar um projeto de lei instituindo
a Medalha do Mérito Legislativo Vereador Simplício José da Silva, com
a finalidade de galardoar personalidades civis, militares ou jurídicas,
nacionais ou estrangeiras, que se tenham tornadas dignas de
reconhecimento do poder público municipal.
Na minha fala, lembrei também que em 13 de março de 2023,
na vigência dos mandatos do próximo prefeito e dos próximos
vereadores, ocorrerá o aniversário de duzentos anos da Batalha do
Jenipapo. Na ocasião enfatizei não se tratar de uma data qualquer e
sim do bicentenário da mais sangrenta de todas as lutas em favor da
nossa independência, tendo sido inclusive o fato marcante que a
consolidou, constituindo-se numa das mais brilhantes páginas da
História do Brasil, escrita com o sangue dos piauienses, maranhenses
e cearenses, e especialmente dos vaqueiros e roceiros da região de
Campo Maior.
Lembrei ainda que, não obstante a grande importância daquele
feito heroico, lamentavelmente a historiografia oficial veiculada nos
compêndios escolares não divulga essa monumental epopeia, de elevado
valor histórico, que, sem dúvida, foi a mais notável de todas as batalhas
travadas em solo nacional em prol da emancipação política do Brasil.
Enfatizei que, no meu entender, não devemos cruzar os braços
e ficar esperando os outros fazerem alguma coisa em favor da nossa
causa, mesmo porque o resgate, a valorização e a divulgação da nossa
história depende primeiramente de cada um de nós, por isso é
importante que façamos a nossa parte.
Ressaltei que, a exemplo de outros abnegados historiadores,
sempre procurei fazer o resgate da memória histórica da nossa
independência e, aproveitando o ensejo, falei que só isso não basta _
é necessário que o poder público, a nível municipal, estadual e federal,
faça também a sua parte.
Disse ainda que em matéria de resgate relacionado com o nosso
feito histórico, o poder público contribuiu apenas com a construção
Adrião Neto

de dois monumentos em Parnaíba e dois outros em Campo Maior,


pois ainda está a nos dever um monumento em Piracuruca, dedicado
ao Combate da Lagoa do Jacaré; um em União, em homenagem às
investidas vitoriosas dos independentistas contra as volantes de Fidié;
e um em Oeiras, a então capital da Província, em homenagem ao 19
de Outubro, ao 24 de Janeiro e ao 13 de Março.
Continuando, falei que, além do mais, o poder público, que
quase sempre é omisso, ainda está a nos dever as estátuas do Coronel
Simplício Dias da Silva, do Tenente Simplício José da Silva, do Rábula
Lourenço de Araújo Barbosa e de outras figuras proeminentes da nossa
independência.
No meu manifesto, em tom de cobrança, apelei para que os
governantes façam um resgate mais completo, reeditando e divulgando
todas as obras abordando o assunto; que incluam o tema no currículo
escolar das escolas de ensino fundamental e médio da rede pública e
privada de ensino do Piauí; que consigam, junto ao Ministério da
Educação e/ou junto às editoras, para que estes fatos sejam veiculados
nos livros didáticos de História do Brasil, adotados em todo o território
nacional; que editem cartilhas com a síntese histórica do nosso
movimento separatista, para que sejam distribuídas durante as
festividades comemorativas da cidade, e que reorganizem o Museu
da Batalha do Jenipapo.
Continuando o apelo, conclamei às autoridades governamentais
para que implementem, o mais rápido possível, o resgate da nossa
memória histórica, fazendo justiça aos feitos heroicos dos nossos
antepassados.
Prosseguindo, lembrei que em 08 de agosto de 2022 ocorrerá o
aniversário de 260 anos de fundação da Vila de Campo Maior, a ser
comemorado no ano anterior ao Bicentenário da Batalha do Jenipapo.
E insistindo na cobrança do resgate da memória histórica de
Campo Maior e do Piauí, falei que para coroar a celebração dessas
duas importantes datas, além da implementação das propostas acima
mencionadas, seria necessário que o poder público viabilizasse as
sugestões abaixo apresentadas:
Piauí em Letras - 3

A instituição de uma medalha comemorativa do bicentenário;


A construção de um obelisco comemorativo no centro da cidade;
A afíxação de placa comemorativa no Monumento Nacional
do Jenipapo;
A melhoria e a revitalização do Monumento Nacional do
Jenipapo e seu entorno, com a implementação de infraestrutura e
equipamentos de turismo;
A implementação de ações para conseguir, junto à Direção Geral
da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, a edição de um selo
comemorativo;
A implementação de ações para conseguir, junto à Casa da
Moeda, a emissão de um moeda comemorativa;
A implementação de ações para produzir um documentário
sobre a Batalha do Jenipapo para que seja veiculado nas escolas do
Estado;
A construção de uma réplica do pelourinho erguido em 1672;
A afíxação de uma placa no frontispício da Igreja Matriz de
Santo Antônio, evidenciando a valiosa contribuição de Bernardo de
Carvalho e Aguiar para a construção daquele templo;
A construção de estátuas no centro da cidade, em homenagem
ao Mestre-de-Campo Bernardo de Carvalho e Aguiar, ao Tenente e
Vereador Simplício José da Silva e ao Rábula Lourenço de Araújo
Barbosa;
A implementação de intercâmbio com as cidades portuguesas
de Campo Maior e Vila Pouca do Aguiar _ terra do Mestre-de-Campo
Bernardo de Carvalho e Aguiar, _ com a finalidade de estabelecer
amizade, trocar informações, visitas e gentilezas, incrementar o
turismo, estabelecer laços culturais e um vínculo permanente entre a
nossa Campo Maior e essas duas cidade lusitanas, abrindo uma janela
de comunicação do Piauí com o primeiro mundo.
Na ocasião, lembrei que havia tempo mais do que suficiente
para concretizar todas essas sugestões, pois, em relação ao aniversário
Adrião Neto

de 260 anos da fundação da vila, havia um prazo de três anos, e em


relação à celebração do Bicentenário da Batalha do Jenipapo existia
um lapso temporal superior a três anos e meio.
Disse que todas essas propostas são de fácil execução e só
dependem exclusivamente do interesse e da boa vontade política dos
agentes públicos de Campo Maior, especialmente do atual prefeito e
do atual Presidente da Câmara Municipal, que deviam começar a
agir de imediato.
Depois dos agradecimentos, por atacado, pelo recebimento
da Medalha do Mérito Legislativo Vereador Simplício José da Silva
e do Título de Cidadão Campomaiorense, outorgados pelo poder
legislativo; pelo recebimento da Medalha do Mérito Heróis do
Jenipapo e da inclusão do meu nome numa das placas de metal no
Memorial Histórico de Campo Maior, efetivados pelo poder executivo,
e ainda pelo recebimento do Diploma de Honra ao Mérito de Bravura
e Heroísmo Combatentes da Batalha do Jenipapo, concedido pela
ACALE, dirigindo-me ao presidente da Câmara, falei:
Senhor presidente, ao finalizar este pronunciamento coloco
nas mãos de Vossa Excelência e do Excelentíssimo Senhor Prefeito
Municipal, professor José de Ribamar Carvalho, a incumbência, a
responsabilidade e a obrigação pela viabilização das sugestões
apresentadas, e ao tempo em que todos nós aqui presentes esperamos
vê-las concretizadas, coloco-me à disposição para continuar lutando
pelo resgate da memória histórica de Campo Maior e do Piauí.
Piauí em Letras - 3

Luta pela viabilização da moeda comemorativa do


Bicentenário da Batalha do Jenipapo
Diante da inércia das autoridades para viabilizar as sugestões
por mim apresentadas com vistas às comemorações dos 260 anos de
instalação da Câmara Municipal de Campo Maior e dos 200 anos da
Batalha do Jenipapo, aliando-me à Academia Campomaiorense de
Ciências, Artes e Letras (ACALE) _ uma parceira leal de todos os
meus projetos _ , resolvemos tomar a iniciativa de lutar pela
viabilização da moeda comemorativa do bicentenário da principal
batalha travada em solo nacional em favor da emancipação política
do Brasil.
Inicialmente, contando com a colaboração do talentoso artista
plástico Neto Saraiva _ autor do desenho materializado em estátuas
em homenagem aos vaqueiros e roceiros _, elaboramos o design da
face principal da MOEDA comemorativa, abaixo estampada,
contendo: no núcleo prateado, transpassando para o anel dourado, a
figura do MONUMENTO NACIONAL DO JENIPAPO, e um pouco
abaixo, em duas linhas, a inscrição: CAMPO MAIOR/PIAUÍ, 13 DE
MARÇO DE 1823; na parte superior do anel dourado a inscrição:
BICENTENÁRIO DA BATALHA DO JENIPAPO, e na parte inferior
as datas: 1823-2023.
Depois, contando com o integral apoio da ACALE, tão bem
representada pelo seu presidente, escritor João Alves Filho, e de outros
amigos, conseguimos o aval de uma importantíssima autoridade do
alto escalão da República, que nos prometeu trabalhar pela
viabilização da nossa proposta.
Por enquanto, por conta da pandemia do novo coronavírus,
que parou o mundo, o assunto encontra-se em stand-by, mas temos a
expectativa de que em breve teremos uma importante audiência em
Brasília para tratar do assunto.
Adrião Neto

Design da Moeda Comemorativa do


Bicentenário da Batalha do Jenipapo
Piauí em Letras - 3

AiIa Maria de Brito Silva _ Escritora


amadora, participou de três coletâneas
anteriores a esta _ COLETÂNEA
CAPPAZ e PIAUÍ EM LETRAS (1 e 2),
tem acervo poético disponível nos sites
do BECO DOS POETAS e RECANTO
DAS LETRAS (neste, compreen-
dendo, 1.562 textos publicados até o
momento, entre: poesias, sonetos,
contos, crônicas, cordéis, acrósticos,
aldravias, poetrix, haikais, acrósticos...
Outros, dentre os quais poemas em diversos estilos, intitulados
“experimentais”, e alguns outros poemas dispersos nas páginas de
colegas recantistas. É também Confreira Efetiva da CAPPAZ
(Confraria Artistas e Poetas pela Paz). Sua poesia, de modo geral,
filia-se ao lirismo, pela musicalidade de seus versos. É natural de
Cocal-PI, filha de Antonio Moraes e Silva e Aureliana de Brito Silva,
oitava, na ordem de filiação, dentre dez irmãos (dois dos quais agora
são estrelinhas do céu). Casada com Nataniel Cardoso Pontes, mãe
de um casal de filhos _ Nathany Beatrice de Brito Silva Pontes e
Antonio Moraes e Silva Neto. Estudou e concluiu o curso primário
no Grupo Escolar José Basson, na então cidade natal. Deixou o
aconchego de seu lar aos 11 anos de idade para dar continuidade aos
estudos, indo morar em Parnaíba-PI, onde cursou até a 8a série no
Ginásio Clóvis Salgado, posteriormente seguindo para a capital
Teresina, onde concluiu o curso de Contabilidade, na Escola Técnica
Federal do Piauí. Em seguida, foi despertada pelo desejo de conhecer
a capital maranhense, São Luís (em visita a familiares), e encantando-
Aila Brito

se pelas belezas do lugar, resolveu permanecer na cidade, mais tarde


ingressando no curso de Medicina Veterinária na Universidade
Estadual do Maranhão _ UEMA, concluindo em janeiro de 1987, curso
este que possibilitou, além das experiências profissionais, algumas
excursões pelo Brasil afora. Alguns anos mais tarde retorna à capital
piauiense para trabalhar na Secretaria de Agricultura do Estado,
permanecendo por lá durante nove anos. Posteriormente retornou a
São Luís, onde ficou radicada por treze anos, e, após esse período,
voltou para a sua terra natal a convite da Prefeitura Municipal de
Cocal, onde permanece até hoje. Passados alguns anos, concluiu pós-
graduação em Gestão e Docência do Ensino Superior pela faculdade
INTA (Instituto Superior de Teologia Aplicada), em Sobral-CE.

Por Nathany Beatrice


Piauí em Letras - 3

Ao nascer do sol

O sol abrindo os seus ternos bordados,


Resplandecendo vida nos vitrais,
Beijando leve, orquídeas nos quintais...
Sobre o muro, gerânios salpicados.

Os seus raios, de vida, fecundados,


Germinando amor em sonhos viçais
Gestando o existir, dão seus sinais
Na flora e fauna, o dom, revigorados,

No fio, um bem-te-vi, agradecido,


Expressa em belo canto, comovido...
_ Visão perfeita assim não há, jamais!

Uma explosão de vida, despertando


Na terra, água e ar... E o sol, raiando,
Desperta o dia, ao som dos madrigais!
Aila Brito

Sob o efeito das estrelas


Ontem eu, solitária, pela rua,
Lembrava embevecida, das estrelas,
Quando tão perto, eu, podia vê-las,
Ao contemplar feliz a face tua.

Porém, hoje sozinha, ao ver a lua _


Em lágrimas _ (tentando por contê-las) _ ,
Fecho meus olhos, procurando tê-las _
Estrelas _ a guiar-me a alma nua.

Despida do esplendor do teu sorriso


Troco as estrelas pela lua _ mas sigo
Auspiciosa, a contemplar-me em riso
Piauí em Letras - 3

A outra fase
Vendo a chuva cair, mansa e tranquila
Recordo-me do tempo de infância...
“Quando a vida sorri, em abundância,
E a pureza do sonho o amor perfila”!

Lembro, depois da chuva, aquela argila,


Trazida na enxurrada, em circunstância,
Ganhando forma e cor, com elegância,
Nos brinquedos (que a mão ágil burila).

Depois seguimos nós por outra estrada...


Mas essas mãos já não podem moldar
Os sonhos e os desejos, como outrora!

Quisera eu me valer daquela “estada”


Quando depois da chuva, e do brincar,
Apenas aguardava a nova aurora!
Aila Brito

Amor platônico
O perfume da tarde banha a noite,
quando passa por mim teu cheiro breve,
e pulsando feliz meu ser se atreve
chamar-te ó meu amor _ anjo pernoite!

Se se pode amar, casto sonho leve,


seja em mim teu abrigo... Que se amoite
nesse meu peito que ama, dia e noite,
nessa olência que em mim teu ser descreve.

... E os meus dias serão só primavera


nessa messe do teu riso faceiro,
como a mais bela flor do mundo inteiro,

Crescendo em florescência, em flor quimera,


cá, nesse peito, que por nada espera,
além do sentir, na tarde, o teu cheiro!
Piauí em Letras - 3

Teus lábios
Os meus lábios os teus lábios imploram...
Cujo doce é bem mais doce que o mel,
Suaves como a nuvem lá do céu...
E tão belos, que os meus olhos exploram!

Teus risos arabescos me enamoram


(Tais poemas em lira menestrel)
No esboço de tua boca, arte em painel,
Com tintura escarlate, que ora afloram

Meus anseios, e os meus sonhos mais belos


(Tão doces como os doces caramelos),
Que estimulam e causam arrepios.

Sob a graça do ensejo e dos lampejos


Me envolvo na corrente dos desejos,
Floridos dos teus beijos e amavios.
Aila Brito

O cacto e o desprezo do vento


(soneto estrambótico)

Um cacto solidário implora ao vento


Trazer em seu alforge a chuva santa,
Por empatia àquela doce planta
Que não suportaria um só momento

Sem saciar sua sede... E em detrimento


A vida lhe extinguia... E, ao que espanta,
O vento bem cruel diz: _ Não adianta,
Ceda você do estoque; e já lamento.

Sua sobrevivência nesse solo


Sombrio, empobrecido e sequioso...
... Se assim continuar ceder seu colo!

E o cacto respondeu, sabiamente:


_ Serias bem mais útil se amoroso.
Ao que ele retrucou: _ És insolente!

Então, chegada a HORA,


A planta diz ao vento (em tom choroso):
_ Perdoo-te! Porém... Sê mais caridoso.
Piauí em Letras - 3

Aldeni Ribeiro de Sousa _


Nasceu na localidade Brejo dos
Dois Irmãos (Pilão Arcado-BA),
em 19 de agosto de 1954, filho
de Domingos Nunes Ribeiro e de
Emília Ribeiro de Sousa. Aos dez
anos de idade seus pais vieram
morar no Piauí, precisamente no
município de Avelino Lopes.
A l f a b e t i z o u - s e
autodidaticamente ainda criança.
Somente em março de 1973 teve
oportunidade de estudar em uma
escola municipal no interior. Em
1975 foi para São Paulo, onde no Colégio Dimensão concluiu, na
modalidade supletivo, o ginásio e o segundo grau. Em 1981 voltou
para Avelino Lopes, onde fez o curso pedagógico Logos II, ministrado
pela Secretaria da Educação do Estado do Piauí. A partir de 1o de
agosto de 1997, tendo em vista o concurso público para professor,
passou a lecionar no Colégio Municipal “Professora Jacy Nunes”,
onde permanece lecionando Português e Literatura. Em maio de 1988
prestou concurso para Escrivão Judicial no Tribunal de Justiça do
Piauí, sendo aprovado e assumindo em outubro do mesmo ano, onde
continuou até novembro de 2017, em virtude de sua aposentadoria. É
autor das seguintes obras: CONFIDÊNCIAS _ poesias românticas e
outras; MEUS SONETOS ENIGMÁTICOS E EXÓTICOS _ só
sonetos; UM MATUTO SEM RÉDIAS NEM CABRESTO FALANDO
TUDO; MANEZIN DA ROÇA; e UMA SITUAÇÃO EMBARAÇOSA.
Omite o casamento para manter um amante.
É o compositor da letra Hino Oficial do município de Avelino
Lopes-PI.
Aldeni Ribeiro

Bela Dama de Preto Amor Platônico


Eu fui a aquele casamento Naquele dia festivo
Não pela solenidade Fiquei meio aborrecido;
Foi pra ver aquela linda
Você estava sedutora,
Que estava eu, com saudade,
Pois já fazia bem dois dias Mas deixou-me constrangido,
Sem vê-la de verdade. Pois sempre que lhe olhava
Via logo o seu marido.
Cheguei bem cedo ao local
Sua presença me alegrava,
Tinha muito pouca gente
Mas fiquei entristecido.
Coloquei-me muito bem,
Mas um tanto descontente,
Só que eu tinha esperança Os seus olhos de ressaca
De que a fizesse presente. Ou com ligeira “murcheza”,
Eternamente um enigma
Mais tarde olhei para traz
Assim um tanto sem jeito Que envolve essa princesa,
Fiquei tenso quando vi Faz-me um homem feliz,
Uma linda dama de preto Embora sinta tristeza,
Daquelas que nem mulher Mas o meu amor platônico
Conseguirá ver um defeito. Satisfaz com a sua beleza.
A linda dama de preto
Estava ali muito perto Talvez eu esteja pecando,
Quanto tempo eu perdi Porém não sinto culpado,
E estando no lugar certo Eu não lhe fiz linda assim,
Com sede próximo ao oásis Nem o mundo complicado,
Porém olhando o deserto.
Que me faz assim tão louco
Teu corpo é muito perfeito Vendo outro do seu lado,
Provocante, belo e sensual Quanto mais tento esquecer
Tuas sobrancelhas tão lindas! Mais me sinto apaixonado.
Ah! Que perfeição divinal!
Desejo muito tê-la, ainda.
Piauí em Letras - 3

Do Buraco da Égua
_
(Notícias da Seca 2013)

Na Lagoa de Parnaguá O doutor falou para o homem:


Veja o que aconteceu Eu também estou preocupado
Um deputado atolou Com esta seca causticante
Porque a lama cedeu Que seca o rio e mata o gado
Desatolaram o homem Talvez aquela água benta
E nada demais aconteceu. Também já tenha secado.

Então um leigo pergunta: Depois atolou uma égua


Dotô, mode que que ele atolou? E o povo muito ligeiro
Se a lama tava seca, Desatolou o animal
Cuma é que ele afundou? Pra não morrer e deixar cheiro
Será que foi mode a seca, Pois a lagoa está secando
_
Que os incanto vortou? Sabemos não é exagero.

Os incanto se acabou Logo na manhã seguinte


Lá pelo zano sessenta A água aumentou uma légua
Quem num viu, num aquerdita. Era o que o povo falava
Mais coisa assim num se inventa É verdade! Ninguém nega
O incanto acabou conde um pade jogou Que toda essa água minou
Uma pução de água benta. Lá do buraco da égua.
Aldeni Ribeiro

Eu por Mim O Pôr-do-sol


Eu não finjo. Sinto. Ela olhava o pôr-do-sol
Faço tudo numa boa Em frente a uma janela
Antes de tudo analiso Dizia-me como é lindo!
Nunca faço nada à toa, Respondia-lhe como é bela!
Embora isso contrarie Falava sempre do sol,
Até Fernando Pessoa. Enquanto eu falava dela.

Sou Operário e Poeta Olhava seu rosto lindo,


Isso até pode ser raro, Que encanto! _ a natureza!
Uns gostam. Outros detestam: Ela admirava o sol
O Poeta e o Operário, E eu, a sua beleza,
A essa gente ignoro, Não se afaste de mim,
Mas entendo tudo. É claro! Pois isso me traz tristeza.

Eu por mim sou tolerante O pôr-do-sol está lindo!


Eu em mim mesmo me amparo Sempre exclamava com gosto,
Sou feliz por ser Poeta Eu respondia sorrindo,
E vivo como Operário, Lindo está o seu rosto!
Com personalidade única Vou admirá-lo tanto,
Em tudo o que declaro. Depois que sol estiver posto.

A hipérbole do poeta Tenho ciúmes do sol,


Nunca foi um fingimento, Pois ela vive a olhar,
É extravasação. É êxtase. Esquecendo-se de mim.
É a força do momento: De pranto vou me molhar,
O corpo, a alma e o coração. Porém sofro em silêncio
Tudo num só pensamento. Pra ela não se orgulhar.
Piauí em Letras - 3

Acabou o Meu Direito?


Um homem bem experiente Eu nem sei até que ponto
Falou-me com propriedade Covarde, fraco e medroso
O melhor que se faz na vida Eu fiquei tenso _ e pronto.
Pra viver bem na sociedade
É se portar bem tranquilo Eu refleti muitas vezes
Com classe e honestidade. Depois de tudo passado
Nem ladrão, nem vagabundo,
Quase um sexagenário Nunca vi aqui maltratado
Eu me via um cidadão, E eu sendo tantas vezes
Dizia o povo do bem: Explicitamente xingado!?
“Homem de bom coração,
Responsável, e bem pra lá Eu já não tinha mais saída
E nunca tem má intenção”. Segundo me foi passado
Pois a sentença já tinha
Eu não sou preconceituoso O seu trânsito em julgado
Nem pessoa introvertida Nem conheci o processo,
Mas houve em dois mil e treze Mas já estava condenado.
Um grande marco em minha vida
Foi quando alguém expôs Eu passei a me interrogar:
Minha imagem distorcida Do que fui denunciado?
De ter afundado o Titanic
Eu era um grande irresponsável. No século e milênio passado?
Sem compromisso nem pudor Ou derrubei as torres gêmeas
Tinha outro timbre minha voz Naquele grande atentado?
O meu cabelo, outra cor
Eu era um zero à esquerda, Sequestrei o doutor Ulisses
Só um mero debochador. Culpando uma tempestade?
Poluí o tietê, matei Sadan,
Fiquei surdo, cego e mudo. Escondi Osama Bin Laden?
Desapontado e meio tonto Ou matei Odete Roitman
Perdi meus dotes da língua Pra ter mais publicidade?
Aldeni Ribeiro

Elencou-me algumas instâncias Agora estou mais tranquilo


Mostrando-me estar sem jeito Mais leve em minha cidade
Mandou-me ao Vaticano Absolvido em um acórdão
Pra recorrer do tal feito Provido à unanimidade
Quer dizer que no Brasil Pois recorri da sentença
Acabou todo o meu direito? E estou em liberdade.

Eu pensei profundamente
Buscar um juízo melhor
Recorrí ao Máximo Supremo
Lá onde o direito é um só
Como fizeram os atores:
O João Grilo e o Chicó!

Um Ótimo Susto
Extraordinariamente, um susto! Num momento tão gostoso
Ainda hoje me lembro Aqueles beijos quentíssimos
Daquela manhã ditosa E aquele rosto sedoso.
Era oito de dezembro
Ela me olhou firmemente Eu não entendia nada
Tocando-me em cada membro. Vou procurá-la não custo
Tinha uma sonoridade
Eu não quis acreditar Aquele timbre acústico
Mas ela me confessou Meu coração disparou
Que sempre me admirava Com aquele ótimo susto.
E tanto tempo se passou
Sem ter uma oportunidade Confesso, estou com saudade.
_ Mas não consigo encontrá-la
Persistiu não se cansou.
Ir à sua casa eu não posso,
Muito linda era sua voz Assim, irei complicá-la
Tinha um som maravilhoso Minha boca está em silêncio
Eu me sentia todo alheio Meu coração não se cala.
Piauí em Letras - 3

O MENINO DA ROÇA APRENDEU A LÍNGUA?


Cansado, suado e sujo. O advérbio é circunstância
Na roça era o meu viver De modo tempo ou lugar
Mas a coragem não mingua Depois vêm as preposições
Vou estudar pra valer Palavras entre si ligar
Quero aprendeu a língua Conjunções ligam orações
E ninguém irá me deter Pra coordenar ou subordinar
Procurarei uma boa escola Sobre a classe interjeição
E buscar na vida vencer. Depois dela eu vou falar.
Quando eu fui pra escola A conjunção é complexa
Já contava, lia e escrevia. Perdi-me com tanta - iva
Muitos conceitos de História Conjunção coordenativa
De ciências e Geografia, Todas terminam em - iva
Os países e as capitais Soma de ideias é aditiva
Do mundo todo eu sabia Para opor é adversativa
Começando das Américas Para escolher é alternativa
E findando na Oceania E mais, conclusiva e explicativa.
Eu já cheguei à escola Tem a subordinativa
Com esta “sabedoria” Vamos ver com atenção
Mas estas regras da língua Que ainda aparecem -iva
Confesso que não sabia Veja-as com moderação
Quando vi me empolguei Comparativa e Conformativa
Fonética e Fonologia Sempre nos traz confusão
Diziam ser complicadas A consecutiva e concessiva
Que quase ninguém aprendia Causam mais complicação.
A professora de língua A conjunção integrante
Disse-me tem muito mais! Que nada tem tão igual
Você vai ver mais adiante É diferente das outras
As classes gramaticais De uma forma especial
Os substantivos e os artigos Causal é bem complicada
Adjetivos e os numerais E a tal da proporcional?
Os pronomes tão complexos. A temporal é circunstância
E as conjugações verbais! Vem aí, condicional, e final.
Aldeni Ribeiro

Professora, aprendi tudo. A professora me chamou,


Pode mandar conjunção Olhe-me e preste atenção
Não acredito que a língua Para eu saber como estás
Tenha mais complicação Vou fazer uma avaliação
Respondeu-me a professora Faça a análise morfológica
Com classe e boa intenção Nesta primeira oração
Estude mais meu menino, Faça bem feito a sintaxe
Quão linda sua empolgação! A coordenação e subordinação.
Para melhorar na língua Fiz a análise morfológica
A minha luta não para Com um pouco de tensão
Pesquisei em toda Gramática O sujeito e o predicado
Não comprei, pois era cara. Não deram preocupação
Celso Cunha e Ernani Terra Foi tranquilo, sossegado!
Já era um tanto rara Tudo de coordenação,
Eu nem podia pensar Mas fiquei um tanto tenso
Em Rocha Lima e Bechara. Com a tal subordinação...

Hino do Município de Avelino Lopes


_
Letra Aldeni Ribeiro de Sousa
_
Música Leci Ferreira Nunes
Surgiu gente de todos os lados Somos hoje uma grande nação
E uma terra vazia encontrou Com a força e o poder varonil
Como aqui existiam riquezas Sob os raios do sol nordestino
Essa gente a terra ocupou. E este céu bem azul do Brasil.
Estribilho Esta terra é rica de fé
Da criança até o ancião
Avelino Lopes é o nome; De trabalho e luta incansável
Desta terra que aqui veio surgir Confiando em quem tem solução.
De um povo honesto e ordeiro
No extremo sul do Piauí. Eia avante povo avelinense!
Vamos todos buscar o progresso
Esta terra de montes e vales Deus tem planos pra nosso futuro
Desta gente tão hospitaleira Confiando alcançaremos o
Deste solo que nos dá o pão sucesso.
E enriquece a nação brasileira.
Lei municipal no 277/2000
Piauí em Letras - 3

Antonio José S. Sales _ Professor,


escritor, poeta, romancista,
contista, amante das letras.
Casado, 30 anos, licenciado em
Letras Espanhol (Uespi, 2015),
especialista em Literatura e
Outras Linguagens (Uespi, 2018),
atualmente cursando segunda
licenciatura em Letras Inglês
(UFPI). Atua como professor
efetivo da rede estadual de ensino
do Piauí. Escreve desde a
adolescência, quando encontrou
no mundo das letras uma fuga aos
tormentos do mundo real. Já participou de quatro antologias: Prêmio
Poetize (2014), Piauí em Letras (2018), Piauí em Letras 2 (2019) e
Contos entre gerações (2019). Possui diversos textos publicados no
site Recanto das Letras e artigos em eventos acadêmicos.
Antonio José Sales

A menina de vestido azul


Chovia muito forte. A ventania parecia querer arrancar o telhado
do prédio da universidade. Clarões nas janelas denunciavam que lá
fora dezenas de raios caíam incessantemente. Queria muito poder ir
embora, porém o horário da minha aula ainda não havia chegado ao
fim. Pensava na minha esposa que havia ficado em casa sozinha.
Um clarão muito forte iluminou a janela. Em seguida, ouviu-se
um estrondo ensurdecedor. Logo tudo ficou escuro. Um raio atingiu a
rede elétrica provocando blackout em todas as instalações do campus
universitário. As atividades foram encerradas antes do horário previsto.
Senti um alívio em poder ir para casa mais cedo, ficar perto da minha
família.
Enquanto me dirigia ao estacionamento, fiquei a imaginar se
em minha casa também estaria chovendo tão forte assim. Talvez sim,
talvez não. 70 km de distância, talvez o tempo estivesse melhor por
lá. Pensei em ligar ou mandar mensagem de WhatsApp para saber a
situação, mas meu smartphone já não tinha carga. Bateria a 1%. Tive
que desligar.
Era final de tarde, o céu já estava ficando escuro com tantas nuvens
espessas e chuva intensa. Chegando na área externa, tive que correr até
o carro para não me molhar tanto. Não dava para esperar a chuva passar.
Aquela chuva parecia não ter fim e seria perda de tempo esperar que
passasse, tendo que percorrer ainda 70 km até chegar em casa.
A pressa em voltar para casa se justificava devido ao fato de que
naquela noite seria o aniversário do meu sobrinho e eu precisava chegar
a tempo. O presente dele já estava reservado. De manhã, eu havia
comprado um carrinho de brinquedo. O presente já estava garantido.
Destravei o carro e entrei de supetão, atirando os livros e o
notebook no banco do passageiro, ao lado do banco do motorista.
Naquele momento tudo que eu esperava era que a capa protetora do
meu note realmente o tivesse protegido dos pingos d’água. Tantos
arquivos importantes naquele dispositivo e nem todos tinham backup.
Piauí em Letras - 3

A rota parecia já estar programada na minha mente. Saindo de


Parnaíba seguiria pela BR 402 até o entroncamento com a PI 301,
onde percorreria mais 25 quilômetros até chegar em casa. Parecia até
piloto automático: a mesma rota de sempre. Conhecia cada palmo
daquele asfalto e os detalhes de cada curva, mas naquele dia o cuidado
na estrada deveria ser redobrado. As ruas e avenidas da cidade estavam
alagadas. A chuva torrencial já havia passado, mas ainda serenava
em alguns trechos. Parei em um posto de combustíveis e abasteci o
veículo.
Como planejado, segui pela Avenida Pinheiro Machado e depois
pela BR 402. Estava cansado e queria logo chegar em casa, mas sem
exceder na velocidade, pois a pista estava molhada. A temperatura estava
muito baixa e a umidade do ar elevada. O para-brisas começou a embaçar.
Tentava ajustar o ar quando um susto quase me fazia perder o controle.
_ Me leva pra casa _ falou uma garotinha sentada no banco
traseiro.
Aquela voz angelical me deixou atordoado e com medo ao
mesmo tempo. Pensei rapidamente: como aquela menina havia
entrado no carro? O que estava fazendo ali? Tentei respondê-la, porém
minha voz insistia em não sair. Refiz meus pensamentos, esfreguei
os olhos e novamente tentei falar enquanto olhava pelo retrovisor
interno sem querer acreditar que aquela visão fosse real.
_ Como... como você veio parar aqui? Como você entrou no
carro? Quem são seus pais?
_ Eu não tenho pai. Você será meu pai.
_ Como assim? Seus pais devem estar preocupados com você.
Eles precisam saber onde você está. Me fala o nome deles e nós iremos
procurá-los.
_ Meu pai morreu. Você será meu pai. _ Repetiu a menina.
_ Já que você está me dizendo que não tem pai, me diga o
nome da sua mãe.
Antonio José Sales

_ Ela também morreu. Você será minha mãe.


Tentei sorrir, mas ela me retrucou.
_ Não sorri da minha situação. Meus pais morreram. Preciso
de você.
Baixei a cabeça tentando entender o que estava acontecendo. Eu
precisava encontrar os responsáveis por aquela garotinha e seguir
viagem até minha casa, onde minha família me esperava para o
aniversário do meu sobrinho. Mas voltar até a cidade iria atrasar minha
viagem. Fiquei sem saber o que fazer e sem entender o que ali se passava.
_ Papai, estou com muito frio. Desliga o ar, por favor!
Prontamente atendi ao seu pedido e desliguei o ar. Tentei
convencê-la a dizer quem eram seus pais ou responsáveis.
_ Me diga o seu nome. De onde você veio? Como veio parar
aqui dentro do carro? Como conseguiu entrar? Você não pode andar
por aí sozinha. É perigoso!
_ Meus pais morreram. Me leva pra casa. Você será meu pai.
Fiquei entalado, com um nó na garganta... Justamente eu, que
não pensava em ter filhos tão cedo, agora me aparece uma garota
querendo me adotar como pai.
_ Olha, eu não posso lhe levar para casa. Não posso me
responsabilizar por você.
_ Me leva pra casa, papai, por favor!
A menina insistia em me chamar de pai e suplicava que a levasse
para casa. Pensei em voltar para a cidade e deixá-la em uma delegacia
ou mesmo no Conselho Tutelar, mas ao mesmo tempo não sabia o
que fazer. Estava indeciso e sem entender como ela havia entrado ali
dentro do carro. Teria eu deixado o veículo destravado? Talvez ela entrou
no carro enquanto eu abastecia no posto de combustíveis, distraído
enquanto pagava a conta, não percebi que ela havia entrado. Teria
acontecido isso? E se me acusassem de sequestro? Como eu iria
Piauí em Letras - 3

argumentar que aquela menina simplesmente havia aparecido do nada


dentro do meu carro? Iriam as autoridades acreditar na minha versão?
_ Pra onde você está me levando?
_ Estou lhe levando pra casa. Depois iremos procurar seus pais.
_ Não. Você agora é meu pai. _ retrucou a menina com um
sorriso meigo no rosto.
Uma lágrima desceu em meu rosto. Fiquei emocionado pela
forma como aquela menina me chamava de pai. E eu a imaginar que
não pensava em ter filhos naquele momento. Eu, um jovem professor
universitário, recém-casado, só pensava em ter filhos depois de alguns
anos de casado e de ter a vida financeira estabilizada.
_ Não fique com medo. Vou lhe levar pra casa e amanhã
procuraremos seus pais.
Pedi para que ela não ficasse nervosa, mas na verdade eu era
quem estava com medo do que estava acontecendo. Eu não entendia
como ela havia entrado no carro, e tentava imaginar o que eu iria
fazer para localizar a família dela posteriormente. Seguimos pela BR
402. A menina pegou o carrinho de brinquedo que eu havia comprado
para dar de presente ao meu sobrinho pelo seu aniversário.
_ Você deixa eu brincar com esse carrinho?
_ Sim, pode brincar. Pode tirá-lo da embalagem, não tem
problema.
Começava a anoitecer. Segui dirigindo e imaginando o que eu
iria falar quando chegasse em casa com aquela garotinha. Como
explicar tudo isso que se passava? O que as pessoas iriam pensar? O
que minha esposa iria pensar ao me ver chegando em casa com uma
garotinha me chamando de pai?
A chuva já havia passado, mas ainda serenava fraquinho. A
pista ainda estava molhada devido à intensa chuva que havia caído
há poucos minutos. Em uma curva acentuada, o carro parecia querer
Antonio José Sales

derrapar. Devia ser a força G atuando. Diminuí a velocidade, e mesmo


assim ainda balançou um pouco. A garotinha se desequilibrou, deixou
o carrinho de brinquedo cair do banco.
_ Papai, o carro capotou bem aqui. Acende a luz, estou no
escuro. Me ajuda, por favor! _ falou a menina com uma voz aflita.
_ Pronto. Acendi a luz.
_ Deixe a luz acesa, papai. Estou com medo do escuro.
_ Tudo bem. Deixarei a luz acesa para você.
A menina retornou à posição em que estava, bem no meio do
banco traseiro, numa posição em que eu pudesse vê-la pelo retrovisor
interno. Ela continuava a brincar com o carrinho.
Ao chegar em casa, percebi que o aniversário do meu sobrinho
já havia iniciado. Muitas pessoas já estavam na casa do meu irmão.
Várias crianças brincavam correndo pelo terreiro. Desliguei o carro,
desci e fui abrir a porta para pegar a garotinha. Mas a garota era
muito esperta, antes que eu abrisse a porta traseira do carro ela já
havia saído pela porta do outro lado. Ela correu na direção das crianças
que brincavam no terreiro.
_ Pai, eu quero brincar.
_ Tudo bem, pode ir.
_ Com quem você está falando? _ perguntou minha esposa ao
se aproximar de mim.
_ É uma criança, uma menina, aquela menina ali de vestido
_
azul. falei apontando na direção da garotinha.
_ Não tem nenhuma menina de vestido azul ali _ retrucou minha
esposa com cara de espanto.
_ Você não está vendo? É aquela ali que está brincando com
Sophia e Yara.
_ Nossa! Você deve estar delirando. Só tem as duas meninas.
Não tem outra criança. Você deve estar vendo visagens. Isso sim._
Ela está ali. Eu a trouxe de Parnaíba até aqui. Ela entrou no carro,
não sei como, e pediu que eu a trouxesse pra casa. Perguntei quem
Piauí em Letras - 3

eram seus pais, ela disse que não tinha pai e nem mãe. Começou a
me chamar de pai. Pensei em voltar à cidade para procurar os pais
dela, mas já era tarde. Então, eu a trouxe pra casa e amanhã irei
procurar a família dela
_ Você está doente, só pode. Não tem nenhuma outra menina
ali. Não tem nenhuma menina de vestido azul. Só você que está vendo.
Deve ser visagem.
_ Está ali. Estou vendo ela. Ela está acenando pra mim. Olhe!
_ Vamos pra casa, você não está bem, precisa descansar, tomar
um remédio _ Falou minha esposa, temendo que eu estivesse
delirando.
_ Cadê a menina? A garotinha sumiu. Cadê ela?
_ Não tem outra menina ali _ retrucou minha esposa.
Fiquei desesperado. Em um piscar de olhos a garotinha sumiu
da minha vista. Ela acenou com a mão e sumiu. Como assim? Aquela
menina veio comigo da cidade até aqui e agora some da minha vista.
Não podia ser, algo estava errado.
Corri até minha casa, que ficava ali perto. Liguei o meu
notebook, coloquei o smartphone para carregar a bateria. Precisava
urgentemente acessar a Internet para ter alguma informação do que
estava acontecendo. Pesquisei se alguma família procurava por alguma
criança desaparecida. Nada, não encontrei nada. Voltei para a casa
do meu irmão, onde o aniversário ocorria, e tentei encontrar a menina.
Todo mundo falava que não tinha nenhuma menina de vestido azul
ali. Eu falava as características da menina e ninguém a tinha visto.
Enquanto eu falava, as pessoas pareciam achar que eu estava ficando
louco, paranoico. As pessoas riam de mim enquanto eu falava que
havia trazido uma menina dentro do carro.
Retornei para minha casa novamente. Uma violenta dor de cabeça
agora me atormentava. Tomei um medicamento para combater aquele
desconforto. Um sono profundo parecia querer me derrubar. Adormeci.
Antonio José Sales

A febre alta fazia meu corpo tremer. Não sabia se estava acordado
ou se dormia, se delirava ou se sonhava, mas a garotinha apareceu
novamente para mim.
_ Papai, o carro capotou bem aqui. Acende a luz, estou no
escuro. Me ajuda, por favor!
Despertei de repente, dei um salto da cama. Recordei o
momento em que eu vinha dirigindo naquela curva, no km 54 da BR
402. Quando fiz a curva bruscamente e a menina se desequilibrou,
deixou o carrinho de brinquedo cair e assim falou:
_ Papai, o carro capotou bem aqui. Acende a luz, estou no
escuro. Me ajuda, por favor!
Agora a mesma voz em sonho. A ficha caiu.
Já era quase meia-noite. Peguei meu carro e dirigi de volta até o
local daquela curva traiçoeira na BR 402, km 54. Parei o carro no
acostamento. O meio-fio do acostamento estava danificado. Vi marcas
de vegetação retorcida. Com o auxílio da luz do carro e da lanterna do
celular, desci o aterro, caminhando pela lateral da pista, dentro do mato,
onde os destroços indicavam que um acidente havia acontecido ali.
De repente, ouvi a voz de uma criança chorando.
_ Papai, acende a luz, estou no escuro, estou com frio. Me ajuda,

papai!
Era ela, a menina de vestido azul, toda ensanguentada em meio
às ferragens retorcidas do carro em que viajava com sua família.
Naquele fim de tarde chuvoso, já início de noite. Uma família
viajava pela BR 402, sentido Piauí-Ceará. A pista estava escorregadia
devido à intensa chuva, e o veículo em que estavam perdeu o controle
na curva. Mesmo bastante debilitada e presa às ferragens, felizmente a
garotinha ainda estava com vida. A única sobrevivente daquele trágico
acidente.
Piauí em Letras - 3

Augusto Barbosa Coura Neto _


Nasceu em Ponte Nova, Minas
Gerais. Casado com Mariza
Matilde Martellet Coura. A
infância serena e a juventude
rebelde tiveram como proscênio
as cidades de Teixeiras/MG e
Ubá/MG, urbes encantadas dos
seus primeiros sonhos e ilusões.
Graduou-se em Engenharia
Florestal pela UFSM/RS e pós-
graduou em nível de Especia-
lização pela UFSC/SC. Reside
em Florianópolis-SC. Trabalhou
no Projeto RADAMBRASIL,
órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia, de abril de 1977
até 1986. De 1986 até sua aposentadoria, em fevereiro de 2013,
trabalhou em pesquisas no IBGE. Membro efetivo da Academia São
José de Letras/SC, onde ocupa a Cadeira 26, tendo como Patronesse
Antonieta de Barros. Por muitos anos foi Academicus Praeclarus do
Clube de Escritores de Piracicaba/SP, do qual em 27 de novembro de
2009 recebeu o título da Lira Vintenária e o Troféu Vinte Anos do
Clube de Escritores de Piracicaba. Foi agraciado ainda pelo Clube de
Escritores de Piracicaba em 27 de julho de 2012, recebendo o Título
de Mérito Francisco Lagreca. Membro efetivo e cofundador da
Academia Desterrense de Literatura (Florianópolis/SC), onde ocupa a
Cadeira 10, tendo como Patrono Amaro Ribeiro Netto. Em 06 de
setembro de 2009, com outros escritores, fundou a Academia
Alcantarense de Letras, na cidade de São Pedro de Alcântara/SC,
ocupando a Cadeira 03 e tendo por Patrono Pe. Raulino Deschamps.
Foi eleito Presidente da Academia Alcantarense de Letras para o triênio
2014-2017 e reeleito para o triênio 2017-2020. Membro do Interna-
tional Writers and Artist Association (IWA), Ohio/USA, e Academicus
Praeclarus do Clube dos Escritores de Piracicaba/SP. Membro
Correspondente da Academia Pirenopolina de Letras, Artes e Música/
GO. Membro Correspondente da Academia Taubateana de Letras/SP.
Augusto Barbosa Coura Neto

Membro Correspondente da Academia Formiguense de Letras/MG.


Membro Correspondente da Academia de Letras de Balneário de
Camboriú/SC. Membro Correspondente da Academia Lavrense de
Letras/MG. Membro Correspondente da Academia Ubaense de Letras/
MG. Membro Correspondente da Academia de Artes, Ciências e Letras
Castro Alves/RS. Sócio Correspondente da Academia de Letras, Ciências
e Artes de Ponte Nova/MG. Sócio Correspondente do Centro de Letras
de Paranaguá “Leôncio Correia”. Membro efetivo do Instituto Histórico
e geográfico de Santa Catarina, pela Sociedade Nacional de Mérito
Cívico, Brasília/DF. Foi homenageado com a Comenda Colar Grã-Cruz
Mérito da Engenharia (2001). Em 23 de abril de 2002, recebeu da Câmara
Municipal de São José/SC a Comenda Mérito Cultural Josefense e em
28 de maio de 2003, pela extinta Academia Desterrense de Letras, foi
homenageado com o Troféu Cruz e Sousa. Em 30 de abril de 2014,
agraciado com a Medalha “Gente que faz” em Governador Celso Ramos,
pela Academia de Letras do Brasil/SC. Em 16 de abril de 2015, a
Comunidade de São Pedro de Alcântara, através da Câmara de
Vereadores e da Prefeitura Municipal, recebeu o título de Cidadão
Honorário Alcantarense, da cidade de São Pedro de Alcântara/SC. Em
30 de setembro de 2015 recebeu o “Diploma de Amigo”, da Academia
de Letras dos Militares do Estado de Santa Catarina. Homenageado em
29 de abril com o diploma de participação na solenidade de inauguração
das estátuas do Vaqueiro e do Roceiro no Monumento aos Heróis do
Jenipapo em Campo Maior/PI. Participou do livro Homenagem aos
Vaqueiros e Roceiros _ O Reconhecimento que Faltava (2017),
organizado por Adrião Neto. Em 9 de março de 2019 foi um dos padrinhos
do evento “MULHER DESTAQUE”, em Palmas, Governador Celso
Ramos/SC, organizado pelo Professor Miguel João Simão, Presidente
da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina. Tem participações
em diversas Antologias e Coletâneas Literárias.
É verbete da Enciclopédia Literatura Brasileira Contemporânea,
volume VIII, RJ (1977); do Dicionário Biobibliográfico de Escritores
Brasileiros Contemporâneos, de Adrião Neto Teresina, PI (1998); da
Enciclopédia Literária Escritores do Ano 2000, Casca/RS (1999); e do
Dicionário Biobibliográfico de Escritores Mineiros, Belo Horizonte/
MG (2010). Autor dos livros: Alvorecer de um Sonho e Sonho Realizado.
Piauí em Letras - 3

Piauí

Queria ser uma juriti


E voar de novo para o Piauí
E nas tardes de um lindo abril
Sentar à sombra perto do Poti

Deliciar-me com o bacuri


Feito em sorvete lá em Teresina
Que Deus me ouça e me dê a graça
De ser breve esta minha sina

Passear no mirante da Ponte Estaiada


Para abeberar toda paisagem
Do cenário lindo me sentir no céu
Agradecendo a Deus por este troféu

Voltar à terra das carnaúbas


E em sua ramagem poder cantar
Serei tão feliz como a jandaia
E em piauiense vou me transformar
Augusto Barbosa Coura Neto

Rio São Francisco


Um grande sonho que realizei na vida foi uma viagem que fiz
para Pirapora/MG. Era uma esperança que tomou realidade quando
menos eu esperava.
É certo que todos seres humanos de uma maneira ou outra têm
um sonho na vida. O meu era estar frente a frente com o caudaloso e
belo rio São Francisco. Vê-lo no encontro com o rio Das Velhas, na
Barra do Guaicuí, no município de Várzea de Palma/MG.
Quando eu estudava no ginásio, na cidade de Teixeiras, Minas
Gerais, pelo livro de Geografia navegava em pensamento por esses rios.
O mais interessante é que, sendo mineiro, só fui estar perto
desses rios, por ironia do destino e para meu deleite, quando já
residindo em Florianópolis/SC, em junho de 2017.
Estava com minha esposa em Minas Gerais quando de repente
resolvi visitar meu amigo Fabiani Lopes Dias. Queria estar com meu
amigo dos bons tempos em que estudávamos na Universidade Federal
de Viçosa/MG e que estava residindo há alguns anos em Pirapora.
Estando na rodoviária de Belo Horizonte, pensei: é perto, vou
lá fazer uma surpresa ao prezado amigo.
Comprei a passagem no guichê da empresa Gontijo, pensando:
daqui a duas horas estarei lá.
Qual nada. Dentro do ônibus o cobrador me disse, após
perguntar a ele quanto tempo demorava para chegar lá: nove horas
mais ou menos, pois não era direto.
Já estava a caminho e o jeito era ver as paisagens e esquecer
do tempo.
A sensação de rever meu antigo amigo dos bons tempos da
UFV e estar aos pés do rio São Francisco me fascinava e o tempo
passou mais rápido.
Piauí em Letras - 3

Lembro-me que chegando lá fui para o Hotel Mundial, era uma


linda tarde de domingo Apesar de ser em junho, não estava frio.
À noite, do hotel liguei para meu amigo. Comuniquei com ele
por telefone e lhe disse que estava hospedado no Hotel Mundial,
situado na rua Tiradentes, centro de Pirapora.
De manhã mesmo ele apareceu no hotel e me levou para sua
residência.
Grande amigo, ele e esposa nos acolheram e nos hospedaram
com carinho em sua suntuosa e aconchegante residência.
Após um delicioso almoço, eles nos levaram para um tour pela
cidade. Estivemos perto do Vapor Benjamim Guimarães, último barco
a vapor do mundo. Estava desativado e infelizmente não foi possível
fazer um passeio nele pelas águas do rio São Francisco, mas creio
que iria ser reformado.
No passeio ainda fomos até a Ponte de Ferro (Ponte Marechal
Hermes), que interliga as cidades de Pirapora e Butiazeiro.
Graças ao casal amigo fomos ver de perto o rio São Francisco:
Velho Chico para a mineirada.
Foi gratificante o passeio para Barra do Guaicuí, distrito da
cidade de Várzea da Palma/MG. Pudemos admirar o encontro das
águas do rio das Velhas com as águas do Velho Chico. Uma paisagem
magnífica, difícil de ser esquecida.
Por momentos em pensamento, diante dos rios, me senti diante
do Atlas de Geografia do meu antigo Ginásio Vera Cruz em Teixeiras/
MG.
Ainda em Barra do Guaicuí pudemos ver e admirar as ruínas
de uma linda igreja de pedra.
Deslumbrante observar a gameleira que aparece trançada desde
a raiz, num abraço carinhoso à velha igreja.
Augusto Barbosa Coura Neto

À noitinha, eu e minha esposa fomos com o casal anfitrião ao


Restaurante Kaka’s, com bela vista panorâmica para o rio São
Francisco, onde saboreamos um saboroso surubim no espeto com
uma boa gelada.
Extasiados, podíamos no local apetecer saboroso jantar e olhar
o rio São Francisco, que, em silêncio, parecia murmurar um
agradecimento à nossa presença. Rio caudaloso, amado e cantado
pelos poetas e escritores e que eu só conhecia em livros.
Este sonho que eu nem esperava foi uma das maravilhas que
aconteceu em minha vida e que guardo com carinho em minha
memória.
Sonho que se tornou realidade graças à visita inesperada que
fui fazer ao meu amigo Fabiani, morador em Pirapora, cidade
apelidada como Porto de Minas e Capital Morena do São Francisco.
Como tudo é passageiro, tive que retornar para Florianópolis,
na esperança de um dia poder voltar a Pirapora, rever meu querido
amigo e fitar novamente o caudaloso e belo rio São Francisco.
Piauí em Letras - 3

Sonhos

Borboletas amarelas voejam


Em meus sonhos quase sempre
Será o prenúncio de um amor?
Ou chegada de lágrimas e de dor?

Não sou dado a pensar crendices


Os sonhos acho apenas tolices
Se coloridos me levam a paixão
Os sem cores me tiram a razão

Se em insônia sonho acordado


Se dormito os sonhos me abraçam
Creio precisar me benzer
Para o sonhar não acontecer
Augusto Barbosa Coura Neto

Lua Minguante
Noite de lua minguante,
Que cobre na terra os amantes
E também os solitários.
És canção aos namorados,
E paixão aos olvidados
Que buscam o teu luar.
Lua: o teu colar é estrela
Brilhando no firmamento,
Clareia, pois, de saudades
Com toda força e vontade
Todos nossos sentimentos.

Sol e Prazer
Sol brilhe de mansinho
sobre nosso amor
Pois no meu ninho
quero só calor
em teus raios dourados
quero me aquecer
como a relva verde
no alvorecer
e à tardinha
no entardecer
deixa o meu corpo
cheio de prazer.
Piauí em Letras - 3

Cícero Rodrigues dos Santos _ Possui


Mestrado em Ciência Política pela
Universidade Feral do Piauí _ UFPI
(2018); Especialização em Educação
Profissional Integrada à Educação
Básica na Modalidade de Jovens e
Adultos pelo Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do
Piauí _ IFPI (2015); Licenciatura
Plena em Letras/Inglês pela
Universidade Estadual do Piauí
(2008); Licenciatura Plena em
Filosofia pelo Centro de Ensino Su-
perior Sagrado Coração de Jesus (seminário católico) e pela
Universidade Federal do Piauí (2002). Atuou como Coordenador
Pedagógico e professor de Língua Inglesa, Filosofia e Sociologia na
rede particular de Ensino e como professor de Psicologia da Educação
na Universidade Estadual do Piauí _ UESPI; como professor de
Filosofia, Sociologia, Psicologia, Antropologia, Ética e Latim do
Instituto de Educação Superior do Brasil (IESB) e professor de
Filosofia, Metodologia Científica, Latim, Psicologia da Educação,
Sociologia Geral e Língua Inglesa da Universidade Estadual do
Maranhão, no Programa Darcy Ribeiro, e professor substituto de
Filosofia, Sociologia e Psicologia da Educação, no Campus Coelho
Neto da Universidade Estadual do Maranhão _ UEMA. Atuou também
como professor efetivo de Filosofia do Governo do Estado do Piauí
por dez anos. Foi professor substituto de Filosofia e Ética Profissional
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí _
IFPI, no Campus Teresina Central. É professor efetivo desde 2015
desse mesmo instituto, tendo exercido o cargo de Coordenador de
Área das Ciências Humanas e Letras, no período de maio a dezembro
de 2016 no Campus Corrente. Atualmente, está lotado no Campus do
IFPI, situado na cidade de Picos-PI. É coautor do livro Educação,
Cultura, Natureza e Memória _ Escritos Científicos do Extremo Sul
Cícero Rodrigues dos Santos

do Piauí, em que colaborou com o “Capítulo 2 _ Reflexões Sobre


Alguns Fundamentos Filosóficos da Educação: do Conceito às
Tendências Pedagógicas”. É autor dos artigos “Democracia
Associativa: o Papel das Associações de Moradores do Itararé (THE-
PI) na Construção e Execução do Orçamento Popular”; e “Suarez-
Villa, Luís. Corporate Power: Oligopolies andthe Crisis of The State”.
Ambos publicados em Conexão Política _ Revista do Programa de
Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí
_
UFPI. Apresenta o Programa Papo Federal na Rádio Cultura FM de
Picos todas as quartas-feiras, das 16:00h às 17:00h. Escreve poesias
em sua página na Internet no site Recanto das Letras.

Reeducação
Inventar
Reinventar
Fazer
Transformar
Compor a música
Recompor a canção
Resgatar o amor
A compreensão
O respeito
E o sujeito
O carinho
Sem preconceito
De outra forma
Não se faz, não
Reinventa-se vidas
Pela educação.
Piauí em Letras - 3

De Homo

Não é fácil de entender


E nem simples de dizer
É paradoxo constatar
É intrigante confessar

Razão de paz, de guerra, de dor


Por ele o ódio, o carinho, o amor
Por ele o afago e o desprezo
Nele a rejeição e o aconchego

Desde sempre se posicionou


Entre os contrários e o esplendor
Enquanto existir continuará
A destruir, construir, transformar
E, mesmo depois de se extinguir,
Acredita ainda poder persistir
Pois crê no que há além
Realidade imaginária de todo o bem

De quem falo, podes pensar


Do pó veio ao pó voltará
Em espírito, porém, se externa
Pela esperança de uma vida eterna.
Cícero Rodrigues dos Santos

É Necessário Saber
É necessário saber...
De quantos elementos se faz uma célula
De quantos músculos se faz um riso
De quantas células se faz um tecido

É necessário saber...
De quantos tecidos se faz um órgão
Quanto sentido há num aperto de mão
De quantos órgãos se faz um sistema
Quantos abraços dizem: “Não tema!!!”

É necessário saber...
De quanta luta se faz um nascimento
De quanta vitória e derrota é o crescimento
De quantas pessoas se faz um indivíduo
Quanto valor há no “ser vivido”

É necessário saber...
De quanto “humus” se faz um homem
Quanta natureza os seres consomem
De quanto sentimento se faz o mundano
De quanta fé se faz o divino
De quanta ilusão se faz o profano

É necessário saber...
Como se forma um SER HUMANO
Piauí em Letras - 3

Palavra Plural
Uma palavra para falar Se digo Eu
Uma palavra para calar Eu digo muito
Uma palavra para exaltar Se dizes Nós
Uma palavra pra rebaixar Tu me incluis?!

Uma palavra para vencer Se falas eu


Uma palavra para perder Quem és Tu?
Uma palavra para viver Se falais Nós
Uma palavra para morrer Quem sois Vós?

Uma palavra para insistir Se falo Ele


Uma palavra para desistir Quem sou Eu?!
Uma palavra para sentir Se falas Eles,
Uma palavra para fingir Quem somos Nós?

Uma palavra para compor E, deste jeito, Tu vais falando


Uma palavra pra decompor Assim, Eu vou pronunciado
Uma palavra para o amor Entendendo que não sou só
Compreendes que não és único
Uma palavra pra o desamor
Pois quando só, sou multidão
Uma palavra para encarnar
E, quando único, és amplidão
Uma palavra pra Pois único não vou ficar
desencarnar
Uma palavra para estar E sozinho não vais estar
E uma palavra para eternizar Eu sou e Tu és plural
Uma palavra para... Apesar de singular.
Uma palavra.
Palavra.
Cícero Rodrigues dos Santos

Filósofo Meu Orgulho


Ainda hoje me lembro
Às vezes me sinto
Neste recinto Que no meu tempo de criança
Brincando na vizinhança
Como um menino
Alguém de longe gritou
Pequeno, cansado
Em um canto excluído E num instante relevante
Com o coração partido O mundo quase parou
Esquecido e renegado Quando alguém então nos disse
Mas como um resistente Todos baixem a cerviz
Contra toda esta gente Porque lá vem um
Incansável, insistente, PROFESSOR
Solto meu brado
Reflito neste aprisco Este digno profissional
Sobre quem vive no risco Por todos era respeitado
E sobre quem tá errado Se ficava ao nosso lado
Se eu que olho o todo Quase batíamos continência
Ou o tolo que com olho fosco Admirávamos sua inteligência
Observa apenas um lado E por ele tínhamos amor
Mas vendo que não me agrado
E desde aquele tempo
Do concluso, do achado
O espírito do conhecimento
Relembro: Isto é Filosofia
Parece que me arrebatou
E, por um instante, saio da fria
E um desejo muito intenso
E me sinto quase consolado
Para depois me repor Em mim internalizou
E meus pensamentos compor Que na minha vida futura
Ainda mais preocupado. Fosse ela fácil ou muito dura
Eu queria ser PROFESSOR
Piauí em Letras - 3

No meu itinerário educativo De violência a baixos salários


Enfrentei dificuldades Enfrentamos o combate
Saí do campo pra cidade E nada disso nos abate
Para com afinco estudar A pé, a carro ou a cavalo
A escola pública me formou No campo ou na cidade
E, hoje, mesmo como está O ensino deve ser levado
Agradeço o que ela me tornou Seja o lugar que for
Porque de tudo desta vida E contra toda adversidade
A minha frase preferida Uma pergunta sempre me intrigou
Em cenários e tempos de atrocidades
É dizer: “Sou PROFESSOR!”
O que motiva um PROFESSOR?

De lá pra cá percebi
O que motiva um professor
Que muita coisa já mudou
São elementos abstratos
O respeito que vivi Não é fama e alto status
Pela figura do professor É mais uma coisa de missão
Parece que diminuiu Pois trabalha com o coração
Ou, até mesmo já sumiu Menos ambição e mais amor
Isto a minha alma lamenta Uma vez que atua com ardor
Com uma profunda dor Para transformar realidades
E ainda tem gente que pensa Pois é muito gratificante
Que ele não tem nenhum valor Alguém que era pequeno
Mas coitado é nosso país E agora é grande
Que em sua burrice é infeliz Reconhecer de verdade
Por não valorizar o PROFESSOR Que o conhecimento o transformou
Muitos são os obstáculos E dizer com sinceridade
Que por nós são enfrentados Muito obrigado PROFESSOR!!
Cícero Rodrigues dos Santos

Por isso que continuo Quero


Nesta minha luta renhida Há dias em que queremos vibrar
Ajudando a transformar vidas Sorrir, sentir o bem que temos aqui
Entoar um canto e enxugar o pranto
De crianças, adolescentes, adultos
Há dias em que queremos muito
Tirando-os da ignorância
E queremos tanto!!!!
E tornando-os homens cultos
Pois, hoje, eu quero cantar, sorrir
Levando-os a ter sucesso e vibrar
E isto tenha por certo Aclamar a vida e o amor
Que aqui e por onde eu for E a alegria de ser quem sou, pois
Se perguntarem com insistência: sou.
“Qual é seu orgulho, meu senhor?” Quero dispor o fervor,
Respondo com veemência: Celebrar a esperança
MEU ORGULHO É SER Quero brincar com a criança
PROFESSOR. E conversar com os mais velhos.

Quero escalar os montes


Húmus E cruzar as pontes
Do húmus nasci Quero navegar no rio e sentir o frio
No húmus estou Quero louvar a natureza.
No húmus cresci
No húmus vivi Quero gritar forte
Para o húmus vou Preciso gritar forte
Pois homem sou. Para invocar a vida
Para espantar a morte.
Piauí em Letras - 3

Quero encontrar o irmão


Apertar a sua mão
E lhe desejar felicidade.

Quero falar ao distante, ouvir o migrante


Ajudar o mendigo a se levantar e cantar.

Quero viver, vencer o medo


Buscar da música o enredo
Ensaiar e dançar com a grande multidão.

Quero conquistar um coração


Viajar neste afã de paz e alegria
Quero espantar a dor do dia-a-dia.

Quero renascer para o presente


Buscar as asas do passado
Para fazer um futuro crescente
E transcendente.

Quero, quero muitas coisas.


Pois o que é a vida?
Senão um constante querer
Confundindo-se com o fazer
Dando-lhe verdadeiro sentido?
Cícero Rodrigues dos Santos

És Mulher
És flor És cheiro És batalhadora O Pai
E espinho Aconchego Vencedora A mãe
És canto És regaço Recatada A irmã
És bela És lírio E emancipada E o irmão
És linda És perfume És amor És finita
Tão meiga E abraço És frescor Infinita
Zangada És ternura És pudor És início
E singela És fofura És poder E o fim
És felicidade És bravura Limitador Do bem
Sofrimento És brandura E libertador Do mal
Amizade És candura És temida Do bom
És carinho Pura És temente E do ruim
És sorriso És o pó És o entretanto
E impura
És suspiro És gente E o portanto
És santa
E ninho O sim
Pecadora Odiada
És sentir O não
Rude Refutada
És ouvir E o talvez
E doutora E apoiada
És palpitar Separados
És querida És desejada
Aceitar Desejosa Ou de uma vez
És amada
E reclamar Desejante És o mais
És leveza
És o beijo Amada E o jamais
Delicadeza
E o ensejo E amante És o porém
E Braveza
De amar És busca
És E o também
És encanto
Compreensão E buscada És o tudo
Acalanto Incompreensão Sonhadora
És espanto O absoluto
És coração Sonhada
O que quer
Surpresa Sensação Perdida O que quiser
Estranheza De emoção E encontrada E como quer
És dúvida De castigo És a Eva És o que é...
E certeza E perdão E o Adão ÉS MULHER.
Piauí em Letras - 3
PIAUÍ EM LETRAS 3

Maria Dilma Ponte de Brito


Formação

Mestra em Educação. Pós-graduada em Administração,


Bacharela em Direito e Licenciatura (Esquema I),
Especialista em Administração Gerencial e em Metodologia
para o Ensino da Ciência. Jornalista com registro de n°
0001641PE46214003223/2010-02SRTE/PI

Trajetória Funcional
Professora da Universidade Federal do Delta do Parnaíba/
Universidade Federal do Piauí, desde 1998. Atualmente
professora, Orientadora e Coordenadora dos Trabalhos de
_
Conclusão de Curso TCC do Curso de Administração.
Assessora Técnica e Professora da UESPI durante o ano de
2000. Funcionária do Banco do Brasil de 1976 a 1997.
Presidente da Cooperativa Artesanal Mista de Pamaíba no
ano de 1975.
Dilma Ponte

Academias:
_
Academia Parnaibana de Letras Cadeira 28
_
PIAUÍ EM LETRAS 3

Academia de Ciências do Piauí Cadeira 36


_
Academia Piauiense de Trovas Cadeira 23
Instituto Histórico Geográfico e Genealógico de
_ _
Parnaíba IHGGP Cadeira 24

Publicações
_
Lero-Lero 2011
_
Vou te contar 2008
_
Assim é a Vida 2006
_
História de Marilu 2005

Capítulos de Livros
_
Piauí em Letras II 2019
_
Contos entre Gerações 2019
_ _
Publicações Almanaque da Parnaíba 2006, 2013, 2017, 2018
_ _
Publicações Revista da Academia de Ciências do Piauí
Ano XIII, n° 2/2015, Ano XIV, n° 3/2016

Organizadora
_
Organizadora dos Almanaques da Parnaíba 2013, 2017 e 2018
_
Organizadora do Livro Retalhos de uma vida bem vivida
_
Autor Adilson Castro 2019
Membro da Equipe Técnica da Revista da Academia de
_
Ciências do Piauí 2015, 2016 e 2017

Articulista
Jornal Norte do Piauí
www.reacantodasletras.com.br
Piauí em Letras - 3

Parnaíba
Turismo, filhos ilustres, seus cantos, recantos e encantos

Parnaíba, Princesa do Igaraçu, Deusa dos Carnaubais e Capital do Delta.


Parnaíba de água doce e de sal
De largas avenidas e beleza sem par
Meus versos são pobres e bobos
Mas o que vem da alma escreve-se sem pensar
Amor do berço, amor filial
Sou filha dessa terra
Que muito exportou e cresceu
Perdeu tudo, batalhou e venceu
Sou tua herdeira
Ganhando ou perdendo sou tua parceira.

Os grandes potenciais da Capital do Delta hoje (2020), que


prometem um futuro promissor, são: a Educação e Turismo, “Indústrias
sem Chaminé”. Parnaíba ainda tem como principal atividade
econômica a exportação da cera de carnaúba, jaborandi, castanha de
caju, couro etc. A exportação da cera de carnaúba contribuiu para os
tempos áureos da cidade durante os séculos XVII e XVIII, daí seu
cognome Deusa dos Carnaubais, tempo em que Parnaíba foi
considerada a capital econômica do Piauí. Até o século XX foi centro
de exportação também da carne de charque, que lhe assegurava boa
situação econômica.
A cidade, com um pouco mais de 170.000 habitantes, é a porta
de entrada para o Delta do Parnaíba. Suas belezas são incontestáveis.
E vão desde a sua própria natureza, (o mar, rio, ilhas e lagos) até seus
casarões antigos, suntuosos, que registram a sua riqueza do passado e
agora se misturam à nova. Parnaíba com residências de arquitetura
moderna e imponente.
Dilma Ponte

O Delta do Parnaíba ou Delta das Américas é um presente da


natureza que encanta com suas paisagens e ilhas. É considerado uma das
vistas mais belas do mundo, atraindo turistas de todo o Brasil, e além
dele o rio Parnaíba percorre 1.450 km até desembocar no Oceano
Atlântico e abre-se em cinco braços, envolvendo 73 ilhas fluviais, beleza
exuberante, cheia de dunas, mangues, um verdadeiro cenário paradisíaco.
Faz parte do contexto turístico parnaibano a Praia da Pedra do
Sal, pedaço do Oceano Atlântico que banha o Piauí, localizada a 18
quilômetros do centro de Parnaíba. Embora um litoral pequeno, seduz
a todos por oferecer banho com ondas enormes próprias para surfe,
banho no mar manso ou ainda de respingo produzido pelas fortes ondas
que batem nas gigantescas e exóticas pedras. A divisão da praia é feita
pelo Farol que separa as águas mansas das águas agitadas.
A Lagoa do Portinho é outro presente da natureza e ponto
turístico encantador. Suas dunas de areia branca completam a linda
paisagem. Local agradável com hotel, restaurante, palmeiras,
coqueiros e carnaubais. Conta a lenda que suas águas são as lágrimas
da índia Macyrajara, que chorou dias e noites após perder seu grande
amor, o índio Ubitã, morto pelo pai da índia, que não aprovava a
união, por serem de tribos inimigas.
A Lagoa do Bebedouro é cartão postal da cidade, que tem uma
importância histórica, segundo o imortal da Cadeira 04 da Academia
Parnaibana de Letras, Renato Marques, no livro 19 de Outubro: O
Dia do Piauí. Segundo ele, as tropas de Fidié em 1822 se deslocaram
de Oeiras para Parnaíba com o intuito de pôr fim no movimento pela
independência e acamparam inicialmente às margens da referida lagoa.
A Casa Grande de Parnaíba, palacete residencial dos Dias da
Silva, é de grande valor histórico e fica na Av. Presidente Vargas,
logradouro com outras arquiteturas imponentes que fizeram parte dos
tempos áureos dessa cidade. É um prédio centenário de arquitetura
colonial portuguesa, construído no século XVII no centro
administrativo e financeiro de Parnaíba e era morada da família de
Simplícío Dias da Silva. Hoje abriga a Superintendência Municipal
de Cultura e o escritório do IPHAN.
Piauí em Letras - 3

Espaço Cultural Porto das Barcas, velho conjunto arquitetônico


de armazéns feitos com pedra bruta, argamassa de cal, ostras e óleo de
baleia, é um ambiente rústico de ruas estreitas, contendo prédios
históricos. Fica à margem do rio Igaraçu, ao lado da ponte Simplício
Dias, que liga Parnaíba à Ilha Grande de Santa Isabel. Hoje é um
espaço turístico, com artesanato, pousadas, agências de ecoturismo e
pontos de alimentação
Catedral de Nossa Senhora da Graça, onde estão os jazigos
de Domingos Dias da Silva e de seus filhos na capela do Santíssimo
Sacramento. Tem uma arquitetura belíssima e rica. O altar-mor é todo
trabalhado em ouro, mostrando um passado de glória e de grande
religiosidade.
Igreja do Rosário, construída por escravos no século XVIII
pelos Dias da Silva para servir especialmente aos negros. Fica no
centro da cidade, ao lado da Catedral de Nossa Senhora da Graça.
A Praça da Graça, originada da Lagoa da Onça, fundada em
1917 pelo intendente Nestor Veras, é um importante ponto histórico
da cidade de Parnaíba. Bastante arborizada, ornamentada com
carnaúbas, bancos e chafariz. Nela está o monumento da
Independência do Brasil no Piauí. Hoje, no seu entorno, encontramos
agências bancárias, correio, receita federal, igrejas, o Hotel Delta e
muitas casas comerciais.
Os monumentos históricos têm o seu valor porque transmitem
importantes acontecimentos. Assim, registramos aqui algumas dessas
arquiteturas que perpetuaram importantes fatos: Monumento
Sesquicentenário da Independência do Piauí, com seus três prismas
lembrando as três cidades que mais batalharam pela independência
do Piauí: Parnaíba, Campo Maior e Oeiras. Monumento da Águia,
uma homenagem dos mecânicos da cidade ao então Prefeito Ademar
Neves, hoje localizado na Avenida São Sebastião, antes na Avenida
Presidente Vargas. Retirado de lá por motivo de construção da Ponte
Simplício Dias, que é um lindo cartão postal da cidade, ligando
Parnaíba à Ilha Grande de Santa Isabel. Monumento da
Independência em Parnaíba, celebrando o dia 19 de outubro de
Dilma Ponte

1822, que marca a Independência do País no Piauí, conclamada pelos


patriotas Simplício Dias da Silva, Leonardo de Carvalho Castelo
Branco, João Cândido de Deus e Silva e José Francisco de Miranda
Osório, que aderiram ao movimento iniciado em 07 de setembro de
1822 com Dom Pedro I, em São Paulo. Em homenagem à data foi
instituído o “Dia do Piauí” (Lei n° 176/1935). Monumento
Centenário de Parnaíba, localizado na Praça Santo Antônio,
inaugurado em 1944.
Faz parte do roteiro turístico a visita aos museus e artesanatos,
a saber: o Museu Santo Francisco, que fica na BR 343, no Sabiazal,
onde podem ser apreciadas obras espetaculares de cerâmicas, pinturas
e esculturas. O Museu do Trem, que fica na Praça da Esplanada e
abriga um rico acervo da história da estrada de ferro em Parnaíba. Lá
o visitante pode encontrar fotos, objetos e ferramentas de trabalho da
época, marco do progresso comercial do município. A Cooperativa
Artesanal Mista de Parnaíba, localizada na Rua Pedro II, com artigos
produzidos com matéria prima da região, como a palha da carnaúba,
de buriti, sisal, além de bordados em linho e esculturas em madeiras.
Se sobrar tempo, sugerimos aos visitantes ainda conhecer o
Centro Cívico, monumento para concentrações cívicas, localizado
nas proximidades da Praça Santo Antônio e Colégio Nossa Senhora
das Graças. O Cajueiro de Humberto de Campos, plantado pelo
imortal escritor Humberto de Campos, patrono da Cadeira 12 da
Academia Parnaibana de Letras _ APAL. O Corredor dos Ventos,
espaço da Rua Oscar Clark chegando na Av. Presidente Vargas, que
canaliza uma ventania em qualquer época do ano. As mulheres ao
passar por lá não sabem se seguram os cabelos ou as saias. E, ainda,
a Academia Parnaibana de Letras _ APAL, que fica nas
proximidades da Praça das Graças, mais precisamente na Rua Alcenor
Candeira, 680, e o Centro Cultural João Paulo dos Reis Velloso _
SESC Caixeira.
Piauí em Letras - 3

Parnaíba é uma cidade alegre, de sol aberto, que energiza seus


habitantes. O parnaibano gosta de fazer amigos, dialogar e trocar
ideias, assim encontra cantos e recantos para jogar dominó, tomar
café e estreitar laços de amizade, reunindo-se em clubes, alguns de
serviços, outros simplesmente de entretenimento. Entre eles citamos:
Clube das Ladies, Lions Clube Parnaíba, Clube das Bancárias, Rotary
Clube, Clube do Talento, Igapa, dentre muitos outros.
O CLUBE DAS LADIES data de 05 de outubro de 1966, dia
em que aconteceu a primeira reunião de instalação. Formado por
senhoras da sociedade parnaibana com a finalidade de entretenimento.
Hoje conta com 33 ladies com idades entre 40 e 90 anos. As reuniões
acontecem todas as quartas-feiras em locais diversificados, sempre
os mais requintados da cidade. São momentos de descontração, alegria
e muito risos e sorrisos. Na ocasião são feitos sorteios e distribuição
de brindes. Nas reuniões de aniversários das participantes, um jantar
farto com deliciosas sobremesas é indispensável. Nas simples são
servidos um lanche, um café ou um coquetel caprichado. Embora
sendo um grupo de diversão, todo o final de ano o clube promove o
Natal dos velhinhos carentes, que faz parte do Projeto Santa Marta,
oferecendo cestas básicas e lanches. É bonito perceber que as ladies
formam uma família presente na alegria e na tristeza. Comemoram
também datas especiais, como a Páscoa, o Natal, entre outras.
LIONS CLUBE PARNAÍBA _ Foi fundado em 23 de
novembro de 1957. O seu lema é SERVIR. O clube tem um trabalho
permanente de assistência às mães gestantes carentes, que fica a cargo
das domadoras. Domadoras é denominação dada às mulheres esposas
dos companheiros do clube, que são os Leões. A domadora pode ser
também companheira leão se fizer a opção de acordo com o regimento
do clube. O Lions é um clube de serviço. Cada presidente traça um
plano de trabalho social além do Clube de Mães, denominado Melvin
Jones, que é um trabalho permanente de assistência às mães gestantes
desfavorecidas. As atividades geralmente são: distribuição de cestas
básicas aos necessitados, comemoração do dia das crianças, Natal
Dilma Ponte

nas comunidades carentes, doação de cadeiras de rodas, combate à


visão e à cegueira, levando especialistas nas escolas e oferecendo
consultas e óculos, quando necessário, palestras, dentre outras. Apesar
de ser um clube de serviço, também é um clube de entretenimento,
proporcionando aos seus associados momentos de lazer, estreitando
os laços de amizades e companheirismo.
CLUBE DAS BANCÁRIAS _ Banfêrsem (Bancárias de Férias
para Sempre). A ideia da fundação desse clube se deu em dezembro
de 1999, época do Natal, quando um grupo de mulheres, ex-
funcionárias do Banco do Brasil, sentindo saudades umas das outras
e falta dos momentos agradáveis que comungavam na instituição,
apesar do árduo trabalho, resolveram comemorar o nascimento do
Menino Jesus conjuntamente. A festa aconteceu na casa de uma delas,
que muito incentivou novos encontros. É um grupo de entretenimento.
As reuniões acontecem no primeiro sábado após o dia 20 de cada
mês. Também em datas especiais, como dia internacional da mulher,
Natal ou de aniversário das participantes.
ROTARY CLUB PARNAÍBA _ Fundado em Parnaíba no ano
de 1938. É também um clube de serviço, e, como o Lions Clube,
proporciona aos seus associados o entretenimento, o lazer e o
companheirismo, trazendo benefícios para a cidade por meio de suas
boas ações.
CLUBE DO TALENTO _ Foi fundado em 2002 com o
objetivo de proporcionar às pessoas idosas uma visão positiva de viver
com prazer e felicidade numa nova fase, melhorando a qualidade de
vida por meio do reconhecimento da dignidade e dos valores da pessoa
idosa. Para tanto, proporciona o bem-estar e a paz interior, oferece
oportunidades variadas de conhecimento, palestras, passeios, festas,
evitando a solidão e o isolamento social. As reuniões do clube
acontecem semanalmente e é um clube de entretenimento.
IGAPA (Instituição de Garantia Assistencial Parnaibana) _
Clube filantrópico, fundado no dia 13 de março de 1976 por senhoras
Piauí em Letras - 3

parnaibanas residentes em Teresina. Tem como objetivo a caridade e


atua também no campo espiritual, fortalecendo a fé, a elevação da
autoestima, melhoria da qualidade de vida e tem como público alvo
os pacientes do Hospital da Colônia do Carpina _ Parnaíba (PI), os
sequelados pela hanseníase e egressos. A partir do ano de 1977 o
clube foi organizado também na Capital do Delta, formando uma
diretoria, e os dois clubes passaram a trabalhar em sintonia. As
reuniões são feitas quinzenalmente: uma no Hospital, com a presença
dos pacientes, com lanches e diversões, e outra somente das senhoras,
em lugar previamente agendado.
E mais: Soamar, Casa da Amizade, Grupo do Terço, Grupo da
Amizade etc.
Parnaíba tu és bela
Morro de amor por ti
Em cada esquina um encanto
Princesa do Piauí
Deusa dos Carnaubais
Dama da natureza
A Rainha da Beleza
Terra hospitaleira
De história e de porvir.

Parnaíba tem filhos ilustres, João Paulo dos Reis Velloso, que
aqui nasceu em 12 de julho de 1931. Professor, economista, bancário.
Foi Ministro do Planejamento de 1969 a 1979. Saiu de sua terra para
construir a história da nação, e, ao lado de grandes homens, colaborou
para enaltecer o país sem esquecer o Piauí e sobretudo sua cidade
natal. Foi presidente do Fórum do Instituto Nacional de Altos Estudos,
discutindo temas importantes para o desenvolvimento e inserção do
Brasil no cenário internacional. Membro da Academia Parnaibana
de Letras, sendo o primeiro ocupante da Cadeira de número 10.
Faleceu em 10 de fevereiro de 2019 deixando saudades.
Dilma Ponte

Evandro Lins e Silva _ Nasceu na cidade de Parnaíba em 12


de janeiro de 1912. Foi jurista, jornalista, escritor, Procurador-Geral
da República, Ministro-Chefe da Casa Civil, Ministro das Relações
Exteriores, Ministro do Supremo Tribunal Federal e político brasileiro.
Faleceu no dia 17 de dezembro de 1992, deixando uma vasta folha de
serviços prestados à sociedade. Orgulha seus conterrâneos.
Assis Brasil _ O intelectual, contista, romancista, crítico
literário, primeiro ocupante da Cadeira 17 da Academia Parnaibana
de Letras _ APAL, nasceu no ano de 1932 na cidade de Parnaíba e
aqui permaneceu até sua adolescência, quando foi estudar no Rio de
Janeiro. Tem mais de cem obras publicadas. É nome respeitado no
mundo literário. Ganhou o prêmio Machado de Assis em 2004, entre
muitos outros que reconheceram sua competência. Pessoa que
engradece sua cidade e seu estado. Reside atualmente em Teresina.
Alberto Tavares Silva _ Parnaibano ilustre nascido em
10.11.1918 e falecido em 28.09.2009. Deixou um legado para seus
conterrâneos, visto nos quatro cantos da cidade. Foi ele que trouxe
para Parnaíba a televisão, estrada, asfalto e fez o Piauí e sua cidade
natal serem conhecidos no cenário nacional. Ocupante da Cadeira 09
da Academia Parnaibana de Letras _ APAL. Para ele dediquei uma
poesia no ano de 1974, quando esse grande político governava o
Estado do Piauí.
Piauí em Letras - 3

Alberto Silva
A tela estava quase em branco.
Ninguém sequer nem percebia,
O apagado da figura que se confundia,
Com o espaço vazio que não se preenchia _ o Piauí.
Ao se falar nesse espaço,
Gente de longe até ria,
E ele chegou.
Um idealista, um pianista, um pintor.
Com inteligência e coragem.
Os traços desse quadro logo contornou.
Recortou a verde mata de estradas,
Vestiu de negro, boa parte desse chão.
Incentivou a indústria trazendo energia,
Clareou as mentes com a educação.
E quase que como um toque de magia,
Trouxe progresso, televisão.
Depois de tudo muito colorido,
Veio gente de longe _ o turista,
Ver essa tela em exposição.
Ao passar para outro a pintura,
O engenheiro, político e artista
Recebe de seus conterrâneos
O respeito e muita gratidão.

Comecei dizendo que o futuro de Parnaíba está no Turismo e


na Educação. Apontei aqui alguns pontos importantes para facilitar
aos visitantes por ocasião de sua vinda à “Deusa dos Carnaubais”.
Quanto ao tema Educação, já foi explorado no livro “Piauí em
Letras 2”, no texto intitulado “Parnaíba, cidade que vi ontem e vejo
hoje”, de minha autoria. Educação e Turismo são temas que não se
esgotam. A cidade cresce e muito se tem o que falar, inclusive da
Dilma Ponte

parte nova da cidade com shopping, supermercados modernos,


condomínios luxuosos, mansões belíssimas, restaurantes requintados,
cafés, pizzarias, teatro e muito mais, porém...
Parnaíba terra querida
Meu espaço acabou
Vou ter que me despedir
Eu te amo minha flor
Vou ficando por aqui
Beleza do Piauí.
Piauí em Letras - 3

Dina Paraguassú _ Nasceu no


dia 04/02/1957, no interior de
São João do Piauí-PI, onde
passou grande parte da sua
infância junto com seus pais e
irmãos. Filha de Antônio Pereira
Nunes (em memória) e Josefa
Siqueira Nunes (em memória).
Casada, mãe de dois filhos.
Graduada em Bacharelado em
Enfermagem, Saúde Pública e
pós-graduada em Enfermagem
do Trabalho. Após muitos anos
de trabalho na saúde pública
(FUNASA), em 2020 conquistou a tão aguardada aposentadoria.
Membro da ALBEARTES (Academia de Letras e Belas Artes de
Floriano e Vale do Parnaíba), participou da coletânea anterior, “Piauí
em Letras 2” . Tem acervos poéticos disponíveis no site Recanto das
Letras. Considera-se amadora, sem a pretensão de intitular-se uma
poetisa. Apenas rabisca o que transcende da sua alma, que brota do
amor, da solidão, da saudade, da tristeza, da alegria, DA VIDA. Pra
você, que é especial!
Dina Paraguassu

A Sombra da Noite

O vento varrendo as folhas secas que pousavam nos


seus cabelos
Como os passarinhos nos galhos do trapiá
Seu olhar perdido fisgado pelo espelho
Das águas do rio, calmas a passar

A tarde findando despedia-se do dia


Cobrindo seu rosto que uma lágrima escondia
A sombra da noite trazendo nostalgia
Esboça um sorriso com melancolia.

De repente sentindo frio


Que o vento da noite soprava a cantar
A menina se foi sem despedida
Sabendo que o rio também partiu para o mar.

Meu coração também estava amargurado


Ao ver a tristeza daquele lugar
Desolado, perdido a esperar
Que amanhã tudo possa mudar.

Só tinha alegria no canto dos pássaros


Que pousavam contentes para repousar
No aconchego do ninho ou mesmo nos galhos
Esperando a lua voltar a brilhar.
Piauí em Letras - 3

Barco à deriva

O meu barco está à deriva


Não tenho mais forças para remar
Desistindo de ti, minha vida
O sol incandescente faz-me cegar

Só o meu amor lutando bravamente


Contra a correnteza a me levar
Preciso de um porto, um lugar, uma nascente
Nas águas torrentes a me afogar

Remando contra o tempo


E a tempestade do meu coração
A tua miragem me trazendo alento
Que as ondas do vento tragam a direção

Você está na minha memória


Do meu coração, nos meus sonhos de amor
Nos meus delírios, na minha história
Nos sonhos perdidos por onde eu for

Enquanto o meu sol bater dentro do meu peito


Alimentando meu corpo e a minha alma
Buscarei-te por caminhos desfeitos
Que o meu barco ancore em águas calmas

Quando meu jardim florir


Quando a vida me sorrir
Estarei no seu caminho
Não consegui desistir
Dina Paraguassu

Bem-te-vi solitário
Todos os dias na minha janela
Num galho do pé de cajá
Um bem-te-vi solitário
Cantando vem me saudar

Como se dissesse bom dia


Ele fica a cantar
Bem-te-vi, bem-te-vi, e passo a acreditar
Que o bem me viu, o bem me viu e comigo sempre estará

Ele às vezes reclama


Quando água vem beber
Da presença de outros bichos
Canta forte pra valer

Sei que quer a minha presença


Para lhe proteger
Garantir-lhe segurança
Para ele poder descer

Sempre está sozinho, nunca traz a sua amada


Já coloquei até um ninho numa caixa de luz desativada
Para trazê-lo para bem perto de mim
Junto com sua ninhada

Ainda vou descobrir por que faz tanto segredo


Ou será que está sozinho
Sem ter um amor, um ninho
Esse, enfim, é o meu medo.
Piauí em Letras - 3

Fora de sintonia

Eu imagino seu olhar


Ao perceber que me perdeu
Eu imagino sua loucura
Porque não me convenceu

Que o tempo que se foi


Foi o mesmo que esqueceu
De dizer que seu amor
Nunca me pertenceu

Agora corre atrás do tempo


Criando pensamentos gravados nos seus escritos
Que são endereçados a mim
São versos de sofrimento, juras de amor sem fim

Versos impuros, imperfeitos


Linhas com pedaços de agonia
De um coração em desalinho
Que perdeu o compasso e está fora de sintonia
Dina Paraguassu

Fotografia do sertão

Espero o dia clarear


Vou programar meu celular
Que eu quero fotografar
Quando a chuva chegar
O verde desse meu sertão

Mas se a chuva não chegar


O sol de novo vai voltar
Então eu vou fotografar
A lágrima que vai brotar
Do fundo do meu coração

Se o chão quente não molhar


A atmosfera vai mudar
Os cactos não vão florar
Se eu tiver que esperar
Sair de novo do sertão

Meu coração não vai aguentar


Com muita fé vou esperar
Pra São José eu vou rezar
Se ele ouvir minha oração
E a chuva vai molhar o chão
Fazer feliz meu coração
Piauí em Letras - 3

Luzes de Néon

Vejo o brilho das luzes da cidade


Iluminando os becos e os bares
Procuro-te na multidão
Sem saber o teu nome e onde estás

Sei que povoas minha mente


Meus pensamentos a me torturar
O meu corpo é só desejo
De poder te encontrar

Um novo dia, a mesma saudade, solidão


Um novo palco para um poema declamar
Escrito com luzes de néon
Para chamar tua atenção

Sonho com teus olhos a me fitar


Vejo tuas lágrimas a deslizar
Mas foges de mim
Sem ao menos me falar

Um dia vais me procurar


Mas outro alguém já ocupou teu lugar
Aquele poema que tentei te ofertar
Agora tem outros versos, que não rimam com amar
Dina Paraguassu

Você não existia

Colhi flores pra lhe dar


Na madrugada fria
Ao despertar descobri
Que você não existia

Foram devaneios tolos


Do meu coração de menina
Que me fez criar-lhe belo
Com tudo que me fascina

Foi uma mera ilusão


Tudo que eu via em você
Aos poucos fui acordando
Então pude perceber

Que seu encanto estava


Nas doces palavras que escrevia
Depois como gelo me tratava
Logo pude perceber que você não existia

Ficaram frias as minhas noites


As flores que colhi murcharão
Mas não perco a esperança
Outros botões desabrocharão.
Piauí em Letras - 3

Edivaldo de Lima e Silva _ Nasceu em


Saloá, Pernambuco. Chegou ao Piauí
no ano de 1976, foi morar no Distrito
de Tucuns, Uruçuí. Desportista, líder
estudantil, residente e presidente da
CEU _ Casa de Estudante de Uruçuí/
Teresina, colaborador dos jornais
“Expresso do Sul”, “Cerrado” e
relações públicas da “Revista Espaço
Literárias”, incentivador dos projetos
dos movimentos sociais, professor,
político, poeta e escritor. É servidor
público e graduado em Letras
Português, Agronomia e Filosofia. A
vida literária recebeu forte influência dos poetas Gregório de Matos,
Gonçalves Dias, Carlos Drummond de Andrade, Da Costa e Silva,
Elmar Carvalho, Anchieta Santana e Manoel Barcelar (Tubá), e ao
longo de sua trajetória poética tem contribuído com a nossa literatura
uruçuiense e do cerrado. Em 2009 publicou a obra ECOS DO
CERRADO, em poesia, pela Editora Nova Aliança, com uma temática
que focaliza o eco dos dramas sociais; o massacre do bioma cerrado;
a exuberância e a magia da natureza; o encanto do amor, nas travessias
das vidas... (Terra, Homem e Vida). Em 2014 publicou a obra poética
AS LÁGRIMAS DAS FLORES, dividida em duas partes: “AS
LÁGRIMAS”, que apresenta um contexto crítico da agressão à
natureza (da fauna e da flora), onde denuncia o sofrimento do homem
pela violenta brutalidade do capitalismo selvagem impregnado nas terras
do cerrado; e “DAS FLORES”, uma reflexão sobre o cotidiano em nosso
meio social. Conhecido como o poeta do cerrado. Para ele, as palavras
compostas nos seus versos são como as folhas secas perdidas no sopro do
vento após as queimadas do cerrado durante o verão escaldante, uma viagem
no universo do imaginário dos sonhos poéticos. Acrescenta ao seu mundo
mágico e utópico o viver de duas loucuras: as fantasias do poeta e o
sonhar do filósofo. Membro fundador da Academia Piauiense de Poesia.
Edivaldo lima

Deixe as ondas me levarem

É: eu vou indo por aí,


à deriva,
perdido em correntezas
de mares, mas vou indo.

Não pergunte se as incertezas


das tempestades me incomodam,
depois de tudo que vivi
tenho os ventos como guia,
nesta ida.

O mastro que segue


sabe melhor do que eu
a força que tenho.
E no som das brisas
que tocam o meu viver...
deixe as ondas me levarem.
Piauí em Letras - 3

Essência do Ser

Nada perdi...
Tudo terei...

Porque minha alma é assim,


contente e descontente, nesta essência
do ser...

Um ser que vai


pra ser,
o que ainda será
e terá que ver...E nesta essência
do ser,
minha vida é breve
e minha alma é voante.
Edivaldo lima

Colmeia
Minha Abelha Rainha...

Amo seu gosto gostoso


num néctar de adocicado sabor da vida.
E na pureza da geleia geral,
a lambuzar os meus sentimentos de felicidade,
nesta ida e vinda pelas campinas afora...

E nas pegadas do cerrado você majestosa,


no cristalino do Preto e Velho Monge,
unidos ao delta, abraçanda a Ilha do Amor.
E na trempe o fogo arde na doçura
do fervor copioso das águas.

Amo o apiário e as suas operárias,


que vivem a beijar as nossas flores do jardim sagrado
entre grotões e serras, terras de sangue de índios.
E no soar do borá o zunir de emoções das vidas,
que vicejam e florescem na linda magia da natureza.

E o pôr-do-sol por trás das colinas vem chegando,


Na festa do arco-íris: Azul, Branco e Vermelho...
E voa, voa passarada com os meus sonhos de criança,
beija-flor, bem-te-vi, chico preto, sabiá... Meus artistas.
Proletária... Proletária... Nossa colmeia!
Piauí em Letras - 3

Pingos de felicidade

Nesta passagem
que vai
da vida
ida e vinda,

o que fica
e o que segue,

arquivos
de memórias vivas
do tempo moído,

nos pingos
da facilidade.
Edivaldo lima

Linhas do Tempo

Nos mistérios do eu
procuro por mim,
que nem sei.

E se sei de mim
escondido está
dentro do meu eu.

Mas em mim
tudo é assim,
perdido no meu eu.

E lá no fundo,
confusamente,
tem uma alma,
silenciosa,
viandante,
nas linhas do tempo.
Piauí em Letras - 3

Amor de mãe

Uma saudade linda


ficou,

Nada,
nada é tão eterno
que o seu amor.

O amor
mais perfeito,
mais singelo,
mais inesquecível.

O amor
com mais amor
é
amor de mãe.
Edivaldo lima

Os vales
(reservas de venenos)

A natureza e o homem pulsam


Nas correntezas dos vales
E no eco do borá o zunir
Das lágrimas de nossas flores.
Os ventos quentes que descem
Nos vales, fedidos, castigam
As pobres vidas que resistem
Nas cachoeiras de águas mortas.
E o chão abrasa em fogo
Da crueldade do latifúndio,
Que destrói a fauna e a flora,
Levadas pelo vendaval de cinzas.
O cerrado em vales lamenta
As estradas do mundo,
Que transportam as riquezas
No trilho do túnel da extinção.
Genocídio natural e humano,
Nas terras cálidas da colmeia.
O acre cheiro das toxinas
Respiram pobres vidas ingênuas.
As gotas de águas das chuvas
Que caem em nosso solo ardem
Nas peles prestas e nas roças
Ruínas de destroços dos vales.
Morrem os seres em silêncio
No jardim de todas as vidas
E nascem as reservas de veneno
Nas águas pretas rumo ao mar.
Piauí em Letras - 3

Euzeni Dantas Nunes _ Nascida


sob o signo de Libra aos 25 de
setembro em Miranorte-GO, filha
de Antenor Lima Nunes e Eunice
Dantas Nunes, mãe de duas crias,
preciosidades: Bruno Wenner
Dantas Nunes e Maria Clara
Dantas, e tem três irmãos: Eusimar
Dantas, Francisco e Francílio.
Formação em Licenciatura Plena
em História pela Universidade
Estadual do Piaui (2002). Pós-
graduada em Docência do Ensino
Superior e em História do Piauí,
desde cedo descobriu a vocação para o Magistério. É professora
concursada da Secretaria Estadual da Educação (SEDUC) e Prefeitura
Municipal de Amarante (1997). Exerceu os seguintes cargos:
Coordenadora Pedagógica do Curso de Licenciatura Plena em História
da Universidade Estadual do Piauí (UESPI _ 2008/2010), Gestora do
Complexo Escolar Estadual _ SEDUC da comunidade Lagoa (2010-
2011), Assistente Técnico da Fundação Cultural do Piauí _ FUNDAC
(1987-1996), desempenhou funções na Secretaria Municipal de
Cultura e Turismo (Amarante), Professora do Magistério Superior da
Faculdade do Médio Parnaíba no curso de Licenciatura Plena em
História (FAMEPE) em Teresina e São Pedro-PI. Professora no
cursinho Pré-Vestibular da SEDUC e no ENEM, Professora da
Unidade Escolar Polivalente _ Ensino Médio (1998-2004), ministrou
várias disciplinas no Curso de Licenciatura Plena em História (UESPI)
Campus de Floriano-PI e Amarante-PI, professora Formadora do
PARFOR (Programa de Formação de Professores da UESPI),
ministrou várias disciplinas no Curso de Especialização em
Psicopedagogia Clínica e Institucional do INSF (Instituto Nossa
Senhora de Fátima). Desempenhou funções na Secretaria Municipal
Euzeni Dantas Nunes

de Cultura (Amarante- PI), Professora da Unidade Escolar Municipal


_
Antônio Gramoza (2002-2018), professora do PRO-JOVEM Cursinho
_
Popular (SEDUC), Assistente Técnico da Fundação Cultural do Piauí
(1987-1996). É pesquisadora do Grupo de Pesquisa Amigos do Patrimônio
Cultural (UFPI-CNPq), Membro da Academia de Letras do Médio Parnaíba
_ ALMPI, cad. 33, Membro da União Brasileira de Escritores do Piauí _
UBE, matrícula 223. Tem certificado de participação na Solenidade em
Homenagem aos Vaqueiros e Roceiros no Monumento Heróis do Jenipapo
em Campo Maior, conferido pela Academia Campomaiorense de Artes e
Letras (ACALE), Medalha de Mérito Litero Cultural Monteiro Lobato pela
Academia Nogueirense de Letras (ANL). Orientadora de diversas
monografias da Universidade Estadual do Piauí-UESPI (Campus de
Floriano, Teresina e Amarante-PI), participação em várias bancas
examinadoras de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na UESPI
(Teresina, Floriano e Amarante). Poetisa. Autora de vários artigos publicados,
dentre eles: Amarante 137 anos de memória; Amarante tem riqueza
arquitetônica peculiar; Amarante 140 anos, um passeio na
História;Amarante um pouco da História; Patrimônio Cultural de
Amarante etc. Realizou vários projetos na UESPI, em Amarante (Curso de
História): História da Educação de Amarante dos primórdios aos dias
atuais, Evolução do Processo Histórico da Humanidade, Revivendo o
Quilombo Mimbó etc. Ministrante de palestra sobre História Geral (Piauí
e Amarante). Exerceu o cargo de Coordenadora Pedagógica da Sec. Mu-
nicipal de Educação (Amarante), Docente na Unidade Escolar Antônio
Castro (SEDUC). É correspondente do Instituto Histórico e Geográfico do
Piauí (IHGP). Participação no livro Homenagem aos Vaqueiros e Roceiros,
o reconhecimento que faltava (2017), organizado pelo formidável escritor
Adrião Neto. Produtora cultural, com a participação em vários eventos
culturais. Atualmente está à frente da Fundação do Instituto Histórico e
Geográfico de Amarante-PI (IHGA).
Piauí em Letras - 3

Amarante: Preservação Patrimonial


Nos últimos anos assistimos estarrecidos a um processo de
mudanças no centro histórico de Amarante sem a devida atenção às
questões relativas à preservação do patrimônio cultural da cidade e
sem uma política preservacionista de nossos bens culturais. É
relevante a conservação e prevenção do conjunto arquitetônico de
Amarante para coibir as descaracterizações, a fim de que, consciente
da importância do nosso passado histórico, possamos preservar a
memória de nossa gente e dos lugares, proporcionando uma
consciência maior no presente.
Considerar a preservação do patrimônio cultural como uma
questão de cidadania implica reconhecer que, como cidadãos, temos
o direito à memória, mas também o dever de contribuir para a
preservação desse rico e valioso acervo cultural que é o Centro
Histórico de Amarante. Esse patrimônio cultural são lembranças de
um passado de glória que marcam a época do apogeu da navegação
fluvial do rio Parnaíba no final do século XIX e início do século XX,
quando Amarante era considerada uma metrópole próspera com um
grande porto importador da Europa.
Segundo o inventário de estudo e proteção de conjuntos urbanos
do Piauí, realizado pela OP. Arquitetura Ltda _ Arquiteto Olavo
Pereira, com a colaboração desta agente cultural, foram registrados
72 imóveis em Amarante de categoria civil, 04 de categoria oficial e
10 imóveis isolados, enquadrando-se no rol dos bens que contribuem
para a identidade cultural e merecem o reconhecimento e a valorização
da sociedade, promovendo o aumento da autoestima dos grupos e a
defesa urgente e efetiva de atitudes mais enérgicas no tocante à
preservação e restauração desse patrimônio por parte do poder público
nas várias esferas.
De acordo com o estudo realizado no conjunto arquitetônico
do século XIX, no centro da cidade de Amarante podemos afirmar
que suas características arquitetônicas predominantes se identificam
com a arquitetura do período colonial de herança portuguesa.
Euzeni Dantas Nunes

Precisamos de programas voltados para a preservação do Centro


Histórico de Amarante, de modo a promover a sua revitalização
urbanística, social, cultural, econômica, e, consequentemente, a
melhoria da qualidade de vida da população.
Amarante é um polo turístico que possui um dos mais
harmoniosos conjuntos arquitetônicos de herança portuguesa no Piauí.
Cada unidade arquitetônica de Amarante é a marca particular do lugar
e da sua ancestralidade, que nos enobrece pela transcendência e pela
história que deixa contar e nos faz sentir parte dela. A história de seus
casarões, as suas tradições e suas várias encruzilhadas fazem de
Amarante uma cidade feliz que “ri das suas próprias mágoas”.
Vamos nos unir, executivo, legislativo e sociedade, em prol
da nossa cultura, preservando assim a memória de nossa gente, a
nossa identidade cultural, os nossos valores, em busca de um Amarante
melhor.

Amarante, um Passeio pela Nossa História


A origem de Amarante remonta ao ano de 1772, quando o 2o
governador da Província do Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de
Castro, conferiu ao Coronel João do Rêgo Castelo Branco o comando
das Expedições, com o objetivo da “conquista” dos Guegueses e
Acoroás, para aldeá-los às margens do rio Mulato, onde hoje é a cidade
de Regeneração. Em relação a esse aldeamento, Odilon Nunes nos
informa que:
Dentro em pouco reinava a discórdia em São Gonçalo.
E com os primeiros dias de 1773 começam as intrigas.
Há vigilâncias assíduas, prisões e, em seguida,
deserção total. E, desde então, por quase dois anos,
foi ação única do governo a destruição desses índios.
(NUNES, 1975, p. 127)
O sanguinário João do Rego Castelo Branco empreendeu um
genocídio contra as rebeliões dos índios aldeados. Esse triste episódio
Piauí em Letras - 3

de matança dos nossos índios inspirou o poeta H. Dobal a escrever


um poema intitulado “El Matador”, que retrata essa carnificina contra
os indígenas. No poema, assim ele desabafa:
De sangue e de fogo
Se fez o nome
No sangue e no fogo
Se desfaz a história
De muitas vidas
Tenente coronel dos auxiliares
João do Rego Castelo Branco
Chefe da tropa
Senhor dos trabalhos
Castigos e desgostos
Matador de índios.
Os corpos no campo
Para o pasto de feras
Passados à espada
Acoroazes
Pimenteiras
Raça extinta
Lembrança extinta
Nomes, nações apagadas
No próprio sangue
Matador de índios
A fama de seu nome
A fúria de seu nome
Sua memória, em sangue
se repete.
(DOBAL, 2007, p. 97-100)

Nessa obra, H. Dobal retrata as atrocidades cometidas pelos


colonizadores brancos.
Euzeni Dantas Nunes

O Piauí e o Rio Grande do Norte, segundo pesquisas, são os


dois únicos estados em que as nações indígenas foram totalmente
dizimadas.
Em 1789, mesmo com o definhamento dos índios, a aldeia já
era um povoado, tendo ao centro uma capela para impor, de maneira
brutal, o catolicismo.
Em 07 de setembro de 1801, pela Provisão Régia, foi criado o
distrito e depois a freguesia, por provisão do Bispo Diocesano D.
Luís de Brito Homem, de 12 de julho de 1805, sendo instalado em 10
de novembro de 1883, com o nome de São Gonçalo.
Pouco a pouco às margens do rio Parnaíba, entre a barra do
riacho Mulato e do rio Canindé, foi formando um pequeno povoado,
que passaram a chamar de “Porto de São Gonçalo” por ser o lugar
onde as barcas, botes e canoas aportavam, trazendo mercadorias
(algodão, babaçu, couro, peles, etc.), que eram transportadas para a
vila de São Gonçalo em lombos de animais distante do porto 22
quilômetros.
Em 16 de julho de 1861, a Vila de São Gonçalo e a sede de sua
freguesia, obedecendo a resolução n° 506, de 10 de agosto de 1860, foi
transferida para o porto, que passou a ser chamada Vila de São Gonçalo.
Com o êxito da navegação fluvial no rio Parnaíba e o crescimento
comercial da Vila, a mesma foi elevada à categoria de cidade pela
resolução provincial n° 734, de 04 de agosto de 1871, com o nome de
Amarante, cidade portuguesa do mesmo nome, que significa casta de
uva preta da Bairrada, grande região vinícola de Portugal.
Amarante teve seu rápido progresso pela sua privilegiada posição
geográfica: “A Mesopotâmia brasileira”, banhada por três rios. Em
pouco tempo tornou-se um grande entreposto comercial do Piauí.
O escritor amarantino Alberto Da Costa e Silva relata que:
Ali, nas margens do Parnaíba e de dois de seus afluentes,
entre três rios, a Vila desenvolveu-se, enriqueceu com o
comércio da maniçoba, da carnaúba, do algodão, do babaçu,
dos couros, da mandioca e do caju, sobretudo com os
produtos do extrativismo vegetal, que os navios europeus
vinham buscar no porto pequenino. (1986, p. 05-06)
Piauí em Letras - 3

Com o progresso da navegação a vapor, Amarante comercializava


com diversas partes do país e até da Europa. Era o segundo porto em
importância no Piauí. A cidade cresceu, se desenvolveu e edificou
um rico patrimônio arquitetônico de origem colonial portuguesa.
Amarante tornou-se um centro de cultura e arte, celeiro de
grandes intelectuais, dentre os quais podemos citar: Da Costa e Silva,
Odilon Nunes, Clóvis Moura, Cunha e Silva e muitos outros.
Amarante é rica em manifestações folclóricas, como: Cavalo
Piancó, Pagode do Mimbó, Bumba-meu-boi, Dança Portuguesa,
Reisado, Marujada, etc.
Um dos grandes atrativos é a Comunidade Mimbó, comunidade
remanescente de negros fugitivos da escravidão, uma das
preciosidades da cultura afrobrasileira, com manifestações culturais
e religiosas trazidas pelos escravos.
Amarante passou durante muito tempo por grandes retrocessos
administrativos, porém atualmente nossa cidade encontra-se em boas
mãos, administrada pelo prefeito Diego Teixeira, que em pouco tempo
transformou nossa cidade em um canteiro de obras e com muita
maestria conseguiu resgatar as nossas tradições culturais que estavam
adormecidas.
Assim é Amarante, “uma ilha alegre e linda”, como cantou
aquele que como ninguém soube AMAR sua terra natal, Da Costa e
Silva.
Parabéns, AMARANTE, cidade de muitos encantos!
Euzeni Dantas Nunes

Afrânio Nunes: Um Grande Legado para a


Historiografia Amarantina
Amarante hoje, 03 de agosto de 2011, amanheceu melancólico
com a lacuna deixada pela partida de um dos seus filhos mais ilustres,
Afrânio Messias Alves Nunes, um dos grandes baluartes da política
piauiense e considerado nosso herói amarantino.
É inegável a paixão e o amor desse grande homem por nossa
cidade. Comentam que na vida ele teve duas paixões: o time River e
Amarante. Acompanhei, em certo tempo, a sua trajetória política e
com ele tive bons aprendizados. Considero-o um dos homens mais
admiráveis e notáveis que tive o prazer de conhecer. Com sua notória
habilidade de discursar, era detentor de uma eloquência que comovia
a todos com seus discursos e conversas corriqueiras. Sempre tinha
uma estória para nos contar e encantar. Criou frases célebres que
ficaram eternizadas no imaginário amarantino, como: AMARANTE
É NOSSA, que foi utilizada como slogan na sua campanha a prefeito
de Amarante pelo PMDB, em 1988, contanto não logrou êxito.
Amarante perdeu a chance de ter um prefeito que tão bem soube
amá-la, admira-lá e ser um representante atuante na nossa cidade.
Afrânio Nunes nasceu em um dia festivo, em 15 de fevereiro
de 1924, na centenária Amarante. Filho do farmacêutico e contador
José Alves Nunes Filho e de dona Etelvina Ribeiro Gonçalves Nunes
(Vinita). Aprendeu as primeiras letras sob a orientação da professora
Nenen Rodrigues, em Amarante, e também da professora Estefânia
Conrado, em Floriano, para onde mudou-se no ano de 1928. Cursou
o primário no Grupo Escolar “Agrônomo Parentes”. Viveu a sua
infância entre as cidades de Amarante e Floriano. Nesse tempo, viveu
a orientação de seus tios Djalma Nunes, Osvaldo da Costa e Silva e
Theodoro Sobral, todos eles figuras importantes na política local e
estadual. Com 13 anos de idade mudou-se para Teresina e matriculou-
se no Colégio Diocesano, cursando o ginásio em regime de internato,
Piauí em Letras - 3

sendo amigo de Petrônio Portella, Dirceu Arcoverde, entre outros.


Cursou o ensino secundário no Colégio Estadual do Piauí, antigo
Liceu Piauiense, e concluiu no Colégio São João, em Fortaleza, onde
estudou nos anos de 1944 e 1945. Retornou a Teresina, matriculando-
se na Faculdade de Direito do Piauí, onde se bacharelou em 16 de
dezembro de 1950.
Com a sua formação, inscreveu-se na OAB, exercendo a
advocacia, porém a sua grande paixão foi o magistério, lecionando
as disciplinas de História e Geografia. Em 1949 foi examinador do
Ginásio “Desembargador Antonio Costa” e já exercia, também, o
cargo de postalista dos Correios e Telégrafos. Em 1950 passou a
lecionar no Colégio Diocesano, passou também a lecionar no Colégio
Estadual do Piauí, ministrando aulas de Geografia Geral para várias
turmas. Em 1956 foi nomeado para a Escola Normal “Antonino
Freire”, passando a dirigi-la. Em 1966 pediu demissão a fim de
disputar as eleições para deputado estadual. No governo “Chagas
Rodrigues” exerceu o cargo de Secretário de Educação, Cultura e
Saúde e permaneceu até o governo “Tibério Nunes”. Foi um grandioso
secretário de Educação e conseguiu várias obras para nossa cidade.
Afrânio Nunes decidiu morar no Rio de Janeiro, para onde se
mudou com a mulher, senhora Camélia de Alencar Nunes, e seus
filhos: José Neto, Adolfo, Cassandra, Sônia, Lucilene e Afrânio Filho,
que faleceu precocemente. No Rio de Janeiro exerceu a profissão do
magistério, mas não se adaptou e retornou para Teresina.
Depois do magistério, uma das grandes vocações de Afrânio
Nunes foi o esporte. Era um habilidoso desportista.
Quando estudante em Floriano, fundou o Infantil Futebol Clube.
Contudo, em 1947, reunindo-se com amigos, fundou o River Atlético
Clube, um grande clube. Em 1954, Afrânio Nunes assumiu a
presidência do clube, conquistando os campeonatos estaduais de 1954,
1955, e encerrando seu biênio. Retorna ao comando do tricolor
piauiense em 1958, realizando um dos seus maiores anseios: a
construção da sede social, conquistando, com muito mérito, os
Euzeni Dantas Nunes

campeonatos estaduais de 1958, 59, 60, 61, 62 e 63, consagrando o


River hexacampeão piauiense, e depois de dois biênios retornou ao
comando do time em 1972, pois o River estava há nove anos sem
nenhuma vitória e o professor Afrânio Nunes retornou como presidente
no biênio 1973 e 1975, com grandes conquistas, sendo consagrado
pela torcida riverina.
Em 1946, filiou-se à União Democrática Nacional, herdando a
veia política do seu tio, senador Luís Mendes Ribeiro Gonçalves. Em
um tempo de redemocratização do país, ele assumiu o Departamento
Estudantil da nova agremiação política e com o tempo integrou o
diretório estadual e permaneceu de 1950 até a sua extinção, quando
se filiou à ARENA, em 1966. Deputado Estadual por quatro mandatos,
venceu os pleitos em 1966, 1970, 1974 e 1978, com expressivas
votações. Participou de importantes comissões na Assembleia
Legislativa, presidindo a Comissão da Educação no decorrer de seis
anos, membro da mesa diretora nos biênios: 1968/69, 1977/78, como
1o secretário, e 1973/74 como 2o secretário, líder da ARENA em 1975/
76, e presidente da Assembleia Legislativa no biênio 1979/1981, sendo
um exímio estrategista conciliador, assumindo o governo do Estado
em outubro de 1979.
Afrânio Nunes foi um dos parlamentares mais atuantes na sua
época. Durante esse tempo, a cidade natal Amarante cresceu e se
desenvolveu, pois trouxe inúmeras benfeitorias, as quais podemos
citar algumas: Hospital Regional de Amarante, Unidade Escolar
Polivalente, CSU, Regional de Saúde, Avenida Afrânio Filho, Centro
de Educação Física Avenida Dirceu Mendes, etc.
Filiou-se ao PDS, porém não se reelegeu em 1982 e abandonou a
política estadual, sendo então nomeado Conselheiro do Tribunal de
Contas do Estado pelo governador Lucídio Portella, onde tomou posse
em 04 de fevereiro de 1983 e permaneceu até a sua aposentadoria
compulsória.
Professor Afrânio Nunes, um homem detentor de uma grande
erudição, empreendeu viagens por vários países, como: Portugal,
Espanha, França, Itália, Alemanha, Inglaterra, etc.
Piauí em Letras - 3

Preparou o seu herdeiro Adolfo Nunes para sucedê-lo na política


e o elegeu deputado estadual por três mandatos.
Um dos seus grandes sonhos era ser prefeito da sua terra natal
Amarante e candidatou-se em 1988 pelo PMDB, sendo três
candidatos: João de Miranda Peixoto, pelo PDC, com 4.240 votos,
Afrânio Messias Alves Nunes, com 3.765 votos perde a eleição; e
José Professor Pacheco, do PT, com 247 votos. Amarante perdeu uma
grande oportunidade de ser uma das maiores cidades do Piauí, com
um prefeito que tinha amor à sua terra natal: Afrânio Nunes.
Afrânio Nunes tinha também amor à literatura. Publicou o livro
HOMENS E FATOS DO MEU TEMPO (1991). Fundou e foi
presidente da Academia de Letras do Médio Parnaíba, sediada em
Amarante. Considerado um baluarte da política, foi importante no
processo de modernização e desenvolvimento do Piauí. A sua trajetória
merece ser reverenciada e ficará eternizada nos anais da nossa
historiografia.
Morre um grande homem, porém permanece uma grande
história.
Obrigada, professor Afrânio, por ter me dado a oportunidade
de conviver consigo pela sua amizade, afeição e carinho!
Euzeni Dantas Nunes

É o Tempo
O tempo passa velozmente,
escorrendo entre nossos
dedos febris.

Sem controle.
Sem noção do tempo
Vamos Vivendo
No tempo...

E o tempo gira, gira, gira


Surgem as reflexões.
E de repente quando
nos damos conta:

Um dia passou
Uma semana passou
Um mês passou
Um ano passou.

Nossos filhos cresceram,


amadureceram e se esvaíram.

O que fazer? É o Tempo!


O tempo vem sem limites
trazendo-nos momentos
únicos e eternos, nada o detém.
Nada volta...
Piauí em Letras - 3

Nesta busca interminável de entender


o tempo vamos vivendo:
De desamor
De amor
De momentos
De decepções

Aprendendo com o tempo a valorizar


a ser feliz, amar, sofrer e chorar.

Oh tempo que corre


Como um rio, desbravando campos
e veredas, sem limites.

Porém é o Tempo.
Pergunto ao tempo:
Pra onde vamos?
Qual o sentido?
Por que essa pressa?
E uma voz ecoa no meu ouvido:
Apenas VIVA
Seja FELIZ

Aproveite seu Tempo.


Não há Retorno.
Muitas indagações e inquietações

Fazer o quê?
É o tempo!
Senhor da Razão.
Então Me Contento!
Com o Tempo.
Euzeni Dantas Nunes

Procura em Vão!
Andei nas ruas em busca de algo.
Algo que procuro e não sei defini-lo.
Procurei nas veredas e vielas, mas não encontrei
Foi tudo em vão
Procura em vão.
Dias e dias perdidos
Saudade em vão
Tempo em vão.

Continuei a procurar uma nova forma de amar.


Sou nas calçadas da noite uma andarilha.
Em busca de quê?
Do nada!
Busca incessante
Coração palpitante
Noite traiçoeira
Mas é minha companheira
Nesta busca infernal.
Vida!
Traição...
Ilusão...
Paixão...
Vida em vão
Procura em vão
Sonho em vão e tudo foi apenas uma ilusão.
Piauí em Letras - 3

Eva Graça Maria de Brito _ É


natural de Alagoinha do Piauí e
residente na cidade de Picos-PI,
onde atua como professora ativa
do quadro de efetivos da Secretaria
de Estado da Educação.
Apaixonada por livros e vislum-
brando as múltiplas possibilidades
que a leitura e a cultura podem
trazer à vida do ser humano, tem
contribuído para desenvolver e
participar de atividades de
fomento à sua prática, como, por
exemplo, o Projeto “LER É BOM, EXPERIMENTE!”. Em 2012 foi
uma das professoras piauienses semifinalistas da OLIMPÍADA
BRASILEIRA DE LÍNGUA PORTUGUESA, na categoria POEMA.
Em 2018 participou da Coletânea Poética PIAUÍ EM LETRAS 1, em
2019 das Coletâneas PIAUÍ EM LETRAS 2 e LITERARTE CELEBRA
O NORDESTE BRASILEIRO, esta, lançada em capitais da região
Nordeste, e na 4a Expo Itinerante da Literarte em Genebra, na Suíça.
No primeiro semestre de 2020 participou da Antologia VOZES
FEMININAS, lançada na 4a Edição da Feira Double, durante o
Primeiro Fórum Literarte, no Dia Internacional da Mulher, em São
Pedro da Aldeia, no Rio de Janeiro. Para conhecer mais sobre os
escritos da autora, acesse sua página no site RECANTO DAS
LETRAS, no endereço: https:// www.recantodasletras.com.br/autores/
greyssy. Sob a óptica da linguagem poética, apresenta-se aqui na
sequência, evidenciando o seu nome em leitura vertical, o poema
acróstico Eva Graça Brito, escrito pelo seu conterrâneo, poeta, escritor
e amigo Samuel Nascimento, a quem a autora aplaude pela inspiração/
sensibilidade, amizade e especialmente pelo fato do poema integrar
uma das obras literárias do referido autor.
Eva Graça Brito

Eva Graça Brito

Entre poemas, uma canção de luz,


Versos que ecoam sentimento.
Amante dos livros e das artes.

Graça traz no nome e no sorriso,


Raramente chora. Não desiste.
Alegre, planta flores no caminho do bem.
Celebrando a leitura com amor,
Abraça os sonhos em defesa da vida.

Brasileira, guerreira, mãe, mulher.


Romântica, jovem, professora, amiga.
Irmã do saber, das letras e da natureza.
Transmite paz e transborda alegria.
O teu nome é Eva. Eva Graça. Eva Poesia.

Samuel Nascimento. Acróstico: Eva Graça Brito. In: Para Todos o


Amor, Teresina: Nova Aliança, 2018, p.40.
Piauí em Letras - 3

Minha Mãe

Lindo reflexo do amor de Deus


na vida dos filhos seus!
Na condição de ser humano,
sei que ela é falha e imperfeita,
mas, como minha mãe,
para todo o sempre foi eleita,
como a criatura mais bondosa,
guerreira, admirável e perfeita!

Elvis
Ser humano lindo e especial,
motivo do meu riso mais bonito,
amor sublime e incondicional,
sempre o meu melhor amigo!

Na estrada da vida, companheiro,


força nos momentos de fragilidade,
o mais dileto e adorável cavalheiro,
principal razão da minha felicidade!

Meu porto seguro, meu raio de sol,


o ápice dos sonhos já realizados,
meu melhor crítico, escudo e farol,
ou simplesmente Elvis, filho amado!
Eva Graça Brito

Assédio Sexual

Alto lá!
Abaixo o discurso!
Não é certo, não é justo,
trocar figurino, alterar percurso,
por causa de assediadores
atrevidos e inconsequentes,
que ficam à espreita
pra mexer com a gente!
São gestos, palavras e atos,
que causam repulsa,
é assédio sexual,
violência estúpida
e não é nossa culpa!
Preste bem atenção
para não esquecer!
As nossas vestes,
o nosso modo de ser,
quaisquer caminhos
que estejamos a percorrer;
não autorizam eles,
ninguém, nem você,
ousar nos culpabilizar
e criminosos proteger!
Piauí em Letras - 3

Intempérie

A Fábrica de Ilusões desmorona-se.


Estilhaços resvalam em nossas mãos,
o encanto de outrora, agora é pranto
e sufocado pelas práticas insanas,
o grito de guerra de bravos entusiastas,
no auge da intempérie, já emudeceu!
O Ogro Insano e seus fiéis comparsas
foram “um por um” desmascarados,
mas, lamentavelmente, ainda avalizados,
insistem em guiar o trem desgovernado.
Ó, Pai! Livra-nos do próximo round!
maio/2020

A Quadrilha Explica

Eu, insensível?
Indiferente ao amor?
Não! Estes rótulos
no contexto não se aplicam!

Às vezes a gente tenta,


mas nem sempre a gente fica,
a quadrilha de Drummond,
perfeitamente, isso explica!
Eva Graça Brito

Rebelião no Cárcere

Adentrou sorrateiramente em meu caminho


com promessas de amor, aconchego e carinho,
tal qual ópio em demasia,
mimos que me entorpeciam!

E na imersão das chamas da paixão,


o cupido flechou meu insensato coração,
conduzindo-me a um enlace precipitado,
tortura à vista, rumo a um cárcere privado!

Oh! Estúpido cupido!


Antes, “sonhos, risos, promessas de paraíso”,
agora só me restou desilusão, pranto e dor!
Oh! Cárcere descomunal!
A violência psicológica tornou-se habitual.
Oh! Quanto pavor, quão inclemente é o ritual!
Oh! Cárcere maldito!
Sem vez, sem voz, sem motivos para risos,
que desatino!
Rebelo-me, pois não aceito este destino!

Desafio o medo,
o conformismo, o previsível,
rompo o silêncio e faço ecoar meu grito,
mas neste cárcere eu não fico!
Promovo aqui uma rebelião,
quebro as algemas da submissão,
viro tudo pelo avesso,
pra conquistar a vida que mereço!
Piauí em Letras - 3

A Vida
A poesia mais bonita,
inebriante e bendita
é a dádiva da vida.
Por isso, sorria,
compartilhe alegria
e faça jus todo dia!

Viva plenamente,
celebre cada instante,
preserve a vida agora,
muito mais que antes,
vista-se de empatia,
ame seus semelhantes!

Para viver plenamente


se preciso for,
transforme em coragem
as cicatrizes de dor,
ultrapasse fronteiras
e transborde de amor!

Devaneios x Lucidez
Na ficção da minha alma
devaneios não me faltam!
Vislumbro uma luz que reluz,
sinto um perfume diferente,
coisas que muitos não veem
e também não sentem!
Para não sucumbir em meio ao caos,
fantasio histórias, vivencio carnavais!
Alguns desfilam na minha avenida,
mas na lucidez, os enredos pobres
nunca ganham vida!
Eva Graça Brito

Aplausos, Querida Família Brito


Aplausos aos meus, aos seus,
aos nossos queridos antepassados,
que corajosamente se aventuraram,
grandes mares navegaram
e no “Porto Seguro” e feliz da nossa Pátria
com muita ousadia adentraram!
Na bagagem sonhos idealizados,
diversos caminhos trilhados,
enlaces consumados, suor derramado,
solo brasileiro mais fertilizado!
Aplausos aos antepassados da Família Brito,
pois, segundo constam os apontamentos,
respaldados no registro e na memória,
em nossa terra essa família fez história!
Aplausos, querida Família Brito,
pela multiplicação da sua prole,
por deixarem um elo nobre, um legado forte!
Aplausos pela trajetória, pelo sobrenome,
pioneirismo, resistência e independência,
sua essência, seus principais sinônimos!
Aplausos, muitos aplausos
para todos os que hoje assinam o Brito
e também para os futuros descendentes,
herdeiros desse histórico tão bonito,
para que façam jus, que sigam o rito,
e, com amor, escrevam os novos capítulos!
Piauí em Letras - 3

F. Gerson Meneses (Francisco


Gerson Amorim de Meneses) _ É
natural de Piracuruca-PI. Filho de
Antonio Francisco de Meneses e de
Zilmar de Amorim Meneses, pai de
Teresa Evelin e Antonio Neto. Ex-
militar do Exército Brasileiro,
atualmente é Professor de
Informática do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia _
(IFPI/Campus Parnaíba-Piaui). É
graduado em Ciência da
Computação _ (UESPI), com
especializações em Análise de
Sistemas UESPI e em Banco de Dados _ (CEFET), mestre em
_
Ciência da Computação _ (UFF) e doutorando em Biotecnologia _
Rede Nordeste de Biotecnologia (RENORBIO). Pesquisador de
Computação Aplicada, com projetos de pesquisa nas áreas de Gestão
do Conhecimento, Lógica Fuzzy, Biblioteca Digital, Cloud Comput-
ing, Geoprocessamento, Computação Gráfica e Biotecnologia.
Destaque para a Computação Visual aplicada na Neurociência
Computacional, onde estuda padrões em imagens do cérebro e
Arqueologia Computacional, com estudos voltados para arte rupestre.
É autor das obras: Um pouco sobre minha terra (2000), Aventura na
pedra do índio (2001), Aqui me tens de regresso (2003) e Versos retos
de um poeta torto (2018). É editor-chefe e proprietário do periódico
Revista Ateneu, além de idealizador e mantenedor do Portal Piracuruca
(www.portalpiracuruca.com), que desde 1999 divulga a exuberância
de cenários, a cultura, a história, os mistérios, a pré-história, as lendas
e as curiosidades do Piauí. É escritor, poeta, cordelista e contista.
Atualmente, assina uma coluna no jornal cultural parnaibano O
Piaguí.
F. Gerson Meneses

Lampejos de ti

Quantas vezes tu somes de mim


envultada nas brumas de um devaneio,
de tantos consigos eu sonho assim,
desperto avulso do meu sono alheio.

É caro o artífice que te fez existência,


na maestria dos traços gastos contigo,
és imagem perene na minha vivência,
apreços longínquos e querer-te antigo.

E não ocorrendo pouco martírio,


você sendo a ela que tanto desejo,
está deste modo consumado o delírio.

Sem contentar-me com esses lampejos,


retomo fulgás de encontro à quimera,
adormecendo e surtando ao som da espera.
Piauí em Letras - 3

Respeitável público, vai começar o circo da


escandiliça

A chegada do circo, com certeza, é uma das maiores novidades


nas cidades do interior, na histórica Piracuruca isso não é diferente,
principalmente em meados dos anos 1980, quando as opções para
divertimento e entretenimento eram bem menores do que hoje.
Naquela época, quando não era o circo era o parque de diversões,
com as suas rodas gigantes, ótimas para menino malino, que gostava
de cuspir lá de cima e ficar olhando o percurso bombástico do cuspe,
até “explodir” na cabeça de alguém.
Foi nesse pano de fundo que chegou à cidade um pequeno circo
e se instalou no morro do Patronato, onde hoje foi construída a Praça
Madre Gurgel. Logo a criançada ficou desconfiada, pois não se via
palhaço da perna de pau nas ruas jogando bombom e perguntando:
“hoje tem espetáculo?”, e, assim, a gente não gritava: “tem sim sinhô”.
Era um mistério, também porque não havia animais no circo, algo
muito comum naquela época. Tudo era diferente e todos ficavam se
perguntando: “mas o que é mermo que tem nesse circo?’’.
Noite da estreia, estava assim: uma parte da meninada aposta
para comprar os ingressos e a outra buscando um lugar estratégico
para ver o espetáculo clandestinamente, dando aquela sutil levantada
na lona do circo. Foi quando de repente surgiu um boato: “num é
paiaço não, é filme de muié nua que vai passar”. E, agora, uma
mistura de sentimento na cabeça dos “culumim”: “eita negrada, será
que nóis pode ver? Será que o home deixa entrar? E se o papai suber?
Rumbora entrar negrada, rumbora? Bora! Bora! Bora!.
E foram. Entraram meninos, jovens, velhos e todos aqueles
que quiseram, bastava comprar o ingresso, que custava alguns poucos
Cruzeiros. Era mulher, era homem se olhando, desconfiados e ansiosos
para ver o “espetáculo”, que, além de tudo, era novidade, muito mais
do que palhaço, trapezista, mágico e roda gigante. Era um monte de
F. Gerson Meneses

gente conhecida que conversava pelo olhar, dizendo uma para outra:
“não tou te vendo e faz o favor de não me ver também!”.
O picadeiro (sem duplo sentido) estava com um grande pano
branco, e na sua frente, a uns 7 metros, tinha uma máquina, um projetor
de cinema bem sucateado, com o seu rolo de filme saliente e no ponto
de bala. Uma platéia se aglomerando e sorrindo cinicamente se
acomodava de acordo com o preço do ingresso, nas cadeiras, que era
o local mais caro, e por trás, numa arquibancada de madeira muito
desconfortável, conhecida como “galinheiro”, ficavam os mais
descapitalizados.
Com o pequeno espaço lotado, de repente a luz se apaga, eita...
suspense. Em fim, começou o filme, e tome “escandiliça”. O som da
saliência era alto, mas não abafava os comentários rasteiros e nem os
sorrisos envergonhados. Era um ambiente estranho, as senhoras
tampavam os olhos em alguns momentos, mas a grande maioria da
plateia mesmo os tinham arregalados e sem piscar, o coração era
querendo sair pela boca e o calor miserável fazia “nego” suar igual
chaleira.
No decorrer da noitada cinematográfica, outras pessoas
entraram para assistir, sabe-se lá se pagaram ou não, virou de fato um
grande circo. Nesse adjunto, a empreitada “pornocircense” seguia
em meio a orgasmos falsos dos atores e espasmos verdadeiros da
plateia. O ambiente estava ficando mentalmente e fisicamente
apertado, mas o pior ainda estava por vir.
De repente, no meio de uma cena quente e ofegante, com todo
mundo envolvido naquele rebuliço tântrico, a pressão aumentando, o
gemido também: é agora, é agora e... pá, um grande barulho e pessoas
no chão, umas por cima das outras, numa mistura de gargalhadas e
lágrimas. Lembram do “galinheiro”? Pois é, ele não aguentou a tensão
e acabou ejaculando todo mundo, o “pau do galinheiro”, uma das
tábuas que serviam de assento quebrou devido ao peso.
Os olhares de todos agora eram para o epicentro do desastre, onde
o respeitável público estava em pior situação. Assim, do meio dos
acidentados, se levanta um casal já de certa maturidade, bem conhecido.
Piauí em Letras - 3

na cidade, até então os dois estavam estrategicamente camuflados na


plateia. Difícil mesmo é expressar o tamanho da vergonha observada
em seus rostos. O filme ainda gemeu por uns minutos e foi desligado,
não tinha mais clima para essa noite tão diferente e, acima de tudo,
de pia. O povo foi pra casa, o circo também, já a Piracuruca, essa
continuou, com mais essa pérola para enriquecer seu vasto acervo de
acontecimentos hilários.

***
A república do Nordeste
Rumbora ser um país,
num ramo ser besta mar não,
na ONU ser uma nação
e cuidar do nosso nariz.
Nosso hino rai ser chão de giz,
Lampião nosso prisidente,
nosso idioma é o oxente,
pra mode nóis ser sabido.
Nóis semo é distimido,
aletrado e pra frente.
F. Gerson Meneses

O garoto que colecionava santos


Existem pessoas que têm mania de colecionar coisas e essa
paixão já se manifesta desde cedo, naPiracuruca do início dos anos
1980 havia um garoto que colecionava tudo, desde tampas de
refrigerante com os jogadores da copa de 1978, carteiras de cigarro,
distintivos de times de futebol, selos, passarinhos e até santos. Santos?
Sim, não podia ver um calendário, retrato ou qualquer desenho de
santo que ele já ia colocar em um quadro e depois alinhar junto aos
outros da sua coleção.
Tinha Santo Antônio, São Francisco, Santa Luzia, Santa Teresi-
nha e por aí vai. Sobre essa última, a relação se tomou duradoura e
até mesmo devocional. tudo começou em uma aula da disciplina
Religião, no Ginásio Presidente Castelo Branco, quando em um certo
dia a professora resolveu falar de Teresa de Lisieux, uma freira
francesa que faleceu com apenas 24 anos e se tornou a Santa Teresinha
do Menino Jesus. A história de vida da santa comoveu o garoto, que
após a aula procurou a professora para saber mais detalhes sobre Teresa.
O interesse aumentou quando a professora deu a ele uma imagem
da santa, de presente. Foi o suficiente para o garoto e a santa começarem
uma amizade muito próxima, que transcendia o lado religioso. Mas
que, por outro lado, era uma confiança que creio ser isso, o que
chamamos comumente de fé. Daí em diante, numa série de situações,
estão os dois, em uma conversa sobrenatural que às vezes se torna bem
constante. São idas e vindas cheias de encontros, desabafos e partilhas.
Cabe aqui o destaque para alguns desses momentos.
Quem viveu sua meninice nos anos 1980 lembra bem de uns
álbuns de figurinhas que eram vendidos no comércio. Na verdade, o
interesse de todas as crianças não era só completá-los com todas as
figuras, era, sim, ter a sorte de tirar uma figura premiada, o que era bastante
difícil. Eram prêmios simbólicos, como: jogo de damas, bonecos, bolas.
De fato, o importante mesmo era o prazer de “tirar uma chave”,
como a meninada falava, para depois sair falando de maneira afobada
para as outras crianças. Diante desse desafio de “tirar uma chave” de
um pacote de figurinhas, o garoto recorreu para a sua amiga, e duma
Piauí em Letras - 3

singela oração veio uma grande confiança que o fez abrir o pacote e,
para a sua certeza, estava lá a “chave”. Isso aconteceu por mais uma
vez. Sem querer abusar da bondade da sua amiga, o garoto se contentou
com os dois prêmios e veio então a certeza: “agora eu tenho uma
amiga para todas as horas”.
O garoto continuou aperreando sua amiga, até mesmo para dar
uma força nos jogos do Flamengo e para ela não deixar o Zico ir
embora para a Udinese da Itália, infelizmente isso não teve jeito. O
tempo passou e um momento muito marcante foi quando o já quase
adulto teve que “sentar praça”. De tanto ouvir o pai falar dos tempos
de caserna, despertou esse forte sonho de também servir ao Exército
Brasileiro. Naquela época, início dos anos 1990, era concorrido.
Mesmo assim, o agora recruta conseguiu uma vaga entre os 99
fuzileiros da 2a Cia do 25° BC em Teresina-PI. Tão logo iniciou o
serviço militar, surge a notícia no Batalhão: “vão construir uma Capela
no quartel e será em homenagem a santa Teresinha”.
Por muitas vezes o recruta teve que trabalhar na construção da
Capela, desde os alicerces até a colocação do sino. No entanto, dois
episódios aconteceram que ficaram em sua memória. O primeiro deles
foi em uma madrugada, quando estava de serviço na guarda do
alojamento. Ressalta-se que, estando de guarda, o soldado não pode sentar
e nem ao menos se encostar, a postura correta é em pé e sempre atento.
Já passavam das 2 horas quando um outro soldado da guarda o
convidou para descansar um pouco, sentar e conversar. Relutante, a
princípio o recruta continuou na sua postura, mas, instantes depois,
veio aquela vontade irresistível de sentar e relaxar um pouco. Uma
transgressão que, caso fosse descoberta, iria lhe custar uma punição.
Mesmo assim, ao avistar um banco, assentou-se e quase no
mesmo instante veio uma vontade inexplicável de olhar para cima,
foi quando viu um clarão no teto do alojamento, no susto ele se
levantou e uma mistura de medo e curiosidade tomou conta da sua
mente. Ele então foi para o outro lado do alojamento e, ao encostar-
se próximo à janela, olhou novamente para cima e viu o clarão mais
uma vez.
F. Gerson Meneses

Admirado desse fenômeno, o recruta recebeu a visita do


Sargento que fazia a ronda, exatamente verificando se encontrava
algum guarda sentado ou encostado. Imediatamente, o recruta
imaginou que os clarões eram avisos para ele não relaxar no serviço,
pois, se assim o fizesse, receberia uma punição. Veio então em sua
mente a lembrança da sua amiga Teresinha, como sendo ela que tivesse
encontrado um meio de ter lhe, alertado que o sargento da guarda
estava por vir, fazendo a ronda.
Tempos depois, era um outro dia de guarda, dessa vez numa
guarita, próxima às obras da Capela, numa madrugada escura e
chuvosa. Em um momento de descanso no alojamento do corpo da
guarda, o recruta sentiu falta do seu relógio, o mesmo havia quebrado
a pulseira e por um descuido se desprendeu de seu braço durante a
marcha de volta para o corpo da guarda.
Em um impulso quase que guiado, o recruta saiu do corpo da
guarda e foi até o local da construção da Capela, distante uns 150
metros. De forma inexplicável, diante de uma escuridão que não se
via nada, ele colocou o seu braço em meio às pedras que seriam usadas
para o alicerce e apalpou justamente o relógio. Ao chegar de volta ao
alojamento, não conseguiu mais dormir, imaginando o quanto
Teresinha o havia direcionado para o lugar certo, no meio de um
cenário improvável.
Depois de sair do exército, ainda fez várias visitas à Capela de
Santa Teresinha no 25° BC, principalmente nos momentos difíceis,
em que ia conversar e, em oração, tentar ouvir algum direcionamento.
Em Teresina morou em um bairro cuja padroeira era santa Teresinha,
era lá onde ele se congregava. A vida segue, e depois de um sério problema
de saúde, que lhe acompanhou 5 longos anos, outros tantos problemas
e também vitórias, a amizade entre os dois. permanece, em tempos
mais próximos, em outros mais distante. Da coleção de santos,
Teresinha foi a que permaneceu e continua nesse mistério que só
Deus pode explicar.
Piauí em Letras - 3

Glauce Barros Santos Sousa


Araújo _ Nasceu na cidade de
Canto do Buriti-PI, filha de
Alberto Barros Monteiro e
Isabel Maria Santos Monteiro,
casada com Silvino de Sousa
Araújo, tem um filho, Flávio
Silvino Barros de Sousa Araújo.
Mora na cidade de Floriano-PI
desde um ano de idade.
Licenciada em Letras/Português
e Pedagogia, e especialista em
Teoria do Texto e Literatura de
Língua Portuguesa, espe-cialista
em Gestão Escolar, e
especialista em Coordenação
Pedagógica e especialista em Psicopedagogia nos Processos de Ensino
e Aprendizagem. Mestra em Ensino pela Universidade do Vale do
Taquari no Rio Grande do Sul, doutoranda em Ensino pela
Universidade do Vale do Taquari no Rio Grande do Sul. Escritora
sócia benemérito da Academia de Belas Artes do Vale do Parnaíba _
ALBEARTES, na cidade de Floriano-PI. Escritora do livro de poesias,
lançado no ano de 2019, intitulado como “Olhares, Vozes e Poesias”.
Funcionária Pública do Estado do Piauí desde 2003. Atualmente
exerce a função de Técnica Educacional da 10a GRE e docente na
Faculdade de Floriano (FAESF). As poesias aqui traçadas são
marcadas pelos sentimentos introspectivos, onde a solidão, o
sofrimento e a dor são revelados como pontos fortes do sentimento e
da alma poética da escritora. O amor é retratado em sua essência
triste e melancólica, e as escritas intimistas faz com que os pensa-
mentos e sentimentos dos leitores sejam aguçados e percebidos nas
mais diversas sensações e interpretações, pois o amor e a dor são
elementos indissociáveis na natureza humana.
Boas leituras!
Glauce Barros

Desilusão
A ingratidão e o desprezo andam juntos
No viés e no ponto de cruzamento
Na conduta e nos atos insanos
Dos indivíduos sem escrúpulos e sem coração

Como agir tão diferente de você


Se sua conduta afeta o ponto mais alto do ser
Os sentimentos se confundem e rebelam
Constantemente na vida e no pulsar do querer

A solidão se faz presente todos os dias


Como um trem descarrilhado e sem direção
Como uma bala certeira na alma e coração
Deixando sempre rastros de tristeza e sofreguidão.
Piauí em Letras - 3

Confusão
Sinto algo diferente e esquecido
A ânsia do meu corpo só aumenta
Fazendo da minha alma e pensamento
Confusões intensas e atormentadas

O calor e o agito quente do sangue


Leva o meu corpo estremecer
Deixando-me tonta e agitada
Sem rumo, sem direção e saída

O medo começa a assolar o meu corpo


Deixando a minha mente enlouquecida
Fazendo as minhas atitudes e ações desconexas
Sempre no vazio, no eco e desespero
Glauce Barros

Colapsos

As rupturas de uma mente intensa


Faz do seu ser inerte e sem vida
Paralisado, oculto e doente
Trêmulo, confuso e revolto

Os pensamentos e sentimentos se confundem


Como peças desordenadas no tabuleiro
Mentes e corpos não se alinham
A cada instante se embaralhando

Os colapsos e choros não dão trégua


Fazendo de sua existência triste e melancólica
Deixando elementos e marcas no seu peito
De maneira sofrida e angustiante

As confusões presentes na mente


São angustiantes e a dor latente
O peito chora e a alma lamenta
Tanta desordem e uma vida doente
Piauí em Letras - 3

Silêncio da Noite
No silêncio da noite os choros são mais intensos
Nas diversas madrugadas os gemidos são profundos
Calados, silenciosos e muitas vezes intempestivos
Suprimidos e escondidos como querendo fugir

No silêncio da noite as dores são agudas


Não se vê saída e nem solução para os problemas
Quantos sentimentos e confusões são norteados
Na mente, no pensamento e em sua história

No silêncio da noite os sofrimentos são excessivos


Quietos, mudos e muitas vezes tácitos
As visões se tornam turvas e incompreensíveis
Apenas o lamento e o grito de um coração ardente
Glauce Barros

Partida
Os sentimentos estão confusos e perturbados em minha mente
Estão sem rumo, sem direção e caminho
Querendo encontrar a paz perdida em seus atos
Querendo acalento, segurança e aprisco

Não consigo assimilar direito o que se passa


A sua indiferença me faz desistir da vida
Dos nossos risos, dos abraços e promessas ditas
Da nossa história e de tudo construído juntos

As malas já estão prontas para partida


Olho para trás e não vejo saída
Apenas o meu peito marcado pela dor
Carregando comigo a tristeza de uma despedida
Piauí em Letras - 3

Presença

Sinto a sua presença viva em meu peito


O meu corpo sente a sensação de seu abraço
A minha boca ainda sente o gosto de sua boca
Ainda sinto os seus abraços fortes me envolvendo

Tão louco e ao mesmo tempo tão triste


Ainda sentir a sua falta depois de tanto tempo
Como entender esses sentimentos que se instalam
Em nosso corpo, mente e pensamento

Será se essas sensações e turbilhões de sentimentos terão um fim?


Será se ainda conseguirei viver sem ter você aqui?
Será se encontrarei um amor tão forte e cativo?
Assim como você, tão vivo e persistente em meu ser.
Inácio Marinheiro

Sensações

Tão perto e distante te sinto em meu peito


Não sei ao certo o que passa dentro de mim
Às vezes me pego calada e sozinha
Em outros dias sorrindo e a alegria
Permanecendo viva e pulsante em meu ser

Não sei ao certo o que passa em meus sentimentos


Sinto-me desacompanhada mesmo tendo você por perto
Desnorteada, sem rumo e incompleta
Desnudada a minha alma se encontra a cada instante
Perdida em sua ausência e em teu corpo desmedido

Será se o teu coração é assim tão frio e perturbador?


Que não se abala com as circunstâncias e com traçados de dor
Nem um balbuciar é propagado em sua boca
O silêncio e a falta de atitudes permanentes
Fazem no meu coração rastros de desilusão e descontentamento
Piauí em Letras - 3

Inácio Marinheiro de Oliveira _


Filho de Antonio Marinheiro da
Costa e Adalcina Alves de Oliveira
Costa, nasceu no sertão da Paraíba,
exatamente na cidade de Patos, em
21 de janeiro de 1948. Formado em
Administração de Empresa pela
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN);
Licenciado em Geografia e em
Teologia pela Universidade Federal
do Piauí (UFPI), com Pós-
Graduação em Administração de
Recursos Humanos também pela
UFPI, em Administração Hoteleira
pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). Em 1969 cursou a
Escola de Sargento das Armas (ESA), em Três Corações/MG na
formação militar, e o Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio
de Janeiro/RJ, onde concluiu o Curso de Tecnologia de Construção e
exerceu as funções de Auxiliar de Administração e Laboratorista de
solo e concreto, de abril de 1970 a dezembro de 1971, quando foi
transferido para o 3o Batalhão de Engenharia de Construção (3o
BECnst), em Picos/PI, onde chefiou o Laboratório de Solo e Asfalto
em várias frentes de serviço na construção de estradas do Piauí, Ceará
e Maranhão. Aproveitou para cursar Contabilidade nas cidades de
Valença e Picos, também lecionou Matemática Financeira na Escola
Comerciai de Picos. Em 1976 foi transferido para o 3o Batalhão de
Engenharia de Combate (7o BECmb), em Natal/RN, onde exerceu as
funções de Comandante de Pelotão, Instrutor Militar, Encarregado
de Cozinha, Encarregado de Almoxarifado e de Serviços Gerais.
Também participou das competições como atleta de corrida. Em sua
estadia em Natal cursou Administração de Empresa na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, concluindo o curso em dezembro
de 1980. No ano seguinte foi promovido a 2o Sargento e foi transferido
para a 4a Divisão de Levantamento (4a DL), em Manaus/AM, onde
trabalhou na organização do Setor de Pessoal. Durante sua estadia
Inácio Marinheiro

foi professor de Administração na Escola Normal Ajuricaba. Em 1982


foi aprovado nos concursos para o cargo de Auditor Fiscal da Receita
Federal e da Secretaria de Fazenda do Estado de Pernambuco, tendo
optado pelo primeiro. Após treinamento em Brasília, assumiu o cargo
da Delegacia da Receita Federal em Teresina em dezembro de 1982.
Ali desenvolveu diversas atividades, como Chefe de Cobrança,
Fiscalização Externa, além de ser membro permanente da
Coordenação de Auditoria e Correição em Brasília, pela qual viajou
por todo o Brasil realizando Auditorias Sistêmicas e Sindicâncias. A
partir de 1994 passou a fazer parte da Equipe de Investigação
Tributária. Durante sua estada em Teresina cursou Pós-Graduação
em Administração de Recursos Humanos e foi aprovado no concurso
para professor da UFPI. Em 1996 foi transferido para o Escritório de
Inteligência Fiscal e Tributária na cidade de Fortaleza/CE, onde
trabalhou por um ano, se aposentando em novembro de 1997. Nessa
condição voltou a morar em Teresina e aproveitou para cursar
Licenciatura e Geografia e em Teologia pela UFPI, cursou Pós-
Graduação em Administração Hoteleira pela UESPI, Transações
Imobiliárias pelo Instituto Federal de Educação do Piauí (IFPI), onde
foi membro do Conselho Diretor e Conselho Superior por dois
mandatos, fez Curso de Capacitação para Inventariação da Oferta
Turística pela UFPR, Curso de Regionalização do Turismo pela UFSC,
na qual também cursou Formação de Gestores das Políticas Públicas
do Turismo. No SEBRAE participou do Workshop/Empretec; do
Programa de Desenvolvimento de Lideranças (Sebrae Ideal) e diversos
cursos de Repasse Metodológico, tendo desenvolvido a função de
Instrutor/Consultor durante cinco anos. Fez o Curso Livre de
Habilitação Profissional para Monitores de Escola Família de Turismo,
Hotelaria e Gastronomia, no Movimento de Educação Promocional
do Espírito Santo (MEPES). Dentre outras atividades, foi professor
de Administração de Recursos Humanos na UESPI; de Administração
Financeira no Centro de Educação Tecnológica (CET); Matemática
Financeira e Administração Financeira na Fundação Bradesco; As-
sessor da Secretaria de Turismo do Estado do Piauí. Como voluntário,
foi diretor e professor do Centro Comunitário de Aprendizagem Carlo
Novarese (CCACN), diretor, co-fundador e professor da Escola
Piauí em Letras - 3

Família de Turismo, ambas fazendo parte da Fundação Padre Antonio


Dante Civiero (FUNACI), onde foi membro do Conselho Diretor e
coordenador de Intercâmbio entre aquela Fundação e o Istituto
Professionale di Stato Per i Servizi Alberguieri e Delia Ristorazione
“Giuseppe Maffiolli” (IPSSAR) e Istituto Statale di Istruzione
Secondaria Superiore “Domenico Sartor” _ ISISS, sediados em
Casteflanco/Veneto-Itália. Foi homenageado com a Medalha de
Bronze pelos dez anos de serviço no Exército Brasileiro, a Medalha
Notório Saber Cultural, com três títulos de “Comendador”, um de
“Doutor Honóris Causa em Filosofia Universal, Ph. J, Filósofo
Imortal”, Diploma Mérito Escritor Mário de Andrade e outras
honrarias. Obras publicadas: Descobrindo o Piauí (2009); Cantos,
Encantos e Recantos de Teresina (2012); Parnaíba, a Pérola do
Litoral Brasileiro (2014); Diocese de Parnaíba, 70 Anos em Missão
(2016); Parnárias, Poemas sobre Parnaíba (2017); A Saga de
Adalcina Oliveira e Antonio Marinheiro (2019). Participou dos livros
Lagoa do Camelo _ Navegando nas Lembranças (2017) e Homenagem
aos Vaqueiros e Roceiros _ O Reconhecimento que Faltava (2018),
ambos de Adrião Neto.
Inácio Marinheiro

Visita ao Canadá e Nova York


Após viajar pela Europa, Ásia e América do Sul resolvi conhecer
um pouco da América do Norte e escolhi o Canadá e Nova York,
iniciando a viagem pela província de Ontário, no Centro Leste do
país, onde se encontra 38,3% de toda população canadense. Na
província fica a cidade de Toronto, sua capital, Ottawa, capital do
Canadá, e as cataratas do Niágara.
Nosso passeio teve início no dia 07 de setembro de 2019, pela
cidade de Toronto, onde reside o casal de sobrinhos que nos hospedou
em seu apartamento no 52° andar de um edifício no início da Spadina
Street e muito próximo da margem do lago Ontário. Este é um dos
cinco grandes lagos da América do Norte, o menor em extensão
territorial com 18.960 km2, profundidade média de 86 m e máxima de
244 m e largura máxima de 85 km. Passear pela região do lago é um
privilégio, você consegue sair da correria da cidade grande e caminhar
com segurança e tranquilidade.
No dia que chegamos fomos para o apartamento de onde
descortinamos uma vista panorâmica da região do lago com um sol
convidativo, nem desfizemos as malas, descemos e fomos caminhar
pelo porto, jardins e praças da margem do lago Ontário, com registros
fotográficos inesquecíveis. Em toda extensão do grande calçadão havia
muitas flores e intenso movimento de embarcações chegando e saindo,
banhistas e desportistas frequentadores da praia local, cujo período
de uso vai de junho a setembro. Pelo outro lado uma intensa
movimentação de veículos, uma vez que ali nascem as avenidas mais
importantes da cidade, como Spadina Street, a mais conhecida, e a
Yonge Street, a maior do mundo, que liga o lago Ontário ao lago
Simcoe, numa extensão de 1.896 km. Seu primeiro trecho de 61,6 km
tem início no prédio do Toronto Star na Queens Quay e no seu percurso
abriga numerosas atrações turísticas, tais como: o Eaton Center, o
Duda Square, o Hockey Hall Of Fame, entre tantos outros. Corre, ao
longo da avenida, o trecho da linh Yonge-University-Spadina, indo
até o cruzamento com a Ravenshoe, na cidade de Georgina,
Piauí em Letras - 3

Toronto é a capital da Província de Ontário, sendo a cidade


mais populosa do Canadá com uma população de 2.731.571 habitantes
em 2016. É um centro internacional de negócios, finanças, artes e
cultura e é reconhecida como uma das cidades mais multiculturais e
cosmopolitas do mundo. Tem uma população muito diversificada, é
tida como um dos destinos importantes para os imigrantes no Canadá.
Mais de 50% do residentes pertencem a um grupo minoritário visível
da população de mais de 200 etnias distintas. O inglês é a língua
oficial, mas mais de 160 idiomas são falados na cidade. Em Toronto
está localizada a torre CN, com 533 metros de altura, com um
restaurante giratório com vista panorâmica para toda a cidade.
Por causa dessa diversidade existe uma rádio, “CHIN”, que pode
ser ouvida no mundo todo pelo site: www.chinradio.com ou na grande
Toronto no 1540 AM. Esta apresenta em português uma programação
que vai ao ar aos sábados e domingos, das dezenove horas à meia
noite, levando notícias da comunidade do Brasil e do Canadá, com
entrevistas e também o melhor da música brasileira.
Também em português, o jornal Toronto se tornou uma das
maiores referências da mídia brasileira no Canadá. É uma publicação
mensal distribuída gratuitamente em cinco cidades canadenses.
E, para completar, na Igreja Santo Antonio, localizada na Bloor
Street West, são celebradas missas em seis idiomas: Inglês, Francês,
Espanhol, Italiano, Português de Portugal e Português do Brasil. Por
duas vezes assisti missa lá e em uma delas ajudei fazendo uma das
leituras.
São muitos os pontos turísticos da cidade, citarei alguns que
visitamos: A Center Island, que fica muito próximo da cidade de
onde sai o ferry de meia em meia hora o dia todo, ela tem parques
com área de piqueniques, jardins com belíssimas flores, instalações
para prática de esportes aquáticos, trilhas para bicicletas e para
pedestres, uma completa infraestmtura e uma fantástica vista
panorâmica da cidade de Toronto. O pessoal leva bicicleta, carrinho
Inácio Marinheiro

com tudo que precisa para fazer churrasco nas áreas destinadas a
piqueniques.
O St. Lawrence Market merece uma visita, pois é uma
construção antiga onde se vendem produtos de toda parte do mundo,
sendo um importante mercado público em Toronto. Está localizado
ao longo da Front Street East e Jarvis Street, no bairro de St. Lawrence,
no centro de Toronto.
O St. Lawrence Market foi fundado no início do século XIX,
originando-se de uma proclamação que estabeleceu uma área
designada para um mercado público em 1803. Os primeiros edifícios
erguidos para o mercado surgiram em 1814, com as primeiras
estruturas permanentes construídas em 1820. O primeiro mercado
permanente foi substituído em 1831 pelo primeiro edifício St.
Lawrence Market North. O edifício foi danificado após o Grande
Incêndio de Toronto de 1849 e foi substituído por um novo edifício
em 1851. O espaço da praça do mercado foi usado como prefeitura
de Toronto durante a maior parte do século XIX, ocupando um espaço
temporário no espaço original do mercado de 1834 a 1845. Antes de
ser reformado para uso no mercado, o edifício no St. Lawrence Market
South era usado como prefeitura de 1845 a 1899.
Distrilery District, é uma antiga destilaria transformada num
espaço gostoso para passear, comprar, comer e beber, com registros
fotográficos das belas flores cultivadas no local.
O Distrito Histórico da Destilaria de Toronto está espalhado
por 13 acres, compreendendo 40 edifícios históricos e 10 ruas. Este
recinto é um excelente exemplo de preservação histórica combinada
com opções de entretenimento contemporâneas. Embora seja
conhecido por possuir a maior coleção de arquitetura industrial da
era vitoriana da América do Norte, o Distillery District também abriga
locais de espetáculos, lojas de artesanato, restaurantes premiados e
galerias de arte. Essa área exclusiva para pedestres é considerada
uma das atrações turísticas mais quentes do país e é ainda mais popular
devido à sua curta caminhada do centro de Toronto.
Piauí em Letras - 3

O coração do distrito é a Destilaria Gooderham and Worts,


fundada em 1832 e que já foi uma das maiores do mundo. O distrito
iniciou uma espiral descendente até o abandono do final do século
XX, e não foi até a década de 1990 que se viu o potencial de criar
projetos de desenvolvimento e investimento em uma área rica em
estruturas arquitetônicas da era vitoriana. Os trabalhos começaram no
local em 2001 e, dois anos depois, a área foi aberta ao público. Devido
aos proprietários, a recusa da Cityscape Holdings em arrendar qualquer
espaço de varejo para grandes franquias ou cadeias de marcas, o
Distillery District conseguiu manter um ambiente de intimidade, com
pequenas butiques, galerias de arte e cafés pontilhando o espaço. Vários
edifícios originais alugaram espaço de estúdio para artistas.
Hoje, o Distrito Histórico da Destilaria de Toronto é considerado
um Sítio Histórico Nacional e é um dos destinos de entretenimento
mais populares da cidade.
Casa Loma, “Casa da Colina”, é um museu e marco da cidade
alta de Toronto, construída como um castelo neo-romântico.
Originalmente foi a residência do financista Sir Henri Mill Pellatt,
atualmente é uma atração turística da cidade, foi construída de l911 a
l914 com projeto do arquiteto E. J. Lennox, igualmente responsável
pelos projetos de outros marcos da cidade. A construção apresenta
uma aparência de um castelo europeu. Era a maior residência da
América do Norte.
O Yorkdale Shopping Center, quando foi inaugurado em 1964
era o maior Shopping Center fechado do mundo, tendo mantido esse
título por muitos anos. Atualmente é o 3 o maior da região
metropolitana de Toronto, atrás do Square One Shopping Centre e do
Toronto Eaton Center. É servido pela Allen Road, pela Highway 401
e pela estação Yorkdale da linha University-Spadina do metrô.
Visitamos também Ottawa, capital do Canadá. Esta fica na
margem sul do rio Ottawa e faz fronteira com Gatineau, Quebec. Os
dois formam o núcleo da área metropolitana Ottawa-Gatineau. Em
2016 a população estimada da capital era de 934.243 habitantes e
Inácio Marinheiro

uma população metropolitana de 1.323.783 habitantes, sendo a quarta


maior cidade e a quinta maior região metropolitana do Canadá.
Ottawa é conhecida pela arquitetura vitoriana da colina do Parla-
mento e pela national Gallery, que exibe obras canadenses e indígenas.
Niágara Falis (Catarats de Niágara), é localizada na província
de Ontário, perto da fronteira do Canadá com os Estados Unidos,
estado de Nova York. Fica à margem do rio Niágara, onde está
localizada as cataratas do Niágara. A Leste a cidade se conecta através
de duas pontes com a cidade de Niágara Falis Nova York. Sua
população é de 78.815 habitantes, dividida em dois núcleos: um à
margem das cataratas, onde existe uma infraestrutura turística
incluindo cassinos, e outra a aproximadamente 15 quilômetros, esta
se apresenta como um lugar muito belo e pacato, parece com um
grande jardim, tem flores em todos os cantos e recantos.
Nova York é uma das cidades mais famosas do mundo, das
mais visitadas por turistas e com a maior quantidade de atrações
turísticas, além de ser uma excelente opção para se fazer compras
nos Estados Unidos.
É a capital do mundo, a mais rica e influente cidade do planeta,
mais populosa dos Estados Unidos, onde se ouve mais idiomas, que
nunca dorme. Nova York é, em si, um superlativo. Antes de conhecê-
la, é fácil pensar que se trata de exagero. Mas, ao caminhar por suas
ruas e avenidas, constata-se o inevitável: Nova York é única!
Nova York é a cidade mais populosa dos Estados Unidos e
terceira maior da América, atrás de São Paulo e Cidade do México.
Em suas ruas podemos ouvir mais de 800 idiomas diferentes. Em
suas residências, 80% das famílias falam uma língua diferente do
Inglês. É um caldeirão cultural. É fantástica!
As atrações turísticas da cidade são tão variadas que atraem
turistas com os mais diversos interesses. Você poderá visitar museus
de arte ou história natural, observatórios acima do 1002 andar de
prédios famosos, caminhar pela 5a Avenida ou pela ponte do Brooklyn,
assim como pedalar no Central Park.
Piauí em Letras - 3

Nova York tem atrações turísticas para crianças também, claro!


O Museu de História Natural é uma aposta certa, com seus esqueletos
de dinossauros e exibição de espécies marinhas. Passear de barco até
a Estátua da Liberdade ou ver os aviões de perto em cima de um
porta-aviões de verdade também encanta os pequenos. Isto sem contar
o Central Park Zoo, zoológico que inspirou o desenho “Madagascar”,
e o Zoológico do Bronx, onde é possível interagir com gorilas através
de uma parede de vidro.
Ao passear pela cidade, você reconhecerá cenários de filmes
ou reportagens e perceberá por que Nova York é considerada a capital
do mundo. As melhores lojas e restaurantes, locais famosos, metrô
abrangente, ruas planas, passeios de ônibus, barco, helicóptero, lancha,
bicicleta ou carruagem! Cada dia revela surpresas inesquecíveis e
tudo está ao seu alcance!
Primeiro, é fundamental você saber que Nova York é composta
por 5 distritos, dos quais 4 estão em ilhas (Manhattan, Brooklyn,
Queens e Staten Island) e um está no continente (The Bronx).
Manhattan, que é o distrito com a maior quantidade de atrações
turísticas, é uma ilha dividida em 3 grandes áreas: Downtown (ou
Lower Manhattan), Midtown e Uptown. O próximo passo é saber
qual bairro tem cada atração e assim planejar o que visitar durante a
viagem. A ideia é ir para o bairro ou região e explorar as atrações que
estão próximas umas das outras, evitando grandes deslocamentos por
Manhattan. Você andará bastante a pé e de metrô, talvez um pouco
de táxi ou ônibus em algumas situações.
Em todos os sentidos este foi o melhor passeio que realizei até
hoje. Lugares onde as pessoas são respeitadas, independente de sua
nacionalidade, nível social, formação cultural, em especial no Canadá,
onde sem dúvida eu moraria se tivesse a intenção de sair do Brasil.
Piauí em Letras - 3

João Passos _ Historiador,


romancista, poeta, contista,
cronista, professor, cole-
cionador de objetos antigos
e curador do museu de
Cocal. Nasceu em Parnaíba-
PI, a 08 de novembro de
1967. Filho do comerciante
Francisco Xavier Passos e de
Maria Araújo Passos. Em
1988, publicou suas pri-
meiras poesias no Jornal O
perypery na cidade de
Piripiri-PI. Em 1989 volta a Cocal, afastando-se do jomal, mas
escrevendo suas memórias e seus poemas. A facilidade com que
manuseia as palavras o condicionou a escrever inúmeras crônicas e
contos que enaltecem ou reverenciam alguém ou algum fato histórico
da cidade de Cocal, tornando-se um tipo de cronista oficial de
aniversários, casamentos, colação de grau, solenidades cívicas e
outros. Em 1993 fundou o grupo de Teatro da Paixão, Morte e
Ressurreição de Cristo. No mesmo ano, participou, com o grupo que
criou, do I Encontro de Folguedos de Cocal. Em 1994, publicou o
seu primeiro livro de poesia. Laços de Ternura, em 1997, participou
como primeiro Secretário do Departamento de Cultura do município
de Cocal e participou da criação da primeira Rádio Comunitária de
Cocal. Em 1997 participou da criação da I Semana Cultural de Cocal.
Em 2000, ingressou na UESPI (Universidade Estadual do Piauí) no
curso de História. 2001, participou da instalação do Centro
Poliesportivo de Cocal, exercendo o cargo de Coordenador Cultural.
Em 2002 publicou o segundo livro de poesia “Pássago”. Em 2003
participou da criação da ACIC (Associação Comercial e Industrial
de Cocal). Em 2003 fundou a Casa da Cultura, com a instalação de
Museu, Biblioteca e Artesanato. Em 2004, concluiu o curso de Pós-
João Pasos

graduação: Especialização em História do Brasil _ (UFPI). Em 2005,


participou da criação do CMDCA (Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente), exercendo o cargo de Presidente do
mesmo. Em 2006, participou como um dos autores na publicação do
livro “Fragmentos Históricos”, obra de cunho historiográfico da UFPI.
Em 2007, publicou seu quarto livro “COCAL” A história da fundação
da cidade. Em 2015, elaborou o projeto do Fogaréu. Em 2015,
publicou seu quinto livro, o romance “João Cartomante: o Milagreiro”.
Em 2018 reinaugurou o Museu Público Municipal de Cocal, no papel
de Curador. Em 2019 concluiu o curso de Especialista em Gestão
Pública pelo UFPI. Atualmente exerce o cargo de Coordenador do
Complexo de Lazer e Cultura de Cocal e Diretor Adjunto da Escola
Estadual Pinheiro Machado.
***

Cocalzinho de Açúcar
Gosto de ti, meu Cocalzinho de Açúcar.
Andar por tuas ruas de paralelepípedos
E sentir a brisa acariciar o meu cantar.
Na voz melodiosa de um cupido
Quero dela, todos os dias, a vida despertar.

Apaixonado por ti, meu Cocalzinho de Açúcar.


Protegido do Alto, no olhar sublime da Padroeira
E com ternura os filhos teus, abaixo abençoar.
E me deleitar nos córregos, rios e ribeiras
Desta Sina, no meu coração, o verbo é amar.

Cocalzinho de Açúcar, o quanto te quero bem!


Reluzindo as maravilhas de um passado de glória.
Trazido pela velha Maria Fumaça a esbanjar a eternidade
De seu berro, conduzido nas veias de ferro de outrora.
Piauí em Letras - 3

Cocalzinho de Açúcar, meu Porto Seguro.


Minha velha Estação, berço de minha mocidade.
Ecoa no tempo o teu nome, nas badaladas a imortalidade.
E reluz bravamente no presente os teus feitos
De uma jovem criança que se tornou uma grande cidade.
Cocalzinho de Açúcar, formosura do meu paladar.
Néctar dos deuses, das mais diversas frutas da região:
Tucum, carnaúba, babaçu, caju, todas essências do lugar.
Hoje, gigante! Desabrocha no jardim a flor do Amanhecer.
Frutifícará com tua riqueza o doce sorriso da tentação
No pomar divino do Amor. Que bela inspiração!
Fruta concebida! Tornou-se belíssima joia do Sertão.

O Grande Duelo entre os Deuses nos Festejos de


Cocal
Na pequena cidade de Cocal, todos os anos acontece uma das
maiores e memoráveis disputas entre o bem e o mal. A festa da
Padroeira! Sempre no mês de agosto, o município é enaltecido pelas
festividades em comemoração alusiva à Nossa Senhora do Perpétuo
Socorro. Milhares de pessoas, das mais diferentes regiões do Brasil,
se deslocam para o município com a intenção de pagarem suas
promessas por graças “alcançadas” ou fazerem novos pedidos.
Na praça da Matriz é montado um pequeno altar à frente da
igreja e cercado por cadeiras e bancos, onde receberá, durante nove
noites, os fiéis que acompanharão as celebrações dirigidas pelos padres
da Igreja Católica Apostólica Romana, com fé e regozijo. No final de
cada cerimônia religiosa são ofertadas pequenas moedas por parte
dos visitantes à igreja, em forma de “esmolas”, depositadas em
pequenos sacos, pendurados em cabos de madeiras e levados por
simpáticas senhoras que circulam entre a multidão. São “almas
João Pasos

generosas” que cuidam da coleta, na ajuda à casa de Deus. Ainda são


realizados os leilões, numa disputa pelo menor preço, na compra dos
produtos, “joias” doadas pela própria comunidade e arrematadas pelos
mesmos. Também são construídas pequenas barracas onde
comercializam-se os mais diferentes produtos, como: vatapá, chá de
burro, arrumadinho, creme de galinha, bolos, etc. Tudo
disputadíssimo! Ainda se encontram camisas com a foto da Santa,
chaveiros, santinhos, terços, bíblias, etc. No decorrer da festividade
ainda acontecem os casamentos e batizados. Tudo em nome de Deus.
Fazendo parte da mesma festa, a poucos metros dali, em uma
outra praça, também é montado um grande Panteão. Após a benção
ofertada pelo padre, ao término da Santa Missa na praça da Matriz,
os visitantes e fiéis são atraídos pelo som dos tambores e rajadas de
canhões de luzes que cortam os céus. A multidão se desloca por meio
das barracas até o segundo palco. A festa começa e um show frenético
e extasiante envolve a todos. O deus Quirino é exaltado! Aplausos ao
grande idealizador. Centenas de barracas estão espalhadas no entorno
do grande palco. O agito é contagiante! Corpos que há pouco recebera
o Cristo, em forma de hóstia, “o pão da comunhão”, agora embriagam-
se nos prazeres da bebida e da carne. A grande festa é comandada
pelo ritmo das bandas musicais. Ninfas e bacantes, seguidas de faunos,
crepitam no salão a céu aberto. Som, fumaça, álcool e sexo são
elementos condizentes da alegria e êxtase dos deuses. Há momentos
que surgem violências, brigas, acidentes, entorpecentes, empurrões,
drogas; mas fazem partes da orgia do deus Mercúrio.
Varam a noite. É festejo! A deusa Vênus desfila majestosamente.
Hades e seus barqueiros, Charon e Thânatos, estão atentos! Dominam
a grande festa. É preciso cuidados. Homens de pretos com cassetetes
vigiam, desafiadoramente, os “endemoniados”. Os prazeres mundanos
dominam e todos se regozijam das mais diferentes formas de prazeres.
Rebolam seus corpos, pulam e se esfregam uns aos outros. O Cupido
desfecha suas flechas, aleatoriamente, com a essência da alegria
contagiante, provocando abraços e beijos. Termina a noite! Todos
Piauí em Letras - 3

estão cansados, esgotados. É hora de regressar a suas casas. A praça


deserta recebe os primeiros raios do deus Apolo, iluminando o palco
da grande batalha. Copos, latinhas espalhadas pelo chão. Ainda dá
para sentir a presença do deus Baco. O cheiro forte de bebidas e
pontas de cigarros ainda contaminam o ar. Tempo suficiente para as
deusas de amarelo limparem o cenário, e tudo à noite voltar a se
repetir. Chega o dia 15 de agosto. É o dia da Festa da Padroeira. A
cidade é tomada por uma calmaria. É hora da grande procissão.
Último dia do Festejo de Cocal. Todos os outros deuses romanos
desapareceram. Uma multidão de abençoados e arrependidos
caminham lentamente pelas principais ruas da cidade acompanhando
o andor da Santa. Não há mais festa! Apenas orações e cânticos
religiosos. É hora de agradecer a Padroeira. Apenas uma praça será
ocupada por aqueles que resistiram, bravamente, ao grande duelo
entre os deuses. Aos vencedores, a benção final do padre e a proteção
de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Até um novo encontro no
ano que vem.
Amém!

O que Deus Uniu, o Homem Separa


É muito estranho o que sinto neste momento para escrever
este texto com um tema ou título tão pesado. Mas é assim que me
sinto, infelizmente, maldito! Sou católico nato, nasci sob as leis da
Igreja Católica Romana e abominei todas as outras religiões. Santa
ignorância! Criado sobre a insígnia das leis papais, obedeci todos os
mandamentos que regem a Santa Igreja Católica. Hoje, como de
costume, fomos à missa. Eu, minha mulher e meu filho de cinco anos.
Em especial, neste dia, data de seu aniversário. Chegamos muito cedo,
e pude observar que em pouco tempo todos os bancos do templo
estavam ocupados.
A cerimônia era acompanhada com alegria e entusiasmo. Horas,
com oração intercalada com cânticos e louvores. Mas, num
João Pasos

determinado momento da missa, o padre convidou os fiéis a


participarem da Eucaristia. Ato em que o pão e o vinho representam o
corpo e o sangue de Cristo. Todos foram convidados a dirigirem-se a
uma fila, no centro da igreja, para receberem, das mãos do padre, a
hóstia consagrada. Neste momento, eu e minha esposa ficamos onde
estávamos, apenas a observar aquele ato. O nosso corpo fervilhava
com o desejo de fazer parte daquele momento divino, mas não pudemos!
Segundo as normas de nossa querida Igreja, não podemos comungar,
pois estamos em pecado. Vivemos em adultério, fornicação. Sabemos
de nossa condenação! Fui casado com outra pessoa, e ela também. E
como diz a célebre frase: “O que Deus uniu, o homem não separa”.
Triste condenação! Olhamos para o lado, estamos quase
sozinhos. O ritual continua. Quando de repente sou surpreendido por
duas mãozinhas a puxar-me pela gola da minha camisa. Era meu
filho, que, em sua inocência de pouca idade, logo me fez uma pergunta:
“Papai, o que é aquilo que o padre está dando para as pessoas?” Olhei
nos seus olhinhos curiosos e respondi baixinho: é a hóstia consagrada,
filho! E ele me interroga! E o que é a hóstia consagrada, papai? “Filho,
a hóstia consagrada representa o pão da vida. Representa Deus”. “Ele
olha novamente para mim, e pergunta em voz alta: “Ora, mas e por
que é que o senhor e a mamãe não vão receber o pão da vida? Vocês
estão vivos!” Olhei para ele, em sua inocência, e senti um entalo na
garganta, descendo pelo peito rumo ao coração, fechando-me por
dentro. Como poderia dizer para ele que o principal motivo de não
comungarmos era exatamente a minha relação conjugal com sua mãe,
e que ele é o fruto deste pecado. Mas preferi ficar calado. Sobre o altar,
inúmeras pessoas que, com o jugo de juízes do apocalipse, poderiam
facilmente lembrar-nos que nós não podemos comungar. Nos sentimos
como os últimos dos desgraçados, condenados, sem absolvição. Ao
olharmos para os lados, observamos alguns casais na mesma situação.
Condenados!
A missa chega ao final. O padre dá a benção e ousamos fazer o
sinal da cruz. Calados, taxados e vigiados, mas aliviados em não nos
proibirem de receber o poder da benção. Saímos da igreja de mãos
Piauí em Letras - 3

dadas, como de costume. No entanto, naquela noite foi diferente.


Meu filho completava cinco aninhos de idade. Olhei para trás rumo
ao altar e tive a sensação que faltou algo para a noite ser completa.
As portas da igreja se fecharam, e em um pequeno banco fomos sentar.
Olhei para os céus e tive uma estranha sensação de que estava errado.
Ninguém pode nos condenar. Abracei meu filho e minha mulher e
recebi a mais linda forma de amor, quando ele nos abraçou e disse:
“Papai e mamãe, eu amo vocês”. Naquele momento o céu se abriu. E
com uma luz divina eu entendi que a verdadeira essência do amor de
Deus não está nos vetos dos homens, crendices e rituais; e sim na
magia da vida, e, como essência divina, se mostra na verdadeira face
de Deus. Naquela noite não pude dar o presente que meu filho pediu,
a hóstia consagrada, mas entendi que ele é o presente que Deus nos
deu. Mais que uma simples hóstia, ele é o fruto do verdadeiro amor
que nos uniu, sem nenhuma condenação. Seguimos nosso caminho
para casa, sem olharmos para trás, com a certeza que o pão da vida
está conosco. Amém.

A Queda de Cristo
Ah! Viçosa, cidadezinha encantadora da serra do Ceará.
Princesa ibiapabana, linda como é, na região, não há.
De teus encantos: casarões, ruas, praças e monumentos.
Fostes erguida num patamar e desfila majestosa pela passarela do ar.
Tuas lendas indígenas, teu lindo e rico boqueirão.
É tua sina ser bonita, faceira, delicada flor do sertão.
Das nuvens que se afinam como o branco do Algodão.
Das escadarias que te leva às portas da ostentação.

Cidadezinha, Viçosa do Ceará, que tem ligação com o altíssimo.


Nos degraus entre flores, serras e grandes palmeiras a balançar.
Nas escadarias, o santíssimo de braços abertos, a te abençoar.
João Pasos

Buscando do alto a magia, o encanto e a alegria deste pomar.


É madrugada, no singelo momento de agonia as lágrimas do céu caíam.
Silenciosamente, um manto branco e frio de névoa cobria o lugar.
E aquecia aqueles que, com a proteção de Cristo, na noite dormiam.
A grande estátua de braços abertos, na madrugada, a desabar.

Nos primeiros raios de sol uma cidade perplexa e atônita acordou.


Meio ao grande barulho, na madrugada, vindo do desmoronamento.
A notícia, rapidamente, espalhou-se pelas ruas, ruelas e praças a lamentar.
Cobriu-se de luto! A cidade chorou! E na ânsia dolorosa sentiu-se
desprotegida.
Os céus choraram convulsivamente a perda do oráculo e nuvens
escuras cobriram o altar.

Seus filhos olhavam incrédulos para o alto entre a neblina celestial.


O Cristo de braços abertos não mais estava lá, a contemplar a cidade.
Desceu a terra, postou-se ao pé da serra, do fato sacramental.
Caminhou contra o vento e tombou ao pé da incredulidade.
Agora uma escada leva a um céu sem Deus, uma igreja sem céu, e um
alto sem benção.
Piauí em Letras - 3

José Paraguassú Martins


Cronemberger Reis _ Músico,
compositor e poeta. Nasceu em
Floriano-PI, no dia 06 de março
de 1955. Filho de Raimundo
Cronemberger dos Reis e Maria
das Dores Paraguassú Martins
dos Reis. Casado com Maria
José Siqueira Paraguassú Reis
(Dina Paraguassú). Pai de David
Siqueira Paraguassú Reis e Ana
Paula Siqueira Paraguassú Reis.
Escolaridade: Técnico em
contabilidade. Concursos: 1978
_ Primeiro lugar no concurso de
músicas carnavalescas em
_
Floriano/PI; 1996 Classificado entre as cinco melhores, com música,
para representar Floriano no Festival de músicas inéditas do SESC,
em Parnaíba/PI; 2006 _ Primeiro lugar na Mostra SESC Piauí de
Música, em Floriano-PI; 2016 _ Participação na Primeira Mostra
TREMEMBÉ de músicas autorais do SESC. Publicações impressas:
Pequena Antologia Poética de Floriano (1998); Antologia “O
Colecionador de Poesias”, do site Beco dos Poetas; Livro Homenagem
aos Vaqueiros e Roceiros _ o reconhecimento que faltava (2017),
organizado por Adrião Neto; Autor do texto da orelha do livro Flor
do Mangue (2018), de Amaro Nascimento; Revista Fonte, Floriano-
PI; Coletânea Piauí em Letras (2018); Coletânea Piauí em Letras 2
(2019). Publicações em sites: Correio do Norte; Recanto das Letras;
Beco dos Poetas; Poetas do Piauí; https://jc24horas.com.br; Blog Tio
Borges; Blog Umbelarte; Portal de Floriano; Jornal São Paulo em
Notícias. Homenagens: Diploma do Mérito Cultural Da Costa e Silva,
conferido pela União Brasileira de Escritores do Piauí; Diploma do
Mérito Cultural e Ecológico Bury-Açu, o Espírito do Brejo, concedido
pelo Instituto de História, Artes e Letras (IHAL); Diploma do Mérito
José Paraguassu

Cultural Poeta Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva; Diploma do Mérito


Cultural na área profissional de Música, outorgado pela Ordem dos
Músicos do Brasil secção do Piauí; Certificado de Participação da
Solenidade em Homenagem aos Vaqueiros e Roceiros no Monumento
Nacional do Jenipapo, conferido pela Academia Campomaiorense
de Artes e Letras; Dicionário Biográfico Virtual de Escritores
Piauienses, de Adrião José Neto, publicado no site “Usina de Letras”.
Projetos e Grupos: Fundador do Projeto Cultural Florart; Repórter
correspondente do Jornal São Paulo em Notícias; Colunista cultural
do site Rota 343; Membro da Associação Brasileira de Músicas e
Artes (ABRAMUS); Membro da Academia de Letras e Belas Artes
de Floriano e Vale do Parnaíba (ALBEARTES), cadeira n° 13;
Membro do Projeto @Barlê, o ponto de encontro dos escritores
florianenses.
Piauí em Letras - 3

Azulão
Vai azulão Depois desce
No teu voo para o infinito E vem cantando
Com o canto mais bonito Pousa no carnaubal
Que alguém possa ouvir Vou estar te esperando
E o teu bando E te filmar cantando
Vai te seguindo Pra te levar por onde eu for
E em coro repetindo Vou mostrar tua beleza
O que aprendeu de ti E o canto que a natureza
Esse canto belo e saudoso Ainda não modificou
Que só para com o teu pouso Vai banhar lá no riacho
E depois vai repetir Alimento-te, do melhor cacho
Mostra a tua liberdade Porque é merecedor
Que é a maior felicidade Convida tua companheira
Que se pode possuir Faz o ninho na biqueira
Vai cantando pelas palmeiras Do ranchinho que eu moro
Nos pés de bananeiras Que é pra eu ficar ouvindo
Nas porteiras dos currais Tu ensinares aos teus filhinhos
Segue livre como a brisa Como canta um passarinho
E nas montanhas realiza Quando vem rompendo a aurora.
O teu voo mais triunfal
José Paraguassu

Cacimba Velha
Cacimba velha Também iam beber
Hoje eu me lembrei de ti E naquele calorão
Nunca te esqueci Os bichos da região
Faziam procissão
Deu saudade o meu lembrar
Pra matar a sede em você
De quando eu ia buscar Mas o que mais me alegrava
Água pra nós bebermos Era quando chegava a passarada
Não me esqueço do caminho E começava a cantar
Fechado de espinho O canto se espalhava
Nas rochas ecoava
Acho que pra te proteger
Parecia não mais parar
A natureza é caprichosa E eu ali perdido
Nasceu tanto pé de rosa Encantado e esquecido
Cada uma mais formosa Nem me lembrava de voltar
Só pra enfeitar você Mas o homem é perverso
Não preserva o que está correto
De longe eu sentia o cheiro
E só pensando em enricar
E era eu quem chegava primeiro Pois um empresário
Pra beber do teu viver Fez de ti um balneário
A água mais gostosa Pra turista se banhar
Derrubou toda a mata
Limpa, filtrada da rocha
E tua água em cascata
Fazia até gosto beber
Parece até chorar
Eu enchia as ancoretas Acabou-se o encanto
No pino do meio dia Não se ouve mais o canto
Era a hora que as cotias Que eu gostava de escutar.
Piauí em Letras - 3

Capela da fazenda
Na capela da fazenda O que queriam negociar
O sino tocava Já no fim do dia
De longe se escutava Quando terminava a folia
Quando ele anunciava De vender e de comprar

A novena começar Era a hora que os noivos


Começavam a comemorar
No tempo da desobriga
Chamavam o sanfoneiro
O padre vinha celebrar
Ia para o meio do terreiro
Depois da missa, batizava E começavam a dançar
E os noivos ele casava Era forró a noite inteira
Para o amor abençoar Até o dia clarear Hoje...
A capela era cercada Saudade foi o que restou
Na frente sombreada A capela desmoronou
Com figueiras plantadas lá O sino não mais tocou
Todo ano era pintada A figueira secou
Muito limpa e arrumada Ninguém lá mais casou
Esperando o padre chegar Só a lembrança e dor
O pátio da fazenda Da fazenda foi o que restou
Parecia até uma feira De um tempo que passou
Ourives vendiam pulseiras E nunca mais irá voltar.
Camelôs anunciavam
José Paraguassu

Desolação

Vento que corta o meu sertão Piedade, Senhor


Levantando poeira na escuridão De nossos irmãos
Levando a esperança que brota da
terra Que sofrem e padecem
Mas não deixam o sertão
Matando a semente plantada no
chão

E a chuva não chega Sem pasto e sem água


É ano de seca Tudo se acaba
É a terra que seca É uma aflição
É desolação
Só sobrou
O sol inclemente castiga a terra Macambira e mandacaru
Quem conhece a fera Meu irmão
Não vê solução O sertanejo é forte
Sabe que a fome
Humilha, consome Enfrenta a morte e a privação
Esperando que a chuva
Matando aos poucos
Não tem compaixão Chegue de novo
E que a vida um dia
Nem mesmo as promessas
Rebrote do chão
Trouxeram a esperança
De ver a chuva
Cair no sertão
Piauí em Letras - 3

Mandacaru
Mandacaru O sol tremendo
Quando é que vai florar O chão está fervendo
Fazendo anunciar Até parece
Que a chuva vai chegar Que não tem salvação
E molhar o meu sertão O que será
Não está vendo De tanto sofrimento
Que estamos padecendo Será que eu aguento
O gado está morrendo Tanta privação
É muita judiação Só peço a Deus
Os passarinhos E à Nossa Senhora
Já foram embora Que me ajude nessa hora
Levados por arribação De grande precisão
O sertanejo Mesmo sofrendo
Já rezou todas as preces Daqui não vou embora
Fez promessas Vou esperar a hora
E quermesses Que a chuva caia no chão
Pra ajudar os seus irmãos
José Paraguassu

Mudança de Pobre
Vamo simbora, menino
Tanja o jumento dali
A noite está chegando
E no escuro é fácil cair

Esse sertão é comprido


Tem muita serra a subir
A carga pesando no lombo
E a mulher querendo parir

A seca expulsando a gente


É muito triste partir
Ficando, a fome lhe mata
E pra aonde devemos ir?

A vida do pobre é sofrida


Mas é preciso seguir
Na esperança de um dia
Rever o que ficou aqui
Piauí em Letras - 3

Josely Ribeiro Mendes _ nascido


em São Luís-MA, mas adotou
Teresina, e ama essa terra como
dela fosse filho; seus pais, José
Tobias Mendes e Lígia Ribeiro
Mendes (já falecidos), deixaram
onze filhos, todos independentes;
dos onze, somente ele tem duas
alegrias na vida: quando o
Flamengo ganha e quando o Vasco
perde, principalmente quando é no
mesmo jogo. Estudou apenas até o
Ensino Médio (antigo científico);
mas isso não lhe abala porque
conheceu um poeta (Pedro Costa), que pouco foi à escola, mas versava
como poucos letrados. Casado há cinquenta anos com a mesma
mulher, tem cinco filhos, sete netos e três bisnetos. Trabalha na
indústria gráfica desde os onze anos de idade, se especializando na
editoração de livros, e, talvez por isso, teve o atrevimento de escrever
livro também: Conto e Desconto _ contos (ainda não publicado),
mas não se apresenta como escritor, apenas passou para o papel fatos
vividos na infância e adolescência. Em 2018 recebeu da Associação
e Sindicato de sua categoria o Trofeu Componedor, homenagem por
serviços prestados. Foi convidado pelo amigo Adrião Neto para
participar com seus contos na Coletânea Piauí em Letras 2, mas o
medo da crítica o deixou de fora. Agora se vestiu de coragem e está
aí no Piauí em Letras 3 pro que der e vier.

Obs.: Os textos relatados nesta coletânea são extraídos do livro Conto


e Desconto, de sua autoria, ainda não publicado.
Josely Ribeiro

Sete Portas
No Barrocão também tinha um cabaré denominado Sete Portas.
De baixa categoria, situado nas proximidades do buraco em referência,
de construção de taipa dividido em sete pequenos quartinhos, uns na
frente e outros tantos nos fundos, de mais ou menos sete metros
quadrados construídos em meia parede; cada qual com uma porta e
uma janela proporcional ao tamanho da construção. As paredes foram
caiadas de branco, mas a falta de manutenção e a ação do tempo
deixavam aparecer os talos que sustentavam o barro.
Passava das seis da tarde. A iluminação fraca não permitia
distinguir bem as feições das pessoas, principalmente aquela que se
apresentava ao lado de uma porta, sentada em um tamborete rústico
de madeira lavrada à mão e couro curtido, típico da região de Picos.
A cor da sua pele se confundia com o meio ambiente, mas sua voz
deixava claro que a idade não era de uma jovem. Cheguei próximo a
ela com aquele estilo romântico tradicional da época:
_ Você está esperando alguém?
_ Sim _ foi a resposta.
_ Poderia ser uma pessoa de minha idade, com o meu nome e
que está lhe cantando agora?
Um leve sorriso e um aperto de mão foi a resposta.
Depois dessa cantada básica, adentramos o recinto. Não havia
espaço sobrando porque os móveis ocupavam todo o ambiente: uma
cama modelo patente1 e um colchão de palha, uma mesinha com
umas garrafas d’água para o asseio posterior e pronto. A mala da
prostituta ficava debaixo da cama.
Essa hospedagem era temporária e frequentemente era
interrompida quando a infortunada contraía uma doença venérea e a
transmitia para os clientes. Quando os usuários do serviço se
descobriam infectados, apareciam revoltados para cobrar a expulsão
das prestadoras do serviço como vingança pelo constrangimento
______________
l
Cama de madeira que dispunha de molas e geralmente recebia um colchão com
recheio de palha
Piauí em Letras - 3

familiar. Afinal de contas, em casa o vexame perante esposa e a família


servia de fuxico e de deboche para muita gente e por algum tempo.
Por isso, cobravam o tratamento apropriado para as infectantes
infelizes, com a acusação adicional de que sabiam da doença e não
avisavam o freguês. Nesse tempo, camisinha era artigo de luxo e
homem varão não usava tal coisa. O corretivo era o passa-fora.
Enquanto tratavam do mal, com remédio caseiro ou com alguns
comprimidos de tetrex e similares, prescritos geralmente por “Seu
Bem”, iam pra casa de uma tia ou de uma colega. A mãe podia até
sentir a falta e saudade da filha, mas o pai, pela cultura machista da
época, não abrigava puta em casa.
Voltando ao caso: a fornecedora não se inibiu em se despir. E
fiquei surpreso pela destreza com que ela o fez e também porque era
a primeira vez que meus olhos curiosos avistavam de tão perto uma
mulher completamente nua. Diante da minha timidez e do
comportamento abobalhado, ela tomou a iniciativa: abraçou-me
carinhosamente, levando-me à cama, fazendo uma declaração que
julguei ser comum a todos:
_ Sabe, gostei de você, tenho certeza que você vai me levar
pros gozo.
Depois desse elogio, o clima foi criado. A conveniência do
momento, porém, dispensava palavras e o “picirico” iniciou-se
avidamente.
A experiência da vida-livre lhe dizia que quanto mais breve
fosse o serviço, maior era a possibilidade de receber outro cliente.
Mas naquele caso era diferente: ela tinha me elegido para fazer do
útil o agradável, mesmo sem o meu conhecimento, e em poucos
minutos ela já gemia e falava palavras que nunca tinham sido
pronunciadas nos meus ouvidos:
_ Ai, ai, você vai me matar, ai, ai, ai...

Era a minha primeira experiência sexual. Sem conhecimento


das coisas do sexo, ignorava o fato de que a mulher também sentia
Josely Ribeiro

prazer. Aliás, em matéria de sexo eu era analfabeto. Em casa, meus


pais não tocavam no assunto porque era considerado imoralidade; na
escola, também não; e na rua não tinha quem me orientasse. Por aquela
situação vexatória, jamais imaginara passar. Sentindo medo, gastura,
vontade de sumir, voar. Imaginava que aquela mulher agonizava nos
meus braços. Meu Deus, pra que eu fui fazer isso? Agora sei por que
um homem faz o mal pra uma mulher. Em tão pouco tempo, tanta
coisa passou pela minha cabeça, como se fosse o Ernani Pires Ferreira2
narrando um GP.
E a mulher gritando, gemendo, falando coisas que eu não
entendia e gemia: _ Ai, ai, você vai me matar!
Depois da terceira sessão de ais, assustado, levantei-me
bruscamente e me pus a assoprar o rosto da mulher e a abaná-la com
as mãos, desesperado, arrependido.
A mulher, nervosa, ainda aos suspiros, ainda ofegante, partiu
pra mim com toda indignação:
_ Porra, por que você tirou? Eu estava gozando e você cortou
meu gozo. Você é uma merda.
Misto de medo e alívio, tentei balbuciar alguma coisa. Medo
do escândalo que o episódio poderia provocar e alívio por saber que
a minha provável vítima voltava a seu estado normal, apenas balbuciei:
_ Desculpe, dona. Eu pensei que a senhora estava passando
mal!

_______________
2. Narrador oficial das provas de turfe no Jockey Club Brasileiro durante quatro
décadas e considerado por muitos o maior do mundo nesta atividade, figurava no
Guiness como o homem que falava de forma mais veloz. O brasileiro se sentiu
desafiado e registrou a locução com 322 palavras por minuto.
Piauí em Letras - 3

Professor Zé Rodrigues
Pobre, de pobreza franciscana, empregado de uma tipografia,
mas de uma dignidade muito acima da sua pobreza. Fazia seu trabalho
com o máximo de perfeição para não ser repreendido pelo patrão que
tratava a todos como se fosse um feitor. Entrara nesse emprego como
aprendiz e aprendera o suficiente para desempenhar muito bem sua
função. Começou a estudar já adolescente e quase aos vinte e cinco
anos ainda cursava o ginásio (atual Ensino Fundamental Menor).
Esmerado aluno, apesar de estudar no Demóstenes Avelino,
aproveitava todos os momentos da vida para colocar em prática o
que aprendia na aula da noite anterior. Criticava as placas com erros
de português e a fala errada dos companheiros, etc. Numa passagem
ao sete portas, encontrou uma mulher (provavelmente a mesma do
relato anterior) que, no calor do negócio, gritava:
_ Ai, ai, ai, você me mata, me come, me fode, ai, ai....

Com autoridade de quem paga, reclamou da mulher aquela


gritaria, alegando que ela estava atrapalhando a foda. E essa, pra
apressar seu trabalho, continuava aos berros, alheia aos comentários
do macho que utilizava seu corpo como se fosse um animal no ato da
cobertura.
_ Me come, me fode, me come... _ gritava ela.

Ele parou novamente o que fazia, levantou um pouco o corpo


sobre o dela e reclamou novamente:
_ Mulher, diga “Foda-me”. Não se começa uma frase com
pronome oblíquo.
Indignada, a mulher livrou-se dele, recompôs seus trajes e
mostrou- lhe a porta, dizendo:
_ A gente veio aqui pra foder e não pra fazer aula de gramática.
Josely Ribeiro

Falta de Fôlego
Meu sonho era ser jogador de futebol. Não um jogador
profissional, apenas um jogador, daqueles que tinham sua própria
chuteira, mas não tive tempo de treinar. Nenhum time me convidava
pra fazer parte do seu elenco. Chegava a sentir inveja de amigos. A
solução foi fundar um time. Eu e os amigos Zé Almir, Renato e
Cristóvão caímos em campo para realizar o sonho comum. Primeiro
passo foi levantar recursos, promovendo rifas e sorteios; os uniformes
seriam doados por políticos e, por recomendação de amigos, a
prefeitura tinha recursos destinados para incentivar o esporte amador.
Corremos pra lá.
Para provar a veracidade do nosso projeto, solicitamos que os
amigos e vizinhos se manifesstasem favoráveis através de um abaixo
assinado e foram recolhidas mais de 200 assinaturas.
O prefeito da época era o Sr. Hugo Bastos, um velho sério, de
gestos elétricos, como se estivesse nervoso. Foram diversas romarias
à prefeitura, porque ele atendia a população somente nas sextas-feiras.
De tanto insistir, finalmente fomos contemplados: consegui uma
audiência com o prefeito que me olhou nos olhos e perguntou: qual é
o seu pedido? Peguei e falei: é que nós tamos fundando um time de
futebol e precisavamos de bolas e equipes, até fizemos um abaixo-
assinado pra reforçar nosso pedido.
Deixe-me ver esse abaixo-assinado _ solicitou ele, _ e eu lhe
apresentei: uma folha de papel almaço, preenchida frente e verso.
Ele olhou pra folha de papel, olhou pra mim e perguntou: _ esse é o
abaixo-assinado que você preencheu? _ Respondi que sim, mas pelo
fato de tanto andar com ela, pra cima e pra baixo, ficou muito suja e
resolvi passar a limpo. Esse velho perdeu a classe e deu aquela gaitada.
Gritou: _ Mariano (era seu assessor, porteiro e segurança), vê o que
esse menino fez! Passou a limpo o abaixo-assinado. Ambos riram e
eu perdi a esperança. Passada a sessão de risos o velho me perguntou:
_ Onde você mora, meu filho? _ Na rua 7 de Setembro - respondi. _
Piauí em Letras - 3

Pronto. Sua rua foi contemplada no orçamento para ser calçada nessa
administração e se desviar dinheiro para outros fins vai faltar para o
benefício comum. Embora ingênuo, senti que aquele velho estava
me enrolando e realmente o calçamento só saiu 20 anos depois.
Esse episódio ficou escondido no baú de minha memória e só
agora coloco ao conhecimento dos amigos.
Mas o time saiu. Conseguimos as camisas e a bola (uma) através
de amigos e dos nossos próprios bolsos. Era o Piauí Esporte Clube.
Time pobre, tão pobre que numa substituição o jogador que saía
passava a camisa suada para o que entrava. O jogo inaugural foi contra
o Cruzeiro (da Vermelha). Time bom. Ganhava de todo mundo. Parecia
o duelo Davi e Golias. No início do jogo, a bola sobrou pra mim na
pequena área, sem marcação (eu era a defesa) e alguém gritou: para a
bola! Parei. Mais firme que o goleiro. Pênalti! (mão na bola na pequena
área é pênalti direto, sem consulta ao VAR, mesmo se tivesse). Mas o
nosso goleiro evitou o gol. Depois disso o Cruzeiro levou o jogo a
sério, mas no final o placar foi zero pros dois, considerado vitória pra
nós e motivo de chacota pra eles.
No intervalo do jogo o dono do time teve que sair pra evitar
um resultado adverso e ainda teve que ouvir um comentário
“incentivador” do Zé da Silva (amante do futebol): Tu é pior do que
falta de fôlego!
Pouco tempo depois o Cruzeiro solicitou uma revanche e nós
fomos com o mesmo entusiasmo do jogo anterior, mas o placar final
desse jogo foi aquele conhecido dos brasileiros: 7 a 1 pra eles. Também
nesse jogo um dos atletas do Cruzeiro era o nosso conhecido Mozaniel,
naquela época chamado de Tarzan.
Pecado e Omissão
D. Josefa Noronha, minha alfabetizadora, também me preparou
muito bem para o evento de minha la Comunhão. Foi uma festa muito
bonita, regada a Q-Suco e pão-de-ló. Teve até lembranças (uns
Josely Ribeiro

santinhos de papel com impressão de meu nome em letras douradas),


me deixando muito envaidecido.
Mas a felicidade de abrigar Jesus Cristo dentro de mim foi um
fato que me fez transbordar de alegria. Parecia que eu levitava e
sempre que recebia a comunhão a sensação se repetia, sempre com a
recomendação de dona Josefa: Olhe, seja sempre um bom menino.
Jesus Cristo está dentro de você.
Mas antes da comunhão tinha que se confessar com o padre e a
confissão, na época, era quase que induzida, isto é, meu confessor,
quase sempre o mesmo, fazia as perguntas e eu as respondia com
SIM ou Não, geralmente com o SIM e parecia que ele conhecia todos
os meus pecados.
_ Você fez mal criação a seus pais?, faltou com respeito às
pessoas idosas (naquele tempo era pecado), mentiu falso testemunho,
pegou alguma coisa escondido de alguém? etc, etc. E, quando
demorava a responder, ele insistia na mesma pergunta com a ameaça
de que mentir era pecado. Entretanto, meu confessor certamente nunca
imaginou que eu fosse capaz de cometer pecados graves, como o que
estava me perturbando e que eu não tinha coragem de contar. Diante
da situação incômoda, criei coragem e procurei-o para relatar em
confissão que um certo pecado eu havia deixado de relatar nas últimas
confissões, porque era muito grave. O padre ficou bravo.
_ Meu filho, nunca mais faça isso. A omissão do pecado é um
pecado ainda maior. Como é que você consegue receber Jesus Cristo
em comunhão e sair com um pecado na consciência? Que pecado foi
esse?
Nada de resposta.
_ Que pecado é esse, me diga. Faça de conta que você está
conversando com o próprio Jesus Cristo. Ele vai lhe perdoar.
O silêncio fez ele perguntar novamente e o pecado não saía.
Piauí em Letras - 3

Estava engasgado na minha garganta. Então ele usou da sua perícia e


experiência e se aproximou mais daquela telinha que havia no
confessionário e falou:
_ Já sei. Você fez... num foi?
_ FOI _ respondi.

A resposta foi como se fosse a libertação de correntes que me


prendiam os pés, mas que ao mesmo tempo abriu um abismo sob
mim, me tragando instantaneamente. Tive medo de desmaiar, pensei
em fugir, mas não se consegue escapar das garras do remorso.
O padre notou meu desespero e procurou me acalmar, dizendo,
num tom de voz branda e suave, que todo pecador merece o perdão
se houver o arrependimento e, como eu estava visivelmente
arrependido, ele recomendou que eu nunca mais cometesse esse
pecado, por isso, por aquilo e coisa e tal.
Passado o susto, o vigário voltou a me interrogar: Me conte
como foi. Contei! No início fiquei encabulado, mas depois as palavras
saíam com mais facilidade e provavelmente os detalhes aumentaram
mais ainda a penitência.
Passados os anos, contei esse caso pra pessoa de minha estima,
e ela, curiosa, perguntou: _ E que pecado foi esse? Ao que eu respondi:
_ Isso é segredo de confissão!
Josely Ribeiro

Mata Sete

O Mata Sete era outro personagem digno de menção. Quando


garoto, brincava de circo. Usava os lençóis de sua casa para
transformar em empanadas. Colocava querosene na boca e soprava
sobre uma tocha pra dar a impressão de que cuspia fogo, como ele
dizia. Dona Magda, sua mãe, ficava enfurecida. Depois passou a se
equilibrar em pernas de pau. Virou palhaço e caiu no oco do mundo.
Sua mãe, coitada, só sabia dele num lugar e noutro. De vez em quando
ele voltava, trazia umas besteiras pra ela e desaparecia novamente.
Teve um caso com uma mulher, mas o abandonou por motivo
inverso ao do seu Ditoso, isto é, o que faltava num era exagerado no
outro. Seu Ditoso, segundo mexerico dos amigos e vizinhos, teve um
casamento destruído porque contraiu uma doença venérea e ficou
com deficiência peniana.
Nas pernas de pau, ele ganhou a vida. Voltou pra Teresina e
fazia comerciais na região do centro, sempre fantasiado de palhaço,
nas alturas. Brincava com a morte como quem brinca com a vida,
mas quase se afogava num lamaçal que havia na frente da casa de seu
Luiz Enfermeiro. É que ele passava por lá e atolou de maneira tal que
não conseguia se desvencilhar das pernas de pau que o atavam e
terminou de cara na lama, mas a garotada o ajudou evitando coisa
pior. Altura era o de que ele mais gostava. Não usava bebida alcoólica,
mas só “andava alto” pelo vício de cheirar gasolina. Motivo pelo
qual veio a óbito.
Piauí em Letras - 3

A poetisa e escritora Lena Lustosa,


piauiense de coração e por opção,
mudou-se para Teresina aos 18 anos
de idade, onde tem vivido desde
então. Tem como maiores referên-
cias para sua formação cultural e sua
personalidade irrequieta a
convivência marcante e efêmera
com o pai (Altino Alves) e a
constante presença da avó materna
(Natália Lustosa). Daquele, um
lavrador autodidata, lembra com
carinho e admiração seu espírito
aventureiro e o sentimento de
liberdade, bem como seu constante interesse investigativo em entender
os “Porquês” das coisas. Dela, a delicadeza em ver o mundo com
poesia e fantasia, além da fortaleza ao enfrentar as dificuldades
impostas pelas situações desfavoráveis, em sua longa trajetória de
vida. Como um dos passatempos mais comezinhos e momentos de
prazer mais intensos, Lena Lustosa escreve crônicas, poesias e contos
_ estes, em diversas categorias (infantis, terror, cômicos). E,
considerando-se sua produção literária, a autora entende não possuir
um gênero específico. No entanto, identifica uma estreita predileção
por contos e crônicas. Sua obra está disponibilizada no seguinte
endereço: http:// www. lenalustosa.prosaeverso.net/ e no site Recanto das
Letras.
Lena Lustosa

A falta que a falta faz

Tinha escrito esse texto com o nome: “As metades da laranja”,


porém, ontem, uma colega me mandou um vídeo e, pasmem: ali estava
quase que um resumo do que eu havia escrito aqui, era uma leitura
do livro infantil do poeta e cartunista americano Shel Silvestein, A
parte que falta. Um livro elaborado com palavras e ilustrações simples
voltadas ao público infantil, mas extremamente significativo ao falar
da eterna busca pela parte que falta. Feito o registro do porquê da
mudança do nome, vamos ao texto.
De forma consciente ou não, passamos a vida toda tentando
encontrar a parte que nos falta. É como se fôssemos incompletos em
tudo até a encontrarmos. Isso nos coloca numa eterna maratona em
busca de um outro ou algo que nos complete. Ela nos leva, algumas
vezes, a deixar de apreciar o percurso, pois justificamos nossa
insatisfação na vida sob a perspectiva de que ainda não encontramos
nossa metade.
Os livros infantis, em sua maioria, nos incutiu a ideia do “final
feliz” narrado nos contos de fada, pois o príncipe e a princesa se
casavam e viviam felizes para sempre. Era tudo muito simples. No
entanto. Ninguém nunca nos revelou que era só o começo da história;
que depois daquele “sim” havia um mundo a desvendar juntos, pois
na vida real o encaixe nem sempre é perfeito entre as partes. E mesmo
se encaixando perfeitamente, não há garantia alguma de que suprirá
as faltas de cada uma. Assim, fomos induzidos a acreditar que a
felicidade está atrelada, necessariamente, ao encontro dessa outra
metade.
Esse ideal de felicidade tonou-se a desculpa perfeita para
justificar infelicidades e angústias, num quase sempre protelamento
do “agora” em que cada um estabelece uma meta própria de busca
individual para completar-se e ser feliz. Desse modo, uns acreditam
que só serão felizes quando se casarem, formarem-se, passarem num
concurso público ou mesmo quando os filhos crescerem. E, assim,
Piauí em Letras - 3

seguem a esmo atrás desse roseiral mágico da felicidade além do


horizonte.
Enquanto isso, a vida vai passando e o percurso vivido é
menosprezado em prol dessa busca. Poucos percebem que a ânsia
por chegar ao fim almejado impede-os de aproveitar o caminho; de
valorizar o que há de bom em si mesmos e nos que os rodeiam; de
vislumbrar que nesses momentos de busca surgem os mais belos
poemas e canções; de notar que a vida é esse eterno fica frio e fica
quente, dorme e acorda, perde e ganha, cai e levanta. Viver em
contradição faz parte. Linha reta só a da morte.
Desse modo, cada nova conquista tem brilho efêmero. Logo a
incompletude volta e partimos novamente para essa incansável busca,
pois nada é tão completo a ponto de completar-nos. Às vezes,
encontramos a parte perfeita, mas ela já é completa em si mesma ou
não nos aceita como parte dela. Por outro lado, há quem nos considere
sua parte, mas nós não nos sentimos parte dessa pessoa. Outras vezes,
encontramos uma parte que se encaixa perfeitamente em nós, mas
por medo acabamos sufocando e prendendo-a tanto a ponto de nos
escapar entre os dedos. Em outras ocasiões, deixamos nossa metade
tão livre e solta que ela termina indo em busca de completar-se em
outro alguém.
Ainda assim, há uns sortudos que, num belo dia, tornam-se a
parte perfeita de alguém e unem-se com o intuito de viver “feliz para
sempre”. Porém, o “para serem” acaba e logo vem a falta de um “não
sei o quê”. Então, num momento de lucidez extrema ou na falta dela,
percebem que a parte boa estava no percurso da procura. Foi nessa
fase que, mesmo sem perceber, viveram intensamente, foram livres e
apreciaram o mundo com todos os seus sentidos, pois nunca
precisaram de outra parte para serem felizes e, agora, a parte que os
completa também os toma incompletos, dando-lhes consciência de
sua incompletude.
Talvez, imbuídos pela descoberta reveladora do próprio “eu”,
percebamos que a felicidade sempre esteve ao nosso lado e não foi
Lena Lustosa

notada; que a busca era uma ilusão, que somos completos em nós
mesmos, pois não são os outros que nos completam. A outra parte é
tão incompleta quanto nós, mas é perfeita e necessária como
companheira de jornada na eterna busca daquilo que nos falta, mesmo
que não saibamos o que procuramos. Todavia, até descobrirmos isso
e enquanto não encontramos esse algo ou alguém que acreditamos
ser a outra metade, a busca continuará sem permitir nossa felicidade.
E assim, as metades continuarão se procurando nesse eterno
desencontro, pois a outra parte é apenas uma parte da falta que nos
faz falta e, uma vez que a encontramos, sentiremos falta de sentir
falta da parte que achamos. Porém, novas ilusões surgirão das mais
variadas formas para fazer-nos retomar à etema busca de preencher
nossas faltas, porque o sentir falta de algo é o que nos torna aquilo
que somos: simplesmente “humanos”.
***

A Costela
_
Se você tirar uma costela de cada lado poderá diminuir até
dez centímetros de cintura
_
Eu não me preocupo com o tamanho que ficará minha cintura.
Só quero que o doutor me garanta que irá tirar as costelas intactas.
Preciso delas em perfeito estado de conservação.
_
Não estou entendendo. Falou o médico sem realmente entender
nada.
_
Doutor, eu não estou tirando duas costelas para ficar com a
cintura fina. Quero apenas devolver a costela de meu marido. Ele
disse que o homem manda na mulher porque a mulher foi feita da
costela do homem. Eu vou devolver a costela dele. Vou devolver duas
para compensar o tempo de uso.
_ Morro e não vejo tudo! Concluiu o médico sem ter o que
dizer.
Piauí em Letras - 3

Cuidado! Milagres acontecem

O circo tinha chegado à cidade. Não era circo com lona. Era
pequeno e com poucas atrações. Basicamente palhaços e show de
mágica. A apresentação era na escola, pois a cidade não tinha espaço
para eventos. O preço era irrisório para a maioria da criançada. Mas
pra mim era um rim.
Eu tinha nove anos de idade e nem um tostão furado. Após
ajudar minha mãe com os afazeres fiquei ali vendo os colegas
comprarem os ingressos de entrada, enquanto o pessoal do circo
preparava a sala para a apresentação logo mais.
Queria muito assistir ao espetáculo, e vê-los fazendo a
montagem só aumentou minha vontade. Disseram que um mágico
iria cortar uma mulher ao meio e alguém iria virar macaco. Queria
muito assistir. Continuei sentada ali com cara de cachorro pidão.
Faltavam cinco dias para o natal. Já tinha tentado de tudo, mas
minha mãe não tinha dinheiro nem para comprar um dindin. Ela foi
categórica ao dizer que estava rezando para que recebéssemos a cesta
básica do INAMPS ou o natal seria só pelas graças de Deus!
Eram tempos difíceis, mas pra Deus era tão fácil! Então, com
muita fé pedi a Deus que mandasse dinheiro pra eu comprar um
ingresso e que chegasse a cesta básica pra minha mãe ficar alegre.
Para Deus nada é impossível! Sempre ouvi falar. Naquele dia
vi o milagre acontecer. Enquanto eu olhava a montagem para o
espetáculo. O moço da montagem olhou para mim e disse:
_ Ei menina! “Tu quer” assistir ao espetáculo?
_ Sim. Eu quero _ respondi com um sorriso de orelha a orelha.
_ Pois te dou um ingresso se você conseguir um lençol para
colocar naquele vitrô ali.
Lena Lustosa

Bem... Era tudo que eu precisava. Porém, lembrei-me que os


lençóis da minha mãe eram todos acabados de tão velhos! Mas minha
irmã era recém-casada e tinha uns lençóis novinhos.
Fui lá e escolhi o mais bonito que encontrei. Não pedi permissão,
afinal, que mal tem em emprestar um lençol? Escolhi um amarelo
com bordados.
Foi o espetáculo mais lindo que assisti. Foi meu milagre de
natal!.
No dia seguinte fui buscar o lençol. Ou melhor, o que sobrou
dele! A cesta do natal também chegou no dia seguinte. Minha mãe
estava muito feliz e disse-me:
_ Leninha... caça pra barriga, não caça pras costas!
E meu primeiro milagre só deu pras minhas costas, o segundo
encheu a barriga E nunca mais pedi milagres sem explicar direitinho a
Deus, que é sem sequelas!

O último homem

Ansioso, despediu-se dos filhos sabendo que era a última


esperança da raça humana. Tinham descoberto vida além da terra,
uma civilização superior na qual já não havia guerras, doença ou
morte.
Todo esse conhecimento seria repassado para o Brasil, país
escolhido por sua enorme diversidade, para receber as informações
que salvaria a humanidade da destruição.
Ubaldo nunca imaginou que aos noventa anos de idade seria o
escolhido. Entre todos os brasileiros, somente ele respeitava contrato,
única condição imposta pela civilização superior _ que alguns diziam
ser anjos _ para ter acesso a todo o conhecimento desenvolvido por
eles.
Piauí em Letras - 3

A humanidade estava se dizimando e Ubaldo tinha a chance de


mudar o futuro. Valeu a pena ter sido um cidadão de bem e agir de
forma correta. Pensou ele antes de embarcar.
Um anjo (alienígena) aproximou-se de Ubaldo:
_ Senhor, infelizmente não poderemos levá-lo. Queríamos muito
repassar à humanidade o conhecimento que a salvaria. Mas nossas
regras são muito rígidas e não há ninguém no seu país que respeita
contrato.
_ Claro que tem. Eu sempre respeitei.
_ Não, senhor. Descobrimos que o senhor não respeita contrato
de casamento.
_ Adeus!
Lena Lustosa

Nudes

Lembra meu querido


Que me pediu um nudes?
Te mandei minha poesia
Mas não era da alma que querias.

Revelei-te meus segredos


Confessei até meus medos
Esperei tua aceitação...
Diante da minha imperfeição.
Não sou livro aberto...

Mas contigo fui eu mesma


Escancarei meu “eu”
Buscando encontrar o “teu”.

Acho que não deu certo


Mostrar para ti meu universo... S
urpreendeu-te a descoberta
Que sou o teu reverso.
Piauí em Letras - 3

Lisete Napoleão _ O convite


honroso para estar no rol dos
escolhidos para pontuar nas
páginas deste título, veio acrescer
a coluna dos desafios, pois mesmo
tendo certa intimidade com as
letras, quando nos é atribuído
advogar em causa própria torna-se
árduo, porque somos tendenciadas
à modéstia. Mas, agradecida,
vamos à nossa saga. Nasci na
cidade de Floriano, situada na zona
fisiográfica do Médio Parnaíba, à
margem direita desse mesmo rio,
em frente à cidade de Barão de
Grajaú, Maranhão. A minha cidade natal fica a 240 km da capital do
meu Estado. É com misto de nostalgia e saudade que me remonto a
um passado em Floriano, a minha Princesa do Sul. Foi nesta cidade
de encantos mil, que tive a felicidade de prematuramente vir ao
mundo, de ver pela vez primeira a luz do astro Rei através de duas
pessoas iluminadas, que amo e devo-lhe tudo que sou, Gervásio e
Lisete.
_ Gervásio Medeiros de Sousa, um filho de Barras do
Marathaoan, que de Campo Maior trouxe sua Lisete Napoleão
Medeiros para construir em Floriano uma família de seis irmãos;
ordem decrescente: Erice, Erivan, Maria Elisabete, Irisdalva, Gervásio
Júnior e Lisetinha. Pois bem, no dia 19 de outubro (dia consagrado
ao Padroeiro da cidade, São Pedro de Alcântara), na Rua Silva Jardim,
N° 526, nasci.
Ali cresci saudável, feliz, brincando nas ruas, tomando banho
de chuva, subindo em árvores, indo ao Cine Natal, às missas ao
domingo na Igreja Matriz, rodando na Praça Dr. Sebastião Martins,
pagando promessa na Guia, passando Semana Santa no Açude Mário
Bezerra, chupando picolé do Bar do Bento ou do Bar do Bruno (bar
Lisete Napoleão

este que ficava na extensão da minha rua e nas proximidades do Pau


num cessa, lugar das moças de vida fácil/difícil.). Na Praça Coronel
Borges, jogava peteca, empinava papagaio, jogava futebol, brincava
de boneca ou lá no Flutuante, da beira do cais, atravessava o rio
Pamaíba (velho monge) de pontão, se não montada em talo de buriti,
para a vizinha cidade: Barão de Grajaú (sem conhecimento dos meus
pais, é claro!) e sempre em companhia de minha inseparável
amiguinha, minha irmã de fé, Lucinha (Lúcia de Fátima Holanda
Ribeiro Gonçalves).
Lembro-me do serviço de alto-falante na Praça do Mercado
próximo a Quitanda do Cirilão, homem de porte avantajado que nos
meus contos de fada o via como herói. Nos finais de tarde, ouvia-se a
Ave-Maria; confesso que na minha pouca idade não entendia o que o
locutor, o saudoso e inesquecível Defala Attem, dizia, mas sei que o
ouvíamos todos os dias com a mesma precisão e respeito.
Ainda criança, fui fadinha, pertenci ao movimento Bandeirante,
em que tive como chefe a sempre admirada Laurinha, hoje conceituada
médica.
As primeiras letras aprendi pelas mãos maravilhosas de
religiosas e educadoras do respeitado Educandário Santa Joana D’arc
(que confirmem a Madre Maria dos Anjos, irmã Filomena e a
Professora Adelaide Martins). Aqui já comecei a me interessar por
poesia mesmo sem ter noção da construção de poemas e nas datas
festivas era apontada para recitar e o fazia com muita compenetração.
Adolescente, fundei o clube filantrópico Orbianas Mirins,
juntamente com as sempre amigas: Lúcia Holanda, Sônia Melo, Jaira
Trajano, Sandra Kalume, Socorrinha Costa, Maria José Ozório,
Eulália, Leila Sepúlveda, Maria José Esmeraldo, Zulma Nunes, Lúcia
Barquil, Vera dos Santos, Betinha Albuquerque, Isabel Cristina Ribeiro
Gonçalves, Lilian Ferreira, Tereza Tourinho, Rosália Sousa, Paula
Bucar, sob a orientação da formidável Gisekla Borba. Foi um marco
raminha trajetória devida.
Como estudante do Ginásio Santa Teresinha, já situado no bairro
Pedreira, onde Sr. Genésio tinha sua venda próxima ao local,
Piauí em Letras - 3

comprávamos bolo frito e, nos intervalos das aulas, acompanhado do


Ki-suco, o degustávamos. Era simplesmente maravilhoso. Deixei
muitas marcas de travessuras, principalmente ao lado de Paula Bucar,
Tânia Araújo, Lúcia Holanda, Márcia Reis, Virgínia Lúcia Araújo,
Mary e Goreth Maia, Raimundo Maia, Zé Demes (Ieié), Fátima
Carvalho, Cleonice, Maria das Dores, Celsa, Odmércia Reis, Eliana,
Luzanira, Eliziene, Josimar, Raimundo Capitão, Emiliana, Odimar
Reis, Tital, Totó e tantos outros. Mergulho mais profundo na
imensidade do mar das recordações e de repente me vem à mente um
exemplo de sacerdócio e mais uma vez rendo minha homenagem
póstuma ao inesquecível Pe. Pedro de Oliveira. Na época era um dos
diretores do Ginásio Santa Teresinha. Ah! A nossa fiel secretária do
Ginásio, Norma Waquim, com sua elegância invejável, os professores:
Teresa Chaib, (in memoriam), Teresinha Ribeiro Gonçalves,
Mariquinha Pereira, Jovina, Rubenita, Lurdinha, Antonio Waquim;
citar a todos é impossível, entretanto recordar e falar de todos no
momento oportuno é gratificante e pertinente, pois a saudade, o
carinho que tenho por cada um é imensurável; as primeiras lições de
vida que aprendi com o perfil e peculiaridade de cada um são bem
vivas dentro de mim, mesmo tendo ficado tanto tempo ausente, por
força das circunstâncias e da luta pela sobrevivência diária. Neste
período já fazia meus textos em prosa e já arriscava escrever meus
poemas de pé quebrado de forma despretensiosa.
E com emoção e gratidão que também menciono duas pessoas
que considero da minha família, não por laços sanguíneos, mas por
laços de amor. Refiro-me a Raimunda Cardoso e Francisca Alencar,
minha Xica, que me acompanharam desde a infância até a despedida
da minha terra natal. Despedida essa que foi marcada com grande
festa comemorativa dos meus quinze anos, no Comércio Esporte
Clube. Data em que fiz um acróstico como convite de meu aniversário.
Atesto-me uma imortal sensível, imperfeita, mas telúrica, e hoje
me rendo à saudade, reverencio meu berço natal, traço minha
homenagem, meu reconhecimento, e também registro a satisfação
de ser sua Lisetinha (como costumava e continuo a ser chamada por
conterrâneos, com carinho, e para diferenciar de minha inesquecível
mãe, de quem tenho a prerrogativa e regalia de ser xará).
Lisete Napoleão

Em Teresina, estudei no Liceu Piauiense e era voltada muito


para o esporte, onde cheguei a fazer parte da Seleção de Voleibol ao
lado de grandes nomes, como Côndia Boa Vista (eximia levantadora),
Ângela Maria Gonçalves, Desterro Miller, Yolete Loureiro, Dulcinéia
Loureiro, Lídia Oliveira, entre outras. Nas letras, continuei a minha
escrita e fiz poemas com visão de adolescente e depois os rasguei,
uns até guardei.
Fiz curso superior em Caxias no Maranhão e lá do Morro do
Alecrim continuei a fazer meus poemas e falar dos "causos" e
saudades. Fui para Brasília, onde outras experiências vivi. Ao retornar
a Teresina casei, tenho duas joias raras, fruto deste casamento, meus
diletos filhos, Gervásio Neto e Ricardo Napoleão (orgulhos meus).
Na Universidade Federal terminei Letras /Português/Inglês. Pós-
graduei em Belo Florizonte, São Paulo, Teresina, atualmente
estudando Ciências, da Educação pela FUNIBER. Em Belo Horizonte
escrevi meu primeiro título, "Quem conta um conto aumenta um
ponto" (1994). Depois, já na terra que me acolheu para viver, escrevi
Estórias que ouvi, Zamba e Uma estória atrás da outra. Em 2014
lancei Um brinde à vida, poemas meus.
Sou professora da Universidade Estadual do Piauí desde 1991
e na mesma Instituição de Ensino Superior já estive em várias frentes
de trabalho. Estive recentemente com a incumbência de dirigir a
Editora e Gráfica da UESPI, onde sou dedicação exclusiva e me con-
fesso uma verdadeira apaixonada pelo que escolhi abraçar como
profissão; o faço com amor e por amor mesmo. E dentro deste contexto
da educação e cultura, evoluí, enveredei pelo caminho da cultura
popular, mas nunca me esqueci dos poemas. Continuo de mãos dadas
com eles.
Publiquei também: Piauiense, sim senhor; Coisas do amor;
Dizer por que dizer; Língua Portuguesa I, em parceria com Pedro
Magalhães Neto. E participo de antologias internacionais com poemas.
Por estímulo da família e de amigos, hoje confrades, fui parar
nas Academias Regionais de Letras, como Academia de Letras do
Vale do Longá, Academia de letras da Região de Sete Cidades,
Piauí em Letras - 3

Academia de Letras e Artes de Campo Maior, Academia de Letras do


Médio Parnaíba, Academia de Ciências, Academia de Trovas,
Academia Teresinense de Letras, Federação das Academias de Letras
do Piauí, Sindicato dos Escritores, União Brasileira dos Escritoresm
(UBE), Sociedade Literária (SOL), além de outros sodalícios, e me
tornei uma empreendedora da cultura, em que faço um pacto de amor
com meu Estado e conto e canto as poesias, lendas e crendices do
povo da minha terra através da oralidade e da escrita.
Além do compromisso com minha UESPI, de quem ostento a
autoria do seu Hino Oficial, em parceria com meu amigo e confrade
Francy Monte, também sou porta-voz nos municípios, levando ou
intencionando levar mais saber, mais informação, mais experiência e
mais cultura, pois acredito que um povo consciente e capaz de
discernir só se constrói através da educação, da formação do senso
crítico. Só há mudanças quando se admite mudar e quando se
consegue, literalmente, ler nas entrelinhas. Assim resumo minha saga
e os faço parceiros do livro da minha estória de vida. Obrigada!

Floriano
Amo demais as minhas raízes
Não só a bela terra que surgi
Mas foi no chão da Princesa do Sul
Onde vivi minha gente, que nasci
Lá existe a lua mais bonita do mundo
O céu é de um tom de azul sem igual
As nossas estrelas mesmo cadentes
Trazem mananciais envolventes
Floriano minha terra, meu amor!
Lá existe a lua mais bonita do mundo
O céu é de um tom de azul sem igual
As nossas estrelas mesmo as cadentes
Trazem manancial de luzes envolventes
Lisete Napoleão

Em cada passo, passo


Em cada passo, passei
Vitais andanças, andei
Andar andarei
Em proporções
Avanço sem pausa
O tempo voa
O vento leva
O fogo aquece
A água escorre
Em cada passo, passo
Passei, passo, passarei!

***
Saudade que fica
Há pessoas que passam a conviver conosco e se tomam irmãos;
não só pela convivência diária, mas também pela convergência de
interesses comuns, especialmente em relação à cultura ou até mesmo
pelas divergências de ideias que nos levam a reflexões e mudanças.
Criam-se laços afetivos que nem chegamos a mensurar, mas
sabemos que existem, principalmente quando deixam de existir no
âmbito da matéria e nos é ceifado da vida terrena.
E foi assim, nesta familiaridade quase diária, através de
telefonemas, em que buscava a irmã para desabar e confidenciar seus
poucos segredos e pecados ou em encontros acadêmicos, eventos,
reuniões, viagens acadêmicas, show dos imortais, que aprendemos a
nos querer bem e nos respeitar de forma admirável.
Geralmente os companheiros de viagens eram Garrincha, Aci
Campeio, Pedro Costa, Carlos Dias ou Celestina, e a motorista Lisete.
Era uma festa só, muitas gargalhadas, discussões também, mas sempre
terminava numa pandega, num abraço festivo. Como era divertido!
Deus nos presenteou com uma confraria, uma plêiade em que reina
Piauí em Letras - 3

amor, carinho, solidariedade, respeito e somos todos parceiros,


amigos, cúmplices, irmãos.
Naquele dia o celular tocou e mostrou o conhecido número
antes do previsto, o dia começava a raiar e com voz ainda sonolenta
fui logo rindo e dizendo: Pedro DE Costa?!! Deixa eu dormir, menino!
Mas, do outro lado, a voz era do seu dileto filho Luiz, que, chorando,
me dizia que seu pai emudecera para sempre. Fiquei ali parada,
impotente, sem chão e cuidei em ir abraçá-lo naquele fatídico dia
pela última vez, na certeza de que ele seguiria sua nova trilha em
outra dimensão com seu REPENTE, seu CORDEL contemporâneo,
sua irreverência e teimosia.
Pedro Costa sabia que sua passagem terrena não seria das mais
demoradas, tanto que viveu tudo com muita intensidade e foi feliz ao
seu modo. Deixou entre nós a saudade, também seu legado, que Luiz
muito bem o representará doravante.
Foi um companheiro e velho amigo de jornada, já sentimos
muito sua falta, mas espiritualmente permanecerá conosco; até porque
o céu DE REPENTE na sua Xilogravura natural passou a ter mais
uma estrela a brilhar.
Pedro Costa partiu para o infinito; foi fazer seu CORDEL no
céu de meu DEUS; que anjos, arcanjos, querubins, serafins e Maria
Santíssima o proteja na sua nova morada, e Nosso Senhor nos permita
aqui contar e, mesmo sem os acordes da viola, cantar a saudade que
fica; a SAUDADE, essa recordação sem a qual a vida não tem sentido.
Lisete Napoleão

Hino Oficial da Universidade Estadual do Piauí


Autoria: Lisete Napoleão Medeiros
Musica: Francy Monte

Na condução do ensinamento
Todo pensamento é um caminho,
Na construção do conhecimento
Na mente o saber faz o seu ninho.

O grito que se ouve é de vitória


Do sonho que se fez realidade,
O brilho que se vê na sua história
É a luz da piauiensidade.

Uespi viva, Uespi avante!


Bendita seja sua Bandeira!
Universidade atuante,
Orgulho de ser brasileira.

Tira lição da mãe natureza


E revela aos olhos das ciências,
Tem a missão de grande nobreza
Ensinar falar as consciências.

Além dos muros a nova conquista,


Uma extensão do que se aprende,
Em toda arte tudo se artista,
A livre expressão nunca se prende.
Piauí em Letras - 3

Lucélia Maia _ Lucélia Maria


Maia de Sousa, nasceu no
dia 28/01/1968, em Santa
Filo- mena-PI. Professora de
Ensino Fundamental e Médio
e escritora. Licenciada em
Biologia na UESPI de Cor-
rente-PI, concluído em 2002.
Em 1993 fez concurso para
professora do Estado do Piauí,
onde foi aprovada. Em 1990
prestou concurso para o IBGE,
onde passou em l2 o lugar.
Casou-se com Djalma Vieira
Alves, com quem teve três
filhos (Jhessita, Jhennyfer e Dhevid), tendo anos mais tarde adotado
mais um filho (Matheus). Fez concurso no município da cidade de
Alto Parnaíba-MA, onde trabalha até hoje. Os problemas, os
obstáculos, as dificuldades nunca a impediram de deixar aflorar seus
pensamentos e sentimentos em formas de poemas e poesias. Escreveu
um livro, o qual teve a honra de ser prefaciada pelo nosso saudoso
poeta piauiense Cândido Guerra, que também fez as considerações
preliminares e o acróstico com as letras do seu nome. Deve a ele também
a revisão do mesmo, além das palavras de incentivo e otimismo. A
busca por novos conhecimentos continuou. Fez vários cursos como
Professora da Pré-Escola, promovido pelo departamento de Educação
Pré-Escolar da SEDUC-PI; Curso de Capacitação para Professores
de História, Geografia e Ciências de 5a a 8a séries do Ensino Funda-
mental; Curso de Práticas de Ensino em Português e Matemática
(SEMED-AP); Curso de formação de Gestores e Educadores (SEDUC-
PI); Curso de Relações Humanas e Atendimento de Qualidade
(SEBRAE); participou do VII Fórum Estadual da UNDIME-MA;
Curso de Capacitação Educação Ambiental (SEMED-AP); Curso
de Aperfeiçoamento do Magistério (SEMED-AP); Treinamento de
Lucélia Maia

Instrutores Programa Esporte Solidário _ Artes Plásticas (SEMED-


AP); Curso de Orientação para o Crédito _ Setor Informal (SEBRAE);
Curso de Formação em Métodos e Técnicas Inovadoras do Ensino
(SEMEDE-AP); Formação Continuada em Rede para Professores
do Ensino Médio Regular e de Educação de Jovens e Adultos
(SEDUC-PI); Curso Arco-Íris _ Efeito Multiplicador, com o tema A
importância das Árvores e Florestas no Abastecimento de Água da
Minha Cidade; Curso de Fundamentação da EJA (SEDUC-PI);
Formação Continuada para Docentes da Educação Básica (SEMED-
AP); Minicurso de Extensão em ofisimo (UESP-PI); Curso de
Orientação para o Crédito (SEBRAE). Participou de todas as etapas
da 1a Conferência Municipal de Educação de Alto Parnaiba, com o
tema Construção Coletiva do Plano Municipal de Educação;
Curso de Organizadora de Eventos (PRONATEC); Formação
ISEDUC 2018 _ 15a GRE-PI; pós-graduada em Gestão Escolar e
Coordenação Pedagógica, com ênfase em Gestão Ambiental
(Faculdade ESEA), Imperatriz-MA; sempre trabalhou os três turnos,
sobrando pouco tempo para a família. A vida não tem sido fácil para
ela, mas tem conseguido um propósito, de ser feliz, de ser batalhadora,
uma conquistadora incansável, e de ser sempre uma vencedora. Ficou
viúva muito jovem, mas, mesmo com a dor da saudade e a
responsabilidade pela educação dos seus filhos, encarou a vida de
uma outra forma, sempre tendo Deus como o centro de tudo. Nunca
desistiu de seus objetivos, sendo uma mulher otimista e determinada,
e a maior prova disso são essas poesias, que, com carinho, coloca nas
mãos de seus leitores, desejando que ao lerem possam entender que a
vida para ser bem vivida depende grande parte de nós mesmos; se
quisermos e perseverarmos, chegaremos à nossa realização pessoal,
profissional, intelectual e sentimental.
Piauí em Letras - 3

Viver
Viver é sentir-se bem
Com tudo e com todos.
É poder sorrir, quando sentir vontade.
É poder cantar... Chorar... Dançar...
E se sentir livre para amar.
E se sentir livre para se apaixonar...
É se sentir livre para sonhar...
Sonhar com algo que se deseja.
É correr atrás desse sonho.
É fazer dele uma realidade.
É amar e sentir-se amada.
É ser feliz, e poder fazer alguém feliz...
É dar sem pensar em receber.
Viver
É tornar a vida,
Uma realidade conquistada...
Poder compartilhar um pouco
Do viver com alguém.
É sentir o calor humano.
É viver cada minuto da vida
Como se fosse o último.
É perseverar... É insistir, e ir em busca
Do seu sonho de vida, do seu ideal, do seu viver...
Viver, enfim, é existir! E ser feliz!
Lucélia Maia

Meu Querido Rio Parnaíba


Mergulhei em tuas águas várias vezes
Tentando refrigerar-me o corpo
A vontade de me ver livre
Fazia-me sentir em plena liberdade.

A saudade que sinto hoje de ti


É dos meus tempos de infância, de criança
Razão por que me dói o coração
Pois aquela que sou neste momento
O meu gozo só sinto na lembrança.

Meu querido rio Parnaíba


Velho leal e carinhoso amigo
Se me fosse possível nesse instante
Eu estaria cantando aí contigo.

Lembro-me agora com saudade


Dos mergulhos que dei em tuas águas
Hoje a saudade me corrói o peito
Mas mesmo assim me alivia as mágoas.

Pois já não sou mais uma criança


Que buscava as pedrinhas do teu leito
A vida fez de mim mulher mamãe
E tu ainda estás belo e perfeito.
Piauí em Letras - 3

Mas a saudade dos tempos que se foram


Marcam sempre em nós dois a mesma sina
Tu continuas o rio caudaloso
E eu volto na saudade a ser menina.

Quero ver-te como via na minha infância


Revolto às vezes, outras bem sereno
Ora transpondo as ribas exaltado
Ora manso, voltando a ser pequeno.

Era então que me chamavas carinhoso


Pra fazer, em teu leito, cambalhotas,
Diverti-me com outras companheiras
Nas saídas dos córregos e grotas.

Aqui tu nunca foste o velho monge


Tristonho, vagaroso, pensativo
Só o és lá distante, lá bem longe
Onde te sentes talvez rio cativo.

Aqui te vejo sempre caudaloso


Cristalino, feliz... Como te invejo!
Quando o Tapuio te abraça airoso
Despejando em ti águas de brejo.
Lucélia Maia

Pequena Andorinha
Pequena andorinha,
Por que voa sozinha
Na imensidão do céu
Com suas asinhas tão ligeirinhas?

Onde está o seu companheiro?


Por que não voa consigo?
Fazendo a companhia,
E mostrando a um amor verdadeiro?

Sinto que no seu olhar


Há uma sombra de tristeza.
O que sente neste momento?
Se sente, sozinha, não é mesmo?

Queria eu, PEQUENA ANDORINHA,


Voar igual a você,
Pois assim, minha amiga.
Poderia ir à busca do meu bem querer.

ANDORINHA que voa alto


Sob esse maravilhoso azul do céu,
Pousa onde quer pousar,
Neste voo sagrado, que é só seu.

Pequena e meiga ANDORINHA,


Que jamais ninguém possa podar
Esse seu maravilhoso jeito de voar,
Esse seu maravilhoso jeito de cantar.
Piauí em Letras - 3

Vai, PEQUENA ANDORINHA,


Pois sei também que trabalha sozinha,
O verão a espera ansioso,
Com esse seu trabalho tão precioso.

E quem sabe...
Um amor não a espera, PEQUENA ANDORINHA!
Para juntos construírem um lar,
Para os seus filhos que irão chegar,
E assim sozinha não mais voar?

Adeus, PEQUENA ANDORINHA,


Um dia ainda hei de encontrá-la,
E ver que em seus olhos está
A alegria sempre a brilhar.
Lucélia Maia

Uma Tarde de Inverno


São aproximadamente 13h47min.
A tarde chegou,
E com ela veio a monotonia
De uma tarde de inverno fria.
O sol desapareceu,
Dando lugar a milhares
De nuvens negras e frias.
O silêncio toma conta da natureza.
Esse, às vezes, quebrado pelo cantar
De alguns pássaros
Que voam de galho em galho procurando
Na certa um lugar onde
Possam se agasalhar,
Pois o inverno acabara de chegar.
O vento balança suavemente
As folhas das árvores,
Talvez um aceno de adeus ao outono,
Que acaba de ir embora.
Os meus pensamentos voam,
De encontro a outros pensamentos que estão
Longe, muito longe.
Fico em meu canto imaginando.
O quanto Deus na sua infinita bondade
Abençoa-nos.
O quanto Deus nos ama.
Queria neste momento ser um pássaro
Para voar livremente sob a imensidão do céu.
Poder cantar... Cantar... Cantar...
Cantar canções de agradecimento.
Canções de louvor e glória.
Entrar em cada lar,
Piauí em Letras - 3

Desejando a todos que essa tarde traga felicidades.


Traga amor... Paz... Harmonia...
Que ela venha acalmar cada coração angustiado.
Que esta tarde fria de inverno
Tome para cada um de nós
Uma tarde cheia de desejos e de boas recordações...

Meu Pai
Meu pai
Como é maravilhoso
Poder te chamar assim
Como é maravilhoso
Ter-te perto de mim.

Muitos anos já se passaram


Vejo as marcas em teu semblante
Do cansaço, das lutas
De uma luta constante.
Em teu rosto uma pele enrugada.
Lucélia Maia

Em tuas mãos, marcas de um trabalho árduo,


De noites de sonos jogados pela madrugada
Teus cabelos a esbranquiçar
De tantas batalhas
Mas sempre fiel e prestativo
E isso, a teus filhos, sempre soube passar.

Hoje olho para ti


Agradeço a Deus por me permitir
Ainda poder te admirar
E de pai poder te chamar.

És o responsável, meu pai,


Pelas coisas boas que aprendi
Devo-te a minha vida
E tudo de bom que veio de ti.

Talvez, não soubesse eu


Aproveitar tudo o que me ensinou
Talvez por ironia do destino, quem sabe?
Não consigo mudar-me, é assim que sou.

A coragem a determinação,
A persistência, a humildade,
Estas coisas, com certeza,
Herdei-as de ti
E disso me orgulho muito, mas muito sim.
Piauí em Letras - 3

Menino Triste
Menino triste,
O que procuras nesta solidão?
Essa tristeza que vejo em teu olhar
Faz-me doer o coração.

O que te afliges, menino triste?


Não tens com quem
Compartilhar tua tristeza?
Não tens a quem contar
A tua história?
Não tens com quem dividir a tua dor?

Em teu olhar
Eu vejo as marcas
Deste mundo cruel
E às vezes irreal...
Dessa vida sofredora
Dessa existência anormal.

Não vejo em tua face


O menor traço de alegria
Nenhum resquício de satisfação
Ou um pequeno traço
De felicidade.

Sinto e vejo em ti, menino triste,


A presença viva
De um futuro incerto,
De uma vida mal vivida.
Lucélia Maia

O que procuras, pois, menino triste,


Na dimensão do universo?
Neste onde quase ninguém
Quer ver nos outros sucessos?

Vejo lágrimas correrem cristalinas


Sobre tua já vincada face,
Formadas de várias gotas
Mesmo assim conseguem chegar.
Piauí em Letras - 3

Lua Nua
Hoje ao te contemplar
Nesse imenso céu
Despida das tuas vestes
Coberta apenas por este teu véu.

Clareias como nunca


Esta vasta e imensa terra
Prateando cada folha
De tantas e tantas árvores
Existentes em nosso planeta.

Trazes contigo, LUA NUA,


Um brilho exuberante
Prateando assim também
As águas de todas as fontes.

Meus cabelos dourados,


LUA NUA,
Refletem os raios que espalhas
Por todo canto,
Com uma beleza que só é tua.

Sinto o quanto sou pequena


Diante de tanta beleza,
Diante de tanto esplendor,
Tudo isso sendo uma maravilhosa
Obra de nosso Criador.
Lucélia Maia

Obrigada, LUA NUA


Por dar-me essa chance.
De poder te ver hoje,
De te admirar,
Como se fostes tu um manto branco
Clareando-nos com esse luar.

Obrigada, Senhor,
Por ter-me dado essa oportunidade,
De poder contemplar com serenidade
A beleza da LUA NUA
Com toda minha humildade.

Obrigada pelo teu clarear,


Pelo despertar desta emoção,
Obrigada, LUA NUA,
Por cada batida feliz do meu coração.

Obrigada, LUA NUA,


Pelo teu despir,
Pelo teu clarear,
Por hoje fazer-me sorrir.

Sorrir de felicidade, de emoção,


Por estar me proporcionando
Uma noite inesquecível,
Por me fazeres sentir que não estou sonhando,
E sim de tua beleza desfrutando.
Piauí em Letras - 3

Maria Christina de Moraes


Souza Oliveira _ Nasceu a 27 de
outubro de 1935 em Parnaíba-PI.
Filha de Joaz Rabelo de Souza,
Inspetor Federal do Ensino no Piauí
e depois no Ceará, quando se
aposentou, era também empresário
na cidade de Parnaíba. Sua mãe era
Joana de Moraes Souza (Jeanete),
escritora, poetisa, professora, de
espírito religioso fazendo parte de
grupos religiosos e de filantropia,
era acadêmica da APAL, Cadeira n°
12, cujo Patrono era Francisco
Ayres. Professora Christina. como é conhecida, estudou no Colégio
Nossa Senhora das Graças, do Jardim de infância até concluir o
Curso Pedagógico e Curso Técnico em Contabilidade. Sempre
participou de atividades culturais, escrevendo na os artigos: “A
música a voz da alma” (1951) e “A família, a escola e sociedade”
(1954). Participou de grupos artísticos, como o Teatro Regina Coeli,
onde fez o papel principal em sua inauguração em 1952 na peça
“DAN, a pequena mártir de Cristo Rei”. Depois, sua mãe Jeanete
escrevia peças teatrais e ela representava sempre com suas amigas
no Teatro da Paróquia São Sebastião. Fez parte do grupo de
pastorinhas, organizado pelo Bispo Dom Conduru Pacheco, na
Paróquia N. Sra. da Graça na década de cinquenta. Também foi
participante de clubes esportivos (voleibol) e comemorações
cívicas e religiosas. Escolheu por profissão o magistério e iniciou
no Ginásio São Luís com turma de alfabetização e logo convidada
a exercer o magistério nos demais colégios da cidade. Na época
de férias sempre participava de cursos de aperfeiçoamento do
magistério promovidos em Fortaleza, onde fez exames e recebeu
Registro do MEC para lecionar no 1o e 2o graus de ensino. Sempre
como profissional, participava de encontros, seminários e cursos,
tendo representado as Escolas Normais do Piauí em vários
Maria Christina Moraes Sousa

estados: Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e depois tendo sido


aprovada na década de setenta no vestibular de Pedagogia (1972).
Cursou até receber o registro de professora de disciplinas pedagógicas
e com Habilitação em Administração Escolar. Iniciou sua vida
profissional em 1955 e, mesma aposentada, continuou exercendo
atividades ligadas a educação. Membro da Academia Parnaibana de
Letras (APAL), ocupando a Cadeira n° 25, Patrono: Lívio Pacheco e
primeiro ocupante Caio Passos. Professora aposentada da Secretaria
de Educação do Estado do Piauí. Professora aposentada da
Universidade Federal do Piauí (UFPI). Escritora correspondente do
Jornal EUSÉBIO do Ceará. Pedagoga com Habilitação Profissional
em Administração Escolar e disciplinas pedagógicas. Pós-Graduada
em Nível de Especialização em Administração e Organização.
Experiências profissionais: Professora (1955 a 2005). Secretária de
Educação Municipal de Parnaiba (1968 a 1972). Trabalhou como
coordenadora do Projeto para instalação do Curso de Pedagogia em
Parnaíba (1985). Diretora da Escola Normal Francisco Correia, em
Parnaíba (1968 a 1987). Coordenadora do Projeto de instalação da
Escola de Aplicação, Anexa ao Curso de Pedagogia no Campus
Ministro Reis Velloso, hoje pertencendo a Universidade do Delta do
Parnaiba Professora do Campus da Universidade Estadual do Piauí
(UESPI) em Parnaíba. Vice-Reitora da UESPI (1995 a 2001).
Instrutora no SENAC e SEBRAE (1994- 1995). Artigos publicados
em jornais: Com estilos e assuntos diversos publicou artigos em jornais
estudantis e da cidade: “Folha das Normalistas”; “Folha
Universitária”; Jornal “A Ação”, “Norte do Piauí”, “Revista Rotária”,
“Revista da Educação (Piauí )”; Jornal EUSÉBIO do Ceará;
“Almanaque da Parnaí ba”, participação em livro sobre Educação na
UFPI e no livro “Contos entre Gerações” (2019). Livros publicados:
“Francisco, o homem, o médico e o administrador”; “Fragmentos do
cotidiano”. “Pensando, escrevendo e filosofando”; “Parnaíba, das
primeiras escolas aos cursos universitários’’; “História de Christina”.
Muitos outros já estão digitados e prontos para serem editados,
inclusive peças teatrais apresentadas no auditório da Escola Normal
Francisco Correia.
Piauí em Letras - 3

Parnaíba, terra querida


Parnaíba tem história, personalidades importantes, cada uma
eom sua maneira de ser e agir, tem povo bom e hospitaleiro, logradores
públicos, aconchegantes, um clima bom, terreno fértil, praias, rios e
lagos ao seu redor, praças, escolas, hospitais e faculdades sempre
oferecendo o melhor para seus habitantes e visitantes.
Mas existe muito a fazer, pois sua população é exigente e gosta
de ter o melhor para oferecer aos seus habitantes e aos que a visitam.
Muitos já falaram dos primeiros habitantes de Parnaíba, dos
seus descobridores, do seu comércio, da criação de gado, da Testa Branca,
da Beira Rio, dos seus Casarões com arquitetura colonial, fábricas
muitas hoje desativadas, da vida dos canoeiros e lavadeiras, do homem
da roça, das primeiras escolas, da primeira faculdade, da instalação
da primeira usina elétrica, dos primeiros cinemas, da primeira TV
das praças e da rua Grande, hoje avenida Presidente Vargas.
Nasci na época de Vargas nos anos de 30, mais precisamente em
1935, tendo visto Parnaíba descalça, sem calçamento nem asfalto, pouca
iluminação, com horários limitados, sem transporte público e poucos
automóveis circulando, sem TV e com escolas limitadas a poucos.
Hoje, vejo uma cidade linda com os seus 175 anos de existência,
já mais que centenária e talvez não tenha merecido o devido tratamento
por alguns dirigentes e, por isso, é mais que urgente acelerar o seu
desenvolvimento dando-lhe o que merece.
Parnaíba assim mesmo cresceu e superou muitas dificuldades.
Os seus habitantes, não só parnaibanos natos, mas muitos que aqui
escolheram para residir, vivem felizes e desejando sempre o melhor
para a cidade.
Hoje, Parnaíba, a minha querida terra natal, é linda. Olho-a
como criança ou adolescente apaixonada que não descobre defeitos
nem é pessimista.
Maria Christina Moraes Sousa

Acredito que o parnaibano, em geral está agora com autoestima


elevada e orgulhoso de sua terra natal, rica de um passado que lhe
impulsionou ao progresso, próspera de filhos que souberam lhe
conduzir ao que é hoje.
Cidade, princesa do Igaraçu, que lhe embeleza as margens e
oferece aos turistas: locais de lazer, clubes e restaurantes oferecendo
a comida típica parnaibana: caranguejos, camarões, peixes e carne
da melhor qualidade, tudo feito a tempo e a hora.
A cultura começa a se engrandecer com a movimentação do
Teatro Municipal Francisca Cavalcante, localizada à Praça da Graça,
e do Teatro Saraiva, à Av. N. Sra. de Fátima, além de grupos culturais
que se apresentam em locais de shows, praças, nos auditórios e quadras
esportivas do SESI e SESC. As praças públicas são locais aproveitados
para apresentações artísticas que mobilizam o público em geral.
Merece destaque especial a expansão do setor educacional, com
faculdades aqui instaladas não só na área federal e estadual, mas
também no setor privado, vindo de: Tocantins, Maranhão, Pernambuco
e outros. Com esta expansão cresce o setor hoteleiro e da construção
de prédios de apartamentos apropriados, a oferta de restaurantes e
novos pontos de encontros e lazer próprios à juventude.
Grupo Cultural tem surgido, utilizando espaços, como o Centro
Cultural João Paulo dos Reis Velloso (do SESC), para exposição e
lançamento de livros, apresentações musicais e de pinturas.
O Complexo Cultural do Porto das Barcas, com um auditório e
área aberta para exposições variadas, tem sido local de apresentações
e exposições culturais diversas.
A Academia Parnaibana de Letras (APAL) tem se expandido e
renovado com a entrada de jovens intelectuais que demonstram grande
valor à literatura e às artes. A atual diretoria liderada pelo jornalista e
inteligente José Luís de Carvalho, tem dinamizado a APAL com seus
Piauí em Letras - 3

projetos e considerando-a Academia Viva, chegando a divulgá-la


bastante. Assistimos, deste modo, jovem e veterano se abraçarem com
um só objetivo: divulgação e ampliação da cultura em Parnaíba através
de reuniões constantes e publicações de livros. Tudo em um clima
harmonioso e de muito respeito, como é da índole do parnaibano.
Ao percorrer os bairros antigos da cidade, percebe-se a
originalidade de cada um, apresentando casas bem cuidadas e
coloridas, por mais simples e pequenas que sejam.
A bela Lagoa do Portinho com suas dunas, que esteve quase
seca por falta de chuvas e outros problemas de desvios de água, está
novamente repleta de água, atraindo pessoas, barcos, lanchas e outros
que gostam de desfrutarem as belezas do local. Para lá os visitantes
podem escolher uma das duas avenidas que dão acesso ao local.
Aúltima foi recentemente inaugurada (2019) na administração de
Francisco de Moraes Souza, asfaltada e iluminada. A outra já existia
e atrai os que vêm de Luís Correia depois da praia. Ao redor da beleza
natural há um Complexo Recreativo do SESI, com ótimo restaurante,
música ao vivo aos domingos e apartamentos para hospedagem. Na
orla da lagoa observam-se outros restaurantes bem frequentados.
Visitar Parnaíba, hoje, faz parte de um bom programa turístico
que o leva à praia de rara beleza natural, como a Pedra do Sal, com
enormes pedras próximas à praia de ondas fortes, apropriadas aos
surfistas, e outra com parte do mar tranquilo, onde os pescadores
desembarcam com suas canoas repleta de peixes variados. No percurso
de Parnaíba à praia da Pedra do Sal avista-se uma bela paisagem com
carnaubais e outros tipos de vegetação e ainda a entrada ao Porto dos
Tatus, ponto de saída das embarcações ao maravilhoso Delta das
Américas.
Conhecer Parnaíba vai proporcionar a oportunidade de apreciar
o belo trajeto, até extasiar-se diante da beleza do Delta das Américas,
Maria Christina Moraes Sousa

com suas inúmeras ilhas, cada uma com sua particularidade na fauna
e vegetação culminando à tardinha com a revoada dos lindos guarás
vermelhos.
Próximo a Parnaíba poderemos chegar à cidade litorânea de
Luís Correia e gozar as delícias de suas belas e tranquilas praias,
aproveitando para saborear um bom cardápio com peixes, camarões
e caranguejos.
Parnaíba cresce hoje em cultura, comércio, saúde e educação.
Na saúde ainda tem muito a desejar em relação ao avanço na medicina,
mas se observa o acréscimo de postos de saúde com funcionamento
regular, novos hospitais com médicos especializados e também novas
clínicas particulares.
Parnaíba é uma cidade cujo povo tem um grande sentimento
de religiosidade e grande fé. Seus templos religiosos são bem cuidados
e têm boa participação dos fiéis, principalmente nas missas e
celebrações dos santos padroeiros de suas paróquias.
Há parnaibanos que não veem com otimismo sua cidade, só
vivem de saudosismo pelo que nem vivenciaram, mas, talvez, porque
alguém lhes contou e só enxergam o que foi depredado, esquecido e
não valorizado. Mas estes precisam saber olhar com outros olhos,
olhos verdes, cor de esperanças e alegres pelo que observam no
presente. O que presenciamos hoje é sempre fruto da ação dos que
desejam ver uma Parnaíba reestruturada e atenta ao grau de
desenvolvimento que todos exigem.
Hoje, quem é parnaibano deve orgulhar-se de ser parnaibano.
Como quem ama cuida, cada um deve fazer sua parte e Parnaíba
ficará cada vez mais linda e querida. Povo educado tem cidade limpa
e bonita.
Todos cantam a sua terra. Os poetas e escritores, cada um deles
se emociona com a sua terra natal. Em prosa ou em versos descrevem
suas belezas.
Piauí em Letras - 3

Sou filha de maranhense e bem cedo li de Gonçalves Dias:


“Minha terra tem palmeiras / Onde canta o Sabiá / As aves que aqui
gorjeiam / Não gorjeiam como lá”. Gonçalves Dias se referia a São
Luís do Maranhão quando em suas viagens se lembrava da terra berço.
Aprendi desde cedo com meus pais e meus professores a amar
a minha terra natal.
Tentei transcrever em páginas escritas e com o coração repleto
de amor por Parnaíba o que sinto por esta querida cidade, onde nasci,
cresci, estudei, trabalhei e constituí uma família.
Parnaíba é realmente uma terra abençoada por Deus e tem como
Padroeira Nossa Senhora da Graça, mãe do nosso Salvador. Acredito
que ela distribui graças e bênçãos por todos que aqui residem e lhe
visitam.
E, para reafirmar a beleza de Parnaíba, basta ler o Hino da
Parnaíba escrita por R. Petit e com música de Ademar Neves.
Maria Christina Moraes Sousa

A lição da folha seca


No jardim da minha casa
há tantas folhas de variadas matizes,
em tons esverdeados, os mais diferentes.
Mas uma me chamou a atenção:
aquela folha seca...
Procurei aproximar-me
fitei-a demoradamente e pensei!
Quantas vezes ela empolgou
os olhos de observadores que nunca
imaginaram que era como todos nós.
Com o passar dos anos
tomamo-nos folhas secas,
longe dos olhares e
inúteis às decorações.
Mas, pensando bem,
quanta beleza escondida
na fragilidade do tempo
e quanta sabedoria guardada!
Assim, como a folha
que tantas vezes encantou
com sua rara beleza,
há tanta gente que se dedicou
a uma causa
e agora vive esquecida
no seu anonimato
como aquela folha seca,
murcha, caída ao chão.
Piauí em Letras - 3

Milton Borges _ Nasceu em


Teresina-PI, onde trabalha e reside.
Passou uma temporada em Recife-
PE, onde se formou em Medicina
pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE), e em São
Paulo-SP, especiali-zando-se em
Otorrinolaringologia, com Título
de Especialista pela Sociedade
Brasileira de Otorrinolaringologia.
Tempos depois, fez outras
especialidades: Medicina do Trabalho, pela Universidade São
Francisco, Rio de Janeiro-RJ, com Certificado de Especialista em
Medicina do Trabalho pelo Conselho Regional de Medicina do Estado
do Piauí, e Medicina de Tráfego, pela Faculdade Ciências Médicas,
Belo Horizonte-MG, com Título de Especialista em Medicina de
Tráfego pela Associação Brasileira em Medicina de Tráfego. Milton
Borges exerce as três especialidades durante os cinco dias úteis da
semana, adentrando em alguns finais de semana. No campo literário,
conta com algumas publicações, dentre coletâneas de contos e
romances, e mais de uma dezena de obras inéditas. Foi premiado
duas vezes pela Fundação Cultural do Piauí (FUNDAC), na categoria
romance. Participou de mais de meia dúzia de antologias literárias
no estado. Com dois romances publicados pela plataforma Amazon
Kindle Direct Publishing: Vampiro de Órgãos e Vermelho Brasil.
Mantém o blog Café com Bala e o Instagram: cafecombala.
Milton Borges

A Primeira Vítima
Era final de tarde de sábado, o carro estaciona numa vaga do
pátio de estacionamento do hotel, na avenida Severo Eulálio, o homem
do banco do carona e o do banco traseiro saltam; o motorista
permanece por trás da direção, sintonizado na programação da Rádio
Liderança FM Picos, no aguardo da volta dos parceiros.
Os homens se encaminham ao balcão da recepção e anunciam
a intenção:
_ Estamos sendo esperados por Manuel Rocha.
_ Qual o nome de vocês? _ consultou o recepcionista.
_ Tonho e Odorico.
Nem seus nomes ou o do hóspede correspondiam à identidade
verdadeira; mas o recepcionista não precisava saber; certo?
_ Vou ligar ao quarto.
O recepcionista entra em contato com o hóspede comunicando
a presença dos visitantes; recebe a autorização para deixá-los subir.
_ Quarto 310.
Os homens tomam o elevador, saltam no terceiro piso, apertam
a campainha do quarto.
A porta é entreaberta, o hóspede insinua o rosto pela fresta,
com uma pistola na mão camuflada às suas costas, observa
atentamente os recém-chegados, convida-os ao interior com um gesto
da mão livre, depois chaveia a fechadura atrás de si e enfia a arma
por baixo da fralda da camisa.
Receptivo, indica o frigobar.
_ Querem beber alguma coisa?
_ Somente água
_ Fiquem à vontade.
Os visitantes se servem de água mineral, em seguida interrogam
o hóspede.
Piauí em Letras - 3

_ Então, qual o trabalho?


_ Esse indivíduo.
O hóspede estende uma fotografia com as especificações físicas
do retratado no verso da foto de tamanho 10x15.
_ O que devemos fazer!
_ Deem um fim nele.
_ Como o encontraremos?
O contratante diz o nome do município onde o visado havia
estabelecido residência
_ O que ele fez de errado?
_ Não é da conta de vocês.
_ Tudo bem; e o pagamento?
_ Metade agora, metade depois.
Um dos homens, o que parecia ser o líder, folheia as cédulas
do maço da transação entregue a ele, confere o montante, balança
positivamente a cabeça e guarda o dinheiro no bolso.
_ Pra quando quer o serviço?
_ Pra ontem.
_ Há algum contato de confiança na região?
_ Sim, um morador do município.
_ Como será a apresentação?
O contratante detalha os dados para a identificação do sujeito.
_ O cara vai tá esperando por vocês.
Ele especificou o local do encontro, alertando da necessidade
de preservar a confidencialidade do contato.
_ Não o exponham de modo algum.
_ Faremos o impossível.
Milton Borges

Na saída, os visitantes acenam em despedida.


_ Até a próxima.
_ Boa sorte.
Eles descem e entram no carro; o chefe comunica o destino da
jornada ao motorista.
_ Belém.
_ Do Pará?
_ Do Piauí, idiota.
_ Ah, certo.
_ Conhece?
_ Claro.
_ Como é o lugar?
_ Bem tranquilo.
_ De que forma?
_ Quase parando.
Por hora, ele se dá por satisfeito com a informação. Não
acreditava que ia ter dificuldade na missão.
_ Entendi.
O carro sai do estacionamento, faz o contorno à avenida,
incorporando-se ao fluxo de veículos, àquela altura, um verdadeiro
tumultuado: carros e motos de todas as formas e maneiras, numa
cacofonia de roncados de motores e buzinadas de enlouquecer o juízo.
O sol encolhia-se no horizonte em uma barra de luz, as sombras
se alongavam, a noite caía. O motorista calcava o pé no acelerador
sem muita pressão, a uma velocidade moderada, a missão teria de ser
cumprida nessa mesma noite, mas não havia muita pressa para chegar
ao itinerário.
Durante o percurso o chefe explicou como seria a abordagem,
os parceiros aceitam a ideia sem nenhum questionamento, como sempre.
A liderança não era gratuita, dos três era o que tinha melhor cabeça.
Piauí em Letras - 3

Os 70,9 km de distância de condução pelo trecho da BR-407


foram percorridos em uma hora e pouco, nenhum incidente.
Cruzam o marco demarcatório de Belém do Piauí, pegam a rua
principal, que apresentava um movimento discreto nas áreas dos
botecos, onde a freguesia rala bebia e papeava deixando o tempo
correr, e nas calçadas das residências, nas quais os moradores
tomavam a fresca noturna fofocando sobre a vida dos conterrâneos
e assuntando o que se passava no entorno.
Os postes da iluminação pública espargiam uma claridade
frouxa, em parte estrangulada pela escuridão crescente da noite.
Seguindo o roteiro especificado, o motorista faz o desvio a
uma ruela escura, estaca o carro, deixando o motor a ronronar em ponto
morto.
Um homem se aproxima pelo lado do carona, os traços borrados
pelo sombreamento reinante.
_ Oi, sou o contato de vocês.
O chefe oferece-lhe os acessórios táticos policiais: um colete
com o distintivo da Polícia Civil e uma touca ninja.
_ Vista
O homem resguarda o peito com o colete caracterizado e oculta
a identidade fisionômica com a máscara tática
O chefe indica uma das portas traseiras.
_ Entre.
O belenense se acomoda no banco.
_ Vamos então nessa?
_ Pra qual região?
_ Um povoado de nome Lagoa Grande.
_ Onde o cara se esconde?
_ E reside com a família.
O lugarejo, zona rural do município, ficava a 5 km da sede
da cidade, numa estrada carroçal estreita, de difícil acesso.
Milton Borges

Eles chegam ao destino. O motorista estaciona o carro com a


dianteira virada para a casa do visado, os faróis rasgando túneis de
luz no negror ambiental, uma vez que o povoado, de tão esquecido
pelas autoridades administrativas, não dispunha nem do
beneficiamento de energia elétrica.
Três homens saltam do veículo, todos com coletes policiais,
um deles encapuzado.
Intrigados com a situação inusitada, uma mulher e duas crianças
assomam à porta.
_ Chame seu marido _ ordena um dos forasteiros.
_ Não tá em casa _ ela responde, hesitante.
_ Onde, então?
Como ela não sabia o que os supostos policiais queriam com o
marido, tampouco tinha coragem de perguntar, na dúvida deu uma
resposta vaga:
_ Passeando.
_ Nessa escuridão?
_ Tá acostumado.
Da casa dos pais da esposa, aproximadamente uns duzentos
metros adiante, onde se encontrava em animada palestra com o sogro
no alpendre, sob a iluminação bruxuleante de uma lamparina a
querosene, ao notar a movimentação estranha na frente de sua
residência, o morador resolve retomar ao seu domicílio, com a
intenção de conferir o que se passava, em companhia do sogro,
igualmente curioso.
Ao avizinharem da casa, o morador e o sogro são rendidos.
_ Sentem na calçada, as mãos em cima da cabeça.
Eles obedeceram, o chefe se apresenta e aos seus subordinados.
_ Somos policiais, recebemos uma denúncia que você possui
arma de fogo em casa.
_ Ora, apenas uma espingarda ultrapassada _ esclarece o
morador.
_ Cadê ela?
Piauí em Letras - 3

_ Em cima do guarda-roupa.
Um dos homens entra na casa, invade o quarto do casal e retorna
com uma velha espingarda de caça, modelo 12.
_ Pra que queria a arma?
_ É normal ter armas por essas bandas, até pelo isolamento da
região.
_ Tem registro?
_ Como podem ver é antiga, o registro tá perdido.
_ Tem feito uso da espingarda?
_ As vezes, uma caça.
_ Tem autorização do Ibama pra caçar?
_ Não.
_ Então reconhece que está errado?
_ Só caço pra complementar a refeição, sem prejuízo ao meio-
ambiente.
_ É o que dizem todos os caçadores clandestinos.
_ Não estoco carne de caça em casa, nem faço comércio com
os bichos.
_ Ainda assim, mata as inofensivas criaturas de Deus.
_ Juro que não faço mais nada disso.
_ Agora é tarde, sua situação está muito enrolada.
_ Posso contratar um advogado?
_ O caso ultrapassou a possibilidade de defesa.
_ O que isso significa.
_ Sua punição foi decretada.
_ Não!
Num gesto ensaiado, os homens apontaram os revólveres a ele e
desfecharam uma série de disparos. Com o peito e as pernas atingidas, o
Milton Borges

morador teve morte instantânea. Os assassinos trancaram o sogro e a


família da vítima dentro da casa, jogaram a chave fora e se arrancaram
da região, levando a espingarda com eles.
Minutos depois, a polícia foi acionada pelo sogro, que sem
muito esforço conseguiu arrombar a porta, numa ligação falha do seu
celular, Os agentes fazem o levantamento da cena e a perícia do crime;
o corpo do agricultor foi encaminhado para o exame cadavérico no
IML de Teresina.
De acordo com o comandante do Grupamento de Polícia
Militar, aquele tinha sido o primeiro caso de assassinato registrado
no município de Belém do Piauí, desde sua emancipação política da
cidade de Padre Marcos em 1996.
A polícia encarregada das investigações, a 13ª Delegacia
Regional de Polícia Civil, sediada na cidade de Jaicós, ainda não
tinha apurada qualquer suspeita do motivo do crime. A vítima estava
morando há pouco tempo na região: era natural de Simões e não
contava com nenhum registro policial.
Recentemente, uma reportagem de uma revista de grande
circulação nacional havia apontado Belém do Piauí como um dos
lugares mais tranquilos do Brasil, de acordo com dados do Mapa da
Violência do ano em questão.

Enterro Ameaçado
_ Ele era um bom menino, não entendo a razão de tanta
perversidade...
A mãe chorava aos desesperos ao lado do esquife do
adolescente, corpo velado em companhia de um pequeno ajuntamento
de parentes e amigos da família.
Contudo, exceto a genitora, ninguém derramava uma só lágrima
pelo defunto, uma ou outra acompanhante exibia os olhos marejados
de pena da pobre mulher, embora jamais pelo morto, que, mesmo na
imobilidade definitiva do último sono, merecia pouca compaixão.
Piauí em Letras - 3
_ Coitado, seu maior erro foram os amigos imprestáveis.
Em respeito ao padecimento materno, os presentes não ousavam
externar uma só nota de ressalva contra a observação. Todos ali
estavam mais do que bem informados, inclusive a mãe, que Ruan era
um dos piores malfeitores do Promorar. Veterano em passagens pela
polícia, apesar da pouca idade, ficha criminal corrida com registros
de agressão, roubo, vandalismo, uso de drogas, tentativa de homicídio,
suspeita de assassinato.
A mãe, pobre sofredora, havia sido a testemunha mais fidedigna
dos delitos do filho, desde a infância, antes mesmo dele haver
adquirido experiência em lições de bandidagem. Uma prova, segundo
os conhecidos, de Ruan já ter nascido ruim, com o diabo na alma. O
tempo e a maturidade só aprimoraram a maldade. As tentativas de
guiá-lo ao bom caminho sempre resultaram inúteis.
A própria mãe havia se incorporada na condição de vítima de
suas velhacarias, inúmeras vezes. Os primeiros roubos haviam sido
praticados em casa: dinheiro, TV, rádio, ou qualquer objeto aceito
nas transações com drogas. Ruan era usuário de maconha, cocaína,
crack e de qualquer substância psicoativa que caísse em suas mãos.
Ele passava uma parte do tempo drogado; a outra, metido em confusão.
Mesmo assim a pobre mulher não abandonava a esperança na
regeneração do filho, o encontro da trilha da retidão, da bondade.
Porém, a morte representou o fim de seus sonhos, o garoto jamais
teria oportunidade de se confessar, pedir perdão a Deus, ser abençoado
com a remissão dos pecados.
A mulher amargurava o desfecho trágico aos soluços.
_ E agora, como esperar o encontro com o Criador?
Uma amiga consolava-a, solidariamente:
_ Calma mulher, o Pai é grandioso, o menino será perdoado.
No outro mundo, talvez; nesse, nem na morte. Os assassinos
não se mostravam satisfeitos apenas com a execução do garoto.
Mesmo depois de tirar a vida de Ruan, insistiam em negar-lhe o direito
a um enterro decente.
O motivo do crime, seja qual fosse, não fora aplacado nem com a
Milton Borges

consumação do ato. Os criminosos, membros de uma gangue


rival juvenil, juravam que na primeira oportunidade iriam se apossar
do caixão, queimar o corpo. Como uma manifestação ritual de ódio e
desprezo pelo morto.
Uma dupla de policiais esperava impacientemente o
encerramento da cerimônia de despedida, um adeus já tarde demais,
pela obrigação de escoltar o cortejo ao cemitério Santa Cruz,
protegendo-o da ofensiva inimiga. Mas por eles os restos mortais
seriam abandonados ao deus-dará. Pouco se importavam com o
destino do morto, um lixo a menos no bairro.
Estavam ali apenas por dever do ofício e nada mais.
Piauí em Letras - 3

Mozaniel Almeida

Nem me recordo qual foi mesmo o ano,


Que vim a este planeta em parto fórceps,
Em “Piauí em Letras” sou princeps,
Criado com feijão e com tutano,
Creio que só exista um Soberano,
Que me fez sem frescuras e mania,
Filho de Cipriano com Maria,
A vagar sem destino pela terra,
Mas sei que o bom cabrito aqui não berra,
Por isso estou vencendo esta porfia.
Filho do Piauí com Teresina,
Fui amarrar meu jegue em Sergipe,
Participo também desta equipe,
Entre tantos faróis sou lamparina
Entre mísseis me sinto lazarina,
Tacando chumbo, pólvora em poesia,
Mozaniel Almeida

Igual gato correndo de água fria,


Um peão estradeiro entre doutores,
Todas minhas amoras e amores,
Por isso estou a vencer esta porfia.
Apelidado até fui de escritor,
Filósofo também de botequim,
Poeta, articulista, o diabo enfim,
Mas na verdade eu sou agrimensor,
Na Trigonometria sou mediador,
Estudo Latim, Grego, Teologia,
De poeta só tenho a alegria,
Cito “causos” do meu cotidiano,
Sou filho de Maria com Cipriano,
Estou vencendo aqui esta porfía.
Aonde eu for levarei a minha aldeia,
Cantando com saudade o meu Estado,
Os amigos carrego aqui de lado,
Num bom papo de prosa e prosa e meia,
Não choro mesmo estando a coisa feia,
Ao mundo vim sem vícios e malícia,
Caso único sou na obstetrícia,
Todos choram, porém nasci sorrindo,
A parteira de medo foi sumindo...
E assim termino minha biografia.
Piauí em Letras - 3

O Engraxate
Desbravando esses brasis, conheci Nicolau em Carolina, cidade
ao sul do Maranhão onde morei e trabalhei por alguns anos, em
meados da década de 80 e onde fui feliz. Era um rapaz de boa índole,
cumpridor de suas obrigações, muito boa gente, acima de tudo
prestativo e bem humorado. Tirando-se todos os defeitos, o que
sobrasse depois de uma boa peneirada daria para aproveitar!
Certa vez, estávamos atravessando a ponte de madeira sobre o
Rio Balsas, em Balsas-Maranhão. A faixa de rolamento da ponte só
comportava um veículo de cada vez, de forma que, quem adentasse
primeiro à ponte, teria preferência. Por sorte que a pista estava livre
pra nós, só que, em dado momento, Nicolau, que dirigia o carro, para
nossa total surpresa, engatou uma marcha à ré e acelerou de volta.
Questionado, ele respondeu:
_ Vocês não estão vendo que vem um cachorro no meio da
ponte em nossa direção? Eu já voltei por causa de um bêbado, posso
muito bem retornar por causa do cachorro! Era verdade. Coitado do
cão, com dificuldade andava com uma pata traseira avariada. Tivemos
que esperar ele passar por nós e prosseguir. Esse era Nicolau!
Quando garoto era cheio de artes, presepeiro, cheio de não me
trisque, no entanto, sempre foi trabalhador, gostava de ter seu
dinheirinho. Carolina era uma cidade pequena, sem muitas
oportunidades e encravada no meio do nada, longe de tudo. O Rio
Tocantins era a via por onde escoava a maioria das produções. Neste
ambiente, Nicolau, que tinha uns dez anos de vida, improvisou uma
maleta, comprou alguns insumos e saía de porta em porta ou gritando
na rua: Engraxaaaate... Quem quer engraxar sapaaaaatos...? E assim
ia se safando!
Seu ponto favorito era a agência de ônibus da empresa
Transbrasiliana, que era ao mesmo tempo a tosca rodoviária da cidade.
Mesmo com pouco movimento e cobrando CR$ 3,00 (três cruzeiros)
por cada par de sapatos, dava para se virar. Numa dessas aconteceu o
motivo dessa narrativa.
Mozaniel Almeida

Era dezembro de mil novecentos e não me lembro, inverno


forte, estradas sem revestimento, mais buracos que estradas, atoleiros
sem contas. Viagens por aqueles fins de mundo em qualquer sentido
era um desassossego de vida, era uma epopeia de chateações. A
empresa que monopolizava a linha não poderia colocar ônibus novos
porque a estrada não permitia. Era normal ver-se carros de todas as
marcas e tipos atolados até o semieixo. As duas cidades mais próximas
eram Estreito, a cem quilômetros de distância, e Riachão, para o outro
lado também a cem quilômetros sem nada no meio.
Antes de Riachão havia o “ronca”, uma chapada de areia fofa,
tormento dos mais experientes motoristas. Os passageiros eram
obrigados pelas circunstâncias a ajudar a desatolar os ônibus. Até
então não havia ponto de apoio para troca de motoristas. Nessas
viagens longas, dois motoristas que se reverzavam no volante e ainda
serviam de cobradores, recebendo o dinheiro dos passageiros que
embarcavam ao longo da estrada. Coitados desses! Eram tão vítimas
de aborrecimentos quanto os passageiros por eles transportados. Uma
viagem de Floriano-PI à Carolina-MA, cerca de seiscentos
quilômetros, se fazia em vinte e duas horas no verão, no inverno não
havia previsões.
Numa dessas, eis que chega um ônibus na rodoviária.
Passageiros descendo extenuados com tantos solavancos, rostos mal
dormidos, chateados e entre eles um senhor calçado num sapato
vulcabrás todo sujo, impregnando de lama ressecada. Era um bom
momento para o engraxate oferecer seus serviços. Vulcabrás era uma
marca de sapatos masculinos, de couro e com solado de borracha
vulcanizada. Era um calçado que vencia a gente pelo cansaço, pois
não acaba nunca. Tinha uma durabilidade incrível e pegava brilho
até com cuspe. Acontece que o passageiro parecia estar com pouco
dinheiro e não cedia a pressão do garoto por mais que esse insistisse
em lhe engraxar os sapatos. Num certo momento, já aborrecido com
Piauí em Letras - 3

a inconveniência do menino, o homem lhe falou:


_ Olha, você já passou dos limites. Eu não quero engraxar
sapato algum, se você quiser engraxar de graça, engraxe, o problema
é seu.
Para surpresa geral o menino respondeu que engraxaria de
graça, sim. Ninguém entendia tanta determinação para executar um
trabalho. Em seguida, o homem colocou um pé sobre o suporte da
maleta e o garoto iniciou seu ofício. Primeiro retirando
cuidadosamente a lama ressequida. Limpou, passou a pasta, escovou,
fez o “vai e vem” com flanela e álcool e o sapato exibiu um brilho
exuberante. O engraxate muito delicadamente retirou o pé do cliente
do suporte, guardou seus materiais, fechou a maleta, agradeceu e saiu,
ficando o tal homem com um dos sapatos sujo. Nisso o freguês
desesperado começou a gritar pelo menino, dizendo que faltava
engraxar o outro pé...
_ Negativo. _ gritou Nicolau. _ Eu disse que engraxaria de
graça só um sapato, o outro só engraxo se me pagar dobrado e
adiantado. O senhor está pensando que sustento os meus filhos
trabalhando de graça para os outros?
O riso foi abundante na rodoviária. Diante daquela situação única
na vida, o homem não teve outra saída que não fosse pagar adiantado
os CR$ 3,00 para que o trabalho fosse concluído.
Nicolau, menino arisco, hoje homem feito, um dos bons amigos
que a vida me contemplou e que por outras razões nos separamos no
tempo. Oxalá nos reencontremos um dia, mas que por especial dúvida
é sempre prudente ter R$ 3,00 no bolso.
Mozaniel Almeida

O Padre e o Diabo
Por ser um caso verdadeiro e por eu ter ouvido diretamente da
boca do próprio padre, relutei muito em escrever, especialmente
levando em conta o fato do personagem central não se encontrar mais
entre nós, o que poderá suscitar comentários variados. O fato não me
foi contado em regime de sigilo e poderá ser do conhecimento de
outras pessoas, porém não de muitas.
Padre Arnóbio Patrício de Melo, ou simplesmente Padre
Arnóbio, foi um sacerdote católico de origem, formação e prática
salesiana. Ordenado no ano de 1957 em São Paulo, tornou-se no início
dos anos 60 padre secular na Arquidiocese de Aracaju a chamado de
Dom José Vicente Távora. Ficou conhecido como o Padre da
Juventude, pelo carisma de Dom Bosco, no trato com estudantes
salesianos, adquirido durante os anos de diretor desses colégios. Era
pernambucano de Camucim de São Félix. Homem probo, sério,
intelectual, dominava línguas clássicas além do Francês, professor
universitário de Português. Sacerdote cioso do seu ofício e
contraditoriamente de alma anárquica no sentido figurado. Gostava
de gente, vazávamos noites contando loas e causos. Possuía, segundo
seus pares, ideias megalomaníacas, algumas dessas extravagantes por
natureza. Nascera especificamente para ser professor e sacerdote e
por isso se dizia feliz e realizado.
Ajudou a fundar o MDB em Sergipe, elegendo-se vereador em
Aracaju por três legislaturas, enfrentando com sabedoria os governos
militares da época. Foi por esse tempo e por isso que acabou se
envolvendo numa contenda de mal entendidos com o Arcebispo de
então, Dom Luciano Cabral Duarte. Disso lhe resultou ter as Ordens
Sacerdotais suspensas por tempo indeterminado. Isso nunca foi
segredo para ninguém, já que fora amplamente divulgado pela
imprensa.
Muitas vezes já me peguei matutando sobre um profissional que
tem sua carteira cassada, impedido injustamente de exercer seu trabalho.
Piauí em Letras - 3

A esse cabem alguns recursos jurídicos, mas ao padre nada mais


lhe resta a não ser a obediência. Sem paróquia, combalido, chateado,
com as ideias desarrumadas, coração confrangido, certamente com
uma boa dose de raiva humana e sem ter pra quem apelar, recolheu-
se em sua casa, ruminando seu desgosto. Por detrás do envolvimento
político- partidário que de início foi o motivo de desentendimento
com o Bispo, há outro que me foi revelado pelo padre, que eu não
conto pra seu ninguém e que me leva a pensar ter sido obra do inimigo
de Deus.
Um fato extraordinário, que ultrapassa a imaginação dos
oníricos pesadelos, aconteceu vinte e quatro horas após a assinatura
do comunicado da Cúria sobre a suspensão do quadro clerical
arquidiocesano. O padre estava em sua casa, quando o diabo entrou
de porta adentro, conduzindo uma grande mala de couro sobre a cabeça.
Até então não existiam as malas com rodinhas que nos facilitam a
locomoção. Deu boa tarde e assentou-se. Não era um diabo nos moldes
mostrados nas figuras infantis do século XIX, com chifres, rabo de
seta, pés de cabra e um tridente. Não era um diabo ensaiado pela
Teologia do medo, por isso mesmo apenas as pessoas de raciocínio
aguçado poderiam concluir de quem se tratava. Muito pelo contrário,
era um homem do seu tempo, bonito, alto, elegantemente trajando
um terno azul-marinho impecavelmente bem cortado, gravata sóbria,
com voz agradável, simpático. Sem arrodeio, já foi direto ao ponto.
_ Padre Arnóbio, eu soube do que lhe aconteceu por esses dias
e especialmente ontem. Vim não somente para hipotecar minha
solidariedade, porque isso de nada lhe valeria. Como disse São Tiago:
Se um irmão estiver faminto e outro lhe disser: Ide em paz e aquecei-
vos e saciai-vos, se não lhe der ajuda de que lhe adiantará isso? O
senhor foi um homem talhado para a batalha, para o enfrentamento e
não irá ficar refém dessa cassação mequetrefe de Dom Luciano.
Conheço o senhor de longas datas, sei da sua garra, de sua competência
e não é justo enferrujar premiando a soberba desse bispo...
Mozaniel Almeida

O diabo não é apenas inteligente, como esperto, perspicaz,


finório. Quando Jesus foi tentado no deserto, esse usou passagens
bíblicas e ainda O questionou: “Se és o filho de Deus...” A tática não
mudou muito só que agora ele chegou elogiando: “O senhor foi talhado
para a guerra.
Neste ponto da conversa, abriu as travas da grande mala que
havia depositado sobre a mesa, abrindo-a escancaradamente. O padre
me confessou nunca ter visto tanto dinheiro na vida. A mala estava
abarrotada de pacotes das maiores notas da época e não sabia como
ele conseguira retirar tanto dinheiro do banco. Sabia ser do banco
por causa das fitas timbradas que enrolavam os maços de notas. Em
peso deveria atingir mais de oitenta quilos. Não saberia avaliar o
montante, mas que lhe causara assombro.
_ Esse dinheiro é seu por empréstimo disse-lhe. _ Ponha uma
igreja para o senhor pregar na Barra dos Coqueiros. Não precisa assinar
documento algum, se um dia o senhor puder me pagar e quiser me
pagar eu recebo, mas se não puder ou não quiser, a dívida se encerra
aqui, isso sequer chega a ser um acordo de cavalheiros.
Nessa altura da narrativa eu estava gelado, ouvindo tudo sem
questionamento, absorvendo cada frase, cada gesto, cada inflexão de
voz.
Não me causa estranheza as investidas do inimigo, mas as suas
sutilezas não serão vistas sem muito estudo. Para quem não conhece
Barra dos Coqueiros, digo que é um município sergipano encravado
de frente de Aracaju, apenas separado da capital pelo Rio Sergipe,
numa distância reta de um quilômetro, seria um dos bairros mais
próximos do centro da cidade. Por que escolher Barra dos Coqueiros
para essa nova igreja? Para os bons observadores não seria difícil
matar a charada. Via de regra, nas cidades que têm rios os templos
católicos são de frentes para o rio, poucos casos contradizem isso.
Ora, colocar uma igreja na Barra de frente pra o rio seria o mesmo
que dizer porta com porta com a Catedral Metropolitana, onde o Bispo
celebra. Seria um enfrentamento direto e declarado.
Piauí em Letras - 3

Quantas vezes já não me perguntei qual homem fragilizado,


moralmente derrotado numa refrega, ainda enraivado e sangrando
pelo calor da luta, que tendo vinte e quatro horas depois uma real
possibilidade de reverter o revés, tendo por aliado o dinheiro e dinheiro
é poder, ficaria impassível? Ainda mais o Padre Arnóbio, homem já
com tantos familiares assassinados em Pernambuco por motivos
eleitorais. Homem de índole forte e por vezes de pavio curtíssimo. A
oportunidade inesperada estava ali, desenhada a suas vistas, era pegar
ou pegar!
Depois da irrecusável oferta declarada, o padre levantou-se e
respondeu de forma clara, curta, incisiva:
_ Senhor, eu estou impossibilitado de celebrar, mas meu
sacerdócio é indelével, nem o Papa tira-o de mim e o meu sacerdócio
não está à venda. A minha encrenca com Dom Luciano um dia acabará,
não sei quando, mas acabará. Sai imediatamente de minha casa com
seu lixo.
O homem, sem mais dizer palavras, fechou sua mala e da forma
como adentrou saiu para nunca mais ser visto.
Se se pudesse abrir uma janelinha lá no céu, onde se visualizasse
dois personagens da Igreja, eu gostaria de ver a alegria de Dom Bosco
e João Maria Vianney. O primeiro foi o fundador da Congregação de
São Francisco de Sales (salesiano), o segundo, também conhecido
como o Cura d’Ars, é o patrono dos sacerdotes. Certamente estariam
dando cambalhotas!
Esse afastamento demorou dezesseis anos, até que um belo dia
Dom Luciano Cabral Duarte, o mesmo que o afastou, solicitou a
presença de Padre Arnóbio na Cúria Metropolitana de Aracaju. O
padre foi. Os dois conversaram longamente, desculparam-se,
perdoaram-se pelos excessos anteriores e Dom Luciano ofereceu-lhe
uma paróquia nova que seria desmembrada do território da Farolândia,
mais exatamente abrangendo todo o Bairro São Conrado. Contudo, o
Bispo não arredou pé dos argumentos anteriores, Padre Amóbio teria
Mozaniel Almeida

que se desvincular da vida político-partidária. O padre prontamente


aceitou e veio reiniciar a vida paroquial na Paróquia Nossa Senhora
do Perpétuo Socorro de 1991 até quando morreu, em 8 de setembro
de 2005, no Hospital São Lucas, vítima de um enfarto cardíaco, isso
depois de ter vencido um câncer agressivo.
Era um homem probo, político reto, professor exemplar,
conferencista requintado, obsequioso e um sacerdote que sorria com
o rosto todo. Como pároco, nunca necessitou de um centavo da
paróquia. Conheci-o de perto na convivência do Conselho
Deliberativo Paroquial, por ele implantado, e em trabalhos pastorais
outros, talvez eu fosse a pessoa mais próxima dele na Paróquia, reputo
como merecedor de todos os elogios.

À frente de seu tempo, venceu até o diabo.

Eu escutei, acreditei e conto.


Piauí em Letras - 3

Sissi Carvalho _ É piauiense,


médica epidemiologista e
reside no Rio de Janeiro desde
a década de 80. Publicou as
primeiras poesias ainda muito
jovem, nos jornais A Luz e O
Cometa e é membro do
Instituto Histórico de Oeiras
desde a sua criação. Após
participar da coletânea “As
Melhores Poesias do Século”,
lançou seu primeiro livro de
poemas, “Alma Desnuda”, na
Bienal do Livro em 2003. Posteriormente, manteve a coluna literária
“À sombra do Imbuzeiro” no Portal do Sertão da Fundação Nogueira
Tapety. Participou de “Sonetos e Retalhos”, uma homenagem ao poeta
oeirense Gerson Campos. Em 2019 colaborou na coletânea de poemas
da Oficina Literária “Poesia: Ler, Escrever, Apresentar”, promovida
pelo Centro Cultural do Ministério da Saúde do Rio de Janeiro. Ainda
em 2019 publicou o seu primeiro romance, “O Amor Desfeito em
Pó”, através da Letra Capital Editora.
Piauí em Letras - 3

Um gosto de Aluá!
Bebeu da água
Do Mocha
Um dia
Há de retornar,
Não tem jeito.
É dito e feito!
Rezou na Igreja

Do Rosário,
Outro rosário
Não rezará,
Com a mesma paz,
Noutro lugar.
Comeu cocada
Da PTB,
De leite,
Batata,
Do que fosse,

Nunca mais
Encontrará
Sabor igual
Noutro doce!
Descansou
À sombra
Do umbuzeiro.
Provou umbu,
“imbu verdadeiro”?
Sissi Carvalho

Aos sábados,
Na Igreja da Conceição,
Depois que o ofício
Acabou,
Juras de amor,
Aos pés da cruz,
Inda que passageiras,
Trocou.

Muitas vezes
Também viu,
D. Maria Carcará,
No ritual
Quase divino,
Do preparo
Do aluá!
E, à noite,
Espreitou a lua,
Grande e linda,
Nascer tão perto
Que se estendesse a mão,
Decerto,
Puxaria a cauda do
dragão...

São lembranças...
São ausências...
De tão constantes,
Verdadeiras!
Luar... Aluá...
Eternamente,
Oeiras.
Piauí em Letras - 3

Encantamento

Quem é de Oeiras sabe


A força que o “Mocha” tem.
Quem bebe d’água do Mocha
Nunca vai embora, vem.
Foi coisa do riacho Mocha,
Que sem fazer alarido,
Uniu-se a um rio comprido
Chamado de Canindé.
Decidido a fazer arte,
Durasse ano ou semana,
Conquanto um dia chegasse
Ao mar de Copacabana.
E serpeante foi indo,
Entre veios de mistério,
No afã de depositar
Junto à “princesinha do mar”
Um livro do poeta Climério.
Completou o Mocha a empreita!
Provou que o encanto da vida
É o inesperado que nos ronda,
O “tudo pode acontecer”
Que nos espia, espreita.
Riacho de mistérios insondáveis.
Sissi Carvalho

Oeiras dos amores contrariados


Chamava-se ainda “Rua do Hospital”...
Era Sexta-Feira da Paixão de um ano
Cuja data minha memória hoje ignora!
Lá fora, bateram palmas no portão.
E em meio ao som de passos, matraca e sino,
Ouvi meu nome seco, rascante, nordestino,
Ser chamado com a urgente inflexão
Que só um homem apaixonado
Imprime ao pronunciar o nome amado,
No limite entre a loucura e a razão.
Em vão disse a mim mesma, atender não fosse,
Mas a voz no portão era tão doce
Que meu coração abriu um largo sorriso
E de corpo inteiro adentrou no paraíso
Daquele peito. Não teve jeito,
Não houve espaço para reflexão.
Piauí em Letras - 3

E era Sexta-Feira da Paixão...


Se alguém nos viu ou via, azar!
Que se haveria de fazer,
A não ser culpar o ar,
Por trazer naquele momento
Feromônios acumulados,
A salvo do esquecimento.
Quando meu rosto levantado
Encontrou o teu que descia,
O dia, então, se fez noite!
Mas da ilusão, o breve açoite,
Durou somente o eclipse total.
E quem passou, depois, pela Rua do Hospital,
Sentiu apenas um “cheiro de amêndoas amargas”.
Piauí em Letras - 3

Solange Veras Roque _


Nasceu em 07 de dezembro de
1986, em Estreito dos Martins,
Granja-CE. Graduada em
Língua Portuguesa pela
Universidade Estadual Vale do
Acaraú e especialista em Língua
Portuguesa e Literatura pela
Faculdade de Tecnologia Darcy
Ribeiro. Leciona desde os 18
anos. É professora efetiva da
Seduc do Piauí e da Prefeitura
Municipal de Luís Correia.
Atualmente reside e trabalha no
povoado Brejinho, zona rural de
Luís Correia. Amante da
Literatura e da profissão. Perdeu
uma irmã em junho de 2018, vítima de feminicídio, e desde então
faz parte da luta de combate à violência contra a mulher. Participou
da coletânea Vozes Femininas, com o poema “Eu, tu, nós, Mulheres”,
lançada em 08 de março de 2020, no Rio de Janeiro.
Solange Veras Roque

Soneto de Saudade

Fixar o meu pensamento em ti


É algo que me causa emoção
E ao não ser possível tê-lo aqui
Sinto um forte aperto no coração.

Uma sensação descontroladora


Que vai invadindo do corpo à mente Somente
saber que te terei comigo
É o que me deixa de novo contente.

É um sentimento avassalador
Que sozinha já não posso encontrar-me
Pois assim o mundo não tem magia.

Preciso urgente e necessariamente


Da tua presença e compreensão
E do teu amor que me irradia.
Piauí em Letras - 3

Eu

Eu não sei por onde fiquei


Em que parte do mundo (vida) me perdi
Se em algo interessante fitei
Se o que precisava viver, vivi...

Tenho uma sensação estranha


Que de mim mesma fui me perdendo
E que na rotina “necessária” da vida
O viver era apenas seguir fazendo.

Chamei isso de desencontro


Desinteresse, desmotivação
Precisei “chegar ao fundo do poço”
Para voltar “a sentir o chão”...
_ Acorda, menina!...
Gritou a vida
E foi um grito tão forte
Que fiquei estarrecida....

_ Ei! Onde estou?


_ Que mundo é esse?
_ Está tudo bagunçado...
_ Olha pra mim! Veja como estou ferida!

Quando olhei ao redor


Percebi aos poucos o que aconteceu
Foi um ângulo de 360°
O pouco que “eu tinha” já se perdeu...
Sissi Carvalho

E não se contam os danos


Materiais ou imateriais
Olhei para a minha essência
Percebi que não a encontrava mais.

Saí do fundo do poço


Cheguei às areias do deserto
Por sorte não perdi a fé
E tive muitos anjos por perto.

Sei que muito tenho a percorrer


Pareço carregar uma grande sina
Mas não me limito e me ordeno
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima.

Segue em frente, moça


Veste a camisa e comanda a luta
Ninguém disse que seria fácil
Não há vitória sem que haja labuta.
Piauí em Letras - 3

Ser bom

Ser bom em meio ao “mal”


Ser bom em meio ao “mau”
Ser humano “bom” é “bom”
É bom ser animal racional.

Ser o eu que pensa em mim


Ser o eu que pensa no outro
Ser a vida que surge assim
E viver cada dia um pouco!

É linda essa capacidade


De querer ser cada vez melhor
Se o outro não compensar
Não se iguale ao que há de pior.

Viva a vida intensamente


Faça o bem sem olhar a quem
“Carpe Diem” e siga em frente
Sejam os sonhos o nosso AMÉM!
Sissi Carvalho

Maldade

A maldade está no ar
Disfarçada de amor
Presente na vida
Por trás do olhar...

A maldade surge
Disfarçada de amizade
De riso, de choro
De solidariedade...

Disfarçada
Ou escancarada

Matéria, espírito
Humano desumano

Mundo/imundo!
Piauí em Letras - 3

Sobre perder e ganhar


Perdi os fones, os cones
Quem se dizia amigo e amor
E entre perdas incontáveis
Encontrei muita dor...
Perdi o que achava que tinha
Ganhei o que não estava nos planos
Perdi de vista o controle
Tirei do peito o conclame!
Descobri o quanto sortuda sou
Porque nunca perdi a fé
E no apoio do amor de Deus
Tenho conseguido me manter de pé.
Encontrei amigos verdadeiros
Mãos dadas na necessidade
E, portanto, não posso duvidar
Que o amor existe de verdade!
O amor de Deus é forte
Nos transforma e dá resistência
E nos ensina que o amor próprio
Nos ajuda a ter resiliência.
E hoje eu olho para tudo isso
Ainda há muito o que superar
Mas não posso deixar de agradecer
Aos quantos estão a me ajudar!
É difícil decidir não se igualar
Nesse mundo onde tudo existe
É preciso aceitar que vai doer
Mas que do lado do bem a gente resiste!
Sissi Carvalho

Desfoque
Tentando não focar
No foco que me desfoca
Não dar trela
Ao que me atrela
E nesse meio termo de tentativa
Um nó na garganta se ativa...

Volto ao que “interessa”


Tento, retento e não me contento
Paro e penso um instante
Um lamento por dentro...
Um vazio que consome
Daquilo que aparece, reaparece e some.

Tempo “particípio”
Tempo perdido
Tempo ganhado
Tempo sorrido
Tempo chorado.

Coração sofrido
Coração amado
Amor bandido
Amor amado.
Ontem vivido
Amanhã esperado
Sorriso perdido
Sorriso ganhado.
Piauí em Letras - 3

Contatos dos autores


Adrião Neto _ adriaojneto@hotmail.com
WhatsApp (86) 9.9986-0573
Aila Brito _ ailamarianan@hotmail.com
WhatsApp (86) 9,9946-0855
Aldeni Ribeiro _ aldeni_ribeiro@hotmail.com
WhatsApp (89) 9.8117-5455
Antonio José Sales _ ajs_sales@hotmail.com
WhatsApp (86) 9.8186-1796
Augusto Barbosa Coura Neto _ augustocoura@hotmail.com
WhatsApp (48) 9.9844-2210
Cícero Rodrigues _ cicero.rodrigues@ifpi.edu.br
WhatsApp (86) 9.9960-4745
Dilma Ponte _ mdilmabrito@yahoo.com.br
WhatsApp (86) 9.8806-3264
Dina Paraguassú _ dinaparaguassu@yahoo.com.br
WhatsApp (89) 9.9972-3625
Edivaldo Lima _ boyedivaldo@hotmail.com
WhatApp (89) 9.9901-3313
Euzeni Dantas Nunes _ historiazen@gmail.com
WhatsApp (86) 9.9533-7174
Eva Graça Brito _ iddagreyssy@hotmail.com
WhatsApp (89) 9.9982-3473
F. Gerson Meneses _ franciscogerson10@gmail.com
WhatsApp (86) 9.9986-3355
Glauce Barros _ glauce.barros@bol.com.br
WhatsApp (89) 9.9406-2481
Piauí em Letras 3

Inácio Marinheiro _ imarinheiro@yahoo.com.br


WhatsApp (86) 9.8882-9866
João Passos _ joaopassos.cocal@hotmail.com
WhatsApp (86) 9.9936-7258
José Paraguassú _ joseparaguassu@yahoo.com.br
WhatsApp (89) 9.9925-4882
Josely Ribeiro _ grafica.pinheiro@bol.com.br
WhatsApp (86) 9.9844-1897
Lena Lustosa _ lenalustosa.capimdourado@gmail.com
Lisete Napoleão _ napoleaomedeiros@hotmail.com
WhatsApp (86) 9.9982-0266
Lucélia Maia _ lucelia_maia28@hotmail.com
WhatsApp (99) 9.8802-1757
Maria Christina Moraes Souza _ WhatsApp (86) 9.9444-4851
Milton Borges _ clinicamiltonborges@hotmail.com
Mozaniel Almeida _ mozanielalmeida@yahoo.com.br
WhatsApp (79) 9.9950-9041
Sissi Carvalho _ fmariacarvalho@yahoo.com.br
WhatsApp (21) 9.8804-6995
Solange Veras Roque _ solangevroque@yahoo.com.br
WhatsApp (86) 9.9935-9096
CONTRACAPA

Piauí em Letras - 3
ORELHAS E FILIPETA

Piauí em Letras - 3
ANEXO 1

TROFÉUS EM HOMENAGEM AOS COAUTORES


TROFÉU LITERÁRIO PIAUÍ EM LETRAS 3

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

ADRIÃO NETO
Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

AILA BRITO _ Poetisa


Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

ALDENI RIBEIRO DE SOUSA – Poeta e contista


COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

ANTONIO JOSÉ S. SALES


Poeta, contista, cronista e romancista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

AUGUSTO BARBOSA COURA NETO


Poeta e contista
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

CÍCERO RODRIGUES DOS SANTOS


Professor e Poeta
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

MARIA DILMA PONTE DE BRITO


Poetisa, contista e cronista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

DINA PARAGUASSÚ
Poetisa
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

_ EDIVALDO LIMA
Poeta
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

EUZENI DANTAS NUNES


Poetisa, historiadora, contista e cronista
Quero Livros
Ah! Como os livros são belos
e sempre, sempre eu os quero!
Quero livros que circulem livros,
livros que nos deixem livres!
Quero livros para refle r,
estudar, integrar,
livros que nos façam rir!
Quero livros de todos os gêneros,
cores, formatos e tamanhos,
pois com livros não há perdas,
com livros só temos ganhos!
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Eva Graça Brito

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

EVA GRAÇA MARIA DE BRITO


Poetisa
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

F. GERSON MENESES
Poeta e contista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

GLAUCE BARROS
Poetisa
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

INÁCIO MARINHEIRO DE OLIVEIRA


Historiador, cronista e memorealista
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

JOÃO PASSOS
Poeta, historiador, contista, cronista e romancista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
TROFÉU LITERÁRIO PIAUÍ EM LETRAS 3

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

JOSELY RIBEIRO MENDES


Contista, gráfico e editor
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

MILTON BORGES
Contista e romancista
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

MOZANIEL ALMEIDA
Poeta, contista, cronista e filósofo de botequim
Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

SISSI CARVALHO
Poetisa e romancista
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

SOLANGE VERAS ROQUE


Poetisa
ANEXO 2

TROFÉUS EM HOMENAGEM AOS SEGUINTES


PARTICIPANETES:

PORTELADA, autor do quadro VAQUEIROS DO PIAUÍ, publicado


na capa

RAIMUNDO FILHO SOUSA, autor do quadro BATALHA DE


HERÓIS, publicado na parte superior da contracapa

JAIR CRUZ TERRA, autor do quadro SOB A LUZ DO LUAR,


publicado na parte inferior da contracapa

JOSÉ PEREIRA DE ANDRADE FILHO, revisor

NETO SARAIVA, autor dos quadros publicados nas páginas 3 e 11

JOSÉ LUIZ DE CARVALHO, autor do texto DEMOCRATIZAÇÃO


DA PRODUÇÃO LITERÁRIA, publicado na página 7
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

PORTELADA
Artista plástico
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

RAIMUNDO FILHO SOUSA


Artista plástico
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

JAIR CRUZ TERRA


Artista plástico
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

JOSÉ PEREIRA DE ANDRADE FILHO


Professor
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

NETO SARAIVA
Artista plástico
COLETÂNEA

Batalha de Heróis, de Raimundo Filho Sousa

Adrião Neto
(Organizador)

Gráfica Pinheiro
Vaqueiros do Piauí, de Portelada
Sob a Luz do Luar, de Jair Cruz Terra

JOSÉ LUIZ DE CARVALHO


Escritor e jornalista
E-BOOK DA COLETÂNEA PIAUÍ EM LETRAS 3,
ELABORADO POR:

JOSELY RIBEIRO
E
ADRYANN SANTOS

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