Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
RELATÓRIO
Tratam os presentes autos de consulta formulada pelo Sr. Helder Honório da Silva,
Presidente da Câmara Municipal de Engenheiro Caldas, por meio da qual elabora o
seguinte questionamento, in verbis:
É o relatório, em síntese.
147
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
PRELIMINAR
Verifico, nos termos constantes da petição inicial, a fls. 01, que o consulente é parte
legítima para formular a presente consulta, e que o seu objeto refere-se a matéria
de competência desta Corte, nos termos dos arts. 210 e 213 do RITCEMG. Portanto,
conheço desta consulta para respondê-la em tese.
MÉRITO
Tendo em vista a estreita correlação entre as duas primeiras indagações do
consulente, opto por respondê-las conjuntamente:
Apesar de não ser assunto questionado pelo consulente, tendo em vista o papel
pedagógico desta Corte, chamo atenção para o fato de que não há, em regra,
necessidade de autorização legislativa para a alienação de bens móveis. Tal
entendimento foi consolidado na Consulta n. 708.593, de relatoria do Conselheiro
Gilberto Diniz, sessão do dia 28/11/2007, e na Consulta n. 720.900, de minha
relatoria, sessão do dia 27/05/2009. Nessas consultas, concluímos que a autorização
legislativa só é exigida para bens imóveis, conforme leitura do inciso I do art. 17
da Lei Federal n. 8.666/93, sendo, portanto, desnecessária para a alienação de
bens móveis, posição esta sustentada pela maioria da doutrina administrativa. No
entanto, pode haver a necessidade de autorização legislativa para alienação de
bens móveis, desde que exigida por lei estadual ou municipal, tendo em vista a
competência legislativa suplementar desses entes quanto à matéria.
149
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
Para a baixa contábil dos bens móveis alienados, o responsável pelo preenchimento
das informações no Sicam deverá buscar, na aba Ativo, subgrupo Ativo Permanente,
o campo de Bens Móveis, colocando o valor de alienação em Desincorporação. Sobre
o assunto, não se pode esquecer os comandos expressos na Lei Federal n. 4.320/64,
em especial nos arts. 94 a 97:
Art. 94. Haverá registros analíticos de todos os bens de caráter permanente, com
indicação dos elementos necessários para a perfeita caracterização de cada um
deles e dos agentes responsáveis pela sua guarda e administração.
Art. 95. A contabilidade manterá registros sintéticos dos bens móveis e imóveis.
Art. 96. O levantamento geral dos bens móveis e imóveis terá por base o inventário
analítico de cada unidade administrativa e os elementos da escrituração sintética
na contabilidade.
Art. 97. Para fins orçamentários e determinação dos devedores, ter-se-á o registro
contábil das receitas patrimoniais, fiscalizando-se sua efetivação.
150
Pareceres e decisões
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
1. receita tributária;
Tais receitas são classificáveis como Receitas Correntes, nos termos do art. 11
da Lei Federal n. 4.320/64 e da Portaria conjunta STN/SOF n. 02, de 08 de agosto
de 2007. Assim, sendo a receita de alienação de bens móveis uma Receita de
Capital e auferida pela própria Câmara Municipal, não há que se falar em qualquer
relação entre esta receita e o limite da despesa total expressa no art. 29-A da CR,
e as respectivas transferências efetuadas pelo Poder Executivo à Câmara Municipal
para honrar essa despesa.
1
Vide Consulta n. 753.232, de relatoria do Conselheiro Substituto Gilberto Diniz, sessão do dia 10/09/2008.
151
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
VOTO
Diante do exposto, respondo sinteticamente ao consulente que:
152
Pareceres e decisões
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
Retorno de vista
CONSELHEIRO EM EXERCÍCIO GILBERTO DINIZ
RELATÓRIO
Cuidam os autos da consulta formulada pelo Sr. Helder Honório da Silva, Presidente
da Câmara Municipal de Engenheiro Caldas, por via da qual indaga a esta Corte de
Contas, in verbis:
A Conselheira Adriene Andrade acompanhou o relator, após o que pedi vista dos
autos para melhor examinar a matéria.
153
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
MÉRITO
Ressalto, de início, que o motivo do meu pedido de vista cingiu-se à terceira
indagação do consulente, qual seja, se a receita proveniente da alienação de bem
móvel é destinada ao Poder Legislativo ou Executivo.
E não poderia ser de outra forma, porque, nos termos do art. 168 da Constituição
da República, os recursos financeiros correspondentes às dotações orçamentárias,
compreendidos aqueles oriundos de créditos suplementares e especiais, dos órgãos
dos Poderes Legislativo, Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública,
ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, na forma da Lei Complementar a
que se refere o § 9° do art. 165 também da Carta Federal.
Vale dizer, se a fonte dos recursos financeiros para fazer face às despesas inerentes às
atividades próprias do Legislativo é constituída pelos repasses feitos pelo Executivo,
de ordinário, não há razão fática ou mesmo jurídica para a arrecadação de receita
orçamentária por aquele Poder.
154
Pareceres e decisões
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
Para ênfase dessa assertiva, a propósito, não se pode olvidar que o montante de
recursos financeiros a ser gerido pela Câmara de Vereadores está sujeito aos limites
fixados no art. 29-A da Constituição Republicana, cujos percentuais, que variam de
acordo com a população municipal, foram reduzidos pela Emenda Constitucional n.
58, publicada no DOU de 24/09/09 e com vigência a partir de 1°/01/2010.
Além disso, as sobras dos recursos repassados à edilidade devem ser devolvidas ao
Poder Executivo, consoante orientação do Tribunal consubstanciada em diversas
respostas a consultas, v. g., nas de n. 778.098 e 684.661.
À vista desses fundamentos, embora possa alienar bens móveis que estejam sob sua
gestão e conduzir o devido e necessário procedimento licitatório para tal finalidade,
observados os comandos legais aplicáveis à espécie, a Câmara de Vereadores não
pode se apropriar e, por conseguinte, contabilizar o valor auferido na cogitada
transação. Ao contrário, deve repassar, de imediato, o ingresso financeiro proveniente
da alienação ao Executivo, que deverá observar a regra contida no art. 44 da Lei
Complementar 101/00 para utilização desse recurso. É que,
A propósito, esse entendimento está assentado nos pareceres exarados por este
Tribunal nas Consultas n. 618.952, 618.966, 677.160, 695.431 e 713.085, os quais
elucidam, com propriedade, a dúvida do consulente, embora as indagações nesses
processos busquem esclarecer dúvidas diferentes.
155
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
Retorno de vista
CONSELHEIRO ANTÔNIO CARLOS ANDRADA
RELATÓRIO
Tratam os presentes autos de consulta formulada pelo Sr. Helder Honório da Silva,
Presidente da Câmara Municipal de Engenheiro Caldas, por meio da qual elabora o
seguinte questionamento, in verbis:
156
Pareceres e decisões
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
Diante dos argumentos apresentados pelo Conselheiro Gilberto Diniz, decidi realizar
um reexame da matéria.
É o relatório, em síntese.
MÉRITO
A controvérsia levantada diz respeito ao terceiro questionamento feito pelo
consulente, in verbis:
próprio Poder Legislativo para o Poder Executivo, e depois receber o mesmo valor
por meio de novo repasse realizado pelo Poder Executivo.
Tendo em vista o limite total anual da despesa do Poder Legislativo, imposto pelo
art.29-A da Carta Magna, após a fixação, no orçamento consolidado, de uma despesa
de capital custeada com a referida receita de capital, o valor da despesa de capital
correspondente deverá ser deduzido do repasse complementar a ser realizado pelo
Poder Executivo para custeio das demais despesas, da mesma forma que ocorre
quando há sobra financeira de repasses anteriores; esse montante, deduzido do
referido repasse, não guarda relação com a receita de capital gerada, mas com a
despesa custeada, tendo em vista que o limite constitucional citado toma como base
a despesa total. Portanto, caso a receita de capital em questão fosse destinada,
por deliberação da Câmara Municipal, durante o processo orçamentário, a uma
despesa do Poder Executivo, não deveria haver qualquer dedução no repasse
financeiro a ser realizado entre os Poderes.
Por fim, tendo em vista que, em contabilidade pública, o sistema financeiro não se
confunde com o sistema orçamentário, em termos orçamentários, caso a receita de
capital em questão não seja aplicada em despesa de capital fixada para o exercício
corrente, o orçamento de capital do Município apresentará um superávit. Assim, o
valor contabilizado na rubrica orçamentária correspondente à receita de capital ficará
disponível para utilização em despesa de capital fixada para o exercício seguinte. Nessa
situação, a Câmara Municipal e a Prefeitura, ao discutir o orçamento do Município
para ano seguinte, definirão se a referida receita de capital será aplicada em despesa
de capital do Poder Legislativo ou do Poder Executivo.
158
Pareceres e decisões
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
Conclusão: diante de todo o exposto, entendo que a Câmara Municipal tem o poder
de definir, orçamentariamente, a aplicação da receita de capital proveniente da
alienação de um bem de seu próprio ativo, sem que isso viole qualquer competência
(orçamentária, de execução, de programação financeira, de prestação de contas ou
de controle) do Poder Executivo.
É possível, inclusive, que o Poder Executivo use uma receita de capital proveniente
da alienação de um bem do Poder Legislativo — mas somente se este último assim o
definir — durante o processo orçamentário. Dessa forma, a ingerência maior sobre a
3
Além desses limites constitucionais, há, ainda, os limites impostos pela Lei Complementar n. 101 de 2000 — LRF.
159
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
É necessário lembrar, ainda, que uma vez fixada a despesa total do Poder Legislativo
com uma parcela custeada com recursos próprios ou com recursos já disponíveis
para utilização pelo próprio Poder Legislativo, provenientes do repasse anterior,
o Poder Executivo deverá reduzir a parcela respectiva do repasse financeiro
de recursos a ser efetuado, destinado a cobrir as demais despesas. Tal redução
deverá ser feita para cumprir as disposições contidas no art. 29-A da CR. Portanto,
o valor da despesa realizada com a receita proveniente de alienação de um bem
da Câmara Municipal deverá ser deduzido do repasse financeiro a ser efetuado
pelo Poder Executivo.
Mantenho, pois, o meu voto proferido na Sessão do dia 16/12/09, vazado nestes
termos:
160
Pareceres e decisões
revista do tribunal de contas DO ESTADO de minas gerais
abril | maio | junho 2010 | v. 75 — n. 2 — ano XXVIII
A consulta em epígrafe foi respondida pelo Tribunal Pleno na sessão do dia 17/03/10
presidida pelo Conselheiro Wanderley Ávila; presentes o Conselheiro Eduardo Carone Costa,
Conselheiro Elmo Braz, Conselheira Adriene Andrade e Conselheiro Sebastião Helvecio que
acompanharam o parecer exarado pelo Relator Conselheiro Antônio Carlos Andrada. Vencido
em parte o Conselheiro em Exercício Gilberto Diniz.
161