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CARLOS ALBERTO JÚLIO, DA HSM: REINVENTE-SE VOCÊ TAMBÉM

*Cristina Balerini

Considerado um dos executivos mais cobiçados do país, Carlos Alberto Júlio traz no
currículo o comando de grandes corporações e é considerado um dos melhores palestrantes
do país, segundo a Revista Veja. Atualmente preside a HSM do Brasil, referência mundial
na área de seminários internacionais. Júlio também é professor, com mais de 20 anos
dedicados à docência, e escritor. Como arruma tempo para tantas tarefas? Nem ele sabe.
Júlio, dono de uma simpatia e simplicidade imensas, recebeu a reportagem do newsletter
Carreira & Sucesso para um bate-papo descontraído na sede da empresa, em Alphaville,
Barueri (SP).

Graduado em Administração de Empresas com especialização em Comércio Exterior pela


Faculdade de Administração de São Paulo, possui MBA pela Pacific Southern University
(Califórnia/EUA), especialização em Marketing Estratégico pela Harvard Business School
(Boston/EUA) e pelo IMD (Lausanne/Suíça) e especialização em Marketing Internacional
pela London Business School (Londres). Acompanhe a entrevista.

C&S: Você começou a trabalhar cedo, aos 13 anos. Como foi esse começo?
Carlos Alberto Júlio: Bem, vou começar contando um pouco da minha história, que não é
diferente da média dos paulistanos filhos de imigrantes. Meus pais eram portugueses, e
assim como todo imigrante português, veio para o Brasil com o sonho de ter uma padaria.
Foi trabalhar de empregado em uma, formou o primeiro bar e trouxe minha mãe depois.
Alguns anos depois eu nasci, e costumo dizer que fui criado atrás de um balcão, talvez daí
esse meu prazer com o atendimento, com os negócios, com o cliente. Quando você está no
balcão, ou você gosta de servir ou não fideliza ninguém. Aprendi muito com meu pai, que
era uma pessoa muito intuitiva, meu pai se antecipava ao que o cliente queria. Naquela
época chamava cliente de freguês.

C&S: E os estudos, como ficavam?


Júlio: Quando terminei o ginásio, hoje chamado ensino fundamental, queria cursar uma
escola técnica. Prestei vestibulinho, que era muito difícil de entrar. Mas passei em
Eletrônica. Um dia, quando cheguei em casa com a lista de materiais, peguei meu pai
quase chorando. Ele me disse que não teria como bancar uma escola particular, com lista
de material imensa e mais as conduções - a escola era em Osasco (SP) e nós morávamos
no Jabaquara. Ele trabalhava muito para cuidar da minha mãe, que tinha uma cardiopatia
grave. Nesse momento eu pensei: não é possível, eu entrei onde todo mundo quer entrar e
agora eu não vou cursar?

C&S: O que você fez? Desistiu?


Júlio: Não! Fui até a loja de um amigo muito querido, Ryozo Kodama, na Praça da
Árvore, que vendia de tudo. Era uma dessas lojas de cine-foto-som e óptica. Nesta época
eu tinha treze anos. Expliquei a ele o que estava me acontecendo e ele abriu as portas da
loja para que eu pudesse estudar de manhã e trabalhar no período da tarde para bancar
meus estudos. Foi aí, com 13 anos, com autorização do Juizado de Menores, que ganhei
meu primeiro registro em carteira. Entrei no mercado atraído pela fotografia. Trabalhei
seis anos no balcão. Vendia de tudo - inclusive óculos. Sempre fui mais especializado em
fotografia e som, adorava vender Polaroid, a febre do início dos anos 70, mas, como
adolescente, não poderia ignorar o fascínio do laboratório de óptica. Era como se a loja
tivesse uma fábrica - e realmente tinha: tudo produzido de forma artesanal, ainda não
havia essas modernas máquinas de montagem.

C&S: Como foi essa experiência de sair de casa aos 13 anos para trabalhar e estudar?
Júlio: Sempre achei e continuo achando que o trabalho não mata. Eu só saí de casa para
trabalhar porque era a única maneira de manter meus estudos. E foi interessante porque
geralmente uma criança que sai de casa nesta idade normalmente abandona a escola.
Talvez por isso eu não tenha conseguido parar de estudar até hoje. Quando comecei,
estudava de manhã, trabalhava à tarde e à noite ainda arrumava tempo para estudar
outras coisas. Nesta época fiz inglês e um curso de Fotografia na Escola Panamericana de
Artes. Tudo o que eu conseguia pagar eu fazia. E era uma loucura, chegava em casa à
meia-noite, acordava às 6 da manhã...

C&S: Que lições tirou desta época?


Júlio: Foi a minha iniciação no mundo do trabalho e quando tive a oportunidade de
aprender muitas coisas; foi ali que me direcionei. Não sei se você sabe, mas o balconista
de loja tem dois caminhos a seguir: ou ele vira gerente e depois monta sua própria loja, ou
tem o sonho de ser o vendedor da empresa que vende pra loja. Esse é o modelo dele. E foi
esse caminho que segui. Quando estava com 18 anos fui trabalhar em uma importadora e
passei a vender para grandes lojas, como Mappin, Mesbla, Fotóptica... entrei num mundo
mais sofisticado dos grandes magazines e adorei o negócio de vender.

C&S: E a escolha da faculdade?


Júlio: Bem, terminei o curso de Eletrônica e quando fui fazer a faculdade me deparei com
um sério problema, de novo. Entrei na Fundação Getúlio Vargas, em Administração, mas o
curso era diurno. Como eu ia fazer? Uma escola de primeira linha, que oferecia apenas
curso diurno e era paga? Vi que não dava e fui procurar uma alternativa. Como eu
gostava de negócios, resolvi cursar Comércio Exterior na Faculdade de Administração de
São Paulo. Já tinha estudado um pouco de inglês, além do que poderia continuar
trabalhando e estudar no período noturno. Dei uma sorte muito grande, porque essa
escola era pioneira nesta área. Embora fosse simples, não tão sofisticada como uma USP
ou FGV, tinha uma coisa interessante: todos os professores eram profissionais da área;
estudei com feras, com um corpo docente de primeiríssima linha. O que fez com que no
segundo ano da escola eu arrumasse uma colocação e fosse trabalhar na área. Passei 12
anos trabalhando como trader, viajando pelo mundo. Foram mais de 400 viagens
internacionais, conheci mais de 70 países; trabalhei na África, Oriente Médio...

C&S: Ganhos contabilizados neste período...


Júlio: Desenvolvi um poder de aculturação muito grande. Foi uma vida de muito trabalho,
é verdade, mas de muitos privilégios, conhecendo culturas diferentes, freqüentando lugares
requintados. Recentemente li uma entrevista de Thomas Case dizendo que a vivência
internacional propicia ao profissional um excelente início de carreira. É verdade. Eu, que
vinha da periferia, com linguagem de periferia, filho de português, criado e educado em
um bar, viajei pelo mundo, aprendi seis idiomas, comecei a conhecer pessoas sofisticadas,
isso foi dando um verniz na minha carreira.

C&S: E as aulas?
Júlio: Quando comecei a negociar no exterior, o Idalberto Chiavenato ligou me
convidando para dar aula de sistemática de exportação e importação na Faculdade São
Judas. Quando dei aula o primeiro ano, adorei! Vi que meu negócio era esse, mas como eu
queria crescer na carreira, e sabia que como professor isso seria difícil, criei uma vida
paralela. Tenho 24 anos de docência.

C&S: Uma passagem interessante dessa época...


Júlio: Fui dar aula e um dia fui convidado para um bate-papo pelo professor Hilário
Torloni, que era diretor da Faculdade Tibiriçá, uma escola de comércio exterior que
funcionava dentro do Colégio São Bento. Ele era um grande sociólogo, pesquisador, e eu,
um garoto. Mas ele me atendeu com grande carinho e falou: “professor, alguém me disse
que o senhor não concorda com os currículos da área de Comércio Exterior. Nenhum
aluno concorda, mas o senhor já é um profissional, um professor, não pode sair por aí
dizendo isso”. Aí eu respondi a ele que achava que as escolas estavam formando
despachantes, e não traders. Ensinam a embarcar, contabilizar, só que para a exportação
acontecer alguém precisa ir lá fora vender. Então, precisávamos formar esses
profissionais. Nem eu sei como eu tinha essa visão com 22/23 anos, mas eu sabia que
precisávamos ter um currículo voltado ao marketing internacional, precisávamos saber
para quem queríamos vender nossos produtos, descobrir qual o nosso mercado. Disse a ele
que se o Brasil não formasse isso, iria continuar exportando grãos. E ele pediu para eu
colocasse isso no papel.

C&S: E aí?
Júlio: Aí que eu voltei pra casa e não sabia como fazer aquilo. Esse foi meu desafio.
Peguei meu final de semana - sou virginiano, e temos o grande defeito de sermos muito
disciplinados, só que sofremos com a mania da perfeição. Voltei lá e mostrei para ele um
plano no qual adaptei o conceito de marketing de vendas do mercado interno para o
mercado externo. Fui montando um mix de marketing e ele ficou alucinado quando viu
aquilo. E aí minha carreira deslanchou, porque eu era jovem, tinha experiência de campo
e um programa inédito, embora não fosse um acadêmico.

C&S: Hoje você leciona em quais faculdade?


Júlio: Atualmente leciono nos MBA’s da Escola Superior de Propaganda e Marketing
(ESPM), da USP e de negociação na Fundação Cásper Líbero.

C&S: O prazer de ser professor...


Júlio: Tenho muito orgulho da convivência com a instituição e com os alunos, que é o
alimento que nos mantêm atualizados. Hoje encontramos pessoas mais maduras fazendo
MBA’s, ou seja, o professor convive com executivos iguais, a nossa preparação precisa ser
em um outro nível, mais elevado. E trago minhas aulas para os livros. Lancei A Magia dos
Grandes Negociadores, que é o primeiro da série Pique Profissional, pela Negócio
Editora, e para junho devo lançar A Magia dos Grandes Estrategistas, depois A Magia
dos Traders, ainda sem data definida. A idéia é ter sete títulos dentro da série. E todos
direcionados para vários públicos, desde o executivo de multinacional até a senhora que
tem uma pequena loja. Quero mostrar que a gestão não precisa ser sofisticada para ser
boa. Então é um risco que corro.

Júlio também é autor de Reinventando Você, pela Editora Campus, que está em sua 6ª
edição)

Uma parada estratégica...

C&S: Paralelamente às aulas, você se tornou um executivo de grande sucesso,


passando por empresas como Polaroid e Voko Sistemas...
Júlio: Foi um período muito gratificante, sem dúvida. Administrava empresas e
paralelamente continuava lecionando. Mas no início do ano 2000 decidi que minha vida
precisava mudar. Na época estava como presidente da Polaroid, e fui a Boston negociar na
matriz da empresa minha saída da direção da subsidiária brasileira. Não havia nada de
errado nem com a empresa nem comigo, mas eu queria fazer alguma coisa diferente. E foi
neste período que tive um susto: uma ameaça de linfoma no pulmão. Consegui me desligar
da empresa sem grandes traumas e sentia-me preparado para alçar um vôo solo, mas a
ameaça dessa doença, que apresentou os primeiros sintomas durante minha viagem a
Boston, me fizeram desacelerar.

C&S: O que aconteceu?


Júlio: Isso me fez rever a vida, e quando passei por este susto resolvi que iria resgatar meu
sonho de trabalhar com educação. Eu percebi que era hora de parar e cuidar de mim.
Comecei a pensar nas coisas que poderia não ver, caso eu não parasse. O medo não era da
morte, mas sim de deixar de viver. Não sabia que havia aí uma grande diferença. Queria
continuar vivo para ver meu filho mais velho se formar em Medicina. E o que seria do
mais novo, que nem na faculdade estava? Mas no fim o diagnóstico foi positivo. Não era
um linfoma, mas sim uma enfermidade auto-imune chamada sarcoidose, que pode ser
tratada e curada com corticóides.

C&S: Que lições tirou deste período?


Júlio: Aprendi muito sobre as pessoas e o carinho que elas têm por nós. Hoje vejo que
Deus me deu um grande presente, ensinando-me a verdadeira importância de viver o dia-
a-dia, de curtir a família e os amigos, de cuidar da saúde e de trabalhar com prazer.
Justamente por isso demorei-me a decidir sobre meu novo destino profissional, sobre o que
fazer e como me reinventar.

C&S: E a HSM? Como foi a chegada aqui?


Júlio: Como dizem que o universo conspira a favor de quem tem sonhos, tempos depois
surgiu um convite da HSM. Quando estava em busca de novas oportunidades, recebi um
convite da Korn Ferry International, do Robert Wong, para ser um dos sócios da empresa.
Mas eu nunca havia sido um headhunter e nem sabia como era isso; acabei deixando essa
questão a juízo dos sócios, mas como eu não sabia se era isso o que queria, achei melhor
não aceitar o convite. Foi então que, de repente, recebi uma ligação de um headhunter que
estava com um job me dizendo que havia ligado para três pessoas e as três indicaram meu
nome para a vaga. Conversei com ele e nessa conversa ele me falou da HSM. E o mais
interessante foi que, concomitantemente, o Salibi (José Salibi Neto), da HSM, me convidou
para almoçar e me chamou para trabalhar com ele aqui. Isso é sincronicidade. Vim para
cá em 2000, com a empresa mudando de mãos, o JP Morgan e outros acionistas
entrando...

C&S: Isso sem falar que era uma empresa voltada à educação, o seu grande sonho.
Júlio: Exatamente. Eu consigo conciliar minha vida de professor, palestrante, autor e
presidente de empresa. Se eu estivesse em uma empresa que não fosse de educação, teria
que fazer uma escolha. Consigo equilibrar minhas tarefas; 70% do meu tempo é dedicado
à HSM. Optei pela área educacional porque busco o prazer no trabalho na mesma medida
em que posso ser útil à sociedade a atender minhas aspirações financeiras.

C&S: A HSM começou suas atividades aqui no Brasil?


Júlio: Sim. Somos uma empresa nacional criada há dezesseis anos pelo João Salibi, Harry
Ufer e Marina Domingues de Souza Ufer, que acabaram vendendo a empresa para um
grupo de investidores que se encarregou de levar nossa experiência positiva para o mundo.
Mas a cultura, formatação e maneira de fazer negócio continua a mesma. Temos hoje
operação em sete países (Argentina, Brasil, México, Espanha, EUA, Itália e Alemanha);
somos uma multinacional do conhecimento que foi concebida e nasceu no Brasil.

C&S: E agora estão fazendo eventos fora do Brasil.


Júlio: Nossa, isso é muita adrenalina. Em maio teremos o primeiro evento que será
realizado nos Estados Unidos, o World Business Fórum 2004, reunindo nomes como o ex-
presidente Bill Clinton; Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, além de Jack Welch,
Michael Porter, entre outros. A nossa revista, a HSM Management, também está presente
na Argentina, México, Espanha e Chile, além do Brasil, assim como os programas de e-
learning, que hoje está nesses países e na Espanha, que é nosso melhor mercado.

C&S: Experiência mais marcante...


Júlio: Minha carreira é caracterizada por desafios marcantes. Primeiro, a questão do
mercado internacional, ou seja, com 20 anos e cara de bebê, decidi sair viajando pelo
mundo, com um inglês razoável e um francês sofrível. Comecei a trabalhar fora do país
dois anos antes de me casar. Então, com 22 anos me casei e foi um grande desafio ficar
longe da família, viajar para outros países onde era difícil assimilar cultura nova. Às vezes
o não conhecimento de uma cultura dá a sensação de que você está numa situação de
perigo, e muitas vezes você não está. Eu ia à Nigéria, há vinte anos, época em que a
guerrilha estava estourando! Fui para Angola na época em que lá atuava o MPLA –
Movimento Popular de Libertação de Angola. Tínhamos uma grande preocupação com a
segurança, mas os mercados eram muito atraentes. E tinha o desafio de tentar entender o
que acontecia nesses lugares, politicamente falando. Eu ia para a linha de frente negociar;
aprendi muito, isso acelerou minha carreira, mas certas coisas eu costumo dizer que só fiz
porque eu era duro e imaturo. Se eu fosse duro e maduro, eu ia uma vez e falava que não
valia a pena; se eu fosse imaturo com dinheiro, falaria que o dinheiro não valeria a pena.
C&S: Não é qualquer profissional que aceitaria isso.
Júlio: Sim, porque existia uma cota de perigo. Mas costumo dizer que um dos maiores
adversários que um profissional pode ter é o preconceito. O preconceito é filtro, não deixa
você enxergar. Como é o caso da adaptação em outras culturas. Não existe cultura melhor
ou pior, cada uma tem sua beleza. E viver fora do seu país ajuda a derrubar preconceitos.
Li recentemente que 10% da população economicamente ativa do Brasil é composta por
homossexuais. Se você é preconceituoso, não vai atender essas pessoas, não vai fazer
produtos para eles. E aí, vai sair do mercado? Vai ignorar a existência desses
consumidores? Outra coisa: 45% da população economicamente ativa é composta por
mulheres, e tem gente que ainda acha que a mulher consome o que é feito para homem!
Um amigo me disse que neste primeiro trimestre, pela primeira vez as mulheres
escrituraram mais imóveis na capital, ou seja, ela escolhe, compra, paga e registra no seu
nome. Veja, eu não estou falando de sexo, crença, religião... Estou falando de negócios. E o
preconceito é um filtro. Quando falo em negócios, tenho que pensar em tudo isso. O
mercado internacional me ajudou muito.

C&S: O que você não faria de novo, se estivesse começando hoje?


Júlio: Hoje vejo que o equilíbrio trabalho-família é essencial, e eu não fui bom nisso.
Sempre trabalhei muito mais do que convivi com a família. Tenho dois filhos ótimos, somos
parceiros, mas muito mais por generosidade deles do que por empenho meu, a criação foi
toda da mãe. É uma coisa que não devemos ignorar. Não tem essa de trabalhar agora e
curtir os filhos depois, ou de que o tempo que você tem disponível você dedica
intensamente às crianças, pois a criança quer intensidade e freqüência. Hoje procuro viver
muito mais próximo deles do que no passado, mas ainda não é o ideal.

C&S: Sonhos...
Júlio: Sempre foram de ascensão profissional. Minha mulher diz que eu não tive
adolescência, porque sempre priorizei o trabalho: era mais o trabalho do que as
namoradas, do que as baladas... não tive muita opção. Por um lado me desenvolvi
profissionalmente, sempre vivi bem, nunca me preocupei muito com dinheiro, mas espero
me divertir mais e recuperar o tempo perdido. Tivemos uma palestra no Fórum de Alta
Performance, realizado em abril, com o Ricardo Semler, da Semco, e ele disse uma coisa
que eu gostei muito porque eu tenho essa sensação - ele diz que nós já aprendemos a
responder e-mails de domingo à noite mas não aprendemos a ir ao cinema segunda-feira à
tarde. E eu estou tentando fazer isso com alguma freqüência. Eu produzo mais e trabalho
mais, porque um virginiano que controla seu próprio tempo é pior. E com tecnologia não
tem porque não ser assim. Aqui na HSM instituímos o horário flexível, o banco de horas.
Antes dos eventos temos horários malucos, com pessoas que dormem três horas por dia,
então é justo que essas pessoas folguem dois dias da semana. Temos que achar uma
equação mais perfeita para as relações de trabalho.

C&S: Sonhos que pretende realizar...


Júlio: Tenho vários, não megalomaníacos, como ter helicóptero, lancha... respeito quem
tem, mas eu só peço saúde. Quando se está na iminência de perdê-la é que damos a ela a
devida importância. Mas tenho o sonho de concluir meu doutorado; meu filho já está se
formando em Medicina, o que é um sonho já está realizado... Tenho expectativa de ser uma
pessoa mais reflexiva, contemplativa. Ultimamente tenho olhado mais para a questão do
terceiro setor, pois eu acredito que só uma sociedade organizada vai resolver os problemas
da sociedade. Sou descrente da capacidade do poder público, sei que não existe estado sem
poder público, mas sou um frustrado de primeira linha. Chega a me dá dor no coração
saber que se eu não cuidar da minha empregada quando ela for ter um bebê,
provavelmente ela terá que passar por vários hospitais até ser atendida. Não entrego os
pontos, mas acredito numa sociedade cuidando dela própria. Hoje tudo é regido pelo
imediatismo e pelo voto da próxima eleição. Temos poucos patriotas. Antes éramos
ufanistas, hasteávamos a bandeira no início da aula, tínhamos aula de OSPB... Agora
fomos para um outro lado, onde ninguém faz tributo à bandeira e só se usa o verde e
amarelo em dia de jogo do Brasil. Acho que não podemos ir para um lado nem para o
outro, temos que achar um meio-termo. Temos uma gente maravilhosa, por que não
cuidamos da nossa gente? São Paulo é a terceira maior região metropolitana do mundo e
não conseguimos limpar dois rios! Como não conseguimos fazer isso?

C&S: Como os palestrantes internacionais vêem o Brasil?


Júlio: Costumamos levar os palestrantes para um vôo de helicóptero, um rasante pela
Avenida Paulista, e eles não acreditam! É tudo muito bonito! Eu não consigo acreditar que
não temos condições de resolver nossos problemas nas áreas da saúde e educação. Não
votei no Lula mas torço por ele desde o dia da posse, quando ele se emocionou e chorou.
Percebi que ele tem coração, e coração ajuda, mas não só. Precisa de uma gestão
eficiente. Acho que ele não errou no Ministério, se cercou de pessoas boas, mas tem que
ser rápido em mudar aquilo que não está funcionando. Não tem obrigação de ser um bom
gestor, mas tem que buscar quem tenha essa experiência. O (jornalista Luis) Nassif uma
vez me disse uma coisa que adorei: “eu estava à direita do PT, agora estou à esquerda, e
eu não saí do lugar”. Ou seja, o cidadão fica perdido. Hoje eu não tenho fé no governo,
então, onde posso ajudar, estou lá. Acho que este é o atalho, é o voluntarismo, é a gente
cuidar da gente. Acredito no modelo de começar de casa, oferecendo, por exemplo, um
curso para o filho da empregada.

Um pouco de carreira... e sucesso

C&S: Quais suas principais competências?


Júlio: Acredito que o principal papel da liderança é gerar valor. Para o acionista, para o
time, cliente e comunidade. Procuro me pautar por isso. Gero valor fazendo o negócio
crescer. Como entrego valor para os funcionários? Eles querem empregabilidade, querem
que eu apóie a iniciativa deles, que os desafie. Jach Welch diz que para lidar com pessoas
basta desafiar, remunerar e celebrar. E eu sigo essa receita. Celebramos tudo. Os
funcionários querem um emprego, querem se sentir comprometidos, e comprometimento
não é causa, é conseqüência de uma relação de respeito. E como gero valor ao meu
cliente? Ele quer cada vez melhores produtos, melhor preço e serviço. Já a comunidade
quer emprego, quer que você seja socialmente responsável. Hoje, qualquer pessoa em
cargo soberano tem que agir dentro desses princípios. Acho que a competência maior que
tenho que desenvolver é ouvir, absorver e partir para a ação. Não precisa sofisticar muito.

C&S: Como você lida com a competitividade?


Júlio: Nunca senti essa coisa da solidão do poder. Eu chamo o pessoal para lidar com as
dificuldades do dia-a-dia. O time tem que enxergar na competição a oportunidade. Não
tenho muito essa coisa de dizer como saio dessa; tenho a coisa de dizer como nós saímos
dessa. E aqui é muito usual a cultura de pedir socorro.

C&S: Quem faz parte do seu time?


Júlio: Todos têm que ser apaixonados pelo cliente. Aqui fazemos qualquer coisa por um
elogio do cliente. Se ele vem a um evento, paga e não faz uma boa avaliação, dá
enxaqueca em todo mundo. Queremos que ele diga como nós somos demais. Tenho várias
histórias para contar: certa vez um cliente, em um evento, perdeu seu cachecol. As
meninas da recepção se encarregaram de pegar seus dados, comprar um cachecol e enviar
para ele. A pessoa recebe isso e não acredita!

C&S: Mas de onde vem essa iniciativa?


Júlio: A linha de frente tem poder. Nós trabalhamos para quem trabalha para o cliente. Na
HSM eu descobri, na prática, coisas que eu pensei que existissem só na teoria.
Nós temos reuniões pré e pós-evento. Na pré, checamos as críticas do evento anterior e o
que temos que implementar. Na pós, lemos todos os questionários para ver se as críticas
continuam e montamos as novas sugestões para o próximo evento. Toda a diretoria
participa.

C&S: O que acha essencial para uma carreira de sucesso?


Júlio: O mundo mudou bastante. Ainda acho que no mundo dos negócios você não pode
prescindir de uma formação sólida. A pessoa tem que aprender gestão, não adianta ser
brilhante em uma coisa só, tecnicamente falando. Não importa o que você quer fazer.
Sempre digo isso aos meus filhos: faça o melhor daquilo que você escolheu. É a
competitividade de fazer uma coisa que te deixa feliz, e não a competitividade pelo
sucesso, porque o sucesso é efêmero. Trabalhe seu conteúdo, suas competências – mas
aquelas com que você se diverte mais, não as que o mercado quer. Foque no que você se
diverte que você será mais feliz e se dará melhor. Cuide do networking, mas, de novo, o
networking do prazer da relação, não o do interesse. Todo mundo tem um talento, cada um
só precisa descobrir qual é o seu. Tinha um amigo que adorava esportes, mas a mãe queria
um filho doutor, e ele resolveu fazer Medicina. Se ele tivesse feito Educação Física teria se
dado melhor, porque naquela época estava começando a onda das academias. Hoje ele
não é nem o doutor nem o profissional dos esportes. O maior investimento que uma pessoa
pode fazer é investir em seu sonho.

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