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Muita da água que precipita deriva da evaporação nos oceanos e do transporte a longa
distância pela circulação atmosférica. As duas forças motrizes fundamentais da circulação
atmosférica resultam da rotação da Terra e da transferência de energia entre o Equador e os
Polos.
A Terra recebe permanentemente calor do sol através da radiação solar e emite calor por re-
radiação ("back radiation") para o espaço. Estes processos estão balanceados em média ao
valor de 210 W/m2. O aquecimento da Terra é, no entanto, desigual: enquanto que, no
Equador, a radiação solar é quase perpendicular à superfície e tem um valor médio de cerca
de 270 W/m2, na região polar, ela atinge a superfície segundo um ângulo oblíquo e tem um
valor médio de apenas cerca de 90 W/m2.
A radiação emitida é uma função da temperatura absoluta da superfície, a qual varia pouco
entre o Equador e os Polos (mais cerca de 20% no Equador). Portanto, a radiação emitida
pela Terra é bastante mais uniforme do que a radiação recebida, provocando assim um
desequilíbrio. O equilíbrio é reposto essencialmente através da circulação atmosférica que
transfere energia do Equador para os Polos (valor médio de cerca de 4 * 109 MW).
Se a Terra fosse uma esfera imóvel, a circulação atmosférica corresponderia à figura 4.1.
Junto do Equador haveria uma ascensão de massas de ar que viajariam na parte superior da
atmosfera em direcção aos Polos, arrefecendo e descendo para as camadas inferiores e
voltando para o Equador (a chamada “ circulação de Hadley”).
Na célula tropical, o ar aquecido sobe no Equador, dirige-se para o Polo pela camada
superior da atmosfera, arrefece e desce para a superfície próximo da latitude 30º. Junto da
superfície divide-se em dois ramos, um seguindo em direcção ao Polo e o outro retornando
ao Equador. Na célula polar, o ar ascende próximo da latitude 60º, dirigindo-se para o Polo
pela camada superior da atmosfera. Depois arrefece, desce e regressa, próximo da superfície,
à latitude 60º.
A mudança anual do Equador térmico devido á rotação da Terra à volta do Sol causa uma
correspondente oscilação no padrão de circulação das três células. Quando há uma grande
oscilação, as trocas de ar entre células vizinhas são mais frequentes e completas,
possívelmente resultando numa sequência de anos muitos húmidos. Quando a oscilação é
pequena, podem-se gerar centros estáveis de altas pressões próximos das latitudes 30º,
originando extensos períodos secos.
O esquema da circulação atmosférica regional pode ser melhor compreendido através das
figuras 4.4 e 4.5 que esquematizam as cartas da pressão atmosférica média, reduzida ao
nível médio do mar, nos meses de Janeiro (estação quente) e Julho (estação fria).
Em Janeiro, época do ano em que o sol está para sul do Equador, devido ao forte
aquecimento da massa continental, passam a predominar na região as baixas pressões. A
zona intertropical de baixas pressões é uma zona de convergência, alimentada por massas de
ar equatorial e tropical marítimos e limitada a norte e a sul por camadas de ar tropical
continental. As camadas de transição nos limites da zona de convergência são designadas
por frentes intertropicais, norte e sul (FITN e FITS).
Durante a época do ano em que o sol está para norte do Equador, a massa do continente
africano situada ao sul arrefece, o que provoca o avanço e o predomínio dos sistemas de
altas pressões. A FITS passa a estar bastante a norte de Moçambique a partir de Abril e o
anticiclone do Índico migra para norte, fixando-se em cerca de 30° S. Gera-se ainda uma
célula anti-ciclónica sobre a África Austral (deserto do Kalaari).
Assim, a parte de Moçambique a norte do paralelo 20° S fica sob a acção de massas de ar
tropical marítimo, Tmu. A sul desse paralelo, a influência é principalmente de massas de ar
tropical continental, Tc, constituídas por ar quente e seco.
O conhecimento actual da Meteorologia diz-nos que são necessárias quatro condições para
produzir as quantidades de precipitação que se verificam:
A condensação origina microgotas cujo diâmetro não excede 200 µm, conforme se
determinou teóricamente. Este diâmetro é muito inferior ao das gotas de chuva, razão pela
qual se estudam os mecanismos que permitem o crescimento das microgotas.
A quantidade total de água (sob a forma de vapor, gotas ou cristais de gelo) contida na
atmosfera num dado instante é muito reduzida. Se toda ela fosse condensada e distribuída
uniformemente sobre a Terra, daria uma camada com apenas cerca de 25 mm de altura. Para
justificar as quantidades de precipitação que constantemente se observam é, por isso,
necessário que numa dada região onde se iniciou a precipitação, haja um afluxo de massas
de ar húmido que alimentam a continuação desse precipitação. Este processo é denominado
de convergência. As grandes precipitações só ocorrem em zonas de baixas pressões sobre
as quais convergem ventos que transportam humidade de vastas regiões adjacentes.
Embora grande número de civilizações e culturas conheçam de longa data "o homem que
fazia chover", datam do século passado os esforços mais sérios e sistemáticos para provocar
artificialmente a ocorrência de precipitação. No presente estado de conhecimentos, a
precipitação artificial é originada lançando sobre as nuvens cristais de gelo seco ou iodeto de
prato que actuam como núcleos de condensação e crescimento das gotas.
Os resultados até agora obtidos não evidenciam significativos sucessos mesmo porque se
torna difícil distinguir um eventual aumento de 10 - 15% da precipitação da variabilidade
natural da mesma. Também não se conhecem que efeitos é que a sua aplicação em longa
escala terá no ciclo hidrológico à escala regional e mundial. No entanto, em fins da decada
de 70 a precipitação artificial já era usada nos Estados Unidos em cerca de 7% do território.
Por outro lado, é preciso notar que a precipitação artificial procura estimular os mecanismos
da condensação e do crescimento das gotas mas não tem qualquer efeito no mecanismo de
acumulação de humidade, já que não é possível criar artificialmente um centro de baixas
pressões.
Embora o maior interesse da precipitação artificial seja para as regiões áridas, ela tem sido
utilizada em outras regiões para dissipar nuvens, evitando a queda de granizo ou geada.
Existe muito difundida a ideia de que áreas onde há grande evaporação têm grande
precipitação. Esta ideia é errada pois, embora a evaporação sobre os continentes
corresponda a cerca de 2/3 da precipitação que sobre eles ocorre, a precipitação não tem
apenas essa fonte mas fundamentalmente a humidade transportada pelos ventos que
convergem para as zonas de baixas pressões.
- convectiva;
- orográfica;
- frontal;
- ciclónica.
A precipitação de origem convectiva é causada pela subida duma massa de ar quente, menos
denso, para as camadas superiores da atmosfera, mais frias, onde arrefece, condensa o vapor
de água e precipita. Está associada a um fenómeno de instabilidade provocado por um
aquecimento desigual da superfície do solo (ver a figura 4.6).
Nas regiões Centro e Norte, o relevo é acentuado e torna-se evidente a correlação entre os
valores elevados de altitude e de precipitação, veja-se as figuras 4.14 e 4.15. É de notar que
a vertente exposta ao vento tem uma precipitação bastante superior à outra vertente.
Diz-se que há uma frente quando uma massa de ar frio contacta uma massa de ar mais
quente, sendo a superfície de contacto mais ou menos bem definida (figura 4.8). As regiões
Centro e Sul de Moçambique são frequentemente afectadas pelas frentes frias: massas de ar
frio provenientes das regiões temperada e polar deslocam-se e encontram sobre o continente
massas de ar quente, forçando-as a subir. O movimento ascensional induz o arrefecimento
da massa de ar quente com posterior condensação e precipitação. A frente fria pode originar
precipitações intensas e prolongadas sobretudo junto à superfície frontal, podendo a região
coberta pela precipitação estender-se de 50 a 100 km a partir dessa superfície.
Figura 4.8 Frente fria
As chuvas intensas e os ventos fortes dão aos ciclones tropicais características muito
destrutivas. Moçambique, apesar de relativamente protegido pela barreira que Madagáscar
constitui, tem sofrido graves prejuízos com os ciclones, casos do Claude (1966) e Domoína
(1984), que afectaram a região Sul, Felícia (1978) que assolou a Zambézia e Sofala e Nadia
(1996) que provocou grandes destruições na província de Nampula.
A altura de precipitação sobre uma dada área é igual ao volume da precipitação sobre essa
área a dividir pelo valor da área. É normalmente expressa em mm ou em l/m2.
1 mm = 1 l/m2 = 10 m3/ha
A intensidade da precipitação é definida como a quantidade de precipitação ocorrida por
unidade de tempo:
∂h
i=
∂t
4.5.2 Udómetros
4.5.3 Udógrafos
Figura 11 Udograma
Deste udograma é possível obter, por exemplo, a intensidade média da precipitação entre as
3 e as 6 horas do dia 1/2 como sendo:
e que a intensidade máxima instantânea foi de cerca de 4.2 mm/h por volta das 4 horas do
dia 1/2.
A melhor localização é ao nível do solo, com árvores ou sebes para quebrarem o vento
desde que não estejam tão próximas que interceptem a precipitação. Para tal, esses
obstáculos devem estar a uma distância do udómetro superior a metade da sua altura (ver a
figura 4.13).
Figura 13 Localização de udómetros
Um radar transmite um impulso de energia electromagnética sob a forma dum feixe emitido
por uma antena móvel. Essa onda que viaja com a velocidade da luz é parcialmente
reflectida pelas nuvens ou pelas partículas que precipitam e volta ao radar, sendo captada
pela mesma antena. A energia retornada é o alvo, a quantidade de energia retornada é a
potência de retorno e a sua visualização no ecran do radar é o eco.
A intensidade do eco é uma indicação da grandeza da potência de retorno que, por sua vez,
mede a reflectividade do radar nos hidrometeoros. Essa reflectividade depende da
distribuição dos tamanhos das partículas, do número de partículas por unidade de volume e
da forma das partículas. No entanto, geralmente a reflectividade é tanto maior quanto mais
intensa for a precipitação.
O intervalo de tempo entre a emissão do impulso e o eco mede a distância a que se encontra
o alvo, enquanto que a direcção do alvo corresponde à orientação da antena na altura da
emissão. Assim, rodando a antena torna-se possível definir a extensão superficial duma
chuvada.
O mesmo relatório da DNA fornecia os seguintes dados sobre a extensão dos registos,
considerando apenas as estações da DNA (quadro 4.1):
Apenas 41 estações das 787 de 1970 estavam equipadas com udógrafos. Tomando 1970
como ano de referência, o número de anos de funcionamento era o seguinte:
Com base nos dados registados pela rede hidrométrica, foi possível determinar as
precipitações médias nos vários postos e, a partir daí, traçar a carta de isoietas da
precipitação anual média em Moçambique (figura 4.14), apresentada num estudo de
Gonçalves (1974). A precipitação ponderada anual média sobre Moçambique é de cerca de
950 mm, ou seja de 740 biliões de metros cúbicos. A análise da carta de isoietas permite
evidenciar os três factores que influenciam mais fortemente a ocorrência da precipitação em
Moçambique: o relevo, a distância ao litoral e a latitude.
A latitude influencia a precipitação pois a região Norte tem um regime de chuvas diferente
do das regiões Centro e Sul. Nestas, a precipitação tem origem principalmente a partir de
frentes frias e ciclones ao passo que na região Norte é o movimento (para sul, na época das
chuvas) da zona de convergência intertropical, criando centros de baixas pressões, que é o
factor principal a ter em conta.
A figura 4.16 ilustra a variabilidade temporal das precipitações através do registo das
precipitações anuais em Chokwé entre 1923/1924 e 1981/1982. A precipitação anual média
é de 638 mm. e o coeficiente de variação da precipitação anual é de 0.28. Os índices de
humidade extremos no período considerado foram de 1.9 em 1949/1950 e de 0.47 em
1939/1940 e 1951/1952. A figura 4.17 ilustra a distribuição ao longo do ano das
precipitações mensais média nos postos P154 (Gurué) e P783 (Malema) evidenciado o
semestre húmido e o semestre seco. Na figura apresentam-se também os coeficientes
pluviométricos mensais.
Figura 14 Isoetas de precipitação anual média em Moçambique
Figura 15 Carta hipsométrica de Moçambique
Figura 16 Variabilidade temporal da precipitação anual em
Chockwé
Figura 17 Precipitações mensais médias em Gurué e Malema
Precipitação 4-1
A partir duma carta onde está delimitada a bacia ou a região cuja precipitação se pretende
calcular e marcados os postos udométricos (dentro da região e à volta), executam-se os seguintes
passos:
i) Liga-se cada posto com todos aqueles que lhe ficam próximos, definindo
segmentos de recta;
ii) Traçam-se mediatrizes desses segmentos. Essas mediatrizes, juntamente com os
limites da região definem polígonos à volta dos vários postos - são os polígonos
de Thiessen;
iii) Medem-se as áreas dos polígonos e a área total da região;
iv) Calculam-se os coeficientes de Thiessen para os vários postos:
Ai
ci =
Atotal
O polígono respeitante a um dado posto é o lugar geométrico dos pontos da região que estão
mais próximos desse posto do que de qualquer outro. O método atribui a todos os pontos dum
polígono uma precipitação igual à registada no respectivo posto o que equivale a admitir que a
variação da precipitação entre dois postos contíguos é linear.
Note-se que mesmos postos fora da região podem ter um polígono dentro dela. A figura 4.18
esclarece o traçado dos polígono e o cálculo de P.
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Precipitação 4-2
O método das isoietas é, como o método de Thiessen, um método de base gráfica. Para se
calcular a precipitação na região, é necessário começar por traçar as isoietas (linhas de igual
precipitação). Para tal, pode utilizar-se o seguinte procedimento (ver também a figura 4.19):
∑i Ai ( Pi + Pi+1 )/2
P=
Atotal
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Precipitação 4-3
No traçado das isoietas, um hidrologista experiente pode ir além do procedimento atrás indicado,
afeiçoando-as de maneira a entrar em conta com o relevo e a distância ao litoral.
A figura 4.20 apresenta a carta de isoietas na região sul do país, abrangendo as bacias do
Maputo, Tembe, Umbelúzi e Incomati (incluindo as áreas na África do Sul e Suazilândia) do dia
29/01/84 quando ocorreram as chuvadas mais intensas do ciclone Domoína.
A principal vantagem do método de Thiessen sobre o método das isoietas é que os polígonos de
Thiessen não dependem dos valores da precipitação registados nos postos e, portanto, o cálculo
da precipitação ponderada na região faz-se sempre com os mesmos coeficientes. Apenas é
necessário recalcular os polígonos se algum dos postos não tiver registos para a precipitação
ponderada que se pretende calcular.
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Precipitação 4-4
As isoietas dependem dos valores das precipitações. Isso torna o método muito trabalhoso para
aplicação rotineira, razão pela qual se reserva a aplicação do método das isoietas ao cálculo de
precipitações ponderadas para precipitações médias (anuais, semestrais, mensais), precipitações
com determinada probabilidade de excedência (p.exº 80%) ou para chuvadas extremas.
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Precipitação 4-5
Uma outra desvantagem do método das isoietas relativamente ao método de Thiessem é a dose
de subjectividade com que as isoietas são traçadas. Por outro lado, isso permite a um
hidrologista experiente traçar as isoietas entrando em linha de conta com a influência do relevo,
distância à costa e exposição aos ventos húmidos, o que constitui uma vantagem sobre o método
de Thiessen.
Normalmente, as isoietas serão traçadas para situações particulares como, por exemplo, os
valores anuais ou semestrais médios ou para uma chuvada particularmente intensa. Para os
cálculos de rotina, será utilizado o método de Thiessen.
A utilização do computador permite eliminar a parte mais trabalhosa dos dois métodos,
facilitando a sua utilização.
No método das isoietas, poder-se-á utilizar os programas que fazem o traçado de isolinhas (Z =
constante) a partir do conhecimento de valores Z(x,y) num número discreto de pontos como se
faz já com o traçado de curvas de nível a partir do conhecimento dum número de pontos
contatos.
Para o método de Thiessen existem já diversos programas operacionais que fazem o traçado dos
polígonos e calculam os coeficientes Thiessen a partir das coordenadas dos postos udométricos e
dos pontos que definem a fronteira da região, coordenadas essas que se obtêm facilmente se se
dispuser duma mesa digitalizadora.
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Precipitação 4-6
A experiência indica que, numa dada região, precipitações muito intensas não se verificam
simultâneamente em todos os pontos. Quando numa região apenas se dispõe de medições num
posto udométrico, a precipitação ponderada deve corresponder a multiplicar a precipitação
pontual por um factor de redução inferior a 1. Óbviamente, esse factor será tanto mais pequeno
quanto maior fôr a área em consideração e mais curta a duração da chuvada.
Estudos feitos nos Estados Unidos pelo US Weather Bureau permitiram a elaboração do gráfico
apresentado na figura 4.21. Este gráfico é apresentado apenas para efeitos ilustrativos e não deve
ser utilizado para cálculos em Moçambique, para cujas condiçoes não foi aferido.
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Precipitação 4-7
Quando isso acontece, é necessário rectificar a série, tornando-a consistente. O método mais
utilizado para a detecção de inconsistência é o método da dupla massa o qual permite que se
faça posteriormente a correcção da série.
Se neste gráfico os pontos se alinharem ao longo duma recta não se detecta inconsistência. Se,
no entanto, se verificar uma situação como a da figura 4.22 em que, a partir dum dado ano, há
uma clara mudança de inclinação que se mantém (verificada pelo menos nos últimos 5 anos),
então pode suspeitar-se de haver inconsistência na série em estudo.
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Precipitação 4-8
Nesse caso, é preciso verificar o que aconteceu com a estação, se houve uma mudança do local
ou outra causa que possa ser a origem da inconsistência.
É necessária muita cautela na utilização do método da dupla massa. Em primeiro lugar, é preciso
que o desvio se mantenha durante uma série de anos (cinco ou mais); depois, é preciso que as
estações de apoio tenham todas séries de registos consistentes. É igualmente necessário
encontrar a causa física que possa ter originado a inconsistência.
Quando estas condições se verificam, pode rectificar-se a série de forma a torná-la consistente:
pega-se nos valores da subsérie anterior à mudança de declive e multiplica-se os seus valores
pela relação das tangentes. No exemplo da figura 4.22, ter-se-ia de multiplicar os valores
anteriores a 1981 por 0.84/1.40 = 0.60.
Finalmente há que referir que o método da dupla massa só deve ser aplicado para durações
suficientemente longas, ou seja, para séries de precipitação semestral ou anual.
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Precipitação 4-9
totais mensais, semestrais e anuais. Os mais utilizados são o método da razão normal, o método
do US National Weather Service e o método da regressão linear múltipla.
Se um ou mais quadrantes não contiverem nenhuma estação, como pode acontecer se a estação
X se localizar na costa, o somatório estende-se apenas aos restantes quadrantes.
Os métodos atrás referidos, embora bastante práticos, só são válidos quando a densidade das
estações é elevada. Quando isso não acontece, é preferível utilizar o método da regressão linear
múltipla.
Manual de Hidrologia
Precipitação 4-10
4.10.1 Introdução
Procura-se então obter relações entre as seguintes grandezas: a altura de precipitação (ou a
intensidade), a duração da chuvada e a frequência (ou o período retorno).
Uma das relações mais utilizadas envolvendo a altura, a duração e o período de retorno é:
h = a.t n .T m
h = a.t n
Manual de Hidrologia
Precipitação 4-11
Chama-se a atenção que estas relações não são dimensionalmente homogéneas. Por isso, há que
especificar as unidades em que se expressam h e t.
Como se sabe, a intensidade descrece com a duração da chuvada o que implica que o parâmetro
n tenha um valor inferior a 1. A figura 4.24 representa a variação de h e i com t.
que é a equação duma recta no espaço logarítmico. Curiosamente, e reforçando a ideia de que as
curvas de possibilidade udométrica constituem uma expressão adequada para as precipitações
intensas, o registo das máximas precipitações registadas no mundo para diferentes durações (ver
o quadro 4.4) adapta-se perfeitamente a uma recta num gráfico com eixos logarítmico como se
pode ver na figura 4.25, retirada de LINSLEY et al. (1977). Estes máximos mundiais (a que se
poderia associar empiricamente o período de retorno de 150 anos, considerando o tempo de
existência de registos fiáveis) correspondem à seguinte relação:
h = 417 t 0.48
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Precipitação 4-12
com h em mm e t em horas.
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Precipitação 4-13
O processo mais directo para se obter curvas de possibilidade udométrica para diversos períodos
de retorno é o seguinte.
Suponha-se que se dispõe duma série de registos de precipitação com uma duração de N anos.
Indo buscar a essa série os maiores valores de precipitação registados para diferentes durações
(15 m, 30 m, 1h, 6 h, etc.) fica-se com um conjunto de pares de valores (hi,ti) ligados a um
período de retorno T = N já que esses valores são igualados ou excedidos uma vez em N anos.
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Precipitação 4-14
Se agora se repetir o processo indo buscar à série de registos os segundos maiores valores para
as diversas durações, pode construir-se a curva de possibilidade udométrica para o período de
retorno T = N/2 já que os referidos valores de h são igualados ou excedidos 2 vezes em N anos.
De forma similar se obteriam as de possibilidade udométrica para T = N/3, N/4, N/5, .... as quais
poderiam ser todas representadas num mesmo gráfico como se exemplifica na figura 4.26. Um
gráfico deste tipo permite fácilmente obter por interpolação a altura de precipitação que
corresponde a uma determinada duração para certo período de retorno T, T ≤ N. Chama-se a
atenção que todas estas curvas têm de ter o mesmo valor de n.
Quando se pretende extrapolar para períodos de retorno superiores a N, pode adoptar-se um dos
seguintes procedimentos:
b) para a duração que se pretende estudar, obter os pares de valores (h,T). Isto é equivalente
a atribuir a cada valor de h uma probabilidade empírica de não excedência F = 1 - 1/T .
A partir daí, é possível ajustar a distribuição empírica a uma distribuição teórica que
permite extrapolar para valores altos de T. A distribuição normal adapta-se mal ao
estudo de precipitações intensas sendo, por isso, preferível utilizar uma distribuição de
extremos, como por exemplo Log-Normal ou Gumbel.
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Precipitação 4-15
Quando não se dispõe dum registo de pluviógrafo, a análise de precipitações intensas fica
limitada a durações não inferiores a 1 dia pois este é o intervalo com que se fazem as leituras.
No entanto, se se conseguir um bom ajustamento duma curva de possibilidade udométrica h =
atn (t ≥ 1 dia), pode-se extrapolar para durações inferiores a 1 dia, determinando o valor de h
para t = 12 horas ou mesmo para t = 6 horas, não se devendo utilizar a curva para durações
muito pequenas onde a extrapolação já não seria válida.
Suponha-se que se dispõe nos vários postos udométricos da região de séries simultâneas de N
anos de registos e que se pretende obter para a região a curva de possibilidade udométrica para T
= N. A forma correcta para se obter a curva seria:
1a) obter o pluviograma ponderado, multiplicando cada pluviograma dum dado posto pelo
respectivo coeficiente de Thiessen e, posteriormente, somando-os;
1b) no caso (vulgar) de não se dispôr de pluviogramas, obter a série de N anos de
precipitações diárias ponderadas na região, multiplicando cada série de registos diários de um
dado posto pelo respectivo coeficiente de Thiessen e, posteriormente, somando-os;
2) obter as curvas de possibilidade udométrica para a região por análise do pluviograma
ponderado (obtido em 1a) ou da série de precipitações diárias ponderadas (obtida em 1b).
A menos que os pluviogramas (por digitalização) e as séries de dados diários existam numa base
de dados em computador, o processo referido é extremamente trabalhoso. Utiliza-se, por isso,
frequentemente um processo mais expedito que consiste em obter a curva de possibilidade
udométrica para a região para um dado período de retorno por ponderação das curvas de
possibilidade udométrica dos diversos postos para o mesmo período de retorno. Assim, a altura
de precipitação para cada duração seria obtida multiplicando a altura em cada posto para essa
duração (dada pela respectiva CPU) pelo correspondente coeficiente de Thiessen e somando os
valores assim obtidos. A CPU para a região seria ajustada aos pares (h,t) assim obtidos.
Este processo expedito é, em geral, pessimista, i.e., fornece valores excessivos de precipitação
visto pressupor a ocorrência simultânea dos valores máximos da precipitação em todos os postos
o que normalmente não se verifica. O método dará valores tanto mais pessimistas quanto menor
fôr a correlação entre as precipitações nos postos udométricos.
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Precipitação 4-16
EXERCÍCIOS
N.B. Na realidade usa-se sempre uma série mais longa do que 5 anos para calcular valores
característicos.
Ano hidrológico
Mês: '77/'78 '78/'79 '79/'80 '80/'81 '81/'82
Out. 43 61 57 50 115
Nov. 17 89 56 99 189
Dez. 78 87 87 43 56
Jan. 304 129 48 230 27
Fev. 120 24 62 205 22
Mar. 211 153 75 98 60
Abr. 36 37 115 10 194
Mai 41 8 29 159 19
Jun. 1 16 0 12 3
Jul 61 8 8 7 3
Ago. 11 22 32 22 14
Set. 10 14 97 78 12
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Precipitação 4-17
O posto L não tem dados desde 1970 enquanto os postos A-J têm séries praticamente completas
até hoje.
A 908 45 F 885 45
B 1021 42 G 933 50
C 870 40 H 927 40
D 1140 60 I 1217 50
E 855 40 J 1020 40
L 948 -
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Precipitação 4-18
Manual de Hidrologia
Precipitação 4-19
3. PREENCHIMENTO DE FALHAS
c) Comente os resultados.
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Precipitação 4-20
Analize precipitações intensas de curta duração, usando uma série de valores diários da
precipitação no 1º ano hidrológico (tabela 2) e os valores críticos anuais da precipitação dos 19
anos seguintes (tabela 1).
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Precipitação 4-21
Mês:
Dia: Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai Jun. Jul. Ago. Set.
1 0 0 0 0 0 0 4 0 0 0 0 4
2 0 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0
3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
4 2 0 71 34 0 0 0 0 0 0 0 0
5 0 0 13 15 0 0 0 0 0 0 0 0
6 0 0 25 0 0 8 0 0 0 6 0 0
7 0 18 18 9 0 21 0 0 0 0 0 0
8 0 0 0 3 0 3 0 0 0 4 0 0
9 0 0 1 62 0 0 0 0 0 0 0 0
10 0 17 0 83 0 0 0 9 0 0 0 28
11 0 0 0 31 0 0 0 11 0 0 0 12
12 0 0 0 18 0 0 0 0 0 0 0 12
13 0 0 0 0 12 0 0 0 0 0 0 0
14 1 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0
15 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
16 0 0 8 0 0 0 0 0 4 0 0 0
17 0 0 0 13 0 0 0 0 3 0 0 0
18 0 0 55 0 0 0 0 0 0 0 0 0
19 8 0 49 0 0 0 0 0 0 0 0 0
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Manual de Hidrologia