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A inconstitucionalidade da votação secreta

do Tribunal do Júri
LUCIANO ROBERTO GULART CABRAL JÚNIOR*

Resumo: A votação secreta do Tribunal do Júri brasileiro é prevista no artigo 485,


caput e § 1º, do Código de Processo Penal, com redação dada pela Lei nº
11.689/2008. Durante o julgamento dos crimes dolosos contra a vida, os Jurados
fazem-no reservadamente, em uma sala secreta (especial), inacessível ao público e
ao réu. Apenas os Jurados, o Juiz-Presidente, o representante do Ministério
Público, o assistente de acusação, o querelante, o defensor do acusado, o Escrivão e
o Oficial de Justiça presenciam a votação dos quesitos. Na falta desse local,
determina-se a retirada dos presentes e do acusado do plenário, permanecendo
exclusivamente as pessoas retromencionadas. O escopo e o problema de pesquisa
do presente artigo centram-se, por intermédio do método de abordagem dedutivo
através de pesquisas bibliográficas, na análise da constitucionalidade da votação
secreta do Júri à luz da publicidade dos atos processuais e da plenitude de defesa.
Palavras-chave: Votação secreta; Tribunal do Júri; Publicidade dos atos
processuais; Plenitude de defesa.
The unconstitutionality of the secret voting of the Jury Court
Abstract: The secret voting of the Brazilian Jury Court is provided for in Article
485, caput and § 1º, of the Criminal Procedure Code, as amended by Law nº
11.689/2008. During the trial of crimes against life, the Jurymen do it privately, in
a secret room (special), inaccessible to the public and the defendant. Only the
Jurymen, the Chief Judge, the public prosecutor, the assistant prosecutor, the
prosecutor, the defender of the accused, the scrivener and the bailiff witness the
voting of the questions. In the absence of such a place, is determined the
withdrawal of the gifts and of the accused from the plenary, staying solely the
people indicated. The scope and the research problem of this article focus, through
the deductive method of approach through bibliographic research, in the analysis of
the constitutionality of the secret voting of the Jury in light of the publicity of
procedural acts and of the defense fullness.
Key words: Secret voting; Jury Court; Publicity of procedural acts; Defense
fullness.

* LUCIANO ROBERTO GULART CABRAL JÚNIOR é mestrando em Direito e Justiça


Social no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande (FURG).
Bacharel em Direito pela Faculdade Anhanguera do Rio Grande, advogado.

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1. Introdução aos litigantes em processo judicial ou
Hodiernamente, os Estados administrativo o seu manejo com os
democráticos estão fundados na respectivos meios e recursos que lhe são
transparência e na publicidade dos atos pertinentes – no Júri a ampla defesa
estatais. Isso permite uma participação e especifica-se à plenitude de defesa.
um controle mais efetivo pela Todavia, o Código de Processo Penal
sociedade, aproximando-a das ações lhe nacional estatui a denominada sala
são atinentes. A Constituição Federal secreta (ou sala especial), ambiente em
brasileira de 1988, oriunda de um que os Jurados julgam os crimes
ambiente pós-ditadura, exaltou a submetidos à competência do Tribunal
predominância publicista dos atos do Júri na presença tão somente do Juiz-
processuais, erigindo como regra a Presidente, do representante do
publicidade, excepcionando, portanto, o Ministério Público, do defensor do
sigilo. acusado, do assistente de acusação, do
Por outro lado, como tentativa de querelante, do Escrivão e do Oficial de
adequação a um modelo não Justiça. Na ausência da sala secreta, o
inquisitório de persecução penal, a Juiz-Presidente determina a retirada dos
garantia à ampla defesa também possui presentes e do acusado do plenário para
previsão da Lei Magna, assegurando possibilitar o escrutínio.

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Analisar-se-á, portanto, a
inconstitucionalidade da votação secreta contrariedade ao libelo e recorrer da sentença de
do Júri à luz da publicidade dos atos pronúncia. Prejuízo à defesa evidente.
processuais e da plenitude de defesa. Recorrentes que, logo que cientes da inação de
seu patrono, revogaram os poderes a ele
Sublinhe-se: discorrer-se-á sobre a conferidos, nomeando novo causídico, que
votação, e não sobre o voto dos Jurados. imediatamente postulou a reabertura do prazo
A diferença é singela: o voto é a decisão para alegações finais. Inocorrência de preclusão
isolada de cada membro do Tribunal do temporal. Constrangimento ilegal evidenciado.
Júri acerca da matéria que lhe é Parecer do MPF pelo desprovimento do recurso.
Recurso ordinário provido, todavia, para
submetida; é o "sim" ou o "não" como reconhecer o cerceamento de defesa e
resposta a cada quesito. A votação, de determinar a renovação dos atos processuais,
outra banda, é o ato solene em que os mantida a situação prisional dos recorrentes. 1.
Jurados votam; é o momento em que o No processo penal, para o reconhecimento da
voto é proferido; é o entorno que invalidade dos atos processuais não basta a
desconformidade do ato com o modelo traçado
circunscreve a ocasião do julgamento. pelo legislador, cabendo ao magistrado verificar
Este, portanto, o problema de pesquisa: a eventual ocorrência de prejuízo ao réu diante
a votação secreta do Tribunal do Júri, de cada caso concreto, de modo que os
prevista no artigo 485, caput e § 1º, do automatismos devem ser evitados. 2. In casu o
Código de Processo Penal, cuja redação defensor constituído pelos réus deixou de
apresentar três peças processuais (alegações
foi alterada pela Lei nº 11.689/2008, é finais, recurso em sentido estrito e contrariedade
inconstitucional, por violar a ao libelo); assim, é evidente o prejuízo à defesa
publicidade dos atos processuais e a dos recorrentes, não sendo crível a tese
plenitude de defesa do acusado? esposada pelo acórdão hostilizado, de que a
inércia do advogado poderia ser mera estratégia
2. Princípios constitucionais do júri defensiva. 3. Somente após a não apresentação
de contrariedade ao libelo, ou seja, passados
Os princípios constitucionais do quase dez meses sem qualquer manifestação
Tribunal do Júri, elencados no artigo 5º, defensiva nos autos, os réus foram intimados
inciso XXXVIII, da Lei Maior, são a para informar se o advogado à época constituído
plenitude de defesa (alínea “a”), o sigilo ainda continuava patrocinando seus interesses;
das votações (alínea “b”), a soberania quando o recomendado seria que os recorrentes
logo após o transcurso do prazo para a
dos veredictos (alínea “c”), e a apresentação de alegações finais fossem
competência para o julgamento dos cientificados que estavam sem defesa e, no caso
crimes dolosos contra a vida (alínea de eventual inércia, fosse nomeado defensor
“d”). dativo, dando-se, assim, efetividade ao princípio
da plenitude de defesa. 4. Quando cientes da
A plenitude de defesa significa que não inação de seu patrono, os réus revogaram
basta unicamente ser assegurado o imediatamente os poderes a ele conferidos,
direito à defesa do réu em um processo nomeando novo causídico, que imediatamente
postulou a reabertura do prazo para alegações
submetido ao Júri; há de se lhe finais ante o patente cerceamento de defesa, não
assegurar uma defesa plena. E esse se podendo falar, portanto, que as nulidades
princípio se sobrepõe a outro do qual é foram sanadas em razão da preclusão temporal.
espécie, qual seja, o da ampla defesa 5. A Constituição Federal de 1988 garante aos
(artigo 5º, inciso LV, da Constituição que serão submetidos a julgamento pelo Júri
Popular a plenitude de defesa (art. 5º,
Federal)1. Consabido que são XXXVIII), princípio muito mais amplo e
complexo do que a ampla defesa, sendo, desta
1
Vide, a título exemplificativo: “Ementa: forma, inadmissível que os réus fiquem tanto
Recurso ordinário em Habeas Corpus. tempo indefesos em processo que apura a
Homicídio qualificado. Tribunal do júri. suposta prática de homicídio qualificado. 6.
Advogado constituído que, sem o conhecimento Parecer do MPF pelo desprovimento do recurso.
dos réus, deixou de apresentar alegações finais, 7. Recurso provido, para reconhecer o

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assegurados, aos litigantes e aos É assegurada a competência do Tribunal
acusados, em processo judicial ou do Júri para o julgamento dos crimes
administrativo, o contraditório e ampla dolosos contra a vida, na forma tentada
defesa, com os meios e recursos a ela ou consumada, isto é, a Constituição
inerentes (artigo 5º, inciso LV, da Federal assegura ao Tribunal do Júri o
Constituição Federal). Todavia, julgamento dos crimes dolosos contra o
no caso do Tribunal do Júri, o bem jurídico vida, sem, no entanto,
constituinte foi mais longe. Não obstar-lhe o alargamento da limitação
se contentou com o caráter de atuação jurisdicional por intermédio
genérico da ampla defesa, mas, da legislação ordinária. E assim o fez o
sim, impôs a necessidade de Código de Processo Penal, no seu artigo
'defesa plena', ou seja, no caso 78, inciso I (com redação dada pela Lei
concreto deve ser visualizada uma nº 263/1948), atribuindo à competência
defesa efetiva e adequada do Júri os crimes conexos ou
(GOMES, 2010, p. 42-43). continentes aos de sua competência
O sigilo das votações garante que os constitucional.
Jurados exerçam sua função
Todos estes princípios, pela
desprovidos de eventual receio de
interpretação e disposição
represálias que porventura pudessem
constitucional, devem ser
ocorrer se seu voto fosse revelado.
harmonicamente considerados a fim de
Assegura-se que a decisão de cada
que se evitem contradições entre eles.
Jurado se mantenha em segredo,
Nessa ocasião, ressalta-se – conforme se
publicando-se somente o voto em si,
discorrerá ao longo deste artigo – que a
sem vinculação ao seu autor.
plenitude de defesa e o sigilo das
A soberania dos vereditos torna a votações são incompatíveis com a
decisão dos Jurados imutável por votação secreta.
qualquer outro órgão (inclusive pelo
Poder Judiciário), significando que a 3. A votação secreta
Constituição Federal dá ao Júri status
O procedimento do Tribunal do Júri é
de instituição máxima (porquanto
traçado pelo Código de Processo Penal.
única) de julgamento meritório dos
O ato central decisório é disposto no
crimes dolosos contra a vida.
artigo 485 (redação do caput alterada e
Excepciona-se tal regra, entretanto,
dos parágrafos incluída pela Lei nº
preconizando-se o princípio da
11.689/2008):
plenitude de defesa, nos casos em que
se admite a revisão criminal. Art. 485 do CPP: Não havendo
dúvida a ser esclarecida, o juiz
presidente, os jurados, o
Ministério Público, o assistente, o
cerceamento de defesa decorrente da inércia do querelante, o defensor do
advogado em apresentar alegações finais, acusado, o escrivão e o oficial de
recurso em sentido estrito e contrariedade ao justiça dirigir-se-ão à sala especial
libelo, determinando-se a renovação dos atos a fim de ser procedida a votação.
processuais de acordo com as alterações
incluídas pela Lei 11.689/08 no CPP, mantida a § 1º. Na falta de sala especial, o
situação prisional dos recorrentes.” (BRASIL. juiz presidente determinará que o
Superior Tribunal de Justiça. Quinta Turma. público se retire, permanecendo
Recurso Ordinário em Habeas Corpus nº somente as pessoas mencionadas
22919/RS. Relator: Ministro Napoleão Nunes
no caput deste artigo.
Maia Filho. Julgado em 18/06/2009)

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§ 2º. O juiz presidente advertirá as integrante do Judiciário. (NUCCI, 2010,
partes de que não será permitida p. 728-729).
qualquer intervenção que possa
perturbar a livre manifestação do 4. O contraponto: a
Conselho e fará retirar da sala constitucionalidade da votação
quem se portar secreta
inconvenientemente. (BRASIL,
1941) Os juristas que não vislumbram na
votação secreta do Júri a chaga da
Os juristas, de um modo geral, aludem inconstitucionalidade, mas,
tão só à sala secreta do Tribunal Popular reversamente, dizem-na constitucional,
para corroborar (ou refutar) as argumentam, em suma, que não há
alegações em prol da sua transgressão à garantia da publicidade
constitucionalidade. No entanto, dos atos processuais, pois: primeiro, na
possível a extensão das teses à hipótese sala especial, fazem-se presentes os
em que inexiste a sala especial, o que Jurados, o Juiz-Presidente, o Ministério
enseja que os presentes e o acusado se Público, o assistente de acusação, o
retirem do plenário onde será procedida querelante, o defensor do acusado, o
a votação, razão pela qual prescindível Escrivão e o Oficial de Justiça,
o enquadramento expresso – pois opera desprendendo-se desta forma da
logicamente – daqueles fundamentos a concepção de "secreta"; segundo,
essa última suposição. assegura a defesa da intimidade dos
Jurados, facilitando a livre manifestação
da convicção por intermédio do voto; e,
Ademais, para depurar o tema, diga-se terceiro, o princípio constitucional do
que o fato de o Júri ser uma garantia "sigilo das votações" é estendido ao ato
individual não lhe abstrai a natureza de de votar.
órgão do Poder Judiciário, tendo como
corolário a incidência dos princípios Exemplificativamente, Nucci (2012, p.
relativos a este – entre eles o da 32-34) obtempera que se deve “salientar
publicidade dos atos processuais e da ser do mais alto interesse público que os
plenitude de defesa –, no que for jurados sejam livres e isentos para
compatível, àquele. Majoritariamente é proferir seu veredito. Não se pode
reconhecido o Júri como órgão do imaginar um julgamento tranquilo,
Poder Judiciário, embora dotado de longe de qualquer pressão, feito à vista
especialidade. A disposição do Tribunal do público, no plenário do júri.”
Popular na Constituição Federal como
Para Rangel (2008, p. 15), “é da
garantia individual atente muito mais ao
essência do Tribunal do Júri a sala
intuito de considerá-lo cláusula pétrea
secreta, sala este inerente à garantia
do que a finalidade de excluí-lo do
dada ao cidadão, investido,
Judiciário. O artigo 78, inciso I, do
temporariamente, da função de julgar,
Código de Processo Penal (com redação
de que sua convicção não será
dada pela Lei nº 263/1948),
publicizada.”
proclamando que "no concurso entre a
competência do júri e a de outro órgão E Távora e Antonni (2009, p. 676)
da jurisdição comum, prevalecerá a também não visualizam na votação
competência do júri" (grifou-se), bem secreta alguma inconstitucionalidade:
como o fato de a solenidade ser “o sigilo das votações envolve o voto e
presidida por um Juiz togado, o local do voto. Para evitar intimidação
demonstram que se trata de Instituição dos jurados, as votações ocorrem em

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uma sala especial, com a presença das § 1º. Se da publicidade da
pessoas indispensáveis a esse ato audiência, da sessão ou do ato
processual”. processual, puder resultar
escândalo, inconveniente grave ou
A despeito da carga teórica que dota as perigo de perturbação da ordem, o
proposições supra, há, embora em juiz, ou o tribunal, câmara, ou
número reduzido, juristas que a turma, poderá, de ofício ou a
contraditam, indicando as razões pelas requerimento da parte ou do
quais assim o fazem. Ministério Público, determinar
que o ato seja realizado a portas
5. A violação à publicidade dos atos fechadas, limitando o número de
processuais pessoas que possam estar
Na Constituição Federal, dois presentes.
dispositivos, na perspectiva do enfoque § 2º. As audiências, as sessões e
deste artigo, tratam da publicidade dos os atos processuais, em caso de
atos processuais, a saber: necessidade, poderão realizar-se
Art. 5º, LX: A lei só poderá na residência do juiz, ou em outra
restringir a publicidade dos atos casa por ele especialmente
processuais quando a defesa da designada. (BRASIL, 1941)
intimidade ou o interesse social o
exigirem.
As exceções, então, à regra publicista,
pela análise das normas legais
Art. 93, IX: Todos os julgamentos supratranscritas, são: (a) a exigência da
dos órgãos do Poder Judiciário defesa da intimidade, (b) a exigência do
serão públicos, e fundamentadas interesse social, (c) a preservação do
todas as decisões, sob pena de
direito à intimidade do interessado no
nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, sigilo, desde que não prejudique o
às próprias partes e a seus interesse público à informação, e (d) a
advogados, ou somente a estes, possibilidade de acarretar escândalo,
em casos nos quais a preservação inconveniente grave ou perigo de
do direito à intimidade do perturbação da ordem. Esses – e tão
interessado no sigilo não somente esses – os significantes que
prejudique o interesse público à autorizam que o ato processual, que
informação.2 (BRASIL, 1988) deve, em regra, ser público, assim não o
O Código de Processo Penal, por sua seja.
vez, preceitua:
Entretanto, não se verifica da previsão
Art. 792: As audiências, sessões e abstrata de usurpação da publicidade
os atos processuais serão, em processual na votação secreta do
regra, públicos e se realizarão nas Tribunal do Júri nenhum desses
sedes dos juízos e tribunais, com
pressupostos. Com efeito, o Jurado,
assistência dos escrivães, do
secretário, do oficial de justiça talvez principal ator do cenário que
que servir de porteiro, em dia e possa se argumentar preservação da
hora certos, ou previamente intimidade, apesar da obrigatoriedade
designados. do serviço ao Júri, está imbuído de uma
função de notório liame democrático. O
Jurado, acobertado pela soberania de
seu veredito, julga de modo irretocável
2
Redação dada pela Emenda Constitucional nº pelos demais Tribunais do Poder
45/2004. Judiciário (a sua decisão deve ser a

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última para o caso em julgamento). O Tourinho Filho (1997, p. 98), da mesma
seu suposto receio de votar e estar forma, não vê empecilho ao julgamento
perante o povo ou o réu perde em plenário, à vista do público:
significado quando se constata que toda Há entendimento no sentido de
a instrução processual em plenário que a ‘sala secreta’ não mais se
progride com a livre observação de justifica. Na verdade, o que a
pessoas alheias ao processo em si Constituição exige é a sigilação
(público) e na presença do acusado. na votação. Nada impede, pois, se
Aviltar a publicidade em prol da defesa proceda à votação coram populo
abstrata da intimidade é sobremodo [diante do povo], dês que
desarrazoado à sociedade e ao réu. preservado o sigilo. Aliás,
ocorrendo a votação em plenário,
Ademais, não é exigido, com base no o julgamento sobre se tornar mais
interesse social ou no interesse público, democrático torna-se fiscalizável
o afastamento da publicidade do pelo olho do povo. Alega-se que
julgamento pelos Jurados. E quanto aos os jurados decidindo em plenário
podem sofrer pressão de terceiros
demais requisitos, todos são elementos presentes ao tribunal, através de
que necessitam ser apreciados no caso gestos... Em primeiro lugar, cabe
concreto, e não de modo abstrato como ao Juiz escolher os homens de
o fez o Legislador ao instituir a votação bem da comarca para integrar a
secreta. lista anual dos jurados; em
segundo lugar, ainda que se
Corroborando todo o apanhado, tem-se admita tal hipótese, se pressão
Tubenchlak, que assim leciona (1997, p. dever existir, obviamente não
128-129): ocorrerá na hora do julgamento.3

Examinando-se as disposições do Ainda, Tubenchlak (1997, p. 128-129)


Código de Processo Penal acerca menciona que o julgamento pelos
da sala secreta, não se vislumbra jurados na presença do público e do
nenhuma alusão à defesa da acusado trará benefícios moralizadores
intimidade ou à exigência do gerais, tanto no valor educativo à
interesse social ou público. Sendo comunidade como cidadãos e futuros
indesmentível que a sala secreta Jurados, como no afastamento de rituais
ganhou assento na legislação desnecessários e inúteis, quanto na
ordinária elaborada em fase transparência do julgamento, repelindo
ditatorial (1941), o princípio da
especulações sobre o ocorrido na sala
publicidade dos atos processuais e
do julgamento viu-se inserido,
secreta. Além disso, “a publicidade é
pela primeira vez, justamente na tanto uma garantia para o acusado
Constituição atual, logo depois de quanto para a sociedade. Para o
findar-se outra longa ditadura. [...]
Ad argumentandum, poder-se-ia 3
Fernando da Costa Tourinho Filho (2010, p.
até imaginar que os Jurados 219-220) reformulou a sua conclusão,
estariam em posição confortável articulando: "há respeitável corrente entendendo
para decidir, dentro de uma sala que o Júri seria mais democrático se a votação
secreta. Todavia, indagamos: não fosse feita coram populo, na presença do povo.
haverá, certamente, maior Não nos parece. [...] A preferência pela 'sala
responsabilidade, por parte dos secreta' não incide na censura do inc. LX do art.
'juízes do povo', ao colocarem 5º [da Constituição Federal]. Talvez até essa
seus votos em urna, diante de um preferência tradicional pela 'sala secreta' seja
para evitar eventuais interferências indesejadas
réu e dos circunstantes?
de algum circunstante".

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primeiro, contra as arbitrariedades do sucessivamente, ao Conselho dos
julgador; para a segunda, contra Jurados.
eventual prevaricação desse” IV – Destarte, divergindo da
(CARVALHO, 2007, p. 18). douta maioria, denegava a ordem
por entender que, segundo a nova
Outro ponto que gera controvérsia e que ordem constitucional, a votação
está intimamente ligado à publicidade dos quesitos pode se fazer em
dos atos processuais é a abrangência da sessão aberta ao público (sessão
expressão "sigilo das votações" do pública) resguardando-se, como
artigo 5º, inciso XXXVIII, b, da se fez, o sigilo das votações (voto
secreto). (TUBENCHLAK, 1997,
Constituição Federal.
p. 367-369).4
No voto proferido na ocasião do Tourinho Filho também aduz que sigilo
julgamento do habeas corpus nº 280/89, das votações não é sigilo na votação.
pela Terceira Câmara Criminal do Para este autor, "o que interessa mesmo
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de é a 'sigilação do voto' e não 'do ato de
Janeiro, em 22 de maio de 1989, o votar'" (2010, p. 146).
Desembargador José Lisboa da Gama A Constituição Federal, ao assegurar ao
Malcher, com o escopo de delimitar a Tribunal do Júri o sigilo das votações,
seara atuante do "sigilo das votações", não aspirou estatuir uma votação
destacou-a do "sigilo na votação". secreta. Por isso mesmo se utilizou do
Perceba-se: plural, e não da forma singular do
substantivo "votação". Ora, a votação é
Ora, nossos constituintes, ao una, os votos é que são variados (um de
tratarem do Tribunal do Júri, em
cada Jurado e para cada quesito). A Lei
primeiro lugar o reconheceram
como uma Instituição nacional, e Maior brasileira assegurou – isto sim –
ao fazê-lo, indicaram seus o sigilo do voto.
elementos essenciais, aqueles Se assim não o fosse, chegar-se-ia ao
citados nas alíneas a até d do extremo de se admitir que, na presença
inciso trinta e oito do art. 5º da das pessoas arroladas pelo caput do
Constituição Federal. Ao cuidar
artigo 485 do Código de Processo
das votações dos quesitos (núcleo
do julgamento popular, de Penal, estar-se-ia infringindo o preceito
consciência) a Constituição constitucional. Entretanto, não. O sigilo
determina que se mantenha 'o realmente é das votações (da
sigilo das votações' e não o sigilo manifestação da íntima convicção de
na votação. A diferença é cada Jurado consubstanciada no voto), e
significativa: sigilo das votações é não na votação (no ato de votar).
equivalente a voto secreto; e
sigilo na votação corresponde a
4
sessão secreta; e estas a Malgrado, o Tribunal decidiu consoante a
Constituição proibiu, no inciso seguinte ementa: "Ementa: Habeas Corpus.
LX do mesmo art. 5º, salvo se Processo de Júri. Votação dos quesitos em
necessárias para preservar a sessão pública. Inobservância do art. 481 do
CPP [referência à redação original]. Nulidade
defesa da intimidade do réu ou
reconhecida. Anula-se o julgamento quando a
das partes, ou se interesse social votação dos quesitos pelos Jurados é feita em
assim o exigir. Note-se que a sessão pública e não como determina o artigo
Constituição usa votações (plural) 481 do CPP. A sala especial não se acha abolida
significando resposta aos diversos pela nova Constituição Federal. Concessão da
quesitos submetidos, ordem." (TUBENCHLAK, 1997, p. 364).

90
Bustamante (1997, p. 372) entende que A defesa, no processo penal, é
se a Constituição Federal quisesse indeclinável e deve ser plena e efetiva.
instituir a sala secreta, expressamente o Indeclinável, porque o acusado não
faria: pode renunciá-la; plena, pois deve se
Em atenção ao Júri, a nova Carta manifestar durante todo o procedimento
só impõe, na realidade, o sigilo processual; e efetiva, no sentido de
das votações (art. 5º, XXXVIII, substancial, vigorosa, suficiente, e não
b). Cotejando-se, agora, tal regra meramente aparente ou formal
com o disposto no art. 52, incisos (MANZANO, 2010, p. 22).
III e IV, da mesma Constituição,
o que se constata é que, em Plenitude de defesa é espécie do gênero
relação à competência do Senado ampla defesa:
Federal, o Constituinte, além de
Amplo quer dizer vasto, largo,
estabelecer a votação secreta,
muito grande, rico, abundante,
previu a 'sessão secreta'. Ora, caso
copioso; pleno significa repleto,
fosse essa a intenção do
completo, absoluto, cabal,
Constituinte, relativamente ao
perfeito. O segundo é,
Júri, é óbvio que a expressão
evidentemente, mais forte do que
'sessão secreta' também teria sido
o primeiro. Assim, no processo
empregada no citado art. 5º,
criminal, perante o juiz togado,
XXXVIII, b, ao lado do segredo
tem o acusado assegurada a ampla
do voto dos Jurados.
defesa, isto é, vasta possibilidade
Enfim, até seria plausível a sala secreta de se defender, propondo provas,
nos Estados em que os Jurados se questionando dados, contestando
comunicam entre si sobre os fatos do alegações, enfim, oferecendo os
julgamento. No Brasil, no entanto, dados técnicos suficientes para
que o magistrado possa considerar
impera a incomunicabilidade. Logo,
equilibrada a demanda, estando de
injustificada a existência da votação um lado o órgão acusador e de
secreta. Assegurando-se, por outro uma defesa eficiente. Por
mecanismos idôneos, o sigilo dos votos outro lado, no Tribunal do Júri,
– e essa é a extensão da expressão onde as decisões são tomadas pela
"sigilo das votações" do artigo 5º, inciso íntima convicção dos jurados, sem
XXXVIII, da Constituição Federal, não qualquer fundamentação, onde
se subsumindo ao sigilo na votação –, prevalece a oralidade dos atos e a
estar-se-á obedecendo aos preceitos da concentração da produção de
Lei Fundamental, o que não está a ser provas, bem como a identidade
feito pelo artigo 485, caput e § 1º, do física do juiz, torna-se
indispensável que a defesa atue de
Código de Processo Penal.
modo completo e perfeito –
6. Violação à plenitude de defesa logicamente dentro das limitações
impostas pela natureza humana. A
Haja vista que a liberdade é o bem intenção do constituinte foi
jurídico que pode ser restringido em aplicar ao Tribunal Popular um
caso de condenação do réu em um método que privilegie a defesa,
processo penal, mister se lhe assegure em caso de confronto inafastável
defesa, oportunizando-lhe a exibição da com a acusação, homenageando a
sua versão dos fatos e postular a sua sua plenitude. (NUCCI, 2010, p.
absolvição. Nesse diapasão, a plenitude 83)
de defesa é garantia individual do Júri, A Constituição Federal assegura a
cujo beneficiário é o acusado. ampla defesa (e a plenitude de defesa

91
especificamente) aos acusados em pessoal. A defesa técnica é indisponível
processo judicial, como se nota: e significa a assistência por uma pessoa
Art. 5º, LV: Aos litigantes, em detentora de conhecimentos teóricos do
processo judicial ou Direito, traduzido na figura de um
administrativo, e aos acusados em profissional da advocacia (LOPES JR.,
geral são assegurados o 2004, p. 223-224).
contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela Paralelamente, o próprio acusado de um
inerentes. processo penal exerce a defesa pessoal,
de caráter disponível, resistindo à
Art. 5º, XXXVIII: É reconhecida
pretensão punitiva estatal. Lopes Jr.
a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, (2004, p. 227) classifica a defesa
assegurados: a) a plenitude de pessoal (ou autodefesa) em positiva e
defesa [...]. (BRASIL, 1988) negativa. A primeira, de forma
comissiva, compreende o direito de o
Semelhantemente procede a Convenção acusado praticar atos para resistir à
Americana sobre Direitos Humanos pretensão punitiva em prol de seu
(Pacto de San José da Costa Rica), direito à liberdade. A segunda, de
integrante do ordenamento jurídico exteriorização omissiva, permite ao réu
brasileiro ex vi do Decreto nº se abster a dar a mínima contribuição
678/19925: para atividade probatória dos órgãos
Artigo 8º: Garantias judiciais. estatais, inclusive se negando a declarar
1. Toda pessoa terá o direito de algo.
ser ouvida, com as devidas
Não obstante seja faculdade do acusado,
garantias e dentro de um prazo
razoável, por um juiz ou Tribunal
a autodefesa deve, ao menos, ser-lhe
competente, independente e proporcionada, sob pena de nulidade
imparcial, estabelecido absoluta por ferir garantia
anteriormente por lei, na apuração constitucional. E, em virtude do
de qualquer acusação penal exposto, o caput e o § 1º do artigo 485
formulada contra ela, ou na do Código de Processo Penal dilaceram
determinação de seus direitos e o princípio da plenitude de defesa – o
obrigações de caráter civil, que sequer é relatado por aqueles que
trabalhista, fiscal ou de qualquer defendem a constitucionalidade da
outra natureza. (BRASIL, 1992) votação secreta. Verdadeiramente,
A ampla defesa (e consequentemente a pode-se concluir que a norma aludida
forma de se externar a plenitude de simplesmente olvida da garantia
defesa) se decompõe em técnica e individual constitucional referida.

5
É transparente o raciocínio: na votação
A força normativa da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, visto que aprovada
secreta, não se faz presente o acusado,
pelo Congresso Nacional, é equivalente à de sendo-lhe furtado o seu direito
uma emenda constitucional, a rigor do § 3º do fiscalizatório do ato.
artigo 5º da Constituição Federal (incluído pela
Emenda Constitucional nº 45/2004), de seguinte O sigilo, quando existente, deve ser
redação: "Os tratados e convenções exclusivamente externo, devendo
internacionais sobre direitos humanos que internamente (entre as partes)
forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
permanecer absolutamente público, sob
votos dos respectivos membros, serão pena de cerceamento de defesa
equivalentes às emendas constitucionais". (CABETTE, 2002, p. 30-31). Não é

92
hábil ao pleno exercício da defesa constitucional. (BASTOS, 1995, p. 98-
(plenitude de defesa) a presença 99)
meramente do defensor na ocasião do
Em virtude disso, não se pode
julgamento pelos Jurados, pois deixa
interpretar o artigo 5º, inciso XXXVIII,
descoberto um dos vetores da ampla
alínea b, de modo isolado, mas,
defesa, qual seja, a autodefesa – o
inversamente, imperiosa a comunhão
defensor corresponde tão só à defesa
hermenêutica com a sua alínea irmã –
técnica.
que assegura ao Júri a plenitude de
Ademais – por que não dizer? –, a defesa – e com outro inciso originário
votação sem a presença do acusado é do mesmo artigo – que afiança a
totalmente discriminatória. A um, publicidade dos atos processuais.
porque pressupõe que todo réu é Em decorrência, a votação secreta
desprovido de lealdade processual, e instituída pelo Código de Processo
que irá intimidar os Jurados com o Penal permanece maculada pela
intuito de obter vantagem injusta; a inconstitucionalidade por desrespeitar
dois, por presumir que todo Jurado é as garantias da plenitude de defesa e da
ingênuo, influenciável; a três – aí reside publicidade dos atos processuais. Eis o
um constrangimento absurdo –, desígnio da Lei Fundamental, ancorado
porquanto, na hipótese em que inexiste no princípio da unidade da
sala secreta, o acusado é retirado do constituição, pois “dois princípios
plenário para que os quesitos sejam aparentemente contraditórios podem
votados. O desprezo ao acusado no harmonizar-se desde que abdiquem da
momento em que os Jurados votam pretensão de serem interpretados de
remonta ao sistema inquisitório, onde o forma absoluta” (BASTOS, 1995, 99).
réu figurava exclusivamente como uma Se se interpretasse o artigo 5º, inciso
marionete do sistema punitivo estatal. XXXVIII, alínea b, à míngua dos
demais, romper-se-ia a unidade
Portanto, a ausência do acusado durante orgânica da Lei Maior, o que é
a votação dos quesitos viola a plenitude inadmissível.
de defesa, eivando de
inconstitucionalidade, também por esse Simultaneamente, a publicidade dos
fundamento, o artigo 485, caput e § 1º, atos processuais e a plenitude de defesa,
do Código de Processo Penal. por serem garantias constitucionais,
servem de pilastras às demais normas
7. Considerações finais do ordenamento jurídico
infraconstitucional (princípio da
É sabido que os preceitos das supremacia da Constituição). A falta de
Constituições não podem ser previsão pela Constituição Federal da
compreendidos isoladamente, porque é sala secreta no Tribunal do Júri requer
necessário considerar a medida em que uma interpretação cautelosa do artigo
se interpenetram. Isto é, um preceito 485 do Código de Processo Penal.
extravasa seu campo e imiscui-se no Como ensina Canotilho (2000, p. 1310),
preceito de outra norma constitucional. o princípio da interpretação conforme a
Resulta-se daí uma interferência Constituição não deve deter-se
recíproca entre normas, exigindo uma exclusivamente a um meio de
interpretação sistemática e a exclusão conservação das normas. Ao revés, é
da possibilidade de leitura isolada dos um princípio de prevalência normativo-
artigos para desvendar a vontade vertical ou de integração hierárquico-

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normativa. Deve-se partir da essência desse ato é a
Constituição para se atingir o real manifestação da vontade do
significado (ou retirar a validade) de jurado, a qual, em consonância
uma norma jurídica, e não o inverso. com a lei, se exterioriza assim de
modo sigiloso e sem
Outrossim, analogamente à plenitude de fundamentação.
defesa, Trata-se da aplicação do princípio da
a questão da tutela da garantia instrumentalidade das formas, segundo
constitucional da publicidade o qual somente serão "anulados os atos
consiste em mecanismo que imperfeitos se o objetivo não tiver sido
somente pode ser aferido a partir atingido (o que interessa, afinal, é o
dos específicos balizamentos que objetivo, não o ato em si mesmo)"
o caso concreto revela. É dizer, o (ARAÚJO CINTRA; GRINOVER;
respeito ao imperativo de DINAMARCO, 2009, p. 368).
publicidade dos procedimentos
administrativos e judiciais não Enfim, a votação em sala secreta e a
pode fazer tábula rasa da votação em plenário, mas na ausência
possibilidade sempre presente de do público e do acusado, ferem as
que as condicionantes matérias da garantias constitucionais da publicidade
espécie demandem uma proteção dos atos processuais e da plenitude de
mais efetiva com relação à qual o
defesa, acarretando, por consequência, a
Estado não pode imputar impacto
desproporcional de direitos
inconstitucionalidade do caput e do § 1º
fundamentais individuais, cuja do artigo 485 do Código de Processo
violação se torne irreversível Penal.
(MENDES; COELHO; E tal inconstitucionalidade – que pode
BRANCO, 2010, p. 602). ser classificada como material, por
Imprópria, portanto, a presunção de que violar normas constitucionais relativas a
os Jurados sofrerão invariavelmente a garantias fundamentais – pode (e deve)
pressão intimidatória pela presença das ser extirpada do ordenamento jurídico
partes e do acusado, devendo tal pelos meios adequados para tanto.
situação ser aferida no caso concreto Assim, por meio do controle por via
para que se não aviltem incidental da constitucionalidade, cabe
desajustadamente garantias ao Juiz-Presidente o encargo de negar
constitucionais. vigência à redação do artigo 485, caput
e § 1º, do Código de Processo Penal, no
A despeito do exame da caso concreto sujeito ao Tribunal do
constitucionalidade, outra questão Júri.6
exsurge: na hodierna conjuntura do
caput e do § 1º do artigo 485 do Código O Tribunal do Júri possui como
de Processo Penal, se o Juiz-Presidente princípios constitucionais a plenitude de
proceder à votação perante o público e o 6
acusado, estar-se-ia incorrendo em Outrossim, os legitimados (artigo 103 da
Constituição Federal) para propor a ação direta
nulidade? Responde Bustamante (1997, de inconstitucionalidade assim devem fazê-lo,
p. 374) negativamente, visto que com o escopo de, em decorrência da eficácia
erga omnes que é adstrita à decisão desta ação,
não sendo a 'sala secreta' obstar que o dispositivo infraconstitucional
elemento essencial do ato de retrorreferido incida às situações fáticas
votação, sua ausência não infirma concretas, realçando – como deve ser – a
nulidade. [...] O voto depositado Constituição Federal em detrimento da norma
secretamente é o que importa. A jurídica que lhe é incompatível.

94
defesa, o sigilo das votações, a Referências
soberania dos vereditos, e a ARAÚJO CINTRA, A. C.; GRINOVER, A. P.;
competência para o julgamento dos DINAMARCO, C. R. Teoria geral do
crimes dolosos contra a vida, e o seu processo. 25 ed. São Paulo: Malheiros Editores
procedimento especial é arquitetado Ltda., 2009.
pelo Código de Processo Penal. BASTOS, C. R. Curso de direito
constitucional. 16 ed. ampl. e atual. São Paulo:
É sabido que as leis ordinárias devem Saraiva, 1995.
obedecer à Constituição Federal. Essa é BONFIM, E. M. Curso de processo penal. 5ª
a Lei Fundamental do ordenamento ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010.
jurídico de um Estado. Impera, assim, o
BRASIL. Constituição da República Federativa
princípio da interpretação conforme a do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Disponível
Constituição. Uma norma jurídica que em:
avilte a Lei Maior, consequentemente, é <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constitui
desprovida de força vinculativa. cao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em:
05 mar. 2017.
Nessa imersão, a determinação legal
______. Decreto nº 678, de 6 de novembro de
(artigo 485, caput e § 1º, do Código de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre
Processo Penal, cuja redação foi Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa
alterada pela Lei nº 11.689/2008) no Rica), de 22 de novembro de 1969. Disponível
que concerne à votação secreta fere os em:
princípios constitucionais da <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d
0678.htm>. Acesso em: 06 mar. 2017.
publicidade dos atos processuais e a
plenitude de defesa. Isso porque, ______. Decreto-lei nº 3.689, de 3 de outubro
de 1941. Código de Processo Penal. Disponível
malgrado argumentos contrários, na
em:
votação secreta do Tribunal Popular não <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
há interesse privado, nem público, nem lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 06
social que autorizem que o julgamento mar. 2017.
se dê a portas fechadas; ao revés, o BUSTAMANTE, R. S. O júri e a nova
interesse da sociedade à publicidade dos constituição: a abolição da "sala secreta".
atos processuais é evidente. Outrossim, Revista ADV/COAD, n. 22, 1989. In:
a ausência do acusado no momento da TUBENCHLAK, J. Tribunal do Júri:
contradições e soluções. 5ª ed. rev., atual. e
votação lhe obsta de exerceu sua ampl. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 370-374.
garantia constitucional da plenitude de
defesa (na sua versão de defesa CABETTE, E. L. S. O processo penal e a
defesa dos direitos e garantias individuais.
pessoal), porquanto lhe é subtraído o Campinas: Péritas, 2002.
poder fiscalizatório do ato.
CANOTILHO, J. J. G. Direito constitucional e
Destarte, a votação secreta do Tribunal teoria da constituição. 7ª ed. Coimbra:
do Júri brasileiro, prevista no artigo Almedina, 2000.
485, caput e § 1º, do Código de CARVALHO, D. E. Curso de processo penal.
Processo Penal, cuja redação foi Rio de Janeiro: Forense, 2007.
alterada pela Lei nº 11.689/2008, é GOMES, Márcio Schlee. Júri: limites
inconstitucional, por violar a constitucionais da pronúncia. Porto Alegre:
publicidade dos atos processuais e a Sérgio Antônio Fabris Editor, 2010.
plenitude de defesa do acusado – na LOPES JR., A. Introdução crítica ao processo
subdivisão atinente à autodefesa. penal: Fundamentos da instrumentalidade
garantista. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004.
MANZANO, L. F. M. Curso de processo
penal. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

95
MENDES, G. F.; COELHO, I. M.; BRANCO, TÁVORA, N.; ANTONNI, R. Curso de direito
P. G. G. Curso de direito constitucional. 5ª ed. processual penal. 3ª ed. rev., ampl. e atual.
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. Salvador: jusPODIVM, 2009.
NUCCI, G. S. Manual de processo penal e TOURINHO FILHO, F. C. Processo Penal. v.
execução penal. 6ª ed. rev., atual. e ampl. São 4. 18 eds. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 1997.
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
______. ______. 32 eds. rev. e atual. São Paulo:
______. Tribunal do Júri. 3ª ed. rev., atual. e Saraiva, 2010.
ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012.
TUBENCHLAK, J. Tribunal do Júri:
RANGEL, P. Direito processual penal. 15 ed. contradições e soluções. 5ª ed. rev., atual. e
rev., ampl. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, ampl. São Paulo: Saraiva, 1997.
2008.
SUNDFELD, C. A. Fundamentos de direito
Recebido em 2016-07-11
público. 3ª ed. 2ª tiragem. São Paulo:
Publicado em 2017-04-01
Malheiros, 1998.

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