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8 de maio de 2020
No final desta extensa troca de mensagens, encontra-se a nossa Carta Aberta de 11 de dezembro
de 2019 ao Vereador do Urbanismo, do Espaço Público e do Património da Câmara Municipal do
Porto, Pedro Baganha, que esteve na origem do diálogo havido. A Campo Aberto deseja prosseguir
tal diálogo já que não se verificou ainda publicamente uma explanação coerente e consistente das
dúvidas e perplexidades que a associação fez chegar ao conhecimento do Vereador.
***
Descritivos: destino dos terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista; diálogo com a
Câmara Municipal do Porto; transparência democrática; expetativa de continuação de um diálogo
interrompido
Insere-se adiante uma troca de e-mails entre a Campo Aberto – associação de defesa do ambiente e
o Vereador dos Pelouros do Urbanismo, do Espaço Público e do Património, Pedro Baganha,
embora se inclua também uma mensagem dirigida simultaneamente ao Presidente da Câmara
Municipal do Porto e ao Vereador do Urbanismo, a última da série. A razão disso está em que o
tema da troca de mensagens foi fundamentalmente a questão do destino a que se irão sujeitar os
terrenos da antiga estação ferroviária da Boavista, no Porto, o que implica questões relativas à
interpretação do PDM em vigor e à preparação do PDM que o vai substituir, sendo esta matéria
objeto dessa última mensagem reproduzida adiante.
O diálogo epistolar que se segue decorre de uma Carta Aberta pública e dirigida ao Vereador do
Urbanismo da Câmara Municipal do Porto, divulgada pela Campo Aberto em 11 de dezembro de
2020, a qual pode ser lida mais abaixo, após o final da troca de mensagens.
No final dessa Carta Aberta, escrevemos: «Por ser do interesse da cidade e da transparência
democrática, divulgamos publicamente estes considerandos e pedidos de esclarecimento e
informação. Teremos todo o gosto e interesse — recorrendo às mesmas vias de divulgação — em
fazer chegar a todos os interessados ao nosso alcance as informações e esclarecimentos que tiver a
gentileza de nos fazer chegar, o que desde já muito agradecemos.»
Como os esclarecimentos foram objeto de troca de mensagens ao longo de quase três meses, e
também porque passaram já mais de dois meses sobre a nossa última mensagem sem, que
saibamos, ela tenha sido respondida nem pelo Vereador do Ambiente nem pelo Presidente da
CMP, e sem que isso signifique fechar a porta a ulteriores esclarecimentos, a maior parte dos quais
continua por prestar de modo aberto e compreensível, decidimos tornar público e divulgar todo
esse conjunto adiante reproduzido. Por outro lado, torna-se acessível o ponto de vista da CMP
neste diálogo, que até agora, como se pode compreender, privilegiou o ponto de vista da Campo
Aberto que não dispõe, aliás, dos meios bem mais vastos para se fazer ouvir de que dispõe a CMP.
Exmos Senhores
Anexo carta resposta ao vosso mail de 11 de dezembro, sobre os terrenos da antiga estação
ferroviária da Rotunda da Boavista.
Com os melhores cumprimentos e votos de umas excelentes festas,
Pedro Baganha
Vereador
Anexo
Excelentíssimos Senhores
Acuso receção da vossa Carta Aberta que mereceu a minha melhor atenção, agradecendo, desde
já, o vosso empenho no acompanhamento dos assuntos que à nossa cidade dizem respeito, com
vista a um objetivo comum: tornar a cidade do Porto mais «amigável e acolhedora para os seus
moradores».
Da sua leitura, verifico que as questões que colocam, designadamente ao nível da predominância
de usos e costumes compatíveis com a função dominante, incidem fundamentalmente sobre a
interpretação do regulamento do Plano Diretor Municipal. Tratando-se de matéria eminentemente
técnica, não almejo comentar o assunto, disponibilizando-me, desde já, a providenciar uma
reunião entre Vossas Excelências e os serviços técnicos da Câmara Municipal de forma a melhor
esclarecerem as dúvidas suscitadas, se tal for considerado útil.
No que respeita a uma futura existência de uma zona de proteção à Casa da Música e à sua
relação com as licenças, autorizações e pedidos de informação prévia em tramitação, cumpre-me
esclarecer que, nesta matéria, se aplica o princípio geral tempus regit actum, ou seja, a validade
destes atos depende da sua conformidade com as normas legais e regulamentares em vigor à data
da sua prática. Importa referir ainda que, salvaguardada a qualidade urbanística do que é proposto,
a partir dos elementos submetidos no pedido de informação em causa não é possível aferir a
qualidade arquitetónica futura de edifícios ainda não projetados, pelo que apenas por um processo
de intenções se poderia afirmar que os mesmos serão atentatórios de qualquer eventual valor
relativo à Casa da Música.
14-01-2020
Descritivos: reunião da Campo Aberto com os Serviços de Urbanismo; visões de cidade; questões
de que se pede o esclarecimento; que queremos para o Porto; um espaço verde central para a
cidade, mitigação da poluição, lazer e recreio; interpretação do PDM sem falsear o significado
das palavras da língua natural; frentes urbanas contínuas em consolidação; ocupação dominante;
qual a operação urbanística implicado no PIP; justificações supostas expressas ou não expressas
para o receio de indemnizações por parte da CMP; estudos de mobilidade para a zona,
independência e conflitos de interesses
A Campo Aberto agradece o email e respetivo anexo que nos enviou em 23 de dezembro de 2019
e tanto mais quanto não desconhecemos as intensas ocupações e tarefas de que o Senhor Vereador
é responsável.
Agradece ainda a disponibilidade manifestada para nos proporcionar uma reunião consigo,
juntamente com técnicos dos seus serviços, com vista a esclarecer algumas dúvidas de que fomos
intérpretes e sobre as quais muitos cidadãos se interrogam.
Aceitamos a oferta e ficamos na expetativa de que nos indique duas ou três datas/horas possíveis
para que possamos garantir a nossa presença.
Em anexo
A propósito dos terrenos e projetos relativos
à antiga estação ferroviária da Boavista
Em alternativa, o estudo poderia ser feito pela própria CMP, que tem o dever e o pressuposto de
isenção e de defesa do interesse público, dever que a ECI, ou qualquer entidade a encomenda
desta, não tem. O estudo resultante, se feito pela CMP, e para maior fiabilidade, ganharia em ser
escrutinado por meio de uma comissão, constituída no âmbito da CMP, em que viessem a estar
representados os diversos setores da sociedade civil, incluindo entidades de defesa do ambiente e
do património construído, representantes do pequeno e médio comércio através das suas
estruturas, bem como representantes dos inquilinos e dos moradores em geral. Se não é assim, qual
o fundamento da questão do pedido de estudo de mobilidade? Ou serão falsas ou deturpadas as
intenções que lhe foram atribuídas pela imprensa?
05-02-2020
Descritivos: resposta em tempo razoável; decisão de não participação na reunião que tinha sido
proposta à Campo Aberto; reiteração de oferta para a Campo Aberto reunir com o Diretor
Municipal do Urbanismo; disponibilidade para debate sobre as visões de cidade no âmbito do
Conselho Municipal de Ambiente
Excelentíssimos Senhores
Antes de mais acuso a receção da vossa carta e à qual ainda não tinha tido oportunidade de
responder, embora se me afigure que três semanas é o tempo razoável para a sua análise e
resposta. Foi esse, aliás, o período que mediou a nossa carta para a Vossas Excelências, a 23 de
dezembro, e a vossa resposta, remetida a 14 de janeiro.
Conforme referi na minha resposta à vossa Carta Aberta, disponibilizei-me a providenciar uma
reunião entre Vossas Excelências e os serviços técnicos da Câmara Municipal de forma a melhor
esclarecerem as dúvidas suscitadas, atendendo a que as questões que colocaram, e colocam, são
questões técnicas que incidem, fundamentalmente, sobre a interpretação do regulamento do Plano
Diretor Municipal (PDM). Ora, conforme referi, essa reunião não seria comigo, pois não almejo
comentar assuntos eminentemente técnicos, designadamente, de interpretação regulamentar.
Assim, e atendendo a que Vossas Excelências demonstraram interesse nessa reunião, consultada a
disponibilidade do Senhor Diretor Municipal do Urbanismo, sugerimos as seguintes datas para a
reunião solicitada:
18-02-2020
Ficamos perplexos com a sua posição quanto à sua não presença na reunião que nos propôs em 23
de dezembro de 2019. É certo que referia na sua primeira resposta uma reunião com os serviços
técnicos da CMP e chegámos a recear que quisesse excluir-se dela. Acabámos por considerar
inverosímil essa interpretação, aliás contraditória com uma atitude que se pretendia de diálogo, já
que as questões e dúvidas que apresentámos, se é certo que comportam uma vertente técnica e
regulamentar, cabem em última análise aos decisores, neste caso aos autarcas do executivo
municipal em funções, e muito em especial ao responsável pelo Pelouro do Urbanismo. E estão
estreitamente relacionadas com a visão de cidade e as opções fundamentais para ela tomadas ou a
tomar pela CMP. Ou seja, são fundamentalmente decisões políticas, que não cabem aos técnicos
embora possam basear-se nos pareceres destes. Assim sendo, parece-nos de todo improvável que
esse responsável – o Senhor Vereador – não tenha uma interpretação, ainda que coincidente com a
dos serviços técnicos, e se escuse a partilhá-la connosco, sem prejuízo, evidentemente, da
presença nela dos técnicos que houvesse por bem convocar.
Se o Senhor Vereador mantiver a recusa de estar presente na reunião que nos propôs, ela deixa de
ter sentido para nós, embora tudo o que está implicado continuemos a considerá-lo da maior
importância. Em qualquer caso, temos como objetivo partilhar com os responsáveis autárquicos e
de modo transparente, bem como com os cidadãos que se interrogam e que gostariam de
compreender e ser convencidos da justeza das decisões em preparação, um diálogo franco que
honraria a cidade. Caso ele se mostre inviável, tentaremos, apesar das nossas possibilidades
limitadas, suscitar esse debate – e partilhar as informações que possuímos e as interrogações que
elas em nós despertam – de modo público, abertamente, com os cidadãos interessados.
Descritivos: convida-se o Vereador a participar em debate no dia 5 de março na Casa das Artes,
em que a Campo Aberto é coorganizadora; reiteração de interesse em diálogo
Seria ainda uma forma democrática de apresentar ideias plurais sobre assuntos do maior interesse
das atuais e futuras gerações de portuenses.
Crentes na sua boa vontade e espírito de diálogo, fazemos votos por que o nosso convite seja
compreendido pelo que é: um contributo para ir ao encontro dos factos e da verdade, no respeito
pela diversidade de interpretações que possam suscitar.
02-03-2020
Exmo. Senhor
José Carlos Costa Marques
Campo Aberto
Solicita-me o Senhor Vereador dos Pelouros do Urbanismo, Espaço Público e Património, Arq.
Pedro Baganha, que agradeça o convite endereçado.
Compromissos profissionais fora do país não lhe permitem estar presente, o que lamenta.
Com os melhores cumprimentos,
Antónia Cunha
Secretária da Vereação
03-03-2020
02-03-2020
Descritivos: lugar dos cidadãos no exercício da administração pública; direito de acesso aos
documentos admninistrativos; prazos de discussão pública; solicitação de uma cópia da versão
preliminar do próximo Plano Diretor Municipal
Sem resposta ainda em 29-04-2020
Como decerto concordarão, numa democracia evoluída é dada cada vez maior importância à voz
e vontade dos cidadãos em todos os escalões do exercício da administração pública.
No caso particular dos instrumentos de gestão territorial, a lei reconhece o direito de informação e
participação dos cidadãos (artigos 5.º e 6.º do decreto-lei 80/2015, de 14 de maio, que aprova a
revisão do Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial, aprovado pelo Decreto-Lei n.º
380/99, de 22 de setembro).
Ignoramos se, no que respeita aos Planos Diretores Municipais, existe qualquer calendário que
condicione esses direitos e os restrinja ao período formal chamado de «discussão pública». O
espírito da lei geral, no entanto, e as exigências de transparência democrática, indicariam que o
direito de informação mencionado pode ser razoavelmente reivindicado relativamente ao
conhecimento da versão preliminar do Plano Diretor Municipal do Porto que irá substituir o PDM
atualmente em vigor, versão essa que é já do conhecimento de múltiplas entidades.