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FE D E R A Ç Ã O E S P Í R I T A B R A S I L E I R A

DEUS, CRISTO E CARIDADE Ano 126 • Nº 2.155 • Outubro 2008


ISSN 1413 - 1749

R$ 5,00
reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:31 Page 3

Expediente Sumário
4 Editorial
Bons e maus pensamentos
11 Entrevista: Rosa Maria da Silva Araújo
O Espiritismo no Piauí
Fundada em 21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva 17 Presença de Chico Xavier
Fixação mental – Francisco de Menezes Dias da Cruz
Revista de Espiritismo Cristão 21 Esflorando o Evangelho
Ano 126 / Outubro, 2008 / N o 2.155
Na cruz – Emmanuel
ISSN 1413-1749
Propriedade e orientação da
28 A FEB e o Esperanto
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA Rússia – Espiritismo nas asas do Esperanto... –
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Editor: ALTIVO FERREIRA Affonso Soares
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO Visão do cimo – Amaral Ornellas
NOLETO BEZERRA E LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO
Secretário: PAULO DE TARSO DOS REIS LYRA 42 Seara Espírita
Gerente: ILCIO BIANCHI
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR
TORRES PEREIRA E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
5 Religião e Ciência – Juvanir Borges de Souza
CARVALHO 8 A força da psicologia pré-natal – Carlos Abranches
REFORMADOR: Registro de publicação
o
13 A missão e o missionário
n 121.P.209/73 (DCDP do Departamento de Polí-
cia Federal do Ministério da Justiça), 14 Para lidar com obsessores – Richard Simonetti
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
16 Causas da obsessão – Allan Kardec
Direção e Redação:
18 Telepatia (Capa) – Christiano Torchi
Av. L-2 Norte • Q. 603 • Conj. F (SGAN)
70830-030 • Brasília (DF) 22 Subsídios para o aperfeiçoamento das Instituições
Tel.: (61) 2101-6150
FAX: (61) 3322-0523 do Movimento Espírita – Antonio Cesar Perri de Carvalho
Departamento Editorial e Gráfico:
Rua Sousa Valente, 17 • 20941-040 25 Em dia com o Espiritismo – A criação dos seres vivos
Rio de Janeiro (RJ) • Brasil
Tel.: (21) 2187-8282 • FAX: (21) 2187-8298
e do homem – Marta Antunes Moura
E-mail: redacao.reformador@febrasil.org.br 27 Divina sílaba – Americano do Brasil
Home page: http://www.febnet.org.br 30 As moradas do Pai à luz do Consolador –
E-mail: feb@febrasil.org.br
A. Merci Spada Borges
PARA O BRASIL
Assinatura anual R$ 39,00
32 Lançamento do filme Bezerra de Menezes
Número avulso R$ 5,00 33 Divaldo Franco na FEB-Rio
PARA O EXTERIOR
Assinatura anual US$ 35,00 34 FEB na 20ª Bienal do Livro de São Paulo
Assinatura de Reformador: 36 Cristianismo Redivivo – O candidato a discípulo –
Tel.: (21) 2187-8264 • 2187-8274 Haroldo Dutra Dias
E-mail:
assinaturas.reformador@febrasil.org.br 39 Notícias do III Encontro Nacional de Coordenadores
Projeto gráfico da revista: JULIO MOREIRA do ESDE
Capa: AGADYR TORRES PEREIRA 40 Importância e objetivo do ESDE – Cecília Rocha
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Editorial
Bons e maus
pensamentos
E
studando o assunto relacionado com a influência oculta dos Espíritos em
nossos pensamentos e atos, na questão 467 de O Livro dos Espíritos (Ed.
FEB), Allan Kardec pergunta: Pode o homem eximir-se da influência dos Es-
píritos que procuram arrastá-lo ao mal? E os Espíritos superiores respondem: “Pode,
visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos
que, pelos seus pensamentos, os atraem”.

Em seguida, na questão 469, indaga: Por que meio podemos neutralizar a influên-
cia dos maus Espíritos?, recebendo a seguinte resposta: “Praticando o bem e pondo
em Deus toda a vossa confiança, repelireis a influência dos Espíritos inferiores e
aniquilareis o império que desejem ter sobre vós. Guardai-vos de atender às suges-
tões dos Espíritos que vos suscitam maus pensamentos, que sopram a discórdia
entre vós outros e que vos insuflam as paixões más. [...]”.

Observa-se, com base neste diálogo de Allan Kardec com os Espíritos superiores,
que a causa dos problemas decorrentes da influência dos Espíritos em nossas vidas
está em nós mesmos. E a solução desses problemas, também. Depende, apenas, do
pensamento correto e da atitude adequada que nos cabe adotar.

Quando soubermos direcionar o nosso pensamento sempre no sentido da práti-


ca do bem, cultivando permanentemente a fraternidade, o amor ao próximo, o res-
peito ao nosso semelhante e o propósito sincero de nos aprimorar cada vez mais,
intelectual e moralmente, estaremos – pela lei de afinidade que rege o relaciona-
mento entre Espíritos encarnados e desencarnados –, atraindo a presença dos Es-
píritos superiores e bons e afastando os Espíritos inferiores e maus.

É exatamente em razão desta realidade que Jesus asseverou em seu Evangelho:


“Vigiai e orai, para não cairdes em tentação”. (Marcos, 14:38.)

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Religião e
Ciência J U VA N I R B O R G E S DE SOUZA

O
s estudiosos e seguidores livro Religião, um trecho retirado ou a retificação de algumas delas
da Doutrina Espírita sa- do opúsculo intitulado El Cristia- pelo Espiritismo, o Consolador
bem que ela, em sua gran- nismo afrontando los problemas prometido e enviado por Jesus.
de abrangência, contém ensinos de la humanidad, escrito por um Eis o trecho referido:
religiosos e outros de caráter cien- adepto protestante, que bem ilus-
tífico e filosófico. tra a concordância de diversas “Damos as boas-vindas e acei-
É natural que a Nova Revelação, idéias religiosas, e a confirmação tamos qualquer qualidade no-
oriunda da Espiritualidade supe- bre de pessoas ou sistemas não
rior, abranja todos os aspectos re- cristãos, como uma nova prova
presentativos tanto dos sentimen- de que o Pai Celestial, que en-
tos mais elevados dos seres huma- viou o seu Filho a este mundo,
nos, quanto de seus mais variados não permitiu, em parte alguma,
conhecimentos sobre si mesmos e que deixem de existir testemu-
sobre todas as coisas que os cercam. nhos que testifiquem dele.
Mas a Doutrina Consoladora foi ‘Sem procurar fazer uma sínte-
muito mais além, comprovando a se desses sistemas e só para de-
continuidade da existência nos monstrar como apreciamos os
mundos espirituais, onde a vida valores espirituais de outras re-
segue, após a denominada morte, ligiões e crenças, reconhecemos
que é apenas a cessação da ligação como parte da verdade supre-
da essência espiritual com a maté- ma esse sentido da majestade
ria orgânica, no mundo material. de Deus e, como conseqüência,
Ficaram assim confirmadas: a essa reverência no culto, que são
imortalidade dos seres espirituais, tão notáveis no islamismo; a
aceita por diversas religiões; a li- profunda simpatia pela dor que
gação das esferas espirituais com fustiga a humanidade, assim co-
os mundos materiais; e uma série mo os esforços altruísticos por
de conseqüências ensinadas pelas dela se libertar, que constitui o
religiões, mas só comprovadas pe- cerne do budismo; o desejo de es-
lo Espiritismo. tar em contato e comunhão com
Cita Carlos Imbassahy, em seu a Realidade suprema e última,

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concebida como algo espiritual, É também a expressão daquele e com os conhecimentos úteis e va-
que é tão predominante no hin- que busca o Espiritismo, em um riados de todas as ciências que se
duísmo; a crença em uma ordem mundo que ainda está longe de en- ocupam da matéria e do espírito.
universal e moral e, como resul- tender a mensagem do Consolador, Sem presunção infundada, a
tado, a insistência na conduta em toda a sua significação e pure- realidade é que a Doutrina Espírita
moral, que tão eficazmente incul- za com que os Espíritos revelado- é o Consolador que, em seu con-
ca o confucionismo; as investiga- res o apresentaram aos homens. junto, projeta claridades nos que a
ções desinteressadas e os esforços É lógico e intuitivo que as reli- compreendem e, sem dúvida, é ela
por encontrar a verdade e por au- giões que buscam entender e pra- a revelação divina prometida por
mentar o bem-estar humano, que ticar as leis de Deus, o Criador do Jesus há dois mil anos.
soem ser tão evidentes em todos Universo, têm como objetivo, an- Como ensina Kardec, a crença é
aqueles que se dedicam à civiliza- tes de tudo, conhecê-las para vi- um ato de entendimento que, por
ção secular, mas que não aceitam venciá-las. isso mesmo, não pode ser imposta.
o Cristo como Salvador e Senhor. Entretanto, as imperfeições hu- Cada religião pretende ter ex-
‘Fazemos em especial um cha- manas levam muitos religiosos às clusividade sobre a verdade.
mamento ao povo judaico, cujas interpretações infelizes e à presun- O Espiritismo preconiza o co-
escrituras fizemos nossas, dos ção de certeza e infalibilidade, dis- nhecimento como base da verda-
quais nos veio o Cristo segundo torcendo a realidade e a verdade. deira fé, unindo-a à razão esclare-
a carne, para que abram seus O que se observa neste mundo cida, excluindo assim a fé cega.
corações e volvam o olhar para é o exclusivismo, o combate de Para a Doutrina Espírita, Deus
esse Senhor, em quem se cum- idéias e a incompreensão entre os é o Criador incriado, eterno, a in-
pre a esperança de sua nação, sua adeptos de diferentes crenças, o teligência suprema, causa primá-
mensagem profética e seu zelo que torna difícil, impossível mes- ria de todas as coisas. Deus é Espí-
pela santidade.” (Op. cit., “Pala- mo, o cumprimento de suas fina- rito, como afirmou Jesus.
vras preliminares”, Ed. FEB.) lidades essenciais.
l
Não se pode negar que já tem ha-
Quem escreveu o texto acima vido algum progresso nas relações Ciência é o conhecimento or-
transcrito não era espírita, mas e no entendimento entre religiosos ganizado obtido mediante a ob-
um adepto da Reforma protestan- de diferentes cultos. Mas está ainda servação e a experiência dos fatos,
te, que acreditava nos ensinos e longe o ideal a ser atingido, em que através de métodos apropriados.
exemplos do Cristo e tinha seu predomine o amor, a solidariedade, Pode ser entendida também
coração aberto para os mais ele- a compreensão, a humildade, sobre como a soma dos conhecimentos
vados sentimentos em relação a a ignorância, os interesses imediatis- que servem a determinada finali-
todas as criaturas, independente- tas e a presunção de superioridade. dade, ou o conjunto dos conheci-
mente da religião que professam. No que compete ao Espiritis- mentos humanos.
Entendeu ele o amor ao próxi- mo, como religião, sua tarefa está Dois são os elementos constituti-
mo como a si mesmo, conforme expressa no conjunto da Doutrina vos do Universo: espírito e matéria.
as lições de Jesus, sem exclusão de Consoladora, cabendo-lhe os es- Em um mundo material, como a
nenhuma criatura humana, por clarecimentos de ordem moral-in- Terra, era natural que seus habitan-
mais diferentes sejam sua crença, telectual, dirigindo-se ao coração tes se impressionassem e se interes-
seus princípios, sua nacionalidade. humano e apelando aos sentimen- sassem, antes de tudo, pelo elemen-
É a solidariedade, o amor, na sua tos nobres de cada ser, sem prejuí- to material, por ser ele facilmente
máxima significação e amplitude, tal zo da preocupação constante com perceptível aos órgãos do corpo hu-
como aprendemos no Evangelho. a educação, em seu sentido amplo, mano, também da mesma natureza.

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Já o elemento espiritual, não im- dora de conhecimentos comprova- gresso e da evolução das idéias,
pressionando diretamente os sen- dos, os quais nenhuma filosofia pu- com a prevalência do superior so-
tidos materiais, pela sua sutileza, dera compreender e explicar: o Espi- bre o inferior, conforme demonstra
senão em situações especiais, sem- ritismo ou Doutrina dos Espíritos. a história do homem no mundo.
pre foi de muito mais difícil per- Essa Doutrina revelada pelos Como adverte Allan Kardec, na
cepção e por isso negado e des- Espíritos, tendo à frente o Espíri- “Introdução”, item VII, de O Livro
prezado, através dos milênios. to da Verdade, abre, com seus en- dos Espíritos:
Ainda na atualidade subsistem sinos e comprovações, uma nova
ciências e cientistas, assim como fi- perspectiva de extrema amplitude Quando as crenças espíritas se
losofias, que não admitem a exis- para toda a Humanidade, atual e houverem vulgarizado, quando
tência do Espírito, apesar do pro- futura, pelas novas revelações que estiverem aceitas pelas massas
gresso alcançado pela Humanida- traz a respeito da vida. humanas [...] com elas se dará o
de, que trouxe a comprovação ine- Como tudo que é considerado que tem acontecido a todas as
gável não somente da existência do novidade, a Doutrina Espírita, reve- idéias novas que hão encontra-
elemento espiritual, mas também lada nos meados do século XIX, en- do oposição: os sábios se rende-
de sua importância superior à da controu muitos opositores nas re- rão à evidência. Lá chegarão,
matéria, já que é o elemento que ligiões tradicionais, nos materialis- individualmente, pela força das
subsiste sempre na eternidade. tas e niilistas, e nos cientistas que só coisas. [...] Enquanto isso não
Infelizmente, a maioria dos aceitam a matéria como realidade. se verifica, os que, sem estudo
cultores das diversas ciências, em Entretanto, a prevalência da ver- prévio e aprofundado da maté-
nosso mundo, são materialistas, dade sobre os enganos e ilusões, ria, se pronunciam pela negati-
mas se nota que pelo menos uma de acordo com as leis naturais, é va e escarnecem de quem não
minoria deles já despertou para a uma questão de tempo, uma vez lhes subscreve o conceito, es-
realidade do espírito presente em que a Humanidade se renova cons- quecem que o mesmo se deu
todo o Universo. tantemente, não somente em de- com a maior parte das grandes
O progresso, lei divina, abran- corrência da lei da reencarnação, descobertas que fazem honra à
gente de toda a Criação, modificará, mas também em virtude do pro- Humanidade. [...]
com certeza, o equívoco do mate-
rialismo, que foi muito mais domi-
nante no passado que na atualidade.
São chegados os tempos em
que religiões e ciências, as duas
alavancas dos bons sentimentos,
da inteligência e dos conhecimen-
tos dos homens, em campos dife-
rentes mas visando ambas a con-
quista das verdades, unir-se-ão pa-
ra o aperfeiçoamento equilibrado,
individual e coletivo.
Os que crêem somente no que
pertence ao mundo material ainda
vão negar, por algum tempo, uma
ciência nova que explica e comprova
a existência de uma realidade porta-

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A força da
psicologia
pré-natal
C A R LO S A B R A N C H E S

O
pequeno Olivier tem ape- seu rosto e couro cabeludo. A pe- bém integram o time de especia-
nas dois meses, mas já le começou a descamar e as vias listas nessa abordagem diferencia-
enfrenta a angústia de se respiratórias, a chiar fortemente. da, são Myriam Szejer2 e Catheri-
ver no meio de uma decisão dra- Por não conseguirem lidar com ne Druon na França, e Romana
mática. o novo quadro clínico do bebê, os Negri, na Itália.
Sua mãe tem muitos filhos e, médicos decidem chamar uma No Brasil, uma das maiores es-
por não dispor de meios para psicanalista. É quando entra em tudiosas do assunto é a psicóloga
criar mais um, decidiu doá-lo. O cena Caroline Eliacheff, que vai clínica polonesa Joanna Wilheim,
bebê aguarda numa instituição mudar a existência de Olivier, no que veio para o país ainda na in-
francesa a data legalmente estabe- momento grave dos primeiros fância com os pais, durante a Se-
lecida pela legislação do país para contatos dele com a vida. gunda Guerra Mundial. Seu inte-
que a adoção seja feita. resse por psiquismo pré-natal co-
l
O prazo de espera correspon- meçou na década de 1960. Nos
de a um tempo definido pelas Este caso está narrado no livro anos seguintes, a partir de uma
autoridades para que a mãe bio- Corpos que gritam.1 Eliacheff é experiência pessoal com o psica-
lógica possa mudar de idéia e vol- uma das psicanalistas mais reco- nalista indiano Wilfred Bion, pas-
tar atrás em sua decisão, o que, nhecidas dentro de um movimen- sou a investigar a presença de ins-
no caso de Olivier, acaba não to que há cerca de trinta anos vem crições traumáticas pré-natais na
acontecendo. mudando o perfil do tratamento mente de crianças, adolescentes
Desde o momento em que foi de crianças em fase pré e pós-natal. e/ou adultos.
considerado “adotável”, começa- A psicanálise de bebês e de re- Seu interesse pelo tema levou-a
ram a aparecer sintomas estra- cém-nascidos tem crescido sobre- a fundar, em 1991, a Associação
nhos no corpo do pequeno. Cros- tudo na França. Além de Caroli- Brasileira para o Estudo do Psi-
tas impressionantes surgiram em ne, outros profissionais, que tam- quismo Pré e Perinatal (ABREP).

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É autora do livro O que é Psicolo- existencial. O “inconsciente” de o ‘domicílio das conquistas atuais’,
gia Pré-natal,3 no qual me baseio Freud é a parte da atividade mental onde se erguem e se consolidam
para escrever este artigo. que inclui os desejos e as aspirações as qualidades nobres que estamos
l
primitivas ou reprimidas. edificando [no presente]; no ter-
O Espírito Joanna de Ângelis ceiro, temos a ‘casa das noções su-
A chamada psicanálise de be- afirma que para a Psicologia periores’, indicando as eminências
bês consiste em utilizar a palavra Transpessoal esse inconsciente é o que nos cumpre atingir [...]”.
falada com recém-nascidos, quan- espírito, que se encarrega do con- Calderaro esclarece que “[...]
do estes manifestam algum tipo trole da inteligência fisiológica e distribuímos, deste modo, nos três
de sofrimento. suas memórias – campo perispiri- andares, o subconsciente, o cons-
Nesta abordagem, o psicana- tual –, as áreas dos instintos e das ciente e o superconsciente. Como
lista procura apreender, através emoções, as faculdades e vemos, possuímos, em
do relato que lhe fazem os pais funções paranormais, nós mesmos, o passado, o
ou aqueles que cuidam do bebê, abrangendo as me- presente e o futuro”.5
o que em sua história – seja du- diúnicas.4 Pode-se intuir com
rante a vida intra-uterina, ou na O Espírito isso que o bebê
história de sua família antes dele André Luiz ana-
vir-a-ser – teria constituído as lisa essa ques-
matrizes dos sintomas que ele tão com pro-
apresenta. fundidade no
Ao “conversar” com o bebê, o livro No Mundo
profissional dá nome à memória Maior,5 quando
“instalada” no seu corpo. Como o dialoga com o instru-
que existe na vivência do recém- tor Calderaro. O Benfeitor
-nascido é uma dor, o psicanalista explica que o ser humano
coloca em seu lugar um significa- tem, em sua constituição ce-
do, onde antes só existia o “não rebral, como que um castelo
dito”, uma “falta de palavras”. com três regiões distintas, ou
Entre os pressupostos mais im- com três andares, para me-
portantes para a realização desse lhor entendimento: “[...] no
trabalho, estão a crença de que o primeiro [esclarece Caldera-
corpo guarda a memória de tudo ro] situamos a ‘residência de
que lhe ocorre, de que cada célula nossos impulsos automáti-
do corpo registra toda vivência cos’, simbolizando o su-
pré e pós-natal, e que os recém- mário vivo dos
-nascidos (incluindo prematuros) serviços realiza-
sentem dor e merecem ser respei- dos; no segun-
tados em seus limites. do, localizamos
l

A Doutrina Espírita ressalta a


importância de se considerar a me-
mória prévia do ser como estru-
tura fundamental de sua condição

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A terapeuta afirmou ain- l


da que, para que ele fosse
aceito pela sua família de ado- Esse tipo de relato reforça a
ção, precisava mudar de pe- profunda sintonia da Doutrina
le a fim de recuperar a saúde Espírita com as mais avançadas
e iniciar uma nova etapa na pesquisas da Ciência, sobretudo
vida. as que consideram a delicada
Após uma semana desse con- questão da vida intra-uterina.
tato, Olivier retornou ao atendi- Em breve tempo, esperamos
mento. Sua pele estava totalmen- que os cientistas constatem que a
te curada, mas a respiração havia memória, que por enquanto, pa-
se tornado mais ruidosa do que ra eles, “mora” no corpo, reside
antes. Caroline se dirigiu ao be- na verdade em local mais pro-
bê, acariciando o seu umbigo e fundo, nas entranhas da consti-
dizendo-lhe: tuição espiritual.
“– Quando você estava no Ela tem sua matriz no Espírito
efetivamente car- ventre de sua mãe, você não res- e se espraia célula a célula, como
rega em si, em suas pirava. Sua mãe o alimentava impacto direto das emanações do
células, em seu corpo, o que traz através da placenta à qual você perispírito.
no Espírito imortal, ou seja, toda estava ligado pelo cordão umbi- Enquanto aguardamos o domí-
a sua carga de verdades pessoais lical. Esse cordão chegava aí no nio dessa consciência, aplaudimos
que lhe evidenciam a evolução. Se lugar onde está a minha mão. Ele os avanços científicos da Psicolo-
a Ciência está se instrumentali- foi cortado quando você nasceu. gia, inegavelmente importantes
zando para acessar esses dados, Você está respirando muito mal, para a Humanidade, em que se
tanto melhor para todos, que fica- talvez para reencontrar a sua resgata a grandeza do momento
rão face a face cada vez mais rapi- mãe de antes da separação, de chegada do Espírito a uma no-
damente com a verdade da pre- quando você estava dentro dela va encarnação.
existência do Espírito e sua total e não respirava”.
influência nas condições de saúde Depois de uma breve pausa, Referências:
1
do corpo, tanto no aspecto físico carregada de carinho e respeito ELIACHEFF, Caroline. Corpos que gritam.
quanto no emocional. pela condição do bebê, a psicana- São Paulo: Ed. Ática, 1995.
2
lista retomou a fala: WILHEIM, Joanna. O que é psicologia
l
“– Se você decidiu viver, não pré-natal. São Paulo: Ed. Casa do Psicó-
Olivier chegou para a consulta pode viver sem respirar. A sua logo, 1997.
3
com Eliacheff nos braços da ber- mãe de antes, você a traz dentro SZEJER, Miriam. Palavras para nascer: a
çarista que cuidava dele. Depois de si, dentro de seu coração. Não é escuta psicanalítica na maternidade. São
de se inteirar mais a fundo do ca- por você ter respirado que a per- Paulo: Ed. Casa do Psicólogo, 1999.
4
so, a doutora disse a ele o quanto deu. Não é deixando de respirar FRANCO, Divaldo Pereira. Autodescobri-
sua mãe lhe queria bem. Ressaltou que irá reencontrá-la”. mento: uma busca interior. Pelo Espírito
que a opção que ela tomou de dei- Quando terminou sua fala, Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1995.
xá-lo para adoção foi para ofere- Eliacheff constatou, abismada, p. 62.
5
cer-lhe oportunidades de vida tanto quanto a berçarista, que a XAVIER, Francisco C. No mundo maior.
melhores do que as que ela lhe respiração do bebê estava absolu- Pelo Espírito André Luiz. 26. ed. Rio de
poderia dar. tamente normalizada! Janeiro: FEB, 2006. Cap. 3, p. 54; e cap. 4.

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Entrevista R O S A M A R I A DA S I LVA A R A Ú J O

O Espiritismo
no Piauí
Rosa Maria da Silva Araújo, presidente da Federação Espírita Piauiense,
comenta os esforços para se ampliar o trabalho pela união e
fortalecimento do Movimento Espírita no Piauí

Reformador: O Movimento Espí- Esperança e Caridade”. No Piauí, do e pela formação do trabalha-


rita se estende por todo o Estado do o Movimento Espírita, que já con- dor espírita. Temos intensificado
Piauí? Há quantos centros adesos à ta com 105 anos, tem-se desen- o trabalho federativo, realizando,
Federação? volvido de forma lenta, em ter- na Capital e no Interior, reu-
Rosa: O Movimento Espírita se mos de expansão no número de niões, cursos, seminários, ofici-
desenvolve em 27 cidades do centros espíritas; no entanto, vem nas e encontros destinados aos
Piauí, incluindo a Capital. Há no crescendo muito nos últimos dirigentes e trabalhadores espíri-
Estado 57 centros espíritas, dentre tempos a preocupação pelo estu- tas, para atualização de conheci-
estes, 22 são unidos à Federação mentos doutrinários e aprimo-
Espírita Piauiense (FEPI). Há ain- ramento das atividades básicas
da, na Capital, 2 Entidades Espe- do Centro Espírita, de acordo
cializadas (Associação Médico- com a nova edição de Orienta-
-Espírita (AME-PI) e a Cruzada ção ao Centro Espírita.
dos Militares-Espíritas (CME)), no
Interior, mais 8 grupos de Estu- Reformador: Existe alguma
dos Espíritas. característica especial do Mo-
vimento Espírita no Piauí?
Reformador: Desde quando há Rosa: No Piauí, no entendi-
Movimento Espírita no Piauí? mento da maioria dos cen-
Como ele se desenvolve no tros espíritas, unir-se à Fe-
Estado? deração Espírita Estadual
Rosa: Existe Movimento Es- não constitui uma necessi-
pírita no Piauí desde 1903, dade imprescindível para o
quando foi fundada, na ci- desenvolvimento das ativida-
dade de Amarante, a primeira des de Unificação do Movi-
Instituição Espírita do Esta- mento Espírita. Os centros espí-
do, denominada “Cen- ritas participam normalmen-
tro Espírita Fé, te das atividades federativas,

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reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:32 Page 12

inclusive das reuniões do Con- tivo, com publicação bimestral e Brasileiro (2007-2012)”, aprovado
selho Federativo Estadual, e bus- distribuição gratuita. pelo CFN. Orientamos os centros
cam, na FEPI, apoio e orientação espíritas para elaborarem Projetos
para o desenvolvimento de suas Reformador: Tem havido come- de adequação de suas atividades
atividades. Mesmo respeitando es- morações dos Sesquicentenários no com base no novo Orientação ao
sa idéia, desenvolvemos um traba- Piauí? Centro Espírita. Estamos realizan-
lho de conscientização e de con- Rosa: Em comemoração ao Ses- do um trabalho de acompanha-
quista junto a esses centros espíri- quicentenário de O Livro dos Espí- mento, visitando as casas espíritas
tas, mostrando que, adesos à Fe- ritos, realizamos uma programa- e, na oportunidade, fornecemos
deração Estadual, podemos nos ção com atividades diversificadas, mais orientações e apoio para o
tornar mais unidos e mais fortale- possibilitando o envolvimento de desenvolvimento dos seus traba-
cidos para garantir que o desen- todos os que compõem o Movi- lhos. No Plano de Ação 2008 da
volvimento das atividades de Uni- mento Espírita no Piauí, como: Federativa, programamos nossas
ficação do Movimento Espírita no Ciclo de Palestras, Sessão Solene ações fundamentadas nas Diretri-
Estado se torne mais eficaz e efi- na Assembléia Legislativa do Esta- zes do “Plano de Trabalho para o
ciente. do, Distribuição de material de Movimento Espírita Brasileiro”.
divulgação, Exposição de banners
Reformador: E como anda a difu- e posters sobre Kardec, Jesus e O Reformador: Alguma mensagem
são do Espiritismo no Estado? Livro dos Espíritos, encerrando as ao leitor de Reformador?
Rosa: A difusão do Espiritismo no comemorações na FEPI com um Rosa: Agradecemos a oportuni-
Piauí tem melhorado considera- Tributo a Allan Kardec. Estamos, dade oferecida à FEPI para apre-
velmente. Tem-se intensificado a também, desenvolvendo, nos cen- sentar nesta entrevista algumas in-
realização de eventos voltados pa- tros espíritas, um Ciclo de Pales- formações acerca do trabalho de-
ra o estudo das obras da Codifica- tras com o tema “150 anos da Re- senvolvido pelo Movimento Es-
ção Espírita e para a divulgação da vista Espírita e do Primeiro Centro pírita do Piauí. Continuamos fir-
Doutrina nas casas espíritas e em Espírita do Mundo”. Na oportuni- mes no propósito de trabalhar pe-
locais públicos não espíritas. Te- dade, divulgamos a promoção da la união e pelo fortalecimento do
mos conseguido mais espaço nos Coleção Revista Espírita, feita pe- Movimento Espírita em nosso Es-
meios de comunicação. Em 2007 la FEB, e efetuamos distribuição de tado, respeitando sempre a auto-
implantamos um Programa de cartazes e folhetos alusivos ao Ses- nomia administrativa e as pe-
Rádio na Capital, denominado quicentenário da Revista Espírita. culiaridades das casas espíritas.
Mensageiro de Luz, que vai ao ar Consideramos sempre atual a li-
semanalmente; firmamos convê- Reformador: Como estão atuando ção contida na mensagem “Uni-
nio com a TV Assembléia do Piauí com o “Plano de Trabalho para o ficação”, de Bezerra de Menezes:
– Canal 16 (TV aberta) –, para a Movimento Espírita Brasileiro”? “O serviço da unificação em nos-
exibição semanal, e retransmissão Rosa: Logo após o Encontro sobre sas fileiras é urgente, mas não
do Programa Terceira Revelação, o “Plano de Trabalho”, realizado em apressado. Uma afirmativa pare-
da FEB, por um período de cinco Fortaleza, com a equipe do Con- ce destruir a outra. Mas não é as-
anos. Na Internet, reativamos o si- selho Federativo Nacional da sim. É urgente porque define ob-
te próprio da Federativa e criamos Federação Espírita Brasileira, reu- jetivo a que devemos todos vi-
uma coluna espírita no Portal AZ. nimos na FEPI os dirigentes e tra- sar; mas não apressado, porquan-
Para divulgar as atividades federa- balhadores dos centros espíritas e to não nos compete violentar cons-
tivas e dos centros espíritas, im- apresentamos o “Plano de Traba- ciência alguma” (Reformador, dez./
plantamos um Boletim Informa- lho para o Movimento Espírita /1975, p. 11(275)).

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reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:33 Page 13

A missão e o
missionário
Q
uando o Prof. Hippolyte Filosofia, a Psicologia e o mun- publicar um livro, dois livros, dez
Léon Denizard Rivail pre- do espiritual, e quando o mate- livros, para em seguida ficares
senciou, pela primeira rial reunido “constituía um todo tranqüilamente em casa. Tens que
vez, em maio de 1855, na casa da e ganhava as proporções de uma expor a tua pessoa”.3
Sra. Plainemaison, os fenômenos doutrina”, teve “a idéia de publicar O Prof. Rivail não vacila diante
das mesas girantes e de escrita os ensinos recebidos, para ins- do quadro de dificuldades, perse-
mediúnica numa ardósia, sentiu trução de toda a gente”.2 Desco- guições, calúnias, traições, de que
a seriedade do assunto e, depois, nhecia, contudo, a dimensão e o será alvo; aceita sem titubear a
passando a freqüentar as reuniões significado do trabalho que vi- missão que lhe é confiada e se
semanais na residência da famí- nha executando. entrega humildemente à oração:
lia Baudin, começou a estudá-los Somente em abril de 1856 – “Senhor! pois que te dignaste
com critério científico, aplicando- cerca de um ano após o início de lançar os olhos sobre mim para
-lhes o método experimental. suas experiências –, quando fre- cumprimento dos teus desíg-
“Compreendi, antes de tudo qüentava, também, as reuniões nios, faça-se a tua vontade! Está
[afirma em suas memórias], a na casa do Sr. Roustan e da mé- nas tuas mãos a minha vida; dis-
gravidade da exploração que ia dium sonâmbula Srta. Japhet, põe do teu servo”.4
empreender; percebi, naqueles fe- foi-lhe feita a primeira revelação É assim que o ilustre cidadão e
nômenos, a chave do problema de sua missão, ratificada, dias de- emérito educador Prof. Rivail sai
tão obscuro e tão controvertido pois, pelo Espírito Hahnemann. de cena, emergindo a figura notá-
do passado e do futuro da Huma- O Espírito Verdade confirma- vel de Allan Kardec, Codificador
nidade, a solução que eu procura- -lhe a missão, em 12 de junho de da Doutrina Espírita – o Conso-
va em toda a minha vida. Era, em 1856, fala-lhe do seu significado lador prometido por Jesus.
suma, toda uma revolução nas e alerta-o sobre os percalços que
idéias e nas crenças [...].”1 enfrentará: “[...] a missão dos re-
3
O Prof. Rivail questionou os formadores é prenhe de escolhos Idem, ibidem. p. 282.
4
Espíritos, através da mediunida- e perigos. Previno-te de que é ru- Idem, ibidem. p. 283.
de das Srtas. Baudin, acerca dos de a tua, porquanto se trata de
problemas relacionados com a abalar e transformar o mundo in- Fonte: Reformador – Editorial da Edição
teiro. Não suponhas que te baste Comemorativa do Bicentenário de Nas-
1
KARDEC, Allan. Obras póstumas. 34. ed. cimento de Allan Kardec (1804-2004) –
Rio de Janeiro: FEB, 2004. p. 268. 2 de outubro de 2004, p. 4(362).
Idem, ibidem. p. 270.

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Para lidar com


obsessores RICHARD SIMONETTI

N
o item 6, capítulo X, de ria de invisibilidade e passaria a tência. Perseguem os responsá-
O Evangelho segundo o Es- perseguir os responsáveis por veis, impondo-lhes variados pro-
piritismo, comenta Allan sua condenação. blemas de saúde física e psíquica.
Kardec: Embora sofrendo os horrores Parecem ter perdido o contato
de uma morte violenta para a com a realidade, dominados pelo
[…] A morte, como sabemos, qual não tinha nenhum preparo, desejo de revide, sem atentarem
não nos livra dos nossos inimigos; e apresentando desajustes varia- ao passar do tempo, contabili-
os Espíritos vingativos perseguem, dos relacionados com seu com- zando, não raro, dezenas de anos
muitas vezes, com seu ódio, no portamento criminoso enquanto e até séculos.
além-túmulo, aqueles contra os vivo, ele tenderá a permanecer Localizam e assediam seus de-
quais guardam rancor; donde de- jungido à vida física, predisposto safetos com a intenção de sub-
corre a falsidade do provérbio que a iniciativas de vingança, pró- metê-los a toda sorte de sofri-
diz: “Morto o animal, morto o ve- prias de seu caráter. mentos e desajustes.
neno”, quando aplicado ao ho- O ideal seria aplicar a sábia E quem é mais digno de comi-
mem. O Espírito mau espera que o orientação de Jesus (Mateus, 9:12): seração?
outro, a quem ele quer mal, esteja O obsidiado, pela inconseqüên-
preso ao seu corpo e, assim, menos Não necessitam de médico os cia criminosa do passado, ou o ob-
livre, para mais facilmente o ator- sãos, mas, sim, os doentes. sessor, pela agressividade feroz do
mentar, ferir nos seus interesses, presente?
ou nas suas mais caras afeições. O criminoso é um doente moral. O obsidiado, que ofendeu, ou o
Nesse fato reside a causa da maio- Deve ser tratado e não supos- obsessor, que não soube perdoar?
ria dos casos de obsessão […]. tamente eliminado. O obsidiado, que colhe espi-
nhos que semeou, ou o obsessor,
l
Essa observação de Kardec si- que se dilacera nos propósitos de
tua-se por incisivo libelo contra Nas reuniões mediúnicas de vingança?
a pena de morte. desobsessão, causa perplexidade É difícil lidar com um Espírito
O condenado, transferido com- o grande número de Espíritos nessa condição, fixado na idéia
pulsoriamente para o mundo es- que exercem vingança por pre- de que seus desafetos, que tanto
piritual, simplesmente se revesti- juízos sofridos em pretérita exis- o fizeram sofrer, devem experi-

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reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:33 Page 15

mentar sofrimentos mil vezes


acentuados.
Inútil racionalizar, dizendo-lhe
que responderá por seus atos, que
está sendo insensível, que não está
agindo de conformidade com as
leis divinas.
É impermeável aos apelos da
razão.
Melhor evocar o coração.
Lidei há pouco com uma si-
tuação dessa natureza.
O obsessor mostrava-se irre-
dutível na perseguição que exer-
cia sobre um desafeto. Pretendia
induzi-lo ao suicídio.
O caso viera parar no atendi-
mento fraterno do Centro, por
iniciativa de um familiar, preo-
cupado com o estado de abati- zi-lo ao suicídio e provocarei a Então, amigo leitor, veio o ape-
mento e desânimo do obsidiado. desagregação de sua família. lo do coração.
E ali estava o algoz, conversan- A experiência ensinou-me que – E a sua família?…
do conosco no processo mediúni- em situações assim o primeiro – O que tem minha família?
co, alheio à nossa argumentação. passo é captar a simpatia do ma- – Mantém contato com a es-
De nada adiantou falar-lhe nifestante, concordando com posa e filhos?
das conseqüências de seus atos, seus propósitos. – Não, nunca mais os vi.
do crime que estava cometendo, Foi o que fiz. – Não acha estranho, já que
dos sofrimentos que estava im- – Sua revolta é justa. O crime desencarnaram juntos?
pondo a toda uma família, em que seu desafeto cometeu é im- – Nada disso importa! Apenas
nome do ódio. perdoável. a justiça!
Em certo momento, justifi- – Ainda bem que concorda co- – Não sente saudades?
cando-se, explicou: migo, porquanto não descansa- – Não quero pensar nisso!
– Aquele de quem você se com- rei enquanto o miserável não pa- – Nunca procurou definir por
padece é um criminoso sem per- gar pelos seus crimes! que não os encontra?
dão. Na existência passada ele foi – Desculpe, mas fico imagi- – Certamente esqueceram de
um coronel nordestino. Movido nando se valeu a pena ficar tanto mim, seguiram seu caminho.
pela ambição, invadiu minhas tempo dominado pelo ódio, a – E se eu lhe disser que men-
terras, exterminou a mim e a toda ponto de perder a própria noção tores espirituais querem colocá-
a minha família, esposa e três fi- do tempo. Pelo que você relatou, -lo em contato com eles?
lhos, e apossou-se de todos os aquela tragédia aconteceu há – Não acredito! Você quer en-
meus haveres. Estive a vagar sem mais de um século… ganar-me!
sossego por muito tempo. Agora – Ainda que se passem muitos – É verdade! Seus familiares têm
o localizei nesta nova existência e séculos, não importa! Quero procurado aproximar-se, mas vo-
pretendo fazer justiça. Vou indu- vingança! cê não os vê, porquanto seus olhos

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estão obscurecidos pelo ódio. Ago- reza, a recomendação de Jesus tonia vibratória com mentores
ra meu irmão, surgiu a grande chan- (Marcos, 9:29): espirituais, fundamental ao su-
ce. Aproveite! Esqueça o passado! cesso da doutrinação.
O obsessor sensibilizou-se. Esta casta não pode ser afasta- Vem deles a inspiração para
– Você tem certeza de que os da a não ser com oração e jejum. uma ação capaz de sensibilizar e
reencontrarei? modificar as disposições desses
– Fique tranqüilo. A oração contrita e pura de nossos irmãos desajustados e in-
– O que devo fazer? quem está imbuído dos propósi- felizes, mergulhados em vende-
– Mentores espirituais conver- tos de servir e o jejum dos maus tas cruéis.
sarão com você e lhe prometo que pensamentos, dos sentimentos Isso porque não sabem que
em breve reencontrará a família. inferiores, das más palavras são o ódio é a negação do amor, lei
Rendamos graças a Deus, cuja mi- iniciativas que sustentam a sin- suprema de Deus.
sericórdia nos oferece infinitas
oportunidades de reabilitação.
Em seguida orei, naquela evo-
cação que parte do imo da alma Causas da obsessão
quando nos sensibilizamos com
as misérias alheias, rogando a Je-
sus amparasse aquele nosso irmão
A s causas da obsessão variam, de acordo com o caráter do
Espírito. É, às vezes, uma vingança que este toma de um indi-
víduo de quem guarda queixas da sua vida presente ou do tempo
no seu propósito de renunciar à de outra existência. Muitas vezes, também, não há mais do que o
vingança. desejo de fazer mal: o Espírito, como sofre, entende de fazer que
O médium chorava, extrava- os outros sofram; encontra uma espécie de gozo em os atormen-
sando a emoção da entidade. tar, em os vexar, e a impaciência que por isso a vítima demonstra
Mais uma vez o amor triunfa- mais o exacerba, porque esse é o objetivo que colima, ao passo que
ra sobre o ódio. a paciência o leva a cansar-se. Com o irritar-se e mostrar-se des-
A partir daquele dia a situação peitado, o perseguido faz exatamente o que quer o seu persegui-
começou a mudar no lar do ex- dor. Esses Espíritos agem, não raro, por ódio e inveja do bem; daí
-obsidiado, livre da pressão do o lançarem suas vistas malfazejas sobre as pessoas mais honestas.
tenaz perseguidor. Um deles se apegou como “tinha” a uma honrada família do nosso
Sempre imagino, amigo leitor, conhecimento, à qual, aliás, não teve a satisfação de enganar.
como seria maravilhoso se pudés- Interrogado acerca do motivo por que se agarrara a pessoas dis-
semos ter milhões de grupos me- tintas, em vez de o fazer a homens maus como ele, respondeu:
estes não me causam inveja. Outros são guiados por um senti-
diúnicos, mundo afora, em condi-
mento de covardia, que os induz a se aproveitarem da fraqueza
ções de ajudar Espíritos pertur-
moral de certos indivíduos, que eles sabem incapazes de lhes resis-
bados e perturbadores que enxa-
tirem. Um destes últimos, que subjugava um rapaz de inteligência
meiam nosso mundo.
muito apoucada, interrogado sobre os motivos dessa escolha, res-
Teríamos prodigioso sanea- pondeu: Tenho grandíssima necessidade de atormentar alguém;
mento em nossa psicosfera, me- uma pessoa criteriosa me repeliria; ligo-me a um idiota, que nenhu-
lhorando em muito as condições ma força me opõe.
de vida na Terra.
Allan Kardec
l
Fonte: O livro dos médiuns. 80. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXIII,
Para os companheiros que li- item 245.
dam com Espíritos dessa natu-

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Presença de Chico Xavier

Fixação mental
A
nalisando, superficialmente embora, o pro- nético, pejado de sombra e cativo aos processos da
blema da fixação mental, depois da morte, vida inferior, a retirar-se dos plexos que lhe garan-
convém não esquecer que a alma, quando tiam a retenção, através da dupla cadeia de gânglios
encarnada, permanece munida do equipamento fi- do grande simpático, projetando-se na esfera espiri-
siológico que lhe faculta o atrito constante com a na- tual, não com a leveza específica, suscetível de alçá-la
tureza exterior. a níveis superiores, em circuito aberto, mas sim com a
As reações contínuas, hauridas pelos nervos da or- densidade característica da fixação mental a que se
ganização sensorial, determinando a compulsória afeiçoa, sofrendo em si os choques e entrechoques
movimentação do cérebro, associadas aos múltiplos das suas próprias forças desvairadas, em circuito
serviços da alimentação, da higiene e da preservação fechado sobre si mesma, revelando lamentável dese-
orgânica, estabelecem todo um conjunto vibratório quilíbrio que pode perdurar até mesmo por séculos,
de emoções e sensações sobre as cordas sensíveis da conforme a concentração do pensamento na desar-
memória, valendo por impactos diretos da luta evo- monia em que se compraz.
lutiva no espírito em desenvolvimento, obrigando-o Nesse sentido, podemos simbolizar a vontade como
a exteriorizar-se para a conquista de experiência. sendo a âncora que retém a embarcação do espírito
Esse exercício incessante, enquanto a alma se de- em seu clima ideal.
mora no mundo físico, trabalha o cosmo mental, É necessário, assim, consagrar nossa vida ao bem
inclinando-o a buscar no bem o clima da atividade completo, a fim de que estejamos de acordo com a
que o investirá na posse dos recursos de elevação. Lei Divina, escalando, ao seu influxo, os acumes da
Como sabemos, todo bem é expansão, crescimen- Vida Superior.
to e harmonia e todo mal é condensação, atraso e E é por isso que, encarecendo o valor da reencar-
desequilíbrio. nação, como preciosa oportunidade de progresso,
O bem é a onda permanente da vida a irradiar-se lembraremos aqui as palavras do Senhor, no versícu-
como o Sol e o mal pode ser considerado como lo 35, do capítulo 12, no Evangelho do Apóstolo
sendo essa mesma onda, a enovelar-se sobre si mes- João: “Avançai enquanto tendes luz para que as tre-
ma, gerando a treva enquistada. vas não vos alcancem, porque todo aquele que cami-
Ambos personalizam o amor que é libertação e o nha nas trevas marchará fatalmente sob o nevoeiro,
egoísmo, que é cárcere. perdendo o próprio rumo”.
E se a alma não conseguiu desvencilhar-se, en-
quanto na Terra, das variadas cadeias de egoísmo,
Pelo Espírito Francisco de Menezes Dias da Cruz
como sejam o ódio e a revolta, a perversidade e a de-
linqüência, o fanatismo e a vingança, a paixão e o
vício, em se afastando do corpo de carne, pela impo- Fonte: XAVIER, Francisco C. Instruções psicofônicas. 9. ed. Rio
sição da morte, assemelha-se a um balão eletromag- de Janeiro: 2006. Cap. 60.

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reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:34 Page 18

Capa

Telepatia
C H R I S T I A N O TO RC H I

nam-na como “telegrafia humana”, “força sutil e inexaurível do Espí-


profetizando que “[...] será um rito”.4 Pensar é irradiar... Quan-
dia um meio universal de corres- do pensamos, geramos “[...] in-
pondência”.2 fracorpúsculos ou [...] linhas de
A telepatia pode dar-se, es- força do mundo subatômico,
tando o Espírito acordado ou criador de correntes de bem ou

“T
ransmissão oculta do dormindo. Acontece de encar- de mal, grandeza ou decadência,
pensamento”: esta foi nado para encarnado, de de- vida ou morte, segundo a von-
a expressão utilizada sencarnado para desencarnado, tade que o exterioriza e dirige.
por Allan Kardec (1804-1869) de encarnado para desencarnado [...]”.5 Portanto, o pensamento
para designar o fenômeno da e de desencarnado para encar- pode ser nossa asa libertadora ou
“telepatia”, termo que provavel- nado, dependendo da sintonia nossa prisão, pois somos o que
mente ainda não existia na época ou do tipo de pensamento ema- pensamos.
em que lançou O Livro dos Espí- nado do Espírito. O Espírito André Luiz, em
ritos (1857), terminologia esta Sem o pensamento – fonte muitos de seus livros, reporta-se
que teria sido proposta por Fre- causal das manifestações do Espí- à “matéria mental” de baixa qua-
deric W. H. Myers (1843-1901) rito, fenômeno por meio do qual lidade que prevalece na psicos-
em 1882, e adotada nos traba- este cria e se relaciona com os de- fera terrestre, produto da ema-
lhos da Society for Psychical Re- mais seres – não haveria telepatia. nação coletiva dos pensamentos
search, de Londres. Myers, consi- Quem pensa não é o cérebro dos habitantes de nosso globo,
derado um dos fundadores da ou o corpo físico, mas sim o Es- ainda atrasado moralmente. Em
moderna psicologia e psiquia- pírito, que alguns denominam uma dessas obras, colhemos as
tria, assim a definiu: mente (psique, do grego), que seguintes observações, resultan-
funciona à maneira de estação tes do diálogo entre dois Espíri-
Entendo por telepatia a trans- emissora e receptora, uma espé- tos, em visita à crosta terrestre,
missão do pensamento e das cie de poderosa antena. numa grande cidade:
sensações feitas pelo Espírito de Sem o Espírito ou a alma –
um indivíduo sobre outro sem bem disseram os benfeitores do – Estão vendo aquelas manchas
que seja pronunciada uma pa- espaço –, o corpo seria apenas escuras na via pública? [...]
lavra, escrito um vocábulo ou “simples massa de carne sem ....................................................
feito um sinal.1 inteligência [...]”.3 – São nuvens de bactérias varia-
O pensamento não é um ente das. Flutuam quase sempre
Os Espíritos, ao responderem a ilusório como costumamos ima- também, em grupos compac-
uma indagação de Kardec, desig- ginar; ele é muito real. Ele é a tos, obedecendo ao princípio

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Capa

das afinidades. Reparem aque- os Espíritos se correspondam A prece é uma invocação, me-
les arabescos de sombra... de um mundo a outro.8 diante a qual o homem entra,
.................................................... pelo pensamento, em comuni-
[...] São zonas de matéria men- Léon Denis (1846-1927), o cação com o ser a quem se di-
tal inferior, matéria que é expe- apóstolo do Espiritismo, conti- rige. [...]
lida incessantemente por certa nuador de Kardec, identifica o O Espiritismo torna com-
classe de pessoas. [...]6 fenômeno da telepatia como “re- preensível a ação da prece, ex-
bentos isolados da vida superior plicando o modo de transmis-
Conscientes de que o pensamen- no seio da Humanidade”:9 são do pensamento, quer no
to é força criadora, estas informa- caso em que o ser a quem ora-
ções não nos causam estranheza, A ação telepática não conhece mos acuda ao nosso apelo,
justificando-se, com razão, o adá- limites; suprime todos os obstá- quer no em que apenas lhe
gio: “[...] quem pensa, está fazen- culos e liga os vivos da Terra aos chegue o nosso pensamento.
do alguma coisa alhures. [...]”.7 vivos do Espaço, o mundo visí- Para apreendermos o que ocor-
Muitas experiências científi- vel aos mundos invisíveis, o ho- re em tal circunstância, preci-
cas já demonstraram a realidade mem a Deus; une-os da manei- samos conceber mergulhados
dos pensamentos e a possibili- ra mais estreita, mais íntima. no fluido universal, que ocupa
dade de transmiti-los, telepati- Os meios de transmissão que ela o espaço, todos os seres, encar-
camente, isto é, independente nos revela constituem a base das nados e desencarnados, tal qual
dos órgãos da fala ou indepen- relações sociais entre os Espíritos, nos achamos, neste mundo,
dente da escrita ou de qualquer o seu modo usual de permuta- dentro da atmosfera. Esse
outro meio de comunicação os- rem as idéias e as sensações. [...] fluido recebe da vonta-
tensivo. .................................................... de uma impulsão; ele
Se formos um pouco mais ob- [...] O pensamento e a vontade é o veículo do pen-
servadores, constataremos que, são a ferramenta por excelên- samento, como o
freqüentemente, estamos exerci- cia, com a qual tudo podemos ar o é do som,
tando esta faculdade, mesmo transformar em nós e à roda de com a dife-
sem perceber, isto é, de forma nós. Tenhamos somente pensa- rença de que
inconsciente. mentos elevados e puros; aspi- as vibrações
A propósito, Kardec perguntou remos a tudo o que é grande, do ar são
aos imortais: “Como se comuni- nobre e belo. Pouco a pouco circuns-
cam entre si os Espíritos?”. E a res- sentiremos regenerar-se o nosso
posta não se fez esperar: próprio ser, e com ele, do mes-
mo modo, todas as camadas so-
Eles se vêem e se compreen- ciais, o globo e a Humanidade!
dem. A palavra é material: é o E, em nossa ascensão, chegare-
reflexo do Espírito. O fluido mos a compreender e a praticar
universal estabelece entre eles melhor a comunhão universal
constante comunicação; é o veí- que une todos os seres. [...].9
culo da transmissão de seus
pensamentos, como, para vós, o Não poderíamos deixar de citar
ar o é do som. É uma espécie de aqui a prece, tida por Denis como
telégrafo universal, que liga to- uma das mais altas expressões da
dos os mundos e permite que telepatia:

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Capa

critas, ao passo que as do flui- constrangimento ou receio, co-


do universal se estendem ao in- mo se fosse um livro aberto, sem Referências:
1
finito. Dirigido, pois, o pensa- que consigamos dissimular nos- BORGES, A. Merci Spada. Doutrina espí-
mento para um ser qualquer, sos pensamentos.11 rita no tempo e no espaço. 800 verbetes
na Terra ou no espaço, de en- Este tempo ainda está muito especializados. 2. ed. São Paulo: Panora-
carnado para desencarnado, longe, entretanto, nada obsta que ma, 2001. p. 348.
2
ou vice-versa, uma corrente prossigamos nos esforçando, com KARDEC, Allan. O livro dos médiuns. 80.
fluídica se estabelece entre vistas à transformação moral, ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte se-
um e outro, transmitindo de agora mais conscientes de nossas gunda, cap. XXV, item 285.
3
um ao outro o pensamento, responsabilidades, o que nos per- ______. O livro dos espíritos. 91. ed. Rio
como o ar transmite o som. mitirá, no futuro, o desabrochar de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda,
A energia da corrente guarda completo de nossas faculdades cap. II, questão 136b.
4
proporção com a do pensa- sublimes, denunciadoras de senti- XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Me-
mento e da vontade. É assim mentos elevados. canismos da mediunidade. Pelo Espírito
que os Espíritos ouvem a pre- Avaliemos a qualidade de nos- André Luiz. 26. ed. Rio de Janeiro: FEB,
ce que lhes é dirigida, qual- sas criações mentais. Que tipo 2006. Cap. 9, item Corrente do pensa-
quer que seja o lugar onde se de pensamentos estamos emi- mento, p. 82.
5
encontrem; é assim que os tindo? Eles estão contribuindo XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espíri-
Espíritos se comunicam entre para melhorar ou piorar a psi- to Emmanuel. 12. ed. Rio de Janeiro: FEB,
si, que nos transmitem suas cosfera terrena? 2007. Cap. 30, p. 128. Apud O Espiritismo
inspirações, que relações se Com o objetivo de melhor re- de A a Z (FEB), verbete “Pensamento”.
6
estabelecem a distância entre fletirmos sobre as respostas a ______. Os mensageiros. Pelo Espírito
encarnados.10 estas questões, encerramos este André Luiz. 45. ed. Rio de Janeiro: FEB,
modesto artigo com a mensa- 2007. Cap. 40, p. 248-249.
7
Resumindo, a base da tele- gem atribuída a um poeta anô- ______. Nosso lar. Pelo Espírito André
patia repousa sobre a sintonia nimo, de grande significação Luiz. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
mental entre pessoas que pen- para nós, Espíritos em processo Cap. 12, p. 83.
8
sam ou vibram na mesma faixa, de aprendizagem: KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91.
estejam elas encarnadas ou de- ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte se-
sencarnadas. Vigiemos nossos pensamentos, gunda, cap. VI, questão 282.
9
Quando pensamos, emitimos porque eles se converterão em DENIS, Léon. O problema do ser, do
ondas mentais, que podem ou [palavras. destino e da dor. Rio de Janeiro: FEB,
não ser sintonizadas por outros Vigiemos nossas palavras, 2007. Primeira parte, cap. VI, p. 121,
Espíritos. Isso vai depender do porque elas se transformarão 129 e 132.
10
grau de afinidade ou sintonia en- [em atos. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
tre os seres pensantes. Vigiemos nossos atos, porque espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,
A telepatia, como faculdade de eles formarão os nossos 2007. Cap. XXVII, itens 9 e 10.
11
transmissão direta dos pensa- [hábitos. ______. O livro dos espíritos. 91. ed.
mentos, um dia será praticada Vigiemos nossos hábitos, Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda,
por toda a Humanidade terrena, porque eles moldarão o nosso cap. VI, questão 283.
12
quando tivermos ascendido a pa- [caráter. TORCHI, Christiano. Espiritismo passo
a
tamares superiores, ocasião em Vigiemos nosso caráter, porque a passo com Kardec. 2. ed. 1 reimpres-
que poderemos ler as mentes uns ele formará o nosso são. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 9,
dos outros, sem qualquer tipo de DESTINO.12 p. 481-482.

20 378 Reformador • Outubro 2008


reformador Outubro 2008 - a.qxp 2/17/aaaa 09:34 Page 21

Esf lorando o Evangelho


Pelo Espírito Emmanuel

Na cruz
“Ele salvou a muitos e a si mesmo não pôde salvar-se.”
(MATEUS, 27:42.)

S
im, ele redimira a muitos...
Estendera o amor e a verdade, a paz e a luz, levantara enfermos e ressuscita-
ra mortos.
Entretanto, para ele mesmo erguia-se a cruz entre ladrões.
Em verdade, para quem se exaltara tanto, para quem atingira o pináculo, suge-
rindo indiretamente a própria condição de Redentor e Rei, a queda era enorme...
Era o Príncipe da Paz e achava-se vencido pela guerra dos interesses inferiores.
Era o Salvador e não se salvava.
Era o Justo e padecia a suprema injustiça.
Jazia o Senhor flagelado e vencido.
Para o consenso humano era a extrema perda.
Caíra, todavia, na cruz.
Sangrando, mas de pé.
Supliciado, mas de braços abertos.
Relegado ao sofrimento, mas suspenso da Terra.
Rodeado de ódio e sarcasmo, mas de coração içado ao Amor.
Tombara, vilipendiado e esquecido, mas, no outro dia, transformava a própria
dor em glória divina. Pendera-lhe a fronte, empastada de sangue, no madeiro, e res-
surgia, à luz do Sol, ao hálito de um jardim.
Convertia-se a derrota escura em vitória resplandecente. Cobria-se o lenho
afrontoso de claridades celestiais para a Terra inteira.
Assim também ocorre no círculo de nossas vidas.
Não tropeces no fácil triunfo ou na auréola barata dos crucificadores. Toda vez
que as circunstâncias te compelirem a modificar o roteiro da própria vida, prefere
o sacrifício de ti mesmo, transformando a tua dor em auxílio para muitos, porque
todos aqueles que recebem a cruz, em favor dos semelhantes, descobrem o trilho da
eterna ressurreição.
Fonte: XAVIER, Francisco C. Fonte viva. 36. ed. 1a reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 46.

Outubro 2008 • Reformador 379 21


reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:36 Page 22

Subsídios para o aperfeiçoamento


das Instituições e do
Movimento Espírita
A N TO N I O C E S A R P E R R I DE C A RVA L H O

A
s propostas de planejamen- André Luiz esclarece: dores dedicados. Ampliemos a
to e de organização admi- área de nosso concurso indivi-
nistrativa e doutrinária das [...] Nossos serviços são distri- dual e elevemos o nível de com-
instituições vêm se intensificando buídos numa organização que preensão das nossas responsa-
no Movimento Espírita. Oportuno se aperfeiçoa dia a dia [...]. bilidades para com a obra do
comentário de Allan Kardec refe- A colônia, que é essencialmen- Espiritismo. [...] Cada compa-
renda estas providências: “[...] o te de trabalho e realização, di- nheiro, cada agrupamento e ca-
que caracteriza a revelação espírita vide-se em seis Ministérios, da país terão do Espiritismo o
é o ser divina a sua origem e da ini- orientados, cada qual, por do- que dele fizerem. [...]5
ciativa dos Espíritos, sendo a sua ze Ministros.3
elaboração fruto do trabalho do As informações espirituais so-
homem”.1 O Codificador lega-nos Em outra obra alerta: bre o compromisso das pessoas
ainda orientações sobre o funcio- com o planejamento e as ações
namento de grupos espíritas e Examinar os temas de serviço são explícitas.
suas experiências na Sociedade Pa- que lhe digam respeito para Nos últimos anos, alguns proje-
risiense de Estudos Espíritas, na não estagnar os próprios recur- tos se desenvolvem no Conselho
Revista Espírita, em O Livro dos sos na irresponsabilidade des- Federativo Nacional da Federação
Médiuns e Obras Póstumas. trutiva ou na rotina perniciosa. Espírita Brasileira. Em conse-
Esses assuntos são abordados, Da busca incessante da perfeição, qüência de proposta inicial da
também, nas obras psicográficas de procede a competência real.4 União das Sociedades Espíritas do
Francisco Cândido Xavier. Estado de São Paulo, como desdo-
Setencia Emmanuel: E, em entrevista com o Espírito bramento, houve a formação de
William James, este comenta: Comissão Temporária com o obje-
Na essência, cada homem é ser- tivo de analisar propostas visando
vidor pelo trabalho que realiza Temos aprendido que não sur- o aperfeiçoamento do trabalho de
na obra do Supremo Pai, e, si- gem construções estáveis ao unificação com base no “Pacto
multaneamente, é administrador, impulso do improviso. A seara Áureo” e estudar o seu aprimora-
porquanto cada criatura huma- espírita pede plantação de prin- mento,6 gerando projetos aprova-
na detém possibilidades enor- cípios espíritas. E não existe dos pelo citado CFN na sua Reunião
mes no plano em que moureja.2 plantação eficiente sem cultiva- de 2001,7 como o da “Atividade de

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Preparação de Trabalhadores Espí- ção do Trabalhador Espírita”, pro- A nova versão contém orienta-
ritas”, que redundou no curso “Ca- movido pelo CEI em parceria ções para as atividades: Palestras
pacitação Administrativa da Casa com a FEB, em Brasília, no mês de Públicas; Estudo Sistematizado da
Espírita”, aprovado em Reunião Or- julho de 2005. Daí em diante, como Doutrina Espírita; Atendimento
dinária realizada em novembro de programa de trabalho do CEI, os Espiritual no Centro Espírita; Es-
2002.8 Esta proposta foi analisada seminários de Gestão Doutrinária tudo e Educação da Mediunidade;
nas Reuniões das Comissões Regio- e Administrativa foram desenvol- Reunião Mediúnica; Evangelização
nais do CFN durante o 1o semestre vidos em vários países. Espírita da Infância e da Juventu-
de 2003 e, no semestre seguinte, Simultaneamente, iniciava-se a de; Divulgação da Doutrina Espí-
foram efetivados onze seminários revisão de Orientação ao Centro rita; Serviço de Assistência e Pro-
em microrregiões com os represen- Espírita, cuja primeira versão foi moção Social Espírita; Atividades
tantes das Entidades Federativas Es- aprovada em Reunião do CFN de Administrativas; Participação do
taduais, que se incumbiram de im- 1980. O referido documento foi Centro Espírita nas Atividades de
plantar o Curso em seus Estados. reanalisado em Comissões Regio- Unificação do Movimento Espírita;
Também ocorreram reflexos nais do CFN, aprovado na Reu- Recomendações Jurídicas (Obriga-
internacionais. A partir de semi- nião do CFN de 2006 e lançado ções Legais); e Recomendações e
nário desenvolvido pelo Conse- em Reunião Especial do CFN no Observações Gerais.
lho Espírita Internacional, duran- dia 12 de abril de 2007, na véspe- Um pouco antes, na Reunião de
te reunião do Conselho Espírita ra da abertura do 2o Congresso 2005, o CFN aprovou o projeto
dos Estados Unidos, em 2004, sur- Espírita Brasileiro. de Comemorações do Sesquicen-
giu a proposta para a promoção, O Orientação ao Centro Espíri- tenário de O Livro dos Espíritos,
de um Seminário mais detalhado, ta é apresentado: incluindo a elaboração de um “Pla-
que evoluiu para a realização do no de Trabalho para o Movimen-
“Curso Internacional para Forma- A título de sugestão e de subsí- to Espírita Brasileiro”. Iniciaram-se
dio [...] de orientações e material os diálogos para coleta de subsí-
de apoio, [...] para as atividades dios e, na Reunião acima citada,
dos Centros e demais institui- de 2007, o Conselho aprovou o
ções espíritas, visando facilitar
as tarefas de seus trabalhadores,
no encaminhamento de assun-
tos doutrinários, administrati-
vos, jurídicos e de unificação.9

Outubro 2008 • Reformador 381 23


reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:36 Page 24

2
te que devem ser XAVIER, Francisco C. Fonte viva. Pelo
elaborados os pro- Espírito Emmanuel. 36. ed. 1a reimpres-
jetos de ação. Daí a são. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 75.
3
importância de se ______. Nosso lar. Pelo Espírito André
dinamizar as ativi- Luiz. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
dades previstas em Cap. 8, p. 56.
4
Orientação ao Centro VIEIRA, W. Conduta espírita. Pelo Espí-
Espírita, em coerên- rito André Luiz. 31. ed. 1a reimpressão.
cia com as diretrizes e Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 8, p. 41.
5
objetivos do “Plano XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, W. Entre
de Trabalho”. irmãos de outras terras. Por Espíritos
Ao final da Reunião do CFN Diversos. 8. ed. Rio de Janeiro: FEB,
“Plano de Trabalho para o Movi- que aprovou o “Plano de Traba- 2004. Cap. 5, p. 30.
6
mento Espírita Brasileiro (2007- lho”, Bezerra de Menezes opinou: Súmula da Ata da Reunião Ordinária do
-2012)”.10 Este “Plano” é composto Conselho Federativo Nacional, realizada
por: 1) Diretrizes: definem as prio- A programação que estabele- em Brasília, no período de 10 a 12 de
ridades institucionais de caráter cestes para este qüinqüênio é novembro de 2000. Reformador, maio
geral e abrangente, que são: a difu- bem significativa, porque ver- de 2001, p. 28(154)-30(156).
7
são da Doutrina Espírita; a pre- teu do Alto, onde se encontrava Súmula da Ata da Reunião Ordinária do
servação da unidade de princípios elaborada, e vós a vestistes com Conselho Federativo Nacional, realizada
da Doutrina Espírita; a divulgação da as considerações hábeis e apli- em Brasília, no período de 9 a 11 de no-
Doutrina Espírita; a adequação e cáveis a esta atualidade. vembro de 2001. Reformador, junho de
multiplicação dos Centros Espíri- Este é o grande momento, fi- 2002, p. 28(186)-33(191).
tas; a união dos espíritas e a unifi- lhos da alma.11 8
Súmula da Ata da Reunião Ordinária do
cação do Movimento Espírita; a Conselho Federativo Nacional, realizada
capacitação do trabalhador espíri- No conjunto, as ações decor- em Brasília, no período de 8 a 10 de no-
ta; a participação na sociedade; 2) rentes do Curso de Capacitação vembro de 2002. Reformador, Edição
Objetivos: estabelecem o que o Administrativa, de Orientação ao Especial, maio de 2003, p. 4-5.
9
Movimento Espírita deve alcançar Centro Espírita e do “Plano de Tra- Orientação ao Centro Espírita. Federação
ao longo do período proposto; 3) balho” representam um esforço sig- Espírita Brasileira – Conselho Federativo
Ações e Projetos: propõem as ati- nificativo para a integração, a di- Nacional. Rio de Janeiro: FEB, 2007. 4ª
vidades operacionais para a im- namização e o aperfeiçoamento das capa.
10
plementação do Plano de Traba- instituições e do Movimento Espí- “Plano de Trabalho para o Movimento
lho. As ações e projetos poderão rita, coerentes com o contexto de Espírita Brasileiro (2007-2012)”. In: Refor-
ser realizados pelas instituições es- nossa época e com a missão defi- mador, Edição Especial, julho de 2007.
11
píritas do Brasil, especialmente as nida em O Livro dos Espíritos: “[...] FRANCO, DIVALDO P. “O Médio-dia da
Entidades Federativas Estaduais, instruir e esclarecer os homens, Era Nova”. Pelo Espírito Bezerra de Me-
com o apoio do Conselho Federa- abrindo uma Nova Era para a re- nezes. In: Reformador, junho de 2007,
tivo Nacional da FEB.10 Com este generação da Humanidade”.12 p. 8(214)-9(215).
12
objetivo, a Secretaria-Geral do CFN KARDEC, Allan. O livro dos espíritos.
vem promovendo seminários jun- Referências: Tradução de Evandro Noleto Bezerra.
1
to às Federativas. KARDEC, Allan. A gênese. 52. ed. 1a reim- Edição Comemorativa do Sesquicentená-
Como a base do Movimento é o pressão. Tradução Guillon Ribeiro. Rio de rio. Rio de Janeiro: FEB, 2006. “Prolegô-
Centro Espírita, é em função des- Janeiro: FEB, 2008. Cap. I, item 13. menos”.

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Em dia com o Espiritismo


A criação dos
seres vivos
e do homem
M A RTA A N T U N E S M O U R A

E
xistem atualmente duas prin- lo de tempo, simbolicamente repre- nos círculos acadêmicos e científi-
cipais teorias sobre a criação sentado nos seis dias da Criação. É cos, tendo como base as orienta-
do homem: Criacionismo e uma escola que conjuga evidências ções da Química e da Genética.
Evolucionismo. A primeira, funda- geológicas e cosmológicas à criação Na Teoria Evolucionista identifica-
mentada no livro Gênesis, da Bí- divina; b) Teoria do Dia-Era: ensina mos duas grandes correntes de pen-
blia, defende a idéia de que Deus que cada dia da Criação é um sím- samento: as que associam idéias
criou o homem e os demais seres bolo que pode compreender mi- filosóficas, científicas e religiosas, e
vivos há menos de 10 mil anos. A lhões de anos, não o período de 24 as que são exclusivamente materia-
segunda prega que o homem e os horas; c) Teoria Progressiva: aceita listas. A escola denominada evolu-
demais seres vivos resultam de uma o Big Bang (grande explosão que te- cionista-teísta pertence ao primeiro
lenta e gradual transformação que ria originado o Universo, segundo a grupo. No geral, admite que a des-
remonta há milhões de anos. Ciência) e a maioria das teorias da crição do Gênesis é simbólica e que o
Ambas as teorias estão subdividi- Física Moderna, vistas como meios processo criativo de Deus deve bus-
das em diferentes correntes interpre- auxiliares para o entendimento da car apoio nos postulados científicos
tativas, ou escolas. No Criacionismo criação divina. Essa teoria afirma da evolução. Os seus seguidores não
as mais conhecidas são: a) Teoria que todos os seres vivos foram encontram oposição entre a Ciên-
do Intervalo: estabelece que entre a criados de modo progressivo e se- cia e a Fé. O outro grupo, conheci-
criação dos céus (Gn., 1:8), da Ter- qüencial por Deus, mas sem rela- do como evolucionista-materialista,
ra, (Gn., 1:9-10), dos seres vivos ção de parentesco ou ancestralida-
(Gn., 1:11-25) e do homem (Gn., de; d) Design Inteligente: é a versão
1:26-27) ocorreu um longo interva- criacionista de maior repercussão

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não aceita a interferência de Deus ou vra escrita em minúscula) e Espí- transformação e se torna Espírito.
de qualquer expressão sobrenatural rito (escrita em letra maiúscula), Entra então no período da huma-
na criação dos seres vivos. Investiga citadas nas obras da Codificação. nização, começando a ter cons-
a Natureza por meio de métodos Tais palavras não são sinônimas. ciência do seu futuro, capacida-
científicos, apresentando conclusões Ensina a Doutrina Espírita que de de distinguir o bem do mal e a
consideradas racionais e lógicas. o espírito é “o princípio inteligente responsabilidade dos seus atos.
Em geral, podemos dizer que as do Universo”,2 sendo “a inteligên- Assim, à fase da infância se segue
religiões (catolicismo e protestan- cia seu atributo essencial”.3 O prin- a da adolescência, vindo depois a
tismo) e algumas filosofias espiri- cípio inteligente, ou espiritual, pas- da juventude e da madureza. [...]6
tualistas ocidentais, como o Espi- sa por um processo de elaboração
ritismo, são evolucionistas-teístas. nos reinos inferiores da Natureza, O Espírito André Luiz nomeia de
A Doutrina Espírita ensina que a principalmente no reino animal, mônada o princípio espiritual, infor-
criação dos seres vivos, incluída a es- em ambos os planos da vida (o es- mando que, nos primórdios da for-
pécie humana, é realizada por Deus. piritual e o físico), até transformar- mação da Terra,“[...] os Ministros
Esclarece que há dois elementos ge- -se no ser denominado Espírito: Angélicos da Sabedoria Divina, com
rais do Universo: espírito e matéria: a supervisão do Cristo de Deus,
[...] Os Espíritos são a individua- lançaram os fundamentos da vida
[...] Deus, espírito e matéria lização do princípio inteligente, no corpo ciclópico do planeta”:7
constituem o princípio de tudo o como os corpos são a individuali-
que existe, a trindade universal. zação do princípio material [...].4 [A mônada], [...] através do nas-
Mas, ao elemento material se tem cimento e morte da forma, sofre
que juntar o fluido universal, que A individualização do princípio constantes modificações nos dois
desempenha o papel de interme- inteligente, ou espírito, efetua-se planos em que se manifesta, razão
diário entre o espírito e a matéria “numa série de existências que pre- pela qual variados elos da evo-
propriamente dita, por demais cedem o período a que chamais Hu- lução fogem à pesquisa dos na-
grosseira para que o espírito pos- manidade”,5 esclarecem os Orien- turalistas, por representarem
sa exercer ação sobre ela. [...]1 tadores da Vida Maior. São exis- estágios da consciência fragmen-
tências nas quais “[...] o princípio tária fora do campo carnal pro-
Estas informações, prestadas pe- inteligente se elabora, se individua- priamente dito, nas regiões extra-
los Espíritos orientadores da Codi- liza pouco a pouco e se ensaia para -físicas, em que essa mesma cons-
ficação Espírita, contêm dados que a vida [...]”.6 A passagem do princí- ciência incompleta prossegue ela-
implicam análises adicionais, con- pio inteligente nos reinos da Natu- borando o seu veículo sutil, en-
siderando a importância do bom reza, em ambos os planos da vida, tão classificado como protoforma
entendimento do assunto. Assim, sob os cuidados dos Seres Angélicos, humana, correspondente ao grau
é preciso não esquecer que o ele- prepostos do Cristo, representa ex- evolutivo em que se encontra.8
mento material forma as diversas periências úteis à aquisição de co-
matérias, ponderáveis e imponde- nhecimentos que, mais tarde, serão Entretanto, é sempre oportuno
ráveis, existentes no Universo, que utilizados pelo ser em sua condição recordar: depois que o princípio
são identificadas como subprodu- de Espírito, propriamente dito: inteligente adquire a soma de apren-
tos do fluido cósmico universal, dizados em sua passagem pelos rei-
inclusive o fluido vital que fornece [...] É de certo modo, um traba- nos da Natureza, nos planos físico
vitalidade aos seres vivos. Por ou- lho preparatório, como o da ger- e espiritual, encontra-se então ap-
tro lado, é preciso fazer distinção minação, por efeito do qual o to para o processo de humanização.
entre as expressões espírito (pala- princípio inteligente sofre uma Este processo, porém, não se realiza

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2
de imediato, nem de forma automá- doria e misericórdia divinas, sem- Idem, ibidem. Questão 23.
3
tica. A humanização do princípio in- pre intermediadas por Jesus, a fim Idem, ibidem. Questão 24.
4
teligente acontece em mundos apro- de que o ser em processo ascen- Idem, ibidem. Questão 79.
5
priados, onde o novo ser é prepara- sional possa alcançar a plataforma Idem, ibidem. Questão 607.
6
do para a sua primeira encarnação evolutiva humana, já possuidor Idem, ibidem. Questão 607a.
7
como Espírito, entidade humana, de pensamento contínuo, neces- XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo.
esclarecem os Espíritos orientadores: sário à implementação da memó- Evolução em dois mundos. Pelo Espírito
ria, do raciocínio e dos processos André Luiz. 25. ed. 1ª reimpressão. Rio de
[...] O período da humanização intelectivos, e base da razão. Com Janeiro: FEB, 2008. Primeira parte, cap. 3,
começa, geralmente, em mun- esses talentos, o homem desenvol- item Primórdios da Vida, p. 37.
8
dos ainda inferiores à Terra. Is- ve a capacidade de discernir o mal Idem, ibidem. Item Elos desconhecidos
to, entretanto, não constitui re- do bem, de usar corretamente o da Evolução, p. 42.
9
gra absoluta, pois pode suceder livre-arbítrio, de desenvolver sen- KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91. ed.
que um Espírito, desde o seu iní- timentos, e de perceber a si mes- Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão 607b.
10
cio humano, esteja apto a viver mo, o próximo e a Deus. XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Evo-
na Terra. Não é freqüente o ca- lução em dois mundos. Pelo Espírito An-
so; constitui antes uma exceção.9 Referências: dré Luiz. 25. ed. 1a reimpressão. Rio de Ja-
1
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91 neiro: FEB, 2008. Primeira parte, cap. 3,
Vemos assim que a longa jor- ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Questão 27. item Faixas inaugurais da Razão, p. 41.
nada do princípio inteligente, ini-
ciada no momento de formação
da Terra e concluída na fase de hu-
manização, exigiu milênios de tra-
Divina sílaba
Sempre o Nome Sagrado – a Sílaba Divina –
balho incessante:
Dos astros recordando alígeras galeras,
Nas correntes do Azul, às supremas esferas
[...] alcançando os pitecantro-
Onde o jorro da luz se represa e esborcina...
póides da era quaternária, que
antecederam as embrionárias ci-
Das alturas do Céu ao bojo das crateras,
vilizações paleolíticas, a mônada
Do mar em vagalhões à fonte pequenina,
vertida do Plano Espiritual so-
Dos cimos da montanha às entranhas da mina,
bre o Plano Físico atravessou os
Do clarão do presente à sombra de outras eras...
mais rudes crivos da adaptação
e seleção, assimilando os valores
Da relva pisoteada ao tronco erguido a prumo,
múltiplos da organização, da re-
Da brisa bonançosa ao furacão sem rumo,
produção, da memória, do ins-
Da leveza da palha ao peso do granito...
tinto, da sensibilidade, da per-
cepção e da preservação própria,
Do gênio angelical à bactéria no solo,
penetrando, assim, pelas vias da
De vida em vida, passo a passo, pólo a pólo,
inteligência mais completa e la-
Tudo fala de Deus na glória do Infinito!...
boriosamente adquirida, nas
faixas inaugurais da razão.10 Americano do Brasil
Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Poetas redivivos. 3. ed. Rio de Janeiro: FEB,
Tudo isso reflete, de forma ine- 1994. Cap. 57, p. 87.
quívoca, a manifestação da sabe-

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A FEB e o Esperanto

Rússia – Espiritismo
nas asas do Esperanto...
A F F O N S O S OA R E S

A
versão em esperanto do livro Suicídio e suas muitos relatos de espíritos que, tendo desencarna-
Conseqüências, de Gerson Simões Montei- do por suicídio, contactam o mundo dos vivos
ro, recebeu importante e objetiva acolhida através de médiuns.
no conceituado periódico esperantista russo La
Ondo de Esperanto (A Onda do Esperanto). Sobre esses relatos, Pen/ukov propõe um resumo
Nikolaj Pen/ukov, crítico de literatura da revis- que revela seu perfeito entendimento acerca de algu-
ta, analisa em seu número de julho passado o tex- mas conseqüências comuns nos casos de suicídio:
to de Memmortigo kaj 1iaj Konsekvencoj, em tra-
dução de Givanildo Ramos Costa, criteriosamente A primeira decepção que os aguarda é a realidade
revisado pelos escritores Paulo Sérgio Viana e Be- da vida espiritual... e esta vida se lhes apresenta
nedicto Silva e editado pela Sociedade Editora Es- pior pelos ásperos tormentos causados por sua
pírita F. V. Lorenz. decisão de extrema rebeldia.
Pen/ukov não é espírita, mas como crítico cons-
ciencioso põe em foco o conteúdo sem induzir o [...] Durante longos anos, sen-
leitor a qualquer posição com juízos facciosos. tem as impressões terríveis do
Alguns trechos de sua crítica evidenciam tanto
a excelência da compilação de Gerson Monteiro
quanto o valor da tradução:

Como as outras reli-


giões, o Espiritismo
tem no suicídio um
pecado, mas, ao
contrário do Cris-
tianismo, afir-
ma não se tra-
tar de pecado
sem remissão.
O autor apresenta

28 386 Reformador • Outubro 2008


reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:37 Page 29

tóxico que lhes aniquilou as rigo de se cultivar idéias de sui-


energias; a perfuração do cé- cídio, considerando as influên-
rebro pelo projétil disparado cias obsessoras provenientes do
pela arma usada no gesto mundo invisível; acerca da con-
horrível; a pressão das pesa- figuração sinistra das regiões es-
das rodas sob as quais se jo- pirituais onde provisoriamente
garam na ânsia de abando- estagiam tais Espíritos; e, prin-
nar a vida; a passagem, sobre cipalmente, acerca do auxílio que
seus despojos, da água em lhes é prestado por Espíritos
que se afogaram, na crimi- socorristas.
nosa fuga dos seus deveres Por não ser espírita e exercer
no mundo. Mas, geralmente, o ofício de crítico, Pen/ukov
a pior impressão de um sui- expõe, sem contudo endossá-
cida é experimentar, minuto -las, as teorias que negam a rea-
após minuto, o processo de lidade espiritual desvendada
desintegração do corpo dei- pela mediunidade, mas não se
xado no seio da terra, cheia furta a um comentário final,
Capa do livro Suicídio e suas
de vermes e podridões.
Conseqüências em esperanto
bem sugestivo:

E prossegue em abordagens seguras sobre as Isso, porém, não tem muita importância, desde
conseqüências do suicídio em futuras encarna- que essas terríveis descrições e os relatos como-
ções: doenças congênitas, acidentes graves com ventes evitem que pelo menos uma criatura se
mutilações, perturbações mentais; acerca do pe- desvie do gesto fatal e conserve a sua vida.

Visão do cimo
O mundo atormentado é nau em desatino A voz dum só Pastor, uma só fé que brade
Sob a fúria do mar que se agita e encapela... Concórdia e entendimento a toda a
Tudo treme ao pavor da indômita procela [Humanidade,
E o homem – pobre viajor – é o triste Na vitória do bem, purificado e santo.
[peregrino.
Ruge agora a tormenta... entretanto, a alvorada
Mas, além, surge a mão do Condutor Divino, Presidirá com Cristo à vida transformada
Doce, renovadora, imaculada e bela, Ao clarão imortal da glória do Esperanto.
Busca o Celeste Amor que longe se acastela,
E acende para a Terra a luz de outro destino.

Amaral Ornellas

(Soneto recebido psicograficamente por Francisco Cândido Xavier, publicado em Reformador de junho de 1951, p. 6(122).)

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As moradas do Pai à
luz do Consolador
A. M E R C I S PA DA B O R G E S

D
ois mil anos são passados tivos, de provas e expiações, re- os Espíritos para mundos me-
desde aqueles tempos em generadores, felizes e celestes ou lhores após comprovar, no tra-
que a voz de Jesus se fez divinos. (O Evangelho segundo o balho do bem, a cura de suas
ouvir sobre a ambiência sombria Espiritismo, cap. III.) moléstias morais.
da Terra: A Terra, no contexto univer- Diz a tradição religiosa que,
sal, não é um recanto de lazer, e após a morte do corpo, a alma
Não se turbe o vosso coração. sim um planeta que acolhe almas pode ir para o céu, o inferno ou o
Credes em Deus, crede também em provas e expiações. Conside- purgatório. Os Espíritos da Codi-
em mim. Há muitas moradas rada, ao mesmo tempo, hospital, ficação Espírita esclarecem que
na casa de meu Pai. Se assim penitenciária, escola, daí partem “são simples alegorias: por toda
não fosse eu vo-lo teria dito; parte há Espíritos ditosos e indi-
pois vou preparar-vos o lugar tosos. [...] os Espíritos de uma
[...] para que, onde eu esti- mesma ordem se reúnem por
ver, estejais vós tam- simpatia; mas podem reu-
bém. (João, 14:1-3.) nir-se onde queiram,
quando são perfeitos”.
Jesus se refere aos (O Livro dos Espí-
mundos materiais ritos, questão 1012,
e espirituais que Ed. FEB.) E ainda:
circulam pelo es-
paço infinito. Ca- “Que se deve enten-
da mundo está des- der por purgatório?”
tinado a acolher “Dores físicas e mo-
encarnados ou de- rais: o tempo da ex-
sencarnados de acor- piação. Quase sem-
do com o grau de pre, na Terra é que
adiantamento ou de in- fazeis o vosso purgató-
ferioridade moral em que rio e que Deus vos obriga a
se encontram. Esses mun- expiar as vossas faltas.” (Op.
dos classificam-se em primi- cit., questão 1013.)

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Aceitar as penas eternas é ad- ferno ao pé da letra é contradi- pode proporcionar ao homem a
mitir a existência de um Criador zer o amor que transcende de previsão do seu futuro. Virtudes
incapaz de perdoar e que conde- seus ensinos. ou defeitos aqui cultivados serão
na injustamente os que comete- os atributos da vida futura. E, de
l
ram tanto pequenas, quanto gran- acordo com a lei de afinidade,
des faltas. Existe uma visão futura mais que rege o Universo e todos os se-
Jesus inaugurou a era do Amor. plena de esperança e de amor do res da criação, automaticamente
Desfez a imagem distorcida que que a proposta por Jesus? O que o Espírito será atraído por aque-
os homens faziam de Deus e seria mais racional? Crer em uma les a quem se afinam em virtu-
proclamou a existência de um única existência, sem qualquer des ou imperfeições. A Lei Divi-
Deus “único, onipotente, sobe- fio de esperança, amargurado sob na se incumbe de aproximar os
ranamente justo e bom” (O Livro o pavor das penas eternas, sem semelhantes. Os projetos nobres,
dos Espíritos, questão 13). Sendo chance de novas oportunidades, as tarefas edificantes serão pas-
o amor a excelência de seus atri- ou acreditar nas diferentes mora- saporte para o trabalho do bem.
butos, enviou Jesus, guia e mo- das que acolhem os Espíritos de Por outro lado, os comprometi-
delo mais perfeito (O Livro dos acordo com o grau de progresso mentos delituosos agrilhoarão
Espíritos, questão 625), para con- alcançado por eles? os comparsas criminosos em re-
duzir os passos da Humanidade Deus é misericórdia, é amor. giões inferiores. O homem é o
em sua direção. Jamais suas cria- Ele perdoa suas criaturas através construtor em potencial do seu
turas seriam condenadas às pe- de novas oportunidades. futuro.
nas eternas. Se assim fosse, o E como seria? Naturalmente, As moradas espirituais, cons-
perdão, ensinado e exemplifica- pela reencarnação; tantas vezes tituídas de matéria sutil, são edi-
do pelo Cristo, não teria razão quantas necessárias, até o Espírito ficadas pela força do pensamen-
de ser. quitar os débitos com a Lei, ao mes- to. O pensamento equilibrado no
O perdão é a chave que abre as mo tempo em que edifica a pró- bem constrói maravilhas. Entre-
portas da regeneração. Eis a res- pria evolução. O Evangelho regis- tanto, as regiões inferiores, pro-
posta do Mestre quando questio- tra inúmeras referências à reen- duto das mentes em desequilí-
nado por Pedro: carnação e à vida espiritual. Essa brio, refletem os sombrios pro-
verdade, com o passar dos sécu- cedimentos em que se aprazem.
Senhor, até quantas vezes o los, foi encoberta pelos interesses Tais Espíritos, tanto se lesam com
meu irmão pecará contra vigentes da época. O homem, suas atitudes criminosas, que en-
mim, e eu lhe perdoarei? Até para preservar o poder, dissemi- terram os talentos da organiza-
sete? Jesus lhe disse: Não te nou o fantasma do medo, criando ção, da beleza, do discernimen-
digo que até sete, mas até um futuro de sofrimento atroz, to, sob os escombros da descren-
setenta vezes sete. (Mateus, que gerou a crença nas penas eter- ça, do ódio e da vingança. Am-
18:21-22.) nas. As claridades do Consolador bientados no cultivo de pensa-
prometido por Jesus vieram res- mentos e ações delituosos, con-
Em todo o Evangelho, Jesus taurar a crença na reencarnação e tinuarão, no mundo espiritual,
exalta o perdão das ofensas e, do devolver ao homem a esperança ostentando a mente em desajus-
alto da cruz, dá o maior testemu- de refazer sua jornada evolutiva. te. Sentem-se injustiçados, sem,
nho de suas palavras. A reencarnação é o perfeito contudo, admitirem que foram
A linguagem de Jesus é rica mecanismo da justiça divina. aprisionados nas próprias teias que
em metáforas e simbolismos. In- Uma análise sincera dos pen- teceram. Assim permanecem, vo-
terpretar a expressão fogo do in- samentos, das palavras e dos atos luntariamente, no reduto da dor

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educativa, até que se proponham


à recuperação do equilíbrio e da
paz. O arrependimento e a trans-
formação moral lhes abrirão as
portas de novas oportunidades.
É a manifestação da justiça divi-
na que dá a cada um segundo as
suas obras.
As regiões infelizes nada mais
são do que projeções da rebeldia
dos próprios habitantes. Toda-
via, o tempo de expiação é de du-
ração transitória, jamais eterna,
como querem os adeptos do in-
ferno. Por isso, Jesus adverte: “Co-
nhecereis a verdade, e a verdade
vos libertará”. (João, 8:32.) Lançamento do filme
Bezerra de Menezes
Por outro lado, um céu de
ociosidade e contemplação é uto-
pia. Na realidade, existem, sim,
regiões sublimadas e dinâmicas, No dia da data de nascimen- Jesus Moutinho, presidente da
em que almas enobrecidas se to de Bezerra de Menezes – 29 de Federação Espírita do Distrito
dedicam ao trabalho do bem uni- agosto –, o filme Bezerra de Me- Federal; Antonio Cesar Perri de
versal. Portanto, céu, inferno e nezes: o Diário de um Espírito foi Carvalho, diretor da Federação
purgatório, do ponto de vista teo- lançado no circuito de cinemas Espírita Brasileira e representan-
lógico, são crenças que não se sus- de cerca de 40 cidades brasileiras. do-a; e de Luís Eduardo Girão,
tentam. Allan Kardec esclarece: Anteriormente, no dia 16 de produtor do filme. Após a exibi-
agosto, foram realizadas avant- ção da película, os artistas que
A localização absoluta das re- -premières do filme Bezerra de Me- compareceram ao evento foram
giões das penas e recompensas nezes: o Diário de um Espírito em convidados para uma entrevista
só na imaginação do homem quatorze capitais brasileiras. Em com o público: Carlos Vereza
existe. Provém da sua tendên- Brasília, ocorreu numa das salas (papel de Bezerra de Menezes,
cia a materializar e circunscre- de cinema do ParkShopping. A adulto), Ana Rosa, o garoto Lu-
ver as coisas, cuja essência in- sessão cinematográfica foi pre- cas (papel de Bezerra de Mene-
finita não lhe é possível com- cedida de saudações de César de zes, criança), B. Paiva, bem co-
preender. (O Livro dos Espíri- mo os diretores Glauber Filho e
tos, questão 1012, comentário Joe Pimentel.
de Kardec.)
Carlos Vereza, Ana Rosa
e Lucas
Foi necessário que as luzes do
Consolador projetassem sua cla-
ridade sobre os homens para que
entendessem as verdades conti-
das no Evangelho de Jesus.

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Divaldo Franco
na FEB-RIO
A visita de Divaldo Pereira Fran-
co à Sede Seccional da FEB, na tar-
de de 10 de agosto passado, propor-
cionou às aproximadamente 800
pessoas ali reunidas um momento
de preciosa edificação.
Durante cerca de 90 minutos,
Divaldo discorreu, entre outros,
sobre temas da Psiquiatria e da
Psicologia, vinculando-os à fe-
nomenologia espírita, com espe-
ciais abordagens nos campos da
obsessão e da conduta humana,
tudo envolvendo numa saboro-
sa leveza de oratória que a todos zeja eficácia da aplicação dos prin- Janeiro (CEERJ), e de represen-
encantou. cípios do Evangelho a todas as si- tantes dos Movimentos Espíritas
Fatos mediúnicos em que Di- tuações em que mergulhamos, nos da Argentina e do Paraguai, res-
valdo foi protagonista, desde sua testes provacionais e nas repercus- pectivamente, Cláudia Marta Ma-
infância, e que se prolongaram sões expiatórias do passado. glio e Milcíades Lescano.
por longos 40 anos, tiveram ali o A Mesa dos trabalhos foi diri- Divaldo, após a memorável
seu desfecho exposto e comenta- gida pelo presidente da FEB, Nes- sessão, ainda fraternalmente es-
do, levando os assistentes à como- tor João Masotti, contando tam- tendeu sua permanência na Sede
ção, ao mesmo tempo em que lhes bém com a participação de Aloí- Histórica da FEB para uma ses-
eram prodigalizados profundos sio Ghiggino, diretor do Conse- são de autógrafos em livros por
ensinos sobre a poderosa e benfa- lho Espírita do Estado do Rio de ele psicografados.
Aspecto parcial do público
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FEB na 20ª Bienal do


Livro de São Paulo mação de valores éticos e na educa-
ção da criança e do adolescente, a
FEB repetiu o sucesso das Bienais
dos anos anteriores com um espa-
ço dedicado ao público infanto-ju-
venil: maquiagem artística, escultu-
ras em balões, oficina de pintura e
“Contando Histórias com a FEB”.
A onça-pintada que foi destaque na
Bienal do Rio de Janeiro em 2007 es-
teve em São Paulo junto à criançada.
Títulos infantis, com ilustrações
de traços mo-
dernos e colo-
ridos e histó-
rias que envol-
vem o imagi-
Estande da FEB durante a Bienal de São Paulo
nário infantil
A 20a edição da Bienal Interna- obras da União foram lançados
cional do Livro celebrou o encon- das Sociedades no evento. São
tro de grandes editoras. E, pela sex- Espíritas do Es- eles Cavalinho
ta vez consecutiva, a Federação Es- tado de São Paulo (USE); 42 títu- de Flores, de Magdalena del Valle
pírita Brasileira (FEB) participou los em apostilas sobre Evangeliza- Gomide, Meu Avô Desencarnou, de
do evento em 250m², com lança- ção, ESDE e estudo mediúnico etc. Daniella e Fernanda Priolli Fon-
mentos, relançamentos e autógra- A revista Reformador também teve seca e Carvalho, Perigo na Mata e
fos em um espaço literário, bate- o seu espaço. Exemplares de 2007, O Macaco Conselheiro, de Tieloy,
-papo sobre obras, atividades com 2008 e capas plásticas foram dis- Recados do Além, Um Sonho Fan-
crianças e muito mais. Junto com a ponibilizados ao público, assim co- tástico, Uma Viagem Inesquecível,
ADELER, reuniu grandes nomes do mo 4.000 exemplares do mês de A Vitória de Nélio, A Volta de Ma-
Espiritismo, em uma área de 490m² setembro que foram distribuídos riana, de Cecília Rocha em parce-
dedicados à literatura espírita. como cortesia aos que adquiriam ria com Eloína Lopes e Clara Araú-
A Editora ofereceu ao público alguma obra no estande. jo. Volta às Aulas e O Maior Brejo
mais de 400 títulos, sendo 37 do Com o objetivo de divulgar a do Mundo, de Adeilson Salles.
Conselho Espírita Internacional Doutrina Espírita, promover o há- Os autores infantis Daniella e
(CEI) nos idiomas alemão, inglês, bito da leitura desde cedo e incenti- Fernanda Priolli Fonseca e Carva-
espanhol, francês e húngaro; 16 var a importância dos livros na for- lho, Clara Araújo, Magdalena del

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Valle Gomide e Adeilson Salles esti- diuns e O Evangelho segundo o Es-


veram presentes autografando suas piritismo, traduzidas por Evandro
obras, participando das atividades Noleto, foram bem recebidas pelo
do espaço infantil e recebendo o público.
carinho de crianças, pais e educa- Com o propósito de massificar
dores que visitaram o estande. a divulgação da Doutrina Espíri-
Além desses, outros autores ta, a Editora levou para o evento:
convidados pela FEB, para disse- catálogo dos livros em português
minar o estudo e a doutrina espí- e em outros idiomas, marcadores
rita ao público adulto, estiveram de páginas, primeiros capítulos,
presentes: Gerson Simões Mon- adesivos dos livros infantis etc.
teiro (No Roteiro de Jesus), Aproximadamente 240 mil
Geraldo Campetti So- materiais foram distri-
brinho (organiza- buídos aos visitan-
dor de O Espiritis- tes do estande.
mo de A a Z e da A repercussão
Revista Espírita, da FEB na Bie-
Títulos do CEI
1858-1859 – Índi- nal alcançou não
ce Geral), Evan- apenas o grande ao público a certeza do trabalho de
dro Noleto Bezer- público presen- qualidade da FEB, que não mediu
ra (tradutor de O te, mas também esforços para levar a todos material
Evangelho segundo o aqueles ouvintes de literário de excelente apresentação,
Espiritismo e O Livro dos emissoras como a Rádio com valioso conteúdo doutrinário.
Médiuns) e Dalva Silva Souza, au- Rio de Janeiro, a Rádio Boa Nova Os livros mais vendidos foram:
tora de Os Caminhos do Amor. e a da Legião da Boa Vontade, que O Evangelho segundo o Espiritis-
Os livros infantis mais vendidos puderam ouvir entrevistas de au- mo (nova tradução), Minha Vida
foram: Meu Avô Desencarnou, de tores e do presidente Nestor João em outra Vida, Nosso Lar, No Ro-
Daniella e Fernanda Priolli Fonse- Masotti, ao longo do evento. teiro de Jesus, Meu Avô Desencar-
ca e Carvalho, e O Segredo da On- Momentos de descontração, nou, O Livro dos Espíritos, Jesus no
ça-Pintada, de Adeilson Salles. união pela literatura, divulgação do Lar, O Segredo da Onça-Pintada,
No cenário adulto, as obras O Espiritismo foram intensos duran- O Espiritismo de A a Z e Memó-
Livro dos Espíritos, O Livro dos Mé- te os onze dias de Bienal, trazendo rias de um Suicida.

Espaço infantil com várias atrações para as crianças

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Cristianismo Redivivo
O candidato a discípulo
“[...] O Compositor compõe uma música, e a obra está terminada. O Escultor
cinzela o seu mármore, e um dia a estátua está acabada. Mas a tarefa do
exegeta nunca tem fim. Ele pode parar, apenas, para registrar, um tanto
timidamente, as suas descobertas em certo ponto do tempo, orando para
que elas tenham alguma utilidade para outras pessoas, e para que ele
1
tenha sido fiel ao que lhe foi dado, até então. [...].”

HAROLD O DUTRA DIAS

N
a visão profética de Jere- a discípulo pede a Jesus a conces- nazireu (Levítico, 21:10-11; Núme-
mias, Deus compara sua pa- são de tempo, antes de aceitar o ros, 6:6-7).
lavra com “um martelo que convite para segui-lo; eis o texto: Não ser sepultado era uma mal-
despedaça a rocha” (Jr., 23:29). E o dição, uma vergonha (Deuteronô-
Talmud comenta: “Tal qual a rocha E disse a outro: Segue-me. Mas, mio, 28:26; Salmos, 79:2), razão pe-
que se parte em muitos fragmentos ele disse: Permite-me ir primei- la qual o dever do sepultamento
sob o golpe do martelo, assim cada ro enterrar meu pai. Mas, ele tinha primazia sobre o estudo da
palavra do Santíssimo, bendito seja, respondeu: Deixa que os mor- Lei, o serviço do Templo, o sacri-
foi dividida em setenta expressões” tos enterrem seus mortos; tu, fício da Páscoa, a observância da
(B. Shabat, 83b) – uma multiplici- porém, vai e proclama o Reino circuncisão, a recitação do Shemá
dade de significados e interpreta- de Deus. (Lucas, 9:59-60.) e a leitura da Megillah (B. Berak-
ções. Por esta razão, diz o Midrash hot 3a; B. Megillah 3b). Até os sa-
que “a Torah2 tem setenta faces” Muitos intérpretes acreditam cerdotes, que deveriam evitar a
(Midrash Rabá, Números, 13:15). que o pai acabara de morrer ou es- contaminação do contato com ca-
Advertidos da complexidade tava prestes a expirar. Nesse caso, o dáveres, tinham permissão para
que envolve a atividade do intér- candidato a discípulo pedia singela sepultar seus pais (Levítico, 21:2-3).
prete das Escrituras, podemos exa- permissão para oferecer ao cadáver A questão, posta nestes termos,
minar a bela passagem do Evange- do genitor a bênção da sepultura. oferece enormes dificuldades ao
lho de Lucas, na qual o candidato O sepultamento dos pais era exegeta. Joaquim Jeremias salien-
considerado um dever religioso dos tou algumas delas:
judeus, uma espécie de desdobra-
1
BAILEY, Kenneth E. Through peasant mento do mandamento “honrar [...] Ao chamar para o círculo
eyes. Michigan: Eerdmans Publishing
pai e mãe”. (Gênesis, 50:5; Êxodo, dos discípulos que o acompa-
Company, 1983. Preface, p. 7.
2
20:12; Deuteronômio, 5:16; Tobias, nhavam, Jesus imprimiu um
Torah, em sentido amplo, significa a “re-
velação divina”. Em sentido estrito, signifi-
4:3-4.) Desse dever estavam isen- tom de urgência ao seu apelo. A
ca o pentateuco mosaico, ou seja, os cinco tos somente o sumo sacerdote e Eliseu foi permitido despedir-se
primeiros livros da Bíblia hebraica. aqueles que fizeram o voto de da sua família (1Rs., 19:20), mas

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Jesus não concede essa licença Allan Kardec resume magistral- [...] O segundo (discípulo) está
(Lc., 9:61), e até mesmo rejeita mente essa idéia: olhando para um futuro longín-
o pedido de um filho que roga quo, pois adia sua decisão de se-
se lhe permita cumprir o mais Sem discutir as palavras, deve-se guir Jesus para um tempo poste-
elementar dever de um filho, a aqui procurar o pensamento, que rior à morte do seu pai [...]. Se o
saber, o de sepultar o seu pai. O era, evidentemente, este:“Os inte- seu pai tivesse realmente morri-
sepultamento se fazia na Pales- resses da vida futura prevalecem do, por que naquele exato mo-
tina no próprio dia da morte e sobre todos os interesses e todas mento ele não estava velando o
em seguida faziam-se dois dias as considerações humanas”, por- corpo dele? Na verdade, ele pre-
de luto, quando a família enlu- que esse pensamento está de tende adiar o assunto de seguir
tada recebia as expressões de acordo com a substância da dou- Jesus para um futuro distante,
condolência. Jesus não pode trina de Jesus, ao passo que a idéia quando o seu pai, velho, morres-
conceder essa prorrogação. Por de uma renunciação à família se- se. Mal sabe ele que Jesus, den-
que tanta urgência? [...].3 ria a negação dessa doutrina.4 tro de muito pouco tempo en-
tregará o seu espírito. [...].6
Observando essa primeira “fa- Os comentaristas orientais, por
ce” da interpretação do texto, con- sua vez, considerando os aspectos Kenneth Bailey, após ter vivido
cluímos que a exigência de Jesus é culturais do texto, fazem observações 47 anos em comunidades agríco-
superior à de Elias, que permitiu interessantes. Ibn al-Salibi comenta: las do Oriente Médio, pesquisan-
a Eliseu despedir-se de seus pais do os aspectos culturais e literá-
(1Reis, 19:19-21), mas iguala-se Deixa-me ir sepultar significa: rios que estão por trás dos textos
à exigência de Deus, que não per- deixa-me ir e servir meu pai en- do Novo Testamento, afirma:
mitiu ao profeta Ezequiel fazer lu- quanto ele é vivo; depois que ele
to por sua mulher (Ez., 24:15-24). morrer, eu o sepultarei e virei.5 [...] A frase “enterrar o pai” é
Jesus redefine o núcleo familiar expressão idiomática tradicio-
sobre as bases da obediência à von- A mesma idéia é apresentada nal que se refere especificamen-
tade de Deus, e não sobre os laços pelo comentarista árabe Sa’id: te aos deveres do filho de ficar
sangüíneos (Mateus, 12:46-50), em casa e cuidar de seus pais até
advertindo que o discipulado é 4
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o que eles jazam em paz, para
duro, e exige um compromisso espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, descansar com todo o respeito.
2007. Cap. XXIII, item Abandonar pai,
absoluto e permanente.
mãe e filhos.
5 6
IBN AL-SALIB, apud BAILEY, Kenneth SA'ID, apud BAILEY, Kenneth E. Through
3
JEREMIAS, Joaquim. Teologia do novo E. Through peasant eyes. Combined Edi- peasant eyes. Combined Edition. Michi-
testamento. São Paulo: Editora Hagnos, tion. Michigan: Eerdmans Publishing gan: Eerdmans Publishing Company,
2008. Cap. IV, p. 208. Company, 1983. Chapter 2, p. 26. 1983. Chapter 2, p. 26.

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Este escritor ouviu exatamente obstante, é exatamente isto que porquanto somente lá transcorre
esta expressão sendo usada re- Jesus requer [...].7 a verdadeira vida.8 (Grifo nosso.)
petidamente entre os habitan-
tes do Oriente Médio discutin- Observando essa segunda “face” No tocante ao ensino “deixa que
do a emigração. Em certo pon- da interpretação do texto, concluí- os mortos enterrem seus mortos”,
to da conversa alguém pergun- mos que o candidato a discípulo é valiosa a lição de Emmanuel:
ta: “Você não vai sepultar pri- pedia muito mais tempo do que o
meiro a seu pai?”. A pessoa que necessário para o sepultamento. Na O cadáver é carne sem vida, en-
interroga geralmente está se di- verdade adiava o compromisso por quanto que um morto é alguém
rigindo ao futuro emigrante, tempo indeterminado. No entanto, que se ausenta da vida. Há mui-
que tem cerca de trinta anos de a resposta de Jesus engloba as duas ta gente que perambula nas som-
idade. Geralmente, o pai em situações expostas na primeira “fa- bras da morte sem morrer.
discussão ainda deve ter cerca ce” e na segunda “face” da interpre- Trânsfugas da evolução, cerram-
de vinte anos para viver. A idéia tação. O sentido de prioridade, ur- -se entre as paredes da própria
é: “Você não vai ficar até cum- gência e devotamento exigidos pe- mente, cristalizados no egoís-
prir o dever tradicional de to- lo chamamento do Cristo perma- mo ou na vaidade, negando-se a
mar conta de seus pais até a sua nece intacto nas duas abordagens. partilhar a experiência comum.
morte, e depois pensar em emi- Allan Kardec, ao comentar os Mergulham-se em sepulcros de
grar?”. Outros coloquialismos versículos em estudo (Lucas, 9:59- ouro, de vício, de amargura e
expressam a mesma idéia cultu- -60), asseverou: ilusão. [...].9
ral. Na língua síria coloquial de
aldeias isoladas da Síria e do A vida espiritual é, com efeito, a Espiritualmente falando, apenas
Iraque, quando um filho rebel- verdadeira vida, é a vida normal conhecemos um gênero temível
de procura reafirmar a sua inde- do Espírito, sendo-lhe transitória de morte – a da consciência de-
pendência em relação ao seu pai, e passageira a existência terrestre, negrida no mal, torturada de re-
a repreensão final e contunden- espécie de morte, se comparada ao morso ou paralítica nos despe-
te do pai é: kabit di gurtly (“Vo- esplendor e à atividade da outra. nhadeiros que marginam a es-
cê quer me enterrar”). A idéia O corpo não passa de simples ves- trada da insensatez e do crime.
é: “Você quer que eu me apres- timenta grosseira que tempora- É chegada a época de reconhe-
se a morrer para que a minha riamente cobre o Espírito, verda- cermos que todos somos vivos
autoridade sobre você termine, deiro grilhão que o prende à gle- na Criação Eterna.10
e você fique por sua própria ba terrena, do qual se sente ele fe-
conta” [...]. Aqui estamos tra- liz em libertar-se. [...] Era isso o Urge atender ao chamado do
tando de expectativas da co- que aquele homem não podia por Cristo no tempo intitulado “hoje”.
munidade, que podem ser mal si mesmo compreender. Jesus lho
traduzidas em termos ociden- ensina, dizendo: Não te preocupes 8
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
tais [...]. O recruta à margem com o corpo, pensa antes no Es- espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB,
da estrada está dizendo: “A mi- pírito; vai ensinar o reino de Deus; 2007. Cap. XXIII, item 8.
nha comunidade me faz certas vai dizer aos homens que a pátria 9
XAVIER, Francisco Cândido. Fonte viva.
exigências, e a força dessas exi- deles não é a Terra, mas o céu, Pelo Espírito Emmanuel. 36. ed. 1a reim-
gências é muito grande. Certa- pressão. Rio de Janeiro: FEB, 2008. Cap. 143.
mente, o senhor não espera que 7 10
BAILEY, Kenneth E. Through peasant eyes. ______. Pão nosso. Pelo Espírito Em-
eu frustre as expectativas da mi- Combined Edition. Michigan: Eerdmans manuel. 29. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
nha comunidade, não é?”. Não Publishing Company, 1983. Chapter 2, p. 26. Cap. 42.

38 396 Reformador • Outubro 2008


reformador Outubro 2008 - b.qxp 2/17/aaaa 09:41 Page 39

Notícias do
III Encontro Nacional
de Coordenadores do ESDE

Aspecto parcial da Mesa diretora: palavra do presidente Nestor Masotti

A Federação Espírita Brasileira do da Doutrina Espírita (EADE), tornou a palavra à vice-presidente,


realizou na sua sede em Brasília, nos com vistas à melhoria do trabalho”. que falou sobre a importância, obje-
dias 25, 26 e 27 de julho de 2008, o Mesa diretora composta pela tivos e conseqüências do Estudo Sis-
III Encontro Nacional de Coorde- Federação Espírita Brasileira: pre- tematizado da Doutrina Espírita.
nadores do ESDE, cujo tema central sidente, Nestor João Masotti, vice- Em seguida, foram realizadas
foi: “Como poderei entender se al- -presidentes Cecília Rocha, Altivo duas exposições: a primeira – “Evo-
guém não me ensinar?” (Atos, 8:31). Ferreira, José Carlos da Silva Sil- lução da Campanha do ESDE no
Num clima de alegria cristã, 139 veira, e pela confreira Sônia Arru- Brasil”, por Túlia Bertoni; e a se-
participantes, entre brasileiros e es- da Fonseca, do Estado de Pernam- gunda – “Análise das principais di-
trangeiros, desfrutaram de 3 dias buco; representante da Argentina, ficuldades detectadas para o bom
de confraternização, troca de ex- Cláudia Marta Maglio; Gloria de funcionamento dos cursos”, por
periências e aprendizado. Avalos Ynsfrán, do Paraguai; e Ma- Fátima Guimarães.
Todas as regiões do Brasil manda- ria Isabel Saraiva, de Portugal. As atividades do sábado pela ma-
ram seus representantes, atestando, A vice-pesidente Cecília Rocha nhã começaram com trabalhos em
assim, a importância do evento, que procedeu à abertura oficial, passan- grupo, em que foram estudadas as
teve como objetivo geral: “Reunir os do em seguida a palavra para o pre- principais dificuldades relatadas pe-
Coordenadores dos Cursos de Estu- sidente Nestor Masotti, que teceu las Federativas na execução dos cur-
do Sistematizado da Doutrina Espí- alguns comentários a respeito do sos, com base nos seguintes temas:
rita (ESDE) e do Estudo Aprofunda- evento, proferiu a prece inicial e re- a) “Importância do trabalho em

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Aspecto parcial do público

equipe”; b) “Auto-sustentabilida- “Como organizar cursos de capaci- uma grande oportunidade de in-
de do ESDE nas casas espíritas”; c) tação de coordenador/monitor do teração e troca de experiências
“Comprometimento com a tarefa”; ESDE”; c) “Apresentação do pro- entre as diversas regiões do Brasil,
d) “Curso de Capacitação de Mo- grama do Estudo Aprofundado da além de momentos de reflexão so-
nitores do ESDE”; e) “Resistência Doutrina Espírita (EADE)” – Hé- bre a grande tarefa de levar o co-
ao aperfeiçoamento do trabalho”. lio Blume; d) “A busca da qualida- nhecimento espírita, de forma
À tarde, coordenadores e mo- de no ESDE” – Regina Severino. consciente e segura, a todos os re-
nitores continuaram acompa- No domingo, após uma breve cantos em que for solicitado.
nhando atentamente as atividades exposição da vice-presidente Cecí- No encerramento, em todos os
estabelecidas na pauta, cujo con- lia Rocha sobre “Definição de me- rostos transparecia a emoção ver-
teúdo programático, baseado nos tas para o IV Encontro em 2013”, dadeiramente cristã pela oportu-
objetivos específicos, foi o seguin- os grupos voltaram a se reunir pa- nidade aproveitada e o desejo sin-
te: a) Apresentação do atual pro- ra tratar desse assunto; logo depois, cero de seguir, mais do que nunca,
grama do ESDE – Marta Antunes em Plenário, apresentaram as pro- apesar das dificuldades inerentes
de Oliveira Moura; b) Seminário postas de metas para o qüinqüê- a cada um, a recomendação de Je-
com as expositoras Rute Ribeiro, nio (2009-2013). sus: “Importa, porém, caminhar
Inês de Carvalho de Mário e Regina A realização do III Encontro hoje, amanhã e no dia seguinte”.
Severino, que trataram do tema: proporcionou aos participantes (Lucas, 13:33.)

Importância e objetivo do ESDE


Palavras iniciais da vice-presidente Cecília Rocha na abertura do III Encontro
Nacional de Coordenadores do ESDE

Ao iniciarmos o III Encontro correu o Brasil e transpôs suas Passados 33 anos desde a men-
nacional de dirigentes do ESDE, fronteiras. sagem do Espírito Angel Aguarod,
após 25 anos de sua vigência em Essa campanha inspirada por em 1975, pensamos em pedir uma
Âmbito Nacional, cumpre-nos, Angel Aguarod a um grupo de es- avaliação do trabalho a esse deno-
em primeiro lugar, reportar-nos píritas no Rio Grande do Sul, pelos dado mentor espiritual.
ao surgimento da idéia e do for- idos de 1975, percorreu os Estados Como, porém, obter o contato
mato que, após, foi impresso à do Sul até chegar à FEB em 1983, com o inspirador do ESDE?
idéia, resultando no que hoje de- tornando-se um acontecimento de Consultamos, para isso, o con-
nominamos ESDE que, se tor- ampla repercussão no Movimen- sagrado médium e grande amigo
nando campanha nacional, per- to Espírita de modo geral. Divaldo Pereira Franco que, a

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nosso pedido, concordou em ser ta de todos nós que nos empenha- É um prolongamento do ESDE
intermediário de uma “entrevista” mos, com afinco, no lançamento e e com este se identifica pela meto-
nossa com o nobre companheiro acompanhamento da tarefa de di- dologia adotada e pela organização
espiritual, que aquiesceu com a vulgação doutrinária pelo estudo. dos programas de estudo. Sem dú-
melhor boa vontade.1 Preservados os valores acima re- vida, sua abrangência é maior em
De início, foi-lhe dirigida a se- ferenciados, que embasam os pro- termos de conteúdo, e seus conteú-
guinte pergunta: gramas de estudo utilizados no dos, por sua vez, são vistos numa
“Podemos dizer que o trabalho ESDE, cabe-nos, após este Encon- profundidade crescente. Represen-
que vem sendo desenvolvido na tro de Âmbito Nacional, um es- ta, como aprendizado, um passo à
Área do Estudo Sistematizado da forço concentrado no sentido de frente nessa cadeia de materiais que
Doutrina está de acordo com a se implantarem, cada vez mais, favorece o estudo da Doutrina Es-
Programação do Plano Espiritual?” turmas de estudo e de se realiza- pírita e sua assimilação por parte
Respondendo, entre outras con- rem cursos de capacitação de de todos os seus estudiosos.
siderações, disse o benfeitor: “Ela- orientadores ou monitores para Cremos que, em breves e sucin-
borado no Plano Espiritual por no- essas turmas, criando uma cadeia tas palavras, tenhamos podido co-
bres educadores desencarnados, harmônica de providências neces- locar bem a finalidade do Estudo
responsáveis pelo progresso mo- sárias para o crescimento da cam- Apronfudado da Doutrina Espíri-
ral das criaturas humanas, e trans- panha no ritmo desejado. ta, que faz parte deste Encontro,
ferido para a Terra mediante ins- Os assuntos, aqui veiculados, o atendendo à solicitação dos espí-
piração aos lidadores da divulgação exame das providências já toma- ritas que insistem em continuar,
do Espiritismo nos seus três as- das e a serem tomadas, a troca de segundo suas reiteradas manifes-
pectos, constatamos que a aplica- experiências e a solução das dúvi- tações, a estudar, de forma metó-
ção dos valores doutrinários vem das na execução das tarefas, por dica e em grupos, após a conclu-
obedecendo à planificação inicial, certo, favorecerão muito a marcha são do ESDE.
sem qualquer retoque”. ascensional do trabalho.
Evidentemente, quando Angel Nesse momento, vale lembrar
Aguarod diz – “sem qualquer re- que na programação deste even-
toque” – refere-se aos valores to está inserido o que se con-
doutrinários, pois a organização vencionou chamar Estudo
do trabalho, a nosso encargo, ain- Aprofundado da Doutrina
da enfrenta muitas dificuldades, Espírita, conhecido pela si-
tais como: falta de monitores, de gla EADE, cujo surgimento
salas de aula, de preparo doutri- se deve ao gosto dos espíri-
nário e pedagógico, de recursos tas em estudar a Doutrina
audiovisuais, de lideranças, de Espírita de forma sistemati-
material de referência, entre ou- zada e participativa, tal qual
tras tantas deficiências. acontece no ESDE, onde o estu-
Mas, segundo o preclaro com- do, em conjunto com várias pes-
panheiro desencarnado, os “valo- soas, favorece o aprendizado,
res espirituais” foram preserva- estabelecendo, ainda, sólidos la-
dos, o que significa uma conquis- ços de amizade.

1
N. da R.: A entrevista foi publicada em
Reformador de março/2008, p. 8(86)-11(89).

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Seara Espírita

Alagoas: Seminário sobre Mediunidade promoveu, nas dependências da Comunidade Espíri-


A Federação Espírita do Estado de Alagoas (FEEAL), ta Cairbar Schutel, no dia 21 de setembro, o Encontro
promoveu nos dias 6 e 7 de setembro, no Hotel Ma- de Estudos Espíritas Cairbar Schutel.
ceió Atlantic, o 7o Fórum de Debates Espíritas de
Alagoas, realizando o seminário “Kardec e a Mediu- Chile: Seminário sobre Mediunidade
nidade. 147 anos de O Livro dos Médiuns”. O evento O Centro de Estudios Espiritas Buena Nueva, de San-
contou com a atuação de Ruth Salgado e Marta tiago do Chile, que representa aquele país junto ao
Antunes de Oliveira Moura, diretora da FEB. Conselho Espírita Internacional, promoveu um se-
minário sobre Mediunidade nos dias 22, 23 e 24 de
Santa Catarina: Encontro sobre Mediunidade agosto, contando com a atuação de Marta Antunes
Com o apoio da Federação Espírita Catarinense de Oliveira Moura, diretora da FEB, e de Esther Fre-
(FEC), realizou-se, nos dias 6 e 7 de setembro, o 8o gossi Gonzáles, de Santa Catarina.
Encontro Estadual na Área da Mediunidade, com a
Equipe do Projeto Manoel Philomeno de Miranda, Pernambuco: Mostra Espírita
nas dependências do Hotel Cambirela, em Florianó- A Federação Espírita Pernambucana (FEP), realizou,
polis. Informações: www.fec.org.br no Teatro Guararapes do Centro de Convenções de
Pernambuco, nos dias 27 e 28 de setembro, a Mostra
Tocantins: Congresso Espírita Espírita 2008, com o tema central “A Gênese sob a
A Federação Espírita do Estado do Tocantins ótica espírita – 140 anos”, desdobrado em vários
(FEETINS) promoveu o I Congresso Espírita do Estado subtemas, abordados por Ana Guimarães (RJ), Geral-
do Tocantins, nos dias 6, 7 e 8 de setembro, em Palmas. do Guimarães (RJ), Cosme Massi (PR), Joselma Maria
Os expositores José Raul Teixeira e Alberto Almeida Coelho (MG) e outros expositores de Pernambuco.
se revezaram entre os dois públicos: juventude e
adultos. Informações: congressoespirita@feetins.org.br Bahia: Semanas Espíritas
• Vitória da Conquista: A União Espírita de Vitória
Rio de Janeiro: Encontro de Divulgação da Conquista promoveu sua 55a Semana Espírita, no
O Conselho Espírita do Estado do Rio de Janeiro período de 7 a 14 de setembro, com o tema central
(CEERJ) promoveu o III Encontro Estadual Espírita “Reencarnação – Uma questão de justiça”, desenvol-
de Divulgação, no dia 14 de setembro, com o tema vido através de palestras e seminários, pelos expo-
central “Os Veículos de Comunicação para Divulga- sitores: Divaldo Pereira Franco (BA), José Raul Tei-
ção do Espiritismo: O que faria Kardec hoje, que nós xeira (RJ), Marcel Mariano (BA), Alkíndar de Olivei-
ainda não fazemos?”. A conferência inicial foi profe- ra (SP), Adenáuer Novaes (BA), Merlânio Maia (PB),
rida por Carlos Augusto Abranches. O Encontro ho- André Luiz Peixinho (BA), Wesley Caldeira (MG) e
menageou o Sesquicentenário da Revista Espírita e Cláudio Amorim.
contou com a realização de 15 oficinas. Informações: • Feira de Santana: A 30a Semana Espírita de Feira de
diretoria@ceerj.org.br Santana foi realizada entre os dias 27 de setembro e
1o de outubro, com palestras em homenagem aos
Matão (SP): Homenagem a Cairbar Schutel 140 anos de A Gênese. Atuaram como conferencistas
Em comemoração aos 140 anos de nascimento do Divaldo Pereira Franco, José Raul Teixeira, Ary Qua-
pioneiro Cairbar de Souza Schutel, chamado “O Ban- dros, Spencer Júnior e Antonio Cesar Perri de Car-
deirante do Espiritismo”, a USE Municipal de Matão valho, diretor da FEB.

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