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“...

Poético habita
o homem...”

Martin Heidegger

Tradução: Francisca Rutigliano


“...Poético habita o homem...”1

A palavra é retirada de um poema de Hölderlin legado tardia e peculiarmente. Ela


inicia: “No plácido azul floresce a torre da igreja com o metálico coruchéu...” 2 Para que
ouçamos bem a palavra “...poético habita o homem...”, devemos devolvê-la cuidadosamente
ao poema. Por esta forma consideremos a palavra. Aclaremos as dúvidas que ela igualmente
desperta. Pois senão através disto falta-nos a livre disposição para responder à palavra
acompanhando-a.
“...poético habita o homem...” Quando muito, gosta-se de imaginar que os poetas
habitam poeticamente. Contudo, por respeito ao “homem”: cada homem e sempre, como se
pode achar que ele habite poético? Não permanece todo habitar inconciliável com o poético?
Nossa habitar é afligido pela crise habitacional. E mesmo que isso fosse diferente, nosso
habitar hoje é acossado pelo trabalho, atormentado pela caça de vantagem e êxito,
enfeitiçado pelo lazer e pelas férias de trabalho. Mas, no habitar atual onde permanece ainda
espaço e tempo reservado para o poético é, quando ocorre, em uma ocupação com as belas
letras, seja com sua escrita ou veiculação. A Poesia [Die Poesie]3 ou bem é renegada
enquanto um anseio perdido e um vôo no irreal e negada enquanto fuga para o idílico ou bem
se considera a poesia [die Dichtung] como literatura. Avalia-se a importância delas em função
da escala de medida da atualidade. O atual por sua vez é produzido e guiado pelos órgãos de
formação da opinião pública. Um de seus funcionários, isto é, um dos seus promotores e, ao
mesmo tempo, promovidos é a indústria literária. Assim, a poesia não pode aparecer como
nada mais que literatura. Onde ela é contemplada sob a forma da educação e da ciência,
torna-se objeto da história da literatura. A poesia ocidental transita sob o título genérico de
“Literatura européia”.
Mas se a poesia de antemão tem a forma da sua existência unicamente no literário,
como deverá o habitar humano fundar-se no poético? A palavra, o homem habita poético,
descende, tão-somente de um poeta, e na verdade daquele que, como se ouve dizer, não deu
conta da vida. A arte dos poetas é essa que faz vista grossa ao real. Em vez de realizar, eles
sonham. É apenas imaginado aquilo que eles fazem. Imaginações são feitas à vontade. Fazer
chama-se em Grego Ποίησις. O habitar do homem deve ser Poesia e deve ser poético? Isto
1
“...DICHTERISCH WOHNET DER MENSCH...” In Vorträge und Aufsätze. Verlag Günther Neske. Stuttgart, 1954.
2
In lieblicher Bläue... In Kleinen Stuttgart Hölderlin-Ausgabe, v.2, p. 372. Stuttgart, 1953
3
Heidegger procura ressaltar e manter a relação entre a variegada semântica dos termos poesia e poético provenientes da
língua Grega e a semântica dos termos alemães Dichten, Dichtung, Dichter. No que concerne à sua origem grega, a poesia
consagra-se como ato original de instituição, fundação, de ponência da linguagem relativamente ao sentido do Ser. No que
concerne à sua origem Indogermânica, a poesia ressalta o seu caráter de fortalecimento, solidificação, adensamento
repousado nas antigas palavras dihte, tihte donde se origina o termo dicht (denso, espesso, fechado), aparentado com o verbo
e o adjetivo gedeihen, gediegen (prosperar, atingir grande porte; e sólido, puro, maciço respectivamente). Daí o termos
alemães Dichten e Dichtung (dihton, tihton), o primeiro significando, ao mesmo tempo, o fechar, o impermeabilizar, o
calafetar e o compor, o poetar; e o segundo, a impermeabilização, a calafetagem e também a poesia e o poema. Quanto ao
fato dos termos de origem alemã haverem sido, a partir do século IX, apreendidos como transliteração do termo em latim
dictare, isto talvez se explique enquanto realização de uma associação semântica entre os termos latino e grego. Pois o ditar
latino significa, além de um dizer com vista a um escrever, um impor e um prescrever. A poesia, no sentido grego da palavra,
enquanto fundadora, im-põe e pre-screve. Se considerarmos que adensar, impermeabilizar é enquanto preparar, um capacitar,
vemos que os termos alemães associam-se de um lado ao termo latino e de outro ao grego. Ou seja, Dichten e Dichtung, o
fechar (compor), o impermeabilizar e a preparação constituem o processo mesmo de uma ponência fundadora, de uma
ποίησις. Considerando a opção de Heidegger por sustentar a ambivalência semântica das duas inscrições adotadas, para
discutir a problemática da poesia, optamos por traduzir a palavra de origem Grega, com letra maiúscula, indicando a arte
poética em seu sentido ontológico, isto é, na constituição estrutural do seu Ser próprio enquanto fundação primordial, e as
palavras de origem alemã, com letra minúscula para indicar a poesia em seu desdobramento fáctico no âmbito da existência,
na qual vem à luz também como obra de arte.
só pode ser aceito por quem está alheio à realidade e não quer ver em que situação se
encontra a vida histórica e social do homem atual – que os sociólogos nomeiam o coletivo.
Mas, antes que esclareçamos de modo tão grosseiro o habitar e o poetar ela
incompatibilidade seria preferível reparar com sobriedade na palavra do poeta. Ela fala do
habitar do homem. Ela não descreve as condições do habitar atual. Sobretudo, ela não afirma
que o habitar signifique ocupar uma casa. Ela também não diz que o poético se esgota num
jogo irreal da força da imaginação poética. Quem, pois, entre os pensantes poderia, sem
refletir e a partir de uma superioridade discutível, arrogar-se a declarar que o habitar e o
poético sejam inconciliáveis? Talvez ambos se conciliem. Mais ainda, talvez um carregue o
outro, assim de modo que o habitar se baseie no poético. Se nós presumimos decerto tal
coisa, então nos é exigido pensar o habitar e o poetar a partir de sua essência. Se não nos
opomos a essa exigência, então pensamos isto que se costuma chamar a existência do
homem, a partir do habitar. Com isto, sem dúvida, deixamos de nos conduzir pela
representação cômoda do habitar. Segundo ela o habitar permanece só um procedimento do
homem entre tantos outros. Trabalhamos na cidade, no entanto habitamos fora. Estamos em
viagem e habitamos ora aqui ora lá. Assim pensado, o habitar é sempre apenas o ocupar de
um alojamento.
Quando Hölderlin fala do habitar, ele expõe o traço fundamental do existir [Dasein]
humano. Mas, ele mira o “poético” a partir da relação com este habitar compreendido
essencialmente.
Isto não significa decerto que o poético seja apenas um ornamento e um suplemento
para o habitar. O poético do habitar também não supõe só que ele de algum modo advenha a
todo habitar. Antes a palavra diz: “... poético habita o homem...”: o poetar faculta ao habitar
ser antes de tudo um habitar. Poetar é o deixar-habitar próprio. Entretanto, por onde
chegamos a uma habitação? Através do construir. Poetar é, enquanto deixar-habitar, um
construir.
Assim estamos diante de uma dupla exigência: uma a de pensar o que se nomeia a
existência do homem a partir da essência do habitar, a outra, a de pensar a essência do
poetar enquanto deixar-habitar, enquanto um construir e, até mesmo, enquanto o construir
aqui caracterizado. Procuremos a essência da poesia segundo a perspectiva agora adotada e
chegaremos à essência do habitar.
Entretanto, de onde nós, homens, havemos de obter a informação sobre a essência do
habitar e do poetar? Donde toma o homem o direito de chegar até a essência de uma
matéria? O homem só pode tomar esse direito daí de onde ele o recebe. Ele o recebe da
orientação da linguagem. Decerto, desde que ele já tenha reparado na essência própria da
linguagem e enquanto ele o tenha. Todavia, paira em torno do planeta um desenfreado, mas,
ao mesmo tempo, ágil falar, escrever e expedir do que é dito. O homem se dá ares de ser ele
o formador e o mestre da linguagem, ao passo que ela permanece, no entanto, a soberana do
homem. Quando esta relação de poder se inverte, decai então o homem numa estranha
manobra. A linguagem torna-se um meio de expressão. Enquanto expressão a linguagem só
pode ser paulatinamente rebaixada a mero poder de opressão. Que também, com tal
emprego da linguagem, mantenha-se ainda o cuidado com a fala, decerto isto é bom.
Contudo, apenas isto não ajuda nunca no comércio da verdadeira relação de poder entre a
linguagem e o homem. Pois o que fala propriamente é a linguagem. O homem fala tão-
somente na medida em que ele corresponde à linguagem, na medida em que ele ouve a
orientação dela. Entre todas as orientações que nós homens podemos nos trazer, a partir de
nós, com a fala, a linguagem é a mais elevada e primordial. A linguagem nos acena do início
ao fim com a essência de uma matéria. Contudo, isto não significa, de modo algum, que cada
significação da palavra apanhada ao acaso forneça já a essência transparente de uma
matéria de modo direto e definitivo como com um objeto pronto. Mas o corresponder a partir
de onde o homem ouve propriamente a orientação da linguagem é aquele dizer que fala no
elemento do poetar. Quanto mais o poeta é coeso [dichtender], tanto mais o seu dizer é livre,
isto é, mais é aberto e preparado para o imprevisível, tanto mais ele deixa com maior pureza
ao critério do ouvir diligente o seu dito, e tanto mais distante está o seu dito do mero
enunciado, este sobre o qual se discute apenas por respeito à sua exatidão ou inexatidão.

“... poético, habita o homem...”,

diz o poeta. Ouvimos nitidamente a palavra de Hölderlin quando a devolvemos ao poema do


qual descende. Ouçamos primeiramente só os dois versos, dos quais esta palavra foi extraída
e através disso encurtada. Eles rezam:

“Cheio de mérito, contudo poético, habita

O homem sobre esta Terra”.

O tom fundamental dos versos vibra na palavra “poético”. Esta se acentua de acordo
com duas perspectivas: através da que a antecede e da que a segue.

As palavras que a antecedem: “Cheio de mérito, contudo...” Isto soa quase como se a
palavra seguinte “poético” refletisse uma limitação no habitar cheio de mérito do homem.
Entretanto, é o inverso o que se dá. A limitação é denominada através da volta ao “Cheio de
mérito”, rumo ao qual devemos pensar um “na verdade”. O homem, na verdade, se faz
amplamente merecedor com o seu habitar. Pois o homem assiste ao crescimento das coisas
da Terra e cuida do que foi incrementado a ela. Assistir e cuidar (colere, cultura) é uma forma
do construir. Contudo, o homem constrói não apenas o que se desdobra a partir de si em um
crescimento, mas constrói também no sentido do aedificare, na medida em que ele erige o
que não pode germinar nem vingar através do crescimento. As construções, neste sentido,
não são apenas os edifícios e as estruturas, mas todas as obras aviadas pela mão e pela
execução do homem. Contudo, os méritos desse múltiplo construir não preenchem nunca a
essência do habitar. Ao contrário, eles até mesmo apagam ao habitar a sua essência, pelo
tempo que eles sejam adquiridos e alcançados pura e simplesmente em vista a eles mesmos.
Pois, com efeito, os méritos, por sua abundância, fazem força precisamente para se fazer
passar por inteiro pelo habitar nos limites do construir acima nomeado. Mas este obedece ao
cumprimento das necessidades do habitar. O construir, no sentido do construtor assistir do
crescimento e do erigir de estruturas e obras e do preparo de utensílios é já uma
conseqüência essencial do habitar, mas de modo algum o seu fundamento ou a sua
fundamentação. Este deve se dar em um outro construir. O construir habitual e com
freqüência exclusivamente posto em movimento e, por isto mesmo, o único conhecido traz, na
verdade, a abundância dos méritos ao habitar. Contudo, o homem só consegue o habitar uma
vez que haja construído já em um outro modo e construa e permaneça tencionando construir.

“...Cheio de mérito (na verdade), contudo poético, habita o homem...” A seguir no texto
as palavras: “sobre esta Terra”. Poder-se-ia tomar por supérfluo este aditamento; pois habitar
significa já: o residir do homem sobre a Terra, sobre “esta” que todo mortal se sabe confiado e
exposto.

Entretanto, quando Hölderlin ousa dizer que o habitar dos mortais é poético, isto mal é
dito e já desperta a aparência que precisamente o habitar “poético” arranca os homens da
Terra. Pois, não obstante, o “poético” [dichterische] concerne, quando ele se faz valer
enquanto Poética [Poetiche], ao reino da fantasia. O habitar poético sobrevoa, fantástico, o
real. O poeta confronta-se com este receio, na medida em que ele diz propositalmente que o
habitar poético é o habitar “sobre esta Terra”. Assim, Hölderlin preserva o “poético” não só de
uma previsível incompreensão, mas ainda, através do suplemento das palavras “sobre esta
Terra”, aclara expressamente a essência do poetar. Este não sobrevoa nem ultrapassa a
Terra para abandoná-la e pairar sobre ela. O poetar traz o homem sobre esta Terra, a ela,
trazendo-o, assim, ao habitar.

“Cheio de mérito, contudo poético, habita

O homem sobre esta Terra”.

Sabemos agora em que medida o homem habita poético? Ainda não o sabemos.
Caímos até mesmo no perigo de nos pormos alheios à palavra poética de Hölderlin. Pois
Hölderlin, na verdade, nomeia o habitar do homem e o seu mérito, mas ele não implica,
contudo, o habitar numa conexão com o construir, como se deu há pouco. Ele não fala do
construir nem no sentido do cuidar, do assistir e do erigir, nem fala que concebe o poetar
como uma forma própria do construir. Por conseguinte, Hölderlin fala do habitar poético não o
igual que o nosso pensar. Não obstante isso, nós pensamos o Mesmo que Hölderlin poeta.
Certamente, trata-se aqui de reparar no essencial. Um breve parêntese faz-se
necessário. O poetar e o pensar encontram-se no mesmo tão-só e enquanto permaneçam
firmes na distinção de sua essência. O mesmo não se recobre com um igual, nem com a
vazia indiferença do mero idêntico. O igual se extravia sempre no indiferente, para que tudo
se ajuste neste. Em contrapartida, o mesmo é a co-pertença do distinto a partir da reunião
pela diferença. O mesmo só se deixa dizer quando a diferença é pensada. No ajuste do
diferente, a essência conjuntiva do mesmo vem à luz. O mesmo extirpa todo afã em nivelar o
distinto ao igual. O mesmo conjuga o diferente numa união originária. Em contrapartida, o
igual se dispersa na insípida unidade do Um meramente uniforme. Hölderlin, ao seu modo,
sabia dessas relações. Ele diz em um epigrama, que traz o título: “A raiz de todo mal”, o
seguinte:

Ser unido é divino e bom, donde, pois, vem o vício


Entre os homens, que só um e o Um somente o seja4?

Quando consideramos o que Hölderlin poeta acerca do habitar poético do homem,


pressentimos, através do que foi distintamente pensado, um caminho ao longo do qual nós
nos avizinhamos ao Mesmo, que o poeta poetou.
O que diz Hölderlin do habitar poético do homem? Procuramos a reposta para a
questão, na medida em que ouvimos a respeito os versos 24 a 38 do poema nomeado. Pois a
partir de sua esfera se esclarecem finalmente ambos os versos proferidos. Hölderlin diz:

“Pode um homem, quando puro esforço a vida,


Erguer os olhos e dizer: assim
Quero eu ser também? Sim. Enquanto ainda perdure a amabilidade
Junto ao coração, a pureza, meça-se
Sem infelicidade o homem
Com a Divindade. É desconhecido Deus?
É ele manifestável como o céu? Isto
4
Hölderlin distingue no termo “um” a seu caráter de numeral “Einer” e de substantivo “Eines” através das desinências do
vocábulo. Procuramos evidenciar a distinção indicada pelo poeta transcrevendo o numeral com letra minúscula, e o
substantivo com letra maiúscula acompanhado do artigo definido.
O creio mais. A medida do homem é essa.
Cheio de mérito, contudo poético habita
O homem sobre esta Terra. Sim, mais pura
Não é a sombra da noite com as estrelas,
Se assim posso dizer, que
O homem, que evoca uma imagem da Divindade.
Há na Terra uma medida? Nenhuma há.”

Meditemos um pouco a partir destes versos, e, na verdade, com o único intuito de ouvir
claramente o que Hölderlin pensa quando nomeia o habitar do homem um habitar poético. Os
primeiros versos lidos (24 a 26) nos dão um aceno. Eles figuram na forma de uma pergunta
respondida afirmativamente com toda certeza. Esta circunscreve, já quase imediatamente, o
que pronunciam os esclarecedores versos:

“Pode um homem, quando puro esforço a vida,


Erguer os olhos e dizer: assim quero eu ser também? Sim”.

No âmbito apenas do mero esforço o homem é empenhado para o “mérito”. Ele o


consegue inteiramente aí. Mas, ao mesmo tempo é permitido ao homem, nessa região, a
partir dela, através de si erguer os olhos rumo aos celestiais. O erguer os olhos passa acima
rumo ao Céu e, não obstante, fica em baixo sobre a Terra. O erguer os olhos atravessa o
Entre de Céu e Terra. Este entre é mensurado ao habitar do homem. Nomeemos agora a
atribuída travessia, através da qual é aberto o entre de Céu e Terra, a dimensão. Ela não
resulta disso que Céu e Terra estejam voltados um para o outro. O estar voltado, da parte
deles, repousa antes na dimensão. Esta não é também nenhuma extensão do espaço
habitualmente representado; pois todo espaço detido necessita já, por sua vez, enquanto
espaço concedido, da dimensão, isto é, daquilo a partir do qual ele é consentido.
Desta forma, a essência da dimensão é a atribuição do entre, aclarado e, assim,
passível de atravessamento: do subir ao Céu enquanto do descer à Terra. Nós deixamos a
essência da dimensão sem nome. Segundo as palavras de Hölderlin, o homem atravessa a
dimensão na medida em que ele se mede junto aos Celestiais. Esse atravessar o homem não
empreende ocasionalmente, antes é só em tal atravessar que o homem é inteiramente
homem. Eis porque, ele pode, na verdade, atravancar, abreviar, desfigurar essa travessia,
mas não pode esquivar-se a ela. O homem tem se medido enquanto homem sempre já junto
a algo e com algo celeste. Também Lúcifer descende do Céu. Por isto nomeia-se nos versos
seguintes (28 e 29): “Mede-se o homem... com a Divindade. Ela é a “medida” com a qual o
homem dimensiona o seu habitar, a sua estância sobre a Terra sob o Céu. Só na medida em
que o homem, de tal modo, determina a medida do seu habitar ele é capaz de ser
proporcionado à sua essência. O habitar do homem baseia-se no mensurar pelo erguer dos
olhos a dimensão, a qual pertence tão bem o Céu como a Terra.
A mensuração não mensura só a Terra, Γή, e não é, pois, uma mera geo-metria.
Tampouco mensura o Céu, Oΰρανός, para si. A mensuração não é nenhuma ciência.
O mensurar estima o entre, que traz ambos, Céu e Terra, um ao outro. Este mensurar
tem seu próprio μέτρον e, por isso, sua própria métrica.
A mensuração da essência humana traz, sobre a sua dimensão atribuída, o habitar em
seu rasgo fundamental. O mensurar da dimensão é o elemento no qual o habitar humano tem
a sua asseguração, desde a qual ele se preserva. O mensurar é o poético do habitar. Poetar é
um medir. Contudo, o que significa medir? Nós podemos o poetar, se é verdade que ele,
enquanto medida, deva ser pensado, e não, evidentemente, acomodado em uma
representação qualquer do medir e da medida.
O poetar é, provavelmente, um medir insigne. Mais ainda. Talvez devamos pronunciar
a frase: Poetar é medir, com outra entonação: Poetar é medir. No poetar se dá o que todo
medir é no fundo de sua essência. Por isto impõe-se notar no ato fundamental do medir. Ele
consiste inteiramente no fato que primeiro é tomada a medida que, respectivamente, é para
medir. No poetar se dá o tomar da medida. O poetar é, no sentido rigoroso da palavra, a
lúcida medida-tomada pela qual o homem recebe a medida para a amplidão de sua essência.
O homem se essencializa enquanto mortal. Ele se chama assim porque pode morrer. Poder
morrer significa: ser capaz da morte enquanto morte. Só o homem morre – e na verdade
continuamente, pelo tempo que se demora sobre esta Terra, enquanto ele habita. Mas a
essência do seu habitar baseia-se no poético. A essência do “poético” Hölderlin a vê na
medida-tomada, através da qual a medição da essência humana se consuma.
Contudo, como pretendemos provar que Hölderlin pensa a essência do poetar
enquanto medida-tomada? Aqui não precisamos provar nada. Todo provar é sempre só um
empreendimento ulterior sobre o fundamento de pressuposições. Sim, depois que estas são
fixadas, tudo se deixa provar. Contudo, atentar, só bem pouco podemos. Assim, que baste
então se reparamos na própria palavra do poeta. Nos versos seguintes, com efeito, Hölderlin
pergunta antes tudo e propriamente apenas pela medida. Esta é a Divindade, com a qual o
homem se mede. A questão começa com o verso 29, nas palavras: É desconhecido Deus?
Manifestamente não. Pois o sendo como poderia ele enquanto desconhecido ser a medida?
Contudo – e isto se impõe agora ouvir e reter – Deus é enquanto aquele, que Ele é,
desconhecido para Hölderlin, e enquanto este desconhecido é ele precisamente a medida
para o poeta. Por isto o sobressalta também a questão provocadora: Como pode chegar a ser
medida, o que por sua essência permanece desconhecido? Pois tal, com o qual o homem se
mede, deve, contudo, se com-partir [sich mit-teilen], apresentar-se. Mas, uma vez que se
apresenta, então é conhecido. Porém, Deus é desconhecido e não obstante é a medida. Não
só isto, mas o Deus permanentemente desconhecido, na medida em que ele se mostra,
enquanto aquele, que Ele é, deve se apresentar enquanto o permanente desconhecido. O
caráter manifestável de Deus, não em princípio Ele mesmo, é misterioso. Por isso o poeta põe
logo a seguir a próxima questão: “É ele manifestável como o céu?” Hölderlin o responde: “Isto/
o creio mais”.
Por que, perguntamos agora, a suposição do poeta inclina-se para ali? As palavras
seguintes respondem imediatamente. Elas soam lacônicas: “A medida do homem é essa” O
que é a medida para o medir humano? Deus? Não! O Céu? Não! O caráter manifestável do
Céu? Não! A medida consiste no modo, como o Deus permanentemente desconhecido é,
enquanto este, manifesto através do Céu. O apresentar-se de Deus através do Céu consiste
em um desvelar, que deixa ver aquele que se oculta, mas deixa ver não através daquilo que
procura arrancar o oculto de sua ocultação, antes, apenas através daquilo que resguarda o
oculto em seu ocultar-se. Assim, mostra-se o Deus desconhecido, enquanto o desconhecido,
através do caráter manifestável do Céu. Este se apresentar é a medida, na qual o homem se
mede.
Uma estranha medida, perturbadora, assim parece, para o representar habitual dos
mortais, incômoda para o módico tudo-compreender da opinião quotidiana, que gostaria de se
afirmar como medida exata para todo pensar e dar-se conta.
Uma estranha medida para o representar costumeiro e em particular para o representar
estritamente científico; em caso algum uma estaca e uma barra palpáveis; mas na verdade
uma medida mais simples de manejar que estas, desde que nossas mãos não agarrem, mas
antes sejam conduzidas pelos gestos que correspondem à medida que aqui é para ser
tomada. Esta ocorre em um tomar que jamais arranca a medida em si, mas antes a toma num
perceber integrador, o qual permanece um ouvir.
Mas, por que esta medida estranha para nós homens de hoje deve ser adjudicada e
através da medida-tomada do poetar ser compartilhada? Porque só esta medida estima a
essência do homem. Pois o homem habita, na medida em que ele atravessa o “sobre esta
Terra” e o “sob o Céu”. Este “sobre” e este “sob” se pertencem mutuamente. O seu confluir é
a travessia que o homem percorre sempre na medida em que ele é enquanto terrestre. Em
um fragmento seu, Hölderlin diz:5

“Sempre, Amor! a Terra


passa e o Céu permanece.”

Porque o homem é na medida em que suporta a dimensão, sua essência deve ser
continuamente mensurada. Para esse fim, ele precisa de uma medida que atinja ao mesmo
tempo toda a dimensão. Vislumbrar esta medida, estimá-la enquanto medida e tomá-la
enquanto medida, significa para o poeta: poetar. O poetar é esta medida-tomada e, na
verdade, em prol do habitar do homem. Com efeito, imediatamente após a palavra “Essa é a
medida do homem” seguem no poema os versos: “Cheio de mérito, contudo poético, habita o
homem sobre esta Terra...”.
Sabemos agora o que é para Hölderlin o “poético”? Sim e não. Sim, porquanto
recebemos uma instrução, por respeito a qual é para pensar o poetar, a saber, enquanto um
insigne medir. Não, porquanto o poetar, enquanto o estimar é sempre aquela estranha medida
misteriosa. Assim ele deve se manter também, desde que estejamos dispostos a nos demorar
no âmbito essencial da poesia.
Contudo, estranha-se quando Hölderlin pensa o poetar enquanto medir. E isto com
direito, enquanto representarmos o medir apenas em nosso sentido usual. Com o auxílio do
conhecido, a saber, escalas e numeradores, um desconhecido é examinado passo a passo;
com isto, é tornado conhecido e, assim, sempre confinado em uma quantidade e uma ordem
abarcáveis. Este medir pode variar segundo a forma da aparelhagem preparada. Contudo,
quem garante que esta forma habitual de medir, só porque ela é corrente, toque já a essência
do medir? Quando ouvimos falar de medida, pensamos imediatamente em número, e
representamos a ambos, número e medida, enquanto algo quantitativo. Entretanto, a essência
da medida é tampouco quanto a essência do número um quantum. É certo que com números
podemos calcular, mas não com a essência do número. Se Hölderlin vê o poetar enquanto um
medir, e mesmo o realiza de antemão, sobretudo como uma medida-tomada, então, para
pensar o poetar devemos, antes de tudo, considerar sempre ainda a medida, que foi tomada
no poetar, devemos reparar na forma desse tomar, o qual não se baseia em um apossar-se,
nem, sobretudo, em um agarrar, mas antes em um deixar-vir do extremo-comedido [in einem
Kommen-lassen des Zu-Gemessenen]. O que é a medida para o poetar? A Divindade; por
conseguinte, Deus? Quem é Deus? Talvez esta questão seja muito difícil e precipitada para o
homem. Por isto perguntamos primeiramente, o que há a dizer acerca de Deus? Perguntamos
em princípio apenas: o que é Deus?
Por sorte e como auxílio nos foram conservados versos de Hölderlin que pertencem,
em termos de matéria e de época, ao âmbito do poema “No plácido azul floresce...”. Eles
começam assim:6

“O que é Deus? desconhecido, contudo


Plena das virtudes dele é a face
Do céu. Com efeito, os raios
São a cólera de um Deus. Tanto mais é um
5
(Stuttgart, 2ª ed, 1, p. 334)
6
(“O que é Deus?” Stuttgart, 2ª ed., 1, p. 210)
Invisível, mais ele se conforma ao Estrangeiro...”

O que permanece estranho a Deus? Os espetáculos do Céu. Isso é o familiar para o


homem. E o que é isso? Tudo, o que no Céu e, assim, sob o Céu e, por conseguinte, sobre a
Terra brilha e floresce, soa e recende, se intensifica e vem, mas também passa e cai, e ainda,
lamenta e cala, e, mesmo, empalidece e escurece. A esse familiar ao homem, mas
estrangeiro ao Deus, conforma-se o desconhecido, para aí, enquanto desconhecido,
permanecer preservado. O poeta, entretanto, evoca na palavra cantada toda claridade dos
espetáculos do Céu e cada som de suas vias e atmosferas e nisto traz o evocado ao
iluminado e ao sonoro. Entretanto, o poeta, se ele é poeta, não descreve o mero aspecto do
Céu e da Terra. O poeta evoca nos espetáculos do Céu Aquele que justamente no se
descobrir deixa aparecer o que se oculta e na verdade: enquanto o que se oculta. O poeta
evoca o estrangeiro nas aparições familiares, enquanto aquele em que o invisível se
conforma, para aí permanecer o que ele é: desconhecido.
O poeta, então, só poeta se ele toma a medida, na qual diz os espetáculos do Céu,
para que ele se ponha à disposição de suas aparições, enquanto à disposição do estrangeiro,
no qual o Deus desconhecido se “conforma”. O nosso nome habitual para o espetáculo e
aparência de algo soa “imagem”. A essência da imagem é: deixar ver algo. Em contrapartida,
os retratos e as reproduções são já espécies bastardas da imagem própria, que enquanto
espetáculo deixa ver o invisível e o imagifica, assim, em um estrangeiro para este. Porque o
poeta toma essa medida misteriosa, a saber, medida tomada ao semblante do Céu, por isso
ele fala por “imagens”. Eis porque as imagens poéticas são imaginações em um sentido
eminente: não meras fantasias e ilusões, mas antes imaginações enquanto incrustações
visíveis do estrangeiro no espetáculo do familiar. O dizer poético das imagens reúne numa
unidade a claridade e o som das aparições do Céu com o escuro e o silêncio do estrangeiro.
Mediante tal espetáculo o Deus causa estranheza. No estranhamento ele exprime sua
vizinhança ininterrupta. Por isto Hölderlin no poema pode prosseguir após os versos “Cheio
de mérito, contudo poético, habita o homem sobre esta Terra”:

Sim, mais pura


Não é a sombra da noite com as estrelas,
Se assim posso dizer, que
O homem, que evoca uma imagem da Divindade.

“...A sombra da noite” – a noite ela mesma é a sombra daquele escuro que não pode
jamais se tornar uma mera treva, porque ele enquanto sombra atribuída à luz, permanece
lançado por ela. A medida, a qual o poeta toma, conforma-se enquanto o estrangeiro, no qual
o invisível protege sua essência, ao que é familiar dos espetáculos do Céu. Por isso a medida
se dá a partir da forma essencial do Céu. Mas o Céu não é luz vã. O esplendor de sua altura
é em si o escuro de sua amplidão toda albergueira. O azul do plácido azul do Céu é a cor da
profundidade. O esplendor do Céu é a subida e o declínio do crepúsculo que alberga tudo a
anunciar. Este Céu é a medida. Por isso o poeta precisa perguntar:

“Há na Terra uma medida?”

E ele tem que responder: “Nenhuma há”. Por que? Porque o que nomeamos, quando
dizemos “na Terra”, só subsiste na medida em que o homem habita a Terra e, ao habitar,
deixa a Terra ser enquanto Terra.
Mas o habitar só acontece quando o poetar se torna próprio e essencial, e isso, na
verdade, no modo em que agora pressentimos sua essência, a saber, enquanto a medida-
tomada para todo medir. Esta mesma é o mensurar próprio, não o mero calcular com
metragens determinadas para fabricação de planos. Por isto, o poetar não é também nenhum
construir no sentido do instalar e do erigir de construções. Mas o poetar é, enquanto o estimar
próprio da dimensão do habitar, o construir inicial. O poetar, antes de tudo, admite o homem
em sua essência. O poetar é o deixar-habitar originário.
A frase: o homem habita, na medida em que constrói obtém agora o seu sentido
próprio. O homem não habita apenas na medida em que ele erige em sua estadia sobre a
Terra sob o Céu, quando ele enquanto agricultor fomenta o plantio e ao mesmo tempo instala
construções. Este construir, o homem só é capaz se ele já constrói no sentido da poética
medida-tomada. O construir próprio ocorre, desde que os poetas sejam tais que eles tomem a
medida para o arquitetônico, para o construir-organizado do habitar.
Hölderlin escreve, em 12 de Março de 1803, de Nürtingen, a seu amigo Leo von
Seckendorf: “A fábula, modo de ver poético da história e arquitetônica do Céu, ocupa-me
especialmente no presente, particularmente a nacional, uma vez que é diferente da Grega.” 7.

“...poético, habita o homem...”

O poetar constrói a essência do habitar. Poetar e habitar não só não se excluem, mas,
muito antes, se concernem mutuamente fomentando um ao outro no modo da alternância.
“Poético habita o homem.” Habitamos nós poéticos? Provavelmente, habitamos inteiramente
de modo não poético. Se assim o for, a palavra do poeta se torna por isso mentiras
imperdoáveis e inverdade? Não. A verdade de sua palavra se confirma do modo mais
inquietante. Pois um habitar só pode ser não poético, porque o habitar em essência é poético.
Para que um homem possa ser cego, ele deve em sua essência permanecer conforme um
vidente. Um pedaço de pau jamais pode vir a ficar cego. Mas quando um homem se torna
cego, então é sempre ainda questão de saber se a cegueira advém de um defeito e de uma
perda ou se ela parte de uma abundância e um excesso. Hölderlin diz no mesmo poema em
que cogita sobre a medida para todo medir (versos 75/76): “O Rei Édipo tem um olho a mais,
talvez”. Poderia bem ser que o nosso habitar não poético, a sua incapacidade para tomar a
medida, viesse de um estranho excesso de um medir e calcular desenfreado.
Em todo caso, só podemos fazer a experiência de que habitamos e até que ponto nós
habitamos não poético, quando sabemos o que é o poético. Se e quando nos ocorrerá uma
viravolta do nosso habitar não poético, só podemos prever se fixarmos a atenção no poético.
Como e em que extensão o nosso fazer e o nosso deixar podem ter uma parte nessa
viravolta, nós mesmos só o experimentaremos quando tomarmos a sério o poético.
O poetar é o bem fundamental do habitar humano. Mas o homem só é capaz do
respectivo poetar segundo a medida como a qual sua essência é apropriada àquilo mesmo ao
que o homem pode e por motivo do que a emprega. Conforme a medida dessa apropriação o
poetar é próprio ou impróprio.

Eis porque o poetar próprio também não se dá em qualquer tempo. Quando e enquanto
o poetar é próprio? Hölderlin o diz nos versos já lidos (26-29). Seu esclarecimento foi
intencionalmente adiado até agora. Os versos rezam:

“...Enquanto ainda perdure a amabilidade


Junto ao coração, a pureza, meça-se
Sem infelicidade o homem
7
(Hellingrath V 2, p.333)
Com a Divindade...”

“A amabilidade”, o que é isto? Uma palavra inofensiva, mas com o epíteto, “a pureza”,
nomeado por Hölderlin com letra maiúscula. “A amabilidade” – esta palavra, quando a
tomamos literalmente, é a esplêndida tradução de Hölderlin para a palavra grega χάρις. Em
sua tragédia “Aias” (v. 522), Sófocles diz o seguinte sobre a χάρις:

χάρις χάριν γάρ ’εστιν ή τίκτουσ’’αεί.


“A benevolência é, pois, isto que sempre pro-clama [hervor-ruft] a benevolência”.

“...Enquanto ainda perdure a amabilidade junto ao coração, a pureza...” Hölderlin numa


mudança praticada por ele com muito gosto diz “junto ao coração”, não: no coração; “junto ao
coração” significa advindo junto à essência habitante do homem, advindo enquanto
reivindicação da medida advinda ao coração, de modo que este se ancore na medida.
Enquanto perdure este advento da benevolência, enquanto isto se dê com sucesso,
que se meça o homem com a Divindade. Dê-se esta medida, e o homem poeta a partir da
essência do poético. Dê-se o poético, e o homem habita humanamente sobre esta Terra, e
então é como Hölderlin diz em seu último poema, “A vida do homem” uma “vida habitante”.8

A vista

Quando segue ao longe a vida habitante do homem,


Onde ao longe se ilumina o tempo das vides,
E a essa altura também fica vaga a campina do verão,
A floresta se apresenta com sua imagem escura.
Que a Natureza complemente a imagem dos tempos,
Que ela permaneça, que eles, rápido, resvalem para o passado,
Procede da perfeição que luz do alto do Céu
Aos homens, como procede dela que a florescência coroe as árvores.

8
(Stuttgart, 2ª ed, 1, p. 312)

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