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MUSEU NACIONAL
EM PORTO ALEGRE
esforço empreendido.
sempre dialoguei.
2
perto auxiliando nas coisas práticas. A meu pai, Astor, que
do curso.
extremamente rico.
3
RESUMO
externamente.
4
ABSTRACT
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................
.... 1
SUL... 34
Demográfico............................................ 68
2. REFERENCIAL
TEÓRICO........................................ 84
Relacional.............. 84
Social....................... 102
Necessária.............. 114
FAMILIARES................. 125
Familiar...................... 127
6
3.2. Família: Fidelidade, Honestidade e
Trabalho.......... 149
3.3. O Universo
Familiar.................................. 156
3.4. O
Casamento.......................................... 179
Familiar............................................. 192
LIMITES.. 206
4.1. Pertencimento de
Classe.............................. 207
4.2. Mudar é
Preciso...................................... 238
Clássica.............................. 245
4.4. O Gosto da
Festa..................................... 260
Médias......................... 286
CONCLUSÃO..................................................
.. 317
BIBLIOGRAFIA...............................................
.. 328
7
“A minha mãe, ela teve convivência,
ela foi criada por uma tia que era
muito bem de vida. É aquela
coisa: Pegar uma sobrinha, um
parente, para fazer de empregada”
(Silvia,30 anos)
8
INTRODUÇÃO
um de seus emblemas.
9
Este discurso, de um lado afirma a igualdade e
social.
10
de uma camada social intermediária branca entre os grandes
proprietários e os escravos.1
formas de trabalho.
sociedade gaúcha.
1
Num primeiro momento indígenas e após predominantemente
negros africanos e crioulos.
11
total de pretos e pardos do estado. Limitando a informação
do grupo preto.
regiões do país.5
2
IBGE, Censo demográfico, 1991, n. 24. Características
gerais da população e instrução.
3
Na última década Porto Alegre parece ter perdido o lugar
de centro privilegiado de atração de migrantes, além de
apresentar uma tendência de estabilização da população
mediante a periferização de parte de seus habitantes. Sobre
isso ver BARCELLOS, 1995.
4
IBGE, Censo Demográfico 1991, tabela 24.
5
Sobre isso ver Hasenbalg, 1988)
12
bairros Bom Fim e Rio Branco, típicos de classes médias),
vendeu os terrenos.6
cidade.8
6
Sobre isso ver BITTENCOURT, 1995 e SILVA, 1993.
7
Esses redutos eram uma espécie de "continuação da
senzala" (SILVA, 1993).
8
Não há um bairro exclusivamente negro em Porto Alegre,
mas há certa preferência na localização das suas
residências na Cidade Baixa, no Menino Deus, Restinga (este
um bairro popular para onde foram deslocados os moradores
da antiga Ilhota) e em qualquer outro segundo a seleção
efetuada segundo a disponibilidade de recursos financeiros.
13
Em 1888 em Porto Alegre, havia em torno de 34 817
colonização européia.
condições de vida.
9
Pesavento recolheu a seguinte passagem de um jornal de
1895: "Preferível seria que os operários se reunissem em
clubes conforme o idioma que falam, isto é, os brasileiros
e os portugueses em um clube brasileiro, e os alemães e os
austríacos em outro alemão, e assim os italianos."
(PESAVENTO, 1989:73)
14
de fumo e café (Fabricante Tertuliano Borges), de vestuário
1989).
à gente de cor.10
10
Sobre isso ver PESAVENTO, 1989:75-80.
15
absorviam negros à força de trabalho (não só como
elas).
modo geral.
16
Delimitamos como espaço da pesquisa a cidade de Porto
dados.
11
Os estudos de SOUZA, 1990 no Rio de Janeiro e de BARBOSA,
1983 sobre negros das classes médias realizado em Campinas
são os que de modo mais direto abordam o tema, embora de um
modo distinto do que realizamos.
17
Tomamos como hipótese a existência de especificidades
representadas.
12
A inserção do negro na sociedade brasileira, numa
perspectiva histórica, guarda as marcas do sistema
escravista e da sua desagregação, bem como contém as bases
históricas da construção das identidades que se forjaram
articuladas contrastivamente a outras, negras, pardas e
brancas, cuja referência é o sistema multirracial e
multiétnico que se constituiu. (CARNEIRO DA CUNHA, 1985)
18
parte daquele segmento, além de utilizarmos alguns dados
19
aqui pensadas como um processo que se redefine
13
No sentido de Weber.(WEBER, 1944;V.II)
14
Tal como é definida por SMITH, 1973
15
Além dos trabalhos de Gilberto Velho, merece referência o
de Tania Dauster (DAUSTER, 1987).
20
hipótese da existência de uma segregação racial nas classes
médias da cidade.
complexidade.
16
Consideramos para fins de análise aqueles lugares que
frequentamos no período de realização das entrevistas.
21
e 1988) Woortmann (WORTMANN, 1986), Eunice Durhan (DURHAN,
trabalhadoras inglesas.
satisfatoriamente.
22
família são discutidas e problematizadas. Procuramos
empírico.
ascensão social.
23
O capítulo 4 toma o pertencimento de classe como eixo.
interpretação.
futuros estudos
24
A estrutura que tomou o texto decorreu dos temas
orgulho.
25
A Pesquisa: Algumas Considerações
sociedade.
26
Essa questão se faz presente então, mesmo quando o
cultural comum.
objeto.
27
Existem aspectos da realidade que por suas
28
Tendo como alvo o estudo de um segmento negro de
é o da atribuição de identidade.
29
Apesar de existirem critérios objetivos para situar um
posição social por vezes não coincidia com aquela que lhes
30
De modo geral éramos vistos como pertencentes ao grupo
o seu aspecto.
17
As expressões entre aspas são termos êmicos, extraídos
das entrevistas e de contatos informais com o grupo negro
investigado.
31
Para alguns que decididamente nos situavam como
próprio grupo e com isso poderem estar com "um dos nossos",
aprofundamos laços.
32
O resultado dessas aproximações, além da afetividade
tu, mas mais clara do que eu". Algum objeto também podia
33
O segmento negro das classes médias é uma fração que
residencialmente.
34
Além disso, o conhecimento prévio de alguns
classes médias.
18
Gilberto Velho utilizou-se dessa estratégia (VELHO,1986)
para compor sua amostra. Parte das pessoas que
entrevisteisão
relacionadas entre si, mas lidei com alguns que eram mais
atomizados, ou participavam apenas de redes de parentes.
35
do Rotary Club e da Irmandade do Divino Espírito Santo; e
36
Através desse procedimento, recolhemos, num primeiro
mulheres.
19
Disciplina sobre Relações étnicas ministrada pelo Prof.
João Pacheco no ano de 1992 no PPGAS, Museu Nacional.
37
Certas informações que evidenciariam sua identidade pessoal
20
As entrevistas complementares às histórias de vida foram
realizadas em 1996, foram aplicadas pelas bolsistas de
iniciação científica (PROPESQ e PROREXT/UFRGS) Mariana
Fernandes, Rita de Cássia e Carla Galinatti e pela bolsista
de aperfeiçoamento (FAPERGS) Maria Emília, todas vinculadas
a projeto de minha autoria e sob minha coordenação.
38
assemelhou ao obtido através das histórias de vida e
entrevistas realizadas.
rotineiros.
21
Baile da Tereza. Esses bailes foram muito famosos e a
eles acorriam uma grande quantidade de pessoas do grupo
negro de classe média e aspirantes a ela.
39
inferências equivocadas sobre a sua realidade material e
organizativa.
suas manifestações.
condição.
40
A familiaridade que obtivemos mediante a participação
22
PNAD, Plano Cor. IBGE
41
1. A QUESTÃO RACIAL BRASILEIRA. O CASO DO RIO GRANDE DO SUL
brancos.
42
Reconhecer a desigualdade, o preconceito existente
23
Segundo Florestan Fernandes em O Negro no Mundo dos
Brancos, primeira parte, "Do ponto de vista e em termos da
posição sócio-cultural do branco, o que ganha o centro do
palco não é o preconceito de cor. Mas, uma realidade moral
reativa, que bem poderia ser designada como o preconceito
de não ter preconceito".(FERNANDES, 1972:24-25)
43
Estados Unidos e identifica as diferenças entre elas a
nesses países.
origem".
44
ideológico que se formou nos processos que engendraram a
1981:67).
24
Acrescidas as muitas outras categorias que foram
possibilitadas por esta alternativa.
45
classe) permitiu a formação de um "racismo disfarçado" no
norte-americano.27
25
Van der Berghe (VAN DER BERGHE, 1971) vê o padrão de
relações raciais brasileiro como de tipo paternalista e
Florestan Fernandes identifica aí a "persistência do
passado no presente" no sentido de haver a permanência de
relações tradicionais de tipo patrimonialista permeando a
sociedade de classes (FERNANDES, 1965).
26
Sobre isso ver FREYRE, 1992.
27
Sobre isso ver SEYFERTH,1993.
46
A situação racial no Brasil, ao contrário dos Estados
situacionalmente.
28
Thales de Azevedo ao analisar a questão racial na Bahia,
percebeu que a posição social seria redefinidora da cor,
fazendo que um indivíduo pudesse branquear ao ascender
economicamente; apesar disso, também observou que os mais
claros possuíam melhores chances de se tornarem socialmente
brancos. Isso mostra a ambigüidade das atitudes raciais
naquela sociedade e ao mesmo tempo a dificuldade do autor
em lidar com a questão, envolto que está na crença na
democracia racial (AZEVEDO, 1955).
47
vinculadas demarcam as fronteiras entre os grupos étnica e
racialmente distintos.
(BASTIDE, 1983).
48
- ou seja, como reação a mecanismos efetivos de ascensão
49
precisava escolher entre continuar trabalhando nas mesmas
( CARDOSO, 1962:279)
50
desde a África.29 As relações entre brancos e pretos,
diversas.
(CARDOSO,1962: 270).
29
Sobre isso ver CARNEIRO DA CUNHA, 1985:17-61.
51
castigos aplicados como forma de manter sujeito ao trabalho
30
A Abolição, enquanto movimento que expressava oposição
entre brancos, assentada em posições político filosóficas
mais do que em interesses objetivos, encontra a
52
escravos. As cláusulas de prestação de serviços forneceram
53
No meio rural gaúcho aparentemente não houve
Sul.
estado.
54
de certa maneira reforçou a mística do sul branco, ao mesmo
brasileiro-mau-trabalhador31.
e negros.
31
Conforme vimos em PESAVENTO,1989, a categoria
"brasileiro" engloba os nacionais brancos e pretos.
55
presença do imigrante como trabalhador é que engendrou a
negativo da brasilidade.32
32
Sobre essa questão ver SEYFERTH,1983.
33
O trabalho como valor, parece ser inaugurado com a
imigração. A tradição brasileira situava o trabalho como
coisa de escravo, coisa de negro. Nem negros nem brancos
nacionais possuíam a tradição do trabalho como um valor. O
56
A visão do viajante Joseph Hörmeyer acerca da Porto
(ELMIR. 1990:96).
57
atividades de prestação eventual de serviços, num caráter
de instabilidade.
58
diferencial e organizativo da sociedade, sob a forma de
liberdade.35
34
" A cor foi, portanto selecionada como marca racial que
serviria para identificar socialmente os negros e os
mestiços. Ela passou a ser um símbolo de posição social, um
ponto de referência imediatamente visível e inelutável,
através do qual se poderia presumir a situação de
indivíduos isolados, como socius e como pessoa, tanto
quanto definir o destino de uma raça." (BASTIDE e
FERNANDES, 1971:86)
35
"A discriminação existente é um produto do que chamei
"persistência do passado" em todas as esferas das relações
humanas - na mentalidade do branco e do negro, nos seus
ajustamentos à vida prática e na organização das
instituições e dos grupos sociais". ( BASTIDE e FERNANDES,
1971:43)
59
quanto por Fernando Henrique Cardoso36, desenvolveu-se uma
imprensa negra,
36
Conforme as obras consultadas e arroladas na
Bibliografia.
37
Para exemplificar, em 1893, no Rio Grande do Sul já
existia o Clube Floresta Aurora, ainda hoje ativo na
sociedade portalegrense, além da hoje denominada Associação
60
quo racial brasileiro, possui dois polos. Os efeitos
61
conseguiu ascender socialmente. Diz Bastide que a "aparição
1983:108).
(SEYFERTH, 1983:11)
62
raciais, para ele, "persistência do passado no presente".
apenas.
63
associada às formas de exploração diferenciadas que o
regime admitia.
proprietário de escravos.
com brancos.
64
cotidiano das fazendas, nas residências, nas cidades e nos
campos.
65
sem mescla." ( citado em GUTFRIEND,1990:179).Os
viajante.
66
"fábula" da formação do povo gaúcho inicia de modo distinto
negra.
38
Sobre cultos afro no Rio Grande do Sul ver ORO, 1994
67
gaúcho e o Rio Grande do Sul não apresenta
correspondência in totum com a realidade
objetiva do processo histórico em
si."(GUTFRIEND,1990:176)
39
Ver PICCOLO, 1990:241-251
68
Rosário41 o povo negro construiu um espaço para si na
Irmandades.
40
São importantes os estudos de PESAVENTO, 1989 e
PICCOLO,1990.
41
No Rio Grande do Sul a Irmandade se forma em 1786,
composta quase exclusivamente por negros, na sua maior
parte escravos. Congregava no seu início 220 membros (100
livres, 16 forros e 104 escravos), o que para Porto Alegre,
cuja população total era de 3000 pessoas aproximadamente,
demonstra a sua capacidade de congregar os pretos da
cidade. A Irmandade do Rosário não foi a única
constituída por pretos. Outras, como a de Nossa Senhora da
Conceição acolhia somente pardos, tendo também a
participação dos brancos.
69
O papel do negro como força-de-trabalho é outra
estabeleceram.
(PESAVENTO,1989) .
70
ordem econômica. As dificuldades de grupos destituídos de
europeu.
42
Sobre essa questão ver FONER,1988
71
continuar com o assalariamento em baixos níveis de
remuneração.43
43
No Caribe onde havia escassez de mão-de-obra negra
disponível, os trabalhadores "coolies" foram trazidos e os
camponeses conviveram com a plantation lhe oferecendo a
mão-de-obra complementar sazonalmente (FONER,1988). Nos
Estados Unidos os impostos, taxas e as dificuldades para a
aquisição da terra, levou muitos negros do sul ao
assalariamento e à emigração para as cidades do norte.
44
Em relação a isso ver PESAVENTO, 1989.
72
lides do campo para dirigirem-se às cidades não
possuíam qualquer capacitação profissional que
os habilitasse à vida urbana, tendo sido, por
isto, condenados à vida de ociosidade e
privações. O branco em Porto Alegre esteve
portanto acostumado desde logo a encontrar
negros exercendo profissões. Isto deveria ter
influído na avaliação social do negro como e
enquanto trabalhador." (CARDOSO,1960:586)
forjam.
45
Manuela Carneiro da Cunha expõe de modo claro as
implicações dessas diferenças para a constituição da
identidade negra como identidade étnica, especialmente para
o grupo designado como "pessoas livres de cor" (CARNEIRO DA
CUNHA, 1985).
73
O tipo de trabalho, as condições de convívio com o
do preconceito.
Demográfico
gaúcho.
74
como teria existido no passado."
(OLIVEN,1996:25)
índios.
46
Conforme expusemos anteriormente.
75
Tomamos aqui a situação do negro no Rio Grande do Sul,
1991.
47
Os dados do Censo de 1991 mantém esse percentual bem como
a participação relativa dos pretos, 4,5% aproximadamente e
dos pardos, 82%.
76
branco, uma vez que os amarelos somados à categoria sem
marcado.
77
Apenas 16% dos pretos e 23,3% dos pardos residem no
brancos.
78
proprietários deve explicar a diferença, já que os de cor
empregado rural.
79
sobe para 23% e entre os pardos para 25%. A diferença é
80
no mercado de trabalho (os pardos são 8,14% da população e
81
modo geral, já que o volume de pardos em relação aos pretos
82
do chefe - medida do grau de cruzamentos entre os grupos de
com pretas são 0,38% e com pardas 1,47%. Temos 24% dos
geral.
(BERQUÓ, 1988:10).48
48
Embora os dados não sejam comparáveis estatisticamente de
modo exato dada a diferença no tempo e no tipo de
informação, acreditamos ser possível inferir um
comportamento diverso das relações interraciais no Rio
Grande do Sul em comparação com o país.
83
A composição das unidades domésticas no Rio Grande do
riograndense.
definições.49
84
filhos). Os demais 43% se distribuem predominantemente
dentro do grupo.
do deu grupo.50
49
Sobre isso ver PACHECO, 1987.
85
estudos, apenas 4,4% dos pretos e 3,5% dos pardos atingem
50
Esses diferenciais assemelham-se ao desempenho do estado
quanto a alfabetização.
51
Mulheres pretas e pardas são significativamente mais
numerosas aí do que os homens desses grupos de cor.
52
O total de pessoas ocupadas na categoria preta é igual a
93323 e na parda, 97056)
86
Os arranjos familiares e domésticos também apresentam
arranjo.
casos.53
53
Mulher-chefe sem cônjuge mas com parentes abrange 2,1%
dos brancos, 5,8% dos pretos e 1,6% dos pardos.
87
fechado. Brancos e pardos tendem a uniões entre si quando a
grupos.
fundamentadas.
88
2. REFERENCIAL TEÓRICO
89
de grupos étnicos (BARTH, 1970) ou de minorias (WIRTH,
1945).
interação social.
90
modernas ocidentais, especialmente nas ex-colônias. Nelas a
individualização encontradas.
DER BERGUE,1967).
1
O subjetivismo consiste na aceitação da premissa de que
nada é objetivamente dado, nem em raça nem em etnicidade. O
primordialismo, ao contrário, considera que há algo
fundamental e dado na natureza da etnicidade e da raça.
91
e étnicos. De um lado o primordialismo conduz ao racismo, e
92
crenças mais difíceis de serem desfeitas.(VAN DER
BERGUER,1976)
93
associado a assimilação e integração de minorias, tendo
(WIRTH, 1945).
outros.
94
diferenças étnicas são utilizadas para fins de mobilização
pertencimento étnico.
95
outra natureza. Então, raça pode ser tratada como um caso
96
intergrupais e das influências da sociedade envolvente. Os
envolvente.
intensidade.
2
Glazer & Moynihan mostram quanto são variadas as
situações históricas nas quais contemporaneamente a
etnicidade surge como base para mobilização e princípio
classificador para fins de aplicação de políticas sociais
pelos governos. Mostra também que essa etnicidade não está
relacionada a processos históricos e políticos e que
atributos diferentes são tomados como marca de
pertencimento e diferenciação.
97
fornecer materiais capazes de ampliar a sua reflexão. Para
(BARTH, 1970).
98
fenótipos raciais como sinalizadores de atributos
3
Comparando a situação do imigrante europeu no sul do
Brasil e a do negro no Brasil, Seyferth percebe que ambos
os grupos foram incorporados à sociedade como minorias e
cidadãos de segunda classe (embora por formas históricas
diferentes) e desenvolveram reivindicações políticas com
base em etnicidade. Demonstra como os imigrantes europeus,
ao contrário dos negros, desenvolveram internamente uma
identidade que se auto-valorizava positivamente, ao
contrário dos negros que internalizaram uma auto-
valorização negativa (SEYFERTH, 1983).
99
ideologicamente a dominação, como para promover a
a disputa política.
100
caução para o que realmente, no dia-a-dia,
marca a identidade étnica, ou seja, a
'tradição', a 'cultura', modo imediato de
manifestação da origem do grupo, caução que a
ancestralidade confere." (CARNEIRO DA CUNHA,
1985:206)
brancos e pretos.
continuum.
101
impos) aos quais foram agregados, pela via ideológica da
4
Sobre isso ver SEYFERTH, 1995:175-204.
5
O pressuposto da desigualdade biológica da humanidade
atingia, além das raças inferiores, o sexo inferior, os
grupos étnicos inferiores e as classes inferiores.
6
.Conforme SEYFRTH, 1995.
102
Ela decorreria da plasticidade do luso derivada da sua
Estados Unidos.
7
Sobre isso ver Thales de Azevedo (AZEVEDO, 1975).
103
O desenvolvimento da crença na democracia racial
sua construção.8
8
O que é analisado por SEYFERTH, 1995.
104
9
causalidade . Não há casos históricos conhecidos
associadas à aparência.
9
Goffman trabalha com a noção de estigma para abordar essa
questão. A marca indicaria uma identidade social virtual
que seria atribuída aos seus portadores. Os estigmas de
raça são definidos por ele como parte dos "estigmas
tribais". Esse estigma é transmitido aos indivíduos por
"linhagem" e funda expectativas assentadas nos estereótipos
que são atribuídos aos seus portadores. Enfatiza a
perspectiva relacional na qual o "diferente" vai ser
definido em relação a outro dado socialmente como
"normal". (GOFFMAN,1978)
10
No sentido de GOFFMAN.
105
A resposta étnica produzida pelo grupo negro
11
A etnicidade é vista como um processo. Ela se reconstrui
e redefine internamente e sob pressão externa. É
fundamental no delineamento das fronteiras grupais.
106
se assenta na apropriação dos meios de produção por parte
campo ideológico.
107
frente a ele. Isso define "situação de classe"(WEBER,
12
Do ponto de vista empírico, consideramos suficiente para
fins de seleção das unidades de investigação, os
indicadores sócio-econômicos clássicos - escolaridade e
ocupação e padrão de vida exibido, e estilo de vida que
possuíam.
13
O crescimento das novas classes médias deriva do aumento
da participação da força de trabalho na prestação de
serviços, distribuição, etc., decorrente de transformações
do sistema produtivo (aumento da produtividade,
tecnologia), o que reduz em termos relativos o volume das
classes trabalhadoras (proletários). Tanto o Estado, quanto
108
não uma camada horizontal". (WRIGHT MILLS, 1969) As classes
109
"As próprias noções de classe média e
trabalhadora são excessivamente vagas e podem
escamotear diferenças internas consideráveis
como, por exemplo, o tipo de trajetória social
(BOURDIEU, 1974) ou a natureza da rede de
relações sociais (network) em que se movem os
indivíduos, mais ou menos abertas (BOTT, 1971).
Ora, a experiência de mobilidade social, a
ascensão ou o descenso, introduz variáveis
significativas na experiência exixtencial seja
de pessoas oriundas da classe trabalhadora ou
da classe média que são forçosamente diferentes
de uma situação de estabilidade e permanência.
Por outro lado, o convívio com outros grupos ou
círculos pode afetar vigorosamente a visão de
mundo e estilo de vida de indivíduos situados
em uma classe sócio-econômica particular,
estabelecendo diferenças internas." (VELHO,
1981:20)
14
"...o conceito de cultura ao qual me atenho não possui
referentes múltiplos nem qualquer ambigüidade fora do
comum, segundo me parece: ele denota um padrão de
significados transmitidos historicamente, incorporados em
símbolos, um sistema de concepções herdadas expressa em
formas simbólicas por meio das quais os homens comunicam,
perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e suas atividades
em relação à vida." (GEERTZ, 1978: 103)
110
valorativos) e visão de mundo (aspectos cognitivos,
15
existenciais).
sociais (conjunturais).
social.
maior complexidade:
15
Também no sentido de Geertz. (GEERTZ, 1978)
16
Tal como foi proposto por Schutz (SCHUTZ, 1979)
111
"o ideal de subir na vida, isto é, de obter uma
ocupação capaz de produzir melhores rendas,
(...), ganha uma nova dimensão e se apóia numa
motivação mais complexa no grupo negro. A par
do êxito em termos de maior consideração
social, respeitabilidade, admiração social,
garantia econômica e todos os demais
componentes normais da obtenção de um status
mais alto, a ascensão social do negro
significa, ao mesmo tempo, aos seus olhos, a
perda da condição de ser alienado imposta pela
avaliação social desfavorável da cor."
(CARDOSO, 1960:584)
112
Cardoso está falando do duplo significado contido na
dominante.
1965).
113
Para Florestan, aqueles incentivos correspondem "à
um puritanismo peculiar:
114
de mercado, começam a :
115
mobilidade é limitada e pré-determinada, por assim dizer,
1975:81)
significado.
116
redefinições e ressignificações da cultura da qual fazem
117
sua incapacidade de absorver o modelo fornecido pela
negro.
(GUTMAN, 1976).
17
Sobre isso ver SMITH, 1973.
118
Frazier investe mais nos processos engendrados pela
negro".
1973).
119
19
africanos. Explica a força da mulher negra a partir de uma
estrutural no sistema.
papéis de gênero.
18
Sobre isso ver ALLEN, 1978.
19
Também Ruth Landes fez estudos mulheres e Candomblé e
percebeu a preeminência das mulheres, o que chamou de
"matriarcado de culto" (LANDES, 1967).
120
Considerando os limites impostos à inserção do negro
possível.
abstratamente.
branca.
121
sobrevivência é mais abrangente do que a família doméstica.
122
substituição física dos membros do grupo. Esse processo é
cultural).
123
construção ideológica. Nas metrópoles ele não perde a
(WOORTMANN,1987: 17-18)
124
como salienta Woortmann a família pode designar a "família
enquanto tal.
125
do termo família num sentido mais amplo e englobador de
ideológica.
(SCHNEIDER, 1968)
126
Nossa hipótese é de que a família negra, tal como foi
próprio grupo.
127
3. FAMíLIA: REPRESENTAÇÃO E LAÇOS FAMILIARES
racial, e a identidade.1
128
o do grau de inserção no meio branco - o que pode ser dito também
pesquisado.
memória vai mais longe no tempo tem na zona rural sua referência
1
Thales de Azevedo, como vimos anteriormente, destacou o fator
"tempo" e a distância entre o ponto de partida e o patamar
129
3.1. Reelaborando o Passado Familiar
130
parece posto como campo neutro em torno do qual a mestiçagem ganha
131
Ele é judiado, a pele dele. Ele é judiado porque o tipo
de trabalho dele, e a vida, sempre ao sol, no solaço,
isso liquida, né?" (Ivo)
com ancestrais mestiços. Não trabalhou com o modo como esse dado
1921".
132
de avôs era branco, mas de 311 questionários 36 respondedores
bisavó.
2
REUTER, E. B., T Mulatto in the United States, citado por
FRAZIER, 1973:319
133
de falar... Só o que ela nos contava em termos dos
negros. Ela gostava muito, ela tinha rezas, da África.
Ela gostava muito de falar em Xapanã, ... Então, às
vezes, músicas que falassem nisso, a gente dizia: olha
vó. E ela ria, gostava muito. E também ela nos ensinava
uma dança que anos depois eu vim a saber que era o
jongo. Ela não nos ensinou como jongo talvez porque,
sei eu se ela soubesse que era esse o nome. [Era] filha
de africano. Então ela falava como é que a mãe dela
falava. É pena que eu não guardei essa imagem de nossa
senhora, tipo chumbo, de mais ou menos 12 centímetros
de altura e o pedaço de marfim que ela mostrava. E ela
lia muito, ela com 90 anos, lia sobre política, sobre
tudo." (João Carlos)
Carlos viveu muito próximo de sua avó - "era tudo junto no mesmo
pátio".
134
informante, além da idade e do convívio que eventualmente tenha
difíceis".
experiências.
A vida como pobre é referida como uma luta dos pais ou avós
melhor.
135
especialmente se ele aponta para a criação de uma "tradição
familiar".
história.
136
expressivos de um processo de vida de gerações que se sucedem no
avó pelo fato dela ter ido viver com seus pais. Relacionou-se
137
Com isso, sua parentela patrilinear fica reduzida à mãe e à
legítimo:
de homem provedor).
com os mais pobres através das visitas deles à casa de seus pais -
dá numa ação de ajuda - a tia dependente e a avó que foi morar com
Uma encerra sua família com um único filho e não realiza mais
138
nenhuma união. A outra, forma nova família, outro parceiro,
outros filhos. Ivo não refere o pai desses outros filhos (seus
bem. De A. avó materna, nada relata. Diz apenas que não conheceu
seu marido.
junto, se criou com ela - e com o fato dela ter sido o "início de
tudo":
139
Embora sua referência do passado seja a mãe do pai, os irmãos
Menezes não sabem nada mais além do que foi dito. Sabem dos nomes
criada por brancos. Ser criada por uma família, em geral dita
madrinha".
140
"A minha mãe, ela teve convivência, ela foi
criada por uma tia que era muito bem de vida. É aquela
coisa, pegar uma sobrinha, um parente, para fazer de
empregada. Mas a mãe não estudou. A mãe estudou até a
quarta série. Mas ela teve uma experiência. A tia
levava ela ao teatro, cinema. ... a minha avó foi
criada por patrões brancos, e o meu avô mesmo é branco,
de origem portuguesa..." (Silvia)
ficou com três filhos para criar. Ela era lavadeira e não
"A minha mãe foi criada por "madrinha". Não teve mãe,
eu não tive avó materna." (Zilá)
141
"Eu só conheci minha vó, mãe do pai. Os outros eu não
conheci ninguém. Provavelmente devem ter ficado na
própria zona de origem. Os pais da mãe em São Pedro, eu
acho que eles faleceram em São Pedro. E a mãe veio com
uma família, aquela coisa da família tradicional, a
afilhada, aquela coisa. Ainda tem muito disso. É a
madrinha que cria, terminou de criar, aí trabalhou um
pouco com eles, casou..." (Luiz Filipe)
3
Vania é esposa de Ivo. Tem segundo grau incompleto e depois de
casada não exerceu nenhum trabalho remunerado.
4
Sobre socialização de crianças, ver ARIÉS, 1981:225-226. Este
autor mostra como na Inglaterra do século XV os ingleses usam
prática semelhante, entregando filhos a famílias para que fossem
treinados (aprendizes) ao mesmo tempo que prestavam serviços. O
status dessas crianças era ambíguo entre aprendizes, adotados e
142
vendo-se aí a continuidade do modelo escravista após a abolição.
(ricos).
vivia aquela:
associa-se ao nome que por sua vez pode estar ligado a um lugar de
origem.
143
Menino Deus onde também se localiza seu escritório de advocacia no
qual também trabalha uma de suas filhas que como ele é advogada.
social, situa o indivíduo numa rede cuja origem demarca seu lugar
social.
imaginadas.
"Meu pai dizia que ele é M., nós somos M., porque
minha avó foi criada pela família dos M. de Rosário...
- Quem são esses negrinho aí?
- São dos M.
- Mas os M. de onde?
- Lá de Rosário" (Arnaldo)
144
O narrador reconstrói através de um diálogo encenado, a
moral. Fica implícito que o pai de Arnaldo não tem pai conhecido.
com a mãe.
contingências da escravidão.
família negra.
145
Outro aspecto importante e que é recorrentemente analisado em
alguém.
5
Woortman também destaca este aspecto, mostrando que na pobreza a
genealogia perde a importância (WOORTMAN, 1987).
146
parentela matrilateral sobre o conjunto de parentes selecionados
suas relações específicas com esse universo bem como suas opiniões
é construída.
se matri ou patrilateral.
147
Entretanto, a ênfase se localiza nos parentes pelo lado
familiar estudado.
trabalho.6
6
As histórias de operários negros recolhidas por Petronilia G.
Silva, mostram que eles, ao relatarem suas memórias de trabalho
eles o fazem através de fatos relativos à família, aos pais, avós,
etc.(GONÇALVES E SILVA, 1987).
148
É possível extrair do discurso sobre a família um conteúdo de
a "disciplina-obediência", a "honestidade":
7
O trabalho vem acompanhado de garra, persistência, luta,
disciplina, fidelidade, entre outros atributos explicativos do
sucesso na empresa de saltar as fronteiras de classe.
149
isso um "núcleo social" moral definidor central da categoria
família.
150
para casa". Mas poucos os negros assaltantes,
estupradores, isso tudo é muito poco no meio negro.
Porque ele mantém a situação familiar. Isso, na área da
10a Delegacia a gente viu, pela criação, estrutura, tu
tens que trabalhar direitinho, cumprir horário, tu tem
que ser bom, tem que te comportar, tu não pode isso,
não pode aquilo. Porque tem uma série de pessoas que se
tu não fizeres isso vão te expurgar, e tu perde o teu
salário, perde o teu espaço."
... "E nós conversando, chegamos à conclusão de que o
negro ainda traz toda uma situação de família, de
honestidade. Quer dizer, de cumprirem seus
compromissos, do trabalho fiel. Porque ele traz essa
coisa da escravidão: eu tenho que agir certinho para
garantir o meu espaço. E essa coisa do negro, a
submissão vem por aí." (Ana)
1995).
151
impossível considerando a ideologia paternalista da sociedade
brasileira.
famílias em particular.
152
econômica e socialmente, sendo remetidos dessa forma, de modo
pai.
153
Os desprovidos de "herança" constroem na família a riqueza
construíram o sucesso dos pais, não faz sentido, pois "a vida está
será.
154
As falas são dominadas pelo circuito de consangüíneos
"A minha filha diz que eu sou da família dela, mas ela
pertence à outra família: o sogro diz que ela é da
família dele. Ela tem duas famílias; é da família do
meu sogro e da minha mulher, a qual eu não pertenço. A
minha filha é da família da minha mãe à qual eu
pertenço." (Geraldo)
155
"Bom, de minha parte eu tenho duas famílias. Eu tenho a
família que é minha mãe, que eu considero, né, minha
família, minha mãe e minha irmã. Essa é minha família
e eu, constituímos uma família. E, na minha concepção,
na minha idéia, naquilo que eu sinto, a outra família
que eu tenho é minha mulher e minhas filhas" (Ivo)
ela. Não conheceu as avós, não sabe dos avôs e se ressente dessa
8
Nos termos de PARSONS, 19
9
Zilá é professora de segundo grau na rede pública estadual.
Cursava mestrado em literatura e estava preparando sua
dissertação. É especialista em literatura africana. É casada com
P., engenheiro agrônomo conhecido e muito bem situado. Zilá
lecionava também em uma universidade privada. Participa de
organizações internacionais, viajando freqüentemente como
observadora de questões da África Negra, tendo visitado também a
Índia, sempre financiada por organismos internacionais. Fez parte
do Conselho do Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra,
órgão do governo do estado, representando o seu órgão de origem.
156
Rogério é exemplar para observar um caso de segunda geração
chegar nele mesmo passando após aos avós maternos. Seleciona quais
destes compõem sua família, ou, nas suas palavras "seu universo
afilhada).
companheiro dela (que ele presumia não ser pai de seu pai) acerca
157
ainda uma irmã de seu pai, a qual era de uma "classe mais humilde"
158
depender de mim não tenho nenhuma iniciativa para
cumprimentar." (Rogério)
159
parentes, assim como pessoas com o mesmo grau de parentesco podem
segundo o caso.
160
da parentela atribuindo um ao outro o parentesco com "aquele
morrinha": "-ó o teu parente ali, ó!" "- Meu não. Ele é teu
mãe. Convive com alguns primos mas não os reconhece como parentes
família" embora não façam parte dela "porque tem alguns que
161
futebol, para o convívio social. A namorada procurava incentivá-lo
projeto.
parcial diria eu, mas opera uma classificação em que cada genitor
fazendo o mesmo com irmão que por ser casado já não pertence à
e política.
pela residência.
162
Helena é médica, divorciada de um homem negro, também médico,
Ela tem uma família singular: ela, uma irmã solteira, uma
mulheres:
singular:
163
Esse arranjo residencial, lido por Helena como familiar,
separar".
164
Helena e sua "família" parecem ter solucionado desse modo a
com esta resolver seus problemas quando os tem; prefere sair para
pitéus da avó.
relações que esta possuía com seus patrões permitiram que seus
10
Sobre isso ver FONSECA, 1986 e 1988.
165
Percebe-se nas entrelinhas uma certa desigualdade econômica
cuidado das crianças pela avó (que por sua vez tem sua velhice
ascensão social, cuja arrancada foi dada pela mãe através de seu
e posição de classe.
166
Esse tipo de arranjo é ainda encontrável em Porto Alegre em
relatos de uma família branca das classes médias que reside dessa
filhos num mesmo terreno onde cada um tem sua casa (unidade
doméstica):
"Eu tenho uma tia que ela tem um terreno, e cada filho
que vai casando vai morando. Agora, cada um tá fazendo
as suas coisas. Mas é um cortiço vamos dizer, cada um
tem a sua casinha lá dentro. ..." (Zilá)
pátio":
vez que o pátio é comum mas cada um tem sua própria casa, da mesma
167
relatados, é o fato desse arranjo se dar sempre entre parentes
os pais e avó de Ivo, que por sua vez sempre moraram juntos. A
sogra de Zilá reside com ela desde que se casou e não está livre
de ter de trazer também a sua mãe para a sua casa. A mãe de Vânia
168
Nas classes populares os velhos ficam dependentes dos filhos.
uma casa que na verdade é muitas casas constitui um fato que foge
conjugal nuclear.
169
centrada na mãe. Esta, mesmo não exercendo autoridade, preserva
170
"Porque eu considero a relação de parentesco, em
relação ao parentesco sangüíneo. Mas eu tenho uma tia,
cunhada do pai, que é uma figura mais do que... não tem
a questão do parentesco, é uma grande amiga. É uma
pessoa que eu gosto muito." (Silvia)
tem "uma família pequena" (já que despreza uma boa parcela de
171
que os situa como parte da "família" - definida aqui como circuito
11
doméstico de convivência íntima, representado pela "casa".
se sobrepõe à aliança.
11
Nos dois casos de adoção de crianças que se encontrou, os
adotados eram do grupo negro. A filiação exige semelhança de
origem, ao contrário da adoção simbólica de amigos.
172
obedecem a situações particulares, embora com limites de
(LEDGERWOOD, 1995)
pelas trajetórias.
173
características morais, até por isso biologizadas." (DAUSTER,
1992:100).
3.4 O Casamento.
que estudamos.
174
Poucos preocupam-se em narrar a circunstância do encontro que
de alianças.
descendentes.
175
Mesmo que a ascensão seja derivada também de alianças
contrário dele sempre viveu "no meio da raça". Ele, mulato como
buscar esposa numa festa, num clube negro de classe média baixa
Ivo.
176
social de muitos negros e mulatos do estado. Do ponto de vista
casal.
estão com o pai, são vistos como adotivos. Quando estão com ela
também suscitam dúvidas, já que são muito mais claros do que ela.
12
Rádio AM, muito popular no meio negro. Há comunicadores negros e
programas musicais destinados ao grupo negro, embora a audiência
177
tipicamente popular e segundo ele "rádio de negão") fazendo com
que seja audível por toda a casa. Residem numa rua (Barão de
Nívea.
negro e do branco.
negros.
baixo, não saber sambar (embora os brancos sempre esperem dela que
13
saiba fazê-lo) . Segundo o marido ela não consegue deixar o seu
178
incorpora o marido da filha, vinculando a ela os descendentes.
Desse modo, "o branco que casa com uma escura 'desce' de
1975:66)
rapaz era separado, tinha duas filhas a quem conheceu. Foi aceita
apoiavam. Para a avó de Silvia, um rapaz branco que casa com negra
Já a sua avó achava que era bom dar uma "melhorada na raça".
não havia casado novamente) casou duas vezes com branca. Sentiu-se
179
Isso configura três ordens de atitude: o casamento dentro do
filhos.
a ascensão promove e diz: "eu não estou livre deles virem a casar
com branca".
180
casada com branco. Até pela ascensão social dela. É
uma coisa que a gente conversa bastante com ela".
na continuidade do grupo.
especiais. Ivo diz de suas filhas que são "muito amigas da mãe",
181
de solidariedade serão reatualizados sem, entretanto expandirem-se
mais baixa, embora com escolaridade alta mas muito mais jovem do
que ele.
maridos das filhas de Ivo são do mesmo estrato social que elas e
situado profissionalmente.
15
Os dados estatísticos apontam para isso.
16
A assimetria das uniões mistas reflete-se não apenas na
desigualdade de status entre branco e negro, mas pelo fator
econômico. Nas classes altas da Bahia ele viu que os homens mais
escuros só eram aceitos quando eram muito bem situados
financeiramente.
182
O marido de Deise pertence à classe empresarial (setor
brancos".
Rogério é parte de uma aliança que pode ser lida como uma
situação de homem mais velho e mais rico com mulher mais jovem e
juventude.
17
A "ala do Roxo" era uma coluna social para o carnaval. Incluía
Deise além da Rainha do Carnaval. Era o espaço de divulgação dos
carnavalescos. O "Gasparotto" é o colunista social da burguesia, a
"alta sociedade", portalegrense. Ambos colunistas eram do jornal
Zero Hora (praticamente o único da cidade).
183
coluna social. Mas um marido completamente estranho à classe
desse grupo através da tradição que lhes será transmitida pela sua
parentela materna.
184
- o que significa opção de pertencimento racial e étnico para os
Familiar
negra no pós-abolição.
18
Nos termos de Gilberto Velho (VELHO,1981).
185
Não saber as razões para o desconhecimento de um certo
seus pais e irmã (conjunto esse que ele define, com exceção dos
esposa junto a sua própria família e após reside próximo dos pais
cidade, quando então a mãe de Ivo vai viver com ela e o marido.
186
Joana, avó de Ivo e sua madrinha, teve um único filho de um
suas casas.
187
Zilá organizou sua família com a inclusão da sogra, sem
casa".
188
As características apresentadas por essa história são
dentro dela, mas também pelo saber. Ser consultado para tudo,
"destaque".
189
O tipo de trabalho desenvolvido situa o membro da família num
19
Silvia, na ocasião da pesquisa era assessora direta da primeira
dama do Município e João Carlos era advogado do DEMHAB - órgão de
planejamento e financiamento de habitações populares.
190
A quem prestar esse serviço fica a cargo da seletividade,
sexo.
191
No grupo pesquisado é comum que os descendentes de famílias
jovem entre três irmãos (um homem e duas mulheres). Coube a ele
pai.
burguesia negra.
192
A família negra, via de regra percebida como desagregada, com
que ela deixa de ser o arrimo para ser a "patroa" do homem, cuja
193
união marcam a importância do homem na unidade doméstica, é o que
194
Os dados sobre negros nas camadas médias nos apontam para a
deixou isso muito claro com relação a seus pais e também com a
pudemos perceber.
195
freqüentemente são reforçados por compadrio. A solidariedade
196
4. FAMÍLIAS NEGRAS NAS CAMADAS MÉDIAS. ASPIRAÇÕES E
LIMITES
ascensão.
197
Em que pese a diferenciação interna observada no grupo
negro:
médias brancas.
elite branca.11
11
Não consideram a possibilidade de identificar-se com frações das
classes médias cujo padrão de vida se assemelhem ao seu. Para eles
as classes médias estão sempre num patamar acima do seu e são
brancas.
198
velha imagem do senhor e do escravo, do branco e do preto em
oposição.12
processo de realização.
12
Sobre as implicações psicológicas desse processo identitário ver
SOUZA, 1990.
199
parentes como comparação. Nesses casos remetem ao futuro dos
ser dito no tempo, já que compara seu projeto com o de seu pai:
13
No sentido de BOURDIEU, 1982:7.
200
gente sente que a gente deve ser a mola propulsora pra
fazer com que os nossos filhos saiam da condição
cultural dos nossos avós e avancem pra uma condição
econômica acompanhada de nível cultural também. As
nossas exigências em relação aos filhos são bem
diferenciadas das expectativas dos nossos avós em
relação a nós. O sonho do meu pai era que eu fosse
garçom; e depois que eu fosse brigadiano. Pra ele tava
bom. Garçom ganha bem, tem um nível de sobrevivência, a
Brigada é segura, não vai ter problema, etc e tal. Os
irmãos da minha mulher, um é polícia civil e o outro é
funcionário público, classe intermediária e tal. A
expectativa do pai deles em relação a eles tá bem, os
guris tão bem colocados. Mas o que se vê, a expectativa
deles em relação aos filhos deles: o mínimo possível de
exigência. E aí vem uma outra coisinha, os primos, do
lado dos irmãos da minha mulher, os primos das minhas
filhas, chamam as minhas filhas de cheias e disso e
disso. Porque o nível de exigência que nós colocamos
prás nossas gurias, seguramente é bem maior. A maioria
deles já não estuda mais, já estão no mercado de
trabalho, ou já tão desempregados. Mas nós não. Nós, a
nossa exigência que nós colocamos prás nossas filhas, a
única coisa, a única coisa que elas tem que fazer, é
tirar um curso superior, é o mínimo que elas tem que
fazer. Escolha o que quiser, mas tem que ter um
diploma. Porque? Porque eu passei horrores prá fazer
isso, a minha mulher, a mãe delas passou horrores prá
fazer isso; e agora é o patamar mínimo que elas tem que
sair." (Geraldo)
projeto:
201
Muitos não chegarão, vão naufragar. Porque pode até
chover canivete, faça o que fizer, a tempestade que
houver, o [nosso] barco não vai virar, ele vai chegar
no porto seguro. Quando vocês atingirem, ... a última
atingir a maioridade, tiverem 21 anos, chegou a viagem.
Aí, vocês vão olhar e , pô, pai, chegamos! ... Isso,
era isso. Era essa a visão que a gente tinha, que eu
tinha. De que a minha família fosse assim. Eu queria
que as minhas filhas fossem pessoas destacadas. Não
destacadas em dinheiro, eu não estava muito preocupado
com isso, mas eu queria que elas fossem, tivessem seu
curso, pudessem se qualificar profissionalmente e
pudessem enfrentar as dificuldades, as agruras da vida.
Qualificadas porque eu sempre chamava atenção de que se
não se qualificar vai passar trabalho." (Ivo)
chegar:
202
classes baixas na geração da avó. Possivelmente ter seu passado
Zilá marca a sua relação mais frouxa com o futuro dos filhos
203
A postura verificada em Geraldo (o valor à educação e a
cobrança. Ivo teve isso de seu pai. Geraldo, não. Optou por sair
acha que é muito duro e lembra do que sentia quando seu pai
impunha disciplina, das férias que perdeu tendo que estudar por
ter obtido uma média 6, suficiente para aprová-lo, mas não para as
enfrentar.
sobrinhos.
204
próximos dela). Isso denota a existência de um esforço pela
trabalho).
205
Disso resulta que o padrão de vida alcançado nunca atinge o
dela. As filhas não tem relação com as primas que não estudaram e
A perspectiva dos que estão num nível mais baixo, mesmo que
14
Significa snob, pretensioso, cheio de si.
15
Na base das classes médias (WRIGHT MILLS, 1969).
206
Então, já evitei, porque eu não gosto desse tipo de
coisa." (Gilberto)
uma vantagem.16
16
Residir próximo à família pode consistir numa estratégia
maximizadora dos recursos no sentido de significar obtenção de
ajuda no cuidado das crianças.
207
Geraldo reside num bairro de classe média, próximo ao centro,
por ter sido favorecido pela ajuda do sogro que adquiriu ali os
imóveis que possui, num tempo em que eles não eram muito
208
olha, no Partenon eu não vou morar. Eu vou então
comprar o terreno, já que a caixa está oferecendo essa
oportunidade [caixa dos ferroviários], ela tá
oferecendo onde eu quiser... Eu vou comprar um terreno
e vou receber o financiamento da caixa para fazer na
rua Faria Santos em Petrópolis, que é um bairro novo e
lá, nesse bairro novo, vai florescer uma classe média
que me interessa. ... Lá no Partenon é pobreza." (Ivo)
embora em seu relato isso não seja enfatizado. Seu pai formou-se
209
Ivo já se criou em melhores condições. Relata a experiência
210
trabalho e "valor" que possuem como lutadoras, batalhadoras,
horas extras que seu pai fazia, não seriam suficientes para manter
17
No sentido dado por WOORTMAN, 1987:49.
211
pros meus filhos: é melhor não ter um centavo no bolso,
mas ter excelentes contatos. E eu sou uma pessoa muito
bem relacionada."
"Mamãe pediu roupa prá nós nas casas que ela lavava
roupa prá fora. Ganhávamos muita roupa boa".
"Eu fui pro Aplicação e eu tinha ajuda do Aplicação prá
comprar material. Eu fiquei envergonhada na época: ai
que vergonha! Eu era uma das únicas que tinha esse tipo
de auxílio no Aplicação..." (Marta)
mantê-la no curso:
morou num apartamento com mais duas colegas. O pai de uma delas,
pagasse sua parte no aluguel. Com essa colega ela também "vinha de
carona" para Porto Alegre. Com isso, Helena diz que as coisas
foram mais fáceis. Coube a ela estudar, tirar boas notas e "fazer
o melhor possível":
212
residência aqui, muito bem classificada. Tu tem que
tentar, não precisa ser o melhor, mas tenta ser. Eu
sempre tentei realmente. ... e isso foi recompensado
agora, com meus pacientes,..., com o trabalho que
consegui. Também os trabalhos, graças a ajuda da minha
mãe, que conhecia, porque fazia comida prá não sei
quem, não sei quem. Ah, a minha filha se formou - tava
na hora das cobranças, cobrou e conseguiu. Lá fui eu
pro INPS porque ela fazia comida não sei prá quem e
conseguiu. Fui lá prá Secretaria da Saúde - e mantenho
os empregos até hoje - porque ela foi lá e batalhou."
(Helena)
213
referidos, até porque os contatos delas no trabalho as
ambição.
mesma.
214
nem sempre os remunera bem. A "cobrança" vem sob a forma de
salário há algo que deve ser pago a quem serve. Isso é o que essas
cumpridos.
"bairro bom". A escola mais próxima, pública, foi o que pode ser
oferecido aos filhos, até que tivessem idade para irem estudar
18
Sobre reciprocidade ver MAUSS, 1974, v.II.
215
Silvia precisou trabalhar, assim como João Carlos e Gilberto,
216
socialização nas classes médias mesmo que através do trabalho
(AGIER, 1989:109)
217
"O ressentimento surgiu como uma das dimensões
fundamentais do ethos e da ética da pequena burguesia
(ou de modo geral, da burguesia em sua fase
ascendente), sem dúvida porque ele autoriza os membros
das classes médias - conscientes de que sua ascensão
resulta de privações e sacrifícios de que estão livres,
ao menos em sua ótica, os membros das classes populares
e os membros das classes superiores - a fazerem, como
se costuma dizer, da necessidade virtude, e a
condenarem o laxismo dos que não tiveram que pagar
preço da ascensão..." (BOURDIEU, 1982:11).
218
Além da percepção das dificuldades e das privações próprias
219
que a gente é capaz que é para poder chegar na condição
deles, para ficar numa classe média." (Ivo)
19
No sentido que lhe dá Bourdieu: "relações de força entre posições
que garantem aos seus ocupantes um quantuum suficiente de força
social - ou de capital - de modo a que estes tenham a
possibilidade de entrar nas lutas pelo monopólio do poder...".
(BOURDIEU, 1989:29).
220
as alianças, mesmo que de caráter paternalista suprem em certa
pobre que com sete anos "já tava entregando pão do armazém da
"Meu pai era um cara que, quando ele morreu, ele morreu
aposentado como Procurador-Chefe da Procuradoria do
Município de Rio Grande. Foi professor da Universidade
- diretor administrativo -, tinha sido professor de
português no Ginásio. ... Então, o pai era operário e
trabalhou em todas as coisas e foi depois, fez
concurso, ... ele se dedicou ao estudo e fez um
concurso para a Prefeitura e foi onde ele entrou, como
operário e foi trabalhar naqueles negócios tipo
fábrica... foi trabalhar na zorra, entende? ... e ele,
na prefeitura, nunca teve cargos políticos, sempre teve
cargos aos quais ele chegou por concurso. Então, assim,
ele foi operário, depois ele foi escriturário, ...
acabou sendo advogado." (Rogério)
escritório dele. Rogério veio para Porto Alegre para estudar. Sua
221
mãe, mais que seu pai o incentivou. Era duro, pois o dinheiro era
curto, mas dava para se manter. Depois de formado Rogério não quis
voltar para Rio Grande, embora fosse o que seu pai esperava.
profissional.
era fundamental para Rogério sair do nível a que havia chegado seu
pai: "advogado de marginal". Sua mãe teria sido quem lhe permitiu
222
"Ela tinha saído. De repente ela foi e foi passando
muito trabalho. Ela foi estudar num internato, né. Em
que ela se mantinha, porque ela pagava os estudos com
trabalho, entende? Aqueles colégios de freira..."
superiores.
seus pais, embora não necessite disso para viver. A mãe de Rogério
223
definida como uma condição de "ignorância". Muitas vezes os
em melhores condições.
20
Sobre isso Frazier percebeu que além da educação, também o
sucesso econômico eram pré-condições para entrar nas classes
médias. Considerando o padrão de vida médio que nos dois países é
bastante diverso, não há contradição quando se afirma que em Porto
Alegre não se necessita muito mais do que um diploma superior para
ingressar nas camadas médias ou pelo menos para sair da pobreza. O
senso comum não deixa de considerar a classe média como um resíduo
que engloba qualquer um que não seja muito "pobre" e nem muito
"rico". Entretanto a conquista de um diploma envolve mudanças de
socialização que afetam grandemente o estilo de vida e a visão de
mundo daqueles que o possuem. Inserem o indivíduo em outro
circuito de sociabilidade e geram outras expectativas de vida.
224
porque veio o meu pai, o tio Luiz, Luiz Adamácio, e a
tia França ficou numa fazenda em São Gabriel. ... E daí
chegaram em Porto Alegre por volta de 1908." (Arnaldo)
realizadas.
225
para Porto Alegre, também para estudar. Aí permanece e conquista
sucesso profissional.
anteriormente exposto.
família constituída.
226
Esses casos geram em muitas vezes, rupturas familiares, como
rurais de Erval do Sul. A morte de seu avô produziu uma crise que
como domésticas e bordadeiras. Muda uma vez mais, desta vez para
227
de Marlene (esposa de Luiz Filipe) e de Rogério). A maior parte
burocráticos.
A avó de Vânia foi criada por uma família branca "de posses".
criavam gado. O avô falece e a avó fica morando na casa que haviam
228
"Lá ela ficou criando os filhos todos. As maiores
vieram prá cidade, prá vila que chamavam na época, prá
vila de Erval, trabalhar em casa de família; as mais
velhas, e os mais moços ficaram com a vovó. E a vovó
lavava roupa prá fora prá ajudar, prá criar a turma,
não é."
229
Engendram também descompassos sócio-econômicos e culturais no seio
compatíveis.
230
Deise afirmou-se enquanto indivíduo e como negra, nos
profissional.
231
se para o concurso de Miss UMESPA21 Durante o concurso foi abordada
selecionada:
21
União dos Estudantes Secundaristas de Porto Alegre.
232
negras podem ser "mulatas", mas Miss era prerrogativa das moças
brancas.
vindo do colégio:
sua vitória anunciou a nova Miss Rio Grande do Sul também como "a
sua mãe que a inscreveu sem seu consentimento. Ela não queria mas
estado, era de âmbito nacional, "tu vais ver que é outra coisa".
233
muita gente, prá ela não foi “tão difícil" conseguir as roupas
beleza:
234
Considerando as dificuldades no negro, seu sucesso decorre da
"garra", e da "força".
que fora do estado.22 Por isso confiava na vitória pois "afinal num
22
Deise falou sobre a questão do preconceito na entrevista
realizada em 1996. Para ela "no Brasil" ela não teve problemas (ao
contrário do Rio Grande do Sul que a discriminou). Diz que "o que
eles achavam estranho quando eu cheguei em São Paulo como Miss
Brasil, é que eu vinha do Rio Grande do Sul e era negra. Isso eles
achavam muito estranho. ... sempre mandaram loiras, de olho verde,
loiras de olhos azuis. Eles achavam estranho: - mas tu não nasceu
lá. Tu deve ter nascido noutro lugar. - Não, eu sou de Porto
Alegre, sou gaúcha. Lá também tem negro! Viviam dizendo que eu
nasci na Bahia: - ah! Mas tu é baiana e mora lá. Tu é carioca e
mora lá. Tu é Pernambucana e mora lá. ... Eu acho que é assim que
eles dividem o Brasil. Eles ficaram impressionados com isso. O Rio
Grande do Sul mandar uma negra representando o estado." (Deise)
235
(ZH,04/05/86). Elabora portanto, a sua condição de "mulata
mistura.
236
"índole" da neta adotiva cuja educação foi cuidada - o Colégio em
acolhida por Deise que sempre portou-se bem. A "garra" que Deise
desqualificadores do negro.
seu discurso para a imprensa. O ser negra para ela, passou a ser
profissionalismo.
237
Experiências de discriminação sofridas por Deise são
chiques:
23
Sobre a eleição de Vera Lúcia Ribeiro, ver COSTA CHAVES, Luiz
Antônio, PPGAS, Museu Nacional,1983 (mimeo)
238
negros e os distancia do "Moinhos de Vento e Bela Vista", bairros
E conclui:
24
Alceu Collares é negro e elegeu-se Prefeito de Porto Alegre em
1984. Em 1990 é eleito Governador do estado.
239
A eleição de Deise é apropriada como estandarte da democracia
240
é racista e discriminadora; desqualifica o negro e suas
chega à finalista.
Alegre, na "capital mestiça" onde, após romper com a mãe casou com
241
Deise possui um alto padrão de vida, tanto pela sua situação
Deise, daí ter ido morar com ela em São Paulo e também no Rio de
Janeiro onde viveu por algum tempo. Além disso ela não aceitou a
25
Ao ser perguntado a ela quem era a sua família, ela incluiu sua
família de procriação. Dos parentes, ela inclui os irmãos do
242
4.4. O Gosto da Festa
uma classificação.
domésticas.
marido e a sogra como parte de sua família. Com eles convive por
"afinidade e intimidade". Parentes do marido são padrinhos do
filho mais velho. Amigos o são da mais moça. Sente-se com dever de
ajuda apenas em relação a avó, mas esta já faleceu.
26
Sobre habitus e estilo de vida ver Bourdieu (ORTIZ, 1983:82-121).
243
máximo de africanidade, até um máximo de "mistura", definida como
estigma a que foi sujeita pelo valor negativo que lhe foi
atribuído.
27
Sobre gosto e classe ver Bourdieu (ORTIZ, 1983:82-121).
244
O bar situava-se na avenida Plínio Brasil Milano num dos
freqüenta-lo.
28
O Jornal é dirigido à comunidade negra, é periódico e é produzido
por grupo ecumênico. Noticia questões de ordem política, cultural
e mundaneidades do meio negro, além de contar com patrocínios de
245
necessária para o gosto mais exigente. Motivos emprestados do
e garrafas).
246
Famílias completas compareceram àquela noite, o que foi
parceiros.
amigo (mulato) era recusado por sua esposa (também mulata) como
29
Sobre isso ver BITTENCOURT, 1995.
247
O ponto alto do show foi aquele em que os passistas chamavam
Quando algum não era bom de samba, o público ria muito, vaiava
naquela noite, era difícil "a comunidade" manter uma casa com
248
meio fundamental, mas que podia ser um radialista ou jornalista de
tradição da banda.
"Já fiz baile até em porão e sempre quis que fosse bem
as festas ainda eram feitas para obter fundos para a banda de ano
30
Roxo tinha um programa de rádio e uma coluna no jornal local -
Zero Hora - no qual noticiava o carnaval, as festas e
acontecimentos do meio negro. Assim a Banda da Teresa foi
divulgada.
249
salão maior e eu tinha o apoio de uma pessoa
maravilhosa que era o Roxo; ele me dava muita força,
né, então o Roxo sempre me incentivava, na meia-noite
ele tava na rádio gritando : agora a banda da Teresa da
Chácara das Pedras tá saindo..."
31
O primeiro baile Garota Cravo e Canela foi em 17 de novembro de
1984 e ocorreu no Clube dos Metalúrgicos.
250
nota 10". Ambos se realizaram no Sport Clube Farrapos, sociedade
atletas, etc.
32
Segundo as pessoas frequentadoras habituais desses bailes, a
"comunidade" espera por eles, investindo suas economias em roupas
para apresentarem-se em condições.
251
carnavalescos, representantes do clube que sediava o baile. Só
maioria estudantes.33
33
Segundo Teresa, essas moças podem conseguir oportunidades na
carreira de modelo fotográfico, participar de comerciais, dada a
visibilidade que adquirem com a participação nesse tipo de
concurso.
252
prêmios dos vencedores dos concursos, Marina, rainha da sociedade
Porto Alegre".
mistura:
253
categoria negro, pelo menos quando quem discursa é, apesar de
carnavalesco, um branco.
exige.
254
naquele dia, eles são nivelados, iguais, entendeu..."
(Teresa)
255
Teme ser acusada de preconceituosa e faz questão de afirmar-
incluindo-se no conjunto.
comprar os convites.34
negros que o espaço é digno até para brancos importantes. Esta foi
foi dirigida a nós que não apenas fomos filmados como constituímos
prestigio.
256
A "Festa Baile Solidão Jamais" que elegeu o primeiro Homem
de alianças matrimoniais.
pelos interessados em acertar uma dança. Com isso ela esperava que
responsáveis, públicos.
34
"Marcas de distinção" seria um conceito aplicável a essa questão.
Sobre isso ver BOURDIEU, 1982:14.
257
"E agora eu tô fazendo este negócio assim, e como eu tô
em guerra com a solidão, eu já te disse né, eu..., e o
material humano homem tá muito escasso, tá assim,
difícil, então eu tô fazendo a escolha do homem nota
10..."(Teresa)
35
A carreira de modelo fotográfico e de manequim são escolhas
características de segmentos aspirantes às classes médias,
especialmente no meio negro. O caso de Deise Nunes é exemplar das
possibilidades que oferecem.
36
Segundo a Revista Tição (TIÇÃO, 1979) há controvérsias quanto a
data de sua fundação. Floresta Boca 18 foi uma das formas com que
foi designado por uma geração. Denomina-se Sociedade Beneficiente
e Cultural Floresta Aurora. É o mais antigo Clube de negros da
cidade. Sua sede esteve mais antigamente na rua Lima e Silva,
cidade Baixa, bairro próximo ao centro da cidade e espaço de
residência de grande parte dos negros. Na década de 70 o Floresta
era designado pelo público jovem como Mansão Black em decorrência
da "soul music" que dominava suas noites. Esse fato, em oposição à
antiga ênfase no carnaval, é motivo de polêmica na revista citada.
258
Imperadores do Samba, "os Imperadores", utilizou o espaço do
mesmo tempo recolhia fundos para a ala e realizava mais uma etapa
259
Era um espaço negro no qual coexistiam, naquela oportunidade,
Orgia - percebeu que muitas vezes uma família compunha uma ala
260
inclusive, denominavam as alas com o nome da própria família..."
(SILVA,1993:145).
identidade.
escola. Além disso, a escola de samba não está apoiada numa base
261
privilegia atributos de classe preferindo identificar-se como a
por ser um bar com música ao vivo (pagode e samba), tocada por
bar para negros, mas era "onde o pessoal se reunia" nos fins-de-
262
trocavam informações, combinavam publicações (jornais locais e do
interior) e as divulgavam.
(SILVA,1993).
39
Lembre-se que as danças dos negros escravos eram de modo especial
controladas. A sua ocorrência nas festas católicas foi proibida.
Elas eram tratadas de uma perspectiva moral e religiosa,
constituindo foco nas acusações de licenciosidade e primitivismo
dos escravos. Os acontecimentos que levaram à proibição da
participação dos negros nas festas da Igreja Matriz Madre de Deus
de Porto Alegre, dos quais derivaram a construção da Igreja do
Rosário pela Irmandade de mesmo nome durante o século passado,
demonstram o que as danças dos negros significavam para as
263
não o faz segundo o padrão do grupo. Com isso podemos perceber
negrão". Isso parecia ser a regra também para certas parcelas das
classes médias.
264
O Kizomba teve o papel de atrair os segmentos mais
como "show".
40
Negritude aqui é vista como expressão ideológica da etnicidade
negra. A etnicidade pode ser definda como um fenômeno no qual as
diferenças sociais, traduzidas em diferenças étnicas, são
utilizadas para fins de mobilização grupal por demandas sociais,
políticas e econômicas. (SEYFERTH, 1983)
265
Poucas vezes a identidade negra marcada ideologicamente é
eles.
266
sociais, especialmente no meio urbano que de modo especial
preconceito e da discriminação.
que sua socialização teve por base valores mais condizentes com a
É como indivíduo que ele vai vivenciar a "luta" e como tal munir-
267
Não foram incomuns relatos que denotavam de modo claro o uso
mesmo não sendo um ativista político. Atuar num campo que poderia
hora, um subalterno informou que ela não poderia ser recebida por
41
Não privilegiamos nesse estudo as organizações negras, mas temos
de considerar sua existência devido a sua relevância no meio negro
268
"Eu vi que era uma grande mentira. Eu saí de lá tão
furiosa, mas na hora eu não tive reação. Quando eu
cheguei no escritório onde eu trabalhava, e contei prás
minhas colegas: mas isso é racismo! Liga prá lá, vai lá
e xinga eles... Até hoje eu fico tão indignada. Como é
que eu não tive, na ocasião... Então, ... é uma
situação de raiva. De constrangimento mas de raiva,
pela hipocrisia, por tudo. A gente sente aquela
loucura, de ver que tu és discriminada pela tua cor.
Isso é muito sério". (Zilá)
269
racial. Por não remetê-lo a esfera grupal, não cria as condições
solucionou o impasse.
43
Thales de Azevedo mostra como, desde Pierson (PIERSON, 1967), o
caráter de mito da democracia racial já havia sido reconhecido.
Concorda com a idéia de que no Brasil há uma certa "confusão entre
discriminação racial e social" uma vez que é nesse nível que a
discriminação racial age mais fortemente (AZEVEDO, 1975:37).
270
O mecanismo de exibição de status é mais bem sucedido quando
etc.
indagou se ela não teria uma amiga para lhe indicar como
empregada, e que fosse como ela, tão limpa, tão distinta. Diva
também uma amiga que lhe indicasse. Relatou o fato muito irritada.
Era como dissesse: mais uma vez! Depois se comprazeu com a "cara
271
Esses episódios, vividos como ofensa pessoal de caráter
racial fazem parte do cotidiano das pessoas. Mas não são apenas
lugar.
verbal. "Eu não fiz nada porque estava ema casa de uma amiga", "Eu
272
não ia dar escândalo ali, com toda aquela gente" são exemplos do
que é dito para explicar o fato de não ter reagido "como deveria".
posição social estão expostos a ele de modo mais radical, dado seu
273
tinha a família negra e a educação negra, justamente
para preparar meus filhos, as minhas filhas, prá que
não acontecesse com elas o que aconteceu comigo."
(Geraldo)
união.
próprias condições dos negros que são diferentes "por esse país
possibilidade de diferenciação.
274
Se o indivíduo, "sempre viveu no meio da raça" (Vania), ou
275
desse tipo de espiritualismo, costumando ir "tomar passes" num
276
pois envolve cuidados de saúde dos quais os médicos detém o
monopólio.
44
Sobre batuques ver ORO, 1988 e 1994; CORREIA, 1992.
277
"Aqui na frente desse apartamento, aqui, ...,
vieram para cá... uma família alemã, de Santa Cruz. Nós
já estávamos aqui. Eles saíram de uma comunidade
essencialmente alemã, igreja protestante, e vieram para
cá. ... Nós aqui não temos absolutamente, nós não
fazemos racismo às avessas. ... Fazíamos o que os
vizinhos fazem em apartamento: no máximo se
cumprimentam. Agora, fazem quatro anos isso. A mãe e as
três filhas são filhas de santo da minha mulher. Elas
foram cooptadas. ... Foi um processo lento. Elas foram
se aproximando, se aproximando. Elas é que se
aproximaram. Se aproximando, se aproximando, dali a
pouco tavam [sic] no terreiro."
278
Também Ivo relatou sua educação no mundo branco através do
qualquer forma ele fez parte. Com isso ele mostrava pertencer ao
mundo branco.
279
palestino, libaneses, negros, brancos, alemães,
enfim... Então ali é uma mistura... então em questão de
cor, nunca houve problema para mim."
280
"A minha mãe foi criada por uma madrinha. Não teve
mãe, eu não tive avó. ... Eu não tenho essa
história...."
num projeto seu com vistas a oferecer aos filhos essa base
281
minha mãe, ela é clara como você. Agora, essa mistura
cria problemas"
não ser negro nem branco, mas mestiço que para ela devem se auto-
ela como negra, desde que o "tom" não seja ofensivo, o que ela
Para ela "o que vai acontecer daqui mais um tempo, não vai mais
branqueamento.
282
relacionar mais" com aquela professora foi lutar através dos meios
embora ela seja o atributo negro (segundo sua definição) que ele
vou muito...".
283
Identifica-se com a música, valor que herdou do avô, mas não
muito embora essa atitude não seja própria do grupo negro na sua
totalidade.46
aquela roupa:
45
Frazier mostra que nas classes médias negras há uma considerável
confusão de ideais e padrões de comportamento. Vê, inclusive a
emergência de uma classe média mulata herdeira das tradições das
famílias mulatas e da cultura das massas ("folk"). (FRAZIER,
1973:322)
46
Esse fato é demonstrado pela existência de Centro de Tradições
Gaúchas (CTG) de Negros e pela adesão do negro ao mate (chimarrão)
e a uma auto-identificação como gaúcho. A ideologia de frações do
movimento negro banem o tradicionalismo pelo fato da maioria dos
CTG não terem pretos e pelo fato dele ser um movimento nascido a
margem da negritude urbana que aspiram desenvolver na cidade de
Porto Alegre.
47
Traje típico do gaúcho no folclore do sul, composto por bombacha,
bota, guaiaca, xiripá, etc.
48
A Semana Farroupilha é a que antecede o "20 de setembro", data
comemorativa da Revolução Farroupilha.
284
"Mas eu me senti ridículo. ... Eu disse: Tu já viu
algum outro negrão usando isso aqui? Acho bonito em
vocês, faz parte da cultura de vocês. Mas prá mim não,
pô. Não combina."
não faz sentido para o negro. Sua identidade vai ser marcada pela
definir o negro, feita tanto pelo branco quanto por ele mesmo.
maior.
assim apenas como espectador, pois sua vida era "a escola, o
285
"Prá te falar a verdade, ser negro, prá mim, começou em
88...Eu digo assim, de sentir e querer a identidade...
em 88, no Centenário da Abolição..."
Alegre que tem como tema sempre a cultura afro, embora em grande
medida por causa da filha que havia sido convidada para a comissão
negra", para ele ser negro, ter uma identidade negra, é "se
286
A escravidão ocupa, na construção da identidade dos negros um
experiência:
287
suas famílias por madrinhas ou famílias abastadas. Os mulatos
288
Arnaldo diz que vive como branco e com isso quer dizer que
"Eu não penso todo o tempo que sou negra. ... Mas
existe algumas situações em que sou obrigada a pensar.
Sou obrigada a pensar, agir como tal, e tomar atitudes
e posturas como tal. ... No confronto dos preconceitos,
no confronto com as coisas." (Helena)
289
se constitua a exigência para incorporar um branco ao seu meio. Os
a oposição a ele.
ascensão social.
290
CONCLUSÃO
integram.
endogenamente elaborada.
291
Se Dauster apontou em seu trabalho (Dauster, 1992) "sangue" e
"adotado" como parte da família, será "dos nossos" mas sem a ela
pertencer.
ordens de fenômenos.
ascensão.
292
Nesse circuito, a "garra", a "honestidade" e o "trabalho" se
diferentes e desiguais.
seus pleitos.
de "valor".
293
veículo los laços de parentesco, é impregnado pelo seu sentido.
pautado na ênfase na vida familiar. Esta por sua vez envolve, além
294
Mas o dominante no grupo é a família conter mais membros do
acontece.
Deise.
trajetórias.
49
No sentido êmico de identidade de interesses.
295
de "melhoria de vida", na promoção da educação dos filhos e
assentado no trabalho.
necessidade e do mérito.
50
Em oposição a tradicional.
296
famílias de origem. Sempre que foi possível, a chefia foi
297
O afastamento da pobreza implica mudar de lugar, sair para
aproximar da pobreza.
vida, com seu gosto, com sua música, com seu modo de ser.
298
como traço da sociedade brasileira, pode ser formulada como
ofendido pela raça impõe uma resposta pela classe, vínculo que
termos sociais.
51
Devido ao fator raça ser definido a partir de características
externas, não há a possibilidade de recusar esse pertencimento em
função do preconceito racial.
52
O que é o caso de Porto Alegre, cuja população negra (preta mais
parda) perfaz aproximadamente 15% do total.
299
Através da família é que esses códigos ganham espaço de
53
Enquanto especificidade do negro e nesse sentido como um duplo
referencial de identidade.
300
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