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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


ESPECIALIZAÇÃO EM PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO E
INTEGRAÇÃO REGIONAL - EPDIR

MARIDALVA NASCIMENTO
THAÍS CHADA DE FREITAS

GESTÃO URBANÍSTICA NO MUNICÍPIO DE BARCARENA-


PARÁ ENTRE 1998 E 2009

Belém
2010
MARIDALVA NASCIMENTO
THAÍS CHADA DE FREITAS

GESTÃO URBANÍSTICA NO MUNICÍPIO DE BARCARENA-


PARÁ ENTRE 1998 E 2009

Monografia apresentada como requisito


para obtenção do grau de Especialista em
Planejamento Desenvolvimento e
Integração Regional da Universidade
Federal do Pará.

Orientador: Prof. Dr. João Márcio Palheta


da Silva.

Belém
2010
Dados Internacionais de Catalogação de publicação (CIP)
(Biblioteca do NAEA/UFPA)
____________________________________________________________________________

Nascimento, Maridalva
Gestão urbanística no Município de Barcarena Pará / Maridalva Nascimento; Thais Chada de
Freitas; orientador João Márcio palheta da Silva. – 2010.
67 f.: il.; 29 cm
Inclui Bibliografias

Monografia (Especialização) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de


Altos Estudos Amazônicos, Curso de Especialização em Planejamento do
desenvolvimento e Integração Regional, Belém, 2010.

1. Gestão ambiental – Barcarena (PA). 2. Políitica ambiental – Barcarena (PA) 3. Meio ambiente –
Barcarena (PA) 3. Baixo-Tocantiis, Região (PA). I. Freitas, Thais Chada; Silva, João Márcio Palheta
da, orientador. III. Título.

CDD: 21. ed. 3034833 098115


____________________________________________________________________________
MARIDALVA NASCIMENTO
THAÍS CHADA DE FREITAS

GESTÃO URBANÍSTICA NO MUNICÍPIO DE BARCARENA-


PARÁ ENTRE 1998 E 2009

Monografia apresentada como requisito


para obtenção do título de Especialista do
Curso de Especialização em
Planejamento, Desenvolvimento e
Integração Regional da Universidade
Federal do Pará.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________ - Orientador
Prof. Dr. João Márcio Palheta da Silva
PPGEO-UFPA

______________________________________ - Examinador Interno


Prof. Dr. Durbens Martins Nascimento
NAEA-UFPA

______________________________________ - Examinador Externo


Prof. Chistian Nunes da Silva
IFCH-UFPA

Data de aprovação: ______/______/______


Conceito: __________________
A nossa família, nossos grãozinhos de ouro,
nossos pais e irmãs que pacientemente nos
esperaram.

Aos que tem suas vidas transformadas


diariamente pela ausência de ações urbanísticas
concretas no município de Barcarena.
AGRADECIMENTOS

A Deus essa história mística de amor e fé à humanidade

A Universidade Federal do Pará e ao Programa de Especialização em Planejamento e


Desenvolvimento e Integração Regional (PEPDIR)

Ao Prof. Dr. João Márcio Palheta da Silva, pela orientação na elaboração e conclusão
deste trabalho.

Aos Professores do Programa de Especialização pelos conhecimentos transmitidos


através das disciplinas ministradas no Curso

Aos colegas Wando Dias Miranda e Benedito Aldo Lisboa pela colaboração sem
cessar

Aos nossos pais e irmãs por serem poesia em nossa vida

Aos nossos esposos que nos fizeram enxergar que ter filhos é permitir unir-se a Deus
na criação de uma alma imortal

A todos os entrevistados do município de Barcarena que contribuíram para essa nossa


pesquisa.
RESUMO

O objetivo desta pesquisa é avaliar a gestão municipal de Barcarena, subregião do Baixo


Tocantins, no trato da questão urbanística, que instrumentos urbanísticos a gestão pública
utiliza para o desenvolvimento social da população local. Para tanto abordou, adotou uma
abordagem qualitativa e pautou sua estratégia de pesquisa em um estudo tipo exploratório-
descritivo, por meio da qual se buscou a compreensão dos fenômenos pela sua descrição e
interpretação.A coleta de dados foi baseada em pesquisas histórico-documental e vistas in
locu, orientada para a identificação de informações e conceitos valiosos ao entendimento do
objeto de pesquisa, além de relatórios e documentos dos órgãos e secretárias do Estado e do
Município, quando na visita a Biblioteca central da Universidade Federal do Pará, do Núcleo
de Altos Estudo Amazônicos (NAEA), a Prefeitura Municipal de Barcarena, Secretaria de
Planejamento, Orçamento e Finança do Estado, Secretaria de Obras de Barcarena, Secretaria
de Planejamento de Barcarena, além de pesquisas na internet em instituição de controle,
fiscalização e normatização como a Secretaria do Tesouro Nacional. Este estudo foi motivado
pela observação de imensas disparidades vividas pela população da região, além da curta
distância da metrópole – Belém. Os resultados da pesquisa apontam para a dificuldade que o
município de Barcarena tem em oferecer condições e oportunidades eqüitativas aos seus
habitantes. A população urbana vive privada e ou limitada de satisfazer suas necessidades
básicas, seja por suas características sociais, culturais, étnicas, seja de gênero e idade.

Palavras-chave: Barcarena. Regulação Urbana. Instrumento Urbanístico.


ABSTRACT

This study aimed to evaluate the management of municipal Barcarena subregion of the Lower Tocantins, in
dealing with the issue planning, urban planning tools that management uses to public social development of the
local population. For both addressed, adopted a qualitative approach and guided its research strategy in a study
exploratory and descriptive, by which we seek to understand the phenomena and for its description
interpretation. A collection was based on research and historical documentary seen in locus targeted at the
identification of valuable information and concepts to understand the object of research, as well as reports and
documents of agencies and secretaries of state and city, when seen in the Central Library of Federal University
of Pará, the Center for Amazon Research (NAEA), the Municipality of Pombal, Secretary of Planning, Budget
and Finance of the State Department of Public Works of Pombal, Secretary of Planning of Pombal, in addition to
research on the Internet at an institution of control, supervision and standardization as National Treasury. This
study was motivated by the observation that huge disparities experienced by population of the region, beyond the
short distance from major cities - Bethlehem The survey results point to the difficulty that the municipality of
Pombal in offering equitable conditions and opportunities to its inhabitants. The urban population lives in
private, or restricted to meet their basic needs, either by their social, cultural, ethnic, or gender and age.

Keywords: Barcarena. Regulatory Urbana. Urban Instrument.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Transferências constitucionais, 2005...................................................... 27


Quadro 2 – Transferências constitucionais, 2006...................................................... 27
Quadro 3 – Transferências constitucionais, 2007...................................................... 27
Gráfico 1 – Emprego x Principais atividades econômicas, 1997-2006 .................... 28
Gráfico 2 – Evolução populacional de Barcarena 1980 a 2008................................. 30
Mapa 1 – Barcarena sede........................................................................................ 34
Mapa 2 – Zoneamento Urbano............................................................................... 36
Mapa 3 – Carta imagem sede de Barcarena ........................................................... 38
Mapa 4 – Localização dos Prédios Públicos ......................................................... 40
Fotografia 1 – Declaração de domicílio ........................................................................ 42
Gráfico 3 – Serviços básicos em Barcarena, ............................................................. 43
Quadro 4 – Obras realizadas no período de 2007-2009............................................ 45
Fotografia 2 – Ginásio Poliesportivo Laurivalzinho ..................................................... 46
Fotografia 3 – Antiga escola municipal na Barbolândia............................................... 47
Fotografia 4 – Hospital de Barcarena em 05 de fevereiro de 2010................................ 48
Quadro 5 – Rebanhos vacinados............................................................................... 51
Mapa 5 – Sede do município – Cobertura Vegetal................................................. 55
Organograma 1 – Estrutura Organizacional da Prefeitura de Barcarena ............................ 57
LISTA DE SIGLAS

ADEBAR - Associação dos Desapropriados de Barcarena


ALBRAS - Alumínio Brasileiro
ALUNORTE - Alumínio do Norte do Brasil
CDI - Companhia de Desenvolvimento Industrial
CGU - Controladoria Geral da União
CODEBAR - Companhia de Desenvolvimento de Barcarena
FPM - Fundo de Participação dos Municípios
FUNDEF - Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental
IBGE - Instituto de Geografia Estatística
ICMS - Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços
IEC - Instituto Evandro Chagas
IIEB - Instituto de Educação Brasileira
IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano
IPVA - Imposto Sobre Propriedade de Veículos automotores
IRRF - Imposto de Renda Retido na Fonte
ISSQN - Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza
ITBI - Imposto de Transferência de Bens Imóveis
ITERPA - Instituto de Terras do Pará
LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias
LOA - Lei Orçamentária Anual
LRF - Lei de Responsabilidade Fiscal
OGU - Orçamento Geral da União
PMB - Prefeitura Municipal de Barcarena
PPA - Plano Plurianual
PTP - Planejamento Territorial Participativo
SEDUC - Secretaria de Estado de Educação
SEFA - Secretaria Executiva de Estado da Fazenda
SEPLAM - Secretaria Municipal de Planejamento
STN - Secretaria do Tesouro Nacional
SUS - Sistema Único de Saúde
SUSIPE - Sistema Penitenciário do Estado
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO FEDERALISMO NO BRASIL – repercussão na
questão urbana ............................................................................................................ 15
2.1 A QUESTÃO URBANA ........................................................................................... 17
2.2 O PODER PÚBLICO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO .......................... 19
2.3 O PLANO DIRETOR E O ESTATUTO DAS CIDADES ........................................ 21
2.3.1 A questão urbana no Pará .................................................................................... 24
3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE BARCARENA ........................ 25
3.1 LEITURA DA CIDADE ............................................................................................ 26
3.2 ORGANIZAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE BARCARENA ........................ 29
3.2.1 Ocupação Urbana Atual ....................................................................................... 29
3.2.2 A Questão da Habitação em Barcarena ............................................................. 39
3.2.3 Áreas de Ocupação Irregular ............................................................................... 41
3.2.4 Infra-Estrutura Urbana em Barcarena .............................................................. 43
3.2.5 Equipamentos Urbanos Urbanos de Barcarena ................................................ 46
3.3 AGRICULTURA E INDÚSTRIA EM BARCARENA ............................................ 50
4 GESTÃO AMBIENTAL E MUNICIPAL DE BARCARENA ............................... 52
4.1 LEGISLAÇÃO MUNICIPAL EM BARCARENA ................................................... 59
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 62
REFERÊNCIAS............................................................................................................. 66
11

1 INTRODUÇÃO

As questões sobre o espaço urbano na Amazônia paraense são frutos de intensos embates
envolvendo a sociedade civil e o poder público na resolução dos problemas urbanos e de
acessibilidade aos equipamentos no território para uso dessas sociedades. A partir desse
contexto das políticas públicas, e seu rebatimento no território, é que pensamos as questões
sobre Barcarena no período de 1998 a 2009. Nesse sentido, a monografia ora apresentada
sobre Barcarena, estrutura-se em sua contextualização histórica. Para tanto, no primeiro
momento da monografia faremos uma abordagem do Federalismo no Brasil, seguindo sua
repercussão urbana, tendo como marco a constituição de 1988, analisando a dinâmica
municipal a partir de dados populacionais e econômicos.
A pesquisa foi realizada tendo como referência as doze regiões de integração, no qual
nosso foco corresponde à região do Baixo Tocantins, sendo a mesma formada pelos
municípios de Abaetetuba, Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru,
Moju, Oeiras do Pará e Mocajuba. A pesquisa concentra-se no município de Barcarena
especificamente em sua sede, por nela termos encontrado razões que nos levam ao debate
sobre as políticas públicas em municípios que estão sob área de influência dos grandes
projetos, como a Alumínio Brasileiro (ALBRAS) e Alumínio do Norte do Brasil
(ALUNORTE), muito embora nosso foco não sejam esses grandes empreendimentos
econômicos.
A partir da implantação dos projetos de beneficiamento mineral em Barcarena,
município localizado na microrregião de Belém, teve sua economia totalmente transformada,
de acordo com dados da Secretaria de planejamento, orçamento e finanças (SEPOF) e do
Instituto de Geografia Estatística (IBGE), Barcarena havia se transformado em um município
eminentemente industrial de caráter excludente de mão-de-obra não especializada, sediando
importantes empresas (Albrás, Alunorte, Pará Pigmentos, Imerys Rio Capim Caulim) o que
fez a atividade industrial responder por 70,59% da economia local, os serviços representarem
29,01% e a agropecuária apenas 0,40%.
As transformações econômicas e sociais foram sem dúvida um dos fatores de
repulsão da população para as atividades secundárias e terciárias; o que provocou um
acentuado êxodo rural, haja vista que, a atividade econômica havia se deslocado para as
novas empresas e terceirizadas que ali se implantavam. Estas transformações
socioeconômicas contribuíram, para o aumento das receitas municipais próprias tais como:
Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
12

Imposto sobre Serviços de qualquer natureza (ISSQN)


Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF)
Imposto de transferência de Bens Imóveis (ITBI) “Inter Vivos”
Receitas de transferências federais Sistema Único de Saúde (SUS) Fundo de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental (FUNDEF) e Receitas de transferências Estaduais
Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto Sobre Propriedade de
Veículos automotores (IPVA).
O município de Barcarena mesmo apresentado nestas transformações socioeconômicas
mais expressivas nos relatórios do Instituto de Desenvolvimento Econômico, social e
Ambiental do Estado do Pará (IDESP) um forte aumento das receitas como foi verificado com
a representação dos dados apresentado pelos quadros 1, 2 e 3, isso não foi determinante para
os investimentos em equipamentos urbanos.
Tais dados comprovam desta forma uma conseqüência destacada da descentralização e
do Federalismo através do crescimento destes recursos fiscais tornados disponíveis para os
municípios e que acima de tudo necessitam que haja uma aplicação dos instrumentos
urbanísticos agendados pelo Estatuto da Cidade. Projetando os problemas urbanísticos de
Barcarena numa configuração territorial local como resultado de processos globais e
regionais, sem desconsiderar as peculiaridades de Barcarena, frente à forte expansão
econômica.
No período de 2005 a 2008 a receita municipal, segundo informações da Secretaria do
Tesouro Nacional, passou de R$ 100.924.439,37 (Cem milhões novecentos e vinte e quatro
mil quatrocentos e trinta e nove reais e trinta e sete centavos), para R$ 134.232.910 (Cento e
trinta e quatro milhões, duzentos e trinta e dois mil e novecentos e dez reais) demonstrando
através dos números a repercussão na expansão das atividades de beneficiamento mineral no
município para as receitas locais. Nosso objetivo geral na pesquisa foi verificar de que forma
se dá o planejamento urbano em Barcarena, a sede mais especificamente, e quais os
instrumentos urbanísticos são utilizados para o ordenamento territorial.
No segundo momento faz-se uma leitura da cidade, analisando a organização urbana
de Barcarena sede e a estrutura organizacional da Prefeitura, verificando no período de 1998 a
2009 quais instrumentos de regulação urbana foram utilizados e de que maneira esse processo
aconteceu.
Como também vimos que o crescimento populacional tem repercussão na zona
rurbana, notadamente nos arredores das áreas urbanas, de forma desordenada nos levando a
13

crer que necessitam de certa importância nestas áreas para uma definição de qualquer
estratégia de desenvolvimento.
A primeira vez em que visitamos o município de Barcarena, tivemos um susto
primeiro pela grandiosidade das instalações das empresas de beneficiamento mineral ali
instalada, segundo pela falta de infra-estrutura que o município apresenta, exatamente por
entendermos que o que gerava tanta riqueza não repercutia em “desenvolvimento”. Esta visita
aconteceu em outubro de 2009, quando procurávamos elementos que subsidiassem nosso
trabalho de pós-graduação.
No trabalho de campo, realizamos entrevistas com representantes de movimentos
sociais e representantes do poder público local.
Neste sentido, passamos a considerar como objetivos específicos, os seguintes
tópicos:
a) Caracterizar a sociedade local em seus aspectos populacionais, econômicos e
sociais no período de 1998 a 2009.
b) Identificar os instrumentos urbanísticos utilizados na gestão municipal
c) Como está estruturada a gestão pública municipal

Encontramos dificuldades em conseguir os dados contábeis do município. Em


Barcarena, estes dados não estão disponíveis para o público, porém o fato de estarmos
diretamente vinculadas a Gestão Pública Estadual, como Técnica de Planejamento do Estado,
Thaís Chada e Maridalva Nascimento, como Técnica de Planejamento e Gestão da
Companhia Paraense de Turismo garantiu o nosso acesso facilitado aos dados do Sistema de
Gestão na Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças do Estado além dos dados
disponíveis no portal da Secretaria do Tesouro Nacional que foram fundamentais para
pontuar a dificuldade da gestão municipal em administrar a coisa pública, no sentido de ficar
claro a não cobrança do Município ao Estado nas obras em andamento, segundo GP-PÁ, a
mais de três anos, exemplo disso é o Hospital Municipal de Barcarena.
Durante a realização do trabalho de campo em conversas informais com alguns
moradores da região como o professor Afonso ou o professor Walmir Bastos e ainda com a
família da Srª Cíntia Pinheiro, residente da ocupação de Barbolândia, com a Secretária de
Planejamento de Barcarena, Srª Renata Martins, com a Prefeitura de Barcarena na figura de
seu assessor especial Robson Amorim e com o Secretário de Obras, Srº Renato Ogawa,
nestes últimos em especial encontramos bastantes resistências em colaborar com nossa
pesquisa. Intuímos que esta resistência se deve a vários fatores como, por exemplo, medo,
14

omissão, pois pesquisava “coisas que poucos desejam falar” tais como receitas, despesas,
recursos, obras realizadas ou não, modelo de gestão, dentre outros.
O mais intrigante da pesquisa de campo sem dúvida foi constatar como são
empregados os recursos públicos pela gestão pública municipal, na qual encontramos obras
que deveriam ter sido concluídas e não o foram, mesmo depois do aporte financeiro ter sido
completamente realizado. De uma forma geral a política do medo impera tanto para quem foi
direta ou indiretamente beneficiado em alguma obra municipal quanto quem não foi, ficando
claro o modelo tradicional de gestão praticado no município, sendo este o modelo
burocrático.
A gestão pública municipal de Barcarena no período estudado, usufrui da autoridade
tradicional para administrar. Foram nas abordagens de Max Weber, economista e sociólogo
Alemão responsável pela Teoria da Burocracia na Administração, que encontramos grande
semelhança na teoria e prática aplicada na administração em Barcarena, considerando que o
poder tradicional não é racional e é extremamente conservador.
Durante o trabalho de campo outros obstáculos estiveram presentes, tais como a falta
de atendimento a equipe mesmo diante das várias ligações na tentativa de contato com a
prefeitura, e-mail e declarações enviadas as Secretarias de Planejamento a de Obras, na
figura da própria Renata Martins Secretária de Planejamento do Município de Barcarena,
uma vez que na impossibilidade do Secretário de Obras, Renato Ogawa, em nos atender seu
adjunto, solicitou que nos reportássemos sempre a Secretária de Planejamento do município a
fim de que a Srª Renata Martins pudesse dissipar as nossas dúvidas também acerca dos
investimentos e obras realizadas no município de Barcarena, além disso, solicitamos
informações em relação ao alcance dos nossos objetivos, anteriormente descritos, da
Prefeitura de Barcarena, através do Assessor Sr.º Robson Amorim, devido as constantes
ausências do Prefeito, Sr.º João Carlos Dias, na prefeitura, ainda assim as visitas a estes
órgãos não foram bem sucedidas, se não pelo acesso ao processo de Elaboração do Plano
Diretor.
15

2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO FEDERALISMO NO BRASIL – repercussão na


questão urbana

O golpe de 1964 colocou o Brasil na rota dos regimes autoritários que passaram a
governar a América Latina na década de 60. Paradoxalmente, os militares não promulgaram
imediatamente uma nova Constituição, embora tenham feito várias emendas à Constituição de
1946.
A nova Constituição do regime só foi promulgada em 1967, assim uma longa emenda
constitucional foi editada. Como se sabe, a Constituição de 1967 e a reforma tributária de
1966 centralizaram na esfera federal o poder político e tributário, afetando o federalismo e
suas instituições.
Embora o Federalismo estivesse fragilizado, isso não significou a eliminação do poder
dos governadores nem dos prefeitos das principais capitais. Como demonstraram Souza
(2005) e Oliveira (1995), os governantes estaduais e municipais foram grandes legitimadores
do regime militar e contribuíram para formar as coalizões necessárias à sua longa
sobrevivência.
No Brasil, o Federalismo significou uma forte centralização do poder político,
partindo do princípio que a vida municipal era pouco expressiva, no que se refere às
competências políticas o papel da atuação pública no município neste período tem pouca
notoriedade. Por que Federalismo? O dicionário Aurélio define Federalismo como “forma de
governo pela quais vários estados se reúnem numa só nação, sem perderem sua autonomia,
fora dos negócios de interesse comum”. As federações possuem um Senado, ou Câmara Alta,
que representa o princípio do território: ali, cada membro tem o mesmo número de votos,
independentemente de sua população.
No entanto, apesar da centralização dos recursos financeiros, foi a reforma tributária
dos militares que promoveu o primeiro sistema de transferência intergovernamental de
recursos da esfera federal para as subnacionais, por meio dos fundos de participação Fundo de
Participação dos Estados (FPE) e Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O critério de
distribuição abandonou a repartição uniforme entre os entes constitutivos, passando a
incorporar o objetivo de maior equalização fiscal pela adoção do critério de população e
inverso da renda per capita. No regime militar, as esferas estaduais e municipais também
recebiam as chamadas transferências negociadas, que cresceram significativamente no
período (OLIVEIRA, 1995).
16

A mobilização popular iniciada nos anos 1970 levou o país ao movimento pela
constituinte e a conseqüente promulgação da “Constituição Cidadã” em 1988. Novo marco
institucional e sóciopolítico se instauraram com ela, particularmente no tocante ao
planejamento urbano e regional e aos instrumentos nela criados.
Dentre as principais mudanças então introduzidas, destaca-se a maior participação dos
governos subnacionais na arrecadação tributária total, por meio da elevação de transferências
intergovernamentais e da ampliação da base de incidência do ICMS, que passou a incluir os
antigos impostos únicos – energia elétrica, combustível e lubrificante e mineral, além dos
serviços de comunicação e transporte. E outras medidas na esfera de competência dos
tributos estaduais e municipais foi também implementada, visando ao reforço de seu potencial
de arrecadação e, paralelamente, à expansão da autonomia legislativa dessas esferas de
governo nas matérias fiscais.
A análise integrada dos fundos de participação, que expressam a partilha
constitucional da receita da União com estados e municípios, e dos critérios e resultados da
partilha do ICMS com os governos municipais, abre caminho para a avaliação das mudanças
recentes no perfil de produção de serviços públicos e na equação socioeconômico/
populacional, delas extraindo possíveis indicações relativas à necessidade de mudanças nos
critérios de alocação de receita e gasto na Federação brasileira.
Ainda que não justificados por viabilidade econômica, os pequenos municípios1
puderam, desde então, contar com os recursos do FPM para sua multiplicação, com
conseqüente pulverização da representação política. Uma vez dominantes numericamente,
conseguiram manter intocados os critérios de rateio do Fundo, mesmo com a reformulação
constitucional, o que tem permitido, ao longo do tempo, total desinteresse dessas
administrações pela arrecadação de tributos próprios, com grande prejuízo sobre a eficiência
arrecadatória (ARRETCHE, 2004).
Uma questão importante sobre o Federalismo brasileiro seria seu significado para os
municípios quanto ao crescimento de recursos fiscais postos à disposição deles para custear
suas despesas. Os Municípios, principalmente os pequenos, dependem fortemente das
transferências de impostos federais, via Fundo de Participação dos Municípios o que aumenta
sua receita disponível.

1
Municípios pequenos classificados pelo IBGE população de 10 a 20 mil.
17

2.1 A QUESTÃO URBANA

O Processo de Urbanização no Brasil teve seu auge com o poderio do setor industrial
através da substituição das importações. Neste contexto, houve aumento da procura por
emprego, habitação e serviços públicos nas áreas urbanas. O Final da década de 1970 foi
marcado por grandes investimentos públicos em infra-estrutura e comunicação, a população
assim concentrava-se em núcleos urbanos, no entanto essa “urbanização da população” não
refletia na qualidade de vida das mesmas. Surgiram então o aumento da pressão social, a
formação de grupos organizados, que passaram a pressionar o poder público para que se
reduzissem as carências urbanas, na luta por direitos formalmente reconhecidos. Contudo a
reforma urbana sofre reações adversas quer seja no âmbito de interesses patrimoniais
contrariados quer seja nas posições ideológicas conservadoras, ainda assim é notório que esse
embate aconteça para que haja conquistas, seja no nível jurídico ou na própria administração
urbana.
Durante a Assembléia Nacional Constituinte, 1986, tivemos a materialização jurídica
do principio da “função social da propriedade” com a proposta da reforma urbana
especificamente no que tange à propriedade urbana, que apenas na Constituição de 1988, no
art. 182, § 2º, ganhou força e importância, estabelecendo o cumprimento da função social da
propriedade urbana através da ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Neste contexto, Fernandes (2002) ratifica o cumprimento da função social da cidade,
onde o direito a propriedade urbana é determinado por legislação urbanística, sobretudo no
contexto municipal. Cabe especialmente ao governo municipal promover o controle do
processo de desenvolvimento urbano, através da formulação de políticas de ordenamento
territorial nas quais os interesses individuais e coletivos se coadunam. Como é dado a
perceber mais adiante, se confrontarmos as diretrizes e os instrumentos efetivamente incluídos
na nova lei, vai-se verificar que, talvez à exceção de algumas propostas mais estritamente
relacionadas à política habitacional e aos transportes urbanos, as teses da emenda popular,
quando não encontraram abrigo na própria Constituição, foram agora encampadas pelo
Estatuto da Cidade. No entanto, o poder público municipal estaria mais apto a constatar e
solucionar os problemas municipais, dado sua maior proximidade dos anseios da população.
A dissociação das tendências de concentração de recursos e de responsabilidades.
Uma questão que ainda não foi devidamente inserida na análise dos problemas do federalismo
fiscal brasileiro é a que aborda as transformações no nosso padrão demográfico. De certa
18

forma as relações intergovernamentais no país ainda são informadas por visões do passado,
dando pouco valor a dimensões importantes como a “metropolização da pobreza” ou
“urbanização da pobreza”, o ritmo de urbanização, a concentração da população em cidades
de maior porte e as diferenças regionais no perfil etário da população e sua evolução ao longo
do tempo.
A natureza das demandas sobre o Estado brasileiro e sua concentração territorial está
diretamente relacionada à atenção do Estado em voltar-se com prioridade para as populações
menos favorecidas economicamente. A tendência à urbanização e metropolização da pobreza
é um dos aspectos mais importantes a serem considerados. Sob essa perspectiva, a
concentração espacial das demandas fica cada vez mais dissociada da concentração espacial
dos recursos, contribuindo para gerar uma situação no mínimo curiosa: uma maior
dependência das regiões metropolitanas e das cidades de médio porte de uma maior atuação
direta da União e dos Estados na solução de problemas locais.
Um dos princípios do Federalismo, conforme Barrera e Roarelli (1995, p. 131),

É a existência de um mecanismo de transferência de recursos fiscais entre as esferas


de governo, as quais se estendem desde a administração de justiça e preservação do
patrimônio da comunidade até a provisão de bens e serviços e/ou meritórios em suas
respectivas jurisdições ou “área de influência”.

O processo de descentralização financeira recente no Brasil teve na Constituição de 88


o seu marco principal. Após duas décadas de centralização promovida pelo golpe de 1964, a
gradual redemocratização do país trouxe em seu bojo uma forte demanda por descentralização
política e financeira. A elevação dos municípios como entidades administrativas com poderes
para gerir sua própria política tributária e a ampliação da apropriação das receitas de
transferências por parte dos governos municípios foram os principais instrumentos que os
constituintes utilizaram para afirmar o principio da descentralização. As políticas de
descentralização vêm sendo adotadas como instrumento de melhoria na gestão dos serviços
públicos bem como na alocação mais eficiente dos gastos públicos desde fins da década de
1970 (LEVY, 1997).
O financiamento das instancias subnacionais de governo constitui o cerne do processo
de descentralização e do pacto federativo. Repartir recursos e encargos entre os governos
federal, estaduais e municipais representa estabelecer a natureza da federação que por seu
turno, somente se legitima quando há mais interesse em que as unidades de que é composta
sejam mantidas juntas, federadas, do que separadas. Portanto, em uma federação os conflitos
19

não são apenas possíveis, mas também prováveis. Nessas condições, não surpreende
tentativas dos governos centrais em limitar o processo de autonomia das instâncias
subnacionais, como é o caso atual da federação brasileira, no âmbito da qual o governo
federal está muito comprometido com o ajuste fiscal, no sentido de lograr maior estabilidade
no quadro macroeconômico do país (BARRERA; ROARELLI, 1995).

2.2 O PODER PÚBLICO PROMOTOR DO DESENVOLVIMENTO

O urbanismo racionalista, característica da primeira metade do século XX e


fortalecido no Brasil nos anos 1950. Tenta mostrar, face aos grandes paradigmas adotados no
país, suas relações com as linhas centrais do “modelo brasileiro” e explicitar os modos de
pensar as cidades e o desenvolvimento urbano, discutindo seus resultados e implicações
espaciais.
O Estado brasileiro desde a década de 1970, com seus governos, passou por inúmeras
mudanças em seu discurso de desenvolvimento regional, pois a partir deste período foi
necessário gerar condições para atender o crescente mercado industrial, por conseguinte este
engrenava no mercado global. O Estado agora (2009) passa a direcionar as capacidades do
mercado e da sociedade na linha do desenvolvimento regional, este por sua vez muitas vezes
moldado a partir do conceito de crescimento econômico, dependendo dessa forma, do
crescente consumo de energia e recursos naturais.
No entanto apenas na década de 1980, ganha força o tema da Reforma Urbana,
impulsionado pelo fortalecimento de movimentos sociais, particularmente os movimentos de
moradia. O Movimento pela Reforma Urbana considera em sua pauta as disputas e
desigualdades no acesso ao solo urbano, e propõe um marco legal que enfrente essas questões.
No âmbito municipal o direito a propriedade imobiliária urbana ganha força quando
assegurado sua função social, já expressa na Constituição de 1988, quando no art. 182, 2º.
Posteriormente passou a tratar do “direito urbanístico” no art. 24, I e nos arts. 182 e 183 onde
dá ênfase à política urbana.
Parafraseando David Harvey (2009), que durante o Fórum Social Mundial sediado em
Belém 2009, declarou que a luta pelo direito à cidade está no centro da luta contra o capital e
que a crise atual é basicamente uma crise de urbanização, que tem origem na propriedade
urbana, deixa claro o fato de que as cidades são, potencialmente, territórios de geração de
20

riquezas e de diversidade econômica, ambiental, política e cultural. É sabido também que o


modo de vida urbano interfere diretamente sobre o modo em que nos relacionamos com os
outros e com o território.
Nesse contexto identificamos diferentes formas de ver o espaço de nossas cidades. É
nítido o desafio dos municípios em equilibrar os diferentes interesses, para uma utilização
cada vez mais social da propriedade e para que diante da competitividade sejam evidenciadas
as potencialidades do município, além disso, e para isso é necessária uma efetiva participação
da sociedade e talvez neste último esteja o maior desafio.
Para Fernandes (2002) cabe especialmente ao governo municipal promover o controle
do processo de desenvolvimento urbano, através da formulação de políticas de ordenamento
territorial, nas quais os interesses individuais dos proprietários de terras e construções urbanas
necessariamente coexistam com outros interesses sociais, culturais e ambientais de outros
grupos e da cidade como um todo.
Nesse contexto o Governo Federal através do Ministério das Cidades tem como
competência institucional elaborar políticas de apoio ao planejamento e gestão territorial e
fundiária urbana. Trata-se de uma instância de apoio a municípios e Estados, já que o
planejamento urbano e a gestão territorial dos municípios são de competência dos governos
locais.
Este é, portanto o eixo central da política urbana e, conseqüentemente, dos programas
e ações propostas pelos Governos mediante um projeto de “inclusão territorial” das maiorias,
que garanta não apenas a melhoria imediata das condições urbanas de vida dos mais pobres
como também a construção de um modelo mais includente e democrático de cidade para o
futuro.
Esta alternativa perpassa também pelo aproveitamento mais intenso das infra-
estruturas instaladas, pela reabilitação e democratização de áreas consolidadas, degradadas ou
subutilizadas.
Notadamente é preciso que os municípios construam novas práticas de planejamento
territorial e de gestão democrática, apoiando – por meio de uma orientação conceitual,
programática e metodológica – a elaboração de Planos Diretores Municipais e a
implementação do Estatuto da Cidade (MCIDADES, 2001).
Construindo dessa forma, um diálogo articulado da política de desenvolvimento
urbano com a política de desenvolvimento econômico social do município, o que implica em
fazer o debate do desenvolvimento urbano como dimensão integrante do projeto de
desenvolvimento para o município. Sob esse enfoque, a participação dos diversos agentes
21

sociais e econômicos da ordem pública e privada é imprescindível para articular


consistentemente tanto à leitura da cidade quanto a definição de quais os temas prioritários a
serem enfrentados no município;

2.3 O PAPEL DO PLANO DIRETOR E O ESTATUTO DAS CIDADES

O Plano Diretor é um instrumento de Política Urbana instituído por uma Lei


Municipal obrigatório para os municípios, dentre outros, com mais de 20.000 habitantes,
devendo ser o instrumento básico para o planejamento municipal e desenvolvimento urbano.
Tendo como objetivo principal ordenar o desenvolvimento e assegurar as funções sociais da
cidade e de seus habitantes, conforme Constituição Federal em seu artigo 182.
O Plano Diretor destaca-se por seu caráter eminentemente urbanístico, uma vez que
dispõe sobre o uso e ocupação do solo urbano, expansão urbana, parcelamento do solo
urbano, habitação, saneamento básico e transporte urbano e ainda sobre a delimitação das
áreas urbanas, impostos sobre a propriedade predial e territorial urbana e desapropriação
mediante pagamento de títulos de dívida pública. O Plano Diretor é também responsável pela
aplicação dos instrumentos presentes no Estatuto da Cidade, como: Parcelamento e Edificação
Compulsórios, IPTU Progressivo no Tempo, Direito de Preempção, Transferência do Direito
de Construir e Outorga Onerosa do Direito de Construir.
O Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257, vem regulamentar os artigos 182 e 183 da
Constituição Federal, que conformam o capítulo relativo à Política Urbana e tem como
produto a Lei do Plano Diretor, o Código de Obras, a Lei de Perímetro Urbano, a Lei de
Parcelamento, o Macrozoneamento e a Lei de Uso e Ocupação do Solo. São instrumentos de
Política Urbana também a Criação de um sistema de informações georeferenciadas para o
planejamento e a adequação dos procedimentos e da estrutura dos órgãos da Prefeitura.
Consoante a isso elaborar o Plano Diretor de cada cidade deve ir além do que ordena a
legislação e equilibrar os aspectos técnicos e políticos do planejamento, considerando também
a dinâmica e as peculiaridades de cada município, para que desta forma a elaboração do Plano
Diretor possa incentivar os municípios a avaliar e implantar todo o sistema de planejamento
municipal. Esse planejamento implica em atualizar e compatibilizar cadastros; integrar
políticas setoriais, os orçamentos anuais e plurianual, com o plano de governo e as diretrizes
do Plano Diretor; capacitar equipes locais; sistematizar e revisar a legislação. A atividade de
22

construir e elaborar o Plano Diretor é também uma oportunidade para estabelecer um processo
permanente de construir políticas, de avaliar ações e de corrigir rumos.
Assim fazer o planejamento territorial é definir o melhor modo de ocupar o sítio de um
município ou região, prever os pontos onde se localizarão atividades e todos os usos do
espaço, presentes e futuros. Pelo planejamento territorial, pode-se converter a cidade em
benefício para todos; podem-se democratizar as oportunidades para todos os moradores;
podem-se garantir condições satisfatórias para financiar o desenvolvimento municipal; e
podem-se democratizar as condições para usar os recursos disponíveis, de forma democrática
e sustentável.
O Plano Diretor, portanto, deve interagir com as dinâmicas sócio-econômicas do
município. Nesse sentido é que se pode dizer que o Plano Diretor contribui para reduzir as
desigualdades sociais – porque redistribui os riscos e os benefícios da urbanização. O objetivo
fundamental do Plano Diretor é estabelecer como a propriedade cumprirá sua função social,
de forma a garantir o acesso a terra urbanizada e regularizada, reconhecer a todos os cidadãos
o direito à moradia e aos serviços urbanos.
Neste contexto, o Plano Diretor é um importante instrumento para que as cidades
possam cumprir sua função social, sendo uma ferramenta fundamental de planejamento e
gestão do município, que formula mecanismos de caráter mais especifico e comunitário onde
prevaleça a percepção coletiva sobre a visão fragmentada da cidade, onde o processo de
formulação das políticas possa oferecer maior legitimidade.
Segundo a CEPAL (1998), a comissão Econômica para a América Latina e Caribe,
atualmente 73,4% da população da América Latina e Caribe vive nas cidades, percentual que
deverá chegar a 85% até o ano de 2025. Para Santos (1994), as cidades médias crescem cada
vez mais exigindo uma mão-de-obra qualificada, enquanto que as metrópoles absorvem a
população mais despreparada.
Segundo o Instituto de Geografia Estatística (IBGE) o Censo Demográfico 2000
apresenta 81,2% da população Brasileira vivendo nas cidades. Sabendo que o Brasil apresenta
uma dimensão de 8.514.215,3 km2, composto por 27 Unidades da Federação e com 5.564
municípios existentes até a data da pesquisa. É alarmante a informação (2007) de que apenas
14.5% dos municípios brasileiros possuem Plano Diretor Participativo, embora este seja um
instrumento fundamental para o planejamento das políticas urbanas.
Informação consonante com o exposto por Vânia Maria Pacheco, gerente do Projeto
Pesquisas de Informações Básicas Municipais (2005), relata que, ainda em 2005, dos 1372
municípios que utilizam os instrumentos previstos no Estatuto da Cidade, 805 declararam
23

possuir um Plano Diretor, o que corresponde a cerca de 59% deste universo ou 14,5% de
todos os municípios brasileiros.
O Estatuto da Cidade (BRASIL, 2001) estabelece diretriz acerca do que fazer e de
como fazer através do Plano Diretor:

Art. 42. O plano diretor deverá conter no mínimo:


I – a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado o parcelamento,
edificação ou utilização compulsórios, considerando a existência de infra-estrutura e
de demanda para utilização, na forma do art. 5 o desta Lei;
II – disposições requeridas pelos arts. 25, 28, 29, 32 e 35 desta Lei;
III – sistema de acompanhamento e controle.

O Estatuto das Cidades em seu art. 41 dá conhecimento à administração Municipal que


de acordo com o Plano Diretor, Barcarena pode e deve exercer o controle e a fiscalização do
espaço edificado, uma vez que tendo o município garantia de apoio técnico e financeiro para o
fortalecimento da gestão territorial e urbana, através do Plano Diretor, deveria, por
conseguinte garantir também acesso a terra urbanizada.
E em seu capítulo III mais especificamente sobre o Plano Diretor:

Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:


I – com mais de vinte mil habitantes;
II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os instrumentos previstos no
§ 4o do art. 182 da Constituição Federal;
IV – integrantes de áreas de especial interesse turístico;
V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou atividades com
significativo impacto ambiental de âmbito regional ou nacional.

O Plano Diretor como um instrumento tributário e financeiro que apresenta


características semelhantes aos impostos e as taxas, mas só pode ser cobrada em decorrência
da realização de obras públicas pode contribuir para melhoria, hoje de 2.292 municípios
(41,2%). Contudo tais instrumentos legais não são suficientes para que as cidades cumpram
seu papel social, é necessário, portanto que a organização da população caminhe junto a uma
gestão municipal renovada, fincada num modelo global, que reclama por gestores que não
negue a revolução urbana, mas que caminhe com ela, promovendo-a sob preceitos éticos e
dirigi-la para a democratização dos seus benefícios.
24

2.3.1 A questão urbana no Pará

Nos Estados da região Norte, em especial, um problema freqüente é a desigualdade


regional que gera profundos conflitos de interesses e injustiça social. Parafraseando Lefebvre
(1999), a cidade sendo um lugar de “encontro” é nela que enxergamos com mais clareza as
desigualdades, as misérias humanas, já que é um espaço de formação de preceitos, de
concentrações físicas próprias das ocupações urbanas, neste sentido, desejamos entender o
processo de ocupação no centro urbano em Barcarena, sob a ótica da Gestão Pública
Municipal, desvelando os principais interesses, como por exemplo, o combate à retenção
ociosa de terrenos urbanos, a especulação imobiliária e outros.
Como aponta Santos (1994), quanto menor a cidade maior a possibilidade de
participação, contudo, isso não é determinante para que os municípios participem, é o caso do
município de Barcarena, que embora apresente gestão orçamentária participativa não possui
Plano Diretor executado, indo na contra mão da afirmativa de que a gestão orçamentária é
pressuposto para existência do Plano Diretor, já que em cerca de 85% dos municípios
brasileiros o processo se dá dessa forma. Como exemplo desse processo, temos os Estados de
São Paulo e Rio Grande do Sul onde seus Planos Diretores correspondem por 16% e 15%
(IBGE) do total de municípios que o fazem.
Estas afirmações nos sugerem uma série de reflexões acerca da gestão municipal,
como por exemplo, por que o município embora tenha uma legislação referente ao Plano
Diretor conforme Lei Complementar nº 23, de 28/09/2006, este não teve no Planejamento
Territorial Participativo (PTP), demanda de Regularização Fundiária, demanda do
Planejamento Territorial e nem tão pouco citação no Pará Rural, segundo Sr. José Acquel
Fares Filho, Diretor de Desenvolvimento Institucional na SEDURB, essas demandas formam
um conjunto de critérios adotados pela secretaria para eleger os municípios que seriam
atendidos no sentido da aplicação do Plano Diretor, uma vez que o recurso previsto para
atender o pleito era de R$ 1.100.000,00 (Um Milhão e Cem Mil Reais), num primeiro
momento foram eleitos 25 municípios, porém dado o valor do recurso destinado conseguiram
apenas atender 16 municípios.
O município de Barcarena tem competência prevista na Constituição Estadual do Pará
em seu capítulo II, Art. 56, para legislar acerca de interesses locais, mais especificamente o
inciso VIII deixa claro a competência que o município tem de promover o “adequado
25

ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da


ocupação do solo urbano”.
Neste contexto devemos pensar a gestão municipal detentora e mantenedora dessa
realidade, possibilitando a população os benefícios de ser depositário de direitos e entender
quais concepções de propriedade estão entranhadas em determinadas gestões municipais e
como trabalhar essas descobertas dentro da realidade da região.
No Planejamento da gestão municipal é importante estar claro que fazem parte do
patrimônio público os bens e os direitos, partilhar essa verdade com a população é
materializar o direito de construir do município de Barcarena, este sendo detentor, pode ou
não autorizar tal construção, logo se pertence ao município não pode ser oferecido
gratuitamente ao particular tanto quanto não poderia sê-lo um bem municipal, utilizado sim
para o bem coletivo. Diante dessas necessidades é imperioso a apropriação daquilo que a
cidade tem a oferecer e daquilo que constitui o mínimo para se morar. Conferindo a esta ação
a atuação do Poder Público, no sentido de dar condições de efetuar um planejamento para o
município, havendo a formulação de políticas que concretizem as ações do Estado.

3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO MUNICÍPIO DE BARCARENA

Barcarena foi primeiramente habitada pelos índios Aruans, que durante a colonização,
1709, foram catequizados pelos padres jesuítas. Os historiadores referem-se igualmente que o
nome desse município se originou da presença do assentamento populacional de uma grande
embarcação que havia sido batizada como “Arena”, e à qual os habitantes do lugar chamavam
de barca. A junção das duas palavras fez com que a localidade ficasse conhecida como
Barcarena. No Decreto-Lei de nº 2.972 de 31 de março de 1938, a denominação oficial do
lugar aparece como Barcarena, simplesmente, considerada como distrito da jurisdição de
Belém. Pelo Decreto-Lei Estadual nº 3.331, de 31 de outubro do mesmo ano, Barcarena
perdeu o território da área do Caeté, em favor do município de Moju.
Somente mediante a promulgação de Decreto-Lei Estadual nº 4.505, de 30 de
dezembro de 1943, Barcarena foi reconhecida como Município do Estado do Pará, fixando
seus limites e sua localização geográfica. Em 1956, foram reconhecidos como seus distritos
Barcarena e Murucupi, com os quais configura seu território, até hoje, segundo IBGE.
26

3.1 LEITURA DA CIDADE

No cenário atual, no qual o planejamento e a gestão do município são processos que


exigem um diagnóstico global e continuado da realidade local, o perfil municipal de
Barcarena a partir de 1985 sofreu intensas modificações, segundo dados do IDESP/IBGE,
Barcarena havia se transformado em um município eminentemente industrial, sediando
importantes empresas (Albrás, Alunorte, Pará Pigmentos, Imerys Rio Capim Caulim) o que
fez a atividade industrial responder por 70,59% da economia local, os serviços representarem
29,01% e a agropecuária apenas 0,40%.
Diante dessas transformações econômicas e sociais, a população tradicional que
sobrevivia da agricultura familiar, foi sendo “empurrada” para outras atividades em especial a
econômica, sendo neste caso as novas empresas e suas subcontratadas que chegavam ao
município. Além disso, a população de Barcarena mostrou maior crescimento a partir de
2000, quando população atingia 63.259 habitantes, dos quais 27.772 residiam na zona urbana,
contribuindo, portanto para o aumento das receitas municipais próprias (Imposto Predial e
Territorial Urbano (IPTU), Imposto sobre Serviços de qualquer natureza (ISSQN), Imposto de
Renda Retido na Fonte (IRRF), Imposto de transferência de Bens Imóveis (ITBI) “Inter
Vivos”), além das receitas de transferências federais (Fundo de Participação dos Municípios
(FPM), Lei Kandir nº 87/86, Sistema Único de Saúde (SUS), Fundo de Desenvolvimento do
Ensino Fundamental (FUNDEF)) e Estaduais (Imposto de Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), Imposto Sobre Propriedade de Veículos automotores (IPVA)).
O município de Barcarena demonstra nos relatórios do Instituto de Desenvolvimento
Econômico, social e Ambiental do Estado do Pará (IDESP) um forte aumento das receitas
como foi verificado com a representação dos dados apresentado pelos quadros 1, 2 e 3
comprovando desta forma uma conseqüência destacada da descentralização e do Federalismo
através do crescimento destes recursos fiscais tornados disponíveis para os municípios e que
acima de tudo necessitam que haja uma aplicação dos instrumentos urbanísticos agendados
pelo Estatuto da Cidade. Projetando os problemas urbanísticos de Barcarena numa
configuração territorial local como resultado de processos globais e regionais, sem
desconsiderar as peculiaridades de Barcarena, frente à forte expansão econômica.
27

RELATÓRIOS - INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, SOCIAL E


AMBIENTAL DO PARÁ (IDESP)
SERVIÇO DE INFORMAÇÃO DO ESTADO DO PARÁ REGIÃO DO BAIXO
TOCANTINS
TRANSFERENCIA TRANSFERENCIA TRANSFERENCIA (R$1.000)
MUNICIPIO ICMS FPM FUNDEF TOTAL
Abaetetuba 2.909,83 12.552,48 12.979,80 28.442,11
Baião 1.333,67 4.186,26 4.644,01 10.163,95
Barcarena 42.980,66 9.063,92 8.595,99 60.640,57
Cametá 1.758,02 11.153,43 19.915,20 32.826,66
Igarapé-Miri 1.212,43 7.674,82 9.815,42 18.702,67
Limoeiro do Ajuru 788,08 4.186,26 2.998,86 7.973,20
Moju 2.000,51 7.674,82 12.189,93 21.865,25
Oeiras do Pará 969,94 4.883,97 5.766,95 11.620,87
Mocajuba 909,32 4.075,79 4.831,09 9.816,20
Total do
Estado 606.215,26 970.051,88 781.267,22 2.357.534,36
Quadro 1-Transferências constitucionais
Fonte: IDESP (2005)

TRANSFERÊNCIAS CONSTITUCIONAIS 2006 (em R$1.000)


TRANSFERENCIA TRANSFERENCIA TRANSFERENCIA
MUNICIPIO ICMS FPM FUNDEF TOTAL
Abaetetuba 3.219,01 13.884,59 13.733,78 30.837,38
Baião 1.539,53 4.628,93 5.749,06 11.917,52
Barcarena 47.375,44 10.027,15 9.925,63 67.328,21
Cametá 1.959,40 12.340,40 22.942,49 37.242,28
Igarapé-Miri 1.399,57 8.486,37 11.196,99 21.082,93
Limoeiro do Ajuru 909,72 4.628,93 3.757,71 9.296,36
Moju 2.449,25 8.486,37 13.514,62 24.450,24
Oeiras do Pará 1.119,66 5.400,42 6.667,40 13.187,47
Mocajuba 1.049,68 4.423,24 5.588,07 11.060,99
Total do
Estado 699.784,88 1.070.364,65 863.483,85 2.633.633,37
Quadro 2-Transferências constitucionais
Fonte: IDESP (2006)

TRANSFERÊNCIAS CONSTITUCIONAIS 2007 (em R$1.000)


TRANSFERENCIA TRANSFERENCIA TRANSFERENCIA
MUNICIPIO ICMS FPM FUNDEF TOTAL
Abaetetuba 3.514,98 15.886,49 21.179,79 40.581,25
Baião 1.757,49 5.295,50 7.794,23 14.847,22
Barcarena 47.222,99 11.473,57 16.102,43 74.798,99
Cametá 2.139,55 14.121,32 34.077,17 50.338,05
Igarapé-Miri 1.681,08 9.708,41 17.078,64 28.468,12
Limoeiro do Ajuru 993,36 5.295,50 5.533,70 11.822,56
Moju 2.827,27 10.590,69 21.119,09 34.537,05
Oeiras do Pará 1.222,60 6.178,08 8.765,43 16.166,11
Mocajuba 1.222,60 4.943,64 8.036,64 14.202,89

Total do Estado 764.126,10 1.227.440,63 1.265.282,69 3.256.849,42


Quadro 3-Transferências constitucionais
Fonte: IDESP Elaboração: IDESP com adaptações das autoras (2007)
28

No entanto tais transformações representadas pelo aumento das arrecadações das


transferências constitucionais neste período de 2005 a 2007, não foram compatíveis com
investimentos em equipamentos urbanos, embora o crescimento populacional também
significasse maior demanda de novos serviços públicos. De acordo com a Secretaria do
Tesouro Nacional do total arrecado em 2003, R$9.323.319,12 foram de Impostos, sendo
arrecado em contribuição de melhorias a quantia de R$1.988.487,67 em Taxas pela Prestação
de Serviços à comunidade de Barcarena.
No período de 2002 a 2008 a receita municipal, segundo informações da Secretaria Do
Tesouro Nacional, passou de R$ 53.192.390,81 (Cinqüenta e três milhões, cento e cinqüenta e
dois mil, trezentos e noventa reais e oitenta e um centavos) para R$ 134.232.910,00 (Cento e
trinta e quatro milhões, duzentos e trinta e dois mil, novecentos dez reais), o demonstra que a
expansão das atividades de beneficiamento mineral no município tem contribuído para o
aumento das receitas locais.
O Gráfico 1 nos ajuda a compreender a realidade econômica de Barcarena,
selecionando as principais atividades econômicas e da administração pública, atividade que
movimenta e sustenta a Sede, uma vez que existem fortes vínculos políticos na região;
Serviços; comércio; construção civil, o aumento desta atividade teve seu ápice em 2005 com o
aumento da capacidade de produção e, portanto das instalações dos grandes projetos de
beneficiamento mineral ali já implantados, neste período a construção civil foi responsável
por cerca de 30% dos empregos na região e podemos dizer que sua taxa de empregabilidade
esta interligada com a intensificação na realização de obras públicas; Indústria de
Emprego x Principais Atividades Econômicas
Transformação e atividade Extrativa Mineral.

1997-2007
100%
Quantidade

80%
60%
40%
Administração Pública
20% Serviços
0% Comércio
Construção Civil
1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Indústria de Transformação
Período Extrativa Mineral

Gráfico 1 – Emprego x Principais atividades econômicas, 1997-2006.


Fonte: IDESP/Elaboração própria.(2009)
29

As atividades de Indústria de Transformação e de Extração Mineral ainda são as mais


fortes, sendo em 2009 responsáveis por R$ 2.122.074,00 em receita para Baracarena, segundo
IBGE 2009, ficando para trás atividades como serviços com R$ 897.687 e Agropecuária
R$13.494. Contrariando as estatísticas Barcarena sede sobrevive em grande parte dos
serviços decorrentes da Administração Pública Municipal, o índice de empregabilidade
oferecido pelo poder público municipal (2009) atinge cerca de 30% da população de
Barcarena, segundo IDESP.

3.2 ORGANIZAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE BARCARENA

Barcarena desde sua origem (1943) demonstra bem as diversidades amazônicas,


oriundas de assentamento populacional e hoje grande pólo industrial, onde é feita a
industrialização, beneficiamento e exportação de caulim, alumina, alumínio e cabos para
transmissão de energia elétrica, revelam como muitos municípios paraenses, grandes
problemas em seu centro urbano, problemas estes agravados, pelo crescimento populacional
oriundo da migração, atraída em grande parte pelas possibilidades de emprego que os grandes
projetos acenam, ainda que de forma falaz.

3.2.1 Ocupação Urbana Atual

O município pertence à mesorregião metropolitana de Belém, possui uma área


territorial de 1.310,325 km², localiza-se a uma latitude 01º30'21" sul e a uma longitude
48º37'33" oeste, estando a uma altitude de 15 metros em relação do nível do mar. Tem como
limite ao norte a Bacia do Marajó e a Bacia do Guajará; ao Sul os municípios de Moju e
Abaetetuba, a Leste a Bacia do Guajará e o Município de Acará, a oeste a Baia do Marajó e a
nordeste a cidade de Belém.
A População de Barcarena, também, segundo IBGE nas estimativas 2009, possui cerca
de 92.567 habitantes. É no município que está localizado o maior porto do Estado do Pará: o
Porto de Vila do Conde na Baía de Marajó, composto pelo “Golfão Marajoara” e alguns furos
como o furo do Arrozal.
30

O município encontra-se no grupo de afetados pela geração de deseconomias de


aglomeração (CAMPOLINA; GROCCO, 2006) nas cidades-núcleo das regiões
metropolitanas, de modo que a população tende a buscar as demais localidades das periferias
metropolitanas, ou mesmo no caso outras cidades médias não-metropolitanas, para onde vêm
sendo atraídos os investimentos produtivos, fugindo dos maiores custos que seriam incorridos
na aglomeração metropolitana.

Evolução Populacional

100.000

80.000
Valores

60.000

40.000

20.000

0
80

96

00
¹

¹
98

02

04

06

08
19

19

20
19

20

20

20

20

Período - Ano

População Área

Gráfico 2 – Evolução populacional de Barcarena.


Fonte: IBGE/ Elaboração própria (2009)
(1) População estimada.

Neste sentido é possível visualizar no Gráfico 2, o grande crescimento populacional


em Barcarena a partir do modelo de urbanização dos grandes projetos, o caso das Company
tows, atendendo o interesse das empresas que se instalaram no município.
Ainda neste ambiente de transformações sócio-espaciais, a implantação do complexo
industrial iniciou-se com a desapropriação das áreas e benfeitorias em favor da área destinada
para implantação do projeto, no caso o bairro Pioneiro.
A ALBRAS – ALUMÍNIO BRASILEIRO S/A, empresa do Sistema Vale do Rio
Doce foi instalada no distrito de Murucupi, próximo à Rodovia PA-483, mais especificamente
em agosto de 1985 a empresa foi inaugurada, embora já estivesse em “pleno vapor” desde
março do mesmo ano com a fabricação de ânodos, para uso nas salas de redução. Baseado em
tecnologia Pechiney, modificado pela Mitsui Aluminium, o projeto inicial previa a instalação
de 864 cubas, em duas fases, cada uma com capacidade de 160.000tpa, sendo que 240 cubas
31

operariam com 135KA e as demais com 150KA. Hoje, após a expansão dos fornos, a
produção passou de 355.000tpa para 460.000tpa.
Toda a produção é voltada para a exportação de lingotes de 22kg. Seus principais
insumos, alumina e energia, são fornecidos, respectivamente, pela Alunorte e pela hidrelétrica
de Tucuruí.
A ALUNORTE está localizada ao lado da Albras, a cerca de 40km a sudoeste de
Belém, junto à margem sul do Rio Pará, na Baía do Marajó, no município de Barcarena. Sua
fábrica de alumina, projetada para 1,1Mtpa tem tido um excelente desempenho, já tendo
alcançado, em 1998, a produção de 1,43Mtpa, de uma alumina de excelente qualidade. Opera
com a bauxita de MRN (100%), recebida em navios de até 60.000tdw. O Porto de Vila de
Conde, adjacente, é operado de forma compartilhada com a Albrás a Companhia Docas do
Pará (CDP).
Além de fornecer toda a alumina requerida pela Albrás e 55% das necessidades da
Valesul, a Alunorte exporta 50% de sua produção. Uma pequena parte desta exportação é
feita na forma de hidrato – hidróxido de alumínio – para indústrias químicas dos Estados
Unidos. A empresa tem 460 empregados, dos quais 75% contratados no Pará e gera, ainda,
383 empregos indiretos. Metade da produção atende o mercado interno e a outra metade é
exportada.
A ALUBAR METAIS e ALUBAR CABOS S/A fazem parte do Grupo ALUBAR,
que possui capital argentino e produzem vergalhões para uso elétrico e siderúrgico e cabos de
alumínio nu, respectivamente. A Alubar Metais tem uma capacidade de produção de
vergalhões de 2.000 ton/mês e de cabos de 300. As fábricas atendem tanto o mercado nacional
como o mercado internacional. No ano de 2000, o Grupo Alubar foi o principal exportador
brasileiro de vergalhões para o mercado dos Estados Unidos. Seu faturamento anual está na
ordem de US$ 35.000.000 e envolve 105 pessoas, incluindo os terceirizados, com planta
industrial sobre uma área de 25.000m², sendo 8.000m² cobertos.
A logística favorável na região, no que tange o transporte de cargas (porto de Vila do
Conde e Alça Viária), foi determinante para a escolha a localização, além da disponibilidade e
qualidade do alumínio fornecido pela ALBRÁS.
A IMERYS RIO CAPIM CAULIM S.A. (RCC) é uma empresa brasileira, onde sua
principal atividade é o beneficiamento de caulim para uso na indústria de papéis. Os produtos
são exportados para a Europa 50%, Estados Unidos 30% e Ásia 15%. Conta hoje com 220
colaboradores, onde 92% são paraenses.
32

As atividades da Imerys começaram na década de 70, com a pesquisa geológica e os


primeiros estudos de processamento do minério. A construção da planta de beneficiamento foi
iniciada em 1994. Dois anos mais tarde, em setembro de 1996, a empresa já fazia o primeiro
embarque para os Estados Unidos.
A Rio Capim Caulim faz parte do grupo Imerys, maior produtor mundial de pigmentos
brancos, principalmente caulim e carbonato de cálcio. O grupo atua também nos segmentos de
minerais industriais, materiais de construção, cerâmicas e refratários.
Está presente em mais de dez países na Europa, América do norte, América do Sul,
África e Ásia. Sua equipe é formada por mais de 15 mil profissionais que realizaram negócios
de aproximadamente US$ 3 bilhões, em 2001.
O surgimento de ocupações espontâneas foi inevitável ao término da fase de instalação
da infra-estrutura necessária à produção do alumínio, a instalação do grande complexo desta
forma trouxe consigo um intenso fluxo migratório para o município, impulsionado pela
expectativa de emprego, tais expectativas foram reproduzidas em números de ocupações
irregulares do solo, conforme levantamento de dados em trabalho de campo no segundo
semestre de 2009: Novo Paraíso, Foguetão, Novo Horizonte, Beira-Rio, Paulo Fonteles, todas
localizadas nas proximidades da PA-481.
O Município de Barcarena apresenta hoje 04 núcleos urbanos, sendo no Distrito Sede
o foco de nossa pesquisa, a qual nos referimos na Figura 1, os quatro núcleos são
identificados pelos moradores da região como Distrito Sede, Murucupi, Estrada e Ilhas
embora para o IBGE desde 1944 Barcarena seja constituída por apenas dois núcleos sendo o
Distrito Sede e Murucupi.
Entre as décadas de 1970 e 1980 Barcarena Sede apresentou um forte crescimento
populacional, atingindo um aumento de cerca de 12% (IBGE) da população, superando neste
período Vila do Conde, a qual mantinha a posição de sede administrativa municipal.
Neste Contexto houve forte migração, já que a população era atraída em grande parte
pelas possibilidades de emprego que os grandes projetos acenam, ainda que de forma falaz.
Para Tourinho (1991, p.284) no período de 1980 a 1989, Barcarena teve um crescimento de
cerca de 11% em seu núcleo urbano. Isso deveria refletir em um também crescimento nos
serviços básicos oferecidos a população tais como educação, saúde e saneamento.
O Mapa de zoneamento urbano de Barcarena, figura 02 define em sua área verde as
regiões urbanizáveis, ou seja, especificam quais espaços podem receber residências, indústrias
e comércio, uma vez que não podemos falar de bairros, pois o município até janeiro de 2010
33

não apresentava nenhuma Lei de criação de bairros. Tal especificação foi proposta na
Elaboração do Plano Diretor como forma de equilibrar a cidade.
O zoneamento urbano em Barcarena, proposto pelo Plano Diretor, vem promover
alterações nos padrões de produção e consumo da cidade, planejando melhor os espaços
urbanos, buscando introduzir normas de uso e ocupação da macrozona de Barcarena.
34

Mapa 1 – Barcarena sede.


Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – Secretária de Planejamento de Barcarena (2006)
35

No mapa 1 do zoneamento urbano de Barcarena, pode-se visualizar 04 Zonas distintas,


são: Zona de Expansão Urbana; Zona Industrial; Zona Urbana e Zona Urbanizável. A zona de
Expansão Urbana, em vermelho, demonstra o ritmo de avanço territorial em Barcarena e o
quanto está reservado para o seu crescimento horizontal.
Como instrumento urbanístico o zoneamento urbano analisa ainda aspectos
geográficos, sociais e econômicos; além das condições do terreno que devem ser observados
pela Lei Federal 6.766/79, modificada pela Lei 9.785/99, a qual proíbe o parcelamento do
solo para fins urbanos nos seguintes casos: o terreno alagado, aterrado, em declínio, em
condições impróprias ou em reserva ecológica.
36

Mapa 2 – Zoneamento Urbano.


Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano – Secretária de Planejamento de Barcarena (2006)
37

O mapa 2, no entanto, não menciona as especiais ecológicas, sendo estas fundamentais para
Barcarena em especial por se tratar de um município que estabelece industrias de beneficiamento
mineral, esquecer disto é não respeitar o equilíbrio ambiental. A simples delimitação da Zona
industrial é insuficiente, mesmo que esta busque a redução da poluição e a proteção dos recursos
hídricos e a qualidade do ar.
A carta imagem da sede de Barcarena, no mapa 3 nos permite visualizar a divisão do
município em bairros, sendo o Bairro Nazaré; Bairro Comercial, onde está localizada a sede
de Barcarena; o Bairro Betania; Bairro Centro; Bairro Novo I e II e o Bairro Pedreira segundo
a proposta da Lei de Criação de Bairros, no Plano Diretor do Município.
38

Mapa 3 – Carta imagem sede de Barcarena.


Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Barcarena – Secretária de Planejamento (2006)
39

3.2.2 A questão da habitação em Barcarena

É extremamente difícil delimitar o urbano e o rural em Barcarena, pois não existe até
então aplicação das leis urbanísticas orientadoras neste processo, a cidade é habitada por
ocupações irregulares, onde, segundo a Secretaria de Planejamento Municipal, agora está
sendo pensado a Lei de Criação de Bairros.
No mapa 4 podemos observar a localização dos prédios públicos em Barcarena, sendo
identificados os vários Bairros, as Vilas, os postos de saúde, as escolas, dentre outros.
Mostrando dessa forma como a população tende a ocupar as áreas no entorno dos grandes
centros, observamos a cidade se formando de forma desordenada.
Devido à dificuldade em estabelecer o que é urbano e o que é rural, recorremos ao
IBGE com dados do Censo 2000. Embora os dados do IBGE informe que a grande maioria da
população concentra-se nas áreas rurais, as informações empíricas nos permitem inferir que a
ocupação acontece no entorno das áreas urbanas de forma desordenada. Por isso a
necessidade de pensarmos na influência que este adensamento populacional causa na
definição de qualquer estratégia de desenvolvimento, pois estas áreas chamadas por Veiga,
2000 como “rurbano”, apresentam expressivo crescimento populacional de 44% dos
municípios “rurbanos” e 25% dos municípios rurais, indicando que existem nelas alguns dos
poderes de retenção, ou atração, próprios de economias “ativas”.
40

Mapa 4 - Localização dos Prédios Públicos.


Fonte: Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Barcarena – Secretária de Planejamento (2006)
41

3.2.3 ÁREAS DE OCUPAÇÃO IRREGULAR EM BARCARENA

O município de Barcarena apresenta uma situação muito específica, pois ainda não
apresenta lei de criação de bairros, é uma cidade com várias áreas de ocupação irregular, uma
delas é a ocupação de Barbolândia, onde os moradores não apresentam nenhum documento
que lhes dêem direitos a terra. Em visita a ocupação de Barbolândia, Baracarena sede,
conversamos com uma família que apresentou declaração da Associação de Moradores do
Bairro, Fotografia 1, cujo presidente, Sr. Domingos Gonçalves Marques, mais conhecido por
Tuchaua, concedeu documento a algumas famílias dizendo que tal documento lhes conferia o
direito ao terreno construído, porém o documento abaixo não apresenta valor algum, seja de
direito a propriedade ou ao solo.
A provável declaração de domicílio, na verdade não declara nada, não confere a Srª.
Cíntia Pinheiro o direito a propriedade, o intrigante desta história é que a Sra. Cíntia,
“proprietária” do imóvel de dois cômodos que abriga sete pessoas, sabe que a declaração
gentilmente concedida pela Associação de Moradores do Bairro, não lhe permite o direito a
propriedade, porém vê-se sem alternativa, sem saber a quem reclamar por justiça, quem
poderia honestamente ajudá-la. Em face disto, a comunidade de Barbolândia é o retrato de
uma população que vive a margem de seus direitos, reivindicam por uma vida digna e pelo
respeito a seus direitos, mas não sabem como fazê-los, nem tão pouco a quem recorrer.
42

Fotografia 1 – Declaração de domicílio.


Fonte: Acervo das autoras (2010).
43

3.2.4 INFRA-ESTRUTURA URBANA EM BARCARENA

No período 1991-2000, a população de Barcarena atingiu uma taxa média de


crescimento anual de 3.76% de acordo com dados do PNUD, passando de 45.946 em 1991
para 63.268 em 2000. O aumento da população de Barcarena significou uma maior demanda
de novos serviços públicos, como mostram as taxas de serviços básicos que aumentou o
número de domicílios atendidos, conforme Gráfico 3.
No entanto, tal aumento é pouco expressivo considerando a população a ser atendida,
desta maneira à medida que Barcarena se estabelece como uma cidade de assentamentos
precários define-se uma condição de ilegalidade que, além de ser ineficaz, amplifica as
próprias disparidades intra-urbanas, um exemplo disso é o acesso aos serviços básicos como
mostrado no Gráfico 3.
É, então, num contexto de uma tímida aceleração da urbanização atual, que os mais
diversos atores se organizam no planejamento de seu território, decidindo acerca de suas áreas de
habitação, saneamento, mobilidade urbana e outros, através do Estatuto das Cidades e seus
Conselhos.

Serviços Básicos em Barcarena

100
87
80 66 80
Domicílios
Atendidos

54
60 40
40 45
20
0
Água Encanada Energia Elétrica Coleta de Lixo¹
Serviços 1991
2000

Gráfico 3 – Serviços básicos em Barcarena.


Fonte: IBGE – Elaboração Própria (2009)
44

É necessário, dessa forma, criar condições para que se cumpra à função social da
cidade, onde os interesses da coletividade sejam atendidos. Para tanto é indispensável
conhecer a estrutura da gestão municipal de Barcarena e suas tendências de como promover o
desenvolvimento do município. É importante conhecer como a prefeitura gere o município,
que instrumentos utilizam para conhecer sua realidade, quais as proporções das desigualdades
sociais e da degradação ambiental e o que vêm sendo feito para reduzi-las e ou preveni-las.
O município de Barcarena em sua sede não apresenta sistema de água tratada, em
princípio houve uma privatização da rede de abastecimento, sendo ineficaz, pois culminou no
retorno da rede para responsabilidade da prefeitura, esta terceirizou o serviço à empresa
“Águas de Barcarena”, que atualmente funciona de modo quase artesanal, por um micro-
sistema que puxa a água de um poço artesiano, bombeia para uma caixa d’água e a distribui à
população.
Por conseguinte na área denominada “Distrito Industrial” também não existe sistemas
de fornecimento de água tratada, uma realidade nova vem sendo implantada através do TAC,
que obrigou a empresa Imerys a construir um sistema de fornecimento de água tratada de
acordo com os critérios de potabilidade contidos na Portaria nº 518/04 do Ministério da
Saúde, aos moradores da área “Distrito Industrial” (por meio de água encanada), neste os
sistemas serão doados integralmente à comunidade, a qual será responsável por sua operação
e manutenção e eventuais ampliações/modernizações;
Além disso, o município de Barcarena recebeu o valor de R$100.000,00 (cem mil
reais), como contribuição para a construção de sistema de fornecimento de água tratada,
destinado aos moradores das margens dos igarapés Curuperê e Dendê (por meio de micro-
sistemas autônomos completos ou equivalentes), garantindo-se a qualidade de acordo com os
critérios de potabilidade contidos na Portaria nº 518/04 do Ministério da Saúde, segundo
Ministério Público no Procedimento nº. 001/2007-MP/1ªPJB do TAC.
Toda via a Iluminação Elétrica em Barcarena cresceu em número de domicílios
atendidos, atendendo em 1991 6.197 domicílios, ou seja, 69,23% enquanto que em 2000 esse
número cresceu para 10.909 representando 82,07% de domicílios contemplados pela
iluminação elétrica, segundo dados do IBGE no Censo Demográfico 1991/2000.
45

VALOR
OBRA ESTÁGIO
LIQUIDADO
TERRAPLENAGEM DE ESTRADA VICINAL DE BARCARENA
ABERTURA E TERRAPLENAGEM DO RAMAL LIMEIRA- CONCLUÍDO R$120.000,00
TRACUATEU
2007

CONSERVAÇÃO DA ROD. PA-151 - BARCARENA / PORTO


CONCLUÍDO R$ 149.325,50
DO ARAPARI / ROTATORIA DA ALCA VIARIA
INSTALACAO DE FLUTUANTE E RAMPA MOVEL EM
CONCLUÍDO R$ 228.042,52
BARCARENA
PAVIMENTAÇÃO DE VIAS URBANAS DE BARCARENA NO
DISTRITO DE MURUCUPI CONCLUÍDO R$ 331.139,54
PAVIMENTAÇÃO E MELHORIA DE VIAS URBANAS DE
CONCLUÍDO R$ 600.000,00
BARCARENA RUA ALMEIDA DE MORAES
CONSERVAÇAO NA MALHA RODOVIÁRIA DO 4 NUCLEO
CONCLUÍDO R$ 368.357,99
REGIONAL
2008

MANUTENÇÃO DA RODOVIA DA ALÇA VIÁRIA -


CONCLUÍDO R$ 394.088,50
SUBTRECHO: BR-316 ATE O KM 70.
RESTAURACAO, PAVIMENTACAO E SINALIZAÇÃO NA
ROD. PA-481 - TRECHO: VILA DOS CABANOS/PONTE CONCLUÍDO R$ 738.235,19
SOBRE O RIO ARIENGA
RESTAURAÇÃO, PAVIMENTACAO E SINALIZACAO NA
ROD. PA-483 - COM TERRAPLENAGEM E DRENAGEM. CONCLUÍDO R$ 1.446.468,41
TRECHO: ALCA VIARIA/ORLA V. COND
CONSTRUÇÃO DE PONTES DE CONCRETO NA ROD. PA-
481 TRECHO: PA403/S. FRANCISCO S/ O RIO ARIENGA Em Andamento R$ 111.907,36
40MTS.
PAVIMENTAÇÃO NA ROD. PA-151 - TRECHO ROTATÓRIA
2009

Em Andamento R$ 5.729.537,56
DA ALÇA / PORTO DO ARAPARI EXT: 18,95KM
PAVIMENTAÇÃO NA ROD. PA-481 -TRECHO: TREVO DO
Em Andamento R$ 4.042.438,53
PETECA/VILA CABANOS EXT:23,50KM
PAVIMENTAÇÃO NA ROD. PA-483 - TRECHO: ALÇA
Em Andamento R$ 4.130.561,47
VIÁRIA/TREVO DO PETECA EXT: 23,50KM.
TOTAL: R$ 18.270.102,57
Quadro 4 – Obras realizadas no período de 2007-2009.
Fonte: SEPOF/GPPA (2009)

A Pavimentação das vias Urbanas, entre os anos de 2007 e 2009 cresceu através das
várias obras executadas em diversos setores da região, porém as vias urbanas ganharam
destaque não apenas pela quantidade de obras iniciadas como também pelo aporte financeiro
nelas empregadas. Segundo a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças do Estado
(SEPOF), neste período foi destinado à quantia de R$ 5.777.129,57 (cinco milhões, setecentos
e setenta e sete mil, cento e vinte e nove reais e cinqüenta e sete centavos) em obras
beneficiando o setor de transportes, conforme Quadro 2.
Em visita a região de Barcarena constatamos a realização de várias obras tais como a
pavimentação de vias urbanas de Barcarena no distrito de Murucupi, Quadro 2, cujo aporte foi
de R$ 331.139,54. Considerando o valor investido na obra e o estado atual da via, tentamos
confirmar com a Secretaria de Obras do Município, se ao invés de pavimentação não se
trataria de manutenção ou restauração, porém secretário adjunto preferiu não manifestar
opinião quanto à realização da obra, alegando não saber do que se tratava.
46

3.2.5 EQUIPAMENTOS URBANOS DE BARCARENA

Dentre outras as principais atividades econômicas do município de Barcarena


destacam-se segundo o IBGE o Comércio com cerca de 248 estabelecimentos, sendo 16
farmácias, Lojas 58, Açougues 48, Postos de Gasolina 05, Lojas de Eletrodomésticos 11 e de
Laticínio 01.
Quanto a Ocupação e uso do solo em Barcarena, observamos em seus principais
equipamentos urbanos a leniência da gestão pública, demonstrando que a incapacidade de
administrar os equipamentos públicos se dá em todas as esferas e nas mais diversas áreas, seja
educação, desporto, saúde, saneamento, segurança...
No Desporto Barcarena apresenta uma obra inusitada, é o Ginásio Poliesportivo
Laurivalzinho, fotografia 2, localizado na sede municipal também ganhou o nome do ex-
prefeito Laurival Magno Cunha, como a grande maioria de suas obras, porém este foi criado
em e parcialmente interditado pela defesa civil de Barcarena, segundo informações do Sub-
Tenente Senhor Roselito, argumentando que a defesa civil de Barcarena atua em
conformidade com a Política Nacional de Defesa Civil, onde seu objetivo principal é a
redução de desastres, assim suas ações priorizam a prevenção.

Fotografia 2 – Ginásio Poliesportivo Laurivalzinho.


Fonte: Acervo das autoras (2010).
47

Por conseguinte a interdição parece não ter tanta importância, já que inúmeros eventos
são realizados no espaço, tal qual a Feira Regional de Ciência e Tecnologia (FEICITEC), que
aconteceu em 10, 11 e 12 de setembro de 2009, evento realizado com o incentivo do Governo
do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Educação (SEDUC) e em parceria com a
prefeitura municipal de Barcarena.
Quanto a Educação o quadro não é tão diferente, desde 2007 foram destinados
recursos para realização de inúmeras obras descritas no Gerenciamento de Projetos do Estado,
dentre elas o aporte de R$ 59.609,04 para ampliação da Escola Estadual Eduardo Angelim, no
que se refere à quadra de esportes e vestuários, em visita ao local observamos que tal projeto
após três anos não foi concluído, o que demonstra a total inoperância de gestão municipal,
uma vez que seria de responsabilidade do município cobrar do Estado a realização e
conclusão da obra.
Enquanto isso, na fotografia 3, vemos com clareza a destreza com que são tratados os
equipamentos urbanos em Barcarena, sendo um barraco a antiga escola da ocupação de
Barbolândia.
Parafraseando Nahum (2008) no município de Barcarena há uma grande confusão do
que é público e do que é privado. A forma municipal de gerir está baseada em um conjunto de
obras intermináveis, no qual o orçamento está sempre aquém, a ação governamental, através
das obras, nada mais são que um eficiente instrumento de propaganda que garante a
dominação política.

Fotografia 3 – Antiga escola municipal de Barcarena na ocupação Barbolândia (2008).


Fonte: Acervo das autoras (2010).
48

A Saúde no município de Barcarena, segundo IBGE, conta com 33 estabelecimentos


de saúde, sendo 22 desses públicos, no qual um é federal, um é estadual e os outros 20
restantes são municipais. Dentre os atendimentos de saúde realizados no município a maioria
é da rede privada, sendo estes 11.
Em 2007 foram adquiridos pela 6ª Regional de Proteção Social-RPS, seis
equipamentos de processamento de dados, dois equipamentos de áudio, vídeo e foto, além de
duas máquinas de natureza industrial e de dezenove máquinas e equipamentos energéticos
perfazendo um montante de R$ 34.510,00, incluindo a reforma e ampliação no prédio do
centro regional de saúde de Barcarena.
Segundo a Secretaria de Planejamento do Estado, através do Sistema de Gestão de
Programas de Governo do Pará, informa a conclusão da obra do Hospital de Barcarena, figura
7, cujo investimento, desde 2004, foi de R$ 2.836.150,90 (dois milhões, oitocentos e trinta e
seis mil, cento e cinqüenta reais e noventa centavos).
Já a Rede de Coleta de Lixo do município desde fevereiro de 2009 a coleta e
tratamento de resíduos sólidos em Barcarena é terceirizada à empresa Clean Service que
atende o núcleo urbano e industrial do município, porém o destino desses resíduos é um aterro
a céu aberto, sem nenhum tratamento adequado, prejudicando ainda mais o meio ambiente.
O Jornal O Liberal de 28/12/2008 retrata uma situação complexa e ainda não resolvida
pela Prefeitura de Barcarena, onde alguns moradores reclamam por um projeto para fazer a
coleta de resíduos sólidos na Ilha das Onças, uma vez que esta é responsável pela coleta na
Ilha, vê-se desta forma que a coleta terceirizada atende apenas o centro urbano de Barcarena
sede e Vila dos Cabanos.

Fotografia 4– Obra de Construção do Hospital Municipal de Barcarena, em janeiro de 2010, após 4 anos de
liberação do aporte financeiro necessário para finalizar a obra, a mesma continua parada com indícios de
abandono.
Fonte: Acervo das autoras (2010).
49

Os moradores que ficam a margem deste “benefício” que deveria ser de todos, desta
forma, precisam incinerar ou até mesmo enterrar o material descartado nas casas. Soluções
paliativas para um problema que tende a se agravar com o tempo.
A situação das unidades carcerárias das Delegacias de Polícia Civil de Barcarena
(sede) e de Vila dos Cabanos são precárias, o Ministério Público Estadual constatou que as 2
(duas) unidades prisionais estão em péssimo estado de conservação e não apresentam as
mínimas condições pra recepcionar. A unidade carcerária de Barcarena sede, possui apenas
uma delegacia com seis investigadores, dois escrivãs e um delegado, funciona em um prédio
alugado do ex-prefeito Laurival Cunha, no qual as instalações dos cárceres são improvisadas,
inadequadas e insalubres; não há assistência médica e alimentação para os detentos e
tampouco para os policiais encarregados da custódia, visto que não há agentes prisionais
designados para exercer essa tarefa.
Em 2007 o órgão Ministerial requereu que “todos os presos depositados na ala
carcerária da delegacia de Polícia de Barcarena e Vila dos Cabanos fossem retirados e
remanejados pelo Sistema Penitenciário do Estado (SUSIPE), para estabelecimentos
prisionais adequados e compatíveis com os exigidos pela LEP”. Contudo a situação
carcerária permanece a mesma em ambos, embora anteriormente o Estado do Pará tenha
proferido que “não está se furtando a imprimir melhorias em seu sistema carcerário, porém
tais melhorias demandam tempo; liberação de verbas públicas; previsão orçamentária;
realização de procedimentos licitatórios para a escolha da melhor proposta, visando à
construção de novos presídios e cadeias locais”.
Talvez hoje após 5 (cinco) anos do primeiro laudo ser emitido pelo Instituto de
Criminalística e depois de 3 (três) anos do pronunciamento do Estado, a situação continua
sem ser resolvida e tal argumento seja insuficiente dado que o município de Barcarena
apresenta no PPA em obras e investimentos. Então o questionamento se dá com base na
determinação de dezembro de 2008 do Juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de
Barcarena, Raimundo Rodrigues Santana, a considerar que no prazo de 4 (quatro) meses, o
Estado do Pará é obrigado dentre outros a realizar a reforma dos prédios das Delegacias de
Polícia de Barcarena e Vila dos Cabanos, o que inclui não apenas as unidades carcerárias,
mas todo o prédio. No caso de descumprimento a multa diária estipulada é de R$ 20.000,00
(vinte mil reais), além desta obrigação os detentos deveriam ter sido transferidos para as
unidades prisionais mais próximas e que estivessem em melhores condições, tal
determinação deveria ter sido cumprida no prazo limite de 10 (dez) dias sob a direção da
50

Superintendência do Sistema Penal (SUSIPE). No caso de descumprimento a multa


estipulada é de R$10.000.00 (dez mil reais) para o réu.

3.3 AGRICULTURA E INDÚSTRIA EM BARCARENA

Quanto a Agricultura, de acordo com a Companhia Paraense de Turismo do Estado,


alguns projetos foram implantados visando à dinamização do setor agrícola, sendo eles o
Projeto Integrado Barcarena do Futuro, iniciado em janeiro de 2001 em uma parceria com
os Governos Estadual e Municipal, Alunorte, COOPSAI e Comunidades Rurais. O Projeto
visa atender 600 famílias de produtores rurais das comunidades de Utinga-Açu, Carmelo,
Cabeceira Grande, Massarapó, CDI e Bom Sossego, Embrasa, Espanha, Monte Santo e Santa
Maria, nos diversos setores, inclusive o agrícola, através de capacitação técnica dos
produtores rurais, dentre outras ações.
Está incluso também o Projeto de Agricultura Familiar Mecanizada, em parceria
com a Prefeitura Municipal/ALBRÁS/EMBRAPA/ COOPSAI visa atender 300 famílias de
produtores rurais assentados nas comunidades Vai-Quem-Quer, Japiim, Tauá, Santa Rosa,
São Sebastião, Acuí, Itupanema, São Lourenço, Pedral e Guajará da Serraria. Tendo neste
sido iniciado o Estudo de Realidade das Comunidades acima, tendo-se concluído o
diagnóstico das Comunidades Vai-Quem-Quer, Japiim e Tauá, onde se iniciou o plantio de
milho, maracujá, feijão caupi e mandioca, para 21 produtores rurais em uma área de 42
hectares. Por conseguinte foi criada uma Associação de Produtores, envolvendo as
comunidades Vai-Quem-Quer, Japiim e Tauá, a qual traz projeto comunitário para casa de
farinha, com a orientação técnica da EMBRAPA, bem como a preparação da área e solo para
plantio.
Além destes há também os Projetos de Produção Integrada iniciado com pesquisas
em 2002, atendendo 50 famílias de produtores rurais de baixa renda das localidades Caeté
(Povoação e Cajueiro) e Arienga, (Estrada e Ramal) Envolvendo parceiros como a Central de
Cooperativas, Nova Amafrutas, UFPA, Comunidades Rurais e PMB/SEMAGRI., já o Projeto
de Ater é resultado da parceria firmada entre a prefeitura Municipal e a EMATER/PA,
objetivando, sobretudo os trabalhos de assistência técnica e extensão rural aos produtores do
município. Aliado a este foi desenvolvido em abril de 2001 o Projeto de Produção de Mudas
51

para atender a produção de 200.000 mudas de espécies vegetais pela Prefeitura Municipal,
através da Secretaria Municipal de Agricultura (SEMAGRI).
Os principais produtos do município de acordo com o IBGE 2008 são: plantio de açaí,
banana, cacau, coco-da-baía, laranja, limão, mamão, maracujá e pimenta-do-reino. No que
concerne a Pecuária existe no município o Projeto de Erradicação da Febre Aftosa já
implantado, sendo uma parceria com o Governo do Estado, através da SEMAGRI, os
produtores rurais do município foram cadastrados para atender o objetivo do projeto, assim o
cadastro foi aplicado a 120 produtores rurais que tiveram seus rebanhos vacinados no período
de 2002 a 2009, conforme Quadro 1.

Pecuária –Ano 2002 Pecuária –Ano 2009


Item Discriminação N° de Cabeças Item Discriminação N° de Cabeças
Bovinos 1.810 Bovinos 2.010
Bubalinos 93 Bubalinos 123
TOTAL 1.903 TOTAL 2.133
Quadro 5 – Rebanhos vacinados Quadro 6 – Rebanhos vacinados
Fonte: SEBRAE/SEICOMTUR (2009) Fonte: SEBRAE/SEICOMTUR (2009)

O Extrativismo Vegetal é baseado essencialmente na extração de Açaí e de Palmito-


Segundo dados da EMATER de Barcarena a área de manejo para cultivo do açaí, no
município, é de 700 hectares. Cada hectare produz seis mil quilos do fruto. A safra é de
420.000n Kg/ano, existem 147 micro-produtores. Com relação ao palmito, a produção é
artesanal, e não foram fornecidos dados quantitativos da produção. Em relação à extração
Mineral é feita a exploração do Alumínio pela ALBRÁS, cuja produção anual é de 460 mil
toneladas. A ALUNORTE explora a alumina, e a produção anual está em torno de 1,43 mil
toneladas. A Pará Pigmentos explora o Caulim Century, (os dados da produção não foram
informados pela empresa). A Imerys RCC explora o Caulim – Capim Pará para revestimento
de papel, cuja produção anual é de 400 mil toneladas, e 510 mil toneladas de projeção.
A Piscicultura é essencialmente de Tambaquis, Tilápias e Carpas através da pesca
Artesanal : Filhotes, Douradas, Piramutabas, Pescada e Tainha são os mais freqüentes. O
município de Barcarena é conhecido como pólo industrial devido às empresas do pólo de
alumínio ALBRÁS (alumínio), ALUNORTE (alumina), ALUBAR Metais ou SOINCO
(fios e cabos de alumínio-em implantação), além das produtoras e exportadoras de caulim
PARÁ PIGMENTOS S/A. (Caulim Century) e IMERYS Rio Capim Caulim S/A (Caulim-
capim para revestimento de papel), MIB (Manutenções Industriais) OYAMOTA ostentam
eficiência que as tornam referência mundial. Isso porque o município abriga um grande
52

potencial de crescimento Industrial, um exemplo disso é o distrito industrial, que tem mais de
cinco mil hectares para novos empreendimentos. Além de estar no caminho das torres de
transmissão de Tucuruí, o porto tem um calado, ou seja, profundidade mínima de água necessária
para embarcação flutuar, de 20 metros e canal de acesso de 14 metros de profundidade. Além da
modernidade e potencialidade do porto, o pólo industrial do município é favorecido pela
proximidade de sua metrópole, Belém.

4. GESTÃO AMBIENTAL E MUNICIPAL DE BARCARENA

O Mapa de Barcarena apresenta hoje 04 núcleos, porém devido à dificuldade da gestão


no controle e uso do solo é difícil quantificar o número de habitantes dessas áreas, neste
contexto utilizamos os dados do IBGE. Barcarena como “cidade industrial” precisa gerir uma
questão complexa que é a degradação ambiental, sendo cada vez mais freqüente a poluição do
ar, a contaminação das águas (principal meio de transporte de doenças), por resíduos
químicos, esgoto industrial e doméstico entre outros.
A Constituição Brasileira, em seu artigo 225 prescreve que “todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações”. Neste sentido observamos também (BRASIL, 1981) que
dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente onde define poluição como sendo a:

Degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou


indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b)
criem condições adversas as atividades sociais e econômicas; c) afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;

A situação ambiental de Barcarena há muito tempo não é de equilíbrio segundo


registros da Organização Ecológica Socioambiental da Amazônia (ECOSAAM) em 04 de
abril de 2003 foi registrada a primeira contaminação no rio Murucupi, causando a mortandade
de centenas de peixes. Praticamente um mês depois em 16 de maio de 2003 é registrada uma
segunda contaminação do rio Murucupi, exatamente um mês depois o rio Pará é contaminado
sendo este o terceiro caso de contaminação em Barcarena, causando novamente a mortandade
de peixes na praia de Itupanema por hemorragia interna. A quarta contaminação aconteceu
53

em 26 de junho de 2004, nos rios Curuperê e Dendê a água dos rios antes com coloração
esverdeada passou para amarelo com aspecto espumante.
A quinta contaminação ocorreu em 23 de novembro de 2004 por fuligem negra em Vila do
Conde, a sexta contaminação aconteceu em 04 de novembro de 2005 por vazamento de licor
com soda cáustica, novamente no rio Pará atingindo as praias do conde e Itupanema.
A sétima contaminação e talvez a de maior impacto ambiental, ocorreu no dia
12/06/2007, uma vez que houve um vazamento de cerca de 300.000 metros cúbicos de
rejeitos da empresa Imerys Rio Capim Caulim S.A., e deste cerca de dez por cento atingiram a
pista de rolamento que separa a empresa da área denominada Bairro Industrial, bem como a
estrada que liga a fábrica ao porto da empresa Imerys, atingindo também os igarapés Curuperê
e Dendê e área de preservação permanente destes, conferindo às águas uma coloração branca,
que chegou até as praias do Caripi, Conde e Itupanema, coloração esta que levou cerca de
uma semana para dissipar, devido à influência do movimento de marés sobre os corpos
hídricos atingidos, o que resultou na Interdição Temporária da empresa, segundo promotoria
de justiça de Barcarena, no Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta (TAC), no
Procedimento nº. 001/2007-Mp/1ª pjb.
Decorrente a isto famílias tiveram que ser remanejadas pela Defesa Civil Estadual e
que até o dia 20/06/2007, o número de famílias remanejadas para creches e colégio públicos
chegou a 52 (cinqüenta e duas), sendo cerca de 196 pessoas, privando famílias ribeirinhas de
desenvolver as atividades econômicas voltadas para o seu sustento.
O Termo de Ajustamento de Conduta busca reparar integralmente os danos ambientais
e sociais causados pelo vazamento de caulim, desta forma, a Imerys dentre outras
indenizações ficou responsável pelo financiamento do Projeto de Desenvolvimento da
Capacidade Social de Barcarena, através do Instituto de Educação Brasileira (IIEB), visando
promover o fortalecimento das instituições de Barcarena por meio da capacitação das
organizações da sociedade civil, seja através do fortalecimento das capacidades
administrativas e institucionais da sociedade civil organizada, seja pelo apoio à criação de um
espaço público de diálogo entre empresas privadas e a sociedade civil organizada.
Além deste a Empresa de beneficiamento de Caulim, Imerys, fica obrigada a pagar a
título de indenização de natureza civil pelos danos ambientais causados, o valor de
R$4.000.000,00 (quatro milhões de reais), com o objetivo de financiar programa (atividades e
projetos) que vise melhoria das condições ambientais da região de Barcarena, através de
monitoramento, controle, fiscalização, defesa e recuperação do meio ambiente, através do
Instituto Evandro Chagas (IEC).
54

O Instituto busca desta forma, a caracterização das Comunidades de Barcarena a


Abaetetuba delimitando marcos referenciais, verificando a qualidade da água e do ar
consumidos pela população.
O IEC por meio de seu relatório anual, já pode verificar grande alteração de nitrato na
água, o que indica, segundo o pesquisador Bruno Carneiro falta de saneamento e esgoto
inadequado, trazendo vários riscos à saúde pública dentre eles os gastrintestinais. Por
conseguinte a presença de nitrato demonstra uma situação de poluição que já está acontecendo
há algum tempo. Consoante a isto o projeto visa, em 2010, fazer o biodimensionamento do
ar, através de pesquisadores da Universidade de São Paulo, estabelecendo rotas para saber o
que se chega à população no sentido tóxico.
Posterior a isso houve mais três contaminações em 02/03/2008, 29/04/2009 e
04/05/2009 por vazamento de caulim, soda cáustica e caulim respectivamente. O surgimento
de ocupações espontâneas foram inevitáveis ao término da fase de instalação da infra-
estrutura necessária à produção do alumínio, a instalação do grande complexo desta forma
trouxe consigo um intenso fluxo migratório para o município, impulsionado pela expectativa
de emprego, tais expectativas foram reproduzidas em números de ocupações irregulares do
solo, conforme levantamento de dados em trabalho de campo no segundo semestre de 2009:
Novo Paraíso, Foguetão, Novo Horizonte, Beira-Rio, Paulo Fonteles, todas localizadas na
proximidades da PA-481.
Quando na implantação dos grandes projetos de beneficiamento mineral, não há
registros de nenhum estudo de que tipos e ou proporções de impacto ambiental surgiriam com
os projetos, a partir disso observamos na Figura 9 pequena proporção de cobertura vegetal no
município dado a extensa área (1.310,325 km²) no qual o município se localiza, segundo
IBGE. Não houve, pelo menos neste momento, subsídios municipais que orientasse o
processo de planejamento do uso do solo e da ocupação do território nem tão pouco quanto
aos recursos ambientais. O que a Figura 9 nos mostra é conseqüência da ausência de
planejamento, uma grande área branca, ou seja, sem a cobertura vegetal concentra-se no
Distrito Industrial de Barcarena, tomando grande parte de seu território.
Durante a viagem a Barcarena observamos a já perda da cobertura vegetal às margens
dos furos e rio, fazendo o caminho que os moradores da região chamam de “por dentro”, o
que denota uma ameaça às reservas de água doce, além de poder causar o assoreamento dos
furos e rios, estando estes intimamente ligados aos processos erosivos.
55

Mapa 5 – Sede do município – Cobertura Vegetal.


Fonte: Plano de Desenvolvimento Urbano de Barcarena (2006)
56

Barcarena de fato transformou-se em um município estratégico para a economia


paraense, nesse sentido no município está localizado, o complexo alumínico (Albrás -
Alunorte) e do caulim (Pará Pigmentos e Imerys Rio Capim Caulim) empresas responsáveis
pelo beneficiamento mineral no município. A criação desse complexo, que resultou de um
acordo bilateral entre Brasil e Japão em 1976, trouxe para o município infra - estrutura, como
o porto de Vila do Conde responsável pelo recebimento da bauxita proveniente de Oriximiná,
usado também para a exportação da produção de alumínio e alumina para o mercado externo.
Os dados utilizados na pesquisa foram coletados das finanças públicas do Brasil (FINBRA).
O FINBRA é um banco de dados contábeis criado pela Secretaria do Tesouro Nacional -
STN em convênio com a Caixa Econômica Federal, que coleta os dados consolidados de
estados e municípios brasileiros e então a partir destes dados é que analisamos a situação das
finanças públicas de Barcarena entre 1998-2008.
No exercício fiscal de 1998, a receita financeira foi de cinqüenta e três milhões,
cento e noventa e dois mil reais. A receita de arrecadação própria mais que dobrou em
relação ao ano anterior atingindo dez milhões, oitocentos e dezoito mil reais. O ISS que no
ano anterior era de seis milhões, setecentos e noventa e um mil reais passou para seis
milhões, seiscentos e cinqüenta e nove mil reais o que representa um crescimento
exponencial. Em segundo lugar temos as outras receitas com dois milhões, novecentos e
cinqüenta e quatro mil reais. Em terceiro e quarto lugar aparecem o IPTU e o IRRF.
Quanto às receitas de transferências, a mesma atingiu a soma de quarenta e dois
milhões, trezentos e setenta e cinco mil reais, onde o ICMS representou mais de 50% deste
tipo de repasse com vinte e três milhões e duzentos e sessenta e quatro mil reais. Em segundo
A Prefeitura de Barcarena está localizada na Av. Cronge da Silveira, nº 348, a gestão
atual é de João Carlos Dias e o vice-prefeito é Renato Ogawa. Observamos de uma forma
geral na administração pública municipal o favorecimento dos vínculos de parentescos nas
relações de trabalho, mostrando uma marca própria de administrar através da concentração de
poder que privatiza o espaço público.
Assim no município de Barcarena a esfera pública municipal está impedida de garantir
os direitos constitucionais de impessoalidade administrativa sob a égide da forte influência
parental, o que foi fortemente relatado nas conversas informais que tivemos durante a
pesquisa de campo no município. Reforçando desta forma a coerência diante dos relatos dos
moradores da região tais como a Srª Cíntia Pinheiro residente na ocupação de Barbolândia, ao
afirmar a “compra do seu imóvel”, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) através do
Sindicato dos Moradores do “Bairro” de Barbolândia, cujo presidente Senhor Domingos
57

Gonçalves Marques, mais conhecido por Tuchaua apresenta grau de parentesco com a família
Dias.

Prefeito: João Carlos Dias

Vice: Renato Ogawa

Secretária de Ação Social: Secretário de Cultura e Desporto


Rosangela Noriko Oda Dias Ferdinando Moraes

Secretaria de Administração Secretário de Indústria, Comércio


Afonso Dias e Turismo: Graça Souza

Secretário de Saúde Secretário de Finanças


Paulo Alcântara Paulo César

Secretário de Agricultura Secretária de Educação


Edson Nilo Luciene Kátia Dias

Secretário de Obras, Urbanismo e Secretária de Meio Ambiente


Transportes: Renato Ogawa Lauro Cunha

Organograma 1 - Estrutura Organizacional da Prefeitura de Barcarena.


Fonte: Prefeitura Municipal de Barcarena (2008)

É notório que a gestão municipal de Barcarena apresenta algumas limitações no que se


refere aos princípios básicos da administração pública, notadamente a observância de algumas
regras de gestão, regras estas que deveriam ser obrigatórias para um bom gestor. Tais
princípios são como base de sustentação para pautar todos os atos administrativos para
legitimar, validar as ações municipais, que pela égide do “bem do povo” desvirtua o que é
expressamente referido na Constituição de 1988 quando admiti o princípio da impessoalidade.

Art. 37. A administração pública direta, indireta ou fundacional, de qualquer dos


Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.
(BRASIL, 1998).

Na gestão municipal de Barcarena existe uma grande confusão do que é público e do


que privado, esquecendo-se estes que enquanto administrador público não existe vontade
pessoal, contudo é permitido fazer apenas o que a lei permite.
58

Em Barcarena figura o modelo Romano de gerir com a política “panem et circenses”,


a política do pão e circo. Considerando o acelerado crescimento de Barcarena que culminou
em vários problemas sociais, buscou-se nas ações governamentais, na representação do
prefeito, uma solução para tais problemas executando-se obras de acordo com as prioridades
de governo alegando, desta forma o bem geral do povo.
Neste contexto, considerando que o poder tradicional não é racional e é extremamente
conservador, ouso comparar as praticas atuais de administração com as de 1940, quando Max
Weber, economista e sociólogo Alemão foi responsável pela Teoria da Burocracia na
Administração, onde encontrei grande semelhança na teoria e prática aplicada na
administração em Barcarena no período estudado.
Toda mudança social implica no rompimento de algumas tradições, em Barcarena a
prefeitura utilizando-se de uma forma de autoridade tradicional para administrar, fica claro
que a mudança nesse modelo pessoal e arbitrário de administrar ainda não aconteceu, uma
vez que seus limites são fixados também e essencialmente pelos costumes e hábitos, além
disso, os hierarquicamente inferiores obedecem-no por “respeito” ao seu status tradicional.
Após analisarmos esta breve descrição de como se comporta a administração
Municipal é que reforçamos a idéia da profusão de conselhos gestores, instrumentos
dialógicos de controle popular da Administração Pública que permite aos cidadãos muito
mais que a sua integração na co-gestão administrativa, pois admite que os mesmos possam
identificar e contribuir na eleição de políticas públicas que favoreçam a realidade da própria
comunidade a qual pertençam as mais importantes inovações institucionais das políticas
públicas no Brasil democrático.
Um conselho pode reforçar o sinal de que a sobrevivência depende da sujeição
clientelista aos poderosos. Mas ele pode ser a ocasião de criar novas práticas que valorizem a
participação, o controle social e o uso planejado dos recursos.
O desafio maior dos conselhos é o de não ficarem restritos a simples unidades de
recepção de recursos federais, mas que se convertam em centros de reflexão, planejamento,
estabelecimento de metas e contratos quanto ao destino das regiões que representam.
59

4.1 LEGISLAÇÃO MUNICIPAL EM BARCARENA

O Plano diretor de Barcarena, como importante e principal instrumento de regulação


urbana, segundo a Sra. Renata Martins, Secretária de Planejamento de Barcarena, foi
elaborado sob a coordenação do Grupo Gestor Municipal, composto por 05 representantes do
Executivo Municipal, além de contar com uma consultoria Técnica.
Nos meses de Fevereiro a Junho de 2006, a equipe responsável pela elaboração do
Plano realizaram cerca de 23 reuniões participativas, sobre Educação, Saúde, Infra-estrutura
Urbana, Geração de Renda, Habitação e Segurança Pública. Participaram também algumas
Instituições Governamentais como a CODEBAR, CDI, ITERPA, INCRA, SIPAM,
MINICIDADES e IBGE, as quais deram subsídio e legitimação ao processo de elaboração do
Plano Diretor de Desenvolvimento de Barcarena.
No decorrer da elaboração do plano participaram cerca de 1.500 pessoas das diversas
regiões que compõem o município de Barcarena, sendo estas a Sede Municipal de Barcarena,
o Distrito do Murucupi, o Distrito de Vila do Conde, a Região das Estradas e a Região da
Ilhas, dentre elas haviam representantes do poder público, empresários e representantes da
sociedade civil organizada.
Segundo a Secretaria de Planejamento o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
foi embasado em três pilares, sendo o Desenvolvimento Socioeconômico e Habitabilidade; o
Desenvolvimento Industrial e Responsabilidade Social e o Equilíbrio Ambiental e
Sustentabilidade. Contudo, os modelos de desenvolvimento de ocupação do território
implementados em Barcarena até então se caracterizam por estabelecer padrões de
concentração de renda e de poder, reforçando processos acelerados de urbanização, processo
este claramente visualizado em conversas com o professor Walmir Bastos e outros moradores
da região.
Tal processo causa a degradação do meio ambiente e gera privatizações do espaço
público aumentando cada vez mais a exclusão de determinada parcela da população em
relação a garantias fundamentais como os de moradia, o direito a cidade e, portanto a
segregação sócio-espacial.
Segundo Fernandes (2002) cabe especialmente ao governo municipal promover o
controle do processo de desenvolvimento urbano, através da formulação de políticas de
ordenamento territorial, nas quais os interesses individuais dos proprietários de terras e
60

construções urbanas necessariamente coexistam com outros interesses sociais, culturais e


ambientais de outros grupos e da cidade como um todo.
Paix (1971 e 1972) aponta dois aspectos fundamentais da urbanização, a concentração
e a dispersão, sendo conseqüências à macrocefalia e as pequenas cidades. Com efeito, entre
estas duas tendências, em Barcarena-sede detectamos elementos de dispersão (SANTOS,
1968), uma vez que nasce da intersecção dos caminhos ou nos limites de seu pólo industrial.
Esses elementos de concentração e difusão também foram responsáveis pelos grandes
movimentos migratórios existentes na região.
É notório que apenas tais instrumentos legais não são suficientes para que as cidades
cumpram seu papel social, é necessário, portanto que a organização popular caminhe junto a
uma gestão municipal renovada, fincada num modelo global, que reclama por gestores
urbanos que não negue os avanços tecnológicos e as potencialidades do município, mas que
caminhe com ela para a democratização dos seus benefícios.
No entanto, permanecem as dúvidas por que a dificuldade na revisão e implementação
dos Planos Diretores Participativos se existe uma cooperação no sentido de dar assistência
técnica e capacitação aos participantes, se as fontes de recursos são do Orçamento Geral da
União (OGU)?
O que está faltando na Gestão Municipal de Barcarena para garantir as formas de
acesso, através dos contratos de repasse, acordos de cooperação e convênios? Sendo assim de
que forma acontece a ocupação urbana no município? E quais os instrumentos territoriais
utilizados pelas políticas públicas para solucionar os problemas urbanos?
O Plano Diretor, no entanto, de acordo com o Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257)
contribui como, instrumento que permite à administração Municipal exercer o controle e a
fiscalização do espaço edificado, garante apoio técnico e financeiro para o fortalecimento da
gestão territorial e urbana, garantindo o acesso a terra urbanizada.
Ainda assim, sendo o Plano Diretor instrumento tributário e financeiro que apresenta
características semelhantes aos impostos e as taxas, mas só pode ser cobrada em decorrência
da realização de obras públicas, contribuindo desta forma para melhoria, hoje de 2.292
municípios (41.2%) brasileiros, de acordo com IBGE.
Além do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano o zoneamento urbanístico e
ambiental é outro instrumento urbanístico, referendado nas políticas de ordenamento
territorial municipal, no entanto tais políticas não têm contemplado a sociedade local do
município de Barcarena em virtude da não implantação e/ou regulamentação do plano diretor
61

urbano o qual necessitaria dos detalhamentos dos seus instrumentos além da presença efetiva
da sociedade local.
A Lei Complementar nº. 23 de 28/09/2006 em seu art. 7º infere ao poder público
municipal de Barcarena a utilização dos instrumentos urbanísticos na elaboração do Plano
Diretor, sendo estes o zoneamento urbanístico e ambiental; o parcelamento, do uso e da
ocupação do solo; as edificações e posturas; o plano plurianual, PPA; as diretrizes
orçamentárias, LDO e orçamento anual, LOA; os planos, projetos e programas setoriais e os
planos de desenvolvimento econômico e financeiro, embora haja instrumento de regulação
legal não identificamos lei específica de regulamentação do instrumento maior.
Outrossim, a Prefeitura quanto gestão pública, segundo a Secretária de Planejamento
Municipal de Barcarena, Srª. Renata Martins, não se instrumentalizou para garantir a
aplicação do disposto no artigo mencionado anteriormente.
Dessa forma o planejamento territorial contribui para a tomada de decisão pela
população, que enxerga os objetivos e prioridades das ações do Governo, facilitando a lógica
que para que os municípios possam elaborar e implementar seus planos no sentido de planejar
seus territórios para superar seus desafios, é necessário o processo decisório que dá clareza à
população favorecendo a participação.
Neste contexto, reclama-se o direito da propriedade urbana e da cidade, no caso
Barcarena, para o cumprimento de sua função social, assim é expressa na constituição o Plano
Diretor Municipal permitindo dentre outros a prevalência do direito comum sob o individual
de propriedade, além da proteção urbanística, ambiental e cultural.
Sabendo que a temática urbana denota grande importância social, desde a
promulgação da nova Constituição, em uma época que as atividades capitalistas têm se
pautado pela competição global, no âmbito local, queremos entender quais iniciativas de
formulação de instrumentos urbanísticos têm procurado avançar nessa questão? Que
instrumentos de gestão são utilizados pela prefeitura de Barcarena? Quais os instrumentos
jurídicos? Buscamos entender quais instrumentos de ocupação urbana foram utilizados no
ordenamento territorial, e de que forma esse processo aconteceu?
O município de Barcarena mais especificamente em sua sede está distante de oferecer
condições e oportunidades eqüitativas aos seus habitantes. A população urbana vive privada e
ou limitada de satisfazer suas necessidades básicas, seja por suas características sociais,
culturais, étnicas, seja de gênero e idade.
62

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O município pertencente à mesorregião metropolitana de Belém, Barcarena, sofreu


intensas modificações a partir de 2000, quando a população atingia 63.259 habitantes, dos
quais 27.772 residiam na zona urbana, contribuindo, portanto para o aumento das receitas
municipais próprias No entanto tais transformações e o aumento das arrecadações não foram
compatíveis com investimentos em equipamentos urbanos, embora o crescimento
populacional significasse maior demanda de novos serviços públicos. Verificamos que a
expansão das atividades de beneficiamento mineral no município tem contribuído para o
aumento das receitas locais.
No entanto, tal aumento é pouco expressivo considerando a população a ser atendida,
desta maneira à medida que Barcarena se estabelece como uma cidade de assentamentos
precários define-se uma condição de ilegalidade que, além de ser ineficaz, amplifica as
próprias disparidades intra-urbanas. Diversas ocupações na sede de Barcacrena confirmaram
esses dados tais como a ocupação de Barbolândia localizada na antiga Estrada do Cafezal
onde os moradores vivem à margem de qualquer direito, seja de propriedade, seja da terra,
seja das condições básicas que não são atendidas, demonstrando a completa ausência da
gestão pública municipal em planejar o urbano e de atender as necessidades básicas da
população, uma vez que o município não apresenta Lei de criação de bairros, não apresenta
nesta ocupação especificamente serviços básicos tais como rede de esgoto nem tão pouco rede
de abastecimento de água.
O Município de Barcarena apresenta hoje 04 núcleos, porém devido à dificuldade da
gestão no controle e uso do solo é difícil quantificar o número de habitantes dessas áreas. É
necessário, dessa forma, criar condições para que se cumpra à função social da cidade, onde
os interesses da coletividade sejam atendidos.
Além disso, Barcarena como “cidade industrial” precisa gerir uma questão complexa
que é a degradação ambiental, sendo cada vez mais freqüente a poluição do ar, a
contaminação das águas (principal meio de transporte de doenças), por resíduos químicos,
esgoto industrial e doméstico. Entre os anos de 2007 e 2009 várias obras foram executadas
em diversos setores da região, porém as vias urbanas ganharam destaque não apenas pela
quantidade de obras iniciadas como também pelo aporte financeiro nelas empregadas.
Contudo, os modelos de desenvolvimento de ocupação do território formados em
Barcarena até então se caracterizam por estabelecer padrões de concentração de renda e de
63

poder, reforçando processos acelerados de urbanização, processo este claramente visualizado


em conversas informais realizadas durante a pesquisa de campo com alguns moradores da
região, como a família da Srª. Cíntia Pinheiro, por exemplo, a qual sobrevivem em uma casa
de três cômodos na ocupação de Barbolândia com um marido, três filhos dois netos e um
genro. Tal processo causa a degradação do meio ambiente e gera privatizações do espaço
público aumentando cada vez mais a exclusão de determinada parcela da população em
relação a garantias fundamentais como os de moradia, o direito a cidade e, portanto a
segregação sócio-espacial. Vale ressaltar que não identificamos utilização dos instrumentos
legais de regulação urbana por parte da gestão pública municipal, como por exemplo, o Plano
Diretor, embora este não seja suficiente para que as cidades cumpram seu papel social, é
necessário para que a organização popular caminhe junto a uma gestão municipal renovada,
fincada num modelo global, que reclama por gestores urbanos que não negue as
potencialidades do município, mas que caminhe com ela para a democratização dos seus
benefícios.
Neste contexto, reclama-se o direito da propriedade urbana e da cidade para o
cumprimento de sua função social, assim é expressa na Constituição o Plano Diretor
Municipal permitindo dentre outros a prevalência do direito comum sob o individual de
propriedade, além da proteção urbanística, ambiental e cultural.
Algumas perguntas infelizmente continuam sem respostas, em especial a temática
urbana, que embora denote grande importância social, não se revela ao poder público
municipal de Barcarena da mesma forma. Em uma época que as atividades econômicas têm
se pautado pela competição global, no âmbito local, é no mínimo difícil entender a ausência
de iniciativas na formulação de instrumentos urbanísticos para Barcarena, uma vez que
sabemos que existe um Plano Diretor em Barcarena, mas não de fato, pois se quer apresenta
Lei de Criação de Bairros.
Além disso, as arrecadações Federais feitas pelo município de Barcarena desde 1998
apontam para um montante suficiente para realização de grandes investimentos, através dos
dados gentilmente cedidos pelo IDESP mostram que nossas conversas informais se
confirmam e se coadunam com os dados referidos pelo IDESP e Receita Federal, no que se
refere aos impostos como IRPJ (Imposto de Renda – Pessoa Jurídica) e ao Programa de
Integração Social - PISPASEP, que deram um salto galopante em 1998 de R$ 199.049,00 e
R$ 1.091.424,00 para R$ 3.476.155,71 e R$ 11.777.552,67, respectivamente. Onde o total de
receitas arrecadadas em 1998 passou de R$ 7.023.565,00 para R$129.733.852,44, segundo
receita Federal, aumentando em praticamente 18 (dezoito) vezes o valor inicial arrecadado em
64

apenas 9 anos, o que nos leva a inferir exatamente o que nossas conversas informais com
formadores de opinião como o líder comunitário e professor Walmir Bastos nos sugeriram a
presença forte de recursos próprios, porém há niliência da gestão pública municipal na
administração do bem público.
Além disso, os dados apresentados pelas transformações socioeconômicas apontadas
nos relatórios do Instituto de Desenvolvimento Econômico, social e Ambiental do Estado do
Pará – IDESP, confirmam o aumento das receitas arrecadadas pelo município de Barcarena no
período de 2005 a 2007, devendo estas ser determinantes para os investimentos em
equipamentos urbanos, todavia esses investimentos não fazem parte da realidade hoje vivida
pela população de Barcarena.
Tais dados comprovam ainda uma conseqüência destacada da descentralização e do
Federalismo através do aumento crescente destes recursos fiscais tornados disponíveis para os
municípios e que acima de tudo necessitam que haja uma aplicação dos instrumentos
urbanísticos agendados pelo Estatuto da Cidade. Projetando os problemas urbanísticos de
Barcarena numa configuração territorial local como resultado de processos globais e
regionais, sem desconsiderar as peculiaridades de Barcarena, frente à forte expansão
econômica.
O município de Barcarena está estruturado pelo instrumento maior de gestão urbana, o
Plano Diretor, incluso neste o Zoneamento Urbano, que vem promover alterações nos padrões
de produção e consumo da cidade, planejando melhor os espaços urbanos, buscando
introduzir normas de uso e ocupação da macrozona de Barcarena.
O município de Barcarena não utiliza os instrumentos de gestão urbana dentro do
Plano Diretor tais como o Zoneamento Urbano, que poderiam promover alterações nos
padrões de produção e consumo da cidade, planejando melhor
os espaços urbanos, buscando introduzir normas de uso e ocupação da macrozona de
Barcarena.
O Plano diretor de Barcarena, como instrumento de regulação urbana, não deixa de ser
também um importante instrumento jurídico, pois ajusta a ocupação urbana dentro do
ordenamento territorial, sendo também responsável pela aplicação dos instrumentos presentes
no Estatuto da Cidade, como: o Parcelamento e Edificação Compulsórios, IPTU Progressivo
no Tempo, Direito de Preempção, Transferência do Direito de Construir e Outorga Onerosa
do Direito de Construir.
Nesse sentido o Plano Diretor deveria vir para reduzir as desigualdades sociais –
porque redistribui os riscos e os benefícios da urbanização e cumprindo com o seu objetivo
65

fundamental que é estabelecer como a propriedade cumprirá sua função social, de forma a
garantir o acesso a terra urbanizada e regularizada, para que desta forma todos os cidadãos
tenham o direito à moradia e aos serviços urbanos. Do mesmo modo Barcarena sede está
distante de oferecer condições e oportunidades eqüitativas aos seus habitantes, seja por suas
características sociais, culturais, étnicas, seja de gênero e idade a população urbana vive
privada e ou limitada de satisfazer suas necessidades básicas.
66

REFERÊNCIAS

ARRETCHE, Marta. Federalismo e políticas sociais no Brasil: problemas de coordenação e


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