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DE QUALIDADE EM CARTOGRAFIA
Comissão Técnica: Cartografia
RESUMO
Normalmente o controle de qualidade de produtos cartográficos é realizado a partir da análise estatística de
discrepâncias entre as coordenadas de pontos medidos num determinado produto, com as correspondentes
coordenadas de referência. Nos casos em que o número de pontos bem identificáveis sejam insuficientes, ou na qual
a distribuição não seja homogênea, uma alternativa é a utilização de feições, tais como segmentos de reta ou curvas.
Um dos problemas desta abordagem é a não existência de correspondência entre pontos. Neste trabalho pretende-se
abordar alguns aspectos básicos relativos à utilização de feições no controle de qualidade, além de propor uma
modificação a um dos métodos disponíveis na literatura, baseado no uso de splines como uma aproximação para as
feições. Propõe-se utilizar como valor da discrepância, a distância mínima entre os pontos de uma feição à uma
curva paramétrica cúbica (spline), representativa de uma porção da outra feição. Alguns experimentos com dados
simulados e reais são apresentados, sendo feita uma comparação entre o método baseado em splines, o método
sugerido e o método do ponto gerado, na qual se considera que pelo menos um par de pontos correspondentes seja
conhecido. Alguns resultados indicam que a modificação sugerida elimina alguns passos intermediários e evita
alguns problemas, tais como a superestimativa de discrepâncias, em algumas situações.
ABSTRACT
The quality control of cartographic products is usually made by computing the discrepancy between well
defined points present in one cartographic document with the correspondent points observed in the field, using a
technique that guarantees sufficient accuracy for the analysis. Therefore, in some areas where the number of points
are not sufficient or where the distribution is not adequate, the use of generic features (as roads, edges, etc) is a good
option. One problem of this approach is the difficulty in obtaining homologous points in both representations. In this
work we intend to made a brief review of methods and present an extension of one method. In the proposed method,
the discrepancies are obtained by computing the minimum distance from points of one feature to a piecewise
function (splines) that represents locally the homologous feature. Some experiments using simulated and real data
are performed and show that this approach is interesting since it avoids some intermediate steps required in the
original formulation and also avoid an overestimation of discrepancies in some situations.
Neste teste compara-se a variância das Fig. 1 - Exemplo de duas feições homólogas (A e B),
discrepâncias amostrais com os valores pré- obtidas de modo independente, sejam por duas
estabelecidos no Decreto no. 88817 de 1984, de digitalizações, ou uma por digitalização e outra por
modo a verificar qual a classe em que o produto medição direta em campo.
analisado se enquadra.
MASRY et al. (1980) apresentam dois métodos
Estes testes representam apenas uma das que podem ser utilizados na verificação da acurácia
abordagens que pode ser utilizada, como pode ser visto planimétrica de produtos cartográficos: o Método das
em MERCHANT(1982), TOMMASELLI et al. (1988) e Áreas e o Método do Ponto Gerado.
GALO & CAMARGO (1994). No entanto, uma série de
critérios estatísticos podem ser utilizados, como 2.1 Método das Áreas
apresentado em BRITO (1987). A diversidade de
critérios mostra que o assunto precisa ser abordado com Este método é baseado no cálculo da área (A)
grande rigor, pois o uso de diferentes critérios pode entre as feições, dividido pelo comprimento (L) da
conduzir a diferentes classificações, para um mesmo mesma, sendo o estimador do erro em área (ea) dado
produto, como verificado em (NOGUEIRA Jr. & por:
MALDONADO, 2000).
Independente do critério utilizado na análise, um ea = A L . (2)
número mínimo de pontos deve ser definido e, além
disso, os pontos devem possuir uma distribuição Um inconveniente deste método é a necessidade
homogênea sobre o produto a ser analisado, como pode de se dividir os segmentos toda vez que ocorre o
ser visto em MERCHANT(1982). Considerando que em cruzamento das feições. Além disso tem-se o problema
alguns produtos a presença de pontos bem identificáveis de subestimar o erro quando ocorre translação ao longo
e distribuídos de maneira homogênea, sejam da extensão da feição (LUGNANI, 1986). A Figura 2
insuficientes, a análise do produto pode ficar mostra a área entre as feições homólogas, para as duas
prejudicada. Nestas situações uma alternativa seria a situações mencionadas.
utilização de feições, tais como, rodovias e bordas em Para as feições mostradas em 2a tem-se duas
geral. interseções e para a feição em 2b tem-se apenas uma.
Deste modo este trabalho tem os seguintes No caso 2b pode-se notar que existe uma grande
objetivos: fazer uma breve revisão de alguns métodos translação na direção predominante da feição. Apesar
presentes na literatura que tratam deste assunto; desta translação ser acentuada, a estimativa usando o
apresentar a adaptação de um dos métodos de modo a método das áreas será subestimada, pois a área entre as
eliminar algumas etapas intermediárias; e apresentar os feições será pequena quando comparada com a
resultados de alguns experimentos realizados com dados estimativa obtida pelo caso 2a.
sintéticos e reais. Ressalta-se que os métodos são, a
princípio, destinados ao controle de qualidade
posicional de produtos cartográficos, mas no entanto,
podem ser utilizados na comparação de métodos de
digitalização na qual não se consideram pontos isolados,
e sim feições genéricas. O termo "feição genérica",
Uma consideração adicional neste método se
refere à digitalização, que deve ser feita com uma
grande taxa de amostragem e que esteja sujeita apenas a
efeitos aleatórios.
O método dos retângulos equivalentes, proposto Fig. 5 - Ponto a"i e os quatro pontos mais próximos,
por FERREIRA & CINTRA (1999), utiliza o conceito após as rotações. Em (a) é mostrada a discrepância Wi,
de área (seção 2.1). No entanto, não é utilizado o como sugerido por LUGNANI(1986), e em (b) a
estimador de erro em área (ea), mas sim o conceito de distância mínima entre a"i e a spline.
retângulos equivalentes.
A partir dos valores do perímetro (2p) e da área Na Figura 5a é mostrada a discrepância (Wi).
(S) do polígono formado pelas duas representações de Neste caso, como a projeção do ponto a"i sobre a spline
uma mesma feição, pode-se admitir que existe um não está entre os dois pontos mais próximos, pode-se
retângulo de lados x1 e x2, que tenha área S e perímetro observar que a estimativa (Wi) é visivelmente maior que
2p. Considerando estas hipóteses pode-se escrever as a menor distância entre o ponto e a spline, como
relações: mostrado em 5b. Deste modo sugere-se que seja
utilizada a distância mínima entre os pontos de uma das
x1.x 2 = S (4)
feições e as respectivas splines, como medida de
discrepância entre as representações.
2x1 + 2 x 2 = 2p . (5) Pode-se ressaltar, como pontos importantes no
uso desta estimativa:
Uma vez calculados S e 2p a partir dos
polígonos, os valores de x1 e x2 podem ser obtidos a
• como a distância é invariante a transformações
partir da solução do sistema formado pelas Equações (4)
rígidas, pode-se trabalhar diretamente com as
e (5), como pode ser visto em FERREIRA & CINTRA
coordenadas (x,y) e não (x`,y`), ou seja, não são
(1999). Deste modo, as dimensões dos retângulos
necessárias as rotações dos pontos;
equivalentes podem ser utilizadas como estimadores das
discrepâncias entre as representações de uma dada • o método não superestima a discrepância, em
situações no qual a projeção de ai sobre a spline se
feição e, segundo os autores, o método fornece bons
localiza fora do intervalo entre os dois pontos mais
resultados com grande rapidez.
próximos; e
3 EXTENSÃO DO MÉTODO BASEADO EM • pode-se fazer a análise das projeções x e y de di,
avaliando-se eventuais tendências nas duas direções.
SPLINES
No método anterior a discrepância Wi tem a direção
y' e caso haja interesse no cálculo de eventuais
O método proposto por LUGNANI (1986) parte
tendências em x e y é necessário fazer uma rotação
do pressuposto que as curvas são suaves, o que é
no vetor Wi e obter as projeções no referencial xy,
bastante coerente. De fato, no caso em que se tenha uma
necessitando-se portanto de uma rotação adicional,
aresta com um vértice pontiagudo, o mais interessante é
para cada uma das discrepâncias Wi.
utilizar este ponto isoladamente e não a feição inteira,
recaindo-se nos métodos convencionais de controle de
Deste modo, o método sugerido pode ser descrito
qualidade baseados em pontos.
pelas seguintes etapas:
No método originalmente proposto por
LUGNANI (1986), descrito na seção 2.3, os pontos ai,
• Dado um ponto genérico ai de A, pesquisar os
bi1, bi2, bi3, e bi4 são rotacionados de modo que os dois
quatro pontos de B mais próximos a ai. Estes pontos
pontos mais próximos a ai (b'i1 e b'i2), tenham a mesma
ordenada, como ilustrado na Figura 4. serão designados por bij, onde j∈{1,2,3,4};
• Obter a equação da spline que passa pelos quatro
pontos ( bi1, bi2, bi3, e bi4 ), na forma de uma curva
paramétrica cúbica, que tem uma equação geral dada
por (ROGERS & ADAMS, 1990):
r r r r r
x( t ) = c0 + c1t + c2 t 2 + c3 t 3 =
x( t ) c x 0 + c x1t + c x 2 t 2 + c x 3t 3 ; (6)
= = 3
y( t ) c y 0 + c y1t + c y 2 t + c y 3t
2
1 t 1 t 12 t 13 c y 0 y( t 1 )
1 t 2 t 22 t 32 c y1 y( t 2 )
= . (12)
M M M M c y 2 M
1 t n t 2n t 3n c y 3 y(t n )
Pode-se notar que para um dado método de BURITY, E. F.; BRITO, J. L. N. E S., PHILIPS, J.,
extração de rodovias, as discrepâncias médias entre os 1999. Qualidade de dados para o mapeamento,
métodos M1 e M2 são semelhantes entre si e menores Congresso Brasileiro de Cartografia, Recife PE.
que o obtido por M3. Além disso pode-se notar que DAL POZ, A. P.; GYFTAKIS, S.; AGOURIS, P., 2000.
nestes três casos o desvio padrão obtido pelo método Semi-automated road extraction: comparison of
M3 foi menor que nos demais. Isto indica que as methodologies and experiments. In.: DC 2000 ASPRS
discrepâncias obtidas pelo método M3 são menos Annual Conference, Washington-DC, EUA, CD-ROM.
dispersas, no entanto é relevante lembrar que o método
M3 tem a restrição de se ter um ponto correspondente (o FERREIRA, L. F.; CINTRA, J. P., 1999. Quantificação
ponto inicial), o que não acontece com os demais. de discrepâncias entre feições lineares por retângulos
equivalentes, Revista Brasileira de Cartografia, no 51,
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Maio, pp. 1-8.
FERREIRA, F. M., 2000. Estimativa de precisão de
Neste trabalho discutiu-se alguns métodos de feições cartográficas; Relatório de pesquisa de Iniciação
controle de qualidade geométrico, a partir do uso de Científica - PIBIC / CNPq, UNESP - Departamento de
feições genéricas. Os métodos discutidos foram o Cartografia, Presidente Prudente - SP.
método do ponto gerado e o método proposto por
LUGNANI(1988), baseado no uso de splines. Além GALO, M., CAMARGO, P. de O., 1994. Utilização do
destes dois métodos estudados sugeriu-se um método, GPS no Controle de Qualidade de Cartas, In: 1o
baseado em algumas modificações sobre o método das COBRAC, Florianópolis SC, Tomo II, pp. 41-48.
splines. GUPTILL, S. C.; MORRISON, J. L., 1995. (Editors)
A sugestão da modificação do método das Elements of spatial data quality, Elsevier Science ltd.
splines se baseia na utilização da distância mínima entre
um ponto e a spline, sem a realização das rotações do INSTRUÇÕES REGULADORAS DAS NORMAS
referencial, como sugerido no procedimento original. TÉCNICAS DA CARTOGRAFIA NACIONAL, 1984.
Pode-se observar que embora seja necessária a busca do Diário Oficial da União, 22 de junho.
ponto mais próximo na solução proposta, não é LUGNANI, J. B., 1986. Estimativa de qualidade de
necessária a rotação dos pontos, como descrito na seção feições digitalizadas - Um novo método, Revista
2.3. Além disso pode-se notar que em algumas situações Brasileira de Cartografia, no 39, Janeiro, pp. 26-29.
este método não superestima as discrepâncias.
Finalizando, o trabalho apresenta mais uma MASRY, S. E.; GAUTHIER, J. R. R.; LEE, Y. C.,
alternativa de procedimento que pode ser utilizada na 1980. Accuracy and time comparisons of digital maps -
determinação de discrepâncias entre feições, com An international test, 14th Congress of The
aplicações no controle de qualidade em cartografia e International Society of Photogrammetry, Hamburg,
mesmo na comparação de procedimentos de extração de Vol. 48, 11, pp. 494-514.
feições em imagens digitais, sejam eles manuais, semi- MERCHANT, D.C., 1982. Spatial Accuracy Standards
automáticos ou automáticos. for Large Scale Line Maps, Technical Papers of the
Os resultados mostrados são baseados nos American Congress on Surveying and Mapping (1),
experimentos descritos e como estudos adicionais, 222-231.
alguns inclusive em andamento, sugere-se: avaliar o
tempo de processamento entre os métodos; fazer a MORTENSON, M. E., 1985. Geometric Modelling,
comparação de todos os procedimentos com os métodos John Wiley & Son, Canada.
tradicionais baseados em pontos; usar diferentes
NOGUEIRA Jr., J. B.; MALDONADO, V. C., 2000.
Controle de qualidade posicional em cartografia, um
estudo de caso: município de Paulínia – SP, Trabalho
de Graduação do Curso de Engenharia Cartográfica,
UNESP, Faculdade de Ciências e Tecnologia,
Presidente Prudente, SP, 99 p.
ROGERS, D. F.; ADAMS, J. A., 1990. Mathematical
elements for computer graphics, McGraw-Hill
International Edition, 611 p.
TOMMASELLI, A.M.G. e MONICO, J.F.G.
CAMARGO, P. O., 1988. Análise da Exatidão
Cartográfica da Carta Imagem de "São Paulo", Anais
do V Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto,
Natal - RN, Brasil, vol.1, pp. 253-257.
TOZZI, C. L., 1986. PAC: Projeto Auxiliado por
Computador, Editora da Unicamp / Editora Papirus,
Campinas - SP.