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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
DISCIPLINA FAE918: REFERÊNCIAS DE PESQUISA
PROFESSORES:
LUIZ ALBERTO OLIVEIRA GONCALVES E FRANCISCO ANGELO COUTINHO

TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA

Crítica permanente e ruptura epistemológica: um ensaio sobre a complexa relação entre Marxismo e
Pensamento Decolonial a partir das contribuições de Aníbal Quijano.

Túlio César Dias Lopes.

Belo Horizonte, 05 de julho de 2019 – Século XXI.


INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresentado como pré-requisito para a conclusão da disciplina Referências de


Pesquisa (Pensamento Decolonial), busca apresentar uma síntese de algumas ideias desenvolvidas e
estimuladas pelos debates e discussões realizadas durante as aulas como também reflexões provenientes
das leituras e pelo debate acerca da relação entre marxismo e pensamento decolonial. Trata-se de um
ensaio que irá envolver sete temas que serão abordados buscando contemplar as posições antagônicas e
complementares da perspectiva marxista (e marxiana) e da perspectiva decolonial (em especial, a partir
das contribuições de Aníbal Quijano).

O primeiro debate é sobre os fundamentos teóricos metodológicos presentes na teoria social


revolucionária e na renovação epistemológica proposta pelos estudos decoloniais. Neste processo iremos
apresentar as referências teóricas-metodológicas presentes no pensamento marxiano e no pensamento
decolonial, a partir dos estudos desenvolvidos pelos intelectuais brasileiros Hormindo Pereira Souza
Junior e Luiz Alberto Oliveira Gonçalves ( Nesta primeira parte seria interessante recupera o próprio
Marx ou Lukács da ontologia ou juntar a primeira e segunda parte invertendo- as indicações
métodologicas da segunda parte deveria estar no começo, o Quijano como interlocutor central deveria
ganhar um capitulo a parte) . O segundo debate trata-se das diferentes interpretações acerca do
materialismo histórico na história do marxismo e também de sua superação dialética promovida por
Aníbal Quijano (Quijano supera dialeticamente o marxismo?). Trata-se de uma discussão de muito fôlego
que iremos apenas apresentar os elementos centrais basilares neste trabalho.

Na terceira parte iremos a partir de uma breve história do marxismo na América Latina situar o
debate acerca da teoria da dependência. Nesta parte também iremos apresentar as considerações de Aníbal
Quijano, um dos principais expoentes da Teoria da Dependência) e suas críticas e análises sobre esta
importante vertente do pensamento sociológico latino-americano. A quarta parte se fixará no debate
acerca da utilização das categorias imperialismo (precisamente as posições de Lenin) e do sistema mundo
(Immanuel Wallerstein). A categoria imperialismo fora amplamente utilizada pela literatura marxista ao
longo do século XX. Já a categoria Sistema-Mundo é um dos eixos centrais do pensamento decolonial.

A quinta parte nos dedicaremos a apresentar uma importante discussão acerca do papel do Estado
e a formação dos Estados-nacionais na América Latina. A presença do elemento da continuidade e da
descontinuidade, ruptura e permanência na formação e consolidação dos Estados Nacionais novamente na
perspectiva marxista e na perspectiva da colonialidade do poder serão nosso objeto de investigação. Na
sexta parte iremos apresentar o debate corrente e substantivo sobre a relação entre classe, gênero, raça na
perspectiva marxiana e a proposta de classificação social decolonial. E, na sétima e última parte iremos
abordar as lutas anticoloniais e a perspectiva das lutas decoloniais. Abordaremos a continuidade e a
descontinuidade dos processos de luta de libertação nacional apresentando os exemplos das lutas de
libertação nacional e pelo socialismo no México, Colômbia e Brasil. A guisa de conclusão
apresentaremos uma discussão inicial acerca das divergências e convergências destas duas distintas
perspectivas de análise em torno das lutas anti-sistêmicas, antiglobalização, anticapitalistas e anti-
imperialistas.

I – PRIMEIRA PARTE: Epistemologia decolonial versus ontologia do ser social.

Tendo como marco histórico o processo de colonização da América iniciado no final do século
XV e a partir deste a construção da modernidade/colonialidade os pensadores coloniais 1 utilizam a partir
de sua produção acadêmica e influência política, o conceito de ´Decolonialidade´ se contraponde a ideia
central segundo a qual a independência dos países e a consequente formação dos Estados Nacionais na
América Latina, ou seja, a descolonização e o pós-colonialismo superou a hierarquização étnico-racial
estabelecida em nosso continente a partir do colonialismo europeu.

Marcando um processo de transição entre “do colonialismo moderno” para a colonialidade global.
Nesta perspectiva histórica é possível afirmar que: “O fim da Guerra Fria terminou com o colonialismo da
modernidade, mas deu início ao processo de colonialidade global”. Questiona-se “o mito da
descolonização e a tese de que a pós-modernidade nos conduz a um mundo já desvinculado da
colonialidade”. E, conforme Santiago Castro-Gómez e Ramón Grosfoguel, consideram que:

Desde o enfoque que aqui chamamos “decolonial”, o capitalismo global contemporâneo


ressignifica, em um formato pós-moderno, as exclusões provocadas pelas hierarquias
epistêmicas, espirituais, raciais/étnicas e de gênero/sexualidade despregadas pela
modernidade. Deste modo, as estruturas de larga duração formadas durante os séculos XVI
e XVII continuam jogando um papel importante no presente. (GROSFOGUEL, R &
CASTRO-GÓMEZ, S, 2007, p.13)

Na perspectiva do sociólogo peruano Aníbal Quijano, um dos principais expoentes do grupo


modernidade/colonialidade, pode se afirmar que:

“a Colonialidade é um conceito diferente, ainda que vinculado ao conceito de colonialismo.


Colonialismo se refere estritamente a uma estrutura de dominação e exploração, onde se
verifica o controle da autoridade política, dos recursos de produção e do trabalho de uma
população determinada por uma outra de identidade diferente, e cujas sedes centrais estão,
ademais, em outra jurisdição territorial. Mas, que nem sempre, nem necessariamente,
implica relações racistas de poder. O Colonialismo é, obviamente, mais antigo, e tanto que
a colonialidade tem provado ser, nos últimos 500 anos, mais profunda e duradeira que o
colonialismo. Mas, sem dúvida a colonialidade foi engendrada dentro deste e, mais ainda,
sem ela não havia sido possível ser imposta na intersubjetividade do mundo, de modo tão
enraizado e prolongado. (QUIJANO, 2007, p.93)

O intelectual decolonial brasileiro Luiz Alberto Oliveira Gonçalves apresenta em seu texto uma
rica contribuição acerca da temática da “Produção do conhecimento: Novas épistemês, novas rupturas” a
partir das reflexões e pesquisas realizadas a partir do Programa de Doutorado Latino-Americano do
Universidade Federal de Minas Gerais/Brasil. Luiz Alberto apresenta que houve um processo marcado
por “rupturas epistêmicas” em diversas universidades da América Latina através de um movimento
intelectual “em torno de um denso e crítico achado epistêmico conhecido como pensamento decolonial”.
1
O grupo colonialidade/modernidade foi formado por Aníbal Quijano e Immanuel Wallerstein na Universidade do Estado de Nova York (SUNY) em 1996.
Agregou diversos intelectuais no continente Americano influenciando diversos programas de pós-graduação, acadêmicos e movimentos sociais a partir da
perspectiva de análise da decolonialidade.
Que tem como perspectiva refletir sobre o pensar, a partir “da especificidade histórica e política das suas
sociedades e não mais sobre o que pensamento euro-ocidental construiu sobre elas". Considerando “ a
diversidade das perspectivas epistemológicas que se impõem nesse momento de grandes transformações
sociopolíticas, culturais e econômicas”. Luiz Alberto destaca que:

“Em linguagem mais prática, a épistemê era definida como um campo de relações, onde
existem continuidades e descontinuidades entre práticas discursivas. É por essa razão que
os estudiosos das ciências da complexidade defendem a ideia de que a épistemê, enquanto
conjunto discursivo, pode referir-se ao estudo de assuntos muito diversos. Nesse rol, eles
colocam a Matemática, a Arte, a Literatura, a Biologia, e outros campos do saber”
(GONÇALVES, L.A.O., 2015)

Por outro lado, o intelectual Hormindo Pereira de Souza Júnior nos apresenta uma defesa do
marxismo em seu artigo “A centralidade ontológica do trabalho como essência da educação e dos
conhecimentos”. Hormindo nos informa que: “A ontologia do ser social marxiana é considerada, por boa
parte do pensamento ´pós-moderno´, resíduo histórico desprovido da capacidade para compreender os
fenômenos da atualidade”. (SOUZA JUNIOR, H.O., 2009, p.129)

Ressalta um processo de amadurecimento intelectual conquistado por Marx ao longo da produção


de sua teoria social, destacando dois aspectos: Primeiro “as noções costumeiramente são colocadas sob o
mesmo, plano do “humano” (em oposição ao “material”) e que, por isso mesmo, qualificam seres
humanos concretos, multiplamente determinados, ao invés de deixar de ter o aparecimento esporádico
com que figuram nos primeiros escritos e passar a ser mais sistematicamente tematizadas nas obras mais
maduras”; Segundo o “refinamento ontológico que vai sendo alcançado e que permite uma crítica social
consistente, pois sólida do ponto de vista do rigor científico”(SOUZA JUNIOR, 2009, p.129-130).

Referindo se a Ontologia do Ser Social Hormindo sustenta que:


“A posição ontológica de fundamentação marxiana busca a gênese e o sentido dos
conhecimentos no ato complexo que funda o ser social. A ciência ontológica busca captar
as essencialidades básica do ser. Concebe os conhecimentos como o produto da relação
fundamental do homem com a natureza, que se exprime no ato de produzir. Ou seja, os
conhecimentos são frutos do trabalho humano. A ontologia trata do problema da
inteligibilidade radical do ser. O homem é o criador de si mesmo. Se autopõe pelo trabalho,
sendo os conhecimentos produtos do trabalho. Em nossa compreensão, os conhecimentos
são produtos do trabalho humano. ” (SOUZA JUNIOR, H.P, 2009, p.130)

Hormindo Pereira, resgata as contribuições originais de Marx 2 destaca a centralidade do trabalho


na ontologia do ser social diferenciando a atividade humana (livre e consciente) da dos animais, onde:
“Na relação sujeito/objeto, mediada pela atividade, o homem produz sua existência, cria consciência de
que é um ser social e atinge a existência de um ser universal e livre, portanto, é sujeito de uma atividade
livre e consciente. ” (P.131).

2
Para Marx, a relação objetividade/subjetividade não é uma mera relação ´intersubjetiva´ fundada no plano cognitivo, não é uma determinação teórico-prática
de uma situação de entendimento interpessoal e social, mas uma relação com a materialidade do mundo, em que a subjetividade é resultado de uma relação
efetiva com a objetividade; se dá na práxis. É neste sentido de captura das essencialidades básicas, fundamentais, de caráter ontológico que ganha relevo a
posição marxiana sobre os problemas atuais que envolvem a produção, reprodução e distribuição dos conhecimentos, bem como da relação do homem com a
natureza, do sujeito com o objeto e das próprias relações do homem consigo mesmo” (SOUZA JUNIOR, H.O., 2009, p.131).
Se por um lado, a epistemologia decolonial traz para o debate acerca da produção do
conhecimento novos elementos, em especial ( em especial?). A perspectiva marxiana da Ontologia do Ser
Social traz a contribuição da crítica ao marxismo e ao pós-modernismo. São perspectivas de análises
distintas com propósitos diferentes. Embora possa haver convergências pontuais acerca de algumas
questões os pensadores decoloniais mantém críticas contundentes em relação aos fundamentos teóricos
metodológicos e epistemológicos em relação ao marxismo ( essa parte não ficou muito clara para mim).
Podemos perceber todo um movimento intelectual referenciado no pensamento marxiano que busca
superar dialeticamente os limites relacionados as interpretações errôneas advindas do próprio pensamento
marxista. ( Que movimento intelectual é esse? Quais são seus autores p´rincipais?

II – SEGUNDA PARTE: – A teoria social revolucionária e a crítica de Aníbal Quijano ao


marxismo3, em especial ao Materialismo Histórico4.
Inicialmente é importante destacar que as diferentes correntes teóricas vinculadas ao pensamento
de Karl Marx tais como o marxismo e o marxismo-leninisno 5, buscaram referenciadas na obra de Marx
desenvolver suas ideias a partir de outros contextos e particularidades históricas. Cabe também elencar os
marxianos e marxólogos (especialistas) que buscam ir na raiz (ou na fonte), ou seja, nas obras do próprio
Marx. E, também os pós-marxistas6 que propõem uma superação de Marx.

Ao iniciarmos nossa investigação sobre o Materialismo Histórico chamamos à atenção para o


debate sobre o método de Karl Marx, apresentado por José Paulo Netto( Neste livro o próprio Netto
questiona essas noções de materialismo histórico e marxismo dialético) em seu livro Introdução ao
estudo do método de Marx (2011, p.11), onde o autor afirma que: “o estudo da concepção teórico-
metodológica de Marx apresenta inúmeras dificuldades – desde as derivadas da sua própria complexidade
até as que se devem aos tratamentos equivocados a que a obra marxiana foi submetida”. Segundo Netto,
as deformações no campo marxista tiveram influências positivistas e neopositivistas, que influenciaram
duas Internacionais (segunda e terceira) no início do século XX (2011, p.12).

3
O termo marxismo divulgado sobretudo por Kautsky, começa a circular por volta de 1882. Contudo só se pode falar da emergência de um pensamento
marxista quando, na virada do século, a II Internacional (e, especialmente, o Partido Social-Democrata Alemão) hegemoniza o movimento operário socialista.
(...) esta concepção compreendia a obra de Marx como uma sociologia científica que desbenda o mecanismo da evolução social a partir da análise da situação
Econômica (NETTO, P.18-19)
4
Em seu propagado Dicionário do Pensamento Marxista Tomas Bottomore (1988, p.255) apresenta a seguinte conceituação problematizada neste presente
trabalho tanto por José Paulo Netto quanto por Aníbal Quijano: “O Materialismo Histórico afirma o primado causal do modo de produção dos homens (e das
mulheres) e de reprodução de seu ser natural (físico), ou, de um modo mais geral, do processo de trabalho no desenvolvimento da história humana”. Bottomore
também sublinha e apresenta a definição descrita por Engels: onde o materialismo histórico “designa uma visão do desenrolar da história que procura a causa
final e a grande força motriz de todos os acontecimentos históricos importantes no desenvolvimento econômico da sociedade, nas transformações dos modos
de produção e de troca, na consequente divisão da sociedade em classes distintas e na luta entre essas classes” (P.260).
5
Influenciado pelas contribuições de Lenin, o marxismo-leninismo se tornará a ideologia oficial da III Internacional Comunista (1919-1943), dos Partidos
Comunistas e da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Também compreendido como “um sistema global científico filosófico que integra o
movimento e a legalidade da natureza e da história na convergência de duas disciplinas, o materialismo dialético e o materialismo histórico. (NETTO, P.26).
6
Ver artigo de James Petras. Intelectuais: Uma crítica marxista aos pós-marxistas. Publicado na revista Lutas Sociais do
Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais – PUC/SP
Esta influência caracterizada como “manualesca”, devido ao resumo do método de Marx a
princípios fundamentais, foi bastante difundida em todos os continentes através de publicações
promovidas pelos partidos políticos de orientação comunista ligados à terceira internacional e a União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas-URSS. Em contraposição a esta perspectiva teórico-analítica Netto
(2011, p.13) reforça que Engels, em uma carta de 05 de agosto de 1890, já advertia:

Mas a nossa [de Marx e dele] concepção da história é, sobretudo, um guia para o estudo [...]
é necessário voltar a estudar toda a história, devem examinar-se em todos os detalhes as
condições de existência das diversas formações sociais antes de procurar deduzir delas as
ideias políticas, jurídicas, estéticas, filosóficas, religiosas etc. que lhes correspondem.
(Marx; Engels, 2010, p.107; itálicos não originais)

Netto sublinha que Engels, também em carta de setembro de 1890, advertindo contra possíveis
deformações no método marxista dizia “que Marx e ele sustentavam tão somente a tese segundo a qual a
produção e a reprodução da vida real apenas em última instância determinavam a história” (NETTO,
2011, p.14). Engels afirma que “Nem Marx nem eu jamais afirmamos mais que isto. Se alguém o
tergiversa, fazendo do fator econômico o único determinante, converte esta tese numa frase vazia,
abstrata, absurda. ” (Marx; Engels, op.cit.p.103-104).

Segundo Netto, a possibilidade objetiva de superar as interpretações equivocadas do marxismo se


dá através da “recorrência aos próprios textos de Marx (e, eventualmente, de Marx e Engels) que propicia
o material indispensável e adequado para o conhecimento do método que ele descobriu para o estudo da
sociedade burguesa”. (NETTO, 2011, p.16).

Netto reforça que o método de Marx é proveniente de uma longa fase de elaboração teórica. Onde
“de fato, pode-se circunscrever como o problema central da pesquisa marxiana a gênese, a consolidação,
o desenvolvimento e as condições de crise da sociedade burguesa, fundada no modo de produção
capitalista”. (p.17). Esta questão permeia as principais preocupações de Marx ao longo de sua produção
teórica. Lênin por sua vez, descreve que o pensamento marxista é proveniente de três fontes e três partes
constitutivas: o socialismo francês, a economia política inglesa e a filosofia alemã. A síntese proveniente
da superação dialética( Esse termo aparece constantemente no texto é melhor explicar o que significa, ou
puxar um nota) dos principais teóricos destas três escolas fundamenta o marxismo.

A partir da perspectiva do materialismo histórico “Marx empreendeu a análise da sociedade


burguesa, com o objetivo de descobrir a sua estrutura e a sua dinâmica” (NETTO, 2011, p.18-19). Não
resultando de “descobertas abruptas ou de intuições geniais”. (p.19). Este longo caminho de elaboração
teórica propiciou a fundação da teoria social de Marx, comumente denominada de Marxismo. Neste
sentido “A teoria é, para Marx, a reprodução ideal do movimento real do objeto pelo sujeito que pesquisa:
pela teoria, o sujeito reproduz em seu pensamento a estrutura e a dinâmica do objeto de pesquisa”.
(NETTO, 2011, p.21) A fidelidade do sujeito em relação ao objeto atesta ou não sua veracidade.
Apresentando as formulações teórico-metodológicas próprias do pensamento marxista, Netto afirma que
o método de Marx “antes, é o produto de uma longa elaboração teórico-científica, amadurecida no curso
de sucessivas aproximações ao seu objeto”. (2012, p.28)

As formulações teóricas não estão separadas da metodologia desenvolvida por Marx que, contou
com a colaboração de Friedrich Engels, principalmente a partir da obra A sagrada família ou A crítica da
crítica, de 1845. Netto destaca que é na obra A ideologia alemã, que Marx apresenta mais claramente sua
concepção dialética7 da História. (2012, p.29) nesta obra se encontra uma passagem genial que sintetiza
todo o desenvolvimento de um arcabouço teórico-metodológico, a partir do qual, podemos explorar
diversos objetos e traçar vários caminhos investigativos. Marx e Engels (2007, p. 94) desenvolvem da
seguinte forma uma nova visão de mundo, partindo do pressuposto de que:

Os homens são os produtores de suas representações, de suas ideias e assim por diante, mas
os homens reais, ativos, tal como são condicionados por um determinado desenvolvimento
de suas forças produtivas e pelo intercâmbio que a ele corresponde, até chegar às suas
formações mais desenvolvidas. A consciência [Bewusstsin] não pode jamais ser outra coisa
do que o ser consciente [bewusste Sein], e o ser dos homens é o seu processo de vida real.
(...). Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência. (...)
Ali onde termina a especulação, na vida real, começa também, portanto a ciência real,
positiva, a exposição da atividade prática, do processo prático de desenvolvimento dos
homens. (MARX, 2007, p.95)

As constatações, apresentadas nesta passagem por Marx, consideram a vida real e a dinâmica de
desenvolvimento das forças produtivas as condicionantes fundamentais para a formação da consciência.
Esta inversão analítica abre espaços para a ciência que, na acepção marxista, parte da concepção dialética
da história rejeitando outras perspectivas de análise baseadas no idealismo, no positivismo e no
pensamento metafísico. Netto sustenta que para Marx e Engels “O ser social é um processo, movimento
que se dinamiza por contradições, cuja superação o conduz a patamares de crescente complexidade, nos
quais novas contradições impulsionam a outras superações. (2012, p.30)

Netto (2012:32) destaca que “À medida que Marx se desloca da crítica da filosofia para a crítica
da economia política, suas ideias ganham crescente elaboração”. E, destaca que o método adequado para
a elaboração teórica deve nas palavras de Marx ser cientifico onde: “O concreto é concreto porque é
síntese de múltiplas determinações, isto é, unidade do diverso”. (2012, p. 43) E a abstração “é a
capacidade intelectiva que permite extrair de sua contextualidade determinada (de uma totalidade) um
elemento, isolá-lo, examiná-lo; é um procedimento intelectual sem o qual a análise é inviável – aliás, no
domínio do estudo da sociedade”. Neste sentido, Marx aponta que “o conhecimento concreto do objeto é
o conhecimento das suas múltiplas determinações” e que o “conhecimento do concreto opera-se
envolvendo universalidade, singularidade e particularidade”. (NETTO, 2012, p. 44).

7
Netto ao elencar as três categorias basilares da dialética e reforçar a fidelidade ao método fecundado por Marx, afirma que: Articulando estas três categorias
nucleares – a totalidade, a contradição e a mediação -, Marx descobriu a perspectiva metodológica que lhe propiciou o erguimento do seu edifício teórico. Ao
nos oferecer o exaustivo estudo da “produção burguesa”, ele nos legou a base necessária, indispensável, para a teoria social. Se, em inúmeros passos do
conjunto da sua obra, Marx foi muito além daquele estudo, fornecendo fundamentais determinações acerca de outras das totalidades constitutivas da sociedade
burguesa, o fato é que sua teoria social permanece em construção – e, em todos os esforços exitosos operados nesta construção, o que se constata é a fidelidade
à perspectiva metodológica que acabamos de esboçar. É nesta fidelidade, aliás que reside o que, num estudo célebre, Lukács (1974, p.15) designou como
ortodoxia em matéria de marxismo. (NETTO, 2012, p.58-59)
Sobre as categorias Netto (p.45) reforça que: “tanto real quanto teoricamente, as categorias são
históricas e transitórias: as categorias próprias da sociedade burguesa só têm validez plena no seu marco
(um exemplo: trabalho assalariado). ” Neste sentido “o estudo das categorias deve conjugar a análise
diacrônica (da gênese e desenvolvimento) com a análise sincrônica (sua estrutura e função na organização
atual) ”. (p.49). Marx, procura compreender como o desenvolvimento das forças produtivas 8 configura
novas relações de produção, transformando toda a sociedade, desde o modo de produção da vida material,
como a vida social e política gerando contradições inconciliáveis capazes de serem superadas através do
conflito entre capital x trabalho. Conforme Netto (2012, p.53) “O método implica, pois, para Marx, uma
determinada posição (perspectiva) do sujeito que pesquisa: aquela em que se põe o pesquisador para, na
sua relação com o objeto, extrair dele as suas múltiplas determinações”. (2012: P.53)

Netto sublinha que “não é possível, senão ao preço de uma adulteração do pensamento marxiano,
analisar o método sem a necessária referência teórica e, igualmente, a teoria social de Marx torna-se
ininteligível sem a consideração de seu método”. (2012, p.55) Netto (2012, p.55) reforça que “é nesta
conexão que encontramos plenamente articuladas três categorias (...) que nos parecem nuclear a
concepção teórico-metodológica de Marx”, são elas: totalidade, contradição e mediação. A totalidade
concreta é “inclusiva e macroscópica, de máxima complexidade, constituída por totalidades de menor
complexidade”. Onde cabe à análise de cada um dos complexos constitutivos das totalidades
esclarecerem às tendências que operam especificamente em cada uma delas. (p.56-57).

Netto apresenta a categoria da contradição verificando que “A natureza dessas contradições, seus
ritmos, as condições de seus limites, controles e soluções dependem da estrutura de cada totalidade – e,
novamente, não há fórmulas/formas apriorísticas para determiná-las: também cabe à pesquisa descobri-
las”. E, abordando a categoria da mediação ou sistemas de mediações Netto (p.57-58) indica que: “sem os
sistemas de mediações (internas e externas) que articulam tais totalidades”, perderíamos o “caráter do
concreto, já determinado como “unidade e diverso”.

Cabe destacar que, o método de Marx goza ainda hoje de muito prestígio devido a sua
aplicabilidade que nos permite empreender uma crítica profunda e radical aos limites da sociedade
burguesa, regida pelos ditames do capital. Diversos pensadores marxistas, estudiosos marxianos e
marxilógos tem como referência o método esboçado por Marx na Europa no século XIX. Na América
Latina diversos intelectuais tiveram influência deste pensador. De certa maneira, podemos incluir o
pensador decolonial Aníbal Quijano.

8
Ver a seguinte passagem do prefácio da obra Para a crítica da Economia política: Na produção social da própria vida, os homens contraem relações
determinadas, necessárias e independentes da sua vontade, relações de produção estas que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento de suas
forças produtivas materiais, A totalidade dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma
superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas sociais determinadas de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o
processo em geral de vida social, político e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que
determina sua consciência. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de
produção existentes ou, o que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das quais aquelas até então se tinham
movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas essas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução social.
Com a transformação da base econômica, toda a enorme superestrutura se transforma com maior e ou menor rapidez (Marx, 1982, p.25).
Em seu artigo “Colonialidad del poder y clasificación social” Aníbal Quijano apresenta a partir da
perspectiva do pensamento decolonial, suas considerações críticas acerca do Materialismo Histórico
atribuído a Marx e consequentemente aos seus desdobramentos analíticos, como em relação a categoria
de Classe Social, insuficiente na perspectiva do autor, para tratar das questões relacionadas as questões
relacionadas a Gênero, Raça e Povos originários. Quijano (2007, p.95-96) parte da afirmação de que a
“colonialidade é um dos elementos constitutivos e específicos do padrão de poder capitalista”. Fundando
“na imposição de uma classificação racial/étnica da população do mundo”. Dando destaque a esta questão
central para a compreensão e o entendimento dos povos da América. A partir da colonização da América,
em especial da América Latina, “o capitalismo se faz mundial, eurocentrado e a colonialidade e a
modernidade se instalam, até hoje, como os eixos constitutivos deste específico padrão de poder”. A
partir da Europa9 e da perspectiva eurocêntrica10 o capitalismo estabelece sua hegemonia em todo o
mundo, em especial na América. Quijano destaca que a Europa e os europeus consolidaram os núcleos
principais da “colonialidade/modernidade eurocêntrica, ou seja, uma concepção de humanidade baseada
em um pensamento linear, unidirecional e continuo no qual a população do mundo se diferencia em
“inferiores y superiores, irracionales y racionales, primitivos y civilizados, tradicionales y modernos”.

A resistência a influência das análises produzidas por estas teorias vinculadas ao continente
europeu teve lugar primeiramente no Peru no início do século XX11. A permanência desta perspectiva
causou, na perspectiva de Quijano:

La revuelta intelectual contra esa perspectiva y contra ese modo eurocéntrico de


producir conocimiento nunca estuvo exactamente ausente, en particular en
América Latina. En ese nuevo contexto están hoy activos otros componentes del
debate latinoamericano que apuntan hacia una nueva idea de totalidad histórico-
social, núcleo de una racionalidad no-eurocéntrica. Me refiero a las propuestas
sobre la colonialidad del poder y sobre la heterogeneidad histórico-estructural de
todos los mundos de existencia social, de las cuales hablaré inmediatamente.

Quijano (2007, p.98) apresenta uma crítica contundente ao liberalismo (hegemônica) e ao


Materialismo Histórico (subalterna) (indentificado como a mais eurocêntrica das versões heterogêneas da
herança de Marx), “as estruturas sociais se constituem sobre a base das relações que se estabelecem para
o controle do trabalho e de seus produtos. Tais relações se denominam relações de produção” 12.
Reforçando a crítica a perspectiva eurocêntrica, Quijano ainda nos informa que estas variantes
9
“Europa” é aqui o nome de uma metáfora, não de uma zona geográfica nem de uma população. Se refere a tudo o que se estabeleceu como expressão
racial/étnica/cultural da Europa, como prolongação dela.
10
El eurocentrismo, por lo tanto, no es la perspectiva cognitiva de los europeos exclusivamente, o sólo de los dominantes del capitalismo mundial, sino del
conjunto de los educados bajo su hegemonia. Y aunque implica un componente etnocéntrico, éste no lo explica, ni es su fuente principal de sentido. Se trata de
la perspectiva cognitiva producida en el largo tiempo del conjunto del mundo eurocentrado del capitalismo colonial/moderno, y que naturaliza la experiencia
de las gentes en este patrón de poder. Esto es, la hace percibir como natural, en consecuencia, como dada, no susceptible de ser cuestionada. Desde el siglo
XVIII, sobre todo con el Iluminismo, en el eurocentrismo se fue afi rmando la mitológica idea de que Europa era preexistente a ese patrón de poder; que ya era
antes un centro mundial del capitalismo que colonizó al resto del mundo y elaboró por su cuenta y desde dentro la modernidad y la racionalidad. (QUIJANO,
2007, p.96)
11
Segundo Quijano: Una crítica explícita al evolucionismo unilineal y unidireccional del eurocentrismo está ya presente, por ejemplo, en el libro de Haya de
la Torre, El Antimperialismo y el APRA (escrito según su autor en 1924, aunque su primera edición es de 1932). La percepción de las relaciones económicas
de poder en el Perú, implicada en el primero de los Ensayos de interpretación de la realidad peruana (1928), de José Carlos Mariátegui, puede ser consi- derada
como el embrión del concepto de heterogeneidad histórico-estructural, elaborado a mediados de los años 60. Véase mi libro Notas sobre el concepto de
marginalidad social (1966).
12
Quijano (2007, p.98) apresenta uma crítica ao Materialismo Histórico diferenciando do pensamento marxiano. Na perspectiva de Quijano “Si en Marx
también se hacen intervenir acciones humanas en el origen de las “relaciones de producción”, para el materialismo histórico eso ocurre por fuera de toda
subjetividad, esto es, también metafísica y no historicamente”.
(Liberalismo e Materialismo Histórico) partem da seguinte questão “que las relaciones entre los
elementos de un patrón histórico de poder tienen ya determinadas sus relaciones antes de toda historia.
Esto es, como si fueran relaciones definidas previamente en un reino óntico, ahistórico o transhistórico”.
(QUIJANO, P.98-99) uma outra perspectiva inaugurada pelo pensamento decolonial e sublinhada por
Quijano, é a questão da heterogeneidade13 histórico-estrutural do poder.

Quijano apresenta uma crítica em relação a como o Materialismo Histórico aborda a questão do
Trabalho. Onde ele verifica que “la propuesta marxiana (una de las fuentes del materialismo histórico)
sobre el trabajo como ámbito primado de toda sociedad, y sobre el control del trabajo como el primado en
todo poder social”. Apresentando duas questões: A primeira é que o controle do trabalho é a condição
central do poder capitalista e que o trabalho determina, a todo tempo e de modo permanente, o caráter, o
lugar e a função de todos os demais âmbitos da estrutura de poder. Não havendo uma homogeneidade
histórica de seus componentes, pelo contrário nesta categoria se combinam e articulam todas e cada uma
das formas, etapas e níveis da história do trabalho. Sublinhando a heterogeneidade histórica dessas
relações e a necessidade de superar com a visão unidirecional e unilateral do trabalho e de outras
categorias correlatas. A segunda questão é sobre a intersubjetividade social dada a forma capitalista de
organizar o trabalho. Enfatiza que as determinações são heterogêneas, descontínuas, inconsistentes e
conflitivas o que implica relações de reciprocas, múltiplas e heterogêneas determinações.

Por outro lado, resgatando a perspectiva marxiana Hormindo Pereira destaca a centralidade do
trabalho no pensamento de Marx, para Hormindo:

“O trabalho, como objetivação e autodesenvolvimento humano, como mediação


necessária do homem com a natureza, constitui a esfera ontológica fundamental da
existência humana. A objetivação é inerente ao trabalho, é um impulso à superação
de sua imediaticidade e se dá por meio da gênese, desenvolvimento e conexões
crescentemente genéricas e heterogêneas ao trabalho enquanto tal. O trabalho, ao
se objetivar, impulsiona o ser social para um desenvolvimento que dá origem a
novos patamares de sociabilidade; estes, por sua vez, requerem novas mediações e
novos complexos sociais para se reproduzirem, numa dinâmica de constante
afastamento das barreiras naturais”. (SOUZA JUNIOR, 2009, p.131-132).

A derrota dos regimes e movimentos que disputavam a hegemonia mundial e enfrentavam o


capitalismo. Facilito a imposição do discurso neoliberal do capitalismo, apresentado a partir de então
como único e dominante. E, se verificou uma crise acerca da problemática das classes sociais na
perspectiva do Materialismo Histórico. Cabe destacar que desde os anos setenta do século XX, diversos
travaram
autores influenciados pelo pensamento marxiano intensos debates acerca da questão das classes
sociais.

Quijano (2007, p.107-108), ao questionar quais seriam as dificuldades da teoria das classes
sociais do Materialismo Histórico apresenta três fatores: Primeiro, a constituição do materialismo
histórico no século XIX, fruto da hibridização marxista-positivista e dos teóricos da socialdemocracia
13
Na perspectiva de Quijano a Heterogeneidade parte da seguinte análise:Lo que es realmente notable de toda estructura social es que elementos,
experiências, produtos, historicamente descontínuos, distintos, distantes y heterogéneos puedan articularse juntos, no obstante sus incongruencias y sus
conflictos, en la trama común que los urde en una estructura conjunta. (QUIJANO, 2007, p.99)
europeia. Segundo, a canonização da versão chamada marxismo-leninismo. Terceiro, a vinculação do
materialismo histórico com o estruturalismo francês.

Ainda sobre as classes sociais e suas lutas Quijano nos atenta para o fato que foi a partir da obra
de “Claude Henri de Saint-Simon y de los saintsimonianos donde fueron formulados por primera vez,
mucho antes de Marx, los elementos básicos de lo que un siglo después sería conocido como la teoría de
las clases sociales del materialismo histórico”.E, que “ el reconocimiento hecho por Engels (Del
Socialismo Utópico al Socialismo Científico) de la “genial perspicacia” de Saint-Simon, mientras lo ubica
entre los “socialistas utópicos”, es tardío e interessado” (QUIJANO, P.108).

Apresentando uma crítica direta ao pensamento marxiano 14 Quijano destaca que na perspectiva
de Marx esta presente uma “una secuencia histórica unilineal y unidireccional de sociedades de classe”.
Embora em seus últimos escritos, em particular sobre os populistas russos, Marx se deu conta de que essa
unidirecionalidade e unilinearidade deixavam de fora da história outras decisivas experiências históricas.
Pondera que Marx “llegó, así, a ser consciente del eurocentrismo de su perspectiva histórica, pero no dio
el salto epistemológico correspondiente”.

Marx sustenta que o desenvolvimento capitalista, leva continuamente a polarização das classes
fundamentais. Embora não se apresente de forma nítida e pura linhas de separação entre as classes. Já em
sua interpretação da clássica obra de Marx sobre a conjuntura francesa, conhecida como 18 de Brumário
de Luis Bonaparte, Quijano (P.110) sustenta que: “En el movimiento de la reflexión marxiana están
implícitas, de una parte, la idea de que en la sociedad francesa de ese tiempo no existe sólo el salario, sino
varias y diversas otras formas de explotación del trabajo, todas articuladas al dominio del capital y en su
beneficio”. Quijano aponta que esta diferenciação entre capital (relação entre capital e salário) e
capitalismo (relações heterogêneas entre capital e todas as demais formas de trabalho), confronta a teoria
da articulação de modos de produção formulada pelo Materialismo Histórico. E afirma que as classes não
são estruturas, nem categorias, anteriores aos conflitos.

Quijano reforça a diferente fundamental entre a perspectiva marxiana e a do materialismo


histórico. Afirmando que para o Materialismo Histórico as classes sociais são ocupantes de uma sorte de
nichos estruturais, onde são localizadas e distribuídas as pessoas por relações de produção. E que em
Marx, se trata de um processo histórico concreto de classificação das pessoas. E neste processo de lutas
que uns conseguem submeter outros na disputa pelo controle do trabalho e dos recursos de produção. Em
outras palavras, as relações de produção não são externas, nem anteriores as lutas das pessoas, e sim o
14
A crítica de Quijano ainda ressalta que depois de mais de três séculos de história do capitalismo não foi incorporada pela literatura socialista/comunista os
seguintes elementos: (1) la coexistencia y la asociación, bajo el capitalismo, de todas las formas de explotación/do- minación del trabajo; (2) en el mundo del
capitalismo no existían solamente las clases sociales de “industriales”, de un lado, y “obreros” o “proletarios”, del otro, sino también las de “esclavos”,
“siervos”, “plebeyos” y “campesinos libres”; (3) las relaciones de dominación originadas en la experiencia colonial de “europeos” o “blancos” e “indios”,
“negros”, “amarillos” y “mestizos”, implicaban profundas relaciones de poder, que en aquel periodo estaban tan estrechamente ligadas a las formas de
explotación del trabajo que parecían “naturalmente” asociadas entre sí; (4) la relación capital-salario no era el único eje de poder, ni siquiera en la economía,
sino que había otros ejes de poder que existían y actuaban en ámbitos que no eran solamente económicos, como la “raza”, el género y la edad; (5) en
consecuencia, la distribución del poder entre la población de una sociedad no provenía exclusivamente de las relaciones en torno del control del trabajo, ni se
reducía a ellas.
resultado das lutas entre as pessoas pelo controle do trabalho e dos recursos de produção, das vitorias de
uns e das derrotas de outros, e como resultado das quais se localizam e são localizadas e classificadas. E,
afirma que esta proposta teórica esta implicada no capítulo sobre a acumulação primitiva de
capitais.Recorrendo as críticas apontadas pelo historiador britânico E.P. Thompson, em relação ao
materialismo histórico assinala que esta perspectiva “prolonga la visión “estática”, es decir, ahistórica,
que asigna a las clases sociales la calidad de estructuras establecidas por relaciones de producción, que
vienen a la existencia por fuera de la subjetividad y de las acciones de las gentes, es decir, antes de toda
historia”. ( A crítica do Quijano é voltada para o estruturalismo e ele generaliza para todo marxismo)

Quijano15 nos aponta que as “articulações” não deixam de ser conjunturais da transição entre os
modos de produção “pré-capitalistas” e o “capitalismo”. Consistindo na coexistência transitória, do
passado e do presente de sua visão histórica. Por outro lado, a perspectiva do materialismo histórico
rejeita a ideia da existência de modos de produção articulados, e do capitalismo como estrutura mindial de
poder dentro da qual, e a seu serviço, se articulam todas as formas historicamente conhecidas de trabalho,
de controle e da exploração social do trabalho.

Quijano (P.113) ainda alimenta a ideia de que a teoria eurocêntrica das classes sociais foi
influenciada pelo naturalismo, positivismo e por um marxismo-positivista e implicou em duas questões:
em primeiro lugar, a base da experiência europeia (perspectiva eurocêntrica); e, em segundo lugar, que as
diferenças entre os europeus passaram a se referir a riqueza/pobreza ou a mando/obediência. Nesta
perspectiva se destacam o controle do trabalho e dos recursos naturais, as relações de produção e o
controle do Estado. As outras diferenças, tais com sexo e idade, eram naturalizadas, como parte da
classificação da natureza. O pensador decolonial rejeita a teoria eurocêntrica sobre as classes sociais (ou
seja, o materialismo histórico), que mesmo no pensamento do próprio Marx é reducionista pois “son
consideradas sólo como derivativas de las “relaciones de producción” y determinadas por ellas”.

Hobsbawm16 parte da afirmativa de que “embora a concepção materialista da história seja o cerne
do marxismo e embora tudo o que Marx escreveu esteja impregnado de história, ele próprio não escreveu
muita história tal como os historiadores a entendem”. (P.172). E, a de que “Marx aplicava seu método a
problemas concretos, tanto da história quanto de um período que depois se converteu em história”.
(P.172) ainda na perspectiva de Hobsbawm (2010, p.172): O grosso da obra histórica de Marx, portanto,
está integrado nos seus escritos teóricos e políticos. Todos eles consideram os desenvolvimentos
históricos em um quadro referencial de maior ou menor duração, abrangendo amplitude global do

15
Quijano (P.111) afirma que: El materialismo histórico ha reconocido, después de la segunda guerra mundial, que en su visión evolucionista y unidireccional
de las clases sociales y de las sociedades de clase, hay pendientes problemas complicados. En primer lugar por la reiterada comprobación de que incluso en los
“centros, algunas clases “precapitalistas”, el campesinado en particular, no salían ni parecían dispuestas a salir de la escena histórica del “capitalismo”,
mientras que otras, las “clases medias”, tendían a crecer conforme el capitalismo se desarrollaba. En segundo lugar, porque no era sufi ciente la visión dualista
del pasaje entre “precapitalismo” y “capitalismo” respecto de las experiencias del “Tercer Mundo”, en donde configuraciones de poder muy complejas y
heterogéneas no corresponden a las secuencias y etapas esperadas en la teoría eurocéntrica del capitalismo. ”
16
Hobsbawm (2011, p.173-174) também nos informa que: A influência de Marx sobre os historiadores, e não só historiadores marxistas, baseia-se, contudo,
tanto em sua teoria geral (a concepção materialista da história), com seus esboços, ou pistas, sobre a compleição geral do desenvolvimento histórico humano a
partir do comunismo primitivo até o capitalismo, quanto em suas observações concretas relativas a aspectos, períodos e problemas específicos do passado.
desenvolvimento humano. (...) apesar disso, não se pode encontrar em Marx nenhuma síntese completa do
processo efetivo de desenvolvimento histórico (...).

17
Jórissa Danilla N. Aguiar busca em sua investigação original e instigante apresentar: “uma
síntese fecunda e produtiva entre a decolonialidade e o marxismo em sua vertente não-eurocêntrica, sem
cair num essencialismo epistemológico, nem perder o vínculo analítico de que se faz necessário completar
a formação econômico-social do subcontinente trilhando um projeto revolucionário”. Procurando
estabelecer um diálogo “com a teoria sociológica contemporânea, a sociologia crítica 18 aberta pelos
estudos culturais, pós-coloniais e decoloniais, a partir uma perspectiva marxista”. Em relação a crítica ao
Eurocentrismo presente nas contribuições baseadas no marxismo, Aguiar apresenta os seguintes
questionamentos:

A afirmação de que Karl Marx e Frederick Engels reproduziam o eurocentrismo em suas


teorias e preocupações, pesquisas e escritos nos parecem distorcidas se for seguida a
trajetória dos fundadores do materialismo histórico ao longo do desenvolvimento teórico e
atividade política. Contudo, o marxismo não é uma corrente homogênea e, fora de um
determinismo rígido, nos parece fundamental postular como a tradição política que inspirou
vários trabalhos de cunho marxiano responde aos problemas que estão fora do contexto
europeu, porém, inseridos na realidade mundial. (AGUIAR, 2018, p.62-63)

A crítica radical e profunda da visão eurocêntrica e o resgate da produção teórica Latino


Americana partir do conceito da decolonialidade é uma grande do pensamento decolonial. Bem como o
resgate da perspectiva mariateguiana de pensar estrategicamente a América Latina a partir de suas
condições, particularidades, originalidades e singularidades históricas, econômicas, políticas, sociais e
culturais utilizando o método marxiano constituem duas possibilidades de interpretação e transformação
de nossa América. ( Não sei se é possível essa conciliação entre marxismo e decolonialismo, pois, foi
mostrado que ambos partem de constelações teórico metodológicas distintas)

TERCEIRA PARTE – O marxismo na América Latina, a Teoria da Dependência e a crítica de


Aníbal Quijano.
Michael Löwy distingue de forma esquemática a história do marxismo na América Latina em três
períodos: “um período revolucionário, dos anos 20 até meados dos anos 30, cuja expressão teórica mais
profunda é a obra de José Carlos Mariátegui 19” (LÖWY, P.9), o período stalinista de meados da década de
1930 até 1959 e o novo período revolucionário, inaugurado pela Revolução Cubana.

A fase anterior aos três períodos elencados por Löwy corresponde aos primeiros contatos de
intelectuais, estudantes e líderes operários e camponeses com livros e materiais de propagação das obras
17
Em seu artigo “Por um marxismo decolonial: contribuições para a reflexão sociológica contemporânea” publicado em 2018 pelo Observatório
Latinoamericano Ano 2018 – número 2, a acadêmica Jórissa Danilla N. Aguiar como parte do resultado de sua tese de doutorado intitulada “Entre a
subalternidade e o socialismo indoamericano: existe um pensamento decolonial? ”
18
Conforme Aguiar: Os intelectuais já clássicos do grupo decolonial, Aníbal Quijano e o filósofo argentino Enrique Dussel, se debruçam sob a reflexão da
colonialidade e sob a maneira com que é recuperada em uma dimensão crítica e política, sem ocultar a permanência do processo de divisão do trabalho que
polariza o mundo dentro de uma lógica capitalista.
19
Para Löwy (P.18) o pensamento de Mariátegui caracteriza-se “por uma fusão entre os aspectos mais avançados da cultura europeia e as tradições milenares
da comunidade indígena, e por uma tentativa de assimilar a experiência social das massas camponesas numa reflexão teórica marxista. Na mesma linha Leila
Escorsim identifica que a formação intelectual marxista de Mariátegui sofreu forte influência do “ambiente italiano – o mirante político ESCORSIM, p.79) ” e
segundo José Aricó “Mariátegui leu Marx e Lenin com o filtro do historicismo italiano e de sua polêmica contra qualquer visão evolucionista e fatalista do
desenvolvimento das relações sociais. (ÁRICO, José. P.450)
de Karl Marx e Friedrich Engels no continente. Durante o final da segunda metade do século XIX e a
primeira década do século XX, essa influência se materializa na constituição dos primeiros partidos e
organizações operárias. Uma das questões centrais problematizadas por Löwy, e que constitui o pilar
sob o qual as organizações políticas irão se debruçar e formular suas estratégias e táticas é a natureza e o
caráter da revolução no continente. Duas tentações se verificam, em relação ao marxismo na América
Latina, segundo o referido autor: o excepcionalismo latino americano que tendeu a “absolutizar a
especificidade da América Latina e de sua cultura, história, ou estrutura social” e o eurocentrismo onde
“toda a especificidade da América Latina foi implícita ou explicitamente negada, e o continente
concebido como uma espécie de Europa Tropical”. (LÖWY, P.10-11)

A polêmica sobre o caráter da Revolução (nacional-democrática, democrática burguesa, ou


socialista) levou Mariátegui e fomentar diversas polêmicas com outros líderes políticos peruanos em
especial Haya de la torre, fundador da aliança patriótica revolucionária para a América Latina. Haya de la
Torre ira sustentar a tese “nacionalista” segundo a qual era necessária uma aliança entre a burguesia e os
operários e camponeses para derrotar o imperialismo e desenvolver as forças produtivas como ponto de
partida para a “revolução”. Löwy (P.20) aponta que para Mariátegui: “A revolução latino-americana só
pode ser uma revolução socialista que inclua objetivos agrários e anti-imperialistas”. Mariátequi destaca
que “ em um continente dominado por impérios não há lugar para um capitalismo independente; a
burguesia local chegou tarde demais à cena histórica”.

Para autores como Nestor Kohan (P.76) a riqueza da interpretação marxista de Mariátegui está em
ter realizado três operações teóricas: a primeira foi conceber o “marxismo como método de análise e não
como esquema apriorístico. Entender o marxismo como um instrumento de análise produtivo” e não
como teoria apriorística. ” O segundo elemento foi o “distanciamento do paradigma político onde a
civilização de encontrava circunscrita a alguns países europeus. Mariátegui apresenta a necessidade de
juntar “ao poder revolucionário do proletariado, seus partidos e sindicatos o mundo rural e do
campesinato” os povos Indígenas. O terceiro e último elemento é o da “readequação do método histórico
(Estudo do imperialismo desde a força social oprimida) por sobre a metafísica materialista, ótica centrada
nas forças sociais internas da região oprimida (KOHAN, P.79) ”. Nesta perspectiva já se encontrava a
preocupação com a superação do eurocentrismo, resgatada novamente pelos intelectuais decoloniais.

Segundo Löwy “Mariátegui foi o primeiro comunista da América Latina a abordar o problema
agrário e sua relação com o problema indígena, tentando aplicar de forma criativa o método marxista a
um fenômeno especificamente latino-americano (LÖWY, P.109) ” atribuindo grande importância às
tradições coletivistas dos Incas. Na perspectiva de Kohan Mariátegui se situa entre o “relativismo
histórico de Haya de la Torre e o materialismo mecanicista de Codovilla”, Codobilla foi o principal
expoente do marxismo-leninismo ou marxismo soviético na América Latina no período, para o autor “não
cabe dúvida de quanto tenta dar conta da realidade peruana estudando os problemas econômicos,
históricos, literários, religiosos, indígenas, educativos e de organização regional” Mariátegui o faz sob o
ângulo marxista aberto e criativo utilizando o método marxista, sem limitar o catecismo oficial da
“ortodoxia”. É importante assinalar que antes e durante o chamado período stalinista, a teoria de partido
desenvolvida por Lenin, passa a ser hegemônica no movimento socialista (comunista) Internacional.

No mesmo ano da publicação dos sete ensaios de interpretação da realidade peruana, o Movimento
Comunista Internacional realiza o VI Congresso da Internacional Comunista (KOMINTERN 20), onde em
meio a modificações na linha política na maioria dos partidos membros, consolida-se um período de
bolchevização dos partidos comunistas (os socialistas ligados ao Komintern passam a ser denominados
comunistas) verificou-se em “enquadramento esquemático e generalizador, que acabou por vulgarizar os
elementos históricos-objetivos componentes das realidades latino-americanas, desconsiderando, assim, a
rica complexidade das formações históricos-particulares da América Latina. (MAZZEO, P.51) ”

A contribuição verificada na leitura de Mariátegui21 do marxismo está marcada principalmente


pela incorporação dos seguintes elementos de destaque em sua obra: O trato da questão nacional “como
ponto obrigatório de partida para toda a reflexão sobre a possibilidade de um projeto de transformação da
sociedade peruana (ARICÓ, P.449)”. Onde busca interpretar a realidade peruana através do marxismo
como instrumental teórico analítico. E a recolocação do problema indígena onde crítica a tendência de
considerá-lo como problema econômico-social pontuando que a “crítica socialista o descobre e esclarece.
Porque busca suas causas na economia do país e não no seu mecanismo administrativo, jurídico ou
eclesiástico, nem n sua dualidade ou pluralidade de raças, nem em suas condições culturais ou morais
(MARIÁTEGUI, P.53) ”. Em seu texto “O socialismo indo-americano” Mariátegui afirma que o
socialismo na América não poderá ser “decalque e cópia. Deve ser criação heróica. Temos que dar vida
com nossa própria realidade, em nossa própria linguagem, ao socialismo indo-americano (LÖWY, P.109)
”.

Nos anos sessenta do século XX, diversos intelectuais latino americanos se propuseram a analisar
a economia dos países da América Latina e as relações da região com os polos centrais do capitalismo
mundial. O surgimento da Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL) proporcionou condições
e um aparato institucional para o avanço destes estudos. Estes intelectuais envoltos em uma perspectiva
desenvolvimentista buscavam alternativas para o subdesenvolvimento dos seus respectivos países. A
Teoria da Dependência22 surge neste quadro latino americano buscando compreender o processo de
20
Antônio Carlos Mazzeo analisa que foi neste congresso que “a implementação da linha política de viés marxista-vulgar, que reduziu as complexidades
particulares das formações sociais latino americanas à fórmula do feudalismo, transpondo esquematicamente experiências e realidades de outros países,
constitui-se no passo fundamental para o emprobrecimento do manacial teórico marxista e acabou por excluir dos PCs interpretações que possibilitaram a
elaboração de visões inovadoras e criativas do processo histórico latino-americano. (MAZZEO, P.52-53)”. Desta forma o Komintern ceifa as possibilidades de
criação e elaboração teórica original que vinha sendo desenvolvida em alguns Partidos participes da Internacional Comunista.
21
Dada à singularidade da obra de Mariátegui, em uma importante fase de elaboração teórica marxista, sua influência no movimento socialista e comunista
latino americano, devemos atribuir-lhe o status de principal expoente do Marxismo na América Latina. Lowy (p.18) sustenta em sua obra que o livro sete
ensaios de interpretação da realidade peruana, foi a “primeira tentativa de análise marxista de uma formação social latino-americana concreta.” Na advertância
de Mariátegui (1928) cabe destacar que “esse trabalho não passa de uma contribuição à crítica socialista dos problemas e da história do Peru (P.32)” onde
Mariátegui “operou uma transformação de todo o discurso marxista oficial, que o levou a basear no Índio a força social estratégica de qualquer projeto
socialista de transformação (ARICÓ, p.457)”.
22
A teoria da dependência é segundo Bottomore: Escola de pensamento que procura explicar as causas do desenvolvimento e do subdesenvolvimento
econômicos. Embora essa teoria tenha sido objeto de uma ampla literatura, que incorpora muitos conceitos e métodos, a característica distintiva da produção
reprodução do sistema capitalista de produção na periferia e suas consequências econômicas, políticas e
sociais nos países da região.

Os intelectuais vinculados a teoria da dependência incorreram em duas falhas em suas análises:


subestimaram o papel do simbólico na conformação das hierarquias Moderno/Coloniais e não deram
conta de analisar as complexidades dos processos hierárquicos do sistema mundo. Por outro lado,
privilegiaram a economia na análise social e praticamente categorias como ´Gênero´e ´Raça´, reduzindo-
as a ´classe´ou aos ´interesses econômicos da burguesia´.

Nesta perspectiva cabe destacar que conforme Santiago Castro-Gómez e Ramón Grosfoguel
(2007, p.18):

As ideias de Aníbal Quijano representaram uma das poucas exceções a este


enfoque. Sua teoria ´colonialidade do poder´ busca ´integrar as múltiplas
hierarquias de poder do capitalismo histórico como parte de um mesmo processo
histórico-estrutural heterogêneo. No centro da ´colonialidade do poder ‘esta o
patrão do poder colonial que constitui a complexidade dos processos de
acumulação capitalista articulados a uma hierarquia racial/étnica global e suas
classificações derivativas de superior/inferior, desenvolvido/subdesenvolvido, e
povos civilizados/bárbaros.

Para Aníbal Quijano “não existe uma ´pre´ou um ´pos´da hierarquia racial/étnica a escala mundial
em relação ao processo de acumulação capitalista”. O intelectual peruano aponta que a formação inicial
do sistema-mundo capitalista, a incessante acumulação de capital se mesclo de maneira completa com os
discursos racistas, homofóbicos e sexistas do patriarcado europeu. Nesta perspectiva o enfoque e primado
do econômico perde influência na medida em que existe a compreensão de que “a divisão internacional
do trabalho vinculo em rede uma série de hierarquias de poder: étnico-racial, espiritual, epistêmica, sexual
e de gênero”. Concluí-se que o processo de expansão colonial europeia universalizou os valores
heterossexuais europeus e formou “estruturas hierárquicas em termos raciais, sexuais, de gênero e de
classe”. Onde, “o processo de incorporação periférica da incessante acumulação de capital se articulou de
maneira complexa com práticas e discursos homofóbicos, eurocêntricos, sexistas e racistas”. ( A que se
apontar que existe a vertente marxista da teporia da dependência, que rompe, com as interpretações
cepalinas, puxar uma nota explicativa )

QUARTA PARTE – Sistema mundo versus Imperialismo.

Uma das questões mais inovadoras apresentadas pelos intelectuais decoloniais é a categoria de
Sistema-Mundo. Segundo Aníbal Quijano:

“Desde América Latina, sin duda la más infl uyente de las tentativas de mostrar de
nuevo la mundialidad del capitalismo fue la propuesta de Raúl Prebisch y sus
asociados, para pensar el capitalismo como un sistema mundial diferenciado en
“centros” y “periferias”. Tal visión fue retomada y reelaborada en la obra de
Immanuel Wallerstein, cuya propuesta teórica del “sistema-mundo moderno”,
desde una perspectiva donde confluyen la visión marxiana del capitalismo como
un sistema mundial y la braudeliana sobre la larga duración histórica, ha reabierto

de todos os teóricos da dependência é que todos tratam o desenvolvimento social e econômico dos países subdesenvolvidos como se fosse condicionados por
forças externas, a saber, a dominação desses países por outros, mais poderosos, a dominação desses países por outros, mais poderosos. (P.373).
y renovado, de modo decisivo, el debate sobre la reconstitución de una perspectiva
global en la investigación científi co-social del último cuarto del siglo XX.

Quijano reforça a perspectiva de que “A relação entre os povos ocidentais e não ocidentais esteve
sempre mesclada com o poder colonial, com a divisão internacional do trabalho e com os processos de
acumulação capitalista”. Por outro lado, os marxistas partem das contribuições de Lenin para trabalhar
com a noção e categoria analítica Imperialismo. Segundo Fernando Leitão em O imperialismo, fase
superior do capitalismo Lênin23 apresenta um importante texto para o combate das teorias econômicas
vulgares, bem como, instrumento na arena da política, seja para as atividades de propaganda, e em
especial de agitação.

Este processo deu início a etapa imperialista, onde nesta fase:

A concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de


desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel
decisivo na vida econômica; 2. A fusão do capital bancário com o industrial e a
criação, baseada nesse “capital financeiro”, da oligarquia financeira, 3. A
exportação de capitais, diferente da exportação de mercadorias, adquire uma
importância particularmente grande, 4. A formação de associações monopolistas
internacionais de capitalistas, que partilham o mundo entre si, 5. O termo da
partilha territorial do mundo entre as potencias capitalistas mais importantes. (...)
O imperialismo24 é o capitalismo na fase de desenvolvimento em que ganhou
corpo a dominação dos monopólios e do capital financeiro, adquiriu importância
assinalável a exportação de capitais, começou a partilha do mundo pelos trustes
internacionais e terminou a partilha de toda a terra entre os países capitalistas mais
importantes (LÉNINE, 1975, p. 108).

A tendência da concentração da produção e da formação dos monopólios com o aparecimento do


capital financeiro25 marca a etapa imperialista do modo de produção capitalista agregando também o
capital bancário e o capital produtivo. Embora nenhuma das duas perspectivas de análises ignora ou
subestima o papel do capital a nível global. São categorias de análises diferenciadas que parte da
observação do mesmo processo, ou seja, da hegemonia global do capital e suas consequências. Virgínia
Fontes, trabalha com uma outra categoria de análise o capital-imperialismo para distinguir da visão
etapista presente na formulação leninista( a Virginia com seu conceito de capital-imperialista atualiza
a visção leninista do imperialismo, ela está se contrapondo a essa noção de que o imperialismo é uma
mera ação externa, neste sentido, ela opera uma síntese entre Marx- capital portador de juros,
expropriação permanente, primaria: expropriação da terra e dos meios de produção e expropriação

23
Lenin, foi um dos principais teóricos marxistas e líder da Revolução Bolchevique de 1917 identifica que foi introduzida uma nova dinâmica do modo de
produção capitalista, onde “a concorrência transforma-se em monopólio. Daí resulta um gigantesco progresso na socialização da produção. Socializa-se
também em particular o processo dos inventos e aperfeiçoamentos técnicos” (LÉNINE, 1975, p. 38).
24
Analisando a obra em seu contexto histórico e numa perspectiva de totalidade, concordamos com a argumentação de Lukács (2012, p. 63) de que: O
imperialismo, fase superior do capitalismo, não é uma obra economicista, pois, na verdade: A teoria do Imperialismo de Lenin é menos uma teoria a respeito
do seu surgimento economicamente necessário e de seus limites econômicos – como a de Rosa Luxemburgo – do que uma teoria das forças concretas de classe
que o imperialismo desencadeia e que atuam em seu interior; é a teoria da situação mundial concreta provocada pelo imperialismo. Quando Lenin investiga a
essência do capital monopolista e a divisão de classes que daí surge: como a terra foi repartida de facto pelas grandes potências coloniais; as alterações
ocorridas na divisão interna entre burguesia e proletariado (camadas parasitárias de rentistas, aristocracia operária etc.). E, sobretudo, como o movimento
interno do capital monopolista, em razão do ritmo desigual nos diferentes países, revoga a repartição entre ‘zonas de interesse’ outros compromissos firmados
e leva a conflitos que só podem ser solucionados pela violência, pela guerra.
25
Ao nosso juízo, a categoria capital financeiro não é uma categoria epistemológica, trata-se na verdade, de uma categoria não só heurística, que abarca a
totalidade das múltiplas manifestações e das distintas formas de ser e do modus operandi do capital. Noutras palavras, o capital financeiro não se configura
apenas pela “fusão, junção ou entrelaçamento da forma de capital bancário com o capital produtivo”. Trata-se na verdade de uma categoria ontológica própria
da fase imperialista, que por sua vez, sintetiza a totalidade contraditória que engloba os ciclos do (capital produtivo – capital mercadoria e capital dinheiro),
bem como, as formas autônomas e fluídas de capital, em especial, a forma de capital portador de juros e o capital fictício.
secundária: as novas formas baseadas no capital portador de juros, combinados com Lenin, exportação de
capitais e com Gramsci sobre aparelhos privados de hegemonia e dominação) e também da perspectiva do
sistema mundo que não realça as mudanças econômicas vivenciadas pelo capitalismo nesta atual
conjuntura.

QUINTA PARTE – O papel do Estado e a formação dos Estados Nacionais latino-americanos.


Ao defender que o Estado é um instrumento de dominação da classe oprimida, Lênin aponta que
graças a esse mesmo Estado, a burguesia, ou seja a classe politicamente dominante, se dispõe de novos
meios de oprimir e explorar a classe dominada, freando os antagonismos de classe. A exploração do
trabalho assalariado pelo capital é garantida na sociedade através do Estado representativo moderno.

Lênin reforça a tese marxista da importância decisiva da Ditadura do Proletariado como transição,
destacando que “A substituição do Estado burguês pelo Estado proletário não é possível sem revolução
violenta. A abolição do Estado proletário, isto é, a abolição de todo e qualquer Estado, só é possível pelo
‘definhamento.” (2011, p. 55).

Lênin defende a utilização do Estado (como uma comuna) para o período de transição. Retomando
a questão desenvolvida por Marx em sua obra Crítica ao Programa de Gotha de 1875, Lênin vem afirmar
que o Estado Proletário pode ser uma forma vital para a transição. Seguindo a perspectiva anunciada por
Lênin em O Estado e a Revolução, Lukács reforça o papel teórico representado por Lênin no combate às
posições reformistas e na defesa das posições revolucionárias acerca do Estado. György Lukács, também,
reforça a perspectiva, outrora defendida por Lênin, da possibilidade objetiva da utilização do Estado
como arma.

A essência revolucionária de uma época expressa-se da maneira mais clara quando a luta
das classes e partidos não possui o caráter de uma luta no interior de uma determinada
ordem estatal, mas começa a dinamitar as suas fronteiras, ultrapassando-as. Por um lado,
ela aparece como luta pelo poder de Estado; por outro lado, e, simultaneamente, o próprio
Estado torna-se abertamente – participante da luta. “Luta-se não apenas contra o Estado,
mas o próprio Estado revela o seu caráter como arma da luta de classe, como um dos mais
importantes instrumentos para a conservação do domínio de classe. (LUKÁCS, 2014, p.
45).

A partir do processo de mundialização do capital verificado no século XIX, o fortalecimento dos


estados nacionais e a criação dos Estados Nacionais Latino Americanos o “Estado-Nação” passou a se
constituir como uma unidade de análise vinculado ao capitalismo. E, objeto de análise da corrente Liberal
e do chamado “materialismo histórico, la más difundida y la más eurocêntrica de las vertientes derivadas
de la heterogénea herencia de Marx” (QUIJANO, 2007, p.96).

A literatura marxista e os escritos de Marx apontam para a perspectiva de superação do Estado.


Nos países latino americanos os processos de independência tinham como objetivo a formação dos
Estados Nacionais tendo como referência política neste constructo o pensamento europeu, em especial as
experiências históricas europeias e o modelo de nação. Tanto é que as bandeiras dos países independentes
apresentam o vínculo com as bandeiras tricolores e em alguns casos como o da Jamaíca e do Brail o
desenho modelado da bandeira imperia. Mas, o que se destaca na formação dos estados nacionais latino
americanos é a ausência da representação e do protagonismo popular na construção e na condução destes
estados. Carece aprofundarmos nossa investigação acerca das características eurocêntricas dos Estados
Nacionais latino americanos e as alternativas. ( nesta parte a teoria marxista da dependência ajuda a
explicar a formação social latino américa)

SEXTA PARTE – CLASSE SOCIAL VERSUS OU CLASSIFICAÇÃO SOCIAL.

Uma das principais divergências apontadas por Aníbal Quijano em relação as análises marxistas e
ao próprio pensamento de Marx é a complexa questão das classes sociais. O pensador decolonial propõe a
utilização do conceito de Classificação Social em substituição a perspectiva marxista e marxiana das
classes sociais. Para Quijano o conceito de classificação social se refere aos processos de longo prazo, nos
quais as pessoas disputam pelo controle dos âmbitos básicos da existência social, e cujos resultados se
configura um padrão de distribuição do poder, centrado nas relações de exploração/dominação/conflito
entre a população de uma sociedade e em história determinadas. Sublinha também que o poder é uma
malha de relações de exploração/dominação/conflito que se configuram entre as pessoas, na disputa pelo
controle do trabalho, da “natureza”, do sexo, da subjetividade e da autoridade. Resgatando a crítica ao
marxismo Aníbal Quijano destaca que o: “o poder não se reduz as ´relações de produção´, nem a ´ordem e
autoridade, separados ou juntos”. E nos informa que:

“A classificação social se refere aos lugares e papeis das pessoas no controle do trabalho,
seus recursos (incluídos os da natureza) e seus produtos: do sexo e seus produtos; da
subjetividade e seus produtos (ante a todo imaginário e o conhecimento); e da autoridade,
seus recursos e seus produtos. Neste sentido específico, toda possível teoria da classificação
social das pessoas requer, necessariamente, indagar pela história, as condições e as
determinações de uma dada distribuição de relações de poder em uma sociedade específica.
Porque é essa distribuição do poder entre as pessoas de uma sociedade que as classifica
socialmente, determina suas recíprocas relações e gera suas diferenças sociais, já que suas
características, empiricamente observáveis e diferenciáveis, são resultados destas relações
de poder, seus sinais e suas pegadas. (QUIJANO, P.115)

Quijano utiliza da categoria da heterogeneidade para sustentar a sua análise acerca da classificação
social. E, ironiza dizendo que na perspectiva eurocêntrica a ciência que estudas os europeus se chama
“sociologia” enquanto que a ciência que estudará os não europeus se chamará “etnografia”. Reforça a
necessidade e a pertinência de sair da teoria eurocêntrica das classes sociais e avançar até uma teoria
histórica da classificação social. Para apreender e indagar a constituição histórica do poder capitalista,
mundial e moderno/colonial.

Insiste consequentemente no modo heterogêneo, descontínuo, contraditórios e conflitivos no


espaço e no tempo, que devem ser compreendidas este conjunto de relações articuladas pela colonialidade
do poder. Os processos de classificação, desclassificação e reclassificação devem observar estes
elementos supracitados articulados dentro de um padrão social de poder de longa duração. E aponta que
no capitalismo mundial, a questão do trabalho, da raça e do gênero, são as três instâncias centrais que se
ordenam essas relações conflitivas de exploração/dominação. Sendo que das três instâncias a do trabalho
(exploração/dominação) é central e permanente. Nesta passagem, Aníbal Quijano se reencontra com o
pensamento marxiano.

Aníbal Quijano destaque que nem todos os processos de subjetivação sociais 26 ou de constituição
de sujeitos coletivos podem ser reconhecidos como processos de classificação social. Em alguns casos se
trata de um problema de formação de identidades, de um processo identitário que não põe em questão,
para nada, essas instâncias de poder social. Quijano apresenta uma crítica a perspectiva e questão do
sujeito histórico:

Por el momento creo necesario indicar, apenas, primero mi escepticismo respecto de la noción
de “sujeto histórico”, porque remite, quizás inevitablemente, a la herencia hegeliana, no del
todo “invertida” en el materialismo histórico. Esto es, a una cierta mirada teleológica de la
história y a un “sujeto” orgánico o sistémico, portador del movimiento respectivo, orientado en
una dirección ya determinada. Tal “sujeto” sólo puede existir, en todo caso, no como histórico,
sino, bien al contrario, como metafísico. De otro lado, sin embargo, la simple negación de toda
posibilidad de subjetivación de un conjunto de gentes, de su constitución como sujeto colectivo
bajo ciertas condiciones y durante un cierto tiempo, va directamente contra la experiencia
histórica, si no admite que lo que puede llamarse “sujeto”, no sólo colectivo, sino inclusive
individual, está siempre constituido por elementos heterogéneos y discontinuos, y que llega a
ser una unidad sólo cuando esos elementos se articulan en torno de un eje específi co, bajo
condiciones concretas, respecto de necesidades concretas y de modo transitorio.

Reforçando a tradição marxista, Mészáros (2002, p. 121) aponta que “o sujeito social da
emancipação é o proletariado porque é forçado, pela maturação das contradições antagônicas do sistema
do capital, a subverter a ordem social dominante”. Ressaltando que não cabe a formação de uma nova
classe dominante, o objetivo central é a extinção da sociedade de classes.

Quijano (p.118) aponta a necessidade de que os processos de classificação social, de subjetivação


das pessoas frente ao capitalismo deve ser articulado e manejado a partir das três instâncias (Trabalho,
Gênero e Raça) para “levar as vítimas da exploração/dominação capitalista a sua libertação”. Ressalta
ainda que o capitalista mantém o controle do poder utilizando estas diferentes situações, em relação com
o trabalho, a raça e ao gênero e que a colonialidade do poder teve um papel central nesta história.

Nesta perspectiva Quijano, apresenta a necessidade de articular a questão da classificação social


com a colonialidade do poder. E, ressalta a importância de ampliar e qualificar a utilização das categorias
raça e gênero. E informa que: mientras la producción social de la categoría “género”, a partir del sexo, es
sin duda la más antigua en la historia social, la producción de la categoría “raza”, a partir del fenotipo, es
relativamente reciente, y su plena incorporación a la clasificación de las gentes en las relaciones de poder
tiene apenas 500 años: comienza con América y la mundialización del patrón de poder capitalista. Las
diferencias fenotípicas entre vencedores y vencidos han sido usadas como justificación de la producción

26
Como exemplo do processo descontinuo de subjetivação cujo sentido é o conflito em torno da exploração/dominação que na perspectiva de Aníbal Quijano,
constituem processos de classificação social. Quijano cita: Las luchas colectivas de sectores de trabajadores que llegan a organizarse en sindicatos, en partidos
políticos, las de identidades llamadas “nacionales y/o étnicas”, las de comunidades, inclusive, mucho más amplias, que se agrupan como identidades religiosas,
y que son perdurables por largos plazos, son ejemplos históricos de tales procesos de subjetivación de amplias y heterogéneas poblaciones, que son incluso
discontinuos en el tiempo y en el espacio. (QUIJANO, p.117)
de la categoría “raza”, aunque se trata, ante todo, de una elaboración de las relaciones de dominación
como tales. La importancia y la significación de la producción de esta categoría para el patrón mundial de
poder capitalista eurocéntrico y colonial/moderno, difícilmente podría ser exagerada: la atribución de las
nuevas identidades sociales resultantes y su distribución en las relaciones de poder mundial capitalista, se
estableció y se reprodujo como la forma básica de la clasificación social universal del capitalismo
mundial, y como el fundamento de las nuevas identidades geo-culturales y de sus relaciones de poder en
el mundo. Estes elementos são centrais nas análises dos pensadores decoloniais e fundamentais para a
compreensão do Sistema-mundo e da modernidade/decolonialidade na medida em que a cultura
eurocêntrica e a dominação capitalista os qualifica e incorpora de forma substantiva. A produção de novas
relações intersubjetivas de dominação e a “racionalização das relações de poder entre as novas
identidades sociais e geo-culturais foi a sustentação e a referência legitimadora fundamental do caráter
eurocentrado do padrão de poder, material e intersubjetivo”.

Por outro lado, Quijano pondera para o fato de que:

El materialismo histórico, respecto de la cuestión de las clases sociales, así como


en otras áreas respecto de la herencia teórica de Marx, no es exactamente una
ruptura, sino una continuidad parcial y distorsionada. Ese legado intelectual es
reconocidamente heterogéneo, y lo es aún más su tramo final, producido,
precisamente, cuando Marx puso en cuestión los núcleos eurocéntricos de su
propio pensamiento, desafortunadamente sin lograr encontrar una resolución eficaz
a los problemas epistémicos y teóricos implicados. Admite, pues, heterogéneas
lecturas. (QUIJANO, 2007, p.108)

O intelectual marxista (pensador marxiano) Mauro Iasi. Apresenta uma defesa do Marxismo na
questão das classes sociais. Dizendo que o fenômeno classe não se restringe na perspectiva marxiana a
determinação da base material ou econômica. Conforme o intelectual marxiano:

O proletariado não é em si proletariado a não ser que venda sua força de trabalho
em troca de salário, e isso implica a classe que a compra. Mas só o ato da compra
não caracteriza a relação, a força de trabalho deve ser comprada como mercadoria
para ser consumida em um processo de produção de mercadorias, que produza,
além disso, mais valia, para que estejamos falando de uma relação capitalista. É só
no interior dessa relação que uns tornam-se proletários para outros tornarem-se
capitalistas. Podermos dizer, portanto, que o conceito de classes é relacional. No
entanto, não podemos nos limitar a tais determinações. Assim como o concreto, as
classes são síntese de múltiplas determinações” (IASI, 2011, p.108)

( voce poderia desenvolver essas múltiplas determinações do conceito de classe que superam a mera constatação de classes
como relações de produção)

SÉTIMA PARTE - LUTAS ANTI-COLONIAIS E DECOLONIAIS.

As lutas nacionais libertadoras impulsionadas correntemente pelas organizações insurgentes em


nossa América chamam a atenção para as questões sociais inconclusas desde os processos de
independência latino-americana. A perspectiva anti-imperialista e anti-capitalista, presentes nestas lutas
reforçam a tese de que mesmo após o fim das experiências socialistas na União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) e no leste europeu ainda existem lutas anticoloniais e suas expressões políticas. Cabe
aprofundarmos nossas investigações para identificar e analisar os possíveis elementos decoloniais
presentes nas lutas anticoloniais, nacionais-libertadoras, anticapitalistas, anti-imperialistas e anti-
sistêmicas.

Na Colômbia, a atuação de grupos guerrilheiros como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e


a atuação política da Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC) o partido da ex-guerrilha
marxista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) vinculada ao
Movimento Continental Bolivariano (MCB) dão conta da persistência das lutas anticoloniais, nacionais
libertadoras. No México, os Zapatistas seguem suas lutas nos territórios autônomos. E, tentaram
apresentar nas eleições presidenciais de 2018 uma candidatura ligada diretamente aos zapatistas, María
Jesús Patrício, conhecida como Marichey, uma mulher indígena. Que representava “a rebeldia indígena e
sua pretensão de libertar os povos originários e toda a nação mexicana”. No Brasil, a presença da líder
indígena Sônia Guajajara, candidata a vice-presidenta na chapa de Guilherme Boulos, líder do Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST). Foi uma importante articulação que trouxe para a cena política nacional através
da atuação política representantes da Associação dos Povos Indígenas no Brasil (APIB) e outras
organizações sociais e populares.

A perspectiva decolonial alimenta as lutas de diversos movimentos sociais na América Latina,


especialmente o movimento negro e o movimento indígena. Simultaneamente as lutas identitárias
crescem em todo continente americano marcando a influência crescente tanto do pós-modernismo quanto
do pensamento decolonial. As disputas ganham relevo em espaços como na academia, nas redes sociais e
nos movimentos populares.

Um ponto de convergência destas lutas antisistêmicas com as lutas anticapitalistas e anti-


imperialistas foi o processo da construção coletiva do Fórum Social Mundial, que no início deste século
agregou em locais centrais e periféricos movimentos populares, partidos de esquerda, organizações
sociais, culturais, ecológicas, sindicais, estudantis, religiosas entre outras variedades de todo o mundo 27.
Este exemplo histórico marcou a possibilidade de unidade na luta de representantes e movimentos sociais
influenciados pela perspectiva decolonial ou marxista.

( O forum foi uma experiência falida – apesar de ter marxistas no seu interior o que predominou foi uma
versão movimentista-pós-moderna, sintetizada no lema vamos mudar o mundo sem tomar o poder)

CONCLUSÃO PRELIMINAR.

As discussões aqui apresentadas fazem parte de uma tentativa de análise de algumas questões
pertinentes a relação entre Marxismo (e a perspectiva marxiana) e pensamento decolonial. Trata-se de um
humilde e limitado estudo introdutório tendo como base nosso acúmulo de estudos e investigações sobre
o pensamento marxiano e as contribuições de alguns teóricos marxistas. Cabe destacar ainda nossa

27
Cabe destacar a ausência na programação oficial de representantes de grupos insurgentes nacionais libertadores .
introdução aos estudos do pensamento decolonial e a compreensão dos desafios da inovação
extraordinária promovida por esta corrente e seus intelectuais.

Ao expormos o conjunto de questões, análises e divergências mais do que confrontar os


posicionamentos procuramos divergentes/convergentes, procuramos elucidar as diferentes posições
teóricas relacionadas ao debate teórico e conceitual. As diferentes perspectivas de análises podem ser
ampliadas se destacarmos outros pensadores decoloniais que diferente de Aníbal Quijano não tiveram em
sua trajetória contato com o pensamento marxiano. A referência deste autor para tratarmos das temáticas
relacionadas a discussão apresentada foi fundamental tendo em vista a formação singular deste pensador
que transitou ao longo de sua produção intelectual em ambas as correntes.

As ideias e questões aqui analisadas tendem a servir como acúmulo para leituras e releituras de
diversas questões teóricas, políticas e sociais relacionadas a luta dos povos na perspectiva de superação
do capitalismo. Ao trazermos estas reflexões para o contexto atual percebemos a necessidade de superar
dogmas, preconceitos, falsas ideias, relativizações, esquemas e incompreensões presentes em nossa
formação intelectual, marcadamente influenciada pela modernidade/decolonialidade de matriz europeia.
Associa-se a esta preocupação a compreensão da necessidade de fortalecimento das articulações e lutas
dos diversos e heterogêneos movimentos populares.

Conclusão geral: o artigo está bom, mas, as tentativas de conciliação ou convergência entre o
marxismo e o pensamento decolonial se mostram impossíveis apesar do esforço do texto em trilhar
esse caminho, dado que, o marxismo se referencia em posições teórico-metodológica distinta desta
variante e em alguns casos antagônicas. A problemática decolonia que se coloca contra uma leirura
eurocêntrica acaba levando essa perspectiva a abraçar em seus postulados uma leitura caricatural
do marxismo. Quijano na sua crítica ao marxismo, (na verdade crítica a uma das vertentes do
marxismo a chamada estruturalista) a universaliza como se fosse para todos os marxismos, uma
operação ideológica por excelência. Pois, tenta apresentar uma versão do marxismo como sendo a
versão. Sobre a organização geral do artigo, alguns títulos poderiam ser suprimidos e o artigo
deveria se centrar na crítica ao Quijano. Já que se abre uma problemática muito ampla que acaba
não sendo respondida em função do tamanho do artigo, ( dependência,imperialismo,classes sociais)

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