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Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte

Fauna da Floresta
O livro Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte traz infor-
mações sobre taxonomia, biologia, ecologia e distribuição geográfica de
1.478 táxons para os ecossistemas amazônicos de pequenos mamíferos
não voadores, morcegos, médios e grandes mamíferos, aves, anfíbios,­
répteis, insetos vetores, peixes e biota aquática (comunidades hidrobiológicas).
A divulgação e o compartilhamento dessas informações, aliados à pes­quisa
científica e ao uso sustentável dos recursos naturais, favorecem o envolvi-
Nacional de Carajás
mento da sociedade como um todo nos esforços de conservação da biodiver-
sidade do Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás.
Serra Norte

ORGANIZAÇÃO

Elaine Ferreira Barbosa | Leandro Moraes Scoss


Vanessa Coutinho Mourão de Souza | Breno Chaves de Assis Elias
Fauna da Floresta
Nacional de Carajás
Serra Norte
GESTÃO ADMINISTRATIVA:
Rodrigo Dutra Amaral
Daniela F. Scherer
Vanessa Coutinho Mourão de Souza
Evandro Alvarenga Moreira
Flávio D. Café de Castro

COORDENAÇÃO:
Vanessa Coutinho Mourão de Souza
Elaine Ferreira Barbosa

REVISÃO DE CONTEÚDO E LISTA DE ESPÉCIES:


Breno Chaves de Assis Elias
Leandro Moraes Scoss
Leandro Maioli
Tarcisio Rodrigues

COLABORAÇÃO:
Alexandre Castilho, Leandro Maioli, Fernando Marino Gomes dos Santos,
Mariane Ribeiro, Mayla Barbirato e Vívian Lúcia C. Barros – apoio na obtenção de acervo fotográfico

Fauna da Floresta
Pâmella Rigueira Moreno – apoio ao planejamento do Projeto
André Luís Macedo Vieira – apoio na revisão de capítulo

ILUSTRAÇÕES:
Júlia Resende Thompson

Nacional de Carajás
ELABORAÇÃO DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL - EIA:
BRANDT Meio Ambiente

PRODUÇÃO EXECUTIVA:
Gaia Cultural – Cultura e Meio Ambiente

COORDENAÇÃO EDITORIAL:
Roseli Raquel de Aguiar Serra Norte
PROJETO GRÁFICO:
Fábio de Assis

REVISÃO:
Lílian de Oliveira

APOIO:
Fauna da Floresta Nacional de Carajás - Serra Norte / Organização de Instituto Chico Mendes de
Elaine Ferreira Barbosa ... [et al]. – Belo Horizonte : Gaia Cultural – Conservação da Biodiversidade – ICMBio
Cultura e Meio Ambiente, 2020.
264 p. : il. color., (fotos, mapas, tabelas) ; 20 x 29,5 cm. REALIZAÇÃO:
VALE S.A. Mina de Águas Claras,
Av. Dr. Marco Paulo Simon Jardim, 3580.
ISBN 978-65-991419-0-4
Prédio 4, 3º andar | CEP – 34006-270
Nova Lima, MG – Brasil
1. Floresta Nacional de Carajás – Fauna Silvestre - Carajás, Serra dos
(PA). 2. Vertebrados. 3. Invertebrados – (Carajás, Serra dos (PA). 4.
www.vale.com ORGANIZAÇÃO
Florestas – Conservação - Norte, Serra (Carajás, Serra dos, PA). 5. Estudo
e ensino. I. Barbosa, Elaine Ferreira. II. Scoss, Leandro Moraes. III.
SETE Soluções e Tecnologia Ambiental Ltda.
Avenida do Contorno, 6777 – 2º andar
Elaine Ferreira Barbosa
Souza, Vanessa Coutinho Mourão de. IV. Elias, Breno Chaves de Assis. Bairro Santo Antônio Leandro Moraes Scoss
CEP – 30130-151
CDD 591 Belo Horizonte, MG - Brasil Vanessa Coutinho Mourão de Souza
www.sete-sta.com.br
Breno Chaves de Assis Elias
4 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 5

Sumário
8 Prefácio 108 A
 ves
Diego Petrocchi da Costa Ramos
12 A
 presentação Marcelo Ferreira de Vasconcelos

16 C
 onjunto de Áreas 126 A
 nfíbios
Protegidas de Carajás Felipe Sá Fortes Leite
Raphael Costa Leite de Lima
Laís Ferreira Jales
Larissa Ferreira de Arruda
Leandro Moraes Scoss
Vanessa Coutinho Mourão de Souza
164 R
 épteis
28 F
 auna da Floresta Nacional Jussara Santos Dayrell
Larissa Ferreira de Arruda
de Carajás, Serra Norte, no âmbito Raphael Costa Leite de Lima
do Estudo de Impacto Ambiental Felipe Sá Fortes Leite
do Projeto N1 e N2
Elaine Ferreira Barbosa 200 D
 ípteros de
Leandro Moraes Scoss
Dinalva Celeste Fonseca
Importância Sanitária
Breno Chaves de Assis Elias Maria Fernanda Brito de Almeida
Vanessa Coutinho Mourão de Souza

212 P
 eixes
42 P
 equenos Mamíferos Marcelo Fulgêncio Guedes de Brito
Não ­Voadores Breno Perillo Nogueira
Bernardo Faria Leopoldo
Eduardo Lima Sábato 226 B
 iota Aquática
Natália Ardente
Leandro Moraes Scoss Sandra Francischetti Rocha
Manoela Cristina Brini ­Morais
Sofia Luiza Brito
62 M
 orcegos
Carla Clarissa Nobre de Oliveira 255 L
 iteratura Consultada

84 M
 amíferos de 260 G
 lossário
Médio e Grande Porte
Elaine Ferreira Barbosa
Bernardo Faria Leopoldo
­Daniel Milagre Hazan
Leandro Moraes Scoss
Foto: João Marcos Rosa
8 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 9

Prefácio
Prefácio

É preciso conhecer para proteger e conservar. Foi pensando nisso que a Nesse sentido, a forma de apresentação das informações nas publicações
Vale, em parceria com o ICMBio e a Sete Soluções e Tecnologia Ambien- assume papel fundamental para ampliar a participação de um número
tal, promoveu a organização do presente livro, que difunde informações maior de pessoas nas ações de conservação de ambientes, plantas e ani-
técnicas de diversas espécies de animais, com base nos estudos de fauna mais. Este livro apresenta em capítulos as espécies da fauna presentes nos
desenvolvidos no âmbito do Estudo de Impacto Ambiental – EIA do Pro- diferentes ambientes da área de estudo local do empreendimento de mi-
jeto N1 e N2. Esse empreendimento está localizado na porção norte da nério de ferro chamado Projeto N1 e N2, do Complexo Minerador Ferro Ca-
Floresta Nacional de Carajás, uma das cinco Unidades de Conservação que rajás da Vale, da Flona de Carajás, como nas áreas de florestas, nos campos
compõem o conjunto de áreas protegidas de Carajás. rupestres ferruginosos, nas águas, nos solos ou voando.

Os esforços em busca da conciliação da conservação da biodiversidade Todos os profissionais envolvidos nesse trabalho concentraram esforços para
com a produção econômica na Floresta Nacional de Carajás, especifica- produzir um livro ilustrado que pudesse ajudar o ICMBio na divulgação das
mente a mineração, são uma realidade há décadas. A parceria entre a Vale informações sobre a fauna identificada na região da Serra Norte da Floresta
e o ICMBio tem mostrado nesses anos que é possível explorar economica- Nacional de Carajás. Em cada capítulo, são apresentados de modo sintético
mente os recursos naturais da floresta ao mesmo tempo que se protege os principais elementos de cada grupo da fauna local, assim como o guia
e conserva a biodiversidade em toda a sua riqueza e plenitude. Nunca foi fotográfico de um número expressivo de espécies. O livro também traz, em
uma tarefa fácil e os desafios estão sempre presentes. formato digital, uma lista completa de táxons registrados na área.

Um desses desafios diz respeito à divulgação do conhecimento científico Um novo desafio agora se apresenta aos leitores, mas, principalmente, aos
produzido na Floresta Nacional (Flona) de Carajás por meio dos estudos am- visitantes da Floresta Nacional de Carajás: quantas espécies de animais
bientais vinculados ao licenciamento ambiental de projetos da Vale. Em geral, você consegue identificar com o auxílio deste livro?
a produção de documentos associados aos estudos ambientais é um traba-
Daniela Faria Scherer
lho extremamente técnico e que exige a participação de vários profissionais,
Gerente de Estudos Ambientais – Ferrosos
com experiências e saberes diversos, relacionados ao solo, água, clima, ve-
getação, animais e pessoas. É essa convergência de saberes que possibilita Rodrigo Dutra Amaral
Gerente Executivo – Licenciamento Ambiental, Estudos, Espeleologia,
tanto transmitir conhecimento a diferentes públicos quanto tornar acessíveis Saúde e Segurança e Cadeia de Valor – Ferrosos
informações para que possam ser utilizadas da melhor maneira possível.
10 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 11

Prefácio
Prefácio
A criação e a consolidação de Unidades de Conservação têm sido uma es-
A região de Carajás apresenta grandes empreendimentos minerários situa- tratégia para a proteção e conservação da biodiversidade, uma vez que es-
dos no interior de Unidades de Conservação federais, em especial a Flo- sas áreas protegidas servem de refúgio para espécies ameaçadas e para a
resta Nacional (Flona) de Carajás e Flona do Tapirapé Aquiri. Há, portanto, manutenção de processos e serviços ecológicos. No entanto, para atingir
diversos desafios referentes à convivência entre mineração e conservação esses objetivos, as UCs precisam de uma gestão eficiente que combine de
da biodiversidade no interior de áreas protegidas. Sem dúvida, parte das forma efetiva ações de manejo e conservação. Para isso, é fundamental a
soluções de tais desafios passa pela adequada gestão do conhecimento, aplicação prática do conhecimento, seja ele baseado em publicações cienti-
de modo que os diferentes atores possam contribuir para a construção dos ficas, acadêmicas, técnicas ou ainda na sabedoria tradicional.
mecanismos de governança socioambiental e de gestão.
Nesse sentido, este livro é uma contribuição para a socialização do conhe-
No caso de Carajás, as informações sobre biodiversidade ainda são con- cimento adquirido nos levantamentos sobre a fauna silvestre realizados na
centradas no âmbito dos estudos de avaliação de impactos ambientais e área de estudo do Projeto N1 e N2, situados no interior da Flona de Ca-
geralmente não são publicadas e disponibilizadas à sociedade. Essa limi- rajás, inicialmente utilizados para subsidiar o licenciamento ambiental do
tação implica a perda de oportunidades de se aprofundar e maximizar o empreendimento minerário. Com esta publicação, objetiva-se compartilhar
conhecimento adquirido. Na mesma medida, também restringe a aplicação os conhecimentos relacionados a aves, anfíbios, répteis, morcegos, peque-
de informações importantes para a tomada de decisão no que se refere à nos, médios e grandes mamíferos e biota aquática entre os visitantes das
gestão dos recursos naturais e à participação de universidades e centros de Unidades de Conservação de Carajás, comunidades, estudantes, gestores,
pesquisa na multiplicação do conhecimento científico. pesquisadores e a sociedade em geral.

Desde o começo da mineração na região, a demanda por estudos e a cons- Ao contribuir com a difusão do conhecimento sobre a região de Carajás,
trução de soluções têm se dado no âmbito do licenciamento ambiental, esta obra serve de incentivo para o aprimoramento do conhecimento cien-
com tomada de decisões baseadas quase que exclusivamente nas ava- tífico sobre a fauna local e para o envolvimento da sociedade nos esforços
liações sobre as áreas de influência direta de cada empreendimento sob de conservação. Como consequência direta da divulgação dos atributos
análise. O acesso aberto e contextualizado às distintas fontes de dados, in- ambientais das Unidades de Conservação, nós temos um maior engajamen-
formações e conhecimentos é de fundamental importância, uma vez que to dos diferentes atores sociais nos esforços de conservação.
pode fomentar outros processos de gestão da biodiversidade, tais como a
André Luís Macedo Vieira
pesquisa científica, a educação ambiental, a gestão socioambiental, o uso Chefe do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) Carajás
público e as decisões de manejo. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)
12 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 13

Apresentação
Apresentação

O licenciamento ambiental é uma das obrigações exigidas pela legislação ­fotográfico acompanhado de dados taxonômicos, características e curio-
brasileira para o funcionamento de qualquer tipo de empreendimento ou sidades sobre grande parte das espécies que foram identificadas na área.
atividade que pretende utilizar os recursos naturais ou que possa causar ­Algumas dessas características, como tamanho e forma do corpo do ani-
algum tipo de poluição. Tem como objetivo avaliar como e de que forma mal, cor, horário de atividade, podem ser úteis na identificação de diferen-
se pode promover o desenvolvimento econômico a partir do uso sustentá- tes espécies durante atividades de campo. Nesse sentido, esta publicação
vel dos recursos naturais, mas sempre buscando as melhores práticas para tem o potencial de expandir o alcance do conhecimento sobre a variedade
manter o equilíbrio do meio ambiente. Essa avaliação é feita a partir da da fauna local, principalmente entre visitantes da Flona de Carajás, comu-
elaboração de um documento técnico-científico que apresenta as caracte- nidades do entorno, estudantes, gestores, pesquisadores e demais interes-
rísticas do projeto, o diagnóstico ambiental, identifica e avalia os impactos sados na área ambiental.
e as medidas, tanto para prevenir, controlar, mitigar ou compensar altera-
A publicação e distribuição de todo esse acervo técnico-informativo orga­
ções no ambiente. Esse documento é chamado de “Estudo e Relatório de
nizado no formato do livro Fauna da Floresta Nacional de Carajás – S
­ erra
Impacto Ambiental” ou simplesmente EIA/RIMA.
Norte foram solicitadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
O presente livro constitui-se na compilação dos resultados das pesquisas Biodiversidade – ICMBio, por meio do Ofício SEI nº 306/2017- DIBIO/­ICMBio,
­sobre a fauna realizadas na área de estudo do Projeto N1 e N2 para subsidiar o em 7 de dezembro de 2017, e estão vinculadas ao licenciamento ambiental
licenciamento ambiental do empreendimento minerário que tem como prin- do Projeto N1 e N2.
cipal objetivo a extração de minério de ferro no Complexo Minerador Ferro
Esta é uma iniciativa importante para difusão do conhecimento sobre a re-
Carajás da Vale, localizado no município de Parauapebas, estado do Pará.
gião de Carajás, ampliação do estado da arte de conhecimento do conjun-
Ao trazer a público os conhecimentos relacionados às espécies silvestres to de áreas protegidas de Carajás, bem como para a conciliação do avanço
de insetos vetores, aves, anfíbios, répteis, morcegos, pequenos, médios da mineração e dos esforços para a conservação da natureza dessa porção
e grandes mamíferos, e biota aquática (peixes e comunidades hidrobio­ da Amazônia brasileira. A produção e organização do conhecimento con-
lógicas) encontradas na área do Projeto N1 e N2, especialmente em sua tido neste livro são uma realização da Vale em parceria com as empresas
Área de Estudo Local, a obra figura como um importante instrumento de Brandt Meio Ambiente e Sete Soluções e Tecnologia Ambiental, e seus res-
divulgação dos estudos ambientais que vêm sendo conduzidos na região pectivos técnicos, profissionais e especialistas em fauna.
da Floresta Nacional de Carajás – Flona de Carajás.
Espera-se que este trabalho sirva tanto como fonte de consulta quanto
Nas páginas a seguir, além de um resumo sobre as espécies que ocorrem como incentivo à realização de novas pesquisas na região, visando não
na área do Projeto N1 e N2, são apresentadas informações relevantes s­ obre somente ao aprimoramento do conhecimento científico acerca da fauna,
a biologia e ecologia dos grupos animais, sua distribuição geográfica, mas também ao uso sustentável dos recursos naturais e à conservação
importância para o ecossistema e para a conservação, além de um guia ­dessa região tão rica da Amazônia.
Foto: BRANDT
Foto: João Marcos Rosa Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 17

Conjunto de Áreas Laís Ferreira Jales


Leandro Moraes Scoss

Protegidas de Carajás Vanessa Coutinho Mourão de Souza

A área do Projeto N1 e N2 está inserida no conjunto de áreas protegidas de


Carajás, formado pelas Unidades de Conservação federais: Floresta Nacional
de Carajás, onde o projeto está localizado, Floresta Nacional do Tapirapé-A-
quiri, Floresta Nacional Itacaiunas, Reserva Biológica do Tapirapé, Parque Na-
cional dos Campos Ferruginosos e Área de Proteção Ambiental do Igarapé
Gelado, geridas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-
dade (ICMBio/MMA); e a Terra Indígena Xikrin do Cateté, sob gestão da FU-
NAI (Figura 1; Quadro 1). A totalidade do território ocupa uma área de quase
1,4 milhão de hectares, o que representa a maior área de Floresta Amazônica
contínua do Sul e Sudeste do Pará.

Unidades de Conservação (UCs) são áreas protegidas por lei voltadas à conser-
vação ambiental, do modo de vida de populações tradicionais, da manutenção
de serviços ambientais e do uso de recursos naturais renováveis. Outras áreas
protegidas conhecidas são as Terras Indígenas, as Reservas Legais das proprieda-
des Rurais e as Áreas de Preservação Permanentes que protegem dunas, man-
guezais, nascentes, encostas e topos de morros e outras. As UCs são classificadas
em dois grandes grupos: Uso Sustentável e Proteção Integral, assim definidas
pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei n° 9.985/2000),
que as divide em 12 categorias, diferenciando-as por seus objetivos principais
de conservação e pela possibilidade do uso de recursos de forma direta, como
o manejo florestal nas Florestas Nacionais, ou de forma apenas indireta, como a
Flona de Carajás
visitação em Parques Nacionais ou a pesquisa científica nas Reservas Biológicas.
18 Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 19

Figura 1 – Localização geográfica do Conjunto de Áreas Protegidas Quadro 1 – Conjunto de áreas protegidas de Carajás, Pará, Brasil
de Carajás
ANO DE NOME DA ÁREA GRUPO E CATEGORIA ÁREA
DIPLOMA LEGAL MUNICÍPIOS
51°0'0"W 50°30'0"W 50°0'0"W CRIAÇÃO ­PROTEGIDA (LEI Nº 9.985/2000 - SNUC) (HA)

® 1989
Área de Proteção ­Ambiental
Uso Sustentável - APA
Decreto n° 97.718,
21.600 Parauapebas
5°30'0"S

do Igarapé Gelado de 5 de maio de 1989

Rebio Reserva Biológica do Decreto n° 97.719,


Tapirapé 1989 Proteção Integral - Rebio 103.000 São Félix do Xingu e Marabá
Tapirapé de 5 de maio de 1989

Floresta Nacional do Decreto n° 97.720,


Flona 1989 Uso Sustentável - Flona 190.000 São Félix do Xingu e Marabá
Tapirapé Aquiri Tapirapé Aquiri de 5 de maio de 1989

Terra Indígena Xikrin É uma área protegida, mas não Homologada pelo Decreto nº Água Azul do Norte,
1991 439.000
do Cateté uma unidade de conservação 384, de 26 de dezembro de 1991 ­Marabá, Parauapebas
Flona APA
Itacaiúnas Igarapé Gelado Decreto n° 2.486, Água Azul do Norte, Canãa
6°0'0"S

1998 Floresta Nacional de Carajás Uso Sustentável - Flona 411.949


de 2 de fevereiro de 1998 do Carajás e Parauapebas
Projeto
N1 e N2 (
!
Núcleo Urbano .
!
Parauapebas Decreto n° 2.480,
Flona de Carajás .
!
1998 Floresta Nacional Itacaiunas Uso Sustentável - Flona 141.400 Marabá
de Carajás de 2 de fevereiro de 1998
TI Xikrin
do Rio Cateté Parque Nacional dos Campos Decreto s/n, Canaã dos Carajás e
2017 Proteção Integral - Parna 79.029
Ferruginosos de 5 de junho de 2017 Parauapebas
Parna dos Campos
Ferruginosos
Fonte: Diplomas legais de criação de cada área protegida.
6°30'0"S

Canaã dos
Carajás
.
!

O que é uma área protegida? No Brasil existem diversas áreas que são legalmente atri-
Ourilândia
buídas por decretos e atos de diversos órgãos e instâncias administrativas, a exemplo
Tucumã !
.
. do Norte
!
das Unidades de Conservação (UCs), Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reser-
.
! vas Legais (RLs), Terras Indígenas (TIs), Comunidades Remanescentes de Quilombo,
Água Azul
do Norte entre outras. Todas, portanto, são conhecidas genericamente por “áreas protegidas”.
0 10 20 km No conjunto de áreas protegidas de Carajás, destacam-se as Unidades de Conservação
.
!
e a Terra Indígena Xikrin do Cateté.

Localização da Flona de Carajás no estado do Pará


Área do Empreendimento
.
!
Oceano
Atlântico Projeto N1 e N2
RR Áreas Protegidas
AP
Terras Indígenas O Projeto N1 e N2 situa-se na porção norte da Floresta Nacional (Flona) de
Unidades de Conservação
Carajás, numa área que corresponde à Zona de Mineração, assim delimitada
(
! Uso Sustentável
Belém
Floresta Nacional de Carajás por seu Plano de Manejo. A Flona de Carajás foi criada por meio do Decreto
Floresta Nacional do Itacaiúnas
nº 2.486, de 2 de fevereiro de 1998, abrangendo uma área de 411.949 hec-
AM Floresta Nacional do Tapirapé
PA
Aquiri tares, localizada nos municípios de Água Azul do Norte, Canaã dos Carajás e
MA Área de Proteção Ambiental do
Igarapé Gelado Parauapebas, no estado do Pará.
Proteção Integral
TO
PI Parque Nacional dos Campos
Ferruginosos Essa Unidade de Conservação de uso sustentável tem como objetivos o apro-
MT
Reserva Biológica do Tapirapé veitamento econômico da floresta, pesquisa científica, educação ambiental
Fonte: Sete Soluções e Tecnologia Ambiental Ltda. e turismo sustentável com a conservação da biodiversidade. O Decreto de
Criação garante a manutenção dos direitos minerários já assegurados antes
20 Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 21

da Criação da UC, o que evidencia os desafios referentes à busca pela conci-


liação entre a proteção dos recursos e belezas naturais, das espécies da flora
e fauna e dos vários ecossistemas presentes na floresta com a exploração mi-
neral, considerando os regramentos e zoneamento estabelecidos no Plano
de Manejo da Flona de Carajás.

A diversidade de elementos da paisagem e a riqueza de espécies da flora e


fauna, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, destacam a
Flona de Carajás como uma das áreas que apresenta maiores diversidades
biológicas na Amazônia. Além disso, as outras formações vegetais observadas
na região, como as áreas de canga, associadas às áreas de afloramento ferrí-
fero, abrigam espécies bastante adaptadas a esse ambiente, sendo que algu-
mas ocorrem apenas nessa área, como a flor-de-carajás (Ipomea carajaensis).

O conjunto de áreas protegidas de Carajás, com sua extensão de quase


1.400.000 hectares de florestas nativas, presta importantes serviços ambien-
tais à sociedade brasileira e ao planeta. A regulação do clima na Terra por meio
da umidade gerada pela Floresta Amazônica, os “rios voadores” que são essen-
ciais à agricultura brasileira e ao abastecimento humano, além da proteção
de mananciais importantes para diversos municípios da região do sudeste do
Pará são alguns exemplos desses serviços, gratuitos e imprescindíveis à vida.

Ao norte do Projeto está a Área de Proteção Ambiental (APA) do Igara-


pé Gelado, município de Parauapebas. Essa Unidade de Conservação de
uso sustentável foi criada pelo Decreto nº 97.718, de 5 de maio de 1989,
com uma área de 21.600 hectares. Essa categoria de UC tem como objetivo
principal promover o ordenamento territorial de uma região voltado para a
conservação. A APA, composta por áreas privadas e públicas, ainda contém
considerável cobertura vegetal nativa que serve como tampão do avanço
das atividades humanas para as outras UCs da região, de categorias mais
restritivas. Na APA são realizados projetos que objetivam a melhoria da per-
meabilidade da matriz por meio da diversificação das atividades produtivas,
como o Projeto de Agroextrativismo que apoia a implementação da Siste-
mas Agroflorestais em propriedades de pequenos produtores.

Na porção sul encontra-se o Parque Nacional (Parna) dos Campos


Ferruginosos, criado pelo Decreto s/n, de 5 de junho de 2017, com
uma área de 79.029 hectares, pertencente aos municípios de Canaã
dos Carajás e Parauapebas. Essa unidade de proteção integral se sobre-
põe ao limite da Flona de Carajás em grande parte de sua extensão. Foto 1 – Região do rio Itacaiunas, na Flona de Carajas. Foto: João Marcos Rosa
22 Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 23

A criação desse parque teve como objetivo a proteção da diversidade Na porção noroeste da Flona de Carajás e com parte de seu território em so-
biológica das Serras da Bocaina e do Tarzan, constitui-se como uma breposição com a Floresta Nacional de Itacaiunas, está localizada a Floresta
ação de compensação ambiental pela supressão de áreas de canga e Nacional (Flona) do Tapirapé Aquiri, uma unidade de uso sustentável, criada
cavernas para a instalação do Empreendimento de Ferro de S11D, ga- por meio do Decreto nº 97.720, de 5 de maio de 1989, representando uma área
rantindo assim a proteção e a manutenção de áreas testemunhos do de 190.000 hectares. Essa unidade ocupa parte dos municípios de São Félix do
patrimônio espeleológico e da vegetação de campos ferruginosos ou Xingu e Marabá, e tem como objetivo o uso múltiplo sustentável dos recursos
savanas metalófilas na Região de Carajás. O parque é a unidade de con- florestais, além da pesquisa científica, com ênfase em métodos para explora-
servação com maior número de cavernas ferríferas do Brasil e abriga um ção sustentável de florestas nativas. Nessa Unidade também foi prevista no
grande número de cachoeiras e outros atrativos, apresentando grande Decreto de Criação a manutenção dos direitos minerários já existentes no mo-
potencial para o ecoturismo. mento da criação da UC, de forma que abriga hoje a maior mina de cobre do
Brasil – Projeto SALOBO. A unidade de conservação possui 5 trilhas ecológicas
que servem de base para o projeto Comunidade Vai à Floresta, que permite
que a sociedade tenha a oportunidade de interagir com a biodiversidade local.

Por sua vez, a Reserva Biológica (Rebio) do Tapirapé ocupa os mesmos mu-
nicípios, mas possui área relativamente menor, de 103.000 hectares, na porção
norte da Flona Tapirapé Aquiri. Essa reserva, criada pelo Decreto nº 97.719, de
5 de maio de 1989, objetiva a preservação integral da biota e demais atributos
naturais existentes em seus limites, com ênfase para a pesquisa científica e a edu-
cação ambiental. A Rebio atualmente executa o protocolo de monitoramento
contínuo da biodiversidade. Grupos de animais bioindicadores, como borbole-
tas e mamíferos de médio e grande portes, são monitorados com ajuda de vo-
luntários de comunidades do entorno e outros, selecionados e treinados através
de editais do Programa Nacional de Voluntariado do ICMBio. Entre os objetivos
Foto 2 – Parna dos Campos Ferruginosos. Foto: Fernando Marino
estão a ampliação do conhecimento das espécies existentes na UC, bem como
o acompanhamento de seus níveis populacionais e comunitários ao longo do
tempo, frente às mudanças climáticas e possíveis impactos de origem humana.

Na porção oeste do conjunto de áreas protegidas de Carajás está localizada


a Terra Indígena (TI) Xikrin do Cateté, habitada por povos isolados, Me-
bêngôkre Kayapó e Xikrin (Mebengôkre). Essa terra indígena foi reconhecida
oficialmente a partir da homologação do Decreto nº 384, de 26 de dezem-
bro de 1991, com área de 439.000 hectares. Abrange parte dos municípios
paraenses de Água Azul do Norte, Marabá e Parauapebas, e é a maior área
protegida do conjunto de Carajás. Tem como objetivos a manutenção dos
povos indígenas que a habitam de forma permanente e das suas atividades
produtivas, assim como são imprescindíveis à preservação dos recursos ne-
Foto 3 – Vista aérea da Flona Itacaiunas. Foto: João Marcos Rosa cessários ao bem-estar dos povos e à sua reprodução física e cultural.
24 Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 25

Foto 5 – Vista da Reserva Biológica (Rebio) do Tapirapé. Foto: João Marcos Rosa

Por fim, o conjunto de áreas protegidas de Carajás também conta com a


Floresta Nacional (Flona) Itacaiunas, criada por meio do Decreto nº 2.480,
de 2 de fevereiro de 1998, com 141.400 hectares, localizada no município
de Marabá. Essa unidade de uso sustentável tem objetivos semelhantes aos
da Flona Tapirape Aquiri, focando em pesquisas voltadas, principalmente,
para o uso sustentável de suas florestas nativas, com Manejo Florestal Sus-
tentável de produtos madeireiros e não madeireiros.

Apesar de sua extensão e nível de proteção, o conjunto de áreas protegidas de


Carajás é atualmente uma ilha de vegetação cercada por atividades agrope-
cuárias, o que impõe um desafio para a manutenção da conectividade e fluxo
de espécies com outras áreas da floresta amazônica brasileira. Iniciativas como
a publicação deste livro, voltado aos estudantes, visitantes e ao público em
geral, são ações importantes para aumentar o conhecimento da população
sobre a importância ecológica dessas áreas para a sociedade, significando, em
última instância, sua própria existência, ao conservar áreas extensas para a re-
carga dos aquíferos, produção de chuvas, além de serem laboratórios inestimá-
veis e ainda pouco explorados para a produção de medicamentos, alimentos e
produtos da floresta. Atividades estas que geram divisas para o país e para po-
pulações locais com a manutenção da floresta em pé, como os exemplos do
Foto 4 – Vista aérea da Flona do Tapirapé-Aquiri. Foto: João Marcos Rosa açaí, óleos de copaíba e andiroba, jaborandi, castanha-do-pará e tantos outros.
26 Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás

Foto: João Marcos Rosa


Foto 6 – Vista da Flona Itacaiunas. Foto: João Marcos Rosa

Foto 7 – Vista da Floresta Nacional de Carajás. Foto: Marcelo Rosa

Foto 8 – APA do Igarapé Gelado. Foto: Marcelo Rosa


Foto: Marcelo Vasconcelos Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 29

Fauna da Floresta Elaine Ferreira Barbosa


Leandro Moraes Scoss

Nacional de Carajás, Dinalva Celeste Fonseca


Breno Chaves de Assis Elias

Serra Norte, no âmbito Vanessa Coutinho Mourão de Souza

do Estudo de Impacto
Ambiental do Projeto
N1 e N2

Para orientar os estudos biológicos sobre a flora e a fauna no âmbito do Es-


tudo de Impacto Ambiental (EIA) do Projeto N1 e N2, foi definida a Área de
Estudo Local (AEL) do meio biótico considerando o espaço geográfico que
circunda a área de ocupação prevista pelo projeto de engenharia necessá-
ria ao desenvolvimento do empreendimento, em extensão geográfica sufi-
ciente para identificação e avaliação dos organismos que ocorrem na região
onde se pretende instalar o empreendimento.

O contexto geográfico de bacia hidrográfica foi um dos critérios adotados


para a delimitação da AEL do meio biótico do Projeto N1 e N2, que se en-
contra dividida em duas grandes bacias do estado do Pará. A parte oeste
está situada na bacia hidrográfica do rio Itacaiunas e a porção leste pertence
à bacia do rio Parauapebas. Ainda, no contexto local, destacam-se as bacias
hidrográficas que drenam a área do projeto pelo rio Azul e pelas drenagens
que vertem para o Igarapé Gelado. Ao norte da Área de Estudo Local estão
situadas as barragens do Gelado e Geladinho.
Mazama americana
(Veado-mateiro) A referida AEL situa-se no domínio do bioma Amazônia, onde a cobertura ve-
getal nativa da região é, predominantemente, constituída pelas fi­ sionomias
Fauna da Floresta Nacional de Carajás, Serra Norte, no âmbito
30 Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 31
do Estudo de Impacto Ambiental do Projeto N1 e N2

de Floresta Ombrófila Aberta, que ocupa regiões de encostas e de eleva- Figura 2 – Localização da Área de Estudo Local (AEL) no Conjunto de
da inclinação, e de Floresta Ombrófila Densa, que ocorre nos solos mais Áreas Protegidas de Carajás
profundos nas planícies e nos relevos mais suaves das áreas montanhosas.
50°45'0"W 50°30'0"W 50°15'0"W 50°0'0"W
Além das formações florestais, destaca-se a ocorrência de uma vegetação
herbáceo-arbustiva típica de afloramentos ferruginosos. Os Campos Rupes-
tres Ferruginosos localizam-se nas porções de serras, nas regiões de maior
® Flona
do Itacaiunas
APA do
Igarapé Gelado
Para
Mara

u a peb
as

elevação, cujo topo apresenta relevo suave e são designados como platôs.

6°0'0"S
Projeto
N1 e N2
A Área de Estudo Local do Projeto N1 e N2, assim como as áreas das Minas (
!
Núcleo Urbano
de Carajás
Parauapebas
.
!

N4, N5 e da Mina de Manganês do Azul, abriga vegetação típica das ser- .


!

ras ferruginosas da região e ambientes florestais. As Minas N4 e N5 estão


localizadas no Complexo Minerador Ferro Carajás na Serra Norte, e a Mina
de Manganês do Azul está localizada na região dos platôs norte da Pro-

6°15'0"S
Parauapebas
Canaã dos Carajás

víncia Mineral de Carajás, todas na porção leste da AEL. O núcleo urbano


Parna dos Campos
de Carajás localiza-se a leste da área de estudo, conforme a indicação no TI Xikrin do
Ferruginosos

Rio Cateté
mapa da Figura 2.

6°30'0"S
Cana Canaã dos
ã dos
Águ
Cara
jás Carajás !
.
a Azu
l do
Nor
te
0 3 6 km
Rosa
V. C. Tomaz

.
!
Foto:Marcos

Área de Estudo Local Zoneamento Ambiental da Flona de Carajás


Foto: João

.
!
Preservação
.
! Primitiva
Manejo Florestal Sustentável
.
!
Uso Especial
Uso Público
Uso Conflitante
N3 (Fe)
N4 (Fe)
Mineração
Projeto Ì Ì Áreas Protegidas .
!
N1 e N2 Núcleo
Urbano !( Floresta Nacional de Carajás
N5 (Fe) de Carajás
Ì Unidades de Conservação
Terras Indígenas
Manganês Azul (Mn)
Área do Empreendimento
Ì
Projeto N1 e N2
.
!
Área de Estudo Local

.
!
Cacicus cela
(Xexéu) .
!

Fonte: Sete Soluções e Tecnologia Ambiental Ltda.

.
!
Foto 9 – Vista panorâmica da

Foto: BRANDT
porção central do platô de N1.

Foto 10 – Relevo da região

Foto: BRANDT
da Serra dos Carajás.

Foto 11 – Perfil de vertente local, observada na


porção interior do platô de N1. Em baixa vertente, é
possível observar área onde está localizado um lago
intermitente, nas proximidades do alojamento de N1.

Foto: BRANDT
Fauna da Floresta Nacional de Carajás, Serra Norte, no âmbito
34 Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 35
do Estudo de Impacto Ambiental do Projeto N1 e N2

O diagnóstico da fauna na área do Projeto N1 e N2 foi realizado pela equi-


pe técnica da Brandt Meio Ambiente Ltda., amparado pela Autorização para
Captura, Coleta e Transporte de Material Biológico - ABIO N° 903/2018 e Ofí-
cio SEI nº 306/2017-DIBIO/ICMBio, que compõe o Estudo de Impacto Am-
biental do empreendimento. Os estudos foram realizados por especialistas e
considerou vários outros estudos que já haviam sido realizados na área onde
está localizado o projeto, além dos trabalhos de campo para complementar
as informações sobre insetos (entomofauna) de importância sanitária, anfí-
bios e répteis (herpetofauna), pequenos mamíferos não voadores (masto-
fauna) e biota aquática.

Esses estudos foram apresentados ao IBAMA e ICMBIO como parte do pro-


cesso do licenciamento ambiental do empreendimento. Entretanto, as in-
formações do EIA seguem normas específicas e linguagem muito técnica.
Após a conclusão do estudo ambiental, a equipe de especialistas da Sete
Soluções e Tecnologia Ambiental organizou o conhecimento e produziu
Foto: BRANDT

novos textos para auxiliar na divulgação sobre a “Fauna da Floresta Nacional


de Carajás, Serra Norte”.
Foto 12 – Vista parcial das vertentes que circundam ao
norte o platô de N1. Fonte: Estudo de Impacto Ambiental
(BRANDT, 2019). Neste livro apresentamos a fauna silvestre registrada na área do Projeto N1
e N2 de maneira mais objetiva e ilustrada. E assim, partindo do princípio de
que é preciso conhecer para preservar, buscamos chamar a atenção para a
composição e importância da fauna local e, como consequência, estabe-
lecer medidas de conservação e proteção que sejam tomadas em sintonia
com a implantação e operação do Projeto N1 e N2.

Bom, mas você sabe o que significa fauna? Fauna é o nome dado para
representar todos os animais que vivem em uma determinada região, in-
dependentemente das diferenças de tamanho, cor, comportamento ou
ambiente em que se desenvolvem, alimentam, reproduzem etc. Todos os
animais fazem parte da fauna ou, se preferir, do mundo animal. Para facilitar
o trabalho dos especialistas, os grupos de animais podem ser separados e
organizados da seguinte forma: Entomofauna (insetos), Ictiofauna (peixes),
Herpetofauna (répteis e anfíbios), Avifauna (aves), Mastofauna (mamíferos)
Foto: BRANDT

e Biota Aquática, que reúne diferentes formas de vida do ambiente aquáti-


co, incluindo, por exemplo, o fitoplâncton, o zooplâncton e os organismos
Foto 13 – Vista aérea da fitofisionomia de Savana Metalófila bentônicos ou zoobêntons.
(Vegetação Rupestre sobre Canga). Fonte: Estudo de
Impacto Ambiental (BRANDT, 2019).
Fauna da Floresta Nacional de Carajás, Serra Norte, no âmbito
36 Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 37
do Estudo de Impacto Ambiental do Projeto N1 e N2

Os resultados que ilustram cada um dos capítulos deste livro, como não po- Você sabia que TÁXON é uma unidade utilizada pelos pesquisadores no sistema de classi-
ficação científica de todos os seres vivos? Essa unidade ajuda na divisão dos organismos
deria ser diferente, reforçam que a região mantém uma fauna amazônica
vivos em Reino, Filo, Classe, Ordem, Família, Gênero e Espécie. A ciência responsável pela
muito rica e diversa que, por sinal, é uma característica de toda a região da criação das regras de classificação e identificação dos seres vivos é chamada de Taxonomia
Flona de Carajás e do próprio bioma Amazônia. Reunindo todos os grupos e tem como objetivo reconhecer os grupos de seres vivos e dar um nome para cada um dos
grupos e organismos.
da fauna estudados, tanto do ambiente terrestre como do ambiente aquáti-
co, foi possível produzir este livro sobre a Fauna do Projeto N1 e N2.

Ao todo foram exatamente 1.478 táxons de animais identificadas na área de


estudo local do Projeto N1 e N2 (Figura 3). Em geral, para todos os grupos, esse As anfisbenas, lagartos e serpentes somam 77 espécies, enquanto o to-
número expressivo de animais indica uma boa qualidade dos ambientes natu- tal de morcegos que ocorrem na região do Projeto N1 e N2 chega a 67
rais dessa porção da Flona de Carajás. É uma das principais razões que o estudo espécies. Mesmo sendo animais tão diferentes em diversos aspectos, o
ambiental destaca como fundamental para assegurar a sobrevivência, a viabili- número total de espécies de anfíbios (sapos, rãs e pererecas), de insetos
dade e a permanência de todas as espécies na região, no médio e longo prazo. vetores de importância para a saúde pública e de mamíferos de médio e
grande portes é parecido. Ao todo foram identificadas 46 espécies de an-
O maior número de animais foi identificado para um grupo de pequenos fíbios, 40 de insetos vetores (mosquitos e carapanãs) e 38 mamíferos com
organismos que compõem a biota aquática, os fitoplânctons (algas e bacté- peso corporal maior que 2 kg, incluindo desde os menores macacos até
rias), com um total de 448 táxons. As aves aparecem em segundo lugar, com
as antas e as onças-pintadas. Os grupos de animais com menor número
312 espécies diferentes, seguidas pelos zooplânctons (pequenos animais),
de espécies na área do Projeto N1 e N2 foram os pequenos mamíferos,
com 293 táxons, e pelos organismos bentônicos (insetos aquáticos, minho-
com 20 espécies, incluindo roedores (ratos) e marsupiais (gambás e cuí-
cas, caracóis de água doce, camarões, entre outros), com 100 táxons.
cas); os peixes de água doce, com 29 espécies, e as tartarugas e jacarés,
que juntos totalizam apenas oito espécies.
Figura 3 – Fauna do Floresta Nacional de Carajás, Serra Norte, no
­âmbito do Estudo de Impacto Ambiental do Projeto N1 e N2 A lista com a classificação taxonômica de cada um dos 1.478 táxons de ani-
mais identificados durante o estudo ambiental na área do Projeto N1 e N2 é
Quelônios e Jacarés 8

apresentada em formato digital (Link Site e QR code). Esperamos que você,


Pequenos mamíferos 20

leitor, goste das informações e das fotos dos animais que vivem na Serra
Peixes 29

Norte da Floresta Nacional (Flona) de Carajás.


Médios e grandes mamíferos 38

Insetos - dípteros vetores 40


Antes, porém, é importante dizer que a taxonomia é a ciência que dá nome
Anfíbios 46
às espécies. Na leitura dos capítulos, o texto apresenta algumas abreviações,
Morcegos 67
representadas por gr., aff., cf. ou sp. Estas são utilizadas na taxonomia para in-
Anfisbenas, Lagartos e Serpentes 77
dicar uma espécie que não pôde ser identificada. Alguns dos nomes empre-
Organismos bentônicos 100
gados no estudo ambiental do Projeto N1 e N2 provavelmente não repre-
Zooplâncton 293
sentam de forma precisa a situação taxonômica de certas espécies, devido
Aves 312
à carência de estudos recentes sobre a sua taxonomia que permita identifi-
Fitoplâncton 448
cá-las até o nível específico. Isso ocorre porque alguns indivíduos coletados
0 100 200 300 400 500
durante os estudos não possuem exatamente as características previamen-
Número de animais
te estabelecidas pela taxonomia que permita a sua completa identificação.
Fonte: Sete Soluções e Tecnologia Ambiental Ltda.
Fauna da Floresta Nacional de Carajás, Serra Norte, no âmbito
38
do Estudo de Impacto Ambiental do Projeto N1 e N2

Foto: Leandro Drummond


Em alguns casos, a identificação somente é possível a partir de análises
­genéticas, que, até o momento, não foram realizadas, haja vista que não era
objeto da metodologia proposta para este estudo.

Para Anfíbios Anuros, por exemplo, sete são as espécies que se enquadram
nessa situação (Rhinella gr. margaritifera, Ameerega aff. flavopicta, Boana
sp., Dendropsophus gr. microcephalus, Scinax sp., Adenomera sp. e Adeno-
mera aff. hylaedactyla). Outras duas não puderam ser identificadas de ma-
neira precisa porque foram registradas apenas a partir do seu canto, sem
a captura do adulto (Hyalinobatrachium sp.) ou porque foram registradas
apenas por meio de indivíduos jovens (Elachistocleis cf. carvalhoi), o que
dificulta sua determinação.

No caso da Ictiofauna, considerando os registros de peixes na Serra Norte,


16 são as espécies de peixes que se enquadram nessa situação: A
­ styanax
sp., Bryconamericus sp., Characidium sp., Creagrutus sp., Knodus sp. 1, Knodus
sp. 2, Moenkhausia sp. Imparfinis sp., Ancistrus sp., Aspidoras sp., Harttia sp.,
Hypostomus gr. cochliodon, Lasiancistrus sp., Otocinclus sp., Trychomycterus
sp. e Cichla sp.

Para a Biota Aquática, a carência de estudos sobre a classificação desses


organismos e o registro de táxons em estágios larvais, como os náuplios
e copepoditos, entre os crustáceos copépodas, são os principais fatores
que não permitem representar de forma precisa a situação taxonômica
de algumas espécies. A alteração dos nomes e organização das classifi-
cações são bastante comuns, principalmente dentre o fitoplâncton e
zooplâncton, e ocorre porque as técnicas adotadas pelos pesquisadores
estão sendo aperfeiçoadas a cada dia. Mesmo assim, os resultados sobre
a Biota Aquática do Projeto N1 e N2 apresenta uma série de organismos
com alguma imprecisão taxonômica, assim como diversos outros estu-
Desova arbórea
dos, sendo às vezes possível identificar o animal apenas até o nível de de anfíbio
depositada em folha
classe, ordem ou família.

"Direcione a câmera do seu celular para


o QR Code ao lado e tenha acesso à lista
digital completa com todos os 1.478 táxons
identificados na área do Projeto N1 e N2."
Foto: BRANDT
Foto: Bernardo Leopoldo

Pequenos
Mamíferos
Não Voadores
Foto: Natália Ardente Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 45

Pequenos Bernardo Faria Leopoldo


Eduardo Lima Sábato

Mamíferos Natália Ardente


Leandro Moraes Scoss

Não Voadores

Os pequenos mamíferos não voadores, como o próprio nome diz, são os


mamíferos de pequeno porte que não voam. Compreendem os marsu-
piais (Ordem Didelphimorphia), popularmente conhecidos como gambás
e cuícas, e os pequenos roedores (Ordem Rodentia), conhecidos como
ratos, com peso até 2 kg. Esse grupo de animais forma a base da pirâmide
alimentar, da qual dependem praticamente todos os outros grupos que
vêm acima deles, especialmente os animais carnívoros, sejam eles outros
mamíferos, aves ou répteis. São predominantemente noturnos e apresen-
tam diferentes hábitos de vida, podendo ser arborícolas (quando vivem
somente nas árvores), escansoriais (animais que vivem tanto nas árvores
como no chão), fossoriais ou semifossoriais (quando vivem em tocas ou
abaixo do solo), cursoriais (vivem estritamente no chão) e semiaquáticos
(passam boa parte do seu tempo dentro d’água). Dessa forma, ocupam
diversos ambientes, desde campos e outros tipos de hábitats com vege-
tação aberta naturais até florestas, nas suas mais variadas formas, tipolo-
gias e graus de preservação.

A expressão popular “tamanho não é documento” se aplica muito bem aos


pequenos mamíferos não voadores. Diferentes espécies desse grupo de-
sempenham funções ecológicas fundamentais na dinâmica dos ecossiste-
Hylaeamys
megacephalus mas naturais, como dispersores de sementes e fungos, como reguladores de
(Rato-do-mato)
populações de plantas (por meio do consumo de folhas, frutos e sementes)
46 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 47

e de insetos e outros animais invertebrados, ou ainda como polinizadores Na região da Floresta Nacional de Carajás, sudeste do estado do Pará,
de algumas espécies de plantas. Embora as informações que normalmen- onde se insere o Projeto de Mineração N1 e N2, estudos recentes reve-
te chegam ao público em geral estejam fortemente associadas às espécies laram a presença de 31 táxons de pequenos mamíferos não voadores,
comuns nas áreas urbanas, como o rato-comum (Rattus rattus), a ratazana sendo 12 de marsupiais e 19 de pequenos roedores. Desse total, pelo
(Rattus norvergicus) e o camundongo (Mus musculus), os pequenos mamífe- menos 11 espécies são endêmicas da Amazônia, e seis apresentam im-
ros não voadores são considerados peças-chave na manutenção e na con- precisão taxonômica, ou seja, necessitam de estudos mais aprofundados
servação da biodiversidade de ambientes naturais. para que sua correta identificação em nível específico seja confirmada
para a região.
Como outros animais, os pequenos mamíferos não voadores respondem
rapidamente às alterações e impactos ambientais (como o desmatamen- Este capítulo apresenta as espécies de pequenos mamíferos não voadores
to e as queimadas), assim como ao processo de fragmentação de hábi- registradas na Área de Estudo Local (AEL) do Projeto de Mineração N1 e N2
tats. Essas modificações normalmente provocam a diminuição do núme- inserido no Complexo Minerador Ferro Carajás, a fim de disponibilizar um
ro de espécies que ocorrem em determinado lugar e, por consequência, acervo técnico-específico da fauna local.
alguns processos ecológicos são afetados, ocasionando uma perda da
qualidade ambiental.

Diversas espécies desse grupo apresentam ainda importância médica e Os Pequenos Mamíferos Não Voadores
epidemiológica, funcionando como reservatórios de agentes causadores da Flona de Carajás, Serra Norte
de diversas doenças que podem afetar o ser humano, tais como: Leptos-
pirose, Esquistossomose, Leishmaniose, Hantavirose e Doença de Chagas. Os estudos realizados na Área de Estudo Local (AEL) do Projeto N1 e N2 reve-
Por outro lado, também vêm sendo utilizadas em alguns estudos como laram a presença de 20 táxons de pequenos mamíferos não voadores, sendo
sentinelas para fatores de ameaças à saúde humana, servindo como indi- nove marsupiais e 11 roedores. Todos os marsupiais pertencem à família Di-
cadores da presença de contaminantes ambientais, bactérias ultrarresis- delphidae, única família da Ordem Didelphimorphia. Já os roedores perten-
tentes e vírus. Assim, as alterações nos ambientes onde ocorrem essas es- cem a duas famílias (Cricetidae e Echimyidae). Desse total, três táxons não
pécies devem ser feitas sempre com responsabilidade e bastante cuidado, puderam ser identificados em nível de espécie de forma precisa, por serem
para evitar desequilíbrios que, além de prejudicá-las, podem afetar a saúde complexos e necessitarem de revisões taxonômicas mais refinadas.
e o bem-estar humano.
A comunidade de pequenos mamíferos não voadores local é formada, em
Atualmente são conhecidas no Brasil 268 espécies de pequenos mamífe- sua maior parte, por táxons de ampla distribuição geográfica, que ocorrem
ros não voadores, o que os torna o grupo de maior riqueza, em número de em mais de um bioma brasileiro. Nenhum dos táxons listados encontra-se
espécies, dentre as 701 espécies listadas para todo o território nacional. So- ameaçado de extinção, de acordo com as listas consultadas em âmbito
mente na Amazônia ocorrem 110 espécies, sendo 27 de marsupiais e 83 de estadual, nacional e global. Ressalta-se, no entanto, o registro de espécies
roedores, incluindo 73 espécies que somente são encontradas neste bioma, endêmicas do bioma amazônico, como os marsupiais Didelphis marsupia-
tecnicamente chamadas de espécies endêmicas. É importante mencionar lis (gambá), Marmosops pinheroi (cuíca) e Monodelphis glirina (catita), além
que esses números aumentam à medida que são aplicadas novas técnicas dos roedores Oligoryzomys microtis (rato-do-mato), Oxymycterus amazo-
de laboratório, principalmente análises genéticas e moleculares, que vêm nicus (rato-do-brejo) e Rhipidomys emiliae (rato-da-árvore). Por serem es-
auxiliando os pesquisadores no processo de identificação e na descoberta pécies com hábitos escansoriais, arborícolas, semifossoriais (no caso de
de novas espécies para a ciência. Monodelphis touan) e/ou dependentes de uma estrutura mais complexa
48 Pequenos Mamíferos Não Voadores Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 49

de ambientes florestais (por exemplo, a presença de troncos caídos no animais durante a realização de estudos ambientais em campo, pois a
chão, sub-bosque e dossel), essas espécies normalmente são reconheci- correta identificação, em muitos casos, somente é possível a partir de
das como indicadoras de hábitats florestais. análises específicas realizadas por profissionais experientes, em ambien-
te de laboratório ou com apoio de instituições que mantêm coleções
A espécie de roedor Euryoryzomys aff. emmonsae (rato-do-mato) e o mar-
científicas de referência. A coleta de espécimes testemunho é, portanto,
supial Monodelphis touan (cuíca-de-rabo-curto), segundo a literatura cien-
fundamental para o avanço da pesquisa científica, lembrando que esse
tífica, representam interesses científicos para a região da Flona de Carajás,
procedimento deve ser feito por profissional habilitado e devidamente
sudeste do Pará, em virtude do pouco conhecimento que se tem sobre
autorizado pelo órgão ambiental.
elas, seja no que diz respeito às suas distribuições geográficas e níveis de
endemismos locais, ao tamanho e tendência de suas populações, seja no Os resultados do diagnóstico indicam que, em geral, grande parte da
que se refere à definição do conhecimento taxonômico desses animais. mastofauna amazônica de pequeno porte não voadora é representa-
da por espécies que apresentam diferentes tamanhos, hábitos e formas
O roedor Euryoryzomys aff. emmonsae (rato-do-mato) foi considerado
de interagir com o ambiente em que vivem. Grande parte dos animais
neste estudo como “aff.”, ou seja, refere-se a um táxon que apresenta afi-
que compõem esse grupo possui predominantemente hábito noturno,
nidades com a espécie já descrita (Euryoryzomys emmonsae), mas com
o que dificulta a sua visualização, sendo necessário o uso de métodos
divergências em relação à descrição dela. Neste caso, o registro poderia
específicos para a sua amostragem durante atividades de campo. Mesmo
corresponder a um sinônimo de Euryoryzomys emmonsae (rato-do-mato),
utilizando armadilhas próprias para a captura de pequenos mamíferos,
estando incluída na mesma, ou poderia pertencer a uma espécie com
algumas espécies arborícolas dificilmente são capturadas em estudos de
parentesco taxonômico próximo. Euryoryzomys aff. emmonsae (rato-do-
curta duração. Muitas delas são registradas somente em estudos de longa
-mato) foi considerado táxon endêmico pelo fato de as duas possíveis
duração ou nos chamados programas de monitoramento. Nesse sentido,
espécies do gênero Euryoryzomys com distribuição conhecida para a área
os estudos já realizados na Serra Norte de Carajás, incluindo o diagnóstico
de estudo (Euryoryzomys macconnelli e Euryoryzomys emmonsae) também
do Projeto N1 e N2, vêm revelando informações importantes sobre os
serem endêmicas e ocorrerem de forma simpátrica nas áreas de floresta
pequenos mamíferos não voadores, o que contribui de forma expressiva
da Flona de Carajás, além de suas distribuições geográficas serem restritas
para a conservação da natureza da Flona de Carajás e de toda a região.
à região sudeste da Amazônia.

Além dessas espécies, cabe mencionar dois casos de imprecisões taxo-


nômicas, nos quais a identificação dos táxons em nível específico não foi
possível. No caso de Oecomys gr. bicolor / cleberi (rato-do-mato), o táxon
pertence a um complexo de espécies que atualmente compreende Oe-
comys bicolor e Oecomys cleberi, e cujas relações de parentesco ainda não
foram completamente esclarecidas pelos especialistas. De forma seme-
lhante, Akodon gr. cursor (rato-do-chão) pertence a uma das espécies do
grupo cursor, que inclui Akodon cursor, Akodon montensis, Akodon reigi e
Akodon paranaensis, assim como espécies afins. As espécies identifica-
das como “gr.” referem-se àquelas que pertencem ao grupo ou complexo
de espécies que ainda precisam ser revisadas e descritas, separadamen-
te. Esses exemplos reforçam a necessidade de captura e coleta desses
50 Pequenos Mamíferos Não Voadores

Foto: Natália Ardente


Espécie: Marmosa murina

Nome popular: Catita, cuíca


Família: Didelphidae
Peso corporal: 52 gramas (adulto)

Guia
Distribuição: Amazônia, Mata
Atlântica, Cerrado e Pantanal
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e
hábito de locomoção escansorial

fotográfico

Foto: Vinícius Orsini


Espécie: Caluromys philander

Nome popular: Cuíca-lanosa, mucura-xixica


Família: Didelphidae
Peso corporal: 140 a 390 gramas
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado e Pantanal
Hábitos: Dieta Frugívora / Onívora e hábito
de locomoção arborícola

Espécie: Marmosa (Micoureus) demerarae


Foto: Bernardo Leopoldo

Nome popular: Cuíca


Família: Didelphidae
Peso corporal: 90 a 150 gramas
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado e Caatinga
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e hábito
de locomoção arborícola
Foto: Bernardo Leopoldo

Espécie: Didelphis marsupialis

Nome popular: Gambá, mucura


Família: Didelphidae
Peso corporal: 1,0 a 1,7 kg
Distribuição: Restrita à Amazônia
(espécie endêmica)
Hábitos: Dieta Frugívora / Onívora
e hábito de locomoção escansorial
Foto: Vinícius Orsini

Foto: Vinícius Orsini


Espécie: Marmosa pinheroi

Nome popular: Cuíca


Família: Didelphidae
Peso corporal: 19 a 33 gramas
Distribuição: Restrita à Amazônia
(espécie endêmica)
Hábitos: Dieta Insetívora /
Onívora e hábito de locomoção
escansorial

Espécie: Monodelphis glirina

Nome popular: Catita, cuíca-de-rabo-curto


Família: Didelphidae
Peso corporal: 50 gramas (adulto)
Distribuição: Restrita à Amazônia (espécie
endêmica)
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e
hábito de locomoção cursorial (terrestre)

Foto: Bernardo Leopoldo

Foto: Vinícius Orsini


Espécie: Metachirus nudicaudatus
Espécie: Monodelphis touan
Nome popular: Cuíca-de-quatro-olhos
Família: Didelphidae Nome popular: Catita, cuíca-de-rabo-curto
Peso corporal: 300 a 480 gramas Família: Didelphidae
Distribuição: Amazônia, Mata Peso corporal: 84 gramas (adulto)
Atlântica, Cerrado e Pantanal Distribuição: Restrita à Amazônia (espécie
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora endêmica)
e hábito de locomoção cursorial Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e
(terrestre) hábito de locomoção cursorial (terrestre)
Foto: Natália Ardente

Foto: Natália Ardente


Espécie: Philander opossum Espécie: Euryoryzomys aff. emmonsae

Nome popular: Cuíca-de-quatro-olhos Nome popular: Rato-do-mato


Família: Didelphidae Família: Cricetidae
Peso corporal: 280 a 700 gramas Peso corporal: 64 a 78 gramas
Distribuição: Amazônia, Cerrado e Distribuição: Restrita à Amazônia (espécie
Pantanal endêmica)
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e Hábitos: Dieta Frugívora / Granívora e
hábito de locomoção escansorial hábito de locomoção cursorial (terrestre)
Foto: Bernardo Leopoldo

Foto: Natália Ardente


Espécie: Holochilus sciureus

Nome popular: Rato-d’água


Família: Cricetidae
Peso corporal: 90 a 200 gramas
Distribuição: Amazônia, Cerrado e
Caatinga
Hábitos: Dieta Frugívora / Herbívora
e hábito de locomoção semiaquático

Espécie: Akodon aff. cursor

Nome popular: Rato-do-chão


Família: Cricetidae
Peso corporal: 30 a 70 gramas
Distribuição: Amazônia, Mata
Atlântica, Cerrado e Caatinga
Hábitos: Dieta Insetívora /
Onívora e hábito de locomoção
cursorial (terrestre)
Foto: Bernardo Leopoldo

Espécie: Nectomys rattus


Espécie: Hylaeamys megacephalus
Nome popular: Rato-d’água

Foto: Bernardo Leopoldo


Nome popular: Rato-do-mato Família: Cricetidae
Família: Didelphidae Peso corporal: 130 a 350 gramas
Peso corporal: 60 gramas (adulto) Distribuição: Amazônia, Cerrado,
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga e Pantanal
Cerrado e Pantanal Hábitos: Dieta Frugívora /
Hábitos: Dieta Frugívora / Granívora e Onívora e hábito de locomoção
hábito de locomoção cursorial (terrestre) semiaquático

Foto: Vinícius Orsini

Foto: Natália Ardente


Espécie: Necromys lasiurus Espécie: Oecomys gr. bicolor/ cleberi

Nome popular: Pixuna, rato-do-mato Nome popular: Rato-da-árvore


Família: Cricetidae Família: Cricetidae
Peso corporal: 40 a 80 gramas Peso corporal: 28 gramas (adulto)
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Distribuição: Amazônia e Cerrado
Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas Hábitos: Dieta Frugívora e hábito de
Hábitos: Dieta Frugívora / Onívora e locomoção cursorial (terrestre)
hábito de locomoção cursorial (terrestre)
Foto: Natália Ardente

Foto: Vinícius Orsini


Espécie: Rhipidomys emiliae

Nome popular: Rato-da-árvore


Família: Cricetidae
Peso corporal: 82 gramas (adulto)
Distribuição: Restrito à Amazônia
(espécie endêmica)
Hábitos: Dieta Frugívora (predador
de sementes) e hábito de
locomoção arborícola

Espécie: Oligoryzomys microtis

Nome popular: Rato-do-mato


Família: Cricetidae
Peso corporal: 20 gramas (adulto)
Distribuição: Restrita à Amazônia
(espécie endêmica)
Hábitos: Dieta Frugívora / Granívora
e hábito de locomoção escansorial
Foto: Natália Ardente

Foto: Natália Ardente

Espécie: Oxymycterus amazonicus


Espécie: Proechimys roberti
Nome popular: Rato-do-brejo
Família: Cricetidae Nome popular: Rato-de-espinho
Peso corporal: 76 gramas (adulto) Família: Echimyidae
Distribuição: Restrita à Amazônia Peso corporal: 101 gramas (adulto)
(espécie endêmica) Distribuição: Amazônia e Cerrado
Hábitos: Dieta Insetívora / Onívora e Hábitos: Dieta Frugívora / Granívora e
hábito de locomoção semifossorial hábito de locomoção cursorial (terrestre)
Foto: VALE

Morcegos
Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 65

Morcegos Carla Clarissa Nobre de Oliveira

Os morcegos pertencem à ordem Chiroptera. “Chiro” significa mão e “Ptera”,


asas. São os únicos mamíferos capazes de realizar voo mecânico verdadei-
ro, ou seja, empregam as asas para gerar e manter a propulsão no desloca-
mento aéreo. Em relação à estrutura esquelética, as asas dos morcegos são
semelhantes aos membros anteriores dos demais vertebrados (como braços
de humanos ou patas dianteiras de outros animais). Ao longo da história
evolutiva dos mamíferos, o aparato especializado para voar foi selecionado,
conferindo essa habilidade tão característica a esse grupo conhecido como
quirópteros, quiropterofauna, pequenos mamíferos voadores ou popular-
mente apenas morcegos.

Os morcegos apresentam hábitos noturnos, voando preferencialmente nesse


período. Durante o dia, recolhem-se em abrigos variados: ocos de árvores, fo-
lhagens, fendas em paredões rochosos, cavernas e em habitações humanas.
Ocorrem em diferentes ambientes em todo o mundo, estando ausentes ape-
nas nas regiões polares e em algumas ilhas oceânicas. Há maior diversidade de
morcegos nas regiões tropicais, usualmente em áreas recobertas por florestas.
Atualmente, são cerca de 1.460 espécies de morcegos descritas, tornando-as
responsáveis por mais de 25% de todas as espécies conhecidas de mamíferos
em todo o mundo, atrás apenas dos roedores, em número de espécies.

A grande quantidade de espécies e a ocorrência em vários continentes se


Pteronotus cf.
rubiginosus devem, além da capacidade de voo, aos diferentes tipos de hábitos alimen-
(Morcego)
tares e estratégias que os morcegos desenvolveram para procurar alimento.
66 Morcegos Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 67

Existem morcegos que consomem frutos, insetos, outros animais vertebra- Os Morcegos da Flona de
dos de pequeno porte, peixes, néctar e sangue, o que indica que exploram Carajás, Serra Norte
vários ambientes e executam diferentes estilos de voo, conforme o tipo de
alimento que procuram. Os hábitos diversos fazem dos morcegos um dos O Brasil possui uma das maiores riquezas de morcegos, abrigando mais de
pilares na manutenção e restauração do ambiente natural. As espécies fru- 15% de todas as espécies conhecidas no mundo. São pelo menos 182 espé-
gívoras (que se alimentam de frutos) atuam como dispersores de sementes, cies identificadas no território nacional, distribuídas em nove famílias e 69
que são carreadas durante o voo, auxiliando a manutenção e a regeneração gêneros. Na região amazônica, essa riqueza atinge o número impressionante
das florestas. Morcegos nectarívoros (que se alimentam de néctar das flores) de 146 espécies, correspondendo a mais de 80% de toda a diversidade de
polinizam várias espécies de plantas durante a atividade de alimentação. Já morcegos conhecida para o Brasil. Além disso, 46 espécies são endêmicas
espécies insetívoras e carnívoras, que se alimentam de insetos e outros ani- do bioma amazônico, o que significa que possuem distribuição geográfica
mais, respectivamente, controlam populações de invertebrados e pequenos restrita à Amazônia. O estado do Pará ostenta a maior diversidade de qui-
vertebrados, diminuindo o tamanho das populações de animais considera- ropterofauna, totalizando pelo menos 120 espécies. Com o incremento de
dos pragas agrícolas, além de contribuírem para a manutenção do equilíbrio estudos taxonômicos do grupo, uma maior riqueza poderá ser identificada
dos ecossistemas. Estima-se que morcegos insetívoros, ao consumirem suas para todo o território brasileiro.
presas (diferentes tipos de insetos), produzem uma economia da ordem de
bilhões de dólares com o controle de pragas e a consequente redução de A Flona de Carajás, área de estudo do Projeto N1 e N2, está entre as mais

perdas na produção agrícola. ricas em número de espécies de morcegos, compreendendo 75 espécies,


distribuídas em oito famílias e 46 gêneros. A região se caracteriza por abri-
Quanto à reprodução, os morcegos apresentam longo período de gestação e gar diferentes tipos de ambientes naturais, reunindo áreas florestais, sava-
proles de maior tamanho corporal em relação a mamíferos de mesmo porte. A nas e cavernas, o que contribui para aumentar a riqueza desse importante
maioria das espécies tem apenas um filhote por gestação, podendo chegar a grupo de animais. Estudos sugerem que a região da Flona de Carajás seja
quatro em algumas espécies da família Vespertilionidae. O processo é bastan- considerada prioritária para a conservação de mamíferos, especialmente
te custoso para as fêmeas, em especial durante o período de amamentação em razão dos morcegos.
do filhote. Por isso, a maioria das espécies tende a sincronizar o período repro-
dutivo com épocas do ano em que há maior disponibilidade de alimento. Já Os dados considerados para o estudo ambiental relativo ao Projeto N1 e

as espécies hematófagas (que se alimentam de sangue), que não enfrentam N2 contemplam os levantamentos de campo realizados em toda a região

restrição de alimento provocada pelas mudanças de clima entre as estações do Projeto, incluindo as áreas N1, N3, N4 e N5. Esses trabalhos desenvolvi-

do ano (época seca e chuvosa), podem produzir mais de um filhote por ano. dos por muitos profissionais e especialistas resultaram na identificação de
67 espécies de morcego, pertencentes a sete famílias e 42 gêneros. Entre
De modo geral, alimento e abrigo são os principais fatores que determinam os animais registrados, dois não puderam ser identificados no menor nível
a ocorrência ou não de morcegos em uma região. Assim, quaisquer altera- taxonômico (espécie): Vampyressa sp. e Eptesicus sp. A maior parte das es-
ções ambientais podem afetar a ocorrência desse grupo. Essa característica pécies apresenta ampla distribuição geográfica, incluindo registros além da
é normalmente utilizada pelos pesquisadores como indicador de qualidade região da Serra Norte e Amazônia. Do total de espécies, sete são conside-
ambiental: quanto mais espécies de morcegos, melhor a qualidade do am- radas endêmicas do bioma amazônico, o que significa que até o presente
biente. Ademais, a grande variedade de serviços ecossistêmicos desempe- momento todos os registros estão no bioma da Amazônia.
nhados pelos morcegos evidencia a importância que possuem para a ma-
nutenção e conservação dos ambientes naturais. O grupo de morcegos mais representativo nos estudos realizados para
o Projeto N1 e N2 foi a família Phyllostomidae. Essa família se caracteriza
68 Morcegos Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 69

por indivíduos que apresentam folha nasal (nome dado a uma estrutura se caracteriza por morcegos insetívoros de porte pequeno a médio e olhos
encontrada na extremidade de focinhos de alguns morcegos), formada pequenos, com cauda fina inserida completamente na membrana entre as
por modificação na forma da cartilagem ao redor das narinas, responsá- pernas, o chamado uropatágio, que auxilia esses morcegos na captura de
vel pelo direcionamento das emissões sonoras durante a ecolocalização, insetos durante as atividades de procura de alimento. Todos os vespertilioní-
que nos morcegos funciona como um órgão de sentido, assim como o deos registrados apresentam ampla distribuição no Brasil, com ocorrências
tato, considerada uma sofisticada capacidade biológica de detectar a po- além da região amazônica.
sição e/ou distância de objetos ou animais através de emissão de ondas
A família Mormoopidae contou com registros de três espécies, P­ teronotus
ultrassônicas, como um sonar (que o homem não é capaz de perceber).
gymnonotus, P. personatus e P. rubiginosus, das quais apenas a última é
Essa família também apresenta a maior diversidade de hábitos alimen-
considerada endêmica ao bioma amazônico. Os mormopídeos da área
tares entre os quirópteros do Brasil. Na área do Projeto N1 e N2 foram
do Projeto N1 e N2 apresentam orelhas estreitas, porte pequeno ou mé-
confirmadas 51 espécies de filostomídeos, representando mais de 75%
dio e são chamados “mustached bats” ou “morcegos-com-bigode” ou ainda
da riqueza de quirópteros em toda a área do projeto. Entre os registros,
­“naked-backed-bats” que significa “morcegos-das-costas-nuas”, de acordo
destacam-se a espécie Lochorhina aurita, que usa exclusivamente caver-
com a espécie. Apresentam hábitos insetívoros e costumam formar grandes
nas e é considerada vulnerável à extinção na lista de espécies ameaça-
colônias em cavernas na região da Flona de Carajás, que passam a ser cha-
das no Brasil (MMA, 2014), bem como Micronycteris homezorum, Phyllos-
madas Bat caves ou “cavernas de morcegos”.
tomus latifolius, Ametrida centurio, Mesophylla macconnelli, Platyrrhinus
brachycephalus, Vampyriscus bidens e Vampyriscus brocki, que apresentam
As famílias Natalidae e Furipteridae apresentam uma única espécie cada
distribuição geográfica restrita (endêmicas) ao bioma amazônico. Já as
uma, Natalus macrourus e Furipterus horrens, e ambas as espécies são consi-
espécies inseridas nas subfamílias Micronycterinae, Lonchorhininae, Phyl-
deradas ameaçadas de extinção, categoria Vulnerável (COEMA, 2007; MMA,
lostominae e Glyphonycterinae são consideradas indicadoras ambientais,
2014). Finalmente, a família Molossidae foi representada por uma única es-
pois quando são identificadas em determinada localidade indicam que
pécie, Neoplatymops mattogrossensis. Caracteriza-se por apresentar cauda
os ambientes estão bem preservados.
comprida, com porção final livre, e por asas longas e estreitas, de porte mé-
dio ou grande. Parte do mito de esses morcegos serem ratos velhos se ex-
plica pelos molossídeos, que habitam forros de habitações humanas, onde

Você já ouviu falar que os morcegos ficam somente de cabeça para baixo e que são cegos?
também circulam ratos.
A posição usual de morcegos quando pousados é de cabeça para baixo. Nesse arranjo, é mais
fácil iniciar o voo, pois se minimiza o gasto de energia em relação à saída partindo do chão,
como fazem as aves. Outro mito bastante comum é de que morcegos seriam cegos. A crença
se originou possivelmente pelos hábitos noturnos desse grupo. Quirópteros apresentam visão
adaptada para deslocamento à noite, além de contarem com uma peculiaridade que os auxi- Você sabia que, apesar de existirem mais de 1.400 espécies de morcegos no mundo inteiro, ape-
lia durante o voo – a ecolocalização. Esse sistema emite e recebe sons de frequência bem alta nas três se alimentam de sangue? São elas: Desmodus rotundus (morcego-vampiro-comum),
­(ultrassons), inaudíveis ao ouvido humano. O sonar permite a detecção de presas e a orientação Diphylla ecaudata (morcego-vampiro-da-perna-peluda) e Diaemus youngi (morcego-vampiro-
espacial dos morcegos durante o voo. Mas eles não são cegos! -da-asa-branca), todas ocorrem apenas na região neotropical. Dessas, apenas D. rotundus se
alimenta de sangue de mamíferos (em especial, gado e outros animais de criação), enquanto
D. ecaudata e D. youngi preferem consumir sangue de aves. Os morcegos que se alimentam de
sangue produzem uma substância anticoagulante na saliva chamada “draculina”, que vem sen-
do estudada como nova fonte de medicamentos com essa finalidade.

As demais famílias contribuíram com 23,8% da riqueza de quirópteros na


área do Projeto N1 e N2. A segunda família mais representativa nos estudos
realizados foi Vespertilionidae, com cinco espécies registradas. Essa família
70 Morcegos

Foto: Carla Nobre


Guia
Morcegos e a transmissão da raiva
Você sabia que os morcegos que se
alimentam de sangue são potenciais

fotográfico transmissores de raiva, como qualquer


mamífero? Entretanto, são raros os re-
latos confirmados de transmissão de
raiva ao homem a partir da espécie Des-
modus rotundus (morcego-vampiro-
A correta identificação de quirópteros é complexa e
-comum). Morcegos, em geral, não agri-
pode envolver caracteres corporais externos e aná- dem humanos, embora exista o mito de Espécie: Colônia de Carollia perspicillata
lises cranianas, sendo assim necessária a captura e que eles possam voar e atacar pessoas
Nome popular: Morcego
pelo pescoço, assim como mostram al- Família: Phyllostomidae
eventual coleta de espécimes. Informações como co- guns filmes de cinema. Quando se sen- Subfamília: Carollinae
Atividade: Noturna
loração e padrões de bandamento da pelagem, tam- tem ameaçados, morcegos e qualquer Peso corporal: 10-23g
outro animal silvestre utilizam a mordi- Hábitat: Florestas primárias e secundárias,
bém aferições de tamanho corporal, incluindo medi- áreas campestres e antropizadas
da como defesa, sendo prudente jamais Distribuição: Ocorre desde o México até o norte
das de antebraço, orelhas, tíbia, entre outros, são de tocá-los. Morcegos caídos ou voando da Argentina, com registros em todos os
biomas brasileiros. É uma das espécies mais
extrema importância. Adicionalmente, a verificação durante o dia podem indicar doenças, o frequentes em estudos de campo no Brasil.
Hábito Alimentar: Frugívoro
que demanda atenção e serviços espe-
Curiosidades: Carollia forma colônias em
de formato de estruturas, como inserção, tamanho e ciais. Em caso de arranhões ou mordida cavidades na área da Flona de Carajás,
dividindo o abrigo diurno com espécies como
forma do uropatágio, presença e disposição de listras de morcego ou qualquer outro mamífe- Glossophaga soricina (morcego-beija-flor),
ro silvestre, deve-se procurar assistência Phyllostomus latifolius (morcego) e Desmodus
facias e dorsais, entre outras, podem ser elucidativas médica tão logo seja possível. rotundus (morcego-vampiro) dentre outras.

durante o processo de identificação.


Foto: Marcelo Marcos

Foto: Marcelo Marcos


Espécie: Artibeus planirostris

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Stenodermatinae
Atividade: Noturna
Peso corporal: 50-65 g
Hábitat: Florestal, campestre e áreas antropizadas
Distribuição: Ocorre desde o sul do rio Orinoco,
restrita à América do Sul, com registros em
todos os biomas brasileiros.
Hábito alimentar: Frugívoro

Espécie: Chrotopterus auritus

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Phyllostominae
Atividade: Noturna
Peso corporal: 58-90g
Hábitat: Florestas e áreas campestres,
associados às cavidades naturais
Distribuição: Ocorre desde o México até o
norte da Argentina, com registros em todos
os biomas brasileiros.
Hábito Alimentar: Carnívoro/Insetívoro Catador
Curiosidades: Essa é a segunda maior espécie
de morcego das Américas em peso corporal,
sendo menor apenas que Vampyrum
spectrum. Predam pequenos vertebrados,
como morcegos, aves, roedores e lagartos,
podendo também consumir insetos.
Espécie: Desmodus rotundus

Nome Popular: Morcego-vampiro-comum


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Desmodontinae
Atividade: Noturno
Peso Corporal: 25-42g
Hábitat: Áreas florestais, campestres e em áreas
­antropizadas
Distribuição: Ocorre desde o México até a Argentina, com
registros para todos os biomas brasileiros.
Hábito Alimentar: Hematófago
Curiosidades: Essa espécie alimenta-se exclusivamente de
sangue, principalmente de grandes mamíferos.
O evento alimentar de um morcego-vampiro-comum
consiste em se aproximar do animal, fazer uma ­diminuta
incisão na pele com o auxílio dos dentes incisivos, por
onde o sangue irá escorrer. A ingestão do sangue pelo
morcego ocorre através de lambidas, na qual a presença
de um anticoagulante na saliva, a draculina, assegura o
fluxo de sangue enquanto o indivíduo se alimenta.
Foto: Marcelo Marcos
Foto: Marcelo Marcos
Espécie: Uroderma bilobatum Espécie: Lonchorhina aurita

Nome popular: Morcego Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae Família: Phyllostomidae
Subfamília: Stenodermatinae Subfamília: Lonchorhininae
Atividade: Noturna Atividade: Noturna
Peso Corporal: 13-20g Peso corporal: 10-16g
Hábitat: Áreas florestais Hábitat: Florestas e áreas
primárias e secundarias, campestres, sempre associados às
ambientes mésicos e cavidades naturais subterrâneas.
campestres. Distribuição: Ocorre desde o
Distribuição: Ocorre desde o sudeste do México, Bahamas até
México até o Brasil, com registros o Brasil, com registros nos biomas
nos biomas Amazônia, Floresta amazônico, Cerrado, Caatinga e
Atlântica, Cerrado e Caatinga. Floresta Atlântica.
Hábito Alimentar: Frugívoro Hábito alimentar: Insetívoro catador
Curiosidades: A espécie apresenta Curiosidades: É considerado
o comportamento de modificação um morcego cavernícola
de folhagens sob árvores, estrito, dependendo de tais
para a construção de tendas, ambientes para sua subsistência.
como forma de abrigo diurno. ­Caracteriza-se por apresentar
Apresenta listras faciais bem longa folha nasal e orelhas.
delimitadas e uma listra dorsal.

Foto: Carla Nobre


Foto: Carla Nobre
Espécie: Lampronycteris brachyotis

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Micronycterinae
Atividade: Noturna
Peso Corporal: 9-15g
Hábitat: Áreas florestais e campestres,
associadas a ambientes preservados
Distribuição: Ocorre desde o sul do
México, passando pela América
Central e, na América do Sul,
apresenta registros ao leste dos
Andes. No Brasil apresenta registros
para os biomas Amazônia, Floresta
Atlântica e Cerrado.
Hábito Alimentar: Insetívoro Catador
Curiosidades: Apresentando coloração
alaranjada, a espécie tem hábitos
primariamente insetívoros, e ­ mbora Espécie: Phylloderma stenops
existam referências de onivoria para
a espécie. Na Flona de Carajás foi
Nome popular: Morcego
registrada em cavidades formando
Família: Phyllostomidae
colônias mistas com Glossophaga
Subfamília: Phyllostominae
soricina (morcego-beija-flor).
Atividade: Noturna
Peso corporal: 41-65g
Hábitat: Ambientes florestais
e áreas campestres, podendo
ocorrer em ambientes com
algum grau de antropização
Distribuição: Desde o México
até o sul da América do Sul.
No Brasil possui registros na
Amazônia, Caatinga, Cerrado e
Foto: Carla Nobre

Floresta Atlântica.
Hábito: Onívoro
Curiosidades: Pertencente a um
gênero monotípico, pouco é
conhecido sobre a espécie.
Foto: Natália Ardente

Espécie: Vampyrum spectrum

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Phyllostominae
Atividade: Noturna
Peso corporal: 134-172g
Hábitat: Ambientes florestais e campestres,
associados a áreas preservadas
Distribuição: Ocorre desde o México
até o Brasil, com registros nos biomas
Amazônia, Cerrado e Caatinga.
Hábito Alimentar: Carnívoro
Curiosidades: A espécie corresponde ao
maior morcego das Américas, predando
roedores, morcegos e aves. Pode
apresentar envergadura de asa de até um
metro e é raro em sua distribuição.
Foto: Marcelo Marcos
Espécie: Trachops cirrhosus

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Phyllostominae
Atividade: Noturna
Peso corporal: 28-45g
Hábitat: Áreas florestais e campestres associadas
à ambientes preservados.
Distribuição: Ocorre desde o México até o Brasil,
com registros nos biomas Amazônia, Floresta
Atlântica, Cerrado e Caatinga.
Hábito Alimentar: Carnívoro/Insetívoro Catador
Curiosidades: Este morcego é conhecido por
predar pequenos anfíbios, reconhecendo as
espécies de acordo com a vocalização emitida,
tendendo a evitar anfíbios não palatáveis.
­Apresenta verrugas na região dos lábios e do
mento entre uma das características da espécie.

Espécie: Pteronotus rubiginosus

Nome popular: Morcego


Família: Mormoopidae
Atividade: Noturna
Peso Corporal: 24-29g
Hábitat: Ambientes florestais
e campestres, associados às
cavidades naturais.
Distribuição: Distribuição com
ocorrência na região amazônica e
Caatinga, sempre associados aos
ambientes cavernícolas.
Hábito Alimentar: Insetívoro aéreo
Curiosidades: A espécie apresenta
hábitos gregários, formando
grandes colônias e também
coexistindo com outras espécies
em cavernas. As cavidades
brasileiras classificadas como
Batcaves, são formadas por
grandes colônias de indivíduos
dessa família. Os indivíduos
pertencentes às espécies da família
Mormoopidae formam colônias
maternidade, onde os recém-
nascidos e jovens que ainda não
são capazes de voar permanecem
sob os cuidados da colônia.

Foto: SETE
Foto: Carla Nobre

Espécie: Gardnerycteris crenulatum

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Phyllostominae
Atividade: Noturna
Peso corporal: 10-18g
Hábitat: Florestas primárias e secundárias,
áreas savânicas e campestres, além de
ambientes antropizados.
Distribuição: Ocorre desde o México até a
América do Sul. No Brasil há registros em
todos os biomas.
Hábito: Insetívoro catador
Curiosidades: Espécie indicadora de
ambientes preservados, alimentando-se
preferencialmente de insetos, embora
existam registros de consumo de néctar
e pequenos vertebrados.
Foto: Carla Nobre

Espécie: Mesophylla macconnellii

Nome popular: Morcego


Família: Phyllostomidae
Subfamília: Stenodermatinae
Atividade: Noturna
Peso corporal: 7-9g
Hábitat: Áreas florestais e campestres,
usualmente preservadas.
Distribuição: Ocorre desde a América
Central até o Brasil, com registros nos
biomas amazônico e de Cerrado.
Hábito: Frugívoro
Curiosidades: Espécie de pequeno
porte, apresentando orelhas de
coloração amarelada vibrante e
consumidora de pequenos frutos.
Foto: Marcelo Vasconcelos

Mamíferos
de Médio e
Grande Porte
Foto: Ana YokoYkeuti Meiga Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 87

Mamíferos Elaine Ferreira Barbosa


Bernardo Faria Leopoldo

de Médio e Daniel Milagre Hazan


Leandro Moraes Scoss

Grande Porte

Os mamíferos pertencem à classe Mammalia, que é formada por muitas espécies


que podem ser encontradas em todos os continentes e diferentes ambientes de
todo o mundo. A maioria é terrestre, porém existem espécies aquáticas como
os golfinhos, os botos e as baleias; mamíferos voadores que são os morcegos; e
os arborícolas, principalmente os macacos. São assim chamados pela existência
de glândulas mamárias, presentes tanto nos machos quanto nas fêmeas, porém
são mais desenvolvidas e funcionais apenas nas fêmeas, para alimentação do
filhote com o leite materno. Outra característica típica dos mamíferos são os pe-
los, que recobrem o corpo total ou parcialmente e que têm papel importante
na regulação térmica, assim como na camuflagem, uma vez que várias espécies
apresentam coloração semelhante à do ambiente em que vivem.

Estão entre os mais fascinantes animais vertebrados, despertando o inte-


resse natural nas pessoas. Com distintas adaptações morfológicas (relativas
à forma), fisiológicas (relativas ao funcionamento), ecológicas (relativas à
interação com outros animais e com o ambiente) e comportamentais que
permitem sua ampla distribuição geográfica, esse grupo é muito importante
para o ser humano, pois provém benefícios como companhia (animais de
estimação), alimento, recreação, importância médica, entre outros. Alguns
mamíferos são considerados espécies-chave pela função que desempe-
Bradypus variegatus nham no ambiente natural, porque polinizam as plantas, ajudam na disper-
(Preguiça-comum)
são das sementes e, como predadores, contribuem para a manutenção e
88 Mamíferos de Médio e Grande Porte Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 89

equilíbrio de populações de plantas e outros animais vertebrados, incluindo que consomem outros animais (por isso carnívoros), contribuindo para a re-
os próprios mamíferos. gulação do tamanho das populações de suas presas naturais e para a manu-
tenção da dinâmica dos ecossistemas em que vivem. Mas como isso ocorre?
A fauna de mamíferos do Brasil é extremamente rica e diversificada. O país
Na ausência dos carnívoros predadores, os mamíferos herbívoros (veados), os
possui uma das maiores riquezas do mundo, com 701 espécies conhecidas,
roedores (capivara, paca e cutia), algumas aves (pombas), répteis (cobras) e
pertencentes a 12 ordens, sendo que a Amazônia abriga o maior número de
insetos (gafanhotos) tendem a se reproduzir exageradamente e acabam se
espécies – passa de 310 espécies conhecidas para toda a região amazônica.
tornando pragas ou animais-problema, podendo inclusive trazer prejuízos à
Os médios e grandes mamíferos terrestres que apresentam normalmente agricultura e à saúde humana, além de perdas financeiras importantes.
peso superior a 1 kg na fase adulta são representados por oito ordens, con-
Entre os carnívoros que ocorrem na área do Projeto N1 e N2, alguns se destacam
forme a classificação utilizada pelos especialistas neste grupo de animais:
por serem de interesse para conservação, como o cachorro-do-mato-de-orelha-
Pilosa (preguiças e tamanduás), Cingulata (tatus), Primates (primatas ou
-curta Atelocynus microtis, que é um canídeo (família dos cachorros) considerado
macacos), Carnivora (gatos, onças, cachorros, quatis, lontras e outros), Artio-
raro e restrito à Amazônia, além de ser uma espécie ainda pouco estudada.
dactyla (veados e porcos-do-mato), Perissodactyla (anta), Rodentia (capivara
e outros roedores) e Lagomorpha (coelho ou tapeti). Outro carnívoro bastante importante em todo o Brasil é a onça-pintada
Panthera onca, que é o maior felino das Américas e o maior predador ter-
restre de topo de cadeia alimentar que habita a Amazônia. A onça-pin-
tada costuma ser mais ativa durante o amanhecer e o anoitecer (hábito
Os Médios e Grandes Mamíferos
crepuscular), mas também se desloca de um lugar para o outro e se ali-
da Flona de Carajás, Serra Norte
menta preferencialmente durante a noite. As onças-pintadas são muito
exigentes com relação à qualidade do ambiente em que vivem e preci-
Boa parte da mastofauna de médio e grande porte da região amazônica ocor-
sam de grandes áreas para sobreviver, se alimentar e criar os seus filhotes.
re no estado do Pará (57 espécies), e os dados dos estudos realizados para o
licenciamento ambiental do Projeto N1 e N2 registraram 82% dos mamíferos Assim, quando se protege o ambiente das onças-pintadas, normalmente

que ocorrem na Floresta Nacional (Flona) de Carajás, o que corresponde a 38 centenas de outras espécies que ocupam a mesma área acabam também

espécies de mamíferos, das quais 18 apresentam características associadas aos ganhando proteção. É uma espécie ameaçada de extinção no estado e
ambientes florestais e 20 são generalistas, o que significa que ocorrem em no Brasil (COEMA, 2007; MMA, 2014), principalmente em razão da pressão
diferentes ambientes, tanto nas florestas quanto nos campos rupestres ferrugi- de caça sobre esses animais e por estar associada a conflitos entre onças
nosos presentes na região do projeto de mineração. A seguir vamos conhecer e o homem, quando elas resolvem atacar a criação de gado. Possui ampla
um pouco mais sobre as espécies desse grupo que ocorrem na Área de Estu- distribuição geográfica pelo Brasil: além da Amazônia, ocorre em quase
do Local (AEL) do Projeto N1 e N2, inserido na Serra Norte, Flona de Carajás. todos os biomas brasileiros e pelo menos 50% da área do país ainda é
considerada adequada à ocorrência da espécie, além de outros países.
Os mamíferos carnívoros são o grupo com o maior número de espécies entre
os mamíferos de médio e grande porte na área do Projeto N1 e N2, com 11
espécies identificadas no local. Trata-se de um grupo essencial cuja perda
de indivíduos e redução de suas populações podem causar o desequilíbrio Você sabia que espécies como a onça-pintada, Panthera onca, também são chamadas de “es-
pécie bandeira” e “espécie detetive da paisagem”? O apelo para a conservação das onças nos
de toda a comunidade local e regional, motivo pelo qual são considerados meios de comunicação ou junto à comunidade local ajuda a atrair mais atenção da população
espécies-chave na manutenção da integridade do ecossistema ao longo do para essa espécie (bandeira), mas, protegendo as onças, todo o ambiente onde elas vivem e as
­tempo. São animais considerados de topo da cadeia alimentar, o que significa outras centenas ou milhares de espécies também recebem proteção!
90 Mamíferos de Médio e Grande Porte Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 91

Mas falou em mamífero, logo se pensa em macaco, não é mesmo? Devido caçados, atropelados em estradas e têm mais dificuldade de escapar de
a sua semelhança com os humanos, os macacos ou primatas estão entre os queimadas. Apenas uma espécie ocorre exclusivamente no bioma amazô-
mamíferos mais queridos das pessoas. A ordem Primates inclui todos os ma- nico, o tatu-de-quinze-quilos Dasypus beniensis, e apenas uma é ameaçada
cacos do Novo Mundo, sendo que só no Brasil são conhecidas 116 espécies. de extinção, o tatu-canastra Priodontes maximus – a maior espécie de tatu
Possuem características próprias, que incluem a organização social (vivem da América do Sul (Vulnerável – COEMA, 2007; MMA, 2014; IUCN, 2020).
em grupos) e meios de comunicação mais complexos, consequência do
grande desenvolvimento do cerébro, o que facilita o aprendizado para, por
exemplo, usarem ferramentas (pedras e galhos) para conseguirem alguns
Você sabia que a garra do terceiro dedo do tatu-canastra Priodontes maximus mede cerca de
alimentos na natureza. Eles possuem focinho curto, nariz achatado e narinas 20cm e é utilizada na escavação de tocas e na procura de alimentos? O tatu-canastra pode
voltadas para os lados, de onde vem o nome da infraordem Platyrrhini (“pla- permanecer na toca por vários dias, sendo raramente visto, e, ao contrário de outros tatus,
esta espécie frequentemente destrói por completo os cupinzeiros e formigueiros quando está
tis, platus” = achatado, largo e “rhis ou rhino” = nariz).
se alimentando desses animais.

Na área do Projeto N1 e N2 foram registradas seis espécies de primatas e,


assim como os demais mamíferos, os macacos são importantes para ma-
nutenção e o funcionamento das florestas tropicais. Adaptados, ocupam
Entre as espécies de médio e grande porte da ordem Rodentia, foram regis-
quase todos os ambientes, pois possuem uma diversidade de tamanhos,
trados na área do Projeto N1 e N2 cinco roedores, como a cutia Dasyprocta
estrutura do corpo, comportamentos e hábitos de vida que lhes permitem
leporina e a paca Cuniculus paca, que são espécies típicas de formações flo-
utilizar, por exemplo, diferentes tipos de alimentos (folhas, frutos, sementes,
restais associadas aos cursos d’água. Já a capivara Hydrochoerus hydrochaeris
insetos e outros pequenos animais, entre outros). Das espécies identifica-
é comum em ambientes mais abertos, com água (rio, lago, etc.), mas sempre
das na área do Projeto N1 e N2, cinco só ocorrem na Amazônia, como é o
busca abrigo na água ou nas matas, quando ameaçada. As outras espécies
caso do guigó ou zogue-zogue Callicebus moloch, do macaco-prego Cebus
de roedores identificadas na área do projeto foram o ouriço-cacheiro ou por-
apella, do cuxiú Chiropotes utahickae, do macaco-de-cheiro Saimiri collinsi e
co-espinho Coendou prehensilis e o quatipuru Guerlinguetus brasiliensis.
do guaribinha Saguinus niger. Já o guariba Alouatta belzebul é o único maca-
co registrado na área que não é restrito ao bioma Amazônico, pois existem A ordem Pilosa, como seu nome sugere, é composta por espécies que apre-
populações dessa espécie também em regiões de Mata Atlântica, na região sentam o corpo coberto por uma densa camada de pelos como as preguiças
Nordeste do Brasil. Não há dúvida de que todos os macacos são importan- Bradypus variegatus (preguiça-comum) e Choloepus didactylus (preguiça-real
tes, mas o cuxiú Chiropotes utahickae possui populações menores na região – ocorre só na Amazônia) e os tamanduás Cyclopes didactylus (tamanduaí),
onde ocorre (leste do rio Xingu e oeste do rio Tocantins) e por isso é uma Myrmecophaga tridactyla (tamanduá-bandeira) e Tamandua tetradactyla (ta-
espécie considerada ameaçada de extinção, vulnerável tanto no Pará como manduá-mirim), espécies encontradas na área do Projeto N1 e N2.
no Brasil e em perigo no mundo (COEMA, 2007; MMA, 2014; IUCN, 2020).
Entre os mamíferos de casco com número par de dedos nas patas (ordem Ar-
Os tatus são integrantes da ordem Cingulata, cuja característica principal é tiodactyla), foram identificadas quatro espécies, sendo dois veados Mazama
a presença de uma carapaça que recobre parte do corpo, de hábito terres- americana (veado-mateiro) e Mazama nemorivaga (veado-da-amazônia) e os
tre e fossorial (adaptado a cavar e a viver debaixo do solo). São encontradas porcos-do-mato Pecari tajacu (cateto ou catitu) e Tayassu pecari (queixada).
cinco espécies de tatus na área do Projeto N1 e N2 e, apesar de utilizarem São animais de hábito frugívoro e herbívoro, o que significa que se alimentam
os recursos das florestas, também usam e vivem bem em áreas mais abertas principalmente de frutos e sementes. Em função da forma como utilizam o
como os campos e cerrados. Os tatus são, de todos os mamíferos, os que recurso alimentar, também podem ser chamados de granívoros – utilizam as
se locomovem de forma mais lenta e, por essa razão, são f­requentemente sementes de plantas ou grãos como alimento principal ou exclusivo.
92 Mamíferos de Médio e Grande Porte Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 93

Você sabia que as queixadas vivem em bandos grandes de até 200 animais? Esse número

Guia de
pode ser ainda maior, dependendo da quantidade de alimento disponível na área onde ocor-
rem. Como as queixadas andam todas sempre juntas (o que os pesquisadores chamam de
coesão social), quando se acha uma queixada, acha-se o grupo inteiro. Essa característica na

pegadas
verdade é uma boa estratégia de sobrevivência na natureza (ajuda a proteger todo o grupo),
mas é uma fragilidade frente aos caçadores que não se contentam em retirar poucos animais
para a alimentação.

As ordens Lagomorpha e Perissodactyla apresentam apenas um único re- Uma das principais maneiras de identificar a presença de um mamífero de
presentante cada uma. O tapeti ou coelho-do-mato Sylvilagus brasiliensis re- médio e grande porte em uma área natural é por meio da análise de seus
presenta a ordem Lagomorpha, sendo encontrado em vários ambientes em rastros e pegadas. Quando esses animais passam em trilhas, estradas de terra
todo o Brasil. É um animal herbívoro pastador (alimenta-se de gramíneas e e nas margens de rios e igarapés, as suas pegadas ficam marcadas no chão,
sementes), pode se reproduzir durante todo o ano e utiliza tanto áreas aber- o que permite reconhecer qual espécie passou por ali.
tas, como campos e cerrados, quanto áreas de mata, onde constroem suas
tocas. Já a anta Tapirus terrestris, representante da ordem P­ erissodactyla, ocor-
re em várias regiões do Brasil, em ambientes florestais, no Campo Rupestre
Ferruginoso e no Cerrado, mas ainda assim é classificada como ameaçada Pata Posterior (PP) e Pata Anterior (PA).

de extinção (MMA, 2014; IUCN, 2020), principalmente em razão da pressão


Espécie: Mazama americana
de caça sobre esses animais. As antas permanecem quietinhas durante o
Nome popular: Veado-mateiro
dia, descansando, e saem durante a noite para se alimentar de folhas, frutos
e sementes. São responsáveis pela dispersão de vários tipos de sementes,
4 a 4,8 cm
como do açaí e da buritirama.

Por fim, importante mencionar que, entre as espécies de mamíferos de mé-


dio e grande porte registradas na Área de Estudo Local do Projeto N1 e N2
algumas são alvo de Planos de Ação Nacional (PANs) específicos que são
coordenados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversi-
dade (ICMBio). Os PANs são elaborados por especialistas que indicam ati-
Espécie: Tayassu pecari
vidades e ações prioritárias para a conservação das espécies alvo, como o PA PP
Nome popular: Queixada, porco-do-mato
guariba Alouatta belzebul, o cachorro-do-mato-de-orelha-curta Atelocynus
microtis, o cuxiú Chiropotes utahickae, o gato-maracajá Leopardus wiedii, a
4 a 5 cm
onça-pintada Panthera onca, a onça-parda Puma concolor, o gato-mourisco
Puma yagouaroundi e o guaribinha Saguinus niger. Os estudos de campo
ajudam a aumentar o conhecimento sobre essas e outras espécies que são
fundamentais para o funcionamento dos ambientes naturais e podem ser
boas indicadoras para o manejo e gestão de áreas naturais protegidas.
94 Mamíferos de Médio e Grande Porte Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 95

Espécie: Cerdocyon thous Espécie: Nasua nasua


PA PP
Nome popular: Cachorro-do-mato, graxaim, raposa Nome popular: Quati

1 cm
2 cm
PA PP

Espécie: Panthera onca Espécie: Tapirus terrestris


PA PP
Nome popular: Onça-pintada Nome popular: Anta

12 a 15 cm

10 a 12 cm

PA PP

Espécie: Puma concolor Espécie: Tamandua tetradactyla


PA PP
Nome popular: Onça-parda, suçuarana Nome popular: Tamanduá-mirim, tamanduá-de-colete

4 a 4,5 cm
3 cm

2 cm
PA PP

Espécie: Puma yagouaroundi Espécie: Dasyprocta leporina

Nome popular: Jaguarundi, gato-mourisco Nome popular: Cutia

3 cm 4 a 4,5 cm

PA PP
PA PP

Espécie: Eira barbara Espécie: Hydrochoerus hydrochaeris

Nome popular: Papa-mel, irara Nome popular: Capivara

7 cm
5 cm

PA PP
PA PP
96 Mamíferos de Médio e Grande Porte

Foto: Elaine Ferreira


Guia
fotográfico

Espécie: Tayassu pecari

Nome popular: Queixada, porco-do-mato


Família: Tayassuidae
Atividade: Diurna e noturna, com preferência
para as primeiras horas do dia
Peso corporal: 90 a 150 cm; peso de 25 a 45 kg
Hábitat: Florestas tropicais úmidas e densas,
apesar de habitarem também regiões secas,
tais como as savanas ou cerrados, mas
sempre perto de uma fonte de água
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas.
Hábitos: Frugívora/herbívora, terrestre e
vivem em grupos que podem ter centenas
de indivíduos.
Foto: Marcelo Vasconcelos

Foto: Marcelo Vasconcelos

Espécie: Cerdocyon thous

Espécie: Mazama americana Nome popular: Cachorro-do-mato, graxaim, raposa


Família: Canidae
Nome popular: Veado-mateiro Atividade: Noturna e crepuscular
Família: Cervidae Peso corporal: 60 a 70 cm; cauda: 30 cm; peso: 3 a 11 kg
Atividade: Diurna e Noturna Hábitat: Áreas florestais, abertas, campos e cerrados,
Peso corporal: 90 a 110 cm; peso: 24-48 kg mas também pode ser encontrada em áreas alteradas
Hábitat: Formações florestais e em áreas de pelo homem, incluindo núcleos urbanos.
transição entre florestas e campos ou cerrados Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado,
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampas.
Cerrado e Pantanal Hábitos: Carnívora, porém generalista e oportunista
Hábitos: Frugívora/herbívora e terrestre ocasional, além de ser estritamente terrestre.
Foto: João Marcos Rosa

Espécie: Panthera onca

Nome popular: Onça-pintada


Família: Felidae
Atividade: Noturna e crepuscular
Peso corporal: 110-185 cm; cauda: 44 a 65
cm; peso: 56 a 158 kg
Hábitat: Florestas, campos, cerrados,
áreas inundáveis, mas também pode ser
encontrada em ambientes alterados pelo
homem como fazendas e plantações.
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas.
Hábito: Carnívoro; terrestre, mas escala e
nada com muita agilidade.
Foto: Leandro Maioli
Espécie: Puma concolor
Espécie: Eira barbara
Nome popular: Onça-parda, suçuarana
Família: Felidae Nome popular: Papa-mel, irara
Atividade: Noturna e crepuscular Família: Mustelidae
Peso corporal: 85 a 150 cm; cauda: 45 a 85 cm; Atividade: Diurna e crepuscular
peso: 22 a 70 kg Peso corporal: 52 a 71 cm; peso: 2,7 a 11,1 kg
Hábitat: Florestas, campos, cerrados, áreas Hábitat: Florestas, campos, cerrados, áreas inundáveis,
inundáveis, mas também pode ser encontrada podendo ser encontrada em ambientes alterados
em ambientes alterados pelo homem. pelo homem como plantações e áreas urbanizadas.
Foto: AMPLO

Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado,
Caatinga, Pantanal e Pampas. Caatinga, Pantanal e Pampas.
Hábitos: Carnívoro e terrestre. Hábitos: Insetívora / Onívora e terrestre.

Foto: Bernardo Leopoldo


Foto: Fábio Antônio

Espécie: Puma yagouaroundi

Nome popular: Jaguarundi, gato-mourisco


Família: Felidae
Atividade: Noturna e diurna
Peso corporal: 5 a 77 cm; cauda: 30 a 60 cm;
peso: 3 a 6 kg
Hábitat: Florestas, campos, cerrados, áreas
inundáveis, mas pode ser encontrada em
ambientes alterados pelo homem.
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas.
Hábitos: Carnívoro e terrestre.

Espécie: Nasua nasua

Nome popular: Quati


Família: Procyonidae
Atividade: Diurna
Peso corporal: 40 a 80 cm;
cauda: 42 a 75 cm; peso: 2,7 a 10 kg
Hábitat: Florestas, campos, cerrados, áreas
inundáveis, mas também pode ser encontrada
em ambientes alterados pelo homem.
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas.
Hábito: Frugívoro / onívoro e terrestre.
Foto: SETE
Espécie: Dasypus beniensis

Nome popular: Tatu-de-quinze-kilos


Família: Dasypodidae
Atividade: Crepuscular e/ou noturna
Peso corporal: 51 a 57,5 cm;
peso médio 9,5kg
Hábitat: Florestal
Distribuição: Endêmica da Amazônia, ao Sul
do Rio Amazonas até a porção sudoeste do
Rio Madeira
Hábitos: Insetívoro/Onívoro e semifossorial
(vivem sob o solo ou sob folhiços)

Espécie: Tapirus terrestris

Nome popular: Anta


Família: Tapiridae
Atividade: Prefencialmente noturna; abriga-se durante o
dia e sai à noite para se alimentar
Peso corporal: 212 cm;
peso médio: 260 kg

Foto: Vinícius Orsini


Hábitat: Florestas de galeria a florestas tropicais de baixas
elevações, além de áreas sazonalmente inundáveis
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga
e Pantanal.
Hábitos: Frugívora/herbívora e terrestre

Foto: AMPLO
Espécie: Priodontes maximus Espécie: Bradypus variegatus

Nome popular: Tatu-canastra Nome popular: Preguiça ou bicho-preguiça


Família: Dasypodidae Família: Bradypodidae
Atividade: Predominantemente noturna, Atividade: Diurna, noturna e crepuscular
mas pode ser vista durante o dia em épocas quentes.
Peso corporal: 75 a 100 cm; Peso corporal: 58 cm; peso médio: 3,9 kg
peso médio: 27 kg Hábitat: Floresta tropical úmida
Hábitat: Vegetação aberta (campos e Distribuição: Amazônia e Mata Atlântica
cerrados) e diferentes ambientes florestais Hábitos: Folívora (alimenta-se de folhas)
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, e arborícola
Cerrado e Pantanal.
Hábitos: Mirmecófago (alimenta-se de
formigas e cupins) e semifossorial (vive
sob o solo ou sob folhiços).

Foto: Ana YokoYkeuti Meiga


Foto: AMPLO
Espécie: Myrmecophaga tridactyla Espécie: Alouatta belzebul

Nome popular: Tamanduá-bandeira Nome popular: Guariba-de-mãos-


Família: Myrmecophagidae ruivas, capelão
Atividade: Diurna e/ou noturna Família: Atelidae
Peso corporal: 100 a 120 cm; Atividade: Diurna
peso: 30.5 kg Peso corporal: 37,4 a 65 cm;
Hábitat: Florestas, áreas inundáveis e cauda: 50 a 70 cm; peso: 4,5 a 8,5 kg
campos abertos Hábitat: Principalmente em áreas
Distribuição: Amazônia, Mata de Floresta Amazônica e de Mata
Atlântica, Cerrado, Caatinga, Atlântica do Nordeste
Pantanal e Pampa. Distribuição: Amazônia e Mata
Hábitos: Mirmecófago (alimenta-se Atlântica
de formigas e cupins) e terrestre Hábitos: Arborícola e frugívoro,
mas se comporta como folívoro na
escassez de fruto.

Foto: Ana YokoYkeuti Meiga


Foto: Elaine Ferreira

Foto: Ana YokoYkeuti Meiga

Espécie: Saguinus niger

Nome popular: Sagui-una, guaribinha


Espécie: Tamandua tetradactyla Família: Callithrichidae
Atividade: Diurna
Nome popular: Tamanduá-mirim, tamanduá-de-colete Peso corporal: 23 cm; cauda: 37 cm; peso:
Família: Myrmecophagidae 355 g.
Atividade: Noturna, mas pode ser vista durante o dia. Hábitat: Principalmente em áreas de
Peso corporal: 47 a 77 cm; cauda: 40 a 68 cm; peso médio: 7 kg Floresta Amazônica em bom estado de
Hábitat: Ambientes de campo, savanas ou cerrados e florestais conservação
Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal Distribuição: Endêmica da Amazônia,
e Pampa nas intermediações do Rio Xingu até a
Hábitos: Mirmecófago (alimenta-se de formigas e cupins) e porção sudeste do Rio Tocantins
escansorial (vive tanto nas árvores como no chão). Hábitos: Arborícola, frugívoro/insetívoro.
Foto: Ana YokoYkeuti Meiga
Espécie: Callicebus moloch Espécie: Dasyprocta leporina

Nome popular: guigó, arabasu, sauá Nome popular: Cutia


Família: Pitheciidae Família: Dasyproctidae

Foto: Bernardo Leopoldo


Atividade: Diurna Atividade: Diurna e crepuscular, sendo mais ativa no início
Peso corporal: peso: 700-1.200 g da manhã e final da tarde
Hábitat: Principalmente em áreas de Peso corporal: 47 a 65 cm; peso médio: 3 a 8 kg
Floresta Amazônica. Hábitat: Ambientes florestais, em baixas altitudes, incluindo
Distribuição: Endêmica da Amazônia, florestas semidecíduas e decíduas (secas)
entre os rios Tapajós e Tocantins Distribuição: Amazônia e Mata Atlântica
Hábito: Arborícola, frugívoro/folívoro. Hábito: Frugívoro/Granívoro e terrestre.
Foto: Bernardo Leopoldo

Foto: Marcelo Vasconcelos

Espécie: Chiropotes utahicki Espécie: Hydrochoerus hydrochaeris

Nome popular: Cuxiú, cuxiú-de-Uta-Hick Nome popular: Capivara


Família: Pitheciidae Família: Caviidae
Atividade: Diurna Atividade: Crepuscuar - noturna
Peso corporal: Cabeça-corpo: 39 a 48; Peso corporal: 107 a 134 cm;
cauda: 37 a 42 cm; peso: 2,95 kg peso: 35 a 81 kg
Hábitat: Principalmente em áreas de Hábitat: Banhados, margens de rios
Floresta Amazônica em bom estado de ou lagoas, matas ciliares, de galeria,
conservação. além de ambientes modificados
Distribuição: Endêmico da Amazônia, pelo homem, como nas margens de
nas intermediações do Rio Xingu ao reservatórios e plantações.
leste e Rio Tocantins ao oeste Distribuição: Amazônia, Mata Atlântica,
Hábito: Arborícola, frugívoro/predador Cerrado, Caatinga, Pantanal e Pampas.
de sementes. Hábito: Herbívora e semiaquática.
Foto: João Marcos Rosa

Aves
Foto: João Marcos Rosa Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 111

Aves Diego Petrocchi da Costa Ramos


Marcelo Ferreira de Vasconcelos

As aves tiveram sua origem entre 208 milhões e 144 milhões de anos
atrás, a partir de um grupo de dinossauros conhecidos como terópo-
des. Desde então, adaptaram-se aos mais diversos tipos de ambientes e,
atualmente, estão distribuídas por quase todo o planeta. Essa alta capa-
cidade de adaptação a diversos tipos de ambientes se dá em função de
duas características fundamentais das aves: a manutenção da tempera-
tura corporal e a capacidade de voar, presente na maioria das espécies.
Embora sejam características fundamentais à adaptação e à sobrevivên-
cia, elas só são possíveis em virtude da estrutura mais peculiar às aves,
que, além de desempenhar distintas funções, diferencia esses animais
de todos os outros organismos vivos do planeta: as penas.

Você sabia que apenas dois grupos de aves não possuem a capacidade de voo? Essa ca-
racterística foi perdida durante o processo de evolução nos pinguins e nas ratitas (emas,
avestruzes e casuares).

As aves constituem um grupo de espécies extremamente diversificado que


desempenha importantes funções ecológicas em seus ambientes como
predação, polinização, dispersão de sementes, entre outras. Além disso,
Spizaetus tyrannus as aves são relativamente fáceis de serem observadas, em comparação
(Gavião-pega-macaco)
com outros animais, já que a maioria das espécies possui hábito diurno.
112 Aves Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 113

Mesmo as aves noturnas cantam com frequência, o que chama a atenção As Aves da Flona de Carajás, Serra Norte
das pessoas. Diante disso, existem milhares de observadores de aves em
todo o mundo, que fazem dessa atividade uma importante recreação e A compilação de dados da avifauna na área específica ao Projeto N1 e N2
movimentam a indústria do turismo. As aves também são muito úteis em considerou estudos técnico-científicos realizados para o licenciamento
estudos ambientais, pois propiciam a avaliação rápida das características ambiental, bem como informações contidas no Banco de Dados da Biodi-
ecológicas e do estado de conservação de determinada área, uma vez que versidade da Vale. Assim, após a consolidação das informações disponíveis
muitas espécies apresentam respostas variadas em função das interven- para o contexto local, foram registradas 312 espécies de aves, distribuídas
ções humanas em seus hábitats, atuando como indicadores ecológicos. em 22 ordens e 58 famílias. Essa riqueza corresponde a, aproximadamente,
Tamanha importância faz do grupo das aves um dos mais bem estudados metade da avifauna já registrada para toda a região da Serra dos Carajás.
entre os animais, proporcionando alta disponibilidade de informações No entanto, nenhuma dessas espécies ocorre exclusivamente na área do
biológicas e ecológicas para a realização dos mais variados estudos. Projeto, sendo também registradas em outras áreas de Carajás, da Amazô-
nia ou do Brasil.
No Brasil existem mais de 1.900 espécies de aves, das quais mais da meta-
de ocorre na Amazônia. Várias pesquisas têm apontado para diminuições Vinte e seis espécies de aves estão ameaçadas de extinção no Pará, no Brasil
da diversidade de aves na região amazônica como consequência de altera- ou no mundo (COEMA, 2007; MMA, 2014; IUCN, 2020), conforme listagem
ções causadas pela ação humana, tais como queimadas, desmatamento e apresentada. A maioria delas pertence à família Psittacidae, que inclui a ara-
fragmentação. Na região de Carajás, em função do importante papel como ra-azul Anodorhynchus hyacinthinus, a tiriba-do-xingu Pyrrhura anerythra,
indicadores de alterações ambientais, as aves vêm sendo estudadas desde a tiriba-de-hellmayr Pyrrhura amazonum, o apuim-de-asa-vermelha Touit
a década de 1980. huetii, a marianinha-de-cabeça-amarela Pionites leucogaster e a curica-uru-
bu Pyrilia vulturina. Também se destacam os aparaçus, pertencentes à famí-
Um dos estudos pioneiros sobre as aves de Carajás foi publicado em 2007
lia Dendrocolaptidae: arapaçu-de-bico-curvo-do-xingu Campylorhamphus
por José Fernando Pacheco e colaboradores, registrando o total de 565
multostriatus, arapaçu-barrado-do-xingu Dendrocolaptes retentus, arapaçu-
espécies. Posteriormente, houve uma série de adições ao conhecimen-
-meio-barrado Dendrocolaptes picumnus, arapaçu-do-carajás Xiphocolap-
to ornitológico da região, graças aos esforços empregados em diversos
tes carajaensis e arapaçu-de-loro-cinza Hylexetastes brigidai. Das espécies
estudos de impacto ambiental e monitoramentos de fauna realizados
ameaçadas que dependem de extensas áreas de florestas para manter suas
no âmbito do licenciamento de novas frentes de exploração mineral. Em
populações saudáveis, citam-se o jacupiranga Penelope pileata, o mutum-
2012, o pesquisador Alexandre Aleixo e colaboradores compilaram todo
-de-penacho Crax fasciolata e o jacamim-do-xingu Psophia interjecta.
o conhecimento ornitológico até então disponível sobre Carajás, adicio-
nando 33 espécies a essa listagem e removendo algumas consideradas Destaca-se que 100 espécies registradas na área do Projeto N1 e N2 (cerca
errôneas e/ou duvidosas, o que elevou a riqueza da Flona de Carajás para de 1/3 do total) ocorrem apenas na Amazônia. Entre as aves que apresen-
594 espécies de aves. tam ampla distribuição na região amazônica, destacam-se o inambu-pi-
xuna Crypturellus cinereus, a corujinha-relógio Megascops usta, a ariram-
O conjunto de informações compilado com base nesses estudos e na con-
ba-da-mata Galbula cyanicollis, o rapazinho-de-colar Bucco capensis, o
solidação de todos os demais dados disponíveis para a Serra dos Carajás
tucano-de-papo-branco Ramphastos tucanus, o picapauzinho-dourado
resultou na expressiva listagem de 612 espécies de aves, distribuídas em
Picumnus aurifrons, o benedito-de-testa-vermelha Melanerpes cruentatus,
27 ordens e 76 famílias, o que representa quase 1/3 de toda a avifauna bra-
o pica-pau-de-barriga-vermelha Campephilus rubricollis, o periquito-de-
sileira. No entanto, esse resultado não pode ser considerado final, devidos
-asa-dourada Brotogeris chrysoptera, a choca-cantadora Pygiptila stellaris,
às constantes descobertas de espécies ainda não registradas na região.
114 Aves Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 115

a choquinha-miúda Myrmotherula brachyura, o p


­ apa-formiga-barrado Devido à dificuldade de registro em levantamentos de campo por parti-
Cymbilaimus lineatus, o formigueiro-de-cara-preta Myrmoborus myothe- cularidades de cada espécie, algumas são consideradas raras, como é o
rinus, o chororó-pocuá Cercomacra cinerascens, o uirapuruzinho Tyran- caso de araponga-do-horto Oxyruncus cristatus. A subespécie (“raça geo-
neutes stolzmanni, a maria-leque Onychorhynchus coronatus, o bico- gráfica”) presente em Carajás é Oxyruncus cristatus tocantinsi, cuja distri-
-chato-da-copa Tolmomyias assimilis, o verdinho-da-várzea Hylophilus buição abrange o sul do Pará, da margem direita do baixo Rio Tocantins
semicinereus, o japu-verde Psarocolius viridis, a pipira-de-bico-vermelho até a Serra dos Carajás. Trata-se de uma ave dependente de florestas úmi-
Lamprospiza melanoleuca, a saíra-de-bando Tangara mexicana, a saíra- das, sendo encontrada principalmente em florestas altas de terra firme.
-de-cabeça-azul Tangara cyanicollis, a polícia-do-mato Granatellus pelzel- A araponga-da-amazônia Procnias albus também é o
­ utra raridade ocorren-
ni e o gaturamo-do-norte Euphonia rufiventris. te na região, cuja subespécie Procnias albus wallacei é típica das florestas
de encostas das serras, embora sejam necessárias futuras pesquisas para
Outras aves ocorrem em partes mais restritas da Amazônia, como é o
se certificar se essa “raça geográfica” é, de fato, restrita à região de Carajás.
caso do jacupiranga Penelope pileata, do rapazinho-estriado-do-leste
Nystalus torridus, do pica-pau-barrado Celeus undatus, da curica-urubu Algumas espécies de aves são típicas de vegetações que crescem sobre
Pyrilia vulturina, do cantador-estriado Hypocnemis striata, do torom-do- substrato ferruginoso na região (cangas). Muitas ocorrem em vegetações
-pará Hylopezus paraensis, do arapaçu-de-listras-brancas-do-leste Lepi- abertas de outras regiões “não amazônicas”, principalmente a Caatinga e
docolaptes layardi, do puruchém Synallaxis cherriei, da cabeça-de-prata o Cerrado. Exemplos são: o inambu-chororó Crypturellus parvirostris, o ga-
Lepidothrix iris, do bacacu-preto Xipholena lamellipennis e da maria-pica- vião-de-rabo-branco Geranoaetus albicaudatus, o bacurau-tesoura Hydrop-
ça Poecilotriccus capitalis. Ressalta-se que sete espécies ocorrem exclusi- salis torquata, a choca-de-asa-vermelha Thamnophilus torquatus, o petrim
vamente entre os rios Xingu e Tocantins, a saber: jacamim-do-xingu Pso- Synallaxis frontalis, a estrelinha-preta Synallaxis scutata, o ferreirinho-relógio
phia interjecta, tiriba-do-xingu Pyrrhura anerythra, rendadinho-do-xingu Todirostrum cinereum, o sebinho-de-olho-de-ouro Hemitriccus margarita-
Willisornis vidua, arapaçu-barrado-do-xingu Dendrocolaptes retentus, ceiventer, a guaracava-de-topete-uniforme Elaenia cristata, a gralha-cancã
arapaçu-de-bico-curvo-do-xingu Campylorhamphus multostriatus, ara- Cyanocorax cyanopogon, o tico-tico Zonotrichia capensis e o canário-do-
paçu-do-carajás Xiphocolaptes carajaensis e arapaçu-de-loro-cinza Hyle- -mato Myiothlypis flaveola. Populações de algumas dessas espécies pare-
xetastes brigidai. Ademais, foram registradas três espécies que, embora cem estar isoladas nos platôs de Carajás, possivelmente representando
ocorram além da Amazônia, são restritas ao território brasileiro: a jandaia “estoques evolutivos” distintos dos ocorrentes na Caatinga e no Cerrado.
Aratinga jandaya, o flautim-marrom Schiffornis turdina e a gralha-cancã
Em termos de interação com a paisagem, podem-se dividir as espécies en-
Cyanocorax cyanopogon.
contradas no contexto local do Projeto N1 e N2 em três grandes grupos:
aves predominantemente associadas aos ambientes florestais, mais exigen-
tes em termos de recursos naturais, agrupando, localmente, a maior quan-
Você sabia que os grandes rios da Amazônia configuram barreiras geográficas para tidade das espécies ameaçadas de extinção; aves associadas aos ambientes
diversos grupos de animais, incluindo as aves? Tais barreiras dividem o bioma em dis-
abertos naturais, como os campos rupestres ferruginosos, algumas podendo
tintas “Amazônias” ao longo de toda sua extensão e isolam populações de algumas
espécies, impossibilitando a dispersão, podendo torná-las mais vulneráveis. Ressalta- configurar, devido ao isolamento, subespécies restritas ao domínio amazô-
-se, portanto, a necessidade de conservação dos ambientes naturais ao longo de toda nico e com alto interesse conservacionista para a região; e aves associadas a
a Amazônia, sobretudo na região do “arco do desmatamento”, onde se insere Carajás,
como já ocorre na Flona de Carajás e em outras unidades de conservação existentes áreas úmidas e/ou ambientes alterados, que tendem a ser menos exigentes
na região. quanto aos recursos naturais, porém, especialmente nas áreas úmidas e/ou
alagadiças, observam-se pontos de passagem de espécies migratórias.
116 Aves

A elevada riqueza de aves encontrada na região deve-se a uma conjunção


de fatores, entre os quais se destacam a alta diversidade de ambientes e o
volume de pesquisas. Além de ser alvo de inúmeros estudos ambientais
no âmbito do licenciamento de empreendimentos e monitoramentos de
impactos provenientes deles, a Serra dos Carajás passou a ser visitada por
grupos de observadores de aves, oferecendo fácil acesso e boa infraes-
trutura. Por esses motivos, a região de Carajás pode ser considerada uma 2 6

das áreas mais ricas em aves do mundo e uma das mais bem conhecidas
da Amazônia.

Guia
fotográfico
3 7

4 8

1. Progne chalybea (andorinha-grande).


Foto: Marcelo Vasconcelos
2. Dryocopus lineatus (pica-pau-de-banda-
-branca). Foto: Gustavo Gonsioroski
3. Pteroglossus inscriptus (araçari-de-bico-
-riscado). Foto: Diego Petrocchi
4. Rupornis magnirostris (gavião-carijó).
Foto: Gustavo Gonsioroski
5. Synallaxis albescens (uí-pi).
Foto: Gustavo Gonsioroski
6. Tigrisoma lineatum (socó-boi). Foto: SETE
7. Vanellus chilensis (quero-quero). Foto:
Marcelo Vasconcelos
8. Xiphorhynchus guttatoides (arapaçu-de-
-lafresnaye). Foto: Gustavo Gonsioroski
1 5
Foto: João Marcos Rosa

Foto: Diego Petrocchi


Espécie: Ara chloropterus

Nome popular: Arara-vermelha-grande


Família: Psittacidae
Atividade: Diurna
Peso corporal: ~ 90 cm
Hábitat: Coqueirais, buritizais, dossel de
florestas, matas de galeria e áreas abertas
com árvores isoladas
Distribuição: Ocorre desde a Amazônia
brasileira até os estados do Espírito Santo,
Rio de Janeiro e Paraná e em outros
países como Panamá, Colômbia, Bolívia,
Venezuela e Argentina.
Curiosidades: Seu nome científico tem
origens do tupi (ara = papagaio) e do
grego (khlöros = verde ou amarelo e
pteros/pteron = asa). Quando traduzido,
tem-se algo como “papagaio de asa verde”.

Foto: Marcelo Vasconcelos


Espécie: Buteo nitidus

Nome popular: Gavião-pedrês


Família: Accipitridae
Atividade: Diurna
Peso corporal: Altura - entre 44 e 60cm /
Envergadura - entre 75 e 94 cm
Hábitat: Florestas, bordas de florestas,
cerrados e campos
Distribuição: Ocorre desde o sul dos
Estados Unidos até a Argentina.
Curiosidades: É uma espécie que espreita
por suas presas empoleirada ou
planando. Também tem a capacidade
de caçar dentro de florestas.

Espécie: Anodorhynchus hyacinthinus

Nome popular: Arara-azul


Família: Psittacidae
Atividade: Diurna
Peso corporal: ~ 98 cm
Hábitat: Buritizais, matas ciliares e cerrado
adjacente
Distribuição: Ocorre especialmente no Brasil,
do Mato Grosso do Sul ao Amapá, passando
pelo Mato Grosso, norte de Minas Gerais,
Goiás, leste da Bahia, Tocantins, sul do Piauí,
Maranhão e Pará. Presente também na Bolívia
(divisa com o Brasil) e no norte do Paraguai.
Curiosidades: A arara-azul é conhecida como a
gigante entre as araras, sendo considerada,
mundialmente, a maior representante de
toda sua família. Sofre com a captura para o
tráfico ilegal, porém não comprovada na área
do Projeto N1 e N2.
Foto: Ana Yoko Ykeuti Meiga
Espécie: Cathartes caura Espécie: Penelope pileata

Nome popular: Urubu-de-cabeça-vermelha Nome popular: Jacupiranga


Família: Cathartidae Família: Cracidae
Atividade: Diurna Atividade: Diurna
Peso corporal: Entre 62 e 81 cm Peso corporal: Entre 75 e 82 cm
Hábitat: Áreas campestres e florestais Hábitat: Florestas de terra firme
Distribuição: Ocorre do sul do Canadá até os pouco perturbadas
países da América do Sul. Distribuição: Exclusivamente
Curiosidades: Possui excelente olfato para brasileira. Dos baixos Rios
localizar cadáveres de animais. Dorme em Madeira e Xingu ao leste do Pará,
grupos de dezenas de indivíduos, muitas Maranhão e Tocantins.
­vezes associados a outras espécies de urubus.
Foto: Gustavo Gonsioroski
Foto: Ana Yoko Ykeuti Meiga

Espécie: Crax fasciolata Espécie: Deroptyus accipitrinus

Nome popular: Mutum-de-penacho Nome popular: Anacã


Família: Cracidae Família: Psittacidae
Atividade: Diurna Atividade: Diurna
Peso corporal: ~ 83 cm Peso corporal: 35 cm
Hábitat: Florestas de galeria e bordas de florestas Hábitat: Matas e bordas de matas
mais densas Distribuição: Presente em toda
Distribuição: Presente nas regiões ao sul do Rio a Amazônia brasileira, sul da
Amazonas, entre o Rio Tapajós e o Maranhão, Venezuela, nordeste do Equador,
alcançando do Brasil central até o oeste de São Peru e Guianas.
Paulo, Paraná e Minas Gerais. Pode ser encontrada Curiosidades: Alimenta-se de
também na Bolívia, Paraguai e Argentina. frutos, sementes e flores e é uma
Curiosidades: O macho é predominantemente das poucas representantes da
negro com região ventral branca e as retrizes família que apresentam um belo
externas com pontas esbranquiçadas. A fêmea, penacho colorido.
aqui ilustrada, apresenta padrão mais complexo
de coloração, com as partes superiores e cauda
barradas de branco (com ponta branca), crista
branca com ponta negra e barriga ocre.

Foto: Ana Yoko Ykeuti Meiga


Foto: Marcelo Vasconcelos

Espécie: Zonotrichia capensis

Nome popular: Tico-tico


Família: Passerellidae
Atividade: Diurna
Peso corporal: 15 cm
Hábitat: Áreas abertas
Distribuição: Espécie abundante
em todas as regiões do país, em
boa parte da América do Sul e
no México e Panamá.
Foto: Karine Santos

Foto: Marcelo Vasconcelos


Espécie: Psophia interjecta

Nome popular: Jacamim-do-xingu


Família: Psophiidae
Atividade: Diurna
Peso corporal: Entre 45 e 52 cm
Hábitat: Florestas densas de várzea
Distribuição: Exclusiva da
Amazônia brasileira, entre os rios
Xingu e Tocantins.
Foto: Marcelo Vasconcelos

Espécie: Tringa solitaria

Nome popular: Maçarico-solitário


Família: Scolopacidae Espécie: Sturnella militaris
Atividade: Diurna
Peso corporal: 18 cm Nome popular: Polícia-inglesa-do-norte
Hábitat: Beira d’água Família: Icteridae
Distribuição: Todo o continente Atividade: Diurna
americano. Peso corporal: 22,5 cm
Curiosidades: É uma espécie que se Hábitat: Campos secos de gramíneas e de cultivo
reproduz na América do Norte e migra Distribuição: Presente nas áreas abertas de
para todas as regiões compreendidas praticamente toda a região amazônica, podendo
entre o México e a Argentina. ser encontrada também da Costa Rica ao Panamá.
Foto: Leandro Drummond

Anfíbios
Foto: Leandro Drummond Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 129

Anfíbios Felipe Sá Fortes Leite


Raphael Costa Leite de Lima
Larissa Ferreira de Arruda

Os anfíbios foram o primeiro grupo de vertebrados a conquistar o ambiente


terrestre, há cerca de 370 milhões de anos. Entretanto, esses animais não
conseguiram abandonar por completo a sua dependência do ambien-
te aquático. Assim, a maioria das espécies de anfíbios apresenta uma fase
larval aquática, na qual são chamados de girinos, chegando à fase adulta
como animais terrestres. Vem daí a definição da palavra anfíbio (do latim
­Amphibia), que é a junção dos termos amphi, que significa “dupla; ambos”, e
bio, referente a “vida”.

As mais de 8.100 espécies de anfíbios catalogadas no mundo estão divididas


em três ordens, Caudata (salamandras e tritões), Gymnophiona (cecílias ou
cobras-cegas) e Anura (sapos, rãs, jias e pererecas ou simplesmente anuros).

As salamandras (Ordem Caudata) possuem corpo alongado, membros cur-


tos e cauda bem desenvolvida. Apresentam hábitos principalmente notur-
nos, ocupando ambientes terrestres. No Brasil são conhecidas apenas cinco
espécies de salamandras, todas distribuídas na Amazônia, mas sem ocorrên-
cia conhecida em Carajás.

As cecílias ou cobras-cegas (Ordem Gymnophiona) são animais que se as-


semelham a grandes minhocas, de corpo alongado, olhos reduzidos e sem
Osteocephalus membros locomotores. A maioria das cerca de 40 espécies brasileiras vive no
taurinus (Perereca)
solo, em galerias subterrâneas, e por isso são pouco encontradas e conheci-
das pela maioria das pessoas.
130 Anfíbios Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 131

Os anuros (Ordem Anura) são o grupo de anfíbios mais diversificado, fá- Durante a época reprodutiva, geralmente concentrada no início da estação
cil de encontrar e popularmente conhecido. Cerca de 90% das espécies chuvosa, os anuros machos coaxam para atrair as fêmeas das suas respec-
de anfíbios do mundo são anuros. Os anuros adultos não possuem cor- tivas espécies. Cada espécie possui um canto distinto da outra, chamado
po alongado nem cauda, apresentando pernas normalmente longas e espécie-específico. Há espécies que, inclusive, são tão parecidas morfolo-
adaptadas ao salto. Os nomes comuns desses animais (sapos, rãs, jias e gicamente que só podem ser diferenciadas por meio do canto. Machos
pererecas) escondem uma enorme variedade de grupos. O nome sapo, podem se agrupar para “cantar” próximos a áreas alagadas formando coros
por exemplo, pode ser utilizado para se referir genericamente a qual- com centenas ou até milhares de indivíduos reunidos.
quer anuro, mas geralmente um típico sapo possui pele seca de aspecto
Os anfíbios possuem um importante papel na dinâmica dos nutrientes,
verrugoso e hábito terrestre, características bem representadas por in-
promovendo a ciclagem do fluxo de energia entre os sistemas terrestres e
tegrantes das famílias Bufonidae e Odontophrynidae. As pererecas pos-
aquáticos, além de exercerem uma função fundamental no controle das po-
suem a pele lisa e presença de discos adesivos, como se fossem ventosas,
pulações de insetos e de outros invertebrados, que constituem os principais
na ponta dos dedos, o que dá a elas a capacidade de “escalar”, habilidade
itens de sua dieta. São ainda especialmente suscetíveis a alterações ambien-
não observada em sapos e rãs. As espécies das famílias Hylidae, Phyllo-
tais, pois sua pele permeável é muito vulnerável a poluentes químicos e à
medusidae e Centrolenidae representam bem o arquétipo de uma pere-
radiação, e seu complexo ciclo de vida os expõe a distúrbios tanto no meio
reca. As rãs ou jias (restritas às espécies normalmente utilizadas para ali-
aquático (fase larval) quanto no meio terrestre (fase adulta).
mentação) também possuem pele lisa e normalmente patas posteriores
maiores e mais fortes quando comparadas a outros anuros e por isso são
exímias saltadoras. A família Leptodactylidae representa muito bem o
que se conhece popularmente como uma rã. Entretanto, muitas espécies Você sabia que os anfíbios possuem em sua pele uma grande e pouco conhecida variedade
possuem combinações de características que não permitem enquadrá- de substâncias químicas, uma farmacopeia com grande potencial para o descobrimento de
antibióticos e outros medicamentos?
-las facilmente em uma dessas categorias (sapos, rãs, jias e pererecas) e
outras, por não serem frequentemente avistadas pela comunidade local,
não possuem nome popular.

Essas características fazem dos anfíbios um dos mais interessantes gru-


Os girinos, presentes na maioria das espécies de anuros, respiram através
pos de vertebrados, intrigando pesquisadores e atraindo cada vez mais
de brânquias, assim como os peixes, alimentando-se de algas, microrganis-
interessados em conhecer a sua diversidade de formas, modos reprodu-
mos, detritos, ovos de anfíbios ou até mesmo de outros girinos. Esse está-
tivos e cantos.
gio larval passa por um surpreendente processo chamado metamorfose,
em que ocorre o desenvolvimento das patas, mudanças no aparelho bucal,
desenvolvimento dos pulmões e a perda da cauda, possibilitando assim
sua transição para o ambiente terrestre. Os adultos apresentam hábitos ter-
Os Anfíbios da Flona de Carajás, Serra Norte
restres, semiaquáticos ou mesmo aquáticos, alimentam-se principalmente
de outros animais e respiram através da pele e pulmões. A respiração cutâ-
O Brasil é o país com a maior riqueza de espécies de anfíbios do mundo,
nea só é possível devido à pele altamente permeável desses animais, que
onde são reconhecidas mais de 1.130 espécies. Na Amazônia brasileira
permite a ocorrência de trocas gasosas, mas que, porém, os deixam mais
ocorrem cerca de 250 espécies de anfíbios, sendo a grande maioria anu-
suscetíveis à desidratação, o que justifica sua dependência da água ou de
ros, ou seja, sapos, rãs, jias ou pererecas. Entretanto, esses números são
ambientes úmidos e seus hábitos principalmente noturnos.
provisórios e certamente subestimados, visto que a fauna de anfíbios da
132 Anfíbios Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 133

Amazônia ainda é pouco conhecida, sendo comum a descrição de novas Osteocephalus oophagus, a rãzinha-listrada Lithodytes lineatus, a rãzinha-
espécies pela ciência. -da-mata Chiasmocleis avilapiresae e o sapo-verrugoso Proceratophrys
concavitympanum. ­Outras espécies preferem ambientes abertos como
Na Floresta Nacional de Carajás, área onde está inserida a Serra Norte, são
os campos rupestres sobre canga (vegetação dominada por capins e ar-
conhecidas 66 espécies de anfíbios. Na Serra Norte, mais especificamente
bustos que crescem sobre afloramentos rochosos de minério de ferro), a
na região do Projeto N1 e N2, foram registradas 46 espécies de anfíbios.
exemplo do sapo-venenoso-de-Lutz Ameerega aff. flavopicta.
Desse total, 45 espécies são sapos, rãs, jias ou pererecas. Microcaecilia taylo-
ri foi a única cecília registrada. Assim como na maioria dos locais de regiões A maioria das espécies deposita seus ovos diretamente em ambientes
tropicais das Américas, as famílias com o maior número de espécies foram aquáticos, seja em igarapés, em pequenos riachos de água corrente, seja
Hylidae e Leptodactylidae, representando juntas mais da metade da rique- em poças, brejos e lagoas de água parada. Outras espécies depositam
za total da fauna de anfíbios do Projeto N1 e N2. suas desovas em folhas localizadas sobre a lâmina d’água, como as pere-
recas-macaco Phyllomedusa bicolor, Phyllomedusa vaillantii e Pithecopus
A riqueza de espécies do Projeto N1 e N2 pode ser considerada alta e é
hypochondrialis. Assim, depois que saem dos ovos, os girinos pingam no
compatível com o alto grau de preservação da área e elevada diversida-
corpo d’água. Já o sapinho-enfermeiro Allobates carajas deposita seus ovos
de de hábitats. Apesar de tamanha riqueza, uma considerável parcela
em ambiente terrestre e transporta os girinos nas costas até o ambiente
dessas espécies permanece pouco conhecida no que diz respeito à sua
aquático. Outras espécies possuem desenvolvimento direto, ou seja, dos
taxonomia, distribuição geográfica e biologia. Nove espécies, por exem-
ovos eclodem pequenos sapinhos já formados (com as quatro patas), sem
plo, não puderam ser identificadas até o nível específico, ilustrando bem
passar pelo estágio larval aquático (girinos), como a rã-da-mata P­ ristimantis
o quanto ainda precisamos estudar os anfíbios da região.
­fenestratus, que deposita seus ovos no folhiço úmido. O sapo-pipa Pipa
­arrabali, uma espécie totalmente aquática, incuba seus ovos na pele do seu
A maioria das espécies, mais da metade, possui distribuição geográfica res-
próprio dorso, até a eclosão dos filhotes.
trita ou com maior parte inserida na Amazônia, a exemplo das espécies tipi-
camente amazônicas Rhaebo guttatus (sapo-cururu), Dendropsophus leuco-
phyllatus (perereca) e Leptodactylus paraensis (rã-pimenta). Outras espécies,
como as comuns e amplamente distribuídas Rhinella marina (sapo-cururu),
Dendropsophus minutus (pererequinha-do-brejo), Trachycephalus typhonius
(perereca-grudenta) e Leptodactylus fuscus (rã-assobiadora), ocorrem em
dois ou mais biomas. Por outro lado, o sapo-granuloso Rhinella mirandari-
beiroi e a rãzinha-da-canga Pseudopaludicola canga possuem distribuição
geográfica restrita ao Cerrado e seus enclaves amazônicos. Já o sapinho-en-
fermeiro Allobates carajas é endêmico da Serra de Carajás, o que quer dizer
que só ocorre nessa região.

Da mesma maneira, mais da metade das espécies ocorre e se reproduz


exclusivamente em ambientes florestais, florestas úmidas (ombrófi-
las), florestas com o predomínio de palmeiras como o açaí e a buritira-
ma e capões de mata estacional (um pouco mais secas), por exemplo, o
­sapo-folha ­Rhinella gr. margaritifera, a perereca Boana boans, a ­perereca
134 Anfíbios

Foto: Leandro Drummond


Guia
fotográfico

Muitas vezes, a identificação correta de uma espécie de anfíbio é uma ta-


refa difícil até mesmo para um especialista. Entretanto, o primeiro passo
para uma boa identificação é observar bem e tomar nota de características
Espécie: Rhinella gr. margaritifera
relacionadas ao tamanho, coloração do dorso, ventre e partes ocultas das
Nome popular: Sapo-folha
coxas. É também importante verificar a presença ou não de ventosas na Família: Bufonidae
Atividade: Diurna e noturna
ponta dos dedos, textura da pele, forma da cabeça, comprimento relativo Comprimento: > 3 cm < 8 cm
Hábitat: Floresta
dos membros, presença de ornamentações como apêndices e tubérculos, Distribuição: Desconhecida por se tratar de
uma espécie ainda não identificada. O grupo
de espécies de Rhinella margaritifera, no qual
de glândulas destacadas, entre outras. a espécie está inserida, ocorre na Amazônia
brasileira, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana
Francesa, Guiana, Panama, Surinami e Venezuela
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond


Espécie: Rhaebo guttatus

Nome popular: sapo-dourado


Família: Bufonidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 10 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira,
Bolívia, Peru, Equador, Colômbia
e Venezuela, além das Guianas
Hábito: Terrícola

Espécie: Rhinella marina

Nome popular: Sapo-cururu, sapo-boi


Família: Bufonidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 9 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Ampla, a leste dos Andes em áreas
da Amazônia (Brasil, Colômbia, Peru e Bolívia),
incluindo as Guianas até o Brasil Central
Hábito: Terrícola
Espécie: Elachistocleis cf. carvalhoi

Nome popular: Rãzinha


Família: Microhylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 5 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Desconhecida por se
tratar de uma espécie que precisa
ter sua identidade confirmada. A
espécie Elachistocleis carvalhoi é
conhecida no Tocantins e Pará.
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond
Foto: Caroline Angri
Espécie: Rhinella mirandaribeiroi

Nome popular: Sapo-granuloso


Família: Bufonidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 4 cm < 8 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Cerrado e seus enclaves
na Amazônia
Hábito: Terrícola

Espécie: Ameerega aff. flavopicta

Nome popular: Sapo-venenoso-de-Lutz


Família: Dendrobatidae
Foto: Leandro Drummond

Atividade: Diurna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Desconhecida por se tratar de
uma espécie potencialmente nova ainda não
descrita pela ciência. A espécie A. flavopicta
ocorre em áreas do Cerrado brasileiro
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond

Espécie: Adenomera sp.


Espécie: Leptodactylus mystaceus
Nome popular: Rãzinha-do-folhiço
Família: Leptodactylidae Nome popular: Rã, caçote
Atividade: Diurna, Noturna Família: Leptodactylidae
Comprimento: < 3 cm Atividade: Noturna
Hábitat: Floresta Comprimento: > 4 cm < 7 cm
Distribuição: Desconhecida por se Hábitat: Floresta
tratar de uma espécie ainda não Distribuição: Ampla distribuição no
identificada. O gênero Adenomera Brasil. Ocorre também na Bolívia,
ocorre por toda a América do Sul à Peru, Equador, Colômbia, Venezuela
leste dos Andes e Guianas
Hábito: Terrícola Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Pristimantis fenestratus

Nome popular: Rã-da-mata


Família: Craugastoridae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 2 cm < 6 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira,
Peru, Bolívia, Equador, Colômbia
Hábito: Terrícola e arborícola
Espécie: Dendropsophus gr. microcephalus

Nome popular: Perereca


Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Desconhecida por se tratar de
uma espécie ainda não identificada, estando
o grupo de D. microcephalus bem distribuído
por toda as Américas do Sul e Central
Hábito: Arborícola

Espécie: Boana cinerascens

Nome popular: Perereca


Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond


Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 3 cm < 5 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira,
Guianas, Colômbia, Venezuela,
Equador, Peru, Bolívia
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond


Espécie: Allobates carajas

Nome popular: Sapinho-enfermeiro


Família: Aromobatidae
Atividade: Diurna
Comprimento: < 2 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Endêmico de Carajás
Hábito: Terrícola

Espécie: Dendropsophus leucophyllatus

Nome popular: Perereca


Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Amazônia brasileira, Guianas,
Colômbia, Equador, Peru e Bolívia
Hábito: Arborícola
Espécie: Boana boans

Nome popular: Perereca-gladiadora;


sapo-canoeiro
Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 8 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Ampla, ocorrendo
nas bacias dos rios Amazonas,
Orinoco e Magdalena, Guianas,
nas baixadas do Pacífico na
Colômbia e Equador, no Panamá
e Trindade e Tobago.
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond
Foto: Leandro Drummond
Espécie: Dendropsophus minutus

Nome popular: Pererequinha-do-brejo


Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 3 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Ampla, a leste dos Andes
desde a Colômbia, Venezuela, Guianas,
Trindade, Equador, Peru, Bolívia, Brasil,
Paraguai, Uruguai e Argentina
Hábito: Arborícola

Espécie: Scinax boesemani

Nome popular: Perereca


Foto: Leandro Drummond

Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Amazônia
brasileira, Venezuela, Guiana,
Suriname, Guiana Francesa
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Scinax fuscomarginatus

Nome popular: Perereca


Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 3 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Ampla, no sul, centro
e norte do Brasil, Bolívia, Paraguai,
Argentina, Venezuela, Guiana
e Suriname
Hábito: Arborícola

Espécie: Osteocephalus taurinus

Nome popular: Perereca


Família: Hylidae
Foto: Leandro Drummond

Atividade: Noturna
Comprimento: > 7 cm < 11 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Ampla, ocorrendo na
bacia amazônica do Equador, Brasil,
Bolívia, Peru, bem como no alto rio
Orinoco da Venezuela e Guianas
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Leptodactylus fuscus

Nome popular: Rã-assobiadora


Família: Leptodactylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 4 cm < 6 cm
Hábitat: Área aberta
Distribuição: Ampla, em áreas
abertas desde o Panamá até
a Argentina, sempre a leste
dos Andes
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond


Espécie: Leptodactylus petersii
Espécie: Leptodactylus paraensis
Nome popular: Rã, caçote
Nome popular: Rã-pimenta, rã-do-Pará, jia Família: Leptodactylidae
Família: Leptodactylidae Atividade: Noturna
Atividade: Noturna Comprimento: > 3 cm < 5 cm
Comprimento: > 10 cm Hábitat: Área aberta
Hábitat: Área aberta, Floresta Distribuição: Ampla, na Amazônia e Cerrado
Distribuição: Amazônia brasileira brasileiros, Equador, Bolívia e Guianas
Hábito: Terrícola Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond

Espécie: Scinax sp.

Nome popular: Perereca, raspa-cuia


Família: Hylidae Espécie: Leptodactylus rhodomystax
Atividade: Noturna
Comprimento: < 5 cm Nome popular: Rã, caçote
Hábitat: Área aberta, Floresta Família: Leptodactylidae
Distribuição: Desconhecida por se Atividade: Noturna
tratar de uma espécie ainda não Comprimento: > 6 cm < 9 cm
identificada. O gênero Scinax Hábitat: Floresta
possui ampla distribuição e ocorre Distribuição: Amazônia brasileira,
desde o México até a Argentina Colômbia, Guianas, Equador, Peru, Bolívia
Hábito: Arborícola Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Leptodactylus pentadactylus

Nome popular: Rã-pimenta, jia


Família: Leptodactylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 10 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira,
Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia,
Guiana, Suriname e Guiana Francesa
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Chiasmocleis avilapiresae

Nome popular: Rãzinha-da-mata


Família: Microhylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 5 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Proceratophrys concavitympanum

Nome popular: Sapo-verrugoso


Família: Odontophrynidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 3 cm < 7 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Pipa arrabali

Nome popular: Sapo-pipa


Família: Pipidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 2 cm < 7 cm
Hábitat: Floresta
Distribuição: Ampla. Ocorre nas regiões
centro, norte e oeste do Brasil, além
da Guiana, Suriname e Venezuela
Hábito: Aquático
Espécie: Lithodytes lineatus Espécie: Pseudopaludicola canga

Nome popular: Rãzinha-listrada Nome popular: Rãzinha-da-canga


Família: Leptodactylidae Família: Leptodactylidae
Atividade: Noturna Atividade: Diurna, Noturna
Comprimento: > 3 cm < 6 cm Comprimento: < 3 cm
Hábitat: Floresta Hábitat: Área aberta
Distribuição: Amazônia Distribuição: Cerrado e seus enclaves
brasileira, Venezuela, Bolívia na Amazônia
Hábito: Terrícola Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond


Foto: Leandro Drummond

Foto: Leandro Drummond


Espécie: Pithecopus hypochondrialis

Nome popular: Perereca-das-folhagens;


perereca-macaco
Família: Phyllomedusidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 3 cm < 5 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira e
áreas de transição com o Cerrado,
Colômbia, Venezuela, Guianas
Hábito: Arborícola

Espécie: Physalaemus ephippifer

Nome popular: Rãzinha


Família: Leptodactylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: < 4 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Amazônia brasileira,
Venezuela, Guiana e Suriname
Hábito: Terrícola
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Boana multifasciata

Nome popular: Perereca


Família: Hylidae
Atividade: Noturna
Comprimento: > 5 cm < 8 cm
Hábitat: Área aberta, Floresta
Distribuição: Ampla, desde a
Venezuela, passando pelas
Guianas até os estados do
Ceará e Goiás, no Brasil
Hábito: Arborícola
Foto: Leandro Drummond

Répteis
Foto: Jussara Dayrell Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 167

Répteis Jussara Santos Dayrell


Larissa Ferreira de Arruda
Raphael Costa Leite de Lima
Felipe Sá Fortes Leite

A palavra réptil vem do latim e significa “o que se arrasta”, pois muitas das
espécies desse grupo se locomovem rastejando. Os répteis possuem a pele
queratinizada, já que seu corpo é revestido por uma camada mais espessa
e impermeável, recoberto externamente por escamas epidérmicas. Alguns
também possuem placas ósseas abaixo dessas escamas (chamadas osteo-
dermas). No Brasil, os répteis são divididos em três grupos:

Testudines – Quelônios, também chamados de tartarugas, cágados, jabutis


e tracajás: são animais que possuem um casco em volta do corpo, unidos
com aberturas para a saída da cabeça, cauda e membros.

Crocodylia – Jacarés e crocodilos: animais de corpo alongado e revestido


por placas córneas que recobrem as placas ósseas nas costas dos animais.
Vivem apenas em regiões quentes e aqui no Brasil são encontrados em rios
e lagos de água doce.

Squamata - Lagartos, serpentes e anfisbenas: é o grupo mais diverso e abun-


dante, sendo sua principal característica o corpo recoberto por escamas e a
língua bifurcada.

A temperatura do corpo dos répteis varia de acordo com a temperatura do


ambiente em que estão, dependendo de uma fonte de calor externa para

Leptophis ahaetulla
aumentar a temperatura, como o sol. Assim, quando está frio, o corpo apre-
(Brasileirinha) senta uma temperatura baixa e, ao esquentar, ele também se aquece. Por
168 Répteis Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 169

isso esses animais usam algumas estratégias, como se expor ao sol quando Os lagartos são extremamente diversos e popularmente conhecidos como
o dia está frio e se proteger em lugares sombreados ou na água quando a lagartixas, calangos, teiús, iguanas e camaleões. Possuem cauda longa e
temperatura está muito alta. geralmente quatro patas. Eles ocupam diversos ambientes e podem ser
arborícolas (habitam a vegetação), terrícolas (habitam o chão), fossoriais
Os quelônios e crocodilianos constituem um grupo de interesse especial na
(galerias no subsolo) e semiaquáticos (habitando tanto a água quanto a
região amazônica, pela sua importância histórica na cultura e na alimenta-
terra). A grande maioria é onívora, ou seja, alimenta-se tanto de outros
ção de índios e ribeirinhos. As espécies de quelônios e jacarés sofrem, regio-
animais quanto de plantas e frutos.
nalmente, forte pressão devido à caça e comercialização de carnes e ovos.

As anfisbenas ou cobra-de-duas-cabeças são confundidas com as serpentes


por possuírem o corpo alongado e sem patas, apresentando a cauda curta Você sabia que a autotomia caudal é um comportamento de defesa contra predadores
e arredondada. Costumam viver enterradas no solo ou embaixo de troncos em que alguns répteis perdem propositalmente parte da própria cauda? A parte ampu-
tada continua se movimentando durante alguns minutos após a separação, o que atrai a
de árvores. É confuso descobrir qual das extremidades é a cabeça porque
atenção do predador e, enquanto isso, o animal aproveita para escapar. Algumas espécies
os olhos são pequenos e a cauda é também arredondada (foto 14). Quando de lagartos e serpentes possuem esse comportamento, mas, ao contrário dos lagartos, as
ameaçados, esses animais assumem uma posição defensiva, na qual levantam cobras não regeneram a cauda amputada (fotos 15 e 16).

tanto a cabeça como a cauda, de forma a confundir e intimidar o predador.


Foto: Raphael Lima

Foto: Igor Yuri Fernandes


Foto 14: Indivíduo adulto de Amphisbaena alba Foto 15: Autotomia de Gonatodes humeralis (lagartixa-da-amazônia).
(cobra-de-duas-cabeças) em posição defensiva.
170 Répteis Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 171

Foto: Alexander Tamanini Monico


As espécies de serpentes peçonhentas, aqui representadas principal-
mente pelas espécies das famílias Viperidae (cascavel, jararaca e suru-
cucu) e Elapidae (corais verdadeiras), merecem atenção especial, já que
podem representar algum perigo para as pessoas, com importantes
implicações sociais e de interesse para a saúde pública. A principal cau-
sadora de acidentes ofídicos ou envenenamento por picada de cobra
na Amazônia é a jararaca-do-norte Bothrops atrox, cujas populações au-
mentam em ambientes alterados pelo próprio homem. Cerca de 90%
dos acidentes ofídicos no Brasil são atribuídos a esse gênero de ser-
pente. Por outro lado, acidentes com cobras-corais são raros devido aos
seus hábitos fossoriais (adaptadas a cavar e a viver debaixo do solo) e à
localização de suas presas no fundo da boca, que dificulta a inoculação
do veneno nos seres humanos.

Foto 16: Autotomia de Chironius carinatus (cobra-cipó). Fui picado, e agora? As serpentes são animais bastante mistificados, citados em diversos
contos e lendas. Quando o assunto é acidente por picada de cobra, não é diferente: são
muitos os mitos. Muitas vezes, baseando-se nessas crenças populares, a vítima é orientada
erroneamente a realizar procedimentos como utilizar esterco, fumo, querosene ou urina no
local da picada, ingerir bebidas alcoólicas ou poções de cura, fazer cortes e torniquetes na
região do ferimento.
As serpentes são animais de corpo alongado, patas anteriores e posterio-
Alguns desses procedimentos podem inclusive potencializar a ação do veneno ou mesmo
res ausentes, com cauda comprida. Não possuem pálpebras, então não confundir o médico em um futuro diagnóstico e tratamento. Por isso, em caso de aciden-
conseguem fechar os olhos. Uma característica interessante das cobras é te, não só com serpente, mas envolvendo qualquer tipo de animal peçonhento no geral,
recomenda-se sempre: lavar o local da picada apenas com água corrente, manter a vítima
a capacidade de deslocar a mandíbula para engolir presas muito maiores
calma, o local da picada preferencialmente mais alto em relação ao restante do corpo (por
do que elas próprias. exemplo, no caso de picadas em braços e pernas) e encaminhá-la para o atendimento mé-
dico o mais rápido possível.

Você saberia dizer a diferença entre animais venenosos e animais peçonhentos? Animais pe-
çonhentos são aqueles que, além de produzir substâncias tóxicas, possuem a capacidade de Os répteis estão presentes em quase todos os ambientes amazônicos pos-
inocular o veneno em suas vítimas por meio de presas, quelíceras ou ferrões. Os exemplos
mais famosos são as serpentes das famílias Viperidade e Elapidae, mas é também o caso de suindo hábitos terrestres, subterrâneos, aquáticos ou arborícolas. A fauna
outros animais como algumas espécies de aranhas, escorpiões e abelhas. Por sua vez, os ani- reptiliana é composta principalmente por espécies predadoras e, por isso,
mais venenosos, embora também produzam toxinas, não são capazes de injetá-las em suas
exerce papel-chave no funcionamento do ecossistema, controlando po-
presas, normalmente usando-as como defesa contra predadores. Várias espécies de sapo,
entre elas o sapo-cururu e os sapinhos coloridos da família Dendrobatidae (­sapos-flecha), pulações de suas presas que vão desde invertebrados, como minhocas,
podem causar casos graves de envenenamento se ingeridos ou em contato com mucosas lesmas, insetos, aranhas e centopeias, até vertebrados, como peixes, sapos,
(olhos e boca, por exemplo) ou com sangue (em casos de ferimentos, por exemplo).
outros répteis, aves e mamíferos (foto 17).
172 Répteis Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 173

Foto: Jussara Dayrell


Os Répteis da Flona de Carajás, Serra Norte

O Brasil é o terceiro país com o maior número de espécies de répteis no


mundo, atrás apenas do México e da Austrália, contando atualmente com
quase 800 espécies. A grande maioria dessas espécies é de serpentes, que
representam pouco mais da metade dessa riqueza, seguida dos lagartos,
que constituem cerca de um terço desse total. Boa parte dessas espécies
é encontrada na Amazônia, região de grande biodiversidade e ainda pou-
co conhecida quanto a sua fauna de répteis. Não obstante, novas espécies
de répteis amazônicos têm sido constantemente descobertas e descritas.
No bioma em questão, o estado do Pará se destaca por abrigar elevada
­riqueza de répteis, sendo o segundo estado do Brasil com o maior número
de espécies. São ao todo cinco espécies de crocodilianos, 23 de quelônios
(18 de água doce), 153 de serpentes, 82 de lagartos e 13 de anfisbenas.

Na Flona de Carajás são conhecidas 129 espécies de répteis, sendo oito


quelônios, três jacarés, cinco anfisbenas, 38 lagartos e 75 serpentes. Na
região do Projeto N1 e N2, inserida na Serra Norte, foram registradas 85
espécies de répteis. O grupo dos jacarés é representado por duas espé-
Foto 17: Cercosaura eigenmanni (Lagarto) cies da única família conhecida no Brasil (Alligatoridae) e são o jacaré-
se alimentando de uma espécie de aranha.
-tinga (Caiman crocodilus) e jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus). Já para
os quelônios (Testudines), foram encontradas seis espécies, entre elas o
jabuti-piranga (Chelonoidis carbonarius). Por fim, para o grupo dos répteis
escamados (Squamata) foram registradas três espécies de cobras-de-duas-
-cabeças (anfisbenas), 25 lagartos e 49 de serpentes.
Os jacarés e as serpentes de grande porte, por exemplo, são predadores
de topo e se alimentam de uma grande diversidade de vertebrados e
Dessas espécies, quatro se encontram listadas como vulneráveis (VU) na
invertebrados.
Lista Estadual de Espécies Ameaçadas do Pará (COEMA, 2007): C
­ olobosaura
modesta (calango); Salvator merianae (teiú); Chironius flavolineatus (cobra-
Por outro lado, algumas espécies possuem dietas mais especializadas, como
-cipó) e Pseudoboa nigra (cobra-preta). Apesar disso, no geral são espécies
a serpente Drepanoides anomalus (falsa-coral), que se alimenta exclusiva-
com ampla distribuição geográfica. Por sua vez, C. modesta tem distribui-
mente de ovos de lagartos. Ao contrário, muitas espécies de lagartos se ali-
ção mais restrita, sendo encontrada somente em domínios do Cerrado e
mentam principalmente de invertebrados e tendem a ser generalistas ou
em enclaves de Cerrado na Amazônia.
oportunistas, ingerindo animais que estejam disponíveis em seu hábitat,
que sejam mais palatáveis e caibam em sua boca. No entanto, algumas es-
pécies podem ter dieta mais especializada como o lagarto Plica umbra, que
se alimenta predominantemente de formigas.
174 Répteis

Foto: Leandro Drummond


Espécie: Paleosuchus trigonatus

Nome popular: Jacaré-coroa


Família: Alligatoridae

Guia
Hábitat: Habita rios de corredeiras
e igapós nas florestas, em áreas
abertas ou próximo a cachoeiras e
quedas d’água de grandes rios.

fotográfico
Distribuição: Amazônia brasileira,
norte e centro-oeste da América
do Sul até a Bolívia.
Hábitos: Alimenta-se de
peixes, caranguejos, moluscos,
invertebrados e pequenos
vertebrados terrestres.
Curiosidade: é um dos menores
jacarés do mundo, cujo tamanho
máximo conhecido é em torno
de 150 cm de comprimento total
para machos.

Espécie: Caiman crocodilus Espécie: Chelonoidis denticulatus

Nome popular: Jacaré-tinga Nome popular: Jabuti-amarelo


Família: Alligatoridae Família: Testudinidae
Hábitat: É encontrado em rios, lagos e Hábitat: Ocorre no interior de
lagoas de água doce ou salobra. florestas.
Distribuição: Sul do México até Bolívia. Distribuição: Norte e Centro-oeste da
No Brasil está distribuída pela região América do Sul. No Brasil, ocorre na
Norte, Nordeste ocidental e norte da Amazônia e populações isoladas no
região Centro-Oeste. Rio Grande do Norte, Sergipe, Bahia,
Hábitos: Os juvenis se alimentam de Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de
invertebrados terrestres e quando Janeiro.
adultos se alimentam de peixes e Hábitos: Onívora e se alimenta de
moluscos. folhas, frutos, raízes e também
Curiosidade: É a espécie mais carcaças de outros animais. É diurna
abundante na América Latina. e terrestre.
Sofre grande pressão de caça na Curiosidade: É uma importante
Amazônia, mas pode ser feito o dispersora de sementes nos
manejo sustentável para venda ambientes da Amazônia. Consumida
de sua carne. Pode mudar de cor, pelas comunidades rurais, ribeirinhas
ficando mais escura quando está frio. e indígenas. As populações nos
ambientes naturais apresentam
grande número de indivíduos, embora
essa espécie seja intensamente
utilizada como animal de estimação e
na alimentação humana.
Foto: Jussara Dayrell

Foto: Jussara Dayrell


Foto: Leandro Drummond

Espécie: Mesoclemmys gibba

Nome popular: Lalá


Família: Chelidae
Hábitat: Habita pequenos igarapés,
lagos e florestas inundadas.
Distribuição: Amazônia brasileira,
norte e centro-oeste da América do
Sul até o Peru.
Hábitos: É onívora, alimentando-se
de frutos de buriti, insetos, girinos
e peixes. Os ninhos podem ser
encontrados embaixo de folhas e na
base de troncos, próximo a cursos
d’água. É semiaquática e noturna.
Curiosidade: É pouco explorada
devido ao seu mau cheiro e à
dificuldade de encontrá-la.
Espécie: Rhinoclemmys punctularia

Nome popular: Aperema


Família: Geoemydidae
Hábitat: Alterna a utilização de
ambientes terrestres e aquáticos e
pode permanecer em poças de terra
firme durante o período de estiagem.
Distribuição: Norte da América do Sul
até a Colômbia, Amazônia brasileira e
localidades em Minas Gerais, Espírito
Santo e Bahia.
Hábitos: É onívora e os ovos são
colocados entre raízes e cobertos com
folhiço. É uma espécie semiaquática
e diurna.
Curiosidade: É usada como alimento
por populações indígenas e
ribeirinhas, sendo inclusive
comercializada em alguns locais.
Foto: Karine Santos
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Kinosternon scorpioides

Nome popular: Muçuã


Família: Kinosternidae
Hábitat: Ocorre em ambientes de água parada e corrente,
incluindo áreas antropizadas.
Distribuição: Ampla distribuição por toda a América Latina.
No Brasil, possui registro em todos os estados da região
Norte, Nordeste e Centro-Oeste. No Sudeste brasileiro, só
há registro da espécie no estado de Minas Gerais.
Hábitos: Onívora, alimenta-se de algas a insetos, minhocas,
moluscos, peixes e anfíbios. É semiaquática, noturna.
Os ninhos são pouco profundos e cobertos por folhas e
galhos, localizados próximos aos corpos d’água.
Curiosidade: Apesar de não haver ameaças evidentes que
possam afetar a espécie ao ponto de colocá-la em risco
de extinção, tal quelônio é considerado uma espécie
relevante para a conservação da herpetofauna da região,
apresentando populações de distribuição restrita e isolada
nas savanas estépicas dos platôs da Serra de Carajás.
Espécie: Cercosaura ocellata

Nome popular: Jacarezinho


Família: Gymnophthalmidae
Hábitat: É encontrada no folhiço de
áreas abertas e florestas.
Distribuição: Nordeste da América do
Sul, inclusive a Amazônia brasileira.
Hábitos: Possui hábitos terrestres.
É diurna e heliotérmica, ou seja,
expõe-se diretamente ao sol para
seu corpo alcançar temperatura
mais alta.
Curiosidade: A coloração desse lagarto
imita o chão da floresta, assim, ele
se parece com folhas ou galhos e
consegue fugir dos predadores.
Foto: Leandro Drummond
Foto: Leandro Drummond
Espécie: Kentropyx calcarata

Nome popular: Calango-da-mata


Família: Teiidae
Hábitat: Encontrada em áreas
abertas e bordas de floresta.
Distribuição: Amplamente
distribuída na Amazônia (Brasil,
Guiana Francesa, Suriname,
Venezuela, Bolívia e Guiana) e em
regiões da Mata Atlântica brasileira
Hábitos: É uma espécie terrestre
e heliófila. É forrageadora ativa,
saindo em busca de suas presas.
Curiosidade: As fêmeas dessa
espécie tem o comportamento de
utilizarem ninhos comunitários
para a reprodução, utilizando de
um mesmo local, como interior de
bromélias ou ocos de paus, para
colocarem seus ovos.

Espécie: Potamites ecpleopus

Nome popular: Jacarezinho


Família: Gymnophtalmidae
Hábitat: Vive próxima de cachoeiras e brejos, entre a
água e a floresta.

Foto: Leandro Drummond


Distribuição: Amazônia brasileira, Colômbia, Equador,
Peru e Bolívia.
Hábitos: É uma espécie semiaquática e diurna. Alimen­
ta-se principalmente de invertebrados terrestres
como grilos e cupins, mas também de girinos.
Curiosidade: É uma espécie territorialista cujos
indivíduos são fiéis a certas manchas de hábitats,
como porções de riachos.
Foto: André Ambrosio

Foto: Leandro Drummond


Espécie: Enyalius leechii

Nome popular: Camaleãozinho


Espécie: Tretioscincus agilis Família: Leiosauridae
Hábitat: Ambientes florestados
Nome popular: Calango-do-rabo-azul Distribuição: Amazônia brasileira
Família: Gymnophtalmidae Hábitos: É arborícola, mas também
Hábitat: Habita florestas de terra firme e habita o folhiço, sempre associada
enclaves de campos rupestres. Pode ser à vegetação e troncos de árvores
encontrada em várias alturas de ocos de vivas e mortas.
árvores e também em buracos no chão. Curiosidade: Essa espécie possui
Distribuição: Guiana, Suriname, Guiana uma coloração que chamada de
Francesa e leste da Amazônia brasileira, críptica, ou seja, suas cores são
nos estados do Pará e Amazonas. semelhantes ao ambiente em que
Hábitos: É semiarbórea, heliófila. vive para se camuflar, não sendo
Curiosidade: Muitos acham que sua cauda vista pelos predadores. No caso,
é azul para distração dos predadores, essa espécie imita (através das cores
que focam na cauda, e não na cabeça, e da estrutura do corpo) padrões de
assim a chance de fuga é maior. cascas de árvores e de folhas secas.
Foto: Ana Yoko Ykeuti Meiga
Espécie: Iguana iguana

Nome popular: Iguana


Família: Iguanidae
Hábitat: Vive na copa das árvores.
Distribuição: Ampla distribuição por
toda a América Latina e introduzida
nos Estados Unidos e Taiwan.
Hábitos: É uma espécie arborícola,
heliófila e intimamente associada
à água. Alimenta-se de folhas
e frutos.
Curiosidade: São boas nadadoras
e ágeis quando dentro da água,
podendo permanecer até 25
minutos submersas.
Espécie: Notomabuya frenata

Nome popular: Calango-liso


Família: Mabuyidae
Hábitat: Áreas abertas e florestas de
galeria de vários biomas no Brasil.
Distribuição: Bolívia, Paraguai,
Argentina e amplamente
distribuída em território brasileiro.
Hábitos: É terrestre, heliófila.
Procura ativamente por
suas presas, normalmente
invertebrados, o que também
é chamado de comportamento
de forrageamento ativo. Pode se
alimentar de outros lagartos.
Curiosidade: É espécie vivípara, ou
seja, não bota ovos, sendo que os
filhotes já nascem formados.
Foto: Leandro Drummond
Foto: Henrique Caldeira Costa
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Plica umbra

Nome popular: Calango


Família: Tropiduridae
Hábitat: Habita os troncos e galhos de
árvores das florestas de terra firme.
Distribuição: Amazônia (Brasil, Bolívia,
Colômbia, Equador, Guiana Francesa,
Espécie: Chatogekko amazonicus Guiana, Peru, Suriname, Venezuela)
Hábitos: É arborícola, diurna.
Nome popular: Lagartixa-da-mata Curiosidade: É uma espécie que se
Família: Sphaerodactylidae alimenta quase que somente de formigas.
Hábitat: Florestas de terra firme.
Distribuição: Amazônia (Brasil, ­Guiana
Francesa, Suriname, ­Venezuela Guiana)
Hábitos: São terrícolas e habitam o folhiço
e árvores próximas do chão.
Curiosidade: Possuem íntima associação
com a serapilheira, as quais utilizam em
todo ciclo de vida para atividades como
abrigo, alimentação e oviposição. É um Espécie: Dendrophidion dendrophis
dos menores vertebrados do mundo, com
o tamanho de 24mm (moeda de 1 real). Nome popular: Cobra-cipó
Família: Colubridae
Hábitat: Habita o chão das florestas onde se
confunde com as folhas secas.
Distribuição: Amazônia (Brasil, Colômbia
Equador, Venezuela, Peru, Bolívia)
Hábitos: É diurna, alimenta-se de sapos e é
ovípara, ou seja, bota ovos.
Curiosidade: Solta uma secreção de forte
odor quando em perigo e possui o
comportamento de autotomia da cauda.
Importância médica: Não peçonhenta, dentição
áglifa (sem presa inoculadora de veneno).

Foto: Diego Santana


Foto: Renato Gaiga
Foto: Karine Santos

Foto: Victor Giorni


Espécie: Micrurus spixii Espécie: Spilotes pullatus

Nome popular: Coral-verdadeira Nome popular: Caninana


Família: Elapidae Família: Colubridae
Hábitat: É encontrada no subsolo ou Hábitat: Habita florestas e áreas abertas
no meio do folhiço das florestas. Distribuição: Praticamente todos os países
Distribuição: Amazônia (Brasil, da América Latina, com ampla distribuição
Venezuela, Colômbia e Bolívia) também em território brasileiro.
Hábitos: Alimenta-se de lagartos, Hábitos: Diurna e semiarborícola. Alimenta-se
anfisbenas e outras serpentes. É de lagartos, aves, morcegos e até mesmo
ovípara. outras serpentes.
Curiosidade: Para se proteger de Curiosidade: Ela se levanta, infla o pescoço e
predadores oculta a cabeça entre vibra a cauda quando acuada. Por isso muitos
o corpo e enrola a cauda para cima, a temem por esse comportamento agressivo
fingindo que esta é a cabeça. Dessa e por seu tamanho, já que chega a 2,5 metros
maneira, o predador atacará a de comprimento.
cauda e a cabeça estará protegida. Importância médica: Não peçonhenta, dentição
Importância médica: Peçonhenta, áglifa (sem presa inoculadora de veneno).
de dentição proteróglifa (presa
inoculadora de veneno na região
anterior da boca).

Espécie: Oxyrhopus melanogenys

Nome popular: Falsa-coral


Família: Dipsadidae
Hábitat: Habita locais próximos a
córregos dentro da floresta.
Distribuição: Amazônia (Brasil, Bolívia,
Peru, Equador, Colômbia, Guiana)
Hábitos: Ela é terrestre e se alimenta de
sapos e lagartos que caça à noite.
Curiosidade: Muitas vezes é confundida
com a coral-verdadeira devido ao seu
padrão de cor avermelhado.
Importância médica: Peçonhenta,
dentição opistóglifa (presa inoculadora
de veneno pequena, no fundo da boca).

Foto: Leandro Drummond


Foto: Leandro Drummond

Espécie: Epicrates cenchria

Nome popular: Jiboia-arco-íris ou Salamanta


Família: Boidae
Hábitat: Habita preferencialmente as árvores.
Distribuição: Praticamente todos os países da América do
Sul. No Brasil, também possui ampla distribuição.
Hábitos: Alimenta-se de sapos, lagartos e aves, matando
sua presa por constrição. É diurna e noturna. É vivípara,
ou seja, os filhotes se desenvolvem no interior do corpo
da mãe e nascem completamente formados.
Curiosidade: Ela expira o ar dos pulmões com força,
fazendo um ruído conhecido como “bafo da jiboia” para
se defender de predadores. Tem esse nome porque suas
escamas ficam iridescentes, lembrando um arco-íris
quando refletidas no sol. Também solta uma secreção
com cheiro desagradável quando em perigo.
Importância médica: Não peçonhenta, dentição áglifa (sem
presa inoculadora de veneno).
Espécie: Amerotyphlops reticulatus

Nome popular: Cobra-da-terra


Família: Typhlopidae
Hábitat: Habita as florestas e áreas abertas.
Distribuição: Norte e Centro-oeste da América do Sul,
até a Bolívia. No Brasil, é encontrada na Amazônia, com
registros isolados no estado do Ceará.
Hábitos: Alimenta-se de cupins e formigas. É uma
espécie fossorial, ou seja, vive em galerias subterrâneas.
Curiosidade: O comportamento de se defender da presa
é a simulação de um esporão com a cauda.
Importância médica: Não peçonhenta, dentição áglifa
(sem presa inoculadora de veneno).
Foto: Leandro Drummond
Foto: Leandro Drummond

Espécie: Bothrops bilineatus

Nome popular: Jararaca-verde


Família: Viperidae
Hábitat: É encontrada em matas com maior grau de conservação.
Distribuição: Amplamente distribuída na Amazônia (Brasil,
Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Peru, Guiana, Suriname,
Guiana Francesa) e em regiões da Mata Atlântica.
Hábitos: Ocupa arbustos e árvores a mais de um metro do solo.
Também é vivípara.
Curiosidade: É uma serpente arbórea que pode atingir até
100cm e se camufla no ambiente devido à sua cor verde. Dessa
forma, a maioria das picadas ocorre nas mãos, no rosto e parte
superior do corpo.
Importância médica: Peçonhenta, de dentição solenóglifa (presa
inoculadora de veneno, móvel e na região frontal da boca).
Dípteros de
Importância
Sanitária
Foto: Luiz Guilherme
Foto: Marcelo Rosa Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 203

Dípteros de Maria Fernanda Brito de Almeida

Importância Sanitária

A classe Insecta (insetos) surgiu no planeta há cerca de 350 milhões de


anos, e atualmente é conhecido cerca de um milhão de espécies no mun-
do, podendo chegar a cinco milhões, considerando aquelas que os pes-
quisadores ainda não conhecem ou que estão em processo de descrição.
Esses animais não possuem coluna vertebral, integrando o grupo dos
invertebrados, e são encontrados em todas as regiões do planeta Terra.
Ocupam os mais variados tipos de ambientes (florestas, áreas ribeirinhas
com ou sem alagamento, campos e cidades). As diferentes espécies de
insetos são classificadas conforme as características de cada indivíduo,
podendo ser um integrante da Ordem conhecida como Lepidoptera
(borboletas e mariposas), Hymenoptera (abelhas e vespas), Coleoptera
(besouros), Odonata (libélulas), Neuroptera (formiga-leão), Blattodea (ba-
ratas), Siphonaptera (pulgas), Phtiraptera (piolho), Diptera (moscas, mos-
quitos e mutucas), entre outras.

Os insetos são muito importantes para a sobrevivência de diversos ou-


tros animais e plantas existentes no mundo. Desenvolveram ao longo dos
anos um conjunto de adaptações que os auxiliam a sobreviver tanto às
mudanças no clima como nos ambientes em que vivem e compartilham
com os outros organismos vivos, incluindo o homem, os ambientes por
ele alterados. As diferentes estratégias e hábitos alimentares, por exem-
Casa de Hóspedes - plo, fazem dos insetos um dos principais responsáveis pela polinização
Flona de Carajás
de plantas com flores (abelhas, borboletas, mariposas, moscas, besouros),
204 Dípteros de Importância Sanitária Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 205

que por um lado lhes oferecem néctar e pólen, e em troca recebem ajuda Culicidae e 80 da subfamília Flebotominae), alguns deles vetores de parasi-
para a sua reprodução. Essa relação é boa para as plantas e insetos, pois tos causadores da febre amarela, dengue, chikungunya, zika e malária.
todos saem ganhando alguma coisa. Por outro lado, ainda que não quei-
As espécies da família Culicidae são conhecidas como mosquito, perni-
ram intencionalmente provocar nenhum mal, alguns insetos estão envol-
longo, muriçoca e carapanã e estão distribuídas em três subfamílias: Culi-
vidos em processos naturais muito específicos que podem causar prejuí-
cinae, Anophelinae e Toxorhynchitinae. Nas duas primeiras subfamílias
zo para outros animais, plantas e até mesmo às populações humanas. Os
(Culicinae, Anophelinae) estão presentes as espécies de carapanãs que
insetos herbívoros, por exemplo, são aqueles que se alimentam de partes
transportam os vírus que causam a dengue, zika, chikungunya, febre ama-
de vegetais e por essa razão podem prejudicar a capacidade da planta
rela, febre do oropuche e malária. As fêmeas desses mosquitos se alimen-
consumida de capturar a energia do sol para formar substâncias essen-
tam de sangue. O sangue que a fêmea conseguiu durante a alimentação
ciais para si. Outro exemplo são os insetos hematófagos, que se alimen-
é importante para que ela seja capaz de desenvolver e amadurecer os
tam do sangue de outros animais, normalmente dos vertebrados, mas
seus ovos. A fêmea deposita os ovos, após a cópula, em locais capazes de
principalmente das aves e mamíferos. Insetos com esse hábito alimentar
armazenar água. Em ambientes naturais (como florestas), as bromélias, os
tão particular podem apresentar diferentes formas, tamanhos, cores e ou-
bambus e os frutos caídos podem fazer esse armazenamento. Nas cida-
tras características do corpo, mas todos precisam de sangue quente para
des e vilas, os pneus, garrafas de plástico, pratos de plantas, caixas-d’água
sobreviver, reproduzir-se e desempenhar o seu papel no meio ambiente.
destampadas são bons locais que armazenam água. Esses locais são cha-
Entre os mais conhecidos estão as pulgas (Ordem Siphonaptera), os pio-
mados de criatórios do mosquito. As fêmeas escolhem bem o local para
lhos (Ordem Phtiraptera), os percevejos ou barbeiros (Ordem Hemiptera),
fazer a postura dos ovos, pois é nesses locais que o mosquito imaturo
e os mosquitos, muriçocas e pernilongos (Ordem Diptera). A presença de
vai sofrer transformações até se tornar um adulto, tornando-se capaz de
alguns desses animais é frequentemente motivo de preocupação pela po-
voar. Quando um carapanã está infectado, ele pode transferir o parasito
pulação local. Além dos incômodos causados pela picada, esses insetos
enquanto se alimenta do sangue e adoecer os homens e outros animais.
sugadores muitas vezes transportam, no aparelho digestivo, microrganis-
O organismo (vertebrado ou invertebrado) que oferece condições para o
mos que são os verdadeiros responsáveis por importantes doenças que
desenvolvimento de um parasito é chamado de hospedeiro.
afetam a população humana. O fato de ser capaz de transmitir parasitas,
bactérias ou vírus a outro ser ou organismo caracteriza os insetos que se
As espécies da família Psychodidae que pertencem à subfamília Fleboto-
alimentam de sangue como insetos vetores de doenças, particularmente
minae são consideradas de maior importância para a saúde. As espécies
os mosquitos, muriçocas, carapanãs ou pernilongos, e mosquito-palha, da
dessa subfamília são popularmente conhecidas como tatuquira, mosqui-
ordem Diptera, família Culicidae e Psychodidae.
to-palha, asa-branca, cangalhinha e são importantes vetores dos microrga-
nismos que causam as leishmanioses tegumentar e visceral. O Brasil possui
o maior número de espécies dessa subfamília, que depositam seus ovos
em local úmido e rico em matéria orgânica.
Os Insetos - Dípteros Vetores
da Flona de Carajás, Serra Norte
Mudanças ambientais de origem natural, como aquelas causadas por inun-
dações, aumento na temperatura ou ventos fortes, e as mudanças provo-
No estado do Pará, especificamente nas proximidades do Projeto N1 e N2,
cadas pelo homem, como queimadas, desmatamento e produção de lixo,
os registros que existem para os dípteros vetores foram encontrados em li-
podem criar locais que ajudem na sobrevivência e reprodução dos dípteros
vros, em relatórios técnicos e dados da Secretaria de Saúde de Parauapebas
que transmitem doença. Como esses insetos conseguem produzir muitos
(PA), mostrando a presença de 121 espécies de dípteros (41 da subfamília
ovos, áreas que apresentem muitos locais favoráveis para sua procriação
206 Dípteros de Importância Sanitária Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 207

podem aumentar os registros sobre novas doenças ou sobre efermidades Ciclo de Transmissão
antigas que voltaram a adoecer a população. Assim, os dípteros são conside-
A malária é uma doença registrada em praticamente todas as regiões tropicais
rados bons bioindicadores ambientais.
e subtropicais, sendo que 40% da população mundial está suscetível à doença.
A doença no homem é causada por quatro espécies de microrganismos co-
As doenças transmitidas pelos carapanãs atingem toda a população huma-
nhecidos como protozoários: Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum, P. ova-
na, especialmente moradores de regiões tropicais, como o Brasil, que tem o
le e P. malariae. Esses protozoários possuem um ciclo complexo e com muitas
clima bastante favorável para a sobrevivência dos insetos. Segundo a Orga-
fases de desenvolvimento, que ocorrem em dois hospedeiros: um invertebra-
nização Mundial de Saúde (OMS), essas doenças transmitidas pelos dípteros
do – fêmea do mosquito do gênero Anopheles, onde ocorre a fase assexuada
que sugam sangue são responsáveis por 700 mil mortes por ano no mundo.
do ciclo – e um vertebrado – nesse caso, em especial, o homem, onde ocorre
Essa informação cria muitos debates entre os governos devido aos prejuí-
a fase sexuada do ciclo de desenvolvimento do microrganismo (figura 4).
zos que esse problema causa para a saúde pública e a economia. Diante
disso, os países da América se reuniram em 2018 para discutir propostas e
ações preventivas, de vigilância e controle para reduzir o número de doen-
ças transmitidas por dípteros.

No local do Projeto N1 e N2, entretanto, foram registradas 40 espécies de


dípteros, sendo três delas de importância sanitária e epidemiológica por Parasita
da malária
atuarem como vetores: as espécies Anopheles darling e Anopheles oswal-
1º mosquito Sangue
doi são transmissoras do protozoário causador da malária e Coquilletidia Anopheles infectado
Fêmea
venezuelensis, pernilongo transmissor natural silvestre do vírus que pro-
voca a febre do oropuche. Essas espécies são comuns na região Amazô-
nica, mas foram encontrados poucos indivíduos na área do Projeto N1 e Pessoa
infectada Infecção
do fígado
N2. Outras espécies também podem transmitir parasitos causadores de
diversas doenças, porém raramente desempenham esse papel, sendo por
isso chamadas vetores secundários. O mosquito da espécie Aedes aegypti, Próxima
Infecção
pessoa
responsável por ser vetor dos vírus da dengue, zika e chikungunya, não foi do fígado
infectada

registrado na área do Projeto N1 e N2, embora registros da doença tenham


Sangue 2º mosquito
sido feitos nos municípios próximos, como Parauapebas. Isso é explicado infectado Anopheles
Fêmea
pelo fato de o mosquito transmissor da dengue preferir ambientes ocupa-
dos pelo homem, como cidades, vilas e fazendas.

Figura 4 - Ciclo de transmissão da malária


Malária
Vetores
Durante a alimentação, enquanto o mosquito carapanã infectado suga o
A espécie considerada principal vetor da malária é o Anopheles darling, em- sangue do ser humano, ele transfere para o sangue os protozoários. Assim
bora outras espécies também possam transmitir o microrganismo. Esses que entram no sangue do homem, esses microrganismos se movem para
mosquitos são popularmente conhecidos como carapanã, muriçoca, bicuda. o fígado e então contaminam as células desse órgão, também ­conhecidas
208 Dípteros de Importância Sanitária Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 209

como h
­ epatócitos. Dentro dos hepatócitos, os protozoários sofrem uma Ciclo de transmissão
transformação e nessa nova fase do desenvolvimento se multiplicam, dan-
A febre oropouche é uma doença provocada por um vírus que é mantido
do origem a muitos outros protozoários. Como as células do fígado ficam
por hospedeiros vertebrados (roedores, aves, primatas e homem) e trans-
muito cheias de protozoários, elas acabam estourando e os protozoários in-
mitida entre eles por um inseto (mosquito carapanã) (figura 5). O vírus foi
vadem o sangue novamente. Dentro das células que formam o sangue, os
registrado pela primeira vez no Brasil em 1960, no sangue de uma pregui-
protozoários se multiplicam até que essas células estourem. Quando as cé-
ça (Bradypus tridactylus), e desde essa época a doença é frequentemente
lulas do sangue estouram, acontece a fase de febre característica da malária.
registrada, principalmente nos estados do Norte e Nordeste do país. As
A febre pode ocorrer a cada 48 horas, quando os protozoários responsáveis
manifestações clínicas nos seres humanos incluem febre, mialgia, artral-
pela infecção são os Plasmodium vivax, Plasmodium falciparum e Plasmodium
gia, dor de cabeça, fotofobia e erupção cutânea. Na maioria dos casos, os
ovale, ou a cada 72 horas, nos casos provocados por Plasmodium malariae.
sintomas não são graves e por isso a febre do oropouche recebe menos
Enquanto isso, dentro do corpo da pessoa contaminada, podem acontecer
atenção, sendo, portanto, uma doença subnotificada.
duas situações: (i) os protozoários invadem outros eritrócitos e continuam
se multiplicando no sangue e (ii) os protozoários mudam sua forma para po-
der sobreviver dentro do corpo dos mosquitos carapanã. Dentro do corpo
do mosquito carapanã, o protozoário sofre várias transformações para estar
pronto para voltar para o corpo do homem, quando este é picado.

O que fazer para não ficar doente

Embora os grupos de pesquisa estejam se empenhando, ainda não existe vacina


disponível contra a malária. A Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha
que a prevenção seja feita através de utilização de mosquiteiros impregnados
ANIMAIS SILVESTRES MOSQUITO VETOR HUMANOS
por inseticidas nas portas e janelas das casas e borrifação intradomiciliar. Além Preguiça, quati, CARAPANÃ Sintomas:
macaco e aves Febre, dor de cabeça,
disso, é recomendado o uso individual de repelentes e roupas compridas que mal-estar, fotofobia,
náusea, vômito, tontura,
evitem ao máximo a exposição da pele em áreas endêmicas ou com ocorrência encefalite e meningite

da malária. No entanto, a melhor medida preventiva é o controle vetorial. O Mi- Figura 5 - Ciclo de transmissão da febre oropouche

nistério da Saúde implementou em 2003 o Plano Nacional de Controle da Malá-


ria (PNCM), visando à prevenção e ao controle. O PNCM apresenta uma série de O vírus da febre do oropouche possui dois ciclos: um deles, o ciclo silves-
ações com o objetivo de reduzir o número de vetores da malária, principalmente tre, ocorre em áreas dentro de florestas e locais preservados. Nesse caso,
na região amazônica, área com maior número de casos registrados da doença. o vírus é transmitido primariamente pelo mosquito Coquilletidia venezue-
lensis aos animais silvestres (aves, roedores, preguiças e macacos). O ciclo
urbano ocorre em áreas urbanas, rurais e ambientes degradados, mantém
Febre do oropouche o homem como o hospedeiro e os mosquitos da espécie Culicoides pa-
Vetores
raensis como principais vetores, porém essa espécie não foi registrada na
O principal vetor silvestre do ciclo é o Coquilletidia venezuelensis e o principal área do Projeto N1 e N2. A transmissão em qualquer um dos ciclos ocorre
vetor do ciclo urbano, o Culicoides paraensis, este último, porém não foi regis- quando a fêmea carapanã, que é um vetor, se infecta com o vírus ao se
trado na Área do Projeto N1 e N2 e nem na área do entorno. alimentar do sangue de algum hospedeiro vertebrado. Uma vez que essa
210 Dípteros de Importância Sanitária

Foto: Luiz Guilherme


fêmea estiver com o vírus, a cada nova alimentação o mosquito irá trans-
ferir um pouco do vírus para o vertebrado que ele estiver se sugando. Os
vírus são parasitas que vivem obrigatoriamente dentro de células e são
capazes de infectar vários tipos delas.

O que fazer para não ficar doente

Utilização de mosquiteiros impregnados por inseticidas nas portas e ja-


nelas das casas, borrifação intradomiciliar e uso individual de repelentes Espécie: Anopheles sp.

e roupas compridas que evitem ao máximo a exposição da pele em áreas Nome popular: Mosquito-prego,
mosquito, pernilongo
Família: Culicidae
endêmicas ou com ocorrência da doença. Assim como ocorre com a ma- Atividade: Crepuscular/ Noturno
Hábitat: Florestas em regiões de
lária, a melhor medida preventiva é o controle do inseto. clima quente e úmido e próximo a
habitações humanas
Distribuição: As espécies do gênero
Anopheles são encontradas em
todo o território brasileiro.
Curiosidade: Apenas as

Guia fêmeas alimentam-se de


sangue, importante para o
amadurecimento dos ovos. Os
machos alimentam-se da seiva de

fotográfico
plantas. Há espécies do gênero
que são vetoras da malária.

Foto: Luiz Guilherme

Foto: Luiz Guilherme

Espécie: Coquilletidia venezuelensis

Espécie: Coquillettidia sp. Nome popular: Pernilongo


Família: Culicidae
Nome popular: Mosquito, pernilongo Atividade: Crepuscular/ Noturno
Família: Culicidae Hábitat: Florestas em regiões de
Atividade: Crepuscular/ Noturno clima quente e úmido e próximo à
Hábitat: Florestas e áreas adjacentes utilizadas pelo homem habitações humanas
Distribuição: Encontrada em todos os biomas brasileiros Distribuição: Ocorre em toda a América
Curiosidade: Apenas as fêmeas alimentam-se de sangue, do Sul
importante para o amadurecimento dos ovos. Os machos Curiosidade: Principal vetora da febre
alimentam-se da seiva de plantas. do oropouche.
Foto: Marcelo Brito

Peixes
Foto: Marcelo Brito Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 215

Peixes Marcelo Fulgêncio Guedes de Brito


Breno Perillo Nogueira

Os peixes correspondem ao maior grupo de todos os vertebrados e é com-


preendido por animais que possuem grande diversidade de cores, formas e
comportamentos. No mundo, podemos encontrar mais de 35.000 espécies
de peixes nos mais variados ambientes aquáticos como em águas subterrâ-
neas (cavernas), em grandes altitudes, profundidades dos oceanos maiores
do que 6.500m, altas temperaturas ou baixíssimas dos extremos da Terra
(polos), lençol freático, ambientes extremamente salgados e em poças tem-
porárias. É fácil perceber que onde tem água, costuma ter peixe!

A fauna de peixes do Brasil é extremamente rica e diversificada. O país possui


uma das maiores riquezas do mundo, com aproximadamente 3.200 espécies
conhecidas. Quando falamos em número de espécies por bacia hidrográfica,
a Bacia Amazônica é a campeã mundial, com mais de 2.700 peixes. Mais da
metade desses peixes é endêmica, ou seja, só ocorrem nela e em nenhum
outro lugar do mundo.

Na região da Serra Norte, conforme veremos adiante em maior detalhe, des-


tacam-se as ordens Characiformes e Siluriformes, das quais fazem parte a
maioria dos peixes da região Neotropical, e a ordem Cichliformes.

A ordem Characiformes é um dos maiores grupos exclusivamente de água


doce. Nela podemos encontrar representantes de diversos tamanhos, des-
de as pequenas piabas e pequiras, com alguns centímetros, até os grandes
Ambiente amostrado
para coleta de peixes tambaquis, com mais de 40 kg. Habitam os mais variados ambientes, sejam
no Projeto N1 e N2.
eles de águas rápidas como corredeiras ou ambientes de água parada como
216 Peixes Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 217

lagoas e remansos. Apresentam o corpo com formatos e cores bem variadas, Os Peixes da Flona de Carajás, Serra Norte
sendo completamente coberto por escamas. Algumas espécies podem rea-
lizar migrações reprodutivas, as chamadas piracemas, quando se deslocam A região Neotropical possui a mais diversa fauna de peixes do mundo,
rio acima para reproduzir. É bem comum encontrar esses peixes formando compreendendo cerca de 5.500 espécies de água doce. A alta diversi-
cardumes, o que representa uma importante estratégia para evitar a pre- dade de peixes deve-se principalmente à presença de muitos sistemas
dação. A alimentação desse grupo é bem variada. Os peixes normalmente hidrográficos (rios, lagos, igarapés, etc.), e principalmente à Bacia Ama-
são mais ativos durante o dia (diurnos) e exploram ativamente os recursos zônica. Essa bacia é de longe a mais rica do mundo, superando 2.700
do ambiente, bem como se alimentam dos itens que caem na água, como espécies de peixes. Essa riqueza se deve não apenas à sua grande área
frutos, sementes e insetos. (aproximadamente 7 milhões de km2), mas também a fatores históricos,
juntamente com sua heterogeneidade ambiental e complexidade geo-
Os Siluriformes são peixes que apresentam couro ou placas ósseas reves-
morfológica. Cabe destacar que o conhecimento sobre a diversidade
tindo o corpo. Esta ordem agrupa as espécies popularmente chamadas de
dessa fauna é ainda incompleto, uma vez que dezenas de novas espé-
bagres, que são os peixes de couro, bem como os peixes com placas ósseas,
cies são descritas a cada ano. Portanto, essa riqueza de peixes tende a
chamados de acaris e cascudos. Possuem barbilhões que são, na verdade, es-
aumentar ainda mais.
truturas quimiotácteis localizadas no queixo e próximas da boca para auxiliar
na localização do alimento e percepção ambiental. Nas nadadeiras peitorais Na Floresta Nacional (Flona) de Carajás, área onde está inserida a Serra Nor-
e na nadadeira dorsal estão os esporões, que são serrilhados e pontiagudos. te, são conhecidas 278 espécies de peixes. Na Serra Norte foram registradas
Trata-se de estruturas que representam uma boa defesa contra a investida até o momento 29 espécies e mais especificamente na região do Projeto
de predadores, visto que eles abrem esses esporões quando ameaçados. Os N1 e N2, 19 espécies de peixes. Assim como na maioria das drenagens neo-
representantes dessa ordem, normalmente, estão associados ao fundo de tropicais, as ordens com o maior número de espécies foram Characiformes
rios com folhiço, areia ou pedras, e costumam ser mais ativos no amanhecer, e Siluriformes, representando juntas mais da metade da riqueza total da
no anoitecer e durante a noite (hábito crepuscular/noturno). Assim como fauna de peixes do Projeto N1 e N2.
descrito para os peixes de escama, algumas espécies dessa ordem também
realizam a piracema no período reprodutivo. Os cursos d’água próximos à região de cabeceira, como é o caso dos am-
bientes amostrados no Projeto N1 e N2, possuem hábitats específicos que
E por fim a Ordem Cichliformes, representada por espécies como os tucuna- por sua vez abrigam espécies com características especiais e adaptadas às
rés, acarás, jacundás, entre outras. Algumas espécies apresentam comporta- condições do ambiente nesse segmento do curso d’água.
mentos elaborados como territorialismo e cuidado parental, de maneira que
os pais preparam o ninho e demandam cuidado desde a postura dos ovos A maioria das espécies possui distribuição geográfica restrita ou com

até a independência dos filhotes. maior parte inserida dentro da Amazônia, a exemplo das espécies tipi-
camente amazônicas como o cachorrinho Acestrorhynchus falcatus, a pia-
Cabe destacar que várias espécies dessas ordens, de pequeno porte, e prove- banha Brycon polylepis, o piquirão Bryconops caudomaculatus, o matupiri
nientes da região amazônica, são capturadas e vendidas para a aquariofilia – Poptella compressa, o acari-cachimbo Rineloricaria lanceolata, o acará-pi-
prática de criar peixes, plantas e outros organismos aquáticos em recipien- xuna Aequidens tetramerus e o jacundá Crenicichla inpa. Outras espécies
tes de vidro, acrílico ou plástico, conhecidos como aquários. Muitas delas são comuns e amplamente distribuídas, destacando-se as espécies aracu-­
possuem alto valor comercial e são vendidas nos grandes centros urbanos -cabeça-gorda Leporinus friderici e o aracu Leporellus vittatus, que ocorrem
do Brasil e exportados, como é o caso do neon (Characiformes), de diversos em duas ou mais bacias. Por outro lado, a piaba Astyanax elachylepis possui
tipos de acaris (Siluriformes) e do acará-disco (Cichliformes). distribuição geográfica restrita à bacia do rio Tocantins. Já a tilápia-do-Nilo
218 Peixes

Foto: Marcelo Brito


Oreochromis niloticus é uma espécie invasora na Bacia Amazônica, sendo
originária do continente africano.

Para as espécies registradas na Serra Norte, especificamente na área do


Projeto N1 e N2, são observadas diferentes estratégias reprodutivas. Desta-
cam-se entre elas o cuidado parental, que é a proteção dos filhotes, exerci-
do pelas espécies acará-pixuna Aequidens tetramerus e jacundá Crenicichla
inpa; espécies que se reproduzem durante todo o ano, como o cachor-
rinho Acestrorhynchus falcatus e o piquirão Bryconops caudomaculatus, e
por fim a piabanha Brycon polylepis, que tem sua reprodução no início do
período chuvoso.

Quanto à alimentação, observam-se diferentes hábitos dentre as espé-


cies registradas. Com hábito alimentar piscívoro, ou seja, que se alimen-
ta de peixes, tem-se o cachorrinho Acestrorhynchus falcatus; com hábito
alimentar insetívoro, que se alimenta basicamente de insetos aquáticos
e insetos terrestres que caem na água, tem-se o piquirão Bryconops cau-
domaculatus; e com alimentação onívora (alimentam-se de algas, frutas,
insetos, detritos e outros) destacam-se o aracu Leporinus friderici, a pia-
banha Brycon polylepis e o matupiri Poptella compressa. Por fim, tem-se
o acari-cachimbo Rineloricaria lanceolata, que possui hábito alimentar Foto 18 – Ambiente
amostrado para
iliófago/detritívoro, ou seja, alimenta-se raspando algas no substrato coleta de peixes no
Projeto N1 e N2.
dos riachos onde vive, além de comer pequenos detritos que se deposi-
tam no fundo.

Você sabia que os peixes podem fazer ninhos e até mesmo carregar seus ovos e filhotes?
Pois é! Algumas espécies fazem ninhos utilizando diversos materiais ou depositam seus
ovos em diferentes substratos. Em alguns casos, os pais permanecem junto ao ninho du-
rante todo o período de incubação, e o cuidado continua após a eclosão dos ovos, já que
as larvas são pequenas e indefesas. Outras espécies podem carregar os ovos aderidos ao
corpo (região ventral do corpo e lábios) ou até mesmo levar os ovos e filhotes dentro da
boca! Com todo esse cuidado para evitar a predação, os pais aumentam as chances de
sobrevivência de seus filhotes.
220 Peixes Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 221

Guia
fotográfico

Foto: SETE

Espécie: Leporellus vittatus (Valenciennes 1850)

Nome popular: Aracú; solteira


Família: Anostomidae
Comprimento: 30 cm (comprimento máximo)
Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de maior porte
Distribuição: Bacias Amazônica, Paraná-Paraguai e São Francisco (Brasil, Equador, Colômbia, Bolívia, Paraguai e Peru).
Hábito: São peixes que se alimentam de insetos e outros invertebrados que são encontrados no fundo dos rios.
Tamanho máximo: 30 cm
Características gerais: Apresenta o corpo roliço e comprido, com olhos pequenos. A boca é levemente voltada para
baixo, o que facilita a alimentação de organismos que se encontram no fundo dos rios. A coloração é cinza-
amarelada com pequenas manchas pretas espalhadas da região da cabeça até a base da cauda. Na porção média
do corpo as manchas ficam mais próximas, formando faixas longitudinais. As nadadeiras são amareladas, e
quase na parte de cima da nadadeira dorsal existe uma mancha escura bem evidente, assim como faixas escuras
horizontais na nadadeira caudal. Devido ao fato de não formar cardumes, em alguns lugares é chamada também
de “solteira”. Seu colorido bem diferenciado e chamativo fez com que despertasse o interesse na aquariofilia, e
pode ser encontrada, para aquisição, em lojas do ramo.

Foto: Marcelo Brito

Espécie: Acestrorhynchus falcatus (Bloch 1794)

Nome popular: Ueua ou cachorrinho


Família: Acestrorhynchidae
Comprimento: 30 cm (comprimento máximo)
Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de maior porte
Distribuição: Bacias dos rios Amazonas e Orinoco (Equador, Colômbia, Bolívia, Guiana Francesa, Guiana, Peru,
Suriname e Venezuela).
Hábito alimentar: Alimenta-se principalmente de peixes.
Características gerais: Apresenta o corpo alongado, olhos grandes e uma grande mancha alongada acima da
nadadeira peitoral e uma mancha circular na base da nadadeira caudal. A boca é larga, com vários dentes
pequenos que auxiliam na captura de peixes. A primeira reprodução ocorre quando os peixes apresentam 15 cm
de comprimento. A desova acontece entre os meses de dezembro (final do período seco) e maio (início do período
de cheias) na região amazônica.

Foto: SETE

Espécie: Leporinus friderici (Bloch 1794)

Nome popular: Aracú-cabeça-gorda, aracú, piau


Família: Anostomidae
Comprimento: 40 cm (comprimento máximo)
Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de maior porte
Distribuição: Bacias dos rios Amazonas, Orinoco e do Prata (Argentina, Brasil, Equador, Colômbia, Guiana Francesa,
Guiana, Suriname).
Hábito: São peixes oportunistas em relação à dieta, pois se alimentam daqueles itens mais abundantes e
disponíveis. Normalmente em seu cardápio estão incluídos itens como frutas, sementes, insetos, camarões e peixes.
Características gerais: Apresentam a cor cinza e corpo alongado com as extremidades mais estreitas (fusiforme).
Observa-se a presença de três manchas arredondadas na lateral do corpo. A reprodução ocorre a partir dos 14 cm
de tamanho, normalmente entre outubro e abril. Apresenta um importante papel na economia, sendo um pescado
bastante comercializado e consumido pela população ribeirinha na Amazônia.
222 Peixes Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 223

Foto: Rafael Zeferino Foto: Rafael Zeferino

Espécie: Brycon polylepis Moscó Morales 1988 Espécie: Bryconops caudomaculatus (Günther 1864)

Nome popular: Piabanha Nome popular: Piaba, piquirão ou piquiratã


Família: Bryconidae Família: Iguanodectidae
Comprimento: 25 cm (comprimento máximo) Comprimento: 12 cm (comprimento máximo)
Hábitat: Presente em pequenos rios com águas limpas e fundo rochoso das porções mais altas das bacias hidrográficas. Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de maior porte
Distribuição: Bacias dos rios Orinoco, Negro, Tocantins e alto Amazonas (Venezuela, Colômbia, Peru e Brasil). Distribuição: Rios costeiros do escudo da Guiana, e bacias dos rios Orinoco e Amazonas (Brasil, Equador, Colômbia,
Hábito: A alimentação da espécie consiste em insetos, folhas, frutos e sementes. Bolívia, Guiana Francesa, Guiana, Suriname e Venezuela).
Características gerais: Corpo alongado de coloração prateada bem uniforme e nadadeiras rosadas com a base Hábito alimentar: É uma espécie insetívora que procura o alimento por meio de investidas no fundo dos rios, na
amarela. A porção inicial da cauda apresenta uma grande mancha negra que continua na porção mediana da coluna d’água e também fora da água! Sim, esse peixe consegue pegar insetos que voam próximo à superfície do
nadadeira caudal. Dados sobre a reprodução apontam para o início da estação chuvosa. rio! Eles nadam com o corpo levemente inclinado próximo da superfície, e quando localizam os insetos voando
eles aceleram a natação e saltam para fora da água. Esses saltos podem chegar a 15 cm de altura!
Características gerais: Apresenta o corpo alongado. A cor prateada é bem evidente em suas escamas na lateral do
corpo. As nadadeiras dorsal e adiposa têm a cor vermelha e a nadadeira caudal tem a base preta com uma mancha
negra que ocupa quase toda metade superior, ficando uma pequena borda avermelhada. Encontrada em cardumes
de até uma dúzia de peixes, podendo também formar cardumes mistos com outras piabas. A reprodução ocorre
praticamente ao longo de todo o ano, e o piquirão inicia o seu processo reprodutivo a partir de 7 cm de comprimento.

Foto: Rafael Zeferino

Foto: SETE

Espécie: Poptella compressa (Günther 1864)


Espécie: Astyanax elachylepis Bertaco & Lucinda 2005
Nome popular: Matupiri
Nome popular: Piaba Família: Characidae
Família: Characidae Comprimento: 10 cm (comprimento máximo)
Comprimento: 12 cm (comprimento máximo) Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de médio porte
Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de maior porte na bacia do rio Tocantins Distribuição: Bacias do Orinoco, Amazônica e drenagens costeiras do norte da América do Sul (Bolívia, Brasil,
Distribuição: Endêmica da bacia do rio Tocantins Equador, Peru, Colômbia, Guiana e Venezuela).
Hábito: A alimentação da espécie é bem variada (insetos, folhas, frutos e sementes). Hábito: Alimenta-se de vegetais, frutos sementes e insetos aquáticos e terrestres.
Características gerais: Apresenta corpo prateado com uma mancha quadrada bem evidente na base da cauda que se Características gerais: São peixes de pequeno porte com olho grande, corpo alto e achatado lateralmente.
estende pela porção mediana da nadadeira. Apesar da ausência de estudos em relação a aspectos da sua biologia, Apresentam escamas esverdeadas na parte superior e escamas prateadas na parte média e inferior do corpo, com
provavelmente, é uma espécie que tem uma dieta bem variada com um grande período de reprodução, como duas manchas verticais alongadas acima da nadadeira peitoral. Na base da nadadeira dorsal podemos observar
peixes do mesmo grupo (gênero Astyanax). um pequeno espinho que corresponde a uma característica marcante desse grupo. As nadadeiras apresentam um
tom levemente amarelado a alaranjado.
224 Peixes Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 225

Foto: Marcelo Brito

Foto: VALE

Espécie: Characidium zebra Eigenmann 1909 Ordem Cichliformes


Espécie: Aequidens tetramerus (Heckel 1840)
Nome popular: Canivete
Família: Crenuchidae Nome popular: Acará-cuaima; acará-pixuna
Comprimento: 7 cm (comprimento máximo) Família: Cichlidae
Hábitat: O canivete é um peixe que ocupa o fundo de riachos com corredeiras. Comprimento: 16 cm (comprimento máximo)
Distribuição: Bacias dos rios Amazonas e Essequibo, e bacias costeiras do escudo da Guiana (Brasil, Colômbia, Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de médio porte
Bolívia, Guiana Francesa, Guiana, Uruguai, Venezuela e Suriname). Distribuição: Amplamente distribuído nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador,
Hábito: Alimenta-se principalmente de larvas de invertebrados Guiana Francesa, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela).
Características gerais: Apresenta o corpo hidrodinâmico em formato alongado com as extremidades mais estreitas Hábito: Alimenta-se de algas, sementes, crustáceos, outros invertebrados, mas preferencialmente de insetos.
(fusiforme). Na lateral do corpo encontramos uma série de barras verticais difusas e uma faixa horizontal bem definida Características gerais: Tem o corpo curto com uma mancha na região mediana e outra pequena na parte superior
da cabeça até a base da nadadeira caudal. Vive em locais com águas rápidas e possui grandes nadadeiras peitorais e da base da nadadeira caudal. Uma estreita faixa longitudinal cruza o corpo próximo da nadadeira pélvica até o
pélvicas que se expandem e funcionam como uma âncora para não permitir que seja carregados pela correnteza. pedúnculo caudal. É uma das espécies mais coloridas do gênero, o que atrai a atenção e o desejo de aquaristas.
Essa coloração é mais evidente no período reprodutivo, quando ganha tons avermelhados no corpo. São peixes
precoces, iniciando a reprodução em torno de 6 cm de comprimento para a fêmea e 8 cm para o macho. São
territoriais e apresentam cuidado parental.

Foto: Marcelo Brito

Foto: VALE

Ordem Siluriformes
Espécie: Rineloricaria lanceolata (Günther 1868) Espécie: Crenicichla inpa Ploeg 1991

Nome popular: Acari-cachimbo Nome popular: Jacundá


Família: Loricariidae Família: Cichlidae
Comprimento: 12 cm (comprimento máximo) Comprimento: 17 cm (comprimento máximo)
Hábitat: Riachos com águas limpas e fundo rochoso das porções mais altas das bacias hidrográficas. Hábitat: Distribui-se por riachos e rios de médio porte
Distribuição: Bacias dos rios Amazonas e Essequibo, e bacias costeiras do escudo da Guiana (Bolívia, Peru, Equador, Distribuição: Bacia Amazônica (Brasil e Bolívia).
Guiana, Colômbia e Brasil). Hábito: Alimenta-se de insetos e pequenos peixes que são capturados por meio de um bote rápido.
Hábito: Alimenta-se principalmente de algas, detritos e pequenos invertebrados no fundo dos rios. Características gerais: Apresenta corpo alongado, com uma mancha bem evidente acima da nadadeira peitoral e
Características gerais: Apresenta o corpo achatado e a coloração varia bastante do negro ao marrom, com faixas outra pequena na base da nadadeira caudal. Uma listra longitudinal se estende atrás do olho até a altura da base
cruzando a região superior do corpo (dorsal) que podem alcançar a região inferior do corpo (ventral). Quando os da nadadeira peitoral. As fêmeas são menores que os machos e têm a região ventral do corpo avermelhada. A
machos estão preparados para a reprodução, apresentam uma série de espículas na nadadeira peitoral, lateral da reprodução ocorre em grande parte do ano. O casal faz a desova em uma toca e cuida tanto dos ovos quanto
cabeça e na região superior antes da nadadeira dorsal que podem ser utilizadas no ritual de corte, assim como na dos filhotes até se tornarem independentes. É uma espécie bastante territorialista, e esse comportamento se
defesa contra predadores. intensifica com a chegada de intrusos no período que está cuidando dos filhotes.
Foto: BRANDT

Biota
Aquática
Foto: BRANDT Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 229

Biota Aquática Sandra Francischetti Rocha


Manoela Cristina Brini Morais
Sofia Luiza Brito

A biota aquática é o conjunto de seres vivos que habitam os rios, nas-


centes, cachoeiras, veredas, lagoas, ambientes artificiais (represas, açu-
des e tanques), entre outros, sendo parte desse conjunto o plâncton, os
macroinvertebrados aquáticos e o nécton. O plâncton (da palavra grega
“Planktos”, que significa “à deriva”) é o nome dado pelos pesquisadores
ao conjunto de organismos que têm capacidade limitada de locomo-
ção e que basicamente são transportados pelos movimentos das águas.
Entre os seres planctônicos estão bactérias, diversas algas, protistas,
rotíferos, microcrustáceos, larvas de peixes, de moluscos, entre outros.
Esse grupo é dividido em fitoplâncton (pequenas plantas) e zooplâncton
(pequenos animais).

Já o nome macroinvertebrado aquático ou bentônico normalmente é


dado aos insetos aquáticos (fases de larva e adulta), anelídeos (minhocas,
sanguessugas e outros), moluscos (mexilhões e caracóis de água doce),
crustáceos (camarões, caranguejos, etc.), entre outros pequenos animais
que vivem associados ao sedimento dos corpos hídricos. No ambien-
te aquático existem ainda os seres nectônicos, que são os animais que
se movem ativamente e são capazes de vencer a densidade da água e
se deslocar rapidamente, com o auxílio dos seus órgãos de locomoção,
como nadadeiras. A composição do nécton é diversificada e fazem parte
Campo Hidromórfico desse grupo os peixes, as tartarugas e os mamíferos aquáticos. Informa-
(Campo Graminoso/
Brejoso na Estação ções sobre esses organismos podem ser obtidas nos respectivos capítulos
Chuvosa)
que compõem este acervo.
230 Biota Aquática Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 231

Em geral, as relações entre esses grupos ocorrem no nível microscópico. em condições de anoxia (sem oxigênio). Estão distribuídos desde as re-
As algas fitoplanctônicas que colonizam as superfícies sólidas de ambien- giões polares até águas termais, colonizam o solo, os fitotelmos (depósi-
tes aquáticos representam importantes produtores primários ao transfor- tos de água pluvial armazenados em estruturas de plantas terrestres, tais
mar a energia do sol em energia química através da fotossíntese. Ao serem como folhas modificadas, cavidades e depressões no caule), os ambien-
consumidas pelos organismos microscópicos e macroscópicos (pode-se tes intermitentes e temporários como poças, além dos lagos, rios, repre-
enxergar a olho nu) que compõem o zooplâncton, os macroinvertebrados sas e planícies inundadas.
bentônicos e o nécton, ocorre a transferência de energia na cadeia alimen-
tar aquática. A fauna zooplanctônica assume papel dos consumidores e
No cenário nacional, uma síntese atual da diversidade de algas apon-

decompositores e é fundamental para a recirculação da matéria orgânica,


tou para o registro de 4.747 espécies, destas 2.808 são algas de água

pois consome tanto os produtores primários (algas) como os decomposi-


doce. Essas espécies estão distribuídas em 11 classes exclusivamente

tores (bactérias e fungos), e ainda há aqueles que se alimentam de maté-


continentais e 13 são comuns aos ambientes marinhos e continentais,

ria orgânica em decomposição e de outros pequenos animais. Já o grupo


entre as quais Bacillariophyceae, Conjugatophyceae, Euglenophyceae e

dos macroinvertebrados aquáticos é formado por animais que podem ser


Chlorophyceae foram recentemente avaliadas como as mais importan-

herbívoros (alimentam-se de plantas), detritívoros (alimentam-se de orga-


tes, pela grande representatividade em número de espécies na compo-

nismos mortos ou de matéria orgânica) e predadores (alimentam-se de


sição do fitoplâncton.

outros organismos). São, portanto, consumidores secundários dos produ-


Quando investigada a diversidade zooplanctônica brasileira, as com-
tores e consumidores primários da complexa cadeia alimentar do ambien-
pilações mais recentes de estudos realizados em corpos d’água con-
te aquático. Por outro lado, esses organismos constituem parte da dieta de
tinentais apontam 186 espécies de amebas testáceas em Protozoa,
peixes e, por isso, são tidos como elos importantes de fluxo de matéria e
625 espécies do filo Rotifera. Entre os microcrustáceos, são registradas
energia da base da cadeia alimentar para o topo.
137 espécies da ordem Cladocera e 180 espécies da classe Copepo-
da (sendo 53 da ordem Calanoida, 84 espécies de Cyclopoida e 43
espécies de Harpacticoida).
Você sabia que os macroinvertebrados são considerados ótimos bioindicadores ambientais?
Isso ocorre porque existem grupos que são sensíveis a ambientes poluídos e só conseguem se
Já em relação à diversidade nacional de macroinvertebrados, Mugnai e
manter e reproduzir em sistemas aquáticos muito limpos. Também há grupos que são tole- colaboradores (2009) elencaram um total de 3.154 espécies, distribuídas
rantes e, embora não sejam muito abundantes, sobrevivem a certo grau de poluição. Há ain-
em vários grupos, como: Anelídeos, Moluscos, Crustáceos e Insetos, sen-
da aqueles que são resistentes à poluição e se desenvolvem muito bem quando o ambientes
está poluído. Então quando você lista os grupos presentes em um dado ambiente e avalia do esse último os mais expressivos, com 1.297 espécies.
as suas abundâncias é possível classificar o ambiente quanto à sua qualidade ambiental! As
algas diatomáceas também são consideradas boas bioindicadoras da qualidade ambiental, Partindo do cenário nacional para o regional, os registros mais relevan-
principalmente dos rios, e dentre o zooplâncton também há grupos que apresentam prefe-
rências relacionadas à qualidade ambiental, como as pulgas-d’água.
tes de algas estão nos estados do Sudeste (3.142 espécies) e do Sul
(2.027 espécies) e a região com menor número de registros é a Norte
do país, que contabilizou 817 espécies. É notório que a distribuição re-
gional desse conhecimento está diretamente relacionada com a quan-
Diante de toda essa variedade de formas e adaptações ecológicas dos tidade de pesquisadores especialistas e sua distribuição pelo território
distintos grupos da biota aquática, é notório que a colonização se dê nos brasileiro. Em todo o estado do Pará, o estudo apontou o registro de 91
mais variados ambientes, inclusive naqueles com condições extremas de espécies, distribuídas em 12 classes, sendo Cyanobacteria (25) e Eugle-
nutrientes e de oxigênio, como algumas cianobactérias que sobrevivem nophyceae (20) as mais ricas.
232 Biota Aquática Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 233

Uma compilação de vários estudos reuniu em um livro dados de biodi- Biota Aquática da Flona
versidade de algas e de cianobactérias continentais (exceto Bacillario- de Carajás, Serra Norte
phyceae) do estado do Pará e apontou uma riqueza muito maior quan-
do comparada aos dados supracitados. Os 1.584 táxons infragenéricos Fitoplâncton
registrados pertencem a 12 classes, 56 famílias e 169 gêneros, sendo as
Estudos do fitoplâncton na Área de Estudo Local do Projeto N1 e N2
classes Zygnemaphyceae (Conjugathophyceae), Chlorophyceae e Cya-
contabilizaram 448 táxons, o que representa uma elevada riqueza e
nobacteria as mais representativas.
uma importante contribuição para ampliar o conhecimento das algas
Dando o mesmo enfoque regional para a fauna zooplanctônica, um dos do estado e do país. Foram identificadas 10 classes de fitoplâncton,
trabalhos mais completos relativo ao estado do Pará, realizado no reser- sendo Conjugatophyceae e Bacillariophyceae dominantes em termos
vatório do Curuá-Una, aponta 51 táxons de tecamebas, sendo as famílias de riqueza.
mais especiosas Difflugiidae (19 táxons), Arcellidae (15 táxons) e Centro-
No âmbito dos corpos hídricos da área do Projeto N1 e N2, o levantamen-
pyxidae (9 táxons). No Rio Xingu foram registradas 94 espécies do filo
to taxonômico de 11 locais amostrados registrou um total de 252 táxons
Rotifera, 61 espécies da ordem Cladocera e 10 de Copepoda (4 da ordem
(tipos diferentes de algas-unidade taxonômica associada a um sistema
Cyclopoida e 6 da ordem Calanoida).
de classificação científica), dos quais apenas 176 foram identificados até
Na Serra de Carajás, cinco lagos tropicais de altitude concentram 51 es- a categoria de espécies. Das 10 classes de fitoplâncton presentes, Con-
pécies, sendo 28 pertencentes a Rotifera, 17 a Cladocera e 6 a Copepoda. jugatophyceae e Bacillariophyceae também foram as mais ricas e repre-
sentaram 38% e 24%, respectivamente, de todos os táxons identificados.
Ainda neste contexto regional, considerando especificamente a região Da classe Conjugatophyceae, os gêneros Cosmarium e Staurastrum fo-
de Carajás, há estudos sobre macroinvertebrados que vêm sendo ram os mais diversos, somando 41 espécies identificadas. Entre as Bacilla-
realizados em diversos projetos e já revelaram, até o momento, apro- riophyceae, os gêneros Eunotia e Pinnularia foram os mais diversos, com
ximadamente 100 táxons, sendo as famílias Chironomidae (Ordem 17 espécies no total.
Diptera), Coenagrionidae e Libellulidae (Ordem Odonata) as mais
abundantes. As espécies de alga Cryptomonas sp., Centritractus sp. e Batrachospermum
sp. foram os únicos registros das classes Cryptophyceae, Xanthophyceae e
Nesse contexto, o levantamento de espécies do Projeto N1 e N2 é de Rhodophyceae.
grande importância para ampliar o conhecimento da biota aquática, não
só da região de Carajás, como do estado do Pará como um todo. Quanto aos ambientes aquáticos da Área de Estudo Local, constatou-se
que os sistemas lênticos com maior heterogeneidade de hábitat e con-
Sendo assim, a abordagem integrada do grupo Biota Aquática, pro- dições mais estáveis tiveram maior riqueza de algas. O estudo indicou
posta neste capítulo, trará informações acerca da composição da co- também que os diferentes ambientes são colonizados por comunidades
munidade hidrobiológica formada pelos organismos fitoplanctônicos, particulares, sendo poucas espécies comuns a todos eles. Esse resultado
zooplanctônicos e de macroinvertebrados aquáticos (Bentônicas) que reflete a importância de cada sistema hídrico para a determinação da
foram identificados na Serra Norte, parte da Flona de Carajás, especifi- diversidade da Biota Aquática e, consequentemente, da diversidade bio-
camente na área do Projeto N1 e N2. lógica total da Serra Norte.
Foto: SETE

F1 – Cosmarium sp.

MB2 – Odonata
MB1 – Coleóptera

F2 – Desmodesmus sp. Z1 – Lecane curvicornis Z2 – Arcella costata

Figura 6 – Onde estão esses organismos de


água doce microscópicos e macroscópicos?

Igarapé da Flona de Carajás – F-1 desmídeas e F-2


clorofíceas (fitoplâncton); Z-1 rotífero e Z-2 tecameba
(zooplâncton); MB-1 coleoptera e MB-2 odonata
(macroinvertebrados aquáticos)
Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 237
Foto: Marcelo Brito

Zooplâncton
Na área do Projeto N1 e N2 foram registrados 293 táxons, sendo 122 perten-
centes a Rotifera, 75 a Protozoa, 60 a Cladocera, 29 a Copepoda e ainda 7 táxons
pertencentes a outros grupos (Acarina, Gastrotricha, Chironomidae, Tardigrada,
Nematoda e Ostracoda). Comparada a outros trabalhos na região de Carajás e
no estado do Pará, essa riqueza pode ser considerada alta, especialmente para
rotíferos e tecamebas, o que pode ser um reflexo do grande esforço de amos-
tragem empregado localmente durante os estudos na área do Projeto N1 e N2.

Entre os protozoários, a família com maior número de táxons foi Arcellidae


(15), seguida por Centropyxidae (11), Difflugidae (11) e Lesquereusiidae (9),
sendo todas amebas testáceas. Já entre os rotíferos, Lecanidae (37) apresen-
tou maior riqueza, seguida por Brachionidae (14), Lepadellidae (12) e Tricho-
cercidae (12). Para os cladóceros, Chydoridae foi a família com maior riqueza
(36), enquanto para os copépodes a ordem Cyclopoida apresentou maior
número de táxons (18), seguida por Calanoida (6) e Harpacticoida (5).

As famílias com maior riqueza de táxons entre os protozoários, rotíferos e


cladóceros são típicas da região litorânea de rios e lagos, também comu-
mente associadas às plantas aquáticas. Em toda a comunidade zooplanctô-
nica continental, copépodes são o grupo que apresenta maior endemismo,
especialmente o gênero Notodiaptomus.

Macroinvertebrados aquáticos
A macrofauna bentônica de toda a área de estudo do Projeto N1 e N2 foi ex-
pressa em 100 táxons pertencentes aos filos Arthropoda, Mollusca e A
­ nnelida.
Os artrópodes foram os mais representativos em termos de riqueza (91%),
Ambiente amostrado principalmente pela contribuição da classe Insecta, sendo as ordens Diptera
no Projeto N1 e N2.
e Coleoptera as mais diversas, contemplando no total 29 táxons.

Ressalta-se que para a comunidade de macroinvertebrados b ­ entônicos


a identificação até o nível taxonômico de família é c­ omumente ­utilizada,
em razão das limitações nos métodos de identificação das fases l­arvais
para muitos grupos. Por isso, na lista digital que acompanha este livro,
nem todos os táxons são apresentados na categoria de espécie.
238 Biota Aquática Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 239

A recorrência de registros de Ephemeroptera e Trichoptera, os quais são


exigentes quanto à qualidade ambiental, ratifica a condição preservada
dos corpos hídricos em que foram registradas. A caracterização física e
Guia
química da água corrobora a bioindicação dos macroinvertebrados, uma
vez que a qualidade de água se mostrou adequada para manutenção da
fotográfico
biota aquática.

Duas famílias se destacaram por terem sido registradas em todos os am-


bientes avaliados da Serra Norte, os coleópteros Elmidae e díptera Chi-
ronomidae. As ordens Ephemeroptera, Trichoptera, Hemipera e Odonata
foram também frequentes nos corpos hídricos nessa localidade.

Você sabia que o fitoplâncton, embora não seja um grupo de animais e sim de algas, é nor-
malmente estudado nos levantamentos de campo sobre a fauna? Pois é, o que se chamava
de “algas” até pouco tempo atrás, hoje, é reconhecido que neste grupo estão reunidos tanto
bactérias como organismos eucarióticos fotossintéticos ou não. Assim, compõem o grupo
das algas as cianobactérias (reino Monera), algumas euglenofíceas (reino Protozoa), diato-
máceas (reino Chromista) e clorofíceas (reino Plantae). Embora o avanço da ciência tenha
revelado todas essas variações, o termo alga ainda é utilizado. Uma vez que, historicamente,
a Biota Aquática como um todo (algas do fitoplâncton, o zooplâncton e os macroinvertebra-
dos aquáticos) é avaliada durante os estudos ambientais, naturalmente o fitoplâncton aca-
ba sendo avaliado nos diagnósticos sobre a fauna, assim como no caso do Projeto N1 e N2.
Classe: Conjugathophyceae

Gênero: Closterium
Ordem: Desmidiales
Família: Desmidiaceae
Hábitat: Planctônico e perifítico
Curiosidade: Vários gêneros deste grupo
(desmídeas) são formados por duas hemicélulas
muito semelhantes, unidas por um istmo-
cintura (simetria bilateral). Algas deste gênero
normalmente assumem esta forma de meia lua.

Foto: Sandra Francischetti


Foto: Sandra Francischetti
Classe: Conjugathophyceae Classe: Chlorophyceae

Gênero: Cosmarium Ordem: Sphaeropleales


Ordem: Desmidiales Família: Selenastraceae
Família: Desmidiaceae Gênero: Kirchneriella
Hábitat: Planctônico e perifítico Hábitat: Planctônico
Curiosidade: Este é mais um Curiosidade: Representantes
gênero de desmídeas, formado das algas verdes, são
por duas hemicélulas. A parede é muito comuns nos
ornamentada por verrugas e poros. ambientes aquáticos de
água doce.
Foto: Sandra Francischetti
Foto: Sandra Francischetti

Foto: Sandra Francischetti

Classe: Bacillariophyceae

Ordem: Tabellariales
Família: Tabellariaceae
Classe: Chrysophyceae Gênero: Diatoma (vista pleural)
Hábitat: Planctônico
Ordem: Chromulinales Curiosidade: As algas
Família: Dinobryaceae diatomáceas são compostas
Gênero: Dinobryon por duas estruturas de sílica
Espécie: Dinobryon sertularia Ehrenberg bem resistentes (Frústula).
Hábitat: Planctônico Os detalhes morfológicos da
Curiosidade: Neste gênero, as células frústula (formato, número e
ficam contidas dentro de uma lórica disposição de estrias, poros, etc..)
e podem formar colônias, como são usados para identificação de
­observado na imagem. gêneros e espécies.
Foto: Sandra Francischetti

Foto: Sandra Francischetti


Classe: Bacillariophyceae

Gênero: Pinnularia
Ordem: Fragilariales
Família: Pinnulariaceae Classe: Cyanophyceae (Cyanobacteria)
Hábitat: Planctônico
Curiosidade: As algas diatomáceas são compostas Ordem: Oscillatoriales
por duas estruturas de sílica bem resistentes Família: Oscillatoriaceae
(Frústula). Além dos detalhes morfológicos da Gênero: Oscillatoria
frústula (formato, número e disposição de estrias, Hábitat: Planctônico
poros, etc..), a forma e a posição do cloroplasto Curiosidade: Cyanobacteria filamentosa.
também são usadas para identificação de Essas algas são na verdade bactérias e são
gêneros e espécies. Na ilustração o plasto está muito resistentes, podendo colonizar os
bem visível e tem a forma de um H. mais diversos tipos de ambientes.
Foto: Sandra Francischetti

Foto: Sofia Brito

Classe: Dinophyceae Espécie: Arcella costata

Ordem: Peridiniales Nome popular: Tecameba


Família: Peridiniacee Família: Arcellidae
Gênero: Peridinium Atividade: Detritívora
Hábitat: Planctônico Comprimento: Micrômetros
Curiosidade: Formam cistos que (0,001 milímetros – são microscópicos)
resistem ao período de seca e Distribuição: Brasil
se desenvolvem nos períodos Hábitat: Aquático
de chuva. A identificação é feita Hábito: Litorâneo, associado às plantas
a partir da observação, entre aquáticas
outras características, do número, Curiosidade: As tecamebas são muito comuns
da disposição e do arranjo das e estão entre os principais grupos presentes
plaquetas e das suturas que formam em rios, riachos e córregos. As carapaças são
a carapaça (hipoteca e epiteca). usadas para identificar as espécies.
Foto: Sofia Brito

Foto: Sofia Brito


Espécie: Lecane leontina

Nome popular: Rotífero


Família: Lecanidae
Atividade: Filtradora Ordem: macho Cyclopoida
Comprimento: Micrômetros (0,001
milímetros – são microscópicos) Nome popular: Copépode
Distribuição: Brasil Família: Cyclopinae
Hábitat: Aquático Atividade: Predador
Hábito: Litorâneo, associado às Comprimento: Milímetros
plantas aquáticas Distribuição: Brasil
Curiosidades: Tem como Hábitat: Aquático
característica a vida associada às Hábito: Planctônico
plantas aquáticas, principalmente Curiosidade: Estes organismos
nas margens de corpos d’agua. alimentam-se principalmente
Esses animais têm uma coroa de de algas ou são predadores
cílios que através do batimento e a maioria das espécies
concentram o material que está possui exigências quanto à
suspenso na água e é assim que qualidade do ambiente, sendo
se alimentam. Os cílios são usados consideradas sensíveis à
também para a locomoção. poluição das águas.

Foto: Sofia Brito


Espécie: Alonella sp.

Nome popular: Pulga-d’água


Família: Chydoridae
Atividade: Filtradora
Comprimento: Milímetros
Distribuição: Brasil
Hábitat: Aquático
Hábito: Litorâneo, associado às
plantas aquáticas
Curiosidades: As antenas
parecem pequenos “braços” nos
cladóceros e são modificadas
para locomoção. Quando se
deslocam, parecem nadar em
pequenos saltos dentro da água,
sendo conhecidos popularmente
como “pulgas-d’água”. Apesar
de engraçado, é preciso atenção,
porque esses organismos não
são insetos, e sim crustáceos.

Espécie: Lesquereusia sp. (esquerda) e


Cyphoderia (direita)

Nome popular: Tecamebas


Família: Lesquereusiidae e Cyphoderiidae
Atividade: Detritívora
Comprimento: Micrômetros (μm = 0,001
milímetros – são microscópicos)
Distribuição: Brasil
Hábitat: Aquático
Hábito: Litorâneo, associado às plantas
aquáticas
Curiosidade: Podem medir de 20μm até
Foto: Sofia Brito

500μm e, como se alimentam de bactérias,


fungos, algas e outros protozoários, vivem
em ambientes ricos em matéria orgânica
em decomposição.
Foto: Sofia Brito

Foto: Manoela Brini


Classe: Bdelloidea Nome popular: caracol

Nome popular: Rotífero Filo: Mollusca


Atividade: Filtradora Classe: Gastropoda
Comprimento: Micrômetros Ordem: Mesogastropoda
(μm = 0,001 milímetros – são Família: Ampullariidae
microscópicos) Tolerância: Resistente
Distribuição: Brasil Grupo funcional: Raspador
Hábitat: Aquático Hábitat: Bentônico
Hábito: Bentônico Curiosidade: Agrupa os animais
Curiosidade: Estes rotíferos não conhecidos por caracóis e lesmas.
apresentam carapaça rígida e por Os gastrópodes vivem nos mais
isso é difícil identificá-los. Vivem variados tipos de ambientes
em rios, entre as plantas e nos marinhos e de água doce,
sedimentos, e se desenvolvem sendo o único grupo dentre os
em presença de matéria orgânica moluscos a ter desenvolvido a
sob condições de decomposição. capacidade de viver fora da água.
Foto: Sofia Brito

Foto: Manoela Brini


Estágio: Náuplio

Nome popular: Copépode


Família: Cyclopinae
Atividade: Filtradora
Comprimento: Milímetros
Distribuição: Brasil
Hábitat: Aquático
Hábito: Planctônico
Curiosidade: Náuplio
é apenas uma fase
larval dos crustáceos
copépodos.

Noma polular: grupo das minhocas

Filo: Annelida
Subclasse: Oligochaeta
Tolerância: Resistente
Grupo funcional: Filtrador
Hábitat: Bentônico
Curiosidade: Os oligoquetas são
hermafroditas e algumas espécies,
sobretudo de água doce, podem
reproduzir-se através da divisão
de um indivíduo em várias secções
transversais, e cada secção pode
formar um indivíduo completo por
regeneração.
Foto: Manoela Brini
Nome popular: camarão de água doce Nome popular: larva de efemérida

Filo: Arthropoda Filo: Arthropoda


Subclasse: Crustacea Classe: Insecta
Ordem: Decapoda Ordem: Ephemeroptera
Família: Paleomonidae Família: Baetidae
Tolerância: Tolerante Tolerância: Tolerante
Grupo funcional: Filtrador Grupo funcional: Coletor
Hábitat: Nectônicos Hábitat: Bentônico
Curiosidade: nos ambientes de água doce Curiosidade: Ocorrem nos mais
há representantes dos camarões, lagostas diversos tipos de ambientes,
(lagostim) e caranguejos que vivem como lagoas e rios, sendo a maior
em rios costeiros próximos ao litoral. A diversidade encontrada em rios de
maioria é comestível e tem importância cabeceira. Os adultos são conhecidos
econômica no que diz respeito à atividade por efeméridas.
pesqueira.

Foto: Manoela Brini


Nome popular: larvas de besouros Nome popular: barqueiros

Filo: Arthropoda Filo: Arthropoda


Classe: Insecta Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera Ordem: Hemiptera
Família: Elmidae Família: Notonectidae
Tolerância: Tolerante Tolerância: Tolerante
Grupo funcional: Coletor Grupo funcional: Predador
Hábitat: Bentônico Hábitat: Nectônico
Curiosidade: Esta pode ser uma Curiosidade: Neste grupo de
larva dos tão conhecidos besouros! Hemiptera estão as larvas
Coleoptera é uma ordem muito diversa das cigarras, percevejos,
de insetos, mas os mais populares são pulgões e cochonilhas.
os besouros e as joaninhas.
Foto: Manoela Brini

Foto: Manoela Brini


Foto: Manoela Brini

Foto: Manoela Brini


Nome popular: larva de tricópteros

Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Trichoptera
Família: Leptoceridae
Tolerância: Sensível
Grupo funcional: Coletor
Hábitat: Bentônico
Curiosidade: Estas larvas de insetos
(os adultos são conhecidos por moscas
caddis) são especialistas em coletar
material do ambiente em que elas vivem
para formar este “casulo”, portanto, cada
casulo é diferente do outro.

Nome popular: larva de mosquito

Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Diptera
Família: Chironomidae
Tolerância: Resistente
Grupo funcional: Coletor
Hábitat: Bentônico
Foto: Manoela Brini

Curiosidade: Há larvas de chironomideos


com hemoglobina, que lhes confere a
coloração vermelha quando os ambientes
em que vivem apresentam baixos níveis
de Oxigênio.
Foto: Manoela Brini

Nome popular: larva de plecóptero Nome popular: larva de libélula

Filo: Arthropoda Filo: Arthropoda


Classe: Insecta Classe: Insecta
Ordem: Plecoptera Ordem: Odonata
Família: Perlidae Família: Libellulidae
Tolerância: Sensível Tolerância: Sensível
Grupo funcional: Predador Grupo funcional: Predador
Hábitat: Bentônico Hábitat: Bentônico
Curiosidade: Neste grupo existem Curiosidade: Essas são as larvas
organismos exigentes que gostam de aquáticas das libélulas. Então
viver somente em ambientes muito se ­tiver libélulas voando por
limpos e bem oxigenados. Portanto, se aí, é bem provável que tenha
vir um bichinho deste, pode ser uma uma larvinha desta vivendo nos
indicação de que o ambiente esteja ambientes aquáticos próximos.
com água de boa qualidade.

Foto: Manoela Brini


Foto: João Marcos Rosa
Marcelo Vasconcelos Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 255

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260 Glossário Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte 261

Cistos: Cistos de resistência em microalgas Espécie invasora: Organismo que se encontra fora
ocorrem através da reprodução sexuada quando as da sua área de distribuição natural, normalmente
condições ambientais se encontram desfavoráveis introduzido pelo homem, que se aclimata,
para as células vegetativas. As principais reproduz e prolifera sem controle, passando a
funções dos cistos de resistência são permitir representar ameaça às espécies nativas, para a
a sobrevivência, a dispersão e a recombinação saúde e economia humana e/ou para o equilíbrio
genética dos organismos. O cisto recém-formado dos ecossistemas.
afunda e permanece no sedimento, dando início
à fase de dormência, caracterizada pela suspensão Espécie migratória: Organismos que realizam
do crescimento. deslocamento de grandes distâncias para
desempenhar funções biológicas básicas como
Corpo hidrodinâmico: Com características alimentação e reprodução.
anatômicas que facilitam a ­natação.
Espécie simpátrica: Aquela que ocorre
Decompositores: São organismos que se concomitantemente com mais espécies em uma
alimentam de matéria morta e excrementos, determinada área geográfica, com superposição
transformando substâncias orgânicas em parcial ou total de suas distribuições.
inorgânicas, que servirão para alimentar os
produtores, reiniciando o ciclo. Temos como Espécimes testemunho: Indivíduos coletados e
Glossário exemplos de decompositores as bactérias, fungos
e alguns protozoários.
tombados em coleções biológicas, utilizados em
pesquisas científicas.

Ambientes intermitentes: Ambientes aquáticos Cadeia alimentar: É o nome do processo que Detritos: Matéria orgânica particulada. Espículas: Projeções espinhosas encontradas em
que podem desaparecer (secar) temporariamente ocorre na natureza para troca de alimento e nadadeiras de várias famílias de peixes.
em períodos de seca e estiagem. energia entre os seres. Os organismos produtores Doença subnotificada: Doença com o número
servem de alimento e energia para os organismos de casos registrados abaixo do número real de Estoques evolutivos: Linhagens.
Ambientes lênticos: Ambientes aquáticos de água consumidores, que por sua vez são consumidos, afetados.
parada, como lagos e lagoas. Possuem hábitats depois de morrerem, pelos decompositores. Eucarióticos: Seres uni ou pluricelulares cujo
bem definidos como a região litorânea (margens) Dorsal: Parte superior do corpo. material genético (DNA) está separado do
e a região pelágica (águas abertas, região central), Camuflagem: Estratégia de dissimulação que citoplasma, envolto por uma membrana nuclear.
sendo importante fonte de biodiversidade ocorre quando determinados animais apresentam Ecossistemas: Sistema integrado e Incluem algas, protozoários, fungos, plantas e
aquática. a mesma cor (homocromia) e/ou a mesma forma autofuncionante que consiste em interações dos animais.
(homotipia) do meio em que vivem, geralmente elementos bióticos e abióticos, e cujas dimensões
Amebas testáceas: Grupo de protozoários para enganar seus predadores ou mesmo suas podem variar consideravelmente. Farmacopeia: Coleção ou catálogo de drogas e
ameboides de vida livre que possuem uma presas. medicamentos.
carapaça conhecida como teca ou testa. Endêmico: Diz-se de entidade biológica (em geral
Cavernícola: Espécie que habita cavernas. espécie) encontrada apenas em uma determinada Fase assexuada: Forma de reprodução na qual
Apêndices e tubérculos: Pregas dérmicas, região, espécies nativas de uma determinada área não ocorre troca de material genético entre os
protuberâncias, utilizadas inclusive como caráter Cianobactérias: São seres procariotas e restrita a ela. indivíduos, pois geralmente essa forma reprodutiva
taxonômico em anfíbios, que se projetam para fora pertencentes ao Reino Monera. Também são envolve um único indivíduo capaz de gerar vários
do corpo. conhecidas como cianofíceas ou algas azuis, Endemismo: Caráter restrito da distribuição outros. Assim, os organismos filhos formados serão
decorrente da presença da ficocianina, que é um geográfica de determinada espécie ou grupo de todos idênticos ao organismo original.
Arborícola: Espécie que utiliza preferencialmente pigmento azul que por vezes mascara a cor verde espécies que vive limitada a uma área ou região.
árvores/arbustos. da clorofila. Podem ser filamentosas, coloniais Fase sexuada: Nessa forma de reprodução ocorre
ou unicelulares, envolvidas ou não por bainhas Epiteca: Nas diatomáceas, a epiteca é a valva troca de material genético entre as células. Assim,
Arquétipo: Modelo ou padrão que se utiliza como gelatinosas, vivendo em águas doces, águas maior. Nos dinoflagelados, a parte da célula as células filhas não são idênticas às células
exemplo. salgadas, fontes termais e solo. Apresentam uma anterior ao cíngulo constitui o epissoma (epiteca). parentais.
extraordinária capacidade adaptativa e algumas
Artralgia: Dor nas articulações. espécies podem ter períodos de dormência (ficam Eritrócitos: Células sanguíneas responsáveis pelo Fluxo de matéria e energia: Transferência de
inativas) no sedimento. transporte de oxigênio. Também chamada de matéria e energia por diferentes níveis na cadeia
Atividade filtradora: Forma de obtenção de glóbulo vermelho, hemácia. alimentar.
alimento por organismos através da filtração. Ciclo biológico: Ciclo de vida, sequência de
mudanças pelas quais passa um ser vivo ao longo Erupção cutânea: Inflamações na pele que podem Forrageadora ativa: Aqueles que se se movimentam
Bioindicadores: São espécies, grupos de espécies ou de sua vida. O ciclo de vida envolve a fecundação, gerar vermelhidão, prurido, inchaço, etc. para procurar alimento, principalmente que se
comunidades biológicas cuja presença, abundância o nascimento, o crescimento, a reprodução, o alimentam de outros animais.
e condições gerais são indicativos biológicos de uma envelhecimento e a morte de animais, plantas e Escamas epidérmicas: Escamas externas, de
determinada condição ambiental. micróbios. revestimento, formadas por queratina, que se Fossorial: Espécies que cavam o solo, com o
localizam acima da derme, presentes nas serpentes comportamento de viver embaixo da terra ou do
Biota: Denominação utilizada para o conjunto da e lagartos. folhiço.
fauna e flora de uma determinada região.
Fotofobia: Aversão à luz.
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Fotossíntese: Processo bioquímico realizado pelos Incubar: Comportamento de manter os ovos em Parasitos: Organismo, geralmente microrganismo, Serviços ecossistêmicos: Conceito associado à
seres clorofilados (na maioria das vezes, vegetais), condições favoráveis ao desenvolvimento até a cuja existência se dá às expensas de um tentativa de valoração dos benefícios ambientais
em que a energia luminosa é convertida em eclosão dos mesmos. hospedeiro. Existem parasitas obrigatórios e que a manutenção de áreas naturais pouco
energia química, e armazenada em carboidratos. facultativos; os primeiros sobrevivem somente alteradas pela ação humana e a conservação de
Os carboidratos são sintetizados a partir de Istmo-cintura: ponte de ligação entre as duas na forma parasitária e os últimos podem ter uma determinadas espécies trazem para o conjunto
substâncias simples: gás carbônico (CO2) e água hemicélulas das desmídeas. existência independente do hospedeiro. da sociedade. Entre os serviços ambientais mais
(H2O). Como subproduto da fotossíntese há a importantes estão a manutenção de estoques de
liberação de oxigênio (O2) para a atmosfera. A Lórica: revestimento, invólucro, “armadura”. Tipo Placas ósseas: Crescem por debaixo das escamas predadores de pragas agrícolas, de polinizadores,
energia fixada neste processo é o que mantém a celular de envoltório rígido que fica separado do e formam uma armadura protetora. Encontrada de exemplares silvestres de organismos
imensa maioria dos seres vivos da Terra. protoplasma (material vivo constituinte da célula) nos jacarés. utilizados pelo homem (fonte de genes usados
por um espaço. em programas de melhoramento genético).
Frústula: Carapaça silicosa de diatomáceas formada Polinização: Transporte do pólen liberado pelas Os serviços ambientais são imprescindíveis à
por duas metades que se encaixam (valvas). Manejo sustentável: Interferência planejada e anteras para o estigma do gineceu da mesma manutenção da vida na Terra.
criteriosa do homem no sistema natural, para planta ou de outro indivíduo. Os tipos de
Hábito Nectônico: Forma de vida de um conjunto produzir um benefício ou alcançar um objetivo, polinização são: autopolinização e polinização Sílica: Composto de silício e oxigênio (SiO2)
de organismos aquáticos que possuem um mantendo ou melhorando a capacidade do cruzada. No segundo caso, o processo pode ser encontrado, por exemplo, na areia.
movimento ativo, ou seja, que são capazes de sistema continuar a existir por um longo período. realizado por agentes abióticos, como o vento,
nadar contra a correnteza (peixes, por exemplo). ou por alguns seres vivos, como insetos, aves e Simetria: A simetria é definida como tudo
Mialgia: Dor muscular. morcegos. aquilo que pode ser dividido em partes, sendo
Hábito Perifítico: Forma de vida de um conjunto que ambas as partes devem coincidir quando
de organismos que vivem aderidos a substratos Morfoespécie: É um conceito de espécie para Procarióticos: Organismos unicelulares cujo sobrepostas.
inorgânicos (pedras e qualquer material como a qual não foi possível alcançar a determinação material genético (DNA) está disperso no
vidro, acrílico, bloco de cimento, etc.) ou orgânicos específica pela ausência de descrições citpolasma; incluem as bactérias e cianobactérias. Subespécie: É uma subdivisão de uma espécie,
vivos ou mortos (plantas aquáticas, folhas, troncos, taxonômicas na bibliografia consultada. São quando esta se diferencia da original, mas não ao
galhos, carapaças, entre outros). designadas por sp.1, sp.2, entre outros. Profilaxia: Maneira de evitar o contágio de ponto de tornar-se uma nova espécie.
determinada doença/infecção.
Heliotérmica: Que regula sua temperatura Nadadeira adiposa: Pequena nadadeira Substância anticoagulante: Substância que
corporal utilizando como fonte o calor do sol. encontrada dorsalmente após a nadadeira dorsal. Protistas: Organismos do Reino Protista, impede a coagulação do sangue.
basicamente composto por algas e protozoários.
Hemicélulas: Nas algas desmídeas, é o nome dado Nadadeira caudal: Nadadeira de diferentes formas, Táxons: Designa um nível taxonômico de um
a cada uma das metades simétricas das células, situada na parte final do corpo do peixe, bastante Regeneração: É a capacidade de células, tecidos, sistema de classificação. Um táxon pode designar
unidas por uma constrição. importante para sua locomoção. órgãos ou organismos não afetados de se um reino, filo, classe, ordem, família, gênero ou
multiplicarem e, de acordo com a necessidade, espécie. O táxon infragenérico é toda categoria
Hemoglobina: Proteína responsável pelo Nadadeira dorsal: Nadadeira com espinhos e/ou de se diferenciarem, a fim de recompor a parte inferior ao “genero”, a saber: espécie – subespécie –
transporte de oxigênio. raios, situada ao longo do perfil superior do peixe. corporal lesionada. morfoespécie.

Hermafrodita: Em animais, é o indivíduo que Nadadeira peitoral: Nadadeira par, situada depois Região Neotropical: Região compreendida Terópodes: Grupo de dinossauros bípedes (que se
reúne os dois sexos, ou seja, possuem ambos da cabeça e do opérculo ósseo. pelo sul da América do Norte, América Central e movem por meio de seus dois membros posteriores
os órgãos reprodutivos, masculino e feminino, América do Sul. ou pernas), de membros anteriores curtos.
completos ou em parte. Nadadeiras pélvicas: Encontram-se na região
ventral à frente da nadadeira anal. Possuem função Regulação térmica: Controle da temperatura Terrícola: Espécie que habita preferencialmente
Hipoteca: Nas diatomáceas, a hipoteca é a valva estabilizadora e orientadora dos movimentos. corporal. no solo.
menor. Nos dinoflagelados a parte da célula
posterior ao cíngulo é o hipossoma (hipoteca). Novo Mundo: Continente Americano. Ritual de corte: Ritual que objetiva a atração de Territorialismo: Animal que defende
um parceiro reprodutivo. consistentemente uma determinada área
Igapós: Nome indígena, que significa “mata cheia Ondas ultrassônicas: Frequências sonoras contra outros indivíduos da mesma espécie (e,
d’água”. Áreas de florestas periodicamente inundadas acima da amplitude da audição humana, Savanas: Tipo de formação vegetal mista ocasionalmente, de outras espécies). Animais que
por rios de água preta ou rios de água clara. aproximadamente 20 kilohertz. composta de extrato baixo e contínuo de defendem territórios desta forma são chamados
gramíneas e subarbustos, com maior ou menor de territoriais.
Igarapés: Nome indígena, que significa “caminho Onívoro: Organismo que se alimenta de qualquer número de pequenas árvores espalhadas. As
de canoa”. São riachos de águas claras ou pretas tipo de alimento. árvores da savana apresentam raízes profundas, Ventral: Parte inferior do corpo (ventre) ou de uma
que desaguam em grandes rios amazônicos. folhas grossas e troncos retorcidos. Essas estrutura anatômica.
Oportunista ocasional: Aquele que, características permitem que essa vegetação seja
Iliófagos: São peixes que ingerem o substrato ocasionalmente, muda seu hábito alimentar de resistente ao período de estiagem típico do clima Vetor silvestre: Aquele capaz de transmitir
(lodo ou areia) e nesse substrato encontram-se os acordo com a disponibilidade de recursos. em que estão localizadas. No Brasil também são doenças para os seres humanos e que ocorre de
alimentos (animal, vegetal). conhecidas como Cerrado ou pelas diversas formas maneira natural em ambientes selvagens.
Ornitológico: Referente à ornitofauna ou à ciência como este se apresenta, por exemplo, Campo sujo,
Importância sanitária e epidemiológico: Aquele que estuda as aves. Campo Cerrrado, Cerradão, entre outras.
que possui destaque por estar envolvido no ciclo
biológico de algum parasita causador de doença,
passível de gerar epidemia.
264 Pequenos Mamíferos Não Voadores

Este livro foi composto com a fonte


da família Myriad Pro e impresso pela
gráfica Formato em Belo Horizonte,
em papel couchê fosco 150g com
tiragem de 500 exemplares.
Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte
Fauna da Floresta
O livro Fauna da Floresta Nacional de Carajás – Serra Norte traz infor-
mações sobre taxonomia, biologia, ecologia e distribuição geográfica de
1.478 táxons para os ecossistemas amazônicos de pequenos mamíferos
não voadores, morcegos, médios e grandes mamíferos, aves, anfíbios,­
répteis, insetos vetores, peixes e biota aquática (comunidades hidrobiológicas).
A divulgação e o compartilhamento dessas informações, aliados à pes­quisa
científica e ao uso sustentável dos recursos naturais, favorecem o envolvi-
Nacional de Carajás
mento da sociedade como um todo nos esforços de conservação da biodiver-
sidade do Conjunto de Áreas Protegidas de Carajás.
Serra Norte

ORGANIZAÇÃO

Elaine Ferreira Barbosa | Leandro Moraes Scoss


Vanessa Coutinho Mourão de Souza | Breno Chaves de Assis Elias

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