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De qualquer forma,
Em suma,
Com efeito,
Ora,
n) Os factos que resultam dos autos não demonstram que o Autor tenha
gerado na Ré qualquer confiança de que não exerceria o seu direito, e que
justifique uma maior protecção jurídica, designadamente, em detrimento do
reconhecido direito do Autor em receber as retribuições que lhe são devidas.
p) A partir de Junho de 2005, se o Autor não prestou mais serviços à Ré, foi
apenas porque esta não os solicitou, mas aquele sempre manteve a sua
disponibilidade para o efeito, conforme obrigação que resulta da prestação de
serviços, na modalidade de avença.
q) Não se mostra provado que o Autor tenha recusado prestar quaisquer
serviços ou que não os tenha prestado por força da execução de qualquer outro
contrato.
Fundamentação:
Sendo pelo teor das conclusões das alegações do recorrente que – em regra –
se delimita o objecto do recurso – afora as questões de conhecimento oficioso
– importa saber se o recorrente pôs termo ao contrato celebrado com a
recorrida, e se age com abuso do direito ao exigir o pagamento integral da
remuneração com ela acordada, mesmo depois de ter, em regime de
exclusividade, celebrado um contrato com entidade terceira.
Vejamos.
Em 21.10.2005, o Autor, sem que tivesse sido posto termo àquele contrato por
denúncia, rescisão ou revogação como previa a cláusula 6ª que rege sobre as
consequências, na perspectiva do direito de indemnização em caso de
cessação do contrato por algum daqueles meios, prevendo que, não existindo
justa causa, o rompimento implicava o direito a indemnização não inferior ao
período de duração em falta, celebrou um contrato de trabalho desportivo de
Treinador de Futebol com o “CC-S...-Sociedade Desportiva de Futebol SAD”,
para “ para exercer, de forma exclusiva e sob a sua direcção, as funções de
treinador principal da equipe de futebol profissional sénior”.
Este, por sua vez, desde Junho de 2005 (inclusive) deixou de comparecer nas
instalações da SAD do Alverca ou no complexo desportivo.
Com o devido respeito, não parece defensável que o recorrente sustente que o
vínculo contratual com a Ré perdurou apesar do novo contrato, por não ter
sido cessado por iniciativa de qualquer das partes.
Não pode ignorar-se que o Autor, em Junho de 2005, foi informado, pela
Autora que não poderia prosseguir com a sua actividade no futebol
profissional, o que revela que neste aspecto a Ré agiu com lisura; mas o
Autor, sabendo que estava vinculado a outra entidade em regime de
exclusividade, entende que poderiam coexistir as duas vinculações.
Deveria tê-lo provado o que não almejou; bem ao invés provou-se que o Autor
deixou de comparecer nas instalações da recorrida e no seu complexo
desportivo a partir de Junho de 2005 (inclusive) – item 12) dos factos
provados.
Nem se diga – [disso o Autor não fez qualquer prova] – que o primeiro
contrato subsistia, por a Ré não lhe ter solicitado os serviços envolvidos na
previsão contratual.
Decisão.
Azevedo Ramos
_________________________________________
(1) Relator – Fonseca Ramos.
Ex.mos Adjuntos.
Conselheiro Salazar Casanova.
Conselheiro Azevedo Ramos.
(2) Digesto,1.1,10,1.
(3) Não se acompanha a argumentação do Autor quando afirma, pág. 426 das alegações – “Não se
vislumbra qualquer incompatibilidade (teórica ou prática) entre o exercício das funções de treinador de
futebol com a “observação de atletas/jogadores profissionais ou jogadores amadores de outras equipas,
clubes ou sociedades desportivas”, ou com o “acompanhamento, aconselhamento, apoio ou orientação de
jogadores profissionais de futebol da SAD, bem como de jogadores, em todos os escalões, do Futebol
Clube A..., em vista da sua formação, orientação ou da sua profissionalização”.
(4) O art. 334º do Código Civil, acolhe a concepção objectiva do abuso do direito, segundo a qual não é
necessário que o titular do direito actue com consciência de que excede os limites impostos pela boa-fé,
pelos bons costumes ou pelo fim económico ou social do direito.
A lei considera verificado o abuso, prescindindo dessa intenção, bastando que a actuação do abusante,
objectivamente, contrarie aqueles valores. Como ensina o Professor Antunes Varela, in “Das Obrigações
em Geral”, 7ª edição, pág. 536: - “Para que o exercício do direito seja abusivo, é preciso que o titular,
observando embora a estrutura formal do poder que a lei lhe confere, exceda manifestamente os limites
que lhe cumpre observar, em função dos interesses que legitimam a concessão desse poder. É preciso,
como acentuava M. de Andrade, que o direito seja exercido”, em termos clamorosamente ofensivos da
justiça”. – cfr. neste sentido, entre muitos, os Acs. deste Supremo Tribunal de Justiça, de 7.1.93, in BMJ
423-539 e de 21.9.93, in CJSTJ, 1993, III, 19.